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Século I
Material Teórico
Messias ou bandidos!
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Messias ou bandidos!
• Contextualização
• Introdução
• A Política Opressora e as Revoltas Sociais na Palestina
• O “Banditismo” Social
• A Tradição Messiânica e a Esperança de Salvação para o Povo Oprimido
OBJETIVO DE APRENDIZADO
··Aprender sobre um importante tema: messias ou bandidos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Messias ou bandidos!
Contextualização
Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre a história da Palestina: século I –
messias ou bandidos!
Saiba que esta Disciplina tem como propósito apresentar um panorama histórico
do contexto da atuação de Jesus com as discussões mais recentes dessa área; além
de lhe proporcionar momentos de leitura – textual e audiovisual – e reflexão sobre
os temas que serão aqui discutidos, contribuindo com a sua formação continuada
e trajetória profissional.
Esta Disciplina está organizada em seis unidades, cujo eixo principal será a
história da Palestina no século I, quanto à ideia de messias ou bandidos, ou seja,
que dê conta de conhecer, definir, classificar e conceituar Jesus e seu tempo como
campo de pesquisas, estudos, formação acadêmica e profissional, é o que você
encontrará nas próximas unidades.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo,
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário
todos ou alguns dias e determinar como o “momento do estudo”.
Importante! Importante!
Lembre-se, você é responsável pelo seu processo de estudo. Por isso, aproveite ao
máximo esta vivência digital!
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Introdução
A partir deste momento contextualizaremos a Palestina no tempo de Jesus em
seus aspectos político, econômico, religioso e social, em suas disputas e conflitos,
em uma sociedade onde Jesus de Nazaré se fez homem, viveu e conviveu, sujeito
às leis e à cultura de seu tempo, ou seja, entenderemos a prática de Jesus e de
seus contemporâneos que pregavam a justiça social e que eram constantemente
taxados de bandidos pela elite de seu tempo, ou de messias por aqueles que os
seguiam e criam em sua pregação. Assim, nesta Unidade trataremos dos seguintes
temas: a política opressora e as revoltas sociais na Palestina; o “banditismo” social;
a tradição messiânica e a esperança de salvação para o povo oprimido.
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As principais vítimas da política expansionista romana eram
justamente os camponeses. Para eles, a dominação romana significava
fundamentalmente uma pesada tributação e, mais do que isso, uma séria
ameaça a sua existência, haja vista que muitos deles foram expulsos
de suas terras (HORSLEY; HANSON, 1995, p. 43). Não é possível
minimizar o período da dominação romana. Nela encontramos o cenário
apropriado para a emergência de lutas, guerrilhas e sublevações populares
contínuas. A Palestina poderia ser descrita como um dos maiores focos
de rebeldia contra a expansão imperial romana. Poderíamos ainda
acrescentar que na Palestina do primeiro século a situação econômica da
população encontrava-se em queda vertiginosa, refletindo na deterioração
da qualidade de vida. As pessoas mais vulneráveis viviam cercadas pela
instabilidade e pela penúria (ROSSI, 2015, p. 3-4).
Muitos membros da elite judaica se postaram ao lado dos dominadores por causa
da política imperial de Roma que, ideologicamente, defendia seus amigos e aliados
e penalizava os rebeldes e traidores. Portanto, para seus inimigos, a violência do
império romano era institucionalizada e a base de suas conquistas, impondo respeito
e lealdade por meio do terror. Segundo seus preceitos, os romanos pretendiam
levar a “civilização e a paz” para o resto do mundo, para todos – fosse de forma
pacífica para os aliados, ou imposta pela violência para os resistentes.
Através destas políticas, a Galileia viu crescer o número de enfermos, de
desempregados e de agricultores sem-terra. Jesus fala e age, portanto,
numa situação de injustiça sistêmica e de maldade estrutural em que uma
grande porcentagem de pessoas sacrificadas era a responsável em tornar
o processo de construção do império possível. Jesus nasceu e viveu no
contexto social do século I d.C., um período em que a importância do
império romano é incontestável e determinante. Na Cidade de Nazaré,
por exemplo, a presença exploradora do império romano se manifestava
duplamente, seja pela cobrança de impostos, seja pela presença do
exército (ROSSI, 2015, p. 4).
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Contudo, para quem esses personagens eram “falsos”? Para o povo oprimido,
ou para o império, este que precisava se livrar dos discursos de libertação que
saiam das bocas desses personagens históricos e que incomodavam também a elite
de seu povo? Pilatos, figura central que ligava o império romano à fé cristã, agia
sempre com violência contra esses discursos de libertação, seja por um enunciado
político engajado, seja pela pregação de homens de fé. Na Samaria, a esperada
restauração profética era uma realidade. O povo judeu, de todas as regiões, estava
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farto das opressões política e econômica impostas por Roma, e pior, o império
não compreendia a dimensão da religião sobre a cultura do povo judaico, quem
encontrava razão em sua fé para combater o opressor.
Figura 1
fonte: Wikimedia Commons
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Contudo, como saber quem era o profeta que haveria de trazer a redenção para o
povo oprimido? Em meio a tanta opressão, o povo simples não sabia distinguir o que
era verdadeiro ou falso profeta, afinal, o que desejavam era se livrar do fardo imposto
pelo império romano; queriam combatê-lo para ter uma vida melhor em sua terra.
Assim, Teúdas era tido por alguns de seus contemporâneos como falso profeta – mas
como saber? Lucas, em seus escritos, tenta demonstrar como identificá-los:
O modo como Lucas escreve esse relato deixa transparecer que o autor
pretende algo mais do que o simples desejo de reprovação de líderes
como Teúdas. Suspeita-se de que o dócil e pouco comprometedor parecer
de Gamaliel tivesse o objetivo não transparente através do texto. Ele traz
em seu bojo o toque sutil do estilo lucano que pretende nos dizer que, ao
contrário de falsos profetas, como Teúdas, o novo movimento de Jesus e
seus seguidores “vem de Deus” e, por isso, nenhuma força poderá destruí-
lo (SCARDELAI, 1998, p. 192).
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de suas vidas chama a atenção para o fato de que seus enunciados eram diferentes,
de modo que “[...] seria improvável que um protótipo de liderança nacionalista, da
qualidade de Judas, pudesse compartilhar de ideias carismáticas exacerbadas que
fossem compatíveis com Teúdas” (SCARDELAI, 1998, p. 194).
Há relatos afirmando que os revolucionários não teriam sido dispersos
apesar de terem seu líder fundador, Judas Galileu, sido executado pelos
romanos. Em relação a Teúdas, não existe nenhuma evidência que mostre
com clareza que o movimento por ele iniciado tivesse prosseguido após a
sua morte. Ao contrário, seus seguidores, amedrontados, foram dispersos
e o líder caiu no esquecimento tão logo ficou patente a malsucedida
proposta libertadora. Não é possível conciliar Judas e Teúdas como dois
aspirantes imbuídos dos mesmos critérios messiânicos, como Atos parece
sugerir (RHOADS apud SCARDELAI, 1998, p. 194).
A Palestina dos tempos de Jesus viveu sob o pesado jugo de um grande império
que dominava a região, aliava-se às elites locais e oprimia a população pobre – a
parte mais espoliada nesse jogo de interesses político-econômicos –, onde a questão
social não fazia parte das prioridades das elites no difícil cotidiano do pobre. Segundo
Scardelai (1998, p. 111), “[...] o presente cenário composto de incertezas e de insta-
bilidade político-social em Israel, que transcorre de Judas Galileu até Bar Kokeba (6-
135 d.C.), fez emergir uma longa sequência de movimentos populares revolucioná-
rios [...]”, acrescentando importante comentário sobre o contexto da vinda do
Messias: “[...] os dados históricos paralelos presentes na narrativa do nascimento de
Jesus de Nazaré [...] dão mostras de que uma pesada atmosfera de instabilidade social
pairava sobre a nação judaica [...]” (SCARDELAI, 1998, p. 110).
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UNIDADE Messias ou bandidos!
O “Banditismo” Social
Segundo Horsley e Hanson (1995), nos tempos de Jesus ocorreram dois fatos
muito importantes na Palestina, a saber: vida e morte do próprio Jesus e a Revolta
Judaica dos anos 60 do século I. No caso de Jesus, em meio a dominação do impé-
rio romano, surgia “[...] um profeta judeu da longínqua região da Galiléia, tornou-
-se a figura central do que veio a ser o cristianismo e se tornou a fé e a instituição
religiosa estabelecida predominante do Ocidente [...]”; e não muito tempo depois
da morte desse Personagem, que se tornaria parte importantíssima da história
humana, “[...] o povo judeu irrompeu numa revolta maciça contra a dominação
romana, que levou mais de quatro anos para ser debelada [...]” (HORSLEY; HAN-
SON, 1995, p. 7).
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Os movimentos messiânicos na região da Palestina antecederam, sobreviveram
e sucederam a Jesus; o camponês oprimido foi lutar pela sua sobrevivência, mesmo
colocando em risco a própria vida para dar uma existência digna ao seu povo. Esses
pobres judeus “[...] uniam-se em certos tipos de grupos e movimentos, conforme
sabemos pelo historiador judeu Josefo, pela tradição cristã dos evangelhos e outros
relatos fragmentários [...]” (HORSLEY; HANSON, 1995, p. 8).
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UNIDADE Messias ou bandidos!
Observe que para o judeu, a sua aliança com Deus era mais importante que
qualquer institucionalização religiosa:
Através da memória coletiva do povo, finalmente fixada na forma dos
relatos bíblicos, essas circunstâncias dos camponeses, livres de senhores
e reis, independentes de dominação estrangeira, vivendo sob o governo
de Deus numa sociedade justa e igualitária, tornaram-se um ponto de
referência para as gerações subsequentes um ideal utópico com que
comparavam a sujeição posterior a reis e impérios estrangeiros e julgavam
contrárias à vontade de Deus (HORSLEY; HANSON, 1995, p. 24-25).
Esses “bandidos” são, às vezes, a única forma de justiça que prevalece entre o
camponês e o pobre de Israel, “[...] emergem de incidentes e circunstâncias em
que aquilo que é imposto pelo Estado ou pelos governantes locais é percebido
como injusto e intolerável [...]” (HORSLEY; HANSON, 1995, p. 58). O que é
interessante observar aqui é o fenômeno rural da situação, ou seja, é justamente
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esse o contexto histórico de Jesus, onde o “banditismo social” é observado, ou
seja, “[...] é encontrado universalmente em sociedades baseadas na agricultura, e
compõe-se predominantemente de camponeses e trabalhadores rurais sem-terra,
dominados, oprimidos e explorados por outros, proprietários, cidades, governos”
(HOBSBAWM apud HORSLEY; HANSON, 1995, p. 58).
Assim, nos tempos de Jesus, o camponês se inquietava com a falta do que comer
e vestir, ou seja, estava insatisfeito com a própria situação de vida e incomodava-
se com os excessos dos governantes, com a falta de caráter, a ilegitimidade e o
comportamento das elites dominantes, porque era do suor do camponês que saia o
sustento dos excessos desses governantes; “[...] naturalmente, a maneira como os
camponeses judeus reagiam tinha muito que ver com o modo como eles pensavam
que tais relações deviam ser [...]”, como se desenvolviam na realidade, “[...] e os
camponeses não eram ingênuos e enxergavam os abusos cometidos contra eles”
(HORSLEY; HANSON, 1995, p. 61).
Era praticado todo tipo de abuso contra os pobres, havia a dupla taxação e
outros tipos de exploração, “[...] muitas vezes os exércitos romanos devastavam
as aldeias e suas populações [...]”; em certa ocasião, Gofna, Emaús, Lida e Tamna
estavam com os “impostos especiais”, pedidos por Cássio, atrasados e, por esta
razão, foram escravizados pelo governador dessas regiões. Ademais, para não nos
restringirmos aos abusos do império romano ao fator político-econômico, em outra
ocasião, especificamente na região de Emaús, “[...] um general romano, Maqueras,
irritado com líderes judeus rivais, matou todos os judeus que encontrou na sua
retirada de Jerusalém a Emaús” (HORSLEY; HANSON, 1995, p. 64).
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Ainda segundo esses autores, “[...] em condições tão difíceis para os camponeses
judeus, não surpreendem os surtos de banditismo [...]”, e também “[...] não causa
nenhuma surpresa o crescimento do banditismo no rastro desse período de guerra
civil e lutas político-econômicas”. Muitos líderes surgiram para se revoltarem contra
essa situação de extrema opressão, entre os quais, Ezequias, “[...] um líder salteador
com um bando muito grande, estava assolando a região da fronteira síria [...] os
galileus que aderiram ao bando de
Pensando na opressão exercida pelo salteadores liderados por Ezequias
império romano, não deixe de refletir provavelmente eram vítimas e fugitivos
sobre as palavras de Jesus e relacioná-las da situação social e política [...]”, e dessa
ao Evangelho de João de forma concreta
naquela história que, para além dos falsos
feita não foi da opressão estrangeira,
profetas, havia também as opressões mas “[...] do poder, recentemente
política e econômica de um dominador adquirido, da nobreza local que Herodes,
cruel, que roubava a liberdade e a vida delegado pelo seu pai, Antípatro, para
dos camponeses e pobres nos tempos
de Jesus, este que se preocupava com governar a Galiléia, quem logo capturou
a concretude da vida. “O ladrão vem só e matou Ezequias e numerosos dos seus
para roubar, matar e destruir. Eu vim para salteadores, para a grande satisfação
que todos tenham vida e a tenham em
abundância” (Jo, 10:10). dos sírios” (HORSLEY; HANSON,
1995, p. 69-70).
Os “bandidos” eram para os camponeses uma forma de justiça divina que jamais
encontrariam naquela sociedade hierarquizada, já bastante distante e deformada
da antiga aliança com Javé e Sua Lei. Aliança realizada com Javé, sob a liderança
de Moisés e que depois foi renovada por meio de Josué, em Siquém. Esse povo
oprimido precisava de algum tipo de justiça e consolo, e naqueles dias não tinham
outra alternativa senão a de depositar sua confiança nesses “bandidos” que viveram
nos tempos de Jesus, do século I a.C. até quase o final do século I d.C.
Em resumo, contra o regime injusto e opressor da elite local ou de um
governo distante, o povo simples protege seus parentes e amigos que se
meteram em dificuldades com a lei e a ordem oficial, por intransigência ou
má sorte. O salteador social é considerado um herói da justiça e um sím-
bolo da esperança do povo pela restauração de uma ordem mais justa [...].
Ezequias e seus seguidores, quase um século antes, ofereceram o exemplo
mais claro de salteadores como heróis inocentes, vítimas da Lei e da or-
dem imposta pelo jovem Herodes (HORSLEY; HANSON, 1995, p. 75).
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Nos tempos de Jesus, as insurreições camponesas foram combustível para uma
oposição ativa contra a ordem estabelecida, ou seja, formavam as condições neces-
sárias para o povo oprimido se fazer notar pela elite dominante, pois era uma for-
ma de demonstração de que as coisas estavam muito erradas na sociedade judaica.
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De acordo com Scardelai (1998, p. 5), “[...] existem provas significativas de que
a crença de cunho libertador foi o que, na verdade, motivou o aparecimento de
novas lideranças político-religiosas com o intuito de estabelecer a redenção de Israel
nos moldes de conhecidas tradições bíblicas”.
Importante! Importante!
Não podemos confundir o “peso” que uma palavra, um conceito, tem em cada
contexto histórico.
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O povo de Israel esperava, dentro da tradição do que significou ser messias no
judaísmo: um líder eloquente, homem de caráter ilibado, profeta e sacerdote para
guiar seu povo rumo à libertação. E quem propunha um messias salvador era a
tradição “farisaico-rabínico” do judaísmo dos tempos de Jesus, na terra de Israel,
e Jesus foi um judeu praticante, de modo que o não reconhecimento de parte de
seu povo não tira a força de sua palavra de libertação. Muitos creram em Jesus em
meio a tantas propostas de libertação.
Lucas 2,21 – “Oito dias mais tarde, quando chegou o momento da circuncisão do menino,
Explor
chamaram-no com o nome de Jesus, como o anjo o chamara antes de ser concebido”. Para
saber mais sobre o seguimento de Jesus nas tradições judaicas, ler Jesus Judeu Praticante,
de Ephraïm, publicado pela Editora Paulinas, em 1998.
Esse ambiente nos remete a pensar que o líder que libertaria o povo de Israel
não estava entre os dirigentes judeus, isso porque a elite judaica estava em aliança
espúria com os dominadores e o messias deveria ser um dirigente reto, temente à
palavra de Deus – e não alguém que se aliava ao dominador, que não professava
a mesma fé de seu povo. Entre os inúmeros pretendentes a messias, Jesus se
encaixava no protótipo do líder esperado pelos judeus: era descendente da casa de
Davi, não estava em aliança com os romanos e ainda exortava o povo à obediência
a Deus, um Deus para todo o povo de Israel – e não um Deus prisioneiro do
Templo e da Lei.
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UNIDADE Messias ou bandidos!
Os seguidores de Jesus criam que era o libertador de Israel, dado que tal crença
não era à toa, pois em sua condenação à morte, uma das acusações foi a de que
era o “Rei dos judeus” (Mt. 27, 37), e para pensarmos que esse homem judeu
da Galileia era o messias esperado pelo povo judeu e que era a esperança para a
libertação, podemos situá-lo dentro da perspectiva redentora, “[...] presente nas
possíveis intenções de Jesus [...]”, para isso, torna-se necessário “situá-lo a partir
da sua descida da Galiléia até Jerusalém, na Judéia, na fase final de seu ministério,
num período-chave dos festejos religiosos judeus, a Páscoa” – trata-se de um
acontecimento cultural com carga político-religiosa muito forte para os judeus.
Dentro desse clima conturbado, Jesus se fez presente como portador da missão
redentora de seu povo, segundo os profetas do Antigo Testamento: “A Páscoa,
evidentemente, sempre foi o fio condutor do espírito salvífico judaico, presente
nas tradições antigas. A futura redenção de Israel, aliás, era esperada realizar-se no
tempo da Páscoa, tempo que Israel estaria se preparando para receber seu Rei” –
e não era qualquer rei, pois deveria ser da descendência de Davi “[...] para reinar
o destino da nação em que espelharia a Era Áurea da Monarquia” (SCARDELAI,
1998, p. 247).
Vários acontecimentos nesse contexto nos levam a crer que grande parte
do povo de Israel cria que Jesus era seu libertador e que estava envolvido na
libertação de seu povo, este que esperava por tal dia e por seu messias, afinal,
“[...] a calorosa recepção e a demonstração popular a Jesus quando adentrava a
Cidade é particularmente impressionante. A atribuição de ‘rei’ acentuou o aspecto
escatológico, herdada de antigo costume de saudar um soberano judeu”, saudação
que vai ao encontro das expectativas que esse povo tinha em relação a Jesus,
pois era “[...] aguardado para restaurar o reinado davídico em Judá, as marcas do
messianismo são claramente expostas: Hosana! Bendito o que vem em nome do
Senhor!” (SCARDELAI, 1998, p. 248).
Em suma, Jesus foi um líder carismático, que carregou em seu contexto histórico
a esperança de salvação para um povo oprimido, de modo que até hoje é tido
pelos cristãos como o verdadeiro messias, aquele que deu sua vida para salvar a
humanidade; em seu tempo, Jesus também foi reconhecido como o libertador por
uma grande parcela de seu povo oprimido pelos poderosos de seu tempo.
Ora, o ato de aclamar publicamente um rei detinha um significado simbólico
através do qual a população manifestava seu apoio em reconhecimento
ao legítimo rei de Israel. Ungir e eleger um rei, ainda que não oficializado
por celebrações e cerimônias, significou um gesto peculiar revolucionário,
incorporado posteriormente nas tradições messiânicas de Israel. Por isso,
os movimentos messiânicos do tempo de Jesus aparecem tão permeados
pelo espírito patriótico e político. Apesar de haver variações e acréscimos
quanto aos pormenores, a narrativa relativa à entrada solene de Jesus em
Jerusalém pode ser tomada como episódio parcialmente histórico que
tem caráter de demonstração messiânica espontânea, ocorrido nas ruas
da Cidade (SCARDELAI, 1998, p. 249).
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Jesus não foi reconhecido oficialmente pela elite de Israel e por parte de seu
povo, o judeu, que muitas vezes seguiu outros homens dentro da tradição messiânica
de Israel e deu fé desse povo na libertação vinda de um messias-rei; mas foi através
da tradição cristã que esse homem-deus se tornou o salvador da humanidade e
permanece vivo o seu nome e a sua história por mais de dois mil anos. A vida
de Jesus é contada e recontada através dos séculos por meio de uma história
teologizada, mas que ganha força de verdade para os que Nele creem e o seguem
até os tempos hodiernos. “Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e
foi quem as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro” (Jo, 21, 24).
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UNIDADE Messias ou bandidos!
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
O essencial de Jesus
CROSSAN, J. D. O essencial de Jesus: frases originais e primeiras imagens. Belo
Horizonte, MG: Jardim dos Livros, 2008.
O nascimento do cristianismo
______. O nascimento do cristianismo: o que aconteceu nos anos que se seguiram à
execução de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2004.
Jesus
______. Jesus: uma biografia revolucionária. Rio de Janeiro: Imago, 1995.
O Jesus histórico
______. O Jesus histórico: a vida de um camponês judeu do Mediterrâneo. Rio de
Janeiro: Imago, 1994.
Paulo e o império
ELLIOT, N. A mensagem anti-imperial da cruz. In: HORSLEY, R. A. (Org.). Paulo e
o império: religião e poder na sociedade imperial romana. São Paulo: Paulus, 2004.
p. 169-184.
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Referências
BRITO, J. G. de. A figura de Jesus Cristo no livro Jesus de Nazaré, de Joseph
Ratzinger. 2014. Dissertação (Mestrado em Teologia) - Universidade Católica
Portuguesa, 2014.
______. Jesus and the spiral of violence. San Francisco: Harper & Row, 1987.
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