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Mercado e Carreiras

em Jornalismo
Material Teórico
Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da
Mídia Impressa

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Flavia Daniela Delgado

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha
Panorama sobre Jornalismo e o
Tradicional Mercado da Mídia Impressa

• Introdução;
• A Notícia Transformada em Mercadoria;
• Algumas Segmentações no Jornalismo: Econômico, Cultural, Esportivo
e Político;
• Cargos e Funções no Jornalismo Impresso: Como Funciona a Redação
de um Jornal.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Possibilitar uma breve perspectiva histórica sobre a profissão até a atua-
lidade, evidenciando seu papel na sociedade e seus principais desafios;
· Dotar o aluno de conhecimentos sobre rotinas e hierarquias no jor-
nalismo impresso.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da Mídia Impressa

Introdução
Olá, seja bem-vindo(a) à nossa disciplina! Meu nome é Flávia Delgado e antes
de começarmos as primeiras lições do nosso curso, a você, futuro(a) profissional de
imprensa, deixo uma reflexão para que pare, pense e responda. Quando se fala em
jornalista, qual a imagem que lhe vem à cabeça? Provavelmente é a de alguém que
está sempre correndo atrás de um furo de reportagem, uma notícia em primeira
mão, não é mesmo?

Para você que está pensando em ingressar neste mundo, caro foca (foca é o
apelido carinhoso que damos aos jornalistas em início de carreira), a primeira coisa
a abandonar são as ideias romantizadas sobre o mundo jornalístico. Isso porque no
imaginário das pessoas existem muitos estereótipos que não se aplicam à realidade
profissional: glamour, liberdade total de opinião, engajamento, confronto direto
com o poder, fama e glória. O que veremos é que o jornalismo é uma profissão
de trabalho árduo, de plantões aos fins de semana, de alta exigência intelectual
e, por que não, de muita competição. Características pessoais fundamentais para
ser um bom jornalista: ser curioso, ser perseverante, ter domínio sobre a língua
portuguesa, saber ouvir e contar boas histórias, ter uma sólida formação cultural.
Se você se identificou, seja bem-vindo(a) a esse mundo que passamos a desvendar
um pouco a partir de agora!

Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images

Para começar, é importante frisarmos que tempo e notícia são os elementos


primordiais deste ofício, que sempre atrai tanta gente há décadas. Mais do que
uma profissão, o jornalismo é uma prática social que está longe de se resumir às
suas tecnologias e técnicas de produção. Trata-se de um fenômeno profundamente
ligado ao contexto social com o qual se relaciona. E a história do Brasil está
intimamente ligada à história de práticas sociais e humanas da profissão no país.
Por isso, convido você a uma viagem no tempo.

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Normalmente, quando se estuda a história da imprensa no mundo é preciso
voltar ao final da Idade Média, final do século XV, para compreender o contexto do
surgimento das primeiras máquinas de produzir textos em série. Até então, a cultura
era essencialmente manuscrita (havia pouquíssimas pessoas alfabetizadas, geralmente
pertencentes à nobreza ou ao clero), um livro levava anos para ficar pronto porque era
todo feito à mão, assim como os poucos informativos em papel até então existentes
na Europa. Isso mudou quando o ourives alemão Johan Gutemberg revolucionou
a história da comunicação humana ao adaptar a prensa vinífera (típica da região
produtora de vinhos onde vivia) para imprimir em série livros e periódicos – algo que
até então só era possível ser feito de forma manuscrita.

Documentário em inglês da BBC sobre o invento de Gutenberg:


Explor

Disponível em: https://youtu.be/8svE2AjQWYE

Foi no século XVIII, com a Revolução Industrial, que na Europa a imprensa


vai se desenvolver e ganhar força, como resultado de um produto industrial, com
profissionais especializados. Os temas mais recorrentes abordados pelos jornais da
época eram pautas de interesse mercantil e político. Isabel Travancas lembra que
Com a Revolução Francesa em 1789 começava a se fazer jornais como
se entende hoje, com várias páginas e assuntos diversos: um espaço de
opinião e polêmica. Data dessa época o primeiro jornal dos Estados
Unidos, o Boston News Letter, criado em 1704, na cidade de mesmo
nome. E se o século XVIII foi o primeiro marco do desenvolvimento em
larga escala, os Estados Unidos foram certamente o terreno fértil para
o seu avanço. Foi lá que a imprensa tomou grandes proporções, com
jornais com até 29 edições por dia e mais de 30 páginas. (TRAVANCAS,
1992, p. 17.)

Já no Brasil, a imprensa e o jornalismo surgem oficialmente apenas no início


do século XIX, 14 anos antes da Independência, apesar do domínio colonial de
Portugal ter durado mais de três séculos. Foi com a vinda da família Real (em 1808,
quando se transferiu de Lisboa para cá a fim de fugir à invasão napoleônica que
assolava a Europa) que a impressão tipográfica foi introduzida no país - aliás, com
considerável atraso em comparação a outros países vizinhos da América Latina.

A Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1827) é considerada o primeiro jornal


editado em terras brasileiras, mas era um periódico ligado ao poder e à corte,
oficioso, pouco voltado à crítica e à realidade local.

Juarez Bahia lembra que o jornal era “de um órgão criado para informar sobre
a vida administrativa e a movimentação social do Reino e que, por ser o único
aqui editado, absorve a história de forma documental: editais, pequenos anúncios,
leilões, perdidos e achados, atos do governo” (BAHIA, 1990, p. 18).

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UNIDADE Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da Mídia Impressa

Crítico à Coroa Portuguesa mesmo foi outro jornal, editado e impresso também
a partir de 1808, mas em Londres - já que em terras brasileiras vigorava a censura
prévia, realizada por uma junta que zelava para que não se imprimisse nada contra
religião, governo e bons costumes - era o Correio Braziliense. Era um jornal que
mais parecia livro, capitaneado por Hipólito da Costa (considerado o primeiro
jornalista brasileiro) e dirigido ao mundo luso-brasileiro e que por conta de seu
conteúdo, circulava de maneira clandestina no Brasil.

Figura 2 – Hipólito da Costa


Fonte: Wikimedia Commons

Mas é apenas na segunda metade do século XIX, época do segundo reinado, que
a imprensa brasileira experimentaria maior profissionalização, com maquinários
mais modernizados, uso de ilustrações nos periódicos (a fotografia só será utilizada
no final do século) agora diários, além do incremento na tiragem.
Também importantes para o jornalismo no período são a introdução
do telégrafo (1852), o uso de cabos submarinos para transmissão das
mensagens telegráficas (1874) e o desenvolvimento do sistema de
correios. Há ainda um crescimento da profissionalização e especialização
do setor em contraste com o jornalismo de ‘um homem só’ que marcou o
início da atividade no país. (ROMANCINI; LAGO, 2007, p. 53.)

São criados ou se consolidam jornais mais estáveis economicamente, como o


Jornal do Commercio (1827), A Província de São Paulo (1875, depois batizado
“O Estado de S. Paulo”) e Jornal do Brasil (1891).
Explor

Acervo contendo a história do Grupo Estado: Disponível em: https://goo.gl/F7oqsP

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Explor
Documentários sobre a história dos dois principais jornais do país:
Estadão 140 anos: as primeiras décadas.
Disponível em: https://youtu.be/u3da9skF-Bk
Folha de S. Paulo, 90 anos – documentário “Toda a Folha”.
Disponível em: https://youtu.be/3LujW-cYLjY

Pode-se dizer que o que acontecia no país em termos jornalísticos naquele


momento era o reflexo de um movimento que já ocorria no resto do mundo. Ainda
que tenha se tornado realidade na Europa no século XVIII, a massificação do jornal
impresso realmente só ocorrerá entre o fim do século XIX e o início do século
XX, períodos que coincidem com a ascensão do capitalismo. São marcos desta
época o aumento dos níveis de instrução, a urbanização e o desenvolvimento dos
transportes. Sai de cena o jornal opinativo para dar lugar ao jornal de informação.

Durante muitos anos o jornalismo foi exercido no Brasil por profissionais oriun-
dos de outras áreas, como Direito, Economia e até mesmo Medicina. O jornalismo
era visto como uma profissão sinônimo de intelectualidade e uma prova disso é que
vários escritores trabalharam como jornalistas (talvez por isso literatura e jornalis-
mo tenham mantido uma relação tão estreita até meados do século XX).

Figura 3 – Machado de Assis


Fonte: Wikimedia Commons

Machado de Assis foi um exemplo de escritor com longa trajetória na imprensa.


Aliás, ele foi aprendiz de tipógrafo, revisor, repórter, redator, até torna-se, por fim,
cronista e colaborador habitual da imprensa carioca com seus contos no século XIX.

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UNIDADE Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da Mídia Impressa

Foi apenas em meados do século XX que, impulsionada pela demanda advinda


do crescimento do mercado das comunicações, surge uma série de faculdades ou
cursos de graduação em Comunicação ou Jornalismo no país. Depois dos primeiros
cursos para formação de jornalistas (o primeiro foi em 1935, na Universidade do
Distrito Federal; os da Escola de Jornalismo Cásper Líbero, São Paulo, 1947 e
Universidade do Brasil - hoje UFRJ, em 1948, no Rio de Janeiro), em 1948 a área
passou a ter 58 cursos de Comunicação na década de 1970, até atingir 120 nos
anos 1990 (MELO, 2003, p. 165).

Em plena ditadura militar, 1969, a profissão de jornalista receberia sua primeira


regulamentação, o Decreto-Lei 972. Em 1970, o diploma passou a ser exigido
para o exercício profissional dos que ainda não trabalhavam na imprensa (os que
já trabalhavam puderam obter o registro via sindicatos estaduais, mesmo sem ter
curso universitário).

No entanto, a obrigatoriedade do diploma caiu em 2009, depois de uma


decisão do STF. Hoje, para exercer o jornalismo não é necessário ter diploma, ser
formado em uma faculdade. No entanto, desde 2012 uma proposta de emenda
à Constituição (PEC) tramita no Poder Legislativo federal na tentativa de restituir
essa obrigatoriedade. Mas este é um assunto que vamos tratar um pouco mais para
frente, nas próximas unidades.

Nos EUA, a primeira escola de Jornalismo nasceu na Virginia no final do século XIX.
Já na Europa, a Universidade de Londres foi pioneira ao criar o curso de Jornalismo,
em 1920.

A matéria-prima do jornalismo é a notícia. Costumamos dizer aos nossos alunos


que toda notícia é um fato, mas nem todo fato é uma notícia. Explico: como diria
Muniz Sodré (2009, p. 29), fato é uma ocorrência na vida real que reclama do
sujeito uma interpretação. Fato é o que acontece, o que não está no imaginário.
Notícia são os fatos que impactam ou trazem algum tipo de mudança em um
determinado grupo social. Jornalistas mais antigos costumam dizer que quando
um cachorro morde um homem isso não é notícia, mas um homem morder um
cachorro é.

Se um cano estoura na cozinha da sua casa, trata-se apenas de um fato (em que
pese o acontecimento ser um verdadeiro transtorno na vida particular de qualquer
um, não é mesmo?). Mas, se um encanamento estoura em uma avenida de grande
movimento da sua cidade, gerando uma série de transtornos para pedestres e
motoristas, passa a ser considerado uma notícia. Porque partimos do pressuposto
inicial de que notícia é tudo aquilo que é de INTERESSE PÚBLICO.

A esse respeito, em 1904, quando da fundação de uma das primeiras escolas


superiores de jornalismo americanas, na prestigiada Universidade de Columbia, já
dizia o seu patrono, o publisher Joseph Pulitzer (que, aliás, dá nome ao prêmio
anual que reconhece os melhores trabalhos jornalísticos nos EUA):

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Não é demais afirmar que a imprensa é a única grande força organizada
a portar, como um todo, o estandarte da correção pública. [...] Há muitos
advogados com espírito público, mas, por profissão, eles trabalham
para seus constituintes. [...] Os médicos trabalham para seus clientes.
Só a imprensa faz do interesse público o seu interesse. Não fosse por
sua preocupação, quase todas as reformas morreriam antes de nascer.
Ele conduz as autoridades a cumprir seus deveres. Ele expõe as conspirações
corruptas. Ele promove todos os planos que podem levar ao progresso.
Sem ele a opinião pública seria disforme e muda. Ele une todas as classes,
junta todas as profissões e lhes ensina como agir em conjunto, baseadas em
sua cidadania comum. (PULITZER, 2009, p. 55.)

Além do interesse público, a notícia deve carregar outras características funda-


mentais, como o grande alcance e a novidade. Não por acaso, em inglês, notícia é
literalmente news.

Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images

Otto Groth (2011) delimita os quatro conceitos fundantes (ou características


definidoras) do jornalismo: atualidade (o jornalismo diz respeito a fatos novos,
que tenham como referência o dia a dia, o cotidiano das pessoas); periodicidade,
regularidade ou frequência (elemento que diz respeito ao intervalo de tempo que
separa as diferentes edições de um veículo e que delimita a estrutura temporal de
um veículo, tornando-se algo mais que o intervalo entre duas edições); publicidade
ou difusão coletiva (o jornalismo trata do que é público, do que pode e deve ser
conhecido por todos), universalidade ou variedade no conjunto de interesses
(o jornalismo dialoga com todo o acervo de conhecimentos humano, entendendo
que o mundo não se restringe ao mundo físico, mas compreende também a
sociedade e a cultura).

Simplificando esses conceitos, os manuais de Jornalismo listam requisitos


para um fato tornar-se notícia - os chamados valores notícia ou critérios de
noticiabilidade. Uma informação será tanto mais forte - e atrairá mais o leitor

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UNIDADE Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da Mídia Impressa

- quanto mais dessas características tiver. Ana Estela Sousa Pinto (2009, p. 60)
enumera esses critérios assim:

*Ineditismo: a informação inédita é mais importante do que a já publicada;

*Improbabilidade: a notícia menos provável é mais importante do que a esperada;

quanto mais pessoas possam ter a sua vida afetada pela


*Utilidade: notícia, mais importante ela será;

quanto maior a curiosidade que a notícia possa despertar, mais


*Apelo: importante ela será;
quanto mais pessoas puderem se identificar com o personagem
*Empatia: e a situação das notícias, mais importante ela será;

disputa entre pessoas, países, corporações, além de tratarem


*Conflito: de diferentes interesses em jogo, costumam ser interessantes;

*Proeminência: notícias sobre pessoas famosas têm mais impacto;

o momento da publicação faz a diferença. Publicar uma


*Oportunidade: informação exclusiva sobre uma reunião antes que ela
aconteça é mais jornalístico do que publicá-la depois.

Importante frisar que cada veículo terá prioridades diferentes na hora de


hierarquizar as informações e isso varia dependendo do seu projeto editorial, do
seu público, da abrangência de seu jornal (local, nacional etc.), da periodicidade e
do meio – na televisão, por exemplo, a possibilidade de ter boas imagens tem peso
maior nos telejornais que em jornais impressos, por exemplo; já no jornalismo
on-line a necessidade de selecionar o que será publicado é muito menor que nos
meios impressos.

Projeto Editorial é um documento definidor das diretrizes de conteúdo de uma


Explor

publicação jornalística. Basicamente é composto pela descrição detalhada dos


seguintes itens: Nome do veículo, Objetivos, Público Alvo (a quem se destina),
Política Editorial (qual a linha editorial do veículo, qual a missão em relação ao
seu público, o que permite ou não permite em termos de conteúdo), Linguagem,
Editorias e Distribuição. Já o Projeto Gráfico consiste em uma padronização usada pela
publicação para dispor uniformemente matérias, fotografias, ilustrações, infográficos
etc. Engloba principalmente o formato do papel, acabamento, as famílias tipográficas
usadas e a malha tipográfica.

Toda notícia converge da diversidade de opiniões, relatos e testemunhos de


quem está (em maior ou menor escalada) envolvido com o fato. A esses “atores”
cujos discursos são os elementos de base da notícia chamamos fontes jornalísticas,
que podem ser personagens de um fato e que estejam diretamente envolvidos com
ele; também podem ser analistas não envolvidos diretamente com o fato, mas
que ajudam a interpretá-lo, informantes que contam o que está acontecendo nos
bastidores de uma notícia etc.

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Segundo Nilson Lage (2001), basicamente existem dois tipos de fonte: as fontes
“primárias” e “secundárias” na perspectiva da sua relação direta e indireta com os
fatos, respectivamente. Ainda indica as “testemunhas”, que presenciam os fatos e
os “experts”, especialistas em determinados assuntos e que interpretam os eventos.

Já o jornal Folha de S. Paulo (2010, p. 27-28) distingue quatro classes de


fontes: “tipo zero” - são enciclopédias, documentos, vídeos, que “prescindem de
cruzamento” com outras fontes; “tipo um” - com “histórico de confiabilidade” e
quando fala, o faz com conhecimento de causa, estando “próxima do fato que
relata e não tem interesses imediatos na sua divulgação”, sendo que o jornal admite
publicar informações de fonte desse tipo sem checagem; “tipo dois” - tem os
atributos da fonte “tipo um”, menos o histórico de confiabilidade, por isso a Folha
recomenda que a informação seja cruzada com pelo menos mais uma fonte; e o
“tipo três” - tido como a de menor confiabilidade, sendo “bem informada, mas tem
interesses (políticos, econômicos etc.)”. Assim, o jornal trata as informações destas
últimas como sugestão de pauta.

Dissemos no início desta aula que tempo é um dos pressupostos fundamentais


do trabalho jornalístico, que sempre lida com prazos “apertados” para produzir
e liberar a informação ao seu público. O prazo final que um jornalista tem para
finalizar seu texto e liberá-lo para a edição chamamos de deadline.

Importante! Importante!

Fique atento(a) a outros jargões importantes do meio jornalístico: *Hard News ou


matérias factuais: factual vem de fato, de notícia quente, que rapidamente “envelhece”
e não pode deixar para ser publicada outro dia. São notícias que geralmente estão
na capa de um jornal, com mais destaque do que outras. Ex: acidentes, denúncias no
mundo político ou esportivo, divulgações oficiais do governo, declarações de guerra
etc. *Soft News ou notícias frias: matérias mais light, cuja publicação pode ser adiada,
sem prejuízo do conhecimento para a opinião pública. Ex: certas matérias sobre cultura,
cidades, comportamento etc. Furo jornalístico ou de reportagem: matéria jornalística
exclusiva de grande repercussão. Dar um furo significa publicar conteúdo “quente” antes
da concorrência. Barriga: é o contrário do furo, acontece quando a concorrência fura
e publica em primeira mão conteúdo exclusivo. Em suma: todo jornalista que furar a
concorrência, mas é um verdadeiro pesadelo levar uma barriga.

A Notícia Transformada em Mercadoria


Diferentemente das Relações Públicas e da Publicidade e Propaganda, cujos
clientes são instituições/organizações que pagam diretamente pelos seus serviços,
no jornalismo o “cliente” é a sociedade, a opinião pública. Daí porque dizemos
que a missão social do jornalista e o seu dever e compromisso são com a verdade
dos fatos, dado o seu poder de, por exemplo, pautar a agenda das discussões

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UNIDADE Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da Mídia Impressa

no seio da sociedade. E da capacidade de os meios reverberarem seu discurso,


mudando mentalidades, comportamentos coletivos e até o destino das nações.
É por isso que tantas vezes ouvimos dizer que a imprensa é o Quarto Poder – a
força da imprensa e do jornalismo é tão impactante que se equiparam aos outros
três poderes legalmente constituídos nos governos democráticos: Legislativo,
Executivo e Judiciário.

Pode-se dizer que o jornalismo assumiu perante a sociedade a responsabilidade


de exercer uma série de valores e normas, transmitidos de diversas formas,
que implicam uma série de compromissos com o público. Entre elas, estaria a
responsabilidade de fiscalizar outras instituições: tudo o que fosse público ou de
interesse do público, como uma espécie de representante não eleito da população.
Mas nem por isso menos legítimo. Daí porque a liberdade e a independência
da mídia sejam pressupostos tão importantes para o exercício do jornalismo de
maneira plena. Em 1821 o filósofo e historiador escocês James Mill escreveu:
É tão verdadeiro que o descontentamento do povo é o único meio de
remover os defeitos dos governos viciosos, que a liberdade de imprensa, o
instrumento principal para criar descontentamento, é, em todos os países
civilizados, visto por todos excepto os adeptos do mau governo como
uma segurança indispensável e a maior salvaguarda da humanidade. (MIL
apud TRAQUINA, 2005, p. 47.)

No entanto, é preciso nos despir de certos romantismos para compreender o


mercado atual e os desafios jornalísticos a ele atrelados. A relação com o público
deve ser entendida também a partir dos limites comerciais do jornalismo, uma vez
que seu conteúdo é também um produto que deve conquistar dois tipos de público:
um maior, que compra o produto nas bancas ou por assinatura e/ou outro público,
diferenciado e estratégico: o anunciante (MARCONDES FILHO, 2000, p. 116).

Muniz Sodré afirma que o modelo de jornalismo do século XX é o da imprensa


norte-americana, com mais estrutura técnica do ponto de vista de realização e mais
consolidado enquanto empreendimento essencialmente capitalista (logo, vinculado
aos interesses comerciais da burguesia) - ou seja, os veículos de comunicação são
empresas que visam ao lucro.

É preciso ter sempre isto em mente, para perceber então que discurso jornalístico
dos meios de comunicação de alguma forma acaba impregnado por esse jogo de
poder. Para o autor, o conceito de notícia, entendido e praticado pelos profissionais
do mundo ocidental enquanto uma narração racionalizada dos acontecimentos,
é o que tem dado suporte nos últimos séculos à ideia de um jornalismo neutro,
sustentando assim os coeficientes de confiabilidade pública dos relatos (SODRÉ,
2009, p. 24).

Roseli Fígaro (2013, p. 158) relembra que as notícias são um produto típico da
“economia da atenção” que tem caracterizado a mídia contemporânea e elas surgem
da cultura profissional dos jornalistas, reflexo da organização geral do trabalho nas
redações e dos processos produtivos – de uma rotina de produção atravessada por

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uma polifonia discursiva. “O jornalista nesse processo é ‘parcialmente autônomo’,
pois precisa obedecer às regras, fazendo com que a seleção das ocorrências
informe tanto sobre o campo profissional do jornalismo quanto sobre o meio social
a que se refere a notícia” (SODRÉ, 2009, p. 26). Assim, o jornalista é tanto um
comunicador quanto um profissional da informação, ordinariamente inserido em
uma organização que busca o lucro.
Marcada por interesses comerciais, a imprensa moderna ao mesmo tempo
em que expõe a pluralidade de opiniões, também controla a exposição
destas opiniões de acordo com seus interesses [...] Via de regra, atua junto
com grandes forças econômicas e sociais: um conglomerado jornalístico
raramente fala sozinho. (MARCONDES FILHO, 1986, p. 11.)

Concentrada nas mãos de poucos grupos empresariais e transnacionais que


dão prioridade a estratégias mercadológicas e controlam a produção e difusão
de informação e entretenimento – o cenário da comunicação hoje (e já há algum
tempo) é o da mercantilização. Para Dênis de Moraes
as corporações de mídia e entretenimento exercem um duplo papel
estratégico na contemporaneidade [...] por legitimarem o ideário global
e transformá-lo em discurso social hegemônico, propagando visões de
mundo e modos de vida que transferem para o mercado a regulação das
demandas coletivas. (MORAES, 2004, p. 187.)

Dentro desse processo capitalista, a publicidade tem ocupado um lugar de


destaque, inclusive para a sobrevivência dos veículos de comunicação, influenciando
diretamente e não raras vezes o texto jornalístico, que em certas situações parece
se afastar da textualidade jornalística, deixando transparecer o atravessamento pelo
discurso publicitário.
Passa a refletir certa estrutura textual persuasiva, evidenciada tanto por seu
caráter manipulador, quanto pela maneira como constrói positivamente
uma imagem do tema-produto. Essa interdiscursividade chega a passar
despercebida para a maioria dos leitores. Segue regras de manuais de
redação, adotados para marcar a identidade das empresas perante o
mercado e prepara uma pauta inteiramente planejada pelo veículo.
(FIGARO, 2013, p. 159.)

Neste contexto, é preciso enxergar o noticiário de outra forma. E entender que


nem sempre as notícias é que “fazem” o veículo e sim o contrário. Em seu livro
póstumo, Número Zero, o filósofo italiano Umberto Eco faz uma grande crítica
ao jornalismo por meio da ficção. A obra trata dos bastidores jornalísticos de um
jornal sensacionalista prestes a ser lançado, o “Amanhã”. Em certo momento, o
editor-chefe enfatiza que “não são as notícias que fazem o jornal, e sim, o jornal
que faz as notícias. E saber pôr juntas quatro notícias diferentes significa propor ao
leitor uma quinta notícia” (ECO, 2015 p. 57). Dito de outra forma, o redator-chefe
chama atenção para o fato de que “notícia quem faz somos nós, e é preciso saber
fazer a notícia brotar das entrelinhas” (ECO, 2015, p. 59).

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Algumas Segmentações no Jornalismo:


Econômico, Cultural, Esportivo e Político
Pode- se dizer que o jornalismo econômico tem a mesma idade da imprensa, já
que desde cedo as pautas econômicas estiveram nas páginas dos jornais impressos.
Aliás, vamos lembrar que foi por razões econômicas (contabilizar a produção
agrícola) que o homem inventou a escrita, na passagem da Pré-história para a
História. A autora Suely Caldas conta que no caso da imprensa brasileira
No final do século XIX e início do século XX, os jornais brasileiros já
traziam colunas fixas e diárias com temas exclusivamente econômicos. Por
volta de 1920 o jornal O Estado de S. Paulo publicava uma coluna diária
com o sugestivo título “Magnos problemas econômicos”, assinado por
Cincinato Braga. Nos anos 1930, o ex-presidente da Academia Brasileira
de Letras, Austregésilo de Athayde, manteve, durante anos, uma coluna
em O Jornal com comentários sobre o mercado de café, naquela época
o mais poderoso motor da economia nacional. E nos primeiros anos do
século XX os jornais passaram a publicar (o que fazem até hoje) seções de
mercados, em página inteira, com informações sobre cotação de abertura
e fechamento dos mercados dos principais produtos agrícolas, do ouro e
da prata, por exemplo. (CALDAS, 2012, p. 11-12.)

A variação da taxa SELIC (a taxa de


juros básica da economia), o aumento
no preço da gasolina, as oscilações nos
índices de desemprego e das Bolsas de
Valores, o melhor investimento para
aquele dinheiro a mais que sobrou no
final do mês, a melhor forma de decla-
rar imposto de renda, o saldo da balan-
ça comercial... O comportamento da
economia de um país ou cidade influen-
cia a vida de todos e precisa ser devida-
mente informado para que os cidadãos
estejam preparados para tomar deci-
sões todos os dias.

O jornalismo econômico tem essa


responsabilidade de informar com pre-
cisão e, sobretudo, com clareza, a fim
de que seja entendido por todos os pú-
blicos - tarefa nem sempre fácil. Muita
gente, aliás, identifica preconceituosa-
mente o jornalismo econômico como Figura 5
“parte chata” e de “difícil leitura”. Fonte: iStock/Getty Images

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Contra essa ideia, vale o que diz Sidnei Basile, autor do livro “Elementos do
Jornalismo Econômico”:
Não há notícias chatas, há matérias chatas, feitas por repórteres chatos
para publicações chatas. [...] Escreva para alguém que de um jeito ou de
outro, está interessado em dinheiro: como produzir, poupar e investir
dinheiro. São profissionais, executivos, trabalhadores, jovens e velhos,
homens e mulheres, de todas as raças e credos, que estão interessados em
saber algo a respeito de dinheiro. (BASILE, 2011, p. 29.)

É possível acompanhar o noticiário econômico pelos jornais Valor Econômico,


Agora, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, além das revistas Exame, Revista
Istoé Dinheiro, por agências de notícias especializadas como as Agências Estado
(e suas editorias “Financeiro” e “Agronegócios”) e Blommberg (amplo noticiário
econômico, em inglês, em texto e vídeo). A Globonews tem em sua grade um
programa especializado, o Conta Corrente.

É amplo o campo de atuação do jornalismo cultural, que envolve a cobertura


de manifestações eruditas, populares ou de massa.

Para saber mais: Sobre os três tipos de cultura – erudita,


popular e de massa, leia “O que é indústria cultural”, de Teixeira
Coelho, livro da Coleção Primeiros Passos.

Tal pluralidade de temas tem orientado sua tendência a ampliar a abordagem de


pautas para além dos sete campos tradicionais das artes (música, pintura, dança,
escultura, literatura, teatro e cinema), como inicialmente era seu propósito, cobrindo
hoje em dia assuntos como moda, gastronomia, design, além de comportamento
e bastidores na televisão e internet e cada veículo terá seu recorte temático, a
depender de seu projeto editorial e segmento de público.

Para Piza, “a imprensa cultural tem o dever do senso crítico, da avaliação de cada
obra cultural e das tendências que o mercado valoriza por seus interesses, e o dever
de olhar para as induções simbólicas e morais que o cidadão recebe” (2013, p. 45).
Praticá-lo, no entanto, significa muito mais do que emitir opiniões sobre filmes,
livros, peças de teatro e novelas. É um exercício constante de aprimoramento e
busca pela informação. Reportagens, notas, críticas e resenhas são os gêneros
jornalísticos mais recorrentes neste segmento.

Além das editorias de cultura nos jornais impressos e portais de notícia, é


possível ao futuro jornalista acompanhar a cobertura cultural por meio de veículos
brasileiros como Revista Piauí, Revista Rolling Stones, Revista Gula e programas de
TV como Metrópolis (TV Cultura), Almanaque, Sarau e Estúdio I (os três últimos da
Globonews). Importante: dominar a língua inglesa e um terceiro idioma é requisito
fundamental para quem quer ter sucesso na área.

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UNIDADE Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da Mídia Impressa

Explor
Jornalismo Cultural em inglês e francês.
The New Yorker: www.newyorker.com
The Spectator: www.spectator.co.uk
Esquire: www.esquire.com
Cahiers: www.cahiers.fr
The Times Literary Supplement: www.the-tls.co.uk
New York Review Books: www.nyrb.com www.magazine-litteraire.com

Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images

Veremos em outras disciplinas mais adiante que um dos segmentos mais


buscados por jovens jornalistas que ingressam no mercado de trabalho é o
jornalismo esportivo, talvez por lidar com universo de grandes e emocionantes
competições e superações esportivas ou pela informalidade e coloquialidade típica
de sua cobertura. Mas nem sempre este segmento foi popular e teve prestígio.

Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images

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No Brasil, o jornalismo esportivo nasceu quando os primeiros jornais do Rio
de Janeiro cobriam esportes da elite na época (como cricket, por exemplo), na
passagem dos séculos XIX para o XX, e pode-se dizer que se desenvolveu ao
mesmo tempo em que ocorreu a popularização do futebol no país. No início, foi
uma especialidade menos relevante dentro do jornalismo, nitidamente subalterna
em relação ao jornalismo político, por exemplo, e atraía profissionais com menos
habilidades e ambições que os redatores políticos e/ou literários. Como lembra
Ruy Castro, na biografia que escreveu sobre o craque Garrincha, relatando sobre
primeiros jornalistas que escreviam no final dos anos 20 do século XX: “Não fosse
pelo lanche que os clubes ofereciam nos dias de treino, alguns desses repórteres
morreriam de fome” (CASTRO, 1992, p. 114).

Hoje o cenário é diferente. É possível acompanhar o noticiário esportivo por


vários programas jornalísticos de rádio e tv, sites e meios impressos. Futuros
jornalistas interessados em entender mais sobre esse universo, recomendamos que
acompanhem e entendam a cobertura nos seguintes veículos:

TV: ESPN, ESPN + e ESPN Brasil; FOX Sports; FOX Sports 2; BANDSPORTS;
SPORTV 1,2,3 (2 e 3 reprisam conteúdos do 1 e exibem outros eventos ao vivo);
Esporte Interativo e EI Plus e programas da TV aberta Globo Esporte, Cartão Verde
(Cultura), Jogo Aberto (Band), Esporte Fantástico (Record), Gazeta Esportiva (TV
Gazeta (SP); Jornais e revistas impressos: Lance e revista Placar, além de editorias
da Folha de S. Paulo, Agora, O Estado de S. Paulo e outros jornais estaduais. Rádios:
Jovem Pan, Globo, Bandeirantes, Trianon, Capital, Transamérica, CBN, além de
web rádios como Premium Esportes, De Prima, Poliesportiva, Data Foot, Web Rádio
Verdão, Web Rádio Lusa, Web Rádio Coringão, Tricolor Digital, entre outras.

Sites de cobertura esportiva:


Explor

Gazeta esportiva: www.gazetaesportiva.com


Esporte Interativo: www.esporteinterativo.com.br
Globo Esporte: www.globoesporte.globo.com

O sociólogo francês Pierre Bourdieu escreveu certa vez que existe uma relação
de estreita ligação e mútua dependência entre o campo jornalístico e o campo
político, cada um com suas pressões e regras próprias, mas que exercem entre
si influências recíprocas em seus mecanismos de funcionamento. Por isso o jor-
nalismo político é uma das segmentações mais importantes da nossa profissão.
Mesmo que não seja a editoria mais popular, ainda é considerada uma das mais
nobres para as empresas jornalísticas. Trata-se da especialização cuja cobertura é
focada no que de mais importante acontece na política local, regional, nacional,
internacional e seus bastidores, cujos principais players são políticos dos Poderes
Executivo e Legislativo.
Já houve um tempo em que o jornalismo político era totalmente partidário,
chegando a adotar até um tom partidário mesmo, como no século XIX. Em meados

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UNIDADE Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da Mídia Impressa

dos anos 50 do século XX, o jornalismo político ainda era muito mais opinativo,
marcado por engajamento eleitoral dos jornais, que atuavam ativamente assumindo
seus posicionamentos e preferências em suas manchetes. Hoje, objetividade e
imparcialidade dão o tom do jornalismo político, mais neutro, mais profissional,
e as orientações e ideologias políticas de cada veículo não ficam explícitas em
seus textos.
O jornalista político tem um papel fundamental para a sociedade e durante o seu
trabalho precisa ser legal e ter respeito com o seu público – o que significa zelar por
sua própria credibilidade e reputação no mercado. O jornalista político deve sempre
se pautar pelo “interesse público”, e não pelo “interesse do público”. O “interesse
do público” muitas vezes passa pela invasão de privacidade de personalidades, e que
nada tem a ver com o bem público. Deve ainda tomar muito cuidado com presentes
e ofertas de vantagens oferecidas por grupos políticos – muitas destas regras estão
usualmente previstas em Manuais de Conduta de cada veículo de comunicação.
Alguns nomes de destaque na cobertura política: Kennedy Alencar e Merval
Pereira (CBN), Eliane Cantanhêde (Estadão), Cristiana Lobo (Globonews), Dora
Kramer, Marco Antônio Villa (Rádio Jovem Pan), José Nêumanne (Estadão/
TV Gazeta).

Cargos e Funções no Jornalismo Impresso:


Como Funciona a Redação de um Jornal
Podemos definir a redação de um jornal diário como um grande espaço de
seleção, produção e execução de material jornalístico. Geralmente é dividida em
editorias, que são as seções temáticas de um periódico. Trabalham sob a pressão
do deadline, que é o prazo final para entrega do material produzido.

Figura 8
Fonte: iStock/Getty Images

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Mas, antes de tratamos sobre cargos e funções e como trabalham os profissionais
da notícia no meio impresso, é importante lembramos como elas chegam até
às redações: pode ser por meio da provocação de leitores, de redes sociais, da
observação dos próprios jornalistas, assessorias de imprensa (falaremos mais sobre
isso na unidade II) e agências de notícias nacionais ou internacionais, correspondentes
internacionais ou por meio de colunistas. O fato é avaliado, checado, classificado
– o que vai determinar o espaço que terá em termos de cobertura e publicação.

Entenda mais sobre o fluxo da notícia no jornal mais importante do Brasil:


Explor

Folha 90 anos: o fluxo da notícia.


Disponível em: https://youtu.be/7pmgUMpKJvs

Regra geral, nos jornais impressos geralmente o repórter chega à redação


por volta das 10h e após saber por meio do pauteiro qual será a sua tarefa do
dia, começa prontamente a buscar as fontes (entrevistados, pessoas que sejam
representativas ou personagens importantes sobre os fatos abordados) para a
sua matéria, pois precisará entregar o texto para diagramação (com exceção de
grandes reportagens, mais analíticas, que têm mais tempo para serem produzidas)
no máximo até às 17h, independentemente de quem precise entrevistar (se um
trabalhador ou um ministro).

Depois disso, o jornal é agilmente diagramado por uma equipe de designers


no setor de paginação. O deadline para fechamento da edição do dia acontece
normalmente às 18h. Por que normalmente? Porque dependendo da editoria e dos
fatos do dia, esse prazo precisa ser estendido. Imagine uma final de campeonato
cujo jogo decisivo termine às 23h? Ou uma votação importante no Congresso que
se estenda depois das 20h? Nesses casos, o prazo é naturalmente estendido e o
parque gráfico trata de rodar materiais de outras editorias, à espera do conteúdo
mais factual do dia. A rotina das editorias varia. Geralmente cadernos de cultura
fecham mais cedo.

Após o fechamento dos textos, é o momento de a gráfica trabalhar para imprimir


a edição do dia seguinte.

Depois do fechamento, ainda é possível trocar os textos,


atualizá-los e até mesmo mudar páginas - é o que se chama
“troca urgente”.

Essa corrida contra o tempo ocorre todos os dias para que o leitor tenha na
manhã seguinte o jornal em sua casa. Nas revistas semanais o fechamento ocorre
normalmente às quintas-feiras. Nos impressos mensais ou com periodicidade
maior evidentemente, esse clima é amenizado. Já em veículos digitais esse tempo
é ainda mais acelerado, pois a todo o momento (e não em um horário específico,

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UNIDADE Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da Mídia Impressa

como nas mídias mais tradicionais) os textos estão sendo fechados para entrar
rapidamente no portal. Os repórteres trabalham em períodos alternados par que
os veículos possam ter 24h de cobertura e atualização. Mas isso nós veremos com
mais detalhes na unidade III.

Embora receba as instruções sobre a matéria que deve fazer do pauteiro, o


chefe direto do repórter é o editor, que instrui o jornalista sobre a abordagem da
matéria e diz o que deve permanecer ou não sem seu texto final, opinando inclusive
sobre o título. O editor, por sua vez, está subordinado ao editor-chefe, que está
subordinado ao diretor de redação (figura máxima depois do dono do jornal).

Organograma de uma Redação de impresso

Diretor de
Redação

Departamento de Departamento de Departamento


Fotojornalismo Editor-Chefe Programação de Arte
Gráfica

Editor de Editor de Editor de Editor de Editor de Editor de Editor de


Opinião Política Economia Cidades Cultura Esporte Internacional

Subeditor

Chefe de
Reportagem Pauteiro

Redatores Repórteres

No organograma acima conseguimos ter uma noção dos principais cargos em


uma redação de veículo impresso e suas relações de subordinação. Veja a seguir um
quadro-resumo das principais funções/perfil ideal em um jornal impresso, segundo
Ana Estela de Sousa Pinto (2009, p. 29-31):
Tabela 1

Função Jornalística O que faz Perfil


Quem escolhe pela manhã o “cardápio” das Gostar de acordar cedo, organizado, paciência
reportagens, organizando trabalho dos para orientar colegas, capacidade de
Pauteiro
repórteres – embora em alguns jornais seja o planejamento, flexibilidade e ser afeito a
próprio repórter que se paute. mudanças. Ideal já ter sido repórter.
Domínio pleno da língua portuguesa,
“Levanta” a história, apura informações ousadia, afeito a imprevistos, não gosta de
Repórter
necessárias, escreve matérias. rotina e horários fixos, extrovertido, trabalha
bem sob pressão.
Faz textos de apoio (históricos, cronologias) Organizado, detalhista, gosta de horários
Redator produz artes e quadros, faz reportagens por mais regrados, capacidade de concentração,
telefone, revisa artigos e outros textos. trabalha bem sob pressão.

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Gostar de coordenar, ter paciência para
Orienta repórter na apuração, discute e avalia orientar colegas, ter segurança para tomar
Chefe de reportagem
reportagem enquanto ela acontece. decisões e assumir responsabilidade por elas.
Ter experiência como repórter ou fechador.
Ter liderança, capacidade crítica, de
Decide que reportagens serão publicadas em
planejamento e de motivação de sua equipe.
cada caderno/editoria e com que enfoque. É o
Temperamento diplomático, gostar de
Editor responsável e dá a palavra final sobre pautas,
trabalhar sob pressão, ter segurança para
reportagens, títulos e direcionamento
tomar decisões e assumir responsabilidades.
das matérias.
Ter experiência na reportagem.
Rapidez na tomada de decisões, trabalha bem
Cuida do acabamento final, cuidando de
Fechador sob pressão, gostar de trabalhar dentro da
títulos, correção de erros de textos.
redação com horários definidos.

No documentário “Toda a Folha” confira os bastidores do trabalho no principal jornal do país:


Explor

Folha de S. Paulo, 90 anos – documentário “Toda a Folha”.


Disponível em: https://youtu.be/3LujW-cYLjY

Entrevista com Elvira Lobato, sobre a profissão de jornalista do meio impresso:


Explor

Carreira pós-jornal: depois de se aposentar da Folha, Elvira Lobato lança sua primeira
grande investigação independente. Disponível em: https://goo.gl/ZwcbHW

O principal jornal do país, a Folha de S. Paulo, no final dos anos 80 criou


ainda um outro cargo: o ombudsman, um termo sueco que significa “aquele que
representa”. O conceito apareceu na Suécia no início do século 16 e definia o
funcionário nomeado pelo governo daquele país para ouvir as críticas dos cidadãos
contra serviços que não funcionavam, os desmandos da burocracia estatal e tinha
status ministerial. Na verdade, a ideia de um ouvidor geral já existia na política
desde a Roma antiga, na figura dos tribunos da plebe. Caio Túlio Costa, em seu
livro “Ombudsman, o relógio de Pascal” lembra:
A atividade multissecular dos ouvidores públicos, que alcançou projeção
maior entre os escandinavos, foi reinventada pela imprensa na década
de 60 do século 20 nos EUA. Na América Latina, a Folha de S. Paulo
é a pioneira na introdução desse programa de investigação das queixas
dos leitores e de crítica ao próprio jornal, de defensor do leitor de uma
Redação. Coube a mim dar forma, implantar e consolidar um serviço de
atendimento ao cidadão num país onde a cidadania nem chega a ser uma
noção - é um desejo difuso e uma possibilidade distante.

Como percebemos, no decorrer da década de 1990, o mundo, e consequente-


mente o Brasil, vivia um novo momento de democracia, o que se refletiu de várias
maneiras no cotidiano das pessoas. Na política, no modo de vida, na imprensa.
E com isso, nasceu um ímpeto democrático que fez florescer ouvidorias e canais
de participação em vários setores e também a figura do ombudsman de imprensa.

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UNIDADE Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da Mídia Impressa

Explor
Para saber mais sobre o cargo de ombudsman e desafios nos dias de hoje, acesse:
A crítica de mídia e o papel do ombudsman na era digital: transformações e
adaptações. XXXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. São Paulo – SP,
05 a 09 de setembro de 2016. Disponível em: https://goo.gl/YCVpTq

Vídeo com os jornalistas que já foram ombudsman da Folha de S. Paulo:


Explor

Folha 90 anos: veja encontro de ombudsman do jornal.


Disponível em: https://youtu.be/i8O3xCVPlds

Importante! Importante!

O ombudsman precisa ter independência para exercer bem sua função – daí por que
ele muitas vezes não aparece no organograma da redação, visto que normalmente está
subordinado diretamente ao diretor de redação.

E aí? O que achou deste primeiro panorama sobre o mercado e a carreira


de jornalismo? Vamos explorar outras mídias e outras possibilidades da carreira?
Na unidade II falaremos sobre os meios audiovisuais e as possibilidades em assessoria
de comunicação. Sugiro algumas leituras e livros e filmes interessantes para se
apropriar do universo jornalístico.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Ilusões perdidas
BALZAC, H. Ilusões perdidas. São Paulo: Estação Liberdade, 2007.
Todos os homens do presidente
BERNSTEIN, C; WOODWARD, B. Todos os homens do presidente. São Paulo: Três
Estrelas, 2014.
Ombudsman: o relógio de Pascal
COSTA, C. T. Ombudsman: o relógio de Pascal. São Paulo: Geração Editorial, 2006.
Número zero
ECO, U. Número zero. São Paulo: Record, 2015.
Os segredos das redações: os segredos que jornalistas só descobrem no dia a dia
FORTES, L. Os segredos das redações: os segredos que jornalistas só descobrem no
dia a dia. São Paulo: Contexto, 2016.

Vídeos
O mercado de notícias
Roteiro e direção: Jorge Furtado. Brasil, 2014. 94 minutos.
Disponível em: https://youtu.be/yvz4awS3SCw

Filmes
O Jornal
Direção: Ron Howard. EUA, 1994. 112 minutos. Título original: The Paper.
Spotligt, segredos revelados
Direção: Tom McCarthy. EUA, 2015, 129 minutos.Título original: Spotlight.

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UNIDADE Panorama sobre Jornalismo e o Tradicional Mercado da Mídia Impressa

Referências
BAHIA, J. História da imprensa brasileira. Rio de Janeiro: Mauad, 2015.

BASILE, S. Elementos de jornalismo econômico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

CALDAS, S. Jornalismo econômico. São Paulo: Contexto, 2012.

COELHO, P.V. Jornalismo esportivo. São Paulo: Contexto, 2013.

COSTA, C. T. Ombudsman: o relógio de Pascal. São Paulo: Geração Editorial, 2006.

PINTO, A. E. de S. Jornalismo diário: reflexões, recomendações, dicas, exercícios.


São Paulo: Publifolha, 2009.

FIGARO, R. As mudanças no mundo do trabalho do jornalista. São Paulo:


Atlas, 2013.

FOLHA DE SÃO PAULO. Manual de redação. São Paulo: Publifolha, 2010.

GROTH, O. O poder cultural desconhecido: fundamento das ciências dos


jornais. Petrópolis: Vozes, 2011.

LAGE, N. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio


de Janeiro: Record, 2001.

MARCONDES FILHO, C. A saga dos cães perdidos. São Paulo: Hackers


Editores, 2000.

MARTINS, F. Jornalismo político. São Paulo: Contexto, 2013.

MORAES, D. de. Crítica da mídia e hegemonia cultural. Rio de Janeiro:


Mauad, 2016.

PIZA, D. Jornalismo cultural. São Paulo: Contexto, 2013.

PULITZER, J. A escola de jornalismo: a opinião pública. Florianópolis:


Insular, 2009.

ROMANCINI, R.; LAGO, C. História do jornalismo no Brasil. Florianópolis:


Insular, 2007.

SODRÉ, M. A narração do fato: notas para uma teoria do acontecimento.


Petrópolis: Vozes, 2009.

TEMER, A. C. R. P. Entre o estupro e o sexo desejado: relações entre o BBB12


e o telejornalismo. In: MAIA, J. F. de. Atualidades: estudos contemporâneos em
jornalismo. Goiânia: Editoria PUC Goiás, 2012.

TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2005, vol. 1.

TRAVANCAS, I. S. O mundo dos jornalistas. São Paulo: Summus Editorial, 1992.

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