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Cultura Brasileira

Material Teórico
Representações e Cultura no Brasil Pós-Ditadura

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. João Elias Nery

Revisora Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Representações e Cultura
no Brasil Pós-Ditadura

• Introdução
• Não Somos mais o País do Futuro?
• Cultura e Comunicação: Da Imprensa Alternativa ao “Teveglobês”
• De Volta à Praça Pública: A Cultura Reencontra a Política
• A Cultura Musical no Brasil nos Anos 1980-1990

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Analisar algumas situações da cultura brasileira nos anos 1980-1990.
Evidenciar alguns segmentos da cultura musical nos anos 1980-90.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Representações e Cultura no Brasil Pós-Ditadura

Introdução
“Meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente
que partiu, num rabo de foguete.”

O Bêbado e a equilibrista – João Bosco/Aldir Blanc

“Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a Cons-
tituição, mas todos acreditam no futuro da nação.”

Que País é esse? – Legião Urbana

Nesta unidade, trataremos da cultura brasileira, considerando o período logo


após o final da ditadura militar no Brasil até o final do século XX.

Não Somos mais o País do Futuro?


No Brasil dos anos 1980, a “década perdida” para a área econômica, já era
possível fazer um balanço da trajetória das culturas do país no breve século XX.

Acompanhando o processo que levou à globalização, fomos incorporados, no


campo cultural, à dinâmica da indústria da cultura, com hegemonia da produção
estadunidense.

Entre os anos 1920 e 1960, a sociedade havia discutido alternativas para as


culturas brasileiras, do ultranacionalismo, passando pela Antropofagia e pela incor-
poração passiva aos valores de culturas externas.

Atropelados por um Golpe Militar, aceitamos participar da modernidade dos


signos dos meios de comunicação de massa. O processo pelo qual passamos vai da
ingenuidade à politização da cultura e daí à transformação dessa em ideologia de
Estado. Daí nossa indicação de que em lugar de alternativas está a padronização,
com o teveglobês como “língua” nacional.

O contexto sócio-político-econômico do Brasil da última geração dos militares


à frente do Poder Executivo apresentou diversas mudanças, com destaque para
a abertura “lenta, gradual e segura”, à transição conservadora, à ascensão dos
movimentos sociais, à volta das eleições, exceto para a Presidência da República.
A crença no país do futuro já não ocupava as mentes e os corações.

A desilusão com o modelo de sociedade no qual o Regime Militar havia investido


tinha justificativa, afinal, a promessa de transformar o Brasil em grande potência
não vingara e os problemas existentes antes do Golpe de 1964 persistiam de
maneira ampliada: atraso, desigualdade, corrupção, inflação e violência.

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Depusemos um presidente e rasgamos uma Constituição acreditando na pro-
messa de combate e, mesmo, na erradicação de tais características. Ao final do
processo, vivemos uma espécie de ressaca cívica com alguns desejando a volta dos
“tempos felizes” do “Milagre Econômico”, e outros lutando para superar o Regime
imposto em 1964.
Com isso, não pretendemos afirmar que mudanças não tenham ocorrido, pois
finalmente a integração nacional era uma realidade: pelas imagens coloridas da
Rede Globo, podíamos reconhecer valores nacionais de uma cultura transmitida
cotidianamente à quase totalidade da população – integração simbólica para todos
e sociedade de consumo para menos de um terço da população.
Os trechos de músicas que reproduzimos no início do texto refletem em parte o
contexto para as culturas brasileiras no período: os olhos no passado comemoram
a volta de muitos brasileiros que viviam no exílio com a “esperança equilibrista”
em um contexto ainda de incertezas quanto aos rumos políticos do país; em outro
registro, o foco no presente, sem meias-palavras, traz a crítica da juventude dos
anos 1980 às mazelas do país, as mesmas de sempre.
O Regime Militar já não tinha forças para controlar manifestações críticas e
um convívio tenso que se estabeleceu entre os velhos ideais, que haviam mobili-
zado a sociedade e possibilitado o Golpe Civil-Militar de 1964, e a realidade dos
anos 1980.
O terrível AI-5 havia sido revogado; porém, o seu conjunto de leis e a estrutura
para exercício do poder ditatorial persistia, e o Estado os utilizou contra aqueles
que se opuseram à condução do processo dentro das normas por ele estabelecidas.
Para o último presidente do regime, João B. Figueiredo: “Para fazer a democracia,
eu prendo e arrebento”. Palavra de presidente.

Cultura e Comunicação: Da Imprensa


Alternativa ao “Teveglobês”
No campo da Cultura, a resistência ao Regime Militar havia produzido formas
novas para a disseminação de valores em conflito com o status quo. A experiência
mais significativa ficou conhecida como imprensa “alternativa” ou “nanica” e
incluía iniciativas de estudantes, intelectuais e jornalistas que, à margem do sistema
de produção da comunicação de massas, veicularam para públicos segmentados
informações sobre temas controlados pelo Regime e que, na Grande Imprensa,
não eram notícia ou reproduziam o pensamento dominante no Estado.
O maior sucesso editorial e de público foi o semanário O Pasquim que, como
muitos outros, utilizava o humor como principal estratégia para abordagem de
temas “sérios” e controlados.

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UNIDADE Representações e Cultura no Brasil Pós-Ditadura

Explor
Veja no link a seguir algumas capas do jornal O Pasquim: https://goo.gl/LJEhrr

Em um ambiente fortemente repressivo, o humor foi um componente impor-


tante para possibilitar a circulação de ideias em contradição com o Regime e para
produzir o riso compartilhado por segmentos da população que não se subme-
tera inteiramente.
O controle aos meios de comunicação e a aderência desses aos valores da
Ditadura Militar tendiam à construção de uma unanimidade em torno do Regime
e a existência de iniciativas marginais foi importante para o exercício da crítica e
formação e disseminação de vozes dissonantes.
Tais iniciativas também foram censuradas. O Pasquim, como ícone e represen-
tação do segmento, foi recolhido das bancas, bem como jornalistas e colaboradores
foram presos por diversas vezes; porém, sua força provinha da cumplicidade com
um público ávido por notícias e leituras alternativas ao sistema da indústria cultural.
A ironia e a metáfora contribuíram para a cumplicidade e sofisticação no
processo de criação de mensagens e de sua decodificação, o que alimentou o
sentido de pertencimento a algo diferente do que a mídia veiculava.
Na imprensa alternativa, gerações se encontraram e realizaram projetos inova-
dores, utilizando a herança do período anterior ao Regime Militar como referência
para agir sob o domínio da censura e da perseguição política.
Personagens de um Brasil que discutia seus rumos precisaram construir,
juntamente com jovens formados durante o Regime, novas linguagens para o
exercício da crítica política, proibida em praticamente todos os espaços públicos.
O humor, principal arma desse tipo de publicação, não pôde utilizar o humor
político da charge e da caricatura para mostra que “O rei estava nu”. O humor do
Regime não aceitava esse tipo de crítica e, por isso, quadrinhos e humor escrito
foram politizados para abordar temas da realidade nacional e internacional.
Outro aspecto relevante da imprensa alternativa foi a participação de grupos
que criaram veículos em cooperativas, envolvendo jovens, intelectuais e militantes
políticos na elaboração de jornais em diferentes formatos, com distribuição
compartilhada e linguagens experimentais, o que contribuiu para o desenvolvimento
da imprensa em novos padrões, a partir dos anos 1980, quando a grande imprensa
se afastou do Regime e incorporou aspectos gráficos e editoriais da imprensa
alternativa, além de seus realizadores.
O “Grande Irmão” no qual o Estado brasileiro se transformara durante a
Ditadura Militar teve dificuldades em controlar a imprensa alternativa, na qual a
produção de informações abordando temas relevantes para a sociedade era feita de
maneira descentralizada. A distribuição contava com cooperativas independentes
e a cumplicidade do público era fator relevante do processo. Melhor para os que
vieram depois, que têm uma referência para a atuação em contextos controlados.

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Essa cultura de resistência se manteve marginal aos sistemas de comunicação e
cultura organizados pelo Regime Militar, nos quais a mídia de massas era elemento
essencial para disseminação dos valores do regime e da ideologia dominante.

A hegemonia de uma emissora de televisão levou o publicitário W. Olivetto a


afirmar que o Brasil abandonara o português e adotara o “teveglobês”, tal a força
das imagens veiculadas para praticamente todos os brasileiros, todos os dias.

O “padrão Globo de qualidade” é refe-


rência para a produção televisiva desde o
início dos anos 1970, quando a Tevê se
tornou o principal meio de comunicação
do país e dois programas da Rede Globo
– o Jornal Nacional e a “novela das 8” –
consolidaram linguagem e técnica no te-
lejornalismo e na teledramaturgia, contri-
buindo, inclusive, para a dramatização da
notícia e espetacularização do cotidiano, Figura 1
algo que ocorre até os dias atuais. Fonte: Wikimedia Commons

De Volta à Praça Pública:


A Cultura Reencontra a Política
“Dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída
em tenebrosas transações” (Chico Buarque).

Uma cultura “de resistência” havia sido produzida durante a parte mais violenta do
Regime e agora fazia parte das estratégias de comunicação e cultura de segmentos
em contradição com o Regime, principalmente os movimentos sociais. Cultura e
política voltavam a se encontrar no ambiente do Brasil que caminhava para o fim
da ditadura militar.

Gerações que haviam crescido durante o período ditatorial agora podiam exercer
abertamente críticas ao sistema. Na música, artistas identificados com a música de
protesto voltaram a apresentar à sociedade críticas ao Regime, sem a necessidade
de utilizar metáforas. Parte dos “novos” artistas da música brasileira optaram pelo
Rock para o exercício da crítica política e de costumes.

Tais manifestações obtiveram espaço na cultura de massas do período, inclusive


na televisão que, com o declínio do Regime Militar, buscava adaptar-se aos novos
tempos e, para isso, recuperava parte dos valores que a Ditadura havia excluído de
sua programação.

De certa forma, os meios de comunicação de massa, a TV em geral, e a Rede


Globo em particular, foram eficientes em seu objetivo de se desvincular de um

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UNIDADE Representações e Cultura no Brasil Pós-Ditadura

regime que mostrava claros indícios de decadência e se aproximar de um novo


espaço público que se anunciava, no qual continuariam tendo papel fundamental.

Com tais “manobras”, os meios de comunicação em geral e a Globo em particular


procuraram adaptar-se aos diferentes contextos; porém, podemos observar que,
mais que favorável à Ditadura, as organizações Globo e os demais meios e veículos
defendiam os interesses da classe dominante, atuando como um 4º poder.

Assim, com indícios do fim da Ditadura Militar, tais órgãos de comunicação e


informação estrategicamente afastaram-se do Regime e continuaram exercendo
seu poder nos governos civis que sucederam aos militares.

Exemplo emblemático do que afirmamos é o da família Frias, proprietária da


Empresa Folha da Manhã. Em seus veículos – Folha de S. Paulo, principalmente
–, tal família defendeu o Regime, mas foi além, nos anos 1970, colocou seus
recursos a serviço da Ditadura em seus aspectos mais cruéis – a tortura e o
assassinato – e, nos anos 1980, apoiou o movimento das “Diretas Já”, vinculando
mercadologicamente o jornal ao processo de democratização do país.

Em editorial de 2009, um “ato falho” da empresa a levou a publicar a expressão


“ditabranda” para referir-se à Ditadura Militar que havia apoiado desde antes de ser
implantada – cultura também é memória.

A volta do pluripartidarismo e das disputas eleitorais, bem como a ascensão dos


movimentos sociais, com destaque para o movimento sindical e de “minorias”,
traria para o espaço público vários aspectos da cultura de resistência desenvolvida
por segmentos que, antes da Ditadura Militar, ocupavam o espaço público da
comunicação, da cultura e da política. Esse processo foi registrado por Sader
(1995) em livro no qual os personagens voltam à cena pública em busca de
representatividade e participação.

Essa volta das disputas políticas e de participação no espaço público trouxe os


movimentos sociais para o centro dos acontecimentos: movimentos de mulheres,
raciais e sindicais.

A Igreja Católica participa ativamente do processo, organizando diversos


segmentos nas comunidades eclesiais de base a partir das práticas da Teologia da
Libertação. Como explica a pesquisadora:
A forma mais adequada encontrada pela Teologia da Libertação de ajudar
os oprimidos é entendê-los como sujeitos ou agentes de sua própria
libertação. Aqui o assistencialismo é substituído pelo entendimento que
o pobre tem força, consciência capacidade de transformar as relações
sócias, descobrindo as causas que geraram a situação opressora em que
se encontram. A articulação de movimentos que reivindicam melhores
condições salariais ou de moradia, são exemplos de como os pobres
atuam promovendo sua própria libertação (NORONHA, 2012, p. 190).

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Explor
O que é Teologia da Libertação?
É um movimento da igreja católica, cujo nome surge com a publicação no Peru do livro
Teologia da Libertação: Perspectivas. Trata-se de um movimento que luta por melhorias
nas vidas dos mais pobres, mediante concepções de direitos humanos, de igualdade e
fraternidade. Nasceu primeiramente na América Latina, onde há grandes desigualdades
sociais e a maioria da população é cristã. Situa-se ao lado dos oprimidos, é uma linha do
pensamento teológico que é política, pois o teólogo nesse caso não é neutro politicamente.
A libertação vem do conhecimento de si mesmo, de sua condição social, da luta pela
igualdade e fraternidade.

A cena política vê voltar à ação personagens que tinham sido afastados pela
Ditadura, mas que mantiveram posicionamento crítico em relação à cultura política
do Regime.

O movimento das Diretas Já foi possivelmente o que melhor expressou o


que ocorria na realidade político-cultural do país na década de 1980: uma ampla
frente de oposição ao regime organizou ações políticas que incluíam negociações
institucionais e mobilização de massas.

Em diversas cidades do país, manifestações públicas de apoio ao fim do Regi-


me Militar e à volta da democracia eleitoral faziam “acordar” a nossa “pátria mãe
tão distraída”.

Figura 2
Fonte: Wikimedia Commons

Ocuparam os palanques uma ampla composição de políticos, artistas e empre-


sários favoráveis à eleição direta para a presidência da República, o que represen-
taria o fim da Ditadura Militar. Mesmo derrotado, o movimento foi importante para
a definição do lugar da política na vida dos brasileiros naquele período.

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UNIDADE Representações e Cultura no Brasil Pós-Ditadura

A Cultura Musical no Brasil


nos Anos 1980-1990
Se a década de 1980 ficou conhecida como a década perdida devido ao alto
desemprego, alta inflação, correções monetárias diversas, o que dificultava para
parte da população a aquisição de bens culturais, de consumir certos produtos da
cultura, o começo dos anos 1990 não foi diferente.
A geração que nasceu ou viveu durante o período dos governos militares era
considerada menos atuante politicamente, quando comparados aos que eram
jovens no final dos anos 1960 – época na qual houve mais militância estudantil e
política. Nos anos 1980, surgem inúmeras bandas de rock em Brasília – caso da
Legião Urbana e Capital Inicial – e em outras cidades – como Titãs e Paralamas
do Sucesso – que convivem com grupos de samba e pagode, axé e de sertanejos,
que se apresentam em shows e em programas de televisão de auditório ou de
músicas especificamente.
Havia uma variedade de estilos, alguns que se tornaram mais midiáticos e televi-
sivos, caso dos grupos de axé e os sertanejos. Como explica a pesquisadora:
[...] o final dos anos 80, os concursos para se eleger a “nova loura do
Tchan” após a saída de Carla Perez, a escalada da mexicanização nas
telenovelas, a inclusão do catolicismo “carismático” - ramo da igreja ca-
tólica que se inspira em cultos evangélicos – nos programas de auditório,
a vendagem crescente do “forró eletrônico” - onde o tradicional ritmo
nordestino é aliado aos sintetizadores e à produção industrial, entre uma
série infindável de fatos semelhantes) demonstram o divórcio cada vez
mais óbvio entre a cultura oficial e canonizada (da qual fariam parte, en-
tre outras manifestações, a MPB, o novo cinema brasileiro e a literatura
mainstream) e as opções e aspirações estéticas realmente populares.

Grupos como Titãs, Ira, Legião Urbana traziam nas letras uma preocupação
e desalento com a condição do país, mas sem se vincularem a ideologias mais
claramente, como afirmam os autores:
[...] negação das ideologias revolucionárias, descrenças nas instituições
políticas tradicionais, denúncia das desigualdades sociais, propensão
ao intimismo subjetivista, ausência de projetos propositivos para uma
sociedade alternativa e baixa expectativa com relação ao futuro foram
alguns dos valores expressados nas letras do rock nacional nos anos
1980. O final dessa década e o início dos anos 90 indicaram que, depois
de um período de intensas transformações culturais e políticas, a fase mais
criativa e crítica do rock nacional chegava ao fim, justamente quando o
panorama econômico demonstrava indicadores graves, como o índice de
inflação que atingiu patamares de 1.119% ao ano em 1992 (TRINDADE;
RANGEL, 2012, p. 108.).

Somente em 1994 com o Plano Real e a estabilização monetária e da inflação


o Brasil e as classes populares passaram a consumir mais discos, shows e outros
produtos culturais de massa (discos, CD-ROM, ingressos para cinema e aluguel ou
compra de filmes em videocassetes).

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Já no governo Collor, a onda neoliberal abriu o mercado brasileiro para empresas
e mercadorias estrangeiras, adaptando-se aos padrões globalizados, ao mesmo tempo
que reinventam a brasilidade, mas em geral sem o discurso engajado dos anos 1960.

Figura 3
Fonte: usp.br

Havia contrapontos, contra racionalidades a esse processo capitalista, caso do


rap do Racionais MCs, bem como do mangue beat de Pernambuco, cujos grupos
e as letras reforçam a necessidade da luta, da desigualdade, da opressão e viviam
em circuitos fora das grandes redes de televisão.

Mangue Beat
Explor

Trata-se de um movimento musical pernambucano do começo dos anos de 1990, cujos


representantes mais conhecidos são Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S.A.
Pode ser considerado um movimento de contracultura, no sentido de colocar-se contra a
racionalidade capitalista, mistura ritmos de rock, maracatu, rap e música eletrônica. Traz
letras que retratam o mangue, as desigualdades sociais, a crítica a situação dos manguezais,
em músicas como A cidade, Mangetown, Maracatu atômico, entre outras.

Em relação à televisão, houve avanços técnicos e um novo momento de gover-


nos neoliberais a partir dos anos 1990. Isso abriu o mercado brasileiro e inseriu o
país numa onda de globalização. Como explica os autores:
De modo retrospectivo, visualizam-se como fases da televisão brasileira: a
elitista, de 1950 a 1964; a populista, de 1964 a 1975; a do desenvolvimento
tecnológico, de 1975 a 1985; a da transição e da expansão internacional,
1985 a 1990; e da globalização e da TV paga, de 1990 a 2000. A partir
de 2000 adentra-se em outra, a fase da qualidade digital, em transcurso.
Dessa forma, nestes sessenta anos, a TV brasileira passou por grandes
transformações, incluindo a introdução do videoteipe e do processo
de produção e transmissão em cores, com o acumulo de inovações e
direcionando-se a novos padrões de desenvolvimento tecnológico, abrindo
possibilidades de negócios (RIBEIRO, 2010, p. 220).

Desse modo, abrem-se várias possibilidades de canais pagos, com maior varieda-
de de programações, inserindo o Brasil cada vez mais num processo de globalização.

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UNIDADE Representações e Cultura no Brasil Pós-Ditadura

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
A Tradição e a Cultura Popular e de Elite
UNIVESP TV. Cultura brasileira. A tradição e a cultura popular e de elite. 15min33,
São Paulo, 2014.
https://youtu.be/ysgkdSP9k0g

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Referências
ADORNO, T. W. ; HORKHEIMER, M. Indústria Cutural: o iluminismo como
mistificação de massa. In: ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do
esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

DISCIPLINARUM SCIENTIA. Série: Ciências Humanas, Santa Maria, v. 13, n.


1, p. 95-111. 2012.

NORONHA, CEJANA UIARA ASSIS. Teologia da Libertação: origem e


desenvolvimento. Fragmentos de cultura, Goiânia, v. 22, n. 2, p. 185-191, abr./
jun. 2012.

RIBEIRO, Ana Paula Goulart et al (orgs.). História da televisão no Brasil. São


Paulo: Contexto, 2010. (e-book, biblioteca virtual).

SADER, E. Quando novos personagens entraram em cena. Rio de Janeiro: Paz


e Terra, 1995.

TRINDADE, Luane Nunes; RANGEL, Carlos Roberto da Rosa. Rock: cultura


política e movimentos sociais. Disciplinarum scientia, Ciências Humanas, v. 13,
n. 1. 2012.

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