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História da

educação no
Brasil:
Redemocratização
Prof.ª Pâmela de Almeida Resende
Descrição Série de mudanças que ocorreram no âmbito da Educação brasileira, dos
anos 1960 até a Redemocratização, incluindo as transformações
econômicas, sociais e políticas que influenciaram reformas, leis e decretos
criados para embasar os projetos de governo.

Propósito Compreender as diversas mudanças e os discursos que pautaram as


diferentes reformas, decretos e leis para a Educação brasileira no processo
de redemocratização, com a identificação das iniciativas que permanecem
de redemocratização, com a identificação das iniciativas que permanecem
em nossas práticas pedagógicas e estruturas de ensino.

Objetivos

Módulo 1 Módulo 2

Reformas na organização da Educação Constituição Federal de 1988 e a Lei de


brasileira Diretrizes e Bases

Identificar as reformas ocorridas na organização da Reconhecer a Constituição Federal de 1988 e a Lei de


Educação brasileira durante o Regime Militar. Diretrizes e Bases como promotoras de avanços na
Educação brasileira.

Acessar módulo Acessar módulo


meeting_room Introdução
A discussão sobre a educação atual no Brasil passa pela identificação de
duas grandes matrizes de pensamento educacional que claramente se
subdividem. A primeira é a proposta da ditadura civil-militar, que era marcada
por um modelo tecnicista, com primeiros empreendimentos de
popularização, mas com a manutenção de uma hierarquia claramente
estruturada. Seu foco era o nacionalismo e a formação do brasileiro. A
segunda é influenciada pela Constituição de 1988 e pela LDB 1996, focada
em princípios de liberade e cidadania, mas que tem como desafio a
popularização, o aumento de alunos por classe e o custo do novo modelo.
1
Reformas na organização da Educação brasileira
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as reformas ocorridas na organização da Educação brasileira durante o Regime Militar.
Educação na década de 1960

A segunda metade da década de 1960 foi marcada por importantes transformações


políticas, econômicas e sociais. O clima político no Brasil encontrava-se
absolutamente conturbado. No dia 13 de dezembro de 1968, o general Arthur da Costa
e Silva baixou o que ficou conhecido como AI-5 ou Ato Institucional nº 5. Estudantes,
professores, trabalhadores urbanos e rurais: naquele momento, centenas de pessoas
encontravam-se na clandestinidade, exilados, mortos ou presos. Veja, a seguir, as
manchetes do jornal da época:
Jornal Última hora

Ao mesmo tempo, o regime fazia questão de imprimir certa aparência de normalidade


ao cotidiano das pessoas, lançando mão de recursos midiáticos de forma doutrinária,
como veremos no próximo vídeo.
video_library Propaganda: veículo de difusão ideológica
Assista ao vídeo para ver que as propagandas ufanistas eram utilizadas como forma
de educação e difusão ideológica.

No vídeo anterior, vimos o quanto as propagandas visavam à doutrinação ideológica


pelo seu teor nacionalista. Quando falamos desse momento para a Educação, é
importante lembrarmos que o objetivo da criação das disciplinas Educação Moral e
Cívica e Organização Social e Política do Brasil era incutir na mentalidade dos
estudantes valores como civismo e patriotismo.

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Comentário

Durante a Semana da Pátria (7 de Setembro), era obrigatório cantar o Hino


Nacional e hastear a bandeira brasileira. Em muitas escolas – públicas ou
particulares –, essa prática foi incorporada sem muito questionamento. É muito
comum nos depararmos, ainda, com escolas que repetem esses rituais durante a
Semana da Pátria ou mesmo semanalmente.

Na sua escola isso acontecia? Você consegue se recordar de outros elementos


punitivos, durante sua trajetória escolar, que possam ser herança de uma cultura
autoritária? Você ainda entende isso como algo importante?
1964: a página infeliz da nossa história

O período entre 1964 e 1985 ficou


conhecido em função da interrupção do
processo democrático brasileiro e pela
instauração de uma ditadura que duraria
21 anos. Uma ditadura é geralmente
caracterizada pela imposição de uma
visão de mundo, muitas vezes à base da
força. Por isso, aqueles anos foram
marcados pela extinção dos partidos
políticos, cassação de direitos, censura,
perseguição de opositores políticos,
mortes e desaparecimentos. Repressão militar na Praça da Sé.

Você pode estar se perguntando: como a


Educação foi afetada durante a Ditadura
Militar? O ambiente escolar mudou? E os
educadores progressistas, eles também
foram alvos de perseguições e forçados
a interromper suas atividades?
Uma das bandeiras levantadas pelos defensores dessa escola nova era o potencial da
Educação como instrumento de emancipação dos indivíduos. Isso significa que o
governo civil-militar conhecia o poder transformador da Educação e, para atender o
lema de recuperar a ordem e a estabilização de seu projeto, a Educação passou a ser
pauta do dia durante esse período. Contudo, após o golpe de 1964, muitos educadores
foram mortos, perseguidos e exilados em função de suas ideias ou posturas políticas,
como os citados a seguir:

Professores perseguidos durante a ditadura militar.


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Professores (da esquerda para direita): Ana Rosa Kucinski, Tito
Arcoverde Cavalcanti, Anísio Teixeira, Fernando Henrique Cardoso,
Darcy Ribeiro, Heleneide Nazaré, Haity Moussatché.

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chevron_right
O ambiente escolar tornou-se cada vez mais hostil para qualquer pessoa que
contestasse a ordem vigente, fosse aluno, funcionário ou professor.

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Saiba mais
No mesmo dia em que os militares deram um golpe de Estado instaurando a
Ditadura Militar (1° de abril de 1964), eles invadiram e incendiaram a sede da
maior representação estudantil, União Nacional dos Estudantes (UNE). Muitos
líderes estudantis foram presos naquela ocasião. Durante todo o regime militar, a
UNE, mesmo na ilegalidade, atuou combativamente contra o projeto de educação
implementado pelos militares.

Naquela época, era prática comum que a direção das escolas públicas fosse indicada
pelos políticos locais. Para isso, tinham por base:
Mérito Problema

Ampliação efetiva do número de vagas e Promoção de um clima de vigilância contra


formalização de que era função do Estado algum conteúdo ou ideias consideradas
garantir a Educação. subversivas para os alunos.

Você consegue se lembrar disso?

Como a Ditadura Militar era trabalhada nos livros didáticos que


utilizou durante sua formação escolar? Se você tem mais de
quarenta anos, provavelmente estudou com livros que citam a
“Revolução de 1964” ou “movimento de março de 1964”.

Quem iniciou a formação escolar nos anos 1990 e 2000, provavelmente presenciou
uma mudança de abordagem. Os livros didáticos, acompanhando, em parte, as
renovações na historiografia sobre o período da Ditadura, são quase unânimes em
classificar o período entre 1964-1985 como uma época de interrupção da democracia,
ou seja, um golpe de Estado protagonizado pelas Forças Armadas.
Tente fazer esse exercício e busque em
sua memória como eram os livros
didáticos que você já utilizou. Busque por
algum livro didático em sua casa ou na
biblioteca mais próxima de você.

Observe a divisão dos assuntos, veja


quais temas são abordados e, sobretudo,
verifique o ano de produção desse livro.

Esse exercício é importante, pois nos


ajuda a contextualizar essa obra,
lembrando que todo livro didático é
reflexo do seu tempo.

Durante todo o período da Ditadura Militar, tivemos diversas intervenções que


atingiram diretamente o setor educacional. Veja algumas intervenções promovidas
pela Constituição de 1967:

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A União e os estados estavam A transferência de recursos públicos para
desobrigados a investirem um percentual instituições privadas de ensino foi outra
mínimo na Educação, contrariando o que alteração promovida por essa carta
estava disposto na LDB de 1961. constitucional.

Confira o que Dermeval Saviani argumenta no artigo O legado educacional do regime


militar:

A Constituição de 24 de janeiro de 1967, baixada pelo regime


militar, eliminou a vinculação orçamentária constante das
Constituições de 1934 e de 1946, que obrigava a União, os
estados e os municípios a destinar um percentual mínimo de
recursos para a educação. A Constituição de 1934 havia fixado
10% para a União e 20% para estados e municípios; a
Constituição de 1946 manteve os 20% para estados e municípios
e elevou o percentual da União para 12%. A Emenda
Constitucional nº1, baixada pela Junta Militar em 1969, também
conhecida como Constituição de 1969 porque redefiniu todo o
texto da Carta de 1967, restabeleceu a vinculação de 20%, mas
apenas para os municípios.
(SAVIANI, 2008, p. 291)

1968: movimento brasileiro de alfabetização


(Mobral)

No mesmo ano da aprovação da Constituição de 1967, foi criado o Movimento


Brasileiro de Alfabetização. O Mobral foi um órgão do governo instituido pelo decreto
no 62.455, de 22 de março de 1968, conforme autorizado pela Lei nº 5379, de 15 de
dezembro de1967. No entanto, só passou a vigorar em1971. Veja, a seguir, a
propaganda feita pela revista Veja para disseminá-lo:
Propaganda veiculada na revista Veja, em setembro de 1973.

Dessa forma, alguns questionamentos referentes ao órgão são feitos, como:

Qual era o objetivo dos militares com a criação do Mobral? expand_more


Qual foi a metodologia de implementação do programa? expand_more

Qual foi o fundamento teórico que inspirou o Mobral? expand_more

Como o Mobral funcionava? expand_more

Resultado expand_more

1969: inclusão das disciplinas Educação


Moral e Cívica e Organização Social e Política
do Brasil

Em 1969, os militares determinaram a retirada do ensino de Filosofia e Sociologia das


escolas. Sob o Decreto-lei nº 869, passou a ser obrigatória a disciplina Educação
Moral e Cívica (EMC) nas escolas brasileiras, como mostrado a seguir:
Manchete de jornal.

A implantação dessa disciplina fazia parte de um contexto em que a moral e o civismo


estavam em alta. O ano de 1970, por exemplo, foi o ano da campanha do Civismo
Brasileiro. Nesse período, além da Educação Moral e Cívica, ganhou destaque também
a instituição, no Segundo Grau, da disciplina Organização Social e Política do Brasil
(OSPB), responsável por difundir o nacionalismo e o patriotismo entre os alunos.
Os conteúdos tinham cunho moralizante,
pautados em preceitos considerados
fundamentais à sociedade. A Educação
era empreendida também em meios não
formais.

Com base nos mesmos conteúdos


moralizantes, foram constituídos, por
exemplo, personagens como o
Sujismundo para que, na prática do
Sujismundo
cotidiano, as pessoas pudessem trazer
para si o sentimento de civilidade, cuja
falta era entendida como um dos males
brasileiros.

Ensino Superior: tendência pedagógica


video_library tecnicista e neopositivista
Assista ao vídeo para ver qual foi o tratamento dado às universidades brasileiras pelo
governo da época, no contexto em que ganharam destaque as tendências
pedagógicas pautadas no ensino tecnicista, neopositivista e no modelo behaviorista
de Psicologia.
1971: a reforma de 1° e 2° graus

A Lei nº 5692/1971, chamada de Lei de Diretrizes e Bases de forma errônea, refere-se


exclusivamente a dois segmentos da Educação, que correspondem ao que,
atualmente, chamamos de Educação Básica.
Essa lei não tratava também dos objetivos gerais e finalidades da Educação para o
país, apenas era específica para dois segmentos do ensino. Como vimos, a reforma
universitária de 1968 voltou suas atenções para o ensino superior.

A Lei nº 5692/1971 foi criada por um


grupo de trabalho instituído pelo
presidente Emílio Médici, que tinha por
objetivo adequar o ensino ao momento
político instaurado pelo Golpe de 1964 e
às necessidades sociais e econômicas
que o governo militar se empenhava em
garantir.

O país precisava de trabalhadores,


porém, mais do que isso, precisava de
mão de obra especializada. Em linhas
gerais, ela criou a estrutura de ensino que Médici na biblioteca do palácio.

se organizava em 1º e 2º graus.

Vamos entender melhor as principais alterações na Educação Básica em decorrência


da reforma de 1971:
school Primeiro grau passou a abranger os antigos primário e ginásio,
atendendo às crianças dos 7 aos 14 anos.

school Ampliação da obrigatoriedade escolar de 4 para 8 anos.

school Transformação do antigo curso secundário em ensino de segundo grau.

school Segundo grau passou a ser obrigatoriamente profissionalizante.

Com a promulgação da lei, o segundo grau passou a combinar a seguinte dupla


característica:
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Garantia a terminalidade para Garantia a continuidade para os que
aqueles que pretendiam a formação desejavam prestar o vestibular.
em nível técnico.

border_color Atividade discursiva


Como o ensino profissionalizante contribuiu para a elitização do ensino superior?

Digite sua resposta aqui...

Chave de respostaexpand_more
Veja algumas consequências dessa reforma:

Além da instituição do ensino profissionalizante, um deslocamento cada vez


maior de recursos públicos para o setor privado;

A Lei n° 5692/1971 também foi a primeira legislação educacional que criou


um capítulo para tratar do ensino supletivo;

Além disso, a Lei n°5692/1971 introduziu algumas propostas que


contribuíram para o debate pedagógico, pois previa a integração vertical e a
integração horizontal.

A valorização do magistério é outra questão presente na lei. Foi citada


especialmente buscando a crescente profissionalização dos professores, o
aperfeiçoamento daqueles já formados, e adequando os vencimentos
salariais segundo os critérios do nível de formação, ao contrário do nível que
ministrava.

playlist_play Vem que eu te explico!


Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você
acabou de estudar.

Módulo 1 - Vem que eu te explico!

As mudanças educacionais antes da implementação da


LDB de 1961

Módulo 1 - Vem que eu te explico!

Grandes marcos da LDB de 1961

Módulo 1 - Vem que eu te explico!

A Educação durante a ditadura civil-militar

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Falta pouco para
atingir seus
objetivos.
Vamos praticar alguns
conceitos?

Questão 1

Durante o período da Ditadura Civil-Militar, a reforma educacional empreendida em


1971 é frequentemente chamada de Lei de Diretrizes e Bases de forma errônea. A
Lei n°5692/1971 não tratava, também, dos objetivos gerais e finalidades da
Educação para o país. Quais eram os assuntos tratados nessa lei?

Reformulação específica de dois segmentos da Educação –


A fundamental e médio – , que correspondem ao que chamamos de
Educação Básica.

Reformulação das universidades com a implementação do sistema


B
de vestibulares e as Diretrizes Curriculares Nacionais.
Reformulação da educação infantil para garantir acesso a todas as
C
crianças à Educação Básica.

Reformulação da educação de jovens e adultos com a


D
implementação do Mobral.

E Reformulação da Educação para princípios democráticos.

Responder

Questão 2

O Mobral, criado em 1967, tinha o objetivo de erradicar o analfabetismo no país.


Esse órgão foi criado como alternativa ao projeto “De pé no chão também se
aprende a ler”. Identifique as características do Mobral:

Mantinha, de forma sintética, as bases do projeto de alfabetização de


A
Paulo Freire.
Reforçava o modelo tecnicista da Educação e o direcionamento para
B
o trabalho.

C Era institucionalizado em uma base de educação moralizante.

Pautava-se no processo de difusão de professores formados pelos


D
grandes centros para todo o Brasil.

O Mobral era focado nos jovens infratores e no seu apoio para terem
E
escolarização.

Responder
2

Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases como promotoras de avanços na Educação
brasileira.
Fim do Regime Militar, promulgação da Lei
de Anistia e nova Constituição

Chamada de “Constituição Cidadã” pelo


deputado Ulysses Guimarães, o novo
texto que regeria a vida de milhares de
brasileiros tinha como desafio imediato
restituir direitos fundamentais negados
durante muito tempo à sociedade
brasileira. Além disso, tinha como tarefa
olhar para o futuro. Ulysses Guimarães segurando uma cópia da
Constituição de 1988.

A transição política do Brasil em sua


video_library redemocratização
Veja uma explicação sobre a transição política do Brasil em sua redemocratização.
Politicamente, a abertura lenta e gradual foi ampliando a participação popular nas
votações, primeiro para prefeitos, depois governadores até a querela sobre quando
seriam as primeiras eleições diretas.
Manifestação do movimento Diretas Já.

Apesar do movimento Diretas Já, a emenda que pretendia antecipar as eleições foi
derrotada. Em uma articulação política, foi eleito Tancredo Neves pelo colegiado dos
deputados, tendo como vice-presidente José Sarney. O presidente da Câmara era o
deputado Ulysses Guimarães.
Educação no contexto da transição de
regime

Nesse contexto, a Educação brasileira seguia os moldes de 1971. As mudanças, no


entanto, não acontecem nesse campo de maneira uniforme até o fim da década.
Foram tomadas ações peculiares em capitais e estados. Os dois exemplos
importantes vêm do Distrito Federal e do Rio de Janeiro:

Brasília Rio de Janeiro

Um modelo de educação integral que A controversa eleição de Leonel Brizola


aproximasse a universidade – propõe uma intensa ruptura na educação.
principalmente de Brasília – das escolas de Darcy Ribeiro foi chamado para liderar esse
Educação Básica foi proposto. O principal projeto, que protegia o trabalhador e as
nome desse projeto foi Cristovam Buarque. crianças.
Os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP) trabalhavam com a compreensão
de que não se forma o sujeito em conteúdos, pois o sujeito deve ser preparado para
ser cidadão e lutar pela cidadania e pelo coletivo. O projeto, moderno em termos
pedagógicos, foi bastante atacado em virtude da sua operacionalização e uso político.
Foi descaracterizado a partir da eleição de outros grupos que se opunham às políticas
brizolistas.

Centro Integrado de Educação Pública (CIEP).


Significado das reformas da educação
brasileira na redemocratização

Constituição
Para que seja possível entender esse longo processo, é importante que possamos
conhecer e entender um pouco mais sobre o que significam as reformas da Educação
brasileira na sua redemocratização, conhecendo alguns dos seus direcionamentos
como, por exemplo, a Constituição.

As resoluções e garantias para a


Educação brasileira na Constituição de
1988 estão apresentadas no Título VIII,
que trata da Ordem Social; no Capítulo III,
intitulado da Educação, da Cultura, do
Desporto; especificado na Seção I,
chamada da Educação; entre os artigos
205 e 214.
No artigo 205, a Carta Constitucional estabelece a Educação como direito de todos e
dever do Estado e da família. É interessante notar como o dever do Estado parece o da
família, o que realmente demonstra a importância do poder público em garantir ensino
para a população, como se pode ver a seguir. Os princípios do ensino foram
especificados no artigo 206. Podemos destacar:

local_library local_library local_library


Garantia de igualdade de Liberdade de ensinar e Gratuidade nas escolas
acesso e permanência aprender. públicas.
na escola.

local_library local_library
Gestão democrática nas escolas da rede
pública.
Atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Com a promulgação da Constituição de 1988 , a LDB anterior (4024/1961) foi


considerada obsoleta, mas apenas em 1996 o debate sobre a nova lei foi concluído. A
atual LDB (9394/1996) foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e
pelo ministro da Educação, Paulo Renato, em 20 de dezembro de 1996.

Baseada no princípio do direito universal à Educação para todos, a LDB de 1996 trouxe
diversas mudanças em relação às leis anteriores, tais como:

gavel gavel
Gestão democrática do ensino público e Carga horária mínima de 800 horas
progressiva autonomia pedagógica e distribuídas em 180 dias letivos na
administrativa das unidades escolares (art. Educação Básica (art. 24).
3º e 15).
gavel gavel
Orientação do gasto da União em, no Criação do Plano Nacional de Educação
mínimo, 18% e os estados e municípios, no (art. 87).
mínimo, 25% de seus orçamentos para a
manutenção e desenvolvimento do ensino
público (art. 69).

Essa LDB aponta em seu artigo 22 para uma formação do indivíduo que atenda a três
dimensões da condição humana: cidadania, estudo e trabalho. A ideia é que os
currículos escolares e os saberes compartilhados no ambiente escolar estejam
atentos às distintas realidades sociais, além de funcionarem como instrumentos em
que os alunos consigam praticar o exercício da cidadania na busca por uma
sociedade mais justa e igualitária.

A LDB pressupõe uma série de ações que foram, desde então, desenvolvidas e que
passamos a enunciar.
Fundo para Desenvolvimento da Educação
Básica (FUNDEB)

Como surgiu o FUNDEB? Quando, durante o governo FHC, houve a intensa discussão
de que era preciso ampliar o número de vagas, garantir o acesso às escolas e, o mais
crítico, trabalhar contra a evasão escolar, o ministro Paulo Renato tomou isso como
meta e modelo, "ameaçando" os estados e municípios de que deveriam atingir essas
metas ou não receberiam dinheiro.

Com a criação do FUNDEB, prevista na própria LDB, muitas prefeituras e governos


criaram programas, deixando de lado a qualidade em prol da continuidade –
aprovações automáticas, criação de projetos em que separavam potenciais alunos
repetentes, entre outros.

Quais as vantagens e as desvantagens do FUNDEB? Veja a seguir cada uma delas:

Vantagem Desvantagem

Tem como mérito a ampliação Tem como demérito, por sua


do número de pessoas com vez, a perda de qualidade
alguma formação. A maior close mensurável.
parte do Brasil passa pela
escola.

Problemas dos modelos anteriores


Com as reprovações, as escolas dos modelos anteriores atingiam números grandes
de evasão e distorção idade/série. A imagem de que elas eram “melhores” é uma
ilusão provocada pela reprovação, uma vez que poucos conseguiam obter a formação.

Esses programas, apesar de importantes, jogaram a Educação Básica em uma


situação complexa, ainda que inequivocamente mais democrática, pois exigiram mais
investimento, diversificação, o que é custoso e, sem o foco específico, faz com que os
números se arrastem quando comparados a índices internacionais. Observe o
seguinte gráfico:
Gráfico: Dados de reprovações

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)


Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram organizados também no processo de
redemocratização nacional, impulsionados pela nova LDB/1996. Esses parâmetros
curriculares podem ser caracterizados como orientações explicitamente práticas da
legislação, ou seja, funcionam como um importante referencial para aquilo que
oficialmente se espera da Educação, do professor e do aluno – muito embora essa
função não corresponda à necessária clareza conceitual do documento.
PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais

Assim como os PCN, os PCNEM (Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio)


responderam pela intenção de estabelecer uma base curricular nacional comum e
introduziram o que passou a ser designado de ensino por competências.

Considerando exatamente o termo parâmetros, os PCNEM têm como princípio servir


de referência básica e geral à comunidade escolar (professores, coordenadores
pedagógicos, alunos etc.) na organização e implementação do projeto educativo das
escolas, com o intuito de garantir uma base nacional comum ao currículo da Educação
Básica.

As disciplinas no PCNEM foram distribuídas de modo que as variadas áreas do


conhecimento fossem contempladas. O próprio termo tecnologias caracteriza as
contribuições de cada uma das áreas para a proposta curricular.
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as
perspectivas para a Educação
Depois dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a grande novidade para a Educação foi
a homologação, no ano de 2018, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Trata-
se de um documento normativo para a Educação Básica (Educação Infantil, Ensinos
Fundamental e Médio). A BNCC, ao ser elaborada, teve os PCN e as DCNEB (Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Básica) como pano de fundo. Veja o
fluxograma das competências gerais da Educação Básica:
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
Você pode estar se perguntando: qual é a novidade e a importância da BNCC?
Levando em consideração a LDB/1996, os PCN e as DCNEB, a inovação trazida pela
BNCC é a clareza dos objetivos de aprendizagem de cada ano escolar. Ou seja, ela
estabelece os conteúdos norteadores que serão ensinados.

A BNCC tornou-se obrigatória nos currículos de todas as redes do país, públicas e


particulares. Dessa forma, os documentos anteriores devem continuar sendo
consultados, mas apenas como documentos orientadores, sem caráter obrigatório.

Diferentemente da BNCC, os PCN foram orientações e não


legislação. Eles não geraram uma base comum, mas apontaram
sugestões para um currículo escolar diversificado e significativo,
levando em conta o respeito às diversidades regionais, culturais e
políticas.

A BNCC, prevista no artigo 10 da Constituição de 1988, instituída pela LDB n°


9.394/1996 e fundamentada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, define o conjunto
orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem
desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
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Atenção!

Os currículos de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil,


Ensino Fundamental e Ensino Médio do Brasil serão norteados por ela. A BNCC
operacionalizará os fundamentos das Diretrizes, indicando os conteúdos de cada
ano de escolaridade da parte comum do currículo, ou seja, o que deve ser
ensinado em todo território nacional e o que se espera alcançar em cada etapa da
Educação Básica.

Pelo menos dois aspectos são fundamentais para compreendermos melhor a


importância da BNCC:

Ela foi pensada na esteira da LDB/1996, dos PCN e das DCNEB. Dessa forma,
faz sentido pensar em todos esses documentos conjuntamente, como se um
auxiliasse e completasse o outro.

A BNCC é mais do que um documento que estabelece como, quando e por


que determinados conteúdos serão ensinados, ou seja, o que importa é
construir um projeto educacional que contemple todas as dimensões do
desenvolvimento humano, como os aspectos cognitivo e socioemocional, o
desenvolvimento físico, cultural etc. A ideia é que o aluno consiga aplicar o
conhecimento aprendido na escola no seu cotidiano. O objetivo é formar o
indivíduo para a vida cidadã, mediante a transmissão de valores que
permitam a boa convivência social.

Além disso, veja dois aspectos importantes sobre a BNCC:

Política de Estado expand_more

Desenvolvimento de competência expand_more

Os rumos da educação nos trilhos da


video_library redemocratização
Assista ao vídeo, a seguir, para ver uma retomada reflexiva sobre os rumos da
educação nos trilhos da redemocratização.
playlist_play Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você
acabou de estudar.

Módulo 2 - Vem que eu te explico!

Criação do Mobral e da FUNABEM


Módulo 2 - Vem que eu te explico!

A LDB de 1996

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Falta pouco para
atingir seus
objetivos.
Vamos praticar alguns
conceitos?

Questão 1

A atual Constituição brasileira foi promulgada no ano de 1988, num contexto de


retomada da democracia. O artigo 205 reflete o modo como a Educação seria
encarada a partir daquele momento. O que é correto afirmar sobre o artigo 205?

A Instituiu o ensino religioso.

B Tornou obrigatório o ensino profissionalizante.

C Educação passa a ser entendida como um direito de todos.

D Obrigatoriedade da disciplina Moral e Cívica.


E Estabeleceu a reforma do Ensino Superior.

Responder

Questão 2

No Capítulo III (Da Educação, da Cultura e do Desporto) da Constituição Federal de


1988, estão presentes algumas resoluções para a educação. Assinale a alternativa
correta em relação ao que está disposto no artigo 206:

A Defesa do ensino privado.

B Influência tecnicista.

C Extinção do sistema de cátedras.

D Gratuidade nas escolas públicas.


E Educação voltada para a elite.

Responder

Considerações finais
O contexto educacional dos anos 1960 deveria ser, ao menos, inspirador. Afinal, em
1961, foi publicada nossa primeira LDB (Lei 4.024), ainda que tenha demorado trinta
anos desde a criação do Ministério da Educação e Saúde, em 1930. Com o Regime
Militar instaurado em 1964, não somente a política e as relações sociais sofreram
abalo, mas também a Educação.

Com a visão de uma educação estritamente tecnicista, sob a justificativa de


desenvolvimento industrial do país, tornou-se necessária a publicação de novas leis de
cunho educacional. A mais importante delas, a Lei 5.692 de 1971, chamada por alguns
de Segunda LDB, tinha um caráter estritamente reformador: a definição clara dos
segmentos da Educação: 1º e 2º Graus (atual Educação Básica: Ensino Fundamental e
Médio). Ela definia, por exemplo, que todo estudante deveria sair do 2º Grau tendo
uma formação técnica. Outra mudança foi a substituição do projeto “De pé no chão
também se aprende a ler”, fundamentado nas ideias de Paulo Freire, pelo Mobral, em
1967. Embora ambos tivessem o objetivo de erradicar o analfabetismo do país, o
projeto militar esvaziava-se do caráter de “educação crítica” do anterior.

Com o fim do Regime Militar, em 1984, e a definição da chamada Nova República,


ainda que com muitos aspectos de transição do antigo modelo político-econômico, a
necessidade de uma nova Constituição e de uma reforma educacional foi
imediatamente percebida. Assim, em 1988, com a promulgação da Constituição
Cidadã (como ficou conhecida), já era possível perceber mudanças significativas na
Educação como, por exemplo, a redefinição dos Sistemas de Educação,
responsabilizando federação, estados e municípios e trazendo o famoso artigo 205: “A
Educação é direito de todos e dever do Estado e da família”.

A partir daí, vários educadores (destaca-se a figura de Darcy Ribeiro) começam a


pensar e estruturar uma nova LDB, que, no entanto, somente foi publicada em 1996
(Lei 9.394). Apesar de ela já ter sido bastante alterada, através de leis
complementares, trouxe propostas que, embora não correspondessem às
expectativas de todos os educadores envolvidos, trazia pontos relevantes para a
Educação no país: a proposta de uma “gestão democrática” para as unidades
escolares, valorizando muito mais o papel das equipes pedagógicas, o aumento da
carga horária mínima para o ano letivo (800h/180 dias, na Educação Básica) e a
criação do Plano Nacional de Educação.
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Textos:

Educação e desenvolvimento: o debate nos anos 1950;


O legado educacional do regime militar;
A educação moral e cívica – doutrina, disciplina e prática educativa;
O legado da ditadura para a educação brasileira.

Vídeos:
A educação na ditadura – a marca da repressão;
A educação era melhor na época da ditadura?.

Referências
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