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A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo
e as Greves Operárias
• Introdução;
• O Juazeiro do Padre Cícero;
• Antônio Conselheiro: O Erro foi Desafiar “Deus”;
• Guerra do Contestado: Luta de Miseráveis Contra o Poder das Elites;
• A Greve de 1917: Marco das Lutas Operárias no Brasil;
• Tenentismo: A Frustração Eleitoral como Chave do Movimento.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Entender como o mito do brasileiro cordial e pacífico ainda está em aberto para
novas interpretações da história da Primeira República.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
Contextualização
Refletindo sobre o passado através de ações do presente!
No jornal “El País”, da Espanha, a matéria enfoca a repressão policial dos pro-
testos na cidade de São Paulo. Diferentemente da “Grande Mídia” brasileira, o
jornal trás a “política da borracha” do governo paulista, que prefere reprimir ao
invés de dialogar e atender a população pobre que depende do transporte público,
em que R$ 0,10; 0,20; 0,30 centavos, no final das contas, fazem muita diferença
para uma população que não está sendo atendida de forma adequada pelos go-
vernos neoliberais. Assim como na Primeira República, as políticas são mais para
favorecer a elite do que a população pobre.
Bons estudos!
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Introdução
Nesta unidade, nosso desafio será estudar algumas manifestações, instituciona-
lizadas ou não, que deram a tônica da insatisfação das camadas pobres e da classe
média baixa da população contra a opressão da elite durante a Primeira República.
Confrontando a “ordem estabelecida”, tivemos desde movimentos messiânicos que
saíram do seio de uma instituição para se tornarem proscritos, no caso de Juazeiro
do padre Cícero, passando por movimentos messiânicos independentes, que fala-
vam de religião ou mesmo do catolicismo, como, por exemplo, Canudos e Contes-
tado, que desafiaram o Estado e o Catolicismo.
Tendo de enfrentar movimentos sociais da magnitude de Juazeiro, Canu-
dos e Contestado, e encontrar soluções viáveis para a manutenção e ex-
pansão de suas instituições, os dirigentes eclesiásticos viram seus esforços
condicionados quer pela necessidade de acertarem fórmulas de acomoda-
ção com as elites oligárquicas, quer pelas diretrizes impostas pela políti-
ca pontifícia de “romanização” [...] A maioria dos bispos atuantes nesse
período se viram envolvidos em conflitos sérios com irmandades leigas e
em pendências judiciais com autoridades públicas em torno de questões
patrimoniais [...] via de regra, o primeiro passo dos prelados era entabular
negociações com os dirigentes, buscando partilhar as principais posições
no sistema interno de poder. (MICELI, 1988, p. 123-124)
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
bispo ele é finalmente ordenado e volta para o Crato” (HERMANN, 2003, p. 129).
No entanto, após um sonho com o “Sagrado Coração de Cristo”, o padre se fixa
em Juazeiro, pois acreditava ser essa a mensagem transmitida pelo seu sonho.
Padre Cícero é um dos personagens mais complexos da nossa história republicana. Padre
Explor
maldito, político controverso e persona non grata dentro da instituição católica por muito
tempo, vem sendo reabilitado nas últimas décadas pela Igreja Católica e poderá ocupar seus
altares como santo oficial, haja vista que a religiosidade popular já o elevou ao altar dos
santos há muitas décadas. Para quem desejar saber mais sobre esse importante ator de nos-
sa história, eu recomendo a ótima biografia escrita por Lira Neto: NETO, Lira. Padre Cícero:
poder, fé e guerra no sertão. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Tudo transcorria bem. Depois de quase duas décadas sendo pároco na cidade
de Juazeiro, o religioso respeitado e íntegro, mas ainda muito místico, presenciou
um fato que veio revirar sua vida às avessas. No mês de março de 1889, ano da
proclamação da República, um milagre aconteceu, assim acreditaram o padre e
seus seguidores. Uma lavadeira, mulher ainda jovem, com seus vinte e oito anos,
que atendia pelo nome de Maria de Araújo e que habitava junto à família do padre,
recebeu a hóstia sagrada na comunhão e desmaiou. Segundo Ralph Della Cava,
“a imaculada hóstia branca que acabava de receber tingiu-se de sangue” (DELLA
CAVA, 1976, p. 40). Por deliberação do bispo de Fortaleza, uma comissão de in-
quérito foi nomeada para apurar o “milagre”. Segundo Lira Neto, a beata “parecia
ter entrado em estranho transe [...] segundo chegariam a jurar sobre a Bíblia as
testemunhas ali presentes, a hóstia da boca de Maria Araújo mudou de forma e
de cor. Transformou-se, inesperadamente, em sangue vivo” (NETO, 2009, p. 65).
Segundo Hermann, o milagre ocorreu durante quarenta e sete dias seguidos, e
na festa litúrgica do “Precioso Sangue”, o reitor do seminário do Crato, monsenhor
Monteiro, à frente de uma multidão em romaria, agitava vários panos com manchas
de sangue, bradando que estavam manchados com as hóstias recebidas por Maria
de Araújo e que era o próprio sangue de Cristo. Para Della Cava, essa região era
afastada dos grandes centros, pobre e com práticas litúrgicas populares, envoltas em
crendices e superstições; sendo assim, o braço pesado da ortodoxia eclesiástica difi-
cilmente era sentido. Nesse clima, o poder do padre Cícero só fez crescer diante da
fragilidade do catolicismo oficial e da estrutura de poder da elite eclesiástica.
No entanto, os boatos dos milagres se espalharam. Mesmo com a afirmação do
reitor do seminário do Crato, monsenhor Monteiro, o bispo do Ceará, Dom Joaquim,
proibiu a propagação da crendice em panos encharcados de sangue e tentou reprimir
a euforia que estava crescendo na região. Apesar de ter o padre em boa estima, o bis-
po não poderia permitir a adoração aos paninhos. Mas a hesitação do bispo fez com
que a notícia ganhasse os jornais. Outros padres do Crato, que também acreditavam
no milagre, começaram a divulgá-lo nas missas. A coisa só entornou o caldo quando
os médicos Marcos Rodrigo Madeira e Idelfonso Correia de Lima, este também um
importante político cearense, “atestaram que a transformação da hóstia se devia a
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algum ‘agente externo, que eu concluo que seja – Deus”, afirmou Ildefonso, mas Dom
Joaquim rejeitou a hipótese em julho de 1891 (DELLA CAVA, 1976, p. 50-53).
O problema maior era que nesse momento de romanização no Brasil e de dificuldades
políticas para a Igreja Católica na Europa, afirmar um milagre, ainda mais na América
Latina, seria dar muita munição para os cientificistas, inimigos de Roma no velho conti-
nente. A Igreja no Brasil estava sob estado de alerta com a proclamação da República,
todos os esforços nesse contexto estavam virados para a política eclesiástica e a forma-
ção do novo regime no país. Havia uma tentativa de expansão diocesana em curso. Mas
o fato mais grave desse episódio ainda estava por acontecer. Em setembro de 1891,
[...] por deliberação do bispo de Fortaleza, uma comissão de inquérito foi nome-
ada para apurar o “milagre”. O relatório elaborado por dois padres de confian-
ça do bispo, padre Clyrécio da Costa Lobo e padre Francisco Ferreira Antero,
no entanto, confirmou o milagre da transformação da hóstia em sangue. Mais
grave ainda, o documento tomava partido dos “fatos extraordinários” e eviden-
ciava o surgimento de “uma igreja dentro da Igreja”, ou seja, indicava que a
potencial seita se baseava na autoridade das revelações de Cristo ao padre e à
beata. Os dois padres se tornariam defensores do padre Cícero, o que ajudou
a difundir a “veracidade” do milagre, mas tiveram de se retratar e declarar sua
fidelidade à Roma em 1895. (HERMANN, 2003, p. 132)
O padre Cícero foi impedido de atuar como sacerdote católico e até sua morte,
aos 91 anos, em 1934, lutou contra a decisão eclesiástica se dizendo um injus-
tiçado. Padre Cícero foi excomungado no ano de 1916, mesmo depois de ter
empreendido uma viagem à Roma para tentar falar com o papa para se defender
das acusações que lhe foram imputadas. No entanto, o capital político do padre
Cícero só fez aumentar. Seu poder no disputado mundo político cearense, no Vale
do Cariri e todo o Nordeste, ajudou-o a conquistar importantes cargos na vida pú-
blica, como primeiro prefeito de Juazeiro no ano de 1911. A autonomia política da
cidade veio da aliança entre o padre e o médico Floro Bartolomeu, que se aliaram
a importantes coronéis de outras vilas.
Outro importante fato intermediado politicamente por Cícero foi o pacto dos
coronéis no ano de 1911, pelo qual os mandatários da região se comprometeram
a diminuir as hostilidades no Vale do Cariri e não dar proteção aos cangaceiros e
outros criminosos procurados pela lei e, finalmente, a prestar fidelidade ao então
chefe oligárquico do Ceará, Antônio Pinto Nogueira Accioly. Além do envolvimento
do padre Cícero na política local, outro fato que azedou a relação com a elite ecle-
siástica foi que a partir da divulgação do milagre, várias irmandades leigas do sertão
passaram a ter mais respeito e prestar obediência ao padre do que à hierarquia da
Igreja, mesmo impedido de rezar missas e confessar entre os anos de 1892 e 1896.1
No campo das disputas de poder eclesiástico, foi no estado do Ceará onde uma
das mais acirradas disputas pela obtenção de uma diocese ocorreu, e foi justamente
para ficar de olhos bem colados no padre Cícero que se criou a diocese do Crato.
1
HERMANN, J. Religião e política no alvorecer da República: os movimentos de Juazeiro, Canudos e Contestado. In:
FERREIRA, J; DELGADO, L. A. N. O Brasil republicano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 133.
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
Vejamos um pouco dessa história: O Juazeiro, do padre Cícero, ainda uma pe-
quena vila, travou uma batalha bastante séria com o Crato no campo civil. Para o
padre Cícero era perturbador, na difícil situação em que ele se encontrava, tendo
inclusive que se explicar diante da hierarquia católica, o santo Ofício, sobre as acu-
sações de heresia pelo milagre ocorrido na sua capela do Juazeiro.2
Ter outro bispo lhe vigiando seria um tormento: “Se, com um bispo distante,
já amargo o pão que o diabo amassou, quanto mais com um trepado na minha
garupa” (NETO, 2009, p. 291). O padre Cícero tentou articular a criação de uma
diocese em Juazeiro, ou seria isso ou a diocese estaria destinada ao Crato. Cícero
não conseguia admitir uma diocese longe de seu controle. Para além dos motivos
religiosos, havia também as disputas de poder político entre as oligarquias do Crato
e Juazeiro. Cícero sabia que
Naquele início do século XX, dezenas de novos bispados estavam sendo cria-
dos no país, dentro de um projeto de reorganização administrativa da Igreja
brasileira. As cidades interioranas mais prósperas nos respectivos estados ti-
nham a prioridade na escolha das futuras sedes [...] cogitava-se a possibilidade
de criação de uma segunda diocese no Ceará, para dividir com o bispado de
Fortaleza para o atendimento aos cristãos do interior do estado [...] o Cariri
era o grande candidato a merecer tal honraria [...] o Crato seria o pretendente
natural a recebê-la. Era exatamente isso que Cícero mais temia [...] Só com
a possível elevação a município o Juazeiro teria alguma chance de entrar na
disputa com o Crato pela sede de uma diocese. (NETO, 2009, p. 290-291)
Segundo Lira Neto, padre Cícero utilizou-se de toda sua influência na cidade
para conseguir o patrimônio necessário para a criação da diocese na cidade de
Juazeiro. Pensou em algumas possibilidades, colocando-as em prática. Para viabi-
lizar financeiramente a empreitada, condição que a Igreja exigia para se começar
a falar no assunto, Cícero tentou levantar uma quantia, baseado nos cem contos
de réis da criação da diocese de Santa Catarina. Cícero era inteligente e solicitou
ao amigo José Marrocos que elaborasse 150 listas para levantar a quantia de um
conto de réis em cada uma, recorrendo para isso a doações espontâneas dos fiéis,
e consegue seu intento. Mas o bispo do Ceará, D. Joaquim, desdenhava do atre-
vimento do padre. “A criação de um bispado no Juazeiro é um despautério tão
grande que não vale a pena nem se falar nisso” (NETO, 2009, p. 291).
2
NETO, L. Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, pp. 244-271.
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Para infelicidade de Cícero, o bispo do Ceará, D. Joaquim, estava em Petró-
polis. “Para desmontar todos os possíveis argumentos de Cícero – inclusive os de
natureza monetária” (NETO, 2009, p. 300). Apesar de haver o interesse religioso
e financeiro da Igreja para criação da diocese naquela região, o interesse político
estava pesando contra o padre Cícero e mais, a ortodoxia da fé, nesse caso, foi
preponderante para a derrocada do padre Cícero. Essas articulações se iniciaram
bem antes da oficialização da cidade do Crato como diocese no ano de 1914.
O padre Quintino, nesse processo todo, foi essencial para manter o bispo
D. Joaquim informado de todos os passos dados pelo padre Cícero, tanto no
campo religioso, como no campo político. Mas na hora da indicação do nome
para bispo do Crato, D. Manoel, sucessor de D. Joaquim na diocese do Ceará,
preferiu indicar como opção o padre Santos, lazarista do seminário do Maranhão,
que recusa a indicação. Padre Santos declinou da responsabilidade, sabia que não
seria fácil conviver com a influência do padre Cícero no Cariri. Com sua recusa,
houve a indicação do padre Quintino, para ser o primeiro bispo do Crato, talvez
o mais preparado realmente para a função. A saga do padre Cícero esbarrou na
forte oposição de D. Joaquim, descontente com sua atuação política e religiosa,
de longa data, na região, agravada pelo suposto “milagre da hóstia” e a veneração
do povo simples pelo seu pastor3. Durante sua vida, o padre Cícero esteve mais
próximo dos poderes civis do que da hierarquia eclesiástica. Mons. Quintino, agora
bispo do Crato, em viagem ao Rio de janeiro, leva uma carta de apresentação do
bispo de Salvador e nela o pedido de instruções de como agir com o padre Cícero.
Bahia, 4 de Novembro de 1915 - Exmo. E Rvmo. Senhor
É portador desta o Exmo. Snr. Bispo do Crato, Dom Quintino Rodrigues
de Oliveira e Silva, a quem tive a satisfação de sagrar em minha Cattedral
no dia 31 de Outubro p findo, por occasião de minhas festas jubilares.
O Exmo. Snr. Dom Quintino vae a V.Ex.Revma. pedir instruções sobre
o modo como deve agir com o Revmo. Padre Cicero no caso d’elle con-
tinuar com as superstições do Juazeiro a embaraçar a boa administração
da nova Diocese; como também saber de V.Ex.Revma. o resultado de
uns documentos que o Exmo. Snr. Bispo de Fortaleza enviara anterior-
mente a Santa Sé ainda sobre o mesmo caso do Juazeiro e o Padre Cice-
ro. Deus guarde a V.Ex.Revma. Exmo. E Revmo Snr. Dom José Aversa
M.D.Arcebispo de Sardes e Nuncio Apostolico - Petropolis Servum in
Domino. +Arcebispo da Bahia [sic]. (ASV. Fasc. 714, p. 38)
Após a revisão de seu processo realizada pelo papa Bento XVI, a última notícia
que temos sobre o caso é que
3
Inúmeros trabalhos sobre o padre Cícero podem ser encontrados, mas sugiro a leitura de: DELLA CAVA, Ralph.
Milagre em Joaseiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976 e NETO, Lira. Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
Fonte: https://goo.gl/og5hTq
mandado por um líder espiritual, um “messias”, que a partir de suas pregações religiosas
passa a arregimentar um grande número de fiéis, numa nova forma de organização popular,
que foge às regras tradicionais e por isso é vista como uma ameaça à ordem constituída [...]
Os grandes grupos sociais que acreditaram nos messias e os seguiram procuravam satisfazer
suas necessidades espirituais e ao mesmo tempo materiais.
Fonte: https://goo.gl/TDfHt8
Explor
Antônio Conselheiro:
O Erro foi Desafiar “Deus”
O movimento messiânico creditado a Antônio Vicente Mendes Maciel, o Con-
selheiro, mexeu em um vespeiro. Para além de suas críticas à República, seu erro
foi bater de frente com o catolicismo, em situação fragilizada após sua separação
do Estado, pelo decreto 119-A, de 07 de janeiro de 1890. Diferentemente do
estereótipo preconceituoso e a partir da visão do vencedor realizado por Euclides
da Cunha em seu romance Os sertões: campanha de Canudos, em que faz um
retrato sombrio do Conselheiro, para o literato Roberto Ventura, os escritos encon-
trados de sua autoria “revelam um sertanejo letrado, capaz de exprimir, de forma
articulada, suas concepções políticas e religiosas, que se vinculavam a um catolicis-
mo tradicional, corrente na Igreja do século XIX” (VENTURA, 1997).
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que travava o povo sertanejo contra a carestia, suas condições precárias de vida,
sem estudo e sem trabalho, abandonado à própria sorte, invisível diante dos poderes
públicos. Com essa atitude, a “Grande
Imprensa”, em toda nossa história alia-
da do Liberalismo, mais desinforma do
que informa a população e, com isso,
deixou de relatar mais um genocídio na
história do Brasil. O primeiro e mais
clássico foi o genocídio dos nativos bra-
sileiros, massacrados pelos colonizado-
res. Estado e Igreja não titubearam em
abençoar o fim dado aos “monarquistas Figura 1 – Antonio Conselheiro
fanáticos”. Vejamos a seguir... Fonte: Wikimedia Commons
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
Foi Rui Barbosa (1843-1829) o primeiro a servir-se do termo romanização para designar o
Explor
movimento de controle do papado sobre a Igreja Católica no Brasil durante o século XIX. Para
ele, esse movimento era a ação explícita do “romanismo”, vocábulo típico dos anticlericais e
antiultramontamos de época, para contrapor-se e sobrepor-se ao poder dos Estados. (AQUINO,
Mauricio. O conceito de romanização do catolicismo brasileiro e abordagem histórica da teo-
logia da libertação. Belo Horizonte. Horizonte, vol. 11, n. 32, out/dez., 2013, p. 1485-1505).
4
ASV. Archivio Segreto Vaticano, Libri 68, pp.85 r/v, 86r [tradução do autor].
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de novembro de 1896 até outubro de 1897, até o completo extermí-
nio da comunidade. Quatro expedições militares foram enviadas contra
Canudos. (VENTURA, 1997)
A quarta expedição contra Belo Monte, no mês de abril, foi minuciosamente plane-
jada e dada ao comando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães. Essa batalha
foi longa e penosa; durou de abril a outubro de 1897, composta de duas colunas,
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
comandadas pelos generais João da Silva Barbosa e Cláudio do Amaral Savaget, cada
uma com mais de quatro mil soldados muito bem equipados. Durante as batalhas, o
ministro da Guerra do governo de Prudente de Moraes, marechal Carlos Machado
Bittencourt, se instalou na base de operações, montada na cidade de Queimadas.
O primeiro enfretamento entre as forças do governo, comandadas pelo ge-
neral Savaget, e os sertanejos, seguidores do Conselheiro, se deu no açude de
Cocorobó, próximo de Belo Monte, no mês de junho. As baixas dos conselheiris-
tas foram bastante acentuadas. Após vários enfrentamentos, os sertanejos foram
dominados e os militares chegaram às portas do Arraial. No dia 22 de setembro
de 1897 aconteceu o inesperado, Antônio Conselheiro morreu de causa desconhe-
cida, seu corpo só foi encontrado no dia 23 de setembro. “Todos os combatentes
foram degolados, algumas mulheres e crianças ficaram à mercê das tropas e sobre
os que sobreviveram ainda pouco se sabe” (HERMANN, 2003, p. 143).
A destruição do Arraial do Conselheiro não se deveu à sua inclinação monar-
quista. Antônio Conselheiro, naquele contexto, era um dos menores problemas
para o governo baiano, que tinha outros conflitos para resolver entre facções par-
tidárias na Bahia. Seu erro foi que naquele momento a Igreja estava investindo
fortemente contra a atuação pouco ortodoxa dos beatos e pregadores. A isso se
soma a pressão dos proprietários de terras contra a comunidade, cuja expansão
trazia escassez de mão de obra e rompia o equilíbrio político da região.
Um dos movimentos messiânicos mais estudados na historiografia é, sem dú-
vida, o de Antônio Conselheiro, e como consideração final para esse assunto,
vejamos as afirmações de Ventura a respeito do autor de um dos mais populares
escritos sobre a atuação “messiânica” do Conselheiro:
O silêncio de Euclides sobre as atrocidades da guerra foi acompanhado
por quase toda a imprensa. Os materiais enviados pelos correspondentes,
sobretudo pelo telégrafo, eram submetidos à censura militar. Mas outros
jornalistas, como Manoel Benício, do Jornal do Comércio, e Fávila Nunes,
da Gazeta de Notícias, chegaram a mencionar atos de violência das tropas.
A crueldade da campanha só foi revelada, com veemência, pelo estudante
de medicina Lélis Piedade, no Jornal de Notícias, da Bahia, e pelo monar-
quista Afonso Arinos, no Comércio de São Paulo. (VENTURA, 1997)
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Guerra do Contestado: Luta de
Miseráveis Contra o Poder das Elites
Segundo Hermann, no ano de 1911 os jornais de Florianópolis noticiaram o
aparecimento de Miguel Lucena de Boa Ventura, desertor do 14º Regimento de
Cavalaria de Curitiba. O homem ganhava a fama de profeta e curandeiro e era
conhecido como monge José Maria, fugitivo da cadeia, para a qual foi enviado sob
a acusação de homicídio ou atentado à moral. Após a fuga se instalou em Curiti-
banos (SC).
Em seus discursos, Miguel Lucena afirmava ser irmão e enviado do monge João
Maria, morto poucos anos antes e que pregava o eminente fim do mundo com
lutas sangrentas. Com suas pregações errantes, o monge João Maria conquistou
a confiança de muitas pessoas. Um dado interessante é que João Maria, de nome
verdadeiro Anastás Marcaf, também repudiava o regime republicano por acreditar
que as leis da república eram uma perversão; João Maria acreditava na lei do rei.
Nesse interim, ocorria uma disputa entre os estados de Santa Catarina e Paraná,
que estavam vivendo às turras com a questão de suas divisas desde 1900, quando
Santa Catarina entrou com uma ação no STF contra o Paraná; decisões seguidas
davam ganho de causa aos catarinenses (1904, 1909, 1910). A situação político-
-social na região de fronteira era um barril de pólvora. Além das disputas entre os
estados pela demarcação de seus limites, havia uma população pobre e esquecida
pelos poderes públicos que vivia abaixo do nível de pobreza e que dependia da terra
para sobreviver; muitos desses colonos eram seguidores dos monges.
5
HERMANN, Jacqueline. Religião e política no alvorecer da República: os movimentos de Juazeiro, Canudos e
Contestado. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O Brasil republicano. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003, p. 150.
19
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
O monge José Maria, que reivindicava a sucessão de seu “irmão” João Maria,
se apropriou da linguagem sagrada para mobilizar os adeptos desse discurso, numa
região litigiosa entre o Paraná e Santa Catarina, o Contestado, que dá nome à
guerra deflagrada no ano de 1912 na batalha do Irani. Diferentemente de seu
“irmão”, o monge José Maria vivia em companhia de seguidores e aceitava dona-
tivos em dinheiro, pelas receitas e aconselhamentos que dava; a justificativa era a
construção de uma farmácia do “povo”, por isso a “cobrança” de suas consultas.
Entrou em cena mais uma vez o frei Rogério Nehaus, para dissuadir mais esse
monge sobre seus erros, e o que recebeu mais uma vez foi uma recusa veemente.
José Maria passou a pregar a volta da Monarquia nomeando um rico, mas anal-
fabeto, fazendeiro da região como o novo imperador. Foi a deixa para o poder
público e a elite local. Havia um coronel da região, Henriquinho de Almeida, sim-
pático ao discurso do monge, mas o chefe político de Curitibanos, e seu opositor,
Francisco de Albuqueruqe, solicitou ajuda do estado para acabar com os monar-
quistas subversivos. Em meio à solicitação e chegada da força policial, o monge
José Maria deixou a cidade e se instalou em Irani (PR), atraindo mais adeptos à sua
causa. Para o governo paranaense, essa seria uma invasão de catarinenses em seu
estado, ordenando um ataque aos invasores em Irani.
Cerca de 200 seguidores do monge e curandeiro José Maria estão reuni-
dos em Irani. Todos eles homens simples, sertanejos, refugiaram-se ali na
esperança de evitar um confronto com as forças do governo. Mas é tarde
demais: a essa altura, o simples agrupamento – em uma região de con-
flitos fronteiriços e de instabilidade social – já é considerado uma atitude
hostil às autoridades. Em resposta à “ameaça”, o governo resolve atacar:
uma força de 58 soldados do Regimento de Segurança do Paraná entra
em combate com os sertanejos. Morrem 21 pessoas, entre elas os chefes
dos grupos em confronto – o coronel João Gualberto Gomes de Sá e o
monge José Maria. Conhecido como Batalha do Irani, o enfrentamento
daquela madrugada de 22 de outubro de 1912 é considerado o início da
Guerra do Contestado, uma longa e sangrenta disputa entre os seguidores
do monge e as forças policiais e militares. (MACHADO, 2012, p. 17)
A outra empresa que se instalou no local e provocou mais uma evasão forçada
da terra foi a Southern Brazil Lumber & Colonization, subsidiária da Brazil
Raiwail. “Mauricio Vinhas de Queiroz enfatizou o papel dessas empresas no
acirramento das disputas locais, relacionando de forma direta o ajuntamento de
20
Irani com a luta pelo direito às terras de onde eram expropriados” (HERMANN,
2003, p. 151).
A derrota final dos colonos na Guerra do Contestado foi na zona rural, na região
de Perdizinhas, no início de 1916. Seu líder, Aldeodato, declarou que teve uma
visão com o monge José Maria, que havia lhe ordenado a dispersão dos rebeldes,
pois a Guerra Santa ainda não estava acontecendo. O líder Aldeodato foi preso no
final do ano de 1915. Julgado, foi condenado a 30 anos de prisão. Vários foram
os prisioneiros enviados a julgamento, que durou todo o ano de 1916.
6
QUEIROZ, M. V. Messianismo e conflito social: a guerra sertaneja do Contestado (1912-1916). São Paulo: Ática,
1981, p. 272.
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
pobre, naquele contexto, foi se agarrar à fé para lutar contra a opressão da elite.
Essa luta não foi somente em nome da fé, mas foi uma tentativa válida de melhorar
sua condição de vida “acreditando” na pregação que lhes dava alguma esperança
de ter uma vida digna.
Área conflagrada: 15.000 km². População da época envolvida na área de conflito: aproxima-
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damente 40.000 habitantes. Municípios do Paraná, na época: Rio Negro, Itaiópolis, Timbó,
Três Barras, União da Vitória e Palmas. Municípios de Santa Catarina, na época: Lages, Curi-
tibanos, Campos Novos e Canoinhas. Início da Guerra: dezembro de 1913, em Taquaruçu.
Tempo da Guerra: 26 meses. Auge da Guerra: março-abril de 1915, em Santa Maria, na Ser-
ra do Espigão. Final da Guerra: janeiro de 1916, em Perdizinhas. Combatentes militares no
auge da Guerra: 8.000 homens, sendo 7.000 soldados do Exército Brasileiro, do Regimento
de Segurança do Paraná, do Regimento de Segurança de Santa Catarina, mais 1.000 civis
contratados. Exército Encantado de São Sebastião: 10.000 combatentes envolvidos durante
a Guerra. Baixas nos efetivos legalistas militares e civis: de 800 a 1.000, entre mortos, feridos
e desertores. Disponível em: https://goo.gl/bAuL6k
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Chama-se anarquismo o movimento político que defende a anarquia, ou seja, a supressão
de todas as formas de dominação e opressão vigentes na sociedade moderna, dando lugar
a uma comunidade mais fraterna e igualitária, fruto de um esforço individual a partir de um
árduo trabalho de conscientização [...] Os anarquistas se caracterizaram pela pouca inclinação
à constituição de grandes organizações, formando grupos dispersos [...] Entre os seus teóricos
contam-se pensadores tão diversos como William Godwin (1773-1836), P. J. Proudhon (1809-
1865), Bakunine (1814-1870), Kropotkin (1842-1921) ou o português Silva Mendes.
Disponível em: https://goo.gl/fcbHbz
Ver também: Anarquismo: origens da ideologia anarquista.
Disponível em: https://goo.gl/bG4v8n
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
A origem da palavra greve deriva de uma praça em Paris, onde os operários faziam suas reuniões
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A indignação tomou conta dos trabalhadores do Cotonifício Crespi, que entra-
ram em greve, sendo logo seguidos por outras fábricas espalhadas pelos bairros
operários de São Paulo. Milhares de trabalhadores cruzaram os braços. Entre os
que apoiaram a greve da indústria têxtil, estavam os trabalhadores da indústria ali-
mentícia, os gráficos e ferroviários. Com a greve, teve lugar uma grande desordem
na cidade - foram saqueados armazéns; bondes e carros foram queimados; barri-
cadas foram levantadas nas ruas; houve troca de tiros entre os grevistas e a força
policial que reprimia as paralisações com violência.
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Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
O auge deste período foi a greve geral de julho de 1917, que paralisou
a cidade de São Paulo durante vários dias. Os trabalhadores em greve
exigiam aumento de salário. O comércio fechou, os transportes pararam
e o governo impotente não conseguiu dominar o movimento pela força.
Os grevistas tomaram conta da cidade por trinta dias. Leite e carne só
eram distribuídos a hospitais e, mesmo assim, com autorização da comis-
são de greve. (LINHARES, 1977)
Um adendo importante, que deve ser realizado no nosso estudo sobre as greves
operárias durante a Primeira República e a violência com que foram tratados os
operários pelo Estado, é dizer que se os trabalhadores urbanos foram reprimidos
pela polícia, no campo a coisa era muito pior. Segundo Heckker, a repressão dos
“coronéis” do campo, na greve rural de 1913, que despediu e piorou muito a si-
tuação dos colonos, foi ainda mais drástica porque serviu de modelo de repressão
para os latifundiários seguirem em outras tentativas de greve no campo. A pequena
vitória obtida pelos colonos na região de Ribeirão Preto no ano de 1912 foi total-
mente aniquilada no ano seguinte.
Se as greves de trabalhadores urbanos significavam um caso de polícia
para as autoridades da República Velha, no campo eram um caso de
guerra. Pelo menos era esta a determinação dos proprietários de terras
que, em bloco, uniram-se para repelir as reivindicações dos colonos em
abril e maio de 1913, no importante centro cafeicultor de Ribeirão Preto.
Seguramente, as greves no campo não foram incomuns, como à primeira
vista a ausência de documentação ou de estudos específicos sugere [...]
Esta de Ribeirão Preto em 1913, porém, adquiriu importância singular,
não apenas pelo número expressivo de trabalhadores grevistas, mas pela
intolerância e capacidade de organização, seguida de sucesso, que os fa-
zendeiros obtiveram [...] não foi possível romper, mesmo que levemente,
o campo de força montado pelo “coronel” Francisco Schimidt e outros
latifundiários (HECKER, 1988, p. 95).
pública foi uma prática social presente no início do século XX. Por se tratar de trabalhadores
que ganhavam salários baixos e a necessidade de ajudarem na complementação da renda
familiar para sobreviverem, estes representavam uma mão de obra farta para os emprega-
dores donos das indústrias e oficinas. Eram constantes os acidentes envolvendo esses ope-
rários, durante os turnos das fábricas. Por mais que os encarregados e os chefes tentassem
disciplinar as crianças e os adolescentes para a execução da tarefa com eficácia, eles não
deixavam de ser crianças. Leia mais sobre em: https://goo.gl/ZAJb39
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Os trabalhadores decidiram em um ato-comício no Hipódromo da Mooca que en-
quanto suas reivindicações não fossem aceitas eles não voltariam ao trabalho. Os patrões
decidiram, então, dar um aumento imediato, e se formou uma comissão de jornalistas
para ouvir as reivindicações dos trabalhadores apresentadas pelo Comitê de Defesa
Proletária. As exigências dos trabalhadores foram levadas para conhecimento de Altino
Arantes. A maior vitória da classe trabalhadora com a Greve de 1917 foi o reconhe-
cimento do movimento operário como instância legítima, o que obrigava os patrões a
negociar com os trabalhadores e considerá-los em suas decisões. As demais exigências
foram bastante ambiciosas, mas a Greve foi um marco para conscientizar o trabalhador
a lutar pelos seus direitos.
Abaixo, extraídas do site Projeto Memória Rui Barbosa, temos a íntegra das
exigências dos trabalhadores ao governo e aos patrões.
Os representantes das ligas operárias, das corporações em greve e das associações político-
-sociais que compõem o Comitê de Defesa Proletária, reunidos na noite de 11 de junho,
depois de consultadas as entidades de que fazem parte, expondo as aspirações de toda a
população angustiada por prementes necessidades, considerando a insuficiência do Estado
no providenciar de outra forma que não seja pela repressão violenta, tornam públicos os fins
imediatos a que a atual agitação se propõe, formulando da maneira que segue as condições
de trabalho que, oportunamente, serão examinadas nos seus detalhes. Saiba na íntegra as
condições de trabalho, disponíveis em: https://goo.gl/uZQqTM
O candidato apoiado pelos militares saiu derrotado das eleições, sob a suspeita
de fraude eleitoral, fato corriqueiro na Primeira República, o que revoltou os tenen-
tes que não queriam ver a perpetuação das oligarquias paulista e mineira no poder.
Para agravar a situação, circulava uma série de cartas falsas, supostamente escri-
tas pelo candidato da oposição, Arthur Bernardes, criticando a ação política dos
militares do exército, em especial o oficialato. A insatisfação de oficiais de baixa
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Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
patente estava a um passo para explodir em levante, e a gota d’agua foi a prisão do
marechal Hermes da Fonseca, após ter criticado o processo eleitoral. Isso fez com
que se organizassem alguns levantes nas instalações militares do Rio de Janeiro,
Niterói e Mato Grosso.
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O tenentismo foi um movimento de caráter político-militar, e de certa forma
um movimento social, entre as décadas de 1920 e 1930. Esse movimento con-
tou principalmente com jovens tenentes do exército. No decorrer da década de
1920, uma ala do tenentismo foi progressivamente radicalizando suas posições,
distanciando-se da ala mais afeita a elaborar uma aliança com as oligarquias “dissi-
dentes”. O programa político das duas frentes de “combate” tenentista foi defender
o progresso do país e a inclusão da classe média, mas dentro da ordem estabeleci-
da, sem muitas alterações do status quo.
A política econômica inflacionista dos governos oligárquicos (sobretudo
no período 1914-1925) empobrecerá progressivamente os setores mais
baixos das camadas médias, criando um clima de insatisfação difusa, sus-
tentado por reivindicações econômicas imediatas e desligadas de progra-
mas políticos mais profundos e contundentes. (SAES, 1975, p. 99)
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
Comandados pelo general Isidoro Dias Lopes e pelo major Miguel Costa, os “te-
nentes” tomaram principalmente a região operária da capital paulista. Reprimidos
pelas tropas governistas, aproximadamente mil combatentes formaram a coluna
paulista, deixando São Paulo em direção a Foz do Iguaçu, no estado do Paraná.
Os revolucionários gaúchos, comandados por Luís Carlos Prestes, depois de vários
confrontos com as forças governistas, também formaram uma coluna e marcha-
ram até Foz do Iguaçu para unir-se aos revolucionários paulistas. Essa junção de
combatentes deu origem à hoje famosa Coluna Prestes, que percorreu milhares
de quilômetros por todo o interior do país, chegando a se confrontar em algumas
ocasiões com as forças governistas.
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A Coluna Miguel Costa Prestes, mais conhecida como Coluna Prestes, foi um movimento
liderado por militares, que faziam oposição à República Velha e às classes dominantes na
época. Teve início em abril de 1925, no governo de Artur Bernardes (1922-1926). Luís Carlos
Prestes tornou-se o ícone desta Marcha, ficando conhecido como “O cavaleiro da esperan-
ça”. Ele não foi o principal líder da Coluna. Quem tomou a frente do percurso foi Miguel
Costa. Mas Prestes era o idealizador, aquele que alimentava o sentimento de liberdade po-
lítica, voto secreto e justiça social. Em fevereiro de 1927, a Coluna chegou à Bolívia, onde se
desfez. Muitos combatentes se exilaram ali mesmo. Prestes foi para Rússia e, posteriormen-
te, voltou ao país como um dos líderes do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Disponível em: https://goo.gl/kp9MRR
Figura 9
Fonte: Wikimedia Commons
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
A Guerra do Contestado Parte 1
https://youtu.be/rQzJHL4X3-U
A Guerra do Contestado Parte 2
https://youtu.be/9eF_bNXprRY
Roda Viva com Luiz Carlos Prestes em 1986
https://youtu.be/_vEKofZOZCA
Coluna Prestes | DOC
https://youtu.be/d9a3Pf3LFFg
Breve Histórico do Movimento Grevista e operário do Brasil
https://youtu.be/okVB4wfaaq8
Filmes
Guerra de Canudos
Em 1893, Antônio Conselheiro (um monarquista assumido) e seus seguidores começam
a tornar um simples movimento em algo grande demais para a República, que acabara
de ser proclamada e decidira por enviar vários destacamentos militares para destruí-los.
Os seguidores de Antônio Conselheiro apenas defendiam seus lares, mas a nova ordem
não podia aceitar que humildes moradores do sertão da Bahia desafiassem a República.
Assim, em 1897, esforços são reunidos para destruir os sertanejos. Esses fatos são vistos
pela ótica de uma família, que tem opiniões conflitantes sobre o Conselheiro.
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Referências
ALMEIDA, A. P. CLT comentada: legislação, doutrina, jurisprudência. 5ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
CARONE, E. O Estado Novo: 1937-1945. 5ª ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 1988.
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UNIDADE A Contestação da Ordem Estabelecida:
Canudos, Contestado, Tenentismo e as Greves Operárias
KHOURY, Y. M. A. Edgard Leuenroth: uma voz libertária. São Paulo. 1988. Tese
Doutorado - FFLCH/USP.
LIRA, N. Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009.
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Sites consultados
Revista de História. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/se-
cao/capa/tragedia-anunciada>. Acesso em: 19 fev. 2015.
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