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Fotojornalismo e

Fotografia Documental
Material Teórico
A Emergência do Fotojornalismo e as Revistas Ilustradas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Fabio Henrique Ciquini

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
A Emergência do Fotojornalismo
e as Revistas Ilustradas

• Fotojornalismo e Fotodocumentarismo;
• Estética Fotodocumental e Estudos de Caso: Jacob Riis,
Lewis Hine, Hildegard Rsenthal e Aurélio Becherine;
• A Importância das Revistas Ilustradas para a Consolidação do
Fotojornalismo;
• Revistas Ilustradas no Brasil: O Cruzeiro (1928-1975).

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Compreender o uso da fotografia como dispositivo midiático;
· Entender os conceitos de fotodocumentarismo e fotojornalismo;
· Ler e avaliar trabalhos de fotógrafos que representem o fotodocumen-
tarismo e o fotojornalismo;
· Compreender a importância das revistas ilustradas, sua influência na
linguagem da fotorreportagem e o modo como elas contribuem para
a Sociedade da imagem.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Emergência do Fotojornalismo e as Revistas Ilustradas

Fotojornalismo e Fotodocumentarismo
Na primeira unidade da Disciplina, vimos que há forte relação entre o ambiente
positivista no século XIX e o nascimento da fotografia. A ideia de captura do real de
cenas e eventos por meio da câmera fotográfica que produz uma imagem técnica é
disseminada naquele período e reforça características da fotografia como “objetivida-
de” e “neutralidade”.

Inserida nesse ambiente, a fotografia logo passou a ser empregada como meio
técnico científico, pois, acreditava-se, registra apenas a realidade. Uma consequ-
ência disso passa a ser o uso da fotografia pela Imprensa como recurso objetivo
e testemunhal.

Abordamos, portanto, que a fotografia passa a fazer parte de rotinas produtivas de


jornais e revistas que, primeiramente, utilizam-na como recurso de base para os ilus-
tradores e, com o desenvolvimento de equipamentos que permitem a inserção direta
das fotos nos jornais e revistas, as imagens passam diretamente às páginas noticiosas.

Tão logo as pessoas foram se acostumando a lidar com essas imagens, que se
reproduziam muito mais facilmente do que a pintura e as melhorias técnicas dos equi-
pamentos foram acontecendo, a fotografia passa a fazer parte do cotidiano social e
a alimentar uma gula por imagens, que se acentuava.

A cultura diferente, o inabitado e o exótico são temas frequentes a aparecerem


nas páginas jornalísticas. Daí, portanto, nasce uma relação fecunda e duradoura entre
mídia e fotografia, a qual denominamos fotojornalismo.

Os primeiros eventos a chamar a atenção de editores de jornais e revistas que


mandam fotógrafos para as coberturas fotojornalísticas são – além das guerras –
inaugurações de obras com presença de políticos, feiras rurais e eventos com perso-
nalidades das cidades, ou seja, as pessoas queriam conhecer as personalidades locais
e como aconteciam os eventos importantes.
Explor

E hoje, que tipos de assunto fazem parte da abordagem fotojornalística?

A fotografia, assim, além de testemunhar os fatos, alimentava um apetite cres-


cente da Sociedade por imagens que, quanto mais as consumia, mais via aumentar
sua gula por elas.

Diante dessa conjuntura e também da melhoria técnica dos equipamentos, o jor-


nalismo passa a ter prazos e rotinas mais dinâmicas, mais velozes.

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Se, na Guerra da Crimeia, por exemplo, demoravam-se semanas para publicar
uma ilustração de uma foto, nas décadas seguintes ao confronto, esses prazos
são acelerados.

Aos olhos da Imprensa, que disputa cada olhar do leitor, e também da Sociedade,
os ritmos jornalísticos precisam ser mais velozes:
A percepção de que a velocidade entre o momento da obtenção da fotos e o
da sua reprodução era fundamental numa esfera da concorrência: o recurso
ao comboio para transportar as fotos até a redação tornou-se um procedi-
mento de rotina que terá começado a acentuar a cronomentalidade dos
fotojornalistas envolvidos e a tornar a “atualidade” um critério de valor notícia
(também) fotojornalístico; por vezes, as fotografias das batalhas eram publica-
das menos de uma semana após a realização. (SOUSA, 2004, p.37)

É curioso pensarmos que “menos de uma semana” após a realização do evento


era um bom tempo para a publicação de notícias.
Hoje, estamos acostumados a tempos ainda mais velozes de produção e publi-
cação de notícias. Muitas vezes, no próprio calor do momento, durante a pauta, o
fotojornalista já vai alimentando o portal de notícias.
O tempo de veiculação da fotografia de um fato, portanto, é condição funda-
mental e característica do fotojornalismo. Ele nasce pouco dinâmico e, conforme
demandas técnicas e de consumo passam a existir, os ritmos de produção e vei-
culação de fotos se aquece, torna-se mais veloz, principalmente, a partir dos anos
1880, quando há a invenção de métodos de impressão.
É interessante notarmos que a figura do fotojornalista da segunda metade do
século XIX é, no mínimo, curiosa.
Geralmente, segundo Rouillé (2009), eram sujeitos brutos e fortes, capazes de
carregar a parafernália fotográfica. Não raro, chegavam suados aos locais e fedendo
a magnésio (por conta do flash que queimava o magnésio quando acionado).
Em termos de linguagem, os fotojornalistas pioneiros estavam mais preocupados
que a foto fosse nítida e pudesse ser publicada sem problemas.
Hoje, sabemos que além da competência necessária em ser veloz na produção,
o fotojornalista deve captar aquele momento ímpar, um flagrante que sintetiza um
todo, o que hoje denominamos como captura da essência do fato, denominado por
Cartier-Bresson (2012) “instante decisivo”.
Sendo a fotografia um “veículo do real” e testemunha dos fatos, como se acre-
ditava na época, a prática do fotojornalismo, portanto, colocaria o observador na
posição do fotógrafo; haveria a impressão de se estar olhando a cena exatamente
pelos olhos do fotojornalista.

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UNIDADE A Emergência do Fotojornalismo e as Revistas Ilustradas

Figura 1 – Eugène Disderi. Comuna de Paris, 1871


Fonte: Wikimedia Commons

No caso da Comuna de Paris (1871), há uma novidade no uso da fotografia.


Após o fim da insurreição popular, autoridades parisienses utilizaram fotos do even-
to para identificar e punir severamente os trabalhadores.
Explor

Para saber mais sobre a Comuna de Paris, acesse: https://goo.gl/2s5kzy

Como consequência do desejo das pessoas por imagens das rotinas fotojorna-
lísticas, cada vez mais presente nas redações, revistas ilustradas se espalham pelo
Globo e técnicas são aperfeiçoadas.

Nos Estados Unidos, surge a iIlustrated American que, segundo Sousa (2004), é a
primeira revista que utiliza exclusivamente fotografias e a técnica de impressão de meio
tom (Halftone) possibilita, mesmo que lentamente, a inserção de fotografias junto aos
textos nos jornais, o que viria a desbancar a necessidade de gravuras nos veículos.

Podemos afirmar que a atividade do fotojornalismo tem origem na ideia de


fotografia como testemunho e documentação da realidade, mas possui alguns
direcionamentos importantes como o tempo de execução, a publicação mais
célere e uma ligação clara com os preceitos jornalísticos, como objetividade e
imparcialidade. Ao fotojornalista, assim, cabe reportar os fatos, fotografar da forma
mais objetiva e clara possível.

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É importante pensarmos se de fato esse discurso racionalista de verdade e teste-
munho objetivo dos fatos se faz presente integralmente no fotojornalismo.

Quase sempre, ao fotografarmos, escolhemos um posicionamento de câmera,


bem como um momento específico da cena que está acontecendo. Assim, não
seria mais oportuno, em vez de pensarmos em “testemunha de um fato”, vermos
o fotojornalismo como um recorte desse fato, uma fração dele?

Nesse sentido, podemos pensar não em um registro inequívoco da realidade,


mas sim, numa construção social dela, que passa pelo olhar e pela subjetividade
do fotógrafo, sua visão de mundo e cultura e, também, pelas dinâmicas do veículo
jornalístico, a linha editorial da publicação e a visão do editor.

Apesar de ser necessária essa diferenciação entre realidade e construção social


da realidade, o que marca fortemente o surgimento do fotojornalismo e também do
fotodocumentarismo é justamente a compreensão de que uma fotografia não mente.

Caminhando lado a lado com o fotojornalismo, o fotodocumentarismo está na


mesma árvore genealógica do primeiro.

O trabalho de Roger Fenton, na Guerra da Crimeia, tem aspecto documental –


o dia a dia dos soldados e das tropas, o atendimento médico – mesmo tendo sido
publicado em revistas ilustradas posteriormente, não sofreu pressão por parte de
editores e as rotinas produtivas fotojornalísticas ainda não pregavam o imperativo
da velocidade.

O nascimento do fotodocumentarismo, além dessa questão testemunhal, está


vinculado ao aspecto social. As experiências pioneiras de fotodocumentarismo
abordam aspectos sociais como a pobreza, o desemprego e a fome e, mais impor-
tante do que apenas testemunhar o fato, o fotodocumentarismo tem como pressu-
posto a transformação social por meio da fotografia.

Para observar melhor as características do fotodocumentarismo e também do fotojor-


Explor

nalismo, acesse: https://goo.gl/3qC97V

Outra característica importante do gênero é a atemporalidade das fotos: se o


fotojornalismo, muitas vezes, preocupa-se com indícios de um tempo que reforce
o testemunhal da foto, no fotodocumentarismo, a imagem de um mendigo na rua,
pedindo esmola, não possui essa marca de tempo específico.

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UNIDADE A Emergência do Fotojornalismo e as Revistas Ilustradas

A preocupação no fotodocumentarismo não se dá apenas em torno da estética


da imagem, mas também (e principalmente) em seu conteúdo e sua intenção de
denúncia social de problemas.

As cobranças sobre o tempo de produção também não ocorrem no fotodocu-


mentarismo, sendo aqui o próprio fotógrafo o produtor e o agente da sua obra:
planeja cada passo na pré-produção, produz as fotos e as publica sem a necessida-
de de explicações a editores e publishers.

O fotodocumentarismo é um gênero fotográfico muito importante. Certamente, você já viu


Explor

fotos de pessoas afetadas por problemas sociais como miséria, intolerância étnica, guerras e
problemas no meio ambiente. O fotodocumentarismo social tem por objetivo mostrar esses
problemas e levar a reflexões e a ações que conduzam a mudanças. A força da imagem,
talvez, seja a melhor ferramenta para essas mudanças.
Pense nisso!

Estética Fotodocumental e Estudos de Caso:


Jacob Riis, Lewis Hine, Hildegard Rsenthal e
Aurélio Becherine
No período entre a Guerra de Secessão (1861-1865) e o início da primeira
Guerra Mundial (1914-1918), os Estados Unidos passam por transformações so-
ciais importantes.

Com as cidades se tornando grandes Centros Industriais, muitos camponeses


emigram em busca de empregos e melhores oportunidades.

Próximo ao fim da Guerra Civil americana, o presidente Lincoln promulga o fim


da escravidão e os imigrantes europeus chegam àquele país.

Diante desse contexto, uma grande quantidade de pessoas passa a viver nas
cidades que, saturadas, não conseguem atender a todos na Saúde, na Educação e
em outros Serviços Sociais básicos.

Como não há lugar para todo contingente populacional morar, muitos se insta-
lam em cortiços, nos subúrbios.

Nesse contexto, o imigrante dinamarquês e fotógrafo Lewis Hine (1849-1914) pas-


sa a fotografar a precariedade da vida de imigrantes nos bairros pobres de Nova Iorque
e as condições desumanas na exploração da mão de obra, em especial, a infantil.

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Figura 2 – Fotografia de Jacob Riis
Fonte: icp.org

Figura 3 – Fotografia de Jacob Riis


Fonte: icp.org

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UNIDADE A Emergência do Fotojornalismo e as Revistas Ilustradas

Figura 4 – Fotografia de Jacob Riis


Fonte: icp.org

O trabalho fotodocumental de Riis se insere no que podemos chamar de fotodo-


cumentarismo de denúncia social. Por meio dele, o fotógrafo desejava mudanças
sociais e, segundo Souza (2004, p. 57), conseguiu algumas, como “a demolição de
Mulberry Brend, um dos mais mal-afamados locais da cidade”.

Outro fotógrafo cujo trabalho se vincula a questionamentos sociais é o america-


no Lewis Hine (1874-1940). Com formação em Filosofia e Sociologia, na Univer-
sidade de Chicago, Hine inicia na fotografia registrando a chegada de milhares de
imigrantes europeus a Nova Iorque.

Na National Child Labor Commitee (NCLC), fundação que apoiava crianças


vítimas de exploração no trabalho, Hine realiza sua grande série fotográfica de
denúncia social, trabalho que auxilia na criação de Leis que regulamentavam o tra-
balho doméstico – cenário até então comum nos Estados Unidos.

Para conhecer melhor a obra e a vida dos fotógrafo Jacob Riis e Lewis Hine, acesse os sites:
Explor

https://goo.gl/lqRhsX e https://goo.gl/ybsiSC e leia as indicações do Material Complementar.

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Figura 5 – Forografia de Lewis Hyne
Fonte: icp.org

Figura 6
Fonte: Lewis Hine, 1935

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UNIDADE A Emergência do Fotojornalismo e as Revistas Ilustradas

Figura 7
Fonte: Lewis Hine, 1935

No Brasil, destacamos a atuação de dois fotojornalistas: o italiano Aurélio


Becherini (1879-1939) e a suíça-alemã Hildegard Rosenthal (1913-1990).

É importante reforçar que a estética fotodocumental e a fotojornalística se apro-


ximavam no final do século XIX e início do XX; no entanto, no caso dos fotógrafos
selecionados, tanto Becherini quanto Rosenthal fogem à estética de denúncia so-
cial, como observamos em Hine e Riis.

O elemento que os une, de certa forma, é pensar na grande cidade que cresce
a amplos passos por consequência da industrialização.

Se os fotodocumentaristas Riis e Hine olhavam o crescimento urbano pelo pris-


ma dos problemas sociais, os fotógrafos imigrantes Becherini e Rosenthal se es-
pantam com a velocidade de crescimento da metrópole, registrando as transforma-
ções na paisagem urbana e suas personagens:
Observando-se as fotografias de Becherini percebe-se como ele desenvolveu
uma expressiva capacidade de flagrar a cidade em plena transição, invadida
por affiches e propagandas, e assinaladas pelas intensas alterações
espaciais que anunciavam a vida moderna (...) Becherini buscava também
os contrastes nesses espaços de transição. Por exemplo, os lampiões de gás
nas paredes das antigas edificações e a iluminação elétrica que vai ocupar as
calçadas e as vias públicas; os estilos das construções – o colonial da antiga

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província e o neoclássico da nova cidade – se estranhando e se harmoni-
zando nas mesmas calçadas; os pequenos tílburis e as grandes máquinas
mecânicas – os bondes e os automóveis que irão alterar profundamente a
relação do cidadão com o espaço urbano, além de estabelecer novas expe-
riências sensoriais em relação ao tempo. (FERNANDES JR., 2009, p.16-7)

Figura 8 – Aurélio Boccherini, Rua José Bonifácio, em direção à Rua Riachuelo, 1916
Fonte: Acervo do Conteudista

Figura 9 – Aurélio Becherini. Vale do Anhangabaú, 1917-1918


Fonte: Acervo do Conteudista

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Figura 10 – Aurélio Becherini. Rua de Santa Teresa, 1910


Fonte: Acervo do Conteudista

Hildegard Rosenthal (1913-1990) chega ao Brasil no ano de 1937, depois de ter


estudado fotografia na Alemanha. Fugindo do nazismo, Rosenthal se instala na cidade e,
como possuía conhecimento técnico de fotografia, busca empregos na área.

Sua primeira oportunidade, como


afirma Kossoy (2014, p. 92), é uma
empresa de serviços fotográficos como
“orientadora de laboratório, em meio
aos 23 colegas homens”. Rosenthal
trabalha nesse lugar por apenas dois
meses e se muda para a agência foto-
gráfica Press Information.

É importante enfatizarmos a impor-


tância de Hildegard Rosenthal para o
fotojornalismo brasileiro, já que é uma
das primeiras mulheres a atuar na
área, registrando, sobretudo, a cidade
e suas transformações, o ritmo apres-
sado das pessoas, as vistas urbanas,
em especial das indústrias, as persona-
gens das ruas e também da cultura da
cidade, o transporte e os carros.

A obra de uma das pioneiras do


fotojornalismo brasileiro se situa entre
o final da década de 1930 e fins de Figura 11 - Hildegard Rosenthal. Rua Direita na confluência
1940, e hoje é preservada pelo Institu- com a Rua 15 de novembro, a partir do Largo da Sé
to Moreira Salles (IMS). Fonte: Acervo do Conteudista

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Figura 12 – Hildegard Rosenthal. Reprodução
Fonte: Instituto Moreira Sales

Figura 13 – Hildegard Rosenthal. Pedestres na Rua do Patriarca


Fonte: Instituto Moreira Sales

A Importância das Revistas Ilustradas para


a Consolidação do Fotojornalismo
Conforme as melhorias técnicas foram ocorrendo na fotografia, como a dimi-
nuição do tamanho das câmeras, a fabricação de lentes mais claras e a invenção
do flash, os fotógrafos se tornam mais livres e passam a explorar lugares mais
distantes e inusitados.

Numa era pré-televisão, a curiosidade das pessoas em torno da fotografia era


grande e possibilitou que cada vez mais os jornais e as revistas passassem a utilizar
a fotografia como mídia predominante, delegando um segundo plano ao texto.

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UNIDADE A Emergência do Fotojornalismo e as Revistas Ilustradas

Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), alguns jornais e revistas na Euro-


pa já possuem em sua equipe fotojornalistas, cuja produção fotográfica é publicada
em suplementos ilustrados, que dão origem às Revistas que publicam predominan-
temente fotografias, chamadas de Revistas Ilustradas.

Na liberal República de Weimar (1918-1933), estímulos são criados para as


Ciências, as Letras, as Artes e, também, para a Mídia.

Segundo Sousa, as revistas ilustradas alemãs, nesse período, possuem grandes


tiragens, sendo populares entre a população daquele país: “Tinham tiragens de
cinco milhões para uma audiência estimada em 20 milhões de pessoas”. (SOUSA,
2004, p. 72)

Pouco tempo após o fim da Primeira Guerra Mundial, surgiam revistas ilustradas,
principalmente na Alemanha, nos Estados Unidos e na França, como a Vu (1928-
1940) e a Paris Match (1949-).

Capa da Revista Ilustrada francesa Vu, destacando a fome das tropas soviéticas na II
Explor

Guerra Mundial: https://goo.gl/4Z8aei

Importante! Importante!

A partir das revistas ilustradas, o fotojornalismo está articulado ao texto e não apenas
servindo de ilustração a ele, ou seja, se antes as fotografias eram menores em relação a
ele, a partir das revistas ilustradas, texto e foto são complementares; são informações
diferentes entre si e que se complementam.

Figura 14 – Capa da revista ilustrada norte-americana Life (1936-2000)


Fonte: time.com

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É interessante destacar que a linguagem das fotografias jornalísticas, a partir das
revistas ilustradas, alteraram-se. Se antes as fotografias eram posadas e de alguma
maneira mais artificiais, por influência do fotógrafo Erich Solomon (1866-1944)
– que muitas vezes escondia as câmeras dos seus fotografados – elas ficam mais
naturais e espontâneas, valorizando, assim, a ação e o cotidiano.

Há outras duas contribuições importantes de Solomon para o fotojornalismo: a


primeira é a exigência do nome do autor da foto quando da sua publicação. O “pai
do fotojornalismo moderno” como é conhecido o fotógrafo alemão, exigia que seu
nome fosse colocado junto à foto quando esta era publicada, para que os leitores
soubesse quem era seu autor.

A segunda diz respeito à valorização da profissão de fotojornalista: antes, o


fotojornalista era um sujeito embrutecido, forte, pois deveria carregar equipamen-
tos pesados, e muitas vezes indesejado – já que era um intruso nos ambientes.
Solomon contribui para uma mudança nessa visão, vez que era advogado – fazia
questão que o chamassem de Herr doktor “doutor”– e possuía amigos próximos
nos circuitos da alta Sociedade alemã.

Você Sabia? Importante!

Como dissemos, as Revistas Ilustradas promovem alterações na linguagem fotojornalística


e também estimulam a disseminação de uma cultura visual em vários países do Globo.
Observe atentamente o logotipo da revista Life. Você percebe semelhança com outra
marca de revista conhecida?
Algumas revistas ilustradas como a Life e a Paris Match contribuíram, também, de certa
forma, para o nascimento das revistas de “fofocas” sobre a vida de artistas, como a Caras,
que tem em comum com as Revistas Ilustradas europeias o uso privilegiado de fotografias.

Revistas Ilustradas no Brasil:


O Cruzeiro (1928-1975)
Vimos que o surgimento das Revistas Ilustradas na Europa e nos Estados Unidos
proporcionou mudanças significativas no modo de se produzir fotojornalismo.

Mas a que se deve o surgimento das Revistas Ilustradas além de uma populariza-
ção do gosto pela fotografia?

Outros elementos como a expansão da publicidade e aperfeiçoamentos tecno-


lógicos para inserir fotografias nas publicações também são fundamentais para
alavancar a popularidade das Revistas Ilustradas.

Aqui no Brasil, mesmo com atraso em relação às publicações europeias e norte-


-americanas, o cenário que possibilita o surgimento de Revistas Ilustradas é semelhante.

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UNIDADE A Emergência do Fotojornalismo e as Revistas Ilustradas

Na virada do século XIX para o século XX, revistas como Kosmos (1904-1909),
O Malho (1902-1954) e a Revista da Semana (1900-1962) também fazem uso
de fotografias, ainda em diálogo com ilustrações.

No caso da Kosmos, um misto de atualidades e literatura, segundo Costa e


Burgi (2012), as impressões fotográficas são caprichadas e luxuosas, feitas em
papel Couché.

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o uso da fotografia nas revistas


se amplia, devido às melhorias técnicas de impressão, que possibilitam inserir tam-
bém mais anúncios publicitários nas páginas.

Mesmo privilegiando informações sobre a elite e a burguesia, em especial a do


Rio de Janeiro – Capital Federal à época – as revistas ilustradas são descritas como
materiais informativos de assuntos diversos, fazendo uso mais acentuado da foto-
grafia do que as publicações do início do século XX.

Figura 15 – Revista da Semana. Número 01, maio de 1900


Fonte: memoria.bn.br

Nesse importante contexto, nasce, em 1928, a revista O Cruzeiro. Sob a direção


de Carlos Malheiro Dias e de propriedade do empresário Assis Chateubriand, a
revista nasce com o objetivo de auxiliar a população na interpretação dos fatos, de
forma mais aprofundada e menos particularista do que o jornal.

No Editorial de apresentação de O Cruzeiro, ela é colocada como um veículo


moderno, de caráter educativo e que preza pela qualidade das informações e pela
beleza gráfica.

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Inovadora no cenário brasileiro, estimulava a participação de leitores e, sobre-
tudo, de fotógrafos, por meio do envio de materiais que pudessem ser publicados
na Revista.

Tal colaboração era bem vista, já que, num primeiro momento da publicação, de
1928 até 1943, a revista conta com apenas um fotógrafo, Edgard Medina.

A seguir, instruções sobre um concurso fotográfico realizado pela Revista, em 1931:


O próximo concurso de O Cruzeiro, a inaugurar-se no dia 5 de setembro,
abrangerá exclusivamente fotografias instantâneas de movimento. O ins-
tantâneo é a documentação flagrante da vida. Foi para a obtenção cada
vez mais nítida da fotografia instantânea que tanto se aperfeiçoaram os
aparelhos fotográficos portáteis, e as suas lentes. O aparelho fotográfico é
hoje o companheiro inseparável das viagens, das excursões e dos passeios.
O Cruzeiro pede aos fotógrafos amadores do Brasil que lhe enviem instan-
tâneos em que surpreenderam e fixaram aspectos animados das ruas, das
praias, dos campos de esporte etc., a fim de que o concurso atinja um alto
interesse documental e jornalístico. (COSTA; BURGI, 2012, p.17)

Importante! Importante!

Durante a época de ouro das Revistas Ilustradas como Life, Match, Vu, Picture Post
e O Cruzeiro, era comum a prática do recortar e colar. Fotos e artigos inteiros, muitas
vezes, eram recortados de uma Revista e publicados em outra..

Com a chegada do fotógrafo francês Jean Manzon (1915-1990) à Revista, em


1943, as fotos ganham em qualidade técnica e estética, já que Manzon havia traba-
lhado em grandes revistas ilustradas européias, como Match e Vu, e possuía amplo
domínio de linguagem fotográfica.

A Revista, de modo geral, a partir de Manzon, fica graficamente mais bonita e


agradável, com a implantação de um modelo de fotorreportagem com influências de
movimentos de vanguarda artística européia, como o Surrealismo e o Concretismo.

Figura 16 – Paginação da reportagem publicada sobre o pintor Cândido Portinari. Fotos de Jean Manzon
Fonte: Acervo do Conteudista

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UNIDADE A Emergência do Fotojornalismo e as Revistas Ilustradas

Para conhecer melhor a vida e obra do fotografo francês Jean Manzon, visite:
Explor

https://goo.gl/6ponhC
Para compreender como a fotorreportagem de O Cruzeiro influenciou o fotojornalismo
brasileiro, veja o vídeo produzido para a exposição “Um olhar sobre O Cruzeiro: as origens do
fotojornalismo no Brasil”, realizada no Instituto Moreira Salles, em 2013:
https://goo.gl/s8JG7S
Acesse também: https://goo.gl/DJ1kom

Em uma época anterior à chegada da Televisão, as Revistas Ilustradas conse-


guiam grande atenção do público, em especial, pelo uso intenso de fotografias.

Diante disso, aqui no Brasil, Assis Chateubriand “prepara” o terreno para a


chegada da Televisão, nos anos 1950, com O Cruzeiro.

Com design inovador e uso de fotorreportagens nos moldes das revistas ilus-
tradas europeias e norte-americanas, os fotógrafos da revista – em especial após
1943 – foram vanguarda, com o uso de câmeras de médio formato, e uma estética
documental ainda pouco conhecida no país.

Fotojornalistas como Jean Manzon, Flávio Damm, José Medeiros e Luiz Carlos
Barreto influenciaram outros profissionais de peso da Imprensa brasileira, como
Walter Firmo e Evandro Teixeira.

Dentre as Revistas Ilustradas brasileiras, podemos considerar O Cruzeiro uma


matriz importante, tanto para a formação de parte considerável de fotojornalistas
que atuaram e ainda atuam na Imprensa brasileira, quanto para a formação de um
público cativo para os Meios de Comunicação de Massa.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Internacional Center of Photography
Séries fotográficas de Jacob Riis.
https://goo.gl/lqRhsX

Livros
Metrópole/Hildegard Rosenthal
Textos de Maria Luiza Ferreira de Oliveira e Beatriz Bracher. São Paulo: Instituto Mo-
reira Salles, 2010.
Os tempos da fotografia
KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia. São Paulo: Ateliê Editorial, 2014.

Leitura
Representações do desenvolvimento nas fotorreportagens da revista o cruzeiro (1955-1957)
Tese de doutorado de Marlise Regina Meyrer sobre fotorreportagem na revista O Cruzeiro.
https://goo.gl/fsY2Wp
Cruzeiro - Revista Semanal Ilustrada
Edição número 1 da revista O Cruzeiro.
https://goo.gl/rahufq

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UNIDADE A Emergência do Fotojornalismo e as Revistas Ilustradas

Referências
COSTA, Helouise; BURGE, Sérgio. As origens do fotojornalismo no Brasil: um
olhar sobre O Cruzeiro 1940/60. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012.

KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia. São Paulo: Ateliê Editorial, 2014.

ROUILLÉ, André. A fotografia entre documento e arte contemporânea. São


Paulo: SENAC, 2009.

SOUSA, Jorge Pedro. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental.


Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004.

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