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História do Brasil República:

Aspectos Formativos
Material Teórico
A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Edgar da Silva Gomes

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo
e as Greves Operárias

• Introdução;
• O Juazeiro do Padre Cícero;
• Antônio Conselheiro: O Erro foi Desafiar “Deus”;
• Guerra do Contestado: Luta de Miseráveis Contra o Poder das Elites;
• A Greve de 1917: Marco das Lutas Operárias no Brasil;
• Tenentismo: A Frustração Eleitoral como Chave do Movimento.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Entender como o mito do brasileiro cordial e pacífico ainda está em aberto para
novas interpretações da história da Primeira República.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

Contextualização
Refletindo sobre o passado através de ações do presente!

Em matéria publicada no site de notícias do Jornal “O Globo”, Gustavo Goulart


e Rodrigo Berthone, representantes da “Grande Imprensa” brasileira e funcioná-
rios dos barões da mídia, partidários ideológicos do neoliberalismo, focam nas
futilidades e desinformam e alienam a opinião pública, em vez de analisarem com
profundidade os motivos dos protestos. É uma maneira sutil de deixar na invisibili-
dade os reclames da população contra as políticas que só favorecem os capitalistas
e sufocam a população.

No jornal “El País”, da Espanha, a matéria enfoca a repressão policial dos pro-
testos na cidade de São Paulo. Diferentemente da “Grande Mídia” brasileira, o
jornal trás a “política da borracha” do governo paulista, que prefere reprimir ao
invés de dialogar e atender a população pobre que depende do transporte público,
em que R$ 0,10; 0,20; 0,30 centavos, no final das contas, fazem muita diferença
para uma população que não está sendo atendida de forma adequada pelos go-
vernos neoliberais. Assim como na Primeira República, as políticas são mais para
favorecer a elite do que a população pobre.

Leia as matérias e observe os mesmos traços da ação política no presente e no


passado, em que, como colocado, a elite é sempre a prioridade.

Bons estudos!

Manifestação contra aumento de passagens de ônibus complica trânsito no Centro do Rio,


Explor

disponível em: https://goo.gl/9SL86z


Quarto ato do MPL é marcado por mais repressão da PM em São Paulo,
disponível em: https://goo.gl/atmHPs
Policial militar usa skate para agredir manifestante em SP; assista,
disponível em: https://bit.ly/2CfqveC

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Introdução
Nesta unidade, nosso desafio será estudar algumas manifestações, instituciona-
lizadas ou não, que deram a tônica da insatisfação das camadas pobres e da classe
média baixa da população contra a opressão da elite durante a Primeira República.
Confrontando a “ordem estabelecida”, tivemos desde movimentos messiânicos que
saíram do seio de uma instituição para se tornarem proscritos, no caso de Juazeiro
do padre Cícero, passando por movimentos messiânicos independentes, que fala-
vam de religião ou mesmo do catolicismo, como, por exemplo, Canudos e Contes-
tado, que desafiaram o Estado e o Catolicismo.
Tendo de enfrentar movimentos sociais da magnitude de Juazeiro, Canu-
dos e Contestado, e encontrar soluções viáveis para a manutenção e ex-
pansão de suas instituições, os dirigentes eclesiásticos viram seus esforços
condicionados quer pela necessidade de acertarem fórmulas de acomoda-
ção com as elites oligárquicas, quer pelas diretrizes impostas pela políti-
ca pontifícia de “romanização” [...] A maioria dos bispos atuantes nesse
período se viram envolvidos em conflitos sérios com irmandades leigas e
em pendências judiciais com autoridades públicas em torno de questões
patrimoniais [...] via de regra, o primeiro passo dos prelados era entabular
negociações com os dirigentes, buscando partilhar as principais posições
no sistema interno de poder. (MICELI, 1988, p. 123-124)

Outro movimento que será estudado, o Tenentismo, também nasceu dentro


de uma instituição, o Exército, para se tornar perseguido e combatido pelas eli-
tes. O descontentamento dos “tenentes” era contra o status quo das oligarquias.
O Movimento Tenentista eclodiu no ano de 1922, estendendo-se até o final da
Primeira República (1930), quando parte do movimento foi instrumentalizada pela
astúcia política de Getúlio Vargas, causando o desmantelamento do movimento.
Finalmente, vamos estudar a Greve de 1917, para tomar ciência de um importan-
tíssimo evento que ajudou a forjar a consciência política dos trabalhadores no Brasil.

O Juazeiro do Padre Cícero


Na biografia do Padre Cícero, escrita por Lira Neto, na “orelha” do livro o autor
inicia sua narrativa perguntando: “Santo ou impostor? Charlatão ou visionário?
Quando se trata do protagonista desta biografia, é comum que as opiniões se divi-
dam, gerando cisões muitas vezes inconciliáveis” (LIRA, 2009).
Cícero Romão Baptista nasceu no Crato, Ceará, no ano de 1844. E desde
muito cedo se apegou à mística religiosa e acreditava receber revelações divinas,
que, segundo ele, eram recebidas em sonho. Cursou o seminário em Fortaleza,
apoiado pelo padrinho, um comerciante rico da região. No seminário, começou a
ter problemas com o rigor imposto pelos padres. “O reitor do seminário, atento às
tendências místicas de Cícero, tenta impedir-lhe a ordenação, mas por influência do

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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

bispo ele é finalmente ordenado e volta para o Crato” (HERMANN, 2003, p. 129).
No entanto, após um sonho com o “Sagrado Coração de Cristo”, o padre se fixa
em Juazeiro, pois acreditava ser essa a mensagem transmitida pelo seu sonho.

Padre Cícero é um dos personagens mais complexos da nossa história republicana. Padre
Explor

maldito, político controverso e persona non grata dentro da instituição católica por muito
tempo, vem sendo reabilitado nas últimas décadas pela Igreja Católica e poderá ocupar seus
altares como santo oficial, haja vista que a religiosidade popular já o elevou ao altar dos
santos há muitas décadas. Para quem desejar saber mais sobre esse importante ator de nos-
sa história, eu recomendo a ótima biografia escrita por Lira Neto: NETO, Lira. Padre Cícero:
poder, fé e guerra no sertão. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Tudo transcorria bem. Depois de quase duas décadas sendo pároco na cidade
de Juazeiro, o religioso respeitado e íntegro, mas ainda muito místico, presenciou
um fato que veio revirar sua vida às avessas. No mês de março de 1889, ano da
proclamação da República, um milagre aconteceu, assim acreditaram o padre e
seus seguidores. Uma lavadeira, mulher ainda jovem, com seus vinte e oito anos,
que atendia pelo nome de Maria de Araújo e que habitava junto à família do padre,
recebeu a hóstia sagrada na comunhão e desmaiou. Segundo Ralph Della Cava,
“a imaculada hóstia branca que acabava de receber tingiu-se de sangue” (DELLA
CAVA, 1976, p. 40). Por deliberação do bispo de Fortaleza, uma comissão de in-
quérito foi nomeada para apurar o “milagre”. Segundo Lira Neto, a beata “parecia
ter entrado em estranho transe [...] segundo chegariam a jurar sobre a Bíblia as
testemunhas ali presentes, a hóstia da boca de Maria Araújo mudou de forma e
de cor. Transformou-se, inesperadamente, em sangue vivo” (NETO, 2009, p. 65).
Segundo Hermann, o milagre ocorreu durante quarenta e sete dias seguidos, e
na festa litúrgica do “Precioso Sangue”, o reitor do seminário do Crato, monsenhor
Monteiro, à frente de uma multidão em romaria, agitava vários panos com manchas
de sangue, bradando que estavam manchados com as hóstias recebidas por Maria
de Araújo e que era o próprio sangue de Cristo. Para Della Cava, essa região era
afastada dos grandes centros, pobre e com práticas litúrgicas populares, envoltas em
crendices e superstições; sendo assim, o braço pesado da ortodoxia eclesiástica difi-
cilmente era sentido. Nesse clima, o poder do padre Cícero só fez crescer diante da
fragilidade do catolicismo oficial e da estrutura de poder da elite eclesiástica.
No entanto, os boatos dos milagres se espalharam. Mesmo com a afirmação do
reitor do seminário do Crato, monsenhor Monteiro, o bispo do Ceará, Dom Joaquim,
proibiu a propagação da crendice em panos encharcados de sangue e tentou reprimir
a euforia que estava crescendo na região. Apesar de ter o padre em boa estima, o bis-
po não poderia permitir a adoração aos paninhos. Mas a hesitação do bispo fez com
que a notícia ganhasse os jornais. Outros padres do Crato, que também acreditavam
no milagre, começaram a divulgá-lo nas missas. A coisa só entornou o caldo quando
os médicos Marcos Rodrigo Madeira e Idelfonso Correia de Lima, este também um
importante político cearense, “atestaram que a transformação da hóstia se devia a

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algum ‘agente externo, que eu concluo que seja – Deus”, afirmou Ildefonso, mas Dom
Joaquim rejeitou a hipótese em julho de 1891 (DELLA CAVA, 1976, p. 50-53).
O problema maior era que nesse momento de romanização no Brasil e de dificuldades
políticas para a Igreja Católica na Europa, afirmar um milagre, ainda mais na América
Latina, seria dar muita munição para os cientificistas, inimigos de Roma no velho conti-
nente. A Igreja no Brasil estava sob estado de alerta com a proclamação da República,
todos os esforços nesse contexto estavam virados para a política eclesiástica e a forma-
ção do novo regime no país. Havia uma tentativa de expansão diocesana em curso. Mas
o fato mais grave desse episódio ainda estava por acontecer. Em setembro de 1891,
[...] por deliberação do bispo de Fortaleza, uma comissão de inquérito foi nome-
ada para apurar o “milagre”. O relatório elaborado por dois padres de confian-
ça do bispo, padre Clyrécio da Costa Lobo e padre Francisco Ferreira Antero,
no entanto, confirmou o milagre da transformação da hóstia em sangue. Mais
grave ainda, o documento tomava partido dos “fatos extraordinários” e eviden-
ciava o surgimento de “uma igreja dentro da Igreja”, ou seja, indicava que a
potencial seita se baseava na autoridade das revelações de Cristo ao padre e à
beata. Os dois padres se tornariam defensores do padre Cícero, o que ajudou
a difundir a “veracidade” do milagre, mas tiveram de se retratar e declarar sua
fidelidade à Roma em 1895. (HERMANN, 2003, p. 132)

O padre Cícero foi impedido de atuar como sacerdote católico e até sua morte,
aos 91 anos, em 1934, lutou contra a decisão eclesiástica se dizendo um injus-
tiçado. Padre Cícero foi excomungado no ano de 1916, mesmo depois de ter
empreendido uma viagem à Roma para tentar falar com o papa para se defender
das acusações que lhe foram imputadas. No entanto, o capital político do padre
Cícero só fez aumentar. Seu poder no disputado mundo político cearense, no Vale
do Cariri e todo o Nordeste, ajudou-o a conquistar importantes cargos na vida pú-
blica, como primeiro prefeito de Juazeiro no ano de 1911. A autonomia política da
cidade veio da aliança entre o padre e o médico Floro Bartolomeu, que se aliaram
a importantes coronéis de outras vilas.
Outro importante fato intermediado politicamente por Cícero foi o pacto dos
coronéis no ano de 1911, pelo qual os mandatários da região se comprometeram
a diminuir as hostilidades no Vale do Cariri e não dar proteção aos cangaceiros e
outros criminosos procurados pela lei e, finalmente, a prestar fidelidade ao então
chefe oligárquico do Ceará, Antônio Pinto Nogueira Accioly. Além do envolvimento
do padre Cícero na política local, outro fato que azedou a relação com a elite ecle-
siástica foi que a partir da divulgação do milagre, várias irmandades leigas do sertão
passaram a ter mais respeito e prestar obediência ao padre do que à hierarquia da
Igreja, mesmo impedido de rezar missas e confessar entre os anos de 1892 e 1896.1
No campo das disputas de poder eclesiástico, foi no estado do Ceará onde uma
das mais acirradas disputas pela obtenção de uma diocese ocorreu, e foi justamente
para ficar de olhos bem colados no padre Cícero que se criou a diocese do Crato.

1
HERMANN, J. Religião e política no alvorecer da República: os movimentos de Juazeiro, Canudos e Contestado. In:
FERREIRA, J; DELGADO, L. A. N. O Brasil republicano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 133.

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Vejamos um pouco dessa história: O Juazeiro, do padre Cícero, ainda uma pe-
quena vila, travou uma batalha bastante séria com o Crato no campo civil. Para o
padre Cícero era perturbador, na difícil situação em que ele se encontrava, tendo
inclusive que se explicar diante da hierarquia católica, o santo Ofício, sobre as acu-
sações de heresia pelo milagre ocorrido na sua capela do Juazeiro.2
Ter outro bispo lhe vigiando seria um tormento: “Se, com um bispo distante,
já amargo o pão que o diabo amassou, quanto mais com um trepado na minha
garupa” (NETO, 2009, p. 291). O padre Cícero tentou articular a criação de uma
diocese em Juazeiro, ou seria isso ou a diocese estaria destinada ao Crato. Cícero
não conseguia admitir uma diocese longe de seu controle. Para além dos motivos
religiosos, havia também as disputas de poder político entre as oligarquias do Crato
e Juazeiro. Cícero sabia que
Naquele início do século XX, dezenas de novos bispados estavam sendo cria-
dos no país, dentro de um projeto de reorganização administrativa da Igreja
brasileira. As cidades interioranas mais prósperas nos respectivos estados ti-
nham a prioridade na escolha das futuras sedes [...] cogitava-se a possibilidade
de criação de uma segunda diocese no Ceará, para dividir com o bispado de
Fortaleza para o atendimento aos cristãos do interior do estado [...] o Cariri
era o grande candidato a merecer tal honraria [...] o Crato seria o pretendente
natural a recebê-la. Era exatamente isso que Cícero mais temia [...] Só com
a possível elevação a município o Juazeiro teria alguma chance de entrar na
disputa com o Crato pela sede de uma diocese. (NETO, 2009, p. 290-291)

Segundo Lira Neto, padre Cícero utilizou-se de toda sua influência na cidade
para conseguir o patrimônio necessário para a criação da diocese na cidade de
Juazeiro. Pensou em algumas possibilidades, colocando-as em prática. Para viabi-
lizar financeiramente a empreitada, condição que a Igreja exigia para se começar
a falar no assunto, Cícero tentou levantar uma quantia, baseado nos cem contos
de réis da criação da diocese de Santa Catarina. Cícero era inteligente e solicitou
ao amigo José Marrocos que elaborasse 150 listas para levantar a quantia de um
conto de réis em cada uma, recorrendo para isso a doações espontâneas dos fiéis,
e consegue seu intento. Mas o bispo do Ceará, D. Joaquim, desdenhava do atre-
vimento do padre. “A criação de um bispado no Juazeiro é um despautério tão
grande que não vale a pena nem se falar nisso” (NETO, 2009, p. 291).

O Padre Quintino, futuro bispo do Crato, também se articulou para conseguir


viabilizar financeiramente a criação da diocese no Cariri: “A contabilidade de Quin-
tino, porém, era mais modesta [...] ele previu que com o auxílio da alta sociedade
cratense conseguiria arrecadar, em médio prazo, a importância de sessenta contos
de réis” (NETO, 2009, p. 292 ). No ano de 1909, Cícero partiu do Cariri rumo a
Petrópolis para falar com o internúncio. “Uma viagem de Cícero ao Rio de Janeiro
pegou muita gente de surpresa [...] O destino final era Petrópolis, onde defende-
ria junto ao internúncio a candidatura do Juazeiro à sede de um novo bispado”
(NETO, 2009, p. 299 ).

2
NETO, L. Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, pp. 244-271.

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Para infelicidade de Cícero, o bispo do Ceará, D. Joaquim, estava em Petró-
polis. “Para desmontar todos os possíveis argumentos de Cícero – inclusive os de
natureza monetária” (NETO, 2009, p. 300). Apesar de haver o interesse religioso
e financeiro da Igreja para criação da diocese naquela região, o interesse político
estava pesando contra o padre Cícero e mais, a ortodoxia da fé, nesse caso, foi
preponderante para a derrocada do padre Cícero. Essas articulações se iniciaram
bem antes da oficialização da cidade do Crato como diocese no ano de 1914.
O padre Quintino, nesse processo todo, foi essencial para manter o bispo
D. Joaquim informado de todos os passos dados pelo padre Cícero, tanto no
campo religioso, como no campo político. Mas na hora da indicação do nome
para bispo do Crato, D. Manoel, sucessor de D. Joaquim na diocese do Ceará,
preferiu indicar como opção o padre Santos, lazarista do seminário do Maranhão,
que recusa a indicação. Padre Santos declinou da responsabilidade, sabia que não
seria fácil conviver com a influência do padre Cícero no Cariri. Com sua recusa,
houve a indicação do padre Quintino, para ser o primeiro bispo do Crato, talvez
o mais preparado realmente para a função. A saga do padre Cícero esbarrou na
forte oposição de D. Joaquim, descontente com sua atuação política e religiosa,
de longa data, na região, agravada pelo suposto “milagre da hóstia” e a veneração
do povo simples pelo seu pastor3. Durante sua vida, o padre Cícero esteve mais
próximo dos poderes civis do que da hierarquia eclesiástica. Mons. Quintino, agora
bispo do Crato, em viagem ao Rio de janeiro, leva uma carta de apresentação do
bispo de Salvador e nela o pedido de instruções de como agir com o padre Cícero.
Bahia, 4 de Novembro de 1915 - Exmo. E Rvmo. Senhor
É portador desta o Exmo. Snr. Bispo do Crato, Dom Quintino Rodrigues
de Oliveira e Silva, a quem tive a satisfação de sagrar em minha Cattedral
no dia 31 de Outubro p findo, por occasião de minhas festas jubilares.
O Exmo. Snr. Dom Quintino vae a V.Ex.Revma. pedir instruções sobre
o modo como deve agir com o Revmo. Padre Cicero no caso d’elle con-
tinuar com as superstições do Juazeiro a embaraçar a boa administração
da nova Diocese; como também saber de V.Ex.Revma. o resultado de
uns documentos que o Exmo. Snr. Bispo de Fortaleza enviara anterior-
mente a Santa Sé ainda sobre o mesmo caso do Juazeiro e o Padre Cice-
ro. Deus guarde a V.Ex.Revma. Exmo. E Revmo Snr. Dom José Aversa
M.D.Arcebispo de Sardes e Nuncio Apostolico - Petropolis Servum in
Domino. +Arcebispo da Bahia [sic]. (ASV. Fasc. 714, p. 38)

Na historiografia sobre o padre Cícero Romão Batista, é comum encontrar o


consenso de que apesar de sua importância política no nordeste, ele nunca deixou
de lutar pela sua reabilitação diante da Igreja Católica. Parace que esse propósito
do padre será alcançado ainda nesta década, em 2020.

Após a revisão de seu processo realizada pelo papa Bento XVI, a última notícia
que temos sobre o caso é que

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Inúmeros trabalhos sobre o padre Cícero podem ser encontrados, mas sugiro a leitura de: DELLA CAVA, Ralph.
Milagre em Joaseiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976 e NETO, Lira. Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

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O padre Cícero Romão Batista, o maior líder religioso e político do inte-


rior do Ceará, nos anos 30, já foi reabilitado, na prática, pela Igreja Cató-
lica Romana, depois de ter sido silenciado e excomungado há mais de As
cidades interioranas mais prósperas nos respectivos estados tinhambeato
e santo, estão sob exame do próprio papa Francisco. Ele decidirá se o
Padim Ciço do Juazeiro será beatificado e canonizado numa de suas duas
visitas ao Brasil, previstas para 2017 e 2018.

Fonte: https://goo.gl/og5hTq

Movimentos messiânicos: considera-se como movimento messiânico aquele que é co-


Explor

mandado por um líder espiritual, um “messias”, que a partir de suas pregações religiosas
passa a arregimentar um grande número de fiéis, numa nova forma de organização popular,
que foge às regras tradicionais e por isso é vista como uma ameaça à ordem constituída [...]
Os grandes grupos sociais que acreditaram nos messias e os seguiram procuravam satisfazer
suas necessidades espirituais e ao mesmo tempo materiais.

Fonte: https://goo.gl/TDfHt8
Explor

Padre Cícero, disponível em: https://goo.gl/FD8mNZ

Antônio Conselheiro:
O Erro foi Desafiar “Deus”
O movimento messiânico creditado a Antônio Vicente Mendes Maciel, o Con-
selheiro, mexeu em um vespeiro. Para além de suas críticas à República, seu erro
foi bater de frente com o catolicismo, em situação fragilizada após sua separação
do Estado, pelo decreto 119-A, de 07 de janeiro de 1890. Diferentemente do
estereótipo preconceituoso e a partir da visão do vencedor realizado por Euclides
da Cunha em seu romance Os sertões: campanha de Canudos, em que faz um
retrato sombrio do Conselheiro, para o literato Roberto Ventura, os escritos encon-
trados de sua autoria “revelam um sertanejo letrado, capaz de exprimir, de forma
articulada, suas concepções políticas e religiosas, que se vinculavam a um catolicis-
mo tradicional, corrente na Igreja do século XIX” (VENTURA, 1997).

A continuidade do esforço expan-sionista [da Igreja] nos estados do nordeste


deveu-se, sobretudo, à premência em resguardar posições num dos mais importan-
tes terrenos de luta e concorrência no campo religioso brasileiro da época. Na im-
possibilidade de incorporar ou domesticar os movimentos de Canudos e Juazeiro,
a organização eclesiástica buscou fechar o cerco (MICELI, op. cit, 60-64).

No entanto, diferentemente dos estudos recentes, a imprensa do período que


estava cobrindo a “Guerra de Canudos” preferiu descrever Antônio Conselheiro
como um louco, um fanático religioso antirrepublicano, em vez de descrever a luta

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que travava o povo sertanejo contra a carestia, suas condições precárias de vida,
sem estudo e sem trabalho, abandonado à própria sorte, invisível diante dos poderes
públicos. Com essa atitude, a “Grande
Imprensa”, em toda nossa história alia-
da do Liberalismo, mais desinforma do
que informa a população e, com isso,
deixou de relatar mais um genocídio na
história do Brasil. O primeiro e mais
clássico foi o genocídio dos nativos bra-
sileiros, massacrados pelos colonizado-
res. Estado e Igreja não titubearam em
abençoar o fim dado aos “monarquistas Figura 1 – Antonio Conselheiro
fanáticos”. Vejamos a seguir... Fonte: Wikimedia Commons

Além do incômodo caso envolvendo o padre Cícero, em que o cardeal Arcoverde


participou ativamente, auxiliando D. Manoel, bispo do Ceará, esse último caso envol-
vendo o Conselheiro e mais uma vez questões de fé e política na região nordestina,
no final do século XIX, colocou do mesmo lado Estado e Igreja na trama para eliminar
um inimigo comum. Nas pesquisas que realizei no ASV, esse fato também envolveu
o Secretário de Estado do Vaticano, Mons. Rampolla, que em nome da ortodoxia da
fé, foi pragmático em relação aos acontecimentos em Canudos. Em correspondência
enviada ao encarregado de negócios da Santa Sé no Brasil, Mons. João Batista Guidi
questionou a autoridade do arcebispo da Bahia, D. Jerônimo Tomé da Silva (1893-
1924) e exigiu uma atitude do arcebispo para colocar fim ao movimento.

N. 36411 - Illmo. E Revmo. Signore, N. 36411 - Illmo. E Revmo. Senhor,


Son pervenute recentemente alla Santa Sede notizie São bastante tristes as notícias enviadas recentemente à San-
abbastanza triste circa la durata e la estenzione di un ta Sé sobre a duração e extensão de um movimento antirreli-
movimento antireligioso, che alcune bande di fanatici gioso, que alguns bandos de fanáticos rebeldes promovem e
ribelli promuovono e diffendono nelle Stato di Bahia. Essi si defendem no Estado da Bahia. Eles se envolvem em grande
abbandonano alle più grandi violenze ed offendono anche la violência, mas a maior violência é ofender a Igreja Católica
Chiesa cattolica ne suoi beni, nelle persone, nella sua dottrina, em seus bens, nas suas pessoas, em sua doutrina, a ponto
fino al punto di proclamare il loro capo un nuovo Messia. de anunciar seu chefe um novo Messias. Esse fato por si só é
Questi fatti per se stessi molto deplorevoli diventano ancor più muito deplorável e se tornará ainda mais perigoso se deixar-
pericolosi se lasciansi compiere senza opporvi alcun efficace mos que se realizem sem nos opormos com qualquer recurso
rimedio da parte di chi lo può per la riconosciuta autorità del efetivo da parte daqueles que podem tomar tal decisão pela
suo officio, ed ha il dovere di difendere la verità ed il decoro reconhecida autoridade de seu ofício e que têm o dever de
della Religione. Interesso pertanto V.S. a voler prendere in defender a verdade e a dignidade da Religião. V.S. queira ter
parti colore considerazione gli affari soppraccemati trattando um encontro com os interessados neste caso supracitado e
particolarmente con Mgr. Arcivescovo di Bahia per indurlo tratando particularmente com Mgr. arcebispo da Bahia para
a spendere l’opera sua e tutta la possibile influenza allo induzi-lo a fazer o seu trabalho usando toda a sua influência
scopo di agevolare la pacificazione degli animi. Poiche dalle para facilitar a pacificação das almas. Desde as informações
informazioni finora pervenute si deduce che la condotta recebidas até esta data se deduz que a conduta mantida por
serbata da quel Prelato in siffatta contingenza e sembrata esse Prelado é de contingência e não corresponde à altura de
ad alcuni non corrispondente all’altezza del suo ministero. suas responsabilidades com o cargo que ocupa em seu minis-
Appena poi V.S. avrà presa conoscenza della situazione reale e tério. Só então V.S. tomará nota da situação real e da decisão
delle deciosioni prese da Mgr. Arcivescovo di Bahia, avrà cura tomada pelo Mons. arcebispo da Bahia, me informe com o
d’informarmene con la maggiore possibile sollecitudine. E maior cuidado possível. Com a estima.
con sensi di ben distinta stima passo a ripetermi. Di V.S.Illma. De V.S.Illma.
Roma 13 de Marzo de 1897. Roma, 13 de Marzo de 1897.
Affmo per servirLa M.Card. Rampolla. Affmo per servirLa M.Card. Rampolla.
Mgr. Giambattista Guidi Incaricato d’Affari interino della Mgr. Giambattista Guidi Incaricato d’Affari interino della
S.Sede - Petropolis4. S.Sede - Petrópolis.

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Estado4e Igreja Católica, durante a Primeira República, articularam situações de


favorecimento mútuo como no “bom e velho sistema político” da troca de favores. O
trânsito para a manutenção das boas relações entre o Estado e a Igreja não foi de mão
única, foi percorrido em pista dupla. Nesse caso, o catolicismo desejava interromper
a atuação do Conselheiro em nome da ortodoxia da fé católica, e o governador da
Bahia, primeiro Rodrigues Lima (1892-1896), depois Luiz Vianna (1896-1900),
precisava afirmar o estado republicano em seu território, afastando a pregação sócio-
-política do “messias” venerado pelo sertanejo, em prol da Monarquia.

Foi Rui Barbosa (1843-1829) o primeiro a servir-se do termo romanização para designar o
Explor

movimento de controle do papado sobre a Igreja Católica no Brasil durante o século XIX. Para
ele, esse movimento era a ação explícita do “romanismo”, vocábulo típico dos anticlericais e
antiultramontamos de época, para contrapor-se e sobrepor-se ao poder dos Estados. (AQUINO,
Mauricio. O conceito de romanização do catolicismo brasileiro e abordagem histórica da teo-
logia da libertação. Belo Horizonte. Horizonte, vol. 11, n. 32, out/dez., 2013, p. 1485-1505).

O papel que Antônio Conselheiro vinha desempenhando como pregador no


sertão da Bahia, desde a década de 1870, não agradava a instituição e sua nova
diretriz romanizadora para o país, mas a religiosidade popular incentivada pelas
igrejas “particulares” era muito forte, principalmente no interior do país. No entan-
to, essa prática estava sendo “domesticada” pela Igreja no Brasil devido à pressão
dos bispos romanizadores, que desejavam “purificar” os costumes e deixar de fora
da igreja “oficial” as superstições do povo “ignorante”.

Antônio Conselheiro, o “messias de Canudos”, fazia suas pregações desde apro-


ximadamente a década de 1870, pelo interior nordestino, além de ter organizado
mutirões para a construção de cemitérios e capelas. No ano de 1882, a hierarquia
eclesiástica proibiu o Conselheiro de pronunciar sermões em nome do catolicismo
em suas peregrinações pelo sertão.

O conflito entre o Conselheiro e a ordem estabelecida se agravou após a pro-


clamação da República no ano de 1889. Antônio Conselheiro passou a se opor ao
novo regime político do país. Para ele, a República e seu liberalismo político, com
a separação entre a Igreja e o Estado, era a personificação do Anticristo. Suas crí-
ticas se dirigiram principalmente contra o estabelecimento do casamento civil e do
registro civil de mortes e nascimentos, ratificados na primeira Constituição republi-
cana em fevereiro de 1891. Mas as críticas de Antônio Conselheiro extrapolavam
o campo religioso, afetando as iniciativas do poder público.
Após liderar rebelião contra a cobrança de impostos, fixou-se com seus
seguidores, em 1893, na região de Canudos, às margens do rio Vaza-
-Barris, no nordeste da Bahia. Criou Belo Monte como refúgio sagrado
contra as secas da região e as leis seculares da República. O atraso na
entrega de madeira, comprada em Juazeiro para a construção de igreja,
foi o estopim de um conflito armado, que se estendeu por quase um ano,

4
ASV. Archivio Segreto Vaticano, Libri 68, pp.85 r/v, 86r [tradução do autor].

16
de novembro de 1896 até outubro de 1897, até o completo extermí-
nio da comunidade. Quatro expedições militares foram enviadas contra
Canudos. (VENTURA, 1997)

A primeira expedição oficial do governo baiano foi no mês de novembro de 1896,


atendendo a um pedido das autoridades cearenses, da cidade de Juazeiro. Devido a
um atraso na compra de madeiras para o término da capela do Arraial, alguns serta-
nejos seguidores do Conselheiro, irritados com o descumprimento do prazo, atacaram
a cidade, mas segundo Hermann, essa informação desse ser acolhida com suspeitas,
devido à falta de documentação que comprove a acusação das autoridades de Juazeiro.
O presidente do estado Luiz Vianna enviou uma tropa ao Arraial comandada
pelo tenente Manuel da Silva Pires Ferreira, com mais de cem homens. Os habitan-
tes de Belo Monte saíram ao encontro do destacamento militar que se aproximava
para atacá-los e os surpreendeu em Uauá. Essa cidade foi então palco da primeira
batalha entre militares e os sertanejos seguidores do Conselheiro, que impingiram
a primeira derrota aos militares, que tiveram algumas baixas no seu contingente.
No início do ano de 1897, uma nova expedição contra Belo Monte foi coman-
dada pelo major Febrônio de Brito. Os sertanejos conseguiram se defender, mas
desta feita sofreram inúmeras baixas. Após o insucesso de mais uma expedição
militar do governo baiano, e sofrendo pressão dos militares na capital federal, o
presidente da república, Prudente de Moraes (1894-1898), enviou a primeira ex-
pedição militar do governo Federal, e a terceira a atacar Belo Monte, comandada
pelo coronel Antônio Moreira Cesar.
Mas as notícias dos ataques ao reduto do Conselheiro se espalharam pelo ser-
tão, e muitos voluntários partiram em defesa do “messias” dos sertanejos. Nesse
cenário, o governo federal recebeu uma péssima notícia, “o coronel Moreira César,
eminente figura do Exército brasileiro que liderava as tropas legais, fora morto pe-
los conselheiristas [...] rumores de que a resistência sertaneja [...] fazia parte de uma
conspiração monárquica internacional” (HERMANN, 2003, p. 140).
O comando da expedição contra Canudos passou para o coronel Pedro Nunes
Batista Ferreira Tamarindo. Abalada, a expedição foi obrigada a retroceder. Entre
os sertanejos que comandavam a defesa do Arraial, destacaram-se Pajeú; Pedrão,
que comandou os conselheiristas na travessia de Cocorobó; Joaquim Macambira;
e João Abade, braço direito de Antônio Conselheiro, comandante da defesa dos
sertanejos da primeira expedição em Uauá.
Na Capital do país, a comoção com a derrota da expedição militar governista
foi enorme. O principal motivo de apreensão foi o boato da ligação de Antônio
Conselheiro a uma conspiração monárquica internacional e sua intenção de res-
taurar a monarquia no Brasil. Os jornais monarquistas da capital foram atacados e
um dos editores, Gentil José de Castro, foi assassinado.

A quarta expedição contra Belo Monte, no mês de abril, foi minuciosamente plane-
jada e dada ao comando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães. Essa batalha
foi longa e penosa; durou de abril a outubro de 1897, composta de duas colunas,

17
17
UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

comandadas pelos generais João da Silva Barbosa e Cláudio do Amaral Savaget, cada
uma com mais de quatro mil soldados muito bem equipados. Durante as batalhas, o
ministro da Guerra do governo de Prudente de Moraes, marechal Carlos Machado
Bittencourt, se instalou na base de operações, montada na cidade de Queimadas.
O primeiro enfretamento entre as forças do governo, comandadas pelo ge-
neral Savaget, e os sertanejos, seguidores do Conselheiro, se deu no açude de
Cocorobó, próximo de Belo Monte, no mês de junho. As baixas dos conselheiris-
tas foram bastante acentuadas. Após vários enfrentamentos, os sertanejos foram
dominados e os militares chegaram às portas do Arraial. No dia 22 de setembro
de 1897 aconteceu o inesperado, Antônio Conselheiro morreu de causa desconhe-
cida, seu corpo só foi encontrado no dia 23 de setembro. “Todos os combatentes
foram degolados, algumas mulheres e crianças ficaram à mercê das tropas e sobre
os que sobreviveram ainda pouco se sabe” (HERMANN, 2003, p. 143).
A destruição do Arraial do Conselheiro não se deveu à sua inclinação monar-
quista. Antônio Conselheiro, naquele contexto, era um dos menores problemas
para o governo baiano, que tinha outros conflitos para resolver entre facções par-
tidárias na Bahia. Seu erro foi que naquele momento a Igreja estava investindo
fortemente contra a atuação pouco ortodoxa dos beatos e pregadores. A isso se
soma a pressão dos proprietários de terras contra a comunidade, cuja expansão
trazia escassez de mão de obra e rompia o equilíbrio político da região.
Um dos movimentos messiânicos mais estudados na historiografia é, sem dú-
vida, o de Antônio Conselheiro, e como consideração final para esse assunto,
vejamos as afirmações de Ventura a respeito do autor de um dos mais populares
escritos sobre a atuação “messiânica” do Conselheiro:
O silêncio de Euclides sobre as atrocidades da guerra foi acompanhado
por quase toda a imprensa. Os materiais enviados pelos correspondentes,
sobretudo pelo telégrafo, eram submetidos à censura militar. Mas outros
jornalistas, como Manoel Benício, do Jornal do Comércio, e Fávila Nunes,
da Gazeta de Notícias, chegaram a mencionar atos de violência das tropas.
A crueldade da campanha só foi revelada, com veemência, pelo estudante
de medicina Lélis Piedade, no Jornal de Notícias, da Bahia, e pelo monar-
quista Afonso Arinos, no Comércio de São Paulo. (VENTURA, 1997)

Figura 2 – Antonio Conselheiro


Fonte: Wikimedia Commons

18
Guerra do Contestado: Luta de
Miseráveis Contra o Poder das Elites
Segundo Hermann, no ano de 1911 os jornais de Florianópolis noticiaram o
aparecimento de Miguel Lucena de Boa Ventura, desertor do 14º Regimento de
Cavalaria de Curitiba. O homem ganhava a fama de profeta e curandeiro e era
conhecido como monge José Maria, fugitivo da cadeia, para a qual foi enviado sob
a acusação de homicídio ou atentado à moral. Após a fuga se instalou em Curiti-
banos (SC).

Em seus discursos, Miguel Lucena afirmava ser irmão e enviado do monge João
Maria, morto poucos anos antes e que pregava o eminente fim do mundo com
lutas sangrentas. Com suas pregações errantes, o monge João Maria conquistou
a confiança de muitas pessoas. Um dado interessante é que João Maria, de nome
verdadeiro Anastás Marcaf, também repudiava o regime republicano por acreditar
que as leis da república eram uma perversão; João Maria acreditava na lei do rei.

No ano de 1897, mesmo ano do massacre de Canudos, o frei Rogério Nehaus,


que atuava na região do Contestado, procurou o monge João Maria e tentou desen-
corajá-lo de prosseguir com suas atividades “religiosas”, com suas críticas à Igreja.
Segundo o monge, “[ele] pregava o que existia na Sagrada escritura e que os padres
falseavam a verdadeira religião”. O monge não gostava de ser seguido pelos fiéis,
mas não conseguiu evitar que se formasse em torno dele uma devoção popular.
Nas palavras de João Maria, após cumprida sua missão, ele partiria para um local de
nome Taió e depois enviaria um outro pregador para consolar seu povo. José Maria
passou então a afirmar que ele era o enviado do monge que o antecedeu.5

Nesse interim, ocorria uma disputa entre os estados de Santa Catarina e Paraná,
que estavam vivendo às turras com a questão de suas divisas desde 1900, quando
Santa Catarina entrou com uma ação no STF contra o Paraná; decisões seguidas
davam ganho de causa aos catarinenses (1904, 1909, 1910). A situação político-
-social na região de fronteira era um barril de pólvora. Além das disputas entre os
estados pela demarcação de seus limites, havia uma população pobre e esquecida
pelos poderes públicos que vivia abaixo do nível de pobreza e que dependia da terra
para sobreviver; muitos desses colonos eram seguidores dos monges.

Nesse mesmo contexto, surgiram na região alguns conflitos: os “coronéis” da


região disputavam os domínios políticos dos municípios. Havia uma disputa de
terras que se arrastava desde 1910, envolvendo a fazenda Irani e a Cia. Frigorí-
fica pastorial. Instalou-se na região a Southern Brazil Lumber & Colonization:
Calmon (1908), Três Barras (1912). Acirravam-se também as disputas pela explo-
ração da erva-mate de concessões dos estados e municípios.

5
HERMANN, Jacqueline. Religião e política no alvorecer da República: os movimentos de Juazeiro, Canudos e
Contestado. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O Brasil republicano. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003, p. 150.

19
19
UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

O monge José Maria, que reivindicava a sucessão de seu “irmão” João Maria,
se apropriou da linguagem sagrada para mobilizar os adeptos desse discurso, numa
região litigiosa entre o Paraná e Santa Catarina, o Contestado, que dá nome à
guerra deflagrada no ano de 1912 na batalha do Irani. Diferentemente de seu
“irmão”, o monge José Maria vivia em companhia de seguidores e aceitava dona-
tivos em dinheiro, pelas receitas e aconselhamentos que dava; a justificativa era a
construção de uma farmácia do “povo”, por isso a “cobrança” de suas consultas.

Entrou em cena mais uma vez o frei Rogério Nehaus, para dissuadir mais esse
monge sobre seus erros, e o que recebeu mais uma vez foi uma recusa veemente.
José Maria passou a pregar a volta da Monarquia nomeando um rico, mas anal-
fabeto, fazendeiro da região como o novo imperador. Foi a deixa para o poder
público e a elite local. Havia um coronel da região, Henriquinho de Almeida, sim-
pático ao discurso do monge, mas o chefe político de Curitibanos, e seu opositor,
Francisco de Albuqueruqe, solicitou ajuda do estado para acabar com os monar-
quistas subversivos. Em meio à solicitação e chegada da força policial, o monge
José Maria deixou a cidade e se instalou em Irani (PR), atraindo mais adeptos à sua
causa. Para o governo paranaense, essa seria uma invasão de catarinenses em seu
estado, ordenando um ataque aos invasores em Irani.
Cerca de 200 seguidores do monge e curandeiro José Maria estão reuni-
dos em Irani. Todos eles homens simples, sertanejos, refugiaram-se ali na
esperança de evitar um confronto com as forças do governo. Mas é tarde
demais: a essa altura, o simples agrupamento – em uma região de con-
flitos fronteiriços e de instabilidade social – já é considerado uma atitude
hostil às autoridades. Em resposta à “ameaça”, o governo resolve atacar:
uma força de 58 soldados do Regimento de Segurança do Paraná entra
em combate com os sertanejos. Morrem 21 pessoas, entre elas os chefes
dos grupos em confronto – o coronel João Gualberto Gomes de Sá e o
monge José Maria. Conhecido como Batalha do Irani, o enfrentamento
daquela madrugada de 22 de outubro de 1912 é considerado o início da
Guerra do Contestado, uma longa e sangrenta disputa entre os seguidores
do monge e as forças policiais e militares. (MACHADO, 2012, p. 17)

Quanto à pregação dos monges, um dado a ser levado em conta é a situação


dos colonos, pobres e dependentes da terra, e as disputas entre duas empresas
capitalistas na região que produziam um verdadeiro desmonte das relações de tra-
balho e posse da terra. Como afirma Hermann: “A Brazil Railwail foi contratada
para a construção da ferrovia ligando o trecho União da Vitória e Marcelino Ramos
em 1908”. Essa empresa tornou-se dona de grande faixa de terra que ladeava sua
obra, aproximadamente 15 km de cada lado da estrada de ferro. Essa extensão de
terra era habitada por colonos pobres, posseiros da terra, mas que foram expulsos
do local (HERMANN, 2003, p. 151).

A outra empresa que se instalou no local e provocou mais uma evasão forçada
da terra foi a Southern Brazil Lumber & Colonization, subsidiária da Brazil
Raiwail. “Mauricio Vinhas de Queiroz enfatizou o papel dessas empresas no
acirramento das disputas locais, relacionando de forma direta o ajuntamento de

20
Irani com a luta pelo direito às terras de onde eram expropriados” (HERMANN,
2003, p. 151).

Após a Batalha do Irani, o grupo de colonos se dispersou, mas manteve a crença


na vinda de um outro enviado, ou mesmo na ressurreição de José Maria. Nessa
batalha não adiantou o pedido de tempo de José Maria para se retirar com seus
seguidores, os políticos e militares paranaenses não queriam correr o risco de ver
consolidada uma invasão de catarinenses em seu estado.

O movimento messiânico dos monges volta a ganhar força com as visões de


Teodora, neta do fazendeiro Euzébio Ferreira, seguidor do monge José Maria.
Segundo as visões de Teodora, “descia um monge do céu a falar-lhe, e mandou
que fundasse em Taquaraçu uma Cidade Santa, uma Nova Jerusalém, pois só disso
dependia o seu regresso”. Para acabar com a empreitada dos colonos, uma nova
incursão armada (1913) foi enviada ao local. Essa empreitada militar foi derrotada
pelos colonos. Um novo ataque das forças militares (1914) fez com que os colonos
abandonassem o local e passassem a viver dispersos pelas vilas, mudando sempre
de lugar.

Após algum tempo, os colonos chegaram à região do Caraguatá (SC) e volta-


ram a estabelcer sua monarquia. Respeitando a escolha do monge José Maria, o
monarca permanecia sendo o fazendeiro rico e analfabeto de outrora. Os colonos
em suas caminhadas gritavam seus vivas ao monge José Maria, a São Sebastião e
à Monarquia6. Os colonos voltaram a ser atacados na Serra de Santa Maria, após
lançarem um manifesto monarquista pregando a Guerra Santa contra a república.
Explor

Mapa São Paulo-Uruguaiana, disponível em: https://goo.gl/MozzV7

A derrota final dos colonos na Guerra do Contestado foi na zona rural, na região
de Perdizinhas, no início de 1916. Seu líder, Aldeodato, declarou que teve uma
visão com o monge José Maria, que havia lhe ordenado a dispersão dos rebeldes,
pois a Guerra Santa ainda não estava acontecendo. O líder Aldeodato foi preso no
final do ano de 1915. Julgado, foi condenado a 30 anos de prisão. Vários foram
os prisioneiros enviados a julgamento, que durou todo o ano de 1916.

O grupo de colonos foi se alterando ao longo do tempo. Maria Isaura descreveu


em sua pesquisa que eles eram festivos e alegres. Segundo descreve Hermann, essa
festividade e alegria era para vivenciar os fins dos tempos de opressão e de uma
nova era. A autora ainda faz a observação de que “a guerra santa pela restauração
da Monarquia e a expectativa de ressurreição do monge José Maria e da fundação
de uma cidade sagrada tornam o Contestado o mais explicitamente messiânico e
milenarista dos três movimentos” (HERMANN, 2003, p. 153-154). Acrescento
que em uma situação de opressão, às vezes a única saída do sertanejo e do colono

6
QUEIROZ, M. V. Messianismo e conflito social: a guerra sertaneja do Contestado (1912-1916). São Paulo: Ática,
1981, p. 272.

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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

pobre, naquele contexto, foi se agarrar à fé para lutar contra a opressão da elite.
Essa luta não foi somente em nome da fé, mas foi uma tentativa válida de melhorar
sua condição de vida “acreditando” na pregação que lhes dava alguma esperança
de ter uma vida digna.

Área conflagrada: 15.000 km². População da época envolvida na área de conflito: aproxima-
Explor

damente 40.000 habitantes. Municípios do Paraná, na época: Rio Negro, Itaiópolis, Timbó,
Três Barras, União da Vitória e Palmas. Municípios de Santa Catarina, na época: Lages, Curi-
tibanos, Campos Novos e Canoinhas. Início da Guerra: dezembro de 1913, em Taquaruçu.
Tempo da Guerra: 26 meses. Auge da Guerra: março-abril de 1915, em Santa Maria, na Ser-
ra do Espigão. Final da Guerra: janeiro de 1916, em Perdizinhas. Combatentes militares no
auge da Guerra: 8.000 homens, sendo 7.000 soldados do Exército Brasileiro, do Regimento
de Segurança do Paraná, do Regimento de Segurança de Santa Catarina, mais 1.000 civis
contratados. Exército Encantado de São Sebastião: 10.000 combatentes envolvidos durante
a Guerra. Baixas nos efetivos legalistas militares e civis: de 800 a 1.000, entre mortos, feridos
e desertores. Disponível em: https://goo.gl/bAuL6k

A Greve de 1917: Marco das


Lutas Operárias no Brasil
De acordo com a historiadora Yara Khoury, “[...] 1917 é uma escolha não tão li-
mitada como parece à primeira vista. Embora restrita em sua dinâmica cronológica,
oferece dados abundantes sobre [...] relação de classes em dado momento, que po-
derão contribuir para a compreensão do todo” (KHOURY, 1981, p. 7-8).

As greves trabalhistas durante a Primeira República foram mobilizadas pela


ainda incipiente ideologia e organização dos comunistas no Brasil e por um grande
contingente de imigrantes, na sua maioria italianos, que defendiam o anarquismo
como forma de organização política em pequenas organizações que faziam suas
reivindicações político-trabalhistas nas portas de fábricas.

As principais reivindicações desse período foram: o aumento salarial; a melhoria


das condições de trabalho; moradia e alimentação; e criação de leis trabalhistas e
previdenciárias, além do direito de organização de sindicatos e a proibição do tra-
balho infantil.

As lutas por direitos trabalhistas e organização operária ganhou relevância a


partir de 1910, quando alguns líderes anarquistas ganharam relevância, como, por
exemplo, Benjamin Motta e Edgard Leuenroth, com o periódico “A Lanterna”.
Nesse período, o Rio de Janeiro estava sendo ultrapassado em número de fábricas
e operários. Daí em diante, São Paulo tomaria a dianteira da produção nacional
de bens e serviços. Esses setores foram aquecidos pelo excedente de capital dos
investidores das lavouras cafeeiras, que diversificavam seus investimentos desde o
final dos oitocentos.

22
Explor
Chama-se anarquismo o movimento político que defende a anarquia, ou seja, a supressão
de todas as formas de dominação e opressão vigentes na sociedade moderna, dando lugar
a uma comunidade mais fraterna e igualitária, fruto de um esforço individual a partir de um
árduo trabalho de conscientização [...] Os anarquistas se caracterizaram pela pouca inclinação
à constituição de grandes organizações, formando grupos dispersos [...] Entre os seus teóricos
contam-se pensadores tão diversos como William Godwin (1773-1836), P. J. Proudhon (1809-
1865), Bakunine (1814-1870), Kropotkin (1842-1921) ou o português Silva Mendes.
Disponível em: https://goo.gl/fcbHbz
Ver também: Anarquismo: origens da ideologia anarquista.
Disponível em: https://goo.gl/bG4v8n

O combate às condições precárias de vida e trabalho dos operários é articulado


principalmente nos periódicos anarquistas e ou comunistas do período. Seguindo
o caminho percorrido por Khoury, podemos citar entre os jornais mais combativos
que estão em atividade no ano de 1917: “A Plebe”, dirigido por Leuenroth;
“Avanti”, de Teodoro Monicelli; “La Bataglia”, de Gigi Damiani; “Il Picollo”, de
Paulo Mazzoldi; entre tantos outros (KHOURY, 1981, p. 13). A Europa nesse
mesmo período estava em ebulição. Os trabalhadores reivindicavam melhores con-
dições salariais e de trabalho. Os movimentos socialistas, anarquistas e comunistas
davam o combustível para o operariado europeu lutar por seus direitos. Uma coin-
cidência foi que no ano de 1917, quando estouram as greves no Brasil, estava em
curso a Revolução Russa.
No início do século XX, a maioria da popula-
ção brasileira vivia no campo. O grande contin-
gente de trabalhadores das fábricas brasileiras era
formado por estrangeiros, italianos e espanhóis,
além de outras etnias menos numerosas. Com eles
vieram também os ideais socialistas. Um bom nú-
mero de brasileiros paupérrimos também estava
se inserindo no trabalho urbano. Esse contingente
de trabalhadores ‘nacionais’ foi tomando, mesmo
que precariamente, consciência de seus direitos,
noção de classe e conscientização política, através
do contato com o estrangeiro. No ano de 1905,
esse contato produziu seus primeiros efeitos, os
trabalhadores dos portos do Rio de Janeiro e San-
tos fizeram uma paralisação exigindo melhorias
nas condições de trabalho. No ano de 1906, foi Figura 3 – Edgard Leuenroth
a vez dos ferroviários reivindicarem seus direitos. Fonte: Wikimedia Commons

Leuenroth nasceu em Mogi Mirim (SP) no ano de 1918 e foi um dos


mais atuantes anarquistas da Primeira República, atuando em defesa dos
trabalhadores. Foi fundador e ou colaborou com diversos periódicos ope-
rários, entre os quais podemos citar: O Alfa, A Lucta Proletária, A Folha
do Povo, A Noite, Ação Libertária, Ação Direta. Ajudou a fundar algumas

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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

organizações ligadas à imprensa: Centro Typographico de São Paulo, a


Associação Paulista de Imprensa, a Federação Nacional da Imprensa e a
União dos Trabalhadores Gráficos. (KHOURY, op. cit.)

O primeiro efeito colateral desse encontro entre trabalhadores brasileiros e es-


trangeiros foi a elaboração da lei que expulsaria do país todo estrangeiro que se en-
volvesse ou aderisse a uma greve. Essa lei é do ano de 1907 e ao longo da Primeira
República, ela atingiu inúmeros líderes anarquistas e comunistas estrangeiros, em
São Paulo e em outras regiões do país. Em geral, o bode expiatório foram os peri-
ódicos, que tinham suas redações invadidas e destruídas e seus diretores e redatores
presos. Grande parte da elite, que controlava o governo e os meios de comunica-
ção, se mobilizou contra os trabalhadores. No ano de 1906, o então secretário de
segurança pública de São Paulo, Washington Luís, anos mais tarde presidente da
República, reprimiu as paralisações com a força policial.

A origem da palavra greve deriva de uma praça em Paris, onde os operários faziam suas reuniões
Explor

para expressar seu descontentamento com as condições de trabalho e na hipótese de realizarem


uma paralisação dos serviços para reivindicar seus direitos; pois bem, nesta praça acumulavam-se
os gravetos trazidos das enchentes do rio Sena, daí surgiu a nomenclatura Greve (ALMEIDA, 2010).

A truculência com que foram tratadas as paralisações dos trabalhadores em


São Paulo foi o estopim da maior greve registrada durante a Primeira República.
No ano de 1917, um jovem trabalhador espanhol foi morto em uma paralisação,
no dia 9 de julho, quando a polícia investiu com a cavalaria contra os grevistas na
porta da fábrica Mariângela, no Brás, matando o jovem anarquista espanhol José
Martinez. Seu funeral foi seguido por uma multidão de trabalhadores, que atraves-
sou a cidade para chegar ao cemitério do Araçá.
O enterro dessa vítima da reação foi uma das mais impressionantes de-
monstrações populares até então verificadas em São Paulo [...] estendeu-se
o cortejo, como um oceano humano [...] sob um silêncio impressionante,
que assumiu o aspecto de uma advertência. Foram percorridas as prin-
cipais ruas do centro. Debalde a Polícia cercava os encontros de ruas.
A multidão ia rompendo todos os cordões, prosseguindo sua impetuosa
marcha até o cemitério. (LEUENROTH, Edgard)

Figura 4 – Multidão no sepultamento de José Martinez


Fonte: Wikimedia Commons

24
A indignação tomou conta dos trabalhadores do Cotonifício Crespi, que entra-
ram em greve, sendo logo seguidos por outras fábricas espalhadas pelos bairros
operários de São Paulo. Milhares de trabalhadores cruzaram os braços. Entre os
que apoiaram a greve da indústria têxtil, estavam os trabalhadores da indústria ali-
mentícia, os gráficos e ferroviários. Com a greve, teve lugar uma grande desordem
na cidade - foram saqueados armazéns; bondes e carros foram queimados; barri-
cadas foram levantadas nas ruas; houve troca de tiros entre os grevistas e a força
policial que reprimia as paralisações com violência.

Figuras 5 e 6 - Mobilização deTrabalhadores, Greve 1917; Violência Policial na Greve de 1917


Fonte: Wikimedia Commons

A Greve de 1917 acabou se generalizando e tomando outras regiões do país,


o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, entre outras capitais e cidades importantes,
como, por exemplo, Campinas. A luta dos trabalhadores foi para ter reconhecido
o seu direito a oito horas diárias de trabalho, proibição do trabalho infantil, direito
a férias e a salários dignos.

Outro motivo que vigorou a paralisação deveu-se ao contexto internacional.


Com o início da Primeira Guerra Mundial, o Brasil tornou-se exportador de gê-
neros de primeiras necessidades, além de gêneros alimentícios, aos países que
compunham o tratado militar da “Tríplice Entente” – Reino Unido, França e Im-
pério Russo, o que reduziu acentuadamente a oferta dos produtos exportados, em
especial a de alimentos disponíveis para o consumo interno, provocando alta nos
preços e produzindo inflação.

Os salários não acompanhavam o aumento dos preços, o que resultou em uma


acentuada precarização da vida dos trabalhadores. Para compensar as perdas, mui-
tas famílias colocaram seus filhos pequenos no mercado de trabalho. A mão de
obra a baixo custo só favoreceu os empresários, pois na maioria dos casos o traba-
lho infantil não compensou a perda do poder de compra do salário dos pais.
Explor

Jornal A Capital, disponível em: https://goo.gl/XZ47py

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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

O auge deste período foi a greve geral de julho de 1917, que paralisou
a cidade de São Paulo durante vários dias. Os trabalhadores em greve
exigiam aumento de salário. O comércio fechou, os transportes pararam
e o governo impotente não conseguiu dominar o movimento pela força.
Os grevistas tomaram conta da cidade por trinta dias. Leite e carne só
eram distribuídos a hospitais e, mesmo assim, com autorização da comis-
são de greve. (LINHARES, 1977)

Um adendo importante, que deve ser realizado no nosso estudo sobre as greves
operárias durante a Primeira República e a violência com que foram tratados os
operários pelo Estado, é dizer que se os trabalhadores urbanos foram reprimidos
pela polícia, no campo a coisa era muito pior. Segundo Heckker, a repressão dos
“coronéis” do campo, na greve rural de 1913, que despediu e piorou muito a si-
tuação dos colonos, foi ainda mais drástica porque serviu de modelo de repressão
para os latifundiários seguirem em outras tentativas de greve no campo. A pequena
vitória obtida pelos colonos na região de Ribeirão Preto no ano de 1912 foi total-
mente aniquilada no ano seguinte.
Se as greves de trabalhadores urbanos significavam um caso de polícia
para as autoridades da República Velha, no campo eram um caso de
guerra. Pelo menos era esta a determinação dos proprietários de terras
que, em bloco, uniram-se para repelir as reivindicações dos colonos em
abril e maio de 1913, no importante centro cafeicultor de Ribeirão Preto.
Seguramente, as greves no campo não foram incomuns, como à primeira
vista a ausência de documentação ou de estudos específicos sugere [...]
Esta de Ribeirão Preto em 1913, porém, adquiriu importância singular,
não apenas pelo número expressivo de trabalhadores grevistas, mas pela
intolerância e capacidade de organização, seguida de sucesso, que os fa-
zendeiros obtiveram [...] não foi possível romper, mesmo que levemente,
o campo de força montado pelo “coronel” Francisco Schimidt e outros
latifundiários (HECKER, 1988, p. 95).

Ao final do embate entre trabalhadores e a repressão do Estado através de


seu aparato policial, ficou decidido que se formaria uma Comissão de Jornalistas
para analisar as reivindicações dos trabalhadores. O presidente do Estado, Altino
Arantes, saiu em defesa da elite paulista, atribuindo aos imigrantes anarquistas e
comunistas, infiltrados nas fábricas da cidade, a desestabilização da ordem e incita-
ção dos trabalhadores.

A utilização de crianças e adolescentes na função de operários nas fábricas da Primeira Re-


Explor

pública foi uma prática social presente no início do século XX. Por se tratar de trabalhadores
que ganhavam salários baixos e a necessidade de ajudarem na complementação da renda
familiar para sobreviverem, estes representavam uma mão de obra farta para os emprega-
dores donos das indústrias e oficinas. Eram constantes os acidentes envolvendo esses ope-
rários, durante os turnos das fábricas. Por mais que os encarregados e os chefes tentassem
disciplinar as crianças e os adolescentes para a execução da tarefa com eficácia, eles não
deixavam de ser crianças. Leia mais sobre em: https://goo.gl/ZAJb39

26
Os trabalhadores decidiram em um ato-comício no Hipódromo da Mooca que en-
quanto suas reivindicações não fossem aceitas eles não voltariam ao trabalho. Os patrões
decidiram, então, dar um aumento imediato, e se formou uma comissão de jornalistas
para ouvir as reivindicações dos trabalhadores apresentadas pelo Comitê de Defesa
Proletária. As exigências dos trabalhadores foram levadas para conhecimento de Altino
Arantes. A maior vitória da classe trabalhadora com a Greve de 1917 foi o reconhe-
cimento do movimento operário como instância legítima, o que obrigava os patrões a
negociar com os trabalhadores e considerá-los em suas decisões. As demais exigências
foram bastante ambiciosas, mas a Greve foi um marco para conscientizar o trabalhador
a lutar pelos seus direitos.

Abaixo, extraídas do site Projeto Memória Rui Barbosa, temos a íntegra das
exigências dos trabalhadores ao governo e aos patrões.

O que Reclamavam os Operários


Explor

Os representantes das ligas operárias, das corporações em greve e das associações político-
-sociais que compõem o Comitê de Defesa Proletária, reunidos na noite de 11 de junho,
depois de consultadas as entidades de que fazem parte, expondo as aspirações de toda a
população angustiada por prementes necessidades, considerando a insuficiência do Estado
no providenciar de outra forma que não seja pela repressão violenta, tornam públicos os fins
imediatos a que a atual agitação se propõe, formulando da maneira que segue as condições
de trabalho que, oportunamente, serão examinadas nos seus detalhes. Saiba na íntegra as
condições de trabalho, disponíveis em: https://goo.gl/uZQqTM

Tenentismo: A Frustração Eleitoral


como Chave do Movimento
O movimento tenentista, formado em sua maioria por tenentes do exército in-
satisfeitos com a situação política e social do país, em especial com a corrupção e
a imoralidade política dos pactos oligárquicos, passou a ser conhecido a partir da
insatisfação com os resultados eleitorais no ano de 1922, quando ocorreu o Le-
vante do Forte de Copacabana. Concorriam ao pleito eleitoral Arthur Bernardes,
representante da oligarquia paulista, e Nilo Peçanha, representante das oligarquias
dissidentes do Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia, com o apoio dos militares.
Estava na presidência o paraibano Epitácio Pessoa, que já havia enfrentado em seu
governo algumas revoltas militares.

O candidato apoiado pelos militares saiu derrotado das eleições, sob a suspeita
de fraude eleitoral, fato corriqueiro na Primeira República, o que revoltou os tenen-
tes que não queriam ver a perpetuação das oligarquias paulista e mineira no poder.
Para agravar a situação, circulava uma série de cartas falsas, supostamente escri-
tas pelo candidato da oposição, Arthur Bernardes, criticando a ação política dos
militares do exército, em especial o oficialato. A insatisfação de oficiais de baixa

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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

patente estava a um passo para explodir em levante, e a gota d’agua foi a prisão do
marechal Hermes da Fonseca, após ter criticado o processo eleitoral. Isso fez com
que se organizassem alguns levantes nas instalações militares do Rio de Janeiro,
Niterói e Mato Grosso.

No dia 5 de julho de 1922, militares amotinados no Forte de Copacabana pas-


saram a ameaçar disparar seus canhões contra a cidade do Rio de Janeiro. Esses
militares estavam sob o comando de Siqueira Campos e do filho do marechal
Hermes da Fonseca, Euclides H. da Fonseca. A intenção dos revoltosos era to-
mar o Palácio do Catete e declarar o marechal Hermes como comandante de um
governo provisório, até que fossem recontados os votos da eleição para presidente
e as dúvidas sobre fraude eleitoral fossem disseminadas.

Os amotinados não contavam com a grande deserção ocorrida horas após o


levante. Após as baixas, Euclides saiu do forte para tentar negociar com o governo
a situação dos 28 homens que permaneciam no Forte, mas ao sair foi imediata-
mente preso e o forte bombardeado pelas forças governistas, forçando os militares
a abandonar o prédio que estava sendo duramente atacado. Apenas dezessete
militares persistiram com o plano de enfrentar o governo. No caminho, ganharam
o reforço de um civil, Otávio Pessoa. Passaram então aos “18 do Forte”, que ca-
minhando pela praia de Copacabana para atingir o Catete, foram atacados. Mor-
reram dezesseis; apenas Eduardo Gomes e Siqueira Campos sobreviveram e foram
presos. A partir desse episódio, iniciou-se a saga dos “tenentes”, que só arrefeceu
na década de 1930, após Getúlio Vargas tomar o poder.
Explor

Notícias sobre os eventos dos “18 do Forte”, disponível em: https://goo.gl/cgDRFg

Figura 7 – Forte de Copacabana – RJ


Fonte: Wikimedia Commons

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O tenentismo foi um movimento de caráter político-militar, e de certa forma
um movimento social, entre as décadas de 1920 e 1930. Esse movimento con-
tou principalmente com jovens tenentes do exército. No decorrer da década de
1920, uma ala do tenentismo foi progressivamente radicalizando suas posições,
distanciando-se da ala mais afeita a elaborar uma aliança com as oligarquias “dissi-
dentes”. O programa político das duas frentes de “combate” tenentista foi defender
o progresso do país e a inclusão da classe média, mas dentro da ordem estabeleci-
da, sem muitas alterações do status quo.
A política econômica inflacionista dos governos oligárquicos (sobretudo
no período 1914-1925) empobrecerá progressivamente os setores mais
baixos das camadas médias, criando um clima de insatisfação difusa, sus-
tentado por reivindicações econômicas imediatas e desligadas de progra-
mas políticos mais profundos e contundentes. (SAES, 1975, p. 99)

Os tenentes se comportavam como herdeiros da política salvacionista de Hermes


da Fonseca, que pretendia disseminar sua hegemonia política por todo o país e
salvar o Brasil da crise em que se encontrava. Para Nícia Vilela Luz, “os tenentes
mantiveram-se dentro dos limites estabelecidos pela ideologia liberal cultuada pelas
oligarquias e grande parte dos setores intermediários” (SAES, 1975, p. 100).
Saes argumenta que o sentido dominante poderia ter sido esse, mas havia no
seio do movimento tenentista distintas tendências para entender o papel que os
tenentes deveriam desempenhar na política e na sociedade. Apesar de serem adep-
tos do ideal salvacionista, alguns integrantes do movimento refletiam as ambigui-
dades e disparidades que existiam nas classes médias urbanas. Essa tendência de
alguns líderes do movimento provocou um racha entre os tenentes, principalmente
entre o grupo que defendia uma aliança com as oligarquias hegemônicas e o grupo
que defendia um estado interventor desligado das oligarquias.
O movimento tenentista contestava a política dos governos representantes das
oligarquias cafeeiras e dos coronéis em todo o país. Embora também adotassem
uma visão político-social conservadora e autoritária, os tenentes defendiam refor-
mas políticas e sociais. Os tenentes desejavam a moralidade política no país e de-
fendiam um rigoroso combate à corrupção.
O problema da ala mais radical, que teve como um de seus líderes o tenente Luís
Carlos Prestes, foi ter lançado mão do recurso das armas em escala nacional, in-
clusive contra o poder da União. Essa atitude criou certo desconforto inclusive nos
grupos oligárquicos dissidentes, pois já havia, segundo Saes, um consenso entre as
oligarquias de situação e oposição de não utilizar o emprego da violência.
A ala radical, que inicialmente defendia um estado liberal e democrático, passou
a defender um Estado modernizante, interventor, com princípios nacionalistas e
reformistas, inclusive com um regime popular proletário. Essa ala à esquerda do
tenentismo desejava uma industrialização nacional, sem capital estrangeiro. O in-
vestidor, no caso, seria o Estado, tanto para a modernização do país, quanto para
torná-lo industrializado. E isso causou um enfrentamento entre o Estado e a famosa
“Coluna Prestes”.

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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

Se a rebelião dos tenentes do Forte de Copacabana, em 1922, tinha gera-


do uma forte repressão por parte do governo Epitácio, causando a prisão
do maior ídolo das Forças Armadas – o marechal Hermes da Fonseca – o
período de Arthur Bernardes foi marcado pela violenta repressão aos mo-
vimentos militares que eclodiram em vários pontos do país. (LUSTOSA,
2008, p. 151)

A política de moralização dos tenentes defendeu, entre outras matérias: o fim do


voto de cabresto, a reforma do sistema de ensino de todo o país e o voto secreto.
No ano de 1924, durante o governo de Arthur Bernardes, uma segunda revolta,
desta vez bem organizada e com reivindicações bem definidas, ocorreu em São
Paulo e foi duramente combatida pelas forças oficiais do governo. As exigências
dos tenentes eram: a moralização da república por meio do voto secreto, a real
autonomia dos três poderes, a obrigatoriedade do ensino primário e profissional e
o respeito às leis e à justiça.
Explor

Segundo 5 de Julho – São Paulo 1924, disponível em: https://goo.gl/NYZYfB

Figura 8 – Coluna Prestes - 1927


Fonte: FGV

Comandados pelo general Isidoro Dias Lopes e pelo major Miguel Costa, os “te-
nentes” tomaram principalmente a região operária da capital paulista. Reprimidos
pelas tropas governistas, aproximadamente mil combatentes formaram a coluna
paulista, deixando São Paulo em direção a Foz do Iguaçu, no estado do Paraná.
Os revolucionários gaúchos, comandados por Luís Carlos Prestes, depois de vários
confrontos com as forças governistas, também formaram uma coluna e marcha-
ram até Foz do Iguaçu para unir-se aos revolucionários paulistas. Essa junção de
combatentes deu origem à hoje famosa Coluna Prestes, que percorreu milhares
de quilômetros por todo o interior do país, chegando a se confrontar em algumas
ocasiões com as forças governistas.

30
Explor
A Coluna Miguel Costa Prestes, mais conhecida como Coluna Prestes, foi um movimento
liderado por militares, que faziam oposição à República Velha e às classes dominantes na
época. Teve início em abril de 1925, no governo de Artur Bernardes (1922-1926). Luís Carlos
Prestes tornou-se o ícone desta Marcha, ficando conhecido como “O cavaleiro da esperan-
ça”. Ele não foi o principal líder da Coluna. Quem tomou a frente do percurso foi Miguel
Costa. Mas Prestes era o idealizador, aquele que alimentava o sentimento de liberdade po-
lítica, voto secreto e justiça social. Em fevereiro de 1927, a Coluna chegou à Bolívia, onde se
desfez. Muitos combatentes se exilaram ali mesmo. Prestes foi para Rússia e, posteriormen-
te, voltou ao país como um dos líderes do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Disponível em: https://goo.gl/kp9MRR

Figura 9
Fonte: Wikimedia Commons

O tenentismo perdeu seu ímpeto com a chegada de Getúlio Vargas ao poder


com o Golpe de 1930. Getúlio ocupou importantes cargos nos governos ante-
riores e conhecia bem o movimento tenentista e seus líderes. A fim de dividi-los
e enfraquecê-los, o experiente político gaúcho acomodou alguns líderes do movi-
mento no governo de intervenção nos Estados. Foi o tiro de misericórdia que o
tenentismo levou para praticamente deixar de existir; os líderes que não quiseram
tomar parte no governo continuaram o movimento, agora bastante enfraquecido.

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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
A Guerra do Contestado Parte 1
https://youtu.be/rQzJHL4X3-U
A Guerra do Contestado Parte 2
https://youtu.be/9eF_bNXprRY
Roda Viva com Luiz Carlos Prestes em 1986
https://youtu.be/_vEKofZOZCA
Coluna Prestes | DOC
https://youtu.be/d9a3Pf3LFFg
Breve Histórico do Movimento Grevista e operário do Brasil
https://youtu.be/okVB4wfaaq8

Filmes
Guerra de Canudos
Em 1893, Antônio Conselheiro (um monarquista assumido) e seus seguidores começam
a tornar um simples movimento em algo grande demais para a República, que acabara
de ser proclamada e decidira por enviar vários destacamentos militares para destruí-los.
Os seguidores de Antônio Conselheiro apenas defendiam seus lares, mas a nova ordem
não podia aceitar que humildes moradores do sertão da Bahia desafiassem a República.
Assim, em 1897, esforços são reunidos para destruir os sertanejos. Esses fatos são vistos
pela ótica de uma família, que tem opiniões conflitantes sobre o Conselheiro.

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Referências
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