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Etapa Ensino Médio

História

“Do outro lado residem


os outros”: questões
sociais e agrárias no
Brasil
2ª Série
Aula 2 – 3º bimestre
Conteúdo Objetivos
● Conflitos e ● Analisar o movimento de Canudos,
contestações na considerando suas causas, características e
Primeira República: impactos na sociedade brasileira, no contexto
Canudos. da Primeira República;
● Refletir sobre os discursos e as justificativas
utilizados pela elite republicana para descrever
e interpretar o conflito, analisando a construção
de narrativas e estereotipias em relação à
população de Canudos;
● Analisar o discurso cientificista, assim como as
críticas e denúncias apresentadas por Euclides
da Cunha em sua obra "Os Sertões",
relacionando-as com o contexto histórico e com
as consequências do conflito.
Para começar

Assista ao vídeo, e discuta


os tópicos abaixo:

https://www.youtube.com/w
atch?v=F19PnbWigSA&t=2s
● Você já ouviu falar ou leu alguma coisa sobre o conflito em
Canudos, no sertão baiano? O que sabe sobre isso?
● Quais problemas sociais são apresentados pela letra da música
Súplica Cearense, originalmente gravada por Luiz Gonzaga, e
reinterpretada pelo Rappa?
● Qual a relação da letra da música com a Revolta de Canudos?
Foco no conteúdo
DO OUTRO LADO RESIDEM “OS OUTROS”...
“[...] Em 1896, começou o conflito armado de maior visibilidade nos
momentos iniciais da República, prontamente transformado em bode
expiatório nacional: um cancro monarquista, diziam as elites reunidas na
corte e longe dos sertões. A rebelião opôs a população de Canudos, arraial
que cresceu no interior da Bahia, ao recém-criado governo da República. Em
1897, com a missão de cobrir os acontecimentos para o jornal O Estado de
S. Paulo, o jornalista Euclides da Cunha levou um susto. Republicano de
carteirinha, ele havia embarcado para a Bahia com a convicção de que a
República iria derrotar uma horda desordenada de fanáticos maltrapilhos –
ainda por cima acusados de “monarquistas” –, acoitados num arraial
miserável. Atônito, descobriu, nos sertões baianos, uma guerra longa e
misteriosa, um adversário com enorme disposição para o combate, um
refúgio sagrado, uma comunidade organizada e uma terra desconhecida.
Foco no conteúdo
Canudos incomodou o governo da República e os grandes
proprietários de terras da região por uma razão principal: era uma
nova maneira de viver no sertão, à parte do sistema de poder
constituído. É certo que o arraial não chegou a representar uma
experiência de vida igualitária [...]. Mas é certo também que se
tratava de uma experiência social e política distinta daquela do
governo central republicano: o trabalho no arraial baseava-se no
princípio de posse e no uso coletivo da terra, e na distribuição do que
nela se produzia. [...] O resultado da produção era dividido entre o
trabalhador e a comunidade, a autoridade religiosa do Conselheiro
não dependia do reconhecimento da Igreja católica, e Canudos não
estava submetida a chefes políticos da região – representava um
elemento perturbador num mundo dominado pelo latifúndio.
Foco no conteúdo
No impacto da descoberta, anotando tudo que via e ouvia, Euclides adotou
nova perspectiva, e tornou-se um grande escritor. Sua história assumiu
um tom de denúncia. Foi muito além da reportagem de guerra: insistiu em
revelar o efeito das secas na paisagem arruinada do sertão baiano e a
devastação do meio ambiente produzida pelas queimadas no Semiárido
Nordestino; inscreveu na natureza uma feição dramática capaz de projetar,
no enredo de sua narrativa, imagens de medo, solidão, abandono;
reconheceu no mundo sertanejo uma marca do esquecimento secular e
coletivo do país.
Em Os sertões, publicado em 1902, Euclides da Cunha retomou a história da
guerra contra Canudos com um enfoque mais amplo do que usara nos
artigos de jornal. Mas manteve o tom de acusação. [...] Seu livro virou
monumento; é o memorial de Canudos”. (SCHWARCZ; STARLING, 2015).
Foco no conteúdo
Euclides da Cunha (1866-1909) foi um escritor, jornalista e professor
brasileiro, autor da obra Os Sertões. Foi enviado como correspondente ao
Sertão da Bahia, pelo jornal O Estado de São Paulo, para cobrir a guerra no
município de Canudos.

Capa da obra
"Os Sertões",
publicada no
ano de 1902.

https://www.youtube.com/watch?v=eeEXpcym_mg
Na prática
Ainda que a experiência em Canudos tenha
provocado a simpatia e a admiração de
Euclides da Cunha pelo sertanejo, as ideias
do cientificismo racial estão presentes
em Os Sertões: “A mistura de raças mui
diversas é, na maioria dos casos,
prejudicial”.
A partir dos excertos de textos e da https://www.youtube.com
imagem nos slides a seguir, reflita: /watch?v=0ycevG85mqg

Qual era a importância da questão racial para o


desenvolvimento do país?
Fale mais sobre isso!
“A Terra”
Na prática “O Homem”
TEXTO I. O meio e a raça euclidiana
“Euclides da Cunha encontrou em Canudos um “laboratório vivo” para dar
vazão a suas inquietações sobre a formação da nação brasileira e sobre os
entraves que impediam a concretização dos pressupostos positivistas que
uniam ordem e progresso. Canudos era a representação do paroxismo a
que o atraso poderia levar o país, caso o Brasil não assumisse o claro
compromisso de se unir ao mundo civilizado. Ao abandonar uma
justificativa eminentemente política para uma resistência sertaneja tão
determinada, Euclides mergulhou a análise no mundo da ciência para
explicar “o raro caso de atavismo” que encontrara em Antônio Conselheiro.
O meio e a raça foram os elementos que permitiram o equacionamento
euclidiano para o desastre de Canudos, combinação que teve por base um
conjunto de teorias muito em voga na passagem do século XIX para o XX
no Brasil. Paroxismo: auge.
[...] O processo evolutivo que Euclides acreditava
reger a história da civilização esteve presente na
própria elaboração da estrutura narrativa de Os
sertões, que inicia com a descrição do meio sertanejo:
a terra. Descendo a detalhes da formação geológica e
morfológica do sertão baiano, Euclides ressaltou a
aspereza do solo, a secura dos ares, a configuração
topográfica e climática que deu origem ao sertanejo.
Tal como a natureza, inóspita e acuada por agressões
permanentes, seculares, o homem do sertão nasceu
desse “martírio” e da luta cotidiana pela sobrevivência,
tendo por isso uma força física extraordinária e uma
capacidade “inata” para domar as dificuldades
geográficas e climáticas. Mas esse homem forte, viril, Um jagunço preso.
possuía uma degenerescência primordial, uma Foto: Flávio de
formação racial nefasta, que o torna fraco Barros, 1897.
moralmente”. (HERMANN, 1998).
Na prática
TEXTO II. O HOMEM
"[...] A gênese das raças mestiças do Brasil é um problema que por muito
tempo ainda desafiará o esforço dos melhores espíritos. [...] Abstraiamos
de inúmeras causas perturbadoras, e consideremos os três elementos
constituintes de nossa raça em si mesmos [índios, negros e brancos],
intactas as capacidades que lhes são próprias. [...] Os elementos iniciais
não se resumem, não se unificam; desdobram-se; originam número igual
de subformações - substituindo-se pelos derivados, sem redução alguma,
em uma mestiçagem embaralhada onde se destacam como produtos
mais característicos o mulato, o mameluco ou curiboca, e o cafuz. [...]
Não temos unidade de raça. Não a teremos, talvez, nunca. [...] A nossa
evolução biológica reclama a garantia da evolução social. Estamos
condenados à civilização. Ou progredimos, ou desaparecemos.”
(CUNHA, 1902).
Na prática Correção
Qual era a importância da questão racial para o
desenvolvimento do país?

Influenciado pelos referenciais evolucionistas e cientificistas (racismo


científico), Euclides da Cunha acreditava que a questão racial caminhava
lado a lado com o desenvolvimento do Brasil. Como o país não tinha uma
"unidade de raça”, não poderia ter uma unidade social. Na famosa frase:
“Ou progredimos, ou desaparecemos”, defende a evolução (biológica,
social, civilizacional), que era inviabilizada pelo atraso do norte,
representado pelo “mestiço”. Ainda que em diferentes trechos da obra
separe o mestiço do sul (mulato) do sertanejo (misto de europeu e
indígena que seria uma “sub-raça”).
Na prática Correção
Qual era a importância da questão racial para o
desenvolvimento do país?

O sertanejo, segundo Euclides, seria uma


síntese do clima, do solo, das raças, das
múltiplas mestiçagens. Ainda que observasse
que, sem fardas, os homens do exército
republicano não se diferenciassem dos
“jagunços” (ver imagem). O autor considerava
necessária a formação de uma “raça histórica”;
o que poderia demorar anos, para que o Brasil
pudesse constituir uma civilização de fato. O
sertão ainda seriam os “outros”...
Foco no conteúdo
• Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, como ficou
conhecido, nasceu em 1828, em Quixeramobim, interior do Ceará.
Tornou-se beato e pregador em 1872, depois de ser abandonado por sua
mulher, e peregrinou por várias partes do Nordeste, sendo acompanhado
por muitos adeptos.
• Em pouco tempo, despertou inquietação entre representantes da Igreja
Católica, que solicitaram medidas das autoridades contra o beato. Foi
preso diversas vezes, acusado de perturbar a ordem pública e de
encorajar a desobediência às instituições civis e religiosas. Apesar disso,
sua fama se alastrou pelo Nordeste. Era tido por muitos como profeta,
um homem de Deus. Porém, mais difícil do que abrir as portas do céu,
era abrir as portas da terra para os esquecidos pelo poder público. É mais
provável que essa fosse a razão de seu prestígio.
Foco no conteúdo
• Após a Proclamação da República, Conselheiro e alguns de seus
seguidores reagiram publicamente à cobrança de impostos pelo
governo. Numa localidade baiana, queimaram os editais em uma
ruidosa manifestação. O governo enviou, para prendê-los, uma tropa
com 35 soldados que acabaram derrotados pelos fiéis.

5º Corpo de
Polícia da Bahia
na trincheira
(1897)
• Alguns anos depois, em junho de 1893,
o beato decidiu fundar uma povoação,
deixando a vida de peregrino. Com seus
seguidores, ergueu um arraial em uma
fazenda abandonada, próxima a um rio
temporário chamado Vaza-Barris, onde
havia umas poucas e humildes casas
habitadas por algumas famílias.
• A região era árida, o solo pedregoso e,
durante as épocas de seca prolongada, a
água só era encontrada em pequenos
poços perfurados no fundo do ressecado
leito do rio.
Pintura retratando Canudos antes da guerra, e vista
parcial de Canudos em 1897. Fotografia de Flávio de
Barros (Acervo Museu da República).
Foco no conteúdo
• Antônio Conselheiro chamou a localidade de
Belo Monte, mas, devido à abundância de um
tipo de vegetação denominado canudo-de-
pito, o lugar ficou conhecido como Canudos. Os
seguidores de Antônio transformaram o espaço
em um próspero povoado. Com o trabalho
comunitário, os habitantes de Canudos
dedicavam-se à pecuária e à agricultura, e
praticavam o comércio com as cidades vizinhas.
Uma parte do que todos produziam era
destinada a um fundo comum, cuja função era
amparar os habitantes mais necessitados e
realizar as “grandes” obras: a igreja e a escola.
Foco no conteúdo
• O acesso à terra e ao trabalho comunitário tornaram Canudos a segunda
maior cidade da Bahia, onde, curiosamente, não circulava dinheiro. Um
cofre, sob a responsabilidade de um dos líderes do povoado, reunia o
dinheiro obtido com as transações comerciais. Eram emitidos vales para
as trocas internas. Tempos depois, o vale de Canudos era aceito como
moeda nas cidades próximas. A existência de uma comunidade que não
estivesse à mercê dos coronéis e escapasse ao controle do Estado e da
Igreja foi entendida como uma ameaça. De certo modo, isso era uma
realidade.
• Canudos transformou-se na concretização do sonho dos sertanejos de
ter uma vida com o mínimo de dignidade. A República Oligárquica não
oferecia as possibilidades que o beato Conselheiro e seus seguidores
apresentavam a todos os que viviam nos sertões. Implicitamente, eles
representavam a negação ao regime.
“A Luta”
Na prática
Em dupla, analise a luta de Canudos a partir dos textos
a seguir, e responda às questões!
Quais argumentos o historiador Nicolau Sevcenko apresenta para analisar o
Conflito de Canudos? Por que a sociedade e a cultura tradicional, na Primeira
República, não representavam o ideal de nação?
Qual foi a posição apresentada na charge da revista Illustrada, de 1897,
acerca da guerra em Canudos e da figura de Antônio Conselheiro? Explique.
Em nota preliminar à primeira edição de Os Sertões (Campanha de
Canudos), Euclides denunciou: “Aquela campanha lembra um refluxo para o
passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-
lo”. É possível identificar no fragmento (Texto II) a crítica do autor em
relação ao desfecho da guerra? Relacione a crítica do autor à fotografia de
Flávio de Barros.
Na prática
TEXTO I:
O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso
“[...] Esse conjunto de transformações [abolição, imigração estrangeira,
práticas de trabalho assalariado] gerou um amplo processo de
desestabilização da sociedade e cultura tradicionais, cujo sintoma mais
nítido e mais excruciante, pelos custos implicados no desejo das novas
elites de promover a modernização “a qualquer custo” foi o episódio da
Revolta de Canudos, de 1893 a 1897. As autoridades republicanas foram
alertadas sobre a existência do povoado de Canudos, no sertão da Bahia,
nesse ano de 1893, pois até então ele nem sequer constava dos mapas
oficiais.
Excruciante: Aflitivo; que é doloroso; que consome, atormenta e tortura.
Lancinante; capaz de excruciar, de causar ou de sentir aflição.
Os dirigentes no Rio de Janeiro receberam a queixa das autoridades baianas,
relativas a um núcleo de ‘fanáticos religiosos’ comandados por ‘um indivíduo
Antônio Vicente Mendes Maciel, que pregando doutrinas subversivas fazia
grande mal à religião e ao Estado, distraindo o povo e arrastando-o após si,
procurando convencer de que era o Espírito Santo, insurgindo-se contra as
autoridades constituídas, às quais não obedecia e mandava desobedecer’
[...] Por fim, foi enviada do próprio Rio de Janeiro uma expedição militar
fortemente armada, [...] comandada pelo auxiliar direto do marechal
Floriano, o general Moreira César, positivista obstinado, notório pelo
entusiasmo sanguinário com que suprimia grupos rebeldes. Para espanto
geral, não só a expedição foi totalmente desbaratada, como o general
Moreira César foi abatido pelo fogo inimigo. Pânico geral! A única maneira de
justificar a catástrofe foi atribuir aos revoltosos a imagem de conspiradores
monarquistas, decididos a derrubar o novo regime, mantidos, organizados e
fortemente armados a partir do exterior por líderes expatriados do regime
imperial. Aniquilá-los por completo era, portanto, uma questão de vida ou
morte para a jovem República.” (SEVCENKO, 1998).
Revista Illustrada, 1897. (Angelo Agostini).
Antônio Conselheiro. “Até tomando ares de dizer à República: - Alto lá! Daqui
não passarás…” “Felizmente o governo muito acertadamente organizou uma
expedição séria, dando o comando ao bravo coronel Moreira Cezar [...]”.
TEXTO II: Últimos dias
“[...] Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu
até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão
integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus
últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho,
dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam
raivosamente cinco mil soldados. Forremo-nos à tarefa de descrever os
seus últimos momentos. [...] Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o
destruir, desmanchando-lhe as casas, 5200, cuidadosamente contadas.
Antes, no amanhecer daquele dia, comissão adrede escolhida descobrira o
cadáver de Antônio Conselheiro. Jazia num dos casebres anexos à latada,
e foi encontrado graças à indicação de um prisioneiro [...] mal o
reconheceram os que mais de perto o haviam tratado durante a vida”.
(CUNHA, 1902).

Expugnado: Tomar à força de armas, levar de assalto; dominar, vencer:


expugnar uma fortaleza. Adrede: Previamente.
Na prática
Fotografia de Flávio de
Barros. “400 Jagunços
Prisioneiros”, 1897.
Canudos, Bahia.

Sobreviventes da Guerra de
Canudos, sob a guarda do
Exército republicano. Mais
de trezentas pessoas, entre
mulheres, crianças e
idosos, rendidos nos
últimos dias do conflito.
Na prática Correção
Quais argumentos o historiador Nicolau Sevcenko apresenta para analisar
o Conflito de Canudos? Por que a sociedade e a cultura tradicional, na
Primeira República, não representavam o ideal de nação?
O projeto nacional da Primeira República e seus ideais de modernidade, de
progresso e de civilização “de cima para baixo”, consideravam a cultura
tradicional, representada pela população de Canudos, um retrocesso, um
perigo. Isso porque ela, supostamente, desafiava a autoridade do Estado
(oligarquias) e, notadamente, a religião oficial com seu núcleo de "religiosos
fanáticos“, liderados por Antônio Conselheiro. As oligarquias estavam
incomodadas com o êxodo de trabalhadores da região, que privou as
fazendas de mão de obra (após a abolição), já que inúmeros ex-escravizados
e indígenas (que trabalhavam compulsoriamente junto às comunidades
jesuíticas) juntaram-se a Conselheiro.
Na prática Correção
Qual foi a posição apresentada na charge da revista Illustrada de
1897 acerca da guerra em Canudos e da figura de Antônio
Conselheiro? Explique.
A charge da Revista Illustrada revela como a imprensa do período
representou Antônio Conselheiro, associando-o à monarquia e ao
fanatismo religioso. Por outro lado, a 3ª expedição, liderada por
Moreira César, é mencionada de forma elogiosa.
É importante destacar que o momento político era delicado, com
embates entre diferentes projetos institucionais. Havia divergências
até mesmo nos meios militares nesse primeiro governo civil, do
paulista Prudente de Morais. Nesse contexto, o desastre da
expedição militar de Moreira César precisou ser justificado pelo
Estado.
Na prática Correção
Qual foi a posição apresentada na charge da revista Illustrada de
1897 acerca da guerra em Canudos e da figura de Antônio
Conselheiro? Explique.
A narrativa oficial atribuiu aos revoltosos de Canudos a imagem de
conspiradores monarquistas. Eles eram considerados organizados e
havia alegações de que fossem fortemente armados (com armas do
exterior) por líderes expatriados do regime imperial. Por isso,
desafiavam a recente república, ameaçavam a unidade nacional e os
interesses das elites republicanas. A violência utilizada pelo governo
na tentativa de eliminar Canudos demonstra a fragilidade e a
intolerância do regime republicano do período.
Na prática Correção
Em nota preliminar à primeira edição de Os Sertões (Campanha
de Canudos), Euclides denunciou: “Aquela campanha lembra um
refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra,
um crime. Denunciemo-lo”. É possível identificar no fragmento
(Texto II) a crítica do autor em relação ao desfecho da guerra?
Relacione a crítica do autor à fotografia de Flávio de Barros.
Como um “observador-viajante”, Euclides da Cunha iniciou sua
experiência no Sertão com a mesma perspectiva sudestina e letrada
de um republicano diante de uma “conspiração monarquista”.
Findada a guerra, sua percepção foi outra. Ainda que envolvido com
as teorias cientificistas, acabou vendo o sertanejo, “bárbaro” e
“inferior” segundo o discurso civilizatório, com simpatia.
Na prática Correção
Em nota preliminar à primeira edição de Os Sertões (Campanha de
Canudos), Euclides denunciou: “Aquela campanha lembra um refluxo
para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime.
Denunciemo-lo”. É possível identificar no fragmento (Texto II) a crítica
do autor em relação ao desfecho da guerra? Relacione a crítica do autor
à fotografia de Flávio de Barros.
Escandalizado com a atuação violenta das forças militares, condena a
repressão exacerbada e a considera moralmente condenável, um crime
de seus companheiros republicanos. A fotografia de Flávio de Barros
reitera a crítica de Euclides da Cunha. Mulheres, crianças, idosos e
feridos, esqueléticos e doentes, uns trezentos sobreviventes na ocasião
da rendição, ainda que relatos do contexto apontassem oitocentas
pessoas, renderam-se em 3 de outubro. Ainda assim, foram degolados,
diante da resistência de alguns sertanejos.
Aplicando
Leia o fragmento de texto abaixo que aborda como a historiografia
posterior à obra euclidiana trouxe interpretações diferentes sobre a Guerra
de Canudos, e discuta como essa perspectiva de análise se relaciona com a
frase do escritor Ariano Suassuna.
“O que houve em Canudos e continua a acontecer hoje, no campo
como nas grandes cidades brasileiras, foi o choque do Brasil ‘oficial
e mais claro’ contra o Brasil ‘real e mais escuro’.” (Ariano Suassuna,
Folha de S. Paulo, 1999)

“[...] Os Sertões foi considerado ‘a história de Canudos’ até fins da década


de 1950, quando deu início a uma corrente que passou a rivalizar com a
leitura euclidiana. A partir de então, a explicação mais recorrente para o
sentido da luta sertaneja passou a ser aquela que associou a luta sertaneja
dos canudenses à luta pela terra, contra o latifúndio e a opressão [...].
Aplicando
Dessa perspectiva, a atualidade dessa chave interpretativa transformaria o
movimento sertanejo, destruído pelas armas do Exército, em uma referência
obrigatória e secular da trágica história dos conflitos de terra no Brasil.
[...] A célebre afirmação de que o sertanejo é antes de tudo um forte se
combinou, como vimos, à condenação do cruzamento racial responsável por
uma raça incompleta e selvagem, que teve na figura de Antônio Conselheiro seu
exemplo mais nefasto. Passado o tempo da hegemonia explicativa de Euclides
da Cunha para a guerra sertaneja, as interpretações sociológicas passaram a
perceber o movimento a partir de seus aspectos positivos, em detrimento das
interpretações condenatórias, herdeiras da conjuntura intelectual e política que
envolveu o processo de substituição da monarquia pelo regime republicano,
rapidamente esboçadas anteriormente. Dessa perspectiva, a positividade do
movimento esteve inscrita na luta pela terra e na expectativa de mudanças
significativas da estrutura política e social brasileira”. (HERMANN, 1998).
O que aprendemos hoje?
● Analisamos o movimento de Canudos, considerando suas
causas, características e impactos na sociedade brasileira,
no contexto da Primeira República;
● Refletimos sobre os discursos e justificativas utilizados
pela elite republicana para descrever e interpretar o
conflito, analisando a construção de narrativas e
estereotipias em relação à população de Canudos;
● Analisamos o discurso cientificista, assim como as críticas
e denúncias apresentadas por Euclides da Cunha em sua
obra "Os Sertões", relacionando-as com o contexto
histórico e com as consequências do conflito.
Tarefa SP
Localizador: 96911

1. Professor, para visualizar a tarefa da aula, acesse com


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2. Clique em “Atividades” e, em seguida, em “Modelos”.
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4. Copie o localizador acima e cole no campo de busca.
5. Clique em “Procurar”.

Videotutorial: http://tarefasp.educacao.sp.gov.br/
Referências
Slides 4 a 6 – Fonte: SCHWARCZ, L.M. e STARLING, H. M. Brasil:
uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 332-333.
Slide 7 – Fonte: eBiografia. Euclides da Cunha. Disponível em:
https://cutt.ly/p6VoRPz Acesso em: 17 mai. 2023;
Slides 9 e 10 – Fonte: HERMANN, J. Religião e política no alvorecer
da República: os movimentos de Juazeiro, Canudos e Contestado. In:
NOVAIS, F.; SEVCENKO, N. (orgs). História da vida privada no
Brasil. República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998. p.144-145.
Slide 11 – Fonte: CUNHA, Euclides da. Os Sertões. Rio de Janeiro:
Livraria Francisco Alves/Publifolha, 2000. p. 63-65.
Referências
Slides 20 e 21 – Fonte: SEVCENKO, N. O prelúdio republicano, astúcias da
ordem e ilusões do progresso. P. 16 – 17. In: NOVAIS, Fernando A;
SEVCENKO, N. (Orgs.). História da vida privada no Brasil – vol. 3.
República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras,
1998.
Slide 23 – Fonte: CUNHA, Euclides da. Os Sertões. Rio de Janeiro: Livraria
Francisco Alves/Publifolha, 2000. p. 514-515.
Slide 30 – Fontes: HERMANN, J. Religião e política no alvorecer da República:
os movimentos de Juazeiro, Canudos e Contestado. In: NOVAIS, F.; SEVCENKO,
N. (orgs). História da vida privada no Brasil. República: da Belle Époque à
Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p.145-146.
LEMOV, Doug. Aula nota 10 3.0: 63 técnicas para melhorar a gestão da
sala de aula. Porto Alegre: Penso, 2023.
Referências
Lista de imagens e vídeos
Slide 3 – Fonte: “Súplica Cearense”. O Rappa, Álbum “Sete Vezes”. Warner Music, 2008; Disponível
em: https://cutt.ly/m6bB0v0 Acesso em: 12 mai. 2023.
Slide 7 – Fonte: Canal da Lili. Biografia Euclides da Cunha. Disponível em: https://cutt.ly/T6VoSKa
Acesso em: 17 mai. 2023; Capa da obra. "Os Sertões", publicada no ano de 1902. Disponível em:
https://cutt.ly/H6Vo7ZR Acesso em: 17 mai. 2023.
Slide 8 – Fonte: Os Sertões em 1 min. O Estado de SP. Disponível em: https://cutt.ly/263DkJN
Acesso em: 19 mai. 2023.
Slide 10 e 13 – Fonte: Um jagunço preso. Flávio de Barros, 1897. Acervo Museu da República
(Imagem recuperada digitalmente pelo Instituto Moreira Salles). Disponível em:
https://cutt.ly/g6VGThJ Acesso em: 17 mai. 2023.
Slide 15 – Fonte: 5º Corpo de Polícia da Bahia na trincheira. Flávio de Barros, 1897. Acervo Museu
da República (Imagem recuperada digitalmente pelo Instituto Moreira Salles). Disponível em:
https://cutt.ly/c6NUNU9 Acesso em: 18 mai. 2023.
Referências
Lista de imagens e vídeos
Slide 16 – Fonte: Pintura retratando Canudos antes da guerra e vista parcial de Canudos em 1897.
Disponível em: https://cutt.ly/T6NAeEf Acesso em: 18 mai. 2023; Fotografia de Flávio de Barros
(Acervo Museu da República). Disponível em: https://cutt.ly/f6njGUJ Acesso em: 18 mai. 2023.
Slide 17 – Fonte: Localização de Canudos, no sertão da Bahia. Disponível em:
https://cutt.ly/F6NPyQ1 Acesso em: 17 mai. 2023; Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues.
Mapas. Disponível em: https://cutt.ly/X6NI8fN Acesso em: 17 mai. 2023.
Slide 22 – Fonte: Biblioteca Nacional Digital. Charge (recorte) Angelo Agostini. Revista Illustrada
(RJ). Ano 1897. Edição 00727. Disponível em: https://cutt.ly/c6LSSBh Acesso em: 17 maio. 2023.
Slide 24 – Fonte: Fotografia de Flávio de Barros. “400 Jagunços Prisioneiros”, 1897. Canudos,
Bahia. Acervo: Museu da República. (Imagem recuperada digitalmente pelo Instituto Moreira
Salles). Disponível em: https://cutt.ly/P6VgmVv Acesso em: 18 mai. 2023.
Gifs e imagens ilustrativas elaboradas especialmente para esse material, a partir do Canva.
Disponíveis em: https://www.canva.com/pt_br/ Acesso em: 19 mai. 2023.
Material
Digital

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