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História das Religiões:

Religiões Africanas
e Orientais
Material Teórico
Religiões “Tradicionais” Africanas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Rosenilton Silva de Oliveira

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina F. Moreira
Religiões “Tradicionais” Africanas

• Introdução;
• Dificuldades ao Estudar as Religiões Tradicionais;
• Aspectos das Religiões “Tradicionais” Africanas;
• Distribuição das Religiões no Continente Africano;
• Características Gerais das Religiões Tradicionais Africanas;
• Noção de Deus;
• Características das Religiões dos Complexos Banto e Sudanês.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar um panorama das religiões “tradicionais” africanas, seus
principais aspectos cosmológicos, teológicos e rituais.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
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as redes sociais.

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Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

Introdução
O objetivo central desta Unidade é apresentar um panorama das religiões “tradi-
cionais” africanas, seus principais aspectos cosmológicos, teológicos e rituais. Nesse
sentido, a primeira coisa que nos vêm à mente é: o que, ou quais são as religiões
tradicionais africanas?

A essa dúvida primeira, podemos acrescentar outras: de quais “religiões”, “tra-


dições” ou “África” estamos nos referindo? Seria possível pensar em “religiões
tradicionais europeias” ou “asiáticas”? O judaísmo e o catolicismo ortodoxo seriam
exemplos de “religião tradicional”? E a religião praticada no Egito Antigo? Enfim,
perguntas como essas poderiam multiplicar-se ao infinito, portanto, para começar,
vamos primeiro definir o que estamos classificando como “religiões tradicionais
africanas”, para depois analisarmos mais diretamente os seus aspectos.

Por que será que, na vida cotidiana, continuamos a usar topônimos para classificar gru-
Explor

pos de regiões como se o espaço por si só fosse capaz de determinar os aspectos de uma
cosmologia religiosa?

Dividimos, portanto, este material em três partes: na primeira delas, vamos refletir
sobre os aspectos sóciogeográficos do universo religioso africano e os principais pon-
tos em comum da sua cosmologia; na segunda, apresentaremos algumas caracterís-
ticas dessas religiões e, por fim, na terceira, nos fixaremos nos dois grandes grupos
que influenciaram diretamente a configuração das religiões afro-americanas a partir
do século XVI: os Bantos e os Sudaneses.

Nossa análise será a partir de uma abordagem socioantropológica, e, embora o


fio condutor seja o desenrolar dos acontecimentos seguindo o seu fluxo histórico, as
reflexões serão mais gerais e não ficarão circunscritas a apenas um período histórico
ou a um grupo étnico.

Quando estiver pronto, podemos começar nossa viagem à África e seu univer-
so religioso.

Dificuldades ao Estudar as Religiões Tradicionais


Ao se tratar das religiões tradicionais africanas, algumas dificuldades se sobressa-
em e, de maneira geral, os estudiosos estão de acordo com o fato de que a oralidade
se apresenta como o maior empecilho. Uma vez que esses grupos transmitem seus
conhecimentos míticos e teológicos de geração em geração, a partir dos rituais de
iniciação e durante toda uma vida, sem se valerem de um livro sagrado ou de textos

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escritos, os pesquisadores têm dificuldades em acessar o conteúdo das crenças e de
retraçar suas origens. Ao lado disso, Louis-Vicent Thomas e René Luneau (1995)
acrescentam dois outros obstáculos: o caráter esotérico dessas religiões e a longevi-
dade do ciclo ritual.

Vejamos mais de perto esses aspectos e como eles podem ser contornados.

Oralidade
Diferente das religiões monoteístas (cristianismo, islã e judaísmo) e algumas religiões
de origem oriental, que possuem um livro sagrado ou um conjunto de textos escritos
que explicitam o conteúdo da crença e, em certa medida, organizam e orientam a prá-
tica religiosa, isso não é observado no contexto religioso negro-africano.

É verdade que as religiões africanas colecionam um conjunto de mitos que compõe


sua cosmologia. Tais mitos e suas chaves de intepretação são transmitidos aos iniciados
de maneira oral e, embora hoje tenhamos algumas obras reunindo boa parte dessas his-
tórias, elas são fruto do esforço conjunto de pesquisadores e religiosos contemporâneos.

William Bascom compilou o conjunto de poemas míticos que compõem o complexo jogo
Explor

divinatório de Ifá, usado em muitas religiões do complexo iorubá. No Brasil, Pierre Verger
recolheu um conjunto de mitos dos orixás no livro 1991.

Tem-se, portanto, as narrativas míticas como uma grande fonte de informação so-
bre as religiões africanas. Ao lado delas, o conjunto de informações coletadas pelos
europeus que entraram em contato com esses grupos: funcionários públicos, membros
das expedições militares, viajantes, comerciantes e missionários religiosos. Claro que as
informações coletadas por esses sujeitos, ao serem acolhidas pelos estudiosos, passaram
por depurações a fim de eliminarem alguns traços preconceituosos e interpretações
enviesadas. Infelizmente, parte dos preconceitos que se observa sobre as cosmologias
africanas advém de tais interpretações de suas crenças.

Somente a partir das missões antropológicas (na virada do século XIX para o XX)
é que se começou a coletar informações mais fidedignas sobre as religiões africanas,
seguindo critérios científicos mais confiáveis. Isso infelizmente não impediu que ain-
da fossem cometidos alguns equívocos.

De todo modo, o conjunto de narrativas coletadas ao longo dos anos e as inúmeras


observações e descrições etnográficas são capazes de fornecer elementos suficientes
para compreender o universo religioso tradicional africano.

Um bom exemplo do trabalho dos antropólogos sobre as religiões africanas pode ser en-
Explor

contrado na obra Oráculo, bruxaria e magia entre os Azande, escrito pelo etnólogo
inglês E. E. Evans-Pritchard (2004).

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UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

Esoterismo

Importante! Importante!

O termo esotérico, nesse contexto, refere-se ao caráter secreto das religiões, isto é, ao
fato de que o acesso ao conhecimento a determinados elementos rituais, cosmológicos
e doutrinários só é acessível aos fiéis por meio do processo iniciático sendo, portanto,
vedado aos que não pertencem à religião.

A segunda dificuldade com a qual nos deparamos ao estudar as religiões tradicionais


africanas diz respeito ao seu caráter esotérico, isto é, os conhecimentos dos fundamen-
tos religiosos só são acessíveis aos iniciados na medida em que completam determina-
dos ciclos rituais específicos. Segundo Thomas e Luneau (1995, p.6, minha tradução):
[...] não apenas os fiéis não são aceitos no mesmo grau de iniciação (há, por
exemplo, trinta e três níveis a cumprir entre os pastores Fula), mas, ainda, é
impossível um mesmo indivíduo possuir o conhecimento completo, isto é,
ser iniciado em todos domínios.

Os Fula (Peuls, em francês) são um povo localizado, sobretudo, na África Central, do norte
Explor

africano até o Sudão e na região sudanesa, presentes em cerca de quinze países. Etnia
nômade, versada no pastoreio, atualmente conta com uma população estimada entre 35
e 40 milhões, sendo que a maioria professa a fé islâmica, mas realizam também rituais das
religiões tradicionais. Consulte LOPES, Nei. Dicionário de História da África – séculos XII-XVI.
Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

Considerando, portanto, esse aspecto do segredo, o acesso a determinados aspectos


da crença, não estão acessíveis, nem a todos os iniciados, e muito mais distante aos
pesquisadores. Vagner Gonçalves da Silva (2005), ao tratar desse tema, destacou que
os antropólogos adotaram posturas distintas a fim de acessar esses conhecimentos: há
casos em que eles se iniciam na religião, ou conseguem permissão especial do sacerdote
responsável para assistir alguns rituais específicos, ou fiam-se nas narrativas dos vários
fiéis. É, portanto, a partir da reunião desses vários fragmentos que o entendimento so-
bre essas religiões é formulado. Tal como um quebra-cabeça, as várias descrições etno-
gráficas e suas análises subsidiam novas pesquisas e ajudam a compor o entendimento
sobre esse universo.

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Ciclo Ritual
Aliado ao aspecto esotérico (secreto) dessas religiões está o caráter ritual de suas prá-
ticas. Como fora dito acima, o fiel adquire maior conhecimento sobre a sua crença na
medida em que vai ultrapassando os vários graus de iniciação e pertencimento. Fato é
que essas etapas podem chegar a oitenta anos, em alguns casos (Thomas e Luneau,
1995, p.7), de modo que é quase impossível para um indivíduo vivenciar em sua própria
trajetória todos os rituais. É preciso ter em mente que tais ritos variam de acordo com o
gênero, a idade e ao status social do indivíduo. Assim, em algumas sociedades, raramen-
te um homem terá conhecimento dos rituais pelos quais passa uma mulher, e o contrário.

A estratégia adotada pelos pesquisadores, nesse caso, é semelhante ao anterior:


cada antropólogo descreve e analisa aqueles elementos a que consegue ter acesso
e, a partir desses fragmentos, um entendimento maior é formulado.

Tendo em conta essas dificuldades, Thomas e Luneau advertem que é preciso “des-
confiar das hipóteses fáceis” (1995), isto é, explicações que tentam dar conta da to-
talidade de cada uma das religiões tradicionais africanas sem considerar suas especifi-
cidades. Claro que, a partir do conhecimento acumulado sobre esse tema, podemos
enunciar algumas hipóteses mais gerais (como veremos mais abaixo), significando que,
ao afirmarmos que nessas religiões o culto aos antepassados ocupa e encontra uma
posição central, estamos considerando que, embora os modelos rituais possam variar,
os ancestrais participam da vida social dos vivos.

Aspectos das Religiões “Tradicionais” Africanas


Conforme dissemos na Introdução, precisamos definir algumas categorias antes
de prosseguirmos nossa viagem sobre o universo religioso africano. O primeiro deles
diz respeito justamente ao emprego do termo “africano” à “religião”. Normalmente
não falamos “religiões europeias” ou “religiões americanas”. Entretanto, empregamos
“orientais” para nos referirmos a algumas religiões de origem indiana, japonesa e chine-
sa; “africanas” para os vários povos localizados no continente africano e “ameríndias”
para nos referirmos às cosmologias dos índios americanos. Perceba que boa parte das
religiões praticadas no mundo são, de certa forma, classificadas genericamente a partir
de um “pertencimento geográfico”. Ficam de fora dessa adjetivação toponímica ape-
nas as três maiores religiões monoteístas: cristianismo, islamismo e judaísmo, embora
possamos localizar as origens históricas e geográficas dessas três: o Oriente Médio.

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UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

Por vezes, chegamos a relacionar o islã aos árabes (sobretudo, devido à língua ritual
ser o árabe), ou o catolicismo à Europa (uma vez que a sede da Igreja Católica se en-
contra nesse continente, na Cidade-Estado do Vaticano), ou ainda, podemos identificar
os judeus com os semitas e os conflitos entre Israel e Palestina. Entretanto, em nenhum
desses casos pensamos essas religiões como étnicas, isto é, pertencentes a um grupo
específico, tal como fazemos com os grupos ameríndios, africanos e orientais. Em par-
te, isso se explica pelo fato de que os primeiros estudiosos do fenômeno religioso eram
europeus (e boa parte deles cristãos), que passaram a analisar as outras cosmologias a
partir da experiência cristã. Desse modo, enquanto o estudo das religiões abraâmicas
estava reservado à produção de uma teologia, nos demais casos discutia-se se aquelas
crenças, rituais e liturgias constituíam uma “religião verdadeira” tal como o catolicismo.

Por outro lado, a produção do conhecimento sobre as populações americanas, orien-


tais e africanas ganhou impulso no período colonial, isto é, no momento em que as
potências europeias (sobretudo, França, Inglaterra, Portugal e Espanha) começam a ex-
plorar os continentes americano e africano. Ao lado do processo de evangelização desses
povos nativos, buscou-se também produzir um saber sobre os seus modos de vida, sua
cultura e suas cosmologias. Nesse processo, ao tratar dos aspectos religiosos, elas foram
consideradas como sendo “religiões étnicas”, isto é, pertencentes a um grupo específico,
de modo que o sujeito já nasce dentro de uma religião, portanto, a adesão não se dá por
meio da conversão, como no cristianismo ou no islamismo.

Assim, ao estudar os Azande e os Nuer, o antropólogo E. E. Evans-Pritchard (1978)


procurou descrever todos os aspectos da vida social de cada um desses grupos, sendo a
religião um dos elementos que a compõe. A suposição de que a cada etnia corresponde
uma cultura, uma organização social e uma religião, como um todo orgânico, dominou
os estudos etnográficos a ponto de tais religiosidades serem consideradas como étnicas.
Entretanto, o que se observou ao longo dos anos é que, apesar de cada grupo possuir
uma religião, havia certos elementos que ultrapassavam os limites étnicos e poderiam
ser universalizados. A partir dessa concepção, passou-se a falar em “religiões africanas”
no sentido de que, apesar das especificidades de cada uma, há uma estrutura que per-
passa todas elas. De maneira comparativa, podemos dizer que há muitos cristianismos
(dividido, sobretudo, entre católicos e protestantes ou “evangélicos”), mas há uma mes-
ma “estrutura cristã” que perpassa todas as igrejas.

O termo “tradicional” foi acrescentado às “religiões africanas” justamente para


distinguir aquelas expressões religiosas originárias no próprio grupo (ou região geo-
gráfica), daquelas levadas pelos conquistadores (especialmente o islã e o cristianismo).

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Em síntese, como sublinha Gaarder e Hellern e Notaker (2005, p. 98)
[...] ao agrupar as religiões africanas sob um só rótulo, deve-se ter em mente
que seu número equivale ao de povos existentes na África. Cada uma tem
seu próprio Deus, seus próprios rituais de culto, suas idiossincrasias. Por
outro lado, elas apresentam também muitos traços em comum, pois os
africanos não viveram uma existência estática, isolada. Sua história fala
de diversas migrações, dos contatos que cruzaram as divisões tribais e da
formação de grandes Estados. É necessário notar ainda que a maioria dos
africanos não urbanos são agricultores e criadores de gado. Há apenas
alguns grupos de caçadores-coletores.

Distribuição das Religiões


no Continente Africano
Atualmente, ao falar da presença religiosa na África, é preciso ter em conta não
apenas a presença do cristianismo e do islã (os dois nas suas várias vertentes), mas
também a presença daquelas religiosidades originárias, que eram praticadas antes
do período colonial e continuam até hoje. Como nas demais partes da Terra, o
continente africano transborda em religiosidade.

Na Figura 1, reproduzida por Tshibangu (2010, p. 609), é possível observar a


distribuição religiosa na África.

Mesmo nos países em que o Islã foi declarado religião oficial do estado (aplicando ou
não a sharia), como Marrocos, Tunísia, Argélia, Líbia, Somália, Ilhas Comores e Mau-
ritânia, não é possível observar que a população seja integralmente, ou quase integral-
mente muçulmana. O Egito, por exemplo, que é majoritariamente muçulmano, abriga
uma importante minoria cristã (os católicos coptas), responsável por menos de 10% da
população, proporção semelhante àquela apresentada no Senegal (católicos romanos).
Em muitos países, a proporção da repartição numérica entre cristianismo e islã constitui
um desafio político relevante, como no Sudão, na Etiópia, no Chade, na Nigéria, em
Camarões e na Tanzânia. Alguns destes países declaram oficialmente em sua Constitui-
ção que o Estado é, no tocante à religião, “neutro” (TSHIBANGU, 2010, p. 608), isto
é, não possui uma religião oficial.

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UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

OCEANO Argel Túnis


ATLÂNTICO Rabat TUNÍSIA
MARROCOS
Trípoli
Cairo
El Aiun ARGÉLIA
SAARA LÍBIA
OCIDENTAL EGITO

MAURITÂNIA
Nouakchott MALI
D
ak Ban Biss

BURKINA- NÍGER CHADE


ar jul au

SENEGAL
GÂMBIA -FASSO Cartum JIBUTI
Niamei Lago Chade
GUINÉ- Bamako
SUDÃO Jibuti
Conakry -BISSAU Uagadugu
TOGO Jamena
Freetown GUINÉ
NIGÉRIA
NA

SERRA BENIN ES Addis-Abeba


GA

LEOA Õ
Monróvia Lagos AR REPÚBLICA
ETIÓPIA
AM CENTRO-AFRICANA
Po mé

LIBÉRIA
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COSTA DO MARFIM

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Yaoundé

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GUINÉ EQUATORIAL ZAIRE UGANDA


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Libreville QUÊNIA Mogadíscio


NG

GABÃO RUANDA
CO

Kigali Nairóbi
Brazzaville
OCEANO BURUNDI
Kinshasa Bujumbura Lago Victoria
Cabinda
ATLÂNTICO Lago
ZANZIBAR
TANZÂNIA
Tanganyika Dar es-Salaam
Luanda

L. Malawi
ANGOLA MALAWI
ZÂMBIA
Lusaka Lilongwe
UE
Q

Antananarivo
BI

Harare
M
ÇA

NAMÍBIA ZIMBÁBUE
O

MADAGASCAR
M

BOTSUANA
Windhoek
Gaborone
Maputo
Pretória
Nenhuma tradição que atinja 50% Mbabane
SUAZILÂNDIA
Maseru
Islã: mais de 50% LESOTO
ÁFRICA
DO SUL OCEANO ÍNDICO
Cristianismo: mais de 50%

Religião africana tradicional: 50%

0 500 1 000 milhas

0 800 1 600 km

Figura 1 - Repartição do Cristianismo, do Islã e da Religião Tradicional


africana na África, segundo estimativa de cada região

É importante destacar que a grande influência das religiões tradicionais africanas


não se mede pelo fato de serem ou não majoritárias em algum país, pois como
constituidoras das sociedades elas são, por vezes, praticadas simultaneamente com
a religião majoritária. E mesmo que haja um grande número de africanos que não
realizem tais práticas, o tecido social configurou-se de tal modo que os valores mo-
rais continuam a emanar da antiga crença, sobretudo, no respeito aos ancestrais,
no patrimônio cultural e nos laços familiares.

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Por esse motivo, sem hesitar, etnógrafos e historiadores tendem a afirmar que
na África negra a religião penetra tudo e o africano pode ser definido como um ser
“incuravelmente religioso”.

Importante! Importante!

O sentimento religioso africano pode ser sintetizado na definição de Marcel Griaule


(1966): “um sistema de relações entre o mundo visível dos homens e o mundo do invi-
sível regido por um Criador e por potestades que, sob nomes diversos e sendo manifes-
tações desse Deus único, são especializados nas mais diversas funções”.

Características Gerais das Religiões


Tradicionais Africanas
Abstraindo as especificidades de cada religião, podemos considerar que cada uma
delas comporta em maior ou menor grau, dimensões do animismo, do totemismo,
do culto aos ancestrais (ancestralismo), do naturismo, do fetichismo e do paganismo.

ANIMISMO

FETICHISMO RELIGIÕES TOTEMISMO


TRADICIONAIS
AFRICANAS

CULTO AOS
NATURISMO ANCESTRAIS

Figura 2

Vamos observar mais de perto o significado de cada um desses elementos e como


eles estão presentes nas religiões tradicionais africanas.

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UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

Animismo
Em linhas gerais, o termo animismo designa a crença de que o mundo está povoado
por espíritos (do latim anima, daí animismo) que regem os animais, a natureza e o pró-
prio homem. O etnólogo inglês E. B. Taylor (1832-1917) foi um dos primeiros estudio-
sos a considerar o animismo como sendo a primeira forma de religião experimentada
pelo homem. Nesse sentido, ela pressupõe dois dogmas: “a crença na alma e na vida
futura e, correlativamente, a crença nos deuses tutelares e nos espíritos intermediários”
(LE MOAL, 2013, 3ª ed., p. 72. minha tradução).

Por muito tempo, o termo foi utilizado para se referir de maneira genérica (e, por
vezes, pejorativamente) às religiões tradicionais africanas e, no Brasil, às religiões afro-
-brasileiras (GAARDER, 2005, p. 24). Atualmente, o termo não tem mais pretensão
de designar um sistema religioso, mas
[...] exprime a especialização da vida em figuras e poderes (donde a existên-
cia de almas, gênios, espíritos, ancestrais divinizados, deidades associadas,
derivadas ou intermediárias entre deus e o homem, que animam o universo
e povoam os panteões tradicionais). (THOMAS; LUVEAU, 1995, p. 5.
minha tradução).

Mais do que classificar regimes de crenças distintos, o caráter animista está presente
em todas as religiões tradicionais africanas, na medida em que todas elas dialogam com
o fato de que a existência dos seres é animada por espíritos, os quais colocam todos em
relação. Portando, dizer que uma religião possui elementos animistas passou a ser um
ponto de partida para a investigação, e não mais o resultado da análise. É preciso levar
em consideração que, em alguma medida, algumas religiões orientais e ameríndias
também possuem aspectos do animismo.

Totemismo
Se E. B. Tylor considerou o animismo como a “religião primitiva” dos homens, o
sociólogo Émile Durkheim localiza no totemismo a forma elementar da vida religio-
sa. Gozando de uma longa tradição nos estudos antropológicos da religião, o termo
totem foi emprestado dos Ojibwa, habitantes da região dos Grandes Lagos norte-
-americanos, que o utilizavam para exprimir ligações de parentesco entre sujeitos e
o pertencimento a determinado grupo clânico (cujo nome normalmente derivava de
alguma espécie animal ou vegetal).

De fato, o interesse principal no totemismo deve-se menos ao seu aspecto “re-


ligioso” e mais ao fato de que ele permite entender formas de classificação social e
o estabelecimento de linhagens de parentesco. Na década de 1960, o antropólogo
francês Claude Lévi-Strauss revisitou esse tema para dar-lhe uma nova compreensão.
Enquanto alguns autores consideravam que ao perceber a diversidade na natureza, o

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homem passou a se auto classificar em clãs, tribos e fratrias (adotando espécies ani-
mais e vegetais como totem, isto é, como símbolo distintivo que organiza a vida social),
Lévi-Strauss (1962) inverte a sentença: foi justamente porque os seres humanos se
perceberam diferentes que começaram a classificar a natureza dividindo-a em grupos:
[...] os fenômenos chamados de totêmicos não se traduzem, segundo ele, con-
forme a interpenetração da cultura e da natureza, mas ao contrário, uma fissura
entre essas duas ordens é o que permite sua interpretação. A identificação
nominal ou ritual (interdito alimentar), essa comparação de grupos sociais ou
de indivíduos com espécies animais ou vegetais distintos, resulta de um duplo
movimento do intelecto: perceber a diferenciação das espécies na ordem da
natureza e se servir das parcelas percebidas para se dar conta de uma dife-
renciação no seio da ordem social (DÉSVEAUX, E. Totémisme. In: BONTE,
Pierre; IZARD, Michael. Dictionnaire de l’ethnologie et de l’anthropologie.
Paris: Puf, 2013, 3ª ed., p. 710. Minha tradução).

Do ponto de vista das religiões tradicionais africanas, o totemismo é fundamental


para compreender a afiliação dos fiéis aos deuses tutelares (aos quais são associadas
espécies animais, animais, domínios da natureza, fenômenos atmosféricos e situa-
ções da vida social) e suas restrições alimentares e de parentesco.

O pai da psicanálise, Sigmund Freud também estudou sobre o totemismo, pois localizou
Explor

ali a gêneses do tabu do incesto. Suas conclusões foram contestadas por Lévi-Strauss. Esse
rico debate foi sintetizado por Ángel B. Espina Barrio em Freud e Lévi-Strauss: influências,
contribuições e insuficiências das antropologias dinâmica e estrutural, publicado no Brasil
pela Fundação Joaquim Nabuco, em 2008.

Culto aos Ancestrais


Muitas religiões estabelecem, em algum grau, o culto aos mortos. Entre os cristãos
católicos, por exemplo, existe a possibilidade de uma pessoa ser reconhecida como “san-
ta” e, portanto, capaz de interceder junto a deus por aqueles que a invocarem. Já no
universo das religiões tradicionais africanas, o ancestral ocupa um lugar de destaque, pois
o culto aos ancestrais “tem por objetivo manter a ordem social e de assegurar a autenti-
cidade do culto e das crenças” (THOMAS e LUNEAU, 1995, p. 6).

Mais do que render homenagens àqueles que já morreram, nas religiões tradicio-
nais africanas, podemos observar que a pessoa continua participando do mundo dos
vivos de diversas formas. Essa diferenciação implica também no modo como os gru-
pos percebem a morte e a vida.

A morte não transforma necessariamente uma pessoa num ancestral. Há um con-


junto de rituais que precisam ser observados para que essa passagem ocorra. Do mes-
mo modo, nem todos os mortos são alçados à categoria de ancestral. Nesse sentido,

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UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

é preciso ter em conta a distinção entre os vários tipos de ancestrais: aqueles que
representam uma família ou um clã (ou todo um grupo étnico). Essa posição pode ser
definida por uma relação genealógica real ou mais ou menos fictícia.

No primeiro caso, geralmente, o ancestral é circunscrito a um pequeno grupo


(familiar ou estendido), cujos laços de parentesco podem ser relativamente traçados.
Esse culto de alcance doméstico permite a coesão do grupo. Situação semelhante
podemos observar em algumas sociedades orientais em que são realizados cultos
aos antepassados da família, inclusive mantendo-se em casa pequenos altares em
que são ofertados alimentos, incensos e velas.

Quando falamos de um ancestral cujas linhas de parentesco genealógico são mais


difíceis de serem provadas (dada sua extensão temporal ou geográfica), estamos
diante de um
[...] ancestral mítico, fundadores de um clã, de uma tribo ou de um grupo
étnico. Os ancestrais míticos são, na maioria dos casos, figuras transcen-
dentais, identificadas a animais totêmicos (sobretudo, entre as tribos austra-
lianas e os índios norte-americanos) ou a heróis humanos, os quais, graças
às suas características de ancestrais distantes, lhe são conferidas uma na-
tureza próxima a dos deuses e, em alguns casos, chegam a ser divinizados
(KRAUSKOPFF, 2013, 3ª ed., p. 66. Minha tradução).

Por exemplo, entre os Sudaneses, sobretudo, os Yoruba, muitos dos deuses tutela-
res são ancestrais divinizados fundadores e guardiões de cidades, como Xangô que teria
sido rei de Oyó, ou Oxóssi, que fora rei de Ketu (SILVA, 2005).

Em nossa sociedade contemporânea, a celebração da memória dos entes queridos mortos


Explor

também ocupa um lugar importante. No Brasil, por exemplo, há um feriado nacional reser-
vado para que sejam prestadas homenagens aos defuntos. A celebração de finados assume,
portanto, vários significados nas mais variadas crenças. Quais rituais de reverência aos mortos
você consegue identificar nas várias religiões presentes em nossa sociedade?

Naturismo
Assim como a noção de animismo, o termo naturismo também foi utilizado por
estudiosos evolucionistas para definir as “religiões primitivas”. Trata-se, neste caso,
da crença de que a natureza é animada por almas ou espíritos. Com a crítica às te-
orias evolucionistas, esse modo de interpretação foi desconstruído. Atualmente, se
entende que
[...] longe de reduzir à adoração da natureza, como se acreditou outrora, o natu-
rismo corresponde mais à atitude cosmomórfica, isto é, a percepção do mundo
como um conjunto de significados, como linguagem viva, como um tecido de
mensagens divinas a serem interpretadas. (THOMAS; LUNEAU, 2010, p. 6).

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Importante! Importante!

Não confundir com o naturalismo ou o modo de vida naturista! No primeiro caso, trata-
-se de um movimento literário desenvolvido no final do século XIX por artistas como
Émile Zola. Já a filosofia de vida naturista pressupõe uma unidade do homem com a
natureza, buscando sempre a harmonia entre os seres (vida ao ar livre, consumo de
alimentos naturais, prática do nudismo, etc.)

A compreensão de que a natureza é a manifestação do divino permite que


os crentes constituam suas divindades a partir dessa realidade, isto é, sendo
deus força, calor, luz e vida e estando no céu, os Mosi fazem de seu deus
uma divindade solar, mas eles não adoram o sol. Os Diola, que praticam
o cultivo do arroz, precisam da chuva, que é vida, mas eles não adoram a
chuva. O que se torna objeto de culto são as realidades, suportes eminen-
tes, susceptíveis de restabelecer a força aos homens e ao grupo social e que,
sem ser deus, se apresentam como manifestação direta da força de Deus.
(THOMAS; LUNEAU, 2010, p. 14).

O Evolucionismo social ou cultural foi uma teoria difundida por estudiosos como Edward
Explor

Burnett Tylor, Lewis Henry Morgan e Herbert Spencer, os quais se inspiraram nas teorias da
biologia evolucionistas para explicar as transformações e a diversidade sociocultural da hu-
manidade. Tendo a sociedade europeia do século XIX como paradigma de civilização e desen-
volvimento, os demais povos eram classificados a partir de seu “grau de desenvolvimento”,
nos vários campos do social: parentesco, economia, etc. No caso da religião, o menor nível era
o naturismo, passando pelo animismo, fetichismo, politeísmo, até chegar ao monoteísmo.
Andressa Nunes Soilo apresenta um resumo interessante sobre esse tema. Acesse: SOILO,
Andressa Nunes. Do evolucionismo clássico ao particularismo histórico na antropolo-
gia: principais ideias. Tessituras, Pelotas, v. 2, n. 1, p. 251-261, jan. /jun. 2014.
https://goo.gl/nxZVbV

Fetichismo
Termo bastante controverso, em muitos casos, é utilizado como uma categoria depre-
ciativa das práticas religiosas de origem africana e ameríndia. Nesse sentido, afirma-se
que o fetichismo seria uma forma degenerada da prática religiosa, uma vez que o fiel
estaria “desviando” a sua crença e os atos litúrgicos para seres materiais inanimados, ao
invés de dirigi-los às realidades divinas imateriais, isto é, substituindo a coisa simbolizada
pelo símbolo, ou ainda, a transferência do poder divino para coisas materiais como amu-
letos ou talismãs; designa ainda atitudes “supersticiosas”.

Por meio dessas concepções, muitos missionários cristãos ao observarem os rituais


realizados por esses povos às suas deidades das religiões tradicionais materializadas em
estátuas, pedras, altares, plantas etc., acusaram os africanos de praticarem idolatria.

19
19
UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

Explor
As religiões afro-brasileiras foram classificadas como “animistas-fetichistas” pelos primeiros
estudiosos que se inspiraram nas teorias evolucionistas para analisar o complexo religioso
negro-brasileiro. O médico baiano Raimundo Nina Rodrigues, que foi o primeiro a realizar
uma pesquisa “etnográfica” em terreiros de candomblé, assim nomeou seu livro: O animismo
fetichista dos negros baianos (2006).

Atualmente, os antropólogos utilizam o termo a partir do seu sentido etimológico,


isto é, fetiche designa uma “coisa feita, a manipulação sagrada, manipulação do sa-
grado, ação ordenada pelo homem sobre as potestades sagradas por meio da magia
da palavra e da técnica sacrificial, a qual ilustra a interação universal das forças”.
(THOMAS; LUNEAU, 1995, p. 6).

Entendemos, portanto, que o fetiche não diz respeito às supostas religiões primi-
tivas, ou a incapacidade dos fiéis em distinguir entre o suporte material da deidade
e sua realidade divina. Bruno Latour (2002), ao refletir sobre o culto moderno aos
deuses fetiches, a partir da relação entre os colonizadores europeus e os africanos
(sobretudo, com relação à acusação de que as sociedades africanas seriam fetichistas,
ao contrário dos cristãos vindos da Europa), afirma que
[...] longe de ser esvaziado de sua eficácia, mesmo entre os modernos, o feti-
che parece agir constantemente para deslocar, confundir, inverter, perturbar
a origem da crença e a certeza de um domínio possível. A força que se quer
retirar ao fetiche, ele a recupera no mesmo instante. Ninguém acredita. Os
brancos não são mais antifetichistas do que os negros são fetichistas. Acontece
que, somente os brancos estabelecem ídolos por toda a parte, entre os outros
para em seguida destruí-los, multiplicando por toda parte, entre eles mesmos,
os operadores que disseminam a origem da ação. (LATOUR, 2002, p. 29).

Em Síntese Importante!

“A religião tradicional africana é resultado de uma síntese ponderada de atitudes


organizadas, vaiáveis de acordo com os modos de vida, provavelmente construídas ao
longo do tempo segundo contingencias históricas atualmente perdidas e exprimindo
diversamente a alma africana. Ora, o totemismo, o culto aos ancestrais, o animismo, o
naturismo (ou melhor, o cosmomorfismo) e o fetichismo tornaram-se pontos de vista
não exclusivos, mas compatíveis, talvez complementares, sobre a religião autêntica”.
(THOMAS; LUNEAU, 2010, p. 6)

Uma vez que estabelecemos as características gerais das religiões tradicionais


africanas e entendemos que, ao tomarmos cada uma delas em separado, como
fizeram alguns analistas, corremos o risco de tratá-las de modo pejorativo, vamos
refletir sobre a noção de deus que permeia essas religiões.

20
Noção de Deus
Como você já percebeu, é possível considerar que há na África tantas religiões
tradicionais quanto grupos étnicos; comparativamente, poderíamos dizer que o nú-
mero de cosmologias ameríndias corresponde à quantidade de povos indígenas nas
Américas. Por isso, não estamos apresentando os vários modelos rituais e suas
crenças, mas estamos fazendo o esforço reflexivo de compreender quais são os
elementos estruturantes que perpassam todas as religiões tradicionais africanas. O
objetivo é que você possa ter uma visão geral desse universo, e, caso tenha maior
interesse, aprofunde-se no estudo de um ou outro modelo ritual. Acima de tudo,
estamos desconstruindo certos pré-conceitos ao mostrarmos que as categorias de
classificação empregadas nesse universo possuem conotações distintas, portanto, é
preciso tomar cuidado nas suas utilizações a fim de evitarmos, como no passado,
hierarquizações e valorações das religiões.

Com relação à noção de deus, em geral, essas religiões tradicionais concebem a exis-
tência de um ser supremo, associado à criação, ao céu e a fertilidade, e, por vezes, é
associado à terra e ao criador. Foi ele ainda
[...] o responsável pelos decretos que regulam a sociedade, pelos costumes
a que a tribo tem o dever de obedecer. Com frequência, ele é também o
deus do destino, que governa a vida dos seres humanos e controla a boa
ou má fortuna [sorte/azar] da tribo” (GAARDER, 2005, p. 100).

Além do Criador, há também os deuses secundários (geralmente antropomórficos)


que estão mais próximos dos homens, aos quais são consagrados rituais e preces. Por
fim, gênios, espíritos e ancestrais compõe o panteão, sem necessariamente serem
considerados deuses.

Sendo responsável pela criação de tudo, o Deus Supremo, assume uma posição
distante e apartada dos homens, cujo acesso se dá por meio de demiurgos ou deuses
tutelares. Geralmente, os cultos que lhe são atribuídos são parciais ou indiretos, isto é,
em seu nome são imoladas as vítimas nos ritos sacrificiais.

A fim de conhecer a vontade dos deuses ou para acessar os destinos dos indivíduos
ou da comunidade, os sacerdotes fazem usos de sistemas divinatórios diversos. Tais
oráculos, normalmente, foram outorgados pelos deuses e guardam estreita relação
com a mitologia do grupo. Nesse sentido, para interpretar as mensagens divinas é
necessário que o adivinho possua grande conhecimento da cosmologia sagrada e da
sociedade, o que pressupõe vários graus de iniciação.

Alguns autores tendem a afirmar que as religiões tradicionais africanas são de fato
monoteístas, sendo que as deidades tutelares (ou intermediárias, ou ainda, suplemen-
tares) seriam extensão desse mesmo deus supremo. Nesse sentido, o politeísmo é
negado ou, mais especificamente, é entendido como sendo o modo pelo qual o deus
criador se manifesta.

21
21
UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

Parece que essa forma de conceber o panteão africano tenta impor certa visão
eurocêntrica sobre as manifestações religiosas fora da África, revelando resquícios
do evolucionismo cultural que apresentava o monoteísmo como sendo uma crença
“superior” (ou mais “desenvolvida”) que o politeísmo.

Rompendo com essa oposição entre monoteísmo e politeísmo, Thomas e Luneau


(1995) apresentam-nos uma interpretação sobre os deuses africanos, que nos permite
observar o quão complexo é o universo dessas religiões. Esses autores apresentam as
noções de monoteísmo ontológico e politeísmo litúrgico.
O monoteísmo ontológico coloca em evidência o fato de que as religiões
tradicionais africanas reservam um lugar especial para o Deus-Criador, o
qual se estabelece como o ser supremo que rege o mundo. É ele também
que atribui funções específicas aos seres intermediários, que não sendo
especificamente deuses, são responsáveis em garantir a ordem do cosmos:
gerir os fenômenos naturais (movimento dos astros celestes, das marés,
dos ventos, etc.). Geralmente, não possuem um culto específico, mas
são reverenciados junto com o deus supremo ou os deuses secundários.
Umas análises aprofundadas dessas entidades metafísicas revelam que
elas podem ser consideradas como a materialização ou concretização das
funções divinas (THOMAS; LUNEAU, 1995, p. 10).

Com relação ao politeísmo litúrgico, segundo Thomas e Luneau (1995), sua


prática é tão presente no universo religioso tradicional africano que, por vezes, ofus-
cam a presença do deus-criador. De fato, os deuses secundários ocupam um lugar
importante na crença africana, e são eles que estão presentes no cotidiano dos fiéis,
recebem os sacrifícios e preces, gerem os vários setores da vida humana e da nature-
za. Nas religiões onde o transe é manifesto, são esses deuses que se manifestam nos
corpos dos fiéis e neles dançam, cantam e transmitem os oráculos divinos. Por vezes,
os ancestrais ocupam esse lugar especial no panteão negro-africano.

Os deuses secundários (ou intermediários) são, na sua maioria, antropomórficos, isto


é, assemelham-se muito aos humanos: são dotados de sentimentos (amor, raiva, ciúmes,
alegria, tristezas, são vingativos ou generosos etc.), constituem relações de parentesco
(casam-se, tem filhos, são irmãos etc.) e podem morrer e renascer periodicamente.

Ocupando, portanto, o centro da prática religiosa, os deuses secundários recebem


nomes genéricos (Voduns ou Orixás, entre os Yorubas; Boekiin entre os Diola; Inquices
entre os Bantos; Aziza, entre os Fon e Mina etc.), mas possuem nomes, características
e personalidades próprias. É preciso lembrar que cabe a essas entidades estabelecer a
ligação entre os homens e o Ser-supremo, geralmente muito longe para ser alcançado
diretamente pelos fiéis.

Assim, no momento em que os homens reconhecem a necessidade de dirigir


suas oferendas e preces aos deuses secundários para que sejam atendidos, consi-
deram que o deus-supremo também participa dessas liturgias, e também recebe as
libações e sacrifícios.

22
Por outro lado, e aqui retomamos a noção de totemismo, a organização cultu-
ral se deixa deduzir a partir da organização do panteão. Sem dúvida, Deus pode
ter seus próprios altares (por exemplo, Amma entre os Dogon), mas geralmente
os santuários são destinados às divindades secundárias (como o tempo de Oxum
em Oxogbó, na Nigéria, entre os Yorubas) e as entidades (espíritos e ancestrais)
encarregados de “conduzir” a oferenda para o Deus. Conforme dissemos acima, a
distribuição geográfica e funcional desses locais de culto pressupõe também uma re-
partição das funções sagradas e dos sacerdotes responsáveis por rituais específicos
(THOMAS; LUNEAU, 1995, p. 11).

Considerando a diversidade ritual das religiões tradicionais africanas, descrever as


suas liturgias não é tarefa fácil. Diferente do catolicismo, ou de outras religiões que
possuem livros normativos que orientam as funções dos fiéis e sacerdotes, no universo
africano, é a vivência da religião a partir dos seus múltiplos ritos de iniciação que garante
ao sujeito o conhecimento paulatino de suas práticas. Mesmo assim, tal como afirma-
mos acima, a divisão das funções sagradas entre vários membros dificulta (e por vezes
impede) que um só sujeito detenha todo o conhecimento sobre o culto. De modo geral,
podemos observar duas classes de sacerdotes: os adivinhos e os curandeiros. Em alguns
casos, a mesma pessoa pode desempenhar as duas funções.

Cabe ao adivinho a interpretação das mensagens divinas, atender os consulentes


(transmitindo os vaticínios, aconselhando e até mesmo diagnosticando os males
físicos ou espirituais que os afligem). As práticas divinatórias variam bastante, mas
normalmente pressupõe o emprego de objetos (búzios, como entre os Yorubas;
vegetais, entre os Bantos; ossos e madeiras entre os Chona; galinhas entre os Azande
etc.) e narrativas sagradas como mitos e poemas. Em alguns casos, o uso dos objetos
está relacionado à interpretação das narrativas míticas, como ocorre no sistema
divinatório de Ifá, na Nigéria.

Importante! Importante!

Não cabe ao adivinho apenas “tirar a sorte” com os números ou outros métodos, mas
interpretar a respostas dos deuses e transmiti-la ao consulente. Se ele for também um
curandeiro, deverá consultar as entidades sobre qual terapêutica deve ser empregada
para resolver o problema ou garantir o sucesso da empreitada.

No caso do curandeiro, sua responsabilidade é manipular o sagrado propriamente


dito: dirigir os cultos e os ritos, iniciar os neófitos, perscrutar os desejos dos deuses
(ouvindo os adivinhos) e aplicar os feitiços. Cabe também a esse sacerdote, a cura
das doenças físicas e espirituais por meio da realização de efusões, poções, remédios,
venenos e banhos rituais. Seu conhecimento recai, portanto, não somente sobre o
conteúdo da crença e seus rituais, mas também abrange a fauna e a flora que com-
põem a paisagem onde o grupo está localizado. Há diferentes graus de sacerdotes e

23
23
UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

a cada um deles é atribuída funções específicas, por exemplo, se há sacrifícios de ani-


mais, pode haver uma pessoa responsável pela imolação e outra pela manipulação do
animal sacrificado, seja para oferecer aos deuses, ou servi-lo numa refeição comunal
para toda a comunidade.

O sacrifício ocupa um lugar central nas religiões, seja de modo simbólico, como no cristianismo,
Explor

ou com a imolação de animais (como no islã, no judaísmo e nas religiões de origem africanas),
ou de vegetais e minerais (como nas religiões de origens africanas e orientais), pois eles per-
mitem restabelecer a ordem e a energia do universo, dos deuses e dos homens. Marcel Mauss e
Hubert, no livro Sobre o Sacrifício (2005), analisam esse fenômeno religioso.

No ato de manipular o sagrado, o emprego de artefatos materiais é acompanha-


do pela pronúncia de palavras sagradas, em forma de prece ou canto. A linguagem
não é apenas instrumento de comunicação, mas é expressão da força criadora.
Se a divindade cria a partir da sua palavra e seu sopro sagrado, por meio da ação
ritual e da prece do sacerdote, a criação é prolongada e a ordem recolocada.
“A palavra ritmada (em forma de oração ou canto sagrado) não está apenas na
origem do mundo, mais ainda, ela constitui o tecido ontológico do qual é feito o
universo.” (THOMA; LENEAU, 1995, p.18, minha tradução).

Em Síntese Importante!

“Os panteões africanos são sistemas orgânicos de símbolos, ponto sobre o qual os an-
tropólogos africanistas têm grande interesse em investigar. O pensamento simbólico
joga, portanto, sobre duas faces: a representação ou expressão, e com a intervenção. Ou
mais exatamente, ela tem quatro finalidades: a) senso econômico, pois ela resume, con-
densa e aproxima; b) uma função operatória, pois é um verdadeiro jogo de permutações
que torna possível a passagem da coisa simbolizada para os diversos elementos do
campo simbólico; c) um valor de uso, que lembre as regras de ação e mostra a união
da obrigação e do desejável; d) função de sugestão (ela quebra a imaginação) ou expli-
cação (é o índice mais seguro de correspondências e participações). Enquanto imagem,
ela é figurada; como hierofania, torna-se potência.” (THOMA; LENEAU, 1995, p. 31).
Explor

Hierofania: é a manifestação visível do sagrado.

Agora que já refletimos sobre as principais características das religiões tradicio-


nais africanas, vamos observar alguns aspectos dos complexos Banto e Sudanês,
pois foi a partir desses grupos que foram constituídas as religiões afro-americanas
a partir do século XVI.

24
Características das Religiões dos
Complexos Banto e Sudanês
Para além do que já dissemos anteriormente sobre as características rituais e cos-
mológicas das religiões tradicionais africanas, é importante ter em mente que os
aspectos geográficos e históricos também influenciam nas crenças e suas práticas.
Sem dúvidas, a cada grupo étnico uma língua, uma cultura e uma religião, apesar
dos aspectos estruturais em comum que apontamos aqui. Essa grande diversidade
cultural, social e religiosa africana, costuma ser agrupa pelos pesquisadores a partir
de um referencial: os troncos linguísticos.

Assim como é feito na Europa, em que podemos observar grandes grupos linguís-
ticos como as línguas “neolatinas” (francês, italiano, português, romeno, espanhol,
galego etc.), na África, os grupos foram organizados a partir das raízes comuns de suas
línguas. Nesse contexto, temos dois que se destacam, uma vez que foi a partir deles que
vieram, de maneira forçada para a América, os africanos em situação de escravidão:
Sudaneses e Bantos.

Como se vê no mapa abaixo, os Sudaneses estendem-se desde a costa oeste afri-


cana (do atual Senegal) até o Golfo da Guiné, passando pelo Sul do atual Camarões,
sendo limitado pelo Rio Nyong. Nessa região, há um conjunto de grupos étnicos com
suas cidades-estados, suas línguas, cultura e religiões.

Os povos que viviam nesta parte da floresta guineense e na savana circun-


dante eram os fon, ou aja, da atual República do Benin, os iorubas (na atual
Nigéria), os ijó, do delta do Níger ao centro, os ibo, a Nordeste do delta, os
ibíbio e, diversas etnias dos Camarões Meridional. (ALAGOA, 2010. p. 509)

Para o Brasil, vieram os iorubás e os nagôs (ijexá, egbá, entre outros), jejes (ewe ou
fon), fanti-achantis e também muitos que praticavam o islã, além das religiões tradicio-
nais africanas: haussás, tapas, peuls, fulas e mandingas.

A dificuldade em estabelecer com clareza a origem dos africanos que vieram


para o Brasil dá-se, sobretudo, pelo fato de que muitos homens e mulheres foram
aprisionados no interior do continente e enviados para a América ou Europa a
partir de postos localizados na costa. Nesse processo, seus laços de parentesco e
seus nomes eram apagados.

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UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

Continente Africano
Reinos, cidades e grupos étnicos pré-coloniais

Península
Ibérica Roma Constantinopla
Granada
Arq. dos Açores Turquia
Tânger Cartago
Ilha da Madeira Fez
Palestina
Arq. Canárias
Alexandria
Cairo Gol
Pérsia
fo P
Egito Medina
érs
ico
Cabo Bojador
Forte de Meca
Arguim Península Índia
Arquipélago de Gana Tombuctu Meroé Arábica
Cabo Verde Songai Núbia Axum
Gaó Canen
Bambuk Mali Senar
Jené Darfur en
Bure Bornu de Ád
Oyo Golfo
Daomé Etiópia
OCEANO Abomé Ifé
Benin
ATLÂNTICO Axante Alada
Golfo de Benin
São Tomé
Forte de e Príncipe
São Jorge
da Mina Loango Congo
Pinda
Ambiz Ambula Zanzibar
LEGENDA Luanda
Malamba Quiloa OCEANO
Sudaneses Cazembe Comores ÍNDICO
Lozi Moçambique
Bantos Angoche
Madagascar
Quelimane
Monomotapa Sofala

Inhambane

Figura 3 - O Continente Africano


Fonte: portaldoprofessor.mec.gov.br

Com relação aos Bantos, eles compõem um dos maiores troncos linguísticos, reu-
nindo centenas de línguas e grupos. Localizados na África Central, estendem-se desde
o Golfo do Benin, ao sul do atual Camarões (limitados ao norte pelo Rio Nyong), até o
leste da África do Sul, compreendendo a oeste o arquipélago de São Tomé e Príncipe
e a leste, até Moçambique. Essa vasta extensão territorial forneceu a maior parte dos
africanos que foram trazidos para o Brasil. Entre congos, angolas e moçambiques,
vieram para o continente americano: angolas, caçanjes e benguelas.

26
Com relação à religião, é importante destacar, como assinala Vagner Gonçalves
da Silva (2005, p. 29)
[...] os contatos ente as várias nações africanas e entre estas e os bran-
cos já eram frequentes em períodos anteriores à deportação dos grupos
negros para o Brasil. Devido às relações de aliança ou de dominação
entre os reinos africanos, era comum que cultos e divindades se di-
fundissem de uma região para outra, como a adoração pelos iorubás
de alguns deuses do Daomé e vice-versa. O islamismo, proveniente da
África Oriental, também já havia se estendido até a costa ocidental, e o
colonialismo europeu, a partir do século XVIII, intensificou o contato re-
ligioso entre brancos e negros. Pela ação da catequese religiosa, muitas
tradições étnicas foram transformadas.

Vimos, portanto, nessa Unidade, que as religiões tradicionais africanas, na sua


diversidade de crenças e ritos, possuem elementos estruturantes que podem ser
identificados: a oralidade na transmissão dos conhecimentos, o aspecto iniciático
(que confere graus distintos de participação no culto), o politeísmo, o culto aos
ancestrais (por vezes divinizados), a presença do totemismo, do animismo e do
fetichismo. Vimos, ainda, que os aspectos geográficos e linguísticos não impedem
os diálogos culturais entre os grupos e a permuta de símbolos e ritos.

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UNIDADE Religiões “Tradicionais” Africanas

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Os Mestres Loucos, 1995
https://youtu.be/z2jG3rQ0MNA

 Leitura
Os Mestres Loucos
https://goo.gl/yKnp
De Africano a Afro-Brasileiro: Etnia, Identidade, Religião
PRANDI, Reginaldo. De Africano a Afro-Brasileiro: Etnia, Identidade, Religião. Revista Usp, São
Paulo, N.46, Junho/Agosto 2000. P. 52-65. Resumo: O artigo trata da presença negro-africana
no Brasil, ressaltando suas origens bantu e sudanesas.
https://goo.gl/3W1y5Y
História Geral da África - V: África do Século XVI ao XVIII
OGOT, Allan Bethwell (ed.). História geral da África, V: África do século XVI ao XVIII. Brasília:
UNESCO, 2010. Resumo: Esse volume da coleção História geral da África, descreve e analisa os
principais povos que compõe o continente africano, realçando aspectos históricos, econômicos e
sociais. Os capítulos 15 (Do delta do Níger aos Camarões: os fon e os iorubas, p. 519), 19 (O Reino
do Congo e seus vizinhos, p. 647) e 29 (A história das sociedades africanas de 1500 a 1800, p.
1057) são especialmente bons para aprofundar os conhecimentos sobre alguns grupos que foram
atraídos para o Brasil durante o período colonial brasileiro.
https://goo.gl/W5sdpv
Traços do Proprium Cultural Africano e sua relação com o Sagrado
CANTARELA, Antonio, Geraldo. Traços do proprium Cultural Africano e sua relação com o
Sagrado. Horizonte: revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, 2013, Vol.11(29),
pp.88-108. Resumo: O artigo reflete sobre o princípio do “sagrado” e sua relação com os demais
aspectos das culturas africanas.
https://goo.gl/iRi5EY

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Referências
ALAGOA, E.J. Do delta do Níger aos Camarões: os fon e os iorubas. In: OGOT,
Bethwell Allan. História geral da África, V: África do século XVI ao XVIII. Brasília:
UNESCO, 2010. p. 509.

BARRIO, Ángel B. Espina. Freud e Lévi-Strauss: Influências, Contribuições e


Insuficiências das Antropologias Dinâmica e Estrutural. Recife: Fundação Joaquim
Nabuco em 2008.

BASCOM, William. Ifá Divination: communication between gods and men in


West Africa. Bloomington and Londres: Indiana University Press, 1991.

DÉSVEAUX, E. Totémisme. In: BONTE, Pierre; IZARD, Michael. Dictionnaire


de l’ethnologie et de l’anthropologie. Paris: Puf, 2013, 3ª ed.

EVANS-PRITCHARD, E. E. Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio


de Janeiro: Zahar. 2004.

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l’ethnologie et de l’anthropologie. Paris: Puf, 2013, 3ª ed.

LOPES, Nei. Dicionário de História da África – Séculos XII-XVI. Belo Horizonte:


Autêntica Editora, 2017.

MAUSS, MARCEL & HUBERT, Henri. Sobre o sacrifício. São Paulo:


Cosac&Naify, 2005.

NINA RODRIGUES, Raimundo. O Animismo Fetichista dos Negros Baianos.


Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional/Editora UFRJ, 2006.

SOILO, Andressa Nunes. Do Evolucionismo Clássico ao Particularismo His-


tórico na Antropologia: Principais Ideias. Tessituras, Pelotas, v. 2, n. 1, p. 251-
261, jan. /jun. 2014. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.
php/tessituras/article/view/2541

THOMAS, Louis-Vicent; René Luneau. Les religions d’Afrique noire: textes et


traditions sacrés. Paris : Stock, 1995.

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Você também pode gostar