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N° USP 11283592
Cultura Árabe II
pp. 212-212 O desencanto com o domínio otomano cresceu após a Revolução dos Jovens
Turcos em 1908. Embora inicialmente apoiados pelos árabes, os Jovens Turcos buscaram
fortalecer seu controle sobre as províncias árabes de maneira mais rigorosa, promovendo
medidas centralizadoras, como a imposição do turco como língua oficial. Essas políticas,
destinadas a fortalecer os laços com o império, inadvertidamente incentivaram um movimento
nacionalista emergente. Na década de 1910, intelectuais e oficiais do exército formaram
sociedades nacionalistas secretas, buscando a independência árabe do domínio otomano.
Enfrentando desafios quase intransponíveis devido à repressão otomana, esses nacionalistas
buscaram apoio externo através dos consulados europeus. A Primeira Guerra Mundial se
tornaria o cataclismo necessário para abalar o domínio otomano no mundo árabe.
pp. 213-216 O Império Otomano ingressou na Primeira Guerra Mundial em aliança com a
Alemanha em novembro de 1914, apesar de preferir evitar o conflito devido ao cansaço
resultante de conflitos anteriores. O governo otomano inicialmente buscava uma postura
defensiva em relação à Grã-Bretanha ou à França, mas as potências da Entente não estavam
dispostas a compromissos vinculantes, especialmente devido às preocupações com as
ambições territoriais russas. Enver Paxá, líder dos Jovens Turcos, admirador da Alemanha,
liderou negociações secretas e assinou um tratado de aliança em agosto de 1914. Os alemães
esperavam usar o papel titular do sultão como califa para fomentar uma jihad contra
Grã-Bretanha e França. Embora o chamado à jihad tenha tido impacto limitado
internacionalmente, gerou preocupações em Paris e Londres.
pp. 216-220 Após os otomanos entrarem na Primeira Guerra Mundial ao lado da Alemanha,
os países da Entente começaram a planejar a divisão do Império Otomano no pós-guerra. Os
russos propuseram anexar Istambul e os estreitos ligando o mar Negro e o Mediterrâneo. A
França planejava anexar a Cilícia e a Grande Síria, incluindo a Palestina. A Grã-Bretanha, ao
considerar suas próprias estratégias, formou o Comitê de Bunsen para analisar as vantagens
pós-guerra, resultando no desejo de manter o golfo Pérsico e controlar toda a Mesopotâmia.
Durante a guerra, os britânicos negociaram acordos separados para a divisão dos territórios
árabes otomanos, incluindo um reino árabe independente, a partilha da Síria e Mesopotâmia
com a França e a promessa de um Estado judeu na Palestina. A diplomacia britânica
pós-guerra enfrentou o desafio de cumprir promessas contraditórias.
Um ponto crucial foi a correspondência entre o xarife de Meca, Hussein ibn Ali, e Sir Henry
McMahon, que prometeu o reconhecimento britânico de um reino árabe independente se
liderasse uma revolta árabe contra os otomanos. As negociações envolveram limites
territoriais, com McMahon concordando com as demandas do xarife, com algumas ressalvas.
Em 1916, a revolta árabe começou, liderada pelo filho de Hussein, o emir Faisal. T. E.
Lawrence desempenhou um papel significativo sabotando a ferrovia otomana. Embora a
revolta árabe tenha alcançado muitos objetivos, a lealdade dividida e a resistência otomana
em algumas áreas apresentaram desafios. A conquista de Damasco em 1918, porém,
assegurou a maior ambição da revolta árabe, aguardando agora o cumprimento das promessas
britânicas.
220- 227 No momento decisivo de dezembro de 1917, a Grã-Bretanha se viu confrontada com
suas promessas contraditórias. A Declaração Balfour, discutida abertamente, e o Acordo
Sykes-Picot, secreto, delinearam os objetivos britânicos nos territórios árabes. Para acalmar os
aliados árabes, os britânicos e franceses emitiram uma declaração pública em novembro de
1918, enfatizando a emancipação dos povos oprimidos pelos turcos e a formação de governos
locais por escolha das populações. No entanto, essas declarações tiveram pouco impacto nos
acordos imperiais anglo-franceses.
Entre janeiro e junho de 1919, na Conferência de Paz de Paris, líderes da Entente, como Lloyd
George e Clemenceau, buscaram redefinir o mapa do mundo árabe e cumprir seus objetivos
imperiais. O presidente americano Wilson, com ideais idealistas, falou sobre
autodeterminação para as populações colonizadas. Faisal, líder da revolta árabe, apresentou
suas aspirações na conferência, buscando independência imediata para a Grande Síria e o
Hejaz, aceitando intervenções na Palestina e Mesopotâmia. Mesmo com concessões, ele
mantinha a visão de uma eventual união sob um governo soberano.
pp. 227-234 A Comissão King-Crane, liderada por americanos, revelou-se uma missão
enganosa devido à recusa britânica e francesa em nomear representantes, transformando-a em
uma delegação americana unilateral. Apesar disso, o Relatório King-Crane oferece uma
análise precisa das opiniões políticas na Síria em 1919. Nomeados por Wilson, Henry King e
Charles Crane, com amplo conhecimento do Oriente Médio, partiram em maio de 1919 para
avaliar as aspirações dos povos árabes na região.
O Congresso Geral da Síria, improvisado por Faisal, apresentou uma resolução de dez pontos
à Comissão, expressando a opinião do povo sírio e do governo de Faisal. Demandavam
completa independência política, estabeleciam fronteiras geográficas e rejeitavam o mandato
da Liga das Nações. O relatório de King e Crane, baseado nessa resolução, recomendou a
criação de um Estado sírio único sob a monarquia constitucional de Faisal, com um mandato
limitado, preferencialmente pelos EUA ou pela Grã-Bretanha.
O relatório, entregue à delegação americana em Paris em agosto de 1919, foi arquivado sem
consulta pública. Somente três anos depois foi tornado público, quando a divisão do mundo
árabe entre Grã-Bretanha e França já estava concluída. O emir Faisal, sem conhecimento do
conteúdo, esperava que o relatório beneficiasse as aspirações árabes.
pp. 234-243 A prisão de Saad Zaghloul e seus colegas desencadeou uma resposta pública
imediata e violenta no Egito em 1919. A população se revoltou em manifestações planejadas e
espontâneas que se estenderam por centros urbanos e áreas rurais, envolvendo diversos
setores da sociedade egípcia. A revolta iniciou-se em 9 de março de 1919, quando estudantes
vandalizaram infraestruturas associadas ao domínio britânico.
A resposta feminina foi notável. Lideradas por figuras como Huda Shaarawi, mulheres
egípcias se envolveram ativamente na causa nacionalista. Em março de 1919, ocorreu a
primeira manifestação feminina, confrontando as tropas britânicas em busca do direito de
autodeterminação prometido por Woodrow Wilson. O enfrentamento simbólico encorajou
nacionalistas em todo o país, demonstrando o poder da resistência feminina.
Huda Shaarawi, uma figura proeminente, teve uma jornada significativa. Seu casamento
adolescente com um primo idoso a incomodava profundamente. Durante a separação,
Shaarawi se desenvolveu politicamente, organizando atividades públicas para mulheres e
estabelecendo a Associação Intelectual das Mulheres Egípcias em 1914. Esse período
preparatório culminou com a fundação do Comitê Central das Mulheres Wafdistas em 1919,
marcando a criação do primeiro organismo político feminino no mundo árabe.