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Resumo
A Era Vargas foi marcada por uma sequência de progressos que modernizaram os contextos
sociais, econômicos e educacionais do Brasil a partir do movimento revolucionário de 1930.
Baseando-se nesta revolução, o trabalho tem como objetivo avaliar quais foram os principais
resultados advindos desse movimento no âmbito educacional. Também abordaremos o
cenário histórico e político da época e suas principais questões, tais como a criação do
Ministério da Educação e Saúde Pública; a Reforma Francisco Campos e o Manifesto dos
Pioneiros. Diante da importância desses eventos para a história da educação, decidimos como
recorte cronológico o período que se estende até o ano de 1945, quando termina o período
conhecido na historiografia como Era Vargas A metodologia utilizada para este estudo
consiste em uma revisão bibliográfica de caráter qualitativo com base em livros e artigos
acadêmicos.
INTRODUÇÃO
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Graduanda do curso de Pedagogia pela UFAM. Email: alineloliveira2402@gmail.com
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Graduanda do curso de Pedagogia pela UFAM. Email:daniellerose.vencer@gmail.com
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Docente da UFAM. fabiosouzaclima@ufam.edu.br
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Graduanda do curso de Pedagogia pela UFAM. Email: rakelfabianne2@gmail.com
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Graduanda do curso de Pedagogia pela UFAM. Email: syanguealves19@gmail.com
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principais impactos educacionais ocorridos nessas décadas. Para tanto, foi realizado um
estudo bibliográfico com embasamentos sólidos que sustentam a pesquisa em questão.
Segundo Cotrim (2005), o Brasil, assim como outros países que dependiam das
exportações, enfrentava um período de grave crise econômica no final dos anos 1920. O
principal motivo dessa dificuldade foi a superprodução da indústria norte-americana, a queda
das ações da Bolsa de Nova York e a falência de empresas e vários bancos; eventos que
levaram milhões de trabalhadores norte-americanos ao desemprego, impactando fortemente a
cafeicultura e diversos setores da economia brasileira. Com isso, Vargas implementou
transformações significativas, através de políticas públicas, que visavam atender a nova
configuração do país e do ser social brasileiro. O eixo político deveria sair do rural para o
urbano, enquanto o eixo econômico deveria sair do agropecuário para o industrial.
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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-POLÍTICO E SOCIAL
A chamada Era Vargas foi um marco na história brasileira por ocasião das diversas
alterações e modernizações realizadas no período. Os anos de rompimento com estruturas
consideradas atrasadas e a visão de um país industrializado e moderno impactaram no campo
social, político e econômico.
A crise econômica mundial causada pela quebra da Bolsa de Valores de New York,
em 1929, a insatisfação militar com os sucessivos governos civis e a morte de João Pessoa,
serviram como estopim para a formação de uma junta governamental que desconsiderou as
eleições e formou um novo governo. Esse movimento se efetivou em novembro de 1930,
quando Júlio Prestes foi deposto, sendo o poder passado à Getúlio, o que pós fim a chamada
República Velha e iniciou a Era Vargas.
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[...] Vargas projeta-se como líder de uma revolução vitoriosa, a qual, a
despeito de sua heterogeneidade ideológica e política, tinha uma bandeira
reformista. Essa bandeira estava relacionada com a temática da justiça
social, com a questão da igualdade e das liberdades políticas, com o desafio
de suprimir as grandes disparidades sociais que marcavam a sociedade
brasileira e eliminar as barreiras sociais que tolhiam o desenvolvimento da
cidadania política. Tratava-se, enfim, de instaurar um novo padrão de
relacionamento entre classes possuidoras e classes subalternas, de forma a
atenuar a opressão excessiva então exercida pelas elites dominantes,
impondo limites institucionais ao seu poder e expandindo os direitos civis e
políticos para novos segmentos da sociedade [...] (DINIZ, 1999, p. 22).
Nesse sentido, uma nova fase, revelava as “mudanças” no dinamismo escolar. O aluno
antes passivo, assumia o centro do processo educativo. Dessa forma, a Psicologia
Experimental ganha força, dando suporte científico da Pedagogia que produzia o falso
discurso da escolarização das massas populares. No entanto, “Estender para todo o território
nacional as condições materiais e técnicas da escola das massas era o grande desafio que
associava as largas dimensões do Brasil a sua diversidade cultural e populacional” (VIDAL,
2000, p. 514).
Nesse período, foram criados alguns outros ministérios, como por exemplo, o do
Trabalho, da Indústria e Comércio. Os investimentos em industrialização incentivaram o
surgimento de uma nova classe social: o proletariado brasileiro. Assim, a imagem de Vargas
passou a estar ligada ao trabalhismo, porque vários direitos foram concedidos aos
trabalhadores, como férias, descanso remunerado entre outros. Ao mesmo tempo em que
Vargas concedia esses direitos, obrigava os trabalhadores a se filiar a sindicatos reconhecidos
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pelo estado brasileiro Isso fez com que os sindicatos perdessem sua autonomia, uma vez que
o estado era quem, em última instância, decidia sobre greves, por exemplo. Contudo, para
nós, o interessante é entender que essa nova classe social, moradora das cidades, necessitava
cada vez mais de uma educação afinada com novo trabalho na indústria. Crescia, assim as
propostas de construção de mais escolas e melhoria na formação de professores, conforme
veremos mais adiante.
Uma das promessas feitas por Vargas ao assumir o Governo Provisório, foi a
convocação de uma Constituinte para a elaboração de uma nova Constituição para o país,
além de uma eleição geral. Porém, essa promessa não foi cumprida, proporcionando a
Revolução Constitucionalista de 1932, com suas bases em São Paulo. Os revoltosos
acusavam Vargas de ser um ditador, de descumprir a promessa de criação de uma
constituição. Apesar de perderem a “guerra” contra o governo, os paulistas acabaram
alcançando o que queriam, pois o Congresso foi reaberto para que uma nova Constituição
fosse elaborada.
Em 1931, realizou uma série de mudanças que ficaram conhecidas como Reforma
Francisco Campos. Criou o Conselho Nacional de Educação e estruturou o sistema
educacional nacional, que determinou o currículo em séries e estabeleceu a obrigatoriedade
da frequência. Regularizou também o ensino superior com o regime universitário, organizou
o ensino secundário e o comercial, além de reconhecer a profissão de Contador no Brasil.
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acordo com as novas diretrizes. O ensino secundário, por exemplo, que trata da escolaridade
entre o ensino primário e o ensino superior, passou a ter um período de sete anos e dois
ciclos.
O ensino secundário foi dividido em duas fases, a primeira era oferecida a todos os
estudantes secundaristas, ofertando uma formação geral em um curso com duração de cinco
anos chamado “fundamental”. A segunda fase constituía-se por uma introdução preparatória
para o ensino superior com duração de dois anos chamada de “fase complementar”. Esta
mudança trouxe por consequência uma estrutura mais complexa para o ensino secundário,
aproximando o Brasil de experiências bem sucedidas em outros países mais desenvolvidos.
Por outro lado, o aumento do número de anos no ensino secundário trouxe uma
ideologia elitista que acabou se ajustando e privilegiando as famílias que podiam manter os
seus filhos na escola por mais tempo. O fato é que nem todos naquela conjuntura de vida
podiam sustentar um estudo longo e teórico que se diferenciava do curto e prático oferecido
pelo ensino normal ou técnico-profissional. Outra determinação importante da Reforma de
Francisco Campos a imposição por meio de decreto da obrigatoriedade da presença dos
alunos em no mínimo três quartos das aulas. Caso essa regra não fosse cumprida, o mesmo
seria impedido de fazer os exames para sua aprovação.
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A mudança que trouxe a criação de dois ciclos, a frequência obrigatória e o sistema
avaliativo estava vinculada à seriação anual das disciplinas que seriam proporcionadas nesses
dois ciclos do ensino secundário. Para os cinco anos do fundamental eram oferecidas as
disciplinas de matemática, português, geografia, história da civilização e desenho, além de
Ciências Físicas e Naturais que eram ministradas na 1ª e 2ª séries, e História Natural,
Química e Física que eram ministradas nas três últimas séries.
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o ensino secundário e ajustá-lo ao novo modelo nacional que permaneceu em vigor até o ano
1960.
Em 1934, foi promulgada uma nova Constituição, na qual trazia: o voto secreto, o
voto feminino, os direitos trabalhistas para os trabalhadores da indústria, além da criação da
Justiça Eleitoral. A educação ganhou um capítulo próprio, considerando um processo de
organização nunca antes realizado, onde podemos destacar:
Art 149 - A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela família e
pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a
estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores
da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a
consciência da solidariedade humana (BRASIL, 1934).
O Governo Constitucional de Vargas foi o período no qual Getúlio Vargas foi eleito
indiretamente para cumprir um mandato de 4 anos. Depois de quatro anos no poder ele
assumia uma mandato sem direito à reeleição, segundo preconizava a nova Constituição de
1934. Nessa fase, a expectativa das pessoas era a de que Vargas caminhasse para uma linha
mais democrática. Segundo Diniz (1999, p. 23):
A ANL, sob as orientações do seu presidente de honra, Luiz Carlos Prestes, promoveu
uma tentativa de golpe contra o governo de Getúlio Vargas em 1935, que ficou conhecida
como Intentona Comunista. No entanto, devido as falhas nas articulações e adesão de outros
estados, o movimento fracassou totalmente, sendo facilmente controlada pelo governo. O
evento, no entanto, foi usado como pretexto de que o governo deveria agir para evitar uma
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nova tentativa de golpe comunista (Plano Cohen). Assim, em 1937, Getúlio Vargas promoveu
um autogolpe, iniciando a ditadura do Estado Novo.
Em cadeia de rádio nacional, Getúlio Vargas anunciou o Estado Novo. Uma ditadura
(1937–1945) criada para manter afastada a ‘ameaça’ comunista. Vargas impôs também uma
nova Constituição, conhecida como “Polaca” por ter sido inspirada na Constituição da
Polônia, de tendência marcadamente fascista. Iniciava-se assim um período de ditadura no
Estado Brasileiro no qual de acordo com Diniz (1999, p. 23):
Além do apoio dos militares, Getúlio Vargas também contou com o apoio de grande
parte da sociedade, justificando suas ações com propagandas anticomunistas. A partir de
1937, novos alvos foram atingidos pelo governo, entre eles os meios de comunicação - com a
censura -, reprimindo também as atividades políticas, perseguindo e prendendo inimigos.
No entanto, com o intuito de assumir uma postura mais “amistosa”, Vargas deu
continuidade às políticas trabalhistas criando a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,
publicação do Código Penal e do Código de Processo Penal. Também foi responsável pela
concepção da Carteira de Trabalho, da Justiça do Trabalho, do Salário Mínimo e pelo
descanso semanal remunerado.
É possível dizer que “A nova constituição se dedicou bem menos espaço na educação
do que anterior, mas o suficiente para incluí-la em seu quadro estratégico com vistas a
equacionar a “questão social” e combater a subversão ideológica” (SHIROMA; MORAES;
EVANGELISTA, 2011, p. 22, grifos dos autores). Foram geradas várias discussões sobre um
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ensino para as classes mais desfavorecidas, incluindo o modelo que visava descobrir uma
tendência vocacional e profissional dessas classes, com apoio de sindicatos.
Com o fim da guerra, as lutas pela redemocratização ganharam força. Vargas obrigado
a dar indulto aos presos políticos e a constituir eleições gerais. Ainda em 1945, o palácio
presidencial foi cercado pelos militares que intimaram Vargas a renunciar. Assim, a Era
Vargas chegava ao seu fim, dando espaço para a chamada Quarta República, também
conhecido como Intervalo Democrático (1946 – 1964). Vale ressaltar, porém, que esse não
foi o “fim” de Getúlio Vargas que, além de eleger o candidato que apoiou em 1946 (Eurico
Gaspar Dutra), ainda retornou à Presidência do Brasil por meio do voto popular em 1951.
A ESCOLA NOVA
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O movimento escolanovista surgiu na Europa, e se expandiu para outros continentes,
através de educadores que questionavam os modelos do ensino tradicional, considerando-o
não funcional para os novos tempos de modernidade. Por isso mesmo, a escola nova surgiu
com novos formatos educacionais que abordavam um ensino democrático, colocando as
crianças no centro do processo de aprendizagem. Para isso, foram usadas novas práticas
pedagógicas, que atribuíam uma dinâmica que incentiva as relações escolares entre os alunos
e professores, incentivando o aluno à pesquisa e integrando-o ao meio social.
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obrigatório em escolas públicas que oferecessem e garantisse educação comum para todos
sem privilégios e de forma igualitária.
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Para o mundo industrializado, dentro da visão modernizadora do governo, a escrita
passou a ser fundamental para os indivíduos. O raciocínio daquele que escreve deveria ser
acompanhado por sua escrita. Dessa maneira, houve um processo de transformação da escrita
de maneira a deixá-la menos desenhada, menos rebuscada. Tratava-se de uma escrita que
pudesse ser mais prática, rápida e de fácil leitura.
Uma das técnicas propostas foi a caligrafia muscular, que se baseia na concentração e
controle da escrita. Nos anos de 1928 e 1929, foi desenvolvido o teste do ABC, para auxiliar
na pesquisa a respeito da aprendizagem da escrita. Dessa maneira, a escrita começou a
abranger também o campo da economia, se tornando algo ainda mais necessário ao indivíduo:
Além disso, a economia também se preocupava com a forma de ler dos indivíduos.
Com isso, não apenas a escrita, mas também as novas práticas de leitura se tornam
eficientes para suprir as necessidades da sociedade perante a sua modernização. A criação de
grupos de leitura dentro das escolas primárias acabou servindo de ferramenta de transmissão
pelos educadores escolanovistas, visando agregar novos hábitos de eficiência na leitura na
vida dos alunos. As mudanças foram tão profundas que reformularam a relações temporais,
espaciais, materiais e sociais (VIDAL, 2003).
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colocava como desafio a regeneração social, que para os educadores de escolanovistas só
poderia ser atingida pela educação das massas” (VIDAL, 2003, p. 512). Desse modo, as
propostas da escola nova foram transformando o ensino-aprendizagem por meio das
disciplinas escolares, que, por sua vez, tentavam segui as transformações que aconteciam no
mundo e na sociedade brasileira. No desenvolvimento da criança, nos meios econômicos,
políticos e sociais, novas teorias e práticas que abordavam a centralidade do aluno no
processo educacional, tendo o professor como mediador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estado que emergiu a partir da Revolução de 1930, apesar de não ter organizado
politicamente a sociedade, é possível examinar seus primeiros passos, para que isso se torne
uma realidade. No entanto, se conclui que, embora Vargas mediasse as forças heterogêneas,
possibilitando sua chegada ao poder, não se curva às elites, que se empenham em manifestar
o seu papel repressor, sobretudo das classes operárias, fazendo com que a questão social
continuasse a ser “a relação de explorador e explorado", como nos mostra a mesma dinâmica
no decorrer da história. Reforçando assim, a política de marginalização pura realizada pelas
velhas classes dominantes, que não tinham mais condições de se sustentar, em meio às
turbulências econômicas, advindas da crise do café e os impactos da própria crise mundial de
1929.
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No Manifesto dos Pioneiros (1932) a educação foi apontada como a mais importante
dos problemas nacionais, “é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção,
sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e a
iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade”.
São palavras refletidas nas críticas à Pedagogia Tradicional, que chegava ao fim,
conforme escreveu Dermeval Saviani (1999, p.6): “Para superar a situação de opressão,
própria do Antigo Regime”. Dava-se efetivação da teoria da Escola Nova, que, com todos os
seus problemas de ainda ser uma educação elitista, mantinha a crença no poder da escola e
sua função, como possibilidades de equalização social.
Reiteramos, por fim, que a educação deve servir ao estado, e o estado, por sua vez,
deve servir ao povo, preparando-o não apenas para o mundo do trabalho, mas também para
uma vida plena de conhecimentos para a liberdade de viver sem ter que servir a outrem.
REFERÊNCIAS
COTRIM, Gilberto Vieira. História Global, Brasil e Geral - volume único. São Paulo:
Ed.Saraiva, 2005.
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DINIZ, Eli. Engenharia institucional e políticas públicas: dos conselhos técnicos às câmaras
setoriais. In: PANDOLFI, Dulce (Org.). REPENSANDO o Estado Novo. Rio de Janeiro:
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2001
SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 32. ed., Campinas, SP: Autores Associados,
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TEIXEIRA, Francisco Maria Pires. Brasil História e Sociedade. Ed. Ática, 2000.
VIDAL, Diana. Escola Nova e processo educativo. In: LOPES, Eliane M. Teixeira et alli.
500 anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte. Ed. Autêntica. 2003.
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