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Material Teórico
A Formação Socioespacial e a Estrutura Fundiária do Brasil
Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
A Formação Socioespacial e a Estrutura
Fundiária do Brasil
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Relacionar o padrão atual da Geografia Agrária brasileira com o
contexto da formação socioespacial do Brasil, evidenciando as
contradições presentes no território.
· Evidenciar a estrutura fundiária do Brasil.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE A Formação Socioespacial e a Estrutura Fundiária do Brasil
A Formação Socioespacial
e a Estrutura Fundiária do Brasil
Nesta unidade, iremos associar o padrão produtivo agrícola brasileiro à formação
da estrutura fundiária do país. Por que o Brasil possui uma das estruturas fundiárias
mais concentradas do mundo? Quais fatores da formação socioespacial brasileira
explicam a tendência à formação de latifúndios – parte deles improdutivos – ao
mesmo tempo em que pequenos agricultores têm dificuldade em manter sua
sobrevivência? Por que a discussão sobre a reforma agrária é tão importante e
presente na história nacional? Para responder a essas perguntas, é necessário
recompor alguns traços do passado colonial brasileiro e as formas como essas
heranças foram tratadas historicamente.
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Quando se estuda historicamente a estrutura fundiária no Brasil, ou
seja, a forma de distribuição e acesso à terra, verifica-se que desde os
primórdios do período colonial essa distribuição foi desigual. Primeiro
foram as capitanias hereditárias e seus donatários, depois foram as
sesmarias. Estas estão na origem de grande parte dos latifúndios do país.
São frutos da herança colonial quando a terra era doada pela Coroa aos
membros da corte.
Esses territórios eram vistos como extensões econômicas, pensados para gerar
lucros para os países metropolitanos, e não como áreas a serem viabilizadas
economicamente. Esse é o modelo a que todos os atuais países latino-americanos
foram submetidos, incluindo o Brasil.
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UNIDADE A Formação Socioespacial e a Estrutura Fundiária do Brasil
Com o passar do tempo, esse termo passou a englobar todas as terras ainda
não demarcadas como propriedade privada e que, portanto, pertenciam ao Estado
brasileiro. Parte dessas sesmarias abrigou o sistema de plantation, que caracterizou
o padrão produtivo agrícola no período colonial das Américas. Esse sistema combi-
nava grandes latifúndios, monocultura de exportação e trabalho escravo.
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cana-de-açúcar no Nordeste. No sul dos EUA, a plantation de algodão seguiu os
mesmos moldes.
Uma parcela bastante considerável dessas sesmarias, porém, nunca foi pro-
dutivamente utilizada. A criação de grandes latifúndios improdutivos, raramente
combatidos por Portugal, deu origem a um vínculo profundo entre posse da terra
e poder político no Brasil.
A conexão entre terra e poder levou à falta de limites entre a esfera privada e
pública, o que está na base do patrimonialismo e do coronelismo, discutidos por
vários intérpretes da formação social brasileira, como Sérgio Buarque de Holanda
(1969) e Raymundo Faoro (1977).
Como as sesmarias eram concessões dadas pelo governo, e muitas foram aban-
donadas, havia também aqueles que não possuíam concessões mas necessitavam
trabalhar na terra. Surge, assim, a figura do posseiro e da “posse” de terras, “[...]
que era mais adaptada à agricultura móvel, predatória e rudimentar praticada, tor-
nando-se o meio principal de apropriação territorial” (SILVA, 1997, p. 16).
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Nesse sentido, a Lei de Terras “proibia a aquisição de terras devolutas por ou-
tro título que não fosse o de compra” e “impedia o acesso à terra dos produtores
agropecuários economicamente mais fracos, fossem eles livres ou libertos, e be-
neficiava a classe dos grandes proprietários” (SZMRECSÁNYI, 1998, p. 94). Os
latifundiários foram, portanto, beneficiados com a garantia de contingentes de tra-
balhadores que não tinham outra opção que não fosse vender sua força de trabalho
aos fazendeiros.
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permitiriam que o apossamento de terras devolutas e a criação de latifúndios
improdutivos permanecessem. A lei buscava separar juridicamente as terras
públicas das terras particulares, mas esse objetivo não foi alcançado.
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Além desse diagnóstico econômico, pesavam para essa discussão as lutas sociais
em curso no país durante os anos 1950 e início dos anos 1960. De forma resumida,
essa década marca um momento de agitações populares intensas, que tinham
como bandeira um conjunto de mudanças estruturais que ficaram conhecidas como
“reformas de base”.
Pouco antes de ser derrubado pelo golpe militar, Jango havia proposto uma
alteração constitucional que permitiria que as desapropriações de latifúndios
improdutivos fossem realizadas com títulos da dívida pública, e não mais em
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dinheiro, o que resolveria um importante nó da reforma agrária no país. Além
disso, anunciou a desapropriação de lotes às margens de rodovias e ferroviais para
assentamentos rurais.
Após 1964, o governo militar criou uma agenda própria de política fundiária
– a sua maneira, obviamente. Para Lígia Silva (1997, p. 20), tratou-se de uma
“contrarreforma agrária”.
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Duas dessas políticas merecem destaque: a primeira delas diz respeito aos
incentivos para a ocupação da Amazônia Legal e a segunda ao esforço de
modernizar e industrializar a agricultura brasileira.
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Tabela 1 – Estrutura fundiária, Brasil (2012)
Imóveis Área
Estrato de área
Número % Número %
Menos de 10 ha 1.874.969,00 34,10 8.834.571,15 1,46
10 a 100 ha 2.863.773,00 52,08 95.186.129,26 15,72
100 a 1000 ha 678.462,00 12,34 181.757.801,33 30,02
Acima de 1000 ha 81.331,00 1,48 319.609.244,32 52,79
Total 5.498.535,00 100,00 605.387.746,06 100,00
Fonte: IBGE
Por meio desses dados, é possível verificar o alto grau de concentração fundiária
do país. Cabe ressaltar que a maior parte da produção agropecuária e do pessoal
ocupado em atividades rurais está concentrada nos minifúndios (menos de 10 ha)
e nos estabelecimentos médios (entre 10 a 1000 ha).
Pense, agora, na mesma região, dessa vez com uma estrutura fundiária de
pequenas propriedades, muitas vezes familiares, com técnicas de cultivo mais
rudimentares e baixo nível de capitalização. A produção agrícola tende a ser a
mesma nessas duas situações?
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Fica claro, com esse exemplo, que a estrutura fundiária traz um conjunto de
implicações para a produção agrícola.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Evolução da divisão territorial do Brasil, 1872-2010
INSTITUTO BRASILEIRO GEOGRÁFICO E ESTATÍSTICO (IBGE). Evolução da
divisão territorial do Brasil, 1872-2010. Rio de Janeiro, IBGE, 2011
https://goo.gl/kEKZMs
Livros
Formação econômica do Brasil
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora
Nacional: Publifolha, 2000.
O Brasil: território e sociedade no século XXI
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria L. O Brasil: território e sociedade no século XXI.
3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Leitura
As leis agrárias e o latifúndio improdutivo.
SILVA, Lígia Osório. As leis agrárias e o latifúndio improdutivo. São Paulo em
Perspectiva, 11(2) 1997
https://goo.gl/PVUBCQ
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Referências
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político
brasileiro. São Paulo: Globo, 1977.
OLIVEIRA, Ariovaldo. A geografia das lutas no campo. São Paulo: Contexto, 2005.
SILVA, José Graziano da. O que é questão agrária. São Paulo: Brasiliense, 1980.
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