Você está na página 1de 16

Comunicação Comunitária

e Terceiro Setor
Material Teórico
Folkcomunicação

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Regina Tavares de Menezes
Folkcomunicação

• Folkcomunicação.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Estudar o conceito da folkcomunicação;
• Apresentar a versão atualizada da teoria da folkcomunicação.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Folkcomunicação

Folkcomunicação
Em outras unidades da disciplina Comunicação Comunitária, eu já havia comen-
tado que há meio século, o folclore da sociedade contemporânea era proveniente
da relação mantida entre cultura popular e cultura de massa.

Trata-se da produção simbólica de ritos e tradições convertidos em mercadorias


para o consumo do mundo globalizado. Essa e outras questões estão reunidas
na obra de Luiz Beltrão acerca do conceito de folkcomunicação. Para o autor, a
folkcomunicação é:
(...) por natureza e estrutura, um processo artesanal e horizontal, seme-
lhante em essência aos tipos de comunicação interpessoal já que as men-
sagens são elaboradas, codificadas e transmitidas em linguagens e canais
familiares à audiência, por sua vez conhecida psicológica e vivencialmente
pelo comunicador, ainda que dispersa. (BELTRÃO, 1980, P.28)

Ou seja, “folkcomunicação é, assim, o processo de intercâmbio de infor-


mações e manifestações de opiniões, idéias e atitudes de massa através de
agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore.”
Explor

Acesse a imagem em: https://goo.gl/78ahks.

A vocação de Luiz Beltrão para estudos na área de cultura popular é proveniente


de inúmeros fatores, entre eles: a figura de seu pai, sua religiosidade e uma forma-
ção – em parte – cunhada nas teses marxistas.

A tese de Beltrão foi considerada uma das maiores contribuições realizadas à Te-
oria da Comunicação brasileira. Beltrão, contudo, sofreu os desmandos do regime
militar brasileiro, foi censurado e impedido de obter o seu título de doutor.

Logo quando iniciou seus estudos, Beltrão se questionava por que uma grande
massa da população não estava exposta à comunicação de massa e mesmo assim
possuía informação. Sua formulação original de pesquisa foi “Como se informa-
vam as populações rudes do interior do nosso país?”

Em seguida, Beltrão indagou: “Não seria uma ameaça à unidade nacional (...)
o alheamento em que nós, jornalistas, e os nossos governantes nos mantí-
nhamos ante essa realidade enigmática, que é a comunicação sub-reptícia de
alguns milhões de cidadãos alienados do pensamento das elites dirigentes.”

Veja um dos esquemas de Beltrão abaixo e confira como se dava a folkcomuni-


cação segundo o autor:

8
Mensagens

Comunicador

Interprete

Receptor

Audência
Fonte de informação
Comunicação de Retorno
Figura 1
#ParaTodosVerem. Imagem vetorial de um esquema de Beltrão. Da esquerda para
a direita há um círculo com o seguinte texto dentro: comunicador, intérprete, recep-
tor, simbolizando “fonte de informação”. Do círculo sai uma seta que aponta para o
lado direito e segue até alguns símbolos que significam “audiência”. Do mesmo círculo
também sai uma seta que significa “mensagens” e aponta também para audiência.
No caminho contrário, de audiência sai uma seta que retorna para o círculo inicial de
“fonte de informação”. Fim da descrição.
Deu para notar que folkcomunicação é a comunicação em nível popular. Por
popular, entendemos tudo o que se refere ao povo - ou seja - aquele que não se
utiliza dos meios formais de comunicação. Mais precisamente, folkcomunicação é
a comunicação pelo folclore.
Em verdade, num país com dimensões continentais como o nosso, não é somente
pelos meios de comunicação tradicionais (TV, rádio, cinema, arte, Universidade etc)
que a população brasileira se comunica. Vale dizer que nosso país possui elevados
índices de analfabetos e indivíduos em circunstâncias sociais e políticas nada razoáveis.
Nesse sentido, um dos grandes canais de comunicação coletiva é, sem dúvida,
o folclore. E isso vai das fofocas no salão de cabeleireiros até as impressões do
taxista em uma corrida. Os líderes populares/regionais/folclóricos possuem papel
decisivo nesse processo de comunicação.
Para Luiz Beltrão, folkcomunicação não representa uma comunicação de clas-
ses populares. Em verdade, o autor quer se referir a todos os que vão contra a
comunicação dominante, ou seja, a comunicação de massa.
Cabe dizer que na década de 60, enquanto a violência racial e o conflito do
Vietnã agitavam os Estados Unidos surgia uma concentração de fenômenos que
receberam o nome de contracultura. A juventude de classe média começava condu-
zir-se de modo totalmente oposto aos valores de uma sociedade moralista, racista,
consumista e tecnocrata. Leia o texto abaixo:

9
9
UNIDADE Folkcomunicação

BRANDÃO, A. C. e DUARTE, M. F. Movimentos Culturais de Juventude. São Paulo. Editora


Explor

Moderna, 1990, p. 50-52 [Coleção Polêmica].

(...) A partir da contracultura, a segunda metade da década de 60 trou-


xe em seu bojo um verdadeiro terremoto, difícil de ser atravessado por
quem tinha ideias e objetivos pré-estabelecidos. A cultura ocidental foi
amplamente questionada em seus valores políticos e morais, já que a
contracultura estabelecera uma espécie de guerrilha cultural dentro do
próprio sistema; um movimento espontâneo e insinuante que, se apos-
sando dos meios de comunicação de massa ou criando uma imprensa
alternativa, conquistou adeptos por toda a parte e ameaçou a colocar a
utopia no poder (...).

Confira outra ilustração esclarecedora de Beltrão:


Processo da Folkcomunicação

MCM MCF
Fonte M Audiência M Audiência de
Canal Canal
Comunicador Líderes FOLK

Código:
MCM: Meio de comunicação de massa
MCF: Meio de comunicação de FOLK
Comunicação de retorno direta
Comunicação de retorno indireta

Figura 2 – Processo da Folkcomunicação


#ParaTodosVerem. Imagem vetorial de um fluxograma organizado em linha hori-
zontal. No título está escrito “Processo de Folkcomunicação”, abaixo seguem blocos
alinhados da esquerda para direita. No primeiro bloco está escrito “Fonte / Comunica-
dor” há uma linha que o liga com o próximo bloco. Acima dessa linha tem a letra M.
O próximo bloco tem as letras MCM escritas em cima que significam “Meio de Comu-
nicação de Massa” e abaixo escrito “canal”. Saindo desse bloco há uma seta que o liga
ao próximo bloco em que está escrito audiência / líderes. Outra linha com a letra M
em cima liga este bloco ao próximo bloco que está escrito acima “MCF”, que significa
Meio de Comunicação Folk e abaixo escrito Canal”. Uma seta liga este bloco ao último
bloco em que está escrito audiência de Folk. Do último bloco sai uma seta no sentido
contrário que volta para o bloco em que está escrito audiência / líderes. Desse bloco
de audiência líderes sai uma seta pontilhada no sentido contrário que aponta para
o primeiro bloco “fonte / comunicador”. A seta pontilhada significa comunicação de
retorno direta. Fim da descrição.
A folkcomunicação é, por natureza e estrutura, um processo artesanal e hori-
zontal (ou seja, a hierarquia é quase sempre inexistente), semelhante aos tipos de
comunicação interpessoal já que as mensagens são elaboradas, codificadas e trans-
mitidas em linguagens e canais familiares à audiência, por sua vez conhecida psico-
lógica e vivencialmente pelo comunicador, ainda que dispersa. (A seguir exemplos
de literatura de cordel).

10
Figura 3
Fonte: Wikimedia Commons

#ParaTodosVerem. Foto de três fileiras de revistas pequenas de cordéis presas a varais


de barbante por prendedores de roupa de madeira. As cores são variadas. Há cordéis
em cor azul, amarelo, bege, branco e rosa claro. Fim da descrição.
Na versão atualizada da teoria da Folkcomunicação de Beltrão (1980), encontra-
mos os gêneros e os formatos a seguir:

Tabela 1
GÊNEROS FORMATOS
· Aboio; · Conchavo;
· Advinhação; · Fofoca;
· Anedota; · Glosa;
· Apelido; · Gíria;
· Bendito; · Lenda;
Folkcomunicação oral · Boato; · Palavrão.
· Cantiga de mendigo; · Parlenda
· Cantoria; · Pregão
· Conto de fada; · Provérbio
· Conversa fiada; · Trova

· Baião; · Dobrado;
· Canção de ninar; · Embolada;
· Canto de bebida; · Lundu;
Folkcomunicação musical · Canto de trabalho; · Moda de viola;
· Chimarrete; · Romance;
· Choro; · Samba de breque;
· Chula; · Toada.

· Abaixo assinado; · Grafito de banheiro;


· Adesivo; · Legenda de caminhão;
· Almanaque de cordel; · Literatura de cordel;
· Almanaque de farmácia; · Literatura mediúnica;
· Carta anônima; · Oração milagrosa;
Folkcomunicação gráfica · Carta devota; · Pasquim em verso;
· Cartaz de mercearia; · Pichação de parede;
· Correio sentimental; · Pintura mediúnica;
· Epitáfio; · Santinho de propaganda política;
· Flâmula; · Volantes publicitários;
· Folhinha; · Xilogravura popular;

11
11
UNIDADE Folkcomunicação

GÊNEROS FORMATOS
· Adornos pessoais; · Brinquedo artesanal;
· Enfeites domésticos; · Ex-voto;
Folkcomunicação icônica · Amuletos; · Figura de enfeite;
· Boneco de barro; · Presépio.

· Afoxé; · Forró;
· Amarelinha; · Frevo;
· Aniversário natalício; · Funk carioca;
· Baiana; · Gincana;
· Batuque; · Guerreiro;
· Bodas; · Jogo do bicho;
· Bloco carnavalesco; · Jongo;
· Bumba-meu-boi; · Maracatu;
· Caboclinho; · Marujada;
· Caiapó; · Paradas cívicas;
· Candomblé; · Pastoril natalino;
· Capoeira; · Peladas de várzea;
· Catira; · Procissão;
· Cavalhada; · Quermesse;
Folkcomunicação cinética · Chá de bebê; · Rap paulista;
· Chá de cozinha; · Rodeio crioulo;
· Chegança; · Quadrilha;
· Ciranda; · Queima de Judas;
· Circo mambembe; · Reisado;
· Coco de roda; · Romaria;
· Comício político; · Taieira;
· Congada; · Ticumbi;
· Cururu; · Troça;
· Dança de Moçambique; · Trote de calouros;
· Despedida de solteiro; · Vaquejada;
· Escola de samba; · Velório;
· Fandango; · Xaxado.
· Folia de reis;

Há alguns anos, notou-se que o poder da cultura popular na América Latina


estava originando um processo de folkcomunicação onde a indústria cultural reco-
nheceu alguns valores de tradição e de rituais nos hábitos de consumo das classes
populares e por isso passou a absorver elementos da folkcomunicação em produ-
tos midiáticos.

O fato é que na atualidade, a folkcomunicação age como retroalimentadora das


indústrias culturais, seja pautando matérias jornalísticas, gerando produtos ficcio-
nais, embasando campanhas publicitárias e de relações públicas e criando novos
espaços de entretenimento. Por este e outros motivos, muitos estudiosos se vêem
as voltas com pesquisas relacionadas à forma como a folkcomunicação transita nas
mídias massivas.

Bom, a nossa disciplina chega ao fim.

Espero que tenha apreciado nossa viagem pelo universo da comunicação co-
munitária e se sensibilizado com a necessidade de um profissional da comunicação
crítico e ciente de sua responsabilidade social.

12
Referências
BELTRÃO, L. Comunicação popular e religião no Brasil. In: MELO, José Marques
de (org). Comunicação/Incomunicação no Brasil. São Paulo: Loyola, 1976.

BELTRÃO, L. Folkcomunicação - um estudo dos agentes e dos meios populares


de informação de fatos e expressão de idéias. Tese de doutoramento. Brasília: Uni-
versidade de Brasília. 1967

BERNARDINO, A. Discurso sobre a participação e a organização popular.


São Paulo: 1979.

BETTO, F. O que é Comunidade Eclesial de Base. São Paulo: Brasiliense, 1984.

BOMTEMPO, S. Origens Históricas de São Miguel Paulista. São Paulo:


UNICSUL, 2000.

BOSI, E. O tempo vivo da memória. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

BRUNEAU, T. C. O catolicismo brasileiro em época de transição. São Paulo:


Loyola, 1979.

CANCLINI, N.G. Culturas híbridas. São Paulo: Editora da Universidade de São


Paulo, 1997.

CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2003.

FAUSTO, B. (org.). História geral da civilização Brasileira. V III. O Brasil Repu-


blicano. Sociedade e Instituições. 1888-1930. São Paulo: Depel, 1978.

FERNANDES, Florestan. Comunidade e Sociedade. São Paulo: Nacional, 1973.

FERNANDES, T. F. T. DOM Cultura e memória social no discurso jornalístico. In:


TRIVINHO, E. (org.) Sociedade Mediática. São Paulo: Leopoldianum, 2000.

FESTA, R. Comunicação popular e alternativa no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1986.

FESTA, R. Comunicação Popular e Alternativa. A realidade e as utopias. Dis-


sertação de Mestrado - Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do
Campo, 1984.

FILHO, P. C. No olho do furacão: América Latina nos anos 60/70. São Paulo:
Cortez, 2003.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GASPARI, E. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

GOMES, P. G. Jornalismo nas comunidades eclesiais de base: estudo de caso do


jornal GRITA POVO da região diocesana de São Miguel Paulista. Dissertação de Mes-
trado – Escola de Comunicação e Artes, Universidade São Paulo. São Paulo, 1987.

13
13
UNIDADE Folkcomunicação

GOMES, P. G. O jornalismo alternativo no projeto popular. São Paulo:


Paulinas, 1990.

HOBSBAWM, E. Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

HOLFELDT, A.; MARTINO, L.; FRANÇA, V. Teorias da Comunicação. Petró-


polis: Vozes, 2001.

IMAMURA, A. C. História de São Miguel - O Desenvolvimento Urba-


no de São Miguel Paulista. Museu Virtual, São Paulo, 2000. Disponível em:
<http://200.136.79.4/Museu_Virtual/histo_sao_miguel_des.html>. Acesso em:
15/05/2007.

MÁRTIN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.

MENEZES, R. T. Do mutirão à educação. In: MEDINA, C. (CoorDom) USP leste


e seus vizinhos. São Paulo: ECA/USP, 2004.

MENEZES, R. T. GRITA POVO. CNU - Canal Universitário de São Paulo: Brasil,


2002 – 23 min.

MORIN, E. Cultura de Massas no século XX. Espírito do tempo 1: neurose. Rio


de Janeiro: Forense Universitária, 1984.

PERUZZO, C. M. K. Comunicação nos movimentos populares. Petrópolis: Vozes,


1998. POLLACK, M. Memória e identidade social. In: Estudos Históricos, 5 (10).
Rio de Janeiro: Cpdoc/FGV, 1992.

SADER, E. Quando novos personagens entram em cena. Rio de Janeiro: Paz


& Terra, 1988.

WANDERLEY, L. E. W. Movimentos Sociais Populares: aspectos econômicos, so-


ciais e políticos. In: BERNARDO, T.; RESENDE, P. E. A. (org.), Ciências Sociais
na Atualidade. São Paulo: Paulus, 2005.

WOLF, M. Teorias das Comunicações de Massa. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

14

Você também pode gostar