Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Arquitetura e Interiores
A Fotografia como Registro, Memória e Manipulação da Realidade
Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
A Fotografia como Registro,
Memória e Manipulação da Realidade
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conceituar as diferentes interpretações do conceito de imagens técnicas ao longo da
história das artes;
• Compreender as primeiras interpretações da imagem fotográfica como “espelho da
realidade”, a partir da sua relação com o código espacial da perspectiva renascentista;
• Evidenciar a originalidade da imagem fotográfica em relação à pintura;
• Discutir sobre o caráter testemunhal da fotografia como recurso visual de apoio das notícias;
• Discutir as possibilidades de o recorte fotográfico ser considerado um trabalho de
manipulação da realidade registrada pelas imagens fotográficas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Fotografia como Registro,
Memória e Manipulação da Realidade
A premissa que orientará essa discussão entende que foi no Renascimento que
se concebeu toda a sistematização de estudos sobre os problemas ópticos neces-
sários para a produção de imagens técnicas, destinadas a reproduzir o mundo
visível da forma mais real e mimética (imitação) possível. É também no Renasci-
mento que se delineou a concepção de imagem técnica, como aquela marcada
pela objetividade (no sentido de imitar a natureza) e que serviu de fundamento
para o modelo da imagem fotográfica. Em seu tratado, De Pictura, Leon Alberti
Battista (1404-1472) escreveu pela primeira vez sobre as construções em pers-
pectiva e expôs as noções ópticas e geométricas que fundamentaram os ideais
da iconografia renascentista:
A imagem “objetiva” é a imagem que vem de fora (“da natureza”), aquela
que se pode apreender com máquinas e instrumentos derivados da in-
vestigação científica, e sua principal virtude é estar imune à subjetividade
humana, às imagens anteriores, que deformam e adulteram a realidade
visível. (MACHADO, 1997, pp. 226-227)
8
reprodução de imagens por meio de madeira entalhada); da litografia (onde se
utiliza imagens sob uma placa metálica de alumínio para reprodução de dese-
nhos sobre papéis); ou mesmo da pintura, que já pressupõe toda uma técnica
de preparação da tela e a mistura de pigmentos para a produção das tintas, que
posteriormente serão aplicadas sobre a superfície da tela. As questões técni-
cas constituiriam, neste sentido, fatores determinantes do resultado estético das
obras. Não é por acaso que a própria definição do termo grego para designar
“arte” é téchne; que pode ser entendida como as técnicas e meios para se criar
ou produzir algo.
9
9
UNIDADE A Fotografia como Registro,
Memória e Manipulação da Realidade
de teoria das proporções). Esse sistema foi criado para enquadrar o desenho das
figuras humanas dentro de uma estrutura geométrica comum, de modo que a re-
presentação do desenho das pessoas adquirisse um aspecto bastante rígido e com
formas muito padronizadas, como na imagem a seguir:
Para desenhar as figuras humanas, o artista egípcio iniciava o trabalho desenhando uma
Explor
10
Explor
Perspectiva: é um campo de estudo da geometria, em especial, da geometria plana.
Suas aplicações estendem-se para: arte, arquitetura, design, engenharia, etc. Trata-se de
uma ciência que abarca os métodos de representação dos objetos em seus tamanhos e
posições “corretas”, tal qual a visão humana supostamente os compreenderia, a partir de
um observador.
Fonte: https://goo.gl/Cw9SBQ
Estas novas imagens técnicas que surgem pela primeira vez no século XIV, em
meio aos ideais renascentistas de uma crescente valorização da racionalidade,
11
11
UNIDADE A Fotografia como Registro,
Memória e Manipulação da Realidade
gênero no século XVI. Todos os estudos da época renascentista que foram direcionados aos
componentes de composição pictórica, como a perspectiva, o estudo de cores e matizes, a
simetria, entre outros; contribuíram para que a pintura de paisagem organizasse na tela os
diversos elementos da natureza - o campo, o mar, as montanhas e florestas.
É neste período renascentista que as imagens que surgem nos quadros se tor-
nam cada vez mais elaboradas e calculadas matematicamente e criam-se uma série
de máquinas e procedimentos de representação destinados a garantir a objetivida-
de do mundo representado.
12
Explor
Para visualizar a “Tavoletta” de Brunelleschi acesse o link: https://goo.gl/j71qaG
Dentre essa e outras máquinas e aparelhos, concluiu-se que a maneira mais sim-
ples de se obter essa mesma perspectiva era a utilização da câmera obscura, que
permitia que os raios luminosos entrassem pelo orifício e convergissem para um
único ponto, reproduzindo a imagem em perspectiva na parede da câmera oposta
ao orifício. No momento em que a informação luminosa penetraria na caixa, seria
codificada mediante a convenção de um sistema pictórico.
mesmo nome, o qual esteve na base da invenção da fotografia no início do século XIX. Ela
consiste numa caixa (ou também sala) com um orifício no canto, a luz de um lugar externo
passa pelo mesmo e atinge uma superfície interna, onde é reproduzida a imagem invertida.
Fonte: https://goo.gl/8oTfwA
Figura 4 – Exemplo do processo de fixação das imagens no interior da parede da câmera obscura
Fonte: Wikimedia Commons
É possível confeccionar sua própria câmera obscura com materiais de fácil acesso.
Você vai precisar dos seguintes materiais: uma lata de leite em pó, um pedaço de
papel vegetal, tesoura, um prego, martelo, cola e uma vela. Há diversos vídeos no
Youtube que ensina como fazer uma câmara escura, outra sugestão é você acessar o
link: https://goo.gl/Xc5C2x
13
13
UNIDADE A Fotografia como Registro,
Memória e Manipulação da Realidade
Foi nessa época que a utilização da câmera obscura passou a ser vista como
um dispositivo de objetividade e reprodução fiel das imagens do mundo real, e à
imagem fotográfica, por incorporar o código da perspectiva renascentista, foi con-
cebido o estatuto de reprodução fidedigna da realidade:
A fotografia não é apenas uma imagem (como a pintura é uma imagem),
uma interpretação do real; ela também é um traço, algo diferente gravado
pelo real, como uma pegada ou uma máscara mortuária. Enquanto a pin-
tura, mesmo aquela que conhece os padrões fotográficos de analogia, não
é nada mais que uma declarada interpretação, uma fotografia se restringe
ao registro de uma emanação (ondas de luz refletidas por objetos) – um
vestígio material de seu objeto em uma forma que nenhuma pintura pode
reconstituir (SUSAN SONTAG apud MACHADO, 2015, p. 41):
14
Diante de uma imagem fotográfica, conferimos a ela um poder testemunhal de
uma cena já vivida e ao mesmo tempo essas imagens suscitam uma série de emo-
ções: quando nos vemos retratados nas fotografias de álbuns de família, nos emo-
cionamos e damos conta de que realmente o tempo passou. Através das imagens
fotográficas reconstruímos nossa história de vida, e nossa imaginação reconstrói os
momentos do passado sempre ancorados em algum tipo de sentimento.
No início do século XX, a partir do surgimento de películas cada vez mais sensí-
veis que propiciaram o registro e congelamento das ações de forma quase instan-
tânea, desenvolveu-se uma forma nova de fazer e comercializar a fotografia, o que
acabou por definir a característica da fotojornalismo.
15
15
UNIDADE A Fotografia como Registro,
Memória e Manipulação da Realidade
O caráter documental e a habilidade de registrar tudo o que realmente é visível vai garantir
Explor
também que a fotografia seja utilizada para fins de registro e reprodução do espaço
arquitetônico – desde seus monumentos e edifícios mais icônicos até um inventário através
da categorização e classificação de imagens de arquitetura.
A Fotografia como
Manipulação da Realidade
No tópico acima, discutimos sobre uma das grandes funções da fotografia, que
foi a de contribuir para registrar e documentar os acontecimentos. No entanto,
podemos nos perguntar: que realidade é esta que a fotografia mostra? Ou mes-
mo, podemos confiar na fotografia enquanto instrumento de registro de fatos
do passado, quando as imagens fotográficas são apenas formas retangulares
que recortam o visível? Em que medida o recorte e a seleção da cena fotogra-
fada podem ser considerados os primeiros indícios da manipulação da realidade
registrada pelas imagens fotográficas?
16
de uma festa de circuncisão numa tribo do Chade (país localizado no centro-norte
da África). Em meio a tantas opções do que mostrar numa cerimônia ritualística,
como por exemplo, a dança dos membros da comunidade ao redor dos inician-
tes, foi escolhido justamente retratar a expressão fisionômica dos garotos subme-
tidos à circuncisão, inclusive alguns planos mais próximos em que se detalhava a
poça de sangue no chão. Segundo o autor, a escolha do que mostrar nas imagens
do referido ritual demonstrava claramente uma posição ideológica orientada no
sentido de produzir uma leitura ocidental do material registrado. Nesse sentido,
entendemos que o recorte promovido na cena está bem longe de ser uma ques-
tão objetiva, mas sim a leitura subjetiva do fotógrafo e seleção intencional do
aspecto que ele desejou transmitir.
Mas é de fundamental importância perceber que nesses registros de aconteci-
mentos inusitados, o trabalho desses fotógrafos profissionais muitas vezes se vê
condicionado às determinações ideológicas de seus contratantes. Como exemplo,
o pesquisador e fotógrafo Boris Kossoy cita o que foi considerado um dos mais
antigos exemplos da história da fotografia sobre a documentação da Guerra da
Crimeia realizada pelo inglês Roger Fenton, em 1855:
Através de suas fotografias tem-se uma visão atenuada e parcial do evento
onde os efeitos e horrores da guerra não foram documentados – ao con-
trário das imagens captadas por Matthew B. Brady e seus colaboradores,
Timothy O’Sullivan e Alexander Gardner, durante a Guerra Civil nos Es-
tados Unidos. Na realidade, a expedição de Fenton foi financiada “com a
condição de que não fotografasse nunca os horrores da guerra, para não
assustar as famílias dos soldados” (KOSSOY, 2014, pp.126-127).
O episódio acima evidencia que longe de ser uma imagem inocente, as pos-
sibilidades de o fotógrafo interferir na imagem se realiza em muitos aspectos, o
que é algo comum desde a invenção da fotografia. As escolhas acontecem desde
o momento da seleção daquilo que o fotógrafo considere importante mostrar, até
a valorização de determinados elementos estéticos da composição, a alteração do
efeito realista da natureza e das coisas, até mesmo na omissão de detalhes, como
apresentado no exemplo da documentação da Guerra da Criméia.
17
17
UNIDADE A Fotografia como Registro,
Memória e Manipulação da Realidade
Edward Weston faz parte de uma geração de fotógrafos que insere a arte da fotografia no
Explor
Figura 6 – “Cabbage Leaf”, de Edward Weston, 1931 Figura 7 – “Onion Halved”, de Edward Weston, 1931
Fonte: wikiart.org Fonte: wikiart.org
O que as fotos de Weston nos mostram é que planos muito fechados, que abran-
gem uma pequena porção da cena e delimitam muito nosso campo de visão, con-
tribuem para a fragmentação do visível em um nível muito próximo ao microscó-
pio. Nesse tipo de enquadramento, o efeito da perspectiva é perdido e a ênfase da
imagem recai em partes muito delimitadas dos objetos, acabando por comprome-
ter demasiadamente o efeito de realismo da cena.
18
Explor
CALLE, Ángel de La. Modotti: uma mulher do século XX. Tradução de Stella Maris Baygorrila.
São Paulo: Conrad, 2005.
Esta referência trata da biografia em quadrinhos da vida da atriz e fotógrafa Tina Modotti,
com quem Edward Weston foi casado. A história conta a vida excêntrica do casal a acompanha
a trajetória de vida dessa grande fotógrafa, estrela de Hollywood e militante comunista.
Você já pensou em tirar fotos tão próximas de objetos ou plantas, em que na foto somente
Explor
apareçam a textura de sua superfície e as formas tornam-se difíceis de reconhecer. Esse tipo
de fotografia deixa de ser objetiva e se aproxima mais do estilo abstrato.
Determinar o que deve ser visto na imagem, sejam apenas detalhes, fragmentos,
ou mesmo grandes planos de uma paisagem e ambientes, demonstra que as possi-
bilidades de criação são ilimitadas e que só dependem da criatividade e imaginação
do fotógrafo.
19
19
UNIDADE A Fotografia como Registro,
Memória e Manipulação da Realidade
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Instituto Moreira Salles
O Instituto Moreira Salles é uma instituição cultural localizada na Av. Paulista que possui
um acervo de mais de 1800 imagens em papel que incluem fotografias, aquarelas,
gravuras e desenhos
https://ims.com.br
Livros
Da pintura
ALBERTI, Leon Battista. Da pintura. 4. ed. São Paulo: Editora Unicamp, 2015.
Filmes
Blow-up
Michelangelo Antonioni.
Vídeos
Geraldo de Barros e a fotografia
Sugestão do vídeo “Geraldo de Barros e a fotografia”, abrange sobre o trabalho de
fotoformas do fotógrafo brasileiro
https://youtu.be/qA3cMWH_mTs
20
Referências
KOSSOY, Boris. Fotografia & História. 5. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2014.
PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. São Paulo: perspectiva, 2017.
(Coleção Debates).
21
21