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Ensino de História: (seleção e organização de conteúdos históricos, metodologias do ensino de

História, trabalho com documentos e diferentes linguagens no ensino de História). ................................1

Bahia: primeiros grupamentos humanos e sítios arqueológicos. .......................................................14

A questão da identidade nacional na Historiografia brasileira. ..........................................................20

Economia, Sociedade e Cultura na Antiguidade: as primeiras civilizações do Oriente, a civilização


grega e a romana. .................................................................................................................................30

A Idade Média: a formação da Europa medieval, a geopolítica da expansão do cristianismo, o


feudalismo a transição para o capitalismo. ............................................................................................51

Idade Moderna: o renascimento cultural e comercial; o absolutismo monárquico; a reforma e a contra


reforma. .................................................................................................................................................59

As grandes navegações no século XV: partilha de terrascoloniais, economia mercantil e regime de


monopólios, fortalecimento da burguesia mercantil. ..............................................................................69

O tráfico atlântico, a escravidão africana e a diáspora dos povos africanos. A América antes dos
europeus: populações nativas, organização social e cultural. Os povos indígenas da Bahia pré-
colonial.......... .........................................................................................................................................79

O Brasil Colônia: a sociedade, a economia, a atuação dos jesuítas. A crise do sistema colonial no
Brasil: rebeliões locais e o processo de emancipação política. ..............................................................89

Iluminismo e Revolução Francesa. .................................................................................................103

A afirmação do capitalismo e do liberalismo: Revolução Industrial, Ideologias do século XIX


(liberalismo, socialismo utópico e científico, doutrina social da igreja, anarquismo). ............................113

Brasil Imperial: sociedade escravista, abolicionismo e crise do Império. .........................................126

1
História da Bahia: a sociedade baiana no período colonial; o processo de ocupação e produção no
espaço baiano; a Bahia e o tráfico interprovincial de escravos. Resistência de negros e indígenas nos
períodos colonial e imperial da História do Brasil. ...............................................................................152

Brasil Republicano: República Velha, Era Vargas, Populismo, Ditadura Civil Militar, redemocratização
e contemporaneidade. .........................................................................................................................180

A Bahia no processo de Independência: o 2 de Julho e seu significado político. Canudos: messianismo


e conflito social. ................................................................................................................................... 234

Mundo contemporâneo: da Primeira Guerra Mundial à Globalização. Os países BRIC: coalizões,


impasses e desafio geopolíticos no capitalismo. .................................................................................234

Os povos indígenas da Bahia de hoje..............................................................................................276

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1381340 E-book gerado especialmente para DIEGO SALES DE OLIVEIRA
Ensino de História: (seleção e organização de conteúdos históricos,
metodologias do ensino de História, trabalho com documentos e diferentes
linguagens no ensino de História).

Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante
todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica
foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida
conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente
para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores@maxieduca.com.br

Olá candidato(a). Optamos por não alterar a ordem do edital para fazer uma divisão entre história
geral, brasileira e regional. O edital segue uma indicação cronológica, que apesar de seguir uma
linha coerente, por vezes jogará conteúdos diferentes como “Canudos e Primeira Guerra Mundial”
em sequência.
Caso você tenha alguma dúvida, por favor entre em contato conosco, nossa equipes de tutores
está à disposição.

Ensino de História

Metodologia de ensino - diferentes concepções1

Etimologicamente, considerando a sua origem grega, a palavra metodologia2 advém de methodos, que
significa META (objetivo, finalidade) e HODOS (caminho, intermediação), isto é caminho para se atingir
um objetivo. Por sua vez, LOGIA quer dizer conhecimento, estudo. Assim, metodologia significaria o
estudo dos métodos, dos caminhos a percorrer, tendo em vista o alcance de uma meta, objetivo ou
finalidade.
Partindo dessa formulação um tanto simplista, a metodologia do ensino seria, então, o estudo das
diferentes trajetórias traçadas/planejadas e vivenciadas pelos educadores para orientar/direcionar o
processo de ensinoaprendizagem em função de certos objetivos ou fins educativos/formativos.
A nosso ver, essa conceituação genérica e abstrata esclarece tudo e não diz nada. Nela cabe a prática
de qualquer educador, seja ele conservador, fascista, humanista, progressista, servindo, enfim, para
todos, como se todas as concepções e práticas metodológicas fossem semelhantes e pouco importasse
diferenciá-las.
Durante muito tempo, repetimos e utilizemos de tal conceituação de metodologia. Porém, com o
decorrer do tempo, fui me dando conta de que o conceito de metodologia do ensino, tal como qualquer
outro conhecimento, é fruto do contexto e do momento histórico em que é produzido. Sendo assim, talvez
não exista apenas um conceito geral, universalmente válido e a histórico de metodologia, mas sim vários,
que têm por referência as diferentes concepções e práticas educativas que historicamente lhes deram
suporte. Daí, fomos buscar na própria história das ideias e teorias pedagógicas algumas pistas que
fundamentassem nossas hipóteses. Nessa busca, deparei-me com pessoas e textos que, como eu,
estavam interessadas em questionar esse mesmo conceito genérico de metodologia do ensino, cujos
trabalhos publicados, com as mais diversas abordagens, refletiam essa mesma preocupação.

Metodologia do Ensino, na concepção tradicional de educação


Conforme é possível perceber, por intermédio do texto de VEIGA, a concepção tradicional de educação
enfatiza a visão de que metodologia do ensino consiste num artifício que permite ensinar tudo a todos, de
forma lógica. Lógica esta que seria própria das inteligências adultas, plenamente amadurecidas e
desenvolvidas, e que possuem uma certa posição de classe (cientistas, filósofos, pesquisadores, etc.).
Contudo, como afirma TITONE, o formalismo metodológico prestou notáveis serviços à metodologia
na organização lógica do processo de instrução, mas conserva os defeitos essenciais, tais como o seu
intelectualismos unilateral e abstrato, pois, nesta visão, ao educador não interessam nem os conteúdos,
nem os sujeitos, nem os contextos, em que uma determinada prática educativa acontece. Nenhum
dessses três elementos são considerados estruturantes do método didático.

1 Referência: Revista Escola


2 Texto adaptado MANFREDI, S. M. METODOLOGIA DO ENSINO - Diferentes Concepções.

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Na concepção tradicional de educação, a metodologia de ensino é entendida, em síntese, como
um conjunto padronizado de procedimentos destinados a transmitir todo e qualquer
conhecimento universal e sistematizado.

Metodologia do Ensino, na concepção escolanovista de educação


A concepção de educação escolanovista faz de alguns princípios (individualidade, diferenças
individuais, ritmos diferenciais, potencialidades individuais e liberdade) os pilares que vão sustentar a sua
concepção de metodologia do ensino. Esta é entendida como um conjunto de procedimentos e técnicas
(neutras) que visam desenvolver as potencialidades dos educandos, baseando-se nos princípios: da
atividade (no sentido de aprender fazendo, experimentando, observando), da individualidade
(considerando os ritmos diferenciais de um educando para outro), da liberdade e responsabilidade; da
integração dos conteúdos.
Nessa concepção, em que o educando torna-se o centro do processo educativo/formativo, as relações
educando-educador assumem um caráter eminentemente subjetivo, afetivo e individualizante. Para esta
perspectiva educacional, a metodologia do ensino deve centrar-se no processo de aquisição de atitudes,
tais como calor humano, empatia, consideração positiva incondicional. A metodologia do ensino é, então,
“privatizada”, pois o crescimento pessoal, interpessoal e integral é desvinculado das condições
socioeconômicas e políticas em que se dá.

A defesa dos chamados métodos ativos e a proposta de dar vez e voz aos alunos no processo de
aprendizagem, que representam duas ideias chaves da concepção escolanovista de educação e de
metodologia do ensino, subvertem o princípio da relação poder-submissão, transformando a relação
pedagógica em uma relação mais simétrica de afeto-camaradagem.
A concepção escolanovista de educação, ao deslocar o foco para o aluno (suas necessidades, estágio
de desenvolvimento, interesses e motivações), no processo de ensinoaprendizagem, vai provocar uma
verdadeira revolução na metodologia do ensino, que será tomada como um campo de experimentação,
um laboratório que servirá para testar os mais variados métodos de ensino, também chamados de
métodos ativos. Tais métodos são assim classificados: métodos de trabalho individual (Método
Montessori; Método Mackinder; Plano Dalton); métodos de trabalho individual/coletivo, que procuram
harmonizar os dois tipos de atividades (Sistema Winteka; Plano Howard)); métodos de trabalho coletivo,
que, sem renunciar ao trabalho individual, acentuam os aspectos da colaboração (Método de Projetos;
Método de Ensino Analítico ou Global); métodos de caráter social, que são aqueles que priorizam os
aspectos ético-sociais (Cooperativas; Sistemas de Auto-gestão; Comunidade Escolar).
Independentemente das diferenças existentes entre os métodos ativos mencionados, todos trazem
alguns elementos comuns de renovação: a importância da atividade do aluno; a necessidade de reordenar
e adequar os conteúdos, considerando as características específicas de cada realidade particular. Além
disso, redefinem o papel que o professor/formador deve assumir na condução do processo educativo,
qualificando-o de: orientador, norteador ou condutor do processo. Assim, em nome da auto-gestão e da
autonomia, encontraremos posições as mais diferenciadas, desde aquelas que postulam a eliminação da
figura do professor, até aquelas que o substituem pela figura do psicólogo, ou ainda pela de um
coordenador de atividades e orientador dos trabalhos dos alunos. Instauram-se, dessa forma, os mitos
da não diretividade e da democracia como democratismo.
A visão liberal de mundo que norteia essas inovações metodológicas, contudo, não conseguiu
ultrapassar os muros de algumas poucas escolas experimentais, que foram o palco dessas vivências. Isto
porque se esbarrava com as desigualdades socioeconômicas e políticas engendradas pelas relações de
produção e trabalho capitalistas, que eram camufladas pela concepção liberal-burguesa de sociedade e
de educação, que, direta ou indiretamente, inspirava a maioria das novas propostas metodológicas.
Fugiam à regra aquelas que estavam voltadas, ainda que ingenuamente, para a transformação da
sociedade, em uma perspectiva de desenvolvimento comunitário e autogestionário. A concepção
escolanovista de metodologia do ensino nunca se deu conta de sua utopia libertadora tinha que se
enfrentar com os próprios determinantes estruturais (econômicos, sociais e políticos) que a mantinham
prisioneira.
Na concepção escolanovista de educação, a metodologia do ensino é entendida, em síntese, como
uma estratégia que visa garantir o aprimoramento individual e social.

Metodologia do Ensino, na concepção tecnicista de educação


Nos anos sessenta, tendo como centro de irradiação os EUA e tomando por base alguns dos princípios
da concepção de metodologia da escola ativa, desenvolve-se a tendência denominada tecnologia
educacional. Tal concepção transportará para a metodologia do ensino as diretrizes do planejamento

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racional e eficiente adotado nas modernas empresas capitalistas e baseado nos princípios da
maximização da eficiência e da eficácia na relação objetivos-meios-resultados. É a fase em que a
metodologia do ensino passa por um processo de taylorização e de modernização tecnológica, em que
se desenvolvem técnicas de operacionalização dos objetivos educacionais, tendo em vista uma melhor
programação das atividades e práticas de ensino, práticas estas que são cuidadosamente programadas
etapa a etapa, a partir da definição de pré-requisitos, sequências e cadeias conceituais, avaliações com
instrumentos pré-validados, etc.
Enfim, recorre-se a todo um instrumental psicométrico que, para usá-lo, o professor precisa se
transformar em um tecnólogo educacional ou, então, se tornar um simples aplicador de instrumentos
elaborados por especialistas dos mais variados tipos, verdadeiros engenheiros educacionais de produção
de materiais didáticos e teste de avaliação educacional.
Não é preciso dizer que, durante os anos setenta, a concepção tecnicista foi hegemônica no Brasil,
principalmente nas instâncias que definiam a política e o planejamento educacionais: coordenadorias
pedagógicas, secretarias municipais e estaduais da educação e departamentos do Ministério da
Educação.
Na concepção tecnicista de educação, a metodologia do ensino é entendida, em síntese, como
uma estratégia de aprimoramento técnico, no sentido de garantir maior eficiência e eficácia ao
processo de ensinoaprendizagem.

Metodologia do Ensino, na concepção crítica de educação


A crítica à concepção de metodologia do ensino centrada prioritariamente no processo de
ensinoaprendizagem, tanto na sua versão humanista (escolanovista), quanto na tecnicista, será feita, no
Brasil, ressaltando-se a dimensão sócio-política da educação em geral e seus reflexos nas
microssituações de ensinoaprendizagem que ocorrem na sala de aula.
O processo de crítica e negação da concepção meramente instrumental de metodologia, em busca de
uma concepção mais totalizante, não vai se dar de forma clara e repentina. Realizou-se a partir das
reflexões críticas sobre as experiências de educação popular e escolar dos anos sessenta, aliadas às
idéias das teorias críticoreprodutivistas, do início dos anos setenta, e, finalmente, das propostas de
democratização da escola, no bojo dos movimentos sociais da segunda metade dos anos setenta e início
da década de oitenta.
Da tentativa de ancorar uma concepção de metodologia do ensino numa abordagem histórico-dialética,
surgem várias propostas, que vou apenas citar, sem a preocupação de descrevê-las ou analisá-las.
Refiro-me às concepções de metodologia do ensino apoiadas: na pedagogia do diálogo e do conflito; na
pedagogia dos oprimidos; na pedagogia crítica dos conteúdos; na pedagogia da prática; na pedagogia
calcada na perspectiva da investigação-ação.
Na concepção crítica de educação, a metodologia do ensino é entendida, em síntese, como uma
estratégia que visa garantir o processo de reflexão crítica sobre a realidade vivida, percebida e concebida,
visando uma tomada de consciência dessa realidade, tendo em vista a sua transformação.

Metodologia do Ensino, na concepção histórico-dialética de educação


Após uma breve viagem através da história das concepções de educação e de metodologia do ensino,
foi possível constatar que o próprio conceito de metodologia e/ou didática é histórico-social, portanto tem
tudo a ver com o momento e contexto históricos dos quais é produto, bem como dos projetos, concepções
e ideologias que lhe deram origem. O que, em última instância, significa dizer que não creio na existência
de uma única e correta conceituação de metodologia do ensino, dependendo esta das concepções de
homem, educação e sociedade e dos parâmetros teórico-epistemológicos pelos quais optamos. Isto
porque não existe nenhum método científico ou metodologia do ensino que não se vincule explicita ou
implicitamente a uma concepção epistemológica e a uma visão de mundo, pois as práticas científicas e
pedagógicas são aspectos de uma totalidade maior: a prática social (práxis social).
Partindo desse pressuposto, arrisco uma conceituação de metodologia do ensino ancorada na
abordagem histórico-dialética ou, no dizer de alguns autores, na Filosofia da Práxis.
Até este ponto, procurei mostrar que as conceituações de metodologia aqui tratadas envolviam pelo
menos dois grandes eixos: um eixo que podemos chamar de princípios e/ou diretrizes, que decorrem da
escolha, feita de um modo consciente ou não, de uma concepção de educação que, por sua vez, está
comprometida com uma visão de mundo, homem, sociedade, projeto político, etc. : e outro eixo, de
natureza mais técnico-operacional (na falta de melhor termo), que decorre da necessidade de conduzir
efetivamente a ação, o trabalho concreto (estudo, pesquisa, reflexão) dos que atuam como sujeitos em
práticas educativas

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Sendo assim, poderíamos qualificar a metodologia do ensino, em uma perspectiva histórico-dialética
da educação, como sendo um conjunto de princípios e/ou diretrizes sócio-políticos, epistemológicos e
psicopedagógicos articulados a uma estratégia técnico-operacional capaz de reverter os princípios em
passos e/ou procedimentos orgânicos e sequenciados, que sirvam para orientar o processo de
ensinoaprendizagem em situações concretas.
Conforme foi mencionado na definição anterior, e melhor explicitando a questão, os princípios e/ou
diretrizes, coerentemente remetidos ao projeto político-educativo, envolveriam respostas a questões
relativas às seguintes dimensões:
- Sócio-política - esta dimensão nos remete a fazer algumas reflexões sobre: a concepção de homem,
mundo e sociedade que anima nosso projeto educativo; a função ou papel da educação nesse processo,
suas finalidades e objetivos sociais, políticos, filosóficos, etc.
- Epistemológica – esta dimensão nos remete a reflexões para definir diretrizes relativas: a como se
produz o conhecimento, numa perspectiva dialética; à lógica inerente a esse processo; a quem produz
esse conhecimento; às diferenças entre o chamado saber popular e o saber sistematizado; ao tipo de
relações existentes entre as diferentes formas de conhecimento; à importância e o sentido da teoria, numa
perspectiva de uma educação crítica e consciente; ao que significa dizer que o processo de produção de
conhecimento possui um aporte individual e sócio cultural; o que todas estas questões têm a ver com o
problema da escolha e organização dos conteúdos a serem trabalhados durante o processo de
ensinoaprendizagem.
- Psicopedagógica – esta dimensão nos remete a outra bateria de questões que se referem ao plano
subjetivo do processo de aprendizagem e da postura e do papel que cabe a quem estiver exercendo a
função de dirigir a ação educativa, ou seja, o professor/formador. No que diz respeito à dimensão psíquica
do ato de aprender, é preciso fazer algumas indagações. Como se dá o processo de aprendizagem, a
partir de uma abordagem histórico-dialética? Qual a relação entre cultura e aprendizagem? Qual é o
significado do Outro (ou dos Outros, enquanto grupos estruturados) no processo de aprendizagem? Qual
é a importância e a contribuição do grupo de parceiros no processo de aprendizagem? E a do professor/
formador?
Da perspectiva especificamente pedagógica, caberiam outras tantas reflexões sobre: a postura do
professor na direção do processo de ensinoaprendizagem; no seu relacionamento com os alunos, na sua
capacidade técnica de, primeiramente, escolher técnicas, recursos e materiais pedagógicos adequados
para desenvolver os conteúdos escolhidos e, em segundo lugar, de organizar e estruturar conteúdos,
levando em conta as dimensões psicossociais e epistemológicas, acima mencionadas.
A concepção mais geral de metodologia do ensino, acima exposta, entendida como um conjunto de
princípios e/ou diretrizes acoplada a uma estratégia técnico-operacional, serviria como matriz geral, a
partir da qual diferentes professores e/ou formadores podem produzir e criar ordenações diferenciadas a
que chamaremos de métodos de ensino. O método de ensinoaprendizagem (menos abrangente) seria a
adaptação e a reelaboração da concepção de metodologia (mais abrangente) em contextos e práticas
educativas particulares e específicas.
Finalmente, gostaríamos de ressaltar que, a partir de uma perspectiva histórico-dialética, a
metodologia e os métodos de ensino não são esquemas universais aplicáveis mecânica ou
indiferentemente a qualquer prática educativa, em qualquer situação, pois eles mesmos também
se plasmam a partir de situações particulares, num movimento específico. Disso decorre que a
concepção de metodologia do ensino que ora propomos não se reduz à elaboração e aplicação mecânica
e repetitiva de categorias teórico-epistemológicas abstratas e formalizantes (ainda que extraídas da
literatura marxista); mas, por reconhecer-se histórica, ganhará mais consistência e organicidade à medida
em que esteja alicerçada numa perspectiva de avanço em reflexões teóricas, que se referendem e
construam a partir de experiências pedagógicas vivas e particulares e das práticas sociais e científicas
em geral.

Metodologia de Ensino de História


A disciplina Metodologia do Ensino de História do curso de formação de docentes visa preparar os
alunos para atuarem no ensino de História na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino
Fundamental. Para tanto, se faz necessário explicitarmos a trajetória do ensino de História no sistema
educacional brasileiro, bem como os pressupostos teóricos que norteiam a presente proposta.
No Brasil, o conteúdo de história foi inserido no currículo do colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, em
1838. Relegado aos anos finais dos ginásios, com número ínfimo de aulas, sem uma estrutura própria,
consistia em um repositório de biografias de homens ilustres, de datas e batalhas. A História Tradicional,
influenciada pelo pensamento positivista da historiografia europeia, enfatizava a história da nação e tinha
como objetivo criar uma identidade nacional homogênea em torno de um Estado politicamente

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organizado. O positivismo trouxe consequências a disciplina, que pretendia basear-se em suas leis. Os
historiadores positivistas acumularam fatos políticos que podiam ser verificados e comprovados por meio
de documentos oficiais produzidos pelo Estado. Desta forma, produziu-se uma história voltada aos
estudos dos acontecimentos políticos, da genealogia das nações, evidenciando as “datas importantes”,
“os grandes personagens”, os “heróis” da nação.
Apesar da hegemonia acadêmica existente no século XIX, havia vozes discordantes. Entre essas
vozes, destacamos Marx e Engels que desenvolveram um paradigma histórico onde as causas das
mudanças históricas ocorrem no interior das estruturas socioeconômicas. Surge então, uma outra
possibilidade para o ensino de História, fundamentado na concepção materialista da história, cerne do
pensamento marxista. Este ensino pauta-se no trabalho como conceito fundamental e princípio
organizador do currículo, e toma as relações sociais e de produção como objeto de ensino.
Na concepção da escola unitária defendida por Gramsci, com base em Marx, o trabalho constitui a
principal categoria e torna-se elemento fundamental da formação profissionalizante, que não deve buscar
atender estritamente as necessidades do mercado de trabalho, mas, ao contrário, deve ser formativa, de
uma cultura geral humanista. Trata-se de garantir, ao educando, uma visão geral, capaz de dar conta da
complexidade das relações sociais de produção da sociedade contemporânea. Nesse sentido, a proposta
curricular de História deve ter como função principal a superação do saber meramente acumulativo,
enciclopédico e fragmentado.
O trabalho como princípio pedagógico do ensino de História, parte do pressuposto teórico marxista, de
que o trabalho humano, ao longo da história, impulsionou o desenvolvimento e transformações da
existência humana. Para Marx, o trabalho não é apenas a força produtiva, mas é a essência da atividade
humana. O homem ao produzir as condições de sua existência, produz a si mesmo, faz a história e é
determinado pelas relações sociais e de produção. Vale ressaltar que o trabalho é tomado como categoria
essencial que explica não só o mundo e a sociedade do passado e do presente, mas permite ao homem
uma prática transformadora e o desafio de construir uma sociedade fundada em novos princípios e
valores.
Tendo estabelecido o trabalho como princípio pedagógico para a compreensão da sociedade, torna-
se fundamental, ao lado disso, entender a noção de que a história se movimenta devido às contradições,
aos antagonismos e conflitos que estão na base da sociedade porque são fruto da ação dos próprios
homens. Nas últimas décadas a contribuição mais significativa da produção historiográfica marxista vem
de historiadores ingleses que lançaram-se ao estudo de uma “história vinda de baixo”, preocupada com
a história operária e a cultura popular. Revelaram e fizeram falar a história de homens e mulheres
trabalhadores, sujeitos que por muito tempo estiveram excluídos da produção historiográfica.
Uma nova perspectiva para o ensino de História não pode ficar limitada a uma concepção que destaque
apenas as classes dominantes, mas sim, objetivar uma noção mais ampla, onde as classes populares
sejam também inseridas em suas análises. Há necessidade da escola reencontrar as memórias perdidas
da história, resgatar o cotidiano, a memória de homens comuns que foram deixados à margem da história.

Metodologias mais comuns no ensino de História


As maneiras de ensinar História que já estiveram ou ainda estão presentes na sala de aula são:

Tradicional
Inspirada no método francês do século 19.
Foco: Memorizar os fatos em ordem cronológica, tendo como referência a construção dos estados-
nação e a importância dos valores morais e cívicos.
Estratégias de Ensino: Aulas expositivas, apoio de livros didáticos e estímulo à decoreba de datas,
fatos e nomes.

Anarquista
Surgiu depois da Revolução Francesa e da Comuna de Paris, na Europa, e da proclamação da
República, no Brasil. Foi introduzida em algumas escolas brasileiras nos anos 1920.
Foco: Conhecer o movimento histórico pelas lutas sociais, desconstruindo a visão política e
romantizada.
Estratégias de Ensino: Visitas a museus para fazer pesquisas e estimular a reflexão crítica.

Moderna
Baseada nas teorias cognitivas de Jean Piaget e Lev Vygotsky e na idéia de que se deve buscar
abordagens diversas - sociais, econômicas, políticas e culturais.

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Foco: Ensinar os alunos a ter uma visão crítica e a percepção de que não existe uma história
verdadeira e única.
Estratégias De Ensino: Proposição de eixos temáticos, consultas a diversas fontes e perspectivas
para estabelecer a relação entre o passado e o presente.

As situações didáticas de História


A aprendizagem das principais noções do pensamento histórico, como temporalidade e sucessão dos
acontecimentos, está no centro do ensino

1. Trabalho com sujeitos históricos e perspectivas


2. Leitura e escrita sobre História
3. Leitura de mapas geográficos e históricos
4. Representação gráfica do tempo
5. Análise de imagens

As aulas de História já foram reduzidas à memorização de datas e acontecimentos passados. Uma


outra abordagem torna a disciplina mais dinâmica. Ela considera questões sociais e atua na
aprendizagem de noções essenciais do pensamento histórico, como a de temporalidade: de que forma
se dá a organização dos fatos, a divisão entre passado, presente e futuro e a simultaneidade de eventos.
"Para os que estão nas séries iniciais, o passado é uma coisa só. Tudo é antigamente", diz Daniel
Vieira Helene, formador de professores, de São Paulo. As dificuldades aparecem quando os pequenos
lidam com textos históricos. Eles não tomam as datas como indicação temporal, e sim a apresentação
dos fatos no texto: o que vem antes ocorreu antes.
Considerando o problema, o Colégio São Paulo, em Salvador, reforça o ensino de leitura e escrita de
textos informativos. A turma lê, debate, localiza as informações mais importantes - com orientação dos
professores -, faz perguntas e registra tudo com anotações, resumos e fichamentos, que são utilizados
posteriormente para consulta. "Com esses procedimentos, os alunos têm maior compreensão dos
conteúdos e adquirem comportamento leitor", avalia Dulcinéia Neves Guimarães, professora da 4ª série.

1. Trabalho com sujeitos históricos e perspectivas


O que é: A identificação, em fontes documentais, do ponto de vista de quem conta a história e a
recriação dela com base em outros personagens e outras concepções. Uma alternativa: comparar
informações sobre um mesmo fato ou tema em diferentes fontes bibliográficas.

Quando propor: Sempre que se trabalhar com relato histórico (narrativas).


O que a criança aprende: Que, dependendo do sujeito que escreve, existem várias versões sobre
um fato e que os diferentes registros são fontes de informação para conhecer o passado.

2. Leitura e escrita sobre História


O que é: O professor distingue nos textos funções, estilos, argumentos e pontos de vista e propõe
leitura e atividades. Uma delas é identificar e utilizar os tempos verbais adequados, os marcadores
temporais, os de causalidade e os de contextualização.
Quando propor: Em todas as aulas. A complexidade dos textos lidos deve aumentar ano a ano.
O que a criança aprende: Que as obras de conteúdo histórico possuem organização temporal e
contemplam as relações entre os acontecimentos.

3. Leitura de mapas geográficos e históricos


O que é: Atividades para localizar transformações históricas no espaço. Uma delas é a comparação
de mapas de diferentes épocas com os da atualidade.
Quando propor: Em todas as aulas, de forma incorporada aos conteúdos.
O que a criança aprende: A noção de espacialidade, localizando a História no espaço e percebendo
que existe mudança tanto no tempo quanto no espaço.

4. Representação gráfica do tempo


O que é: Elaboração de linhas do tempo, com escala, de determinados recortes históricos. A seleção
dos fatos deve permitir ao estudante localizar sua vida na linha. É interessante trabalhar com diferentes
linhas do mesmo período para discutir a simultaneidade de acontecimentos.
Quando propor: Em todas as aulas, de forma incorporada aos temas estudados.

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O que a criança aprende: Noções de tempo cronológico, duração, simultaneidade, causalidade,
anterioridade e posteridade e relação entre momentos da história local, regional e nacional.

5. Análise de imagens
O que é: Estudo com fotografias, propagandas e desenhos de diferentes épocas.
Sempre que possível, é interessante comparar essa produção histórica com situações atuais.
Quando propor: Em todas as aulas. De acordo com o ano, aprofundar as discussões, introduzindo,
por exemplo, a questão da intencionalidade na produção de fotos ou pinturas.
O que a criança aprende: A identificar visualmente mudanças no tempo e a investigar como era
determinada época com base em imagens, construindo hipóteses e pesquisando sobre o contexto em
que foram feitas.

Questões metodológicas3
A mobilização dos conceitos no trabalho pedagógico escolar como instrumentos de conhecimento
supõe a articulação entre os conceitos estruturadores da disciplina História e as habilidades necessárias
para trabalhá-la como um processo de conhecimento. Os conceitos estruturadores da História, além de
expressarem o arcabouço da prática da tradição historiográfica, são os pontos nucleares a partir dos quais
se definem as habilidades e as competências específicas a serem conquistadas por meio do ensino da
História. Ademais, a concepção de um ensino/aprendizagem criativo que coloque o aluno no centro do
processo supõe a mobilização de atividades adequadas.
No quadro proposto a seguir, são apontados os conceitos estruturadores da História anteriormente
tratados; são descritas as habilidades decorrentes da prática do conhecimento histórico e as expectativas
como conhecimento. Além disso, são indicadas algumas das condições necessárias para que as
atividades didáticas propiciem o exercício do conhecimento histórico produzido na e para a escola, pois
se trata de um processo de ensino/aprendizagem.

Historicidade dos conceitos


• Perceber os conceitos como representações gerais do real social organizadas pelo pensamento.
• Compreender os conceitos como expectativas analíticas que auxiliam na indagação das fontes e das
realidades históricas.
• Considerar a dinâmica dos conceitos, que adquirem especificidade a partir da construção de
representações.
Na elaboração da proposta de ensino, levar em conta:
• A necessidade de problematizar a relação entre o conhecimento prévio dos alunos e os
conhecimentos históricos;

História
• Reconhecer a natureza específica de cada fonte histórica.
• Criticar, analisar e interpretar fontes documentais de natureza diversa.

Conceitos básicos da História

Habilidades para o trabalho com a História Elaboração e condução das atividades didáticas

História
• Reconhecer o papel das diferentes linguagens: escrita, pictórica, fotográfica, oral, eletrônica, etc.
• Compreender textos de natureza histórica (obras de historiadores, materiais didáticos).
• Organizar a produção do conhecimento.
• Produzir textos analíticos e interpretativos sobre os processos históricos a partir das categorias e dos
procedimentos metodológicos da História.
• Reconhecer os diferentes agentes sociais e os contextos envolvidos na produção do conhecimento
histórico.
• Ter consciência de que o objeto da História são as relações humanas no tempo e no espaço.
• Perceber os processos históricos como dinâmicos e não determinados por forças externas às ações
humanas.
• Exercitar-se nos procedimentos metodológicos específicos para a produção do conhecimento
histórico.
3 OCN – História.

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• Praticar a interdisciplinaridade.
• a importância de tomar os conhecimentos prévios dos alunos como referência para adequar o
planejamento e as intervenções didáticas;
• a adequação do planejamento dos programas com a realidade sócio- econômica da escola e dos
alunos.
• que as atividades são procedimentos didáticos relacionados aos aspectos metodológicos;
• a importância da prática pedagógica interdisciplinar;

Processo histórico
• Compreender o passado como construção cognitiva que se baseia em registros deixados pela
humanidade e pela natureza (documentos, fontes).
• Perceber que o fato histórico (dimensão micro) adquire sentido relacionado aos processos históricos
(dimensão macro).
• Buscar os sentidos das ações humanas que parecem disformes e desconectadas.
• Entender que os processos sociais resultam de tomadas de posição diante de variadas possibilidades
de encaminhamento.
• Reconhecer nas ações e nas relações humanas as permanências e as rupturas, as diferenças e as
semelhanças, os conflitos e as solidariedades, as igualdades e as desigualdades.
• Aceitar a possibilidade de várias interpretações.

Processo histórico
• Problematizar a vida social, o passado e o presente, na dimensão individual e social.
• Comparar problemáticas atuais e de outros momentos históricos.
• que é necessário evitar a simples memorização e repetição de definições;
• o uso da memorização associado aos procedimentos de compreensão, análise, síntese,
interpretação, criatividade, inventividade, curiosidade, autonomia intelectual;
• o cuidado em relacionar, nas atividades, competências gerais e específicas com conceitos
estruturadores da História, de forma explícita ou implícita;

Tempo
• Reconhecer que as formas de medir o tempo são produtos culturais resultantes das necessidades
de sociedades diversificadas.
• Perceber que as temporalidades históricas e as periodizações propostas são criações sociais.
• Estar atento às referências temporais (sequência, simultaneidade, periodização), que permitem ao
aluno se situar historicamente e ante as realidades presentes e passadas.
• Estabelecer relações entre as dinâmicas temporais: continuidade–ruptura, permanências–mudanças,
sucessão–simultaneidade, antes–agora–depois.
• Perceber que os ritmos e as durações do tempo são resultantes de fenômenos sociais e de
construções culturais.
• Evitar anacronismos ao não atribuir valores da sociedade presente a situações históricas diferentes.

Sujeito histórico
• Compreender que a História é construída pelos sujeitos históricos, ressaltando-se:
– o lugar do indivíduo;
– as identidades pessoais e sociais;
– que a história se constrói no embate dos agentes sociais, individuais e coletivos;
– que as instituições são criações das ações sociais, no decorrer dos tempos, e não adquirem vontade
nem ações próprias;
– a importância apenas relativa de personalidades históricas que ocuparam lugar mais destacado nos
processos históricos.

Trabalho
• Compreender o trabalho como elemento primordial nas transformações históricas.

Trabalho
• Entender como o trabalho está presente em todas as atividades humanas: social, econômica, política
e cultural.

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• Perceber as diferentes formas de produção e organização da vida social em que se destacam a
participação de homens e mulheres, de relações de parentesco, da comunidade, de múltiplas gerações
e de diversas formas de exercício do poder.
• a distinção entre saber acadêmico e conhecimento voltado para o desenvolvimento de competências,
habilidades e conceitos, que é próprio do ensino/aprendizagem da escola;
• Perceber a complexidade das relações de poder entre os sujeitos históricos.
• Captar as relações de poder nas diversas instâncias da sociedade, como as organizações do trabalho
e as instituições da sociedade organizada – sociais, políticas, étnicas e religiosas.
• Perceber como o jogo das relações de dominação, subordinação e resistência fazem parte das
construções políticas, sociais e econômicas. cicio da cidadania plena e da democracia;

Cultura
• Compreender a cultura como um conjunto de representações sociais que emerge no cotidiano da
vida social e se solidifica nas diversas organizações e instituições da sociedade.
• Perceber que as formações sociais são resultado de várias culturas.
• Situar as diversas produções da cultura – as linguagens, as artes, a filosofia, a religião, as ciências,
as tecnologias e outras manifestações sociais – nos contextos históricos de sua constituição e
significação.
• Perceber e respeitar as diversidades étnicas, sexuais, religiosas, de gerações e de classes como
manifestações culturais por vezes conflitantes.

Memória
• Ter consciência de que a preservação da memória histórica é um direito do cidadão.
• Identificar o papel e a importância da memória histórica para a vida da população e de suas raízes
culturais.

Memória
• Identificar e criticar as construções da memória de cunho propagandístico e político.
• Valorizar a pluralidade das memórias históricas deixadas pelos mais variados grupos sociais.
• Atuar sobre os processos de construção da memória social, partindo da crítica dos diversos “lugares
de memória” socialmente instituídos.
• Compreender a importância da escola e dos alunos na preservação dos bens culturais de sua
comunidade e região.
• o combate a todas as formas de preconceitos;
• a indignação diante das injustiças.
• a atenção às contradições, às mudanças e às transformações sociais, evitando-se a passividade no
processo ensino/aprendizagem.

Cidadania
• Aprimorar atitudes e valores individuais e sociais.
• Exercitar o conhecimento autônomo e crítico.
• Sentir-se um sujeito responsável pela construção da História.
• Praticar o respeito às diferenças culturais, étnicas, de gênero, religiosas, políticas.
• Auxiliar na busca de soluções para os problemas da comunidade.
• Indignar-se diante das injustiças.
• Construir a identidade pessoal e social na dimensão histórica a partir do reconhecimento do papel do
indivíduo nos processos históricos simultaneamente como sujeito e como produto destes.
• Ter consciência da importância dos direitos pessoais e sociais e zelar pelo cumprimento dos deveres.
• Incorporar os direitos sociais e humanos além dos direitos civis e políticos.
• Posicionar-se diante de fatos presentes a partir da interpretação de suas relações com o passado.

A seleção e a organização dos conteúdos


É dever da escola propiciar os meios para que os alunos adquiram de forma crítica e ativa o conjunto
de conhecimentos socialmente elaborados e considerados necessários ao exercício da cidadania. As
dificuldades acentuam-se quando se trata de explicitar o que deve ser entendido como “necessários”,
especialmente quando se pensa que o termo deveria referir-se a todos os alunos brasileiros.

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A seleção dos conteúdos, entendidos aqui como o conjunto de temas e assuntos de cunho histórico a
ser organizado para fins didático-pedagógicos em sala de aula, pressupõe a articulação das
preocupações descritas neste documento:
... a importância dos conteúdos não é relegada a segundo plano em favor da educação por com- da
contextualização; conceitos estruturadores da disciplina; e articulação com as habilidades
significativamente para fins escolares, que o currículo da escola e de cada disciplina específica toma
corpo e ocupa lugar estrategicamente central no processo educativo. Portanto, a importância dos
conteúdos e do seu tratamento didático pedagógico não é relegada a segundo plano em favor da
educação por competências. A seleção, a organização e a escolha de estratégias metodológicas é que
são informadas pelo conjunto das proposições que fazem parte da nova concepção de educação presente
na LDBEN, nas leis e nos documentos subsequentes.
A qualidade das estratégias didático-pedagógicas, por sua vez, é que irá garantir o sucesso dos
enfoques educacionais anteriormente apontados: a prática pedagógica planejada e interdisciplinar; as
atividades que levem os alunos a buscar soluções de problemas; a contextualização que confira
significado a temas e assuntos; a mobilização de instrumentos de análise, de conceitos, de habilidades e
a prática constante da pesquisa, que, por recorrer a fontes diversificadas e passíveis de interpretações
variadas, se relaciona permanentemente com o ensino e dele é parte indissociável. As orientações que
são citadas no quadro anterior, item “Elaboração e condução das atividades didáticas”, além de muitas
outras, quando assumidas de forma consciente pelo conjunto dos agentes da educação, deverão fazer
parte integrante do projeto político-pedagógico da escola.
Passa a ser consenso também entre os profissionais da História, ainda que com menor intensidade,
que os conteúdos a serem trabalhados em qualquer dos níveis de ensino–pesquisa (básico, médio,
superior, pós-graduado) não são todo o conhecimento socialmente acumulado e criticamente transmitido
a respeito da “trajetória da humanidade”. Forçosamente, devem ser feitas escolhas e seleções.
Em contrapartida, tendo em vista a diversidade dos enfoques teórico-metodológicos que se foram
construindo, especialmente nas últimas décadas, não é possível pensar em uma metodologia única para
a pesquisa e para a exposição dos resultados, nem mesmo para a prática pedagógica do ensino de
História. Assim, as escolhas e as seleções estão condicionadas ao entendimento que o professor tem a
respeito dos conhecimentos históricos e do processo de ensino/aprendizagem.

A seleção dos conteúdos


A necessária seleção dos conteúdos faz parte de um conjunto formado pela preocupação com o saber
escolar, com as competências e com as habilidades. Por isso, os conteúdos não podem ser trabalhados
independentemente, pois não constituem um fim em si mesmos, como vem sendo constantemente
lembrado, “mas meios básicos para constituir competências cognitivas ou sociais, priorizando-as sobre
as informações” (DCNEM, Artigo 5º, I). São considerados meios para a aquisição de capacidades que
auxiliem os alunos a produzir bens culturais, sociais e econômicos devendo sua seleção e escolha estar
em consonância com as problemáticas sociais marcantes de cada momento histórico. Além do mais, eles
são concebidos não apenas como a organização dos fenômenos sociais historicamente situados na
exposição de fatos e de conceitos, mas abrangem também os procedimentos, os valores, as normas e
as atitudes, seja em sala de aula, seja no projeto pedagógico da escola.
Para se proceder à seleção dos conteúdos e programar as atividades didáticas, indicam-se alguns
critérios que poderão servir como orientação básica aos professores.
O planejamento do trabalho escolar é feito em diversas fases: algumas requerem trabalho coletivo, e
outras exigem o trabalho individual do professor, sem, contudo, perder as referências discutidas e
determinadas pelo grupo. Com efeito, esse planejamento é parte integrante das opções, das diretrizes e
dos objetivos traçados no âmbito das Secretarias de Educação dos estados, das microrregiões e dos
municípios quando estabelecem projetos de implantação didático-pedagógicos elaborados em conjunto
com todos os agentes envolvidos – gestores, professores, técnicos e representações de pais e alunos.
Outro marco definidor de planejamentos em que se efetiva a seleção dos conteúdos é a escola, com
seu projeto político-pedagógico, que necessariamente traduz a percepção das pessoas envolvidas na
prática educativa daquele ambiente. São relevantes as considerações sobre a realidade da comunidade
em que está inserida a escola, inclusive no que diz respeito a valores que devem ser desenvolvidos na
comunidade escolar, como o respeito às diferenças e o estímulo ao cultivo e à vivência de valores
democráticos.
Tendo como referência os pontos enfocados anteriormente, cabe ao professor a responsabilidade
última e pessoal de elaborar os programas e selecionar os conteúdos para sua prática pedagógica. É
nesse momento que se evidenciam suas concepções sobre a sociedade, a educação e a História, sem
que sejam permitidas as imposições de agentes externos à comunidade escolar, como a legislação ou o

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mercado editorial. Ao mesmo tempo, deve-se garantir que os princípios e os objetivos construídos
paulatinamente pela comunidade de educadores e pelos professores de História – lembrados neste
documento – se coadunem com as escolhas relativas ao conhecimento histórico a ser construído pelos
alunos e mediado pelo professor.
Com o intuito de subsidiar os professores na tarefa de escolher os conteúdos de História, cabe lembrar
as observações do professor Marc Ferro no livro A História vigiada (1989), no qual afirma que se devem
selecionar acontecimentos que:

• foram considerados importantes pelas sociedades que os vivenciaram e mobilizaram as populações


que os presenciaram, nos quais o conjunto da sociedade se sentiu partícipe;
• foram conservados pela memória das sociedades como grandes acontecimentos;
• ocasionaram uma mudança na vida dos Estados e das sociedades, tendo, dessa forma, efeito a longo
prazo;
• sendo significativos, deram origem a múltiplas interpretações, ainda hoje debatidas não só em
estudos acadêmicos como também pelos diferentes grupos/instituições que compõem as sociedades;
• atingem um patamar cujo alcance ultrapassa o próprio limite dos lugares onde aconteceram;
• permanecem vivos por meio das inúmeras obras que suscitam: romances, textos históricos, filmes.

Diversidade na apresentação dos conteúdos.


A organização dos conteúdos, uma parte essencial na construção do currículo, está intimamente ligada
à concepção de ensino que sustenta o projeto pedagógico da escola. Por isso, sua escolha não é
aleatória, tendo relação também com a concepção de História subjacente à prática pedagógica. Esse
conjunto de especificidades explica a grande variedade de propostas curriculares, desde as mais
clássicas até as mais recentes tentativas de inovações. Cada uma delas apresenta qualidades e
limitações que serão avaliadas pelos professores segundo suas convicções metodológicas, concepções
de História, de Educação e do próprio ensino de História. A título de exemplo, podem ser citadas:
a) o exemplo clássico de organização dos conteúdos é o que se constitui a partir das temporalidades.
Preponderante ainda na maioria das escolas brasileiras, o tempo, considerado em sua dimensão
cronológica, continua sendo a medida utilizada para explicar a “trajetória da humanidade”. A periodização
que se impôs desde o século XIX – História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea – está presente
em grande parte dos livros didáticos e do currículo das escolas. Retrocede-se às origens, estabelecendo-
se trajetórias homogêneas do passado ao presente, em que a organização dos acontecimentos é feita a
partir da perspectiva da evolução. Por isso, o que caracteriza a organização dos conteúdos, nesse
contexto, é a linearidade e a sequencialidade;
b) mais recentemente, vem-se tentando a superação da sequencialidade e da linearidade em alguns
currículos, os quais tomam a chamada História integrada como fi o condutor da sua organização. Assim,
América e Brasil figuram junto a povos da pré-história, da Europa e da Ásia, fazendo-se presente, por
vezes, a História da África. Nota-se em grande parte dos livros didáticos que optam por essa forma de
organizar os conteúdos de História uma diminuição considerável dos assuntos referentes ao Brasil e
pouquíssimo ou nenhum espaço para a História da África;
c) há propostas diferenciadas, em que os conteúdos são organizados a partir de temas selecionados ou
eixos temáticos, esperando-se maior liberdade e criatividade por parte dos professores. A organização e a
seleção dos conteúdos a partir de uma concepção ampliada de currículo escolar foram elaboradas de
forma mais sistematizada e aprofundada nas propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino Fundamental, assim como para o Ensino Médio. Nas Orientações Educacionais Complementares,
PCN+ Ensino Médio de 2002, a opção pela organização programática de assuntos a partir de eixos
temáticos é assumida na apresentação geral para as Ciências Humanas e para todas as disciplinas da
área;
d) nota-se ainda uma via intermediária: mantém-se a opção pela exposição cronológica dos eventos
históricos consagrados pela historiografia, mas agora intercalada ou informada por exercícios e atividades
chamados estratégicos, por meio dos quais os alunos são levados a perceber todos os meandros da
construção do conhecimento histórico, instados a se envolver nas problemáticas comuns ao presente e
ao passado estudado e encorajados a assumir atitudes que os levem a posicionar-se como cidadãos.
Aproximam-se assim as preocupações com a sequencialidade dos conteúdos e as finalidades da
educação na formação de indivíduos conscientes e críticos, com autonomia intelectual;
e) outra construção possível, algumas vezes praticada, consiste em manter, como fio organizador, a
periodização consagrada como “pano de fundo” para a elaboração de problemáticas capazes de atingir
o objetivo de tornar significativa a aprendizagem da História. A estruturação temática possibilita
discussões de ordem historiográfica em diferentes períodos históricos e abre a possibilidade de se

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considerarem os momentos históricos na dimensão da sucessão, da simultaneidade, das contradições,
das rupturas e das continuidades. A cronologia não é simplesmente linear, pois leva em consideração
que tempos históricos são passíveis de diversificados níveis e ritmos de duração;
f) muitas outras experiências de composição curricular poderiam ainda ser elencadas. Basta lembrar
que, em muitos casos, a organização dos conteúdos é assumida de forma responsável pelos professores,
tendo como referência suas experiências docentes ou as orientações dos órgãos responsáveis pelas
políticas educacionais dos estados e dos municípios. Há Secretarias Estaduais de Educação que, com
maior ou menor intensidade e envolvimento, têm trabalhado no sentido de estabelecer diretrizes ou
roteiros para as organizações curriculares da História, cuja diversidade pode ser verificada a partir das
possibilidades já apontadas.
Por fim, ressalta-se que ainda é muito raro encontrar nas organizações curriculares, tanto das escolas
como dos livros didáticos, a importância que merece a História da África. Essa lacuna, que está sendo
revista paulatinamente pela produção historiográfica, deverá ser eliminada por causa do papel histórico
que os africanos trazidos para o Brasil desempenharam na construção da sociedade brasileira, assim
como pela importância da herança cultural que vem sendo construída pelos brasileiros de origem africana.
A força do Decreto Lei nº 10.639, que torna obrigatório o ensino da História da África, não terá respaldo
se a historiografia não der ainda maior impulso à cultura africana no Brasil. É de se ressaltar a clareza
com que a LDB, em seu artigo 26, se refere à questão:
Art. 26A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se
obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § I - O conteúdo programático a que se refere
o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo
negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § II - Os conteúdos referentes
à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial
na Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

Cuidados especiais
Seja qual for a proposta apresentada e assumida pela escola e pelo professor, há cuidados especiais
a serem tomados. O primeiro refere-se ao envolvimento do aluno com o objeto de estudo trabalhado. Na
exposição factual e linear que supõe o aluno como receptáculo de ensinamentos, além dos textos
expositivos e detalhados, utilizam-se exercícios voltados especificamente para o teste de compreensão
e de fixação de conteúdos. A preocupação com o desenvolvimento de competências e habilidades não
faz parte dos horizontes dessas propostas pedagógicas.
Já as propostas curriculares correntes, que concebem o currículo e a educação a partir de padrões–
referências–perspectivas mais atualizados, constroem a trama expositiva procurando envolver o aluno
por meio da problematização dos temas, de sua abordagem, da relação necessária com o mundo cultural
do aluno. As atividades constituem o cerne do trabalho pedagógico apresentado, pensado sempre do
ponto de vista da construção de um conhecimento escolar significativo. A preocupação não é com a
quantidade de conteúdos a serem apresentados ou com as lacunas de conteúdo de História a serem
preenchidas, de acordo com a lista de assuntos tradicionalmente utilizados na escola. A preocupação é
com o modo de trabalhar historicamente os temas–assuntos–objetos em pauta, sejam eles organizados
em eixos temáticos norteadores ou por hierarquização de assuntos ou objetos construídos pela
perspectiva do tempo cronológico.

Construção e uso dos conceitos e dos procedimentos no processo de ensino-aprendizagem


Dada a natureza abstrata das operações cognitivas relacionadas ao pensamento histórico, é
importante levar os alunos a identificarem elementos de compreensão de conteúdos históricos nas suas
experiências sociais. Desenvolver capacidades de compreensão e de explicação histórica requer, no
entanto, a apropriação e o uso de vários conceitos.
Qualquer campo de conhecimento é constituído por um conjunto de conceitos que lhe conferem
especificidade e cientificidade. Na História, os conceitos representam um reagrupamento de fatos para
tornar possível, por meio de uma ou duas palavras, a comunicação de ideias e relações complexas
historicamente constituídas. Por meio dos conceitos pode-se, pois, distinguir e organizar o real.
A cognição histórica é composta de conceitos, e um conjunto deles foi selecionado para fazer parte da
proposição do presente documento de referência nacional para o ensino da História no ensino médio. No
entanto, há de se reconhecer que a construção e o domínio desses conceitos, assim como o entendimento
do seu valor para a compreensão e a interpretação históricas, não é fácil para a maioria dos jovens que
frequentam o ensino médio no nosso país. Os conceitos históricos, mais do que sintetizarem ideias e

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raciocínios, representam para a História uma expectativa, um norte analítico; além disso, possuem sua
história, ou seja, guardam as marcas do momento histórico em que se desenvolveram e se consolidaram.
Há um consenso entre os a identificarem elementos de estudiosos da aquisição dos conteúdos
hisceitos de que esses só começam a teóricos nas suas experiências se desenvolver quando os alunos
tiverem alcançado certo nível em relação aos conceitos cotidianos que lhes são correlatos. Afirma-se que
são os conceitos cotidianos que abrem caminho para o desenvolvimento dos conceitos científicos. Muitos
dos conceitos históricos, no entanto, constroem-se por meio de vivências compartilhadas em diferentes
grupos que difundem e perpetuam preconceitos e estereótipos a respeito de realidades passadas e
presentes. Esses devem ser objeto de problematização constante em sala de aula, usando-se para isso
a análise de evidências históricas situadas em seu contexto de produção.
Observa-se que muitas vezes os alunos respondem a questões relativas aos conceitos científicos de
forma que esses parecem “carentes de riqueza de conteúdo proveniente da experiência pessoal”
(Vygotsky, 1998, p. 135). Na História, porém, os alunos não têm experiência pessoal direta com os
conceitos apresentados. Tornar esses conceitos acessíveis e carregados de significado para os alunos é
um grande desafio para os professores de História. Recorrer à analogia e, principalmente, torná-los
capazes de utilizar os procedimentos históricos de análise das diferentes fontes pode permitir aos alunos
a construção de tais conceitos. As fontes, tratadas como documentos históricos, fornecem elementos a
partir dos quais podem ser identificados traços comuns às situações nelas representadas, estimuladas
comparações e identificadas especificidades de cada momento histórico. Tendo os conceitos sido
construídos e ou apropriados, tornam-se instrumentos de novas indagações às fontes e aos
conhecimentos históricos produzidos.
Promover o trânsito entre os conceitos cotidianos e os conceitos históricos, assim como orientar os
alunos na construção e ou na apropriação desses últimos, constitui sempre um desafio que deve ser
levado em conta na proposição das atividades didático-pedagógicas.

O projeto político-pedagógico da escola e o ensino de História


A proposta para essas Orientações Curriculares de História está calcada em alguns eixos norteadores:
os sujeitos do processo de ensino/aprendizagem – aluno e professor; a finalidade do ensino médio –
formação geral para a vida; competências, interdisciplinaridade e contextualização como princípios
pedagógicos básicos; a identificação dos conceitos estruturadores da História como horizonte para a
seleção e a organização dos conteúdos; a importância das atividades didáticas. Buscam-se também
apontar os alicerces mais duradouros para a construção de um sistema de ensino que tenha abrangência
nacional e durabilidade condizente com as necessidades do trabalho pedagógico: a experiência didático-
pedagógica, que se traduz em documentos oficiais historicamente situados, como LDBEN e DCNEM; os
organismos estaduais que assumem a operacionalização das diretrizes mais gerais, como as Secretarias
de Educação; por fim, a escola contextualizada na comunidade à qual presta seus serviços educacionais.
No entanto, em última análise, os elementos fundamentais do processo de ensino/aprendizagem situam-
se no aluno, no professor, na escola e na comunidade. Esse conjunto de atores elabora seus planos de
trabalho consubstanciado no projeto político-pedagógico da escola.
O primeiro passo para conseguir o planejamento escolar é a adequação – a ser realizada pelos estados
da Federação – dos objetivos traçados para o ensino médio pela legislação e pelas recomendações dos
órgãos federais. O projeto pedagógico da escola deverá estar em sintonia com o planejamento das
respectivas Secretarias de Educação e ser elaborado em consonância com representantes de todos os
agentes envolvidos (gestores, professores, técnicos e representações de pais e alunos).
A prática pedagógica levou à convicção de que toda e qualquer reforma que se pretenda é dependente
da consciência que os dirigentes e os profissionais da educação têm do papel da escola e da organização
de seu currículo. Segundo a LDB, Artigo 12, “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas
comuns e as de seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta
pedagógica; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da
sociedade com a escola”. A proposta pedagógica da escola é obra comum dos dirigentes, dos professores
e da comunidade, ressaltando-se o lugar central da competência e da responsabilidade da direção da
escola. Há pesquisas que apontam a relação íntima entre o ensino de qualidade ministrado na escola e
a competência de seu(sua) diretor(a).
Ressalte-se ainda a importância da participação consciente dos professores na elaboração da
proposta pedagógica, que integra seu plano de trabalho, elaborado segundo o previsto na proposta. A
formação sólida dos profissionais que atuam no sistema de ensino é condição imprescindível para a
implantação de reformas educacionais. Daí a responsabilidade das instituições que se dedicam à
formação superior de historiadores-professores em estruturar propostas e práticas curriculares que visem
ao domínio não apenas do conteúdo, das teorias e metodologias do conhecimento histórico, mas também

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ao domínio das proposições teóricas e metodológicas a respeito do processo de ensino/aprendizagem da
História. A formação básica, constantemente realimentada pela formação permanente, fornecerá a
consistência necessária para que os professores-historiadores desempenhem suas funções na
elaboração e na execução do projeto pedagógico da escola.
Para que as reformas preconizadas nos documentos oficiais – LDBEM, DCNEM, PCNEM – passem
do plano dos preceitos à realidade do sistema de ensino no país, faz-se necessária uma profunda
reelaboração na concepção e nas estruturas das escolas, que supõe uma tomada de posição das
autoridades educacionais do ponto de vista organizacional, físico-espacial, de pessoal, de laboratórios,
de materiais didáticos, além de uma revisão radical na estrutura de trabalho dos profissionais da
educação. Os princípios pedagógicos da interdisciplinaridade, da contextualização e do lugar central da
formação para a vida e para o exercício da cidadania somente poderão tomar corpo e constituir impulso
para um ensino de qualidade quando forem assumidos no conjunto da escola. Projetos específicos que
contemplem políticas afirmativas de inclusão social, como as da diversidade étnica, religiosa, sexual, além
da defesa do meio ambiente, poderão fazer com que a História e as demais disciplinas encontrem
efetivamente um ponto de entrosamento que possa ser considerado consistente, e não forçado e
meramente formal e legalista.
Em síntese, o que define a montagem de um currículo escolar e o lugar da disciplina História, em
conformidade com os princípios estabelecidos pela LDBEN e pelas Diretrizes Curriculares para o Ensino
Médio, é a sintonia com a concepção de educação que embasa os princípios. A seleção dos conteúdos
de História, à luz dos princípios aqui enunciados, e as estratégias didático-pedagógicas ao mesmo tempo
em que expressam a alma do processo de ensino/aprendizagem, são de competência dos professores,
em reflexão constante na elaboração do projeto político-pedagógico das respectivas escolas.
É nesse exercício de elaboração do saber escolar que se promove a formação contínua dos docentes.
A finalidade das Orientações Curriculares não é estabelecer uma espécie de “currículo mínimo” de

As informações a respeito dos sítios arqueológicos da Bahia foram retiradas da publicação


“Conteúdo Arqueológico da Bahia”, pelo governo do Estado. Caso você queira conferi-lo na íntegra,
segue o seguinte endereço eletrônico: < http://www.bahiaarqueologica.ufba.br/wp-
content/uploads/2013/09/SEP88.pdf>

conteúdos de História para o ensino médio. O conjunto de considerações presentes neste documento
tem por finalidade explicitar a filosofia e os princípios educacionais inspiradores dos dispositivos legais
que passaram a nortear o sistema de ensino no país e suas referências à disciplina História. São
orientações que buscam auxiliar e orientar os docentes na elaboração dos currículos apropriados aos
alunos das escolas em que atuam. Assim, essas orientações são concebidas como indicativas daquelas
exigências consideradas imprescindíveis para que o professor e a escola elaborem os currículos de
História que melhor se coadunem com as necessidades de formação dos alunos de suas respectivas
regiões e escolas, que têm perfis e necessidades específicas.

Bahia: primeiros grupamentos humanos e sítios arqueológicos.

Patrimônio arqueológico pré-colonial.


Os sítios de sociedades de caçadores e coletores e dos grandes grupos de horticultores
ceramistas, antes da chegada dos portugueses.4

Os vestígios arqueológicos relativos às populações pré-coloniais encontram-se em todas as partes do


território da Bahia, não havendo exclusão de nenhum dos ambientes naturais atuais. Efetivamente,
podem ser encontrados locais com restos de habitação, acampamentos ou de oficinas nas zonas da Mata
Atlântica, no Semiárido, no Vale do São Francisco, na Chapada Diamantina e no domínio do cerrado, no
Além São Francisco. A profusão e a variedade de sítios arqueológicos são um excelente indicador da
pluralidade de sistemas adaptativos criados pelos grupos humanos, em diferentes períodos anteriores à
chegada dos portugueses.
A rigor, se for feito uso de analogias com outras partes do Brasil, do Nordeste em particular, deve-se
pensar que existiu uma ocupação humana recuada até, pelo menos, a transição Pleistoceno/Holoceno,
4Carlos Etchevarne
Luydy Fernandes

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isto é, entre 12 mil e 10 mil anos atrás. As informações sobre esse período provêm de regiões próximas
ao estado da Bahia, como a da Gruta do Padre, no município de Petrolândia, Pernambuco, na altura em
que o Rio São Francisco tinha uma cachoeira, antes da barragem de Itaparica. Nessa gruta, Valentin
Calderón, arqueólogo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), encontrou, na metade dos anos 60,
poucos instrumentos líticos em sílex, finamente talhados que, por seu formato, são apelidados de
“lesmas”. Por serem produzidos com procedimentos padronizados, mesmo sendo poucos exemplares,
foram considerados por Calderón como uma verdadeira indústria, que denominou de Itaparica, em função
da localidade do achado. Estes instrumentos foram datados, pelo seu contexto estratigráfico na Gruta do
Padre, de aproximadamente 7.600 anos BP. O arqueólogo Pedro Schmitz descobriu artefatos parecidos
no estado de Goiás, em área de cerrado, com uma antiguidade que abarca um período entre 11 mil e 9
mil anos BP (SCHMITZ, 1987, p. 25, 1991, p. 14). Datações mais antigas foram encontradas em São
Raimundo Nonato, sudeste do Piauí, próximo ao limite com a Bahia. No sítio Boqueirão da Pedra Furada,
a arqueóloga Niéde Guidon obteve muitas datações sobre fogueiras em diferentes estratos deste sítio,
até alcançar, aproximadamente, 50 mil anos, a datação mais antiga do Brasil. Desse modo, fica
comprovado que, nos territórios dos estados vizinhos à Bahia, encontraram-se vestígios que remontam
ao Pleistoceno superior, e tudo leva a pressupor que, sem barreiras naturais, houve deslocamentos de
grupos humanos nesse período também em territórios baianos.

Patrimônio arqueológico da Bahia


Ao longo desses milênios, sociedades compostas de pequenos núcleos unifamiliares ou de poucas
famílias, à maneira de bandos, assim como de grupos plurifamiliares, demograficamente maiores, com
equipamentos tecnológicos mais complexos e organizados em aldeias, transitaram e se instalaram de
forma eventual ou permanente em determinadas áreas que, atualmente, podem não ter as mesmas
características paisagísticas que em épocas passadas.
De todo modo, o que vale ressaltar é a existência de uma dinâmica social intensa e variada intra e
extragrupos, que envolveria relações amigáveis e belicosas e, sobretudo, uma organização econômica,
que incluiria o deslocamento por espaços ecológicos diferentes como forma de maximizar a captação de
recursos.
Com esta premissa básica, fica explícito que os sítios arqueológicos pré-coloniais constituem, por um
lado, um universo de vestígios que representam apenas frações de tempo na longa vida de uma
comunidade. Por outro, deve ser considerado que se trata de um conjunto lacunar, na medida em que só
ficou como vestígio aquilo que pode se preservar dos intemperismos e de outros agentes pós-
deposicionais. Como consequência, nos restos que chegaram até hoje não está materializada toda a vida
social de um grupo, se não alguns aspectos em um tempo específico. A isto, soma-se a natureza dos
equipamentos adaptativos produzidos pelos indivíduos em sociedade, que varia consideravelmente
quando se trata de caçadores coletores ou de horticultores ceramistas.
Não obstante, reunindo todos os dados proporcionados pelos sítios estudados até hoje, pode se
conseguir construir um panorama sócio-histórico geral que dá ideia da diversidade social e da
complexidade de soluções adaptativas havidas em território baiano anterior à conquista e colonização
europeia. Portanto, sob as já consagradas macrocategorias de caçadores coletores e de horticultores
ceramistas, encerram-se variações tecnológicas de preparação de instrumentos, estratégias de ocupação
espacial, métodos de captação de recursos do ambiente e, no temporal, mudanças diacrônicas. Feita
essa ressalva, cabe apresentar o quadro sociocultural conseguido até esse momento.

Sítios sambaquis
Uma das formas de assentamento sui generis de certos grupos de caçadores coletores são os
sambaquis. Estes constituem grandes acúmulos de conchas de moluscos, de extensão variável, resultado
da ação deliberada de um grupo. Segundo alguns pesquisadores, as conchas não são apenas os resíduos
da alimentação baseada, principalmente, em mariscos. Para a construção dessas colinas de conchas
também houve coleta de espécimes malacológicos, destinados exclusivamente para este fim, haja vista
que não foram abertos para extração da parte comestível. Nos sambaquis é possível encontrar vários
tipos de vestígios enterrados, como fogueiras, instrumentos de pesca, pontas de projétil, quebra-cocos,
sepultamentos, pequenas esculturas em pedra e em ossos de baleia, recipientes cerâmicos etc. Esse
padrão de instalação principalmente litorâneo, mas também fluvial, pode ser observado em várias partes
do Brasil. Os do estado de Santa Catarina, por exemplo, são os maiores, com conteúdos ricos e variados,
além de serem os que melhor se conservaram.
Na Bahia existem restos de sambaquis em várias localidades da faixa de influência oceânica, do norte
ao sul do estado, onde as condições ambientais são propícias. Conforme cronistas do período colonial
existiam sambaquis próximos à cidade de Salvador, desaparecidos em decorrência do seu

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aproveitamento como matéria-prima para a fabricação de cal, com que se construíram os maiores
edifícios soteropolitanos daquele período.
Alguns sambaquis foram encontrados na área do Recôncavo Baiano, no entorno de Camamu, no
Litoral Norte, e também adentrados sobre o Rio Buranhém, em Porto Seguro. Ainda existem notícias de
sambaquis sobre o Rio João de Tibas, por Valentín Calderón, no final da década de 1960 (CALDERÓN,
1969, p. 162). Este pesquisador inicia sua carreira como arqueólogo na Bahia, inaugurando um campo
científico no estado, com escavações sistemáticas, rigorosamente controladas, no sambaqui da Pedra
Oca, no bairro de Periperi, em Salvador. Neste sítio concheiro, Calderón identifica materiais
malacológicos diversos, como ostras das espécies Ostrea arbórea, Ostrea frons e a Arca secticostata,
principalmente. Outras espécies de moluscos encontradas são a Lucina pectinata, Anamalocardia
brasiliana, Strombus pugilis, entre as mais abundantes (CALDERÓN, 1964, p. 74).
Do ponto de vista cultural, o pesquisador localizou, durante a escavação, restos de fogueiras, pedras
de trempes e de esteios, no que se refere aos arranjos domésticos. Quanto aos artefatos, muitos se
relacionam com o tratamento de vegetais para o consumo, como bigornas, batedores, moedores, e com
a preparação de instrumentos cortantes, como alisadores e lâminas de machado. Objetos vinculados a
enfeites corporais, como contas de colares, apareceram junto aos esqueletos dos indivíduos enterrados
no sambaqui. Uma datação do estrato inferior de Pedra Oca, efetuada com amostra de carvão, pelo
método de C14, permitiu datar a base do sambaqui em quase 3.000 anos BP, estrato em que já apareciam
fragmentos cerâmicos (CALDERÓN, 1973, p. 26).
Valentín Calderón identifica ainda, no Recôncavo Baiano, o sambaqui da Ilha do Casqueiro, em Santo
Amaro, o do Sobrado, na localidade de Porto Santo, na Ilha de Itaparica, e o de Cajaíba, na ilha do mesmo
nome, sem fazer referência a outras pesquisas e datações (CALDERÓN, 1969, p. 162).
Sobre o Rio Buranhém, no município de Porto Seguro foram encontrados, nas duas últimas décadas,
restos de três sambaquis – denominados Buranhém I, II e IV – que, apesar de não serem muito altos, se
destacam sobre a planície de inundação do rio. Os três já se encontram em franco estado de deterioração,
por ações antrópicas, especialmente o desmatamento ocorrido nas últimas décadas (ETCHEVARNE,
1998a, 2000).
No primeiro há uma alta concentração de conchas com relação à deposição de sedimentos. No
Buranhém II e IV, contrariamente, prevalecem depósitos de sedimentos escuros. O material arqueológico
corresponde a peças líticas lascadas – especialmente em quartzo hialino – e cerâmica. Os sambaquis
distam vários quilômetros da foz atual do Rio Buranhém, localização que pode ser explicada por duas
razões possíveis. A primeira diz respeito à acumulação proposital pelos grupos sambaquianos, via
transporte fluvial da foz, onde haveria mangues e abundância de moluscos, até os locais em que se
encontram hoje. A segunda é que os sítios teriam sido construídos em momentos de transgressão
marinha, durante as quais, o vale do rio foi invadido e transformado em um braço de mar. Duas
transgressões foram registradas geologicamente sobre o litoral baiano (MARTÍN et al., 1999). Uma que,
em cerca de 5.100 anos BP, subiu 5 m e outra que, em 2.500 anos BP, alcançou 2,50 m (ETCHEVARNE,
1998a, 1999, 2000). Esta última altura é suficiente para provocar o ingresso do mar até o local dos
sambaquis e, sobretudo, coincide com a datação obtida no sítio Buranhém IV, que proporcionou uma
idade de 2.800 +- 60 BP (ROBRAHN-GONZALEZ, 2005, p. 151).

Sítios de arte rupestre


Os espaços em que se encontram as pinturas e gravuras rupestres devem ser entendidos como uma
parte da cultura material que, pela sua preparação em matérias resistentes (suportes rochosos e
pigmentos minerais) e, sobretudo, pela intenção deliberada de que as mensagens imagéticas tenham
perdurabilidade, chega até nossos dias diferenciando-se de outros vestígios perecíveis.
Em linhas gerais, as representações gráficas rupestres estão associadas, pelo menos em alguns
estilos de grande antiguidade, a grupos de caçadores coletores. Os horizontes pictóricos passíveis de
serem reconhecidos como mais recentes, em função das superposições em estratigrafia das camadas de
pinturas, vinculam-se, com maior probabilidade, a grupos de horticultores ceramistas.
Os vestígios arqueológicos de grafismos rupestres, encontrados no território do atual estado da Bahia,
compõem um acervo extraordinário, seja em quantidade como em variedade, que mereceria um
investimento especial e urgente, dirigido para uma catalogação e cadastramento geral, pensando-se a
posteriori na elaboração de um programa de estudos e na criação de diretrizes de gestão. À importância
documental que esses sítios têm, soma-se à vulnerabilidade da sua situação. Efetivamente, as aceleradas
transformações ambientais, decorrentes dos empreendimentos econômicos e de infraestrutura regional
que marcam profundamente a última década, provocam alterações substanciais nas áreas onde esses
sítios se encontram, atingindo os abrigos e paredões com painéis de grafismos. A peremptoriedade na
salvaguarda é ainda justificada se se pensa que, esses tipos de sítio, assim como outros de caçadores

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coletores e horticultores, são os únicos documentos de que se dispõe para entender os processos sócio-
históricos anteriores à chegada do colonizador.
Os sítios de arte rupestre não devem ser considerados com funcionalidades únicas. Em alguns casos
observa-se a frequência de visitação de grupos pré-coloniais pela quantidade e diferença dos grafismos.
Em algumas ocasiões, os grafismos são grandes, coloridos e muito visíveis, ou seja, decididamente
ostensivos, como se houvesse uma necessidade de que eles sejam vistos a distância, como alguns
exemplares dos paredões da Serra das Paridas, Lençóis, ou as do cânion do sítio Poções, em Pituba,
município de Gentio do Ouro. Em outros, contrariamente, existiu uma preocupação em tornar as figuras
diminutas e dificultar a visibilidade ou, então, francamente ocultá-las. Estes são os casos de algumas
figuras do sítio Pingadeira, em Flores, ou o de um bloco do segundo painel de Toca da Figura, em Ventura,
ambos no município de Morro do Chapéu. Em ambos os casos, o tratamento das figuras foi cuidadoso e
detalhado, exigindo, por parte do pintor, experiência e dedicação. As situações apontadas acima
demonstram a diversidade de utilização dos sistemas gráficos, que eram operados em circunstâncias
sociais específicas pelos diferentes grupos sociais, cabendo a possibilidade de terem sido utilizados para
ritualização propiciatória, demarcação territorial, memória de um evento, registro cíclico calendárico,
sistemas contáveis, homenagens a personagens históricos ou míticos, entre outros (ETCHEVARNE,
2007).
Infelizmente não têm sido encontrados, até o presente, sítios em que se possam relacionar as pinturas
com algum elemento datável pelos métodos físicos tradicionais. Dois abrigos escavados recentemente
proporcionaram carvão de fogueiras passíveis de datação. O abrigo calcário do Serrote do Velho Chico,
no município de Curaçá, com diferentes momentos de pinturas e gravuras geométricas, foi ocupado pelo
menos por volta de 1.140 anos BP, mas não é possível determinar a vinculação dessa data com alguns
dos grafismos representados no abrigo. Em Toca da Figura, Ventura, Morro do Chapéu, duas fogueiras
ofereceram idades diferentes, uma de 853 anos BP e outra de 2.445 anos BP, marcando dois momentos
de ocupação do abrigo arenítico. Apesar de a fogueira mais antiga ter sido encontrada em um contexto
de pintura (isto é, junto a um fragmento de seixo com manchas de pigmentos e a um bloco de hematita),
deverão ser feitas análises mineralógicas das figuras e do bloco para estabelecer a qual dos momentos
de pintura corresponde o contexto datado.
Por outro lado, as pesquisas feitas sobre inúmeros abrigos e paredões rochosos, na Bahia, permitem
estabelecer, de forma preliminar, uma sucessão de horizontes pictóricos incluídos em uma cronologia
relativa, isto é, a verificação das sequências de superposições de figuras. Assim, se reconhece que as
mais antigas correspondem aos grafismos mais naturalísticos, associados a um horizonte pictórico de
grande extensão regional denominada, arqueologicamente, de Tradição Nordeste. Nela, as figuras
antropomorfas e zoomorfas de pequenas dimensões representam cenas de captura de animais (veados
e emas), coletas, lutas (ritualísticas ou de real beligerância) etc. com detalhes de instrumentos ou
vestimentas. Seguem figuras que perdem o realismo, tornando-se sintéticas e de maior tamanho até se
tornar figuras sem movimento e de tratamento pouco cuidado. Um sistema gráfico que, de forma geral e
pouco aprofundada, é classificado como Tradição Agreste. Paralelamente aparecem elementos que
apontam para uma geometrização e consequente abstração dos motivos, que acabam dominando os
painéis, na última das superposições. Ainda dentro dos motivos geométricos podem ser divididos aqueles
que compõem planos ou áreas muito elaboradas e policrômicas e os que utilizam as linhas. Os motivos
com linhas acabam por finalizar a série de estratos que compõem o espectro cronológico dos estilos
pictóricos, na Bahia.

Sítios ceramistas da Tradição Aratu


Os sítios arqueológicos referentes aos primeiros grupos horticultores ceramistas correspondem aos
locais com vestígios cerâmicos de uma unidade tecnológica denominada Tradição Aratu. A rigor, até o
momento o elemento que serve de diagnóstico para identificar sítios enquadrados nesta categoria são os
recipientes funerários ou urnas cerâmicas. A forma do invólucro mortuário é de tal forma padronizada e
reiterativa, seja do ponto de vista diacrônico como na sua dispersão territorial, que ela parece apontar,
mais do que uma pertinência cultural a um único grupo pré-colonial, a difusão de uma tecnologia de
produção de objetos com sua correspondente justificativa ideológica. Isso quer dizer que o fato de se
encontrarem urnas Aratu desde o litoral até o cerrado, incluindo áreas de caatinga, não aponta para uma
distribuição territorial ampla de um grupo somente, antes se refere a um aspecto comum de grupos
culturalmente diferentes.
O padrão de urnas Aratu consiste na repetição de recipientes com morfologia cônica ou periforme,
com base estreita e arredondada e com o corpo que se abre até a circunferência máxima situada próxima
à abertura. Esta morfologia se repete em enterramentos de indivíduos de qualquer idade, adultos, jovens
crianças e recém-nascidos, não importa a área geográfica em que foram encontrados.

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A maioria dos casos não apresenta elementos decorativos e o alisamento da superfície externa é bem
executado. Não obstante, algumas alterações deste padrão foram observadas na região litorânea do sul
de Recôncavo até o extremo sul da Bahia, em que apresentam uma faixa de 5 a 10 cm beirando a
abertura, com apurada decoração corrugada, técnica decorativa que foi aplicada também em outros
recipientes domésticos. Ademais, na região de São Desidério e Barreiras, no oeste baiano, alguns
exemplares de urnas apresentam uma linha incisa na abertura, o que poderia assinalar um elemento
adicionado na região. Na região sul da Chapada Diamantina, município de Jussiape, encontrou-se
decoração muito similar a essa linha contornando toda a abertura de uma urna, porém, realizada pela
impressão de um cordão na pasta ainda úmida do recipiente. (COMERLATO, 2008).
Todas as urnas funerárias possuíam opérculo que fechava a abertura para impedir a entrada dos
sedimentos na hora do enterramento. Estas tampas são cônicas, semelhantes ao formato de sinos. Os
corpos eram enterrados fletidos e inteiros, como primeiro enterramento, já que nos esqueletos não se
observam marcas de quebra das articulações e os ossos mantêm uma conexão anatômica lógica.
Algumas urnas contêm acompanhamentos funerários como pequenas tigelas cerâmicas, lâminas de
machado, rodelas de fuso, pingentes e, no caso das crianças, contas de colares em ossos ou dentes de
animais.
Os grupos que produziam este tipo de cerâmica eram cultivadores de tubérculos e provavelmente do
milho, mas não da mandioca, haja vista que não foram achados, nos sítios, fragmentos de recipientes
apropriados para o seu processamento. O povoamento Aratu procedeu-se pelo padrão organizativo em
grandes aldeias, se for considerada a dispersão dos elementos fixos remanescentes, como as próprias
urnas. O alto número destas encontrado em algumas localidades permite pensar que, por um lado, eram
grupos numerosos e, por outro, que permaneciam residindo durante muito tempo na mesma localidade.
No sítio Guipe, em Candeias, na Bahia de Aratu, Valentín Calderón encontrou 54 urnas (CALDERÓN,
1969, p. 164). Já na Praça da Vila de Piragiba, no município de Muquém do São Francisco, no oeste
baiano, foram localizadas 120 urnas, o maior número até hoje registrado.
O caso do sítio da Praça da Vila de Piragiba é o mais estudado até o presente, pois foi possível retirar
boa parte das urnas que estavam em rápido processo de desaparecimento, em função da acentuada
erosão fluvial. A datação do sítio é de cerca de 850 anos BP, conseguida pelo método de C14 sobre
material ósseo. Esta idade enquadra-se no que se conhece como faixa cronológica para esta tradição
ceramista na Bahia, que se estende entre o século IX e o século XIV d.C. A situação arqueológica e
topográfica do sítio Lagoa Queimada, em Santa Inês, Vale do Jequiriçá, se assemelha bastante com o da
Vila de Piragiba, o que demonstra a repetição de um modelo de assentamento que talvez, em um período
determinado, possa ter sido padrão para esses grupos.
Sobre o que tange aos instrumentos fabricados em rocha, denominados líticos, o que se pode notar é
uma grande variabilidade, acompanhando a enorme amplitude geográfica desses grupos Aratu. Como os
inúmeros sítios se estendem do litoral até o planalto e das zonas de mata até o semiárido, atravessando
toda a Bahia, um dos fatores observados a condicionar a produção lítica reside na disponibilidade da
matéria-prima, bem como da qualidade das rochas existentes. Via de regra, alguns tipos bem definidos
de rochas se prestam ao lascamento, de modo a serem obtidos instrumentos aptos e eficientes aos
trabalhos diários. Os grupos indígenas do passado os sabiam bem reconhecer e localizar as suas jazidas,
sendo essas áreas bastante visitadas para a captação dos recursos. Para os artefatos lascados, uma
classe de rochas era a mais adaptada e, para os artefatos polidos, outros tipos eram necessários, a
depender das suas resistências.
Nos domínios da Chapada Diamantina, as lascas aumentam consideravelmente de quantidade e
dimensão e surgem os instrumentos lascados. Possivelmente, tal comportamento diferenciado resulte da
oferta abundante de matéria-prima de boa qualidade e em grande quantidade apta ao lascamento, o que
não se observa na zona litorânea do estado. As lascas são destinadas a serviços que requerem menos
força, menos amplitude de movimentos, tais como preparar peles e carnes, raspar madeira ou ossos,
fazer pequenos cortes ou orifícios, por exemplo. Os grandes instrumentos, agora lascados, continuam
destinados ao cultivo da terra e à produção de alimentos. O sítio que oferece melhor condições para a
avaliação desse conjunto artefatual é o Marcolino, escavado recentemente, em 2008, durante o
salvamento Por fim, a região oeste, situada à margem esquerda do Rio São Francisco, revela um conjunto
de implementos líticos que, até o momento, é o mais bem conhecido dentro do estado da Bahia. Nessa
zona nota-se a prevalência de instrumentos lascados em uma grande quantidade, além da cadeia
operatória das lascas que decorrem da sua produção, todas elas presentes in situ, sendo o sítio de
Piragiba o mais estudado, no qual foram recolhidos mais de 400 instrumentos lascados dedicados ao
cultivo. Como os outros instrumentos recolhidos nos sítios antes citados, tais artefatos podem ser
equiparados a machados, pois seguramente serviram para derrubar a mata e preparar o solo, abrindo
campos de cultivo para a produção dos alimentos que sustentavam aquela grande aldeia. Marcas de uso
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muito evidentes, similares a desgastes e lustros, comprovam o seu intenso uso, a ponto de ser possível
ver esses sinais a olho nu, fato bastante raro – dentro do que atualmente se conhece – para a Arqueologia
brasileira.
A desaparição das instalações correspondentes à Tradição Aratu parece coincidir com a chegada das
diversas ondas migratórias dos grupos do tronco linguístico Tupi que, por suas características
semelhantes, competiriam pelos territórios e seus recursos. Alguns sítios litorâneos permitem pensar que
houve reocupação de localidades Aratu por parte de grupos Tupi, pela situação de mistura no estrato
superficial dos componentes cerâmicos das duas tradições. De qualquer modo, a não ocorrência de
material Aratu depois dessa época indica que algum acontecimento importante irrompeu na dinâmica de
domínio territorial das sociedades Aratu.

Sítios ceramistas da tradição Tupi


Da mesma forma que os sítios da Tradição Aratu, aqueles da Tradição Tupi encontram-se espalhados
por todas as regiões da Bahia, mas com maior concentração na área litorânea. Os locais com vestígios
desses grupos variam em áreas ecológicas, na localização topográfica, nas formas e nas dimensões dos
assentamentos, na profundidade da estratigrafia e, às vezes, em alguns componentes artefatuais. A rigor,
aquilo que torna indiscutivelmente distinto um sítio Tupi de outro são os objetos cerâmicos. Ou seja, este
macrogrupo está definido essencialmente por uma tecnologia de produção cerâmica, doméstica ou
ritualística, que o particulariza e o opõe a outros também ceramistas. Em consequência, esta
generalização não permite determinar questões vinculadas à identificação étnica stricto sensu, podendo
ficar englobadas situações sociais de tupinização, por exemplo, típicas do processo de conquista de
territórios e a incorporação de contingentes demográficos neles já instalados (ETCHEVARNE, 2009).
Alguns materiais cerâmicos Tupi encontrados nos seis complexos dunares do Submédio São
Francisco (Cabeça do Boi, Volta do Rio, Surubabel, Outeiro e Abaré) podem representar uma situação
inversa. Esses fragmentos de recipientes cerâmicos com características Tupi, junto a certos objetos líticos
polidos (lâminas de machado e tembetás), podem ser interpretados como elementos identificadores de
uma penetração Tupi pelo Rio São Francisco. Tratar-se-ia de uma migração em áreas de domínio de
outros grupos pré-existentes, como os do tronco linguístico kariri. Estes poderiam ter oferecido suficiente
resistência bélica ou cultural, de modo a impor uma adaptação aos recém-chegados (ETCHEVARNE,
2009, p. 128).
A cerâmica Tupi está caracterizada pela variedade e o apuramento no tratamento de superfície e na
modelação do corpo cerâmico. Os recipientes são de tamanhos variados, mas os chamados potes e
assadores, destinados à preparação de líquidos e processamento da mandioca amarga, respectivamente,
são de grande tamanho. As bordas, não importa de que tipo de peça se trate, são reforçadas, isto é, as
paredes dos objetos aumentam consideravelmente na beirada da abertura, colocando-se-lhes roletes
adicionais, dando-lhe uma forma ligeiramente triangular. Ademais, grande parte dos potes cerâmicos para
reserva de água ou preparação de alimentos líquidos apresenta carenas. Estas são arestas formadas
pela mudança de direção nas paredes que passam de abertas a fechadas, criando uma linha de quebra
na circunferência do vasilhame.
As decorações cerâmicas são de dois tipos: plásticas e pintadas. As primeiras consistem em alterações
na superfície da peça, criando texturas diferentes. A técnica do corrugado, por exemplo, amplamente
difusa na cerâmica Tupi, consiste em um relevo ondulante e rítmico, produzido pela pressão dos dedos
ou de espátulas sobre os roletes de construção do vasilhame. O inciso, por sua vez, é uma técnica de
decoração em que se realizam os motivos com gumes ou pontas finas. O ungulado, ou seja, incisões
feitas com as unhas que deixam marcas semicirculares foi usado para compor faixas ou partes do corpo.
As pinturas, derivadas de pigmentos minerais, têm suas especificidades. Quando localizadas na parte
externa apresentam padrões geométricos. Nas bordas sugerem imitação de cestarias. Quando são
internas, especificamente nos recipientes abertos como os assadores e pratos, os motivos são elaborados
com linhas de curvas e retas, misturando pontos, de traço muito fino, o que conforma um conjunto delicado
de figuras entrelaçadas que, em alguns casos, lembram os motivos das rendas.
Assim como os grupos vinculados à Tradição Aratu, a maioria dos grupos Tupi também enterrava seus
mortos em urnas funerárias, mas não tinha um padrão morfológico específico como recipiente funerário.
Cabe pensar que os próprios recipientes utilizados para preparação de bebidas rituais, como o cauim,
serviam também como invólucro funerário. Quanto à forma de deposição dos corpos cabe pensar que se
tratava de enterramentos primários (o corpo ainda completo) ou secundários, somente o conjunto das
partes ósseas devidamente processadas depois de um enterramento primário e desaparecidos os tecidos
musculares.
Bem pouco ainda se sabe sobre o conjunto artefatual lítico pertencente a esses grupos Tupi, que
rivalizaram em um momento inicial com os grupos Aratu no território baiano, os substituindo por completo

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ao longo do tempo. Estavam seguramente dependentes da disponibilidade da matéria-prima e devem ter
compartilhado do conhecimento do ambiente que os Aratu já detinham, se em algum período estiveram
em contato.
Alguns sítios são elementos destacados para uma observação do que produziram. Das pesquisas mais
recentes podemos citar, no oeste, a Roça do Zé Preto, na qual foram recuperados instrumentos lascados
similares aos machados Aratu, complementados por uma coleção de pequenas lascas. Três sítios em
Camamu continham líticos lascados e machados polidos, sendo que em um dos sítios também foram
encontrados elementos da colonização portuguesa (FERNANDES, 2007). Na Chapada Diamantina, em
um sítio Tupi na margem do Rio Jussiape, denominado Pilões de Baixo, poucas lascas e instrumentos
lascados foram recuperados (COMERLATO, 2008). Um estudo mais detalhado desses objetos ainda
aguarda ser feito, de modo a melhor serem compreendidas as suas cadeias de produção, bem como o
seu uso.
As datações mais antigas dos grupos Tupi, na Bahia, os situam em uma faixa cronológica que se inicia
em torno de 700 anos BP e que se prolonga até tempos coloniais, sendo eles os grupos indígenas que
mantiveram maior interação com as primeiras frentes de instalações portuguesas na faixa do litoral
(CALDERÓN, 1973, p. 26).

A questão da identidade nacional na Historiografia brasileira.

Historiografia e Identidade Nacional


A Historiografia pode ser definida como a ciência que estuda, analisa e registra os fatos históricos ao
longo do tempo. Ela também pode ser entendida como a ciência que conta como os seres humanos
fizeram história com o passar do tempo.
Até o século XIX, a ideia de História não era encarada como disciplina do conhecimento acadêmico. É
somente a partir da tentativa de construção de um passado para a ideia de nação e similaridade dos
povos, que ela entra em evidência e passa a ter pesquisadores debruçados sobre ela, utilizando métodos
e práticas próprios para a sua elaboração.
Enquanto os historiadores tradicionais se utilizam principalmente dos documentos oficiais para suas
pesquisas, a Nova História amplia essas fontes, se baseando não só nos documentos oficiais, mas
também em outras fontes.
As fontes oficiais utilizadas como principal fonte histórica pelos historiadores tradicionais ou positivistas
são leis, artigos, portarias, código civil, feitos pelo Estado, Igreja, militares, ou seja, pela elite (reis,
imperadores, generais, alto clero, banqueiros, industriais), por serem considerados verdadeiros, não
sofrendo análise, questionamentos, interpretação.
É uma história vista de cima e nunca das pessoas “comuns”, mas mesmo assim tiveram uma
importância fundamental. É apenas uma descrição ou narrativa dos acontecimentos, tal como eles
aconteceram.
Em contrapartida, a Nova História ampliou as fontes de pesquisa, utilizando livros, literatura, jornais,
artes, pinturas, história oral, entre outras, não descartando os documentos oficiais.
Tem a preocupação de analisar, questionar e interpretar não só a história dos vencedores, mas
também dos “vencidos”, das “minorias”, tais como negros, índios, mulheres, crianças, operários(as),
prostitutas, pobres, oprimidos, levando em consideração que toda atividade humana pode e deve ser
pesquisada: tudo e todos(as) têm uma história.
É uma História vista de “baixo para cima”, das consideradas pessoas “comuns”; é uma análise dos
fatos, das estruturas.
Como diria Marx: “Os filósofos até então tentaram interpretar o mundo, precisamos agora transformá-
lo”. Para a Nova História, nossa posição não pode ser neutra, ela tem que ter um compromisso social
com as múltiplas vozes do passado, dos “vencidos”, para que a história destas pessoas possa ser contada
e analisada, para que possamos participar da transformação desta sociedade e utilizando-se desse
estudo possamos sonhar com uma sociedade mais justa e solidária, onde todos e todas têm vez e voz,
enfim, uma sociedade sem tantas diferenças entre os grupos e classes sociais.
História (do grego antigo historie, que significa testemunho, no sentido daquele que vê) é a ciência que
estuda o Homem e sua ação no tempo e no espaço, concomitante à análise de processos e eventos
ocorridos no passado. A palavra história tem sua origem nas «investigações» de Heródoto, cujo termo
em grego antigo é Ἱστορίαι (Historíai).

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Conhecido como “Pai da História”, Heródoto nasceu na cidade de Halicarnasso (atualmente Bodrum,
Turquia), e viveu entre 484 a.C. e 425 a.C.
A obra de Heródoto é dividida em nove livros, batizados com o nome das nove musas, as deusas das
artes. Ele enxerga as raízes da briga greco-pérsica na mitologia, como o rapto de Helena (uma grega)
por Páris (um troiano e, portanto, asiático e precursor dos persas). E passeia por quase todo o mundo
então conhecido, da Espanha à Índia, com uma imaginação de dar inveja a Marco Polo.

Documento e noção de verdade histórica5


Durante muito tempo os documentos escritos foram considerados a base para a pesquisa e veracidade
da História. Apesar de ter papel de destaque na pesquisa histórica até hoje, o documento não é a única
fonte de informações para o trabalho do historiador, mas constitui-se dentre as inúmeras possibilidades
de utilização, que vão desde documentos escritos à história oral.
O problema de considerar o documento como única fonte de trabalho do historiador, entre outras,
coloca a seguinte questão:
Se o documento é a base para a pesquisa e veracidade da História então caso uma civilização que
não tivesse nenhum vestígio histórico, seria essa civilização tida como inexistente para profissional da
História? Já que o documento é tão importante para a produção da história vem outra pergunta: o que é
documento histórico?
Para responder a última pergunta devemos considerar qual memória deve ser preservada pela
História. Como determinado grupo e determinada época consideram que aquela folha escrita estivesse
na categoria e importância de um verdadeiro “documento histórico” e por isso o guardou para nós do
presente?
A carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal só tomou importância mesmo em meados
do século XIX (mais de quatrocentos anos depois), pois dependeu do crescimento do orgulho português
pelo passado épico das navegações e no Brasil por este no século XX estar em crescimento do seu
nacionalismo. O documento não é um documento em si, independente do mundo a sua volta, há um
diálogo entre o interesse do presente e o documento; todo documento histórico é uma construção
permanente. Mas não bastassem essas variações há outras: variam também os agentes que a leem
permitindo leituras opostas. A intenção particular da primeira variação junta-se com a intenção particular
da segunda variação, pois o documento possibilita ais leituras variadas.
Essa mutação do documento tem relação com o interesse do presente por tais personagens ou fatos.
Não existe fato histórico eterno e sim um fato que consideramos histórico. Assim, a determinação do que
é fato e documento histórico demonstram nossa visão e interesse pelo passado, em um diálogo entre
visão contemporânea e as fontes do passado.
O que provocou tal ampliação do objeto foi a consideração ampliada do que é documento histórico;
Marc Bloch desejou isso considerando que tudo que é produzido pelo homem deve ser considerado
documento histórico. Essa ampliação fez com que a história tivesse um diálogo com outras disciplinas
como a Antropologia e a Sociologia, coisa que a história tradicional não tinha. O que isso tem a ver com
o documento? Amplia a noção de documento, não é apenas o que é escrito considerado documento
histórico e sim tudo produzido pelo homem. Mas não foi só isso que permitiu essa ampliação. Vejamos
no campo das artes plásticas. Perdeu-se seu campo definido na pós-modernidade, o novo conceito de
belo permitiu produções que eram tidas como ridículas até então. O período de redefinição conceitual
expandiu-se em todos os campos do conhecimento. Mas é bom ressaltar que nem sempre a mudança do
objeto estudado pela história implica na mudança radical do documento, a grande diferença está no tipo
de leitura do documento que pode mudar o olhar sobre este.
Talvez a mudança mais expressiva não esteja no novo objeto estudado pela história e sim no novo
estatuto epistemológico sobre a “verdade” no documento; o que é documento verídico. Muitos
historiadores do cotidiano praticam uma metodologia similar ao do detetive ao extrair informações
indiretas e ocultas do mesmo documento tradicional (texto escrito) ou acrescentando documentações
novas (tudo produzido pelo homem) para suas análises.
Mas o que garante a autenticidade do documento? O que o torna autentico? Todo objeto de valor pode
ser alvo de falsificação quando se está em jogo um fato importante. Os nazistas falsificaram objetos
arqueológicos para justificar sua ocupação na planície germano-polonesa alegando que os alemães já a
habitavam antes dos poloneses. Se hoje dispomos da Química e da Física para valer a veracidade
documental, antes não havia tal ferramenta, então desenvolveu-se métodos embasados paleografia e a
filologia, que são o estudo da linguagem e escrita datando sua origem. Vamos levar em consideração que
no século XIX, os Estados nacionais que tomaram a frente de preservação e coleta dos documentos

5 Adaptado de historianointerior, com base em Pinsky.

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publicações de artigos. Temos no Brasil o Instituto Histórico e Geográfico que no século XIX fez esse
papel. Por tanto, o que era tido como documento histórico era aquilo que interessava a tal Instituto e para
o Estado, o que faz algo documento histórico não é o documento em si, mas as intenções de quem o
procuram.

Documentos e Instituições de Guarda


Na área de História as produções científicas têm por base a utilização de documentos. Le Goff, em
“Documento/Monumento” disserta sobre as possibilidades de usos dos documentos pelos historiadores,
argumentando, por exemplo, com Lucien Febvre, que defendeu a impossibilidade de fazer História sem
documentos escritos, ou como Samaran, que afirmou, no século XIX, que não haveria História sem os
mesmos.
Le Goff expõe a necessidade de perceber o documento como uma construção, como um “produto da
sociedade que o fabricou segundo suas relações de forças que aí detinham poder”, sendo então
necessário perceber, não apenas como um documento, mas sim como um monumento. Entende-se que
o autor francês não estava se referindo especificamente aos documentos arquivísticos e que a História
não trabalha apenas com este tipo de fonte, no entanto, entende-se que eles são extremamente
frequentes na historiografia, sendo elementos representativos de seu tempo. Em função da aproximação
da História com os documentos arquivísticos e do reconhecimento dos mesmos por esta comunidade
profissional, criou-se uma tradição de atuação desses pesquisadores em instituições de memória. A
participação de historiadores em instituições arquivísticas é frequente, e esta ligação entre historiadores
e arquivos pode ser observada, ainda hoje, tanto na direção de diversos arquivos.
A História é uma área tradicionalmente “usuária” de documentos arquivísticos, e seus pesquisadores
são habituais frequentadores de arquivos e de instituições de memória.

História e Memória6
Segundo o historiador Jacques Le Goff, a memória é a propriedade de conservar certas informações,
propriedade que se refere a um conjunto de funções psíquicas que permite ao indivíduo atualizar
impressões ou informações passadas, ou reinterpretadas como passadas. O estudo da memória passa
da Psicologia à Neurofisiologia, com cada aspecto seu interessando a uma ciência diferente, sendo a
memória social um dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da História.
A memória está nos alicerces da História, confundindo-se com o documento, com o monumento e com
a oralidade. Mas só muito recentemente se tornou objeto de reflexão da historiografia.
Apenas no fim da década de 1970 os historiadores da Nova História começaram a trabalhar com a
ideia de memória. Em outras áreas como Filosofia, Sociologia, Antropologia e principalmente na
Psicanálise, no entanto, os estudos sobre a memória individual e coletiva já eram bastante avançados.
Sigmund Freud, no século XIX, iniciou amplos debates em torno da memória humana, trazendo à tona
seu caráter seletivo: ou seja, o fato de que nos lembramos das coisas de forma parcial, a partir de
estímulos externos, e escolhemos lembranças. Freud distinguiu a memória de um simples repositório de
lembranças: para ele, nossa mente não é um museu.
Nesse aspecto, ele remete a Platão, que já na Antiguidade apresentava a memória como um bloco de
cera, onde nossas lembranças são impressas. Quando os historiadores começaram a se apossar da
memória como objeto da História, o principal campo a trabalhá-la foi a História Oral. Nessa área, muitos
estudiosos têm-se preocupado em perceber as formas da memória e como esta age sobre nossa
compreensão do passado e do presente. Para teóricos como Maurice Halbawchs, há inclusive uma nítida
distinção entre memória coletiva e memória histórica: pois enquanto existe, segundo ele, uma História,
existem muitas memórias.
E enquanto a História representa fatos distantes, a memória age sobre o que foi vivido. Nesse sentido,
não seria possível o trabalho da memória como documento histórico. Essa posição hoje é muito
contestada. Antonio Montenegro, por exemplo, considera que apesar de haver uma distinção entre
memória e História, essas são inseparáveis, pois se a História é uma construção que resgata o passado
do ponto de vista social, é também um processo que encontra paralelos em cada indivíduo por meio da
memória.
Mas a memória não é apenas individual. Na verdade, a forma de maior interesse para o historiador é
a memória coletiva, composta pelas lembranças vividas pelo indivíduo ou que Ihe foram repassadas, mas
que não Ihe pertencem somente, e são entendidas como propriedade de uma comunidade, um grupo. O
estudo histórico da memória coletiva começou a se desenvolver com a investigação oral. Esse tipo de
memória tem algumas características bem específicas: primeiro, gira em torno quase sempre de
6 Adaptado de Silva

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lembranças do cotidiano do grupo, como enchentes, boas safras ou safras ruins, quase nunca fazendo
referências a acontecimentos históricos valorizados pela historiografia, e tende a idealizar o passado. Em
segundo lugar, a memória coletiva fundamenta a própria identidade do grupo ou comunidade, mas
normalmente tende a se apegar a um acontecimento considerado fundador, simplificando todo o restante
do passado. Por outro lado, ela também simplifica a noção de tempo, fazendo apenas grandes
diferenciações entre o presente ("nossos dias") e o passado ("antigamente': por exemplo). Além disso,
mais do que em datas, a memória coletiva se baseia em imagens e paisagens. O próprio esquecimento
é também um aspecto relevante para a compreensão da memória de grupos e comunidades, pois muitas
vezes é voluntário, indicando a vontade do grupo de ocultar determinados fatos. Assim, a memória
coletiva reelabora constantemente os fatos.
Outra distinção entre História e memória está no fato de a História trabalhar com o acontecimento
colocado para e pela sociedade, enquanto para a memória o principal é a reação que o fato causa no
indivíduo. A memória recupera o que está submerso, seja do indivíduo, seja do grupo, e a História trabalha
com o que a sociedade trouxe a público. Autores como Paul Veyne, por exemplo, afirmam que se
acreditarmos que alguns fatos são mais importantes do que outros, teremos de considerar que essa
importância é relativa e segue critérios pessoais de cada historiador. Para Montenegro, por sua vez, a
dificuldade de se utilizar os depoimentos orais como fonte da História é que o fato de que eles são fontes
construídas pela memória, e esta reelabora a realidade vivida pela imaginação.
Para Jacques Le Goff é preciso diferenciar as sociedades de memória oral e as de memória escrita.
Mas enquanto estudiosos como Leroi-Gourham consideram que a memória coletiva, ou étnica, é uma
característica intrínseca de todas as sociedades, Le Goff defende que ela é uma forma característica dos
povos sem escrita.
Seja como for, nas sociedades sem escrita a atitude de lembrar é constante, e a memória coletiva
confunde História e mito. Tais sociedades possuem especialistas em memória que têm o Importante papel
de manter a coesão do grupo. Um exemplo pode ser visto nos griots da África Ocidental, cidadãos de
países como Gâmbia, por exemplo. Os griots são especialistas responsáveis pela memória coletiva de
suas tribos e comunidades. Eles conhecem as crônicas de seu passado, sendo capazes de narrar fatos
por até três dias sem se repetir. Quando os griots recitam a história ancestral de seu clã, a comunidade
escuta com formalidade. Para datar os casamentos, o nascimento de filhos etc., os griots interligam esses
fatos a acontecimentos como uma enchente. Tais mestres da narrativa são exemplos de como a tradição
oral e a memória podem ser enriquecedoras para a História: ambas são vivas, emotivas e, segundo o
africanista KiZerbo, um museu vivo.
Esses especialistas em memória das sociedades sem escrita, todavia, não decoram palavra por
palavra. Pelo contrário, nessas sociedades a memória tem liberdade e possibilidades criativas, e é sempre
reconstruída. A escrita por sua vez, transforma fundamentalmente a memória coletiva. No Ocidente, seu
surgimento possibilitou o registro da História por meio de documentos. Para Leroi-Gouham, a memória
escrita ganhou tal volume no século XIX que era impossível pedir que a memória individual recebesse
esse conteúdo das bibliotecas. O que levou, no século XX, a uma revolução da memória, da qual fez
parte a criação da memória eletrônica.
O século XX vivenciou também a expansão dos estudos sobre a memória na Arte e na Literatura. O
Surrealismo nas artes plásticas, estilo de pintores como Salvador Dalí, por exemplo, preocupado com o
mundo dos sonhos, passou a se questionar sobre a memória. Já a obra de Marcel Proust, por outro lado,
é o melhor exemplo de uma exploração literária da memória. Outro é o conto de Jorge Luis Borges,
"Funes, o memorioso” que explora a possibilidade de um indivíduo que nunca se esquece de nada, e de
como isso o faria perder a própria capacidade de pensar, visto que esta se baseia na seleção e associação
de memórias.
A interdisciplinaridade nas ciências sociais também modificou a percepção da memória coletiva. Já a
partir de Halbawchs, em 1950, o estudo da memória coletiva passou a interligar Psicologia Social,
Antropologia e Etno-história. Além disso, a partir desse período, a Nova História buscou criar uma História
científica com base na memória coletiva, considerando também a importância da memória para a
definição das identidades. Na década de 1970, o escritor afro-americano Alex Haley empreendeu uma
monumental pesquisa em três continentes em busca do passado de sua família a partir das memórias
repassadas geração após geração, desde o primeiro membro da família a chegar na América como
escravo. Essa pesquisa, que deu origem ao livro Raizes, impulsionou um processo de valorização da
memória como fonte para a construção das identidades. Haley trabalhou com griots em Gâmbia e difundiu
no Ocidente um exemplo de como as sociedades sem escrita pensam sua memória: as comunidades
tradicionais de Gâmbia, os "homens sábios” afirmavam que a ancestralidade de todas as pessoas
remontava necessariamente a um tempo em que a escrita não existia. E aí então a memória humana
tornava-se a única forma de conseguir informações sobre o passado. Para eles, a cultura ocidental estava

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tão condicionada ao esmagamento da escrita, que poucos poderiam compreender do que uma memória
treinada era capaz.
Nesse ponto, cabe fazermos referência a outro grande africanista, Jan Vansina, que defende que a
oralidade é uma atitude diante da realidade e não a ausência de uma habilidade, no caso a habilidade de
escrever. E são justamente as sociedades orais as que melhor preservam a capacidade de compreensão
de seu passado por meio da memória coletiva. Assim, a reflexão sobre a memória tornou-se, para
professores de História, uma oportunidade para refletir sobre a capacidade de produzir conhecimento
sobre o passado, e sobre como essa capacidade difere de povo para povo.
Estudar em sala de aula os griots, por exemplo, é trabalhar de forma prática com a diversidade cultural
da humanidade, não se atendo somente a um discurso de igualdade entre todas as culturas. E o
verdadeiro entendimento da diversidade cultural passa pela compreensão de que não há superioridade
cultural e, logo, de que a escrita não é um marco entre os povos desenvolvidos e os subdesenvolvidos.

Tempo Histórico e as periodizações


O ano de 1453 é um dos marcos para o fim da Idade Média e passagem para a Idade Moderna, quando
a cidade de Constantinopla é conquistada pelos turcos, liderados pelo sultão Maomé II. A queda da cidade
e não significou a mudança total dos modos de vida e da organização social da Europa no ano seguinte.
A divisão da História em períodos pode gerar uma certa confusão, já que falar que houve a mudança da
mentalidade na transição entre os dois períodos não é um acontecimento uniforme, mas que ocorreu de
maneira diferenciada e em épocas diferenciadas.
Sendo a história uma ciência que estuda a experiência humana, é óbvio que compartimentar o
conhecimento simplifica fenômenos que são complexos.
No entanto, para refletir sobre o passado para tentar entender o presente e preparar para o futuro; é
fundamental dividir o tempo para sistematizar e organizar a análise.
Assim, embora nem sempre seja possível categorizar o objeto do estudo dentro do âmbito de um
tempo especifico, o historiador é sempre forçado a trabalhar com períodos para organizar seus estudos.
Por outro lado, está realidade complexa que precisa ser transformada em discurso para que possamos
discuti-la, sempre gera confusão na hora de delimitá-la em períodos.
O estudante brasileiro possui dificuldade em localizar cada era na linha do tempo, fica perdido nas
datas e fatos que simbolizam cada época.

A periodização na história
A cronologia é a ciência da contagem do tempo, permitiu elaborar os calendários e, por sua vez,
organizar o trabalho humano, possibilitando a evolução da espécie.
A divisão cronológica da história, tal como conhecemos hoje, foi desenvolvida a partir do século XIX.
Visava facilitar o estudo das ações do homem através dos tempos, sendo baseada então no calendário
cristão, uma vez que foi criada a partir da cultura europeia Ocidental greco-romana.
Obviamente, o tempo passou a ter como marco zero o nascimento de Cristo, ou ao menos o ano que
se supunha Jesus teria nascido.
É interessante ressaltar que outras culturas possuem diferentes marcos iniciais para o início de seu
calendário.
Os gregos antigos tinham como ponto de partida os primeiros jogos olímpicos, os romanos a mítica
fundação da cidade de Roma.
Os muçulmanos ainda contam o tempo a partir da data da fuga de Maomé da cidade de Meca para
Medina, o que aconteceu no ano 622 pelo nosso calendário, o que faz com que eles estejam muito atrás
do ano 2.000, seiscentos anos.
Igualmente, os chineses e judeus também contam o tempo diferente do mundo Ocidental.
De qualquer forma, o calendário cristão dividiu o tempo em séculos, períodos de cem anos.
O que serviu de base para que a cronologia dividisse o tempo em grandes períodos, com início e final
marcados por fatos significativos para a humanidade.

A pré-história.
Seria o período antes da História. Tem como como marco o surgimento do homem no planeta terra,
cerca de um milhão de anos a.C. até a invenção da escrita, por volta de 5.000 anos atrás.
Mas por que a escrita?
A divisão dos períodos históricos foi feita, como citado anteriormente durante o século XIX, na Europa.
Portanto, seus períodos foram estabelecidos de acordo com a noção de desenvolvimento da civilização
ocidental, com base na Europa.

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Apesar da nomenclatura estar convencionada e a ser adotada cientificamente, este um conceito está
ultrapassado, pois muitas sociedades que não possuíram escrita, nem por isto não deixaram de ter
história.
Os indígenas da América do Sul, por exemplo, não conheciam a escrita, mas preservavam sua história
oralmente.
Os arqueólogos são responsáveis pela coleta de indícios matérias destas sociedades sem escrita,
recompondo sua história.
Entre os problemas para a determinação da escrita como ponto de mudança está a noção de que as
sociedades ágrafas (que não possuem escrita) ainda vivem na pré-história, já que não alcançaram o
elemento básico da escrita, determinado pelos europeus.

A Idade Antiga.
A antiguidade foi determinada após o fim desse período, ou seja, é claro que quando os gregos viveram
não se consideram antigos, na sua ótica eles eram contemporâneos.
Do período em que se desenvolveram as primeiras civilizações até o fim do império romano do ocidente
em 476, foi denominada a nomenclatura de Idade Antiga.
Em relação ao desenvolvimento das primeiras civilizações, é preciso entender o termo como a
formação de uma cultura mais complexa, com componentes sociais, políticos e econômicos; onde o
trabalho começou a ser organizado em benefício da humanidade, implicando na construção de cidades
e no entrelaçamento de redes comerciais e intercâmbios de várias ordens entre os povos.
Apesar das controvérsias entre o início e o fim desse período e do longo período de transição para
mudanças significativas, a antiguidade é cronologicamente dividida em três períodos:
- Antiguidade Oriental, até 400 anos a.C.
- Antiguidade Clássica, o período do predomínio da cultura grega e parte da romana, com delimitação
controversa, em geral fixada entre 400 anos a. C até o ano 300 d.C.
- Antiguidade Tardia, um período de transição que ultrapassa a Idade Antiga e entra na medieval, vai
do ano 300 até o início do século VI, note que 476, final do século V, é o marco do fim da antiguidade.

Idade Média
A ideia de uma idade média, ou seja, um separador no meio de dois períodos, foi criado para justificar
e para separar uma era de ouro, no caso a antiguidade, da retomada do crescimento do progresso
humano na modernidade.
Um erro teórico que não é mais aceito pelos historiadores, pois o período medieval foi tão ou mais rico
de realizações que a antiguidade, registrando importantes avanços técnicos e culturais.
As universidades, por exemplo, surgiram na Idade Média.
Em todo caso, a medievalidade está intimamente relacionada com a história da Europa, marcada pelo
feudalismo no Ocidente, ignorando outros povos que viveram em contextos distintos e com avanços mais
significativos.
A Idade Média tem como marco oficial o ano de 476, a queda de Roma, indo até 1453, quando caiu
Constantinopla, portanto, o fim do Império romano do Oriente, chamado de bizantino.
A Idade Média é comumente dividida em dois períodos cronológicos:

- Alta Idade Média, um período que vai de 476 até o ano 1.000, marcado pelo feudalismo em boa
parte da Europa.
- Baixa Idade Média, a qual marca o colapso do sistema feudal e a transição para a modernidade,
incluindo o Renascimento, termo que remete a uma retomada das práticas da antiguidade.

A Idade Moderna
A partir do renascimento, a Idade Moderna foi concebida como um período de resgate da antiguidade,
depois de um suposto período de trevas, no caso a Idade Média.
O termo modernidade remete a grandes mudanças que possibilitaram a aceleração do
desenvolvimento humano na Idade Contemporânea.
O início desta era é repleto de controvérsias quanto sua periodização, vários historiadores defendem
marcos diferentes para o começo e o fim do período.
A corrente francesa, aquela que acabou cunhando a data tradicionalmente aceita para o início e final
da Idade Moderna, defende 1453, a queda de Constantinopla.
No entanto, datas mais significativas são defendidas como marco inicial por outras vertentes teóricas.
Entre elas 1415, a conquista de Ceuta pelos portugueses, uma cidade no norte da África inserida no
comercio de especiarias intermediadas do Oriente para a Europa.
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Um marco que denota o começo da expansão ultramarina e o incremento do sistema capitalista
nascente, através do mercantilismo.
Também inserido no contexto das especiarias é o ano de 1497, data em que Vasco da Gama chegou
à Índia navegando pelo Atlântico, um feito que permitiu ampliar as fronteiras social, econômicas e culturais
da Europa.
Outra data é 1492, com a descoberta da América por Cristóvão Colombo, algo que alterou
profundamente o panorama do mundo conhecido.
Podemos notar que qualquer que seja o marco escolhido, a semelhança das outras periodizações, a
cronologia é eurocentrista.
A controvérsia também existe com relação à datação do final da Idade Moderna.
A corrente francesa delimita o fim da modernidade em 1789, ano da queda da Bastilha, prisão política
do poder absolutista, um tradicional marco tido como início da Revolução Francesa.
Porém, existem historiadores que defendem 1760 como uma data mais apropriada, pois é o ano que
tem começo a Revolução Industrial, alterando o ritmo da evolução tecnológica da humanidade.
Existem aqueles que preferem ainda 1776, quando foi assinada a declaração da independência dos
Estados Unidos da América, em quatro de julho na Virginia.
Destarte, apenas uma minoria, em geral historiadores norte-americanos, considera a data significativa
em termos globais.
Uma visão eurocêntrica tem como proposta 1814, data do Congresso de Viena, quando as fronteiras
políticas da Europa foram redefinidas, o que, a longo prazo, conduziria a primeira e segunda guerra
mundial.
O ponto de discórdia, com relação à Idade Moderna, não se limita a datação do início e final da
modernidade.
Existe uma corrente historiográfica inglesa que prefere trabalhar com o conceito de Tempos Modernos
ao invés de Idade Moderna, dividindo as sociedades em pré-industriais e indústrias.
Simultaneamente, a historiografia marxista tende a estender o conceito de Idade Média até as
revoluções liberais que terminaram com o poder absolutista dos reis, considerando o mercantilismo e o
comercio de especiarias como parte das cruzadas.
Os marxistas deslocam a Idade Moderna para o período chamado tradicionalmente de
Contemporâneo.
Devido a esta confusão, justifica-se iniciar o estudo da história moderna a partir da crise do sistema
feudal, enfatizando a formação do sistema capitalista, encerrando com os processos de independência
das colônias americanas e o Congresso de Viena.

A Idade Contemporânea
O período contemporâneo é aquele em que vivemos atualmente, daí o termo, sendo caracterizado
pelo capitalismo norteando as ações do Estado, com o liberalismo e o neoliberalismo em seu interior.
Obviamente começa com o final da Idade Moderna e segue até nossos dias, não tem uma data que
delimite seu fim, já que estamos ainda vivendo a contemporaneidade.
No entanto, existe uma discussão em volta da demarcação de seu fim, implicando em rediscutir a
tradicional cronologia que atualmente delimita os períodos históricos. Um exemplo é a grande influência
que a internet e a globalização exercem na vida das pessoas, e a grande mudança proporcionada por
elas.

O Eurocentrismo
É importante notar que a divisão dos períodos está pautada em uma visão Eurocêntrica. O
Eurocentrismo é a ideia de que no mundo como um todo, a Europa e seus elementos culturais são
referência e o ápice no contexto de composição da sociedade moderna.
Essa perspectiva é uma doutrina que toma a cultura europeia como a pioneira da história, dessa forma
se enquadra como uma referência mundial para todas as nações, como se apenas a cultura europeia
fosse útil e verdadeira.
Essa ideologia da centralidade cultural europeia foi tão difundida, que dentro e fora da Europa existe
a visão de que essa representa toda a cultura ocidental no mundo.
Essa abordagem é negativa, já que não leva em consideração as inúmeras culturas de civilizações
que contribuem para a diversidade sociocultural do mundo, principalmente das nações que foram
colonizadas pelos europeus a partir do século XV.

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A questão da Identidade Nacional no Brasil78

A nação é feita de “um rico legado de lembranças”, que é aceito por todos, uma herança
simbólica e material.

A identidade nacional é uma criação moderna. Começa a ser construída no século XVIII e desenvolve-
se plenamente no século XIX. Antes dessa época não se pode falar em nações propriamente ditas, nem
na Europa nem em outras partes do mundo.
A nação nasce de “um postulado e de uma invenção” (THIESSE, 1999, p. 14). Ela condensa-se numa
alma nacional, que deve ser elaborada. Uma nação deve apresentar um conjunto de elementos
simbólicos e materiais: uma história, que estabelece uma continuidade com os ancestrais mais antigos;
uma série de heróis, modelos das virtudes nacionais; uma língua; monumentos culturais; um folclore;
lugares importantes e uma paisagem típica; representações oficiais, como hino, bandeira, escudo;
identificações pitorescas, como costumes, especialidades culinárias, animais e árvores-símbolo
(THIESSE, 1999, p. 14).
A identidade nacional é um discurso e, por isso, ela, como qualquer outro discurso, é constituída
dialogicamente (Através do ato de dialogar) (BAKHTIN, 1970)
O Brasil representou uma das primeiras experiências bem-sucedidas de criar uma nação fora da
Europa. A nação é vista como uma comunidade de destino, acima das classes, acima das regiões, acima
das raças. Para isso, é preciso adquirir uma consciência de unidade, a identidade, e, ao mesmo tempo,
é necessário ter consciência da diferença em relação aos outros, a alteridade. O grande outro da criação
da nacionalidade brasileira é Portugal.
No entanto, a constituição da nação brasileira apresenta um problema, já que a independência é
proclamada por um príncipe português, herdeiro do trono de Portugal. Não houve, portanto, uma ruptura
completa com a antiga metrópole. O trabalho de construção da nacionalidade começa, então, com a
nacionalização do monarca. Pedro I é mostrado como alguém que renuncia a Portugal e assume a
nacionalidade brasileira. Nossos livros de História repetem incessantemente o episódio do Dia do Fico,
em que o Príncipe afronta a Corte Portuguesa, para “fazer o bem de todos e a felicidade geral da Nação”.
Na célebre representação da independência, produzida por Pedro Américo, D. Pedro, do alto de um
cavalo, no ponto mais elevado da colina do Ipiranga, está com a espada desembainhada, apontada para
o céu, gritando “Independência ou Morte”.
A descrição desse fato nos manuais de História diz que D. Pedro, antes do grito inaugural de nossa
nacionalidade, arrancou fora os laços portugueses. Confronte-se essa representação do episódio da
Independência, cujos contornos épicos são marcados pela majestosa iconografia do Parque do Ipiranga,
em São Paulo, com aquela apresentada pelo diário do Padre Belchior, confessor de D. Pedro. Na
construção da identidade brasileira teria que ser levada em conta a herança portuguesa e, ao mesmo
tempo, apresentar o brasileiro como alguém diferente do lusitano. É isso que explica o modelo adotado
para descrever a cultura brasileira.
No trabalho de constituição da nacionalidade, a literatura teve um papel fundamental. Os autores
românticos, com especial destaque para José de Alencar, estiveram na linha de frente da construção da
identidade nacional. Entre todos os livros de Alencar, o mais importante para determinar esse patrimônio
identitário é, sem dúvida, O guarani. Nele determina-se a paisagem típica do Brasil (o espaço da eterna
primavera, onde não ocorrem cataclismos naturais, como furacões, tornados, terremotos etc.), a
singularidade de sua língua, mas principalmente o casal ancestral dos brasileiros. Além disso, começa-
se a elaborar um modelo explicativo da singularidade da cultura brasileira, pois é essa especificidade que
constituiria o Brasil como uma nação.
Começa-se, no Romantismo, a construir a noção de que cultura brasileira se assenta na mistura. O
romance O guarani, de José de Alencar, concebe um mito de origem da nação brasílica. Peri e Cecília
constituem seu casal inicial, formado por um índio que aceitara os valores cristãos (1995, p. 268-279) e
por uma portuguesa que acolhera os valores da natureza do Novo Mundo (1995, p. 279-280). Essa nação
teria, portanto, um caráter cultural luso-tupi. O mito de origem de nosso país opera com a união da
natureza com a cultura, ou seja, dos valores americanos com os europeus. O Brasil seria, assim, a síntese
do velho e do novo mundo, construída depois da destruição do edifício colonial e dos elementos perversos
da natureza. Os elementos lusitanos permanecem, mas modificados pelos valores da natureza
americana. A nação brasileira aparece depois de um dilúvio, em cuja descrição se juntam os mitos das
duas civilizações constitutivas de nosso povo, o de Noé e o de Tamandaré (1995, p. 291-296).

7 FIORIN, José Luiz. A construção da identidade nacional brasileira. In: Bakhtiniana. São Paulo, v. 1, n.1, p. 115-126, 1º sem.2009.
8 Schwarcz, Lilia K.M. 1995. “Complexo de Zé Carioca –notas sobre uma identidade mestiça e malandra”, RBCS Nº 29, out

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Na primeira metade do século XX, há outro movimento de construção identitária, que se assenta
também sobre a mistura, pois considera a mestiçagem como o jeito de ser brasileiro. O que distingue o
Brasil é a assimilação, com a consequente modificação, do que é significativo e importante das outras
culturas. Não é sem razão que Oswald de Andrade erigiu a antropofagia como o princípio constitutivo da
cultura brasileira. Em Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre (1933), considera-se eufórica a mistura:
a colonização portuguesa é vista como tolerante, aberta, suave, o que levou à mestiçagem racial, que
não ocorreu nos países colonizados pelos ingleses ou pelos franceses, por exemplo. O Brasil celebra a
mistura da contribuição de brancos, negros e índios na formação da nacionalidade, exaltando o
enriquecimento cultural e a ausência de fronteiras de nossa cultura. De nosso ponto de vista, o misturado
é completo; o puro é incompleto, é pobre. Insiste-se no fato de que se está falando de autodescrição da
cultura brasileira. Há então todo um culto à mulata, representante por excelência da raça brasileira; do
sincretismo religioso, sinal de tolerância; do convívio harmônico de culturas que se digladiam em outras
partes do mundo, como a árabe e a judaica.
Retomando a temática das "três raças", Gilberto Freyre oferecia uma espécie de nova racionalidade
para a sociedade multirracial brasileira. Tendo como base teórica o culturalismo norte-americano - sem
abandonar totalmente os pressupostos raciais dos mestres brasileiros -, a obra de Freyre celebrará a
singularidade da mestiçagem, invertendo os termos da equação e positivando o modelo. "Foi o estudo de
antropologia sob orientação, do professor Boas que primeiro me revelou o negro e o mulato no seu justo
valor - separados dos traços da raça os efeitos do ambiente ou da experiência cultural." (Freyre, 1933, p.
18).
O "cadinho de raças" surgia como uma nova forma de celebração do mito das raças - um novo
instrumental para a utilização do mesmo termo, porém com um novo sentido -, mais evidente aqui do que
em qualquer outro lugar. "Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma quando não na
alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro." (Freyre, op. cit., p. 307) O
brasileiro era, portanto, o resultado sincrético de uma mistura bem-feita e original, cuja cultura homogênea
e particular era também mista.
Com efeito, com esse e outros trabalhos, Freyre fazia uma apologia da civilização luso-tropical,
resultado inesperado e original da estratégia lusitana de adaptar a civilização europeia aos trópicos.
Tratava-se de uma civilização simbiótica - que congregava de forma sincrética e feliz negros, índios e
brancos - e pioneira em função da ausência de segregação e de uma miscigenação extremada e singular.

O mestiço é nosso
Assim, num momento em que mais uma vez se inventava a nacionalidade, 'a identidade e as
singularidades nacionais se transformavam rapidamente em "questões de Estado". É só com o Estado
Novo que intelectuais ligados ao poder público implementam projetos oficiais nessa direção. A partir
desse momento, o "mestiço vira nacional", paralelamente a um processo crescente de desafricanização
de vários elementos culturais, simbolicamente clareados em meio a esse contexto.

Hoje tem feijoada


É esse o caso da feijoada, hoje destacada como um "prato típico da culinária brasileira". Originalmente
conhecida como "comida de escravos", a feijoada se converte, a partir dos anos 30, em "comida nacional",
carregando consigo a representação simbólica da mestiçagem associada à ideia da nacionalidade. O
feijão preto e o arroz branco remetem metaforicamente aos elementos negro e branco de nossa
população. A eles misturam-se ainda os acompanhamentos: o verde da couve é o verde das nossas
matas; o amarelo da laranja, um símbolo de nossas potenciais riquezas materiais (Reis, 1994).

Entre capoeiristas
Evidencia-se, portanto, uma aproximação positiva entre as noções de nacionalidade e de mestiçagem,
que constituirá matéria-prima para a elaboração de símbolos nacionais, sobretudo ao longo das décadas
de 30 e 40.
Outro exemplo revelador nesse sentido é a capoeira. Reprimida pela polícia do final do século passado
e incluída como crime no Código Penal de 1890, essa prática é oficializada como modalidade esportiva
nacional em 1937 (Reis, 1993). A partir desse contexto, vinga uma nova representação para a capoeira,
que passa a ser vista como uma "herança da mestiçagem no conflito das raças" e, portanto, como um
produto "nacional" (Moraes Filho, 1979, p. 257).
Dessa maneira, a "capoeira cruzada" era entendida como fruto da fusão das três raças (branca, negra
e índia), quase um exercício da famosa fábula das raças; com certeza uma criação original brasileira.

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O samba é mestiço
Assim como a capoeira, também o samba passou, durante o século XIX, por trajetórias diversas. Da
repressão à exaltação, de "dança de preto" a canção brasileira para exportação, o samba passou por
percursos variados até se transformar em "produto genuinamente nacional".

Questões9

01. (SEAP–DF – Professor de História – IBFC) Tempo e temporalidade são consideradas categorias
centrais para o conhecimento histórico, segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio:

I.É fundamental levar o aluno a perceber as diversas temporalidades no decorrer da História e sua
importância nas formas de organizações sociais e de conflitos;

II.Tempo e temporalidade representam um conjunto complexo de vivências humanas, produto cultural


forjado pelas necessidades concretas das sociedades historicamente situadas;

III.Importante ressaltar as periodizações dos calendários e das contagens dos tempos como foram sendo
historicamente construídos para que o aluno elabore, de forma problematizada, seus próprios pontos de
referência como marcos para as explicações de sua própria história de vida, assim como da história dos
homens em geral.

É correto o que se afirma em:

(A) I, II e III.
(B) I e II, apenas.
(C) II e III, apenas.
(D) Apenas III.

02. (IFC-SC – Professor História – IFC) O livro didático não pode ser compreendido isoladamente,
fora do contexto escolar e social. É um produto cultural com suas especificidades e conformado
segundo a lógica da sociedade onde está inserido. Numa sociedade capitalista, como a brasileira, tal
recurso didático não poderia fugir à lógica que rege esta sociedade, em que as classes dominantes
procuram veicular as visões que lhes interessam e neutralizar possíveis oposições. No entanto, dentro
da produção de livros didáticos de História, é possível fazer uma crítica interna ao nosso segmento,
mesmo fazendo uma ressalva, de que a produção do conhecimento historiográfico é recente em
nosso país e “refém” da recente propagação dos programas de pós-graduação em História. Apesar
das mudanças que vêm sendo potencializadas pelos movimentos de reorientação curricular em todo
o país, os livros didáticos distribuídos a nível nacional, não contemplam ainda a “totalidade” de nossa
História e apresentam uma supremacia da História da região:

(A) Sul
(B) Sudeste
(C) Centro-Oeste
(D) Nordeste
(E) Norte

03. Entre as metodologias de ensino de História, as mais comuns são:


(A) Tradicional, Moderna e Marxista
(B) Marxista, Positivista e Anarquista
(C) Tradicional, Anarquista e Moderna
(D) Moderna, Anarquista e Marxista

9
Disponível em: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes/search?utf8=%E2%9C%93&todas=on&q=orienta%C3%A7%C3%A3o+curricular&instituto=&organizadora=&prova=&ano_publicacao=&cargo=
&escolaridade=&modalidade=&disciplina=550&assunto=&esfera=&area=&nivel_dificuldade=&periodo_de=&periodo_ate=&possui_gabarito_comentado_texto_e_vid
eo=&possui_comentarios_gerais=&possui_comentarios=&possui_anotacoes=&sem_dos_meus_cadernos=&sem_anuladas=&sem_desatualizadas=&sem_anuladas
_impressao=&sem_desatualizadas_impressao=&caderno_id=&migalha=&data_comentario_texto=&data=&minissimulado_id=&resolvidas=&resolvidas_certas=&res
olvidas_erradas=&nao_resolvidas=>

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Respostas.

1. – A
Todas as alternativas se mostraram verdades. Nessa questão não é necessário nem mesmo a
interpretação dos itens, uma vez que eles foram retirados sem modificação do texto original, como segue
o exemplo marcado: “Considera-se fundamental levar o aluno a perceber as diversas temporalidades
no decorrer da História e sua importância nas formas de organizações sociais e de conflitos. Sendo
um produto cultural forjado pelas necessidades concretas das sociedades historicamente situadas, o
tempo representa um conjunto complexo de vivências humanas. Por isso a necessidade de relativizar as
diferentes concepções de tempo e as periodizações propostas, e de situar os acontecimentos históricos
nos seus respectivos tempos”.
O mesmo padrão serve para as alternativas II e III.

2. – B
A evolução na criação do material didático a nível nacional acompanha as principais instituições
educacionais no país. Como, por questões econômicas por muito tempo as referências estiveram na
região sudeste, o material a nível nacional beneficiava essa região. Hoje, mudanças são feitas
principalmente em relação à valorização da história regional/local onde não apenas os livros didáticos
ganham capítulos específicos, como as instituições que criam e avaliam (como no caso dos concursos)
cobram essas regionalidades.

3. - D
As três metodologias de ensino mais utilizadas no ensino de história são a Tradicional, que foi inspirada
no método francês do século XIX, a Anarquista que surge após a Revolução Francesa e a moderna que
é baseada nas teorias cognitivas de Jean Piaget e Lev Vygotsky e na ideia de que se deve buscar diversas
abordagens, como sociais, econômicas, políticas e culturais.

Economia, Sociedade e Cultura na Antiguidade: as primeiras civilizações do


Oriente, a civilização grega e a romana.

Economia, Sociedade e Cultura na Antiguidade: as primeiras civilizações do Oriente, a


civilização grega e a romana.

O Crescente Fértil

O Crescente Fértil é considerada a região do planeta onde surgiram as primeiras civilizações,


englobando a Mesopotâmia, uma faixa de terra junto ao Mar Mediterrâneo e o nordeste da África. O nome
foi dado pois seu traçado forma um semicírculo que lembra a Lua no quarto crescente e também pela
presença de grandes rios, cujos vales apresentavam solos férteis propícios para a prática da agricultura.
Na antiguidade, existiam na região várias áreas férteis, que propiciaram a fixação de povos nômades
e impulsionaram a agricultura baseada na irrigação, principalmente na região do Egito e da Mesopotâmia.
Foi nesses vales – o Crescente Fértil, junto aos rios Nilo, Tigre e Eufrates – que se desenvolveram as
grandes civilizações da Antiguidade Oriental: egípcia, babilônica, persa, fenícia, assíria, entre outras.

Fonte: www.infoescola.com

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Egito
O trabalho coletivo deixou de ser uma necessidade no Egito. A civilização egípcia desenvolveu-se no
nordeste da África, às margens do rio Nilo. Situado em meio a dois desertos (Líbia e Arábia), o Egito
aproveitou a fertilidade do Nilo e suas características geográficas peculiares, com a ocorrência de cheias
que irrigavam áreas que tornavam-se propicias ao plantio, principalmente de trigo.
A desagregação das comunidades primitivas ocorreu na medida em que a agricultura se desenvolveu
e os utensílios de cobre foram substituindo os de osso e pedra até então utilizados. A perda das
propriedades por muitas famílias fez com que aumentasse o número de camponeses dominados pelos
senhores poderosos. Surgiram, assim, pequenas unidades politicamente independentes, denominadas
nomos, cada uma delas governada por um nomarca.
Mesmo possuindo um líder, as terras dos nomos não possuíam um proprietário. Além disso, a riqueza
produzida nas terras era dividida coletivamente.
Os nomos não demoraram a entrar em choque uns com os outros. Os nomos menores desapareceram,
anexados pelos mais fortes. O represamento das águas obrigou muitas famílias a abandonar suas terras
e ir trabalhar em nomos vizinhos.
As lutas levaram a se agruparem e a constituir dois reinos, um ao sul e outro ao norte, conhecidos
como Alto e Baixo Egito. O reino do sul tinha como símbolo uma coroa branca e o reino do norte era
simbolizada por uma coroa vermelha. Por volta de 3200 a. C o rei do sul, Menés, venceu o norte e com
isso unificou o Egito, colocando em sua cabeça as coroas branca e vermelha. A capital do reino passou
a ser Tinis, e Menés tomou-se o primeiro faraó. Com ele, começam as grandes dinastias (famílias reais
que governaram o Egito por quase 3.000 anos).
Podemos dividir a história do Egito em tres partes, para facilitar o entendimento:
- Antigo Império: de 3200 a.C. até 2200 a.C.
- Médio Império: de 2200 a.C. a 1750 a.C.
- Novo Império: de 1580 a.C. a 1085 a.C.

O Antigo Império (3200 a 2200 a.C.)


Os sucessores de Menés continuaram a governar por mais de mil anos, e durante todo esse período
o Egito antigo viveu um isolamento quase completo. O faraó possuia poderes imensos, e era visto como
uma encarnação do deus do Sol, Rá. a quem eram atribuídas as enchentes do rio Nilo.
Foi durante o Antigo Império que os sacerdotes conquistaram poder, através da influencia e riqueza.
As grandes pirâmides de Gizé, consideradas maravilhas honorarias do mundo moderno, foram
construidas durante o Antigo Império, atribuídas aos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos. Na nova
capital, Mênfis, havia grandes estoques de grãos arrecadados ao povo e rigorosamente vigiados pelos
escribas.
Uma nobreza privilegiada cooperava na administração e na exploração dos camponeses, angariando
grande poder. Esse fortalecimento levou-a a tentar assumir o controle direto do Estado.
Seguiu-se um período de anarquia em que praticamente cada nobre se julgava em condições de
ocupar o trono faraônico; o clero aproveitou-se para expandir seu poder político, apoiando ora este, ora
aquele pretendente ao título de faraó.

O Médio Império (2000 a 1750 a.C.)


O Médio Império caracterizou-se por uma nova dinastia e uma nova capital: Tebas. O Egito havia se
expandido em direção ao sul, aperfeiçoou a rede de canais de irrigação e estabeleceu colônias
mineradoras no Sinai. A ambição dos nobres e do clero fez com que o cobre fosse buscado fora da África,
tomando o Egito conhecido de outras populações do Oriente Médio.
Alguns povos procedentes da Ásia Menor desencadearam uma série de ataques em direção ao vale
do Nilo. Finalmente, os hicsos, povo semita que já conhecia o cavalo e o ferro, derrotaram as forças
faraônicas do Sinai e ocuparam a região do delta do Egito, onde se instalaram de 1750 a 1580 a.C. Foi
durante essa dominação estrangeira que os hebreus se estabeleceram no Egito.

O Novo Império (1580 a 1085 a.C.)


O faraó Amósis I expulsou os hicsos, dando início a uma fase militarista e expansionista da história
egípcia. Sob o reinado de Tutmés III, a Palestina e a Síria foram conquistadas, estendendo o domínio do
Egito até as nascentes do rio Eufrates.
Durante esse período de apogeu, o faraó Amenófis IV empreendeu uma revolução religiosa e política.
O soberano substituiu o politeísmo tradicional, cujo deus principal era Amon-Ra, por Aton, simbolizado
pelo disco solar. Essa medida tinha por finalidade eliminar a supremacia dos sacerdotes, que ameaçavam
sobrepujar o poder real. O faraó passou a denominar-se Akhnaton, atuando como supremo sacerdote

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do novo deus. A revolução religiosa teve fim com o novo faraó Tutancaton, que restaurou o politeísmo e
mudou seu nome para Tutancâmon.
Com a instauração da capital em Tebas, os faraós da dinastia de Ramsés II (1320-1232 a.C.)
prosseguiram as conquistas. O esplendor do período foi demonstrado pela construção de grandes
templos, como os de Luxor e Karnak.
As dificuldades do período começaram a surgir com as constantes ameaças de invasão das fronteiras.
No ano 663 a.C., os assírios invadiram o Egito.

O Renascimento Saíta (663 a 525 a.C.)


Os assírios foram expulsos do Egito pelo faraó Psamético I, que também mudou a capital,
transferindo-a para a cidade de Saís, no delta do rio Nilo. Após isso houve também uma ampliação do
comercio, incentivada pelos faraós que sucederam Psamético.
As lutas pela posse do trono levaram o Egito à ruína. Os camponeses se rebelaram e a nobreza
disputava o poder com o clero. Novas invasões aconteceram, fragmentando ainda mais o poder do Egito:
Os persas, em 525 a.C., na batalha de Pelusa;
O rei macedônio Alexandre Magno, em 332 a.C.;
Os romanos, em 30 a.C., pondo fim ao Egito como Estado independente.

Economia do Egito Antigo


A economia do Egito estava baseada principalmente na agricultura, com o cultivo de cereais como o
trigo e a cevada, e também o cultivo de linho e papiro. O pastoreio completava os trabalhos na terra, com
a criação de rebanhos de gado bovino e ovino
A agricultura foi amplamente favorecida pelo rio Nilo e seu regime de cheias. A cheia do Rio Nilo era
gerada por chuvas na África Oriental e pelo degelo nas terras altas etíopes. A cheia ocorria em junho, em
Assuã, e, como as águas não eram detidas por barragens ou diques, elas se dirigiam para o norte,
atingindo Mênfis cerca de três semanas depois. Entre agosto e setembro, todo o Vale do Nilo se
encontrava inundado, e, em outubro, o nível das águas baixava, deixando no solo uma enorme quantidade
de nutrientes importantes para sua fertilidade, como o húmus. A partir desse processo natural a sociedade
egípcia pôde desenvolver o cultivo.
A forma como a agricultura era praticada causava espanto e curiosidade nos estrangeiros. O
historiador grego Heródoto, em sua obra Histórias, escreveu: “O Egito é uma dádiva do Nilo”, associando
a formação do Egito à presença e utilização do rio.
Em sua obra, Heródoto também relata sobre a maneira como era feito o cultivo:
“Em todo o mundo, ninguém obtém os frutos da terra com tão pouco trabalho. Não se cansam de sulcar
a terra com arado e enxada, nem têm nenhum dos trabalhos que todos os homens têm para garantir as
colheitas. O rio sobe, irriga os campos e, depois de os ter irriga do, torna a baixar. Então, cada um semeia
o seu campo e nele introduz os porcos para que as sementes penetrem na terra; depois, só têm de
aguardar o período da colheita. Os porcos também lhe servem para debulhar o trigo, que é depois
transportado para o celeiro.”

Ao longo do Nilo estendiam-se essas plantações, cuidadas pelos felás (camponeses egípcios),
desenvolvendo-se rapidamente graças ao aperfeiçoamento das técnicas de plantio e semeadura. A
charrua, puxada pelos bois, e o emprego de metais propiciaram grandes colheitas. Teoricamente, as
terras pertenciam ao faraó, porém a nobreza detinha grande parte delas. Enormes armazéns guardavam
as colheitas, que eram administradas pelo Estado. Uma parte da produção chegava a ser exportada.
O comércio processava-se entre o Alto e o Baixo Egito por meio de embarcações que subiam e
desciam o rio abarrotado de cereais e produtos artesanais. A presença da tecelagem, da fiação e a
confecção de sandálias de folhas de papiro, bem como a ourivesaria, propiciaram um desenvolvimento
razoável do comércio interno, uma vez que poucas relações eram tidas com o exterior.
De um modo geral, a economia egípcia é enquadrada no modo de produção asiático, em que a
propriedade geral das terras pertencia ao Estado e as relações sociais de produção fundamentavam-se
no regime de servidão coletiva (não se pode, porém, falar em modo de produção servil, aplicável somente
ao sistema feudal). As comunidades camponesas, presas à terra que cultivavam, entregavam os
resultados da produção ao Estado, representado pela pessoa do rei. Este, às vezes, obrigava os
camponeses a trabalhar na construção de canais de irrigação e barragens, propiciando o
desenvolvimento da agricultura e o sustento precário dos aldeães.

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A sociedade egípcia
O Egito é considerado uma Sociedade Hidráulica, cuja organização está relacionada com os períodos
de seca e cheia dos rios. Nessas “sociedades hidráulicas”, a distinção social começou a se fazer notar
quando a luta pela posse das áreas cultiváveis levou a se defrontarem os camponeses, na posição de
possuidores da força de trabalho, e os proprietários das terras, que delas se apoderaram e as mantinham
invocando a proteção dos deuses e dos sacerdotes.
O topo da pirâmide social era ocupado pela família do faraó; este, por se considerar um deus
encarnado, possuía benefícios singulares.
O grupo sacerdotal também ocupava uma posição invejável, juntamente com a nobreza detentora das
terras e do trabalho dos camponeses. Com o crescimento do comércio e do artesanato, durante o Médio
Império, surgiu uma classe média empreendedora, a qual chegou a conquistar uma certa posição social
e alguma influência no governo.
Os burocratas passaram a ocupar um lugar destacado na administração, principalmente no que tangia
ao recolhimento da produção dos camponeses. Havia toda uma hierarquia de escribas, cujo grau variava
de acordo com a confiança neles depositada pelo faraó e nobreza.
Os artesãos ocupavam uma posição inferiorizada, junto aos camponeses. Estes eram fiscalizados por
funcionários especiais.
Apesar de o governo manter escolas públicas, estas formavam, em sua maioria, escribas destinados
a trabalhar na administração do Estado Faraônico.

Religião
Uma enorme variedade de deuses, fórmulas religiosas e cultos são provenientes da região que
consideramos “oriente”, tendo inclusive influenciado nas grandes religiões monoteístas ocidentais.
A existência dos deuses satisfazia à ânsia do homem em ver atendidas suas aspirações e ao mesmo
tempo afastava seus temores íntimos. Protetores da água, da chuva, da colheita, das plantas, dos
pescadores, eram todos cultuados por formas que iam desde o incenso até ao sacrifício de animais e
homens, tudo com intenção de conseguir suas boas graças. Os próprios governantes se revestiam de
caracteres divinos a fim de serem mais respeitados. Paralelamente à instituição religiosa, estruturaram-
se os sacerdotes, uma camada fechada que cresceu em praticamente todas as civilizações antigas. O
clero ocupava uma posição social e econômica privilegiada, influenciando o governo e o povo.
No Egito antigo, como em quase toda a Antiguidade, a religião assumia a forma politeísta,
compreendendo uma enorme variedade de deuses e divindades menores.
Muitos animais possuíam de um culto todo especial, como era o caso do gato, do crocodilo, do íbis,
do escaravelho e do boi Apis; havia também divindades híbridas, com corpo humano e cabeça de animal:
Hator (a vaca), Anúbis (o chacal), Hórus (o falcão protetor do faraó). Havia ainda deuses antropomórficos
(forma humana), como Osíris e sua esposa Isis.
O Mito de Osíris ilustra bem a religiosidade dos egípcios, a ponto de terem se decidido a erigir túmulos
e templos em homenagem à morte e à vida futura.
O principal deus egípcio era Amon-Ra, combinação de duas divindades, e que era representado pelo
Sol; em torno dele girava o poder sacerdotal. A preocupação com a vida futura era grande e os cuidados
com os mortos eram contínuos, bastando lembrar as cerimônias fúnebres, nas quais se realizavam as
oferendas de alimentos e de incenso.
Acreditava-se em um julgamento após a morte, quando o deus Osíris iria colocar em uma balança o
coração do indivíduo, para julgar seus atos. Os justos e os bons teriam como recompensa a
reincorporação e depois iriam para uma espécie de Paraíso.
O trecho abaixo, extraído do Livro dos Mortos dos egípcios, descreve o júbilo daquele que foi absolvido
pelo tribunal de Osíris:
“Salve, Osíris, meu divino pai! Tal como tu, cuja vida é imperecível, os meus membros conhecerão a
vida eterna. Não apodrecerei. Não serei comido pelos vermes. Não perecerei. Não serei pasto dos bichos.
Viverei, viverei! As minhas entranhas não apodrecerão. Os meus olhos não se fecharão, a minha vista
permanecerá tal como hoje é. Os meus ouvidos não deixarão de ouvir.
A minha cabeça não se separará do meu pescoço. A minha língua não me será arrancada, Os meus
cabelos não me serão cortados. Não me serão raspadas as sobrancelhas. O meu corpo conservar-se-á
intacto, não se decomporá, não será destruído neste mundo.”
Por volta de 1360 a.C., O Egito passou por um período de monoteísmo, ou seja, o culto a um único
deus, no caso, o culto a Aton. Afirma-se que foi a primeira religião monoteísta da História, anterior até
mesmo à dos hebreus. Como citado anteriormente, os sacerdotes adquiriram poder na sociedade egípcia
e o politeísmo entravava o progresso egípcio, pois a camada sacerdotal era muito grande e sua
manutenção resultava onerosa para o Estado. Os sacerdotes interferiam constantemente nos assuntos

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políticos e o próprio faraó, muitas vezes, não passava de um joguete do clero. Aproveitando-se da
religiosidade do povo, os sacerdotes alcançaram uma extraordinária ascendência, convertendo a
civilização egípcia como que em sua propriedade particular.
O perigo do poder clerical foi sentido por Amenófis III que, para se livrar da influência do clero, mudou
seu palácio para longe dos templos, e, contra a tradição politeísta levantou-se o faraó Amenófis IV, que
instituiu uma nova religião, com o culto dedicado a um deus único: Aton (o disco solar). O faraó esperava
com isso quebrar o poder da camada sacerdotal.
Foi organizado um novo clero e a capital foi transferida para a cidade de Amarna (akhenaton),
“horizonte de Aton” (atual Tell ElAmarna). Trocou seu nome para Akhnaton, “servidor de Aton”, e compôs
um Hino ao Sol. Essa tentativa monoteísta foi curta. Com a morte de Amenófis, as coisas voltaram ao
estágio anterior e o clero e a nobreza recuperaram sua influência.

Influências
Muitos edifícios construídos no Egito antigo chegaram até nós em bom estado de conservação.
Pirâmides, hipogeus, templos e palácios de dimensões gigantescas atestam a importância da arquitetura
egípcia.
Tendo-se voltado para a vida coletiva e religiosa, as construções egípcias são marcadas pela
grandiosidade dos templos e dos túmulos. Os templos de Karnac e Luxor nos dão mostras de como a
arte e a religião estavam interligadas. A solidez, a grandiosidade e os artifícios procurando exaltar o
volume são as características mais salientes dessas obras. Estátuas de deuses e faraós acompanham
essas dimensões, com decorações esculpidas e pintadas descrevendo episódios ligados às figuras
representadas.
A pintura egípcia prendeu-se principalmente a temas da Natureza e da vida cotidiana, sendo muitas
vezes acompanhada de hieróglifos explicativos.
A invenção da escrita propiciou o desenvolvimento da literatura. A escrita ideográfica, nascida no Egito,
evoluiu para o alfabeto fonético com os fenícios. Utilizando três formas de escrita (hieroglífica, hierática e
demótica), os egípcios deixaram-nos obras religiosas como o Livro dos Mortos e o Hino ao Sol, além da
literatura popular de contos e lendas.
A decifração da escrita egípcia foi feita por Jean-François Champollion que, observando e comparando
os diversos tipos de escrita encontrados em um achado arqueológico, estabeleceu um método de leitura
graças ao grego arcaico que também se encontrava no texto. Surgiu assim a ciência conhecida como
Egiptologia, a qual vem constantemente evoluindo com novas descobertas e restaurações.
As ciências exatas também tiveram oportunidade de expansão, uma vez que as necessidades de
ordem prática forçaram o desenvolvimento da Astronomia e da Matemática. A Geometria desenvolveu-
se pela necessidade de se redemarcarem as terras quando as águas do Nilo voltavam a seu leito. A
Medicina, por sua vez, está de certa forma ligada à própria prática da mumificação, o que a levou a um
desenvolvimento razoável; por outro lado, a farmacopeia egípcia notabilizou-se por sua variedade. Havia
instituições de sacerdotes-médicos e os papiros atestam o regular conhecimento de doenças e a própria
especialização da atividade médica.
A mumificação constituiu uma técnica de grande importância na civilização do Egito antigo. Os
métodos, até hoje pouco conhecidos, produziram resultados notáveis, que se podem ver em museus de
diversas partes do mundo.

MESOPOTÂMIA

A Mesopotâmia que significa “entre rios” (do grego, meso = no meio; pótamos = rio), é uma antiga
região do Oriente Médio, compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, e onde predominavam condições
semelhantes ao Egito, pois os dois rios forneciam facilidades para o transporte de mercadorias e as aves
ribeirinhas e os peixes eram abundantes.
O regime dos rios está preso ao derretimento da neve das grandes altitudes, onde se situam suas
cabeceiras, inundando as terras e propiciando a abertura de canais de irrigação e a construção de diques.
Apesar da presença das enchentes periódicas dos rios, a Mesopotâmia apresentou certas dificuldades
ao estabelecimento de populações ribeirinhas, pois, ao contrário do que acontecia no Egito com o rio Nilo,
essas cheias eram irregulares. Além disso, o clima mais seco e as doenças tropicais tornavam o trabalho
do solo mais difícil, apesar de sua fertilidade.
Sumérios, acádios, amoritas, cassitas, assírios, caldeus e mais um sem-número de povos lutaram
pela posse das terras aráveis. Os povos das planícies, agricultores, viviam assediados desde a época
dos primeiros estabelecimentos humanos na área pelos povos das montanhas, que viviam mais do saque
e do pastoreio.

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As civilizações da Baixa Mesopotâmia puderam desenvolver-se mais, notabilizando-se por seus
aspectos econômicos e culturais. Surgiram, assim, importantes sociedades hidráulicas, com a instituição
de um Estado baseado na posse das terras e no controle das águas dos rios.
Estendendo-se da Mesopotâmia em direção ao vale do rio Indo, encontra-se o Planalto Iraniano.
Grande parte dele está acima de 2.000 metros: aqui e ali surgem bruscas elevações, cujos vales são
regados pelos rios que buscam o mar. A região toda é pouco irrigada e por isso grande parte dela é
desértica.
A partir do II milênio a.C., essa região foi ocupada por grupos de pastores de origem ariana, os quais
deram origem a dois remos distintos: ao norte, a Média; e ao sul, a Pérsia.

Fonte:amorim.pro.br

Os Sumérios Acadianos
Os sumérios fixaram-se na Caldéia por volta de 3500 a.C., fundando diversas cidades-estados, como
Ur, Uruk, Nipur e Lagash. Cada cidade-estado era governada por reis absolutos (com total poder em suas
mãos), chamados Patesi, que lutavam entre si pelo predomínio na Caldéia. Foram os sumérios os
criadores da escrita mesopotâmica, a escrita cuneiforme.
Inicialmente a escrita era composta de marcas simples, depois de pictogramas, depois as formas
tornaram-se mais simples e abstratas. Os primeiros documentos eram gravados em tabuletas de argila,
em sequências verticais de escrita, e com um estilete feito de cana que gravava traços verticais,
horizontais e oblíquos.
Os sumérios utilizavam a argila para escrever, e quando queriam que seus registros fossem
permanentes, as tabuletas cuneiformes eram colocadas em um forno, ou poderiam ser reaproveitadas
quando seus registros não fossem tão importantes que precisariam ser lembrados sempre.
A escrita cuneiforme foi uma forma de se expressar muito difícil de ser decifrada, pois possuía mais
de 2000 sinais e seu uso era de uma dificuldade enorme. O seu principal uso foi na contabilidade e na
administração, pois facilitavam no registro de bens, marcas de propriedade, cálculos e transações
comerciais.
Por volta de 2300 a.C, os invasores acádios conquistaram a Mesopotâmia, dos quais se destacou o
rei Sargão I, o “soberano dos quatro cantos da terra”, o primeiro rei mesopotâmico.
Novas invasões estrangeiras arruinaram o Império Acádio, e em breve os sumérios ressurgiram, com
destaque para o governo de Dungui. Mas logo vieram outros invasores: desta vez os amoritas, que
fundariam o Primeiro Império da Mesopotâmia.

O Primeiro Império Mesopotâmico


Os amoritas submeteram os sumérios-acadianos e transformaram a sua cidade da Babilônia em capital
do Império. À força das conquistas, o comércio cresceu e a Babilônia transformou-se num dos principais
centros urbanos e políticos da Antiguidade, o Império Babilônico. O mais destacável imperador amorita
foi Hamurabi (1792-1750 a.C), que, além de estender as fronteiras do Império desde o Golfo Pérsico até
a Assíria, elaborou o primeiro código completo de leis. O “código de Hamurabi “. Considerado o maior
ordenamento jurídico da Antiguidade Oriental, era composto de 282 leis, muitas das quais compiladas do
direito sumeriano, e incluía a conhecida “lei de Talião” — “olho por olho, dente por dente…” Hoje, o Código
de Hamurabi, gravado num monumento de uma só pedra encontrado em 1901, está no museu do Louvre,
em Paris (França).

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Detalhe da estela com o Código de Hamurabi, em exposição no museu do Louvre, em Paris. Fonte: http://www.sohistoria.com.br/

Após Hamurabi, o Império foi golpeado por várias invasões, como a dos hititas e a dos cassitas,
acabando por desaparecer.

O Império Assírio
Os assírios formavam um povo que antes de 2500 a.C. estabeleceu-se no norte da Mesopotâmia, na
região de Assur. Eram guerreiros, famosos pela crueldade com que tratavam os povos vencidos. Sob
governo de Sargão II, os assírios conquistaram o Reino de Israel; no governo de Tiglat-falasar, tomaram
a cidade da Babilônia. Dois outros importantes soberanos assírios foram Senaqueribe, que transferiu a
capital de Assur para Nínive, e Assurbanipal, construtor da famosa biblioteca de Nínive e conquistador do
Egito. Após sua morte, o Império entrou em lento declínio, com diversas revoltas internas. Finalmente,
Nabupolasar, comandando os caldeus e contando com a ajuda dos medos, destruiu o Império Assírio,
inaugurando o Segundo Império Babilônico (612 a.C).

O Segundo Império Babilônico


Derrotados os assírios, a Babilônia voltou a ser a capital da Mesopotâmia, agora sob o domínio dos
caldeus. O apogeu do Império Babilônico se deu com Nabucodonosor (604-561 a.C). Durante o seu
reinado, a Palestina foi conquistada e seu povo, o hebreu, transportado como escravo para a Babilônia;
foi o chamado “Cativeiro da Babilônia”. Nabucodonosor foi o responsável, também, pela construção dos
“Jardins Suspensos da Babilônia”, considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo. Após a morte
de Nabucodonosor, iniciou-se a decadência do Império Caldeu (ou Babilônico). Em 539 a.C, a Babilônia
foi conquistada pelos Persas, comandados pelo imperador Ciro I. Foi o fim da Mesopotâmia com
autonomia política, transformada em província persa.

A Economia Mesopotâmica
A atividade econômica principal era a agricultura, produzindo sobretudo trigo e cevada. O artesanato
e o comércio atingiram alto grau de desenvolvimento, transformando a Babilônia num dos grandes centros
comerciais da Antiguidade. A sociedade possuía uma estrutura piramidal, como a egípcia: no topo, o rei
e a elite econômico-militar que faziam parte do Estado; na base, os camponeses, servindo coletivamente
o governo, e também os escravos.
O governo era uma monarquia teocrática, absoluta, mas com uma religiosidade menos acentuada que
a do Egito. O rei absoluto, os funcionários públicos e os sacerdotes formavam uma aristocracia
controladora das melhores terras e de toda a produção. Compunham a elite social mesopotâmica,
subjugando a grande massa de camponeses e escravos.

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Religião
A maior parte dos costumes dos povos mesopotâmicos descende dos sumérios, inclusive a religião.
Acreditavam em vários deuses (eram politeístas), representantes de vários astros. Os principais eram:
Marduk, o deus da Babilônia e do comércio; Shamash, o sol; Anu, o céu; Enlil, deus do ar; Ea, da água;
Ishtar, deusa do amor e da guerra; e Tamus, deus da vegetação.
Os mesopotâmicos criaram o mito de Marduk e a lenda do Dilúvio: acreditavam que o deus Marduk
fora o criador do céu e da terra, dos astros e do homem, e que ajudara Gilgamesh a sobreviver ao dilúvio
em uma arca com vários animais e membros de sua família.
Para os mesopotâmicos, a religião servia para obter recompensas terrenas imediatas; não acreditavam
na vida após a morte. Os rituais religiosos, comandados pelos sacerdotes, faziam dos templos (zigurates)
o eixo da religiosidade mesopotâmica. Esses templos às vezes compreendiam também celeiro, armazém
e oficinas, neles se definindo o estoque e a distribuição do excedente agrícola tomado dos camponeses.

Cultura
A ciência foi importante para o desenvolvimento das sociedades na mesopotâmia. Fosse para
conhecer o regime das cheias dos rios Tigre e Eufrates ou para calcular a movimentação dos astros, os
mesopotâmicos desenvolveram um conhecimento científico respeitável. Os sacerdotes, a partir das
observações feitas do alto dos zigurates, desenvolveram a astronomia, descobrindo cinco planetas, divi-
dindo o círculo em 360 graus, criando o processo aritmético da multiplicação e dividindo o dia em 12 horas
de 120 minutos cada uma. Como acreditavam na influência dos astros sobre o dia-a-dia das pessoas,
criaram a astrologia, o uso dos horóscopos, elaborando os 12 signos do zodíaco. Na matemática, além
da multiplicação, criaram também a raiz quadrada e a cúbica.
Na arquitetura, inovaram com a aplicação do sistema de arcos, abóbadas e cúpulas, e, na escultura,
com o uso do baixo-relevo em trabalhos de cerâmica, marfim e metais preciosos. Na literatura,
destacaram-se “O Mito da Criação” e a “Epopeia de Gilgamesh”. No Direito, o “Código de Hamurabi”
sobressai como a maior obra jurídica da região.
A escrita cuneiforme, criada pelos sumários, acabou sendo usada por vários povos vizinhos, sendo
decifrada em 1847 pelo inglês Rawlinson, que se utilizou de uma inscrição em babilônio e persa, no
rochedo de Behistur.

O IMPÉRIO PERSA
No leste da Mesopotâmia, região do Planalto iraniano, conviviam medos e persas, povos de origem
indo-europeia que desenvolveram uma intensa atividade pastoril.
No início, houve a dominação dos medos sobre os persas, quando Ciáxares construiu um poderoso
reino. Com o declínio da hegemonia medá, Ciro, rei dos persas, uniu os dois povos e fundou o Império
Persa, o maior até então organizado na Ásia Ocidental. Esse império desapareceu com a expansão
macedônica, comandada por Alexandre Magno.
Ciro foi responsável pela unificação política do Planalto Iraniano e a criação do Império Persa, após
anexar o Reino da Média (555 a.C.). Em seguida, Ciro derrotou Creso, rei da Lídia, e conquistou o
Segundo Império Babilônico, permitindo que os hebreus retomassem à Palestina.
Ciro buscou unificação econômica de seu império, além de garantir que os povos conquistados
mantivessem seus próprios costumes, língua e tradição. Foi visto pelos hebreus como um libertador do
jugo dos caldeus.

Fonte: www.scicast.com.br

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Cambises, filho e sucessor de Ciro, conquistou o Egito na batalha de Pelusa (525 a.C.), vencendo o
faraó Psamético III. Morreu quando se preparava para voltar à Pérsia, a fim de sufocar uma revolta.
Em 522, Dario I subiu ao poder; com ele, o Império Persa atingiu o apogeu. Seus domínios estendiam-
se desde a Trácia, na Europa, até a Ásia Central. Dario consolidou o despotismo real, dando à sua pessoa
um caráter semidivino. Dividiu o império em satrápias, cuja administração civil e militar era confiada aos
nobres escolhidos; não obstante, as satrápias eram vigiados por funcionários reais (os “olhos e ouvidos
do rei”), que percorriam as províncias fiscalizando a ação dos dirigentes. Houve estímulos ao comércio e
o florescimento de várias capitais (Susa, Persépolis e Pasárgada), pois a Corte persa se deslocava
periodicamente.
Dario envolveu-se em uma disputa pela hegemonia comercial nos mares Egeu e Negro e, apoiado por
seus aliados fenícios, deu início às Guerras Médicas, sendo derrotado pelos atenienses na batalha de
Maratona.
A queda do grande Império Persa teve início no reinado de Xerxes, que também foi derrotado pelos
gregos (batalha de Salamina); o fim de sua independência política veio com a derrota e morte de Dario III
perante a investida dos gregos e macedônios, comandados por Alexandre Magno.

A economia e a sociedade do Império persa


Durante o do reinado de Dario I, o império persa viveu um período de prosperidade econômica, através
do estímulo o comércio e a agricultura. Um dos fatores que contribuíram para o aumento da atividade
comercial foi a introdução do dárico, cunhado em ouro ou prata, de peso fixo e com a efígie do rei
(inovação trazida da Lídia), que instituiu um padrão monetário no reino. A construção de estradas, bem
como um eficiente policiamento efetuado por tropas reais, permitiram um tráfego maior de caravanas que
buscavam alcançar a Mesopotâmia, provenientes de partes distantes da Ásia. Os correios reais
facilitavam as comunicações e dizia-se que “na capital podia-se comer o peixe pescado no mar no mesmo
dia”.
O Império Persa nasceu do conflito entre as tribos pastoras e agricultoras. Quando o persa Ciro se
impôs pela força, a nobreza agrária e guerreira também se sobrepôs. O povo, constituído de artesãos,
agricultores e pastores, que podiam ser recrutados para a guerra, ocupava uma posição superior aos
escravos.
Entre os persas, o poder da camada sacerdotal era menor do que na maioria das civilizações da
Antiguidade Oriental.

Religião
A religião entre os persas caracterizou-se pela prática do Dualismo, que segundo a tradição, foi
proposta por Zaratustra (Também chamado Zoroastro), através dos escritos contidos no Zend-Avesta. O
dualismo espalhou-se pela Ásia, e com algumas alterações, é praticado até hoje.
O princípio do dualismo é a crença na existência dos princípios opostos: o bem, representado pelo
deus Aura-Mazda, e o mal, representado por Ahriman. A ideia é de que ambos viviam em constante luta
pelo controle das ações humanas. Os homens, agindo corretamente, estariam ajudando o bem a vencer
o mal. Zaratustra previa que no final dos tempos Aura-Mazda venceria e os que ficassem ao lado do mal
seriam destruídos.
O dualismo persa acabou por influenciar o Cristianismo, no que tange à dicotomia entre Céu e Inferno.
Previa a vinda de um Messias e se apresentava na condição de religião revelada. A religião persa sofreu
influência da Mesopotâmia, acabando por adotar fórmulas de horóscopos e a predição do futuro através
da posição dos astros. O culto de Mitra (auxiliar de Aura-Mazda) chegou a influenciar os próprios romanos,
que o representavam pelo Sol.

A cultura Persa
Os persas procuraram fora das suas fronteiras os elementos que marcaram suas construções.
Influências egípcias e mesopotâmicas fizeram-se sentir na arquitetura e a esculturas persas e os restos
de seus palácios evidenciam esse ecletismo cultural.
Os palácios do Império Persa possuíam alicerces de pedra, vastos terraplanos, paredes de tijolos,
colunas finas e elegantes, com capitéis esculpidos com cabeças de touro ou de cavalo. O teto era forrado
com madeira pintada. Muros recobertos de baixos-relevos ou ladrilhos esmaltados caracterizam as
principais construções existentes.

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HEBREUS
Antepassados do povo judeu, os hebreus têm sua trajetória marcada por migrações e pelo
monoteísmo. O Antigo Testamento da bíblia cristã é uma das maiores fontes de informação sobre o
povo Hebreu, já que cria uma mitologia para a criação desse povo.

A Origem dos Hebreus


Os hebreus originam-se da região da Palestina, localizada entre o deserto da Arábia, Líbano e Síria.
Na proximidade do Mar Mediterrâneo e cruzada pelo rio Jordão, a região da Palestina era considerada
um dos mais importantes centros comerciais do mundo antigo. Era uma região de conflito, uma vez que
era habitada por diferentes povos que disputavam territórios, bens e poder, sendo palco da histórica briga
árabes e palestinos, que perdura até os dias de hoje.
Os hebreus são um povo com origem semita, que se diversificaram de outros povos contemporâneos
a eles por meio de uma crença religiosa monoteísta e por possuírem um líder religioso, Moisés.
A palavra hebreu significa: "povo do outro lado do rio”, como referência ao Rio Jordão, uma vez que a
base de seu povoado deu-se após realizarem a travessia do rio e se fixarem na chamada “terra de Canaã”.
Além dos hebreus, os árabes também são um povo de origem semita. A civilização hebraica foi uma das
que mais exerceu influência sobre a civilização presente, em todas as partes do mundo, uma vez que a
sua religião, o judaísmo, forneceu subsídios para a constituição do cristianismo e do islamismo.
A população hebraica era organizada em vários clãs patriarcais, que, na verdade, eram tribos
seminômades. Essas tribos familiares dedicavam-se à criação de gado em pastagem próximas a oásis
espalhados pelo deserto da Arábia. Através de suas crenças, os hebreus fundaram uma religião
monoteísta baseada no culto ao Deus Javé (yahweh). Os hebreus seguiam líderes “escolhidos” por Javé
e consideravam-se uma nação santa que deveria expandir a sua população pela terra. Desse modo, as
famílias eram muito numerosas em integrantes. As mulheres recebiam o papel de criar os filhos e manter
o lar, enquanto os homens tinham a função de administrar as tribos e obter o sustento da família.
É possível dividir a trajetória dos Hebreus em três períodos:

- Período dos Patriarcas;


- Período dos Juízes;
- Período dos Reis.

No período dos patriarcas, que foi a primeira parte da história política dos hebreus, a população esteve
sob o domínio de uma liderança, um membro de uma das tribos que possuía o poder jurídico, militar e
religioso. Com relação à atividade econômica os hebreus sustentavam-se por meio de trabalhos pastoris
de caráter nômade, ou seja, o povo deslocava-se constantemente para regiões mais férteis.
Conduzidos por Abraão, deixaram a cidade de Ur, na Mesopotâmia, e se fixaram na Palestina (Canaã
a Terra Prometida), por volta de 2000 a.C.
A Palestina era uma pequena faixa de terra, que se estendia pelo vale do rio Jordão. Limitava-se ao
norte, com a Fenícia, ao sul com as terras de Judá, a leste com o deserto da Arábia e, a oeste com o mar
Mediterrâneo.
Governados por patriarcas, os hebreus viveram na palestina durante três séculos. Os principais
patriarcas hebreus, foram Abraão (o primeiro patriarca), Isaac, Jacó (também chamado Israel, daí o
nome israelita), Moisés e Josué.
Por volta de 1750 a.C. uma grande seca atingiu a Palestina. Os hebreus foram obrigados a deixar a
região e buscar melhores condições de sobrevivência no Egito. Permaneceram no Egito, cerca de 400
anos, até serem perseguidos e escravizados pelos faraós. Liderados pelo patriarca Moisés, os hebreus
abandonaram o Egito em 1250 a.C., retornando à Palestina. Essa saída em massa dos hebreus do Egito
é conhecida como Êxodo.
O período dos juízes tem início com a volta à Palestina. Sob a liderança de Josué, os hebreus tiveram
de lutar contra os cananeus e, posteriormente, contra os filisteus. Josué (sucessor de Moisés), distribuiu
as terras conquistadas entre as doze tribos de Israel. Nesse período os hebreus, passaram a se dedicar
à agricultura, a criação de animais e ao comércio, tornando-se, portanto, sedentários.
Nesse período de lutas pela conquista da Palestina, que durou quase dois séculos, os hebreus foram
governados pelos juízes. Os juízes eram chefes políticos, militares e religiosos. Embora comandassem
os hebreus de forma enérgica, não tinham uma estrutura administrativa permanente. Entre os mais
famosos juízes destaca-se Sansão, que ficou conhecido por sua grande força, conforme relata a Bíblia.
Outros juízes importantes foram Gedeão e Samuel.

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Os conflitos e problemas sociais criaram a necessidade de um comando militar unificado, o que levou
os hebreus a adotarem a monarquia. O objetivo era centralizar o poder nas mãos de um rei e, assim, ter
mais força para enfrentar os povos inimigos, como os filisteus.
O primeiro rei dos hebreus foi Saul (1010 a.C.). Depois veio o rei Davi (1006-966 a.C.), conhecido por
ter vencido os filisteus. Com a conquista de toda a Palestina, a cidade de Jerusalém tornou-se a capital
política e religiosa dos hebreus.
O sucessor de Davi foi seu filho Salomão, que terminou a organização da monarquia hebraica e seu
reinado marcou o apogeu do reino hebraico. Durante o reinado de Salomão (966-926 a.C.), houve um
grande desenvolvimento comercial, e foram construídos palácios, fortificações, e o Templo de Jerusalém.
Além das construções, Salomão criou um poderoso exército, organizou a administração e o sistema de
impostos. Montou uma luxuosa corte, com muitos funcionários e grandes despesas.
Para poder sustentar uma corte tão luxuosa, Salomão obrigava o povo hebreu a pagar pesados
impostos. O preço dessa exploração foi o surgimento de revoltas sociais.
Com a morte de Salomão, essas revoltas provocaram a divisão religiosa e política das tribos e o fim
da monarquia unificada.
Formaram-se dois reinos:
Ao norte, dez tribos formaram o reino de Israel, com capital em Samaria;
Ao sul, as duas tribos restantes formaram o reino de Judá, com capital em Jerusalém.

Fonte: http://gabinetedehistoria.blogspot.com.br/

Em 722 a.C., os reinos de Israel foram conquistados pelos assírios, comandados por Sargão II. Grande
parte dos hebreus foi escravizada e espalhada pelo Império Assírio.
Em 587 a.C., o reino de Judá foi conquistado pelos babilônios, comandados por Nabucodonosor. Os
babilônios destruíram Jerusalém e aprisionaram os hebreus, levando-os para a Babilônia. Esse episódio
ficou conhecido como o Cativeiro da Babilônia.
Os hebreus permaneceram presos até 538 a.C., quando o rei persa Ciro II conquistou a Babilônia, e
puderam então à Palestina, que se tornara província do Império Persa e reconstruíram então o templo de
Jerusalém.
A partir dessa época, os hebreus conseguiram conquistar a autonomia política da Palestina, que se
tornou sucessivamente província dos impérios persa, macedônio e romano.
Durante o domínio romano na Palestina, o sentimento de unidade dos hebreus fortaleceu-se, levando-
os a se revoltar contra Roma. No ano 70 d.C. o imperador romano Tito, sufocou uma rebelião hebraica e
destruiu o segundo templo de Jerusalém. Os hebreus, então, dispersaram-se por várias regiões do
mundo. Esse episódio ficou conhecido como Diáspora (Dispersão).

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No ano de 136, sofreram a Segunda Diáspora, no reinado de Adriano (imperador romano), em que os
judeus foram definitivamente expulsos da Palestina.
Dispersos pelo mundo, o povo israelita, organizou-se em pequenas comunidades. Unidos,
preservaram os elementos básicos de sua cultura, como a linguagem, a religião e alguns objetivos
comuns, entre eles voltar um dia à Palestina. Assim, os hebreus se mantiveram como nação, embora não
constituíssem um Estado.
Somente em 1948, os judeus puderam se reunir num Estado independente, com a determinação da
ONU (Organização das Nações Unidas), que criou o Estado de Israel. Decisão que criou sérios problemas
na região do Oriente Médio, pois com a saída dos judeus da Palestina, no século I, outros povos,
principalmente de origem árabe ocuparam e fixaram-se na região. A oposição dos árabes à existência do
Estado de Israel, tem resultado em contínuos conflitos na região.

Religião
A religião hebraica foi marcadamente monoteísta, vinculada também à ideia do messianismo.
Diferentemente da maioria dos povos da região, a religião hebraica era monoteísta (crença em um único
deus), e não politeísta (crença em vários deuses e divindades) como os egípcios, por exemplo. Além
disso, também possuíam a ideia do messianismo.
A ideia messiânica foi divulgada pelos profetas. Acreditavam na vinda de um messias, um enviado de
Deus para conduzir os homens à salvação eterna. Para os cristãos (católicos e protestantes) esse
messias é Jesus Cristo. Os judeus não consideram Jesus como messias, e sim como apenas um dos
muitos profetas e pregadores que existiram na época. Os judeus continuam aguardando a vinda do
messias.
A doutrina fundamental da religião hebraica (o Judaísmo) encontra-se no Pentateuco, contido no Velho
Testamento da Bíblia. O Pentateuco é composto pelos primeiros livros da bíblia: Gênesis, Êxodo,
Deuteronômio, Números e Levítico. Os hebreus chamam esse livro de Torá.
A religião hebraica prescreve uma conduta moral orientada pela justiça, a caridade e o amor ao
próximo. Entre as principais festas judaicas, destacam-se: a Páscoa, que comemora a saída dos hebreus
do Egito em busca da Terra Prometida; o Pentecostes, que recorda a entrega dos Dez Mandamentos a
Moisés; o Tabernáculo, que relembra a longa permanência dos hebreus no deserto, durante o Êxodo.
Na literatura, o melhor exemplo são os livros bíblicos do Velho Testamento, dentre os quais destacam-
se os Salmos, o Cântico dos Cânticos, o Livro de Jó e os Provérbios.

FENÍCIOS
A civilização fenícia desenvolveu-se na Fenícia, território do atual Líbano. Os fenícios foram povos de
origem semita, assim como os hebreus. Por volta de 3000 a.C., estabeleceram-se numa estreita faixa de
terra com cerca de 35 km de largura, situada entre as montanhas do Líbano e o mar Mediterrâneo. Com
200 km de extensão, corresponde a maior parte do litoral do atual Líbano e uma pequena parte da Síria.
Por habitarem uma região montanhosa e com poucas terras férteis, os fenícios dedicaram-se à pesca
e ao comércio marítimo.
Diferente de outros povos, os fenícios não chegaram a fundar um reino. A rivalidade entre as diversas
cidades-estados levou-as, no máximo, a constituir uma confederação.
A cidade de Biblos alcançou prestígio por volta de 2500 a.C., expandindo seu comércio e poderio por
uma grande área do Mediterrâneo. Sidon teve o seu período por volta de 1400 a.C., mantendo durante
séculos sua supremacia sobre todo o comércio realizado no mar. Finalmente, coube a Tiro alcançar a
hegemonia marítima, tendo acesso às rotas mais longínquas.
Mais tarde, os fenícios entraram em decadência, caindo sob o domínio dos assírios, babilônios e,
finalmente, dos persas. A colônia fenícia de Cartago, no norte da África, subsistiu até o século II a.C.,
quando foi destruída pelos romanos no final das Guerras Púnicas.

As atividades econômicas e a sociedade fenícia


Acredita-se que os fenícios foram povos originários da Caldéia, região no sul da mesopotâmia. As
condições do relevo na região em que habitavam foi essencial para seu expansionismo. Situados entre
os atuais Líbano e Síria, os fenícios dispunham de poucas terras férteis cultiváveis, o que contribuiu para
que desenvolvessem a prática da navegação.
A proximidade do Egito, com sua grande produção de cereais, a abundância de madeira de cedro e
um litoral extenso fizeram dos fenícios hábeis navegadores.
Os fenícios desenvolveram extraordinariamente o artesanato comercial, produzindo em série objetos
facilmente negociáveis no mundo antigo, tais como armas, vasos, adornos de bronze e cobre, tecidos e
até mesmo objetos de vidro, que alcançavam ótimos preços. Conheciam todas as rotas de navegação do
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Mediterrâneo e, transpondo o Estreito de Gibraltar, alcançaram as Ilhas Britânicas. Chegaram mesmo a
fazer uma viagem de circunavegação da África, a soldo de um faraó egípcio.
O comércio de escravos propiciava grandes lucros; muitos, porém, eram trazidos para a Fenícia a fim
de trabalhar nas oficinas de artesanato. Os fenícios fundaram colônias nas margens do mar Mediterrâneo,
as quais funcionavam como entrepostos de comércio e abastecimento. As mais conhecidas colônias
fenícias foram as cidades de Cartago, no Norte da África, e Cádiz, na Espanha.
Os fenícios detiveram a hegemonia comercial do Mediterrâneo (talassocracia) e foram sérios
concorrentes dos gregos, etruscos e romanos.
A maior parte da população fenícia era constituída de marinheiros e artesãos pobres, os quais
trabalhavam em função de uma classe rica que vivia do comércio marítimo. Essa classe de mercadores
detinha não só o poder político das cidades-estados, mas também a riqueza e o controle das atividades
comerciais. Os escravos e mercenários eram facilmente conseguidos nas viagens pelo Mediterrâneo;
enquanto os primeiros trabalhavam como remadores ou artesãos, os segundos protegiam as naus e as
muralhas das grandes cidades-portos

A religião dos fenícios


A religião dos fenícios, assim como outros povos da região adquiriu caráter politeísta. Cada cidade
possuía um Baal (deus) protetor: Melcart, em Tiro; Adonis, em Biblos; e Eshum, em Sidon. Cartago tinha
como protetor Moloc. Os fenícios possuíam ainda divindades menores protetoras do comércio, das rotas,
dos navios etc. Entre os rituais religiosos estavam o sacrifício de animais e pessoas, como forma de
agradar as divindades.

O alfabeto
Os fenícios desenvolveram o alfabeto em função de suas atividades comerciais.
Além das técnicas de navegação e dos conhecimentos geográficos, provenientes da exploração das
rotas marítimas, os fenícios trouxeram um fator de inegável valor para o progresso da humanidade. A
partir dos ideogramas egípcios, desenvolveram um alfabeto fonético de 22 letras, que mais tarde foi
adaptado pelos gregos e romanos. Provavelmente fizeram isso buscando simplificar as operações
comerciais, uma vez que não deixaram no campo literário, ou em qualquer outra atividade artística, nada
que mereça ser lembrado.
Também foram as inestimáveis contribuições que os fenícios deram para a astronomia e a matemática,
que foram ciências largamente aperfeiçoadas por eles.

Roma
De acordo com a tradição, Roma surgiu às margens do Rio Tibre, em 753 a.C. Era uma espécie de
acampamento militar dos povos albanos contra os etruscos. Até 509 a.C., Roma foi governada por sete
reis, quando o último deles, Tarquínio, o Soberbo, foi deposto. Iniciou-se então a República Romana. O
regime republicano duraria até 27 a.C., data oficial do início do Império Romano, que se extinguiu no
Ocidente, em 476 d.C., e no Oriente, em 1453 d.C.
Segundo a mitologia romana Rômulo e Remo são dois irmãos gêmeos, um dos quais, Rômulo, foi o
fundador da cidade de Roma e seu primeiro rei. Conta a lenda, que Rômulo e Remo, eram filhos do deus
grego Ares, ou Marte seu nome latino, e da mortal Réia Sílvia (ou Rhea Silvia), filha de Numitor, rei de
Alba Longa.
Amúlio, irmão do rei Numitor, deu um golpe de estado, apoderou-se da coroa e fez de Numitor seu
prisioneiro. Réia Sílvia foi confinada à castidade, para que Numitor não viesse a ter descendência.
Entretanto Marte desposou Réia que deu a luz aos gêmeos Rômulo e Remo. Amúlio, rei tirano, ao saber
do nascimento das crianças as jogou no rio Tibre. A correnteza os arremessou à margem do rio e foram
encontrados por uma loba, chamada capitolina ou luperca, que teria os amamentado e cuidado deles até
que estes foram achados pelo pastor Fáustulo, que junto com sua esposa os criou como filhos.
Quando Remo tornou-se adulto se indispôs com pastores vizinhos, estes o tomaram e levaram a
presença do rei Amúlio que o aprisionou. Fáustulo revelou a Rômulo as circunstâncias de seu nascimento,
este foi ao palácio e libertou ao irmão, matou Amúlio e libertou seu avô Numitor. Numitor recompensou
os netos dando-lhes direito de fundar uma cidade junto ao rio Tibre. Os dois consultaram os presságios
e seguiram até a região destinada a construção da cidade. Remo dirigiu-se ao Aventino e viu seis abutres
sobrevoando o monte. Rômulo indo ao Palatino avistou doze aves, fez então um sulco por volta da colina,
demarcando o Pomerium, recinto sagrado da nova cidade. Remo, enciumado por não ser o escolhido,
zombou do irmão e, num salto, atravessou o sulco sendo morto por Rômulo, que o enterrou no Aventino.
Rômulo, após a fundação da cidade, preocupou-se em povoá-la. Criou o Capitólio um refúgio para
todos os banidos, devedores e assassinos da redondeza. A notícia da nova cidade se espalhou e os

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primeiros habitantes foram chegando, principalmente Latinos e Sabinos. Rômulo, após longa batalha com
os Sabinos, firmou acordo com Tito Tácio, seu rei e com este reinou sob uma só nação na grande cidade
de Roma.
A Rômulo também é atribuído a instituição do Senado e das Cúrias.

A monarquia romana
Durante a fase da Monarquia, a economia de Roma era baseada na agricultura e no pastoreio. A
sociedade era formada pelos patrícios, originários das antigas famílias, que constituíam os grandes
proprietários de terra e rebanhos; clientes, homens livres, de famílias pobres, que viviam sob a proteção
dos patrícios; plebeus, representados pelos estrangeiros, pequenos proprietários, artesãos e
comerciantes.
Em toda a fase monárquica, as lendas falam da existência de sete reis: dois latinos, dois sabinos e os
três últimos etruscos. Nessa última fase, a cidade de Roma passou por um grande desenvolvimento
urbano, em decorrência do notável conhecimento de técnicas arquitetônicas dos etruscos, que exerceram
uma pro funda influência na civilização romana.
Até o advento dos reis etruscos, em 640 a.C., Roma era governada por soberanos que dependiam do
Senado — Conselho dos Anciãos —, órgão formado exclusivamente por patrícios. As decisões eram
aprova - das pela Assembleia Curiata, que reunia todos os cidadãos das famílias aristocráticas, cuja fina
li da de era votar as leis e aprovar a guerra.

A estrutura do poder na República Romana


Cônsules: chefes da República, com mandato de um ano; eram os comandantes do exército e tinham
atribuições jurídicas e religiosas.
Senado: composto por 300 senadores, em geral patrícios. Eram eleitos pelos magistrados e seus
membros eram vitalícios. Responsabilizavam-se pela elaboração das leis e pelas decisões acerca da
política interna e externa.
Magistraturas: responsáveis por funções executivas e judiciária, formadas em geral pelos patrícios.
Assembleia Popular: composta de patrícios e plebeus; destinava-se a votação das leis e era
responsável pela eleição dos cônsules.
Conselho da Plebe: composto somente pelos plebeus; elegia os tributos da plebe e era responsável
pelas decisões em plebiscitos (decretos do povo).

A expansão das fronteiras romanas


Iniciado durante a República, o expansionismo romano teve basicamente dois objetivos: defender
Roma do ataque dos povos vizinhos rivais e assegurar terras necessárias à agricultura e ao pastoreio. As
vitórias nas lutas conduziram os romanos a uma ação conquistadora, ou seja, a ação do exército levou à
conquista e incorporação de novas regiões a Roma. Dessa forma, após sucessivas guerras, em um
espaço de tempo de cinco séculos, a ação expansionista permitiu que o Império Romano ocupasse boa
parte dos continentes europeu, asiático e africano.
O avanço das forças militares romanas colocou o Império em choque com Cartago e Macedônia,
potências que nessa época dominavam o Mediterrâneo. As rivalidades entre os cartagineses e os
romanos resultaram nas Guerras Púnicas (de puni, nome pelo qual os cartagineses eram conhecidos).
As Guerras Púnicas desenvolveram-se em três etapas, durante o período de 264 a 146 a.C. Ao
terminar a terceira e última fase das Guerras Púnicas, em 146 a.C., Cartago estava destruída. Seus
sobreviventes foram vendidos como escravos e o território cartaginês foi transformado em província
romana. Com a dominação completa da grande rival, Roma iniciou a expansão pelo Mediterrâneo oriental
(leste). Assim, nos dois séculos seguintes, foram conquistados os reinos helenísticos da Macedônia, da
Síria e do Egito. No final do século I a.C., o mediterrâneo havia se transformado em um “lago romano”
ou, como eles diziam, Mare Nostrum (“nosso mar”).

Os Irmãos Graco e a questão agrária


Com sua politica expansionista Roma consegue, a cada novo território conquistado, além das vitorias
militares a dominação de terras que se somavam para aumentar as suas fronteiras
Por dominarem a maior parte da terra conquistada, os patrícios passavam a estabelecer uma oferta
cada vez maior e mais barata de gêneros alimentícios, o que prejudicou os pequenos e médios
proprietários plebeus. A competição desnivelada entre patrícios e plebeus obrigou o segundo grupo a
abrir mão de suas terras e tornar-se mão de obra barata nos centros urbanos romanos

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O grande acumulo de plebeus nos grandes centros e a disponibilidade de escravos, principalmente
em cidades como Roma, fazia com que a inserção social e econômica dos plebeus fosse cada vez mais
limitada. Com o tempo esses fatores vão aumentar as tensões na sociedade romana.
Com o intuito de amenizar os problemas vividos pela sociedade romana, os tribunos da plebe e irmãos
Tibério e Caio Graco estabeleceram reformas ligadas à questão agrária. No ano de 133 a.C., Tibério
Graco conseguiu aprovar uma lei que limitou a extensão das terras pertencentes à nobreza e determinou
a distribuição de terras públicas para os despossuídos. A repercussão da lei foi grande e gerou
descontentamento entre os grandes proprietários, que arquitetaram o assassinato de Tibério pouco tempo
depois.
Dez anos após o assassinato de Tibério, seu irmão Caio Graco chega ao cargo de tribuno da plebe,
com intenções de continuar o projeto de seu irmão. Conquistando apoio politico de alguns grupos da
sociedade com benefícios como dos cavaleiros romanos ao beneficiá-los com uma lei que lhes concedia
o direito de participar dos tribunais que controlavam a administração dos recursos públicos empregados
nas províncias romanas e o oferecimento de cidadania romana a povos alidos na Peninsula Italica, Caio
conseguiu aprovar leis que estabeleciam mudanças na distribuição de terras que haviam sido
conquistadas em tarento e na Cápua. Outra medida importante foi o estabelecimento da Lei Frumentária,
estipulando a venda de trigo para cidadões mais pobres a preços menores.
As ideias de de ampliação da cidadania romana levaram ao declínio de Caio Graco. O temor da
população em perder seus benefícios do pão e circo o fizeram perder popularidade. Após tentativas
infrutíferas de reeleição e um golpe de estado falho, o Senado decretou estado de sítio. Sem alternativas,
Caio e seus seguidores se viram acuados, o que levou o tribuno ao monte Aventino, onde ordenou sua
morte pelas mãos de um escravo.

Período de instabilidade política


Com o fim das Guerras Púnicas, em 146 a.C., iniciou-se um período de intensa agitação social. Além
dos escravos, povos da Península Itálica também se revoltaram, só que exigindo o direito à cidadania
romana. A expansão das conquistas e o aumento das pilhagens fortaleceram o exército romano, que
então se colocou na luta pelo poder. Assim, esse período ficou marcado por uma acirrada disputa política
entre os principais generais, abrindo caminho para os ditadores.
Essa crise se iniciou com a instituição dos triunviratos ou triarquia, isto é, governo composto de três
indivíduos. O Primeiro Triunvirato, em 60 a.C., foi composto de políticos de prestigio: Pompeu, Crasso e
Júlio César. Esses generais iniciaram uma grande disputa pelo poder, até que, após uma longa guerra
civil, Júlio César venceu seus rivais e recebeu o título de ditador vitalício.
Durante seu governo, Júlio César formou a mais poderosa legião romana, promoveu uma reforma
político-administrativa, distribuiu terras entre soldados, impulsionou a colonização das províncias
romanas e realizou obras públicas.
O imenso poder de César levou os senadores a tramar sua morte, o que aconteceu em 44 a.C. Os
generais Marco Antônio, Lépido e Otávio formaram, então, o Segundo triunvirato, impedindo que o poder
passasse para as mãos da aristocracia, que dominava o Senado.
A disputa pelo poder continuou com o novo triunvirato. Em 31 a.C., no Egito, Otávio derrotou as forças
de Marco Antônio e retornou vitorioso a Roma. Fortalecido com essa campanha, Otávio pôde governar
sem oposição. Terminava, assim, o regime republicano e iniciava o Império.

O Alto Império Romano


O Império se estabeleceu de fato em Roma quando Caio Otávio retornou do Egito com seu numeroso
exército. O Senado concedeu-lhe vários títulos que legalizaram seu poder absoluto: cônsul vitalício,
censor, imperador, príncipe do Senado e, finalmente, Augusto (título até então só atribuído aos deuses e
que permitia a Otávio escolher seu sucessor). Embora Otávio Augusto conservasse durante seu reinado
as aparências republicanas, seu poder apoiava-se efetivamente no imperium (comando do Exército), no
poder proconsular (direito de indicar os governadores das províncias) e no poder tribunício (poder de
representar a plebe).
Augusto reorganizou as províncias, dividindo-as em imperiais (militares) e senatoriais (civis). Indicava
os governadores e os controlava através de inspeções diretas e relatórios anuais feitos pelos sucessores
dos mesmos. Criou o sistema estatal de cobrança de impostos, acabando com a concessão da
arrecadação a particulares (publicanos).
No plano social, acabou com a tradicional superioridade do patriciado e criou um sistema censitário
baseado na renda anual de cada um. Os mais ricos, acima de 1 milhão de sestércios (moeda de prata
cunhada em Roma), pertenciam à Ordem Senatorial, que tinha todos os privilégios políticos e se distinguia
pelo uso da cor púrpura. A renda acima de 400 mil sestércios indicava o homem da Ordem Equestre, com

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menos direitos e a cor distintiva azul. Abaixo desse índice monetário ninguém tinha direitos políticos, era
a Ordem Inferior.
Augusto procurou conter a influência da cultura oriental e grega (helenística), que dominava Roma e
estimulava a busca do prazer (hedonismo) e o culto aos deuses místicos orientais. Tentou reavivar os
valores morais do passado agrário de Roma, sem muito êxito. Para defender suas ideias, trouxe para a
corte literatos como Tito Lívio, Virgílio, Ovídio e Horácio.
Não tendo herdeiros diretos, Augusto indicou como sucessor seu genro, Tibério. Não obstante, as
indicações seguintes seriam em geral feitas pelos militares, notadamente da Guarda Pretoriana.
Com Augusto começou a dinastia Júlio-Claudiana do Império Romano, a qual seria continuada pelos
Flávios até 96 d.C., quando terminaram os chamados Doze Césares. Em seguida viriam os Antoninos e
mais tarde os Severos, já no século III.

O Baixo Império Romano


No século III tem início a crise do Império, abalado por problemas econômicos, militares, políticos e
religiosos. A crise econômica tinha suas origens na cessação das guerras de conquista e na consequente
redução do número de escravos. O déficit orçamentário, resultante do aumento das despesas, levou o
poder político a aumentar excessivamente os impostos. Os preços se elevaram, os mercados se retraíram
e a produção declinou.
O Império Romano, já na época de Augusto, abrangia a maior parte do mundo então conhecido. Suas
legiões garantiam a dominação das províncias, fornecedoras de riquezas que fizeram a grandeza de
Roma.
Começou o êxodo urbano, a concentração da vida no campo em propriedades autossuficientes,
chamadas vilas, precursoras dos feudos medievais. Caracterizavam-se pela economia agrária de
consumo, com o trabalho exercido em termos de meação. Os clientes (romanos) e os colonos
(germânicos) cultivavam a terra, entregando metade da produção ao dono da mesma. Os pequenos
proprietários endividados (precários) tinham o mesmo estatuto, sendo porém livres, ao passo que clientes
e colonos viam-se presos à área em que trabalhavam.
Nessa mesma época, agravou-se a crise religiosa. O Cristianismo começou a se difundir pelo Império
logo após o martírio de Cristo, ocorrido no reinado de Tibério. Os Apóstolos iniciaram sua difusão e São
Pedro fundou o Bispado de Roma; foi martirizado juntamente com São Paulo na época do imperador
Nero. Este foi o autor da primeira perseguição aos cristãos. Nas perseguições posteriores, os cristãos
foram acusados de não cultuar os deuses pagãos nem o imperador (considerado divino desde que Otávio
se tomou Augusto). Além disso, atribuía-se- lhes a responsabilidade pelas calamidades que ocorressem:
enchentes, tempestades, pestes e incêndios. A última perseguição foi desencadeada entre 303 e 304,
pelo imperador Diocleciano (284-304). Quase sempre, os imperadores tentavam colocar a população
contra os cristãos, buscando o apoio da plebe pagã.
Contudo, as perseguições tiveram um efeito contrário ao esperado, pois acabavam convertendo os
espectadores pagãos, impressionados com a firmeza e resignação dos cristãos diante dos sofrimentos.
Em 313, Constantino baixou o Edito de Milão, proibindo as perseguições aos cristãos e dando-lhes
liberdade de culto. A partir de então, a difusão do Cristianismo ganhou um impulso ainda maior: em 390,
o imperador Teodósio proibiu o culto pagão e oficializou o Cristianismo.

A difusão do Cristianismo
Nessa época, o clero cristão já estava estruturado. Presbíteros obedeciam aos bispos, os bispos das
cidades menores obedeciam aos bispos das capitais de província (metropolitas) e estes, aos bispos das
grandes cidades (Constantinopla, Antioquia e Alexandria), os chamados patriarcas; estes, enfim,
obedeciam ao papa (bispo de Roma), cuja autoridade sobre os cristãos foi oficializada pelo imperador
Valentiniano III, em 455.
Ao clero secular (que vivia em contato com a sociedade laica, ou “o mundo” = “saeculum”) se
contrapunha o clero regular, constituído pelos monges — ascetas que viviam isolados nos desertos; era
chamado “regular” porque obedecia a uma “regra” que impunha a castidade, pobreza e renúncia aos bens
materiais. A primeira regra foi estabelecida por São Basílio, seguindo-se lhe a de São Bento (beneditinos).
Portanto, ao mesmo tempo em que enfraquecia o poder imperial, o Cristianismo tornava-se a própria
base legal do poder no fim do Império.
Mas a situação se agravava. A crise política estava intimamente relacionada com os problemas
militares, pois o Exército conturbava a ordem nas épocas de sucessão imperial. Já na última fase do
Império, Diocleciano (284- 304) tentou contornar o problema dividindo-o em quatro partes (tetrarquia).
Depois de sua morte, as disputas sucessórias renasceram, pois Constantino reunificou o Império.

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Outras divisões se verificaram, até à última, determinada por Teodósio, em 395, que criou o Império
Romano do Ocidente (Roma) e o Império Romano do Oriente (Constantinopla). Depois dessa divisão
nunca mais o Império se reunificou em sua integridade, pois os invasores germânicos ocuparam a parte
ocidental, enquanto o Império Oriental sobreviveu até a conquista muçulmana de Constantinopla, em
1453.
O golpe final no Império Romano do Ocidente foi desfechado pelos germânicos, que começaram a se
infiltrar militarmente em fins do século IV. Mas as chamadas “Grandes Invasões” começaram em 406.
Primeiro vieram os visigodos: liderados por Alanco, saquearam Roma e se fixaram na península Ibérica
e sul da Gália, constituindo o primeiro reino germânico dentro das fronteiras do Império. Os vândalos
seguiram o exemplo, saindo do Danúbio, cruzando a Gália e Espanha e se estabelecendo no norte da
África. Os francos ocuparam o norte da Gália. Os anglos e saxões invadiram a Britânia (Inglaterra),
ocupando as terras baixas.
Com o Império em acelerada decadência, os bárbaros germânicos lançaram-se sobre aquilo que
restava do esplendoroso mundo romano.
Em 476, o Império do Ocidente reduzia-se ao território da Itália. O imperador Júlio Nepos foi deposto
por Orestes, chefe do Exército, que colocou seu filho de 6 anos no trono com o nome de Rômulo
Augústulo. Odoacro (rei dos hérulos), chefe bárbaro aliado a Júlio Nepos, deu um contragolpe: afastou
Orestes e Rômulo Augústulo, assumindo o título de “rei da Itália”. As insígnias imperiais foram enviadas
para Constantinopla, o que significava, ao menos teoricamente a reunificação do Império sob o domínio
de Constantinopla.

Cultura Romana
A religião romana tradicional não comportava dogmas. Era prática e imediatista. Incluía o culto dos
antepassados, o culto dos deuses públicos e a crença nos auspícios e prodígios (manifestações divinas
através da Natureza).
As conquistas romanas na Grécia e Oriente Próximo abriram o caminho para a introdução de
divindades orientais, tais como Isis, Serápis e Mitra. Obviamente, os deuses greco-romanos tradicionais,
como Júpiter, Juno e Minerva, caíram em descrédito. O Mitraísmo, uma religião de raízes persas
relacionada com o culto do Sol e representada pelo touro, fez inúmeros adeptos.
O Cristianismo veio a substituir todos esses cultos pagãos. Mas seu domínio sobre o Império somente
se efetivou em fins do século IV.

A arte
A arte romana tem pouca originalidade. Em seus primórdios, caracterizava-se pela influência etrusca
ou das colônias gregas da Magna Grécia. Posteriormente, foi marcada pela influência helenística, que
aparece nas principais construções romanas: arcos triunfais, aquedutos, teatros, anfiteatros, circos,
termas, bem como nas esculturas.

A literatura
A maior contribuição romana à história da cultura foi no setor literário. Não na literatura científica, na
qual os exemplos são poucos, mas na literatura filosófica, jurídica e política.
Na poesia destacaram-se Ovídio, Virgílio, Marcial, Juvenal e Horácio. A Filosofia teve Plínio, Sêneca
e Marco Aurélio; a oratória, Cícero. Na História destacaram-se Tito Lívio, Tácito, Salústio. Suetônio e
Políbio. Nos fins do Baixo Império, apareceram com destaque os escritores cristãos, como São Jerônimo
e Santo Agostinho.
Questões

01. (UFPE) Entre os povos do oriente médio, os hebreus foram os que mais influenciaram a cultura da
civilização ocidental, uma vez que o cristianismo é considerado como uma continuação das tradições
religiosas hebraicas.
A partir do texto anterior, assinale a alternativa incorreta:
(A) Originários da Arábia, os hebreus constituíram dois reinos: o de Judá e o de Israel na Palestina.
(B)As guerras geraram a unidade política dos hebreus. Essa unidade se firmou primeiro em torno de
juízes e, depois, em volta dos reis.
(C) Os profetas surgiram na Palestina por volta dos séculos VIII e VII a.C., quando ocorreu uma onda
de protestos dos trabalhadores contra os comerciantes.
(D)A religião hebraica passou por diversas fases, evoluindo do politeísmo ao monoteísmo difundido
pelos profetas.

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(E) Os hebreus organizaram-se social e economicamente com base na propriedade da terra, o que
deu início à Diáspora.

02. (UFRN) Entre os hebreus da Antiguidade, os profetas eram considerados mensageiros de Deus,
lembrando ao povo as demandas da justiça e da Lei dadas por Javé. Isaías, um dos profetas dessa época,
em nome de Javé proclamou:
Ai dos que decretam leis injustas; dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos
pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os
órfãos! (Isaías 10:1-2)
Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e ficam como
únicos moradores no meio da terra! (Isaías 5:8)
Esses pronunciamentos do profeta Isaías estão ligados a uma época da história hebraica em que
ocorreu:
(A)a saída dos hebreus do Egito, sob o comando de Moisés, e o estabelecimento em Canaã,
conquistando as terras dos povos que ali habitavam.
(B) a imigração para o Egito, quando os hebreus receberam terras férteis no delta do rio Nilo, por
influência de José, que exercia ali o cargo de governador.
(C)a formação de uma aristocracia, que enriquecera com o comércio e com a apropriação das terras dos
camponeses endividados.
(D)a conquista de Jerusalém por Nabucodonosor, quando os judeus foram despojados de suas terras e
deportados para a Babilônia.
(E) ao domínio persa, como Ciro, o Grande, que massacrou milhares de camponeses hebreus.

03. Sobre a religião no Egito Antigo é falso afirmar que:


(A)Os egípcios acreditavam na vida após a morte e, por isso, desenvolveram a técnica da
mumificação.
(B)Os egípcios não acreditavam na vida após a morte e seguiam uma religião monoteísta (crença na
existência de apenas um deus).
(C) Os egípcios acreditavam na existência de vários deuses (religião politeísta).
(D)Na religião egípcia muitos animais eram considerados sagrados, como, por exemplo, gato, jacaré,
água, serpente, etc.

04. (ENEM) O Egito é visitado anualmente por milhões de turistas de todos os quadrantes do planeta,
desejosos de ver com os próprios olhos a grandiosidade do poder esculpida em pedra há milênios: as
pirâmides de Gizé, as tumbas do Vale dos Reis e os numerosos templos construídos ao longo do Nilo. O
que hoje se transformou em atração turística era, no passado, interpretado de forma muito diferente, pois
(A)significava, entre outros aspectos, o poder que os faraós tinham para escravizar grandes
contingentes populacionais que trabalhavam nesses monumentos.
(B)representava para as populações do alto Egito a possibilidade de migrar para o sul e encontrar
trabalho nos canteiros faraônicos.
(C)significava a solução para os problemas econômicos, uma vez que os faraós sacrificavam aos
deuses suas riquezas, construindo templos.
(D) representava a possibilidade de o faraó ordenar a sociedade, obrigando os desocupados a
trabalharem em obras públicas, que engrandeceram o próprio Egito.
(E)significava um peso para a população egípcia, que condenava o luxo faraônico e a religião baseada em
crenças e superstições.

05. (UFRS) Na África, durante a Antiguidade, entre 3000 a.C. e 322 a.C., desenvolveu-se o primeiro
Império unificado historicamente conhecido, cuja longevidade e continuidade ainda despertam a atenção
de arqueólogos e historiadores. Esse império
(A) legou a humanidade códigos e compilações de leis.
(B) desenvolveu a escrita alfabética, dominada por amplos setores da sociedade.
(C) retinha parcela insignificante do excedente econômico disponível.
(D) sustentou a crença de que o caráter divino dos reis se transmitia exclusivamente pela via paterna.
(E) dependia das cheias do rio Nilo para a prática da agricultura.

06. (FGV-SP) Das alternativas abaixo, a que melhor caracteriza a sociedade fenícia é:
(A) a existência de um Estado centralizado e o monoteísmo;
(B) o monoteísmo e a agricultura;
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(C) o comércio e o politeísmo;
(D) as cidades-Estados e o monoteísmo;
(E) a agricultura e a forma de Estado centralizado.

07. (UNESP) Na região onde atualmente se encontra o Líbano, instalou-se, no III milênio a. C., um
povo semita, que passou a ocupar a estrita faixa de terra, com cerca de 200 quilômetros de comprimento,
apertada entre o mar e as montanhas. Várias razões os levaram ao comércio marítimo, merecendo
destaque sua proximidade geográfica com o Egito; a costa, que oferecia lugares para bons portos; e os
cedros, principal riqueza, usados na construção de navios.
O contido nesse parágrafo refere-se ao povo:
(A) fenício.
(B) hebreu.
(C) sumério.
(D) hitita.
(E) assírio.

08. (UFRS) O soberano dividiu o seu império em províncias, chamadas satrápias, sendo a terra
considerada como propriedade real e trabalhada pelas comunidades.
Estas características identificam o:
(A) império dos persas durante o reinado de Dario.
(B) império babilônico durante o governo de Hamurabi.
(C) antigo império egípcio durante a dinastia de Quéops.
(D) reino de Israel sob o comando de Davi.
(E) estado espartano durante a vigência das leis de Dracon.

09. (PUC-SP) Pode-se dizer que um dos elementos fundamentais da religião persa na Antiguidade,
após Zaratustra, é:
(A) o politeísmo caracterizado pela prática da adoração dos ídolos zoomórficos nos templos religiosos.
(B) o caráter local do culto, já que cada região possuía suas próprias divindades supremas.
(C) o dualismo representado pela oposição entre o princípio do bem e do mal.
(D) a estrita obediência por parte de toda a população dos preceitos religiosos contidos nos Vedas
(E) a descrença na imortalidade da alma e na ressureição.

10. (SEDUC-PI – Professor de História – NUCEPE) Dividida em províncias, que ficaram conhecidas
como satrápias, as terras eram consideradas como propriedades do império e cultivadas pelas
comunidades. Considerando as características destacadas, podemos afirmar que estas se referem
(A) ao Império Babilônico.
(B) à fase unificada do Império Egípcio.
(C) ao reino de Israel.
(D) às Cidades-estados gregas.
(E) ao Império Persa.

11. Sobre a queda do Império Romano do Ocidente no ano de 476 d.C. podemos afirmar que:
(A)Ocorreu, após os conflitos entre Roma e os cartagineses, o que enfraqueceu as bases econômicas do
Império.
(B) Teve, no fortalecimento do cristianismo, a única motivação explícita.
(C)Foi provocada pela conjugação de uma série de fatores, destacando-se a ascensão do
cristianismo, as invasões bárbaras, a anarquia nas organizações militares e a crise do sistema escravista.
(D) Teve, na superioridade dos povos bárbaros, a única explicação possível.
(E)Teve, em Carlos Magno, Imperador dos francos, a principal liderança político-militar a comandar os
povos bárbaros na queda de Roma.

12. Podemos dizer que antes as coisas do Mediterrâneo eram dispersas... mas como resultado das
conquistas romanas é como se a história passasse a ter uma unidade orgânica, pois, as coisas da Itália
e da África passaram a ser entretecidas com as coisas da Ásia e da Grécia e o resultado disso tudo
aponta para um único fim.
(Políbio, História, I.3.)
No texto, a conquista romana de todo o Mediterrâneo é
(A) criticada, por impor aos povos uma única história, a ditada pelos vencedores.
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(B) desqualificada, por suprimir as independências políticas regionais.
(C) defendida, por estabelecer uma única cultura, a do poder imperial.
(D) exaltada, por integrar as histórias particulares em uma única história geral.
(E) lamentada, por sufocar a autonomia e identidade das culturas.

13. "Os animais da Itália possuem cada um sua toca, seu abrigo, seu refúgio. No entanto, os homens
que combatem e morrem pela Itália estão à mercê do ar e da luz e nada mais: sem lar, sem casa, erram
com suas mulheres e crianças. Os generais mentem aos soldados quando, na hora do combate, os
exortam a defender contra o inimigo suas tumbas e seus lugares de culto, pois nenhum destes romanos
possui nem altar de família, nem sepultura de ancestral. É para o luxo e enriquecimento de outrem que
combatem e morrem tais pretensos senhores do mundo, que não possuem sequer um torrão de terra.
(Plutarco, Tibério Graco, IX, 4. In: PINSKY, J. "100 Textos de História Antiga". São Paulo: Contexto,
1991. p. 20.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, pode-se afirmar que a Lei da Reforma Agrária
na Roma Antiga
(A)proposta pelos irmãos Graco, Tibério e Caio, era uma tentativa de ganhar apoio popular para uma
nova eleição de Tribunos da Plebe, pois pretendiam reeleger-se para aqueles cargos.
(B)proposta por Tibério Graco, tinha como verdadeiro objetivo beneficiar os patrícios, ocupantes das
terras públicas que haviam sido conquistadas com a expansão do Império.
(C) tinha o objetivo de criar uma guerra civil, visto que seria a única forma de colocar os plebeus numa
situação de igualdade com os patrícios, grandes latifundiários.
(D)era vista pelos generais do exército romano como uma possibilidade de enriquecer, apropriando- se
das terras conquistadas e, por isto, tinham um acordo armado com Tibério.
(E) foi proposta pelos irmãos Graco, que viam na distribuição de terras uma forma de superar a crise
provocada pelas conquistas do período republicano, satisfazendo as necessidades de uma plebe
numerosa e empobrecida.

14. Na atualidade, praticamente todos os dirigentes políticos, no Brasil e no mundo, dizem-se


defensores de padrões democráticos e de valores republicanos. Na Antiguidade, tais padrões e valores
conheceram o auge, tanto na democracia ateniense, quanto na república romana, quando predominaram
(A) a liberdade e o individualismo.
(B) o debate e o bem público.
(C) a demagogia e o populismo.
(D) o consenso e o respeito à privacidade.
(E) a tolerância religiosa e o direito civil.

15. As lutas por riquezas e territórios sempre estiveram presentes na História. Na Antiguidade, o
Mediterrâneo foi disputado nas Guerras Púnicas por:
(A) gregos e persas.
(B) macedônicos e romanos.
(C) romanos e germânicos.
(D) romanos e cartagineses.
(E) gregos e romanos.

Respostas

1. Resposta: E
A diáspora hebraica não ocorreu em razão da organização social e econômica baseada na propriedade
de terras (inclusive, durante uma boa parte da constituição enquanto civilização, os hebreus eram
seminômades), mas por esse povo ter sido submetido ao domínio de outras civilizações, como a
babilônica e, posteriormente, a romana e a árabe.

2. Resposta: C
Os textos proféticos do Antigo Testamento, além de guardarem consigo, segundo a tradição judaico-
cristã, o anúncio da vinda do Messias, também revelam muitos aspectos do contexto histórico que
permeava a vida dos hebreus daquele período. O trecho em questão evidencia a crítica do profeta Isaías
àqueles que se enriqueceram às custas da população camponesa.

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3. Resposta: B
No Egito antigo, como em quase toda a Antiguidade, a religião assumia a forma politeísta,
compreendendo uma enorme variedade de deuses e divindades menores.
O Mito de Osíris ilustra bem a religiosidade dos egípcios, a ponto de terem se decidido a erigir túmulos
e templos em homenagem à morte e à vida futura.

4. Resposta: A
As pirâmides, tumbas e templos na Antiguidade Oriental representavam também a autoridade e o
poder dos governantes, sempre associados a divindades.

5. Resposta: E
Esse enunciado refere-se ao Egito, Estado Teocrático organizado por volta de 3200 a.C., a partir de
comunidades de camponeses estabelecidas ao longo do rio Nilo.

6. Resposta: C
As condições do relevo na região em que habitavam foi essencial para seu expansionismo.
A proximidade do Egito, com sua grande produção de cereais, a abundância de madeira de cedro e
um litoral extenso fizeram dos fenícios hábeis navegadores.
A religião dos fenícios, assim como outros povos da região adquiriu caráter politeísta.

7. Resposta: A
O trecho refere-se aos fenícios, citando as condições geográficas, como o relevo e a proximidade com
o Egito, e o comércio marítimo.

8. Resposta: A
Em 522, Dario I subiu ao poder; com ele, o Império Persa atingiu o apogeu.

9. Resposta: C
O princípio do dualismo é a crença na existência dos princípios opostos: o bem, representado pelo
deus Aura-Mazda, e o mal, representado por Ahriman.

10. Resposta: E
Em 522, Dario I subiu ao poder; com ele, o Império Persa atingiu o apogeu. Seus domínios estendiam-
se desde a Trácia, na Europa, até a Ásia Central. Dario consolidou o despotismo real, dando à sua pessoa
um caráter semidivino. Dividiu o império em satrápias, cuja administração civil e militar era confiada aos
nobres escolhidos; não obstante, as satrápias eram vigiados por funcionários reais.

11. Resposta C.
O sistema escravista romano entra em declínio após o fim do expansionismo que Roma promovia há
alguns séculos. Os povos germânicos que ocupavam as bordas do império, sendo pressionados pelas
ondas migratórias aumentavam cada vez mais. O cristianismo ganhava também cada vez mais força
dentro do império, com a legalização do culto e a popularidade que a religião adquiria.

12. Resposta D.
O trecho exalta, ou seja, comemora e engrandece as conquistas romanas e a formação do império
como unidade de interligação de cultura e de organização espacial.

13. Resposta E.
Os irmãos Graco protestavam contra a distribuição desigual de terras. Apesar das conquistas cada
vez maiores de territórios, a partilha possuía um grau de desigualdade muito grande, ficando a maior
parte destinada aos patrícios que reuniam cada vez mais terras e conseguiam produzir e vender seus
produtos a preços que obrigavam os pequenos proprietários a abandonar suas atividades e rumar para a
cidade em busca de novas formas de sustento.

14. Resposta B.
Diferente dos períodos monárquicos e imperiais, onde o líder muitas vezes governava de forma
autoritária e ditava leis, a democracia ateniense e a república romana respeitavam os princípios do voto
dos cidadãos, que elegiam seus representantes através da escolha daquele que melhor atendesse seus
ideais.
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15. Resposta D.
A disputa entre romanos e cartaginenses pelo controle do mar Mediterrâneo resultou em disputas
que levaram à destruição de Cartago em 146 a.C. e garantiu o completo domínio romano sobre o
comercio no Mediterrâneo.

A Idade Média: a formação da Europa medieval, a geopolítica da expansão do


cristianismo, o feudalismo a transição para o capitalismo.

O feudalismo

O Feudalismo, ou sistema feudal, corresponde ao modo de organização da vida durante a Idade


Média na Europa Ocidental. Suas origens remontam à crise do Império Romano a partir do século
III.
A Idade Média abrange um longo período da história europeia, e é comum dividi-la em duas fases:
Alta Idade Média e Baixa Idade Média.
- A Alta Idade Média, é o período que vai do século V ao XI, corresponde à formação e
consolidação do sistema feudal;
- A Baixa Idade Média, é o período que vai século XI ao XV, caracteriza-se pela crise do
feudalismo e início da formação do sistema capitalista.
A formação do sistema feudal tem início com a crise do século III do Império Romano e acentua-
se no século V, com as invasões dos povos germânicos. A queda do escravismo, a formação do
colonato e a posterior implantação de um regime servil constituem o passo decisivo para a formação
do sistema.
Por outro lado, os germanos que invadiram o Império Romano levaram consigo relações sociais
comunitárias de exploração coletiva das terras e subordinação aos grandes chefes militares
(comitatus). As invasões, além de despovoar as cidades, aumentando a população rural, dificultaram
as comunicações e provocaram o isolamento das localidades, forçando-as a adotar uma economia
de subsistência autossuficiente.
O feudalismo pode ser definido de vários modos. A melhor maneira, porém, é defini-lo conforme
suas relações sociais básicas: relações vassálicas (entre os senhores ou nobreza), relações
comunitárias (entre os servos) e relações servis (que ligavam o mundo dos senhores ao mundo dos
servos).
Esta última ligação se processava por meio das obrigações, que resultavam das imposições feitas
pelo senhor aos servos, de realizar paga mentos em produtos ou serviços, e que constituem a própria
essência do feudalismo. Tais obrigações eram costumeiras e não contratuais, como ocorre no
sistema capitalista. Note-se que o servo era vinculado ao feudo, dele não podendo sair.

Os feudos
A posse de bens variava de acordo com as circunstâncias:
Propriedade privada, no manso senhorial (terra do senhor);
Propriedade coletiva, nos pastos e bosques (de uso comum para senhores e servos);
Propriedade dupla, isto é, copropriedade, no manso servil. (O senhor detinha a posse legal e o
servo, a posse útil da terra.)
Levando-se em consideração que a maior parte da produção obtida pelo servo não se conservava
em suas mãos, pois passava para o senhor feudal, seu interesse era mínimo. Associando-se a este
fato o de que os trabalhos agrícolas eram realizados coletivamente, tolhendo a iniciativa individual,
eles resultavam em baixo nível da técnica e pequena produtividade: para cada grão semeado,
colhiam-se dois. Daí o regime de divisão das terras cultiváveis em três campos, destinados
alternadamente para o plantio de cereais e de forragem, reservando-se o terceiro para o descanso
(pousio). Realizava-se a rotação trienal dos campos, com vistas a impedir o esgotamento do solo.

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A sociedade feudal
De acordo com as bases materiais descritas não havia possibilidade de mobilidade social nos feudos:
a sociedade era, portanto, estamental. O princípio de estratificação era o nascimento, surgindo então
duas camadas básicas: senhores e servos. Existiam também categorias intermediárias, tais como os
vilões (camponeses livres) e os ministeriais (corpo de funcionários livres do senhor).
O número de escravos reduziu-se cada vez mais, pois não havia guerras de expansão para apresá-
los; além disso, a Igreja condenava a escravização de cristãos. Por outro lado, os vilões tendiam a se
tornar servos, pois de nada lhes adiantava a liberdade dentro da insegurança reinante: o fundamental era
a obtenção de proteção.
No topo da hierarquia social estavam os senhores feudais. Os senhores feudais viviam com suas
famílias em casas fortificadas. Nas regiões mais ricas, os nobres habitavam em castelos.
Na base da sociedade feudal estavam os servos, que representavam aproximadamente 98% da
população de um feudo. Os servos viviam nas terras do senhor e a ele deviam uma série de serviços
como a corveia, a talha e as banalidades.
Na corveia o servo ficava obrigado a trabalhar nas terras do nobre por alguns dias da semana;
Na talha, o camponês ficava obrigado a entregar ao senhor feudal parte de sua produção;
Nas banalidades o servo era obrigado a pagar pela utilização do moinho, do forno e demais utensílios
pertencentes ao senhor.
Mão-morta, uma espécie de taxa que o servo devia pagar ao senhor feudal para permanecer no feudo
quando o pai morria.
Tostão de Pedro (10% da produção), que o servo devia pagar à Igreja de sua região.

Outra classe social existente no feudo era o clero, os membros da Igreja. Os clérigos eram os
responsáveis pela transmissão religiosa e cultural. Também eram os responsáveis pelas leis, que nesta
época eram transmitidas pela interpretação religiosa. Isto tudo garantia ao clero a responsabilidade pelo
caráter moral da sociedade. E, não por acaso, que foi neste período que a Igreja Católica se transformou
na mais poderosa instituição da Idade Média. O domínio da Igreja foi garantido por ela ser a única com
acesso ao saber. Afinal, somente os membros do clero podiam ser instruídos de educação e,
consequentemente, eram os poucos que sabiam ler e escrever. O clero era sustentado pelos dízimos
entregues à Igreja.
A definição do bispo Adalberon de León para a sociedade medieval reflete muito bem o pensamento
da época, pois para o bispo “na sociedade feudal o papel de alguns é rezar, de outros é guerrear e de
outros trabalhar”. Para a Igreja medieval, cada indivíduo tinha um importante papel na sociedade, por
isso, deveria executar a sua função com zelo e gratidão como se estivesse trabalhando para o próprio
Deus. Com isso, a Igreja garantia a manutenção da sociedade tal e qual ela era.

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As relações vassálicas
O poder político no sistema feudal era exercido pelos senhores feudais, daí seu caráter localista. Não
tendo autoridade efetiva, os reis apenas aparentavam poder, pois na prática existia uma descentralização
político-administrativa.
Impossibilitados de defender o reino, os soberanos delegaram essa tarefa aos senhores feudais. Por
isso, e com vistas a se protegerem, os senhores procuravam relacionar-se diretamente por um
compromisso: o juramento de fidelidade. O senhor feudal que o prestasse tornar-se-ia vassalo e aquele
que o recebesse seria seu suserano. Na hierarquia feudal, suseranos e vassalos tinham obrigações
recíprocas, pois à homenagem prestada pelo vassalo correspondia o benefício concedido pelo suserano.
Essa relação definia-se em um rito denominado "cerimônia de investidura" ou "cerimônia de adubamento".

A Igreja Medieval
Em meio à desorganização administrativa, econômica e social produzida pelas invasões germânicas
e ao esfacelamento do Império Romano, a Igreja Católica, com sede em Roma, conseguiu manter-se
como instituição. Consolidando sua estrutura religiosa e difundindo o cristianismo entre os povos
bárbaros.
Valendo-se de sua crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel em
diversos setores da vida medieval, servindo como instrumento de unificação, diante da fragmentação
política da sociedade feudal.
Os sacerdotes da Igreja era divididos em duas categorias:
Clero secular (aqueles que viviam no mundo fora dos mosteiros), hierarquizado em padres, bispos,
arcebispos etc.
Clero regular (aqueles que viviam nos mosteiros), que obedecia às regras de sua ordem religiosa:
beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinianos.
No ponto mais alto da hierarquia eclesiástica estava o papa, bispo de Roma, considerado sucessor do
apóstolo Pedro. Nem sempre a autoridade do papa era aceitar por todos os membros da Igreja, mas em
fins do século VI ela acabou se firmando, devido, em grande parte, à atuação do papa Gregório Magno.
Além da autoridade religiosa, o papa contava também com o poder temporal da Igreja, isto é, o poder
advindo da riqueza que acumulara com as grandes doações de terras feitas pelos fiéis em troca da
salvação.
Calcula-se que a Igreja Católica tenha chegado a controlar um terço das terras cultiváveis da Europa
Ocidental.
O papa, desde 756, era o administrador político do Patrimônio de São Pedro, o Estado da Igreja,
constituído por um território italiano doado pelo rei Pepino, dos francos.
O poder temporal da Igreja levou o papa a envolver-se em diversos conflitos políticos com
monarquias medievais. Exemplo marcante desses conflitos é a Questão da Investiduras, no século

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XI, quando se chocaram o papa Gregório VII e o imperador do Sacro Império Romano Germânico,
Henrique IV.

A Questão das Investiduras e o Movimento Reformista


A Questão das Investiduras refere-se ao problema de a quem caberia o direito de nomear
sacerdotes para os cargos eclesiásticos, ao papa ou ao imperador.
As raízes desse conflito remontam a meados do século X, quando o imperador Oto I, do Sacro
Império Romano Germânico, iniciou um processo de intervenção política nos assuntos da Igreja a
fim de fortalecer seus poderes. Fundou bispados e abadias, nomeou seus titulares e, em troca da
proteção que concedia ao Estado da Igreja, passou a exercer total controle sobre as ações do papa.
Durante esse período, a Igreja foi contaminada por um clima crescente de corrupção, afastando-
se de sua missão religiosa e, com isso, perdendo sua autoridade espiritual. As investiduras
(nomeações) feitas pelo imperador só visavam os interesses locais. Os bispos e os padres nomeados
colocavam o compromisso assumindo com o soberano acima da fidelidade ao papa.
No século XI surgiu um movimento reformista, visando recuperar a autoridade moral da Igreja,
liderado pela Ordem Religiosa de Cluny. Os ideais dos monges de Cluny foram ganhando força
dentro da Igreja, culminando com a eleição, em 1073, do papa Gregório VII, antigo monge daquela
ordem reformista.
Eleito papa, Gregório VII tomou uma série de medidas que julgou necessárias para recuperar a
moral da Igreja. Instituiu o celibato dos sacerdotes (proibição de casamento), em 1074, e proibiu que
o imperador investisse sacerdotes em cargos eclesiásticos, em 1075. Henrique IV, imperador do
Sacro Império, reagiu furiosamente à atitude do papa e considerou-o deposto. Gregório VII, em
resposta, excomungou Henrique IV. Desenvolveu-se, então, um conflito aberto entre o poder
temporal do imperador e o poder espiritual do papa.
Esse conflito foi resolvido somente em 1122, pela Concordata de Worms, assinada pelo papa
Calixto III e pelo imperador Henrique V. Adotou-se uma solução de meio termo: caberia ao papa a
investidura espiritual dos bispos (representada pelo báculo), isto é, antes de assumir a posse da terra
de um bispado, o bispo deveria jurar fidelidade ao imperador.

Inquisição

Nos países cristãos, nem sempre a fé popular manifestava-se nos termos exatos pretendidos pela
doutrina católica. Havia uma série de doutrinas, crenças e superstições, denominadas heresias, que
se chocavam com os dogmas da Igreja.
Para combater essas heresias, o papa Gregório IX criou, em 1231, os tribunais da Inquisição, cuja
missão era descobrir e julgar os heréticos. Os condenados pela inquisição eram entregues às
autoridades administrativas do Estado, que se encarregavam da execução das sentenças. As penas
aplicadas a cada caso iam desde a confiscação de bens até a morte em fogueiras.
O processo inquisitorial cumpria basicamente as seguintes etapas: o tempo de graça, o
interrogatório e a sentença.

A vida cultural
Quando se compara a produção cultural da Idade Média com a Antiguidade ou a Modernidade,
ela é considerada tradicionalmente um período de trevas. Ao longo do tempo, esse conceito tem
sofrido algumas revisões, graças à reabilitação da Idade Média por certos autores que nela
encontram as raízes culturais do Mundo Moderno e - num sentido mais imediato - do Renascimento.
Também é importante lembrar que a Igreja foi a grande mantenedora da cultura durante o Período
Feudal, apesar de o fazer de forma que justificasse suas ideias e dogmas. O privilégio da leitura e
da escrita também estava vinculado à Igreja.
Já na crise do feudalismo, com a expansão comercial e a criação das universidades, o
pensamento filosófico desenvolveu-se, surgindo, então, a escolástica ("filosofia da escola"),
produzida por São Tomás de Aquino, autor da Suma Teológica. O ideal tomista era conciliar o
racionalismo aristotélico com o espiritualismo cristão, harmonizando fé e razão.

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A baixa Idade média e as mudanças na sociedade Feudal
Na Baixa Idade Média, ocorreu a transição para o sistema capitalista. Ao mesmo tempo, surgiram
novas classes sociais, principalmente a burguesia, que auxiliou a realeza no processo de
centralização política.
A questão fundamental para entender as mudanças durante a Baixa Idade Média é a crise do
feudalismo. A produção feudal era baseada no trabalho servil, sendo limitada e estática, o que, por
sua vez, representava o baixo nível de técnica do sistema feudal.
No século XI, cessaram as ondas invasoras, criando uma certa estabilidade na Europa, além de
condições de segurança para o aumento da circulação de mercadorias. Houve uma maior
redistribuição da produção, gerando um crescimento demográfico que não foi acompanhado pelo
aumento da oferta de empregos e alimentos.
Com o aumento da circulação de mercadorias e a introdução de novos artigos de luxo, os senhores
feudais passaram a ter necessidade de aumentar as suas rendas. Para obter mais recursos, eles
eram obrigados a aumentar as obrigações dos servos, que, pressionados, partiam para as cidades
em busca de uma vida melhor. A solução para a crise seria a substituição do regime de trabalho
servil pelo trabalho assalariado, porém essa mudança incentivou a evolução do modo de produção
feudal para o capitalista, o que não seria viável num curto período.
Dessa forma, a crise do feudalismo ocorreu pela incapacidade da antiga estrutura econômica de
sustentar as mudanças, o que foi gerando uma nova organização do modo de vida.
A crise do sistema feudal deu origem a um processo de marginalização social, quer pela fuga dos
servos, quer pelos deserdamentos ocorridos na camada senhorial. Essa marginalização trouxe como
consequência o aumento da belicosidade, marcada por assaltos e sequestros a ricos cavaleiros.
A Igreja Católica, para tentar conter a crise, propôs a "Paz de Deus" (proteção aos cultivadores,
viajantes e mulheres) e a "Trégua de Deus" (na qual os dias para realizar guerras ficavam limitados
a 90 por ano). Porém, essa intervenção da Igreja não foi suficiente para conter a crise e a violência
feudais.

As Cruzadas
Como as tentativas anteriores não obtiveram o resultado esperado, a Igreja propôs as Cruzadas,
uma contraofensiva da cristandade diante do avanço do Islã. A Europa, que, entre os séculos VIII e
XI, não teve condições de reagir contra os árabes, passava a reunir nesse momento as condições
necessárias:
- Mão-de-obra militar marginalizada e ociosa;
- Controle espiritual e religioso que a Igreja exercia sobre o homem medieval, que o levou a crer
na necessidade de resgatar o Santo Sepulcro e combater o infiel muçulmano;
- Poder papal que se fortalecera quando Gregário VII impôs sua autoridade a Henrique IV, na
Querela das Investiduras:
-A Igreja do Ocidente pretendia a reunificação da cristandade, quebrada pelo Cisma de 1054;
- O desejo do imperador de Constantinopla em afastar o perigo que os muçulmanos
representavam;
- Para Urbano II, o papa do exílio imposto pela Querela das Investiduras, convocar as Cruzadas
demonstrava prestígio e autoridade perante toda a Igreja.

Em 1095, durante Concílio de Clermont, Urbano II convocou a cristandade para uma guerra santa
contra o Islã. Foram realizadas oito Cruzadas, entre 1095 e 1270.
Apesar da mobilização realizada pelas Cruzadas, elas são consideradas um insucesso, que se
deve em primeiro lugar ao caráter superficial da ocupação. A presença cristã no Oriente Médio não
criou raízes entre as populações locais. Outra razão foi a anarquia feudal, que enfraquecia as
colônias militares estabelecidas em território inimigo. A luta fratricida foi uma constante entre as
ordens religiosas e os cruzados latinos.

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Fonte: 10emtudo.com.br

Consequências das Cruzadas


As Cruzadas não se limitaram às expedições ao Oriente. Ao mesmo tempo, os reinos ibéricos de Leão,
Castela, Navarra e Aragão começavam a Reconquista da Península Ibérica contra os muçulmanos. A
ofensiva teve início com a tomada da cidade de Toledo, em 1036, e concluiu-se, em 1492, com a tomada
de Granada. A vitória dos italianos sobre os muçulmanos no Mar Tirreno e norte da África fez com que
as cidades italianas iniciassem o seu domínio sobre o Mediterrâneo, lançando as sementes do comércio
e do capitalismo. As relações entre Ocidente e Oriente foram redinamizadas depois de séculos de
bloqueio, e as mercadorias orientais se espalhavam pela Europa. O contato com o Oriente trouxe o
conhecimento de novas técnicas de produção, fabricação de tecidos e metalurgia.

O Renascimento do Comércio
As transformações econômicas e sócias entre os séculos XI e XIV na Europa foram imensos. A crise
do feudalismo acentuou-se, principalmente depois das cruzadas. Ao voltarem das batalhas em terras
orientais, os cruzados traziam consigo produtos de luxo, como tapetes persas, porcelanas chinesas,
tecidos finos ou especiarias (temperos como cravo, canela e pimenta), que atraíam a população europeia,
proporcionado o Renascimento do Comércio.
Por haverem estabelecido feitorias nessas regiões mais afastadas, os europeus abriram um novo eixo
comercial ligando o Ocidente ao Oriente. As principais rotas de comércio eram feitas pelo mar
Mediterrâneo e estavam sob o controle de cidades como Gênova, Veneza, Pisa, Constantinopla,
Barcelona e Marselha. No mar Báltico e no mar do Norte, o domínio ficava por conta de cidades como
Hamburgo, Bremen e pela região de Flandres (Países Baixos).

Burgos e burgueses
Com a retomada do comércio, muitos europeus deixaram o campo e foram viver dentro dos burgos -
vilas fortificadas com muralhas, construídas entre os séculos IX e X e posteriormente abandonadas -,
onde esperavam encontrar melhores condições de vida. Em pouco tempo, contudo, esses lugares
tomaram-se pequenos e as pessoas viram-se obrigadas a se instalar do lado de fora de suas muralhas.
Essa população, formada principalmente por artesãos, operários e comerciantes, acabou dando
origem a novos burgos em vários pontos da Europa. Seus habitantes, por oposição aos nobres que viviam
em castelos, ficaram conhecidos como burgueses.
O aumento do comércio e do volume de negociações gerou uma nova necessidade: a padronização
de unidades de valor. O uso de moedas tornou-se essencial, substituindo o escambo ou troca de

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mercadorias. Com a criação das moedas, surgiram também primeiras casas bancárias, responsáveis
pelas operações de câmbio e empréstimos a juros. Toda essa dinâmica fez com que o dinheiro passasse
a ganhar importância e a terra e a produção agropecuária deixassem de ser a base da riqueza na Europa.
Com o aumento do comércio, e, consequentemente, dos lucros, os mercadores e banqueiros
conquistavam maior status social e passaram a ansiar pelo poder político. A burguesia ganhava prestígio
e espaço, aproximando-se dos reis e emprestando-lhes dinheiro em troca de medidas políticas favoráveis
ao comércio. Ao mesmo tempo, os senhores feudais viam-se envolvidos em dívidas, muitas delas
decorrentes das altas despesas com as Cruzadas.

Humanismo
Além dos empreendimentos comerciais, o maior contato entre os burgueses e os monarcas financiou
o surgimento de novas universidades. Com a expansão comercial surgiu a necessidade de formar
pessoas que entendessem de direito e comércio. Com a criação das universidades, a difusão do
conhecimento deixou de ser algo exclusivo da Igreja, e o ensino tomou-se laico, voltado cada vez mais
para questões mundanas.
As aulas voltaram-se para os textos clássicos, principalmente os dos gregos e romanos, e as atenções
dos estudiosos dirigiam-se a diversas áreas do saber e das artes. Iniciava-se o Humanismo, movimento
cultural que viria a influenciar a Europa por quase três séculos. Até então hegemônico, o pensamento da
Igreja passou a ser questionado por religiosos e filósofos leigos.

Guerra, fome e peste


O crescimento que a Europa obteve nos séculos anteriores sofreu um forte golpe no século XIV. As
mudanças climáticas geraram um grave colapso no abastecimento agrícola e, apesar dos diversos
avanços tecnológicos verificados no campo, como a invenção da charrua, da ferradura, a difusão dos
moinhos de vento, a produção não era suficiente para abastecer a população europeia, que duplicou
entre o ano 1000 e o ano 1300, levando boa parte da população a passar fome.
Entre 1346 e 1352, o continente foi assolado pela Peste Negra, uma epidemia decorrente das
péssimas condições de higiene das cidades, transmitida ao ser humano através das pulgas dos ratos-
pretos ou outros roedores, matando cerca de 30 milhões de pessoas, mais de um terço da população
europeia na época. A situação ficou ainda mais grave depois que a nobreza da França e Inglaterra deram
início à chamada Guerra dos Cem Anos, conflito que se estendeu de 1337 a 1453 provocando grande
número de mortos em ambos os países. Outras guerras ocorreram também na Península ibérica, na Itália
e na Alemanha.

Questões

01. (FGV) "A palavra 'servo' vem de 'servus' (latim), que significa 'escravo'. No período medieval, esse
termo adquiriu um novo sentido, passando a designar a categoria social dos homens não livres, ou seja,
dependentes de um senhor. (...) A condição servil era marcada por um conjunto de direitos senhoriais ou,
do ponto de vista dos servos, de obrigações servis". (Luiz Koshiba, "História: origens, estruturas e
processos")

Assinale a alternativa que caracterize corretamente uma dessas obrigações servis:


(A)Dízimo era um imposto pago por todos os servos para o senhor feudal custear as despesas de
proteção do feudo.
(B)Talha era a cobrança pelo uso da terra e dos equipamentos do feudo e não podia ser paga com
mercadorias e sim com moeda.
(C) Mão morta era um tributo anual e per capita, que recaía apenas sobre o baixo clero, os vilões e os
cavaleiros.
(D)Corveia foi um tributo aplicado apenas no período decadente do feudalismo e que recaía sobre os
servos mais velhos.
(E) Banalidades eram o pagamento de taxas pelo uso das instalações pertencentes ao senhor feudal,
como o moinho e o forno.

02. (Fatec-SP) Uma das características a ser reconhecida no feudalismo europeu é:


(A) A sociedade feudal era semelhante ao sistema de castas.
(B) Os ideais de honra e fidelidade vieram das instituições dos hunos.
(C)Vilões e servos estavam presos a várias obrigações, entre elas o pagamento anual de capitação,
talha e banalidades.

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(D) A economia do feudo era dinâmica, estando voltada para o comércio dos feudos vizinhos.
(E) As relações de produção eram escravocratas.

03. (FUVEST) Politicamente, o feudalismo se caracterizava pela:

(A) atribuição apenas do Poder Executivo aos senhores de terras;


(B) relação direta entre posse dos feudos e soberania, fragmentando-se o poder central;
(C) relação entre a vassalagem e suserania entre mercadores e senhores feudais;
(D) absoluta descentralização administrativa, com subordinação dos bispos aos senhores feudais;
(E) existência de uma legislação específica a reger a vida de cada feudo.

04. (UNIP) O feudalismo:

(A) deve ser definido como um regime político centralizado;


(B) foi um sistema caracterizado pelo trabalho servil;
(C) surgiu como consequência da crise do modo de produção asiático;
(D) entrou em crise após o surgimento do comércio;
(E) apresentava uma considerável mobilidade social.

05. (PUC) A característica marcante do feudalismo, sob o ponto de vista político, foi o enfraquecimento
do Estado enquanto instituição, porque:

(A)a inexistência de um governo central forte contribuiu para a decadência e o empobrecimento da


nobreza;
(B) a prática do enfeudamento acabou por ampliar os feudos, enfraquecendo o poder político dos
senhores;
(C)a soberania estava vinculada a laços de ordem pessoal, tais como a fidelidade e a lealdade ao
suserano;
(D) a proteção pessoal dada pelo senhor feudal a seus súditos onerava-lhe as rendas;
(E)a competência política para centralizar o poder, reservada ao rei, advinha da origem divina da
monarquia.

Respostas

1. Resposta: E
Na corveia o servo ficava obrigado a trabalhar nas terras do nobre por alguns dias da semana;
Na talha, o camponês ficava obrigado a entregar ao senhor feudal parte de sua produção;
Nas banalidades o servo era obrigado a pagar pela utilização do moinho, do forno e demais utensílios
pertencentes ao senhor.
Mão-morta, uma espécie de taxa que o servo devia pagar ao senhor feudal para permanecer no feudo
quando o pai morria.
Tostão de Pedro (10% da produção), que o servo devia pagar à Igreja de sua região.

2. Resposta: C
Apesar de não serem escravos, os servos estavam presos à terra do senhor feudal, através de diversas
obrigações e impostos que deveriam ser pagos para usufruir da terra e das benfeitorias do feudo.

3. Resposta: B
O feudalismo marcou a descentralização do poder, com cada feudo funcionando como uma unidade
autônoma, onde o senhor feudal, dono da terra, era o soberano.

4. Resposta: B
Na base da sociedade feudal estavam os servos, que representavam aproximadamente 98% da
população de um feudo. Os servos viviam nas terras do senhor e a ele deviam uma série de serviços
como a corveia, a talha e as banalidades.

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05. Resposta: C
O poder político no sistema feudal era exercido pelos senhores feudais, daí seu caráter localista. Não
tendo autoridade efetiva, os reis apenas aparentavam poder, pois na prática existia uma descentralização
político-administrativa.

Idade Moderna: o renascimento cultural e comercial; o absolutismo monárquico;


a reforma e a contra reforma.

(O Renascimento comercial foi tratado ao final do tópico Idade Média).

O Renascimento
O termo Renascimento é comumente aplicado à civilização europeia que se desenvolveu entre 1300
e 1650. Além de reviver a antiga cultura greco-romana, ocorreram nesse período muitos progressos e
incontáveis realizações no campo das artes, da literatura e das ciências, que superaram a herança
clássica. O ideal do humanismo foi sem dúvida o móvel desse progresso e tornou-se o próprio espírito do
Renascimento. Trata-se de uma volta deliberada, que propunha a ressurreição consciente (o re-
nascimento) do passado (antiguidade, pincipalmente Grécia e Roma), considerado agora como fonte de
inspiração e modelo de civilização. Num sentido amplo, esse ideal pode ser entendido como a valorização
do homem (Humanismo) e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos que haviam
impregnado a cultura da Idade Média.

Características gerais:

-Racionalidade
-Dignidade do Ser Humano
-Rigor Científico
-Ideal Humanista
-Reutilização das artes greco-romana

Arquitetura
Na arquitetura renascentista, a ocupação do espaço pelo edifício baseia-se em relações matemáticas
estabelecidas de tal forma que o observador possa compreender a lei que o organiza, de qualquer ponto
em que se coloque.
“Já não é o edifício que possui o homem, mas este que, aprendendo a lei simples do espaço, possui
o segredo do edifício” (Bruno Zevi, Saber Ver a Arquitetura)

Principais características:

-Ordens Arquitetônicas
-Arcos de Volta-Perfeita
-Simplicidade na construção
-A escultura e a pintura se desprendem da arquitetura e passam a ser autônomas
-Construções; palácios, igrejas, vilas (casa de descanso fora da cidade), fortalezas (funções militares)

O principal arquiteto renascentista:

Brunelleschi - é um exemplo de artista completo renascentista, pois foi pintor, escultor e arquiteto.
Além de dominar conhecimentos de Matemática e Geometria, foi grande conhecedor da poesia de Dante.
Foi como construtor, porém, que realizou seus mais importantes trabalhos, entre eles a cúpula da catedral
de Florença e a Capela Pazzi.

Pintura

Principais características:

-Perspectiva: arte de figura, no desenho ou pintura, as diversas distâncias e proporções que têm entre
si os objetos vistos à distância, segundo os princípios da matemática e da geometria.

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-Uso do claro-escuro: pintar algumas áreas iluminadas e outras na sombra, esse jogo de contrastes
reforça a sugestão de volume dos corpos.
-Realismo: o artistas do Renascimento não vê mais o homem como simples observador do mundo que
expressa a grandeza de Deus, mas como a expressão mais grandiosa do próprio Deus. E o mundo é
pensado como uma realidade a ser compreendida cientificamente, e não apenas admirada.
-Inicia-se o uso da tela e da tinta à óleo.
-Tanto a pintura como a escultura que antes apareciam quase que exclusivamente como detalhes de
obras arquitetônicas, tornam-se manifestações independentes.
-Surgimento de artistas com um estilo pessoal, diferente dos demais, já que o período é marcado pelo
ideal de liberdade e, consequentemente, pelo individualismo.

Os principais pintores foram:

Botticelli - os temas de seus quadros foram escolhidos segundo a possibilidade que lhe
proporcionavam de expressar seu ideal de beleza. Para ele, a beleza estava associada ao ideal cristão.
Por isso, as figuras humanas de seus quadros são belas porque manifestam a graça divina, e, ao mesmo
tempo, melancólicas porque supõem que perderam esse dom de Deus. Obras destacadas: A Primavera
e O Nascimento de Vênus.
Leonardo da Vinci - ele dominou com sabedoria um jogo expressivo de luz e sombra, gerador de uma
atmosfera que parte da realidade mas estimula a imaginação do observador. Foi possuidor de um espírito
versátil que o tornou capaz de pesquisar e realizar trabalhos em diversos campos do conhecimento
humano. Obras destacadas: A Virgem dos Rochedos e Monalisa.
Michelangelo - entre 1508 e 1512 trabalhou na pintura do teto da Capela Sistina, no Vaticano. Para
essa capela, concebeu e realizou grande número de cenas do Antigo Testamento. Dentre tantas que
expressam a genialidade do artista, uma particularmente representativa é a criação do homem. Obras
destacadas: Teto da Capela Sistina e a Sagrada Família
Rafael - suas obras comunicam ao observador um sentimento de ordem e segurança, pois os
elementos que compõem seus quadros são dispostos em espaços amplo, claros e de acordo com uma
simetria equilibrada. Foi considerado grande pintor de “Madonas”. Obras destacadas: A Escola de Atenas
e Madona da Manhã.

O Renascimento na Itália
Considerada o berço do Renascimento, na Itália esse movimento se desenvolveu em plenitude, tanto
nas artes plásticas quanto na literatura e ciência (Humanismo).
Os humanistas, geralmente eram eclesiásticos ou professores universitários que desprezavam a
cultura gótica medieval e primavam pelo individualismo, o refinamento cultural e espiritual.
Em razão das obras e das características que elas apresentam, o Renascimento pode ser dividido em
três fases distintas:

- A primeira é denominada Trecento, correspondente ao século XIV, na transição do Período Medieval


para o Renascimento. Nessa fase, destacam-se Dante, com a Divina Comédia, Petrarca, com África, e
Boccaccio, com a obra Decameron. Nas artes plásticas, Giotto representa os ideais precursores da arte
renascentista.
- No Quatrocento, que corresponde ao século XV, Florença abrigou um dos mais célebres momentos
do Renascimento, com o mecenato da Família Médici. Lorenzo de Médici, o 'Magnífico", que fundou a
"Academia Platônica", na qual pensadores ilustres buscavam conciliar o ideal cristão com o pensamento
antigo é um dos principais mecenas. Nas artes plásticas, o período representou um grande brilhantismo
na produção de obras, sendo seus expoentes Masaccio, Boticelli, Tintoretto, Ticiano e Leonardo Da Vinci
("O Génio Universal da Humanidade").
- A terceira e última fase do Renascimento é denominada Cinquecento e corresponde à arte do século
XVI, que, apesar de ter artistas como Rafael e Michelangelo, apresenta a decadência do movimento
dentro da Itália. Em meados do século XV, os papas de Avinhão voltam para Roma, que adquire prestígio.
Protetores das artes, os papas deixam o palácio de Latrão e passam a residir no Vaticano. Ali, grandes
escultores se revelam, sendo o mais conhecido deles Michelangelo, que domina toda a escultura italiana
do século XVI. Algumas obras: Moisés, Davi (4,10m) e Pietá. Michelangelo também pintou os afrescos
na Capela Sistina Outro grande escultor desse período foi Andrea del Verrochio. Trabalhou em
ourivesaria e esse fato acabou influenciando sua escultura. Obra destacada: Davi (1,26m) em bronze.
Mas sem dúvida, Florença nesse período abrigou o maior dos humanistas italianos: Nicolau Maquiavel,
que, ao escrever O Príncipe, estabeleceu os fundamentos teóricos do Estado Moderno, essencialmente
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na formulação da razão de Estado, que seria posteriormente, pedra angular na teoria política dos Estados
europeus.

O Renascimento Italiano se espalha pela Europa, chegando a outros países, como:

Países Baixos
Erasmo de Rotterdam, foi o maior expoente do Humanismo nos Países Baixos. Em 1509 publicou sua
obra mais famosa, Elogio da Loucura, na qual tece críticas satíricas à sociedade de seu tempo. Tendo
dedicado a sua vida à carreira eclesiástica, Erasmo é considerado um humanista cristão.
Nas artes plásticas, o Renascimento teve maior expressão do que o Humanismo. Na região dos Países
Baixos, as artes plásticas desenvolveram-se de forma independente dos modelos clássicos e refletiam o
luxo da vida dos comerciantes. Seus maiores expoentes foram Peter Brueghel, Bosch, Van Eych e
Rembrandt.

Inglaterra
Destaque para Sir Thomas Morus, com a obra Utopia, que, diante das mudanças sociais promovidas
na Inglaterra em decorrência da manufatura, condenou os abusos da nova sociedade que se formava e
propôs uma sociedade ideal.
William Shakespeare foi o representante máximo da obra teatral, escrevendo mais de 40 peças para
a dramaturgia, entre elas Romeu e Julieta, Macbeth, Hamlet e Rei Lear.

Países Ibéricos
Miguel de Cervantes foi o maior representante do Humanismo na Espanha. Em sua obra Dom Quixote
de La Mancha, satirizou a sociedade feudal e os costumes da cavalaria. Nas artes plásticas, El Greco e
Murillo desenvolveram obras impregnadas de religiosidade e emoção. Em Portugal, Luís Vaz de Camões,
com sua obra Os Lusíadas, traçou a épica narrativa das navegações portuguesas. Gil Vicente produziu
uma obra considerável, tendo títulos como A Farsa de Inês Pereira e Auto da Barca do Inferno.

França

François Rabelais satirizou a Filosofia Escolástica e a Igreja nas obras Gargántua e Pantagruel.
Michel Montaigne, em Ensaios, criticou a sociedade francesa de seu tempo.

Renascimento Científico
O conhecimento medieval era fundamentalmente baseado nas informações e explicações contidas
nos livros sagrados e profanos. A curiosidade impõe o surgimento de experiências e observações durante
o Renascimento. O resultado foi um extraordinário desenvolvimento científico.
Um dos melhores exemplos da ciência renascentista é Leonardo da Vinci. Sua obra é principalmente
artística. Somente após sua morte é que foram difundidas suas ideias científicas, que são precursoras de
inventos modernos. Teorizou alguns princípios da geologia e pode ser considerado precursor remoto do
avião, do submarino e do carro de assalto.
O polonês Nicolau Copérnico concluiu que a Terra não era o centro do Sistema Solar, mas sim o
Sol. Não era o Sol que girava em torno da Terra, corno se pensava na Idade Média, mas a Terra que
girava em torno do Sol. Suas pesquisas foram completadas pelo alemão Keppler e pelo italiano Galileu.
Na medicina, Versálio publicou uma obra que continha os princípios da anatomia: o espanhol Miguel
Servet descobriu uma parte da lei da circulação sanguínea: o médico francês Paré encontrou uma nova
forma de estancar a hemorragia.

Questões

01. (Enem)
Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e
sobre o espaço geográfico, através da pesquisa científica e da invenção tecnológica, os cientistas também
iriam se atirar nessa aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e mesmo
a expressão e o sentimento.
SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984.

O texto apresenta um espírito de época que afetou também a produção artística, marcada pela
constante relação entre

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(A) fé e misticismo.
(B) ciência e arte.
(C) cultura e comércio.
(D) política e economia.
(E) astronomia e religião.

02. (Uerj- Adaptada)

Eu te coloquei no centro do mundo, a fim de poderes inspecionar, daí, de todos os lados, da maneira
mais cômoda, tudo que existe. Não te fizemos nem celeste, nem terreno, mortal ou imortal, de modo que
assim, tu, por ti mesmo, qual modelador e escultor da própria imagem, segundo tua preferência e, por
conseguinte, para tua glória, possas retratar a forma que gostarias de ostentar.
Fala de Deus a Adão.
Pico della Mirandola, 1486.
PICO DELLA MIRANDOLA, Giovanni. A dignidade do homem. São Paulo: GRD, 1988.

O trecho acima reflete as novas ideias introduzidas no ocidente europeu, a partir do século XV, que
permitiram o desabrochar de um pensamento mais original em relação às artes, às ciências e ao
conhecimento.
Estas ideias podem ser relacionadas ao seguinte processo histórico:
(A) Iluminismo
(B) Revolução Científica
(C) Reforma Religiosa
(D) Renascimento

03. (Enem)
O franciscano Roger Bacon foi condenado, entre 1277 e 1279, por dirigir ataques aos teólogos, por
uma suposta crença na alquimia, na astrologia e no método experimental, e também por introduzir, no
ensino, as ideias de Aristóteles. Em 1260, Roger Bacon escreveu: "Pode ser que se fabriquem máquinas
graças às quais os maiores navios, dirigidos por um único homem, se desloquem mais depressa do que
se fossem cheios de remadores; que se construam carros que avancem a uma velocidade incrível sem a
ajuda de animais; que se fabriquem máquinas voadoras nas quais um homem (...) bata o ar com asas
como um pássaro. Máquinas que permitam ir ao fundo dos mares e dos rios"
(apud. BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII. São
Paulo: Martins Fontes, 1996, vol. 3).

Considerando a dinâmica do processo histórico, pode-se afirmar que as ideias de Roger Bacon
(A)inseriam-se plenamente no espírito da Idade Média ao privilegiarem a crença em Deus como o
principal meio para antecipar as descobertas da humanidade.
(B) estavam em atraso com relação ao seu tempo ao desconsiderarem os instrumentos intelectuais
oferecidos pela Igreja para o avanço científico da humanidade.
(C)opunham-se ao desencadeamento da Primeira Revolução Industrial, ao rejeitarem a aplicação da
matemática e do método experimental nas invenções industriais.
(D)eram fundamentalmente voltadas para o passado, pois não apenas seguiam Aristóteles, como
também baseavam-se na tradição e na teologia.
(E)inseriam-se num movimento que convergiria mais tarde para o Renascimento, ao contemplarem a
possibilidade de o ser humano controlar a natureza por meio das invenções.

04. (Enem)
"Os próprios céus, os planetas, e este centro
reconhecem graus, prioridade, classe,
constância, marcha, distância, estação, forma,
função e regularidade, sempre iguais;
eis porque o glorioso astro Sol
está em nobre eminência entronizado
e centralizado no meio dos outros,
e o seu olhar benfazejo corrige
os maus aspectos dos planetas malfazejos,
e, qual rei que comanda, ordena
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sem entraves aos bons e aos maus."
(personagem Ulysses, Ato I, cena III).

SHAKESPEARE, W. Tróilo e Créssida. Porto: Lello & Irmão, 1948.

A descrição feita pelo dramaturgo renascentista inglês se aproxima da teoria


(A) geocêntrica do grego Claudius Ptolomeu.
(B) da reflexão da luz do árabe Alhazen.
(C) heliocêntrica do polonês Nicolau Copérnico.
(D) da rotação terrestre do italiano Galileu Galilei.
(E) da gravitação universal do inglês Isaac Newton.

05. (Ufc) A análise histórica do Renascimento italiano, caso das obras de Leonardo da Vinci e de
Brunelleschi, permite identificar uma convergência entre as artes plásticas e as concepções burguesas
sobre a natureza e o mundo naquele período. Acerca da relação entre artistas e burgueses, é correto
afirmar que ambos:
(A) convergiram em ideias, pois valorizavam a pesquisa científica e a invenção tecnológica.
(B)retomaram o conceito medieval de antropocentrismo ao valorizar o indivíduo e suas obras
pessoais.
(C)adotaram os valores da cultura medieval para se contrapor ao avanço político e econômico dos
países protestantes.
(D)discordaram quanto aos assuntos a serem abordados nas pinturas, pois os burgueses não
financiavam obras com temas religiosos.
(E)defenderam a adoção de uma postura menos opulenta em acordo com os ideais do capitalismo
emergente e das técnicas mais simples das artes.

Respostas

1. Resposta: B
O Renascimento é caracterizado pela valorização dos costumes greco-romanos e pelo distanciamento
entre a ciência e a religião. A figura humana passa a ser retratado de forma naturalizada, com a busca
por retratar o corpo da maneira mais fiel possível, através de estudos de perspectiva, luz, sombras etc.

2. Resposta: D
A expressão renascentista nos remete à Idade Moderna, momento em que uma nova visão de mundo
se desenvolveu ao mesmo tempo em que a burguesia e o comércio estavam em expansão. A cultura
renascentista resgatava valores greco-romanos em contraposição a visão medieval ainda predominante
na sociedade e, dessa maneira, revalorizou a razão, estimulando a reflexão e o senso crítico, com novas
descobertas científicas, assim como uma nova arte, que refletia não apenas a adoção de novas técnicas,
mas a valorização do ser humano e de sua vida cotidiana.

3. Resposta: E
Roger Bacon viveu na baixa idade média, quando alguns teólogos vislumbraram possibilidades
maiores do que aquelas definidas pela Bíblia. A crença na capacidade criadora do homem chocava-se
com as concepções teocêntricas da Igreja Católica, que entendia que apenas Deus era “criador”. A
escolástica, filosofia que incorporou aspectos humanistas e racionais ao cristianismo, representou uma
porta para o desenvolvimento de novas visões de mundo que, séculos depois, permitiram o renascimento
cultural.

4. Resposta: C
Shakespeare é um autor da época do renascimento cultural e foi influenciado pelas descobertas
científicas da época. O texto enfatiza a importância do sol, entronizado (colocado no trono) e, portanto,
equivalente a um rei em meio a outros astros. O heliocentrismo foi uma importante teoria do renascimento,
defendida por Copérnico, que chocou-se com as teses da Igreja, predominantes até então, que defendiam
a Terra como centro do universo (geocentrismo).

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05. Resposta: A
Uma das características básicas do Renascimento era o racionalismo, indutor do cientificismo. As
descobertas científicas fundamentavam as concepções de um contexto de transição, contrárias ás
concepções medievais formuladas e afirmadas pela Igreja.

O Estado moderno e o Absolutismo monárquico10

No final da Idade Média o feudalismo entrou em uma profunda crise. A guerra, a fome e a peste
desestruturaram a sociedade e a economia.
Nesse contexto, a burguesia, interessada no desenvolvimento do comércio (eliminação dos entraves
feudais, unificação da moeda e do sistema de pesos e medidas), apoiou o processo de centralização
monárquica financiando os exércitos nacionais.
No rastro das guerras surgiram Estados fortes nos quais surgiram soberanos absolutistas. Os
principais Estados Nacionais modernos foram França, Inglaterra, Portugal e Espanha.

Características do Estado Moderno

Centralização administrativa: o rei passou a controlar todas as decisões importantes do Estado.


Soberania: o rei é soberano nas atitudes relativas ao Estado que governa, substituindo o conceito
feudal de suserania.
Burocracia: o rei era auxiliado na administração do Estado por um amplo funcionalismo.
Exército nacional: veio substituir a cavalaria feudal para impor as vontades do rei e garantir a
integridade do território do Estado, assim como fazer guerras contra Estados vizinhos ou senhores
insubordinados.
Delimitação fronteiriça: o rei precisava saber até onde poderia exercer o seu poder.
Tributação: somente o Estado poderia cobrar impostos da população.
Exercício da violência: o Estado tomou para si o direito de fazer justiça, reprimindo as formas
tradicionais e pessoais de justiçamento (“fazer justiça com as próprias mãos”).
Uniformização do sistema de pesos e medidas: visava facilitar as trocas comerciais, favorecendo o
desenvolvimento econômico estatal.
Uniformização linguística: a língua nacional era necessária para que as pessoas se sentissem parte
de um todo coeso.

Teóricos do Absolutismo

Nicolau Maquiavel (1469-1527): Sua obra mais conhecida “O Príncipe”, foi escrita para a educação
de um futuro soberano. Nela argumentou que “os fins justificam os meios”; esse novo princípio ético
separou a condição de moral individual da condição de moral pública. Esse posicionamento lhe deu o
título de pai da ciência política moderna. Maquiavel foi conselheiro de muitos governantes poderosos de
seu tempo.
Thomas Hobbes (1588-1679): Tem fundamental importância no pensamento político contemporâneo.
Seu livro “Leviatã”, é um elogio ao absolutismo, onde o autor destaca o papel do Estado absoluto no
aprimoramento social, pois sem Estado “o homem é o lobo do homem”, eternamente dilacerando-se
em contendas sangrentas. Ao Estado Leviatã coube a tarefa de impor regras de conduta civilizadas aos
súditos, mesmo que para isso tenha de usar de violência (exército ou polícia).
Jean Bodin (1530-1596): Este autor defendeu a tese da autoridade divina do rei na obra “A
República”. Assim, o poder real deveria ser total tanto sobre o Estado como sobre os súditos.
Jacques Bossuet (1627-1704): pregava que o Estado deveria se resumir a “um rei, uma lei, uma
fé”. Na obra “Política Segundo as Sagradas Escrituras”. Defendeu que o poder do rei (predestinado)
provém diretamente de Deus. Assim, somente Deus tem o direito de julgar os atos reais.
Hugo Grotius (1583-1645): é considerado o “pai do direito internacional”, pois articulou seu
pensamento em torno dos problemas envolvendo as relações entre os Estados absolutistas.

O Absolutismo Inglês
A Inglaterra foi derrotada na Guerra dos Cem Anos em 1453. Essa derrota alimentou as disputas
internas e apenas dois anos depois os principais representantes da nobreza inglesas iniciaram a Guerra
10
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das Duas Rosas (1455-1485), entre as família aristocrática de York, cujo brasão trazia uma rosa branca
e a família nobre de Lancaster que tinha por símbolo heráldico uma rosa vermelha.
A longa e sangrenta guerra chegou a seu termo em 1485 e deixou como saldo um feudalismo
enfraquecido na Inglaterra. Esse fato desencadeou a centralização monárquica pelas mãos da dinastia
Tudor iniciada por Henrique VII (1485-1509).
Os governantes Tudor implementaram o absolutismo. Pacificaram a Inglaterra, o comércio da lã teve
um grande desenvolvimento e a indústria naval floresceu.
Henrique VIII governou a Inglaterra de 1509 a 1547, e teve um importante papel na consolidação do
absolutismo inglês. A partir de 1527 envolveu-se num grande litígio em torno do divórcio com sua primeira
esposa, a espanhola Catarina de Aragão.
A recusa do Papa em desfazer o casamento real foi o estopim do rompimento inglês com Roma pelo
Ato de Supremacia, em 1534.
Henrique VIII tornou-se a cabeça da Igreja anglicana e casou-se com a cortesã Ana Bolena, mãe de
Elizabeth.
Em 1547, o único filho de Henrique VIII, Eduardo VI tornou-se rei aos 10 anos para morrer aos 15 sem
governar. Em 1553 ascendeu ao trono a ultra-católica Maria Tudor que declarou guerra aos protestantes
e passou para a história como “a sanguinária”.
Elizabeth I governou no auge do absolutismo inglês entre 1558 e 1603. Incentivou a construção naval,
criou a Companhia das Índias Orientais e apoiou a pirataria. Interferiu na religião consolidando o
anglicanismo pela lei dos 39 pontos de 1563. Derrotou a invencível armada da Espanha em 1588. O
teatro floresceu com as peças de William Shakespeare.
Elizabeth I foi a última governante Tudor. Durante seu reinado a Inglaterra tornou-se a maior potência
mercantilista europeia. Foi sucedida por Jaime I, fundador da dinastia Stuart.

O Absolutismo Francês
O feudalismo francês sofreu um golpe de misericórdia com a Guerra dos Cem Anos (1337-1453).
Esse fato favoreceu a centralização do poder na França, mas o absolutismo teve de esperar o fim das
guerras religiosas entre católicos e protestantes (huguenotes) que dividiram e abalaram profundamente
a França no século XVI.
A pacificação religiosa começou com a ascensão de um huguenote (calvinista) ao trono em 1594. O
novo rei era Henrique de Navarra que havia destronado a rei católico Henrique III.
Os católicos franceses opuseram-se violentamente a ter um protestante no governo. Diante de tal
resistência o novo rei converteu-se ao catolicismo (“Paris bem vale uma missa”). Henrique de Navarra
subiu ao trono como Henrique IV no ano de 1594.
O novo rei iniciou a dinastia Bourbon que levou a França a ser o país mais absolutista da Europa.
Em 1598, Henrique IV assinou o Édito de Nantes, pelo qual concedeu direito de livre culto aos
protestantes pondo fim às contendas religiosas na França.
Henrique IV foi morto por um católico inconformado em 1610. Seu filho e sucessor, Luís XIII (1610-
1643), contava apenas 9 anos e a regência ficou a cargo de Maria de Médicis.
Em 1624, Luís XIII convocou o Cardeal Richelieu como seu primeiro ministro. Esse empenhou-se em
impor controle aos protestantes, transformar a França numa potência mercantilista e a consolidar o poder
absoluto preparando o caminho para Luís XIV.
Luís XIV (1643-1715) entrou para a história como o “Rei Sol”, em seu extenso reinado, levou a França
ao apogeu do absolutismo.
Em 1685, revogou o Édito de Nantes, pois temia que os huguenotes se tronassem “um Estado dentro
do Estado”. Calcula-se que perto de 500.000 ricos burgueses huguenotes tenham deixado a França
provocando grandes problemas econômicos.
Em seus delírios de grandeza o rei sol dilapidou as finanças públicas em guerras e na construção do
Palácio de Versalhes, no qual viviam milhares de nobres ociosos parasitando os cofres públicos.
O brilho fulgurante da corte em Versalhes contrastava com a acelerada deterioração econômica do
país. Os impostos abusivos pesavam sobre o povo e as insatisfações contra o governo aumentavam sem
parar, nesse momento podemos já reconhecer os fundamentos do pensamento iluminista e da Revolução
Francesa.
Luís XV (1715-1774), herdou uma França em grave crise financeira. Não obstante continuou a política
belicista do pai travando entre 1756 e 1763 a guerra dos sete anos com a Inglaterra.
O último representante da dinastia Bourbon foi Luís XVI (1774-1792), que herdou do pai uma França
completamente falida com um povo que se agitava por mudanças drásticas. A Revolução Francesa de
1789 significou o fim do absolutismo na França e a execução do rei na guilhotina em 1793.

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O MERCANTILISMO
O renascimento comercial da Baixa Idade Média favoreceu o desenvolvimento do capitalismo moderno
que ficou conhecido como Capitalismo Comercial ou Mercantil.
O mercantilismo significou a transição entre o modo de produção feudal e o modo de produção
capitalista.
A acumulação de capital provocada pelo mercantilismo na Europa favoreceu o desenvolvimento da
Revolução Industrial na Inglaterra a partir do século XVIII.

CARACTERÍSTICAS DO MERCANTILISMO
Metalismo ou Bulionismo: o mercantilismo foi muito influenciado pela ideia metalista de acumulação
de capital, ou seja, o Estado seria tão mais rico quanto mais metais moedáveis (ouro e prata) dispusesse.
Tendo amplos recursos minerais em suas colônia da América (Peru, Colômbia e México), a Espanha
adotou o bulionismo com maior ênfase.
Balança Comercial Favorável: exportar muito e importar o mínimo necessário foi um estratagema
utilizado por vários Estados para acumular capital através do superávit na balança comercial.
Protecionismo: tributar as importações e incentivar a produção manufatureira interna foi a forma de
evitar evasão de divisas (metais) encontrada por Estados pobres em recursos minerais. O protecionismo
favoreceu o desenvolvimento de uma maior organização do trabalho manufatureiro, o que repercutiu na
Revolução Industrial.
Intervenção Estatal: o Estado centralizado encontrou na economia mercantilista a forma de alicerçar
e fortalecer o absolutismo monárquico e dar respostas à greve crise que se enunciou em todos os setores
da sociedade europeia em fins da Idade Média e início da Era Moderna.
Industrialismo ou Colbertismo: essa política foi implementada na França por Colbert, ministro de
Luís XIV. Baseava-se no incentivo à produção de artigos de luxo que a França poderia exportar facilmente
obtendo superávit comercial.
Colonialismo: A adoção simultânea de medidas protecionistas por vários Estados europeus
neutralizou grande parte das trocas comerciais na Europa. Assim, o colonialismo surgiu como forma de
dinamizar o comércio e obter imensos lucros na exploração colonial da América, África e Ásia.

A Reforma religiosa
A reforma religiosa começou com Martinho Lutero em 1517, na Alemanha, quando ele protestou contra
a venda de indulgências e aproveitou para fazer outras críticas à estrutura eclesiástica.
Combatido pelo Papa, Lutero foi condenado pelo imperador Carlos V na Dieta (reunião ou assembleia
oficial) de Worms e somente escapou da execução porque se refugiou na Saxônia, com o duque
Frederico, o Sábio.
Uma nova Assembleia foi reunida em Spira, em 1529. O imperador Carlos V impôs o catolicismo
romano aos príncipes, que se rebelaram. Daí o nome "protestante". Em 1530, em Augsburgo, a doutrina
de Lutero foi exposta por Melanchton por meio da Confissão de Augsburgo, que se tornou a constituição
da nova Igreja. Os príncipes protestantes organizaram a Liga de Smalkalde contra o imperador.
Finalmente, em 1555, uma nova Dieta de Augsburgo colocava os príncipes protestantes em vantagem,
pois estabelecia a teoria de que cada príncipe deveria determinar a religião dos súditos. Terminava, assim,
a primeira guerra de religião na Alemanha.

A doutrina luterana
Para o luteranismo, a salvação não se alcança pelas obras, e sim pela fé, pela confiança na bondade
de Deus, pelo sofrimento interior do fiel. O culto é muito simples: um contato "direto entre fiel e salvador";
somente salmos e leituras da Bíblia.
Lutero rejeitou a maior parte dos sacramentos; conservou apenas três, que foram depois reduzidos a
dois: batismo e eucaristia. Mesmo na eucaristia, a presença de Cristo existe no pão e no vinho, não há
transformação do corpo e sangue de Cristo em pão e vinho, ou seja, não há transubstanciação, e sim
consubstanciação.

A revolução de João Calvino


A Igreja na França sofria os mesmos males da Igreja em toda a Europa, agravados pela Concordata
de 1516, que transferia para o rei da França o direito de nomear bispos e abades.
Com essa reforma, o rei passou a distribuir as abadias e bispados como forma de recompensa por
serviços prestados, deixando em segundo plano as preocupações religiosas.
Por outro lado, as ideias de Erasmo haviam se difundido bastante na França, surgindo mesmo
humanistas admiráveis como Lefèvre d'Etaples, que propunha uma reforma interior e progressiva da
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Igreja. Quando surgiu Calvino, portanto, as ideias de uma reforma humanista e mesmo luterana já haviam
feito numerosos adeptos na França.
Calvino estudou em Novon. Assimilou os ensinamentos luteranos e, por isso, foi obrigado a refugiar-
se em Estrasburgo, por volta de 1534. Retirou-se depois para Bale, onde publicou sua principal obra,
Instituição Cristã, que se tornou a constituição de sua reforma.
A ação de Zwinglio havia iniciado a Reforma na Suíça, mas esta falhara. Calvino instalou-se em Gene-
bra em 1536, a convite de Guilherme Farei, que pertencera ao grupo de Lefèvre d'Etaples, dando início à
Reforma naquela cidade.
A Reforma de Calvino foi bastante radical. Implantou uma censura rígida na cidade, dirigindo-a por
meio de ordenações eclesiásticas. A intolerância era total. A Igreja reformada compreendia os fiéis, os
pastores e o conselho dos anciões. Um consistório dirigia a política religiosa e moral de Genebra.
Essas ideias difundiram-se com rapidez. Theodoro de Beza levou-as para Gênova. Ele havia dirigido
a Academia que se ocupava dos problemas teológicos e da difusão da crença. Na França, os artesãos,
burgueses e mesmo grandes senhores converteram-se à fé de Calvino, que se instalou solidamente na
Holanda e também penetrou na região do Rio Reno. Na Escócia, João Knox e os nobres escoceses
impuseram a Reforma à rainha Maria Stuart (1557-1560). Dessa forma, a Igreja Calvinista, extremamente
igualitária, austera, dirigida por um conselho de pastores e dos anciãos, instalou-se firmemente na
Escócia.

A doutrina do Calvinismo
Mesmo em relação à doutrina luterana, a doutrina calvinista é bastante radical. Em relação ao
catolicismo, então, há enormes diferenças.
Para Calvino, a salvação é conseguida pela predestinação, que a condiciona totalmente à vontade
de Deus. O amor ao trabalho, o espírito de economia e eventualmente a riqueza material são indícios de
escolha divina para a salvação. Somente os sacramentos do batismo e da eucaristia foram conservados.
O culto é de absoluta simplicidade. Não há imagens nem paramentos, apenas uma Bíblia que deve ser
comentada.

A reforma na Inglaterra
Henrique VIII, rei da Inglaterra (1509-1547), era católico, inclusive opusera-se violentamente à Reforma
Luterana.
As divergências de Henrique VIII com a igreja católica começaram em 1527, quando o rei pretendeu
casar-se com uma dama da corte, Ana Bolena. O problema do desejo de matrimonio do rei é que ele já
possuía uma esposa, Catarina de Aragão.
Tendo o papa se negado a dissolver o seu casamento anterior com Catarina, o rei rompeu com a igreja
católica.
Em 1534, o Parlamento promulgou o Ato de Supremacia, pelo qual Henrique VIII se tornava o chefe
supremo da Igreja na Inglaterra. Assim, a Igreja Anglicana tornou-se uma Igreja nacional, separada de
Roma. Nenhuma reforma foi efetuada na doutrina ou no culto. Henrique VIII perseguiu tanto os católicos
quanto os calvinistas (os chamados puritanos).
Sob a influência do bispo Cramer, o calvinismo penetrou na Inglaterra durante o reinado de Eduardo
VI (1547-1553). Assim, a missa foi suprimida e o casamento dos padres, permitido. O poder passou em
seguida a uma rainha católica, Maria Tudor (1553-1558), que empreendeu profunda perseguição aos
calvinistas e anglicanos, restaurando o catolicismo.
Foi somente com Elizabeth (1558-1603) que se estabeleceu definitivamente a Reforma na Inglaterra.
Confirmou-se a superioridade do rei nos assuntos religiosos. Completou-se a separação de Roma. Foi
instituído um livro de orações comuns, e a hierarquia do clero, mantida.

Características da doutrina anglicana


Em termos da doutrina, a salvação pela predestinação, apoio das Sagradas Escrituras, supressão das
conexões com Roma, manutenção da hierarquia, conservação de dois sacramentos, presença espiritual
de Cristo na eucaristia, eliminação do sacrifício da missa e preservação da liturgia foram as modificações
introduzidas.

A Contrarreforma
A igreja católica passava por disputas internas entre o Papado e o Concílio, envolvidos numa luta pelo
controle da Igreja. Isso impediu a pronta ação contra o protestantismo, que teve uma expansão tão rápida,
tão fulminante que a Igreja Católica finalmente percebeu que poderia ser completamente destruída. Daí
a necessidade de uma reorganização interna.
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O surgimento da Companhia de Jesus, destinada a apoiar o papa, permitiu a convocação do Concilio
de Trento (1545-1563), no qual se adotaram as principais medidas de defesa da Igreja Católica. O
Concílio conservou a doutrina tradicional, manteve a autoridade do papa e criou os seminários para
melhorar a formação do clero.
Confirmou-se o já existente Tribunal da Inquisição e foi criado o índice dos Livros Proibidos (Index
Librorum Prohibitorum). O Concílio realizou, pois, um trabalho de reestruturação da Igreja Católica, de
reforma interna da Igreja, condição básica para poder enfrentar os protestantes.

Consequências da Reforma
No plano econômico, a Reforma Calvinista trouxe consigo a ideia da predestinação (Deus elegia
previamente os fiéis para a salvação) e de que um dos sinais da escolha divina era o êxito profissional, a
riqueza. Tal concepção adaptava-se perfeitamente à ética capitalista, ao ideal da acumulação e do inves-
timento. Socialmente, a Reforma deu margem a convulsões sociais, pois em nome da religião os cam-
poneses e artesãos aproveitaram para fazer suas reivindicações específicas. Politicamente, os reis e os
príncipes transformaram a Reforma em instrumento de luta pelo poder, pois o rompimento com a Igreja
tornava-os mais fortes.

Questões

1. (IF-SC - Professor - História - IF-SC) As transformações no modo de agir e pensar típicos da


transição do medievo para a modernidade caracterizam um período histórico marcado por rupturas e
permanências.
No que diz respeito às Reformas Religiosas ocorridas na Europa, todas as alternativas abaixo estão
corretas, EXCETO UMA, assinale-a.
(A)A Reforma é consequência das teorias iluministas antieclesiásticas que se basearam nas ideias de
Hegel de que a fé é um elemento individual.
(B)O movimento reformista promoveu um abalo na estrutura do poder religioso do mundo europeu
ocidental.
(C)As transformações decorridas do movimento da reforma relacionam-se com aspectos relativos às
normas de conduta e concepções de valores.
(D)O movimento reformista, além de propiciar mudanças institucionais, também está relacionado com a
crise moral e religiosa pela qual a Europa passava naquele período.
(E) A crítica aos abusos cometidos pela Igreja Católica foram um ponto central para a ocorrência do
movimento reformista, entretanto, elementos relativos à economia devem ser considerados.

2. (SEDUC-RO - Professor – História – FUNCAB) Durante a reforma protestante, surge um


movimento em que a maioria dos convertidos era recrutada nas massas camponesas e nos trabalhadores
urbanos, cujas dificuldades materiais e inquietações religiosas não foram levadas em conta por outros
reformadores, identificados com as classes dominantes. Identifique a qual corrente do movimento
reformista o enunciado faz referência.
(A) Luteranismo.
(B) Zwinglianismo.
(C) Anabatista.
(D) Calvinismo.
(E) Anglicanismo.

3. (IF-SC - Professor - História - IF-SC) De acordo com seus conhecimentos a respeito da Reforma
Protestante, ocorrida na Europa durante o século XVI, relacione a COLUNA A com a COLUNA B e, em
seguida, marque a alternativa correta, de cima para baixo.

COLUNA A
1 – Henrique VIII
2 – João Calvino
3 – Martinho Lutero

COLUNA B
( ) Criou uma igreja inicialmente sem grandes modificações em termos de doutrina e culto
comparativamente à católica, mas a idéia de igreja nacional e de catolicismo sem Roma teve em sua

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ação maior expressão que nos demais países – tornou-se chefe supremo desta igreja através da
aprovação pelo Parlamento do “Ato de Supremacia” (1534).
( )Condenou a venda de indulgências (perdão dos pecados), pois acreditava que a salvação da alma
resultava da fé e que as boas obras em nada influíam para a salvação.
( ) Pregava o rigor da disciplina, a valorização moral do trabalho e da poupança, oferecendo aos
setores burgueses uma justificativa religiosa sólida a suas atividades.
( ) Negou o ato da transubstanciação (transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo),
sugerindo que a mesma fosse vista apenas como a bênção sagrada do pão e do vinho, que ele chamou
de consubstanciação.
( ) Se mostrou favorável a livre interpretação da Bíblia, a uma igreja nacional livre da hierarquia
romana, o celibato dos padres desapareceria, haveria apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia.
a) 2, 3, 2, 1, 3
b) 2, 1, 3, 2, 1
c) 3, 2, 1, 1, 2
d) 1, 3, 2, 3, 3
e) 1, 3, 1,2 , 3

Questões
1. Resposta: A
Questão que se resolve apenas pela datação. A Reforma protestante (século XVI) é um movimento
que antecede o iluminismo (séculos XVII e XVIII).

2. Resposta: D
Apesar de receber o nome com relação a Calvino, o calvinismo foi um movimento que recebeu diversas
influências. Foi conhecida como segunda fase reformista e também foi um sequência do movimento
luterano. Iniciou-se na Suíça e expandiu-se por vários pontos da Europa.

3. Resposta: D

As grandes navegações no século XV: partilha de terrascoloniais, economia


mercantil e regime de monopólios, fortalecimento da burguesia mercantil.

Expansão Ultramarina

A Expansão Ultramarina europeia dos séculos XV e XVI foi liderada por Portugal e Espanha, que
conquistaram novas terras e rotas de comércio, como o continente americano e o caminho para as Índias
pelo sul da África.
Desde o Renascimento comercial, durante a Baixa Idade Média, até a expansão ultramarina, as
cidades italianas foram os principais polos de desenvolvimento econômico europeu. Elas detinham o
monopólio comercial do mar Mediterrâneo, abastecendo os mercados europeus com os produtos obtidos
no Oriente (especiarias), especialmente Constantinopla e Alexandria.
Durante a Idade Média, as mercadorias italianas eram levadas por terra para o norte da Europa,
especialmente para o norte da França e Países Baixos. Contudo, no século XIV, diante da Guerra dos
Cem Anos e da peste negra, a rota terrestre tornou-se inviável. A partir de então, começou a ser utilizada
uma nova rota, a rota marítima, ligando a Itália ao mar do Norte, via Mediterrâneo e oceano Atlântico.
Esta rota transformou Portugal num importante entreposto de abastecimento dos navios italianos que
iam para o mar do Norte, estimulando o grupo mercantil luso a participar cada vez mais intensamente do
desenvolvimento comercial europeu. No início do século XV, Portugal partiu para as grandes navegações,
objetivando contornar a África e alcançar as Índias, para obter diretamente as lucrativas especiarias
orientais.
A expansão marítima portuguesa foi acompanhada, em seguida, pela espanhola e depois por vários
outros Estados europeus, integrando quase todo o mundo ao desenvolvimento comercial capitalista da
Europa.

Motivos para as expansões

Entre as principais razões para a expansão, estavam:

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- O desejo de descobrir uma nova rota para o Oriente, com o objetivo de reduzir o custo dos produtos
comercializados na Europa, visto que as cidades italianas detinham o monopólio do mar Mediterrâneo;
- Obter acesso aos metais preciosos, que eram necessários para a cunhagem de moedas e para o
desenvolvimento econômico. Esses metais eram pouco encontrados na Europa;
- Aumento do poder da burguesia (mercadores), que ambicionavam expandir seus negócios;
- Aumento do poder real, fundamental para a organização das expedições marítimas;
- Desenvolvimento de novos instrumentos e técnicas de navegação, como o astrolábio, o quadrante, e
a bússola, além de melhorias na construção dos navios, permitindo viagens mais longas;
- Queda de Constantinopla, em 1453, que apesar de ter ocorrido após o início das primeiras expedições
marítimas, ajudou a acelerar o desejo europeu por novas rotas, já que a cidade era o principal entreposto
comercial entre Ocidente e Oriente.

Mitos e as Grandes Navegações

Uma das barreiras para concretizar as viagens no além mar eram os medos que os navegantes
possuíam em relação ao mar aberto, um lugar desconhecido, que na mente de muitos marinheiros era
povoado por seres extraordinários e criaturas fantásticas, mas também por monstros e horrores.
Esses medos eram originários do imaginário medieval e da falta de conhecimento sobre lugares ainda
não mapeados, em uma época de pouco ou nenhuma divulgação cultural ou científica. Vale lembrar que
os europeus, até o século XVI conheciam apenas o norte da África e a região que hoje chamamos de
Oriente Médio.

Fonte: Raisz, Erwin. Cartografia Geral, 1969

O mapa acima é uma reprodução de um tipo de mapa muito comum na Idade Média, conhecido como
Orbis Terrarum, ou mapa T no O, por sua forma. No mapa é possível perceber a representação do mundo
conhecido na Idade Média, em que haviam apenas três continentes, não sendo incorporados nem a
América, a Antártida ou Oceania. Apesar da forma arredondada, a terra era entendida como um disco
plano, cercada por mares que terminavam em um abismo profundo. Apesar das teorias de que o mundo
possuía um formato esférico existirem desde a antiguidade, ainda era comum aceitá-lo como uma tábula
cercada pelos astros celestes.

Outro fator importante a ser notado no mapa é a influência que a religião (cristianismo) exercia sobre
todos os aspectos da vida dos europeus. A orientação geográfica coloca a Ásia onde o norte está
localizado, lugar que em um mapa moderno seria ocupado pela Europa. Antes da utilização da bússola
de maneira definitiva na Europa, o norte não possuía a primazia da parte superior dos mapas e cartas. A
parte superior era reservada ao Oriente, a terra do Sol nascente, da luz, do paraíso, de onde haviam sido
expulsos Adão e Eva. Por essa razão, acreditava-se que o paraíso, descrito no livro bíblico de Gênesis,
estava localizado em algum lugar da Ásia, que não havia sido ainda reencontrado pelos cristãos.
Jerusalém, cidade de importante significado religioso e alvo de conquista das cruzadas é entendida como
o centro do mundo.

De acordo com outros mapas do período, a divisão dos continentes seria uma referência aos filhos de
Noé, como pode ser observado na passagem bíblica: “E os filhos de Noé, que da arca saíram, foram
Sem, Cão e Jafé; e Cão é o pai de Canaã; Estes três foram os filhos de Noé; e destes se povoou toda a
terra.” (Gênesis, 9: 18 e 19). Um exemplo pode ser observado na figura abaixo:

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Fonte: PORTO-GONCALVES, DE ARAUJO QUENTAL, Colonialidade do poder e os desafios da integração regional na América Latina.

Como as outras regiões do planeta eram praticamente desconhecidas até então, elas eram descritas
de maneira fantástica e misteriosa, habitadas por seres totalmente diferentes dos encontrados até então
na Europa.
Um dos exemplos pode ser encontrado na obra As viagens de Marco Polo, em que o veneziano
constrói sua fortuna no longínquo Catai, como era conhecida a região da China. O livro descreve a terra
distante como um lugar de imensas riquezas, onde inclusive certas habitações seriam feitas inteiramente
de ouro maciço.

Outras lendas comuns incluíam também o mito da Fonte da Juventude, que dizia que aqueles que
encontrassem tal fonte poderiam obter cura e vida eterna. O Reino de Preste João, recorrente,
principalmente em Portugal. Preste João era um pescador e teria desaparecido durante uma pescaria,
arrastado por peixes. Em uma terra distante, fundou um reino cristão perfeito. Cercado de mistério, o mito
alimentava a ideia de que um poderoso soberano viria da Ásia e atacaria o Islã. O mito começou a circular
à época da Primeira Cruzada, por volta do século XI.

A imagem abaixo mostra como eram imaginados alguns dos habitantes destas terras distantes,
dotados de características físicas totalmente diferentes, com pessoas que possuíam formas animalescas,
anões de duas cabeças, homens com pés tão grandes que eram capazes de fazerem sombra e serem
utilizados como abrigo do sol, ciclopes e criaturas com a cabeça no lugar do tronco.

Fonte: Münster, S., Monstra humana. pp. 1080.

No mar também habitavam incertezas. Era comum a ideia de que existiam lugares onde os ventos
paravam de soprar, ficando os barcos presos em meio ao oceano, sem ter como prosseguir ou voltar. O
medo do abismo do fim do oceano, localizado após a linha do horizonte, era também uma constante.
Os monstros também têm seu papel de destaque. Krakens, Jörmungandr, Sereias, baleias gigantes,
navios assombrados, e muitos outros, eram recorrentes nas ilustrações sobre o mundo desconhecido.

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Fonte: Typus Orbis Universalis - 1561 - Sebastian Munster

Expansão Ultramarina Portuguesa e a chegada ao Brasil

Portugal foi o primeiro país a investir na expansão marítima em virtude de uma série de fatores:
- Desenvolvimento comercial, que proporcionou o surgimento de uma burguesia dinâmica e
economicamente forte;
- Interesse do grupo mercantil em expandir suas transações comerciais; consolidação do poder real
por meio da Revolução de Avis (1383-85), promovida pela burguesia;
- Aperfeiçoamentos náuticos pela invenção da caravela, utilização da vela triangular ou “latina” e,
possivelmente, a existência de um centro de estudos náuticos em Sagres;
- Posição geográfica favorável em direção à costa africana.

Os empreendimentos marítimos portugueses são divididos em duas etapas distintas:

- Reconhecimento e exploração do litoral da África e procura de um novo caminho marítimo para


o Oriente (Índias). A primeira foi iniciada pela tomada de Ceuta em 1415, um entreposto mercantil norte-
africano até então controlado pelos mouros (árabes). Nessa fase, durante a qual foram fundadas várias
feitorias na costa africana para traficar escravos e produtos locais (ouro, marfim, pimenta-vermelha),
descobriram-se as ilhas atlânticas da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde; as ilhas Canárias foram
descobertas em um período anterior.

- “Périplo africano” - Com a conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453, os preços das
especiarias orientais elevaram-se repentinamente, incentivando ainda mais a busca de uma rota para as
Índias. Assim, com a morte do Infante D. Henrique (1460), que até então dirigira a expansão marítima
portuguesa, o Estado luso empenhou-se em completar o “périplo africano” (contorno do continente).
Nessa nova etapa, destacaram-se as viagens de Bartolomeu Dias (Cabo das Tormentas ou Boa
Esperança, em 1488) e de Vasco da Gama (chegada a Calicute, na Índia, em 1498). Pouco depois a
esquadra de Pedro Álvares Cabral, que chegou ao Brasil, em 1500.

Já no século XVI, sob o comando do almirante Francisco de Almeida, novas tentativas são
desenvolvidas, mas somente por volta de 1509 os portugueses vêm a conhecer suas vitórias mais
significativas. Entre esse ano e aproximadamente 1515, o comandante alm. D. Afonso de Albuquerque
— considerado o formador do Império português nas Índias — passou a ter sucessivas vitórias no Oriente,
conquistas que atingiram desde a região do Golfo Pérsico (Áden), adentraram a Índia (Calicute, Goa, Diu,
Damão), a ilha do Ceilão (Sri Lanka) e chegaram até à região da Indochina, onde foi conquistada a
importante Ilha de Java.

Conflito, dominação e resistência dos indígenas

Resistências à escravidão

O processo de interação e dominação entre indígenas e europeus começa com os primeiros contatos
nas ilhas da América Central em 1492. Lá foram implantados os “repartimentos” que consistiam na
distribuição de indígenas a alguns espanhóis, conhecidos como encomendeiros, que tinham a função de
cuidar e os catequizar na fé cristã, ganhando em troca a mão de obra indígena. Em 1500 a coroa
espanhola tornou os indígenas livres e não mais sujeitos a servitude. Ao mesmo tempo ainda era possível
dominar e escravizar indígenas através da chamada “Guerra Justa”, quando as ações dos espanhóis
pudessem ser consideradas morais.

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Os espanhóis possuíam vantagem em relação aos povos americanos pela estranheza e admiração
que causavam. O cavalo era um animal nunca antes visto no continente e impressionava os indígenas.
Também a crença espanhola na superioridade cultural, moral, e principalmente religiosa ajudou no
processo de dominação, além dos equipamentos de combate, como armaduras e arcabuzes (primeiras
espingardas) contra lanças e flechas.

O impacto da escravidão das populações indígenas foi imenso. Poucos anos após a chegada de
Colombo em 1492 grande parte da população nativa da América havia sido dizimada por doenças e
conflitos com europeus. Em 1512, tentando regular o funcionamento das Encomiendas, surgiu a Lei de
Burgos (primeiro código de leis que deveria guiar o comportamento os espanhóis na América, entre suas
diretrizes, estava a proibição ao mal trato indígena). Porém, a lei pouco adiantou, pois a ação intensiva
dos encomendeiros e a falta de fiscalização sobre suas ações não acabaram com as práticas de morte e
trabalhos forçados

Além dos elementos bélicos, os espanhóis também se aproveitaram dos conflitos já existentes entre
grupos indígenas distintos para conquistar as populações da América. Diferentemente do caso brasileiro,
onde existiam diversas etnias diversificadas entre si, os espanhóis encontraram grandes impérios nos
casos Inca e Asteca, onde o poder ficava centralizado na figura de um único indivíduo, e a conquista e
dominação destes significava a desestruturação da sociedade que comandavam. Em casos como o
Asteca, os espanhóis utilizaram seus inimigos que foram dominados por um longo período. A derrubada
do império Asteca também significava para esses indivíduos o fim da opressão que vinham sofrendo de
seus dominadores. Apesar da vitória contra os Astecas e o auxílio aos espanhóis, essas populações
acabaram por ter o mesmo destino, que seus inimigos, indo de encontro também à escravidão

No caso Inca a geografia de seus territórios auxiliou para prolongar a resistência. Apesar da rápida
conquista que obtiveram, optaram por fundar uma nova capital para comandar a região, em Lima (atual
capital do Peru), deixando a antiga capital do império Inca em Cuzco na mão de subordinados do antigo
império. A distribuição desigual de riquezas entre os líderes Incas pelos espanhóis causou revoltas, como
as ocorridas entre 1536 e 1537, na tentativa de recuperar as terras que haviam sido dominadas. A
vantagem dos indígenas nesse caso foi a altitude dos Andes, que lhes rendeu vitórias em batalha por
algum tempo, já que os espanhóis não estavam acostumados com a falta de oxigênio causada pela
altitude das montanhas.

Apesar dos impérios americanos constituírem grande parte do território de ação dos espanhóis, alguns
grupos autônomos renderam aos espanhóis grandes preocupações e conflitos. Grupos como os
Araucanos e Mixtecas, que viviam nas fronteiras dos grandes impérios, não possuíam a mesma unidade
de Incas e Astecas, e tinham de ser conquistados um por um. A existência de grupos não pacificados ou
dominados gerava uma grande perda para a economia local, pois os gastos com a defesa desses lugares
eram muito grandes, além dos prejuízos gerados pelos ataques, como são os casos das Guerras de
Arauco na região do Chile e as rebeliões no norte do México causados por Mixtecas.

A escravidão no Brasil

O domínio da América portuguesa se deu de forma muito diferente da América espanhola. O território
brasileiro possuía uma grande variedade de povos indígenas, de diferentes culturas e costumes. É
importante destacar a heterogeneidade dos povos que aqui viviam. Há uma estimativa de que no
momento do contato com os europeus viviam aqui entre 2 e 4 milhões de pessoas, que estariam, segundo
alguns autores, divididos em mais de 1000 povos diferentes, que desapareceram por conta de epidemias,
conflitos armados e desorganização social e cultural.

Entre os povos que habitaram o Brasil, podemos destacar o pertencimento a dois grandes troncos
linguísticos: Tupi-Guarani e Macro-Jê, além das famílias linguísticas Aruaque, Carariba, Cariri, Pano,
Tukano e Charrua, entre outros.

Entre os povos Jê, atualmente habitam o Brasil:

Xavantes: autodenominados Akwén, entraram em contato com mineradores na província de Goiás,


no início do século XVIII. Atualmente habitam o estado do Mato Grosso.

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Apinayé: entram em contato com jesuítas no Tocantins em 1633, sendo contrários à ideia de
pacificação. Estiveram em conflito com portugueses e com o governo brasileiro ao longo de vários
séculos. Atualmente habitam o estado do Tocantins.

Kaingang: Os Kaingang são um dos grupos indígenas mais numerosos do Brasil, com uma população
estimada em aproximadamente 30 mil pessoas. Habitam os estados de São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. Desde o século XVI possuem contato com europeus, quando eram
denominados Guaianazes. Eram também conhecidos por coroados, devido ao corte de cabelo que
utilizavam, semelhante a uma coroa. Sua relação com os colonizadores e funcionários do governo sempre
adquiriram caráter hostil, até que em meados do século XIX seus líderes resolveram aliar-se aos não
índios, e auxiliando na pacificação dos diversos grupos espalhados pelo interior dos estados que ainda
habitam.

Kayapó: habitantes da região da floresta amazônica. Atualmente vivem nos estados de Mato Grosso
e Pará.

Timbira: entram em contato com os não índios a partir do início do século XVIII, na capitania do Piauí.
Atualmente habitam os estados de Tocantins, Pará e Maranhão.

Xokleng: habitantes do sul do Brasil, os primeiros registros de contatos datam do século XVIII. Vivem
atualmente no estado de Santa Catarina.

Entre os povos Tupi podemos destacar:

Caetés: ficara conhecidos pelo episódio em que teriam supostamente feito um banquete com a
tripulação que naufragou juntamente com Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo português a chegar
no Brasil. Habitavam a região dos estados de Alagoas e Pernambuco.

Potiguaras: povo que tinha no caráter guerreiro seu valor fundamental. Praticavam a antropofagia (ato
de comer partes de um ser humano) ritual. Foram inimigos dos portugueses durante o processo de
conquista do território, formando alianças com franceses. Viviam do litoral do atual estado da Paraíba ao
estado do Ceará. Inimigos dos tabajaras

Tabajaras: viviam no litoral dos estados de Alagoas e Sergipe, migrando para a Paraíba, território de
domínio Potiguara, o que gerou grandes conflitos entre os povos. Os Tabajaras acabaram aliando-se aos
portugueses após os primeiros contatos.

Tamoios: eram praticantes também da antropofagia. Habitavam o litoral norte de São Paulo e o vale
do Paraíba, sendo inimigos dos portugueses.

Tupinambás: habitaram porções de terra no norte da Bahia e Sergipe, e também do litoral norte do
Rio de Janeiro até São Sebastião em São Paulo. Foram inimigos dos Tupiniquim e também dos
portugueses.

Tupiniquins: viviam na região do atual estado da Bahia e possuíam uma grande concentração de
pessoas no território do atual estado de São Paulo. Foram aliados dos portugueses.

Para os portugueses o desafio foi diferente do enfrentado pelos espanhóis. A mão de obra indígena
era indispensável para as intenções mercantilistas de Portugal, que pretendia iniciar a produção da cana-
de-açúcar para a produção do açúcar voltada para a exportação para o mercado europeu, gerava a
necessidade da existência de uma grande quantidade de mão de obra barata para gerar lucros.
Apesar de serem considerados súditos da coroa, e portanto, não poderem ser escravizados, a
legislação criada por Portugal permitia recursos legais para a prática da dominação das populações
nativas. Os grupos indígenas que sofreram o maior impacto da escravidão foram aqueles localizados no
nordeste do país, nas capitanias de Pernambuco e Bahia. Durante o período de 1540 a 1570 muitos
colonos que habitavam as citadas capitanias fizeram contato com indígenas da região e começaram a
estabelecer trocas. Pelo fato de existirem muitos grupos indígenas no Brasil, existiam também muitas
diferenças e as guerras entre eles eram algo constante. Muitos dos prisioneiros feitos nesses conflitos
eram trocados com os portugueses, que os utilizavam como escravos.

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Muitos padres da Companhia de Jesus, conhecidos por Jesuítas condenavam as ações praticadas
pelos colonos portugueses em relação aos escravos indígenas, já que a rotina de trabalho nos canaviais
era árdua e durava longas horas diárias. Por pressão dos Jesuítas, a Coroa portuguesa estabeleceu que
os escravos fossem liberados de suas atividades durante os domingos para praticar a fé cristã e
frequentar a missa. Apesar da determinação real, a medida não era seguida por muitos senhores de
engenhos e quando era praticada, muitos indígenas acabavam usando o dia para descansar ou praticar
outras atividades que lhes rendessem uma alimentação complementar, deixando de lado as obrigações
religiosas.
Os Jesuítas criaram aldeamentos com o objetivo de batizar os índios na fé católica. Com a ideia de
que poderiam alcançar o paraíso e praticar a fé cristã, os índios eram catequizados. Para conseguir uma
aproximação e conquistar os interesses indígenas, os Jesuítas aprenderam sua linguagem e seus
costumes, para pouco a pouco incorporar elementos religiosos em sua cultura e finalmente torná-los
completamente cristãos.

O abandono das antigas crenças e aceitação da fé cristã, mesmo quando imposta, era considerada
pelos jesuítas, que acreditavam que a melhor maneira de conquistar os índios era através da fé, o que os
tornaria mais pacíficos e facilitariam a vida dos colonos pois, auxiliariam em guerras contra tribos
consideradas perigosas e hostis, além dos invasores franceses e holandeses que possuíam grande
interesse pelo território brasileiro. É importante notar o ponto de vista indígena, muitas vezes atraídos
para os aldeamentos com o objetivo de fugir da escravidão imposta pelos colonos e das guerras
praticadas por seus rivais.
Uma das formas de resistência indígena, consistia no isolamento, eles foram se deslocando para
regiões mais pobres, onde o homem branco ainda não havia chegado. Isso permitiu que houvesse a
preservação da herança biológica, social e cultural. Apesar de muitos índios terem se isolado, o número
de mortos foi ainda maior. Estima-se que viviam no Brasil cerca de cinco milhões de índios quando os
colonizadores chegaram, hoje em dia, segundo o IBGE, são cerca de 817 mil índios.
Ao passo em que não se mostra mais atrativa, a colonização indígena no Brasil, assim como na
América espanhola passa a ser considerada sob a pretensão da “Guerra Justa”.

Ocupar, dominar e colonizar o Brasil

O termo “Descobrimento do Brasil” traz uma visão pautada no eurocentrismo, que é a valorização da
cultura europeia em detrimento das outras, já que expõe a chegada (termo mais apropriado) dos
portugueses ao Brasil como o início da civilização e da presença humana no país, desconsiderando a
presença e a cultura indígena já presentes há milhares de anos neste território. Os portugueses chegam
ao Brasil em 22 de abril de 1500, com a esquadra de Pedro Alvares Cabral, iniciando o período conhecido
como Pré-Colonial.

Durante o período Pré-Colonial foi grande a exploração do pau-brasil, que alcançava um bom valor na
Europa, utilizado no tingimento de tecidos (daí vem o nome Brasil, pois a madeira soltava um pigmento
avermelhado, semelhante à cor de uma brasa). O corte e transporte das toras de pau-brasil eram feitas
pelos indígenas, a partir de trocas (escambo) com os portugueses. Os portugueses não encontraram de
imediato metais ou pedras preciosas no Brasil, e também não tiveram interesse em criar colônias no
território recém descoberto.

Durante os primeiros trinta anos, o Brasil foi atacado pelos holandeses, ingleses e franceses que
tinham ficado de fora do Tratado de Tordesilhas (acordo entre Portugal e Espanha que dividiu as terras
recém descobertas em 1494). Os corsários ou piratas também saqueavam e contrabandeavam o pau-
brasil. O medo da coroa portuguesa era perder o território brasileiro para um outro país. Para tentar evitar
estes ataques, Portugal organizou e enviou ao Brasil as Expedições Guarda-Costas, porém com poucos
resultados.

Os portugueses continuaram a exploração da madeira, construindo as feitorias no litoral que nada mais
eram do que armazéns e postos de trocas com os indígenas.
No ano de 1530, o rei de Portugal, D. João III, organizou a primeira expedição com objetivos de
colonização, comandada por Martin Afonso de Souza, com a intenção de povoar o território brasileiro,
expulsar os invasores e iniciar o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil.

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Questões.11

01. No final do Século XIV, o único Estado centralizado e livre de guerras, o que lhe permitiu ser o
pioneiro na expansão ultramarina, era o
(A) espanhol.
(B) inglês.
(C) francês.
(D) holandês.
(E) português

02. A aliança entre Rei e Burguesia no final da Idade Média e início da Idade Moderna não teve como
objetivo:
(A) o fortalecimento da centralização política contra o particularismo feudal vigente até então;
(B) a unificação de moedas, pesos e medidas, a fim de facilitar as transações comerciais;
(C) a definição de fronteiras e, ao mesmo tempo, de mercados internos e externos;
(D) descentralização administrativa do Estado. Consolidação da monarquia descentralizada
(E) a imposição de código único de leis para o país em lugar do direito consuetudinário feudal.

03. Ao final da Idade Média, a necessidade de novas rotas de comércio gerou a expansão mercantil e
marítima desenvolvida pelos países atlânticos. Até então, a principal via comercial europeia era o
Mediterrâneo, cujo monopólio estava concentrado nas mãos dos comerciantes:
(A) venezianos e pisanos
(B) espanhóis e muçulmanos
(C) venezianos e mouros
(D) italianos e árabes
(E) italianos e ibérico.

04. A expansão marítima e comercial empreendida pelos portugueses nos séculos XV e XVI está
ligada:
(A) aos interesses mercantis voltados para as "especiarias" do Oriente, responsáveis inclusive, pela
não exploração do ouro e do marfim africanos encontrados ainda no século XV;
(B)à tradição marítima lusitana, direcionada para o "mar Oceano" (Atlântico) em busca de ilhas
fabulosas e grandes tesouros;
(C)à existência de planos meticulosos traçados pelos sábios da Escola de Sagres, que previam poder
alcançar o Oriente navegando para o Ocidente;
(D)a diversas casualidades que, aliadas aos conhecimentos geográficos muçulmanos, permitiram
avançar sempre para o Sul e assim, atingir as Índias;
(E) ao caráter sistemático que assumiu a empresa mercantil, explorando o litoral africano, mas sempre
em busca da "passagem" que levaria às Índias

05. A partir dos estudos realizados pelo governo português, o pioneirismo na expansão ultramarina
estava em suas mãos, como grande marco do início da dominação portuguesa, responda qual foi o marco
que dá início a sua dominação.
(A) Colonização da Guiné
(B) Chegada dos portugueses ao Brasil
(C) Dominação de Ceuta
(D) Chegada as Índias
(E) Realização do chamado “périplo africano”

06. Uma forma de resistência indígena, consistia no isolamento, eles foram se deslocando para regiões
mais pobres, onde o homem branco ainda não havia chegado. Permitindo que houvesse a preservação
da herança biológica, social e cultural.
(A) Certo (B) Errado

07. (Cesgranrio) O início da colonização portuguesa no Brasil, no chamado período “pré-colonial”


(1500-1530), foi marcado pelo(a):
(A) envio de expedições exploratórias do litoral e pelo escambo do pau-brasil;
11 SOUZA, G, RAINER. Exercícios sobre o período pré-colonial. Exercícios Brasil Escola.
http://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-historia-do-brasil/exercicios-sobre-o--periodo-pre-colonial.htm#questao-1

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(B) plantio e exploração do pau-brasil, associado ao tráfico africano.
(C) deslocamento, para a América, da estrutura administrativa e militar já experimentada no Oriente;
(D) fixação de grupos missionários de várias ordens religiosas para catequizar os indígenas;
(E) implantação da lavoura canavieira, apoiada em capitais holandeses.

08. (USS) Assinale a alternativa correta a respeito do período pré-colonial brasileiro:


(A)Os franceses não reconheciam o domínio português, tanto que chegaram a se estabelecer no Rio de
Janeiro e no Maranhão.
(B)O trabalho intenso de Anchieta e Nóbrega na catequese dos índios tinha o objetivo de impedir a
escravização do gentio.
(C) A ocupação temporária europeia, por meio de feitorias, deveu-se à inexistência de organização
social produtora de excedentes negociáveis.
(D)A cordialidade dos indígenas contrastava com a hostilidade europeia dos portugueses, cujo objetivo
metalista conduzia sempre à prática da violência.
(E)A cordialidade inicial entre europeus e índios deveu-se ao fato de que o objetivo catequético
superava os fins materiais da expansão marítima.

09. “De começo, e fosse qual fosse, após a exploração cabralina, a importância dos conhecimentos
geográficos sobre o Brasil, o interesse de D. Manuel pelos seus novos territórios da América foi, ao que
parece, mais de ordem estratégica que econômica.”
CORTESÃO, Jaime. Os descobrimentos portugueses, p. 1086,
citado em MORAES, Antonio Carlos Robert. Bases da formação territorial do Brasil.
São Paulo: HUCITEC, 2000, p. 174.

Segundo o historiador português, Jaime Cortesão, no início do século XVI, a importância econômica
dada à América pelo Estado português foi de ordem estratégica. Isto, porque:
(A) apesar de terem sido encontrados imediatamente metais preciosos no território, os portugueses
não tinham maior interesse neles;
(B)as comunidades indígenas do litoral sul da América eram hostis a qualquer contato com os
portugueses, o que impediu o desenvolvimento de atividades econômicas na região;
(C)a extensão do litoral e o clima tropical impediam o desenvolvimento de atividades econômicas que
permitissem a produção de bens valorizados na Europa;
(D)o interesse português estava voltado para o Oriente, e o controle do litoral sul da América deveria
garantir, fundamentalmente, o monopólio da navegação da rota do Cabo;
(E)a instalação de feitorias que estimulassem o plantio, pelas comunidades indígenas, do pau-brasil,
produto valorizado no mercado europeu e, por isso, gerador de lucros para o Estado português.

10. (Fuvest 2014) A colonização, apesar de toda violência e disrupção, não excluiu processos de
reconstrução e recriação cultural conduzidos pelos povos indígenas. É um erro comum crer que a história
da conquista representa, para os índios, uma sucessão linear de perdas em vidas, terras e distintividade
cultural. A cultura xinguana – que aparecerá para a nação brasileira nos anos 1940 como símbolo de uma
tradição estática, original e intocada – é, ao inverso, o resultado de uma história de contatos e mudanças,
que tem início no século X d.C. e continua até hoje.
Carlos Fausto. Os índios antes do Brasil.
Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

Com base no trecho acima, é correto afirmar que


(A)o processo colonizador europeu não foi violento como se costuma afirmar, já que ele preservou e até
mesmo valorizou várias culturas indígenas.
(B) várias culturas indígenas resistiram e sobreviveram, mesmo com alterações, ao processo
colonizador europeu, como a xinguana.
(C)a cultura indígena, extinta graças ao processo colonizador europeu, foi recriada de modo mitológico no
Brasil dos anos 1940.
(D) a cultura xinguana, ao contrário de outras culturas indígenas, não foi afetada pelo processo
colonizador europeu.
(E)não há relação direta entre, de um lado, o processo colonizador europeu e, de outro, a mortalidade
indígena e a perda de sua identidade cultural.

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11. (Fuvest 2013)

Victor Meireles. Moema,1866

Em seu contexto de origem, o quadro acima corresponde a uma;


(A) denúncia política das guerras entre as populações indígenas brasileiras.
(B) idealização romântica num contexto de construção da nacionalidade brasileira
(C) crítica republicana à versão da história do Brasil difundida pela monarquia.
(D) defesa da evangelização dos índios realizada pelas ordens religiosas no Brasil.
(E)concepção de inferioridade civilizacional dos nativos brasileiros em relação aos indígenas da
América Espanhola.

Respostas

1. Resposta E.
A reconquista das terras ocupadas pelos Mouros e a centralização do estado a partir do poder
concentrado na figura do rei permitiram a Portugal os recursos necessários para se lançar ao mar em
busca de novas rotas comerciais e novas terras para exploração.

2. Resposta D.
O objetivo da aproximação entre o poder real e a burguesia era justamente a unificação do poder para
garantir um governo forte e centralizado na mão do rei.

3. Resposta D.
A região do mar Mediterrâneo era controlada por italianos, e também por árabes. O monopólio das
rotas terrestres levou muitos europeus, em especial portugueses e espanhóis, que começavam a criar
estados unificados, a explorar a rota marítima.

4. Resposta E.
Apesar das viagens às índias garantirem muito dinheiro, o tempo gasto para fazer a rota poderia levar
longos meses. Um caminho mais curto garantiria uma maior obtenção de lucros.

5. Resposta: C.
O fato que marca o início do processo de conquista português é a dominação da região de Ceuta (atual
Marrocos), logo após esta conquista os portugueses dão início a conquista do litoral africano.

6. Resposta: A.
A forma de resistência usada pelos indígenas, que consistia no isolamento em regiões mais pobres,
garantiu sua sobrevivência biologia, social e cultural.

7. Resposta: A.
Nos primeiros trinta anos da colonização, observamos que os portugueses limitaram-se a enviar
expedições de reconhecimento e proteção ao litoral brasileiro. Sob o ponto de vista econômico, a extração
do pau-brasil era realizada através da mão de obra voluntária dos índios, que recebiam pequenas
mercadorias pelo serviço prestado (escambo).

8. Resposta: A
Vista como uma das mais graves consequências do desinteresse português em relação às terras
brasileiras, a invasão dos franceses revelou o desenvolvimento de uma concorrência de outras nações
europeias no processo de colonização do continente americano. Sem reconhecer a validade do Tratado
de Tordesilhas, os franceses realizaram o contrabando do pau-brasil e tentaram consolidar algumas
colônias no litoral brasileiro.
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09. Resposta: D
Apesar da imensidão do território conquistado, os portugueses pretendiam expandir suas fronteiras
econômicas comercializando com os povos do Oriente. Quando muito, os portugueses realizavam rápidas
expedições de exploração e reconhecimento do território brasileiro. Com o passar do tempo, o insucesso
do comércio oriental e as sucessivas tentativas de invasão motivaram a organização das primeiras ações
de natureza colonizadora.

10. Resposta: B
Durante muito tempo foi comum a ideia da Aculturação do indígena, ou seja, a perda de sua cultura
e inserção na cultura nacional, descaracterizando o indivíduo como indígena. Esse ponto de vista tem
mudado com o entendimento de que os povos indígenas brasileiros não “perderam” sua cultura, apenas
tiveram de adaptá-la para garantir a sobrevivência, tanto de seus praticantes como de seus costumes.

11. Resposta: B.
Inspirado no poema “Caramuru”, do Frei Santa Rita Durão, o quadro retrata a morte de Moema, índia
apaixonada por Caramuru que morre afogada ao tentar alcançar o barco no qual Caramuru retornava
para Portugal, ilustrando através de uma metáfora a dependência do Brasil de Portugal. A imagem foi
pintada no século XIX, quando temas da cultura nacional como o indianismo eram recorrentes nas artes
como forma de reafirmação nacional, que buscava explicar as origens do Brasil através da mistura entre
portugueses e indígenas, com a posterior adição do negro. Outra obra da época é o romance O Guarani,
de José de Alencar, publicado em 1857.

O tráfico atlântico, a escravidão africana e a diáspora dos povos africanos.


A América antes dos europeus: populações nativas, organização social e
cultural.
Os povos indígenas da Bahia pré-colonial.

Tráfico Negreiro

A escravidão na África é uma pratica que acontece desde a antiguidade, presente inclusive no Egito
antigo. Entre as formas mais comuns de escravidão estava aquela produzida através de guerras entre
tribos e etnias diferentes, em que os membros das tribos derrotadas eram transformados em escravos.
Também poderia acontecer como forma de pagar uma dívida para alguém, por um determinado período
de tempo.
A pratica de comercializar escravos tem início por volta do século II a.C., depois do retorno do faraó
Snerfru da região da Nubia trazendo milhares de prisioneiros de guerra. A pratica de escravidão e
comercio também foi praticada por gregos e romanos que dominaram o norte do continente.
Após a conquista árabe do norte do continente, no século XII, o tráfico de pessoas tem aumento
significativo, que seria superado somente após a expansão marítima no século XIV pelos europeus, que
exploraram a costa africana com o objetivo de expandir o comercio, além de enviarem milhões de
escravos para as américas onde trabalhariam principalmente no cultivo de cana-de-açúcar e tabaco.
Com a expansão da produção nas américas, o tráfico negreiro intensificava-se para abastecer as
colônias produtoras, criando o tráfico negreiro, lucrativa pratica que durou até meados do século XIX,
Sendo no Brasil abolida em 1850 através da lei Eusébio de Queiroz.

África
No século XIX a África foi considerada como um continente atrasado e dominado pela barbárie. De
acordo com as ideias inspiradas no evolucionismo biológico de Charles Darwin, povos como os africanos
estariam num estágio cultural e histórico correspondente aos ancestrais da Humanidade. Como
argumento para tal afirmação, os europeus citavam a utilização do alfabeto, inexistente em muitas
culturas africanas.
A partir dessas concepções de atraso, por muito tempo a África foi pensada como um continente cuja
história e a cultura antes do contato europeu fosse inexistente (em várias situações o Egito é descrito
como algo separado da África)
A degeneração da imagem das sociedades africanas, de suas ciências, e de seus produtos é resultado
do projeto do neocolonialismo, que difundiu a ideia de que o continente africano é tórrido e cheio de tribos
perdidas na História e na Civilização. É resultado também do etnocentrismo das ciências europeias do

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século XIX. É necessário, pois, ver de que História e de que Civilização se trata. E do ponto de vista
histórico-econômico, o imperialismo colonial na África é meio e produto do Capital, uma das grandes
invenções que vem desde a era dos Descobrimentos reforçada ainda mais pela consolidação do
Liberalismo.
Antes do contato pelo período das navegações, a Europa já conhecia o norte da África, na região do
mar Mediterrâneo. Nessa região foi fundada a cidade de Cartago, que durante muito tempo desafiou o
poder do Império Romano, fator que desencadeou as guerras púnicas.
Além do Egito, o reino de Aksum, na Etiópia também desenvolveu um expressivo poder. O reino surgiu
por volta do século V a.C e seus governantes declaravam-se descendentes da Rainha de Sabá e do Rei
Salomão de Israel. Além da expressividade no poder, Aksum foi o primeiro a cunhar moedas e criou
inclusive um alfabeto próprio durante o século III.
Para além da região norte da África, em direção ao sul do continente estendia-se o deserto do Saara,
que para os estrangeiros configurava-se em um grande obstáculo. Para os povos que já habitavam a
região, a travessia do deserto para alcançar a África subsaariana era uma questão de conhecimento das
rotas e dos oásis em meio ao deserto. Entre os principais conhecedores dessas rotas estavam os
berberes e os tuaregues.
Além dos caminhos por terra, havia também rotas marítimas pelo litoral da África Oriental, via Oceano
Índico, em direção à Índia e à China. As correntes marítimas facilitavam a navegação para os hábeis
navegadores africanos e seus parceiros que conheciam seus movimentos nas diferentes estações do ano
A costa oriental africana tinha ricas cidades-porto movimentadas pelo ir e vir de barcos, pessoas e
mercadorias. Havia nesse litoral comerciantes indianos e árabes, além de muitos africanos. Era ativa a
negociação com grupos do interior do continente, que traziam marfim, peles, cascos de tartaruga, chifres
de rinocerontes, plumas de avestruz, âmbar e ceras. Na costa recebiam tecidos e especiarias vindas da
Índia, porcelanas chinesas, sedas do Japão, entre tantos outros produtos.

Os reinos da África Ocidental


Na África, durante o período conhecido como Idade Média na história da Europa, houve grandes e
poderosos reinos, como os de Gana, Mali e Songai. Esses reinos, localizados na África Ocidental, ficaram
conhecidos pelo controle que tinham sobre as rotas de comércio e as minas de ouro na sua região.
Realizavam comércio com diferentes partes do mundo, incluindo a Europa e o Oriente, através das rotas
de caravanas que atravessavam o deserto de Saara e chegavam ao norte da África. No comércio de
longa distância se fazia ao mesmo tempo contatos e trocas de mercadorias, bem como intercâmbios de
tecnologias e conhecimentos.

Gana12
Na região entre os rios Senegal e Níger, os soninquês (povos de origem mandê), fundaram pequenas
cidades, que desde o século 4 foram se unificando, muito provavelmente para resistir às guerras com
povos nômades. No século 8, a região era conhecida como Império de Gana.
Os soninquês chamavam sua região de Wagadu, mas os berberes (povos do Magreb), que chegaram
ali no século 8, a chamavam de Ghana, pois era esse o título do rei da região (ghana: "rei guerreiro").
Por muito tempo, o deserto do Saara dificultou o acesso dos povos do norte da África ao interior do
continente. Uma viagem do Magreb (região africana banhada pelo mar Mediterrâneo, exceto o Egito) até
a bacia do rio Níger poderia durar até 4 meses em pleno deserto.
Dessa forma, enquanto o norte da África estava inserido no comércio entre diversos povos desde a
Antiguidade (gregos, romanos, fenícios, cartagineses, líbios, persas, egípcios, árabes), o reino de Gana,
na África Subsaariana (ou África Negra), pôde se desenvolver isoladamente.
Somente quando os árabes conquistaram o Magreb e introduziram o camelo como animal de
transporte foi possível a viagem através do deserto. A partir de então, os reinos e as grandes riquezas da
África Negra passaram a fazer parte do comércio internacional do Mediterrâneo.
Gana já era um reino rico antes da chegada dos comerciantes do norte, e são os documentos deixados
por esses comerciantes (árabes e berberes) que nos informam o que foi Gana, e relatam um império
extraordinário, também chamado de Terra do Ouro. Segundo Al-Bakri, comerciante árabe de Córdoba
(século 11), o rei de Gana usava túnicas bordadas a ouro, colares e pulseiras de ouro - e os arreios dos
cavalos e as coleiras dos cachorros do rei eram de ouro.
O império de Gana tinha como capital Kumbi-Saleh. Dessa cidade, o rei e seus nobres controlavam
povos vizinhos, obrigando-os a pagar impostos em troca de proteção. Além disso, Gana controlava o
comércio tanto das mercadorias que eram trazidas do norte (como sal e tecidos), quanto das que saíam

12 Adaptado de Turci

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do interior da África (como ouro e escravos). Na capital, o comércio era intenso: os seus 20 mil habitantes
recebiam diariamente as caravanas que vinham de diversas regiões. Entre os séculos 9 e 10, Gana viveu
seu apogeu, sendo um dos mais ricos reinos do mundo, segundo Ibn Haukal, viajante árabe da época.
Com o processo de islamização dos povos africanos (os primeiros convertidos foram os berberes), o
Império de Gana (que se recusava a se converter ao Islã) foi perdendo força, até que em 1076 os
almorávidas (dinastia berbere) conquistaram e saquearam Kumbi-Saleh, transformando a cidade em um
reino tributário. A partir daí, todo império se fragmentou, o que possibilitou as incursões de vários povos
vizinhos, um deles os sossos, que passaram a controlar várias regiões do antigo império.

Fonte: Wikimedia.org/Mapa_ghana-pt.svg/286px

Mali
O Reino de Mali era, a princípio, uma região do Império de Gana habitada pelos mandingas. Era
composto por 12 reinos menores ligados entre si, e tinha como capital Kangaba. Os mandingas
chamavam seu território de Manden (= terra dos mandingas).
Após anos de guerras entre os soninquês de Gana e os almorávidas (século 11), e depois das guerras
com os sossos (século 12), Mali conseguiu sua independência e adotou o islamismo. E, apesar de passar
por um período de crise política e econômica, conseguiu se restabelecer e, em 1235, os mandingas de
Mali conquistaram o território do antigo Império de Gana, sob a liderança de Maghan Sundiata, que
recebeu o título de Mansa, que na língua mandinga significa "imperador".
O nome que os mandingas davam ao seu império era Manden Kurufa; o nome Mali era usado por seus
vizinhos, os fulas, para se referir ao grande império. Manden Kurufa significa Confederação de Manden.
A capital era Niani (atualmente uma aldeia na República da Guiné).
Ao contrário do Império de Gana, que somente se preocupava em manter os povos dominados, a fim
de controlar o comércio regional, o Império de Mali se impôs de forma centralista, estabelecendo fronteiras
bem definidas e formulando leis por meio de uma assembleia chamada Gbara, composta por diversos
povos do império. A aplicação da justiça era implacável, tanto que vários viajantes se referiam aos povos
negros como "os que mais odeiam as injustiças - e seu imperador não perdoa ninguém que seja acusado
de injusto". Acredita-se que o Império de Mali tivesse a extensão da Europa Ocidental.
O Império de Mali se tornou herdeiro do Império de Gana, pois passou a controlar todo o comércio
local. O ouro extraído por Mali sustentava grande parte do comércio no Mediterrâneo. Conta-se que, entre
1324 e 1325, Mansa Mussa, em peregrinação a Meca, parou para uma visita ao Cairo e teria presenteado
tantas pessoas com ouro, que o valor desse metal se desvalorizou por mais de 10 anos.
Também sob o reinado de Mussa, a cidade de Timbuktu (ou Tombuctu) se tornou uma das mais ricas
e importantes da região. Sua universidade era um dos maiores centros de cultura muçulmana da época,
e produziu várias traduções de textos gregos que ainda circulavam nos séculos XIV e XV. A grandiosidade
de Timbuktu atravessou os tempos e, no século XIX, exploradores europeus se embrenharam pelos
caminhos africanos, seguindo o rio Níger, em busca da lendária cidade.
O Império de Mali entrou em decadência a partir do final do século 14, em função das disputas políticas
internas e das incursões dos tuaregues (povo berbere), sendo conquistado, no século 15, pelos songais
(povo africano até então dominado por Mali). Foi nesse mesmo século que os portugueses, em pleno
processo de expansão marítima, conheceram o já decadente Mali.

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Fonte: http://3.bp.blogspot.com/

Cidades iorubás
A partir do século IX formaram-se as cidades da civilização iorubá, na região da atual Nigéria, já
habitada por esse povo desde o século 4.
Os iorubás nunca unificaram suas cidades, mas mantiveram a mesma cultura (língua, religião etc.). A
cidade iorubá mais importante era Ifé, considerada sagrada, por ser o berço dos iorubás, segundo a
crença local. Outra cidade importante foi Oyo, um centro militar que, no final do século 17, tinha se
expandido até Daomé (atual Benin).
Ifé foi um grande centro artesanal e artístico, e era governada por um rei sacerdote que tinha o título
de Oni, enquanto nas outras cidades os governantes recebiam o título de Oba.
Apesar do cristianismo e do islamismo terem chegado até os iorubás, a maioria desse povo sempre
se manteve fiel às antigas tradições politeístas locais, sendo os orixás os seus deuses.
Ao contrário do que se acredita, a crença nos orixás não se expandiu pela África, mantendo-se
exclusivamente iorubá. Mas como muitos iorubás (chamados de nagôs ou anagôs pelos portugueses)
foram transformados em escravos e trazidos à força para a América, o culto aos orixás se misturou ao
cristianismo imposto por portugueses e espanhóis, criando vários sincretismos religiosos que fazem parte
da cultura americana, como, por exemplo, o Candomblé e a Umbanda, no Brasil, e o Vodu no Haiti (apesar
de o Vodu também receber influências de outras culturas africanas).
A partir do século XV, as cidades iorubás iniciaram seu processo de declínio (apesar de Oio ter se
mantido até o século XIX). Muitos pesquisadores acreditam que a falta de unidade política foi uma das
causas desse declínio, já que os iorubás não tiveram condições de se fortalecer para enfrentar o processo
de escravização que lhes foi imposto.

A expansão Banto
Durante os últimos milênios, as sociedades africanas passaram por longos e diversos processos
migratórios e adaptativos em relação ás mudanças climáticas no interior do continente.
Esses movimentos migratórios levaram ao surgimento de diversas cidades e aldeias, além de criar
diferentes povos, com diferentes costumes.
O surgimento de novos polos de habitação e as migrações geraram diversos conflitos por territórios, o
que fez com que surgissem as primeiras fronteiras entre diferentes grupos.
Os grupos que compartilhavam uma história de migração comum e a conquista de um território, com
o tempo desenvolveram uma tradição e uma língua comuns. Muitas vezes seus vizinhos de região tinham
a mesma antiga origem. Mas, o momento em que partiram na sua migração, os caminhos que tomaram
e diferente maneira pela qual cada um dos grupos se apossou da terra, mudaram sua história. Mudando
a história, mudava também a sua tradição e a sua identidade. Tinham uma origem comum, mesmo que
distante no tempo, eram vizinhos, mas eram povos distintos. Assim, foram se formando as identidades
dos grupos, mais tarde chamadas de identidades étnicas.
Entre as principais origens dos povos africanos, está o tronco linguístico Banto. A palavra Banto é a
combinação de ‘ntu’ (ser humano) acrescido do prefixo ‘ba’, que designa plural. Ou seja, banto (em alguns
lugares é escrita como bantu) quer dizer: ‘seres humanos’ ou ‘gente’.
A ocupação dos povos de origem banto no continente africano, ao sul da linha do equador foi um
processo lento, que ocorreu ao longo de milhares de anos.
A primeira grande onda migratória teria se movimentado ainda no final do IIº milênio a.C., partindo da
região norte, entre o Camarões e a Nigéria. Estes grupos cruzaram a região onde fica hoje a República
Centro Africana, ocupando áreas dentro e fora da floresta equatorial, a oeste e a leste. Ao se
estabelecerem, de forma sedentária ou semi-sedentária, introduziram dois sistemas diferentes de

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produção de alimentos, que se adaptaram respectivamente às florestas e à savana. Eram
agricultores e foram os primeiros nesta região a se organizar em aldeias e a agrupar estas aldeias
em unidades mais abrangentes, com cerca de 500 pessoas cada.
Uma segunda onda migratória ocorreu por volta do ano 900 a.C., quando terminava a longa
expansão inicial. A esta altura haviam dois grandes grupos, falando línguas semelhantes, porém
diversas:
- Os bantos do oeste (norte da atual República Popular do Congo e leste do Gabão);
- Os bantos do leste (atual Uganda).

Os bantos do oeste desceram para a região que atualmente compreende o norte de Angola e
chegaram a uma terra mais seca. Outros permaneceram na fronteira entre a savana e a floresta,
seguindo os cursos de água. Enquanto isso, os bantos do leste moveram-se em direção ao Sul, para
o sudeste do Zaire e Zâmbia atuais.
Os processos de expansão banto não representaram invasões. Eles foram parte de um movimento
populacional lento e irregular. Os bantos acabaram por estabelecer contatos com outros povos, que
habitavam as regiões para onde migravam. As pesquisas linguísticas e arqueológicas demonstram
que algumas vezes os bantos mudaram seu modo de vida, tornaram-se pastores nômades, e
chegaram em alguns casos a transformar sua própria língua.
Novas ondas migratórias dos grupos banto do leste desceram em direção ao Sul, nos séculos
iniciais da era Cristã, e parecem ter levado junto consigo as importantes técnicas de metalurgia para
estas áreas. A esta altura seriam, além de agricultores, também ferreiros. O domínio desta técnica
modificou enormemente a vida destes povos. A partir deste momento - em torno do século V - e como
resultado desta verdadeira rede de movimentos de população, expandiram técnicas de produção de
alimento e metalurgia entre os povos da África subequatorial.
Com o domínio das técnicas agrícolas, a produção de alimentos ficou assegurada, levando estes
grupos ao sedentarismo. O sedentarismo foi importante na criação da noção de pertencimento à
terra, da ligação de determinados grupos a seus territórios.
Os contatos entre os grupos foram aumentando com as trocas entre produtores de diferentes tipos
de alimentos, de acordo com a região. O inhame e o azeite de dendê, além da caça e pesca das
áreas mais próximas às florestas podiam ser trocados por cereais e outros produtos de áreas
próximas.
Estas mudanças foram sendo acompanhadas por transformações nas organizações sociais
destes grupos. Surgiram novos modos de reconhecer e se relacionar interna e externamente. Em
alguns casos, apareceram divisões sociais mais profundas e em outros se criaram autoridades a
partir da história de liderança da ocupação da terra. E, em todos os casos, estas criações para o
funcionamento da vida em sociedade se basearam no mundo espiritual, parte inseparável do
entendimento da vida para estas populações.
Assim, e paralelamente a esta história de ocupação de grandes partes da África ao sul do equador,
foram surgindo grupos que, por uma história, língua, crenças e práticas em comum passaram a
constituir povos. Isto ocorreu longamente, entre o século V a.C e século V da nossa era. Foram
surgindo novas identidades de grupo.

A África Muçulmana
Atualmente o número de muçulmanos na África está estimado em mais de 300 milhões, ou seja,
cerca de 27% do total dos seguidores da religião no mundo
A expansão do Islã na África se deu no início mais pelo comércio e pela migração do que pelas
conquistas militares. A expansão do islã na África seguiu três direções:
- Do noroeste do continente (região do Magreb), ela avançou pelo Saara e alcançou a África
Ocidental; - Do baixo para o alto vale do Nilo, chegando ao nordeste da África (península da Somália
e arredores);
- Comerciantes originários da porção sul-sudoeste da Península Arábica e imigrantes do
subcontinente indiano, criaram assentamentos no litoral do Índico e, dali, difundiram a presença
muçulmana para o interior.
O islamismo fez sua entrada no continente a partir da África do Norte, do Egito ao Marrocos, sendo
uma das primeiras regiões a ser conquistadas pela expansão inicial árabe-islâmica (séculos VII e
VIII).

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A partir do norte do Egito, os muçulmanos tentaram ir mais ao sul, mas esbarraram nos exércitos
da Núbia cristã. Derrotados, foram forçados a reconhecer a autonomia do reino cristão núbio. Mas,
do Norte conseguiram expandir-se para o Oeste (que, em árabe, quer dizer Magreb, nome pelo qual
esta região da África ficou conhecida). Foram pouco a pouco conseguindo dominar o Norte do
continente africano, durante a segunda metade do século VII. A partir dali, cruzaram o mar
Mediterrâneo e conquistaram partes do sul da Europa, incluindo a Península Ibérica (Espanha e
Portugal).
Dos séculos X a XVI, mercadores muçulmanos contribuíram para o surgimento de importantes
reinos na África Ocidental, que floresceram graças ao comércio feito por caravanas que,
atravessando o Saara, punham em contato o mundo mediterrâneo ao das estepes e savanas do
Sudão Ocidental e África centro-ocidental. A conversão de certos monarcas africanos fez não só o
islã avançar como criou uma florescente cultura. Assim, cidade de Tumbuktu (no atual Máli) era, no
século XIV, um núcleo urbano conhecido pelo alto nível de suas escolas islâmicas, que atraíam
muçulmanos de várias partes do mundo.
Na porção oriental do continente, comerciantes árabes conseguiram se fixar junto ao litoral do
Índico, levando a gradual conversão de grupos africanos que viviam em áreas da atual Eritréia e do
leste da Etiópia. Todavia, os reinos cristãos do alto vale do Nilo conseguiram bloquear por séculos o
avanço muçulmano, como foi o caso dos grupos etíopes, ocupantes dos altos planaltos da Etiópia.
Nos séculos seguintes, a cultura árabe-muçulmana influenciaria grupos bantos que estavam em
processo de expansão para a África oriental e meridional.
Paralelamente, comerciantes árabes cruzaram o Oceano Índico e criaram, do Chifre da África ao
atual Moçambique, um conjunto de importantes cidades-estados e fortalezas, junto ao litoral e nas
ilhas, cujo comércio de ouro se manteve até o início da presença portuguesa no século XVI. Às
vésperas do início da colonização europeia, o islã se constituía na principal presença "importada" no
continente, presença esta que já estava fortemente integrada às sociedades africanas.

A Origem do Homem Americano


Foi no continente africano que surgiram os primeiros humanos, segundo muitos cientistas. Nossos
ancestrais deslocaram-se da África para outras regiões da Terra. Esses deslocamentos se deram no
decorrer de milhares de anos. Uma dessas regiões foi a América. O continente americano foi
provavelmente um dos últimos a ser ocupado pelo ser humano.
Sabemos com certeza que, o povoamento da América começou muito antes da chegada dos
europeus, em 1492. A partir do século XIX, os pesquisadores se interessaram em estudar a questão.
Os arqueólogos iniciaram as primeiras escavações no território americano em busca de evidências
que pudessem esclarecer ou pelo menos dar pistas confiáveis da origem do homem americano. Até
hoje se discute muito como ocorreu esse povoamento, isto é, como o homem chegou até aqui.
Duas teorias explicam a presença humana na América e também no Brasil: a teoria de Bering e a
teoria Transoceânica.

A Teoria de Bering
Os primeiros habitantes da América descendiam de caçadores, que saíram da Sibéria Oriental,
na Ásia. Entre 50 mil e 12 mil anos atrás, atravessaram o estreito de Bering e alcançaram a América
do Norte durante a última glaciação. Dali, os grupos nômades e seus descendentes foram
espalhando-se pelo continente americano.
Durante a última glaciação, os territórios que hoje correspondem ao Alasca e à Sibéria, estavam
unidos por um istmo de gelo, que formava uma passagem entre a Ásia e a América. Quando a
temperatura do planeta voltou a subir, esse istmo de gelo se desfez, formando o atual estreito de
Bering.

A Teoria Transoceânica
Alguns pesquisadores identificam outros caminhos migratórios, como as ilhas Aleutas, também
por passagem terrestre, ou então por uma precária navegação iniciada nas ilhas da Polinésia.
Remadores da Polinésia teriam navegado pelo oceano Pacífico até alcançar o litoral sul-
americano. Nessa aventura que durou muitas gerações, esses grupos de navegantes pré-históricos
lançaram-se ao mar em diferentes momentos, entre 10 mil e 4 mil anos atrás.

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Culturas Indígenas: Mais, Astecas e Incas
Com a expansão marítima do século XV, um novo continente, até então nunca explorado pelo
europeu, surgia no mapa. No dia 12 de outubro de 1492, chega na América, a expedição comandada
por Cristóvão Colombo, que na verdade estava à procura de um novo caminho para as Índias quando
encontrou a América.
Quando os exploradores espanhóis chegam, encontram grandes civilizações, extremamente
organizadas. Dentre os povos encontrados, três ganham maior destaque, os Maias, os Astecas e os
Incas.

A civilização Maia
Segundo estudos, a civilização Maia teria começa a se desenvolver por volta de 2000 a.C. Eles
habitaram a região que corresponde atualmente ao México, Guatemala e Honduras. O auge de sua
prosperidade ocorreu entre os séculos III e X, muito antes da chegada dos espanhóis na América.
Os maias se destacaram na área da Astronomia, Matemática, Arquitetura e por terem
desenvolvido uma escrita complexa, feita através de símbolos – hieróglifos – que são considerados
uma das formas de escrita mais sofisticadas no mundo pré-colombiano.
Eles eram politeístas, ou seja, cultuavam vários deuses. Tais deuses estavam ligados ao
nascimento, a morte e a fenômenos naturais. Eles cultuavam os mortos e faziam sacrifícios humanos
e de animais em oferenda a divindade. Em homenagem a eles, os maias ergueram grandes templos,
altares e santuários, onde realizavam seus rituais e sacrifícios. Nesses templos ocorreram diversas
celebrações que marcavam deferentes datas no calendário. Os maias acreditavam na vida após a
morte, pois os seus mortos eram colocados em suas sepulturas com alimentos e utensílios pessoais
que poderiam ajudar o morto durante sua viagem.
Sua economia era baseada na agricultura, tendo o milho como principal alimento. As suas
técnicas de irrigação eram extremamente avançadas para a época. A civilização Maia também
praticava o comercio de mercadorias com povos vizinhos, o que favoreceu o surgimento de estradas
de estradas e o crescimento de cidades. O produto de maior valor era o cacau, que além de ser
utilizado como alimento, era também uma moeda de troca.
Uma das grandes realizações desse povo foi a observação dos astros, que permitiu a criação de
dois calendários, um religioso, de 260 dias e outro civil, de 365 dias. O conhecimento dos ciclos da
lua, do Sol e de Vênus, foi o que permitiu a sua eficiência na produção agrícola.
A sociedade Maia era organizada de forma descentralizada, ou seja, não chegaram a construir
um império que fosse unificado. Cada cidade tinha seu próprio governo, formando cidades-Estados,
eram unidades políticas independentes.
A estrutura social dessa civilização era bem rígida, a sua classe era determinada ao nascerem.
Existiam três camadas, a família real, militares e sacerdotes, comerciantes e funcionários do Estado
e por último camponeses.
O declínio da civilização Maia começa no século IX pode estar ligado a problemas ambientais,
como o desmatamento. Outro fato que pode ter acontecido é o número populacional ter aumentado
a ponto que houvesse falta de recursos. Guerras e conflitos internos também podem ter favorecido
esse declínio. O que se pode afirmar é que quando os espanhóis chegaram à América, a civilização
Maia não existia mais.

Os Astecas
Até o século XII os Astecas viviam na região norte do atual México, aos pouco esse grupo foi
migrando para o sul à procura de terra mais férteis. Ao deslocar para essa região, encontraram alguns
grupos que já viviam por lá, como os tapanecas, que apesar de serem derrotas, influenciaram muito
em suas práticas culturais, políticas e religiosas. Os Astecas atingiram o auge do seu
desenvolvimento na região conhecida como Mesoamérica.

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Dentre os principais povos da América, os Astecas foram os que mais se desenvolveram. Eram
politeístas e assim como os Maias, realizavam sacrifícios. A capital do império era a cidade de
Tenochtitlán, onde também estava localizado o seu principal templo religioso.
O campo de maior destaque desta civilização, foi a agricultura. Apesar da pouca quantidade de terra
propícias para o plantio, os Astecas desenvolveram um sistema de irrigação muito avançado e
construíram ilhas artificiais, chamados de chinampas. Entre os principais cultivos estavam o feijão, o
cacau, a batata e fumo.

Editora ática

A sociedade era dividida hierarquicamente, e a administração era feita de forma centralizada em


torno de um governante. Eram organizados em classes, como nobres, soldados, comerciantes,

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trabalhadores e por último os escravos e servos. O governo era uma monarquia, onde o conselho do
imperador elegia o sucessor, desde que este pertencesse a linhagem governante. O imperador contava
com o auxílio de um conselho e tinha por obrigação proteger o seu povo.
Desenvolveram um sistema complexo de escrita e um calendário de 365 dias, baseado no ano solar.
Seu conhecimento em astronomia era bem avançado, fato que impressiona até hoje.
No final do século XV, quando os espanhóis chegam na América e dão início ao reconhecimento do
novo continente, o império Asteca contava com uma população de cerca de cinco milhões de habitantes
e uma área de domínio de 200 mil quilômetros quadrados.

Os Incas
A partir do século XII, os Incas migrarão para a região do vale do Cuzco, no Peru. Já instalados na
região do Andes, conseguiram constituir um império que dominou grande parte das terras do território sul-
americano.
Assim como os Maias e os Astecas, os Incas eram politeístas, sua religiosidade era caracterizada
pela adoração de diversos elementos da natureza. Como os outros povos, eles também realizavam
sacríficos, com a intenção de demonstrar sua gratidão.
O Império Inca chegou a ter cerca de cem povos diferentes, seu Estado era centralizado e
extremamente militarizado. Havia um imperador, nomeado Inca – descendente do Sol – que estava no
topo da pirâmide social, ele detinha o controle das terras e das minas. Logo abaixo vinha a aristocracia,
que era formada por altos funcionários do governo, sacerdotes e antigos chefes das aldeias. Por último,
os artesão, militares e escravos ficavam na base da pirâmide social.
Apesar de não terem desenvolvido a escrita, criaram um sistema numérico, chamado de “quipos”,
esse sistema auxiliava na contagem e era usado no comércio. As cordas indicavam a centena, dezena e
milhar.
A maioria da população inca exerciam atividades pastoris e agrícolas, que formavam a base
econômica e de subsistência. Entre os seus principais cultivos, estava o milho, a batata-doce, a quinoa,
a batata e o amendoim. Também dominavam a metalurgia, e a cerâmica. Eles tinham grande experiência
com o trabalhado de metais preciosos, como o ouro e a prata.
Desenvolveram em suas cidades um sistema de esgoto e água encanada, além da técnica de
construção de casas, que dispensavam o uso de argamassa. Uma das obras arquitetônicas que ainda
sobreviveram aos dias de hoje é a cidade de Machu Picchu, construída no alto de uma montanha, no
atual Peru. É considerada o maior conjunto arquitetônico da América pré-colombiana. Para que houvesse
a ligação entre as cidades do império, estradas em pedra foram construídas.
Quase um século antes da chegada dos espanhóis, o Império Inca promoveu uma grande expansão
territorial e cultural, chegando a atual divisa da Colômbia e Equador. Contudo já no século XVI, a
civilização sofreu com diversos conflitos internos, facilitando a dominação espanhola.

América Espanhola13
Os espanhóis, logo após empreenderem um sangrento processo de dominação das populações
indígenas da América, efetivaram o seu projeto colonial nas terras a oeste do Tratado de Tordesilhas.
Para isso montaram um complexo sistema administrativo responsável por gerir os interesses da Coroa
espanhola em terras americanas. Todo esse esforço deu-se em um curto período de tempo. Isso porque
a ganância pelos metais preciosos motivava os espanhóis.
As regiões exploradas foram divididas em quatro grandes vice-reinados: Rio da Prata, Peru, Nova
Granada e Nova Espanha. Além dessas grandes regiões, havia outras quatro capitanias: Chile, Cuba,
Guatemala e Venezuela. Dentro de cada uma delas, havia um corpo administrativo comandado por um
vice-rei e um capitão-geral designados pela Coroa. No topo da administração colonial havia um órgão
dedicado somente às questões coloniais: o Conselho Real e Supremo das Índias.
Todos os colonos que transitavam entre a colônia e a metrópole deviam prestar contas à Casa de
Contratação, que recolhia os impostos sob toda riqueza produzida. Além disso, o sistema de porto único
também garantia maior controle sobre as embarcações que saiam e chegavam à Espanha e nas
Américas. Os únicos portos comerciais encontravam-se em Veracruz (México), Porto Belo (Panamá) e
Cartagena (Colômbia). Todas as embarcações que saíam dessas regiões colônias só podiam
desembarcar no porto de Cádiz, na região da Andaluzia.
Responsáveis pelo cumprimento dos interesses da Espanha no ambiente colonial, os chapetones eram
todos os espanhóis que compunham a elite colonial. Logo em seguida, estavam os criollos. Eles eram os
filhos de espanhóis nascidos na América e dedicavam-se a grande agricultura e o comércio colonial. Sua
13 SOUSA, Rainer Gonçalves. "Colonização Espanhola"; Mundo Educação. Disponível em <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historia-america/colonizacao-

espanhola.htm>.

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esfera de poder político era limitada à atuação junto às câmaras municipais, mais conhecidas como
cabildos.
Na base da sociedade colonial espanhola, estavam os mestiços, índios e escravos. Os primeiros
realizavam atividades auxiliares na exploração colonial e, dependendo de sua condição social, exerciam
as mesmas tarefas que índios e escravos. Os escravos africanos eram minoria, concentrando-se nas
regiões centro-americanas. A população indígena foi responsável por grande parte da mão de obra
empregada nas colônias espanholas. Muito se diverge sobre a relação de trabalho estabelecida entre os
colonizadores e os índios.
Alguns pesquisadores apontam que a relação de trabalho na América Espanhola era escravista. Para
burlar a proibição eclesiástica a respeito da escravização do índio, os espanhóis adotavam a mita e a
encomienda. A mita consistia em um trabalho compulsório onde parcelas das populações indígenas eram
utilizadas para uma temporada de serviços prestados. Já a encomienda funcionava como uma “troca”
onde os índios recebiam em catequese e alimentos por sua mão-de-obra.
No final do século XVIII, com a disseminação do ideário iluminista e a crise da Coroa Espanhola (devido
às invasões napoleônicas) houve o processo de independência que daria fim ao pacto colonial, mas não
resolveria o problema das populações economicamente subordinadas do continente americano.

Processo de Independência14
O processo de independência da América Espanhola ocorreu em um conjunto de situações
experimentadas ao longo do século XVIII. Nesse período, observamos a ascensão de um novo conjunto
de valores que questionava diretamente o pacto colonial e o autoritarismo das monarquias. O iluminismo
defendia a liberdade dos povos e a queda dos regimes políticos que promovessem o privilégio de
determinadas classes sociais.
Sem dúvida, a elite letrada da América Espanhola inspirou-se no conjunto de ideias iluministas. A
grande maioria desses intelectuais era de origem criolla, ou seja, filhos de espanhóis nascidos na América
desprovidos de amplos direitos políticos nas grandes instituições do mundo colonial espanhol. Por
estarem politicamente excluídos, enxergavam no iluminismo uma resposta aos entraves legitimados pelo
domínio espanhol, ali representado pelos chapetones.
Ao mesmo tempo em que houve toda essa efervescência ideológica em torno do iluminismo e do fim
da colonização, a pesada rotina de trabalho dos índios, escravos e mestiços também contribuiu para o
processo de independência. As péssimas condições de trabalho e a situação de miséria já tinham, antes
do processo definitivo de independência, mobilizado setores populares das colônias hispânicas. Dois
claros exemplos dessa insatisfação puderam ser observados durante a Rebelião Tupac Amaru
(1780/Peru) e o Movimento Comunero (1781/Nova Granada).
No final do século XVIII, a ascensão de Napoleão frente ao Estado francês e a demanda britânica e
norte-americana pela expansão de seus mercados consumidores serão dois pontos cruciais para a
independência. A França, pelo descumprimento do Bloqueio Continental, invadiu a Espanha,
desestabilizando a autoridade do governo sob as colônias. Além disso, Estados Unidos e Inglaterra
tinham grandes interesses econômicos a serem alcançados com o fim do monopólio comercial espanhol
na região.
É nesse momento, no início do século XIX, que a mobilização ganha seus primeiros contornos. A
restauração da autoridade colonial espanhola seria o estopim do levante capitaneado pelos criollos.
Contando com o apoio financeiro anglo-americano, os criollos convocaram as populações coloniais a se
rebelarem contra a Espanha. Os dois dos maiores líderes criollos da independência foram Simon Bolívar
e José de San Martin. Organizando exércitos pelas porções norte e sul da América, ambos sequenciaram
a proclamação de independência de vários países latino-americanos.
No ano de 1826, com toda América Latina independente, as novas nações reuniram-se no Congresso
do Panamá. Nele, Simon Bolívar defendia um amplo projeto de solidariedade e integração político-
econômica entre as nações latino-americanas. No entanto, Estados Unidos e Inglaterra se opuseram a
esse projeto, que ameaçava seus interesses econômicos no continente. Com isso, a América Latina
acabou mantendo-se fragmentada.
O desfecho do processo de independência, no entanto, não significou a radical transformação da
situação socioeconômica vivida pelas populações latino-americanas. A dependência econômica em
relação às potências capitalistas e a manutenção dos privilégios das elites locais fizeram com que muitos
dos problemas da antiga América Hispânica permanecessem presentes ao longo da História latino-
americana

14 SOUSA, Rainer Gonçalves. "Independência da América Espanhola"; Mundo Educação. Disponível em <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historia-

america/independencia-america-espanhola.htm>.

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Questões

01. Uma das diferenças essenciais entre a Independência da América Espanhola e a Independência
Brasileira está no:
(A) modelo político adotado, haja vista que na América Hispânica predominou o modelo republicano,
enquanto no Brasil adotou-se o modelo monárquico.
(B)modelo de guerra adotado, já que no Brasil a guerrilha foi o modelo de combate adotado no
processo de independência.
(C)modelo econômico, haja vista que o Brasil, ao contrário da América Espanhola, sofreu um grave
transtorno na produção agrícola, levando a política colonial ao colapso.
(D) carisma do líder, já que Bolívar tinha menos impacto na consciência da população do que Dom
Pedro I.
(E)papel do exército, já que, no caso brasileiro, o exército precisou impedir que Portugal retomasse o
Brasil como sua colônia.

02. (Unesp) Leia:


É uma ideia grandiosa pretender formar de todo o Novo Mundo uma única nação com um único vínculo
que ligue as partes entre si e com o todo. Já que tem uma só origem, uma só língua, mesmos costumes
e uma só religião, deveria, por conseguinte, ter um só governo que confederasse os diferentes Estados
que haverão de se formar; mas tal não é possível, porque climas remotos, situações diversas, interesses
opostos e caracteres dessemelhantes dividem a América. (Simón Bolívar. Carta da Jamaica [06.09.1815].
In: Simón Bolívar: política, 1983.)
O texto foi escrito durante as lutas de independência na América Hispânica. Podemos dizer que:
(A)ao contrário do que afirma na carta, Bolívar não aceitou a diversidade americana e, em sua ação
política e militar, reagiu à iniciativa autonomista do Brasil.
(B)ao contrário do que afirma na carta, Bolívar combateu as propostas de independência e unidade da
América e se empenhou na manutenção de sua condição de colônia espanhola.
(C) conforme afirma na carta, Bolívar defendeu a unidade americana e se esforçou para que a América
Hispânica se associasse ao Brasil na luta contra a hegemonia norte-americana no continente.
(D)conforme afirma na carta, Bolívar aceitou a diversidade geográfica e política do continente, mas
tentou submeter o Brasil à força militar hispano-americana.
(E)conforme afirma na carta, Bolívar declarou diversas vezes seu sonho de unidade americana, mas, em
sua ação política e militar, reconheceu que as diferenças internas eram insuperáveis.

Respostas
1. Resposta: A
Na América Espanhola, o processo de Independência foi permeado por guerras sangrentas e culminou
na implementação de regimes republicanos. No Brasil, o processo de independência não chegou ao
confronto armado com a coroa portuguesa e o regime político adotado passou a ser a monarquia
constitucional.

2. Resposta: E
Simón Bolívar foi o principal líder que conduziu o processo de Independência da América Espanhola.
Seu epistolário (isto é, seu conjunto de cartas escritas e enviadas a diversas pessoas) é um dos mais
impressionantes de que se tem notícia desse período. Em suas milhares de cartas, Bolívar deixou claras
as contradições que o atormentavam enquanto homem que tinha consciência de ser um ator político de
seu tempo. Apesar da vontade de promover uma América Latina integrada, sabia que o projeto não
poderia ser levado a cabo à época.

O Brasil Colônia: a sociedade, a economia, a atuação dos jesuítas.


A crise do sistema colonial no Brasil: rebeliões locais e o processo de
emancipação política.

Candidato(a). “Os povos indígenas da Bahia pré-colonial”, foi assunto abordado junto dos
primeiros agrupamentos humanos e sítios arqueológicos.

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O Período Pré-Colonial: A fase do Pau-Brasil (1500 a 1530)
O termo “Descobrimento do Brasil” traz uma visão pautada no eurocentrismo, que é a valorização da
cultura europeia em detrimento das outras, já que expõe a chegada (termo mais apropriado) dos
portugueses ao Brasil como o início da civilização e da presença humana no país, desconsiderando a
presença e a cultura indígena já presentes há milhares de anos neste território. Os portugueses chegam
ao Brasil em 22 de abril de 1500, com a esquadra de Pedro Alvares Cabral, iniciando o período conhecido
como Pré-Colonial.
Durante o período Pré-Colonial foi grande a exploração do pau-brasil, que alcançava um bom valor na
Europa, utilizado no tingimento de tecidos (daí vem o nome brasil, pois a madeira soltava um pigmento
avermelhado, semelhante à cor de uma brasa). O corte e transporte das toras de pau-brasil eram feitas
pelos indígenas, a partir de trocas (escambo) com os portugueses. Os portugueses não encontraram de
imediato metais ou pedras preciosas no Brasil, e também não tiveram interesse em criar colônias no
Durante os primeiros trinta anos, o Brasil foi atacado pelos holandeses, ingleses e franceses que
tinham ficado de fora do Tratado de Tordesilhas (acordo entre Portugal e Espanha que dividiu as terras
recém descobertas em 1494). Os corsários ou piratas também saqueavam e contrabandeavam o pau-
brasil. O medo da coroa portuguesa era perder o território brasileiro para um outro país. Para tentar evitar
estes ataques, Portugal organizou e enviou ao Brasil as Expedições Guarda-Costas, porém com poucos
resultados.
Os portugueses continuaram a exploração da madeira, construindo as feitorias no litoral que nada mais
eram do que armazéns e postos de trocas com os indígenas.
No ano de 1530, o rei de Portugal, D. João III, organizou a primeira expedição com objetivos de
colonização, comandada por Martin Afonso de Souza, com a intenção de povoar o território brasileiro,
expulsar os invasores e iniciar o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil.

A cana-de-açúcar
Houveram muitos motivos para a escolha da cana como produto da colônia, entre eles a ocorrência
do solo de massapê, que é propício para o cultivo da cana-de-açúcar. Além disso, era um produto muito
bem cotado no comércio europeu. As primeiras mudas de cana-de-açúcar chegaram no início da
ocupação efetiva do território brasileiro, trazidas por Martim Afonso de Souza em 1533 e plantadas no
primeiro engenho, construído em São Vicente.
Os principais centros de produção açucareira do Brasil localizavam-se nos atuais estados de
Pernambuco, Bahia e São Paulo. A ocupação do Brasil no Século XVI esteve profundamente ligada à
indústria açucareira. A economia de plantation possui relação intensa com os interesses dos
proprietários de terras que lucravam enormemente com as culturas de exportação.
O latifúndio, isto é, a grande propriedade rural, formou-se nesse período, tendo consequências até os
dias de hoje. A produção da cana-de-açúcar também contribuiu para a vinculação dependente do país
em relação ao exterior, a monocultura de exportação e a escravidão e suas consequências. A colônia
portuguesa de exploração prosperou graças ao sucesso comercial da produção da cana-de-açúcar.
O senhor de engenho, que era proprietário do complexo de produção de açúcar, ou engenho
desfrutava de admirável status social. Os engenhos eram compostos de amplas propriedades de terras
ganhas através da cessão de sesmarias. O senhor de engenho e sua família moravam na casa-grande –
local onde ele desempenhava sua autoridade junto aos seus, cumprindo seu papel de patriarca.
Em 1630 os holandeses invadiram o nordeste da colônia, na região de Pernambuco, que era a maior
produtora na época. Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de
todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses conhecimentos criaram as
bases para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente, de produção de açúcar em
grande escala, na região do Caribe. A concorrência imposta pelos holandeses, que haviam sido expulsos
pelos portugueses, fez com o Brasil perdesse o monopólio que exercia mercado mundial do açúcar,
levando a produção a entrar em declínio.

As Capitanias Hereditárias
A implantação do regime de capitanias hereditárias no Brasil, em 1534, está vinculada a incapacidade
económica do Estado português em financiar diretamente a colonização, pois o monopólio do comercio
com as índias se tornara deficitário. Por essa razão, e considerando urgência de se colonizar o Brasil. D.
João III decidiu dividi-lo em capitanias hereditárias, para que elas mesmas fossem colonizadas com
recursos particulares, sem que a coroa tivesse que investir dinheiro.
O regime de capitanias já havia sido aplicado com êxito nas ilhas atlânticas (Madeira, Açores. Cabo
Verde e São Tomé). No próprio Brasil já existia a capitania de São Joao, correspondente ao atual
arquipélago de Fernando de Noronha.

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O território brasileiro foi dividido em 14 capitanias (uma delas subdividida em dois lotes), doadas a
doze donatários. Os limites de cada território, definidos sempre por linhas paralelas iniciadas no litoral,
estavam especificados na Carta de Doação. Este documento estipulava também que a capitania seria
hereditária, indivisível e inalienável, podendo ser readquirida somente pela Coroa. Um segundo
documento era o Foral, que regulamentava minuciosamente os direitos do rei. Na realidade, os donatários
não recebiam a propriedade das capitanias, mas apenas sua posse. De qualquer forma possuíam amplos
poderes administrativos, militares e judiciais, sendo responsáveis unicamente perante o soberano. Tra-
tava-se, portanto, de um regime administrativo descentralizado.
São Vicente e Pernambuco foram as únicas capitanias que prosperaram. O fracasso do projeto como
um todo decorreu de vários fatores: falta de coordenação entre as capitanias, grande distância da
metrópole, excessiva extensão territorial, ataques indígenas, desinteresse de vários donatários e. acima
de tudo. Insuficiência de recursos.
As capitarias hereditárias não desapareceram com a criação do Governo-Geral: elas foram gradual-
mente readquiridas pela Coroa, até serem totalmente extintas, na segunda metade do século XVIII, pelo
marques de Pombal.

Principais Capitanias Hereditárias e seus donatários: São Vicente (Martim Afonso de Sousa),
Santana, Santo Amaro e Itamaracá (Pêro Lopes de Sousa), Paraíba do Sul (Pêro Gois da Silveira),Espírito
Santo (Vasco Fernandes Coutinho), Porto Seguro (Pêro de Campos Tourinho), Ilhéus (Jorge Figueiredo
Correia), Bahia (Francisco Pereira Coutinho), Pernambuco (Duarte Coelho), Ceará (António Cardoso de
Barros), Baía da Traição até o Amazonas (João de Barros, Aires da Cunha e Fernando Álvares de
Andrade).

Governo Geral
Reconhecendo o fracasso do regime de capitanias hereditárias, D. João III resolveu criar o Governo-
Geral. Por meio dessa medida o monarca visava centralizar a administração colonial, subordinando as
capitanias a um governador-geral que coordenasse e acelerasse o processo de colonização do Brasil.
Com esse objetivo elaborou-se em 1548 o Regimento do Governador-Geral no Brasil que regulamentava
as funções do governador e de seus principais auxiliares — o ouvidor-mor (Justiça), o provedor-mor
(Fazenda) e o capitão-mor (Defesa).
O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, que fundou Salvador, primara cidade e capital do
Brasil. Com ele vieram os primeiros jesuítas e foi criado o primeiro bispado em terras brasileiras.
A administração do segundo governador-geral, Duarte da Costa, apresentou sérios problemas:
revoltas dos índios na Bahia, conflito entre o governador e o bispo e, principalmente, a invasão francesa
do Rio de Janeiro (criação da França Antártica). Em compensação, o terceiro governador-geral, Mem de
Sá, mostrou-se tão eficiente que a metrópole o manteve no cargo até sua morte; foi ele quem conseguiu
expulsar os invasores franceses, graças a atuação de seu sobrinho Estado de Sá.
Depois de Mem de Sá, por duas vezes a colônia foi dividida temporariamente em dois governos-gerais:
a Repartição do Norte, com capital em Salvador, e a do Sul, com capital no Rio de Janeiro.
Durante a União Ibérica, o Brasil foi transformado em duas colônias distintas: Estado do Brasil (cuja
capital era Salvador e, depois, Rio de Janeiro) e Estado do Maranhão (cuja capital era São Luís e, depois,
Belém). A reunificação só seria concretizada pelo marquês de Pombal, em 1774.
Além das capitanias e do Governo-Geral, foram criadas as Câmaras Municipais nas vilas e nas cidades
do Brasil Colônia. O controle edifico das Câmaras Municipais era exercido pelos grandes proprietários
locais, os "homens-bons", o que reforçava suas posições sociais de mando. Entre suas competências,
destacavam-se o ceder deliberativo sobre preços de mercadorias e a fixação dos valores de alguns
tributos.
As eleições para as Câmaras Municipais eram realizadas ente os "homens-bons". Elegiam-se três
vereadores, um procurador, um tesoureiro e um escrivão, sob a presidência de um juiz ordinário, (juiz de
paz), mais tarde substituído, pelo juiz de fora. Ao longo da colonização, os choques entre os interesses
da metrópole e os da colônia, isto é, entre o centralismo e o localismo, foram simbolizados,
respectivamente, pelo Governo-Geral e pelas Câmaras Municipais.

Companhia de Jesus
A Companhia de Jesus foi criada por Inácio de Loyola em 1534, como resposta para os movimentos
religiosos, em especial a reforma protestante e a contrarreforma, que aconteciam na Europa. Seu objetivo
era espalhar a fé católica pelo mundo.

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Os primeiros representantes da Ordem jesuítica chegaram ao Brasil comandados pelo padre Manuel
da Nóbrega, no ano de 1549, em uma expedição comandada por Tomé de Souza. Após desembarcarem
na Bahia, ajudaram na fundação da cidade de Salvador, além de percorrerem as capitanias vizinhas.
O Projeto Educacional Jesuítico não era apenas um projeto de catequização, mas sim um projeto bem
mais amplo, um projeto de transformação social, pois tinha como função propor e implementar mudanças
radicais na cultura indígena brasileira.
Uma das estratégias adotadas por Manuel da Nóbrega na conversão dos gentios foi a construção de
aldeias de catequização, que se situavam próximas das vilas e cidades portuguesas. Essas aldeias eram
habitadas pelos padres jesuítas e pelos índios a serem convertidos.
No ano de 1553, José de Anchieta chega ao Brasil. Anchieta esteve à frente do Colégio na vila de São
Paulo de Piratininga, fundada em 1554. Durante seu tempo no colégio fez contato intenso com os grupos
indígenas locais, o que auxiliou na elaboração de um guia de gramática e um dicionário.
A partir da década de 1580, a missão realizava-se por meio de visitas esporádicas aos grupos
localizados nas matas. Essas visitas eram espaçadas e demoravam até quinze dias ou mais, umas das
outras, e os padres não permaneciam muito tempo entre os grupos. Devido ao segundo contato ser
sempre demorado, quando aconteciam os índios já não detinham as orientações anteriores.
Na segunda metade do século XVIII, a presença dos jesuítas no Brasil sofreu um duro golpe. Nessa
época, o influente ministro Marquês de Pombal decidiu que os jesuítas deveriam ser expulsos do Brasil
por conta da grande autonomia política e econômica que conseguiam com a catequese. A justificativa
para tal ação adveio da ocorrência das Guerras Guaraníticas, onde os padres das missões do sul
armaram os índios contra as autoridades portuguesas em uma sangrenta guerra.
Apesar desse episódio, a herança religiosa dos jesuítas ainda se encontra manifesta em vários setores
da nossa sociedade. Muitas escolas tradicionais do país, bem como várias instituições de ensino superior
espalhadas nos mais diversos pontos do território brasileiro, ainda são administradas por setores
dirigentes da Igreja Católica. Somente no século XIX, foi que as escolas laicas passaram a ganhar maior
espaço no cenário educacional brasileiro.

Outros atividades econômicas


Na região Nordeste a atividade pastoril expandiu-se rapidamente, pois o capital necessário para a
montagem de uma fazenda de gado era bastante reduzido. As terras eram fartas e o criador precisava
somente requerer a doação de uma sesmaria ou simplesmente apossar-se da terra. Para adquirir os
animais também não era necessário grande investimento, já que era possível para os colonos trabalharem
por volta de 5 anos em fazendas de gado com pagamento feito através da participação no nascimento de
novos animais (geralmente o colono recebia uma cria em cada quatro), o que garantia que quando
terminasse o tempo de serviço, o colono teria adquirido um pequeno rebanho, garantindo a possibilidade
de conduzir seus negócios de forma independente.
As instalações das propriedades pastoris eram simples, com poucas casas e alguns currais feitos com
material encontrado nas localidades. O método de criação também era muito simples, feito de maneira
extensiva (O gado vivia solto no campo), o que dispensava mão-de-obra numerosa ou especializada.
Em uma fazenda de três léguas era comum a utilização de dez a doze homens para o serviço, que
poderiam ser negros forros (com carta de alforria), mestiços ou indígenas, que possuíam grande
habilidade para a atividade. Dificilmente eram utilizados escravos.
Na região amazônica a geografia impedia a implantação de fazendas de cultivo ou a criação de
animais. Ao penetrarem os rios e selvas da região os portugueses notaram que os índios utilizavam uma
grande variedade de frutas, ervas, folhas e raízes para fins medicinais e alimentícios. Os produtos
utilizados, em especial cacau, baunilha, canela, urucum, guaraná, cravo e resinas aromáticas foram
chamados de drogas do sertão, e possuíam bom valor de comercio na Europa, podendo ser vendidas
como substitutas ou complementos das especiarias. Além das plantas, outras variedades de drogas do
sertão incluíam: gordura de peixe-boi, ovos de tartaruga, araras e papagaios, jacarés, lontras e felinos.

Escravos e homens livres na Colônia


No Brasil colonial a mão de obra escrava foi utilizada amplamente. A escravidão está presente na
formação do país, desde os índios aos negros que chegavam em navios, a utilização do trabalho escravo
se deu pela intenção de maximizar lucros através da superexploração do trabalho e do trabalhador.
Apesar da ampla utilização do trabalho escravo, este não foi o único, uma parte da sociedade era livre,
composta de trabalhadores livres, que no início eram portugueses condenados ao exílio na América como
punição.
Ser livre na colônia significava não ser escravo, já que mesmo sendo livres, os mais pobres eram
marginalizados e tinham poucas chances de ascensão e eram privados de exigir melhores situações

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econômicas. No grupo de trabalhadores livres estavam os degredados portugueses, escravos forros
(libertos), os mestiços, pardos e brancos. Os homens livres formam um grupo bastante variado em que a
posição social e o serviço são variáveis e boa parte dos homens livres não viviam melhor que muitos
escravos.
O cultivo do açúcar e os engenhos motivaram essa variação de trabalhadores livres, em que os
senhores de engenhos consideravam estar no topo da sociedade. A divisão da terra através das
sesmarias beneficiava os mais abastados que se tornavam os grandes proprietários e arrendavam uma
parte para colonos que não possuíam condições para ter sua própria terra, denominando assim os
Senhores de engenhos (produtores de açúcar) e os lavradores (produtores de cana). As relações entre
senhores de engenho e agricultores, unidos pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado
internacional, formaram o setor açucareiro.
A ideia de colônia construída por duas categorias (senhores e escravos), priorizando as relações de
produção e forças produtivas, escondeu uma sociedade bem mais ampla, de um universo social
açucareiro, em que viviam trabalhadores do campo e semi-livres que exerciam trabalhos como
mercadores, roceiros, artesãos, oficiais, lavradores de roças e desocupados. A partir do século XVIII a
colônia tinha uma população de libertos e libertas que originavam pequenos proprietários de terras, de
etnias diversas: brancos pobres, negros libertos, mestiços, artesãos e trabalhadores livres.
O autor Stuart B. Schwartz detalha sobre os trabalhadores livres assalariados dos engenhos, voltando
seus estudos para o Engenho Sergipe, trabalhadores que recebiam a soldada por dia ou tarefa, que ao
longo do tempo sofreu declinações e diminuições dos salários. Dentro dos engenhos exerciam trabalhos
como: mestres de açúcar, feitores, banqueiro, caixeiro, purgador, caldeireiro, médico (que também era
dentista e farmacêutico) e escumeiro, funções que tinham um pagamento e que variava ao longo da
colheita, do serviço e até mesmo do engenho em que se prestava serviço, o feitor-mor recebia a soldada
mais alta e não há uma disputa por trabalhadores. Com a utilização da mão de obra escrava muitos
trabalhos deixaram de existir, como os barqueiros, vaqueiros, levadeiros e escumeiros, com a substituição
dos trabalhadores livres por escravos especializados. Os trabalhadores livres começaram a priorizar o
trabalho artesanal como carpinteiro, ferreiro, sapateiro, ourives e alfaiates.
Os trabalhadores livres não possuíram uma estrutura social configurada. Por conta da instabilidade,
pelo trabalho esporádico, incerto e aleatório, o vadio não possuía um trabalho fixo. Porém, a qualquer
hora poderia ser utilizado em alguma coisa, considerados como uma espécie de exército de reserva da
escravidão, uma mão-de-obra alternativa.

A sociedade no Brasil colonial

Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/

A imagem acima é uma representação da organização social no Brasil colonial:


No topo da pirâmide estavam os senhores de engenho, além de grandes proprietários de terras e
escravos, dominavam a economia e a política, exercendo poder sobre sua família e sobre outras pessoas
que viviam em seus domínios, sob sua proteção – os agregados. Era a chamada família patriarcal.
Na camada intermediária estavam os homens livres, como religiosos, feitores, capatazes, militares,
comerciantes, artesãos e funcionários públicos. Alguns possuíam terras e escravos, porém não exerciam
grande influência individualmente, principalmente em relação à economia.
Na base estava a maior parte da população, que era composta de africanos e índios escravizados
(sendo os índios a primeira tentativa de escravidão, que mostrou-se pouco vantajosa). Os escravos não
eram vistos como pessoas com direito a igualdade. Eram considerados propriedade dos senhores e
faziam praticamente todo o trabalho na colônia. Os escravos nas zonas rurais não tinham nenhum direito
na sociedade e começavam a trabalhar desde crianças, aos 5 anos de idade.

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A sociedade colonial brasileira foi um reflexo da própria estrutura econômica, acompanhando suas
tendências e mudanças. Suas características básicas, entretanto, definiram-se logo no início da
colonização segundo padrões e valores do colonizador português. Assim, a sociedade do Nordeste
açucareiro do século XVI, essencialmente ruralizada, patriarcal, elitista, escravista e marcada
pela imobilidade social, é a matriz sobre a qual se assentarão as modificações dos séculos seguintes.
No século XVIII, a sociedade brasileira conheceu transformações expressivas. O crescimento
populacional, a intensificação da vida urbana e o desenvolvimento de outras atividades econômicas para
atender a essa nova realidade, resultaram indubitavelmente da mineração. Embora ainda conservasse
o seu caráter elitista, a sociedade do século XVIII era mais aberta, mais heterogênea e marcada por uma
relativa mobilidade social, portanto mais avançada em relação à sociedade rural e escravista dos séculos
XVI e XVII. Os folguedos e festas populares das camadas mais pobres conviviam com os saraus e
outros eventos sociais da camada dominante. Com relação a esta, o hábito de se locomover
em cadeirinhas ou redes transportadas por escravos, evidencia o aparecimento do escravo urbano, com
destaque para os chamados negros de ganho.

Educação
A história da educação no Brasil tem início com a vinda dos padres jesuítas no final da primeira metade
do século XVI, inaugurando a primeira, mais longa e a mais importante fase dessa história, observando
que a sua relevância encontra-se nas consequências resultantes para a cultura e civilização brasileiras.
Os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Logo perceberam que não
seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador a obra
jesuítica estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos depois da sua chegada, já eram compostos
por cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo
de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).
A educação era privilégio das classes abastadas, pois as famílias tradicionais faziam questão de terem
um doutor (médico ou advogado) e um padre. Era usada como instrumento de legitimação da colonização,
inculcando na população ideias de obediência total ao Estado português. Os jesuítas impunham um
padrão educacional europeu, que desvalorizava completamente os aspectos culturais dos índios e dos
negros. Quanto às mulheres, mesmo das famílias mais abastadas, raramente recebiam instrução escolar,
e esta limitava-se às aulas de boas maneiras e de prendas domésticas. As crianças escravas, por sua
vez, estavam excluídas do processo educacional, não tendo acesso às escolas.

A religião no Brasil colônia


A origem do processo de ocupação territorial do Brasil, serviu para as intenções da igreja católica.
Os portugueses que vieram para o Brasil estavam inseridos no ideal de cruzada, adotando o
catolicismo como insígnia do poder da coroa.
Diante desta ideia, todo o não católico era considerado um inimigo em potencial, a não aceitação da
fé em cristo era vista como contestação do poder do rei e afronta direta a todo português, uma motivação
que incentivou, dentre outros fatores, o extermínio dos indígenas, vistos como pagãos e infiéis.
Essa posição foi adotada até mesmo por muitos jesuítas, como o padre Manuel da Nóbrega, conhecido
por defender o direito de liberdade dos nativos cristianizados.
Para ele, “se o gentio fosse senhorado ou despejado” de sua terra, “com pouco trabalho e gasto”, a
coroa portuguesa “teria grossas rendas nestas terras”; sendo necessário reduzir os índios a “vassalagem”.
Dentro deste contexto, a construção de igrejas passou a delimitar a conquista territorial, garantindo a
soberania do Estado. Uma saída, adotada pelos africanos, depois da introdução da escravidão negra, foi
maquiar suas crenças, disfarçando-as no culto de imagens e signos cristãos, compondo irmandades,
nominalmente católicas, com intuito de facilitar a vida social.

A religiosidade africana
Vigiados de perto por seus senhores e fiscalizados pelos eclesiásticos católicos, na qualidade de
escravos, considerados utensílios de trabalho a semelhança de uma ferramenta, os africanos foram
obrigados a aceitar a fé em cristo como símbolo da submissão aos europeus e a coroa portuguesa.
No entanto, elementos das religiões africanas sobreviveram se ocultando em meio à simbologia cristã.
Associações de caráter locais, as irmandades negras contribuíram para forjar a polissemia e
sincretismo religioso brasileiro.
Impedidos de frequentar espaços que expressavam a religião católica dos brancos, as irmandades
representavam uma das poucas formas de associação permitidas aos negros no contexto colonial.
As irmandades
responsáveis pela negras surgiram
construção como forma
de capelas, de conferir
organização statusreligiosas
de festas e proteção aos seus
e pela membros,
compra sendo
de alforrias de

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seus irmãos, oficialmente auxiliando a ação da igreja e demonstrando a eficácia da cristianização da
população escravizada.
Entretanto, ao organizarem-se, geralmente, em torno da devoção a um santo especifico, a qual
assumiu múltiplos significados, incorporando ritos e cultos aos deuses africanos, permitiu o nascimento
de religiões afro-brasileiras como o acotundá, o candomblé e o calundu.
Muitos indivíduos que oficialmente cultuavam, por exemplo, São José, na capela erguida pela
irmandade negra, dentro do âmbito do acotundá, clandestinamente dançavam em frente a uma imagem
semelhante ao som do tambor em casas simples com paredes de barro cobertas de capim, utilizando
palavras extraídas de textos católicos, mescladas a um dialeto da Costa da Mina (atual Gana).
Um sincretismo que se tornaria típico do povo brasileiro, também presente no candomblé, onde o rito
do deus africano Coura e a devoção a Nossa Senhora do Rosário se fundiram, fornecendo um valioso
exemplo da simbiose religiosa no Brasil.

Os judeus
Perseguidos pelo Tribunal do Santo Oficio na Europa, os judeus sempre estiveram em situação de
perigo iminente, sendo obrigados a converterem-se ao cristianismo em Portugal.
Aos olhos do Estado os convertidos passaram a ser considerados cristãos-novos, vigiados de perto
pela Inquisição, sofrendo preconceitos e perseguições esporádicas.
O Brasil se transformou na terra prometida para os cristãos-novos portugueses, compelidos a
migrarem para novas terras em além-mar.
Foi uma saída viável à recusa da aceitação de sua fé no reino, tendo em vista o fato da Inquisição
nunca ter se instalado por aqui, embora tenham sido instituídas visitações do Santo Oficio em 1591, 1605,
1618, 1627, 1763 e 1769.
Alojados sobretudo na Bahia, em Pernambuco, na Paraíba e no Maranhão; os cristãos-novos recém-
chegados integraram-se rapidamente, ocupando cargos nas Câmaras Municipais, em atividades
administrativas, burocráticas e comerciais, destacando-se também como senhores de engenho, algo
impensável em Portugal.
Sem a Inquisição em seus calcanhares, os cristãos-novos continuaram a exercer práticas judaicas no
interior de seus lares, mantendo vivos os laços familiares e comunitários clandestinamente, ao mesmo
tempo, adotando uma postura publica católica, respondendo a uma necessidade de adesão, participação
e identificação.

Cultura
As manifestações artístico-culturais foram até o século XVII, condicionadas às atividades
desenvolvidas aos centros de educação, no caso os colégios jesuíticos. No trato social alicerçavam-se
práticas, usos e costumes que seriam marcantes para a formação da sociedade brasileira. A partir do
século XVIII esse cenário mudou. Com a emergência da mineração, inúmeras manifestações tornaram-
se presentes, como a arte barroca (seja ela plástica ou literária), as manifestações árcades e parnasianas,
principalmente ligadas a uma referência mais letrada e influenciada pelos matizes europeus. Devemos
chamar a atenção que não tratamos aqui de cultura erudita ou popular. Procuramos marcar as
manifestações ligadas aos padrões representativos impostos pelos laços de ligação e influência com o
que era observado no continente europeu. As manifestações culturais do período são fundamentais para
a formação de identidade da sociedade brasileira.

Entre as principais obras:


- História do Brasil, do Frei Vicente do Salvador.
- História da Província de Santa Cruz e Tratado da Terra do Brasil, de Pero de Magalhães Gândavo.
- Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa.
- Cultura e Opulência das Terras do Brasil, do Padre Antonil.
- Viagens e Aventuras no Brasil, de Hans Staden.
- História de Uma Viagem Feita à Terra do Brasil, de Jean de Léry.

Barroco no Brasil:
-Gregório de Matos e Guerra, conhecido como Boca do Inferno, que apesar de se inspirar nas regras
do Barroco europeu, desenvolveu ideias próprias e retratou a sociedade brasileira colonial, principalmente
com seus poemas satíricos, como Os Epílogos.
O padre Antônio Vieira foi o maior orador religioso da língua portuguesa, com seus famosos Sermões
(Sermão da Sexagésima, Sermão dos Peixes, Sermão para o Bom Sucesso das Armas de Portugal contra
as de Holanda, etc.).
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No século XVIII, destaca-se o Arcadismo Mineiro, com seu bucolismo e com sua linguagem mais
simples que a do Barroco. Seus autores usavam pseudônimos, imitando os europeus e quase todos
participaram da Inconfidência Mineira: Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Basílio da
Gama, Frei José de Santa Rita Durão, Silva Alvarenga, etc.

União Ibérica
Em 1578, na luta contra os mouros marroquinos em Alcácer-Quibir, o rei D. Sebastião, de Portugal,
desapareceu. Com seu desaparecimento teve início uma crise sucessória do trono português, já que o
rei não deixou descendentes. O trono foi assumido por um curto período de tempo por seu tio-avô, o
cardeal dom Henrique, que morreu dois anos depois, sem deixar herdeiros.
Logo após, Filipe II da Espanha e neto do falecido rei português D. Manuel I, demonstrou o interesse
em assumir o trono português. Para alcançar o poder, além de se valer do fator parental, o monarca
hispânico chegou a ameaçar os portugueses com seus exércitos para que pudesse exercer tal direito.
Assim foi estabelecida a União Ibérica, que marca a centralização de Portugal e Espanha sob um mesmo
governo.
A vitória política de Filipe II abriu oportunidade para que as finanças de seu país pudessem se
recuperar após diversos gastos em conflitos militares. Para tanto, tinha interesse em estabelecer o
comércio de escravos com os portugueses, que controlavam a atividade na costa africana. Além disso, o
controle da maior parte das possessões do espaço colonial americano permitiria a ampliação dos lucros
obtidos através da arrecadação tributária.
Apesar das vantagens, o imperador espanhol manteve uma significativa parcela dos privilégios e
posições ocupadas por comerciantes e burocratas portugueses. No Tratado de Tomar, assinado em 1581,
Filipe II assegurou que os navios portugueses controlassem o comércio com a colônia, a manutenção das
autoridades lusitanas no espaço colonial brasileiro e o respeito das leis e costumes brasileiros.
Mesmo preservando aspectos fundamentais da colonização lusitana, a União Ibérica também foi
responsável por algumas mudanças. Com a junção das coroas, as nações inimigas da Espanha passam
a ver na invasão do espaço colonial lusitano uma forma de prejudicar o rei Filipe II. Desta maneira, no
tempo em que a União Ibérica foi vigente, ingleses, holandeses e franceses tentaram invadir o Brasil.
Entre todas essas tentativas, podemos destacar especialmente a invasão holandesa, que alcançou o
monopólio da atividade açucareira em praticamente todo o litoral nordestino. No ano de 1640 a
Restauração definiu a vitória portuguesa contra a dominação espanhola e a consequente extinção da
União Ibérica. Ao fim do conflito, a dinastia de Bragança, iniciada por dom João IV, passou a controlar
Portugal.

Invasões francesas
A França foi o primeiro reino europeu a contestar o Tratado de Tordesilhas, que dividiu as terras
descobertas na América entre Portugal e Espanha em 1494. Visitaram constantemente o litoral brasileiro
desde o período da extração do pau-brasil, mantendo relações amistosas com os povos indígenas locais.
Deste acordo surgiu a Confederação dos Tamoios (aliança entre diversos povos indígenas do litoral:
tupinambás, tupiniquins, goitacás, entre outros), que possuíam um objetivo em comum: derrotar os
colonizadores portugueses.
Em 1555 os franceses fundaram na baía de Guanabara a França Antártica, criando uma sociedade
de influências protestantes.
Através dos franceses, algumas partes do litoral brasileiro ganharam diversas feitorias e fortes.
Por aproximadamente cinco anos ocorreram conflitos entre os portugueses e a Confederação dos
Tamoios. Em 1567 os portugueses derrotaram a Confederação e expulsaram os franceses do litoral
brasileiro.
No século XVII(1612), fundaram a França Equinocial, correspondente à cidade de São Luís, capital do
estado do Maranhão.
Com a intenção de conter a expansão francesa, Portugal enviou uma expedição militar à região do
Maranhão. Essa expedição atacou os franceses tanto por terra quanto por mar. Em 1615, os franceses
foram derrotados e se retiraram do Maranhão, deslocando-se para a região das Guianas, onde fundaram
uma colônia, a chamada Guiana Francesa.
Após duas tentativas mal sucedidas de estabelecimento de uma civilização francesa, nos séculos XVI
e XVII, no Brasil colonial (França Antártida e França Equinocial), os franceses passaram a saquear,
através de corsários (piratas), algumas cidades do litoral brasileiro, no século XVIII. A principal delas foi
a cidade do Rio de Janeiro, de onde escoava todo ouro extraído da colônia rumo a Portugal. Uma primeira
tentativa de saque, em 1710, foi barrada pelos portugueses; entretanto, no ano de 1711, piratas franceses
tomaram a cidade do Rio de Janeiro e receberam dos portugueses um alto resgate para libertá-la: 600

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mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois. Terminavam, então, as tentativas de invasões francesas
no Brasil.

Invasões Inglesas
As incursões inglesas no Brasil ficaram restringidas a ataques de piratas e corsários.
William Hawkins foi o primeiro corsário inglês a aportar na colônia. Entre 1530 e 1532, percorreu alguns
pontos da costa e fez escambo de pau-brasil com os índios. Outro foi Thomas Cavendish, que atracou
em Santos, em 1591. Conhecido como “lobo-do-mar”, Cavendish estava a serviço da rainha inglesa
Elizabeth I.
O corso realizado pelos ingleses, entretanto, intensificou-se apenas na segunda metade do século
XVI, quando os conflitos entre católicos e protestantes tomaram-se intensos na Inglaterra e os
mercadores empolgaram-se com as possibilidades comerciais abertas pelas novas rotas marítimas.
A primeira incursão pirata dos ingleses ao litoral brasileiro foi em 1587. Em 1595, o inglês James
Lancaster conseguiu tomar o porto do Recife. Retirou grande volume de pau-brasil, que levou para a
Inglaterra depois de realizar saques na capitania durante mais de um mês.

Invasões Holandesas no Brasil


As invasões holandesas na primeira metade do século XVII estão relacionadas com a criação da União
Ibérica. Antes do domínio dos Habsburgos, as relações comerciais e financeiras entre Portugal e
Holanda eram intensas. Pouco antes de Felipe II tornar-se rei de Portugal, os Países Baixos iniciaram
uma guerra de independência, tentando libertar-se do domínio espanhol. Iniciada em 1568, essa guerra
de libertação culminou com a União de Utrecht, sob a chefia de Guilherme de Orange. Em 1581, nasciam
as Províncias Unidas dos Países Baixos, mas a guerra continuou.
Assim que Filipe II assumiu o trono luso, proibiu o comercio açucareiro luso-flamengo. O embargo de
navios holandeses em Lisboa provocou a criação de companhias privilegiadas de comércio. Entre 1609
e 1621, houve uma trégua, que permitiu a normatização temporária do comercio entre Brasil-Portugal e
Holanda. Em 1621, terminada a trégua, os holandeses fundaram a Companhia de Comercio das Índias
Ocidentais, cujo alvo era o Brasil. Começava a Guerra do Açúcar.
A primeira invasão foi na Bahia, realizada por três mil e trezentos soldados. Salvador foi ocupada sem
muita resistência. O governador Diogo de Mendonça Furtado foi preso e a cidade, saqueada. A
população fugiu para o interior, onde a resistência foi organizada pelo bispo D. Marcos Teixeira e por
Matias de Albuquerque. Os baianos também receberam a ajuda de uma esquadra luso-espanhola
(“Jornada dos Vassalos”) e, em maio de 1625, os holandeses foram expulsos.
A segunda invasão holandesa no Nordeste foi direcionada contra Pernambuco, uma capitania rica em
açúcar e pouco protegida. Olinda e Recife foram ocupadas e saqueadas. A resistência foi comandada por
Matias de Albuquerque, a partir do Arraial do Bom Jesus, e durante alguns anos impediu que os invasores
ampliassem sua área de dominação. Mas a “traição” de Domingos Calabar alterou a situação.
Entre 1637 e 1644, o Brasil holandês foi governado pelo conde Mauricio de Nassau-Siegen, que
expandiu o domínio holandês do Nordeste até o Maranhão e conquistou Angola (fornecedora de
escravos). Porém, em 1638, fracassou ao tentar conquistar a Bahia. Quando Portugal restaurou sua
independência e assinou a “Trégua dos Dez Anos” com a Holanda. Nassau continuou administrando o
Brasil holandês de forma exemplar. Urbanizou Recife, fundou um zoológico, um observatório astronômico
e uma biblioteca, construiu jardins e palácios e promoveu a vinda de artistas e cientistas para o Brasil.
Além disso, adotou a tolerância religiosa e dinamizou a economia canavieira. Sua política garantiu o
apoia da aristocracia local, mas entrou em choque com os objetivos da Companhia das índias Ocidentais.
Em 1644, Nassau demitiu-se. Enquanto isso, os próprios brasileiros organizaram a luta contra os
flamengos, com a Insurreição Pernambucana Os líderes foram André Vidal de Negreiros, João Fernandes
Vieira. Henrique Dias (negro) e o índio Filipe Camarão. Em 1648 e 1649, as duas batalhas de Guararapes
foram vitorias dos nativos. Em 1652, o apoio oficial de Portugal e as lutas dos holandeses na Europa
contra os ingleses, em decorrência dos prejuízos causados pelos Atos de Navegação de Oliver Cromwell,
levaram os holandeses a Capitulação da Campina do Taborda Expulsos do Brasil. os holandeses foram,
desenvolver a produção de açúcar nas Antilhas, contribuindo para a crise do complexo açucareiro
nordestino. Mais tarde, Portugal e Holanda firmaram o Tratado de Paz de Haia (1661), graças a mediação
inglesa. Segundo tal tratado, a Holanda receberia uma indenização de 4 milhões de cruzados e a cessão
pelos portugueses das ilhas Molucas e do Ceilão, recebendo ainda o direito de comerciar com maior
liberdade nas possessões portuguesas, em razão da perda do Brasil holandês.

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Expansão Territorial: Bandeiras e Bandeirantes
As bandeiras, tradicionalmente definidas como expedições particulares, em oposição às entradas, de
caráter oficial, contribuíram decisivamente para a expando territorial do Brasil Colônia. A pobreza de São
Paulo, decorrente do fracasso da lavoura canavieira no século XVI, a possibilidade da existência de
metais preciosos no interior e, particularmente, a necessidade de mão-de-obra para o açúcar nordestino,
durante a União Ibérica, levaram os paulistas a organizar a caça ao índio, o bandeirismo de contrato e a
pesquisa mineral.

A caça ao Índio
Inicialmente a caça ao índio (Preação) foi uma forma de suprir a carência de mão-de-obra para a
prestação de serviços domésticas aos próprios paulistas. Logo, porém, transformou-se em atividade
lucrativa, destinada a complementar as necessidades de braços escravos, bem como para a triticultura
paulista. Na primeira metade do século XVII, os vicentinos realizaram incursões, principalmente contra as
reduções jesuíticas espanholas, resultando na destruição de várias missões, como as do Guairá, Itatim e
Tape, por Antônio Raposo Tavares. Nesse período, os holandeses, que haviam ocupado uma parte do
Nordeste açucareiro, também conquistaram feitorias de escravos negros na África, aumentando a
escassez de escravos africanos no Brasil.

O bandeirismo de contrato
A ação de bandeirantes paulistas contratados pelo governador-geral ou por senhores de engenho do
Nordeste, com o objetivo de combater índios inimigos e destruir quilombos, corresponde a uma fase do
bandeirismo na segunda metade do século XVII. O principal acontecimento desse ciclo de bandeiras foi
a destruição de um conjunto de quilombos situados no Nordeste açucareiro, conhecido genericamente
como Palmares.
A atuação do bandeirismo foi de fundamental importância para a ampliação do território português na
América. Num espaço muito curto, os bandeirantes devassaram o interior da colônia, explorando suas
riquezas e arrebatando grandes áreas do domínio espanhol, como é o caso das missões do Sul e Sudeste
do Brasil. Antônio Raposo Tavares, depois de destruí-las, foi até os limites com a Bolívia e Peru, atingindo
a foz do rio Amazonas, completando, assim, o famoso périplo brasileiro. Por outro lado, o bandeirantes
agiram de forma violenta na caça de indígenas e de escravos foragidos, contribuindo para a manutenção
do sistema escravocrata que vigorava no Brasil Colônia.

O Ciclo do Ouro
Quando foi divulgada a notícia da descoberta de jazidas auríferas, muitas pessoas dirigiram-se para
as regiões do ouro, em especial para o atual território do estado de Minas Gerais. Praticamente todas as
pessoas que que se dirigiram para a região o fizeram na intenção de dedicar-se exclusivamente na
exploração do metal, deixando de lado até mesmo atividades essenciais para a sobrevivência, como a
produção de alimentos, o que gerou uma profunda escassez de mercadorias nas Minas Gerais. Era
comum entre os anos de 1700 e 1730 a ocorrência de crises de fome na região caso o acesso a outras
regiões das quais os produtos básicos eram adquiridos fossem interrompidas. A situação começa a mudar
com a expansão de novas atividades, e com a melhoria das vias de comunicação.

Impostos e a administração da coroa


Com as primeiras notícias de descobrimento das jazidas em Minas Gerais, a Coroa publicou o
Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e Oficiais-Deputados para as minas de ouros, no ano
de 1702
Para executar o regimento, cobrar impostos e superintender o serviço de mineração, foram criadas as
Intendências de Minas, uma para cada capitania em que houvesse a extração de ouro.
Quando uma nova jazida era descoberta, era obrigatória a comunicação para a Intendência. O Guarda-
mor, então, dirigia-se ao local, ordenando a demarcação do terreno a ser explorado. Este era dividido em
lotes, que eram chamados de datas.
As datas eram entregues através de sorteio. No dia da distribuição, comunicado com certa
antecedência, deviam comparecer todos aqueles que estivessem interessados em receber um lote; não
se admitiam procuradores ou representantes. O descobridor da jazida não só tinha o direito de escolher
uma data, mas também de receber um prêmio em dinheiro. A Intendência separava em seguida uma data
para si, vendendo-a depois em leilão público. As datas restantes eram sorteadas entre os presentes.
Encerrado o sorteio, se sobrassem terras auríferas, fazia-se uma distribuição suplementar. Se o número
de interessados era muito grande, o tamanho das datas era reduzido.
Normalmente as datas eram lotes com no máximo 50 metros de largura.

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No início da atividade mineradora foi estabelecido um imposto para as pessoas que se dedicavam à
extração: o quinto. O quinto correspondia a 20% do ouro extraído, que deveria ser pago para a Coroa.
Como era difícil determinar se uma barra ou saca de ouro havia sido ou não quintada, a sonegação era
uma pratica fácil de ser realizada.
Com o objetivo de regularizar a cobrança foi criado um imposto adicional chamado finta que não
funcionou como planejado e foi extinto. Para resolver o problema o governo criou as Casas de Fundição,
das quais a mais famosa foi a de Minas Gerais, inaugurada em 1725.
Nas casa de fundição o minerador entregava seu ouro em pó, que era fundido e transformado em
barras, das quais era descontado o quinto. Além das Casas de Fundição, também foi proibida a
comercialização e exportação de ouro em pó. É possivelmente dessa época o surgimento dos “Santos
do pau oco” que eram imagens de santos esculpidas por dentro e preenchidas com ouro em pó, para
fugir da fiscalização e da cobrança.
Em 1735 a Coroa começou a cobrar um novo imposto, a Capitação. A capitação era um imposto per
capita, pago em ouro pelas pessoas e estabelecimentos comerciais da área mineradora.
Em 1750 a capitação foi extinta, restando apenas o quinto. Apesar disso, era exigida uma arrecadação
mínima de 100 arrobas de ouro por ano. Se não fosse atingida a arrecadação era decretada a derrama:
cobrança do tanto que faltava para completar as 100 arrobas de arrecadação.
Conforme as jazidas foram esgotando, a produção de ouro caiu, assim como a arrecadação de
impostos. As suspeitas de sonegação de impostos e a violência da Intendência aumentaram juntamente,
gerando atritos e conflitos entre autoridades e mineradores, uma das causas da Inconfidência Mineira de
1789.
Para a extração do ouro foram organizados dois tipos de empreendimentos: lavras e faiscações.
As lavras eram unidades de produção relativamente grandes, podendo até possuir equipamento
especializado e o trabalho de mais de 100 escravos, o que exigia o investimento de alto capital, sendo
rentável apenas em jazidas de ouro de tamanho suficientemente grande.
Nas faiscações, que eram pequenas unidades produtoras, trabalhavam somente algumas pessoas
ou até mesmo eram compostas de trabalhadores individuais. Era comum a pratica do envio de escravos
por homens livres para faiscação, sendo o ouro encontrado dividido entre ambos.

Reformas Pombalinas
O político português Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, nasceu em Lisboa, em
13 de maio de 1699; estudou na Universidade de Coimbra e, em 1738, foi nomeado embaixador em
Londres; cinco anos depois, foi transferido, no mesmo cargo, para Viena, onde permaneceu até 1748.
Dois anos depois, o rei D. José I nomeou-o secretário de Estado para os Assuntos Exteriores. Após
cinco anos no cargo, assistiu ao grande terremoto que destruiu Lisboa. Diante do desastre, organizou as
forças de auxílio e reconstrução, o que lhe valeu o cargo de primeiro-ministro, que exerceu até a morte
do rei que lhe concedeu o título de Marquês em 1770.
Pombal era, sobretudo, reformador, autoritário, intransigente e iluminista; assim, não se curvava à
Igreja e, consequentemente, não se curvava, também e principalmente, ao poder que, embora de matriz
eclesiástica, tinha fortes reflexos materiais, como o era o exercido pela Ordem de Jesus. Ele não
pretendeu, apenas, reformar o Estado. Sobretudo despótico, mostrou-se intolerante e possuidor de mão
forte, o que demonstra o seu gosto pelo domínio do poder, que passou a exercer de forma quase absoluta
a partir de 1756.
Foi assim que reorganizou o sistema educacional, elaborou novo Código Penal, reorganizou o exército
e a marinha, incentivou a emigração de portugueses para as colónias. Estes os antecedentes e os
componentes que atuaram sobre as Companhias de Comércio, das quais a do Grão-Pará e Maranhão,
em suas atividades no Brasil e Cabo Verde.
A escravidão dos índios foi extinta e eles até poderiam se casar com portugueses. A ideia de Pombal
ao permitir isso, era a de que os índios se miscigenassem, houvesse um crescimento populacional e
então o Estado contasse com mais força nas fronteiras do interior.
Quando os índios passaram a ser livres, isso chocou-se contra os jesuítas, que não deixavam que a
autoridade real interferisse nos assuntos deles. Marquês de Pombal que queria realizar uma reforma e
aproveitar e centralizar o poder, expulsou os 670 jesuítas que aqui moravam e mandou fechar os colégios.
Eles foram acusados de traição, o Padre Gabriel Malagrida foi queimado em praça pública e o restante
embarcou para Lisboa onde foram presos.

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As rebeliões nativistas
A população colonial, já enraizada na terra e, portanto, com fortes sentimentos nativistas, manifestou
seu descontentamento frente às exigências metropolitanas. Em vista disto, surgiram os primeiros sinais
de rebeldia, denominados rebeliões nativistas.

Revolta de Beckman(1684)
Na segunda metade do século XVII, a situação da economia maranhense, que nunca fora boa, tendia
a piorar. A Coroa, pressionada pelos jesuítas, proibiu a escravização de indígenas, os quais eram a base
da mão-de-obra local, utilizados na coleta de “drogas do sertão” e na agricultura de subsistência.
Visando melhorar a situação da capitania, o governo português criou, em 1682, a Companhia de
Comércio do Maranhão, a qual recebia o monopólio do comércio maranhense e em troca deveria
promover o desenvolvimento da agricultura local.
A má administração da empresa gerou uma rebelião de colonos, em 1684, sob a chefia dos irmãos
Manoel e Thomas Beckman. O objetivo dos rebeldes era o fechamento da Companhia e a expulsão dos
jesuítas. A revolta foi sufocada pela coroa, mas a Companhia encerrou suas atividades.

A Guerra dos Emboabas (1708-1709)


Apesar da fome que assolou as Minas em 1696-1698 ter sido terrível, uma crise de desabastecimento
ainda mais devastadora aconteceu na região em 1700. Três anos depois da descoberta das primeiras
jazidas, cerca de 6 mil pessoas haviam chegado às minas. Na virada do século XVIII, esse número
quintuplicara: 30 mil mineiros perambulavam pela área. Simplesmente não havia o que comer: qualquer
animal ou vegetal que pudesse ser consumido já o fora.
Pouco depois, surgiram os conflitos entre paulistas, que foram os descobridores das jazidas e primeiros
povoadores e os Emboabas, forasteiros, normalmente portugueses, pernambucanos e baianos.
Os dois grupos disputavam o direito de exploração das terras. Os paulistas argumentavam que
deveriam ter o direito de exploração, por serem os descobridores. Já os emboabas defendiam que por
serem cidadãos do Reino também possuíam o direito de exploração das riquezas. Entre 1707 e 1709,
ocorreram lutas violentas entre os dois grupos, com derrotas sucessivas por parte dos paulistas.
O governador Albuquerque Coelho e Carvalho promoveu a pacificação geral em 1709, quando foi
criada a capitania de São Paulo e Minas de Ouro, pertencente à coroa.

A Guerra dos Mascates (Pernambuco, 1710-1714)


Luta entre os proprietários rurais de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife, originada pela
expulsão dos holandeses no século XVII. Se a perda do monopólio brasileiro do fornecimento de açúcar
à Europa foi trágica para os produtores pernambucanos, não foi tanto assim para a burguesia lusitana de
Recife, que passou a financiar a produção olindense, com elevadas taxas e grandes hipotecas.
A superioridade econômico-financeira de Recife não tinha correspondente político, visto que seus
habitantes continuavam dependendo da Câmara Municipal de Olinda. Em 1710, Recife conseguiu sua
emancipação político-administrativa, transformando-se em município autônomo. Os olindenses,
comandados por Bernardo Vieira de Melo, invadiram Recife, provocando a reação dos Mascates,
chefiados por João da Mota.
A luta entre as duas cidades manteve-se até 1714, quando foi encerrada graças à mediação da Coroa.
O esforço da aristocracia fora inútil: Recife manteve sua autonomia.

Os Movimentos Emancipacionistas
As revoltas emancipacionistas foram movimentos sociais ocorridos no Brasil Colonial, caracterizados
pelo forte anseio de conquistar a independência do Brasil com relação a Portugal. Entre os principais
motivos para esses movimentos estavam a alta cobrança de impostos; limites estabelecidos pelo pacto
colonial, que obrigava o brasil de comerciar com Portugal somente; a falta de autonomia e representação
na criação de leis e tributos, além da política, dominada por Portugal; Os ideais iluministas e separatistas
vindos da Europa e dos Estados Unidos.

A Inconfidência Mineira (1789)


Na segunda metade do século XVIII, a produção de ouro nas Minas Gerais vinha apresentando um
grande declínio, o que aumentou os choques e conflitos entre a população local e as autoridades
portuguesas. Quanto menos ouro era extraído, maiores eram os boatos e ameaças do acontecimento de
derrama ou cobrança de quintos, atitude que afetaria boa parte da elite local.
Os grupos mais influenciados pelas ideias iluministas, que eram também os que mais teriam a perder
com as medidas do governo português, resolveram tomar uma atitude, dando início em 1789 ao

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movimento que seria chamado pela metrópole de Inconfidência (infidelidade) Mineira, ou Conjuração
Mineira.
Os inconfidentes tinham como objetivo a imediata separação da colônia, criando uma República
moldada pelo pensamento liberal-iluminista e pela Constituição dos Estados Unidos, que haviam
conquistado sua independência em 1776. Após conquistada a liberdade em relação à metrópole,
estabeleceriam São João del-Rei como capital, criariam a Universidade de Vila Rica e dariam estímulo à
abertura de manufaturas têxteis e de uma siderurgia para o novo Estado. Em relação à escravidão as
posições eram divergentes.
A revolta foi planejada 1788, durante a derrama, mas foi suspensa quando participantes da
conspiração denunciaram o movimento ao governador. O coronel Joaquim Silvério dos Reis foi apontado
como principal delator. Endividado com a coroa, assim como outros inconfidentes, o coronel resolveu
separar-se do movimento e apresentar um depoimento formal para o governador da capitania, Visconde
de Barbacena. O governador suspendeu a cobrança e mandou prender os inconfidentes.
Após a confissão de Joaquim Silvério e a prisão dos suspeitos, foi instituída a devassa, uma
investigação levada a cabo pelas autoridades da época, constatando que envolveram-se no movimento
da Capitania das Minas grandes fazendeiros, criadores de gado, contratadores, exploradores de minas,
magistrados, militares, além de intelectuais luso-brasileiros.
Dentre os inconfidentes, destacaram-se os padres Carlos Correia de Toledo, José de Oliveira Rolim e
Manuel Rodrigues da Costa, além do cônego Luís Vieira da Silva; o tenente-coronel Francisco de Paula
Freire de Andrade, comandante militar da capitania, os coronéis Domingos de Abreu Vieira, também
comerciante, e Joaquim Silvério dos Reis, rico negociante; e os letrados Cláudio Manuel da Costa, Inácio
José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi o único “conspirador” que não fazia parte da elite.
Conhecido como alferes (primeiro posto militar) e dentista prático, foi talvez por sua origem o mais
duramente castigado. A memória de Tiradentes passou a ser celebrada no Brasil com a proclamação da
República, quando foi considerado herói nacional pelo regime estabelecido em 15 de novembro de 1889.
Sua representação mais conhecida é muito semelhante à imagem de Cristo, reforçando a construção da
imagem de mártir.
Assinada em 19 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, a sentença de morte de Tiradentes cumpriu-se
dois dias depois: ele foi enforcado, decapitado e esquartejado. Os outros participantes foram condenados
ao desterro na África.

Conjuração Baiana (1798)


A conjuração Baiana, ou revolta dos alfaiates, assim como a Conjuração Mineira, foi influenciada
pelos ideais iluministas, em especial a Revolução Francesa. Ocorrida na Bahia em 1798, buscava a
emancipação e defendeu importantes mudanças sociais e políticas na sociedade.
Entre as causas do movimento estava a insatisfação com Portugal pela transferência da capital para
o Rio de Janeiro, em 1763. Com tal mudança, Salvador (antiga capital) sofreu com a perda dos privilégios
e a redução dos recursos destinados à cidade. Somado a tal fator, o aumento dos impostos e exigências
colônias vieram a piorar sensivelmente as condições de vida da população local, e o domínio exercido
sobre a colônia. O preço dos alimentos também gerou revolta na população. Além de caros, muitos
produtos tornavam-se rapidamente escassos, pelas restrições impostas sobre o comercio e as
importações.
Os revoltosos defendiam a separação da região do restante da colônia, buscando independência de
Portugal e instalando um governo baseado nos princípios da Republica. Também defendiam a liberdade
de comércio (fim do pacto colonial estabelecido), o aumento dos soldos e a igualdade entre as pessoas,
resultando na abolição da escravidão.
A revolta ganhou o nome de revolta dos alfaiates pela grande adesão desses profissionais no
movimento, entre eles Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do Nascimento. Outros setores,
como o militar, representado pelo soldado Luís Gonzaga das Virgens.
O movimento contou com a participação de pessoas pobres, letrados, padres, pequenos comerciantes,
escravos e ex-escravos.
A revolta foi impedida antes mesmo de começar. O ferreiro José da Veiga informou sobre os detalhes
do movimento ao governador, que pôde mobilizar tropas do exército para conter os revoltosos.

Questões

01. Entre as causas da Criação das Capitanias Hereditárias no Brasil, podemos apontar
(A) a necessidade de apoio do governo português aos comerciantes de pau-brasil;

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(B) a necessidade de organizar a exploração do ouro;
(C) o fracasso do governo geral;
(D) o interesse de Portugal no comércio de escravos indígenas;
(E)a falta de recursos do governo português que transferiu aos donatários a responsabilidade da
colonização.

02. O sertanismo (ou bandeirismo) de contrato, tinha por atividade:


(A) a exportação de drogas do sertão;
(B) a busca de metais preciosos para o governo português;
(C) o tráfico negreiro para a Inglaterra;
(D) a captura de índios para escravizá-los;
(E) combater revoltas de índios e negros e destruir os quilombos.

03.
I - Expedições de bandeirantes organizadas pelo governo português.
II - Expedições de bandeirantes organizadas por particulares.
As frases acima correspondem, respectivamente:
(A) às missões e às reduções;
(B) às feitorias e às bandeiras;
(C) às entradas e às bandeiras;
(D) às feitorias e às entradas;
(E) às bandeiras e às missões.

04. (PUC) “Nenhuma outra forma de exploração agrária no Brasil colonial resume tão bem as
características básicas da grande lavoura como o engenho de açúcar.”
Alice Canabrava, in Sérgio Buarque de Holanda (org.) História geral da civilização brasileira. Rio de
Janeiro: Difel, 1963, tomo I, vol. 2, p. 198-206.
A frase pode ser considerada correta, entre outros motivos, porque na produção açucareira:
(A) prevalecia o regime de trabalho escravo e a grande propriedade monocultora.
(B) havia emprego reduzido de mão de obra e prevalecia a agricultura de subsistência.
(C)prevalecia a atenção ao mercado consumidor interno e à distribuição das mercadorias nas grandes
cidades.
(D) havia disposição modernizadora do aparato produtivo e prevalecia a mão de obra assalariada.
(E) prevalecia a pequena propriedade familiar e a diversificação de culturas

05. (Vunesp) Leia o texto para responder à questão.


O Brasil colonial foi organizado como uma empresa comercial resultante de uma aliança entre a
burguesia mercantil, a Coroa e a nobreza. Essa aliança refletiu-se numa política de terras que incorporou
concepções rurais tanto feudais como mercantis.
(Emília Viotti da Costa. Da Monarquia à República, 1987.)
A afirmação de que “O Brasil colonial foi organizado como uma empresa comercial resultante de uma
aliança entre a burguesia mercantil, a Coroa e a nobreza” indica que a colonização portuguesa do Brasil
(A)desenvolveu-se de forma semelhante às colonizações espanhola e britânica nas Américas, ao
evitar a exploração sistemática das novas terras e privilegiar os esforços de ocupação e povoamento.
(B) implicou um conjunto de articulações políticas e sociais, que derivavam, entre outros fatores, do
exercício do domínio político pela metrópole e de uma política de concessões de privilégios e vantagens
comerciais.
(C) alijou, do processo colonizador, os setores populares, que foram impedidos de se transferir para a
colônia e não puderam, por isso, aproveitar as novas oportunidades de emprego que se abriam.
(D)incorporou as diversas classes sociais existentes em Portugal, que mantiveram, nas terras
coloniais, os mesmos direitos políticos e trabalhistas de que desfrutavam na metrópole.
(E) alterou as relações políticas dentro de Portugal, pois provocou o aumento da participação dos
burgueses nos assuntos nacionais e eliminou a influência da aristocracia palaciana sobre o rei.

06. (SEDUC-PI – História – NUCEPE) Nos primeiros séculos de colonização do Brasil, anterior à fase
do ouro, a cultura colonial foi fortemente marcada pela ação dos jesuítas. Aqueles que se dedicavam a
ofícios escritos, ou eram jesuítas, ou haviam sido influenciados por eles.
Considerando as manifestações culturais e a influência jesuítica no Brasil, durante o período colonial,
analise as assertivas a seguir:
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I. - Apesar de sua forte influência sobre a Colônia, esta vigorou apenas até 1580, quando a União
Ibérica foi implantada e os jesuítas foram expulsos do Brasil.
II.- Por todo o período anterior à fase da mineração, não há que se falar de maneira ampla em “literatura
brasileira”, pois as obras eram escritas e editadas em Portugal e havia poucos consumidores na Colônia.
III. - Destacaram-se minimamente os escritos dos autores chamados “viajantes”, muitos dos quais
jesuítas, que descreviam as regiões, a organização social e os costumes na Colônia.
IV.- Na produção jesuítica, destacaram-se os sermões, usados para estimular o remorso e a devoção, a
regeneração dos infiéis e a conversão dos nativos.
V. - O teatro foi um recurso utilizado pelos jesuítas, com a finalidade didática de converter nativos à fé
católica.
Assinale a alternativa CORRETA:
(A) Todas as assertivas são corretas.
(B) Apenas quatro assertivas são corretas.
(C) Apenas três assertivas são corretas.
(D) Apenas duas assertivas são corretas.
(E) Apenas uma assertiva é correta.

Respostas

1. Resposta E.
A falta de recursos e uma certa desconfiança do que poderia render de lucro a coroa portuguesa leva
a solução de garantir aos donatários a responsabilidade e o dever de garantir a exploração e
desenvolvimento da colônia.

2. Resposta E.
Os bandeirantes, utilizados e conhecidos como caçadores de índios e pedras preciosas no início da
colonização também atuaram na perseguição de escravos africanos que fugiam de seus senhores. Com
o tempo também atuaram na busca e destruição de quilombos ondes os escravos foragidos se refugiavam

3. Resposta C.
As expedições bandeirantes possuíam diferentes denominações de acordo com seu patrocinador. Se
organizadas pelo governo eram chamadas entradas e se organizadas por particulares como fazendeiros
e senhores de engenho recebiam o nome de bandeiras.

4. Resposta: A
A produção do açúcar no Brasil foi a primeira grande atividade comercial estabelecida de forma efetiva
para a geração de lucros para a coroa portuguesa. Era caracterizada pela mão-de-obra escrava (indígena,
depois africana), a grande propriedade rural (Latifúndio) e a exportação para o mercado europeu.

5. Resposta: B
Durante o período colonial, a obtenção de terras estava vinculada à concessão do rei, que as cedia
para pessoas com capital disponível para a construção de engenhos ou investimentos na colônia.

6. Resposta: B
Das situações descritas pela questão, apenas a expulsão dos jesuítas está colocada de maneira
incorreta. Na verdade, os jesuítas não foram expulsos com a criação da União Ibérica em 1580, mas
durante a administração do Marquês de Pombal, em 1759.

Iluminismo e Revolução Francesa

O ano de 1789 marca a divisão entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea. Ao proporem a
divisão quadripartite da História (Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea), os
historiadores positivistas do século XIX elegeram a Revolução Francesa como um dos grandes marcos
divisórios da chamada “História Geral” – baseada na concepção eurocêntrica –, por ter representado uma
profunda mudança nos padrões de vida e da sociedade da época (sendo os outros divisores: a invenção
da escrita, a queda do Império Romano do Ocidente e a queda de Constantinopla).

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Os antecedentes da revolução
Na França do século XVIII vigorava um sistema de governo conhecido como absolutismo monárquico.
O rei francês, que no período revolucionário era Luís XVI, personificava o Estado, reunindo em sua pessoa
os direitos de criar leis, julgar e governar, daí a referência ao poder absoluto.
Dentro da França absolutista havia uma divisão de três grupos diferenciados, chamados de Estados
Gerais.
O primeiro estado era representado pelos bispos do Alto Clero; o segundo estado tinha como
representantes a nobreza, ou a aristocracia francesa – que desempenhava funções militares (nobreza
de espada) ou funções jurídicas (nobreza de toga); o terceiro estado, por sua vez, era representado pela
burguesia e pelos camponeses, totalizando cerca de 97% da população.
Apesar de representar a maioria esmagadora da população, o terceiro estado possuía direitos limitados
e estava subordinado aos interesses do primeiro e segundo estados. O Terceiro Estado era bastante
heterogêneo. Dele faziam parte:
Alta burguesia: banqueiros e grandes empresários;
Média burguesia: profissionais liberais;
Pequena burguesia: artesãos e lojistas;
Sans-culottes: trabalhadores, aprendizes e marginalizados urbanos, 20 milhões de camponeses, dos
quais, cerca de 4 milhões ainda viviam em estado de servidão feudal.
Era sobre o Terceiro Estado que pesava o ônus dos impostos e das contribuições para a manutenção
do Estado e da Corte. Mesmo sem ter uma unidade, os membros do Terceiro Estado, de uma maneira
geral, concordavam em reivindicações como o fim dos privilégios de nascimento e que se instaurasse a
igualdade civil.
Ao longo do século XVIII vários fatores contribuíram para a agitação política e a insatisfação popular
verificadas no instante da revolução. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763), travada contra a Inglaterra,
contabilizou milhares de mortos, feridos e elevadíssimos gastos e prejuízos materiais para ambos os
países, além da derrota sofrida pela França. A derrota levou o país a financiar e instigar os colonos
britânicos da América a buscarem autonomia, o que resultou no processo de independência dos Estados
Unidos. Ao mesmo tempo, a Corte absolutista francesa, que possuía um alto custo de vida, era financiada
pelo Estado, que, por sua vez, já gastava bastante seu orçamento com a burocracia que o mantinha em
funcionamento. Aos fatores destacados ainda vale acrescentar a crise que afetou a produção agrícola
francesa nas décadas de 1770 e 1780, que resultou em péssimas colheitas e alta da inflação.
O resultado dos fatores acima destacados gerou uma crise financeira, ao passo em que o Estado
terminava por arrecadar uma quantidade inferior aos gastos anuais, com uma dívida pública que se
acumulava, sobretudo pela falta de modernização econômica – principalmente a falta de investimento no
setor industrial.
Outro fator que deve ser levado em conta é a ascensão da burguesia. Resultado do desenvolvimento
do capitalismo comercial, essa classe social apresentava duas tendências marcantes: ou procurava
ingressar na nobreza por meio da compra de títulos, ou tentava afirmar os seus valores, impondo critérios
econômicos de hierarquização social em substituição ao critério do nascimento e da tradição, típico da
sociedade estamental. Assim sendo, a ascensão da burguesia rompeu os quadros da sociedade do
Antigo Regime.
Em meio ao caos econômico vivido pela França, Luis XVI chega ao poder em 1774, enfrentando desde
o início, o problema de insuficiência na arrecadação de impostos. Turgot, primeiro de seus ministros de
finanças, no período de 1774 a 1776, tenta cobrar impostos de padres e nobres. Foi obrigado a renunciar.
Turgot foi substituído por Necker, que incentivou o apoio francês à independência dos Estados Unidos
como forma de revidar o resultado da Guerra dos Sete Anos. Necker permaneceu até 1781, quando
contraiu grandes empréstimos para cobrir os gastos com o financiamento da emacipação americana e
acabou por aumentar a dívida francesa. Calonne, seu sucessor, buscou cobrar impostos sobre as terras
da nobreza e acabou substituído por Brienne, que teve o mesmo destino. A saída de Brienne gerou uma
crise ministerial, resolvida com a volta de Necker.
Somente em 1789, durante o mandato de Necker, as autoridades reais abriram portas para o
movimento reformista. Em maio daquele ano, os Estados-gerais foram convocados para a formação de
uma assembleia que deveria mudar o conjunto de leis da França.
A Assembleia dos Estados Gerais (em francês États Généraux) era um órgão político de carácter
consultivo e deliberativo (servia para que o rei consultasse a opinião e poderia também tomar decisões,
se o rei assim permitisse), constituído por representantes dos três estados. Na contagem dos
representantes de cada estado, o primeiro estado contava com 291 membros, o segundo com 270 e o
terceiro estado dispunha de 578 membros votantes. Apesar da maioria absoluta, a forma de voto da
Assembleia dos Estados Gerais impedia a hegemonia dos interesses do terceiro estado. Conforme

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previsto, os votos eram dados por estados, com isso a aliança de interesses entre o clero e a nobreza
impedia a aprovação de leis mais transformadoras que beneficiassem o terceiro estado.
Os Estados Gerais reuniram-se em Versalhes, em 5 de maio de 1789. O Terceiro Estado queria
votações individuais. Os notáveis insistiam em voto por Estado, tendo o apoio do rei.
O Terceiro Estado, revoltado com a situação, reuniu-se separadamente na sala de jogo da péla (um
jogo de arremesso de bola), em 20 de junho, tendo jurado não se dispersar enquanto o rei não aceitasse
uma Constituição que limitasse seus poderes.
A partir do juramento do jogo da péla Luís XVI cedeu, mandando o clero e a nobreza juntarem-se ao
Terceiro Estado, surgindo assim a Assembleia Nacional Constituinte. O rei queria ganhar tempo, pois
pretendia juntar tropas para dispersar a Assembleia. Os produtos alimentícios começavam a faltar,
surgindo revoltas nas cidades e nos campos. Os rumores de composição aristocrática da realeza
cresciam. O medo do Terceiro Estado era muito grande em julho de 1789. A reunião de tropas, próximo
a Paris, e a demissão de Necker provocaram a insurreição.
Em 14 de julho de 1789 ocorre a queda da Bastilha.
A Bastilha foi construída em 1370, e era uma fortaleza utilizada pelo regime monárquico como prisão
de criminosos comuns. Na regência do Cardeal Richelieu, entre 1628 e 1642, o prédio foi transformado
em prisão de intelectuais e nobres, especialmente os opositores à monarquia, sua política ou mesmo à
religião católica, oficial no período monárquico. Apesar de ser uma prisão, na data de sua invasão a
Bastilha contava com apenas sete presos.
Para além do sentido físico de domínio do prédio, a tomada da Bastilha representou a derrota do Antigo
Regime para a revolta da população, sendo considerada a data de início da Revolução Francesa.
O rei já não tinha mais como controlar a fúria popular e tomou algumas precauções para acalmar o
povo que invadia, matava e tomava os bens da nobreza: o regime feudal sobre os camponeses foi abolido
e os privilégios tributários do clero e da nobreza acabaram.

Assembleia Nacional (1789-1791)


Após a invasão de Bastilha, a Assembleia Geral Nacional se transformou em Assembleia Constituinte,
onde os deputados elaboraram uma constituição que determinou o fim dos privilégios feudais e de
nascimento, a igualdade de todos perante a lei e a garantia de propriedade. Foi feito um juramento, que
deu origem ao lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Déclaration des Droits de l'Homme et du
Citoyen), proclamada em 26 de agosto de 1789 determinou o fim das estruturas restantes do Antigo
Regime. Ela proclama que todos os cidadãos devem ter garantidos os direitos de “liberdade, propriedade,
segurança, e resistência à opressão”. Isto argumenta que a necessidade da lei provém do facto que “…
o exercício dos direitos naturais de cada homem tem só aquelas fronteiras que asseguram a outros
membros da sociedade o desfrutar destes mesmos direitos”. Portanto, a Declaração vê a lei como “uma
expressão da vontade geral”, que tem a intenção de promover esta igualdade de direitos e proibir “só
acções prejudiciais para a sociedade”. Sobre ela, o historiador inglês Eric Hobsbawm escreveu:
"Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um
manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária. Os homens nascem e vivem livres e iguais
perante as leis”, dizia seu primeiro artigo; mas ela também prevê a existência de distinções sociais, ainda
que “somente no terreno da utilidade comum”. A propriedade privada era um direito natural sagrado,
inalienável e inviolável.” 15

Segue abaixo a reprodução do texto da Declaração:


Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, tendo em vista que a
ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males
públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis
e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo
social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder
Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda
a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos,
doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da
Constituição e à felicidade geral.
Em razão disto, a Assembleia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser
Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:

15 Eric Hobsbawm, A ERA DAS REVOULUÇÕES

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Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem
fundamentar-se na utilidade comum.
Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis
do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação,
nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.
Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o exercício
dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros
membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela
lei.
Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não
pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.
Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer,
pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja
para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a
todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que
não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de
acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar
ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve
obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.
Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser
punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.
Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável
prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.
Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua
manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.
Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem.
Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos
desta liberdade nos termos previstos na lei.
Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta força é,
pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.
Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável
uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.
Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da
necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar
a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.
Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.
Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a
separação dos poderes não tem Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não
ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia
indenização.
Luís XVI, mesmo derrotado, se opunha aos decretos e recusava-se a ratificá-los. Tendo o rei se
recusado a sancionar estes últimos decretos, o povo de Paris, a comuna, marchou em direção ao Palácio
de Versalhes, trazendo o rei para a cidade, obrigando-o a assiná-los. Como consequência, a nobreza
francesa, sentindo-se ameaçada, fugiu para o Império Austríaco.
Em 1790, os bens do clero foram confiscados, servindo de lastro para a emissão dos assignats (papel
moeda), por intermédio da Constituição Civil do Clero.
A lei visava reorganizar em profundidade a Igreja da França, transformando os párocos em
"funcionários públicos eclesiásticos”, e serviu de base para a integração da Igreja Católica ao novo
sistema político em vigor a partir de 1789.
A Lei sobre a Constituição Civil do Clero se compunha de quatro partes, dedicadas aos cargos
eclesiásticos, o pagamento dos religiosos e outras questões práticas. As circunscrições das dioceses
foram adaptadas às novas unidades estatais dos départements, cada um destes correspondendo a um
bispado. A redistribuição reduziu o número de sedes episcopais de 139 para 83.
A Constituição francesa ficou pronta em setembro de 1791, modificando completamente a organização
social e administrativa da França. O documento concebeu uma forma de governo baseada no princípio
da separação dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), proposta por Montesquieu.

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O poder executivo, responsável por gerir o Estado, foi confiado à monarquia, que agora deveria
obedecer os princípios determinados na constituição, ou seja, também estava sujeita à força da lei,
conforme deixavam bem claros os artigos 3 e 4 do capítulo II:
Artigo 3. Não existe na França autoridade superior à da Lei. O Rei reina por ela e não pode exigir a
obediência senão em nome da lei.
Artigo 4. O Rei, no ato de sua elevação ao trono, ou a partir do momento em que tiver atingido a
maioridade, prestará à Nação, na presença do Corpo legislativo, o juramento de ser fiel à Nação e à Lei,
de empregar todo poder que lhe foi delegado para, manter a Constituição decretada pela Assembleia
Nacional constituinte nos anos de 1789, 1791, e de fazer executar as leis.
O poder legislativo passava a ser formado por uma assembleia, que não poderia ser violada ou
dissolvida (evitando o abuso do poder real). Ela era eleita através do voto censitário, e tinha o poder de
fiscalizar os ministros, as finanças e a política estrangeira. O voto censitário era a concessão do direito
do voto apenas àqueles cidadãos que possuíam certos critérios que comprovassem uma situação
financeira satisfatória.
Na prática, a política continuava nas mãos da classe abastada, em geral dos grandes proprietários,
excluindo do processo mais de 20 milhões de franceses que não atendiam os critérios estabelecidos pelo
voto censitário.
A exclusão da maior parte da população do processo político logo tornou o novo governo impopular,
gerando também rupturas internas e a Assembleia dividiu-se em várias tendências:

Feuillants: Monarquistas constitucionais, liderados por La Fayette e Barnave


Jacobinos: Defensores da República democrática
Girondinos: Grupo de deputados convencionais, liderados por representantes da região da Gironda,
partidários da Revolução e da República, mas com posições bem mais moderadas do que os Jacobinos,
especialmente quanto ao papel das massas populares no movimento revolucionário.
Cordeliers: Clube político muito próximo das posições dos “sans-culottes”, representando a população
mais pobre.

A dificuldade para governar enfraqueceu a Assembleia, o que garantiu a Luis XVI a chance de tentar
escapar para o Império Austríaco, com o objetivo de organizar uma contrarrevolução. O rei foi
reconhecido próximo a região de Varennes, onde foi capturado e enviado para Paris. Após a tentativa
frustrada de fuga, a Assembleia suspendeu seu poder.
O êxito da Revolução na França deu novo estímulo aos revolucionários de outros países, onde, porém,
não surtiu efeito, corno nos Países Baixos, Bélgica, Suíça, Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Áustria e Itália.
Ainda assim, simpatizantes com a Revolução na França organizaram demonstrações de apoio. Os
déspotas esclarecidos, alarmados, abandonaram seus programas de reformas e se aproximaram da
aristocracia contra as classes baixas.
Alguns escritores na Europa defenderam a contrarrevolução, ou seja, a retomada do poder na França
pela força das armas e restauração da Monarquia Absoluta.
Muitos franceses abandonaram o país. Nobres, clérigos e mesmo burgueses esperavam o auxílio das
potências europeias. Estas se mantiveram indiferentes, a princípio, mas, quando as ideias que resultaram
da Revolução ameaçavam abalar os soberanos absolutos da Europa, modificaram sua atitude.
Em 20 de abril de 1792, a perseguição dos emigrados pelos franceses provocou a guerra com a
Áustria, que continuaria com poucas interrupções até 1815. Os insucessos repetiram-se de abril a
setembro.
O avanço do exército prussiano rumo a Paris fez crescer o temor da contrarrevolução, arquitetada pelo
rei e pela aristocracia. Em 10 de agosto as tulherias foram ocupadas e o rei aprisionado no templo. No
início de setembro, a massa parisiense atacou as prisões e massacrou os nobres feitos prisioneiros. O
Exército passou a convocar voluntários para defender a Revolução. Em Valmy, as forças francesas
venceram os invasores (20 de setembro). No mesmo dia, uma nova Assembleia tomava posse: a
Convenção. A República foi proclamada. A segunda fase da guerra, de setembro de 1792 a abril de 1793,
é marcada pelas vitórias da França, que avançou em direção à Bélgica, região do Reno, Savoia e Nice.

A CONVENÇÃO NACIONAL
A ocupação dos franceses na Bélgica abalou a continuidade da revolução, e a Assembleia foi
substituída pela Convenção Nacional, dando início à República, em fins de 1792.
Os membros eleitos para a Convenção Nacional organizaram-se em três grandes partidos: Gironda,
Montanha e Planície.

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Gironda: Os Girondinos faziam parte um grupo político moderado durante o processo da Revolução
Francesa. Seus integrantes faziam parte da burguesia francesa. Entre seus líderes destacavam-se Brissot
e Vergniaud.
Montanha (ou Jacobinos): Os jacobinos faziam parte de uma organização política, criada em 1789
na França durante o processo da Revolução Francesa. No princípio tinham uma posição moderada sobre
os encaminhamentos revolucionários, porém, com a liderança de Robespierre, passaram a ter posições
radicais e esquerdistas. Pequenos comerciantes e profissionais liberais eram as principais camadas
sociais que compunham este grupo. Entre seus líderes destacavam-se Saint Just, Marat, Danton e
Robespierre.
Planície (ou Pântano): apesar de ser formada por membros da burguesia, era considerado um partido
de centro, fazendo acordos e estabelecendo relações com ambos os partidos.

A Convenção Girondina (1792-1793)


Após seu estabelecimento, a Convenção foi liderada pelos girondinos, sob forte oposição jacobina.
O rei foi julgado pela Convenção em 21 de janeiro de 1793 e, a despeito do esforço dos Girondinos,
foi condenado à morte como traidor, sendo guilhotinado.
A condenação do rei abalou as demais monarquias absolutistas europeias, que temiam sofrer
processos revolucionários parecidos em seus países. Assim, os impérios da Áustria, da Rússia e da
Prússia uniram-se militarmente com Inglaterra e Holanda, contestadoras da ocupação francesa sobre a
Bélgica, e formaram a I Coligação. A união de forças foi capaz de derrotar as tropas francesas, além de
incentivarem os contrarrevolucionários a influenciarem a revolta camponesa da Vendéia.
As derrotas sofridas pelas tropas, aliadas aos problemas internos, acentuaram os ânimos dos
extremistas montanheses. Os Jacobinos, núcleo mais radical da Montanha, eram apoiados pela Comuna
de Paris, composta por trabalhadores, artífices, pequenos proprietários e trabalhadores rurais.
O acirramento dos ânimos levou a exigência da criação de um tribunal revolucionário contra os
suspeitos e chefes girondinos, além da criação de um exército revolucionário para a defesa do país. As
reivindicações foram suficientes para reunir as camadas mais baixas e resultaram na queda dos
girondinos em junho de 1793.

A Convenção Montanhesa (1793-1794)


Os montanheses chegaram ao poder com o apoio dos sans-culottes, porém buscaram conter o
movimento popular para evitar extremos. Como parte das reformas introduzidas, no campo político
aboliram a escravidão nas colônias e confiscaram as terras dos nobres emigrados, transformando-as em
pequenas propriedades. Na política, introduziram uma constituição democrática, assegurando uma
participação mais ativa das camadas mais baixas.
As tensões internas e as vitórias da I Coligação criaram um clima de insegurança, que aumentou ainda
mais quando o líder montanhês Marat foi assassinado pela monarquista Charlotte Corday, o que revelou
a possibilidade do restabelecimento da monarquia. Esses fatores colaboraram para a instalação do Terror

O Terror
Colocado em prática em setembro de 1793, o Terror contou com amplo apoio dos sans-culottes.
Liderados por Robespierre, os montanheses criaram os Comitês da Salvação Pública e da Segurança
Geral com o objetivo de governar o país, e o Tribunal Revolucionário, para aplicar a justiça.
As prisões eram feitas com base na Lei dos Suspeitos, que permitia capturar e julgar todos aqueles
considerados suspeitos de traição contra a República. Milhares de pessoas foram enviadas para a
guilhotina, entre elas a rainha Maria Antonieta.
Com o mesmo argumento de proteção da Revolução, as igrejas também foram fechadas, sendo
instituído o “culto do Ser Supremo”, que na verdade tratava-se de uma devoção à razão.
No plano econômico foi instituída a lei do máximo Geral, ou seja, a fixação de um teto máximo para os
produtos de primeira necessidade.
O terror gerou resultados, com a derrota da Vendéia e da Coligação. Superadas as dificuldades,
Robespierre acreditava que a ditadura era a única forma de manter a Revolução, e não hesitou em enviar
para a guilhotina todos aqueles que considerou inimigos.
Paris, durante esse período, passava por um momento de grande efervescência política, e grupos
distintos, com visões completamente diferente acabaram levando o mesmo fim, tendo as cabeças
separadas dos corpos. Os enragés (enraveicidos) propunham a taxação e a suspensão da especulação
monetária, tinham e muito prestígio perante os sans-culottes, porém foram guilhotinados.
Os indulgentes, liderados por Danton, acreditavam que as medidas eram enérgicas e autoritárias
demais, por outro lado, os hebertistas, liderados por Hébert, consideravam que elas ficavam aquém do

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necessário para salvar a Revolução. Para Robespierre tanto um quanto outro, e qualquer outro tipo de
divergência eram uma ameaça, e ambos foram guilhotinados. Nem mesmo o cientista Lavoisier escapou
da condenação, pois era visto com maus olhos por possuir origem nobre e ser membro da Ferme
Générale, agência ligada ao governo e responsável pelo recolhimento de impostos, vista como corrupta.
O Terror não poupou nem mesmo seus dirigentes. As execuções em massa, a ditadura e a intervenção
na economia acabaram enfraquecendo o poder de Robespierre, que teve sua queda votada pela
Convenção em 27 de julho de 1794. Juntamente com dezenove partidários, o líder acabou enfrentando o
destino que muitos de seus tiveram: a própria guilhotina.

A Guilhotina

Criada pelo médico Joseph Ignace Guillotin, a guilhotina não apareceu como um método de
execução usado para amedrontar os inimigos da revolução. Criada com a finalidade de proporcionar
uma morte rápida e sem dor aos condenados à morte, o doutor Gillotin defendeu na Assembleia
Nacional que esse seria um método mais humanitário, eficaz e igualitário, pois os condenados teriam
a mesma pena e o executor não precisaria necessariamente sujar suas mãos com sangue.
Porém, com a Revolução Francesa todo e qualquer suspeito de se opor ao regime passou a ser
decapitado, dessa forma a guilhotina ficou marcada como símbolo de crueldade e opressão.
Mesmo com o fim da Revolução na França, a guilhotina continuou a funcionar como aparelho de
execução, com a última condenação registrada em 1977, quase duzentos anos após sua utilização em
massa.

A Convenção Termidoriana
Após a queda de Robespierre, um novo governo assumiu o poder, liderado pela Planície. O novo
governo buscou afastar-se da pequena burguesia e dos sans-culottes, e pouco a pouco retirou os poderes
do Comitê de Salvação Pública, além de revogar as leis dos Suspeitos e do Máximo. A Igreja e o novo
governo estabeleceram um acordo de separação.
O fim da Lei do Máximo provocou um aumento nos preços dos produtos, inflacionando os assignats.
O aumento nos preços gerou novas tensões populares, e a alta burguesia, com medo de perder seus
privilégios e seu poder, eliminou o governo de convenção e criou a Constituição do ano III que instituía
o Diretório, em 1795. A nova constituição buscou reafirmar o direito à propriedade e a liberdade
econômica, através do restabelecimento do voto censitário, o que excluiu novamente as camadas
populares do processo político.

O DIRETÓRIO (1795-1799)
O novo governo baseava-se na teoria da separação dos poderes. O poder legislativo dividia-se entre
o Conselho dos Quinhentos (em que os membros deveriam ter mais de 30 anos) e o conselho dos Anciãos
(que deveriam ter mais de 40 anos). O poder executivo era composto por um Diretório (junta de diretores)
que era eleito pelos conselhos.
A nova constituição não conseguiu estabilizar o país, e também não conseguiu afastar os opositores
(nobres emigrados e sans-culottes). Os nobres tentaram um golpe de retomada do poder, porém foram
impedidos pelo general Napoleão Bonaparte. Entre as camadas populares, o crítico da propriedade
privada, Graco Babeuf articulou uma conjuração, a Revolta dos Iguais, que buscava derrubar o
diretória, porém não obteve sucesso.
A corrupção no governo e a má administração enfraqueceram o regime. Juntamente com os problemas
internos, foi formada a II Coligação, através da união militar entre o Império Turco, a Rússia, a Inglaterra
e a Áustria, com o objetivo de retomar o poder na França.
Frente aos problemas enfrentados, alguns membros do Diretório defendiam a ideia de que a única
forma de manter o poder era o estabelecimento de uma nova monarquia. Preocupando-se em perder o
poder, parte da alta burguesia apoiou um golpe de Estado, contando com a popularidade de Napoleão,
que havia conquistado vitórias importantes no Egito e no norte da Itália. Apoiado por Roger Ducos e pelo
abade Sièys, ambos lideres burgueses, em 9 de novembro de 1799 Napoleão derrubou o Diretório e
estabeleceu um consulado provisório, composto pelo general e pelos dois líderes que ajudaram a
arquitetar o golpe.
A chegada de napoleão ao poder ficou conhecida como golpe de 18 Brumário, data que correspondia
aos meses de outubro e novembro no calendário revolucionário. Os apoiadores do golpe acreditavam
que através de um poder executivo autoritário poderiam conter os contrarrevolucionários. Contudo, ao
assumir o poder, Napoleão buscou satisfazer suas próprias ambições, e impôs um ditadura na França.

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O PERÍODO NAPOLEÔNICO
Ao chegar ao poder, em 1799, a França apresentava um aspecto desolador: a indústria e o comércio
estavam arruinados, os caminhos e os portos, destruídos, o serviço público, desorganizado; todos os dias
mais e mais pessoas deixavam o país, fugindo da desordem e da ameaça de ver os seus bens
confiscados; os clérigos que se tinham negado a jurar fidelidade à nova Constituição eram perseguidos;
a guerra civil ameaçava estourar em numerosas províncias.
Napoleão buscou conciliar os diferentes grupos em conflitos, na tentativa de restabelecer a paz e a
segurança.
Em 1799 uma nova constituição foi submetida a um plebiscito, e com a aprovação por mais de 3
milhões de votos, Napoleão agora possuía poderes ilimitados, sob o disfarce do consulado. O voto voltou
a ser universal, e os candidatos eram escolhidos através de uma lista dos mais votados. O Poder
legislativo perdeu grande parte de sua importância, tornando-se basicamente um poder formal. Era
composto de quatro assembleias: o Conselho de Estado, que preparava as leis; o Tribunal, que as
discutia; o Corpo Legislativo, que as votava; o Senado, que velava pela sua execução.
O Poder Executivo, confiado a três cônsules nomeados pelo Senado por dez anos, era o mais forte de
todos. Quem detinha efetivamente o poder era o primeiro-cônsul, que propunha, mandava publicar as
leis e nomeava os ministros, os oficiais, os funcionários e os juízes. As guerras continuaram até 1802,
quando Napoleão assinou a Paz de Amiens, pondo fim ao conflito europeu iniciado em 1792. A
administração do Estado foi reorganizada e centralizada.
Importantes medidas financeiras, como a criação de um corpo de funcionários para arrecadar os
impostos e a fundação do Banco da França (que recebe o direito de emitir papel moeda), foram tornadas,
melhorando sensivelmente a situação econômica do pais.
Na educação, o ensino secundário foi organizado com o objetivo de instruir funcionários para o Estado.
Uma das maiores contribuições do de Napoleão foi a criação do Código Civil, inspirado no Direito
Romano, nas Ordenações Reais e no Direito Revolucionário; completado em 1804, continua, na essência,
em vigor até hoje na França.
As relações com a Igreja Católica foram retomadas, através de Concordata com o papa. O sumo-
pontífice aceitou o confisco dos bens eclesiásticos e o Estado ficou proibido de interferir no culto; os
bispos, indica dos pelo governo e investidos de funções religiosas pelo papa, prestariam juramento de
fidelidade ao governo; as bulas só entrariam em vigor de pois de aprovadas por Napoleão.
Os êxitos obtidos tanto internamente como externamente permitiram a Napoleão conquistar o direito
de nomear seu sucessor, garantido pelo senado, em 1802. Na prática, estabelecia-se uma Monarquia
hereditária.
Com o reinício dos conflitos externos, em 1803, o Consul aproveitou-se da situação de perigo nacional
para que fosse proclamado imperador da França. Já em 1804 uma nova Constituição legalizava a
instituição do Império e convocava um plebiscito para confirmá-la. Oficializada a proclamação através da
vontade popular, Napoleão foi sagrado imperador pelo papa, e tratou de formar uma nova corte, com
muitos membros da antiga nobreza francesa.
Além do Código Civil, que já vinha sendo elaborado, foram criados o Código Comercial e o Código
Penal. A economia sofreu um grande impulso, tanto pelo aumento da produção no campo – o que levou
os camponeses a apoiarem o imperador – quanto no incentivo pela industrialização do país. Os projetos
de reformas de pontes e estradas foram concluídos e novos portos e canais concluídos.
Ao mesmo tempo em que era verificada prosperidade em algumas áreas, em outras as coisas não
pareciam caminhar tão bem. Com o aumento da popularidade, Napoleão tornava-se cada vez mais
despótico, até mesmo para os padrões da monarquia francesa. As assembleias foram suprimidas, o poder
judiciário passou cada vez mais para as mãos do imperador e as liberdades individuais foram revogadas.
A imprensa também passou a ser censurada, e o ensino modelado para garantir a obediência ao
imperador, tanto que estendeu-se à educação superior: a Universidade imperial monopolizou o ensino r
e as disciplinas consideradas perigosas para o regime (História e Filosofia) tiveram seus programas
alterados.
No plano religioso, o catecismo orientava que os deveres existiam para com Deus e também com o
Imperador. As desavenças com poder papal, que não aceitou as imposições feitas pelo imperador,
resultaram no confinamento do pontífice em Savoia e na tomada de seus Estados. Os bispos que
buscaram apoiar a Igreja foram também perseguidos.
O resultado foi uma nova onda de crises e descontentamento: a burguesia opunha-se à perda de
liberdade e às perseguições policiais; as guerras arruinavam a economia e os portos; o restabelecimento
de antigos impostos irritava os contribuintes; os jovens procuravam fugir ao serviço militar obrigatório.

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Conflitos externos
Apesar de Napoleão ter assinado com a Inglaterra a Paz de Amiens, em 1805, as ameaças francesas
promoveram a formação da primeira coligação antifrancesa, reunindo a Inglaterra, Rússia e Áustria.
Napoleão venceu em Ulm e Austerlitz, mas a esquadra franco-espanhola foi derrotada em Trafalgar pelo
almirante inglês lorde Nelson. Após a vitória contra a nova coligação, em 1806, Napoleão dissolveu o
Sacro Império Romano-Germânico, fundando a Confederação do Reno. No mesmo ano, formou-se ainda
outra aliança contra Napoleão: a Prússia, vencida em lena (Confederação do Reno), e a Rússia, em
Friedland (Prússia). Pela Paz de Tilsit, a Prússia foi desmembrada e a Rússia aliou-se à França. Após
derrotar a Prússia, decretou o Bloqueio Continental contra a Inglaterra. Em 21 de novembro de 1806, foi
decretado que os países que estavam sob o domínio do império francês estavam proibidos de fazer
comércio ou autorizar o acesso aos portos para navios ingleses. A medida visava enfraquecer o
concorrente, afim de poder dominá-lo.
Para que o bloqueio fosse efetivo, Napoleão necessitava que todas as nações sob sua influência
aderissem totalmente ao acordo, o que foi feito pela Rússia e Pela Áustria, mas não por Portugal.
Portugal era um pequeno reino na Península Ibérica, que dependia imensamente de suas colônias
para o sustento econômico. O principal parceiro econômico de Portugal era a Inglaterra, e desde 1703 os
dois países estavam sob um acordo conhecido como Tratado de Methuen, que recebeu o nome em
função do embaixador inglês que conduziu as negociações. O Tratado estabelecia o comércio de panos
ingleses e vinhos portugueses, o que a longo prazo provou-se desvantajoso para Portugal, pois o volume
panos que chegava era maior que o volume de vinhos que saía. Com o investimento na produção de
vinho, Portugal perdeu muitas das áreas de produção de alimentos, o que obrigou-o a importar parte dos
gêneros alimentícios. Além dos alimentos, Portugal deixou de investir em sua indústria, e importava uma
grande quantidade de produtos manufaturados da Inglaterra.
Por conta de todos os fatores citados, o Bloqueio Continental era desvantajoso para o pequeno país,
que optou por não aderir à estratégia de Napoleão. Sentindo-se prejudicado pela decisão portuguesa, e
vendo que seus esforços para impedir o comércio não estavam rendendo o esperado, em agosto de 1807
Napoleão envia um ultimato ao Príncipe Regente, D. João: ou Portugal rompia suas relações com a
Inglaterra, ou seria invadido.
Como Portugal manteve-se firme em sua decisão, a França assinou em conjunto com a Espanha o
Tratado de Fontainebleau, que dividia o território português entre os dois países e extinguia a dinastia
dos Bragança, à qual pertencia D. João.
Buscando manter suas relações comerciais, a Inglaterra, que possuía um poderoso poder naval,
pressionou Portugal, através de seu embaixador em Lisboa, lorde Strangford, a fugir para o Brasil.
Em novembro de 1807, o Príncipe Regente reuniu a família real e toda sua corte, totalizando cerca de
15 mil pessoas, e partiu para o Brasil, aportando em 22 de janeiro de 1808 na Bahia.
Aproveitando-se da luta de Napoleão na Espanha, a Áustria formou, em 1809, uma coligação, sendo,
porém, derrotada em Wagram, perdendo vastos territórios e transformando-se em potência secundária.
Nesse momento, o Império napoleônico encontrava-se em seu apogeu, com mais de 70 milhões de
habitantes, dos quais somente 27 milhões eram franceses. O exército francês parecia imbatível. Em 1812,
porém, a Rússia rompeu o bloqueio ao comércio inglês, sendo invadida por um poderoso exército. Apesar
da vitória na Batalha de Moscou, Napoleão foi obrigado a fazer uma retirada desastrosa, na qual morreram
milhares de homens.
Entusiasmados por este fracasso de Napoleão, Inglaterra, Áustria, Prússia, Rússia e Suécia formaram
uma coligação, derrotando os franceses na Batalha de Leipzig, em 1813. Napoleão foi então aprisionado
na ilha de Elba, de onde fugiu um ano depois, retornando à França e retomando o poder. Inicia-se o
governo dos Cem Dias. Durante esse governo, enfrentou a última coligação contra a França, sendo
derrotado pelos ingleses em Waterloo, na Bélgica, e novamente aprisionado e exilado na ilha de Santa
Helena, onde morreu em 1821.

Questões

01. A Revolução Francesa representou uma ruptura da ordem política (o Antigo Regime) e sua
proposta social desencadeou:
(A)a concentração do poder nas mãos da burguesia, que passou a zelar pelo bem-estar das novas
ordens sociais.
(B)a formação de uma sociedade fundada nas concepções de direitos dos homens, segundo as quais
todos nascem iguais e sem distinção perante a lei.
(C)a formação de uma sociedade igualitária regida pelas comunas, organizadas a partir do campo e das
periferias urbanas.
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(D) convulsões sociais, que culminaram com as guerras napoleônicas e com a conquista das Américas.
(E) o surgimento da soberania popular, com eleição de representantes de todos segmentos sociais.

02. "Artigo 6 - A lei é a expressão da vontade geral; todos os cidadãos têm o direito de concorrer,
pessoalmente ou por seus representantes, à sua formação; ela deve ser a mesma para todos, seja
protegendo, seja punindo. Todos os cidadãos, sendo iguais a seus olhos, são igualmente admissíveis a
todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo sua capacidade e sem outras distinções que
as de suas virtudes e de seus talentos".
("Declaração dos direitos do homem e do cidadão", 26 de agosto de 1789.)

O artigo acima estava diretamente relacionado aos ideais


(A) socialistas que fizeram parte da Revolução Mexicana.
(B) capitalistas que fizeram parte da Independência dos EUA.
(C) comunistas que fizeram parte da Revolução Russa.
(D) iluministas que fizeram parte da Revolução Francesa.
(E) anarquistas que fizeram parte da Inconfidência Mineira.

03. A Revolução Francesa de 1789 foi diretamente influenciada pela Independência dos Estados
Unidos da América e pelo Iluminismo no combate ao Antigo Regime e à autoridade do clero e da nobreza
na França. Além do mais, a França passava por um período de crise econômica após a participação
francesa na guerra da independência norte-americana e os elevados custos da Corte de Luís XVI, que
tinham deixado as finanças do país em mau estado. Em 1791, os revolucionários promulgaram uma nova
Constituição, a partir dos princípios preconizados por Montesquieu, que consagrou, como fundamento do
novo regime:
(A) a subordinação do Judiciário ao Legislativo.
(B) a divisão do poder em três poderes.
(C) a supremacia do Judiciário sobre os outros poderes.
(D) o estabelecimento da soberania popular.
(E) o fortalecimento da monarquia absolutista.

04. De um modo geral, observa-se como numa sociedade a intervenção dos detentores do poder no
controle do tempo é um elemento essencial (...). Depositário dos acontecimentos, lugar das ocasiões
místicas, o quadro temporal adquire um interesse particular para quem quer que seja, deus, herói ou
chefe, que queira triunfar, reinar, fundar.
JACQUES LE GOFF
Adaptado de "Memória-História". Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1984.

Diversas experiências políticas contemporâneas alteraram as representações do tempo histórico, na


forma como são mencionadas no texto. Uma ação política que exemplifica essa intervenção no controle
do tempo, e que resultou na implantação de um novo calendário, ocorreu no contexto da revolução
denominada:
(A) Cubana
(B) Francesa
(C) Mexicana
(D) Americana

05. O início da Revolução Francesa tem como marco simbólico:


(A) a Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789
(B) a instalação da Assembleia dos Estados Gerais, em maio de 1789
(C) a "Noite do Grande Medo"
(D) a aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em agosto de 1789
(E) a execução do rei Luís XVI, em 1793

Respostas

01. Resposta B.
A partir da Revolução francesa é redigida a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que
pregava uma igualdade jurídica entre as pessoas. A revolução e a declaração porém não garantiram a
igualdade social da população.

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02. Resposta D.
O iluminismo esteve presente de maneira enraizada nos ideais revolucionários, como pode ser
observado no lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade, além de uma defesa pelos direitos dos cidadãos
presente na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

3. Resposta B.
Montesquieu foi um defensor da ideia de que o poder, se concentrado nas mãos de uma única pessoa,
seria mal utilizado. Para combater essa falha propõe que exista uma divisão de poderes entre Legislativo,
Executivo e Judiciário. Os princípios defendidos por Montesquieu iam de encontro as ideias iluministas,
inclusive sendo adotados ainda hoje na sociedade Brasileira.

4. Resposta B.
A revolução Francesa representou uma mudança muito grande na forma de entendimento de política
e organização de uma sociedade. Durante sua fase mais radical foi criado até mesmo um novo calendário
baseado nos ideais iluministas e rompendo com o calendário Gregoriano, de origem cristã.

5. Resposta A.
A Bastilha, que funcionava como uma prisão, representava também o símbolo da opressão do Antigo
Regime na sociedade francesa. Sua tomada e queda representam o domínio da população sobre o antigo
sistema e a dominação do rei.

A afirmação do capitalismo e do liberalismo: Revolução Industrial, Ideologias do


século XIX (liberalismo, socialismo utópico e científico, doutrina social da igreja,
anarquismo).

Revolução Industrial
A revolução industrial é um dos momentos de maior importância e influência sobre o modo de vida das
sociedades atuais. Ela marca a passagem e as transformações sociais ocorridas primeiramente na
Europa e que se espalharam pelo restante do mundo, principalmente a passagem da sociedade rural
para a sociedade urbana e a transformação do trabalho artesanal e manufatureiro para o trabalho
assalariado e a organização fabril.
A Revolução Industrial normalmente é dividida em três fases:

A Primeira Fase que vai de 1760 a 1850, predominantemente na Inglaterra, quando surgiram as
primeiras maquinas a vapor;
A Segunda Fase que vai de 1830 a 1900 e marca a difusão da revolução por países europeus como
Bélgica, França, Alemanha e Itália, além dos Estados Unidos e Japão. Durante esse período surgem
formas alternativas de energia, como a hidrelétrica e motores de combustão interna, movidos a gasolina
e diesel.
A Terceira Fase começa em 1900, caracterizada pela inovação nas comunicações e o aumento da
produção em massa.

O que é Industrialização?
A industrialização pode ser entendida como a transformação de matérias-primas para serem
consumidas e utilizadas pelo ser humano.
A transformação de matérias-primas em produtos através da utilização de maquinas é conhecida como
maquinofatura. A transformação manual é conhecida como manufatura e existe também o artesanato,
em que o processo de produção é efetuado por uma única pessoa do início ao fim. O processo artesanal
também pode ser conhecido como indústria doméstica.
A manufatura é um estágio mais avançado, em que numerosos trabalhadores dividem um mesmo
espaço, possuem funções definidas e são coordenados por um chefe que gerencia a produção.
A maquinofatura e a manufatura possuem diferenças em relação às maquinas e ferramentas que são
utilizadas.
Um dos elementos marcantes da revolução industrial foi a passagem da indústria doméstica para a
manufatura. Mas como isso aconteceu?
Quando os artesões não conseguiam competir com o preço dos produtos no mercado, passava a
trabalhar para um grande comerciante, que normalmente é dono dos meios necessários para a produção,

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como maquinas e ferramentas que aceleram a transformação de matéria prima em produtos. Ao trabalhar
para esse comerciante o artesão torna-se um empregado, que agora recebe um salário fixo por seus
serviços.

Como começou?
Para entender a revolução industrial é preciso entender as mudanças ocorridas na Inglaterra a partir
do século XVIII e o restante da Europa no século XIX.
Um dos fatores que colaborou com a Revolução Industrial é a melhoria de condições de higiene e
alimentação, garantindo uma maior longevidade, que aumentava o consumo de produtos e também
disponibilizava mão-de-obra para o trabalho na indústria.
As revoluções inglesas que ocorreram no século XVIII colocaram o poder político da Inglaterra nas
mãos da burguesia capitalista. Seu interesse no desenvolvimento econômico colaborou para a
organização do sistema de circulação de mercadorias através da abertura de canais, estradas, portos e
comercio exterior. Além disso os impostos foram organizados.
A subida da burguesia ao poder colaborou para o processo de cercamento de terras baldias e terras
de uso comum, o que extinguiu os yeomen, que formavam uma classe de pequenos proprietários e
trabalhadores rurais que sobreviviam do cultivo de terras arrendadas e da utilização de das áreas comuns.
Com as terras que eram utilizadas pelos yeomen confiscadas pelo governo, muitos trabalhadores rurais
acabaram migrando para as cidades em busca sobrevivência, onde acabavam tornando-se empregados
nas manufaturas.
A religião teve um importante papel para a mentalidade e economia na Inglaterra. O Puritanismo é
uma concepção da fé cristã que surgiu na Inglaterra, criada por grupos protestantes radicais após as
reformas que ocorreram no país. Inspirados pelo calvinismo, tinham a crença da acumulação, poupança
e enriquecimento, que eram vistos como demonstrativos da salvação.
Além disso, durante muito tempo, os ingleses desenvolveram sua maneira de fazer comercio e sua
agricultura. O comercio foi expandido em escala mundial, criando um grande mercado que pudesse
comprar seus produtos e absorver sua produção de produtos industrializados, em especial o algodão.
Antes do algodão, a lã foi o produto de investimento dos industriais ingleses. Percebendo sua
importância, o poder político da época buscou protegê-la através do regulamento de sua produção e
comercio com uma legislação rígida.
O algodão mostrou-se uma alternativa mais atraente para os comerciantes ingleses, devido à sua
abundancia de produção nas colônias britânicas no Oriente e nos Estados Unidos, que ainda pertenciam
à Inglaterra. Como não havia regulamentação sobre o comercio do algodão e a mão-de-obra disponível
juntamente com a matéria-prima era extremamente atraente do ponto de vista econômico, os esforços
empresariais concentraram-se nessa área.
Toda essa rede de comercio e produção garantiu para a Inglaterra o acumulo de capital, ou seja os
recursos necessários para investir e aumentar a produção industrial. Além do capital, outros fatores
ajudaram a Inglaterra a destacar-se como pioneira na revolução industrial como o aluguel de terras
produtivas, o lucro obtido na venda de matérias primas e a elevação constante de preços, que garantiam
uma grande margem de lucro para os comerciantes. Com uma grande quantidade de capital disponível
era possível fazer empréstimos que possuíam juros baixos, o que permitia fazer investimentos e
empréstimos a longo prazo, em produtos e maquinas que levavam um longo tempo para garantir retorno
e compensação financeiros.
A Inglaterra possuía além de fatores econômicos e sociais necessários para a criação de industrias,
elementos minerais que eram utilizados na construção das maquinas: Ferro e Carvão.
A existência de ferro e carvão no país colaboraram para as invenções que ajudaram a mudar a
indústria. A criação de mecanismos que aumentavam determinada etapa da produção obrigava outros
setores a buscar alternativas para acompanhar o ritmo de produção, transformando-se em um ciclo de
desenvolvimento industrial, gerados através da busca pela produção.

A industrialização e o trabalho
Para suprir a grande produção e atender o mercado consumidor, as fabricas precisavam de mão-de-
obra para operar a produção. Se antes os trabalhadores, principalmente artesãos, trabalhavam em suas
casas, agora o trabalho era concentrado no ambiente das fabricas. Para conseguir lucros as fabricas
precisavam produzir em larga escala, o que barateava a produção. Não fazia sentido a utilização de
recursos imensos como maquinas a vapor e represamento de rios para a utilização de energia hidráulica
para produzir pouco.
Outra grande mudança para os trabalhadores era a relação entre o tempo e o trabalho. Para produzir
com eficiência as fabricas precisavam organizar seus funcionários, seja em turnos ou escalas, que

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garantam que a produção nunca pare ou caia, o que ajudava a maximizar os lucros e evitar prejuízos, é
ai que entra o conceito de tempo. Até o período anterior à revolução industrial era comum que pessoas
trabalhassem sem horários ou dias fixos, normalmente até obter o necessário para os gastos da semana
ou semelhante.
Com o trabalho concentrado nas fabricas e a necessidade de manter a produção, era agora essencial
que os trabalhadores cumprissem horários determinados de entrada e saída de seus postos de serviço.
O relógio popularizou-se, já que era necessário para garantir a rotina imposta pela fábrica.
Com a introdução da maquinofatura outro importante aspecto ganha forma: a separação entre
trabalhador e meio de produção. Como assim?
Antes da Revolução Industrial um artesão era capaz de produzir com suas próprias ferramentas. Com
o trabalho nas indústrias e o custo dos equipamentos, o trabalhador agora utilizava os meios de produção,
mas não os possuía. Se antes da Revolução industrial um fabricante de tecidos utilizava seus
equipamentos como a roca de fiar, agora ele dependia de equipamentos sofisticados para tornar seus
produtos competitivos. O preço desses equipamentos normalmente atingiam valores altos, que poucas
pessoas poderiam pagar.
Como não possuía os meios necessários para produzir de maneira competitiva, a pessoa acabava
tornando-se funcionário de uma empresa, e a partir daí utilizar os meios de produção. Com essa mudança
a sociedade divide-se em duas categorias: quem possuía os meio de produção, capital, matéria prima e
equipamentos – uma pequena minoria; e as pessoas que vendiam sua força e capacidade de trabalho
para o primeiro grupo em troca de um salário.
As mudanças que ocorriam no século XVIII não agradaram a todos. Muitos artesãos e trabalhadores
ficaram insatisfeitos com as rotinas de trabalho de impostas. Não era nada incomum existirem jornadas
de trabalho de 14 a 16 horas diárias em condições extremamente desfavoráveis e arriscadas como o
barulho incessante de maquinas e o trabalho repetitivo a que se sujeitavam para receber baixos salários.
A situação era ainda mais complicada no caso de mulheres e crianças, que recebiam uma quantia menor,
independentemente do nível de trabalho executado em relação aos homens.
O desemprego era algo que assombrava as pessoas. Com a grande leva de camponeses que
buscavam oportunidade nos centros industriais, a concorrência aumentava, com os donos de fabricas
dando preferência para a mão-de-obra barata e abundante que vinha do campo. Além disso muitos
perdiam empregos quando as fabricas atingiam excessos de produção, que paralisava as atividades.
A concentração em grandes centros também prejudicava aqueles com pouco poder aquisitivo. Nas
regiões industrializadas a população crescia em ritmo acelerado, chegando a cidade a possuir mais de 1
milhão de habitantes antes do século XIX. O crescimento da população nem sempre era acompanhado
pela oferta de moradia, o que gerava alugueis com altos preços e aglomeração de pessoas em pequenos
espaços, muitas vezes abrigando diversas famílias. Nessa época a Inglaterra dividia-se em dois
contextos: a Inglaterra Negra, que era dominada por industrias, instaladas principalmente onde havia
disponibilidade de carvão, em geral no norte e oeste do país, e a Inglaterra Verde no sul e sudeste, que
era responsável pela agricultura e pastoreio.

Movimentos organizados
As dificuldades enfrentadas levaram à criação de movimentos organizados de trabalhadores que
reivindicavam melhores condições de remuneração e segurança no trabalho.
Entre os movimentos de reinvindicação que ocorreram no século XVIII, o Ludismo possui grande
importância.
Os ludistas eram contra a mecanização e a industrialização da produção e do trabalho. Ficaram
famosos por quebrarem maquinas em indústrias têxteis. Seus membros acreditavam que as maquinas
tiravam o trabalho das pessoas e que era necessário acabar com elas para garantir empregos para a
população. Apesar do movimento ludista ter durado pouco tempo (Entre 1811 e 1812) ele teve uma
grande repercussão e serviu de inspiração para movimentos posteriores. Entre os atos mais notáveis de
seus participantes está a invasão noturna na manufatura de William Cartwright que ficava no condado de
York, durante abril de 1812. 64 pessoas foram acusados de participar da invasão e julgadas um ano
depois. Dentre as penas sofridas, 13 pessoas foram condenadas à pena de morte, sob o crime de
atentado contra a manufatura de Cartwright e duas pessoas foram deportadas para as colônias britânicas.
O termo Ludismo ainda hoje é utilizado para referir-se a pessoas que são contra o desenvolvimento
tecnológico e industrial. Seu nome deriva do nome de um operário chamado Ned ludd, que supostamente
teria quebrado as maquinas de seu patrão. A história serviu de inspiração para que outras pessoas
aderissem a essa ideia.

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O Cartismo foi outro movimento importante, que ocorreu nas décadas de 1830 e 1840 na Inglaterra.
Sua origem vem da carta escrita pelo radical William Lovett, que ficou conhecida como Carta do Povo,
documento que continha as reivindicações do grupo.

Suas exigências eram:


-voto universal;
-igualdade entre os distritos eleitorais;
-voto secreto por meio de cédula;
-eleição anual;
-pagamento aos membros do Parlamento;
-abolição da qualificação segundo as posses para a participação no Parlamento;

O movimento cartista buscava melhorias nas condições dos operários, que mesmo após quase cem
anos do início da Revolução Industrial ainda eram péssimas. Possuiu uma grande adesão da população
e é considerado o primeiro grande movimento tanto de classe como de caráter nacional que lutava contra
a condição social na Grã Bretanha. A intenção era de que a Carta do Povo fosse aprovada pelo
parlamento inglês, de maneira a garantir os direitos reivindicados. O parlamento não só rejeitou a carta
como perseguiu os líderes e simpatizantes do movimento, com a intenção de acabar com sua influência.
Apesar dos esforços do parlamento, o movimento exerceu grande influência no operariado, tanto inglês
como internacional e conseguiu convocar para 1848 uma grande mobilização que estimava reunir 500 mil
trabalhadores e pressionar o parlamento. Apesar do fracasso da mobilização por conta de uma grande
tempestade, diversas leis trabalhistas foram criadas para beneficiar os trabalhadores.

As Trade Unions
Como maneira de conseguir melhores condições de trabalho, muitos trabalhadores partiram para a
formação de associações e clubes para lutar por seus direitos. Entre as primeiras organizações desse
tipo surgiu o clube dos tecedores e artesãos na Inglaterra na primeira metade do século XVIII e que teve
uma curta duração, pois assim que seus membros atingiram os objetivos desejados foi dissolvido.
Em várias partes da Inglaterra, em especial nas cidades com grande concentração de indústrias como
Lancashire, Yorkshire e Manchester, diversas sociedades de trabalhadores (conhecidas como Trade
Unions) começam a aparecer com o objetivo de promover ajuda mútua entre os trabalhadores.
É claro que os patrões ficaram atentos ao movimento dos trabalhadores e também se organizaram
para conter as revoltas. Uma das formas de protesto mais prejudiciais para a indústria, até hoje, eram as
greves. Com trabalhadores paralisados em manifestações e protestos, as maquinas paravam e portanto
não produziam, o que afetava os lucros. De olho em formas de conter tanto greves como associações,
os empresários e patrões tiveram que recorrer à influência que possuíam no governo da Inglaterra. Em
1799 uma lei foi criada para proibir as associações de trabalhadores, que foi derrubada pela oposição
forte que eles conseguiram fazer. Além de leis também era utilizada a violência para conter o aumento de
associações de trabalhadores. Apesar da grande disputa entre os dois lados, em 1824 as leis que
proibiam as associações foram revogadas.

Outros países na disputa


Durante mais de 50 anos, desde 1760 até 1930, a Revolução Industrial ocorreu praticamente na
Inglaterra, que fez o possível para manter as maquinas e técnicas de produção em seu território. Apesar
de toda a legislação e proibições, muitos fabricantes tinham interesse em expandir seus negócios.
Em 1807 William Cockrill criou fabricas para a produção de tecidos na Bélgica, que se desenvolveram
com bastante eficiência, já que além do interesse também haviam ferro e carvão disponíveis em
quantidades satisfatórias.
A França passava por um período turbulento na época, com o fim da Revolução Francesa. Além disso
havia uma tradição da pequena indústria no país juntamente com a produção de artigos de luxo. Somente
após 1848 a indústria começa a desenvolver-se timidamente e com uma política protecionista de
mercado, ou seja, com o impedimento de importações e o incentivo de exportação de produtos franceses.
Tanto Itália como Alemanha começam a desenvolver suas industrias após 1870, quando os países
terminam seus processos de unificação.
Fora da Europa os Estados Unidos foram o único país a desenvolver com êxito a Revolução Industrial,
com uma grande produção de artigos manufaturados no fim do século XIX

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A segunda Revolução Industrial
No final do século XIX novas tecnologias propiciaram o que ficou conhecido como Segunda
Revolução Industrial ou Revolução Tecno-científica. A produção agora não estava restrita somente a
tecidos e produtos do gênero, com o investimento em pesquisa e produção em outras áreas e a
descoberta de novas fontes de energia e transporte.
No setor energético duas mudanças foram significativas: a utilização de produtos derivados do
petróleo e a energia elétrica. Edwin Drake perfurou o primeiro poço de petróleo em 1859, no estado da
Pensilvânia. A técnica utilizada por Drake foi desenvolvida a partir das técnicas de exploração das minas
de sal. A descoberta de uma maneira viável de extrair o petróleo ajudou a expandir sua utilização em
vários setores industriais.
O dínamo industrial também foi um passo muito importante e marcou a passagem da utilização do
carvão para a energia elétrica, que se mostrava mais barata e eficiente. O dínamo é um aparelho que
gera corrente contínua, convertendo energia mecânica em eléctrica, através de indução eletromagnética.
A descoberta de novas técnicas para a produção de aço, como o processo de Bessemer na Inglaterra
possibilitou a criação de maquinas mais resistentes. A indústria química também se desenvolveu e
possibilitou a criação de novos ramos de produção como tintas, corantes, fertilizantes e munições.
Os transportes se desenvolveram em grande escala com a invenção e aprimoramento de maquinas
a vapor, com destaque para a locomotiva criada na Inglaterra em 1814 e o navio a vapor em 1805 nos
Estados Unidos. A criação de meios de transporte mais rápidos e eficientes possibilitou uma melhor
movimentação no transporte de cargas e produtos, deixando de depender de condições climáticas e
naturais. Um exemplo são os trilhos da locomotiva que estavam sempre no mesmo lugar e evitavam que
ela atolasse ou tivesse que parar durante a viagem. Os navios também não dependiam mais da força dos
ventos para navegar.
Outras invenções que revolucionaram o setor de transportes foram o avião, no início do século XX e
motor de combustão interna, que popularizou a utilização do automóvel como meio de transporte.
As comunicações passaram por grandes mudanças durante o período e permitiram o contato entre
duas pessoas a uma longa distância através de mensagens em tempo real. Em 1837 Samuel Morse
inventou o telégrafo nos Estados Unidos e ao longo do século XIX a colocação de cabos submarinos
permitiram a ligação telegráfica entre os Estados Unidos e a Europa.
O trabalho também passou por diversas mudanças que buscavam aumentar a eficiência e os lucros
das empresas através da organização da produção. O fordismo e o taylorismo foram as duas principais
ideias adotadas.
O Fordismo tem como características: produção em série e a introdução de linhas de produção
mecanizadas. É famosa a frase de seu idealizador Henry Ford quando se referia ao seu famoso
automóvel, o Ford T: “Quanto ao meu automóvel, as pessoas podem tê-lo em qualquer cor, desde que
seja preta!”. Acontece que, para a Linha de Produção Fordista, a cor preta é o que secava mais rápido.
No Taylorismo existe o controle da produtividade dos operários através da análise técnica de seus
gestos e movimentos diante das maquinas.
As grandes inovações e novas invenções que surgiam quase diariamente tornavam cada vez mais
difícil os investimentos feitos por uma única pessoa. Nesse contexto os bancos ganham muito destaque,
lucrando através de empréstimos e de ações de empresas na bolsa de valores. Você sabe como funciona
a bolsa de valores?

A bolsa de valores é o mercado organizado onde se negociam ações de sociedades de capital


aberto (públicas ou privadas) e outros valores mobiliários, tais como as opções
Tudo começa quando uma empresa decide lançar ações ao público. Essa iniciativa é
conhecida como abrir o capital. Com o capital aberto, novos acionistas são atraídos e injetam
dinheiro na empresa. Em caso de lucro, todos ganham. Se houver prejuízo, as perdas também
são divididas proporcionalmente. Para participar das apostas na bolsa, a companhia precisa
credenciar-se em uma corretora de valores. Essas instituições estão por trás de todas as
negociações, fazendo as transações para quem quer investir em ações e mantendo a bolsa
financeiramente.

Neste período as práticas monopolistas também se intensificaram. As consequências foram o


acumulo de capital nas mãos de poucos grupos ou pessoas. Assim surge o que ficou conhecido como
capitalismo financeiro ou monopolista.
O monopólio é a pratica de dominação do mercado através do controle de um determinado produto.
Além do monopólio outras práticas surgiram e se fortaleceram:

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Cartel: O cartel é um acordo entre empresas independentes com a finalidade de criar uma ação
coordenada para o estabelecimento de preços. Atualmente no Brasil a prática de cartel é considerada
uma atividade criminosa, e como exemplo é possível citar os carteis em redes de postos de combustível.
Dumping: O dumping é a pratica da venda de produtos a um preço artificialmente baixo, para eliminar
a concorrência e voltar a praticar preços mais altos.
Holding: O holding é a pratica de uma empresa controlar as ações de diversas outras empresas.
Sociedades anônimas: são um tipo de sociedade em que o capital é dividido em ações que podem
ser livremente negociáveis.
Truste: É a fusão de empresas que visam obter controle sobre alguma atividade econômica.

A Terceira Revolução Industrial


A Terceira Revolução Industrial ocorre após o termino da Segunda Guerra Mundial, em meados de
1940. Sua principal característica é o uso de tecnologias avanças para a produção industrial e teve como
líder os Estados Unidos e ajudou o país a firmar-se como grande potência econômica.
As fontes de energia passam a ter importância maior ainda e começa a busca por fontes alternativas
como a energia nuclear e eólica.
A tecnologia tem papel fundamental na para a Terceira Revolução Industrial. Sua utilização vem sendo
cada vez mais explorada e comercializada.
Uma grande mudança proporcionada pela tecnologia é a disputa com a mão-de-obra humana. Linhas
de produção passaram a dispensar trabalhadores e substitui-los por maquinas que conseguem fazer o
serviço com mais rapidez e precisão e abrir o leque de industrias ainda mais, com destaque para a
Biotecnologia e a Nanotecnologia.
No cenário mundial surgem outras potências tecnológicas como a Alemanha, o Japão e a China. A
globalização é um fenômeno bem característico do período, com a produção de produtos com peças que
são fabricados em diversas partes do mundo.
Com o grande investimento e desenvolvimento da tecnologia, ela passa a ser cada vez mais acessível
para as pessoas, o que revolucionou novamente os meios de comunicação com a produção em massa e
de baixo custo de telefones celulares, computadores pessoais, notebooks, tablets e smartfones.

Questões

01. "As primeiras máquinas a vapor foram construídas na Inglaterra durante o século XVIII. Retiravam
a água acumulada nas minas de ferro e de carvão e fabricavam tecidos, muitos tecidos. Graças às
máquinas a vapor, a produção de mercadorias ficou muito maior."
(Schmidt, Mário. "Nova História Crítica". São Paulo: Nova Geração, 2002).

O texto citado refere-se:


(A) à Revolução Francesa
(B) à Revolução Industrial
(C) à Revolução Gloriosa
(D) ao Renascimento
(E) à Revolução Russa

02. "Um fato saliente chamou a atenção de Adam Smith, ao observar o panorama da Inglaterra: o
tremendo aumento da produtividade resultante da divisão minuciosa e da especialização de trabalho.
Numa fábrica de alfinetes, um homem puxa o fio, outro o acerta, um terceiro o corta, um quarto faz-lhe a
ponta, um quinto prepara a extremidade para receber a cabeça, cujo preparo exige duas ou três
operações diferentes: colocá-la é uma ocupação peculiar; prateá-la é outro trabalho. Arrumar os alfinetes
no papel chega a ser uma tarefa especial; vi uma pequena fábrica desse gênero, com apenas dez
empregados, e onde consequentemente alguns executavam duas ou três dessas operações diferentes.
E embora fossem muito pobres, e portanto mal acomodados com a maquinaria necessária, podiam fazer
entre si 48.000 alfinetes num dia, mas se tivessem trabalhado isolada e independentemente, certamente
cada um não poderia fazer nem vinte, talvez nem um alfinete por dia."
FARIA, Ricardo de Moura et all. "História". Vol. 1. Belo Horizonte: Lê, 1993. [adapt.].

O documento sobre a Revolução Industrial, na Inglaterra,


(A) relaciona a divisão de trabalho com a alta produtividade, situação bem diferente da produção
artesanal característica da Idade Média.

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(B)enfatiza o trabalho em série e as condições do trabalhador nas fábricas, reforçando a importância das
leis trabalhistas, no início da Idade Moderna.
(C) demonstra que a produtividade está diretamente relacionada ao número de empregados da fábrica,
ao contrário das Corporações de Ofício, em que a produção artesanal dependia do mestre.
(D)destaca a importância da especialização do trabalho para o aumento da produtividade, situação
semelhante à que ocorria nas Corporações de Ofício, de que participavam aprendizes, oficiais e mestre.
(E)evidencia as ideias fisiocráticas e mercantilistas, ao realçar a divisão do trabalho, características
marcantes da Revolução Comercial.

03. São razões para a ocorrência da Revolução Industrial, que teve como berço a Inglaterra:
(A) forte envolvimento britânico nas guerras continentais em consequência da sua localização.
(B) os "cercamentos" que ampliaram as áreas de cultivo agrícola.
(C) rede fluvial limitada.
(D) riqueza abundante do subsolo, com a presença de ferro, estanho, carvão dentre outros minerais.
(E) alta concentração de camponeses nas áreas rurais.

04. Leia os dois textos seguintes.


"No Ocidente Medieval, a unidade de trabalho é o dia [...] definido pela referência mutável ao tempo
natural, do levantar ao pôr-do-sol. [...] O tempo do trabalho é o tempo de uma economia ainda dominada
pelos ritmos agrários, sem pressas, sem preocupações de exatidão, sem inquietações de produtividade".
(Jacques Le Goff. "O tempo de trabalho na 'crise' do século XIV".)

"Na verdade não havia horas regulares: patrões e administradores faziam conosco o que queriam.
Normalmente os relógios das fábricas eram adiantados pela manhã e atrasados à tarde e em lugar de
serem instrumentos de medida do tempo eram utilizados para o engano e a opressão".
(Anônimo. "Capítulos na vida de um menino operário de Dundee", 1887.)

Entre as razões para as diferentes organizações do tempo do trabalho, pode-se citar:


(A)a predominância no campo de uma relação próxima entre empregadores e assalariados, uma vez que
as atividades agrárias eram regidas pelos ritmos da natureza.
(B)o impacto do aparecimento dos relógios mecânicos, que permitiram racionalizar o dia de trabalho, que
passa a ser calculado em horas no campo e na cidade.
(C) as mudanças trazidas pela organização industrial da produção, que originou uma nova disciplina e
percepção do tempo, regida pela lógica da produtividade.
(D)o conflito entre a Igreja Católica, que condenava os lucros obtidos a partir da exploração do
trabalhador, e os industriais, que aumentavam as jornadas.
(E)a luta entre a nobreza, que defendia os direitos dos camponeses sobre as terras, e a burguesia, que
defendia o êxodo rural e a industrialização.

05. A Revolução Industrial, iniciada na segunda metade do século XVIII, gerou profundas
transformações, econômicas e sociais.
Entre essas transformações, pode-se apontar
(A) a retração do mercado consumidor nos países industrializados.
(B) a superação do conflito capital-trabalho em face dos acordos sindicais.
(C) a dominação de todas as etapas da produção pelo trabalhador.
(D) a proliferação do trabalho doméstico nas áreas mais mecanizadas.
(E) a redução dos preços ampliando o mercado consumidor.

Respostas

1. Resposta B.
O aprimoramento e a invenção de novas tecnologias de produção permitiram uma grande mudança
na maneira de produzir. Maquinas faziam em um tempo menor o trabalho dos homens, gerando menos
gastos e mais lucros. Esse conjunto de mudanças ficou conhecido como revolução industrial

2. Resposta A.
A divisão do trabalho foi um grande avanço para o aumento da produção. A partir da divisão era
possível aumentar consideravelmente a quantidade de produtos, mesmo com funcionários de baixa

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instrução e conhecimento do ofício pois as operações tornavam-se simples e rápidas, de modo que
qualquer pessoa pudesse executá-las.

3. Resposta D.
Além do grande potencial mineral do subsolo da Inglaterra, o acumulo de capital garantido pelas
atividades de comercio marítimo e exploração colonial foram outro fator que garantiram aos país as
condições necessárias para iniciar o processo de industrialização.

4. Resposta C.
O modo de produção industrial estava ligado à quantidade de produtos que os funcionários pudessem
criar. A partir de agora o relógio domina a rotina e a vida das pessoas, tornando-se cada vez mais popular
e presente na sociedade.

5. Resposta E.
A partir da Revolução Industrial a produção passa a fazer parte importante do contexto das fábricas.
O aumento da produção significava a diminuição nos preços e consequentemente um alcance maior do
público consumidor de produtos. Durante o período as máquinas já faziam parte importante do processo
de produção e as condições de trabalho eram árduas, com jornadas que chegavam até 16 horas diárias,
havendo ainda uma diferenciação em relação ao pagamento de homens mulheres e crianças.

Liberalismo
John Locke (Wringtown, 29 de agosto de 1632 — Harlow, 28 de outubro de 1704) foi um filósofo inglês
e ideólogo do liberalismo, sendo considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos
principais teóricos do contrato social.
Locke rejeitava a doutrina das ideias inatas e afirmava que todas as nossas ideias tinham origem no
que era percebido pelos sentidos. A filosofia da mente de Locke é frequentemente citada como a origem
das concepções modernas de identidade e do "Eu". O conceito de identidade pessoal, seus conceitos e
questionamentos figuraram com destaque na obra de filósofos posteriores, como David Hume, Jean-
Jacques Rousseau e Kant. Locke foi o primeiro a definir o "si mesmo" através de uma continuidade de
consciência. Ele postulou que a mente era uma lousa em branco (tabula rasa). Em oposição ao
Cartesianismo, ele sustentou que nascemos sem idéias inatas, e que o conhecimento é determinado
apenas pela experiência derivada da percepção sensorial.
Locke escreveu o Ensaio acerca do Entendimento Humano, onde desenvolve sua teoria sobre a
origem e a natureza do conhecimento. Suas ideias ajudaram a derrubar o absolutismo na Inglaterra.
Locke dizia que todos os homens, ao nascer, tinham direitos naturais - direito à vida, à liberdade e à
propriedade. Para garantir esses direitos naturais, os homens haviam criado governos. Se esses
governos, contudo, não respeitassem a vida, a liberdade e a propriedade, o povo tinha o direito de se
revoltar contra eles. As pessoas podiam contestar um governo injusto e não eram obrigadas a aceitar
suas decisões.
A palavra "liberal" deriva do latim, liber ("livre", ou "não-escravo"), e está associada com a palavra
"liberdade", libertário.
O liberalismo é um sistema político-econômico baseado na defesa da liberdade individual, nos campos
econômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivas do poder estatal.
Apesar de diversas culturas e épocas apresentarem indícios das ideias liberais, o liberalismo
definitivamente ganhou expressão moderna com os escritos de John Locke (1632 - 1704) e Adam Smith
(1723-1790). Seus principais conceitos incluem individualismo metodológico e jurídico, liberdade de
pensamento, liberdade religiosa, direitos fundamentais, estado de direito, governo limitado, ordem
espontânea, propriedade privada, e livre mercado

Definição
Liberalismo pode ser definido como um conjunto de princípios e teorias políticas, que apresenta como
ponto principal a defesa da liberdade política e econômica. Neste sentido, os liberais são contrários ao
forte controle do Estado na economia e na vida das pessoas.

Origem
O pensamento liberal teve sua origem no século XVII, através dos trabalhos sobre política publicados
pelo filósofo inglês John Locke. Já no século XVIII, o liberalismo econômico ganhou força com as ideias
defendidas pelo filósofo e economista escocês Adam Smith.
Podemos citar como princípios básicos do liberalismo:

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- Defesa da propriedade privada;
- Liberdade econômica (livre mercado);
- Mínima participação do Estado nos assuntos econômicos da nação (governo limitado);
- Igualdade perante a lei (estado de direito);

Doutrina Social da Igreja16


A expressão “doutrina social da Igreja” designa o conjunto de orientações da Igreja Católica para os
temas sociais. Ela reúne os pronunciamentos do magistério católico sobre tudo que implica a presença
do homem na sociedade e no contexto internacional. Trata-se de uma reflexão feita à luz da fé e da
tradição eclesial.
A função da doutrina social é o anúncio de uma visão global do homem e da humanidade e a denúncia
do pecado de injustiça e de violência que de vários modos atravessa a sociedade.
Sendo assim, não é uma ideologia, nem se confunde com as várias doutrinas políticas construídas
pelo homem. Ela poderá encontrar pontos de concordância com as diversas ideologias e doutrinas
políticas quando estas buscam a verdade e a construção do bem comum, mas irá denunciá-las sempre
que se afastarem destes ideais.
A doutrina social da Igreja “situa-se no cruzamento da vida e da consciência cristã com as situações
do mundo e exprime-se nos esforços que indivíduos, famílias, agentes culturais e sociais, políticos e
homens de Estado realizam para lhe dar forma e aplicação na história” (João Paulo II, Carta encicl.
Centesimus annus, 59).
Ela busca o desenvolvimento humano integral, que é “o desenvolvimento do homem todo e de todos
os homens” (Paulo VI, Carta encicl. Populorum Progressio, 42; Bento XVI, Carta encicl. Caritas in veritate,
8).
Ao anunciar o Evangelho à sociedade em seu ordenamento político, econômico, jurídico e cultural, a
Igreja quer atualizar no curso da história a mensagem de Jesus Cristo. Ela busca colaborar na construção
do bem comum, iluminando as relações sociais com a luz do Evangelho.
A expressão “doutrina social” remonta a Pio XI (Carta encicl. Quadragesimo anno, 1931). Designa o
corpus doutrinal referente à sociedade desenvolvido na Igreja a partir da encíclica Rerum novarum (1891),
de Leão XIII. Em 2004, foi publicado o Compêndio de Doutrina Social da Igreja, organizado pelo Pontifício
Conselho Justiça e Paz, que apresenta de forma sistemática o conteúdo da doutrina social da Igreja
produzido até aquela ocasião. A partir daí, este se tornou o documento de referência obrigatório para
quem deseja aprofundar-se neste campo.
Considerado o primeiro grande documento da doutrina social da Igreja, a Rerum novarum aborda a
questão operária no fim do século XIX. Leão XIII denuncia a penosa situação dos trabalhadores das
fábricas, afligidos pela miséria, num contexto profundamente transformado pela revolução industrial.
Depois da Rerum novarum, apareceram diversas encíclicas e mensagens referentes aos problemas
sociais.
Com sua doutrina social, a Igreja não quer impor-se à sociedade, mas sim fornecer critérios de
discernimento para a orientação e formação das consciências. Nesta perspectiva, a doutrina social
cumpre uma função de anúncio de uma visão global do homem e da humanidade, e também de denúncia
do pecado de injustiça e de violência que de vários modos atravessa a sociedade (Compêndio da Doutrina
Social da Igreja – CDSI –, 81). Não entra em aspectos técnicos nem se apresenta como uma terceira via
para substituir sistemas políticos ou econômicos.
Seu propósito é religioso, sendo matéria do campo da teologia moral. Sua finalidade é interpretar as
realidades da existência do homem, examinando a sua conformidade com as linhas do ensinamento do
Evangelho. É uma doutrina dirigida em especial a cada cristão que assume responsabilidades sociais,
para que atue com justiça e caridade. Ou seja, visa a orientar o comportamento cristão.
Por isso, a doutrina social implica “responsabilidades referentes à construção, à organização e ao
funcionamento da sociedade: obrigações políticas, econômicas, administrativas, vale dizer, de natureza
secular, que pertencem aos fiéis leigos, não aos sacerdotes e aos religiosos” (CDSI, 83).

Anarquismo

A palavra Anarquia possui origem na língua grega. Anarquia vem do grego anarkos (an=não,
arkos=poder) ou acracia (a=sem, cracia=governo), sem governo, sem autoridade, sem hierarquias, logo
sem estado, negando qualquer princípio de autoridade.
16 BRASIL, ALETEIA. O que é a doutrina social da Igreja? Aleteia. Disponível em: < http://pt.aleteia.org/2013/02/01/o-que-e-a-doutrina-social-da-igreja/> Acesso

em 03 de maio de 2017.

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Ao contrário do significado popularmente atribuído, o termo não consiste em um sinônimo de desordem
ou baderna. Na verdade, resume a oposição política a qualquer forma de poder que limite as liberdades
individuais. Os indivíduos na sociedade anarquista devem adotar formas de cooperação voluntária e
autodisciplina, capazes de estabelecer um equilíbrio ideal entre a ordem social e as liberdades do
indivíduo.
Essa oposição do anarquismo às instituições se inspira na ideia de que o homem precisa ser
completamente livre para o alcance da liberdade. Em outras palavras, o anarquismo defende que a
liberdade humana parte dos próprios homens e não de suas instituições. A responsabilidade do indivíduo
deveria tomar o lugar das regras dos líderes e governos. Inspirando diversos trabalhadores pelo mundo,
a ideologia anarquista atuou fortemente nos sindicatos e mobilizações trabalhistas, entre o fim do século
XIX e o início do século XX.
O anarquismo foi um movimento contemporâneo às teorias socialistas desenvolvidas por Karl Marx e
Friedrich Engels. Um dos primeiros a lançar as primeiras ideias anarquistas foi William Godwin (1756 –
1836), que propôs uma radical transformação nas bases organizacionais da sociedade. Ele acreditava na
criação de uma organização comunitária fundada na abolição da propriedade privada e o repúdio a
qualquer tipo de lei ou governo. A razão seria o guia maior dessa nova sociedade e a total liberdade ética
e política deveriam ser garantidas.
Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865) foi outro importante pensador anarquista. Em sua principal obra
“O que é propriedade?”, propôs críticas contundentes ao sistema capitalista. Inspirado por alguns
pressupostos do socialismo utópico, ele defendia a criação de um regime político que seria guiado por
uma “república de pequenos proprietários”. Bancos e cooperativas deveriam ser criadas para fornecer,
sem juros, recursos a toda e qualquer atividade produtiva realizável em pequenas propriedades.
Mikhail Bakunin (1814 – 1876) foi um dos maiores seguidores das teses de Proudhon. Discordante das
teorias marxistas, Bakunin não aceitava a ideia de que o alcance de uma sociedade comunista passava
pela manutenção de um Estado transitório. Para Bakunin, a abolição do Estado deveria ser imediata. Por
isso, ele defendeu o uso da violência para que os governos fossem rapidamente extinguidos. Nem mesmo
os partidos políticos eram vistos como vias de representação da liberdade de pensamento humano.

Socialismo Utópico e Socialismo Científico17


O Socialismo, bem como sua vertente mais bem acabada, o comunismo, é a mais importante proposta
teórica revolucionária dos tempos modernos. Suas origens remontam ao início do século XIX, quando do
esforço burguês para apaziguar as agitações operárias, alguns membros reformadores da classe
formularam críticas severas a nova sociedade industrial e aos sistemas socioeconômicos capitalistas.
Segundo eles, a produção e a distribuição de renda e de produtos deveriam ser planejadas, e as relações
de trabalho tinham que ser modificadas a fim de tornarem-se mais justas. O Socialismo, então, surge
dessas formulações e ramifica-se em duas correntes: Socialismo Utópico e Socialismo Científico.
Em geral, desde o momento em que surge a propriedade privada dos meios de produção, e com ela
os antagonismos de classe, levantaram-se vozes e surgiram movimentos-isolados sempre-contra as
injustiças, os abusos da opulência, as esperanças de um futuro melhor. O elemento comum em todos
esses movimentos, é que nenhum tinha por ideal a implantação da propriedade comunal, coletiva para
toda a sociedade, mas apenas para um setor de classe ou para os adeptos, os “eleitos” de uma seita
religiosa qualquer. Nada disso, ao nosso ver, pode ser confundido com Socialismo.
A primeira vez em que é colocada a questão da propriedade coletiva, igualitária em termos de uma
sociedade inteira, (e não apenas facções dela), surgiu no século XIX, de maneira um tanto romântica,
como descrição de sociedades imaginárias.
Aí estaria a pré-história do Socialismo. Este divide-se em três momentos: o socialismo reacionário
(feudal, pequeno-burguês), o socialismo utópico e o socialismo científico. A esses dois últimos, entretanto,
será dedicado este trabalho, que tem por pretensão apresentar a diversidade e a riqueza de que o
pensamento socialista é portador, enfocando também as distinções entre ambos, bem como os principais
pensadores que os representam.

O socialismo utópico e o socialismo científico


A ideologia Socialista Moderna é essencialmente fruto dos ideais que impulsionaram a Revolução
Francesa e do advento da industrialização com a Revolução Industrial Inglesa. Esses dois grandes
eventos históricos trouxeram um estado de conflito entre duas classes sociais antagônicas: a burguesia

17 DENIS, Wesley. Socialismo utópico e científico. Disponível em: < https://deniswesley.wordpress.com/2013/07/12/socialismo-utopico-e-socialismo-cientifico/>

Acesso em 03 de maio de 2017.

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conquistadora(exploradores) e o proletariado em formação(explorados). Assim, os socialistas têm se
empenhado, desde então, a eliminar ou pelo menos atenuar tal conflito.
Entre o final do século XVIII e início do século XIX, reformadores da época evidenciavam e até
exaltavam as injustiças sociais, porém, não tratavam das possíveis soluções para o problema em questão.
Em meio a presença das desigualdades sociais e a ausência de soluções para tal problemática, os
homens começaram a fabricar em seu cérebro sistemas sociais melhores do que aquele que gerava as
injustiças. Surge, então, o Socialismo Utópico, uma concepção de espírito determinada pela existência
das desigualdades entre as classes, defendendo a ideia de que o elixir para os males sociais tinha que
ser buscado no cérebro dos homens e não da evolução da sociedade.
A utopia dessa vertente do pensamento socialista está justamente no fato dele consistir menos no
conteúdo do seu sistema do que no fato de não ter em nenhuma conta o grau de maturidade do período
histórico considerado, vendo portanto, as transformações sociais como fruto do estado de espírito de
justiça dos homens. Em suma, os utópicos não se baseavam num método de análise da realidade (ao
contrário de Marx com o Socialismo Científico), sendo suas ideias fruto do idealismo pequeno-burguês.
Saint-Simon é um dos principais representantes do Socialismo Utópico. Para ele, a sociedade estava
repousada na indústria e esta, juntamente da tecnologia, poriam fim a miséria. Sua doutrina era baseada
na filosofia do trabalho, alegando quem sem este, nada existiria. Condenava, então, a ociosidade, para
ele muito bem representada pelo poderio clerical-feudal, defendendo a ideia de que o governo deveria
estar sob o comando dos “produtores” (tanto os empresários quanto os operários).
No período de 1818 à 1820, Saint-Simon passa a refletir sobre a parte mais numerosa da nação
trabalhadora (a parte oprimida e dominada), em busca de uma solução para melhorar as condições de
vida dessas pessoas. Essa sua reflexão exerceu uma forte dose de influência para alguns de seus
discípulos, a exemplo de Marx, principalmente com a abordagem que fez sobre a luta de classes:” A
espécie humana esteve até o presente dividida entre duas frações desiguais, sendo que a menor delas
constantemente empregou todas as suas forças, e muitas vezes até uma parte das forças da maior para
dominar esta última.”
Hegel é outro grande exemplo a ser destacado quando falamos em Socialismo Utópico. Ele propõe
uma articulação entre um sistema de pensamento que demonstre a unidade de todas as coisas como um
“espírito absoluto” através da dialética, que consiste no movimento de suprassunção das oposições entre
pensamento e realidade, unificando o absoluto no espírito, o que ele denomina de História. Trataria-se de
uma dinâmica que, a partir da contradição dos opostos, surgiria uma síntese contendo a unidade do que
era divido anteriormente. O tempo, por exemplo, corresponderia a dinâmica desse processo dialético,
posto que quando ele é, imediatamente já não é mais.
Diferentemente da maneira metafísica de pensar, a dialética trata os fatos levando em conta suas
diversas desencadeações, o dinamismo de cada um, bem como seu processo de desenvolvimento,
comprovando então que os acontecimentos se dão em meio aos caminhos traçados pela dialética e não
pelas trilhas metafísicas, as quais tratam os fatos com monotonia, como se fossem imutáveis.
Hegel era profundamente idealista. Suas ideias eram projeções realizadas no âmbito da “Ideia”, em
vez de serem um reflexo dos objetos ou fenômenos da realidade.
O idealismo também marcou presença forte nos pensamentos de Charles Fourier, o qual idealizou
uma sociedade perfeita embasada da divisão do trabalho em conformidade com a natureza humana,
considerando as paixões próprias dos diversos indivíduos. Seu grande princípio estava na necessidade
de se satisfazer as paixões humanas, as quais não devem ser contrariadas, uma vez que afloradas,
transformariam a sociedade.
Fourier defendia a ideia de que o livre dinamismo da indústria conduziria, automaticamente, a uma
ordem social mais coerente, porém, fez duras críticas a ambição mercantil e a concorrência desenfreada,
atribuindo ao comércio as causas do “mal social”. Outra característica importante a ser lembrada, é que
sua utopia social encontra respaldo nas ideias de Deus, uma vez que acredita que o homem e as coisas
da natureza estão em concordância divina e tudo é verdadeiro e bom, chegando a reconhecer a
exuberância total da vida – momento este que é considerado o clímax de sua utopia –. Fourier trata mais
da obrigação de ser feliz do que da necessidade de agir, organizar e dominar a produção, exaltando o
dinheiro como uma “mania saudável” e uma “alegre paixão”, deixando claro seu amor pelas riquezas e
pelo prazer.
Owen é outro grande exemplo, que não pode ser esquecido dentro do pensamento socialista utópico.
Sua contribuição nasce da própria experiência, uma vez que instala em New Lanark(Escócia), uma
comunidade inspirada nos ideais utópicos, na qual foi montada uma fiação onde foi promovida a
organização de serviços comunitários de educação, saúde e assistência social, fornecendo, portanto,
condições de vida mais dignas a seus operários. A comunidade passa a se autogerir e todos os
integrantes são pertencentes a mesma classe.

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De 1824 à 1829, Owen tentou realizar na América uma colônia comunitária chamada “New Harmony”,
a qual fracassou, consumindo grande parte de seus bens. Ele retornou para a Inglaterra, tornando-se o
guia do movimento operário, aderindo a ação cooperativa, já que acreditava que a felicidade social seria
encontrada nas cooperativas (“comunismo oweniano”).
Profundamente influenciado pelas ideias ilustradas do Iluminismo, Robert Owen defende a “Revolução
pela Razão”, uma vez que para ele, a miséria e os males da humanidade eram frutos de um conhecimento
inadequado. A intelectualidade, portanto, seria a solução para o mal que atinge os homens.
Extremamente racionalista e determinista, o fundamental em sua perspectiva era agir sobre as
circunstâncias, defendendo a ideia de que são essas que explicam tudo da vida de cada homem.
Apesar do fracasso de suas ideias (a exemplo de “New Harmony”), Owen foi o grande responsável por
todos os movimentos sociais e progressos de fato ocorridos no âmbito da classe trabalhadora da
Inglaterra.
As tentativas de revolucionar as relações de produção por parte dos socialistas utópicos não
progrediam. Elas pressupunham a existência de um modelo socialista numa sociedade em que
imperavam as normas capitalistas burguesas. Desta forma, logo ia tornando-se claro que as relações de
produção socialistas só teriam efeito numa sociedade regida por normas socialistas. Para que isso
ocorresse, era necessário que as relações capitalistas fossem destruídas e tal iniciativa, claro, não seria
tomada pelo capitalista, mas sim, pela classe oprimida, o proletariado, ocorrendo, então, uma verdadeira
revolução social. A partir daí, surge, no século XIX, uma teoria que pressupunha a ação efetiva da classe
trabalhadora. Trata-se da outra vertente do pensamento socialista, denominada Socialismo Científico, o
qual analisaremos mais profundamente a seguir.
O Socialismo Científico nasce a partir do momento em que a doutrina socialista torna-se uma Ciência.
É a “expressão teórica do movimento proletário” (Engels,”Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico”
),e rompe com o Socialismo Utópico por apresentar uma análise crítica da realidade econômica, da
evolução histórica, das sociedades e do capitalismo. Karl Marx e Friedrich Engels chegam a enaltecer os
utópicos por seu pioneirismo, além de por estes terem sido influenciados, uma vez que emprestaram do
utopismo a ideia de que o homem pode ser transformado e modificado profundamente por meio de
circunstâncias históricas novas, além dos conceitos importantes sobre o proletariado, etc. Porém, os
socialistas científicos defendem uma ação mais prática e direta contra o capitalismo através da
organização da revolucionária classe proletária. Eles observam os fatos buscando a descoberta das leis
que os regem, considerando os antagonismo sociais e a necessidade de dar a classe oprimida a
consciência de seu papel histórico. Á medida em que os fatos são observados, conclui-se que a História
transforma-se continuamente, e que essas transformações são causadas pelo desenvolvimento da
técnica, dos instrumentos de produção e a medida que esses se desenvolvem, são criadas as condições
de uma transformação econômica.
Numa economia socialista, os instrumentos de produção são propriedade coletiva, pertencendo a toda
coletividade, A produção é ajustada de acordo com as necessidades. Assim sendo, o Socialismo
Científico vê como solução para os problemas trazidos pelo capitalismo a substituição da organização
embasada na minoria privilegiada(financeiros) por uma organização fundada sobre os interesses da
coletividade.
Marx fundamentou seu estudo da sociedade capitalista numa abordagem histórica, chamada de
Materialismo Histórico. Por meio deste, ele procurou simplificar as complexas relações de causa e efeito
que relacionavam as diversas faces dos sistemas sociais, seja em nível das ideias, das leis, das crenças
religiosas, dos códigos morais, etc. Segundo ele, essa simplificação permitiria seu enfoque sobre as
relações verdadeiramente fundamentais que determinam a direção geral em que move os sistemas
sociais.
Segundo Marx, a base material é formada por forças produtivas (que são as ferramentas, as máquinas,
as técnicas, tudo aquilo que torna viável a produção) e por relações de produção (relações entre os que
são proprietários dos meios de produção e aqueles que possuem apenas a força de trabalho). Ao se
desenvolverem, as forças produtivas trazem conflitos entre os proprietários dos meios de produção e os
não-proprietários destes. A evolução de um modo de produção para outro, para os socialistas científicos,
ocorre a partir do desenvolvimento das forças produtivas e da luta entre as classes sociais que
predominam em cada período histórico. No prefácio do livro “Contribuição a Crítica da Economia Política”,
Marx identifica na História, de maneira geral, quatro estágios de desenvolvimento dos modos de
produção: o Asiático (comunismo primitivo), o Escravista (da Grécia e de Roma), o Feudal e o Burguês,
sendo este o último baseado nas diferenças de classes, uma vez que segundo Marx, tais diferenças
seriam substituídas pelo Comunismo, sem classes, sem Estado e sem desigualdades sociais. Este era o
grande objetivo do Socialismo Científico. Este defende a ideia de que classe burguesa, surgida a partir

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da dissolução do modo de produção feudal, detém o poder econômico e consequentemente, utiliza o
Estado como meio de manutenção desse poder.
Como os proletários não detêm os meios de produção, eles são obrigados a vender sua força de
trabalho aos capitalistas, tendo como função reproduzir capital e gerar lucros a esses. A exploração do
proletariado objetivava a aprimoração do trabalho não pago, surgindo então o conceito de “mais-valia”,
que se dá quando o que os trabalhadores produzem pode ser vendido por mais do que eles recebem
como salário.
O Materialismo Dialético é outro método utilizado por Marx em sua análise da realidade social.Com
este método, ele busca definir a História e as estruturas sociais como resultados de “contradições
internas”, uma vez que todo e qualquer sistema econômico “traria em si os germes de sua própria
destruição”. Ele destaca como exemplo o próprio capitalismo, que implica na existência de duas classes
sociais antagônicas (burguesia e proletariado), sendo que deste conflito resulta o Socialismo. Deste
modo, Marx considera a luta de classes o “motor” da História.
O pensador alemão foi também o criador da uma “Ciência Política”, posto que teorizou as relações
entre Poder e classes sociais. Ele procura apreender e explicar o modo de produção capitalista em sua
“economia política”. Para Marx e Engels, o capitalismo seria vítima da contradição que existe entre
propriedade privada e produção coletiva. O resultado disso seria a exploração do trabalho (de onde vem
o lucro), a concentração de renda nas mãos dos capitalistas e a crescente pauperização da classe
operária. Tudo isso levaria a eliminação das classes médias e á fortificação da luta de classes, cujo clímax
seria a Revolução Socialista que levaria o proletariado ao poder.
Marx revolucionou a maneira de se interpretar a ação dos homens na História, abrindo ao
conhecimento uma nova ciência e aos homens uma nova visão filosófica de mundo…” Os pensadores
antigos se limitaram a pensar a História, agora é tempo de transformá-la.” (Karl Marx).

Questões.

1. (Uel) A ópera-balé Os Sete Pecados Capitais da Pequena Burguesia, de Kurt Weill e Bertold Brecht,
composta em 1933, retrata as condições dessa classe social na derrocada da ordem democrática com a
ascensão do nazismo na Alemanha, por meio da personagem Anna, que em sete anos vê todos os seus
sonhos de ascensão social ruírem. A obra expressa a visão marxista na chamada doutrina das classes.

Em relação à doutrina social marxista, assinale a alternativa correta.


a) A alta burguesia é uma classe considerada revolucionária, pois foi capaz de resistir à ideologia
totalitária através do controle dos meios de comunicação.
b) A classe média, integrante da camada burguesa, foi identificada com os ideais do nacional-
socialismo por defender a socialização dos meios de produção.
c) A pequena burguesia ou camada lúmpen é revolucionária, identificando a alta burguesia como sua
inimiga natural a ser destruída pela revolução.
d) A pequena burguesia ou classe média é uma classe antirrevolucionária, pois, embora esteja mais
próxima das condições materiais do proletariado, apoia a alta burguesia.
e) O proletariado e a classe média formam as classes revolucionárias, cuja missão é a derrubada da
aristocracia e a instauração do comunismo.

2. (Espcex (Aman)) Observe as ideias de três pensadores da Idade Moderna.


- Adam Smith (escocês), em sua obra A riqueza das nações, afirmava que a única fonte de riqueza
era o trabalho, e não a terra.
- A ideia central da doutrina de Karl Marx (alemão) é que a “história das sociedades humanas é a
história da luta de classes”.
- Thomas Malthus (inglês), em sua obra Ensaio sobre o princípio da população, escreveu que a
natureza impõe limites ao progresso material, já que a população cresce em progressão geométrica,
enquanto a produção de alimentos aumenta em progressão aritmética.
Pode-se afirmar que
a) os três pensadores defendem o liberalismo clássico.
b) as três ideias propõem a ditadura do proletariado.
c) Adam Smith propõe o liberalismo clássico, Thomas Malthus e Karl Marx, o socialismo utópico.
d) Thomas Malthus e Adam Smith defendem o pensamento liberal clássico e Karl Marx foi um dos
autores do socialismo científico.
e) Karl Marx e Adam Smith são considerados anarquistas, e Thomas Malthus, socialista utópico

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13. (Fgv) O “socialismo real” agora enfrentava não apenas seus próprios problemas sistêmicos
insolúveis mas também os de uma economia mundial mutante e problemática, na qual se achava cada
vez mais integrado.
Com o colapso da URSS, a experiência do “socialismo realmente existente” chegou ao fim. Pois,
mesmo onde os regimes comunistas sobreviveram e tiveram êxito, como na China, abandonaram a ideia
original de uma economia única, centralmente controlada e estatalmente planejada, baseada num Estado
completamente coletivizado.
(Eric Hobsbawm, Era dos extremos. p. 458 e 481. Adaptado)
A partir do texto, é correto afirmar que:
a) os países do socialismo real, como a União Soviética, acompanharam em parte as mudanças da
década de 1970 e sobreviveram sem reformas, pois, mesmo sem o grande avanço técnico-científico,
conseguiram neutralizar os graves efeitos da burocratização, da economia planificada, da proletarização
da classe média e do obsoleto parque industrial e, ainda, mantiveram a unidade do bloco socialista.
b) nos anos 1980, as reformas econômicas e políticas – a perestroika – colocaram os países do
socialismo real no rumo do capitalismo, substituindo a ação estatal pelo mercado, com ênfase nas
privatizações e na abertura para o capital estrangeiro, medidas que obtiveram pleno êxito e fizeram a
economia perder suas características estatizantes, impedindo, ainda, o fim do bloco socialista.
c) a unidade do bloco do socialismo real foi motivada pelo equilíbrio da estrutura política dos Estados em
se adaptar às necessidades da economia de mercado, pois a planificação pelo Estado burocratizado é
incompatível com a economia de mercado, apoiada no desenvolvimento técnico-científico, nas
crescentes privatizações, no apoio do capital externo e nas diferenciações salariais.
d) nos países do socialismo real, os problemas externos, isto é, da economia mundial, a partir dos
anos 1970, responsáveis pelas oscilações do comércio internacional, prevaleceram sobre os problemas
internos, como a burocratização do Estado e o atraso técnico-científico, que sofreram reformas estatais
nos anos 1980 e minimizaram as graves tensões sociais, mantendo a união do bloco socialista.
e) além dos problemas internos da própria estrutura política endurecida pela burocracia e pelo
autoritarismo, os países do socialismo real, a partir dos anos 1970, já inseridos no mercado mundial,
enfrentaram o baixo desenvolvimento técnico-científico e as tensões sociais e ensaiaram, sem êxito, nos
anos 1980, reformas políticas e econômicas para manter a unidade do bloco socialista.

Respostas.
1. Resposta D.
É uma crítica em Marx o fato de a classe média, por não ser do grupo da alta burguesia apoia-la. A
falta dessa união com seu estamento mais próximo (o proletariado) não possibilita a revolução social.

2. Resposta D.
Segundo consta no material, Malthus e Smith são teóricos do pensamento liberal enquanto Marx, um
dos teóricos do socialismo.

3. Resposta E.
Foi uma característica geral na década de 80 os países socialistas enfrentarem problemas
econômicos, técnicos, científicos e políticos. O socialismo empregado os manteve engessados em vários
aspectos, o que os manteve atrasados em relação a países capitalistas.

Brasil imperial: Sociedade escravista, abolicionismo e crise do império

O período Joanino e a Independência


No final do século XVIII, as bases do sistema mercantilista começavam a demonstrar sinais de
fraqueza, provocadas pelas transformações na visão de economia e de Estado, que ocorreram na Europa,
a partir da segunda metade do século, com grande repercussão nas colônias.
A passagem do capitalismo comercial para o capitalismo industrial e as novas ideias iluministas e
liberais contribuíram para enfraquecer o absolutismo e garantir a ascensão da burguesia, como no caso
da Revolução Francesa em 1789. Nas colônias, a Revolução Americana de 1776, que inclusive
influenciou de certa forma a revolução na França; a Conjuração Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana
de 1798 mostraram a insatisfação de muitos setores da sociedade com o pacto colonial, caracterizado
pelas restrições comerciais.

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Outro fator que enfraquece algumas monarquias absolutistas europeias é a expansão francesa.
Quando Napoleão começa sua campanha de expansão na Europa, depara-se com um inimigo poderoso:
a Inglaterra. Derrotado em algumas campanhas militares contra o reino inglês, Napoleão decide por fim
decretar restrições ao comércio com a ilha. Em 21 de novembro de 1806, foi decretado que os países
que estavam sob o domínio do império francês estavam proibidos de fazer comércio ou autorizar o acesso
aos portos para navios ingleses. A medida visava enfraquecer o concorrente, afim de poder dominá-lo.
Para que o bloqueio fosse efetivo, Napoleão necessitava que todas as nações sob sua influência
aderissem totalmente ao acordo, o que foi feito pela Rússia e Pela Áustria, mas não por Portugal.

E por que Portugal foi contrário bloqueio?


Portugal era um pequeno reino na Península Ibérica, que dependia muitos de suas colônias para o
sustento econômico. O principal parceiro econômico de Portugal era a Inglaterra, e desde 1703 os dois
países estavam sob um acordo conhecido como Tratado de Methuen, que recebeu o nome em função
do embaixador inglês que conduziu as negociações. O Tratado estabelecia o comércio de panos ingleses
e vinhos portugueses, o que a longo prazo provou-se desvantajoso para Portugal, pois o volume panos
que chegava era maior que o volume de vinhos que saía. Com o investimento na produção de vinho,
Portugal perdeu muitas das áreas de produção de alimentos, o que obrigou-o a importar parte dos gêneros
alimentícios. Além dos alimentos, Portugal deixou de investir em sua indústria, e importava uma grande
quantidade de produtos manufaturados da Inglaterra.
Por conta de todos os fatores citados, o Bloqueio Continental era desvantajoso para o pequeno país,
que optou por não aderir à estratégia de Napoleão. Sentindo-se prejudicado pela decisão portuguesa, e
vendo que seus esforços para impedir o comércio não estavam rendendo o esperado, em agosto de 1807
Napoleão envia um ultimato ao Príncipe Regente, D. João: ou Portugal rompia suas relações com a
Inglaterra, ou seria invadido.
Como Portugal manteve-se firme em sua decisão, a França assinou em conjunto com a Espanha o
Tratado de Fontainebleau, que dividia o território português entre os dois países e extinguia a dinastia
dos Bragança, à qual pertencia D. João.

A fuga para o Brasil


Buscando manter suas relações comerciais, a Inglaterra, que possuía um poderoso poder naval,
pressionou Portugal, através de seu embaixador em Lisboa, lorde Strangford, a fugir para o Brasil.
Em novembro de 1807, o Príncipe Regente reuniu a família real e toda sua corte, totalizando cerca de
15 mil pessoas, e partiu para o Brasil, aportando em 22 de janeiro de 1808 na Bahia.
Ao chegar ao Brasil, D. João tratou de revidar o ataque francês em Portugal, ordenando a invasão e
conquista da Guiana Francesa em 1809, que permaneceu sob poder brasileiro até 1817, quando foi
devolvida.
A vinda da família real para o Brasil representava para a Inglaterra, além da manutenção de seus
negócios, a sua expansão. Assim que chegou ao Brasil, o príncipe regente assinou uma Carta Régia, que
abriu o comércio da colônia para as “nações amigas”. Segue abaixo um trecho do documento
“Eu, o Príncipe Regente, [...] sou servido ordenar [...] o seguinte: primeiro, que sejam admissíveis nas
Alfândegas do Brasil todos e quaisquer gêneros, fazendas, e mercadorias transportadas, ou em navios
estrangeiros das potências que se conservam em paz e harmonia com a minha Real Coroa, ou em navios
dos meus vassalos [...]. Segundo: que não só os meus vassalos, mas também os sobreditos estrangeiros
possam exportar para os portos que bem lhes parecer a benefício do comércio, e agricultura, que tanto
desejo promover todos, e quaisquer gêneros, e produções coloniais, à exceção do pau-brasil [...] ficando
entretanto como em suspenso, e sem vigor todas as leis, cartas régias, ou outras ordens que até aqui
proibiam neste Estado do Brasil o recíproco comércio, e navegação entre os meus vassalos, e
estrangeiros. O que tudo assim fareis executar com o zelo, e atividade que de vós espero. Escrita na
Bahia aos vinte e oito de janeiro de mil oitocentos e oito. [...]”
O tratado foi muito benéfico para a Inglaterra, que poderia comercializar livremente com o Brasil, sem
intermédio português.
Ainda no ano de 1808, o Príncipe Regente extinguiu a lei que proibia a instalação de manufaturas no
Brasil.
Pouco depois de sua chegada ao Brasil, a família real e toda a corte portuguesa são transferidas para
o Rio de janeiro, chegando na cidade em 7 de março de 1808. A capital havia sido transferida de salvador
para o Rio de janeiro em 1763, para facilitar a fiscalização e por estar mais próxima da região produtora
de Ouro. Entre outros motivos, o Rio de janeiro era uma parada estratégica para navios que travessavam
a costa brasileira.

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Na chegada ao Rio de Janeiro, a Corte portuguesa foi recebida com festa: o povo aglomerou-se no
porto e nas principais ruas para acompanhar a Família Real em procissão até a Catedral, onde, após uma
missa em ação de graças, o rei concedeu o primeiro "beija-mão".
Ao chegar ao Rio, a primeira medida a ser cumprida era a de encontrar residências para todos os
membros que acompanhavam a família real. Aproximadamente 15 mil pessoas vieram para o Brasil em
quatorze navios trazendo suas riquezas, documentos, bibliotecas, coleções de arte e tudo que puderam
carregar.
A chegada repentina de milhares de portugueses representou um aumento substancial da população
do Rio de Janeiro, e exerceu impacto imediato nos moradores da cidade. Havia uma escassez crônica de
moradias, e foram necessárias medidas drásticas para instalar os portugueses. Antes mesmo da chegada
da frota, o vice-rei invocou uma lei que dava à coroa o direito de confiscar casas particulares com
pouquíssima formalidade. Funcionários do governo percorriam a cidade escolhendo arbitrariamente as
residências adequadas e escrevendo a giz em seus portas as iniciais “PR” que significavam Príncipe
Regente, o sinal indicava que os moradores deveriam desocupar prontamente suas casas. À medida que
as requisições prosseguiram, essas iniciais tornaram-se popularmente conhecidas pelos cariocas como
“Ponha-se na Rua”. Com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, 10 mil casas foram pintadas com
as letras “PR”. O vice-rei do Brasil, D. Marcos de Noronha e Brito cedeu sua residência, O Palácio dos
Governadores, no Lago do Paço, que passou a ser chamado Paço Real, para o rei e sua família.
A transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro provocou uma grande transformação na
cidade. D. João teve que organizar a estrutura administrativa do governo, já que a colônia era impedida
de possuir determinadas estruturas. Nomeou ministros de Estado, colocou em funcionamento diversas
secretarias públicas, instalou tribunais de justiça e criou o Banco do Brasil. Em abril de 1808, foi criado o
Arquivo Central, que reunia mapas e cartas geográficas do Brasil e projetos de obras públicas. Em maio,
D. João criou a Imprensa Régia e, em setembro, surgiu a Gazeta do Rio de Janeiro. Logo vieram livros
didáticos, técnicos e de poesia. Em janeiro de 1810, foi aberta a Biblioteca Real, com 60 mil volumes
trazidos de Lisboa. Criaram-se as Escolas de Cirurgia e Academia de Marinha (1808), a Aula de Comércio
e Academia Militar (1810) e a Academia Médico-cirúrgica (1813). A ciência também ganhou com a criação
do Observatório Astronômico (1808), do Jardim Botânico (1810) e do Laboratório de Química (1818). Em
1813, foi inaugurado o Teatro São João (atual João Caetano). Em 1820, foi a vez da Real Academia de
Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura-civil.
O Rio de Janeiro passou por uma grande transformação, expandiu-se, ganhou chafarizes, para que
houvesse fornecimento de água, pontes e calçadas, assim a realeza poderia caminhar
despreocupadamente. Construíram-se ruas e estradas, e a iluminação pública foi instalada.
Em 1816, a Missão Francesa, composta de pintores, escultores, arquitetos e artesãos, chegaram ao
Rio de Janeiro para criar a Imperial Academia e Escola de Belas-Artes. Entre os principais artistas da
Missão estava Jean-Baptiste Debret. Ele foi chamado de "a alma da Missão Francesa". Era desenhista,
aquarelista, pintor cenográfico, decorador, professor de pintura e organizador da primeira exposição de
arte no Brasil (1829). Em 1818, trabalhou no projeto de ornamentação da cidade do Rio de Janeiro para
os festejos da aclamação de dom João VI como rei de Portugal, Brasil e Algarves.
Em "Viagem Pitoresca ao Brasil", coleção composta de três volumes com um total de 150 ilustrações,
Debret retrata e descreve a sociedade brasileira. Seus temas preferidos são a nobreza e as cenas do
cotidiano brasileiro.
A presença de artistas estrangeiros, botânicos, zoólogos, médicos, etnólogos, geógrafos e muitos
outros que fizeram viagens e expedições regulares ao Brasil, trouxe informações sobre o que acontecia
pelo mundo e também tornou este país conhecido, por meio dos livros e artigos em jornais e revistas em
que publicavam. Foi uma mudança profunda, mas que não alterou os costumes da grande maioria da
população carioca, composta de escravos e trabalhadores assalariados.
As mudanças promovidas por D. João provocaram o aumento da população na cidade do Rio de
Janeiro, que por volta de 1820, somava mais de 100 mil habitantes, entre os quais muitos eram
estrangeiros – portugueses, comerciantes ingleses, corpos diplomáticos – ou mesmo resultado do
deslocamento da população interna que procurava novas oportunidades na capital. Ainda assim,
aproximadamente metade da população da cidade era escrava, fator que manteve-se constante até o fim
do Império Brasileiro.
As construções passaram a seguir os padrões europeus. Novos elementos foram incorporados ao
mobiliário: espelhos, bibelôs, biombos, papéis de parede, quadros, instrumentos musicais, relógios de
parede.
A presença inglesa também faz notar-se cada vez mais. Com a Abertura dos Portos, promovida em
1808, o mercado brasileiro pôde ser penetrado pelos produtos ingleses, que acabaram por sufocar a
produção local, como no caso das manufaturas. Em 1808, o Alvará de Liberdade Industrial revogou uma

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proibição de 1785 sobre a instalação de manufaturas do Brasil, que, porém, tiveram vida curta devido aos
acordos comerciais entre as nações.
Munido das instruções de Londres, o plenipotenciário inglês no Rio de Janeiro, lorde Strangford, após
inúmeras conversações, conseguiu mais um êxito para o seu país, firmando com os portugueses os
Tratados de 1810, que foram três medidas que beneficiaram o comércio inglês: Tratado de Comércio e
Navegação, Tratado de Amizade e Aliança e o Tratado dos Paquetes (embarcações).
Por força do Tratado de Comércio e Navegação, as mercadorias importadas da Inglaterra, ao entrar
no Brasil, sofreriam uma taxação de 15% sobre seu valor, os produtos portugueses seriam tributados em
16% e os dos demais países, em 24%; também criava-se o direito de extraterritorialidade judicial para os
súditos ingleses (criação dos juízes conservadores) e declarava-se franco o porto de Santa Catarina.
O Tratado de Aliança e Amizade determinava a redução do tráfico negreiro para o Brasil, bem como o
compromisso de D. João de não permitir o estabelecimento do Santo Ofício (Inquisição) no Brasil.

O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves


Com a derrota de Napoleão em 1815, foi realizada uma reunião entre os líderes das nações europeias,
conhecida como Congresso de Viena. No congresso ficou decidido que os reis de países invadidos pela
França deveriam voltar a ocupar seus tronos.
Com o objetivo de atrapalhar as relações entre Portugal e Inglaterra, Talleyrand, que representou a
França durante o congresso, sugeriu que D. João permanecesse no Brasil, unificando os reinos que já
dominava. A medida era importante para conter os avanços ingleses sobre a colônia, já que até então, a
família real ainda governava Portugal, e estava em situação de fuga, o que permitia que os ingleses
impusessem suas vontades. Com a elevação para reino, ficava confirmada a soberania portuguesa sobre
o Brasil.
D. João e sua corte não quiseram retornar ao empobrecido Portugal. Em 16 de dezembro de 1815, foi
assinada a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido ao de Portugal e Algarves (uma região ao sul
de Portugal), legitimando assim a permanência da casa dos Bragança em nosso país. D. João consagrou-
se, com essa medida, e foi intitulado pela Graça de Deus Príncipe-Regente de Portugal, Brasil e Algarves,
daquém e d’além-mar em África, senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia,
Arábia, Pérsia e Índia.
Essa medida feriu ainda mais a dignidade da população lusitana, que desde 1807, passava por uma
grave crise financeira e pela falta de gêneros de primeira necessidade.

Revolução Pernambucana
Embora D. João tenha tomado inúmeras medidas para transformar o Brasil na legítima sede da
monarquia lusitana, as mudanças atingiam diretamente a corte e o Rio de Janeiro. A situação
socioeconômica brasileira ainda era precária. Como resposta, houveram protestos, como a Revolução
Pernambucana de 1817
Pesados impostos, descaso administrativo, arbitrária e opressiva administração militar, insatisfação
popular, como também os ideais de nativismo e da extinção do colonialismo, defendidos pela Maçonaria
e propagados em centros como o dissolvido Areópago de Itambé e o Seminário de Olinda, colocavam
Pernambuco em uma situação propícia a uma tomada de posição revolucionária e emancipacionista.
A revolta foi delatada, e em março de 1817 a prisão dos conspiradores foi ordenada, dando início à
revolução, que possuía características republicanas, separatistas e anti-lusitana.
Resistindo e lutando contra as tropas do governo, foi criado um “Governo Provisório” composto de
cinco representantes: um militar, um magistrado, um religioso, um comerciante e um fazendeiro. Apesar
de ter sido bem sucedida em seu início, contando inclusive com o apoio e a adesão da Paraíba e Rio
Grande do Norte, a revolução foi sufocada
Com a revolta sufocada, os principais líderes foram presos, alguns inclusive executados. As
investigações (devassa) permaneceram até 6 de fevereiro de 1818, quando D. João assumiu a posição
de rei de Portugal, Brasil e Algarves. Após a nomeação de D. João, alguns dos prisioneiros foram
libertados e outros foram mandados para prisões na Bahia, onde permaneceram até 1821, sendo
libertados após obterem o perdão real. Um dos membros mais expressivos da revolta foi o Frei Caneca.

O Retorno de D. João para Portugal


Enquanto a situação no Brasil mostrava-se favorável, com as mudanças no Rio de Janeiro e a relativa
tranquilidade com que D. João governava, em Portugal a situação tornava-se cada vez mais complicada.
Após a fuga para o Brasil e a abertura dos portos para as nações aliadas, o comércio português, que
dependia imensamente do mercado brasileiro, entrou em decadência, pois não conseguia competir com
os preços ingleses.

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O sentimento de superioridade portuguesa também foram abalados após a transferência da corte para
o Brasil, juntamente com as reformas executadas no Rio de Janeiro para transformar a cidade em sede
do governo real. Lisboa, que antes era o coração do reino, abrigando a família real, a corte e todo o
aparelho administrativo do Estado, havia sido deixado em segundo plano.
Os portugueses também estavam descontentes com o governo. Após a expulsão dos franceses, D.
João não retornou ao país, que passou a ser administrado pelo general inglês Beresford.
A junção desses fatores gerou a Revolução Liberal do Porto, em 24 de agosto de 1820. Os revoltosos
pretendiam anular o absolutismo e manter o Brasil em situação de colônia. Em dezembro do mesmo ano
o movimento saiu vitorioso, e foram eleitos os deputados às Cortes de Lisboa (Assembleia Constituinte),
que passaram a atuar como órgão governativo do Reino Unido; provisoriamente, adotou-se a Constituição
que a Espanha recém elaborara.
O movimento foi seguido por comerciantes portugueses e pela aristocracia rural, que passaram a exigir
de D. João e deu seu filho e herdeiro, D. Pedro, o juramento à constituição e o acatamento das decisões
das Cortes. Enquanto isso, as províncias passaram a ser governadas por juntas governativas provisórias.
Após intensa pressão, em 25 de abril de 1821, D. João retorna para Portugal levando o dinheiro e o
ouro existentes no Banco do Brasil.
Para garantir o domínio do território, D. Pedro fica no país, ocupando a função de Regente do Reino
do Brasil, o que se tornou um obstáculo aos planos de recolonização.

O dia do Fico e a Independência do Brasil


Após o regresso de D. João, a presença de D. Pedro incomodava as Cortes de Lisboa, que trataram
muito mal os deputados brasileiros enviados para Portugal. Além disso, buscavam tomar medidas cada
vez mais voltadas à recolonização, como a exigência do retorno imediato do regente para Portugal e a
supressão de Tribunais e Repartições aqui instalados.
Percebendo que as medidas tomadas implicariam em prejuízo, a aristocracia brasileira passou a apoiar
o movimento emancipatório brasileiro. Após receber um abaixo-assinado com aproximadamente 8 mil
assinaturas, D. Pedro rompe suas relações com as Cortes, no dia 9 de janeiro de 1822, em um episódio
que ficou conhecido como Dia do Fico, pois o regente reafirmava sua intenção de permanecer no Brasil,
através da frase: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo
que fico".
Após o episódio, a tropa militar portuguesa aquartelada no Rio de Janeiro foi obrigada a sair da cidade,
rumando para Niterói e depois para a Europa.
Após algumas medidas, como a criação do Conselho dos Procuradores-Gerais das Províncias do
Brasil, com atribuições legislativas; o decreto do “Cumpra-se”, subordinando a execução das decisões
das Cortes à aprovação do regente; a aceitação por D. Pedro do título de Defensor Perpétuo do Brasil,
oferecido pela Maçonaria; a convocação de uma Assembleia Constituinte Brasileira e a proibição do
desembarque de tropas portuguesas no Brasil, todas durante o ano de 1822, em 7 de setembro é
declarada a Independência do Brasil.

O Reconhecimento da Independência
Todas as nações que declaram sua independência, principalmente no contexto da descolonização da
América no século XIX, precisam de um reconhecimento externo, para não tornarem-se isoladas
econômica e politicamente. Ou seja, era indispensável este reconhecimento para que o Brasil pudesse
ter condições de estabelecer um Estado autônomo e soberano.
Um exemplo do encerramento das relações ocorreu quando o Haiti tornou-se independente. A ilha
localizada na América Central, foi o a primeira colônia na América a rebelar-se e conseguir a separação
da França, em 1804. Diferente do que ocorreu em outros lugares, como nos Estados Unidos em 1776, a
revolução no Haiti foi marcada pela imensa participação dos escravos, que inclusive tomaram o poder.
Como consequência, os países que mantinham relações comerciais com a ilha através da França, ficaram
com medo de que esse ato de rebelião se expandisse para as colônias americanas e acabaram fechando
todos os pactos comerciais selados.
As relações mantidas com a África, principalmente em relação ao comércio de escravos, prática que
já se arrastava por alguns séculos, garantiram ao Brasil o reconhecimento da independência, através de
dois reis africanos — Obá Osemwede, do Benim, e Ologum Ajan, de Eko, Onim ou Lagos. Em 1824,
buscando cumprir sua política de aproximação com as outras nações americanas, os Estados Unidos
reconheceram o desenvolvimento da independência do Brasil.
Apesar da importância do ato promovido pelos norte-americanos, era indispensável que Portugal, que
possuía diversas relações comerciais com o Brasil, também o fizesse.

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Com interesse na emancipação brasileira, a Inglaterra intermediou os acordos com Portugal,
resultando na assinatura do Tratado de Paz e Aliança, em 29 de agosto de 1825. A aceitação de Portugal,
porém, não veio sem um preço: o Brasil deveria pagar uma indenização de dois milhões de libras
esterlinas para a antiga metrópole, e D. João, com a intenção de um dia promover a reunificação, exigiu
continuar a ostentar o título de Imperador do Brasil.
O pagamento da dívida com Portugal foi feito através de um empréstimo da Inglaterra, já que o Brasil
encontrava-se sem condições de arrecadar a quantia requisitada. Entre as exigências dos ingleses para
o reconhecimento da nova nação, estavam a manutenção das taxas alfandegárias e a abolição da
escravidão em um período de três anos, a partir de 1826.
Após o reconhecimento português, várias outras nações da Europa e da América foram impelidas a
realizarem o mesmo gesto político. Com isso, o Brasil poderia estabelecer negócio com outras nações do
mundo através da assinatura de acordos e o estabelecimento de tratados de comércio.

O Primeiro Reinado (1822-1831)


Apesar de ter sido considerado um movimento pacífico, a Independência do Brasil gerou algumas
desavenças e opiniões contrárias. Em alguns pontos do novo Império, mais precisamente na capital da
Bahia e nas províncias do Piauí, Maranhão, Pará e Cisplatina, as tropas portuguesas que ainda se
encontravam no país não quiseram aceitar a autoridade do novo governo de D. Pedro. A Bahia constituiu
o principal foco da resistência, com o brigadeiro Madeira de Melo no comando das forças portuguesas.
Antes de oficializar-se a separação entre Brasil e Portugal, alguns apoiadores da independência já
passavam por hostilizações, como foi o caso do Convento da Lapa, que fora assaltado e a superiora,
Joana Angélica, assassinada. As revoltas nas províncias foram contidas através do poder militar,
garantindo a unidade territorial.
Outro fator de destaque no movimento de independência foi a pouca participação popular, visto que
em alguns casos, as regiões mais afastadas levaram muito tempo para saber que o Brasil agora não era
mais uma colônia de Portugal.
Uma das principais figuras e articulador da ideia de um Império brasileiro, indo na contramão dos ideais
republicanos que caracterizaram as revoltas América Espanhola, foi o estadista José Bonifácio. Havia
estudado e lecionado na Europa. Ao regressar ao Brasil, havia se tornado um dos principais articuladores
da Independência. Após consolidado o movimento, Bonifácio configurava-se na principal figura política
do País.
Quando D. Pedro assumiu o posto de imperador, Bonifácio foi escolhido para ocupar a pasta do Reino
e dos Estrangeiros. Embora tivesse ideias liberais, logo divergiu dos brasileiros que também promoveram
a Independência. Eram discordâncias quanto à 'prática' que efetivaria o Estado Nacional. Bonifácio
desconfiava dos republicanos, pois achava que estes poderiam convulsionar o País e possivelmente
ameaçar a integridade e a estrutura brasileira. Era um exagero, pois se tratava de grupos em disputa de
projeção política, que agiam dentro de uma igual linha ideológica: essencialmente conservadores. Mesmo
assim, Bonifácio não se esquivava de seus objetivos, era partidário de um poder altamente centralizado
e forte. Na verdade, ao querer o regime monárquico rígido, pretendia, na figura de ministro, participar do
poder decisivamente.

A Primeira Constituição Brasileira


Antes mesmo da independência, D. Pedro já havia convocado uma Assembleia Constituinte, que foi
instalada em 3 de maio de 1823. Mesmo com a ideia de criação de uma constituição para, entre outros,
limitar os poderes do monarca, D. Pedro sempre mostrou-se autoritário, fazendo com que muitos
deputados constituintes se opusessem à conduta de D. Pedro. Entre os que mais criticaram o imperador
estavam os irmãos Andrada, que passaram para a oposição.
O governo imperial era criticado principalmente pelas medidas que tomava, como a indicação de
portugueses para altos cargos, pelo imperador, o que levava muitos brasileiros a acreditarem que D.
Pedro planejava devolver o Brasil ao domínio português
Na oposição, Antônio Carlos de Andrada elaborou um anteprojeto da Constituição baseado no modelo
português, limitando os poderes do imperador, assumindo um caráter nitidamente classista e
demonstrando uma xenofobia extremada. Esse anteprojeto de constituição ficou conhecido como
Constituição da Mandioca, pois segundo ela só poderiam ser eleitores ou candidatos aqueles que
tivessem certa renda, equivalente a 150 alqueires de farinha de mandioca. O critério utilizado demonstra
um predomínio da elite agrária sobre o campo da política, que além de defender a posse de terras para
poder exercer os direitos políticos, também mantinha a escravidão como forma de mão-de-obra.
A influência do modelo europeu adotado pode ser observada na forma como o anteprojeto de Andrada
dividia os poderes do Estado:

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Poder Executivo: poder exercido pelo imperador, no caso D. Pedro I, e seus ministros de Estado.
Poder Legislativo: constituído pela Assembleia Geral, ou seja, pelos deputados e senadores, sendo
os primeiros eleitos de quatro em quatro anos, e os segundos com mandato vitalício.
Poder Judiciário: composto pelos juízes e pelos tribunais. Seu órgão máximo, como o é até hoje, era
o Supremo Tribunal de Justiça.
Constava no projeto da constituição, o predomínio do poder legislativo sobre o executivo, o que
contrariou profundamente D. Pedro I, que tinha ideais absolutistas e centralizadores.
O anteprojeto estava sendo discutido quando D. Pedro I ordenou o cerco ao prédio da Assembleia,
reunida em sessão permanente, em um episódio que ficou conhecido como Noite da Agonia, e
determinou a dissolução da Constituinte, em 12 de novembro de 1823. Em seguida, o imperador nomeou
um Conselho de Estado, incumbindo-o de redigir uma Constituição para o País.
A Constituição foi outorgada em 15 de março de 1824, com um caráter unitário e centralizador,
dividindo o Estado em quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador. O último de
exclusividade do imperador, permitia a D. Pedro ter a decisão final sobre todos os assuntos que lhe
interessassem.
As eleições seriam censitárias e indiretas, e a Igreja ficaria subordinada ao Estado. Essa Constituição,
que vigorou até 1889, na realidade consagrava as aspirações da aristocracia rural, pois o Império ficava
estruturado à sua imagem: liberal na forma, mas conservador na prática.

A Confederação do Equador
Inconformados com o caráter elitista da Constituição de 1824 e com o uso de um poder centralizador
por parte de D. Pedro I, representantes de algumas províncias do nordeste defendiam a federação para
algumas províncias do nordeste e a separação destas do Brasil.
Em Pernambuco, que já possuía um histórico de aversão aos portugueses e ao domínio imperial, com
a revolução de 1817, sentiram o peso do autoritarismo real quando D. Pedro I depôs o governador Manuel
de Carvalho Paes de Andrade, e indicou um substituto para o cargo. A troca do governo seria o último
episódio que antecedeu a formação do movimento que ficou conhecido como Confederação do
Equador.
A Confederação teve início com a ação de lideranças e populares pernambucanas, e logo ganhou
força e espalhou-se para outros estados do nordeste. Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba também se
juntaram ao movimento. Impassíveis às tentativas de negociação do Império, os revoltosos buscaram
criar uma constituição de caráter republicano e liberal. Além disso, o novo governo resolveu abolir a
escravidão e organizou forças contra as tropas imperiais.
Após as primeiras ações estabelecidas pela Confederação, alguns dos líderes decidiram radicalizar
alguns pontos do novo governo, como a ampliação dos direitos políticos e reformas sociais. O rumo

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tomado por Frei Caneca e Cipriano Barata fez com que os apoiadores do movimento ligados diretamente
à elite regional o abandonassem, temendo perder privilégios políticos e sociais já existentes.
O governo imperial reagiu ferozmente ao movimento, utilizando inclusive a contratação de mercenários
ingleses para conter o levante. Os ataques do império e o enfraquecimento interno levaram ao fim da
revolta, que teve dezesseis condenados à morte, entre eles, Frei Caneca, que já havia participado da
Revolução Pernambucana de 1817, foi fuzilado.

A Cisplatina
Desde o período colonial, a coroa portuguesa possuía o desejo de expandir seu Império até as
margens do Rio da Prata, na porção sul do continente. Com a conquista de Napoleão sobre a Europa e
a deposição do rei espanhol Fernando VII em 1808, as colônias espanholas na América começaram a
rebelar-se ao longo da década seguinte, gerando vários movimentos de independência.
Percebendo a instabilidade política, em 1820, a Cisplatina foi invadida como parte das ações de Dom
João VI. Uma das justificativas para a invasão reside no fato de a mulher de D. João, Carlota Joaquina,
ser espanhola e irmã de Fernando VII, e desejava manter o domínio de um espanhol sobre a região.
Outro fator de destaque é que a Cisplatina era um ponto estratégico no domínio e soberania do reino
brasileiro, e conquistá-la poderia garantir que revoltas liberais não se espalhassem por território brasileiro.
Durante o processo de independência brasileira, poucos anos após a anexação, a Cisplatina tornou-
se palco de revoltas que buscavam separá-la do domínio brasileiro e conquistar a independência. Apesar
das lutas e da resistência, as expedições militares conseguiram conter as revoltas, mantendo o controle
sobre o território.
Em 1825, o general Juan Antonio Lavalleja, com o apoio de lideranças políticas argentinas, organizou
um movimento de emancipação da Cisplatina, declarando sua anexação à República das Províncias do
Rio da Prata, que integrava o território argentino. A mudança não foi aceita por D. Pedro I, que declarou
guerra contra os revoltosos, algo que durante os próximos anos enfraqueceria tanto a economia brasileira,
por ter que arcar com os custos da guerra, quanto a imagem de D. Pedro I, pois muitos consideravam a
disputa como algo infundado, já que a Cisplatina não possuía muitos traços em comum com o restante
do país. Em 1828, após anos de tentativa infrutífera de recuperar a antiga província, o Brasil retira-se do
conflito, e os rebeldes vitoriosos proclamam a Republica Oriental do Uruguai.
Muitos jornalistas teciam duras críticas ao imperador. Outro fato que manchou ainda mais a imagem
de D. Pedro foi o assassinato do jornalista e médico Líbero Badaró, grande opositor seu. Badaró
representava uma das figuras que criticava o autoritarismo de Dom Pedro I e seu governo imperial nos
periódicos de divulgação de ideias liberais: o "Farol Paulistano" e o "Observador Constitucional". O
jornalista foi misteriosamente assassinado, na cidade de São Paulo, em 1830.
No mesmo ano, as forças liberais brasileiras, espelhadas na Revolução Liberal de 1830, que eliminou
o absolutismo dos Bourbon na França, aumentaram as críticas à conduta política do Imperador. Com a
dissolução da Câmara dos Deputados e o assassinato de Líbero Badaró, aumentou ainda mais a
insatisfação dos políticos brasileiros, que passaram a articular a derrubada de D. Pedro I.
Em março de 1831, depois de uma desastrosa viagem a Minas Gerais, onde o Imperador sofreu a
hostilidade dos políticos locais, o Partido Português resolveu promover uma grande festa em apoio ao
governante, prontamente repelida pelo povo do Rio de Janeiro, manipulado pela elite dirigente. A luta
entre brasileiros e portugueses em treze de março, conhecida como Noite das Garrafadas, era o prelúdio
do fim.
Em 7 de abril de 1831, depois de sucessivas trocas ministeriais e incapaz de deter os distúrbios de
rua, promovidos por populares e que contavam agora com a adesão de tropas do governo, D. Pedro
abdicou do trono brasileiro, em favor de seu filho, o príncipe D. Pedro de Alcântara.
A abdicação de D. Pedro ocorreu tanto pela pressão política que o imperador sofria da elite e populares
brasileiros, quanto pela tentativa de assegurar os direitos de sua filha, Maria da Glória, pois com a morte
de D. João VI em Portugal, a Coroa iria, por direito, a D. Pedro I, que preferiu abdicar o trono português
em benefício da filha. Assim terminava o Primeiro Reinado.

O Período Regencial (1831-1840)


Com a volta de D. Pedro I para Portugal, o direito ao trono brasileiro foi transferido para seu filho, que,
entre outras coisas, ficou conhecido pelo extenso nome que possuía: Pedro de Alcântara João Carlos
Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de
Bragança e Bourbon. Apesar do grande nome, o menino Pedro tinha apenas cinco anos de idade quando
seu pai resolve regressar ao país de origem.
A pouca idade do futuro imperador era algo que preocupava os políticos brasileiros favoráveis à
manutenção do império, pois o menino não possuía idade para governar e uma possível revolução poderia

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ocorrer se nada fosse feito. Para garantir a manutenção do sistema político, foi definido que o Brasil seria
governado por regentes até que o imperador completasse a idade de vinte e um anos, e estivesse enfim
apto a assumir o poder.
O periodo regencial foi marcado no Brasil pela instabilidade política e pelas revoltas, que foram
controladas após o imperador assumir o poder.
No meio político, formaram-se tres grupos distintos que lutavam pelo poder, formados basicamentes
pelos mesmos segmentos que já dominavam o país desde o periodo colonial. Dividiam-se entre
os restauradores, os liberais moderados e os liberais exaltados.
Restauradores: Também conhecidos por Caramurus, defendiam a continuação do governo de D.
Pedro I, com um histórico de apoio ao monarca e sua conduta absolutista. Quando o imperador abdicou
ao trono, defenderam sua volta, pois consideravam que o único meio de manter a tranquilidade política e
a unidade nacional era através da monarquia autoritária. Muitos deles também foram antigos beneficiados
do governo imperial, como José Bonifácio, que após saída de D. Pedro I, passou a ser tutor de D. Pedro
II. Estavam presentes no Senado e eram representados pelo Clube Militar. Após a morte de D. Pedro I
em 1834, defenderam o conservadorismo e estiveram presentes na aclamação precoce de D. Pedro II
em 1840.
Liberais Moderados: Também chamados de chimangos ou chapéus-redondos, eram entendidos
como a direita liberal, compostos de uma parcela da aristocracia rural, com uma tendência monarquista,
já que esta garantia a eles a proteção de seus privilégios. Defendiam uma monarquia constitucional, pois
eram contra o domínio total do imperador. Apesar do nome de liberais, a definição era mais um enfeite
do que uma orientação de pensamento. Na prática eram conservadores e contra qualquer tipo de abertura
política ou reforma social, defendendo a manutenção da ordem vigente. Uniam-se sob a égide da
Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional, fundada por Evaristo da Veiga.
Empenharam-se no combate aos restauradores e exaltados federalistas, na defesa da ordem e da
centralização, fornecendo subsídios para a orientação governista.
Liberais Exaltados: Também chamados de Chapéus-de-palha, os liberais exaltados eram
representados não só por algumas parcelas da aristocracia rural, como também por outros segmentos
sociais. Apresentavam-se divididos em camadas sobrepostas, constituindo-se inicialmente por uma
camada de homens livres, destituídos de propriedades, ou pequenos proprietários. Variando de região
para região, desenvolviam atividades nos centros urbanos ou nos campos, oscilando numa relação de
dependência, entre a classe dominante e a classe que fornecia o trabalho. Seguia-se o aglomerado
urbano e rural marginalizado de recursos: agregados, lavradores e citadinos, dedicados a pequenos expe-
dientes e biscates.
Os liberais exaltados defendiam interesses opostos aos moderados, ou seja, buscavam reformas
sociais e políticas que beneficiassem uma parcela maior da população, em especial seus representantes.
Buscavam uma maior autonomia para as províncias e mudanças na constituição de 1824, defendendo
inclusive o fim da monarquia e a substituição por uma Republica federalista. Organizavam-se em torno
da Sociedade Federal e de clubes federalistas espalhados pelas províncias.
A Regência Trina Provisória
No momento da abdicação, estando os deputados em férias, formou-se a Regência Trina Provisória,
que deveria governar até 17 de junho de 1831.
Instalada em 7 de abril de 1831, a regência trina era uma exigência da Constituição para o caso de
não haver parentes próximos do soberano com mais de 35 anos e em condições de assumir o poder.
Na composição da Regência Provisória assinalou-se, sobretudo, uma tentativa de equilíbrio político.
Os seus componentes eram Campos Vergueiro, representante das tendências liberais; Carneiro de
Campos, representante do conservadorismo e Francisco de Lima e Silva, representante da força militar
no equilíbrio das tendências.
Essa regência manteve a Constituição de 1824, concedeu anistia aos presos políticos, reintegrou o
ministério demitido por D. Pedro e promulgou a Lei Regencial de abril de 1831, que limitava os poderes
dos regentes.

A Regência Trina Permanente


Eleita em junho de 1831, foi composta por Bráulio Muniz, Costa Carvalho e Francisco de Lima e Silva,
Com o padre Diogo Antônio Feijó no Ministério da Justiça.
Entre as principais realizações da Regência Trina Permanente está a criação da Guarda nacional,
com o propósito de defender a constituição, a integridade, a liberdade e a independência do Império
Brasileiro. Sua criação desorganiza o Exército, e começa a se constituir no país uma força armada
vinculada diretamente à aristocracia rural, com organização descentralizada, composta por membros da
elite agrária e seus agregados. Para compor os quadros da Guarda nacional era necessário possuir

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amplos direitos políticos, ou seja, pelas determinações constitucionais, poderiam fazer parte dela apenas
aqueles que dispusessem de altos ganhos anuais.
Com a criação da Guarda e suas exigências para participação, surgiram os coronéis, que eram
grandes proprietários rurais que compravam suas patentes militares do Estado. Na prática, eles foram
responsáveis pela organização de milícias locais, responsáveis por manter a ordem pública e proteger os
interesses privados daqueles que as comandavam. O coronelismo esteve profundamente enraizado no
cenário político brasileiro do século XIX e início do século XX, tendo seu auge durante os anos da
República Velha.
No mesmo ano de 1831 foi promulgado a Lei Feijó, proibindo o tráfico e considerando livres todos os
africanos introduzidos no Brasil a partir desta data. A lei foi ignorada e chamada popularmente de “lei para
inglês ver”, devido ao acordo feito com a Inglaterra de abolição da escravidão como exigência para o
reconhecimento da independência brasileira.
Em 29 de novembro de 1832 é aprovado o Código do Processo Criminal, que altera a organização do
Poder Judiciário. Os juízes de paz, eleitos diretamente sob o controle dos senhores locais, passam a
acumular amplos poderes nas localidades sob sua jurisdição.

Ato Adicional de 1834


O Ato Adicional de 1834 foi uma revisão da Constituição de 1824. Promulgado em 12 de agosto,
possuía caráter descentralizador, instituindo a criação de assembleias legislativas nas províncias, a
supressão do Conselho de Estado e a Regência Una. O Rio de Janeiro foi considerado um território
neutro. Também foi reduzida a idade para o imperador ser coroado, de 21 para 18 anos.
Regência Una
Apesar de uma tentativa frustrada de assumir o poder em 1832, abandonando o cargo de Ministro da
Justiça logo em seguida, o padre Feijó obteve a maioria dos votos na eleição para Regente em 1835.
Empossado em 12 de outubro do mesmo ano para um mandato de quatro anos, padre Feijó não completa
dois anos no cargo. Seu governo é marcado por intensa oposição parlamentar e rebeliões provinciais,
como a Cabanagem, no Pará, e o início da Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul. Com poucos
recursos para governar e isolado politicamente, renunciou em 19 de setembro de 1837.

Segunda regência Una


Com a renúncia de Feijó e o desgaste dos liberais, os conservadores obtêm maioria na Câmara dos
Deputados e elegem Pedro de Araújo Lima como novo regente único do Império, em 19 de setembro de
1837. A segunda regência una é marcada por uma reação conservadora. Várias conquistas liberais são
abolidas. A Lei de Interpretação do Ato Adicional, aprovada em 12 de maio de 1840, restringe o poder
provincial e fortalece o poder central do Império. Acuados, os liberais aproximam-se dos partidários de
dom Pedro. Juntos, articulam o chamado golpe da maioridade, em 23 de julho de 1840.

Revoltas no Período Regencial


Em muitas partes do império a insatisfação com o governo cresceu muito, levando alguns grupos a
apelarem para a luta armada e a revolta como forma de protesto.

Cabanagem (1833-1840)
A Cabanagem foi uma revolta que ocorreu entre 1833 e 1839, na região do Grão-Pará, que
compreende os atuais estados de Amazonas e Pará. A revolta começou a partir de pequenos focos de
resistência que aumentaram conforme o governo tentava sufocar os protestos, impondo leis mais rígidas
e a obrigação de participação no exército daqueles que fossem considerados praticantes de atos
suspeitos. A cabanagem contou com grande participação da população pobre, principalmente os
Cabanos, pessoas que viviam em cabanas na beira dos rios. Os revoltosos tomaram a cidade de Belém,
porém foram derrotados pelas tropas imperiais.

Revolução Farroupilha (1835-1845)


A Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos foi uma revolta promovida por grandes proprietários
de terras no Rio Grande do Sul, conhecidos como estancieiros. O objetivo de seus líderes era de separar-
se do restante do país.
A revolta começa pelo descontentamento de produtores do sul do país em relação à produtores
estrangeiros de Charque, principalmente os platinos e argentinos que comercializavam e concorriam com
os estancieiros pelo mercado do produto no Brasil, utilizado principalmente na alimentação de escravos.
Em 1835, insatisfeitos com o governo, os estancieiros iniciam a revolta, tendo Bento Gonçalves como
principal chefe do movimento, comandando as tropas farroupilhas que dominaram Porto Alegre. Com as

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vitórias obtidas foi proclamado um governo independente em 1836, conhecido como Republica do Piratini,
com Bento Gonçalves como presidente.
Em 1839, o movimento farroupilha conseguiu ampliar-se. Forças rebeldes, comandadas por Giuseppe
Garibaldi e Davi Canabarro, conquistaram Santa Catarina e proclamaram a República Juliana. A revolta
consegue ser contida somente após a coroação de D. Pedro II e os esforços do Barão de Caxias,
encerrando os conflitos em 1 de março de 1845.

Revolta dos Malês (1835)


Em Salvador, nas primeiras décadas do século XIX, os negros escravos ou libertos correspondiam a
cerca de metade da população. Pertenciam a vários grupos étnicos, culturais e religiosos, entre os quais
os muçulmanos – genericamente denominados malês -, que protagonizaram a Revolta dos Malês, em
1835.
O exército rebelde era formado, em sua maioria, por “negros de ganho”, escravos que vendiam
produtos de porta em porta e, ao fim do dia, dividiam os lucros com os senhores. Podiam circular mais
livremente pela cidade que os escravos das fazendas, o que facilitava a organização do movimento. Além
disso, alguns conseguiam economizar e comprar a liberdade. Os revoltosos lutavam contra a escravidão
e a imposição da religião católica, em detrimento da religião muçulmana.
A repressão oficial resultou no fim da Revolta dos Malês, que teve muitos mortos, presos e feridos.
Mais de quinhentos negros libertos foram degredados para a África.

Sabinada (1837-1838)
A Sabinada ocorreu na Bahia, com o objetivo de implantar uma república independente. Foi liderada
pelo médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, e por isso ficou conhecida como Sabinada. O
principal objetivo da revolta era instituir uma república baiana, mas só enquanto o herdeiro do trono
imperial não atingisse a maioridade legal. Diferentemente de outras revoltas ocorridas no período, a
sabinada não contou com o apoio das camadas populares e nem com os grandes proprietários rurais da
região, o que garantiu ao exército imperial uma vitória rápida.

Balaiada (1838-1841)
A Balaiada ocorreu no Maranhão, em 1838, e recebeu esse nome devido ao apelido de uma das
principais lideranças do movimento, Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o "Balaio", conhecido por ser
um vendedor do produto.
A Balaiada representou a luta da população pobre contra os grandes proprietários rurais da região. A
miséria, a fome, a escravidão e os maus tratos foram os principais fatores de descontentamento que
levaram a população a se revoltar.
A principal riqueza produzida na província, o algodão, sofria forte concorrência no mercado
internacional, e com isso o produto perdeu preço e compradores no exterior. Além da insatisfação popular,
a classe média maranhense também se encontrava descontente com o governo imperial e suas medidas
econômicas, encontrando na população oprimida uma forma de combatê-lo.
Os revoltosos conseguiram tomar a cidade de Caxias em 1839 e estabelecer um governo provisório,
com medidas que causaram grande repercussão, como o fim da Guarda Nacional e a expulsão dos
portugueses que residiam na cidade.
Com a radicalização que a revolta tomou, como a adesão de escravos foragidos, a classe média que
apoiava as revoltas aliou-se ao exército imperial, o que enfraqueceu bastante o movimento e garantiu a
vitória 1841, com um saldo de mais de 12 mil sertanejos e escravos mortos em batalhas. Os revoltosos
que acabaram presos foram anistiados pelo imperador.

A Maioridade
Durante o período em que aguardava a maioridade, o jovem Pedro preparou-se para exercer sua
função, como demonstra uma carta18 enviada para a irmã, a rainha Maria da Glória, de Portugal
“Querida e muito amada irmã. Aproveitamos a viagem a Paris que faz o Sr. Antônio Carlos d’Andrada,
irmão do nosso Tutor, para dar-lhe notícias. Há muito tempo estamos privados das suas, assim como das
de nossa querida Mamãe [...] Aqui esforçamo-nos em seguir o seu exemplo: Escrita, Aritmética,
Geografia, Desenho, Francês, Inglês, Música e Dança dividem os nossos momentos; fazemos constantes
esforços para adquirir conhecimento e somente a nossa aplicação pode trazer um pouco de lenitivo às
vivas saudades que nos faz experimentar a separação [...]”

18 Fonte: Schwarcz, Lilian. As Barbas do Imperador.

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Com todos os problemas e a instabilidade ocorridos durante o período regencial, desde 1835 já havia
um movimento que buscava antecipar a coroação de D. Pedro II, que pela constituição deveria acontecer
em 1843, quando o monarca fizesse dezoito anos.
Os liberais, ou progressistas, fora do poder desde a renúncia do Regente Feijó, apoiaram a ideia de
reduzir a idade para a coroação, esperando voltar ao governo. Os conservadores ou regressistas viam a
proposta de antecipação como forma de consolidar a Monarquia e de preservar a unidade do Império. No
Governo, desde a eleição de Pedro de Araújo Lima para o cargo de Regente Uno do Império, os
conservadores pareciam não estar seguros da continuidade do regime regencial, que se mostrara incapaz
no combate às várias revoltas e na manutenção da ordem política.
Em 1837, já com uma regência conservadora, propôs-se a revisão do Ato nesses termos, numa
discussão que se arrastou até 1840. Finalmente nesse ano os conservadores conseguiram passar essas
reformas, prontamente respondidas pelos liberais com a sugestão ao parlamento de adiantar a
maioridade de D. Pedro II, já naquele ano, sob a justificativa da necessidade da figura imperial para a
pacificação da nação.

O Segundo Reinado
Em 1840, com apenas 14 anos, D. Pedro II tornou-se imperador do Brasil, posição que iria manter por
quase cinquenta anos. D. Pedro II realizou parcerias com a Elite Agrária do País, classe de grande
influência no século XIX. Tendo-os como aliados, os favores começaram a prevalecer. O Imperador dava
toda condição e estrutura para que essa Elite continuasse produzindo cada vez mais e em troca recebia
todo apoio político necessário para se consolidar no poder. Dessa maneira, em pouco tempo, o Segundo
Reinado conseguiu fazer do Brasil um País estável e próspero.
Em relação à Economia, o Café se transformou e se consolidou como o principal produto brasileiro
para exportação, provocando um grande crescimento econômico. Inicialmente produzido no Vale do
Paraíba, entre São Paulo e a região Fluminense, se expandiu rapidamente, por se tornar um produto de
grande aceitação mundial.
Nasce assim uma nova Elite, agora concentrada no Sudeste, a Elite Cafeeira, que se tornara mais rica
que os antigos Senhores de Engenhos produtores de açúcar.

Liberais e Conservadores
O grupo político dos liberais moderados dividiu-se por volta de 1837 nas alas regressista e
progressista, formando a partir de 1840, dois partidos políticos. O Partido Conservador, constituído pelos
regressistas e apelidado de Saquarema e o Partido Liberal, formado pelos progressistas e chamado
de Luzia.
Luzias e Saquaremas dominaram o cenário político do Segundo Reinado. Os conservadores
defendiam um governo imperial forte e centralizado, enquanto os liberais lutavam por uma
descentralização, concedendo certa autonomia às províncias. No entanto, quando conquistavam o poder,
liberais e conservadores não apresentavam atitudes muito diferentes.

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As Eleições do Cacete
Assim que D. Pedro II assumiu o poder, foi criado o Ministério da Maioridade, com o objetivo de auxiliar
o jovem imperador a governar o país. Esse Ministério, que era composto por uma maioria liberal, também
foi chamado de Ministério dos Irmãos, pois era formado, entre outros, pelos irmãos Antônio Carlos e
Martim Francisco de Andrada e os irmãos Cavalcanti, futuros Viscondes de Albuquerque e de Suassuna.
Na Câmara, ao contrário do Ministério, a maioria dos políticos era composta de conservadores,
dificultando as decisões ministeriais. Com o objetivo de resolver essa disputa de poderes, a câmara foi
dissolvida e novas eleições foram convocadas.
Em 13 de outubro de 1840, foram realizadas as eleições, que ficaram conhecidas pelo polêmico nome
de Eleições do Cacete, ganhando até um lema: “para os amigos pão, para os inimigos pau”, visto
que foram marcadas por inúmeras fraudes eleitorais e uso da violência física para garantir a vitória ao
Partido Liberal. Capangas contratados pelos liberais invadiram os locais de votação para coagir eleitores
e ameaçar de morte adversários políticos.
O governo alterou todo o processo eleitoral nomeando novos presidentes para as províncias e
substituindo chefes de polícia, juízes de direito e oficiais superiores da Guarda Nacional de orientação
conservadora.
A retomada do poder pelos liberais foi passageira, visto eu enfrentaram diversas questões de peso,
como o agravamento da Guerra dos Farrapos, a pressão inglesa pelo fim do tráfico negreiro e a
repercussão da vitória nas eleições com o uso da força bruta.
Para resolver essas questões, o imperador destituiu a câmara recém-eleita e formou um novo
ministério em março de 1841, abrigando membros de ambos os grupos políticos.
Com o retorno ao poder, os conservadores buscaram concluir as mudanças “regressistas” que foram
interrompidas com o Golpe da Maioridade. Entre as medidas destacam-se o restabelecimento do
Conselho de Estado, que havia sido extinto pelo Ato Adicional de 1834, e a reforma do Código de
Processo Criminal.
A disputa entre liberais e conservadores seria uma das características de todo o segundo reinado.
Apesar dos confrontos, ambos os partidos tinham origem na elite do império e possuíam mais
semelhanças que diferenças. Por conta das semelhanças, o político do período imperial Hollanda
Cavalcanti cunhou a emblemática frase: “Nada mais parecido com um saquarema[conservador] do que
um luzia [liberal] no poder”.

Revolução Praieira
A revolução Praieira ocorreu em 1848, nascida de uma rivalidade entre os partidos Liberal e
Conservador na província de Pernambuco. Nessa época, o país se recuperava da crise econômica e,
enquanto as províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais prosperavam economicamente com
a produção e exportação do café, as províncias nordestinas estavam em decadência devido à crise
da produção do açúcar e do algodão.
Além da crise agrária, a província de Pernambuco possuía grandes problemas sociais, como o fato do
comércio e da política estarem nas mãos de portugueses que não admitiam trabalhadores brasileiros em
seus estabelecimentos, impunham os preços sem nenhuma forma de regulamento e possuíam total
controle político.
Com a criação do Partido da Praia em 1842, formado por um grupo de democratas e liberais
pernambucanos, liderados por Borges da Fonseca, Abreu Lima, Inácio Bento de Loiola, Nunes Machado
e Pedro Ivo, surge uma nova voz na política pernambucana, que acreditava que a luta armada seria a
forma de resolver os problemas locais.
Com eleição de um presidente conservador para a província em 1848, os membros do Partido da Praia
lançaram o chamado "Manifesto ao Mundo", documento em que exigiam o fim da monarquia e a
proclamação de uma república; o fim do voto censitário; a extinção do Senado Vitalício e do Poder
Moderador; o fim dos privilégios comerciais dos estrangeiros e a liberdade de imprensa.
Logo após, tomam a iniciativa de liderar uma revolta com a participação das camadas populares, que
ficou conhecida como revolução praieira, tendo início na cidade de Olinda com a derrubada do presidente
da província. Apesar da tentativa de tentar tomar controle de toda a província, os revoltosos foram
contidos em 1849 pelas tropas imperiais. A Revolução Praieira foi a última grande revolta contra o governo
imperial.

O Parlamentarismo às Avessas
O sistema parlamentarista é usado tanto em monarquias quanto em repúblicas. Nele, o chefe do
Estado, seja ele rei ou presidente, não é o chefe do governo e por isso não tem responsabilidades
políticas. Ao invés dele, o chefe de governo é o Primeiro Ministro, o qual é indicado pelo Parlamento. A

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aprovação do Primeiro Ministro e do seu Conselho de ministros pela Câmara dos Deputados se faz pela
aprovação de um plano de governo a eles apresentado. A Câmara ficará encarregada de empenhar-se
pelo cumprimento desse plano perante o povo.
No Brasil, foi criado um sistema parlamentarista oposto ao modelo apresentado acima, que é
comumente conhecido como parlamentarismo inglês, visto que o sistema foi desenvolvido dessa forma
na Inglaterra.
Em 1847, D. Pedro II criou o sistema parlamentarista que ficou conhecido como Parlamentarismo às
avessas, através da criação do cargo de presidente de Conselho de Ministros. Este, que era uma espécie
de primeiro-ministro, era escolhido por D. Pedro II, subordinando assim o Parlamento ao imperador.
Quando ocorria algum impasse entre o poder executivo e o legislativo, D. Pedro II tinha o poder de
dissolver a Câmara ou substituir o presidente do Conselho de Ministros.
Principais características do parlamentarismo “às avessas”
- O primeiro-ministro era escolhido pelo imperador (executivo) e não pelo partido de maioria no
Parlamento (legislativo), como ocorre na Inglaterra.
- O Parlamento ficava subordinado ao imperador (D. Pedro II).
- Era centralizador (poder centralizado no imperador).
- Era oligárquico, pois o imperador quase sempre atendia somente aos interesses dos grandes e ricos
fazendeiros.

A Influência do Café
O café foi o principal produto de exportação durante o Segundo Reinado. As primeiras mudas e
sementes de café chegam ao Brasil no século XVIII, por volta de 1730, vindas da América Central e das
Guianas, mas é só a partir do começo do século XIX que a cafeicultura ganha o interesse dos grandes
proprietários. O café surgiu como salvação para o modelo de grande propriedade e monocultura de
exportação, vigente até então no Brasil.
O consumo de café pelos europeus começou a crescer durante o século XVIII, com fornecimento vindo
da Arábia. Com a popularização do consumo, a América passou a exportar também o produto.
Começando da região do Rio de Janeiro, centro do império, o café expandiu-se logo na primeira década
do século XIX para o interior fluminense e durante os anos de 1830 alcançou o Vale do Paraíba, e
posteriormente, a Zona da Mata em Minas Gerais.
O café esteve presente em praticamente todo o estado de São Paulo, expandindo-se rumo ao Oeste
Paulista, que apresentava condições favoráveis ao cultivo. Apesar da existência de diversos grupos
indígenas que habitavam o interior do estado, na segunda metade do século XIX os grupos de resistência
haviam sido exterminados ou transferidos para aldeamentos e o café consolidou-se pelo restante do
estado. Juntamente com o café, surgiram as estradas de ferro, utilizadas principalmente para transportar
o produto para o litoral até o porto de Santos.
Entre os fatores para o sucesso do Café, podem ser observados a estrutura de monocultura já
presente, a utilização da mão-de-obra escrava e a adaptação ao clima e ao solo brasileiros.
Com o crescimento da produção, a demanda por braços para a lavoura aumentou consideravelmente,
fazendo com que os proprietários buscassem importar mais escravos. A insistência inglesa na proibição
do tráfico de escravos contribuiu para a utilização de imigrantes europeus, trabalhando como assalariados
nas fazendas do sudeste.

Cultura
D. Pedro II foi um grande apreciador das ciências e das artes. Diferente do cenário político, onde
apresentava-se poucas vezes, geralmente no início e no fim dos trabalhos na câmara, o monarca teve
um influente papel na produção cultural e na fabricação da identidade brasileira.
D. Pedro era frequentador assíduo das reuniões do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB),
que tornou-se um centro produtor de literatura e outros trabalhos intelectuais, sob a proteção do
imperador. Já no ano de 1838, havia sido convidado a tornar-se “protetor” da instituição, e em 1839
ofereceu uma das salas do paço imperial para as reuniões do Instituto.
No campo literário, o romantismo predominou, com a exaltação da figura indígena, apontado como
elemento importante da cultura brasileira, porém descrito a partir de traços europeizados e
representações de passividade perante o domínio dos brancos. A obra O Guarani, publicada em 1857
por José de Alencar, é um exemplo dessa representação. O índio Peri é retratado como um herói, que
luta contra outras tribos indígenas rebeldes e antropófagas (praticantes de algumas formas de
canibalismo). Outros autores também produziram obras centradas na figura do indígena, como Gonçalves
Dias em I-Juca-Pirama, e Gonçalves de Magalhães em A Confederação dos Tamoios.

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No campo artístico, as obras do pintor Victor Meireles buscavam também retratar um indígena passivo
em relação aos portugueses, porém heroico e símbolo de martírio. Dois exemplos dessa representação
estão nas obras abaixo:

A Primeira Missa no Brasil, 1861. Museu Nacional de Belas Artes.

A obra A Primeira Missa no Brasil demonstra os indígenas em situação de passividade, curiosos com
o povo estranho que acabara de chegar em seus territórios, executando um ritual religioso. Nenhum
indígena opõe-se à realização da missa, mesmo sendo totalmente diferente de suas crenças ou
costumes. A cruz aparece como elemento central na composição da imagem, com o objetivo de afirmar
a fé católica.

Moema, 1866. Museu de Arte de São Paulo

Apesar de ser índia, Moema, representada na obra de 1866, possui pela extremamente clara, quase
branca. O quadro é uma interpretação do conto Caramuru, do frei Santa Rita Durão, escrito em 1781.
Moema, apaixonada por Caramuru, resolve atirar-se ao mar quando o português está regressando para
a Europa. Incapaz de alcançar o barco, a índia acaba morrendo afogada, em uma inocente busca por seu
amor. O corpo de Moema, já sem vida na praia, está envolto por uma natureza mística e exuberante.
Ainda no campo das artes, em 1857 foi fundada a Imperial Academia de Música e a Ópera Nacional,
destinadas a formar músicos nacionais e difundir o canto lírico, sendo o imperador um grande admirador
das sinfonias do alemão Richard Wagner.
D. Pedro também possuía muito interesse nas instituições de ensino do império, com constantes
visitas, principalmente ao colégio que levava seu nome, o Pedro II. Fundado em 2 de dezembro de 1837,
o Colégio Pedro II é uma das mais tradicionais instituições públicas de ensino básico do Brasil. Nele o
monarca fazia vistorias, acompanhava provas, fazia a seleção de professores e conferias medias.
Também no campo da medicina, foram vários os incentivos, como o financiamento de estudos e
investimento no hospício da corte.

O caso indígena
Durante o século XVIII houve um projeto civilizador voltado para a Colônia.
Na construção do processo civilizador, a barbárie desempenha parte importante do contexto. A
administração portuguesa estava convencida de que os povos que não estavam sob o poder real
forçosamente precisavam ser subjugados. Embora tenha sido desenvolvido na Metrópole, tal projeto foi,
em linhas gerais, absorvido pelas elites coloniais”. O espaço no qual deveria delinear-se a intervenção
civilizadora deveria ser capaz de justificar, em função de suas culturas ou produtos naturais passíveis de
extração, a viabilidade de se alocar recursos nessa empreitada: “Este projeto civilizador foi executado em
regiões que poderiam propiciar algum tipo de retorno financeiro não só às próprias expedições que
partiam para o seu controle, como também às elites locais e à metrópole”.

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Dentro do contexto apresentado, serve de exemplo a declaração de guerra por D. João VI contra os
índios insurgentes do Sertão do Leste de Minas Gerais– os Botocudos - imediatamente após sua chegada
ao Brasil. Ato contínuo às ações que levaram à abertura dos portos e à permissão oficial para o
estabelecimento de fábricas e manufaturas no Brasil, a Carta Régia que “manda fazer guerra aos índios
botocudos”, de 13 de maio de 1808 (que é anterior, inclusive, à declaração de guerra portuguesa aos
franceses) revela o firme propósito da Coroa em “civilizar” todos os indígenas ainda não pacificados nos
sertões do leste:
“(...) deveis considerar como principiada contra estes índios antropófagos uma guerra ofensiva que
continuareis sempre em todos os anos nas estações secas e que não terá fim, senão quando tiverdes a
felicidade de vos senhorear de suas habitações e de os capacitar da superioridade das minhas reais
armas de maneira tal que movidos do justo terror das mesmas, peçam a paz e sujeitando-se ao doce jugo
das Leis e prometendo viver em sociedade, possam vir a ser vassalos úteis, como já o são as imensas
variedades de índios que nestes meus vastos Estados do Brasil se acham aldeados e gozam da felicidade
que é consequência necessária do estado social (...) Que sejam considerados como prisioneiros de
guerra todos os índios Botocudos que se tomarem com as armas na mão em qualquer ataque; e que
sejam entregues para o serviço do respectivo Comandante por dez anos, e todo o mais tempo em que
durar sua ferocidade, podendo ele empregá-los em seu serviço particular durante esse tempo e conservá-
los com a devida segurança, mesmo em ferros, enquanto não derem provas do abandono de sua
atrocidade e antropofagia. (...) e me dará conta pela Secretaria de Estado de Guerra e Negócios
Estrangeiros, de tudo o que tiver acontecido e for concernente a este objeto, para que se consiga a
redução e civilização dos índios Botocudos, se possível for, e a das outras raças de índios que muito vos
recomendo”;

A questão agrária
A política agrária durante o período colonial brasileiro esteve baseada na concessão de sesmarias, um
regime de doações de terras utilizado pela coroa portuguesa, cujo objetivo seria estimular a ocupação do
território e estender o alcance da ação civilizatória. A historiografia registra que esse sistema de
ordenação territorial, que condicionava a efetiva ocupação e o tratamento produtivo do agraciado às terras
recebidas como condição necessária para a manutenção da propriedade, foi ao longo do tempo alvo de
inúmeras alterações em seus dispositivos legais, refletindo as diferentes realidades históricas que se
impunham aos gestores das políticas públicas.
D. João VI, tentando ordenar a distribuição das sesmarias e reconhecendo que ordens suas e
determinações anteriores sobre os limites das sesmarias concedidas estavam sendo desrespeitadas
amplamente, tornando-se foco de litígios entre os proprietários de terra, suspendeu em 1809 a emissão
de novas concessões até que as medições fossem regularizadas por funcionários a serem designados
para todas as vilas do país.
No mesmo alvará, o monarca ressaltava a importância estratégica do tema para a agenda Real: “(...)
para que se ajunte, tanto quanto se possa, o interesse do Bem Público no aumento da Agricultura, e
Povoação desse vastíssimo Estado, que muito Desejo promover, e adiantar, com a segurança, os
Sagrados Direitos da Propriedade, de cuja ofensa resultaria o despovoamento das terras, e a
despovoação”.
A sesmaria era o principal meio legal de apropriação das terras, em geral destinada a cidadãos com
influência junto à burocracia estatal. A menção de denúncias sobre abuso e ilegalidades ocorridas na
distribuição e manutenção das sesmarias não é rara na historiografia. No entanto, entre a obtenção de
uma sesmaria e sua efetiva ocupação, não era incomum a ocorrência de hiato temporal relativamente
longo, extrapolando inclusive a previsão legal. Como exemplo, sesmarias concedidas no início de 1800
na área do atual município de Leopoldina, que em poucas décadas se consolidaria como uma das
principais cidades da região da Zona da Mata Mineira, só começaram a ser efetivamente ocupadas
décadas depois, e mesmo assim por familiares do titulares. Com a independência do Brasil, o sistema de
posses tornou-se o único no país até o advento da lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, que dispunha
sobre as terras devolutas do império, legitimando as sesmarias e posses anteriormente constituídas,
desde que cultivadas.
Como parte dos acordos firmados entre Brasil e Inglaterra depois que a antiga colônia de Portugal
adquiriu sua independência, estava a exigência da abolição do trabalho escravo, medida que beneficiava
largamente os interesses ingleses. Apesar do comprometimento brasileiro em acabar com a escravidão
em 5 anos (antes de 1830), a primeira medida expressiva do país nesse sentido concretizou-se apenas
em 4 de setembro de 1851, com a lei Nº 581, conhecida como Lei Eusébio de Queiroz.
A lei proibia o tráfico negreiro no Brasil, e criminalizava a prática como ato de pirataria para aqueles
que nela insistissem.

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Como consequência da proibição do tráfico de escravos, que constituíam a quase totalidade da mão-
de-obra no país, os cafeicultores do sudeste tiveram de importar escravos de dentro do território,
especialmente da região Nordeste, que passava por um período de decadência.
Poucos dias depois da aprovação da lei Eusébio de Queiroz, foi aprovada outra lei, que ficou conhecida
como Lei de Terras.
Com o objetivo de garantir a posse de terras nas mãos dos grandes proprietários rurais, especialmente
os produtores de café, a lei Nº 601, de 18 de setembro de 1850 tinha a pretensão de regulamentar as
terras ditas devolutas, ou seja, terras desocupadas, na visão desses grandes proprietários (vale lembrar
que essas terras, apesar de declaradas desocupadas eram habitadas por indígenas, vistos como
selvagens e algo um pouco além de animais, e por posseiros que não possuíam títulos de posse
das terras).

Além disso, a criação da lei pretendia


- Estabelecer a compra como única forma de obtenção de terras públicas. Desta forma, inviabilizou os
sistemas de posse ou doação para transformar uma terra em propriedade privada.
- O governo imperial pretendia arrecadar mais impostos e taxas com a criação da necessidade de
registro e demarcação de terras. Esses recursos tinham como destino o financiamento da imigração
estrangeira, voltada para a geração de mão-de-obra, principalmente, para as lavouras de café. Vale
lembrar que o tráfico de escravos já era uma realidade que diminuía cada vez mais a disponibilidade de
mão-de-obra escrava.
- Dificultar a compra ou posse de terras por pessoas pobres, favorecendo o uso destas para fins de
produção agrícola voltada para a exportação. Este objetivo foi alcançado pelo governo, pois esta lei
provocou o aumento significativo nos preços das terras no Brasil.
- Favorecer os grandes proprietários rurais, que passavam a ser os únicos detentores dos meios de
produção agrícola, principalmente a terra, no Brasil.
- Tornar as terras um bem comercial (fonte de lucro), tirando delas o caráter de status social derivado
da simples posse.

Imigração
No Brasil, o projeto de imigração fundava sua base na exclusão do trabalho escravo na agricultura,
sempre tendo em mente que o negro não era considerado benéfico para tal atividade. O trabalhador
escravo estava sendo substituído pelo trabalhador livre, em geral o europeu branco.
Os fatores que motivaram a imigração podem ser os religiosos (perseguições religiosas), políticos
(exílio político), a questão econômica, e o fator demográfico como expoente valorativo das taxas de
emigrações na Europa, principalmente porque durante o século XVIII, as taxas de natalidade subiram
cerca de 1% ao ano, número representativo para a Europa, que influenciou, também, o processo
imigratório.
Os enclosures (processo de passagem de terras livres ou comuns para o uso privado, com a
demarcação de áreas e seu cercamento), alteraram a relação entre a terra e os trabalhadores. Esses
cercamentos pressionavam os pequenos e grandes proprietários de terras a dividirem mais e mais sua
propriedade. Ao aumentar a taxa de natalidade, a divisão entre os herdeiros que dependiam da terra
crescia concomitantemente. Os olhos voltaram-se para a América por fatores que os atraíam e que não
podiam ser ignorados. O Brasil, ao contrário da Europa, dispunha de terra e carecia de mão-de-obra.
Entretanto, apesar da alta disponibilidade de terras no Brasil, a imigração europeia concentrou-se na
região Sul e Sudeste e representava um número pequeno em comparação com a população residente no
país.
Além da disponibilidade da terra na região sul do Brasil, ou Brasil Meridional, havia um objetivo
específico de quem deveria vir povoar esse território. “Povoar” no sentido que consideravam vazio esse
espaço, como salientamos acima. A expressão mais apropriada para tal empreendimento deveria ter sido
“repovoar” ou “recolonizar”, uma vez que havia indígenas nesses lugares.
As primeiras experiências para adotar o imigrante europeu como trabalhador nas lavouras de café
ocorreu em 1847, quando Nicolau de Campos Vergueiro, senador do império e regente provisório,
resolveu trazer imigrantes alemães e suíços para trabalhar em suas fazendas de café no Oeste Paulista,
através de um sistema conhecido como parceria: nele, os parceiros (no caso, os imigrantes) trabalhavam
no cultivo e na colheita do café, dividindo com o proprietário os lucros e os prejuízos resultantes do cultivo.
A experiência de Vergueiro foi de certa forma infrutífera, pois os imigrantes, apesar de saírem da Europa
em um contexto de fome e conflitos, eram submetidos a condições de tratamento extremamente rígidas,
como a proibição de enviar correspondências aos familiares na Europa. Somando-se a isso, havia a
mentalidade do trabalho escravo, ainda presente, o que dificultava a criação de novas formas de trabalho.

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Após revoltas ocorridas na década de 1850, o sistema de parceria foi abandonado.
Apesar da proibição no tráfico de escravos em 1850, apenas na década de 1880 os imigrantes
começam a aparecer com força no cenário da produção de café em São Paulo. As péssimas condições
de trabalho e a propaganda enganosa sobre a aquisição de terras no Brasil contribuíram para o fracasso
nas tentativas de atração de imigrantes, tendo inclusive o governo italiano desaconselhado a imigração
para cá, em uma circular que descrevia São Paulo como região inóspita e insalubre.
Somente nos últimos anos do império, com a necessidade de mão-de-obra cada vez mais crescente,
e com a abolição da escravidão já apontando como realidade, os fazendeiros e também o governo
resolveram ampliar a proposta para os imigrantes, como o pagamento do transporte e do alojamento ao
chegarem ao Brasil. As condições sociais, principalmente na Itália, abatida pela fome, contribuíram
também para o movimento migratório para o Brasil.

A imigração no Sul: Desde a Independência do Brasil houve a intenção de ocupar as partes mais
afastadas do império, como a região do Rio Grande do Sul, cobiçado por nações vizinhas e, portanto,
motivo de preocupação, o governo imperial tomou medidas para incentivar a vinda de imigrantes para o
Brasil.
Essa preocupação com a fronteira Sul levou o imperador D. Pedro I a ordenar a vinda de colonos
alemães.
Em 1824 chegaram os primeiros colonos, recrutados pelo major Jorge Antonio Schaffer, que foram
enviados para a região do atual município de São Leopoldo no Rio Grande do Sul. Apesar das dificuldades
enfrentadas no início, a colônia conseguiu crescer, espalhando-se pela região do Vale do Rio dos Sinos.
Em Blumenau (atual região de Santa Catarina) surgiram colônias de caráter privado, ou seja, que não
foram sustentadas pelo governo.
A Colônia Nova Itália foi fundada em 1836 e correspondente ao atual município de São João Batista.
Criada pela empresa “Demaria e Schutel”, Os colonos eram originários, na sua maioria, da Ilha da
Sardenha. Localizada às margens do rio Tijucas, a colônia teve maior desenvolvimento durante o período
em que esteve sob a direção do suíço Luc Montandon Boiteux.
A Colônia de Itajaí, fundada em 1835, foi criada pela lei Provincial n.º 11, que permitiu estabelecer
duas colônias compostas de elementos nacionais e estrangeiros no município de Porto Belo. Uma delas
seria localizada à margem do rio Itajaí-Açu, na localidade de “Pocinho” e outra ficaria próxima ao rio Itajaí-
Mirim, no lugar chamado “Tabuleiro”.
A Colônia de Vargem Grande foi fundada em 1837, às margens do rio dos Bugres e da estrada que
servia de ligação entre o planalto e o litoral. Foi constituída por colonos alemães que vinham da antiga
colônia de São Pedro de Alcântara, descontentes com a má administração e as brigas por falta de
pagamentos e desentendimentos sobre terras. Dela originou-se a localidade de Löffelscheidt, atualmente
município de Águas Mornas.
Durante o reinado de D. Pedro II houve um grande incentivo para a imigração e a criação de colônias
de imigrantes no império.
Em Santa Catarina destacaram-se a Colônia do Saí, fundada em 1840 pelo médico francês Dr. Joseph
Mure na península do Saí, próxima a São Francisco; e a Sociedade Belgo-Brasileira de Colonização,
criada por Charles Van Lede, para o transporte de colonos belgas à Província de Santa Catarina.
Em 1848 foi publicada a lei nº 514, que em seu artigo 16º determinava:
A cada huma das Provincias do lmperio ficão concedidas no mesmo, ou em diferentes lugares de seu
ter em quanto não estiverem effectivamente roteadas e aproveitadas, e reverterão ao dominio Provincial
se dentro de cinco annos os colonos respectivos não tiverem cumprido esta condição.
A criação da lei incentivou a política de imigração no país, em especial nas províncias de Santa
Catarina e São Paulo.
Em Santa Catarina a lei facilitou ainda mais a imigração de alemães, que vinham para o Brasil em
busca de riquezas míticas e também para fugir da situação em que viviam em seu país natal. Para auxiliar
no translado e adaptação dos imigrantes foi criada a Sociedade de Proteção aos Imigrantes Alemães, da
qual ficou encarregado Hermann Bruno Otto Blumenau. Sob a fiscalização de Blumenau foram criadas
várias colônias.
A Colônia de Blumenau foi criada em 1850, em uma associação entre Herman Blumenau e o
comerciante Fernando Hackdrat. O destaque da colônia foi a escolha de Blumenau pelos profissionais de
diversas áreas que a habitariam. A colônia cresceu rapidamente e foi elevada à categoria de município
em 1880.

A Colônia Dona Francisca foi criada em 1851, a partir da iniciativa da princesa Francisca, que era
filha de D. Pedro I e casada com o filho do rei da França, Luiz Felipe. O casal resolveu aproveitar as terras

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que eram de posse da princesa para explorar a criação de uma colônia, que teve como organizador o
Senador Christiano Mathias Schroeder, dono da Sociedade Colonizadora de Hamburgo. A colônia
destacou-se pela diversidade de países a qual seus habitantes pertenciam: suíços, noruegueses,
alemães, dinamarqueses. Outros dados interessantes eram a liberdade de culto existente na colônia, a
naturalização daqueles que adquirissem terras na colônia e fossem residentes a mais de dois anos e a
regra da utilização somente de mão-de-obra livre, sendo proibida a utilização de escravos.
A Colônia Itajaí – Brusque teve início em 1860, com a chegada de colonos alemães. Apesar de ser
oficialmente nomeada Itajaí, o nome Brusque foi uma homenagem ao presidente da província de Santa
Catarina, Francisco Carlos de Araújo Brusque.
Além da colonização alemã, outros grupos destacaram-se, como italianos, poloneses, árabes e gregos.
Para as colônias Italianas é possível destacar as colônias do Vale do Itajaí-açu, do vale do Itajaí-
mirim e vale do Tijucas e no sul catarinense, principalmente na região do vale do Rio Tubarão.
Tanto alemães como italianos exerceram grande influência nos costumes e na cultura catarinenses.
Entre as principais influências estão os hábitos alimentares como carne defumada, linguiças e queijos
dos mais variados tipos.
Esse movimento de deslocamento transoceânico de populações já vinha ocorrendo em toda a Europa,
a partir de meados do século XIX, perdurando até o início da Primeira Guerra Mundial. A onda imigratória
foi impulsionada, de um lado, pelas transformações socioeconômicas que estavam ocorrendo em alguns
países do continente e, de outro, pela maior facilidade dos transportes, advinda da generalização da
navegação a vapor e do barateamento das passagens. A partir das primeiras levas, a imigração em
cadeia, ou seja, a atração exercida por pessoas estabelecidas nas novas terras, chamando familiares ou
amigos, desempenhou papel relevante. Segundo os dados da imigração, entre 1800 e 1955, os Estados
Unidos receberam aproximadamente 40 milhões de imigrantes, a Argentina recebeu 7 milhões, e o
Canadá recebeu 5,3 milhões.
No caso brasileiro, os dados indicam que em torno de 4,5 milhões de pessoas imigraram para o país
entre 1882 e 1934. Destes, 2,3 milhões entraram no estado de São Paulo como passageiros de terceira
classe, pelo porto de Santos, não estando, pois, aí incluídas entradas sob outra condição. É necessário
ressalvar, porém, que, em certas épocas, foi grande o número de retornados. Em São Paulo, por exemplo,
no período de crise cafeeira, (1903-1904), a migração líquida chegou a ser negativa. Um dos traços
distintivos da imigração para São Paulo, até 1927, foi o fato de ter sido em muitos casos subsidiada,
sobretudo nos primeiros tempos, ao contrário do que sucedeu nos Estados Unidos e, até certo ponto, na
Argentina.
O subsídio consistiu no fornecimento de passagem marítima para o grupo familiar e transporte para as
fazendas e foi uma forma de atrair imigrantes pobres para um país cujo clima e condições sanitárias não
eram atraentes. A partir dos anos 30, a imigração em massa cedeu terreno. A política nacionalista de
alguns países europeus - caso típico da Itália após a ascensão de Mussolini - tendeu a colocar obstáculos
à imigração para a América Latina.

Tráfico negreiro, lutas abolicionistas e fim da escravidão


Tentando atrair o capital do tráfico para a industrialização, a Inglaterra extinguiu o comércio de
escravos (1807) e passou a mover intensa campanha internacional contra o tráfico negreiro. Nas
negociações do reconhecimento da independência do Brasil, a Inglaterra condicionara o seu apoio à
extinção do tráfico e forçara Dom Pedro I a assinar, em 1826, um convênio no qual se comprometia a
extingui-lo em três anos. Cinco anos depois, a regência proibiu a importação de escravos (1831), mas a
oposição dos grandes proprietários rurais impediu que isso fosse levado à prática. Estimulado pela
crescente procura de mão-de-obra para a lavoura cafeeira, o tráfico de escravos aumentou:
desembarcaram no Brasil 19.453 escravos em 1845, 60 mil em 1848 e 54 mil em 1849.
Os navios ingleses perseguiam os navios negreiros até dentro das águas e dos portos brasileiros, o
que deu origem a vários atritos diplomáticos entre o governo imperial e o britânico. Finalmente, em 4 de
setembro de 1850, foi promulgada a Lei da Extinção do Tráfico Negreiro, mais conhecida como Lei
Eusébio de Queirós. Em 1851, entraram 3.827 escravos no Brasil, e apenas 700 no ano seguinte.
O fim da importação de escravos estimulou o tráfico interprovincial: para saldar suas dívidas com
especuladores e traficantes, os senhores dos decadentes engenhos do Nordeste e do Recôncavo Baiano
passaram a vender, a preços elevados, suas peças (escravos) para as prósperas lavouras do vale do
Paraíba e outras zonas cafeeiras. Forçados pela escassez e encarecimento do trabalhador escravo,
vários cafeicultores paulistas começaram a trazer colonos europeus para suas fazendas, como fizera o
senador Nicolau de Campos Vergueiro, em 1847, numa primeira experiência mal sucedida. A mão-de-
obra assalariada, porém, só se tornaria importante na economia brasileira depois de 1880, quando o
governo imperial passou a subvencionar e a regularizar a imigração, e os proprietários rurais se

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adaptaram ao sistema de contrato de colonos livres. Mais de 1 milhão de europeus (dos quais cerca de
600 mil italianos) imigraram para o Brasil em fins do século XIX.
A extinção do tráfico negreiro liberou subitamente grande soma de capitais que afluíram para outras
atividades econômicas. Entre 1850 e 1860, foram fundadas 62 empresas industriais, 14 bancos, três
caixas econômicas, 20 companhias de navegação a vapor, 23 companhias de seguros e oito estradas de
ferro.
A cidade do Rio de Janeiro, o grande empório do comércio de café, modernizou-se rapidamente: suas
ruas foram calçadas, criaram-se serviços de limpeza pública e de transportes urbanos, e redes de esgoto
e de água. A geração de empresários capitalistas que surgiu nesse período teve em Irineu Evangelista
de Sousa, barão e depois visconde de Mauá, sua figura mais representativa. Em 1844, o ministro da
Fazenda, Manuel Alves Branco, contrariando os interesses dos comerciantes e industriais ingleses,
colocou em vigor novas tarifas alfandegárias que variavam em torno de 30%, o dobro, portanto, das
anteriores. Embora visasse a solucionar a carência de recursos financeiros do governo imperial, essa
medida teve efeitos protecionistas: ao tornar mais caros os produtos importados, favorecia a fabricação
de similares nacionais.

Processo abolicionista
A memória da Abolição dentre nós é de uma concessão feita em 13 de maio de 1888 por uma princesa
branca que, em um ato de generosidade, livrou da escravidão milhares de brasileiros. Já a nossa memória
sobre o processo abolicionista é de que este começou nos finais da década de 1870, quando um grupo
de pessoas solidárias com o sofrimento dos escravizados ergueu como bandeira de luta o fim da
escravidão.
O crescimento da rebeldia escrava tem sido apontado como anterior ao movimento abolicionista e
mesmo como motivação para a aprovação da legislação emancipacionista. Diferentes explicações foram
dadas para o crescimento da resistência escrava, nas décadas de 1860 e 1870, perceptível pelos roubos,
aumento das fugas, das formações de quilombos cada vez mais próximos aos núcleos urbanos e pelos
assassinatos de senhores e prepostos. Boa parte das explicações para o aumento da criminalidade
escrava é relacionada ao final do tráfico de escravos, em 1850.

Lei no 581 (Lei Eusébio de Queirós), de 4 de setembro de 1850


“Dom Pedro, por Graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e
Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos os nossos súditos que a Assembleia Geral decretou
e nós queremos a Lei seguinte:
Art. 1o As embarcações brasileiras encontradas em qualquer parte, e as estrangeiras encontradas nos
portos, enseadas, ancoradouros, ou mares territoriais do Brasil, tendo a seu bordo escravos, cuja
importação está proibida pela Lei de sete de novembro de mil oitocentos e trinta e um, ou havendo-os
desembarcado, serão apreendidas pelas autoridades, ou pelos navios de guerra brasileiros e
consideradas importadoras de escravos.
Aquelas que não tiverem escravos a bordo, porém que se encontrarem com os sinais de se
empregarem no tráfico de escravos, serão igualmente apreendidas, e consideradas em tentativa de
importação de escravos.”

Lei no 2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de setembro de 1871


A Lei do Ventre Livre foi decorrente da inquietação dos escravizados, num momento em que o
sentimento abolicionista ainda não havia se propagado entre a classe média urbana. Existem várias
hipóteses que tentam explicar o aumento da revolta escrava nas décadas de 1860 e 1870. Dentre elas:
-As motivações para esta inquietação seria a mudança estrutural pela qual passava a população
escrava, que naquele momento passava a se constituir de brasileiros em sua maioria, ao invés de
africanos recém-chegados;
-O tráfico interno, que deslocava os escravizados indisciplinados do Norte para a cafeicultura também
seria um elemento incentivador da revolta escrava, pois os escravizados vindos de outras regiões
chegavam às lavouras do Sudeste com suas próprias concepções de “cativeiro justo”. Ou seja, com
definições de quais as atividades deveriam desempenhar, de ritmo de trabalho e de disciplina, e
frequentemente entravam em choque com os novos costumes

“A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber
a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1o Os filhos da mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei serão considerados
de condição livre.
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§1o Os ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais
terão obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos. Chegando o filho da escrava a
esta idade, o senhor da mãe terá a opção, ou de receber do Estado a indenização de 600$000, ou de
utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos completos. [...]”

Quando a Lei de 1871 foi criada, a sua intenção era atender algumas das reivindicações dos
escravizados e promover a emancipação através de um caminho pacífico e seguro - frente às revoltas
das décadas de 1850 e 1860 – que poderiam descambar numa revolução. Como já foi demonstrado pelos
vários estudiosos que estudaram as ações de liberdade ocorridas em diferentes e distantes localidades
do Brasil, os escravizados souberam manipular habilmente as brechas contidas na Lei do Ventre Livre
em favor da própria liberdade e da liberdade dos seus parentes. Neste sentido, os objetivos da lei - de
conter a revolta escrava facilitando o acesso à alforria e de submeter os libertos à tutela senhorial – foram
subvertidos, na medida em que o campo jurídico se transformou em arena de litígio entre escravizados e
senhores, tendo como consequência direta a dificuldade de se preservarem os laços de dependência,
lealdade e proteção entre senhores e ex-escravizados.

Lei no 3.270 (Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe), de 28 de setembro de 1885


“D. Pedro II, por Graça de Deus e Unânime Aclamação dos Povos, Imperador Constitucional e
Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos os Nossos súditos que a Assembleia Geral Decretou
e Nós Queremos a Lei seguinte: [...]
Art. 3o [...]
§10o São libertos os escravos de 60 anos de idade, completos antes e depois da data em que entrar
em execução esta lei, ficando, porém, obrigados, a título de indenização pela sua alforria, a prestar
serviços a seus ex-senhores pelo espaço de três anos.
§11o Os que forem maiores de 60 e menores de 65 anos, logo que completarem esta idade, não serão
sujeitos aos aludidos serviços, qualquer que seja o tempo que os tenham prestado com relação ao prazo
acima declarado.”

Lei no 3.353 (Lei Áurea), de 13 de maio de 1888


“A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz
saber a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1o É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.”

A Questão Platina e a Guerra do Paraguai


A Guerra Cisplatina que se estendeu de 1825 a 1828, foi o conflito entre Brasil e Argentina pela
supremacia no Rio da Prata, lembrando que o Uruguai era possessão luso-brasileira desde 1821.
Apoiando os uruguaios, a Argentina venceu as forças imperiais. A Argentina que já se fazia independente
da Espanha, desde 1810, recebia no porto de Buenos Aires navios europeus e experimentava na primeira
metade do século XIX um período de auge, chegando a se comparar com a França.
Em 1828, o Uruguai tornou-se independente, porém o fato não diminuiu o fluxo de brasileiros sul rio-
grandenses entrando no território do país. O deslocamento dessas pessoas para aquela banda, se
registrou muito intensamente no período da guerra dos farrapos, onde muitas famílias entre elas as dos
próprios revoltosos se voltaram para o Uruguai, criando gado e formando estâncias. Perto de encerrar a
revolução farroupilha, iniciou-se na Banda Oriental a chamada “Guerra Grande”, colocando em lados
opostos Blancos e Colorados.
A população de brasileiros no Uruguai era imensa, em 1863, segundo o Almirante Carbajal, 40.000
brasileiros compunham o país que tinha 180.000 habitantes. Além disso quase metade do território
uruguaio em 1862 pertencia a brasileiros, o que indignava certos parlamentares.
Blancos e Colorados
As lutas partidárias pelo poder entre Buenos Aires e Montevidéu fomentaram a oposição do
Império do Brasil, que interveio nos países do Prata. Havia nos dois países, dois partidos
inimigos: o partido federalista, ou colorado, e o unitário, ou blanco, que discutiam sobre a
organização interna dos dois países. A partir de 1828 o Uruguai tornou-se uma nação livre e
organizava seu primeiro governo regular a cargo de D. Frutuoso Rivera; o exército argentino
volta a Buenos Aires, derruba o governo e instaura a anarquia, que a seis de dezembro colocou
no poder como ditador o caudilho D. Juan Manuel de Rosas, chefe do partido federalista, isto
é, colorado, que desejava conquistar o Uruguai e, não viu com bons olhos a eleição de Rivera.

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Para tanto, lança contra este, Lavalleja e D.Manuel de Oribe, que promoveram numerosos
levantes contra o governo oriental (uruguaio).

A guerra contra Oribe


As lutas internas pelo controle do Uruguai eram agravadas pela intervenção de brasileiros e argentinos
na política do país, com o Brasil apoiando os Colorados e a Argentina apoiando os Blancos.
Apoiando os colorados, o Brasil entrava em choque com a Argentina, controlada pelo presidente
Rosas, que auxiliava Oribe.
Em 1850, um fato modificou o equilíbrio político da Região do Prata: o General Urquiza, que era
governador da província argentina de Entre-Rios, manifestou claramente a sua intenção de revoltar-se
contra Rosas. A partir daí, as relações diplomáticas do império brasileiro teve que tomar uma rápida
medida, e em dezembro de 1850 Brasil e Paraguai assinaram um tratado de Aliança. Em maio de 1851
foi assinado um novo tratado entre Brasil, Colorado e as províncias argentinas de Entre-Rios e Corrientes,
decidindo pela expulsão de Oribe do Uruguai e de Rosas da Argentina.
A partir de julho, as tropas de Entre-Rios, comandadas pelo general Urquiza, e as brasileiras,
comandadas por Caxias, iniciaram a invasão do Uruguai, até que, em 12 de outubro de 1851, Oribe
rendeu-se incondicionalmente. Neste mesmo dia, o Brasil e o Uruguai assinaram um tratado de comércio,
aliança e limites territoriais.

A guerra contra Rosas


As ações tomadas pelo governo brasileiro no Uruguai, o reconhecimento da independência do
Paraguai e a abertura da navegação internacional na bacia do rio da Prata intensificaram as desavenças
entre Brasil e Argentina.
Frente a todas as desavenças, o governo imperial concluiu que a convivência pacifica com o governo
de Buenos Aires tornava-se impossibilitada. Além disso, o governo imperial considerou que o governo de
Rosas era uma ameaça direta aos interesses brasileiros no rio da Prata e no Rio Grande do Sul.
A revolta do general Urquiza, de Entre-Rios, deu ao Brasil as condições militares para a derrubada de
Rosas. Restava um único obstáculo: a Inglaterra, que, embora não apoiasse Rosas diretamente, era
contrária que o Brasil o derrubasse.
Com a intenção de contornar a situação, a diplomacia brasileira agiu com habilidade: ao invés de atacar
Rosas, voltou sua atenção para Oribe no Uruguai, conseguindo a derrota em outubro de 1851. No mês
seguinte, Brasil, Uruguai e as províncias argentinas de Entre-Rios e Corrientes assinaram um convenio
pelo qual o império comprometia-se a ajudar o general Urquiza em sua Luta contra Rosas, de tal maneira
que não estava se colocando diretamente contra Rosas, apenas ajudando Urquiza.
O convenio foi assinado em 21 de novembro de 1851, imediatamente, Urquiza iniciou sua marcha em
direção a Buenos Aires, sendo a travessia do Rio Paraná feita a bordo de navios da esquadra brasileira.
Em 3 de novembro 1852, as tropas aliadas, cujo comandante geral era Urquiza, enquanto o Brigadeiro
Marques de Sousa comandava as tropas brasileiras, atacaram os rosistas em Monte Caseros.
Completamente derrotado, Rosas refugiou-se a bordo de um navio inglês e partiu para a Inglaterra.
Urquiza assumiu a presidência da Argentina.

A guerra contra Aguirre


Durante a década de 1850, o Uruguai viveu em permanente estado de agitação devido à luta entre
blancos e colorados, agravadas pelas intervenções políticas brasileiras e argentinas.
Em 1863, o general Venâncio Flores revoltou-se contra o governo de Montevidéu, presidido pelo
blanco Bernardo Berro. Mesmo sendo este substituído por Atanásio Aguirre, a revolta continuou.
Diante da rebelião de Flores, assim ficaram posicionados os países vizinhos ao Uruguai:
- O governo argentino, presidido pelo general Mitre, embora oficialmente neutro, na prática apoiava
abertamente os revoltosos, pois com Flores no poder esperava exercer grande influência sobre o governo
uruguaio;
- O Paraguai, presidido por Solano Lopez, assumiu uma posição bastante clara: embora se recusasse a
fazer uma aliança militar com Aguirre, considerava qualquer tentativa de incorporar o Uruguai ao Brasil
ou à Argentina uma ameaça direta ao seu país;
- O Brasil mantinha-se oficialmente neutro, provavelmente sem intenções de mudar de posição, exceto
se a independência uruguaia fosse ameaçada pela Argentina ou pelo Paraguai.

Portanto a situação parecia bastante equilibrada, havendo pouca possibilidade de que algum dos
países vizinhos intervisse militarmente no Uruguai, seja pelo receio de reações dos outros países da área,
seja pelo fato de a independência uruguaia estar garantida pela Inglaterra e França.

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Os acontecimentos, porém, tomaram um rumo completamente diferente. A razão disso é que o Rio
Grande do Sul, contrariando os desejos do governo imperial, apoiava tao firmemente a revolta do general
Flores, que mais da metade de suas tropas era formada por rio-grandenses, e os estancieiros gaúchos
pressionaram para que o governo brasileiro intervisse diretamente no Uruguai.
D. Pedro II mais uma vez enfrentava um grave problema. Os fazendeiros rio-grandenses desejavam
controlar da maneira mais rígida possível o Uruguai, onde tinham grandes interesses econômicos. Por
isso, o Rio Grande somente seria solidários para com o impérios se este apoiasse decidamente os
criadores de gado, dando cobertura à atuação desses homens no território uruguaio. Caso o governo
negasse esse apoio, os gaúchos poderiam se separar do Imperio, como já ocorrera durante a Revolução
Farroupilha.
Finalmente ainda se destaca o papel do governo argentino, cujo presidente, general Mitre, utilizou
todos os tipos de intrigas diplomáticas para levar o Brasil a invadir o Uruguai. O objetivo de Mitre era
derrubar Aguirre, utilizando para isso tropas brasileiras.
Assim, no início de 1864, o império enviou a Montevidéu o conselheiro Jose Antônio Saraiva, o qual,
em maio do mesmo ano, exigiu de Aguirre indenização pelos prejuízos causados aos brasileiros na
fronteira do Rio Grande do Sul e punição dos responsáveis. O governo uruguaio recusou. Em julho, uma
reunião realizada em Puntas del Rosário, da qual participaram o conselheiro Saraiva, o general Flores, o
ministro do exterior argentino, Rufino de Elizelde e o embaixador inglês na Argentina, Edward Thornton,
resultou em novas exigências a Aguirre, que recusou-as.
Saraiva, então, retirou-se para Buenos Aires, onde, em 4 de agosto de 1864, entregou um ultimato a
Aguirre: se não fossem atendidas todas as exigências brasileiras, as tropas e a marinha do Império
iniciariam represálias contra o Uruguai.
No dia 22 do mesmo mês, como Aguirre continuava negando-se a atende-lo, saraiva e o chanceler
argentino Elizelde assinaram um protocolo autorizando-se mutuamente a intervir no Uruguai, desde que
fosse mantida a sua independência.
A guerra começou em setembro. A esquadra, sob o comando do Almirante Tamandaré, bloqueou e
ocupou os portos fluviais uruguaios de Villa de Melo, Salto e Paissandu. Logo em seguida, o marechal
Mena Barreto, à frente de 10000 soldados, invadiu o Uruguai e reuniu-se com as forças de Venâncio
Flores, praticamente ocupando todo o país. Finalmente em 15 de fevereiro de 1865, Aguirre abandonou
o poder, assumido cinco dias depois pelo general Flores.

A Guerra do Paraguai
Entre novembro de 1864 e março de 1870, desenrolou-se a Guerra do Paraguai, a mais longa e
sangrenta guerra na América do Sul, com consequências que influenciaram decisivamente a história dos
países envolvidos. Até maio de 1865, enfrentaram-se apenas o Paraguai e o Brasil. A partir daí, com a
assinatura do tratado da Tríplice Aliança, os paraguaios passaram a lutar contra o Brasil, a Argentina e o
Uruguai.
Dentre aos razoes que desencadearam a guerra do Paraguai, destacam-se em primeiro lugar as
questões que dividiam os países do Prata.
O Paraguai, em meados do século XIX, era um país diferente dos demais da América latina. Desde a
sua independência em 1811, até a guerra, tivera apenas três governantes: Francia, Carlos Antônio Lopez
e seu filho Francisco Solano Lopez. O governo paraguaio não era democrático, como não era nenhum
dos outros governos latino-americanos.
Apesar disso, o governo paraguaio, mais do que qualquer outro do continente, realizava uma política
favorável às camadas populares. Desde os tempos de Francia, a elite agrária fora progressivamente
eliminada, e suas terras expropriadas pelo governo e entregues em usufruto aos trabalhadores rurais. O
mesmo acontecera com a exploração de madeira e erva-mate, produtos monopolizados pelo Estado.
Assim, em meados do século XIX, o padrão médio de vida do povo paraguaio superava o de qualquer
outro povo latino-americano: o analfabetismo fora quase erradicado e era garantido o emprego, a
moradia, alimentação e vestuário para a maioria das famílias. Embora pobre, o Paraguai não tinha dívida
externa, suas riquezas não eram exploradas por estrangeiros e estava começando a criar um parque
industrial próprio.

As causas da guerra
Em 1850, brasil e Paraguai assinaram um tratado comprometendo-se a defender a independência do
Uruguai. Pouco depois, Paraguai e Uruguai assinaram um novo tratado, estabelecendo que se qualquer
vizinho invadisse um desses países, o outro lhe prestaria imediato auxilio militar. Por isso, em agosto de
1864, quando o Brasil já ameaçava claramente invadir o Uruguai para derrubar o governo de Aguirre, o

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presidente paraguaio, Solano Lopez, comunicou ao Império que consideraria a invasão atentatória ao
equilíbrio político do Prata e agiria conforme essa convicção.
Mesmo assim, em setembro de 1864, o governo imperial ordenou o ataque ao Uruguai. Com base nos
tratados anteriores e na certeza de que seriam as próximas vítimas, os paraguaios reagiram: em
novembro, aprisionaram o navio Brasileiro “Marquês de Olinda” em frente a assunção, e logo em seguida,
Solano Lopez declarou guerra ao Brasil.
Entre novembro de 1864 e maio de 1865, a guerra envolveu apenas Brasil e Paraguai. A partir dessa
data, com a oficialização da Tríplice Aliança, o Paraguai passou a enfrentar Brasil, Argentina e Uruguai.
O balanço das forças, ao iniciar-se a guerra, era o seguinte: Brasil, 18000 soldados; Argentina, 8000;
Uruguai, 1500; Paraguai, 60000. Apesar da vantagem no tamanho das tropas, o Paraguai enfrentava um
grande número de desvantagens em relação aos inimigos.
Os aliados tinham 13 milhões de habitantes, contra 800 mil do Paraguai, a dimensão territorial dos
inimigos impedia que os paraguaios os ocupassem efetivamente. A única via de comunicação do
Paraguai com o resto do mundo era o rio da Prata, facilmente bloqueável pelos aliados, que também
contavam com superioridade naval: o Brasil possuía 42 navios, enquanto o Paraguai possuía apenas 14
e apenas 3 estavam preparados para a guerra. A última grande vantagem dos países inimigos era o apoio
financeiro constante da Inglaterra, enquanto o Paraguai lutava sozinho.
Sob o ponto de vista militar, a Guerra do Paraguai pode ser dividida em quatro grandes fases:
-Ofensiva paraguaia (dezembro de 1864 a dezembro de 1865); a iniciativa militar coube aos
paraguaios e a guerra desenrolou-se em território brasileiro e argentino;
-Invasão do Paraguai (de janeiro de 1866 a janeiro de 1868): a guerra já em território paraguaio, foi
comandada pelo aliado general Mitre;
-Comando de Caxias (de janeiro de 1868 a janeiro de 1869): Caxias assumiu o comando geral dos
Aliados;
-Campanha da Cordilheira (janeiro de 1869 a março de 1870): sob o comando de Conde D’Eu,
destruiu-se o remanescente do exército paraguaio.

As consequências da Guerra
A Guerra do Paraguai teve consequências dramáticas para ambos os lados.
O Paraguai ficou completamente destruído, e perdeu 150000 km² de territórios cedidos ao Brasil e à
Argentina. Durante a ocupação aliada (1870-1876), o nascente parque industrial paraguaio foi totalmente
destruído pelos aliados, sendo a fundição de Ibicuí completamente demolida. A ferrovia foi vendida a
preço de sucata para os ingleses e as reservas de mate e madeira vendidas para empresas estrangeiras.
As terras públicas que eram cultivadas pelos camponeses passaram para as mãos de banqueiros
ingleses, holandeses e estadunidenses, que passaram a aluga-las aos próprios paraguaios.
Além desses aspectos, a consequência mais trágica da guerra foi a dizimação da população paraguaia:
estima-se que 75% da população paraguaia tenha morrido em decorrência da guerra, com 90% da
população masculina dizimada.

A Crise do Império
A partir da década de 1870, o império entra em um declínio que resultará, 19 anos mais tarde, no seu
fim, com a Proclamação da República em 1889. Entre os principais motivos para o fim do império brasileiro
estão a organização do exército após a Guerra do Paraguai, a expansão do café, a questão religiosa e a
questão abolicionista.
Desde que o tráfico negreiro fora proibido, na década de 1850, acreditava-se que o império, sustentado
e mantenedor da mão-de-obra escrava, pouco a pouco iria enfraquecer. Como forma de garantir que
escravos libertos ou imigrantes adquirissem o direito de posse de terras, nos mesmo anos, como
estudamos acima, foi promulgada a lei de terras, beneficiando os interesses dos latifundiários.
Garantida a posse da terra, resta um problema. Quem produzirá, se não haverá mais escravos?
A resposta encontrada estava na imigração europeia, atendendo aos critérios do Darwinismo Social,
que pregava que o progresso do Europa em relação aos outros continentes estava relacionado ao fato
de seus habitantes, brancos, serem mais inteligentes e capazes que outros povos.
O principal setor a receber trabalhadores europeus foi o cafeeiro, que se destacava cada vez mais,
despontando como principal produto da exportação brasileira. Ao mesmo tempo em que o trabalho
escravo era substituído pelo trabalho assalariado, a sociedade modificava-se e novos grupos sociais
emergiam, exigindo modificações no plano político. A nova aristocracia cafeeira constituía uma classe
progressista e interessada em exercer o poder, sem as peias criadas pelo regime instituído em 1822 e
consolidado após 1840. Por outro lado, as camadas médias urbanas, ligadas ao setor terciário e ao

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funcionalismo público, também aspiravam a mudanças políticas. A oligarquia paulista do café lançará em
1870 o Manifesto Republicano, e se lançará à Campanha Republicana, visando um Estado federativo
Outra força que se conjugará à luta contra o regime monárquico será o Exército. Este, havia se
organizado de forma absolutamente nova, moderna, para as condições brasileiras. A Guerra do Paraguai
(1865-1870) trouxera essa necessidade. A partir de agora o Exército tinha uma estrutura hierárquica
organizada, e com um destaque maior do que havia recebido desde a Proclamação da Independência
em 1822, com alguns setores do exército fazendo parte de movimentos contrários ao imperador. Com a
criação da Guarda nacional, durante a Regência, o exército tivera ainda menos importância, relegado ao
segundo plano, com as atenções voltadas para a Marinha.
Outro fator que contribuiu para o desgaste do império foi a relação com a Igreja. Desde 1824, com a
promulgação da Constituição, o Brasil era oficialmente um país de religião Católica Apostólica Romana,
sendo a Igreja subordinada ao Estado, que arcava com o pagamento de padres e bispos, podendo
também interferir em algumas decisões tomadas.
Em 1860, o papa Pio IX publicou Bula Syllabus, que determinava que membros da maçonaria não
poderiam pertencer às irmandades católicas. A proibição não foi acatada pelo imperador, porém os bispos
D. Vital (de Olinda) e D. Macedo (de Belém), seguiram as ordens do pontífice e suspenderam as
irmandades que descumpriam a regra papal. Apesar de serem poucos os maçons nas irmandades, o
grupo possuía um grande poder político, e suas reclamações chegaram ao imperador, que mandou
prender os dois bispos, que foram condenados a quatro anos de trabalhos forçados. O atrito demonstrou
a necessidade da separação entre Estado e Igreja, e só foi resolvido com a anistia dos bispos e na
suspensão das proibições papais.
Com graves problemas de saúde, em meados da década de 1880, D. Pedro II parte para a Europa em
busca de tratamento. Em seu lugar fica a Princesa Isabel, que buscando acalmar a tensão e as
reclamações de alguns setores da sociedade, em 1888 resolve libertar definitivamente os escravos, o que
na verdade acabou piorando a situação da monarquia. A questão sucessória também era um problema.
Os herdeiros do trono, D. Afonso, e posteriormente D. Pedro Afonso, haviam morrido, ficando a sucessão
para a Princesa Isabel, casada com o Conde D’Eu, um francês que não era bem visto para alcançar o
poder. Em 15 de novembro de 1889, em um movimento sem lutas, e de participação quase exclusiva de
militares, acaba o império brasileiro e tem início a República.

Questões

01. O período monárquico no Brasil costuma ser dividido em três momentos distintos: Primeiro Reinado
(1822-1831); Regências (1831 1840) e Segundo Reinado (1840-1889). Sobre as principais questões que
marcaram esses momentos, assinale a alternativa incorreta.
(A)A Guerra do Paraguai marcou o Primeiro Reinado e foi a grande responsável pelo enfraquecimento do
poder de D. Pedro I, resultando na Independência do Brasil.
(B) A primeira etapa da monarquia brasileira teve dificuldades para se consolidar, o Primeiro Reinado
foi curto e marcado por tumultos e conflitos entre D. Pedro I - que era português com os brasileiros.
(C) A primeira Constituição Brasileira foi outorgada em 1824, por D. Pedro I.
(D)A segunda etapa da história do Brasil monárquico inicia-se em 1831, com a renúncia de D. Pedro I
em favor do filho Pedro de Alcântara, com apenas cinco anos de idade.
(E) O terceiro momento da monarquia no Brasil inicia-se com o reinado de Dom Pedro II, período
marcado pela centralização do poder de um lado e pelas disputas político-partidárias entre liberais e
conservadores, de outro.

02. O Período Regencial (1831-1840) foi marcado por uma série de revoltas em vários pontos do Brasil.
Sobre as revoltas ocorridas no Período Regencial, indique qual das alternativas abaixo está incorreta:
(A) Balaiada, no Maranhão.
(B) Sabinada, na Bahia.
(C) Inconfidência Mineira, em Minas Gerais.
(D) Revolta Farroupilha, no Sul do país.

03. (UEL-PR) “[...] explodiu na província do Grão-Pará o movimento armado mais popular do Brasil
[...]. Foi uma das rebeliões brasileiras em que as camadas inferiores ocuparam o poder.”
Ao texto podem-se associar:
(A) a Regência e a Cabanagem.
(B) o Primeiro Reinado e a Praieira.
(C) o Segundo Reinado e a Farroupilha.
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(D) o Período Joanino e a Sabinada.
(E) a abdicação e a Noite das Garrafadas.

04. A criação da Guarda Nacional, em 1831, durante o governo regencial, teve como um de seus
objetivos.
(A) Apoiar o governo de Pedro I na consolidação da independência.
(B) defender a integridade das fronteiras ameaçadas de invasão
(C) Conter as agitações e amotinações que ameaçavam a Nação
(D) Combater a influência da aristocracia rural na vida política.

05. (Fatec) Em 4 de setembro de 1850, foi sancionada no Brasil a Lei Eusébio de Queirós (ministro
da Justiça), que abolia o tráfico negreiro em nosso país. Em decorrência dessa lei, o governo imperial
brasileiro aprovou outra, "a Lei de Terras".
Dentre as alternativas a seguir, assinale a correta.
(A)A Lei de Terras facilitava a ocupação de propriedades pelos imigrantes que passaram a chegar ao
Brasil.
(B)A Lei de Terras dificultou a posse das terras pelos imigrantes, mas facilitou aos negros libertos o
acesso a elas.
(C)O governo imperial, temendo o controle das terras pelo coronéis, inspirou-se no "Act
Homesteade" americano, para realizar uma distribuição de terras aos camponeses mais pobres.
(D) A Lei de Terras visava a aumentar o valor das terras e obrigar os imigrantes a vender sua força
de trabalho para os cafeicultores.
(E)O objetivo do governo imperial, com esta lei, era proteger e regularizar a situação das dezenas de
quilombos que existiam no Brasil.

Respostas

1. Resposta A.
A Guerra do Paraguai ocorre somente durante o segundo reinado, quando D. Pedro II estava no
trono. A abdicação de D. Pedro I ocorre somente em 1831, ou seja, quase dez anos após a
Proclamação da Independência.

2. Resposta C.
A Inconfidência Mineira, ao contrário das outras revoltadas citadas, ocorre durante o Período
Colonial, e não o Regencial, como pede a questão

3. Resposta A.
O período Regencial foi marcado por inúmeras revoltas, na maioria descontentes com o governo
imperial, mas também com os grandes proprietários rurais. Assim como a Cabanagem, a Farroupilha
também ocorreu no mesmo período, porém no Rio Grande do Sul.

4. Resposta C.
A grande quantidade de revoltas e descontentamento com o governo obrigou-o a criar uma
maneira de conter os conflitos que se espalhavam pelo país.

5. Resposta D.
Com o fim do tráfico negreiro, era necessário encontrar uma nova mão-de-obra que pudesse
substituir a força de trabalho deixada pelo escravo. A regularização nas vendas, juntamente com
aumento de preços foi a solução encontrada para evitar a concorrência de imigrantes, que deveriam
se submeter ao trabalho assalariado para sobreviver, já que muitos não conseguiriam adquirir uma
propriedade no momento em que chegassem ao Brasil.

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1381340 E-book gerado especialmente para DIEGO SALES DE OLIVEIRA
História da Bahia: a sociedade baiana no período colonial; o processo de
ocupação e produção no espaço baiano; a Bahia e o tráfico interprovincial de
escravos.
Resistência de negros e indígenas nos períodos colonial e imperial da História
do Brasil.

(Os conteúdos acerca da resistência escrava negra e indígena na colônia e no império então nos
contextos das matérias acima).

História da Bahia 19

Descobrimento

Descobrimento e formação do Estado da Bahia Segundo os mais diversos autores de História do


Brasil, o descobrimento de nosso país foi mais um acontecimento, certamente planejado, da expansão
marítima realizada por países europeus de grande poder como Portugal e Espanha além dos Países
Baixos e da França. Segundo Tavares (1987) em março de 1500 partiu de Portugal a esquadra
comandada pelo fidalgo Pedro Álvares Cabral, em direção a Índia e, que desviando de sua rota, ao
entardecer do dia 22 de abril atingiu um ponto do litoral sul do atual Estado da Bahia, hoje chamado Bahia
de Cabrália. Segundo o mesmo autor, o efetivo descobrimento das terras baianas, mais especificamente
da Bahia de Todos os Santos, que marca o descobrimento do estado, deu-se no dia 1º de novembro de
1501, sendo responsável pelo evento, a esquadra pilotada por Américo Vespúcci que partiu de Lisboa
em 10 de maio de 1501. A maior prova da veracidade desta data é o trecho da carta de Vespúcci à Pedro
Soderini, a respeito da viagem de 1503, onde se refere à viagem de 1501: "...porque tínhamos um
regimento d'El-Rei ordenado que, se qualquer dos navios se extraviasse da frota ou do seu capitão, fosse
ter à terra descoberta (na viagem passada), a um ponto que pusemos o nome de Baía de Todos os
Santos..." Desde então, a Bahia passou a constar nos mapas das terras do Brasil, mais especificamente,
de sua costa leste. Também passou a ser seguidamente visitada por armadas portuguesas que iam para
a Índia, servindo de local para renovação de água potável e conserto de embarcações, entre outros. Esta
esquadra foi também responsável pela constatação da existência de pau-brasil em grande quantidade,
produto já conhecido pelos europeus cujo corante extraído já era usado nas manufaturas têxteis da Itália,
França e Flandres. A exploração desta matéria-prima tornou-se a principal atração das novas terras,
atraindo não só os comerciantes portugueses, mas também de outros povos europeus, principalmente os
franceses que mantinham largo contrabando das toras de pau-brasil para a Europa.

Expedições na Bahia
Várias outras expedições sucederam-se às já citadas trazendo, aos poucos, os portugueses
interessados nas novas terras. Segundo Tavares (1987) a partir da primeira metade do século XVI o
território hoje chamado Estado da Bahia foi conquistado, colonizado e povoado lentamente em por
expedições chamadas entradas que partiam de Salvador, porto Seguro e Ilhéus em direção ao interior do
estado. As entradas eram em tudo semelhantes às bandeiras de São Paulo mas, foram menos
valorizadas que estas. Saíam do litoral e chegaram ao norte/nordeste, hoje Minas Gerais, Piauí e
Maranhão, subindo os rios São Francisco, Paraguaçu, Grande, Verde e das Contas. Chegaram também
ao sul/sudeste navegando o Jequitinhonha, Pardo, Doce e Mucuri. Tanto no século XVI como no XVII tais
expedições foram de grande importância para o inicial reconhecimento da geografia, riqueza mineral,
hídrica, florística e faunística do estado, ainda que seu objetivo principal fosse a ocupação e o
reconhecimento puro das terras. Também forneceram preciosa documentação em defesa dos limites da
Bahia com os estados vizinhos. Holandeses Dentre os europeus que contribuíram e influenciaram a
formação do estado da Bahia, destacam-se os holandeses, Em 1624, durante o governo de D. Diogo de
Mendonça Furtado, foi invadida pelos holandeses, vencendo a resistência dos cidadãos que
abandonaram a cidade. Em 1º de maio de 1625, após diversas batalhas e estando os holandeses isolados
e cercados, a chegada da ajuda dos espanhóis determinou a saída dos holandeses da Bahia. Os
holandeses tentaram em outras ocasiões retomar a cidade do Salvador sem sucesso, o que tornou a
Bahia uma referência na resistência da colônia aos invasores holandeses que obtiveram sucesso em
Recife.

19 http://www.visiteabahia.com.br/

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Capitanias Hereditárias
As Capitanias Hereditárias O momento da descoberta da Bahia e do Brasil era, para Portugal, de
imensa prosperidade no comércio estabelecido com o Oriente, principalmente com a Índia. Este fator
aliado ao pouco conhecimento sobre as riquezas naturais do Brasil promoveu o total descaso da coroa
portuguesa em relação à terra americana. No entanto, na quarta década do século XVI, Portugal perdeu
posições no comércio com a África e nos portos índicos entrando em séria crise financeira. Ao mesmo
tempo os espanhóis encontraram fontes de metais e pedras preciosas nas terras americanas e outros
europeus demonstraram grande interesse pelo Brasil, principalmente os Franceses que eram cada vez
mais numerosos nas terras entre Pernambuco e Espírito Santo. Segundo alguns autores como Alencar
(1981) o Brasil passou a ser primeiro, um novo ponto para o comércio com Portugal caracterizando-se
como produtor de matéria-prima para venda e comprador de matéria manufaturada, suprindo o espaço
perdido no comércio do Oriente. Além disso, havia a necessidade de efetiva ocupação e posse das terras
que afastaria os Franceses da potencialmente lucrativa colônia. Segundo o autor em 1530 uma nova
expedição foi enviada para o Brasil para, principalmente, lançar fundamentos da ocupação efetiva da terra
e estabelecer núcleos de povoamento. Por volta de 1534 as terras do Brasil começam a ser ocupadas,
permitindo posse efetiva, domínio e controle da terra e da exploração dos recursos naturais do Brasil
contra as investidas, principalmente dos Franceses, repetindo a experiência de outras colônias
portuguesas, D. João III, rei de Portugal, passou a assinar as primeiras cartas de doação das Capitanias
Hereditárias. Tais cartas eram documentos legais de doação de terras e títulos de capitão e governador
a cada beneficiado. Uma Carta de Doação concedia ao donatário uma propriedade de 10 léguas de terra
na costa, isenta de tributos exceto o dízimo. Sobre o restante dos 50 a 100 léguas em direção ao interior
do continente, possuía apenas a posse. O donatário era privilegiado na montagem de engenhos, com a
venda de 24 índios por ano para Portugal, garantia de redizima de vendas pertencentes à Coroa, vintena
do pau-brasil e dízima do quinto real sobre metais. Um Foral definia como sendo do donatário a
propriedade dos produtos do solo e a defesa da terra. Para a Coroa ficavam os produtos do subsolo, mata
e mar. O donatário tinha o dever de conceder sesmaria a quem solicitasse e o direito de comercializar
armas e mantimentos para o uso das capitanias apenas, é claro, com a metrópole. A preocupação com
a ocupação das terras, no entanto, demonstrava apenas que Portugal preocupava-se com a garantia da
posterior utilização comercial e da exploração dos recursos. Mas nunca chegou a caracterizar uma
preocupação com a formação de uma nova nação, tal qual aconteceu na América do Norte, mais
especificamente com as terras Inglesas que originaram os Estados Unidos da América. No território que
hoje é o estado da Bahia foram formadas entre os anos de 1534 e 1566 cinco capitanias hereditárias
mantidas até a segunda metade do século XVIII. São elas: Bahia - doada em 5 de abril de 1534 a
Francisco Pereira Coutinho; Porto Seguro - doada em 27 de maio de 1534 a Pero do Campo Tourinho;
Ilhéus - doada em 26 de julho de 1534 a Jorge de Figueiredo Corrêa; Paraguaçu ou Recôncavo - doada
em 29 de março de 1566 a Álvaro da Costa; Ilhas de Itaparica e Tamarandiva - doada em 15 de março
de 1558 a D. Antônio de Athayde. BAHIA A Capitania de Francisco Pereira Coutinho Era formada por 50
léguas de terra entre a margem direita do Rio São Francisco e a Ponta do Padrão, hoje Forte e Farol da
Barra. Pereira Coutinho estabeleceu-se em sua capitania em 1536 na região da Enseada da Barra, onde
construiu a Vila do Pereira, hoje Santo Antônio da Barra, instalando parentes, amigos e colonos que
trouxe com ele. Produziu algodão e cana construindo dois engenhos de açúcar. Teve sérios problemas
com os índios e com seus empregados abandonando por algum tempo suas terras. Com a morte do
donatário após um naufrágio quando se tornou prisioneiro dos tupinambás, a capitania foi revertida para
a Coroa e, em 1548, transformada em sede do governo-geral das terras do Brasil. PORTO SEGURO A
Capitania de Pêro do Campo Tourinho Formada por 60 léguas de terra, limitava-se pela margem direita
do Rio Jequitinhonha e margem esquerda do Rio Doce. Junto aos filhos que trouxe consigo de Portugal,
fundou oito vilas sendo Porto seguro a Principal. Explorou e comercializou o pau-brasil para a Europa por
meio de Portugal, único país com o qual as capitanias podiam comercializar. Após sua morte, tendo a
capitania passado por vários herdeiros, foi confiscada pela Coroa e incorporada à da Bahia, sendo o
Marquês de Gouveia o seu último donatário. ILHÉUS A Capitania de Jorge de Figueiredo Corrêa Data de
26 de junho de 1534 a doação desta capitania, sendo conhecido o Foral de 1º de abril de 1535. Contando
50 léguas, a capitania tem como limites a Ponta do Padrão e a margem esquerda do Rio Jequitinhonha.
Segundo Bahiatursa Apostilas, o Morro de são Paulo foi a primeira vila fundada na chegada do donatário
às terras doadas sendo só depois fundada a Vila de São Jorge dos Ilhéus. Jorge de Figueiredo Corrêa
produziu açúcar já no início da ocupação de suas terras e chegou a construir nove engenhos de açúcar
no século XVI. Foi incorporada à capitania da Bahia em 1754, depois de passar à propriedade dos
Rezende e Castro. ITAPARICA E TAMARANDIVA A Capitania do Primeiro Conde de Castanheira
Deixando em 1558 a condição de sesmaria de Dona Violante da Câmara, mãe do Conde de Castanheira,
para capitania, deixaram também as ilhas de pertencerem à Capitania da Bahia nesta mesma data. Por

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volta de 1560, segundo Osório (1979) foi fundado o povoado de Vera Cruz, com o início da Construção
da Igreja de Vera Cruz, uma das mais antigas do país. A capitania pertenceu a diversos herdeiros de
Dona Violante sendo, em 6 de abril de 1763, incorporada à capitania da Bahia. PARAGUAÇU OU
RECÔNCAVO A Capitania de Álvaro da Costa A sesmaria do Paraguaçu foi transformada em capitania
através da carta de doação datada de 1566, compondo-se das terras que vão da Barra do Rio Peroassú,
hoje Paraguaçu, até a Barra do Rio Jaguaripe. Segundo Brandão (1998), a capitania foi produtora,
inicialmente, de açúcar e, posteriormente, de fumo e pertencia a D. José da Costa quando foi comprada
pela Coroa e incorporada à Capitania da Bahia.

Grupos Étnicos Formadores


A população baiana surgiu da mistura de três grupos humanos: o índio que já habitava o território
milhares de anos antes da chegada dos Portugueses, o africano que foi trazido contra vontade da África
e os Portugueses que vieram para colonizar e explorar as novas terras.
Estes grupos não se mantiveram física ou culturalmente separados e após um curto espaço de tempo,
a sociedade em formação já possuía tipos caracteristicamente brasileiros resultantes da mistura dos
grupos iniciais. O mulato (negro e branco), o cafuzo (negro e índio) e o caboclo (branco e índio) e o
resultado de sua mistura, tornaram-se cada vez mais numerosos numa população dominada pelos
preconceituosos brancos Portugueses que detinham o poder financeiro e político da colônia.
Cada grupo contribuiu de uma maneira para a modelagem da sociedade em formação dando-lhe
características próprias em aspectos físicos e culturais.

Índios
Segundo Ribeiro (1997), ao chegar à Bahia, o primeiro grupo indígena com o qual os europeus tiveram
contato foi o tupiniquim, da família tupinambá, tronco tupi-guarani que já habitava, quase totalmente o
litoral de todo o território baiano. Segundo Soares apud Celene Fonseca, o litoral baiano foi denominado
pelos Tapuias desalojados pelos Tupinambás. Estes chegaram a costa por volta de 100-1200 d.C., ou
seja, 300 a 500 anos antes dos Portugueses. Alencar et all afirma que pesquisas permitem dizer que
desde 8000 a.C. grupos humanos habitam a região que é hoje o Brasil, vindos da Ásia ou Europa. No
entanto, pouco se conhece sobre a vida dos habitantes anteriores à chegada dos Europeus, por isso toda
a história do Brasil foi criada pelos colonizadores e tem uma visão eurocêntrica da vida. Mesmo a
denominação ÍNDIO dada aos povos que habitavam as terras do Brasil é equivocado e decorre da errada
ideia dos espanhóis que, anteriormente, pensavam ter chegado à Índia, ao chegar à América Central.
Além do litoral, também outros grupos indígenas foram logo conhecidos pelos europeus. Aimorés e
pataxós habitavam as terras próximas ao Espírito Santo e Minas Gerais. Entre o Rio Prado e o Rio de
Contas estavam os camacãs, nagoiós, gongoiós e crancaiós. Os famosos maracás ocupavam o vale do
Rio Paraguaçu e Serra Sincorá. O Nordeste do estado era ocupado pelos cariris. No Rio São Francisco
encontravam-se os anaiós e caiapós. Por fim, chicriabás e acroás habitavam a fronteira da Bahia com
Goiás.
Dentre as mais diversas contribuições dos povos indígenas para a formação do novo povo brasileiro
está o habito de tomar banho todos os dias, o uso da mandioca na culinária, a diversificação das bebidas
destiladas, o uso de utensílios de barro e a prática da queimada (coivara) hoje prejudicial à conservação
do solo quando praticada em extensas faixas de terra. Os índios foram de fundamental importância para
o reconhecimento das terras e das riquezas do Brasil fazendo todo tipo de trabalhos para os portugueses
como mostrar fontes de madeira ou de metais preciosos até carregar toda espécie de produtos até os
navios. Além disso, foram fundamentais na construção e manutenção da cidade do Salvador sempre com
a intermediação de Caramuru, europeu com o qual tinham grande aproximação. Com a crescente
escravização dos índios em nome da Coroa e da propagação do cristianismo, os grupos antes simpáticos
aos europeus, passaram a se impor ao trabalho tornando difícil o controle e uso dos povos nativos,
também chamados negros pelos europeus.

Negros
A chegada dos primeiros negros à Bahia deu-se próximo aos anos de 1549 e 1550, substituindo o
trabalho forçado de índios escravizados, inicialmente nos engenhos e plantações e posteriormente até
nas casas grandes, baseando toda a economia do estado. Na verdade, não foi por falta de mão-de-obra
que a escravização alcançou as colônias portuguesas, mas por exigência do capitalismo comercial
europeu que via no negro cara e lucrativa mercadoria. As colônias como o Brasil eram obrigadas a
comprar escravos das metrópoles européias que ganhavam muito dinheiro com o tráfico de escravos
negros vindos de toda a África. Para a Bahia foram vendidos africanos das diversas áreas e nações desde
o atual Senegal à atual Angola, na costa ocidental, à costa oriental da atual Moçambique à atual Etiópia,

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passando pelos povos do Congo, Niger e Benin. Pela língua foram identificadas as nações yoruba, ewês,
fulás, tapas, ardas, calabares e aussás que falavam árabe e talvez fossem religiosos do Corão.
Segundo Luis Viana Filho apud Tavares existiu uma sucessão no de povos ou nações trazidos para a
Bahia o que permitiu a organização dos seguintes ciclos: I-Ciclo da Guiné (XVI); II-Ciclo de Angola (XVII);
III-Ciclo da Costa da Mina (XVII); IV-Última fase - da ilegalidade (XIX). Oficialmente o último desembarque
de escravos africanos para a Bahia ocorreu em 1852, na Pontilha, Ilha de Itaparica.
As incontáveis importantes contribuições dos negros para a formação do povo brasileiro e dos seus
costumes estão fortemente presentes no dia-a-dia da população ao longo destes 500 anos. A
religiosidade africana misturada à religião católica formou, no estado da Bahia, a mais brasileira das
formas de reverenciar deuses e santos. O famoso sincretismo religioso é uma das características do
estado que teve sua origem nas senzalas quando em vez de aceitar as determinações católicas para a
fé, os negros as adaptaram às suas próprias crenças. A culinária baiana é quase que totalmente dominada
pelos temperos africanos, ainda que tenham os europeus portugueses rejeitado por algum tempo o sabor
forte dos condimentos. Os pratos típicos do estado apresentam sempre ingredientes como azeite de
dendê, camarão seco, amendoim e outros. As danças e músicas, a forma de comemorar, de vestir e
outras mais especificamente baianas tem grande influência dos rituais religiosos e lutas negras
lentamente assimiladas pela população em geral desde o momento em que foram trazidos para o Brasil.
Assim como os índios, os negros resistiram e lutaram muito contra a escravidão à qual eram
submetidos no Brasil. A mais notável e organizada forma de luta foi, sem dúvida a formação dos
Quilombos, que se constituíam em pequenas e organizadas cidades autossuficientes na maioria dos
aspectos, fundadas pelos negros que conseguiam fugir das senzalas, dos engenhos e plantações em
todo o estado. Exemplos importantes são os quilombos do Rio Vermelho conhecido no início do século
XVII, Cabula de 1807 e Buraco do Tatu formado em 1744, os três na área ocupada hoje por Salvador
atacados diversas vezes. Também no interior do estado formaram-se diversos quilombos como os de
Muritiba e Maragogipe descobertos em 1713, os de Nazaré e Santo Amaro encontrados em 1801 e muitos
outros os quais podem ser melhor conhecidos através do trabalho de Pedreira (1973). Embora mais
conhecidos, os quilombos não foram a única forma de resistência dos negros africanos no Brasil e, mais
especificamente na Bahia. Os registros históricos falam de várias manifestações principalmente no século
XIX como a revolta dos Aussás em 1807, dos escravos em Itapuã e outras armações em 1813, insurreição
da Vila de São Mateus em 1822, todas severamente reprimidas, mas que demonstraram a insatisfação e
a revolta dos negros escravos que lutavam contra a situação de injustiça em que viviam.

Europeus
O Português foram, sem dúvida, o europeu que mais contribuiu para a formação do povo baiano.
Segundo Carlos Ott apud Tavares a origem dos portugueses habitantes da Bahia no século XVI é, em
ordem crescente de quantidade: Entre-Douro-e-Moinho, Trás-os-Montes, Beira, Estremadura, Alentejo,
Algarve, Ilhas, na maioria homens do campo e de artes manuais. Além dos Portugueses, os Franceses,
os Holandeses e por fim Ingleses influenciaram de alguma forma a população em formação, já que todos
mantiveram estreito contato com o povo brasileiro que nascia da miscigenação entre os chamados três
grupos humanos: branco, índio e negro. Estes últimos, diferentes dos Portugueses passavam pela Bahia
em viagem comerciais, principalmente de contrabando de escravos e matérias-primas como o pau-brasil.
Dentre os mais conhecidos Portugueses que contribuíram para o desbravamento e exploração das
terras baianas está Diogo Álvares, o Caramuru. Segundo alguns autores, Diogo Álvares saiu do Norte de
Portugal e foi náufrago de uma embarcação francesa para a qual trabalhava, nas proximidades do Largo
da Mariquita, Rio Vermelho, por volta de 1509 ou 1511. Recebeu este nome, diz a lenda, por ter saído
entre as pedras, coberto de limo na frente de um grupo de índios que notou semelhanças entre o
Português e o peixe. Diz ainda a lenda que, graças a um tiro dado para o alto, Caramuru escapou de ser
devorado pelos Tupinambás e conquistou seu respeito e aceitação
Caramuru foi o primeiro europeu a conviver com os índios aprendendo sua língua e seus hábitos, por
isso, foi importante ponte entre os índios e os colonizadores servindo mesmo como intérprete e
pacificador. Convenceu os índios a ajudar na construção das vilas como a Ponta do Pedrão (hoje Forte e
Farol da Barra) onde viveu e uniu-se a algumas índias incluindo a Catarina Paraguaçu, com quem se
casou e teve filhos legítimos e onde se instalaram outros europeus como o próprio Tomé de Souza, antes
da construção de Salvador. A construção da Cidade de Salvador foi viabilizada pela ajuda dos mesmos
índios que conseguiram material para a construção, carregaram-no até o local escolhido e edificaram a
cidade.
Por defender interesses dos índios ou próprios contra a exploração dos colonizadores ou, como
afirmam alguns autores por sua ligação com os Franceses, Caramuru desentendeu-se seriamente com

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os representantes de Portugal e morreu em 1557 sem ter sido reconhecido pelo governo português como
fundamental elemento para a colonização do Brasil.
Dos Portugueses os baianos, como todos os brasileiros, herdaram a forma de sociedade patriarcal. O
Português criou, segundo Tavares (1987) a Bahia agrária, mercantil e escravocrata voltada para as
necessidades do capitalismo comercial que dominava o mundo dito civilizado. As cidades herdaram a
arquitetura da moda em Portugal dando ares europeus à cidade de Salvador. Também a música, a religião
Católica, a estrutura familiar com base no casamento, a prática da monocultura e outras características
mais.

Religiosidade
Assim como em outros aspectos, a religiosidade encontra-se na Bahia caracterizada por uma
variedade de religiões, seitas, igrejas, templos, terreiros, crenças separadas ou totalmente misturadas.
Na Bahia é cena comum uma filha-de-santo rezando ao Senhor do Bonfim (Oxalá) ou um católico
oferecendo caruru aos Ibejes (São Cosme e Damião). É o sincretismo religioso tão presente nas festas
dos santos católicos, sinais de um tempo em que negros disfarçavam o culto a seus deuses.
Segundo Verger(1992), é difícil precisar o momento em que o sincretismo se estabeleceu no país ou
mesmo na Bahia. É certo que os santos católicos e os deuses africanos se aproximaram cada vez mais
devido a características físicas ou comportamentais. No entanto, as razoes para tal mistura de símbolos
parecem ter sido diversas e benéficas ora aos brancos católicos, ora aos negros animistas.
Ainda escravos, os negros baianos eram proibidos de cultuar seus deuses, no entanto, podiam realizar
manifestações culturais como o canto e a dança africanas. Para os senhores, tais manifestações não
passavam de diversão e nostalgia. Para a igreja católica, exposição de primitivismo inofensivo. Para o
estado algo que mantinha separada as nações e controladas as revoltas, já que as reuniões eram de
grupos de origem diferentes. No entanto, para os negros, era a manifestação livre de sua religiosidade e
de culto aos seus deuses.
Logo que a igreja católica entendeu o sentido das reuniões festivas e passou a ameaçar sua realização,
os negros começaram a justificar seus atos como forma africana de cultuar os santos católicos e trataram
de atribuir a cada deus africano um correspondente europeu. Aos olhos da igreja, os africanos se
convertiam, mas, na verdade, os negros utilizavam os santos católicos para disfarçar deuses africanos
aos quais realmente rendiam cultos. Com o passar do tempo, os benefícios dessa mistura superaram os
interesses cristãos e o sincretismo passou a ser aceito e até incentivado pelos senhores de escravos.
Ao contrário do esperado, os hábitos religiosos africanos aos poucos modificaram o próprio
catolicismo, influenciando a forma de culto e misturando nomes e características de santos e deuses, o
que é tolerado, até certo ponto, pela igreja católica baiana. Os negros continuam a cultuar seus deuses,
havendo para muitos praticantes a diferença entre deuses e santos.
Na Bahia é comum ir ao terreiro e à igreja. Brancos, negros, mulatos, pobres ou ricos, acreditam nos
princípios católicos e do candomblé, ao mesmo tempo. O sincretismo há muito estabelecido mantem-se
e são comuns em festas católicas as manifestações das religiões africanas.
Para a maioria dos baianos, não há festa do Senhor do Bonfim sem missa solene e banho de pipoca
nas escadarias da igreja. Por sua vez, os barracões de candomblé possuem sempre um altar com
imagens de santos católicos.
Não só com o catolicismo o candomblé se combinou e absorveu conceitos.
Houve, mais recentemente, segundo Carneiro(1977) a mistura do candomblé com o espiritismo que
resultou nas chamadas "sessões de caboclo" comuns aos terreiros de todo o Nordeste inclusive Bahia.
No entanto, a Bahia de todas as crenças já foi muito diferente! A Bahia encontrada pelos portugueses
não era católica, protestante, espírita ou animista. Era sim marcada pela crença em um misto de lendas
criadas pelos índios, donos das terras, baseadas nas entidades naturais que explicavam a vida, a morte,
a doença, a cura, as desgraças, as alegrias ... Não haviam deuses e deusas nas crenças dos povos
indígenas e, as vezes, fatores importantes como o surgimento do sol, da terra, das estrelas ou da água
não tinham resposta. O próprio Tupã ou Tupana parece ter sido criado por influência dos jesuítas que o
comparavam ao Deus católico. Segundo Ott(1995), alguns grupos indígenas não possuíam culto religioso
nenhum, a sua espiritualidade podia ser observada apenas por suas lendas e histórias que respondiam
as grandes questões filosóficas ou existenciais que perturbam todo ser humano seja qual for sua origem,
língua ou crença.
Desrespeitando o credo indígena, a Bahia como todo o Brasil foi colonizada não só pelo estado
português, mas pela igreja católica. Assim, o Brasil nasceu católico para os europeus e foi o catolicismo
que imperou na Bahia por muitos anos. Com a chegada dos escravos africanos as religiões negras
passaram a competir pelos fiéis mestiços. Com o tempo várias religiões e seitas chegaram ao Brasil,
principalmente junto com os diversos imigrantes que desembarcaram aqui. Atualmente a Bahia possui

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grupos das mais diversas religiões e fieis que conseguem conviver com mais de uma delas. Bom exemplo
são as Damas da Boa Morte, filhas e mães-de-santo que cultuam Nossa Senhora da Boa Morte, santa
católica.

Catolicismo
O catolicismo chegou ao Brasil junto com os jesuítas e foi a religião oficial do país por muito tempo. A
religião católica e o reino português se confundiam e dividiam a ocupação das terras brasileiras. O rei
dominava depois que os jesuítas controlavam os nativos, em troca, a religião dos jesuítas conquistava o
novo mundo. Foram os jesuítas que instalaram na Bahia e em todo o resto do país o catolicismo, aprovado
pelo rei português, que sufocou o credo indígena.
Desde a chegada de Manuel da Nóbrega em 1549, os jesuítas realizaram no Brasil a contrarreforma
que pretendia recuperar os fiéis perdidos para o protestantismo na Europa, conquistando primeiro as
almas dos indígenas e depois dos negros e mestiços. Ainda em 1515 foi criado na Bahia o Primeiro
Bispado do Brasil.
Na Bahia, os jesuítas criaram uma estrutura de dominação religiosa, econômica e educacional.
Segundo Verger(1981) as famílias eram fieis praticantes da religião, ofertando consideráveis doações à
igreja, que logo acumulou fortunas em bens e propriedades. As mais importantes famílias baianas tinham
um filho padre que lhe conferia respeito e status. Os filhos das melhores famílias frequentavam as escolas
dos jesuítas e eram muito bem vistos por isso. Com o tempo, apenas os ricos podiam manter seus filhos
estudando em escolas dirigidas pelos jesuítas que aplicavam a educação escolar mais valorizada pela
sociedade baiana e brasileira.
Segundo Mattoso (1992), o catolicismo oficial instalado no Brasil era o das obrigações e castigos,
baseado numa pesada rotina de purgação dos pecados adquiridos no nascimento. Ao lado desse
catolicismo oficial havia uma religiosidade voltada para a devoção influenciada por outras crenças,
principalmente as religiões africanas que estimulam a dança, os rituais e as procissões das festas
católicas. Esta última se diferenciava por seu caráter leigo, familiar e socializador além da importância
que atribuía aos santos o que era muito favorecido pela falta de padres e pela distância da hierarquia.
Nos séculos XVII e XVIII o cotidiano dos baianos estava impregnado do catolicismo. Em quase todas
as casas haviam oratórios nos quais as famílias faziam orações, no mínimo, três vezes por dia. Todas as
festas, inclusive as civis, tinham traços religiosos como o tilintar de sinos e as missas festivas ficavam
repletas de fieis praticantes. No Natal e no Dia de Reis entre outras festas populares de caráter religioso
eram realizados em casas e nas ruas como, por exemplo, os bailes pastoris, bumba-meu-boi e a
chegança.
Eram muito frequentes as irmandades, confrarias e ordens terceiras formadas apenas por leigos e que
pouco se preocupavam com os sacramentos. As primeiras congregavam fieis em torno da devoção de
um santo escolhido, geralmente de um mesmo grupo, cor ou classe social. A Irmandade da Misericórdia,
de brancos da elite, foi fundada em 1550 na Bahia. A irmandade do Senhor Redentor da Bahia, fundada
em 1752 era composta apenas por negros jejes, grupo étnico encontrado na Bahia. Algumas eram mais
que entidades religiosas como a Irmandade da Boa Morte, formada por mulheres negras que tramavam
e facilitavam a fuga de escravos durante as reuniões.
Essas tradições foram reprimidas com o tempo, principalmente pelo fato de que pouco consideravam
os preceitos católicos baseados nos sacramentos e por não precisarem de autoridades religiosas como
padres para realizarem suas atividades e recrutarem cada vez mais adeptos e devotos dos santos.
Algumas delas ainda existem, mas por volta do século XIX já eram consideradas ultrapassadas. A
hierarquia passou a recriminar e desvalorizar essas manifestações leigas autônomas que foram logo
substituídas por grupos ligados diretamente ao clero como as diversas pastorais que levaram de volta
para dentro da igreja e para debaixo do seu jugo o povo católico, afastando-o da superstição que
impregnava o catolicismo do início do século XIX.

Protestantismo
O protestantismo era uma religião cristã de brancos dominante na Europa e na América do Norte, que
proclamava uma salvação cristã diferente da católica que foi bem conhecida pelos baianos ainda na época
da colônia.
As igrejas protestantes se estabeleceram definitivamente no Brasil a partir da segunda metade do
século XIX, primeiro no Sul do Brasil, depois nas outras regiões. Na Bahia, só no fim do mesmo século o
protestantismo conseguiu se fixar fundando no estado a primeira Igreja Batista Nacional, desenvolvendo-
se verdadeiramente no século XX.
A mensagem protestante era dirigida aos católicos livres, geralmente moradores do campo onde a
ausência de sacerdotes tornava vulnerável a crença na religião católica e seus dogmas.

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Segundo alguns autores o protestantismo atraia muitos católicos por permitir uma ligação direta com
Deus através de orações sem a intermediação exercida no catolicismo pelo clero. Além disso valorizava
o caminho para a felicidade eterna enquanto a igreja católica pregava uma vida de sofrimentos e privações
que, mesmo assim, podia determinar a vida eterna no inferno.
No entanto, na Bahia onde as crenças se misturam e agradam o povo, o protestantismo foi muito
radical. A conversão da nova fé sempre exigiu o abandono de crenças e práticas antigas como aquelas
ligadas aos rituais do candomblé, largamente praticados pelos católicos baianos. Enquanto o catolicismo
foi sempre tolerante a pratica dos cultos africanos, permitindo que fieis participassem de sus rituais e
recebessem os sacramentos ao mesmo tempo. Além disso, o protestantismo exigia dos fiéis um
comportamento radicalmente diferente do habitual que afasta o indivíduo do convívio social baseado nas
festas e reuniões populares que sempre caracterizou o povo baiano.

Islã Africano
Segundo Mattoso(1992), os primeiros africanos islamizados chegaram à Bahia provavelmente no fim
do século XVIII e início do século XIX. Eram negros haussas e iorubas oriundos da África Ocidental mais
influenciada pela cultura islâmica e chamados mulsumis ou malês.
Segundo Baptiste(1971), a maioria dos males vieram de tribos africanas de indivíduos puros ou
mestiços com hamitas, portanto, islamizados e não mulçumanos de origem. Desta forma não foi
introduzida na Bahia um puro islamismo de Maomé, mas uma mistura desse ao animismo das crenças
africanas.
O islamismo nunca foi predominante entre os africanos na Bahia, no entanto, seus adeptos se
distinguiam dos demais por diversos fatores. Por exemplo, o culto male influenciado pelo maometismo
nunca se confundiu com outros cultos negros nem se deixou influenciar pelo catolicismo. Os males davam
grande importância à educação, à leitura e à escrita e os caracteres árabes eram ensinados pois era
necessária a leitura do Alcorão para a religiosidade. O Alcorão era vendido no Rio de Janeiro e mesmo
assim muitos adeptos o tinham e liam em casa ou em reuniões. Vários comportamentos dos islâmicos
eram respeitados pelos adeptos baianos como a circuncisão dos meninos aos dez anos de idade e o
jejum do Ramadã. Os males se diferenciavam também pelo seu comportamento diurno e sem excessos,
totalmente diferente dos outros grupos negros e sua liderança, sempre envolvida nas revoltas contra a
escravidão, era letrada e se destacava entre os indivíduos da população pobre baiana, negra ou não. Por
fim, a cor da roupa e os objetos simbólicos como amuletos mágicos identificavam os males com sua
religião e separava os outros grupos de negros.
Segundo Baptiste(1971), o culto male baiano possuía uma autoridade central chamada Limano e
várias secundárias chamadas Alufás. Estes eram autoridades responsáveis pelas cerimônias das sextas-
feiras e dias santos, cerimônias chamadas Sara, correspondente a missa dos católicos. Havia também
cerimônia de casamento e culto aos mortos, o qual é estranho aos mulçumanos que não cultuam a morte.
Segundo o mesmo autor e outros estudiosos das religiões baianas, não se sabe muito sobre as crenças
e os dogmas da religião mulçumana na Bahia.
Os males eram considerados mestres da magia negra e temiam os djins, espécies de diabos, embora
não acreditassem no inferno e no diabo em si. Cultuavam Maomé e adoravam Alá, seu Deus. Cultuavam
os mortos e realizavam sacrifícios, rezavam cinco vezes ao dia.
A religião muçulmana desapareceu quase completamente em toda a Bahia. Segundo Baptiste(1971)
em 1937, a União de Seitas Afro-brasileiras da Bahia tinha ainda um candomblé de uma nação
muçulmana. No entanto, apenas traços dessa religião eram mantidos como algumas palavras,
expressões e orações inteiras usadas nos rituais como eram usadas nos momentos de oração dos Males.
Autores como Ramos(1979) concordam em algumas razoes para o fim do islamismo negro na Bahia.
Os males constituíam minoria dentre os negros de outras religiões; não desejavam e evitavam a
convivência com outros escravos por não serem maometanos; falavam na língua do país de origem
usando termos árabes e evitando o português. Para os outros grupos negros, os maometanos não eram
irmãos nem companheiros e suas crenças foram aos poucos substituídas ou incorporadas (em pequena
parte) pelos cultos gêge-nagô que predominavam no estado da Bahia.

Candomblé
Em todo o Nordeste, principalmente na Bahia, a influência dos iorubas prevaleceu sobre todos os
outros grupos, inclusive os daomeanos que chegaram a Bahia trazendo cada um sua religião própria.
Com o passar do tempo esses diferentes grupos misturara-se física, social e religiosamente. No entanto,
já no século XVIII, quando os cultos africanos começam a se organizar, os nagôs ou iorubas já eram
maioria. Segundo Carneiro (1977) a relação que os cultos nagôs criavam com a terra de origem e com o

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catolicismo foram motivos primordiais para que se tornasse padrão para todas as religiões dos povos
negros de toda a Bahia.
O candomblé é uma religião baiana, mas que reuniu em sua formação várias religiões negras de
origem africana e crenças indígenas brasileiras. Para Siqueira (1994) é "uma continuidade cultural
africana, reelaborada na Bahia enquanto movimento da busca e reencontro de uma grande maioria de
pessoas negras como um espaço de identidade e uma forma de enfrentamento da sociedade global. Mas
também o local do culto aos Orixás e de revivência de mitos que falam da criação do mundo, do homem
e suas relações entre si e com o mundo".
Como culto religioso organizado, o candomblé tem como provável marco de início na Bahia a fundação
do Candomblé do Engenho Novo, por volta de 1830, na cidade do Salvador. Na década de 80, o CEAO
(Centro de Estudos Afro Orientais) afirmou a existência de 1350 terreiros de candomblé registrados na
Federação Baiana de Cultos Afro Brasileiros, segundo Siqueira (1994).
No candomblé a existência humana se desenvolve simultaneamente no plano do aiê, mundo visível
em que vivemos e no plano do orum, mundo do além. Segundo Mattoso(1992), o primeiro é o universo
físico e o segundo é um espaço sobrenatural povoado por deuses e diferente do céu católico pois inclui
tudo o que existe no plano físico, inclusive a terra e o céu. Para Santos(1986), o ase é a forca vital que
impulsiona as práticas religiosas realizadas no aiê, ligando-o ao orum.
Segundo alguns autores o objetivo religioso do candomblé é permitir a presença dos Orixás, os deuses
nagôs, entre os humanos. Os Orixás são identificados com elementos da natureza como água, vento,
raio, trovão, e encarnam em pessoas escolhidas por eles a fim de conviver com os seus descendentes e
ser reverenciados por eles. São exemplos Iemanjá, rainha das águas doces e salgadas, Xangô, senhor
dos raios e trovoes, Iansã, senhora dos ventos e tempestades e Oxumaré que representa o arco-íris.
Outros Orixás representam doenças como Omolu, proteção como Oxossi e Ogum, sentimentos como a
vaidade representada por Oxum. A divindade da Criação é Oxalá e Exu, criado dos Orixás é o mensageiro
entre os homens e os deuses. (Magalhães, 1974). Os vôdúns jejes são essencialmente os mesmos que
os Orixás nagôs, mas são menos conhecidos por seus nomes verdadeiros por serem menos populares.
Segundo Carneiro (1978), candomblé é o nome dado aos locais onde os adeptos realizam seus rituais
religiosos. No entanto, esse nome já designou qualquer festa de origem africana negra.
O candomblé é um misto de casa e local de festas e cultos, feito de barro e madeira, chão de barro
batido e, às vezes, de cimento. Segundo Carneiro (1978), as paredes do candomblé não chegam ao teto
e a casa geralmente possui grandes corredores de onde partem quartos diversos e numerosos, pouco
ventilados e mal iluminados. O barracão é o local destinado às festas localizado nos fundos da casa
(independente) ou faz parte dela. Em geral é retangular, com duas ou três portas e algumas janelas.
Acima da porta principal há um chifre de boi, um arco ou uma quartilha de barro votiva em homenagem a
divindade protetora da casa. Dentro do barracão diversos enfeites decoram o lugar e homenageiam os
Orixás.
As casas maiores possuem ao redor do barracão vária casas pequenas chamadas assentos e
destinadas aos Orixás. Uma é sempre de Exu e tem a porta trancada a cadeado, as outras são dedicadas
aos Orixás protetores da casa. Alguns Orixás como Oxalá e Iemanjá não podem Ter assentos fora de
casa. Nos terreiros, geralmente, há duas árvores sagradas amarradas com panos brancos, sendo uma a
gameleira, sede do deus Iroko e a outra uma gameleira branca do orixá Apaoká.
A construção de um terreiro de candomblé é sempre precedida de um ritual onde o chefe da casa
deposita nos alicerces da construção água dos axés, bichos de pena, moedas correntes, jornais do dia,
água benta e flores.
O candomblé é moradia de diversos fiéis desamparados. O chefe da casa, geralmente, não mora nela.
Recebe visitas diariamente das filhas e filhos-de-santo e dos fiéis que oferecem sacrifícios e comidas aos
seus orixás de devoção. Na Bahia, os candomblés são formados, em maioria, por descendentes de
africanos, principalmente de mulheres.
Durante a realização dos cultos existem lugares específicos para todos os participantes. No fundo, há
cadeiras e sofás para visitantes; ao lado, num cercado de madeira, o lugar dos atabaques; no lado oposto,
um altar católico; no resto dos espaços junto as paredes, bandos para os diversos assistentes que se
dividem por sexo e categoria.
Segundo Carneiro (1978), numa cerimônia de candomblé são repetidos rituais há anos da mesma
forma ou com pequenas modificações. Começa com a realização de sacrifícios de animais como galos,
pombos e bodes em meio a cantos e danças sagradas. Desses animais se retira o sangue que lava as
pedras dos orixás consideradas sagradas. Logo depois é feito um despacho para Exu pedindo permissão
para a realização dos rituais que irão se seguir. São oferecidas comidas e bebidas como azeite, farofa,
água ou cachaça que devem ser lentamente jogados na porta do barracão, no lado de fora, pois Exu é
considerado o homem da rua.

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Em seguida as filhas-de-santo cantam e dançam para todos os orixás, havendo três cantigas para
cada um deles. Tudo ocorre sob o comando da mãe ou pai-de-santo, autoridade religiosa máxima do
terreiro, que pode, após essas homenagens, encerrar a cerimônia. No entanto, é mais comum que
ocorram ainda as manifestações dos orixás através do corpo das suas filhas chamadas cavalos por serem
usadas pelos orixás para a comunicação com os mortais. É o chamado "baixar o santo". Ao ser
homenageado com suas músicas, um orixá manifesta-se no corpo de uma ou mais filhas-de-santo
predestinadas a servir de cavalo especificamente a ele. Ocorrem as manifestações de tantos orixás
quantas músicas a elas sejam entoadas. Então, a mãe-de-santo ordena que sejam retirados do barracão
e vestidos com roupas especiais e acessórios de cada orixá para voltarem ao barracão. Por exemplo, a
filha de Xangô volta vestida de vermelho e brando, carregando nas mãos um machado em forma de T.
Cada orixá dança sua música reverenciando a mãe da casa, abençoando as pessoas que a ele se
dirigirem e curando moléstias se assim desejarem. Após a participação de todos os orixás, a mãe-de-
santo costuma encerrar a cerimônia que dura horas.
A orquestra do candomblé é simples e composta de atabaque (ilu), agogô e cabaça. Os atabaques
são considerados especiais para a invocação dos deuses. Alguns candomblés usam também o adjá.
A iniciação das filhas-de-santo na Bahia segue os rituais da África como a reclusão no terreiro por um
período de 17 dias, em média, abstinência de relações sexuais, rigorosa dieta, banhos rituais e epilação
da cabeça. A cerimonia de iniciação chamada "dia de dar o nome", marca o momento em que a filha está
pronta para dedicar-se e receber seu orixá em cerimônias.
Para diversos autores, o candomblé é muito mais que manifestação religiosa negra e vai além do
encontro místico entre mortais e deuses. Para Siqueira (1994), o candomblé é cultura negra de identidade
que promove a requalificação social de seus adeptos num espaço mítico e ritual, o terreiro. Atualmente é
movimento sócio-cultural-religioso que expressa a cultura negra de forma total.
Na verdade, hoje, além de sede para cerimônias religiosas, nos terreiros realiza-se uma série de
serviços sociais destinados às comunidades nas quais estão inseridos e fazem parte. São importantes
exemplos as escolas e creches que incentivam a criação e a reprodução da arte e da cultura afro-baianas
como as dos terreiros Ilê Axé Opô Afonjá e Ilê Axé Opô Aganju.

A Educação
Durante mais de dois séculos, a educação jesuítica foi a única responsável pelo ensino brasileiro e
teve grande importância para o sucesso da colonização, convertendo e convencendo índios e negros a
obedecerem ao Deus católico representado na terra pelo Rei de Portugal.
Os jesuítas chegaram à Bahia em 1549 junto com Tomé de Souza e se dedicaram ao catecismo e à
prática do magistério. De Salvador, onde primeiro se estabeleceram, espalharam-se por várias regiões
do estado da Bahia e de todo o país.
Ainda no início da colonização, para viabilizar a catequese dos índios, os jesuítas criaram escolas de
ler e escrever para que os índios pudessem entender e absorver a cultura e a religião portuguesas.
Precisavam antes ser compreendidos para serem depois seguidos. No entanto, não eram apenas os
índios os objetivos dos jesuítas. Segundo Piletti (1996), os jesuítas responsabilizaram-se pela educação
de todos: índios, negros escravos, colonos e filhos dos senhores de engenhos usando, em cada caso,
artifícios particulares para atrair e manter as pessoas em catequese constante, mascarada nas lições
escolares.
Além das aulas de ler e escrever, eram oferecidos, na época da colônia três cursos: o de Letras, o de
Filosofia e Ciências e o de Teologia e Ciências Sagradas considerado superior e destinado à formação
de sacerdotes. Concluídos esses cursos, aquele que desejasse continuar os estudos teria que fazê-lo na
Europa, o que poucos podiam fazer.
Segundo Vilhena (1969), na Bahia, não só em Salvador, mas em todas as vilas da capitania e seus
distritos ministravam-se sete classes de instrução. Na primeira classe estudava-se gramática portuguesa,
na segunda língua latina, sintaxe e sílaba na terceira, na quarta retórica, na quinta matemática, filosofia
na sexta e na sétima teologia moral. Além disso, filosofia era ensinada nos conventos como o do Carmo
e o São Francisco.
Segundo Romanelli (1996) o ensino ministrado pelos jesuítas era alheio às necessidades da colônia e
pouco interessava ou servia a sociedade agrária e comercial da época. Preocupava-se com a
aprendizagem da cultura geral e básica europeia sem valorizar as diferenças da colônia.
Com o tempo, a catequese que levava a educação jesuítica aos índios e negros perdeu importância
para a educação dos filhos da elite, educação essa que excluía o povo e que perdurou como modelo
durante muitos anos no país. Logo a educação dos jesuítas passou a dar status e a formar os
representantes políticos da colônia. Como somente os filhos dos abastados tinham acesso a essa
educação, somente a eles cabiam status e poder.

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Ao serem expulsos do país em 1759, os jesuítas mantinham escolas de ler e escrever, de ensino
secundário e missões na Bahia e em outros estados do Brasil. Foi o Marquês de Pombal que,
considerando o trabalho dos jesuítas com os índios como de oposição a Portugal, suprimiu as escolas
jesuíticas em toda a colônia.
Para instalar a educação voltada aos interesses da Coroa e não da igreja, foram criadas as chamadas
aulas régias de Latim, Grego e Retórica, as quais Segundo Piletti (1996), nem de longe chegaram a
substituir o eficiente sistema de ensino organizado pela Companhia de Jesus.
Segundo Romanelli (1996), seguiu-se a partir de então, mais de 10 anos de desmantelo na educação
em todo o país, que caracterizaram o início da ação do Estado como promotor e responsável pela
educação dos brasileiros. Vale comentar que estudos continuaram a ser ministrados nos seminários em
paralelo às desordenadas e ineficientes aulas régias.
A atuação dos jesuítas na Bahia não de diferenciou do restante do país e sua expulsão acarretou para
a educação no estado o mesmo atraso que para o Brasil.
As intervenções do poder público da província baiana sobre a educação datam do século XIX, muito
tempo depois da expulsão dos jesuítas, significando um longo tempo de desordem e falhas na educação
dos baianos. É somente com o Ato Adicional de 1834 (emenda à Constituição de 1824) que as
Assembleias Legislativas Provinciais começam a legislar sobre as questões do ensino elementar e médio.
Segundo Tavares (1987), inicialmente foi criado na Bahia o Liceu Provincial no antigo Convento da
Palma em 1837, com o intuito de substituir as aulas régias e a Escola Normal para formar professores do
ensino elementar, que só começou a funcionar em 1842 numa casa da antiga Rua do Colégio.
No Liceu matricularam-se 323 alunos nas disciplinas: Filosofia Racional e Moral; Aritmética; Geometria
e Trigonometria; Geografia e História; Comércio; Gramática Filosófica da Língua Portuguesa; Eloquência
e Poesia; Análise e Crítica dos Clássicos; Desenho; Música; Gramática Latina; Gramática Grega;
Gramática Francesa e Gramática Inglesa. A de junho de 1841 estabeleceu exames para o ingresso nos
cursos de Grego, Gramática Filosófica, Belas Leras, Filosofia, Retórica, Geografia que concediam
diploma de Bacharel em Letras.
A Escola Normal da Bahia tinha duas cadeiras: Cadeira de Ensino Mútuo e Cadeira de Leitura,
Caligrafia e Gramática Filosófica da Língua Portuguesa e aulas eram ministradas em dois turnos, um para
homens e outro para mulheres. O currículo da escola de meninos compreendia instrução moral e religiosa,
as artes de ler, escrever e contar bem como os elementos de pesos e medidas nacionais. Ao currículo
das meninas acrescentava-se costura, bordado e outros conhecimentos que auxiliasse a economia
doméstica.
Em 1842 foi criado na Bahia o Conselho de Instrução Pública que tinha as mais diversas atribuições
em relação à educação em todo o estado. No Conselho foi criado o cargo de Diretor-geral dos Estudos,
cargo que se tornou importante e foi ocupado por representantes responsáveis por grandes modificações
para melhoria do sistema de ensino nascente na Bahia. Um exemplo foi Casemiro de Sena Madureira
que em 1851 reivindicava a formação de escolas industriais, a profissionalização do Magistério e a
inclusão da Pedagogia no currículo normal. Em 1854, Sena Madureira idealizou o Jardim da Infância
como uma cadeira para meninos de 4 a 8 anos regida sempre por uma professora que, para o diretor-
geral, tinha ao contrário dos homens, candura e amor suficientes para o trabalho.
A reforma de 1881 criou duas escolas normais em Salvador, em regime de externato: a Escola Normal
de Homens e a Escola Normal de Senhoras. Nelas a Pedagogia já era disciplina e compreendia a História
da Pedagogia, Organização Escolar, Educação Moral, Física e Intelectual e Legislação do Ensino. A
reforma criou um currículo do ensino elementar no qual entrava, pela primeira vez, elementos de ciências
naturais. Também se referia ao ensino particular afirmando que qualquer cidadão brasileiro ou estrangeiro
poderia abrir escola ou outro estabelecimento de ensino primário e secundário, e exercer o magistério.
Por fim, a reforma criou o Conselho Superior.
Da reforma de 1881 (Reforma Paranaguá) até as proximidades da República, pouco se acrescentou
de importante com relação a inovações pedagógicas na formação dos professores. Foram muito
frequentes, no entanto, as medidas para melhorias físicas dos estabelecimentos de ensino no estado,
como a fundação de bibliotecas, museus pedagógicos, livrarias e periódicos nas escolas normais.
Segundo Telles (1989), com a Proclamação da República em 1889, as instituições oficiais de ensino
sofreram alterações e as leis que regiam o ensino na antiga Província foram reformadas pelo Governo
Provisório no Estado da Bahia.
Em 1890 foi apresentado um Regulamento que significava a primeira lei da instrução pública da Bahia
após a Proclamação da República, elaborada pelo baiano Satyro Dias. A lei organizou o Conselho
Superior de Ensino idealizado ainda na Monarquia e extinguiu as escolas normais, criando em seu lugar
o Instituto Normal da Bahia para servir de modelo às instituições semelhantes a serem criadas nos outros
municípios do estado. Sua finalidade era a formação de professores em turmas mistas, em regime de

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externato, num curso de quatro anos de duração. No Instituto, a Pedagogia compunha-se de História da
Pedagogia, Metodologia de Ensino e Prática de Ensino. No começo do século XX duas escolas normais
de mesma linha organizacional foram instaladas no interior do estado, nas cidades de Barra e Caeteté,
mas foram extintas em 1903.
Algumas importantes instituições de ensino foram inauguradas ainda no século XIX como a Faculdade
de Direito em 1891, O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia em 1894, a Escola Politécnica e o
Conservatório de Música em 1897.
Nas duas primeiras décadas do século XX algumas mudanças foram registradas pela história. Por
exemplo, o curso normal variou entre 3 e 4 anos de duração, o Instituto Normal passou a ser chamado
Escola Normal outra vez e os diplomados do curso receberam o título de Professor Primário.
Em 1918 o ensino público foi dividido em Ensino Primário ministrado em escolas isoladas ou em grupos
escolares, e Ensino Secundário ministrado no Ginásio da Bahia. Cabia ao Governador a direção superior
do ensino, auxiliado por secretários, conselheiros, diretores entre outros, mas manteve-se o Conselho
Superior de Ensino.
A reforma de 1925 é também chamada Reforma Góes Calmom por ser ele o Governador do Estado
da Bahia quando as ideias de Anísio Teixeira orientaram tão grande mudança na organização da
educação estadual. Segundo Telles (1989), nenhuma lei anterior sobre o ensino superou a nº 1846 de
14-08-1925, que dispõe com detalhes sobre os princípios da gratuidade e obrigatoriedade do ensino. A
lei deixa claro que o ensino no Estado da Bahia "tem por objetivo a educação física, intelectual e moral
do indivíduo de modo a formar homens aptos para a vida em sociedade e cidadãos úteis à comunhão
nacional."
Abrangendo o ensino geral, a reforma previu o ensino infantil, primário elementar e superior, o
complementar, normal, o secundário, o profissional e o especial, organizando a sucessão escolar até a
formação completa do indivíduo.
No curso normal houve grande mudança no currículo, que destinava 3 anos de preparo científico e 1
de preparo profissional para o magistério. Para tanto, escolas de aplicação foram criadas junto aos
estabelecimentos permitindo conhecimento prático ao futuro professor. Essa organização tornou o curso
de formação do professor completo, já que se preocupava tanto com a formação profissional como
intelectual do indivíduo, ou seja, proporcionava a educação integral dos alunos.
A reforma de Anísio Teixeira inovou também a administração e a fiscalização das instituições criando
a Diretoria Geral da Instrução e reformando o Conselho Superior de Ensino. Em relação à fiscalização
criou cargos e formas de acompanhamento das instituições e dos profissionais de ensino que melhoraram
em muito a qualidade dos seus serviços. Até então, na maioria dos casos, a qualidade do serviço desses
profissionais era considerada ruim pela própria sociedade baiana que contava muitas vezes, com
profissionais nada qualificados para o magistério. Na verdade esse quadro se repetiu em todo país após
a expulsão dos jesuítas, que deixaram vazias as vagas de professor.
Segundo Telles (1989), sobre a administração específica das unidades escolares a lei dispunha sobre
ano letivo e regime de aulas, matrícula e exame, diploma, prêmios e deveres do aluno do curso normal.
Dispunha também sobre a administração das escolas de aplicação, a escola normal superior, cursos de
férias, escolas normais das cidades do interior, ensino secundário e profissional de artes e ofícios. Esta
última oferecia cursos de mecânica e eletrotécnica, artes gráficas, artes decorativas, atividades
domésticas, atividades rurais, atividades comerciais e outras.
A criação dos cursos de artes e ofícios demonstrou a preocupação de Anísio Teixeira com a formação
profissional do jovem, com a qual as leis anteriores não se ocuparam. Para os idealizadores da reforma
a educação integral, física e moral do indivíduo era tão importante quanto à formação profissional. Antes
da reforma e como resíduo da educação jesuítica, a educação preocupava-se com a formação intelectual
do indivíduo, apoiado no conhecimento europeu. Depois da reforma a educação na Bahia passa a ter
características próprias, uma educação baseada nas necessidades da sociedade baiana e formadora de
indivíduos engajados às exigências de um estado em crescimento comercial e industrial.
A lei 1846/25 instituiu também uma Escola de Belas Artes oficial e cursos para crianças ditas anormais,
mostrando a inédita preocupação do Estado com a educação de todos os grupos da sociedade baiana,
embora fosse genuinamente voltada para a habilitação profissional do jovem. As ideias de Anísio Teixeira,
concretizadas na reforma de 1925 marcaram profundamente a história da educação baiana e modelaram
o sistema de ensino e suas instituições.
Em 1998 foi entregue a sociedade os Parâmetros Curriculares Nacionais que segundo o então Ministro
da Educação e do Desporto "tem intenção de ampliar e aprofundar um debate educacional que envolva
escolas, pais, governos e sociedade e dê origem a uma transformação positiva no sistema educativo
brasileiro... foram elaborados procurando, de um lado, respeitar diversidades regionais, culturais, políticas
existentes no país e, de outro, considerar a necessidade de construir referencias nacionais comuns ao

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processo educativo em todas as regiões brasileiras. Com isso, pretende-se criar condições, nas escolas,
que permitam aos nossos jovens Ter acesso ao conjunto de conhecimento socialmente elaborados e
reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania."
Foram produzidos diversos documentos disponibilizados em séries de livros por disciplina, distribuídos
às escolas de todo o país e aos professores de cada disciplina, quando remetidos em quantidade
suficiente para o número de professores. Esses documentos foram elaborados em versão preliminar e
posteriormente analisados e modificados por um grupo seleto de educadores, especialistas em educação,
instituições governamentais e não-governamentais, que resultou na atual versão que deverá ser revista
periodicamente, a partir de acompanhamento e avaliação de sua implantação. Vale ressaltar que tais
revisões periódicas ainda não aconteceram, dois anos depois.
É fato que durante esses 500 anos de história, pouco tem sido feito para a aplicação eficiente de tantas
ideias, leis e documentos tão bem elaborados pelas autoridades do nosso país e estado. A desvalorização
dos profissionais da educação, principalmente dos professores, a falta de recursos, o mau uso ou mesmo
desuso dos recursos disponíveis, a supervalorização da aprovação em detrimento da qualidade do
conhecimento adquirido são apenas alguns dos muitos fatores que impedem a instauração da qualidade
superior no ensino público do Estado da Bahia. Antes de grandiosos projetos e monumentais obras, é
necessária uma forte e consciente avaliação do ensino púbico, cujas conclusões sejam simples,
aplicáveis e eficientes, e valorize sim, a qualidade do ensino público e não as quantidades em números
estatísticos que ele possa oferecer.
Em relação a estrutura física e humana da educação pública na Bahia, são apresentados alguns dados
retirados de SEI Educação 1999. Em 99 a Bahia contava com 41.798 estabelecimentos de ensino entre
públicos federais, estaduais e municipais, além dos particulares sendo 13.526 destinados à Educação
Infantil e Classes de Alfabetização, 27.173 ao Ensino Fundamental e 1.102 ao Ensino Médio. Havia mais
de 4.593.225 alunos matriculados nesses estabelecimentos dentre os quais 385.944 na Educação Infantil
e Classes de Alfabetização, 3.702.727 no Ensino Fundamental e 504.554 no Ensino Médio. Contava com
173.463 docentes dos quais 25.550 destinavam-se à Educação Infantil e Classes de Alfabetização,
125.871 ao Ensino Fundamental e 22.042 ao Ensino Médio. O estado contava e ainda conta com apenas
quatro Universidades Estaduais que abrigavam, em 1999, mais de 16.000 estudantes universitários, a
UNEB, a UEFS, a UESC e a UESB. Em 99 foram matriculados 9.717 alunos nos cursos de suplência em
todo o estado, curso que visa acelerar os estudos daqueles estudantes que não se enquadram nos
moldes do ensino regular como, por exemplo, idade avançada.
Vale lembrar que o índice de reprovação e abandono da escola é muito grande no estado da Bahia
principalmente por causa das péssimas condições financeiras em que vivem esses alunos. Uma grande
quantidade desses estudantes deixa a escola para trabalhar completando a renda familiar que ainda
assim é insuficiente para manutenção digna da vida. Os avançados programas de matrícula usados no
estado nada podem contra a dura realidade em que vivem esses alunos e suas famílias, por isso os
números apresentados pelo estado em suas pesquisas não retratam a realidade fielmente, pois não
podem controlar os motivos pelos quais os estudantes fracassam na escola ou desistem dela.

A Política
Durante quase 50 anos, as terras do Brasil permaneceram administradas à distância, não havendo no
país um cargo específico para o controle político das terras brasileiras.
Em 1549 foi finalmente criado o Governo-Geral com a chegada de Tomé de Souza e a construção de
Salvador, a sede do Governo. Contrariando a opinião de alguns autores, Tavares (1987) afirma que o
Governo-Geral não foi criado para substituir as Capitanias, mas para conservá-las. Portanto, não havia
substituição, mas sim a criação de um centro político, administrativo, militar, judiciário e fiscal.
Segundo regimentos próprios o Governo-Geral deveria promover a segurança militar no litoral,
administrar a cidade de Salvador, cobrar dízimas e redizima devidas ao rei em todas as Capitanias,
fiscalizar os deveres dos donatários e dos colonos para com o rei, julgar os delitos civis e penais. Segundo
Alencar (1981) o Governo-Geral deveria combater tribos rebeladas aliando-se a outras e promovendo
adversidades entre elas, realizar entradas em busca de riquezas minerais, desenvolver a construção
naval e estimular a catequese.
Para o Governo-Geral foram criados os cargos de Governador-Geral, Ouvidor-Geral, Provedor-Mor da
Fazenda e Capitão-Mor da Costa. Também foi instituída a Casa da Câmara composta de membros
indiretamente eleitos ou nomeados. Em 1646 passou a denominar-se Senado da Câmara.
A organização política do Brasil se deu, inicialmente, em três sucessivos Governos-Gerais, que foram:

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Primeiro Governo
Em 7 de janeiro de 1549 foi nomeado o fidalgo Tomé de Souza para exercer por três anos a função
de Governador-Geral do Brasil com os títulos de Governador das Capitanias e terras da Bahia e
Governador das Capitanias e terras do Brasil. Com ele vieram em torno de 1000 pessoas entre colonos
e funcionários subalternos da Coroa e religiosos da Companhia de Jesus chefiados pelo Padre Manuel
da Nóbrega. Inicialmente, Tomé de Souza e sua gente ocuparam a Vila do Pereira mas,logo foi construída
a cidade do Salvador, primeira ação do Governador-Geral, para onde a população foi deslocada. Ainda
durante o primeiro Governo-Geral foi criado o bispado de Salvador, o primeiro do Brasil que teve como
titular o bispo D. Pero Fernandes Sardinha.
Em 1551 foi introduzido no Brasil o gado trazido de Cabo Verde e a pecuária aliou-se à cultura da cana
e do algodão nas sesmarias concedidas por Tomé de Souza.

Segundo Governo
Duarte da Costa, segundo Governador-Geral, chegou ao Brasil em 13 de junho de 1553, trazendo mais
alguns jesuítas como Jose de Anchieta. Este governo caracterizou-se pela desarmonia existente entre
membros do governo, jesuítas e colonos. No entanto, foi no segundo Governo de Duarte da Costa que
se efetuou a conquista do Recôncavo cujas terras férteis de massapé impulsionaram ainda mais a
produção de cana-de-açúcar.
Seu filho Álvares da Costa destacou-se na guerra contra os índios que não aceitavam o domínio
europeu, sendo formada neste governo uma tropa regular e paga usada nas batalhas de extermínio.

Terceiro Governo
No ano de 1557, Men de Sá veio para o Brasil e iniciou o terceiro Governo-Geral.
Sua administração durou quinze anos, contra sua vontade, pois solicitou sua volta para Lisboa, sempre
adiada pelo rei de Portugal. Apoiou jesuítas na catequese de índios, mas ao mesmo tempo, promoveu o
extermínio dos mesmos índios em guerras financiadas pelo seu Governo. Criou igrejas e concluiu a
construção da Santa Casa de Misericórdia, mas suas ações não se limitaram a capitania da Bahia. Men
de Sá foi responsável pela expulsão dos franceses que se encontravam desde 1555 na Bahia de
Guanabara.
Trouxe para o Brasil 336 escravos africanos e moças órfãs para casarem-se com os colonos,
agradando muito a igreja que condenava as ligações entre os europeus e as índias.
Com a morte de Men de Sá, foi Governador o Ouvidor-geral e Provedor-Mor, Fernão da Silva.

Quarto Governo
O quarto Governador-Geral, Luís Vasconcelos, faleceu antes de chegar à Bahia. Após esse fato, o rei
bipartiu a administração das terras do Brasil e nomeou dois governadores. D. Luiz de Brito e Almeida,
Governo-Geral de Bahia, Ilhéus, Pernambuco e terras mais ao norte; e D. Antônio de Salema, Governo-
Geral de Porto Seguro, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Vicente e terras mais ao Sul. Nesta nova
situação houve a nomeação de muitos para ocuparem os cargos do Governo, agora em dobro.
Em 12 de abril de 1577 Lourenço da Veiga foi nomeado Governador-Geral e as terras e a
administração foram unidas outra vez. Esta medida reduziu os gastos e o número de funcionários em
muito aumentados por causa da divisão.
Até a invasão dos holandeses foram os seguintes os Governadores-Gerais:
Diogo Lourenço da Veiga, D. Manuel Teles de Menezes que governou até 1587, D. Francisco de
Sousa, Diogo Botelho que governou de 1602 a 1608, Diogo de Menezes quando se dividiu outra vez o
Brasil em Norte e Sul, Gaspar de Souza e Luís de Sousa.
Em 1624, durante o Governo de D. Diogo de Mendonça Furtado, Salvador foi invadida pelos
holandeses, vencendo a resistência dos moradores que fugiram da cidade, mas voltaram diversas vezes
para atacar e cada vez mais enfraquecer os holandeses. Em 1625, após um ano de dominação holandesa
da cidade e transcorridas diversas batalhas, encontraram-se os holandeses isolados, sem comida e
cansados. A chegada da ajuda dos espanhóis determinou definitivamente a rendição e saída dos
holandeses da Bahia. Houve posteriores tentativas de tomar de assalto a cidade de Salvador, mas todas
sem sucesso.
No século XVIII a estrutura político-administrativa voltada para os interesses da colônia e orientada
pelo pacto colonial conflitava com os interesses da população da capitania da Bahia. Por tais motivos
houve diversos conflitos entre colonos e a colônia que, no quadro nacional da história, não receberam
devida valorização, mas que tiveram grande importância para a organização dos colonos em direção à
Independência. Alguns conflitos não apontavam a condição de colônia como promotora da difícil situação
em que se encontravam os colonos do Brasil, outros apontavam a independência como única maneira de

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resolver a situação. Desta forma, alguns importantes movimentos foram precursores da independência
da Bahia e do Brasil.
Em 1711, o Motim do Maneta, o Motim de Dezembro e o Levante do Terço Velho apresentavam uma
insatisfação da população para com a situação de domínio e pobreza em que se encontrava a cidade de
Salvador e a capitania de modo geral. O primeiro e mais importante protestava contra os valores dos
artigos importados e contra os altos impostos que eram obrigados a pagar para manter a segurança da
colônia e as regalias da metrópole. No entanto, ainda não se cogitava na Bahia as ideias de separação
entre Brasil e Portugal.
Em 1763, com cerca de 60 mil habitantes, Salvador perde a condição de capital para o Rio de Janeiro.
O declínio econômico da cidade e de todo o Recôncavo Baiano gera forte sentimento antinacionalista e
lutas pela independência.
De 1794 a 1798 ocorreu o movimento denominado Conjuração dos Alfaiates, Inconfidência Baiana,
Sedição dos Mulatos entre outros nomes. O movimento caracterizou uma das mais importantes
manifestações anticoloniais do estado e do país no século XVIII. Influenciados pelas ideias iluministas,
os baianos queriam a República na qual todos seriam iguais perante a lei, não importando a cor, e o poder
originasse do povo. No estado em que mulatos e negros predominavam em número, apenas os europeus
possuíam o poder de decisão e ocupavam os altos cargos. Em contrapartida, eram os mulatos e pobres
os mais cobrados pela coroa que exigia cada vez mais e maiores impostos.
Este movimento caracterizou-se por 11 boletins chamados sediciosos, manuscritos e colocados em
pontos centrais da cidade em 12 de agosto de 1798. Os revolucionários reivindicavam a igualdade de
direitos sem distinção de cor e equivalência entre colônia e metrópole, exigindo que o porto de Salvador
fosse aberto para que o Brasil pudesse comercializar livremente com todos os países do mundo e não
apenas com a metrópole.
Denúncias contra os sediciosos levaram à prisão e morte de diversos baianos em várias ações de
repressão.
A abertura dos portos do Brasil e da Bahia se deu em 28 de janeiro de 1808, através do chamado
Decreto de Abertura dos Portos do Brasil e permitiu livre comércio dos baianos com todos os povos do
mundo. Isso aconteceu quando o Príncipe D. João já estava refugiado no Brasil, fugindo dos franceses
que tomaram Lisboa. Segundo diversos autores como Alencar (1981) a atitude do rei nada tinha a ver
com as exigências dos brasileiros, mas sim com as exigências da Inglaterra que desejava explorar o
crescente mercado das colônias portuguesas. Portugal devia à Inglaterra a proteção que recebeu durante
a fuga para o Brasil. A presença da família real no Brasil proporcionou à Bahia outros benefícios como a
criação da Escola Médico-Cirúrgica, posterior Faculdade de Medicina da Bahia, a criação da Companhia
de Seguros Comércio Marítimo e a resolução favorável à existência de indústrias na colônia.
O movimento chamado Pronunciamento de 10 de fevereiro de 1821 marcou a adesão da Bahia ao
movimento liberal-constitucionalista instalado na Europa e que determinou a Revolução Constitucional de
1820 no Porto e em Lisboa. Na Bahia, ele foi liderado de dentro da prisão do Aljube, pelos prisioneiros
políticos da Revolução de 1817, que foi pouco expressiva na Bahia, mas importante em Recife. O
movimento evidenciava o desejo dos baianos em participar da formação da Constituição que regiria os
destinos de Portugal e suas colônias e que poderia permitir a instituição de direitos para a Capitania e
deveres para a metrópole.
Na Câmara Municipal de Salvador, por determinação do governador Conde de Palma pressionado
pelos baianos, foi constituída a Junta Provisória de Governo da Província da Bahia, composta de
representantes das principais camadas da sociedade: igreja, comércio, exército e agricultura. Embora
liberal, o movimento pela Constituição ainda adotava compromisso de subordinação a Portugal, o que
desagradava muito os revolucionários de 1821 que clamavam a independência. Isso ficou claro quando
a junta jurou obediência à Coroa e à igreja católica como também à constituição que a Corte elaborasse.
Deputados baianos foram escolhidos para participarem, na Corte, da elaboração da Constituição para
o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, por eleição indireta no dia 3 de setembro de 1821. Ao
chegarem a Portugal os deputados baianos encontraram a discussão para a futura Constituição em pleno
andamento colocando-os em divergência imediata com os portugueses. Os representantes brasileiros
(baianos, pernambucanos e paulistas) reivindicavam autonomia para o Brasil enquanto os portugueses
desejavam retrocesso de concessões como a abolição do livre comércio.
Vários movimentos e manifestações a favor da Independência da Bahia e do Brasil ocorreram em
Salvador e no Recôncavo, tendo sido sempre reprimidos pelos Portugueses que ainda tinham o poder
militar na Bahia. As Câmaras das cidades do Recôncavo proclamavam a formação de um centro do Poder
Executivo no Brasil exercido por D. Pedro, já aclamado no Rio de Janeiro como Defensor Perpétuo e
Constitucional do Brasil. Mas a força militar impedia as sessões da Câmara e reprimia com prisões as
manifestações do povo.
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Aos poucos os conflitos tornaram evidente a aproximação da independência não só do estado mas de
todo o Brasil. Alguns fatos importantes antecederam a independência como a Batalha do Pirajá travada
na área de Cabrito-Campinas-Pirajá foi a maior demonstração de resistência militar pela independência
no estado da Bahia. Foram oito horas de luta armada entre os soldados baianos e os portugueses que
resultou na morte de vários soldados brasileiros e lusitanos.
Vários episódios de batalhas e conflitos antecederam o episódio conhecido pelo nome de Libertação
da Bahia. Ilhados na cidade do Salvador, os portugueses sofriam com a falta de gêneros básicos para a
sobrevivência como comida e água. Todo o entorno da cidade já estava ocupado pelos soldados baianos
que impediam os portugueses de saírem da cidade ou de entrar nela qualquer pessoa ou suprimento. No
dia 1º de julho, cansados, com fome e sede, os portugueses começaram a abandonar a cidade.
Embarcaram em navios mercantes ou de guerra soldados, oficiais e mesmo as famílias portuguesas, na
maioria comerciantes que permaneceram na cidade.
Enfim, no dia 2 de julho de 1823 entrou na cidade o exército brasileiro, marcando a Independência da
Bahia. Neste dia consolidou-se a separação política entre Brasil e Portugal, deixando de haver um ponto
de apoio para os portugueses vindos da Europa para lutar pela Monarquia portuguesa. A partir de então,
um período Monárquico Constitucional Unitário instalou-se também na Bahia. Em 2 de julho o príncipe D.
Pedro tornou-se Imperador da Bahia, mas na verdade, já era Imperador do Brasil desde 12 de outubro de
1822 e já havia uma Assembleia Constituinte no Rio de Janeiro. Como no episódio da Carta Constitucional
Portuguesa, a Bahia estava atrasada, desta vez no processo de independência do país.
As províncias ainda não estavam sob um só governo executivo, mas com a Independência da Bahia,
a independência e a consolidação do Império do Brasil tornou-se viável. No entanto também nesse
período alguns conflitos e manifestações importantes ocorreram na Bahia.
Ordens do Imperador D. Pedro, como a transferência do Sargento-Mor Silva Castro, importante oficial
na luta pela Independência da Bahia, para o Rio de Janeiro, evidenciavam uma tendência do império em
centralizar as decisões e as ações no Rio de Janeiro. Algumas províncias como Pernambuco, Paraíba,
Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará desligaram-se do poder executivo central estabelecido no Rio de
Janeiro, era a Confederação do Equador que pretendia liberar as províncias das ordens do Rio. A Bahia
se dividia entre obedecer irrestritamente o Imperador ou desligar-se como outros estados do Nordeste do
país.
O levante do Terceiro Batalhão (Periquitos), batalhão do qual fez parte Maria Quitéria nas lutas pela
independência, evidenciava o descontentamento dos baianos em relação à administração do Imperador
D. Pedro I e chegou a beirar uma guerra civil entre adeptos e contrários à Monarquia. Já haviam então
rumores sobre a República.
Para manter a submissão da Bahia à sua autoridade, D. Pedro I visitou rapidamente a província e, com
discursos e audiências, tentou manter os ânimos frios e controlados, dando a falsa impressão de
preocupação com os interesses baianos. No entanto, sua política tendenciosa que beneficiava Portugal
e a Inglaterra com o mercado e o dinheiro brasileiros, só causava desconfiança e temor na população
baiana.
Nos anos seguintes de 1829, 1830 e 1831 sucederam-se diversos conflitos entre brasileiros e
portugueses, principalmente na cidade de Salvador e nas vilas de Cachoeira e Santo Amaro. Havia, então,
um sentimento anti-lusitano que estimulava que estimulava conflitos dentre os quais aquele conhecido
como Mata-Maroto, que resultou na substituição do Presidente da Província da Bahia e do Governador
das Armas, todos portugueses e sua substituição por representantes brasileiros, baianos.
Estes conflitos passaram com algum tempo, a criticar diretamente ao regime Monárquico
Constitucional Unitário instalado no Brasil e passaram a sugerir o federalismo que permitiria autonomia
às províncias, antes que D. Pedro I tentasse reunificar Portugal e Brasil num novo Reino Unido, como
desconfiavam alguns baianos.
A Revolução Federalista de 1832 e 1835 definiu-se com a deposição de D. Pedro em 7 de abril de
1831. No entanto, apenas em 1832 foi proclamada a Federação da Província da Bahia e formado um
Governo Provisório o qual não se subjugava mais às ordens do Rio de Janeiro e pretendia reformular leis
contrárias ao federalismo na Bahia após a formação de uma Assembleia Constituinte Legislativa
Provincial. Tais transformações, no entanto, não tinham o aval do governo da província baiana que
reprimiu o movimento com armas e prendeu os federalistas mais importantes, enfraquecendo o
movimento.
No entanto, o movimento federalista não findou na Bahia. Ao contrário, deu vazão à revolução
conhecida como Sabinada, de grande importância para a história da Bahia e do Brasil. Era um movimento
federalista que pedia revisão da Constituição de 1824 e a descentralização política sem desligar-se do
poder executivo central no Rio de Janeiro. A Sabinada já apresentava inclinação ainda pouco definida
para a República. O levante de 7 de novembro marca o começo do aspecto militar da Sabinada, já que a

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revolução teve início muito antes com a publicação das ideias revolucionárias. O levante do Forte de São
Pedro de 7 de novembro de 1837 iniciou uma série de conflitos que culminaram com a formação de um
governo baiano desligado do Governo Central do Rio de Janeiro. No entanto, o movimento baiano não
estimulou a adesão de outras províncias e ainda desagradou aos grandes proprietários do Recôncavo
que investiram contra os chamados sabinos.
Sem apoio a Sabinada limitou-se ao estado livre e independente da Bahia até a maioridade de D.
Pedro II, que corria sérios riscos de perder o trono.
Segundo Tavares (1987) o movimento tornou-se contra a submissão administrativa e política da Bahia
ao Rio de Janeiro, a centralização. No entanto, não se opunha a Monarquia Constitucional nem ao
Príncipe D. Pedro II. Era contra o trabalho escravo, mas não obteve conquistas neste campo.
Teve seu fim com a retomada do controle de Salvador pelo exército do Imperador, controle esse que
perdurou até depois da maioridade de D. Pedro II, evitando maiores conflitos tão comuns na província. A
Sabinada foi a última revolução armada da Bahia até o movimento republicano no qual ressurgem ideais
federalistas.
Segundo alguns autores, o federalismo de Rui Barbosa foi o que mais caracterizou e animou a política
na Bahia, na última década do Império. Neste fim de século, um dos maiores problemas do Brasil era
encontrar um regime que garantisse a unidade do país. Embora D. Pedro tentasse manter o Império a
todo custo, seus esforços e dos monarquistas só popularizavam as idéias republicanas e a proclamação
da República torna-se cada vez mais próxima.
Organizaram-se no estado três partidos políticos, dois antigos o Conservador e o Liberal e um novato
e pouco representativo, o Republicano que embora defendesse as ideias republicanas, tinham pouca
representação no estado e pouco decidiam sobre os rumos da República a ser proclamada.
Apenas na noite de 15 de novembro de 1888, Salvador conheceu os acontecimentos, que na manhã
do mesmo dia, levaram a Proclamação da República no Rio de Janeiro. A notícia foi recebida através de
um telegrama de Rui Barbosa, então Ministro da Fazenda do Governo Provisório. Além de informar sobre
as novas da capital do país, o telegrama nomeava Manuel Victorino Pereira o Governador do Estado da
Bahia.
Houve em Salvador demonstrações desaprovação e reprovação por parte dos representantes políticos
e militares da Bahia. Os nomes importantes da cidade se dividiram entre os que aderiam a República e
os que juravam obediência à Coroa e ao Rei, como faziam há anos.
Ironicamente, era do Comandante das Armas Marechal Hermes Ernesto da Fonseca, irmão mais velho
do Marechal Deodoro da Fonseca, chefe militar do movimento republicano no Rio de Janeiro, a liderança
do movimento monarquista em Salvador. Hermes da Fonseca, junto ao ex-presidente da Província da
Bahia, decidiu continuar acatando as ordens do Imperador e desacatar as ordens do Governo Provisório,
que já havia indicado um Governador para o recém proclamado Estado da Bahia.
Líderes militares como Christiano Buys do grupo dos republicanos, tentavam adesão suficiente da
população e dos representantes políticos para a Proclamação da República na Bahia, promovendo
diversos pequenos conflitos na cidade do Salvador. O Governador nomeado Manuel Victorino recusou-
se a se envolver nesses conflitos e, mesmo sem sua presença, mas já com o apoio do Marechal Hermes
Ernesto da Fonseca o Coronel Buys proclamou a República na Bahia somente no dia seguinte a
proclamação no Rio de Janeiro. Ocorreu as seis horas da arde do dia 16 de novembro de 1888, no Forte
de São Pedro.
Mas o estado permaneceu sem governador até o dia 18 de novembro quando, às 13 horas Virgílio
Damásio foi empossado Governador do estado da Bahia. Damásio, que teve papel atuante no processo
da proclamação, permaneceu no cargo até o dia 23 de novembro quando, em obediência ao Governo
Provisório, passou o cargo ao médico e político Manuel Victorino. Por ter sido sempre liberal, Victorino
surpreendeu a todos quando se uniu a políticos do Partido Conservador, propondo mudanças no sistema
de saúde e educação, desagradando os liberais e os republicanos. Esses últimos promoveram o
movimento que levou a renúncia de Victorino no dia 23 de abril de 1890.
Ao contrário do que imaginaram os republicanos, a renúncia resultou na posse do Marechal Manuel
Hermes Ernesto da Fonseca como governador e na ascensão do grupo conservador do qual participavam
Luiz Vianna, José Marcelino de Souza, José Gonçalves Dias e Satyro de Oliveira Dias.
Isso demonstrou que os liberais e os conservadores, grandes fazendeiros do Recôncavo e do Sertão,
realmente detinham o poder, enquanto os novatos republicanos eram pouco representativos. Os liberais
e os conservadores elegeram a maioria dos representantes da Assembleia Constituinte e o primeiro
governador republicano do Estado da Bahia, José Gonçalves da Silva.
Em novembro de 1891, devido às manifestações de insatisfação de alguns setores da sociedade
baiana, o Marechal Deodoro da Fonseca dissolveu o Poder Legislativo demonstrando autoritarismo que

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foi renegado e combatido na Bahia, principalmente por representantes militares, sempre envolvidos nos
movimentos revolucionários e contra o governo do estado.
Após diversas mudanças no governo do estado, finalmente o Partido Republicano da Bahia conseguiu
consolidar-se e eleger, em 1892, por voto direto, o Governador Joaquim Manuel Rodrigues que comandou
o Estado até 1896, quando o Conselheiro Luiz Vianna tornou-se Governador.
Foi no mandato de Luiz Vianna que ocorreu o episódio conhecido na história do Brasil como Guerra
de Canudos. O povoado de Canudos surgiu sob a liderança religiosa do beato Antonio Conselheiro,
Antônio Vicente Mendes Maciel, um homem exótico, de cabelos e barba sempre grandes e vestindo uma
longa bata azul. A cidade abrigava uma grande quantidade de fiéis, ex-escravos, índios e todo tipo de
excluídos que encontravam apoio e acolhida em meio às difíceis condições do sertão nordestino. O
lugarejo foi formado na Região da Serra do Cambaio e do Vale do Rio Vasa-Barris. A comunidade se
fundamentava em ideais puramente religiosos, mas acabou representando ameaça à Monarquia por
rejeitar ordens legais como o casamento civil e o registro em cartório dos recém-nascidos. Além disso, a
comunidade cresceu muito rapidamente e não podia ser controlada pelas autoridades republicanas, pois
o povo de Belo Monte só obedecia as ordens do beato Conselheiro, espécie de porta-voz de Deus na
terra. Conhecendo os perigos de não seguir o regime, Belo Monte sempre esteve preparada para
possíveis ameaças de invasão já que possuía um grande arsenal de rústicas armas de fogo.
Várias tentativas de acabar com a suposta conspiração monarquista instalada em Canudos realizadas
pelas forças armadas brasileiras falharam, mas exterminaram aos poucos os 25 mil habitantes do
povoado. Em 5 de outubro de 1897. Uma quinta expedição conseguiu exterminar os moradores do
povoado que ainda resistiam heroicamente. Em 22 de setembro de 1897 morreu Antônio Conselheiro.
Segundo Antônio Olavo (site) a guerra de Canudos foi um massacre sem precedentes no Brasil de
milhares de pessoas que nada tinham de subversivas e apenas defendiam sua fé e seus princípios. Durou
um ano e mobilizou mais de 10 mil soldados de 17 estados brasileiros culminando com a destruição
irracional da cidade.
De 1896 a 1912 diversos fatos acompanharam as mudanças de governadores da Bahia. Foi no
mandato de Severino Vieira, sucessor de Luiz Vianna, que o Partido Republicano da Bahia se dividiu e
originou o Partido Republicano Dissidente no mandato seguinte, o de José Marcelino de Souza. Os
dissidentes apoiavam J.J. Seabra para a sucessão no governo do estado, sendo chamados de seabristas.
Na primeira década do século XX as dissidências em questões políticas eram evidenciadas nos
diversos grupos que surgiram, cujos nomes mostravam a preferência para a sucessão no governo do
estado. Eram os vianistas, severinistas, seabristas cujas divergências levaram ao grave episódio do
bombardeio de Salvador no dia 10 de janeiro de 1912, no mandato de João Ferreira de Araújo Pinho.
Segundo Tavares (1987), forcado a renunciar, o governador Araújo Pinho transmitiu o governo a seu
substituto legal, Aurélio Vianna, que foi recusado pela maioria da Câmara Estadual. Em represália, o
prédio da Câmara foi fechado e a capital do estado transferida para Jequié. Houve briga judicial que
favoreceu os vereadores, no entanto, a decisão legal de liberar a Câmara não foi aceita pelo Governo do
estado. A reação militar foi imediata e no dia 10 de janeiro, os Fortes de São Pedro e do Barbalho
canhonearam o centro da cidade por 4 horas causando grandes estragos às construções do local.
O bombardeio causou não só muitas confusões e estragos para a população, mas também, muitas
confusões políticas em todo o estado e até para o Presidente, Marechal Hermes da Fonseca. Na Bahia
resultou na eleição para Governador do Estado vencida por J.J. Seabra, dezesseis dias depois do
bombardeio.

A Economia
A economia da Bahia colonial foi, desde o início, voltada para o mercado externo, respondendo às
exigências da metrópole e do comércio europeu. Segundo Tavares (1987) entre outros autores, era uma
economia de exportação, mercantil, agrária e escravista.
Desta maneira o país produziu e consumiu somente o que interessava ao comércio externo, mais
especificamente o de Portugal, funcionando como produtor de matéria-prima e consumidor de produtos
manufaturados e escravos. À colônia não cabia a produção industrial ou literária, podia apenas comprar
da metrópole o que era proibida de produzir. Segundo Alencar (1981) fábricas, imprensa e circulação de
livros sempre sofreram sérias restrições. A colônia não podia manufaturar ou industrializar e só podia
comercializar com a metrópole e nunca concorrer com ela. Segundo Junior (1994) a economia brasileira
era complementar a portuguesa devendo suprir as necessidades desta última. Foi o Brasil uma colônia
de exploração por mais de três séculos.
A base da economia na Bahia colonial foi, sem dúvida, o trabalho escravo que sustentou todos os
ciclos econômicos até o século XIX, enriquecendo cada vez mais os senhores brancos. Além de ser mão-
de-obra sem custo, o escravo era importante mercadoria humana e dava grandes lucros aos traficantes
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portugueses, que venderam nos séculos XVI, XVII e XVIII dois milhões de escravos negros no Brasil,
segundo Alencar (1981).
A escravidão também permitia a existência de trabalho livre e assalariado dos que desempenhavam
funções de vigilância dos escravos ou que exigiam conhecimento técnico. Permitiu rápido enriquecimento
dos portugueses moradores do Brasil e para comerciantes de vários países europeus como França e
Itália.
O porto de Salvador, único para a exportação de produtos baianos teve grande importância e intenso
movimento durante o desenvolvimento da economia no estado voltada para a exportação para a Europa,
África e outras capitanias.
Dividida em ciclos, a economia da Bahia e de toda a colônia caracterizou-se como extrativista,
inicialmente. Já nas primeiras expedições exploradoras das terras brasileiras nos anos de 1501 e 1503,
os portugueses detectaram na mata atlântica do litoral baiano a ocorrência, em abundância, do chamado
pau-brasil. O pau-brasil é uma madeira de interior cor de brasa (daí o nome Brasil) da qual se extraía um
corante muito usado na indústria têxtil europeia e de valor comercial para a construção civil e naval.
Desde a descoberta do pau-brasil na colônia, o rei de Portugal estabeleceu monopólio da metrópole
sobre sua exploração, cobrando impostos sobre os lucros obtidos com a comercialização do produto.
Os portugueses transportavam pau-brasil para a Europa e lucravam muito com esse comércio, mas
eram os índios que cortavam as árvores, rachavam as toras e transportavam o pau-brasil até as feitorias
criadas no litoral para armazenar o produto. Além disso, eram também os índios que carregavam o navio
e trocavam seu trabalho e o produto por facas, espelhos, tecidos e outros objetos de irrisório valor
comercial para os Portugueses. Assim se estabeleceu na Bahia e em todo o Brasil a troca direta de
produto por produto chamada escambo.
Os franceses também fizeram escambo com os índios e exploraram largamente o pau-brasil do litoral
da Bahia, desde a região de Rio Real até a Baía de Todos os Santos.
Ainda no século XVI, a produção do açúcar foi escolhida para iniciar a exploração permanente do
Brasil. O açúcar era muito raro e procurado na Europa e Portugal já o produzia em suas ilhas no atlântico
quando decidiu implantar a cultura da cana no Brasil. As terras baianas do tipo massapé mostraram-se
perfeita para o cultivo da cana-de-açúcar e o clima do Nordeste beneficiava seu desenvolvimento. A
grande quantidade de mão-de-obra necessária para a derrubada da mata, preparação do solo, plantio e
colheita da cana e processamento do açúcar veio da África como escravos negros. Os escravos eram
responsáveis por todo tipo de trabalho nas fazendas chamadas engenhos. Plantavam e colhiam cana,
processavam o açúcar nos engenhos, trabalhavam na casa grande e em outros serviços.
A cana era plantada em grandes latifúndios como monocultura e processada nos engenhos das
fazendas. Em 1585 a Bahia já possuía 35 engenhos de açúcar, no fim do século XVIII já eram 260
espalhados pelo Recôncavo. Em 1834 havia na Bahia 603 engenhos de açúcar e em 1875 já eram 892,
a vapor, hidráulico ou de tração animal.
No final do século XIX, o açúcar, embora apresentando sinais de declínio, ainda cumpria importante
papel na economia da Bahia a ponto de serem construídos engenhos centrais que permitiam maior
eficiência e controle da produção no estado.
O açúcar produzido no Brasil era vendido aos holandeses que por sua vez o distribuíam para toda a
Europa, sendo a Bahia um dos principais produtores do gênero para exportação. Quando os holandeses
foram expulsos do Brasil, deixaram de comercializar o açúcar brasileiro. Financiaram a produção do
açúcar nas Antilhas que passaram a concorrer com o Brasil pelo mercado europeu. Graças à larga
experiência holandesa na distribuição do produto, o açúcar antilhano logo dominou o mercado europeu e
promoveu a decadência da economia açucareira na Bahia e no Brasil.
Ao lado do açúcar, o algodão e o fumo desempenharam importante papel para a economia das mais
importantes regiões baianas.
Desde o século XVI a Bahia produziu e exportou algodão em menor quantidade que o açúcar, já que
o comércio, externo para o qual toda a colônia devia servir, interessa-se menos pelo algodão, no
momento. A produção do algodão teve seu auge no século XIX, período em que a Inglaterra passou a
comprar a matéria-prima do Brasil. No entanto. Após reatar relações comerciais com suas ex-colônias
americanas produtoras de algodão, a Inglaterra ao deixar de comercializar com a Bahia, promove um
enfraquecimento na produção do algodão que volta a atender apenas o mercado português e o mercado
interno.
Em relação ao fumo, a Bahia manteve de estável a crescente a produção que não era direcionada ao
mercado europeu, mas sim ao africano. As regiões chamadas tabuleiros (Cruz das Almas e Cachoeira,
por exemplo) produziram e ainda produzem fumo que, à partir de do século XVIII melhorou muito em
qualidade na tentativa de atingir o mercado europeu.

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Segundo Tavares (1987) diversos outros produtos foram produzidos e exportados pela Bahia nos
séculos XVI, XVII e XVIII como couros, aguardente, mel, diversos grãos e produtos da mandioca.
Ainda no século XVIII, também ouro e pedras preciosas foram extraídas das terras baianas, mais
precisamente de Jacobina, Rio de Contas, Araçuaí e Tucambira. No entanto, Portugal preferiu concentrar
a produção de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais, a ponto de fechar minas de ouro da Bahia,
mesmo havendo no século XVIII cerca de 2000 mineradores no estado.
O gado introduzido no Brasil ainda em 1551 por Tomé de Souza passou, no século XVI, a concorrer
com as plantações de cana pela terra do litoral. Durante muito tempo, a criação de gado ateneu às
necessidades das populações locais, era a criação para consumo próprio. Com o crescimento dos
rebanhos a extensão de terra do litoral baiano tornou-se pequena; ou se plantava cana ou se criava gado.
O açúcar ainda era muito lucrativo e os interesses do mercado externo se sobrepunham em importância.
A criação de gado chegou a ser proibida no litoral e banida para o sertão de todo o Nordeste. Dessa
forma, a pecuária migrou em direção ao interior do estado da Bahia adaptando-se ao clima semi-árido e
abrindo os caminhos dos sertões. A pecuária teve grande importância para a exploração do interior do
estado, através das marchas das boiadas ligou regiões distantes e promoveu a fundação de cidades
importantes como Feira de Santana. Segundo Alencar (1981) foi assim a colonização do sertão,
promovida pelos vaqueiros que viajavam cada vez mais em direção ao centro do estado e do país.
Cidades como Vitória da Conquista, Xique-Xique, Juazeiro, Feira de Santana, Barreiras e Alagoinhas
foram importantes pontos de pecuária do estado e grandes beneficiadores do couro que também era
artigo de exportação do estado.
No século XIX a economia baiana ainda tentava responder às exigências do mercado internacional
produzindo e exportando produtos primários. No entanto, diversificou um pouco seus produtos sendo
ainda o açúcar o mais importante para a exportação, seguido do fumo, diamantes, café, couros,
aguardente, cacau e algodão.
Sem dúvida, o comércio tornou-se no século XIX a principal atividade econômica da Bahia,
principalmente de sua capital Salvador. Os grandes comerciantes baianos eram exportadores muito
importantes para a economia de todo o país, mas a cidade abrigava outros tipos de comércio. Havia
desde bancos até vendedores ambulantes, passando pelos lojistas dos mais diversos artigos e produtos
que a sociedade baiana exigia.
Até a abertura dos portos eram os luso-brasileiros que dominavam o comércio, após a abertura dos
portos os comerciantes estrangeiros passaram a dominar o comércio baiano, permanecendo na mão dos
luso-brasileiros o papel de intermediário, lojista ou traficante de escravos negros. Os ingleses se
destacaram em setores como a exportação e a importação de produtos nos portos baianos e brasileiros
de modo geral, nos grandes comércios, nas casas bancárias e nas indústrias.
Instalou-se em 13 de novembro de 1840 a Associação Comercial da Bahia, segundo Mattos (1961).
Segundo Mattoso (1992), na tentativa de forjar seu próprio sistema bancário, os grandes comerciantes
da Bahia criaram em 1817 o Banco da Bahia, que operava como filial do primeiro Banco do Brasil e em
1834 foi fundada a Caixa Econômica do Estado da Bahia. O New London and Brasilian Bank Limited foi
o mais importante banco estrangeiro desse período, segundo Tavares (1987). Após esse período houve
grande queda de exportação dos produtos baianos o que tornou o comércio apático e estagnado por
algum tempo.
No início do século, em 1808 foi cancelada a proibição da atividade industrial na colônia e na Bahia já
havia a permissão para a construção de uma fábrica de recipientes de vidro. A partir de então a
industrialização na colônia inicia lento processo de implantação e desenvolvimento.
A industrialização na Bahia iniciou-se efetivamente em 1841 com a instalação de fábricas de tecidos
grosseiros de algodão que chegaram ao número de sete fábricas passados 32 anos. Os ingleses se
tornaram peças importantes e até fundamentais neste processo já que monopolizavam a experiência e o
conhecimento em relação às máquinas utilizadas. Na Bahia da mão-de-obra escrava foram os
estrangeiros os donos ou técnicos das indústrias nascentes, sobrando para os brasileiros apenas o
trabalho "pesado".
Foram se estabelecendo lentamente na Bahia no século XIX, mais especialmente na Segunda metade
do século indústrias, estradas de ferro, companhias de navegação, seguros e outros. Em setembro de
1887 foi fundada uma fábrica de chapéus com cerca de 250 operários. Em 1865 foi fundada uma farmácia
e drogaria. Em 22 de fevereiro de 877 iniciou-se a industrialização do sal na Bahia.
Em 1879 a construção da Estrada de Ferro Bahia e Minas começou a permitir melhor escoamento da
pequena produção das indústrias nascentes no estado. Em 1899 existiam 1248 quilômetros em tráfego,
30 anos depois eram 2669 - Bahia ao São Francisco; Central; santo Amaro; Nazaré; Bahia-Minas; Centro-
Oeste e Ilhéus-Conquista. Havia também a preocupação com a construção de estradas de rodagem
iniciadas no começo do século X. Houve também a ampliação do transporte por via marítima que

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alcançava cidades do Recôncavo como Nazaré São Félix e Itaparica, portos do litoral atlântico e Alagoas
e Sergipe. Em relação ao transporte urbano, em 1897 trafegou o primeiro bonde elétrico pelas ruas de
Salvador. Os dois planos inclinados junto com o Elevador Lacerda, inaugurado em 08 de dezembro de
1872 já ligavam a cidade baixa e a alta diminuindo o percurso e o tempo de deslocamento. Logo outros
serviços começaram a ser desenvolvidos no estado e em 2 de maio de 1884 instalou-se o serviço de
telefone em Salvador.
Segundo Garcez (1975), a Bahia viveu um período de relativa prosperidade do fim do século XVIII até
o primeiro quartel do século XIX, graças ao estímulo trazido pelas guerras de independência das colônias
inglesas na América que deixavam livre o mercado com a Europa. Também a revolução industrial permitia
melhorias na exportação de algodão e as guerras napoleônicas que desarticularam a produção das
colônias francesas e inglesas, aumentavam a demanda externa de produtos brasileiros tradicionais na
exportação. Em 1900 e 1901 o açúcar europeu de beterraba já representava 68% da safra mundial.
No entanto, a partir das lutas pela independência, o Brasil começa a sofrer restrições do mercado
internacional o que reduziu muito as exportações de açúcar, algodão e fumo. Já no fim do século XIX, a
febre da industrialização sem planejamento, mergulhou o país inteiro em uma das maiores crises da
história que promoveu numerosas falências. A própria libertação dos escravos em 1888 provocou grande
declínio na economia baiana, ainda baseada no trabalho escravo e no tráfico.
A Bahia viveu então um período de estagnação na indústria e no comércio, principalmente em função
da crise da sua principal riqueza, o açúcar. Esse fator ocasionou queda dos preços e afetou a balança
comercial baiana. A exportação do fumo, ligada ao tráfico, foi afetada pelo fim oficial da escravidão no
Brasil e pela concorrência da América do Norte que reatou as ligações comerciais com a Europa.
O cacau e o café surgiram então como alternativas que poderiam substituir o açúcar o algodão e o
fumo na economia exportadora baiana. Diferente dos estados do sudeste, os solos e o clima da Bahia
não favoreceram a produção do café. No entanto, o cacau encontrou no sul da Bahia solo e clima
adequados para o seu desenvolvimento e produção, demonstrando ser um eficiente substituto do açúcar.
Segundo Garcez (1979), o cacau foi introduzido na região em meados do século XVIII, importado do
Pará. De 1890 a 1930 o cacau se fixa como importante produto de exportação e monta-se toda uma
estrutura de produção e comercialização do cacau e seus derivados. A partir de 1926 além do Porto de
Salvador, o Porto de Ilhéus passou a exportar o cacau baiano.
A crise da economia mundial de 1929 afetou a exportação de todos os produtos voltados ao mercado
externo, inclusive o cacau. Outros problemas, como pragas, aliados à crise promoveram a criação do
Instituto do Cacau em 8 de junho de 1931.
No século XIX e XX alguns produtos andaram lado a lado com o cacau na exportação como cana,
mandioca, feijão, milho, fumo e diversas frutas e verduras. Merece destaque a cultura do algodão,
mamona e sisal já que é a Bahia um dos maiores produtores regionais. A pecuária ainda é uma das mais
importantes atividades econômicas do sertão baiano e em parte do Recôncavo. A Bahia é um dos
principais estados produtores de leite do Nordeste do Brasil.
Segundo CEPLAB (1978), na última década do século XIX, a economia baiana registrou um surto de
empreendimentos industriais que marcou o nascimento da indústria fabril no Estado, independente da
economia açucareira.
No entanto, as décadas seguintes apresentaram, sob todos os aspectos, sintomas de estagnação
econômica. Até os anos 50 do século XX a economia estadual não permitia a evolução em direção à
industrialização.
A grande mudança se deu a partir de 1949 com a implantação da PETROBRÁS que iniciou a
exploração dos campos de petróleo do Recôncavo e a instalação da Refinaria Landulfo Alves (Mataripe).
Posteriormente a criação da SUDENE e incentivos fiscais promoveram fortalecimento da industrialização
de toda a região Nordeste. Tudo isso junto provocou grandes repercussões na economia baiana e
importantes melhorias como a mudança na estrutura do parque industrial, na composição do valor de
transformação industrial, na formação da renda interna total e industrial e no próprio espaço econômico.
O CIA (Centro Industrial de Aratu) e distritos industriais como e de Subaé, Ilhéus, Jequié entre outros
iniciaram a industrialização do Recôncavo e de parte do interior do estado. A implantação da indústria
petroquímica na Bahia, concentrada na Região Metropolitana de Salvador, supriu as necessidade4s de
material da indústria química baiana em franco desenvolvimento. A chamada indústria de transformação
é ainda de grande importância para a economia baiana e seu desempenho esteve em 1998 superior ao
da indústria de transformação nacional.
Segundo Análise & Dados, até o início dos anos 60, o comércio baiano concentrou-se na exportação.
Foram produtos como açúcar, algodão, farinha e por último o cacau que reinaram na produção do estado,
nada preocupado com o mercado interno. Com a industrialização o comércio tornou-se mais dinâmico.

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No entanto, um estado de apatia permanece instalado na economia baiana e o número de vendas,
exportações e empregos nunca voltou a ser como nos períodos de ouro da exportação.
A partir de 1967 o turismo na Bahia ainda pouco representativo, passou a ser explorado de forma
planejada. Foram criados órgãos especializados em turismo como a BAHIATURSA, a CONBAHIA e a
EMTUR, e projetos de valorização dos recursos naturais e do Patrimônio Histórico passaram a ser
implantados lentamente. Hoje a indústria do turismo é uma das maiores geradoras de divisas do estado,
focalizando cidades litorâneas como Salvador, Ilhéus e Porto Seguro entre outras.
Por fim, nos anos 90, grandes transformações na economia brasileira promoveram oscilações na
economia do estado da Bahia que se mantém hoje dividida entre turismo, as indústrias de transformação
e automobilísticas.

Manifestações Folclóricas
Foi em 1842 que apareceu, pela primeira vez, em forma impressa, a palavra folclore. Foi William John
Thoms, sob pseudônimo de Ambrose Merton quem sugeriu em artigo publicado na revista Atheneum que
o termo folclore substituísse o que se chamava na Inglaterra de Antiguidade Popular ou Literatura Popular.
Desde então, a palavra folclore recebeu diferentes significados que têm sido modificados e
melhorados. Alguns especialistas dizem ser a palavra folclore, um dos termos mais utilizados no mundo.
No entanto, considera-se folclore como a expressão da maneira de pensar, sentir e agir de um povo.
A Bahia é, sem dúvida, um dos estados que mais valoriza as manifestações públicas do folclore. São
festas religiosas ou não, procissões, jogos, danças e representações que exteriorizam as crenças e os
costumes de um povo alegre e muito místico. A grande maioria dessas manifestações são religiosas ou
tiveram origem em práticas de fé católica ou africana. Mas, existem também aquelas que apresentam os
costumes dos escravos, a resistência contra a escravidão, a cultura indígena e muito mais.
As manifestações folclóricas funcionam como berço da arte e cultura baiana, pois permitem a criação
e recriação das suas formas de representação. Em contrapartida, a cultura produzida a cada dia alimenta,
enriquece e renova as antigas tradições, tornando-as cada vez mais atrativas.
Não se pode pensar somente em Salvador quando se fala em manifestações folclóricas baianas pois
em todo o estado pode-se encontrar, ao longo do ano, particulares formas de manifestação da alma do
povo baiano. Se Salvador tem o Carnaval e a Festa do Bomfim, Cachoeira tem as Damas da Boa Morte,
Santo Amaro tem o Maculelê, Armação tem a Puxada de Rede, Uauá tem o Reisado, São Félix tem o
Samba-de-Roda...
Sem dúvida, a Bahia é o grande berço brasileiro da cultura popular e o seguro recanto das tradicionais
manifestações folclóricas que caracterizam e contam a história deste país.

Ternos e Ranchos - Os Reisados


São manifestações religiosas que louvam e homenageiam o nascimento de Jesus, acontecendo do
Dia de Reis, 6 de janeiro. É formado por "pastores" e "pastoras" que caminham pelas ruas cantando e
dançando com o destino simbólico a Belém. O Terno é tido como uma manifestação mais séria e conta
com a participação de representantes de classes favorecidas como estudantes. Seus integrantes desfilam
vestidos de indumentárias prateadas e brancas com detalhes azuis ou vermelhos. Nos Ternos a música
é acompanhada por instrumentos de sopro com ritmos de pandeiros e castanholas.
O Rancho é integrado por pessoa modestas e simples, por isso tende a ser mais liberal e alegre. Seus
integrantes vestem-se como os dos Ternos, mas adicionam-se à música violas e violões.
Os chamados donos dos Ternos ou Ranchos são os seus organizadores, pessoas de reconhecido
respeito e consideração na comunidade. São eles que escolhem os participantes do evento, planejam o
desfile, dirigem os ensaios, providenciam o figurino, arrecada fundos para a realização da festa e tudo o
mais.
Os Ternos e Ranchos são comuns na capital Salvador, mas no interior do estado tudo é chamado
Reisado e mantém todas as características dos Ternos e Ranchos da capital. O Reisado é realizado em
45 municípios baianos como manifestação oficial, principalmente na zona rural, como em Alagoinhas,
Canavieiras, Nazaré, Rio Real, Jequié e Santo Amaro.

Bailes Pastoris
Como os Reisados, os Bailes Pastoris, também chamados Presépios, exaltam o nascimento de Jesus,
mas diferente daqueles, constituem-se de dramatizações de episódios religiosos como a Anunciação, o
Nascimento de Jesus e a Visita dos Pastores. São realizados na frente dos presépios das igrejas na Noite
de Natal enquanto se espera a Missa da Meia-Noite. Seus integrantes vestem-se de pastores, cantam e
louvam o nascimento de Cristo como faziam os pastores da Idade Média.

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Os Bailes Pastoris são tradicionais em Salvador onde há um grupo de jovens do bairro da Lapinha que
se apresenta todos os dias 25 de dezembro na Praça da Sé. No interior do estado destacam-se cidades
como Sapeaçu, Gentio do Ouro, São Félix, São Francisco do Conde e outros municípios que preservam
uma manifestação religiosa tão antiga.

Puxada-de-Mastro
É uma manifestação religiosa característica das cidades do sul e Extremo-Sul do estado da Bahia.
A Puxada-de-Mastro consiste na retirada de um grande e pesado tronco de uma mata o qual é
conduzido (puxado) até um pedestal onde é fixado. Na maioria dos casos, o tronco é grande o suficiente
para exigir que dezenas de homens juntem suas forças para locomovê-lo. O esforço é parte do sacrifício
que se faz ao santo homenageado.
O mastro hasteia o estandarte do santo homenageado na ocasião e antecede a realização de missas
solenes encerrando as novenas de orações. Em Olivença nas proximidades de Ilhéus, o mastro sustenta
o estandarte de São Sebastião que é fixado na frente da Igreja de Nossa Senhora da Escada, no mês de
janeiro. Em Porto Seguro a homenagem é para São Brás.

Queima do Judas
Esta é uma manifestação folclórica muito comum em cidades do Recôncavo e do Semiárido baianos
como Cachoeira e Feira de Santana, embora aconteça em todo o estado como em Salvador, Lauro de
Freitas, Dias D'Ávila. É realizada no Sábado de Aleluia desde o período da colonização, trazido pelos
portugueses da Europa onde já era repetida.
Consiste na queima de bonecos de palha ou pano que representam o traidor de Jesus Cristo, seu
discípulo Judas. Isto é feito em praça pública ou nas ruas da cidade e assistido por grupos de pessoas
que festejam o castigo do traidor com risos e brincadeiras
Hoje, em cidades do interior da Bahia acontecem disputas entre grupos que confeccionam o boneco.
São adicionados fogos de artifício aos bonecos que proporcionam belos espetáculos pirotécnicos e a eles
são atribuídos nomes e culpas de personalidades mal vistas, principalmente políticas, que tornam o
evento um momento de desabafo da população humilde e explorada do estado.
Antes da queima do Judas lê-se um testamento que fala sobre as pessoas presentes e que participam
do evento e sobre a própria personalidade que o boneco representa.
Após a queima do Judas pode haver escolha do melhor boneco, de acordo com a qualidade do
testamento e do espetáculo de fogos de artifício.

Samba de Roda
Segundo Vianna (1981), o Samba de Roda começou, provavelmente nos tempos da colonização,
quando os negros, na sua primeira pausa para descanso, dançaram à moda da sua terra. O ritmo
contagiante do samba marcado por palmas e passos excitantes fez com que, aos poucos, o samba saísse
da senzala e fosse para as ruas e até para a casa dos brancos. Hoje, o Samba de Roda é frequente nos
mais diversos festejos baianos como o carnaval, por exemplo.
A dança do samba de roda em si é considerada simples, mas é preciso muito "molejo" para realizar
com os pés ou passos marcados com as mãos. Existem passos específicos da roda que representam
diversas atividades do cotidiano, como, por exemplo, o corta jaca paço no qual o sambista representa
com os pés o ato de cortar uma jaca, retirar o "visgo" e recolher o caroço. Cada ação é representada por
um conjunto específico de movimentos, sempre marcados pelas palmas dos outros sambistas. Outros
exemplos são o miudinho, amarrado, barra-vento e sapateado.
A dança acontece quando ao som de samba forma-se uma roda com um sambista ao centro que
apresenta sua ginga, dançando por algum tempo. Logo, ele desafia um componente da roda com um
sinal como a umbigada ou um simples aperto de mão, que toma o seu lugar no meio da roda. Tudo
transcorre ao som de marimbas, violas, pandeiros, ganzás, atabaques, berimbaus e outros instrumentos
de percussão. Mas, o samba não deixa de acontecer por falta de instrumentos, pois o improviso é muito
frequente e até mais original. Na falta de instrumentos, facas arranham a borda de pratos, colheres são
batidas como castanholas, pentes e papeeis são soprados e tampas de panelas são batidas com as
pontas dos dedos, enquanto o tirador lança frases simples que são cantadas repetidamente.
O Samba de Roda é uma tradição em cidades como Cachoeira, Candeias, Santo Amaro, Muritiba e
outras.

Presente de Iemanjá
Manifestação repetida todo dia 2 de fevereiro não em só em Salvador, mas em várias cidades baianas
que têm contato direto com o mar ou com rios como Nazaré, Valença, Maragogipe, Itaparica e Vera Cruz.

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O Presente de Iemanjá é uma manifestação religiosa que homenageia a deusa das águas para o
candomblé, Iemanjá, no catolicismo, Nossa Senhora da Conceição. Na festa os fiéis oferecem presentes
à deusa como espelhos, perfumes, joias e flores para o alto mar em balaios enfeitados que são levados
por embarcações de pescadores. O momento da saída para o mar é de festa, rezas, fogos de artifícios,
palmas e manifestações dos "santos" apresentadas pelos fiéis.
Diz a crença popular que, se no dia seguinte seu presente não estiver na praia, sua oferenda foi aceita
e seus pedidos serão atendidos.
Em Salvador, a manifestação tornou-se mais conhecida e adquiriu características próprias. Além dos
fiéis, das rezas e manifestações, existem hoje turistas e foliões que se juntam aos milhares na Enseada
do Rio Vermelho para observar as homenagens e dançar ao som dos trios elétricos. A Oferenda de
Iemanjá tornou-se uma das principais festas populares da cidade do Salvador atraindo turistas e renda
aos mercados formal e informal envolvidos no evento.

Puxada de Rede
Mantida em poucas praias do litoral baiano, a Puxada de Rede é uma importante manifestação
folclórica do estado com traços da cultura negra africana. Ela permite a integração entre os pescadores
e a preservação de traços africanos na cultura do povo que vive do mar, já que toda a atividade da pesca
realizada é acompanhada de danças, mímicas, poesias e cantos dos pescadores africanos trazidos para
o Brasil.
A Puxada de Rede acontece entre outubro e abril, época em que os peixes procuram as águas quentes
e rasas do litoral nordestino. Nessa época a pesca é realizada na beira da praia com uma gigantesca
rede de arrasto e não em alto amor, como de costume. A armação e a puxada da rede são comuns em
praias como Armação, Chega Nego e Carimbamba.
A grande rede usada leva até mil metros de corda e cinco meses de trabalho para ficar pronta. Para
manipulá-la são necessários 63 homens, 1 chefe, 1 mestre de terra, 1 mestre de mar, 20 catadores, 20
homens do mar e 20 homens da terra. A rede aberta liga barcos em círculo na água e homens na terra
que, assim que encontram peixe puxam a rede à praia.
Cantos simples são repetidos como aqueles cantados pelos antepassados negros e alguns até se
referem à terra de origem como Aruanda. A última canção entoada é sempre o canto de saudação à
rainha do mar em agradecimento pelo sucesso da puxada.

Maculelê
Todo dia 2 de fevereiro é dia de Maculelê em Santo Amaro da Purificação, Recôncavo baiano. Segundo
Maria Muti (1978), o Maculelê é uma mistura de dança e luta de origem negra e escrava eu tem em Santo
Amaro o seu reduto e em mestre Popó o único mestre conhecido.
Vários estudiosos contestam a sua origem achando alguns que se trata de uma dança indígena, outros
de luta negra.
Mestre Popó, mais antigo lutador de Maculelê reconhecido popularmente, diz que o Maculelê chegou
da costa da África junto aos escravos, até os engenhos de Santo Amaro. Era uma mistura de luta e dança,
defesa e ataque misturados aos cantos negros que disfarçavam a luta. Uma forma de treinar a luta sem
despertar a desconfiança dos feitores, que só enxergavam a dança.
Para o Maculelê são usados três tambores (atabaques), agogô e ganzá que produzem o ritmo negro
da dança. Um par de grimas é usado por cada lutador e u único pelo chefe, todos feitos de madeira polida.
Cada integrante usa uma gurita na cabeça (touca de ponta), lenço no pescoço, camisa comum ao estilo
africano, calca igual e pés descalços. Usam o rosto muito pintado de negro com a boca exageradamente
vermelha e cabelos brancos de farinha de trigo.
A dança é composta de leves volteios e um levantar de pés sincronizados às batidas das grimas (a
autora escreve diversas vezes esgrimas). Entre as músicas que acompanham poucas são aquelas
usadas nas senzalas que eram cantadas em línguas africanas. Muitas foram criadas em Santo Amaro
pelos filhos e seguidores de mestre Popó. Cada uma delas tem um significado e um objetivo Há música
para sair às ruas, para a chegada ao local da apresentação, para saudação a Princesa Isabel pela
libertação dos escravos, para Virgem Santa, par recolher doações chamada Ritual do Vaqueiro e aquela
que tornou-se a que mais caracteriza o Maculelê: "sou eu, sou eu, sou eu Maculelê, sou eu..."
Mundialmente conhecido, o Maculelê de facão é rejeitado pelo grupo tradicional de Santo Amaro e foi
criado por um dos filhos do mestre Popó, que também rejeita a adulteração da luta e justifica dizendo que
se os negros possuíssem facões para lutar o Maculelê na senzala, não haveria escravidão. Teriam
conquistado a liberdade à lâmina.

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Marujada
Esta manifestação folclórica negra comum a várias cidades baianas como Paratinga e Jacobina data
de mais de duzentos anos e embeleza as festas de santos católicos como São Benedito, protetor dos
negros.
Segundo uma lenda de Jacobina, a marujada foi introduzida na região por duas famílias negras
escravas descendentes de reis africanos, chamadas Caranguejo e Capim unidas a outra chamada
Labatut. A exibição ligada a santidades católicas foi uma forma de mostrar cantos e danças negras
discriminadas pela população e uma maneira de participar da vida social da cidade.
Durante a Marujada os indivíduos daquelas famílias pareciam importantes oficiais da marinha
admirados por toda a comunidade, sendo na verdade simples trabalhadores braçais. Esse sentimento é
ainda hoje motivador da realização da marujada nas cidades baianas onde a festa é uma tradição.
Hoje, como há anos atrás, o cargo de mestre, o mais importante da marujada é vitalício e só pode ser
exercido por membros das famílias Caranguejo ou Labatut. Outros cargos como contramestre, general e
capitão são distribuídos pelos interessados de toda a cidade.
Todo o grupo desfila em uniforme branco e azul, a farda que padroniza os componentes da Marujada.
Os marujos e os calafates vestem-se com o mesmo uniforme, mas o mestre, o contramestre, o capitão e
o general, cargos de destaque, usam outro uniforme e acessórios que diferenciam cada um deles e
conferem destaque durante o desfile da Marujada.
O desfile é acompanhado de várias canções simples que se referem ao mar, a batalhas, a cidades
portuguesas e ao santo homenageado. Ao final do desfile uma apresentação teatral encerra a
comemoração e um último canto dá adeus ao dia festivo.
Findo o festejo, cada marujo volta a sua vida normal e ao anonimato, já que são integrantes das classes
menos favorecida das cidades. Voltam para preparar a Marujada do ano seguinte, ainda mais atraente.

Boa Morte
A Irmandade da Boa Morte, formada por 22 mulheres negras devotas de Nossa Senhora da Boa Morte
e dos orixás do candomblé, preserva em Cachoeira uma das mais antigas e solenes tradições do estado
da Bahia. São mais de 200 anos de confraria, uma organização de leigos totalmente ligada à igreja
católica, mas sem influência direta de autoridades religiosas como padres.
Segundo as irmãs da Boa Morte, a confraria surgiu nas senzalas dos engenhos da Barroquinha, bairro
antigo de Salvador. No início, eram três ou quatro mulheres negras escravas que se reuniam escondidas
nos porões das senzalas ou cantos das casas grandes para discutir meios para libertar ou alforriar
escravos. Por terem mais liberdade de locomoção, era mais fácil para as mulheres realizarem reuniões,
o que pode explicar o fato de a irmandade ser constituída somente de mulheres.
A devoção a Nossa Senhora da Boa Morte nasceu com a confraria e residiu na igreja da Barroquinha
até que a irmandade se transferiu, no início do século XX para a cidade de Cachoeira, no Recôncavo
baiano. A crença católica retrata o desejo de libertação que a morte proporciona e que era esperada em
vida pela libertação dos escravos.
A Boa Morte é uma manifestação folclórica que expressa claramente o sincretismo religioso tão
presente na Bahia. As irmãs são devotas de a Nossa Senhora da Boa Morte e ao mesmo tempo fazem
parte do candomblé como filhas e mães -de -santo. É necessário que se conheça e pratique o candomblé
e o catolicismo para participar da confraria, mais que isso, é preciso que se saiba separar os dois.
A irmandade é uma sociedade fechada com hierarquia e cerimônias reservadas somente às irmãs. No
entanto, há celebrações públicas como as procissões em agosto, mês da Assunção de Maria. É exemplo
aquela em que as irmãs vestem sua tradicional beca, um traje de luxo composto de saia rodada plissada,
pano de costa de veludo preto forrado de cetim vermelho ou roxo, jóias, adereços de ouro e chinelas
brancas de couro.

Lavagem do Bonfim
A devoção ao Nosso Senhor do Bonfim teve seu início em 1745, quando foi esculpida a imagem
semelhante àquela encontrada em Portugal e colocada no altar da Igreja de Nossa Senhora da Penha,
em Itapagipe.
Em 1754, graças aos esforços da Irmandade devotado santo, foi inaugurada a Igreja de Nosso Senhor
do Bonfim no sítio chamado Monte Serrat que recebeu no dia 24 de junho do mesmo ano a imagem do
Senhor do Bonfim.
A devoção ao santo fez milhares de fiéis e romeiros se dirigirem ao Bonfim durante todo o ano e em
1804 foi instituída a esta católica ao senhor do Bonfim realizada em janeiro, com ápice no 2º domingo
depois do dia de Reis. Os rituais católicos duravam 10 dias, começando com novenas e encerrando com
a realização de missas solenes e campais.

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Anos depois, integrantes do candomblé, mães e filhas-de-santo, relacionando Oxalá, pai dos orixás, a
Senhor do Bonfim, começaram a realizar uma das manifestações religiosas mais famosas da Bahia, a
lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim. Desde então, na segunda-feira seguinte ao domingo do
Bonfim, as baianas vestidas a caráter saem da Igreja de Nossa senhora da Conceição da Praia e
caminham 8 km até a sagrada colina, onde está a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, sempre
acompanhadas de uma multidão de fiéis que inclui autoridades políticas e personalidades famosas.
Carregando nos ombros potes ornamentados cheios de água de flores, ao chegarem a colina sagrada,
as baianas lavam e enxugam com panos rendados as escadarias e o adro daquela que elas dizem ser a
casa de Oxalá, entoando cânticos e rezas em línguas africanas.
São comuns os banhos de pipoca e as manifestações de "santos" em plena escadaria da igreja, sem
intervenção alguma das autoridades católicas que respeitam e convivem com os rituais do candomblé.
Durante muitos anos a festa pagã foi acompanhada por trios elétricos, muita bebida e comida, no
entanto, em 1998 os trios elétricos foram proibidos por descaracterizar a religiosidade da festa.

Bumba-Meu-Boi
O Bumba-meu-boi é uma das mais ricas manifestações folclóricas de dança dramática do Norte e
Nordeste do Brasil. É chamado boi-bumbá na Amazônia, boi-surubim e boi-de-mão em Santa Catarina,
mas mantém em todos os casos as mesmas características. Faz parte do ciclo natalino de festas
religiosas e representa a morte e ressurreição de um animal como aconteceu com Cristo.
A dança e a coreografia consistem na sucessão de vários fatos relativos ao boi, contendo sempre um
personagem que celebra a vida do animal. No meio da apresentação o boi é ferido e morto por um
vaqueiro, mas ressuscita no fim. O fato é de grande alegria e regozijo dos participantes e expectadores e
inicia uma festa com muito forró.
A principal personagem da festa é o boi feito de uma armação de madeira coberta de couro, veludo
vermelho, azul ou preto bordado com vidrilhos, miçangas e linha dourada. Se o boi é pobre é coberto por
chita ou outro tecido estampado. As outras personagens se vestem como vaqueiros e o povo sertanejo,
com arminho, colete de veludo colorido e chapéu de couro.
O Bumba-meu-boi é muito comum nas cidades do sertão e do semiárido baianos e acontece em
cidades como Salvador onde existe um grupo que revive todos os anos os folguedos da festa. Outras
cidades do Interior do estado como Amargosa, Canavieiras, Itambé e Cravolândia realizam a festa.

Festas Juninas
Festa de São João, São Pedro e Santo Antônio são as mais alegres e populares manifestações
folclóricas do Nordeste do Brasil. Embora sejam realizadas em vários estados do país, é na região
Nordeste que apresenta traços marcantes da cultura, do comportamento e a forma de pensar da
população.
Além dos rituais religiosos em homenagem aos santos do mês de junho, acontece entre os dias 13 e
29 manifestações da cultura popular nordestina influenciadas pelo catolicismo, candomblé ou por
particularidades regionais, carregadas de simbologia.
A fogueira acessa no dia 23 e os balões coloridos hoje condenados pelos inúmeros incêndios que já
causaram têm explicação religiosa e católica. A fogueira relembra aquela acesa por Santa Maria na
ocasião do nascimento de João Batista, filho de sua prima Isabel, pra avisar aos amigos sobre o
acontecido. Os balões eram usados pelos católicos como mensageiros de pedidos aos santos no céu. A
estas estruturas incandescentes eram presos os pedidos de cada um que eram levados ao céu nas noites
de festa.
A comilança, no entanto, era um costume pagão de festejo e preparação para as grandes colheitas.
No Nordeste, a influência dos negros e índios na cozinha é evidenciada pelo uso das sementes, do coco,
do milho, da mandioca, da cachaça muito comuns a culinária desses grupos humanos. Milho e amendoim
cozidos, batatas, bolos, canjicas, pamonhas e pipocas são pratos indispensáveis a esta festa que tem
pouca influência europeias.
A cachaça, o licor, as danças, o forró e a quadrilha são genuinamente sertanejos. São as marcas da
cultura nordestina impressas na festa assim como o são o linguajar, o figurino, a simpatia e a cordialidade
dos participantes da festa.
As festas juninas são comuns a todas as cidades da Bahia, desde Salvador com seu famoso Arraia da
Capitá até cidades com tradição nesses festejos como Santo Antônio de Jesus que oferece atrações
como o trezenário de seu padroeiro Santo Antônio, até o Semaforró, uma semana de puro foro nas
proximidades do dia 24 de junho. São famosos os festejos de Amargosa, Cruz das Almas, Senhor do
Bonfim, Serrinha, Juazeiro e muitas outras cidades do interior do estado.

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Capoeira
Segundo alguns autores a capoeira teve origem africana e chegou ao Brasil no século XVI, junto com
os escravos negros. Segundo Oliveira (1989), alguns mestres de capoeira acreditam que foi uma criação
africana no Brasil, mas a maioria afirma que veio da África onde recebia o nome de "jogo da zebra" e era
praticada com violência. Fazia parte de um ritual de luta entre homens para conquistar meninas
adolescentes.
Na senzala os negros disfarçavam a luta em dança, acrescentando a ela instrumentos musicais e
movimentos cadenciados. Desta forma praticavam a luta sem levantar suspeitas podendo praticá-la
depois contra os feitores e capitães-do-mato em fugas. O próprio nome capoeira surgiu do ato de essas
lutas acontecerem em clarões da mata chamados capoeira, durante as fugas dos escravos.
Segundo relatos de antigos praticantes esta capoeira, luta dos tempos da escravidão é a capoeira
angola, considerada a mais tradicional. Durante muito tempo a capoeira angola reinou como único estilo
da luta, mas nos anos 30, o conhecido Mestre Bimba criou a capoeira regional a partir da capoeira angola.
Segundo Oliveira (1989), há ainda a capoeira estilizada que surgiu a partir da regional, o que evidencia
uma mudança constante na luta.
A capoeira angola e a regional apresentam algumas diferenças. A capoeira angola é de "ginga", mais
abaixada, com jogo rasteiro, maior uso da esquiva e jogo de pernas, a maioria dos golpes é dado com os
pés. A capoeira regional usa mais as mãos, o jogo é mais alto, luta-se com o corpo mais erguido e há
golpes de braços, mãos e cabeça. Além disso, na capoeira regional existe uma espécie de graduação do
indivíduo com sucessão de faixas que indica o grau de experiência e habilidade do capoeirista, algo
semelhante às lutas marciais e diretamente influenciada por elas.
A capoeira angola valoriza os rituais e preceitos tradicionais da luta, prepara para a defesa, desenvolve
a malícia, a calma e a rapidez do impulso. A capoeira regional é mais agressiva, valoriza o ataque e, por
preocupar-se com a adequação da luta ao esporte, pouco valoriza os preceitos e extinguiu alguns rituais.
No começo do século passado a capoeira era praticada nos locais abertos em bairros afastados do
centro, nas praças em ocasiões de festas populares e nos subúrbios de Salvador, além de cidades do
interior como santo Amaro, Cachoeira e Nazaré. Durante muito tempo permaneceu recriminada e o
capoeira, pessoa que joga capoeira, foi discriminado e temido como marginal. Com o passar do tempo a
capoeira passou a ser aceita principalmente por causa da adesão de pessoas de classes favorecidas e
por mulheres, no entanto o preconceito ainda existe. Mestres da luta como Pastinha e Bimba começaram
a mostrar, aos poucos, que a capoeira é uma manifestação folclórica e artística, composta de belos e
maliciosos movimentos, mas sem violência alguma.
A capoeira como misto de luta e dança é sempre acompanhada por uma bateria, conjunto de
instrumentos que produzem um som variado e peculiar formado por um berimbau gunga, um berimbau
berro-boi, um berimbau viola, um ou dois pandeiros, um atabaque, um agogô, um reco-reco, e três caxixis,
acompanhados de tradicionais ladainhas repetidas pelos lutadores.
Ao som dos instrumentos e das cantigas os capoeiras repetem tradicionais passos da luta como ginga,
rasteira, negativa, rabo-de-arraia, tesoura, meia-lua e suas variações ou criam novos passos. A roupa
usada no jogo nunca foi padronizada, mas predomina o branco nos dias especiais de apresentação
acompanhado de sapato de bico fino e brinco de ouro na orelha.
Hoje, o capoeira veste calça pantalona de algodão e camiseta com ou sem sapato.
A capoeira é comum em todas as cidades do estado e, seja a tradicional angolana ou a regional,
aprendida nas ruas ou nas academias, é sempre um espetáculo aos olhos, ouvidos e ao coração de quem
é capaz de sentir a magia dessa filosofia de vida.

Carnaval
A festa mais alegre e colorida da Bahia, o carnaval, é também hoje importante vetor econômico que
envolve e beneficia a economia formal e informal ao mesmo tempo. Para o turismo, o carnaval cria
grandes oportunidades como a ocupação dos hotéis, serviços de transporte, alimentação e outros. Seu
resultado tem um forte fator de repique e pode ser explorado o ano inteiro, graças aos mega shows e
carnavais fora da época no interior do estado.
Salvador recebe no carnaval milhares de turistas que movimentam, junto ao folião baiano, milhões de
reais todos os anos.

Histórico
Segundo Loiola e Miguez (1996), o carnaval teve origem no Entrudo, jogos e brincadeiras realizadas
nos quatro dias anteriores a quaresma e que chegaram ao Brasil junto com os portugueses. No Brasil, o
entrudo consistia numa guerra de limões, água, ovos ou farinha, uma brincadeira onde os menos
favorecidos se divertiam e promoviam, algumas vezes, atos violentos e confusões. Mas havia também os

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grupos negros que levavam às ruas as danças e músicas africanos ou inspiradas na África. Essa festa
era considerada desordeira e perigosa pela elite, pela imprensa e pela polícia que combatiam e tentavam
acabar com o entrudo, por ser uma festa popular e de grande participação dos negros.
Em oposição ao entrudo, existiam na cidade do Salvador e nas principais cidades do estado, os bailes
particulares realizados nos clubes ou nas mansões onde a elite baiana dançava ao som de polcas e
óperas, ostentando riqueza nas roupas e joias que usavam. Os pobres e os negros não podiam entrar
nesses bailes onde a alta sociedade baiana se protegia da agressividade dos entrudos e imitava o estilo
do carnaval europeu.
Essas duas situações criaram e mantiveram por muito tempo o carnaval dividido por classe e raça. Os
pobres e negros eram mantidos na periferia da cidade enquanto os ricos se divertiam nos mais atrativos
pontos e festas da cidade.
Nos últimos vinte anos do século XIX o carnaval começa a substituir o entrudo, dando aos festejos de
rua características europeias e elitizadas. Foi organizada uma campanha promovida por setores da
sociedade como polícia e imprensa, para a mistura dos dois estilos de folia que resultou em uma festa
particular. O novo carnaval era mais organizado que os entrudos, quase tão luxuosos como os bailes e
mais coletivo que os dois. Na verdade houve uma elitização do carnaval de rua.
Essa mudança foi marcada pela ocorrência de desfiles carnavalescos promovidos e patrocinados pela
burguesia comercial local. Esses desfiles transformaram o povo em mero espectador de carros alegóricos
e luxuosas fantasias que tomavam, aos poucos, o lugar das brincadeiras do entrudo. São desse período
três famosos grupos carnavalescos da alta sociedade baiana: Fantoches da Euterpe (1883), Cruz
Vermelha (1884) e Inocentes em Progresso (1900). Estes blocos e outros que começaram a surgir,
brigavam pela preferência dos populares apresentando roupas e carros cada vez mais luxuosos em
desfiles organizados até em temas específicos. Esses desfiles resistiram até o início dos anos 60
perdendo, aos poucos, lugar para o carnaval participativo da Bahia.
Com o tempo, o carnaval de rua das elites foi substituído pelos grupos de foliões organizados e afoxés
que forçaram a elite a voltar para os bailes de clubes e mansões. Então, as ruas voltaram a ser ocupadas
pelos grupos pobres e mestiços como na época dos entrudos. A volta dos grupos negros ao carnaval e
seu crescimento em participação, antes suprimidos pelos grupos carnavalescos, caracterizou a fase
chamada de africanização do carnaval. Dessa forma, os negros nagôs organizaram o primeiro afoxé do
carnaval baiano, o Embaixada Africana, seguidos dos Pândegos da África. Os grupos negros desfilavam
mostrando as roupas, músicas e costumes africanos.
Esses grupos foram duramente criticados e perseguidos pela elite por meio da imprensa e da polícia
que chegou a proibir qualquer manifestação da cultura negra acompanhada de tambores. Mas os afoxés
persistiram em sobreviver às proibições e restrições, tornando-se símbolos da resistência negra contra o
preconceito social e racial em Salvador.
Além dos afoxés também ocupavam as ruas as batucadas, espécies de orquestras ambulantes, que
puxavam ou comandavam blocos e cordões de foliões organizados, os antecessores dos blocos de trio
elétrico.
O carnaval de 1950 apresentou a mais importante inovação da festa baiana, que modificou
completamente sua estrutura, dando-lhe as características tão particulares que lhe levaram ao sucesso.
Em 1950, Dodô e Osmar, criaram o precursor do trio elétrico, um carro cheio de auto falantes ligados a
instrumentos elétricos, chamado fóbica, que tocava frevo pernambucano e movimentava os
observadores. Eram chamados de "dupla elétrica", mas um ano depois a adesão de Aragão formou o "trio
elétrico" - Dodô, Osmar e Aragão, nome que é dado hoje ao caminhão que carrega a banda a tocar pelas
ruas da cidade.
O trio elétrico provocou uma revolução na festa de rua criando uma nova forma de brincar o carnaval:
pular atrás do trio, dançando com movimentos livres e simples e ao mesmo tempo caminhando pelas ruas
por onde o trio elétrico fosse passando. A partir de então, começou a ter fim o carnaval divido racial e
socialmente, que separava ricos de pobres, negros de brancos, centro da periferia da cidade. O trio
elétrico promoveu a conquista da rua, tornando-a comum a todos, um espaço igualitário onde não cabe
a segmentação sócio racial. No entanto, o trio elétrico diminuiu a participação dos afoxés, superando-os
em preferência junto ao folião. Durante algum tempo, trios e afoxés nem mesmo se encontravam e pouco
se respeitavam nas ruas.
Segundo Loiola e Miguez (1996), é com o trio elétrico que o carnaval ganha características comerciais
que marcaram a realização da festa, desde então. Por exemplo, o trio elétrico tornou-se um excelente
veículo de propaganda e atraiu patrocinadores desde o ano de 1952.
Nos anos 70, o renascimento do Afoxé Filhos de Gandhi, fundado em 1949, marcou a volta dos blocos
negros como importantes pecas na festa heterogênea do carnaval de rua em Salvador. Logo os blocos

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afros tornaram-se, junto com os trios elétricos, importantes símbolos do carnaval baiano, conhecidos e
admirados pelo mundo inteiro.
A partir da metade dos anos 80, com o surgimento dos blocos de trio, o carnaval baiano adquire
contornos de sua configuração atual, Torna-se uma grande fonte de emprego e renda para a população
e passa a ser visto como um grande negócio pelas instituições públicas e privadas que se desenvolveram
à sua volta.
Os blocos privatizaram o trio elétrico com suas cordas de isolamento e abadás diferenciados. A
manutenção da estrutura de um bloco de trio custa caro, encarecendo o custo na participação desses
blocos. Por isso, somente aqueles que podem pagar caro, podem participar do carnaval de bloco. Isso
promoveu a elitização do carnaval de rua outra vez, onde ricos brincam protegidos em blocos com cordas
e seguranças e pobres e negros chamados pipocas que pulam atrás de trios independentes. O trio de
blocos, no entanto, promoveu importantes mudanças benéficas para o carnaval de Salvador. Foi o bloco
de trio que criou o axé music, estilo que popularizou a música negra baiana modificada em arranjos
"eletrizados". O axé music teve grande aceitação não só na Bahia, mas em todo o país e expôs de maneira
mais eficiente o carnaval baiano em redes de rádio e televisão de todo o Brasil.
Segundo Miguez (1998) os blocos afros e de trio passaram a se organizar como empresas e a explorar
o comércio fonográfico, da moda, da propaganda e etc. Com o passar do tempo, a entrada do artista
baiano no mercado cultural nacional deixa de depender de sua ida para os estados do Sudeste. O produto
cultural baiano atrai o mercado e o próprio estado passa a ser produto atraindo muitos investimentos em
relação a produção cultural. Os artistas baianos passaram a fazer parte do mercado cultural nacional e
internacional, a exemplo de Daniela Mercuri e o Olodum.
A passagem do carnaval folia para o carnaval negócio gerou a chamada indústria ou economia do
carnaval, que produz bens e serviços simbólicos. Vende-se a alegria, a festa, a satisfação pessoal, a
paixão, os romances, a beleza, a amizade e todo tipo de produtos lúdicos através de pacotes turísticos
para as cidades de Salvador e outras com carnaval fora de época, como Feira de Santana. Mas, também
produz bens e serviços não tão lúdicos, mas necessários e bastante rentáveis. Vendem-se roupas,
bebidas, comidas, vagas em hotéis, transportes e muito mais. E os foliões compram tudo, compram das
grandes empresas e dos vendedores ambulantes, geram renda para o comércio organizado e gigantesco
chamado formal e para o não pequeno mercado informal.
Hoje, o carnaval baiano reúne mais de um milhão de pessoas nos horários de pico em 10 km de circuito
oficial, que exige uma infraestrutura cada vez mais eficiente. São centenas de shows, mais de 70 trios,
banheiros públicos, postos médicos, postos policiais, restaurantes e hotéis a disposição dos foliões,
turistas ou não, que gastam mais de 6 milhões de dólares na festa. Enfim, é uma rede de serviços que
geram uma imensa quantidade de empregos e divisas para o estado. É uma enorme fonte de lucros e
negócios sempre bem sucedidos, que beneficia principalmente as empresas ligadas ao turismo no estado
da Bahia.

Questão

01. (IF-BA - Auxiliar em Administração – FUNRIO) A Bahia é o coração histórico do Brasil. É a terra
onde pisaram os primeiros europeus, e o local dos primeiros povoados, da primeira cidade e da primeira
capital do Brasil. A Bahia foi por muito tempo o centro político, comercial e cultural do País, sendo também
o local do primeiro grande porto e da primeira grande casa de espetáculos. A Bahia foi a primeira sede
da Corte, em 1808, e também o palco das principais lutas pela Independência do Brasil.
No final do século XVIII, a Bahia foi o palco de uma revolução social, que buscava a proclamação de
uma República Bahinense, com igualdade de direitos para todos. Esse movimento recebeu o nome de
(A) Balaiada.
(B) Sabinada
(C) Cabanada.
(D) Conjuração Baiana.

02. (Prefeitura de Valença – BA - Técnico Ambiental – AOCP) Preencha a lacuna e assinale a


alternativa correta.
A cidade de Salvador foi capital e sede administrativa do Brasil até o ano de , quando a capital
foi transferida para o Rio de Janeiro.
(A) 1549
(B) 1624
(C) 1763

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(D) 1823
(E) 1908

03. A Bahia é uma unidade federativa brasileira que está localizada em qual região do país?
(A) Centro-Oeste
(B) Norte
(C) Nordeste
(D) Sul
(E) Sudeste

Resposta

1. Resposta: D
De 1794 a 1798 ocorreu o movimento denominado Conjuração dos Alfaiates, Inconfidência Baiana,
Sedição dos Mulatos entre outros nomes. O movimento caracterizou uma das mais importantes
manifestações anticoloniais do estado e do país no século XVIII.

2. Resposta: C
Em 1763, com cerca de 60 mil habitantes, Salvador perde a condição de capital para o Rio de Janeiro.

3. Resposta: C.
O estado da Bahia está localizado na Região Nordeste, que também abriga o Sergipe, Alagoas,
Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão.

Brasil Republicano: República Velha, Era Vargas, Populismo, Ditadura Civil


Militar, redemocratização e contemporaneidade.

Brasil República
A palavra República possui várias interpretações, sendo a mais comum a identificação de um sistema
de governo cujo Chefe de Estado é eleito através do voto dos cidadãos ou de seus representantes, com
poderes limitados e com tempo de governo determinado.
A República tem seu nome derivado do termo em latim Res publica, que significa algo como “coisa
pública” ou “coisa do povo”.
Em 15 de novembro de 1889 foi instituída a Republica no Brasil. Entre os fatores responsáveis para o
acontecimento, estão a crise que se instalou sobre o império, os atritos com a Igreja e o desgaste
provocado pela abolição da escravidão. Com a Guerra do Paraguai e o fortalecimento exército, os ideais
republicanos começaram a ganhar força, sendo abraçados também por parte da elite cafeicultora do
Oeste Paulista.

O Movimento Republicano e a Proclamação da República


Mesmo com a manutenção do sistema escravista e de latifúndio exportador, na segunda metade do
século XIX o Brasil começou a experimentar mudanças, tanto na economia como na sociedade.
O café, que vinha ganhando destaque, cresceu ainda mais quando cultivado no Oeste Paulista.
Juntamente com o café, na região amazônica a borracha também ganhava mercado, principalmente após
a descoberta do processo de vulcanização, feito por Charles Goodyear em 1839. Com a ameaça do fim
da escravidão, começaram os incentivos para a vinda de trabalhadores assalariados, gerando o
surgimento de um modesto mercado interno, além da criação de pequenas indústrias. Surgiram diversos
organismos de crédito e as ferrovias ganhavam cada vez mais espaço, substituindo boa parte dos
transportes terrestres, marítimos e fluviais.
As mudanças citadas acima não alcançaram todo o território brasileiro. Apenas a porção que hoje
abrange as regiões Sul e Sudeste foi diretamente impactadas, levando inclusive ao crescimento dos
núcleos urbanos. Em outras partes, como na região Nordeste por exemplo, o cultivo da cana-de-açúcar
e do algodão, que por muito tempo representaram a maior parte das exportações nacionais, entravam
em declínio.
Muitos dos produtores e também da população dessas regiões em desenvolvimento passavam a
questionar o centralismo político existente no império brasileiro, que tirava a autonomia local. A solução
para resolver os problemas advindos da mudança pela qual o país passava foi encontrada no sistema

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federalista, capaz de garantir a tão desejada autonomia regional. Não é de se espantar que entre os
principais apoiadores do sistema federalista estivessem os produtores de café do oeste paulista, que
passavam a reivindicar com mais força seus interesses econômicos.
O ideal de federação, que se adequava aos anseios dos vários grupos políticos do Brasil, só seria
atingido com uma República Federativa. O desgaste enfrentado pelo império brasileiro, evidenciado na
questão religiosa, na questão escravista e na questão militar são fatores importantes para entender e
completar a lista de fatores que levaram à proclamação de uma República em 1889.
Desde o período colonial eclodiram diversos movimentos baseados nos ideais republicanos. A
Inconfidência Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana de 1798 são exemplos que buscavam a separação
de seus territórios do poder colonial e a implantação de repúblicas, em oposição ao domínio real.
Apesar das influências republicanas nas revoltas e tentativas de separação desde o século XVIII, foi
apenas na década de 1870, com a publicação do Manifesto Republicano, que o ideal foi consolidado
através da sistematização partidária.
O Manifesto foi publicado em 3 de dezembro de 1870, no jornal A República, redigido por Quintino
Bocaiúva, Saldanha Marinho e Salvador de Mendonça, e assinado por cinquenta e oito cidadãos, entre
políticos, fazendeiros, advogados, jornalistas, médicos, engenheiros, professores e funcionários públicos.
Defendia o federalismo (autonomia para as Províncias administrarem seus próprios negócios) e criticava
o poder pessoal do imperador.
A formação do Partido Republicano no Brasil está ligada à queda do Gabinete de Zacarias de Góes,
motivada por questão pessoal com o Duque de Caxias, e a cisão dos liberais em radicais e moderados.
A facção radical adotou, em sua maioria, ideais republicanos.
Após a publicação do Manifesto, entre 1870 e 1889 os ideais republicanos espalharam-se rapidamente
pelo país. Um dos principais frutos foi o Partido Republicano Paulista, fundado na Convenção de Itu em
1873 e marcado pela heterogeneidade de seus membros e da efetiva participação dos cafeicultores do
Oeste Paulista.
Os republicanos brasileiros divergiam em seus ideais, criando duas tendências dentro do partido: A
Tendência Evolucionista e a Tendência Revolucionária.
Defendida por Quintino Bocaiuva, a Tendência Evolucionista partia do princípio de que a transição do
império para a república deveria ocorrer de maneira pacífica, sem combates. De preferência após a morte
do imperador.
Já a Tendência Revolucionária, defendida por Silva Jardim e Lopes Trovão, dizia que a República
precisava “ser feita nas ruas e em torno dos palácios do imperante e de seus ministros” e que não se
poderia “dispensar um movimento francamente revolucionário”. A eleição de Quintino Bocaiuva (maio de
1889) para a chefia do Partido Republicano Nacional expurgou dos quadros republicanos as ideias
revolucionárias.
O final da Guerra do Paraguai (1870) provocou o recrudescer dos antagonismos entre o Exército e a
Monarquia; entre o grupo militar e o Civilismo do governo; entre o "homem-de-farda" e o "homem-de-
casaca". O exército institucionalizava-se. Os militares sentiam-se mal recompensados e desprezados
pelo Império. Alguns jovens oficiais, influenciados pela doutrina de Augusto Comte (positivismo) e
liderados por Benjamin Constant, sentiam-se encarregados de uma "missão salvadora" e estavam
ansiosos por corrigir os vícios da organização política e social do país. A "mística da salvação nacional"
não era aliás privativa deste pequeno grupo de jovens. Muitos oficiais mais graduados compartilhavam
das mesmas ideias. Generalizara-se entre os militares a ideia de que só os homens de farda eram "puros"
e "patriotas", ao passo que os civis, os "casacas" como diziam, eram corruptos, venais e sem nenhum
sentimento patriótico.
No ano de 1888, a abolição da escravidão, promovida pelas mãos da princesa Isabel deu o último
passo em direção ao fim da Monarquia Brasileira. O latifúndio e a sociedade escravista que justificavam
a presença de um imperador enérgico e autoritário, não faziam mais sentido às novas feições da
sociedade brasileira do século XIX. Os clubes republicanos já se espalhavam em todo o país e naquela
mesma época diversos boatos davam conta sobre a intenção de Dom Pedro II em reconfigurar os quadros
da Guarda Nacional.
O Visconde de Ouro Preto, membro do Partido Liberal, foi nomeado presidente do Conselho em junho
de 1889. O novo governo precisava remover os obstáculos representados pelo republicanismo e pelos
militares descontentes. Para vencer o primeiro, apresentou um programa de amplas reformas: liberdade
de culto, autonomia para as províncias, temporariedade dos mandatos dos senadores, ampliação
do direito de voto e Conselho de Estado com funções meramente administrativas. Acusado tanto
de radical como de moderado, o programa foi rejeitado pela Câmara dos Deputados. Diante disso, ela foi
dissolvida, provocando protestos gerais. Contra o exército, Ouro Preto agiu tentando reorganizar a

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Guarda Nacional e removendo batalhões suspeitos. A situação tornou-se tensa. Os republicanos
instigavam os militares contra o governo.
A ameaça de deposição e mudança dentro do exército serviu de motivação suficiente para que o
Marechal Deodoro da Fonseca agrupasse as tropas do Rio de Janeiro e invadisse o Ministério da Guerra.
Segundo alguns relatos, os militares pretendiam inicialmente exigir somente a mudança do Ministro da
Guerra. No entanto, a ameaça militar foi suficiente para dissolver o gabinete imperial e proclamar a
República.
A Proclamação resultou da conjugação de duas forças: o exército, descontente, e o setor cafeeiro
da economia, pretendendo este eliminar a centralização vigente por meio de uma República Federativa
que imporia ao país um sistema favorável a seus interesses.
Portanto, a Proclamação não significou uma ruptura no processo histórico brasileiro: a economia
continuou dependente, baseada no setor agroexportador. Afora o trabalho assalariado, o sistema de
produção continuou o mesmo e os grupos dominantes continuaram a sair da camada social dos grandes
proprietários. Houve apenas uma modernização institucional.
O golpe militar promovido em 15 de novembro de 1889 foi reafirmado com a proclamação civil de
integrantes do Partido Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ao contrário do que
aparentou, a proclamação foi consequência de um governo que não mais possuía base de sustentação
política e não contou com intensa participação popular. Conforme salientado pelo ministro Aristides Lobo,
a proclamação ocorreu às vistas de um povo que assistiu tudo de forma bestializada.

O Governo Provisório e a República da Espada


Proclamada a República, o primeiro desafio era estabelecer um governo. O Marechal Deodoro da
Fonseca ficou responsável por assumir a função de Presidente até que um novo presidente fosse eleito.
Os primeiros atos decretados por Deodoro foram o banimento da Família Real do Brasil, estabelecimento
de uma nova bandeira nacional, separação entre Estado e Igreja (criação de um Estado Laico, porém não
laicista), liberdade de cultos, secularização dos cemitérios e a Grande Naturalização, ato que garantiu a
todos os estrangeiros que moravam no Brasil a cidadania brasileira, desde que não manifestassem dentro
de seis meses a vontade de manter a nacionalidade original.
No plano econômico, Rui Barbosa assumiu o cargo de Ministro da Fazenda, lançando uma política de
incentivo ao setor industrial, caracterizada pela facilitação dos créditos bancários, a especulação de ações
e a emissão de papel-moeda em excesso. As medidas tomadas por Rui Barbosa, que buscavam
modernizar o país, acabaram por gerar uma forte crise que provocou o aumento da inflação e da dívida
pública, a quebra de bancos e empobrecimento de pequenos investidores. Essa dívida ficou conhecida
como Encilhamento.
Em 24 de fevereiro de 1891 foi eleito um Congresso Constituinte, responsável por promulgar a
primeira Constituição republicana brasileira, elaborada com forte influência do modelo norte-americano.
O Poder Moderador, de uso exclusivo do imperador, foi extinto, assim como o cargo de Primeiro-Ministro,
a vitaliciedade dos senadores, as eleições legislativas indiretas e o voto censitário.
Em relação ao poder do Estado, foi adotado o sistema de tripartição entre Executivo, Legislativo e
Judiciário, com um sistema presidencialista de voto direto com mandato de 4 anos sem reeleição. As
províncias, que agora eram denominadas Estados, foram beneficiadas com uma maior autonomia através
do Sistema Federalista.
Em relação ao voto, antes censitário, foi declarado o sufrágio universal masculino, ou seja, “todos”
os homens alfabetizados e maiores de 21 anos poderiam votar. Na prática o voto ainda continuava
restrito, visto que eram excluídos os mendigos, os padres e os praças (soldados de baixa patente). No
Brasil de 1900, cerca de 35%20 da população era alfabetizada. Desse total ainda estavam excluídas as
mulheres, já que mesmo sem uma regra explícita de proibição na constituição, “considerou-se
implicitamente que elas estavam impedidas de votar”21
A constituição também determinava que a primeira eleição para presidente deveria ser indireta, através
do Congresso. Deodoro da Fonseca venceu a eleição por 129 votos a favor e 97 contra, resultado
considerado apertado na época. Para o cargo de vice-presidente o Congresso elegeu o marechal Floriano
Peixoto.
A atuação de Deodoro foi encarada com suspeita pelo Congresso, já que ele buscava um
fortalecimento do Poder Executivo, baseado no antigo Poder Moderador. Deodoro substituiu o ministério
que vinha do governo provisório por um outro, que seria comandado pelo Barão de Lucena, tradicional
político monárquico. Em 3 de novembro de 1891 o presidente fechou o Congresso, prometendo novas
eleições e a revisão da Constituição.
20 Souza, Marcelo Medeiros Coelho de. O analfabetismo no brasil sob enfoque demográfico. Cad. Pesqui., Jul 1999, no.107, p.169-186. ISSN 0100-1574
21 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo : Edusp, 1999. Página 251.

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Deodoro montado em um barril de pólvora tentando apagar os problemas com água fria

A intenção do marechal era limitar e igualar a representação dos Estados na Câmara, o que atingia os
grandes Estados que já possuíam uma participação maior na política. Sem obter o apoio desejado dentro
das forças armadas, Deodoro acabou renunciando em 23 de novembro de 1891, assumindo em seu lugar
o vice Floriano Peixoto.
Floriano tinha uma visão de República baseada na construção de um governo estável e centralizado,
com base no exército e no apoio dos jovens das escolas civis e militares. A visão de Floriano chocava-se
diretamente com a visão dos grandes fazendeiros, principalmente os produtores de café de São Paulo,
que almejavam um Estado liberal e descentralizado. Apesar das diferenças, o presidente e os fazendeiros
conviveram em certa harmonia, pela percepção de que sem Floriano a República corria o risco de acabar,
e sem o apoio dos fazendeiros, Floriano não conseguiria governar.
Os dois primeiros governos republicanos no Brasil ganharam o nome de República da Espada devido
ao fato de seus presidentes serem membros do exército.

Presidentes do Brasil na Primeira República

1- Marechal Manuel Deodoro da Fonseca


Governo Provisório: 15.11.1889 a 25.02.1891

Governo Constitucional - Eleito por voto indireto


Período de Governo:
26.02.1891 a 23.11.1891
Vice-Presidente:
Marechal Floriano Vieira Peixoto
Observação: Renunciou ao cargo de presidente da República em 23.11.1891.

2 Marechal Floriano Vieira Peixoto


Período de Governo:
23.11.1891 a 15.11.1894
Assumiu com a renúncia do titular e governou até o final do mandato.
Governo Constitucional - Eleito por voto popular

3 Prudente José de Morais e Barros


Período de Governo:
15.11.1894 a 15.11.1898
Vice-Presidente:
Manuel Vitorino Pereira

4 Manuel Ferraz de Campos Salles


Período de Governo:
15.11.1898 a 15.11.1902
Vice-Presidente:
Francisco de Assis Rosa e Silva

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5 Francisco de Paula Rodrigues Alves
Período de Governo:
15.11.1902 a 15.11.1906
Vice-Presidente:
Afonso Augusto Moreira Pena

6 Affonso Augusto Moreira Penna


Período de Governo:
15.11.1906 a 14.06.1909
Vice-Presidente:
Nilo Procópio Peçanha
Observação: Faleceu em 14.06.1909, sendo substituído pelo vice-presidente.

7 Nilo Procópio Peçanha


Período de Governo:
14.06.1909 a 15.11.1910

8 Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca


Período de Governo:
15.11.1910 a 15.11.1914
Vice-Presidente:
Wenceslau Braz Pereira Gomes

9 Wenceslau Braz Pereira Gomes


Período de Governo:
15.11.1914 a 15.11.1918
Vice-Presidente:
Urbano Santos da Costa Araújo

10 Delfim Moreira da Costa Ribeiro


Período de Governo:
15.11.1918 a 28.07.1919
Observação: Vice-presidente de Rodrigues Alves, que adoeceu e morreu antes da posse. Moreira
exerceu a Presidência até 28.07.1919 quando foi feita nova eleição.

11 Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa


Período de Governo:
28.07.1919 a 15.11.1922
Vice-Presidente:
Francisco Álvaro Bueno de Paiva

12 Arthur da Silva Bernardes


Período de Governo:
15.11.1922 a 15.11.1926
Vice-Presidente:
Estácio de Albuquerque Coimbra

13 Washington Luís Pereira de Sousa


Período de Governo:
15.11.1926 a 24.10.1930
Vice-Presidente:
Fernando de Mello Vianna

A Revolução Federalista
Desde o período imperial, o Rio Grande do Sul fora palco de protestos e indignações com o governo,
como pode ser observado na Revolução Farroupilha, que durou de 1835 até 1845. Com a Proclamação
da República, a política no Estado manteve-se instável, com diversas trocas no cargo de presidente

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estadual. Conforme aponta Fausto, entre 1889 e 1893, dezessete governos se sucederam no comando
do Estado22, até que Júlio de Castilhos assumiu o poder no Estado.
Dois grupos disputavam o controle do Rio Grande do Sul: o Partido Republicano Rio-grandense
(PRR) e o Partido Federalista (PF).
O Partido Republicano era composto por políticos defensores do positivismo, apoiadores de Júlio de
Castilhos e de Floriano Peixoto. Sua base política era composta principalmente de imigrantes e habitantes
do litoral e da Serra do Rio Grande do Sul, formando uma elite política recente. Durante o conflito foram
conhecidos como Pica-paus
O Partido Federalista defendia um sistema de governo parlamentarista e a revogação da constituição
do Estado, de caráter positivista. Foi fundado em 1892 e tinha como líder o político Silveira Martins,
conhecida figura política do Partido Liberal durante o império. A base de apoio do Partido Federalista era
composta principalmente de estancieiros de campanha, que dominaram a cena política durante o império.
Durante o conflito ganharam o apelido de Maragatos.
O conflito teve início em fevereiro de 1893, quando os federalistas, descontentes com a imposição do
governo de Júlio de Castilhos, pegaram em armas para derrubar o presidente estadual. Desde o início da
revolta, Floriano Peixoto, então presidente do Brasil, colocou-se do lado dos republicanos. Os opositores
de Floriano em todo o país passaram a apoiar os federalistas.
No final de 1893 os federalistas ganharam o apoio da Revolta Armada que teve início no Rio de
Janeiro, causada pelas rivalidades entre o exército e a marinha e o descontentamento do almirante
Custódio José de Melo, frustrado em sua intenção de suceder Floriano Peixoto na presidência. Parte da
esquadra naval comandada pelo almirante deslocou-se para o Sul, ocupando a cidade de Desterro (atual
Florianópolis), em Santa Catarina, e a partir daí ocupando parte do Paraná e a capital Curitiba. O
prolongamento do conflito, com grandes custos aos revoltosos, levou à decisão de recuar e manter-se no
Rio Grande do Sul. A revolta teve fim somente em agosto de 1895, quando os combatentes maragatos
depuseram as armas e assinaram um acordo de paz com o presidente da república, garantindo a anistia
para os participantes do conflito. Apesar de curta, a Revolução Federalista teve um saldo de mais de
10.000 mortos, a maior parte deles de prisioneiros capturados em conflitos e mortos posteriormente, o
que garantiu o apelido de “revolução da degola”.

Características da Primeira Republica


O período que vai de 1889, data da Proclamação da República, até 1930, quando Getúlio Vargas
assumiu o poder, é conhecido como Primeira República. O período é marcado pela dominação de poucos
grupos políticos, conhecidos como oligarquias, pela alternância de poder entre os estados de São Paulo
e Minas Gerais (política do café-com-leite), e pelo poder local exercido pelos Coronéis.
Com a saída dos militares do governo em 1894, teve início o período chamado República das
Oligarquias. A palavra Oligarquia vem do grego oligarkhía, que significa “governo de poucos”. Os grupos
dominantes, em geral ligados ao café e ao gado, impunham sua vontade sobre o governo, seja pela via
legal, seja através de fraudes nas votações e criação de leis específicas para beneficiar o grupo
dominante.

O Coronelismo
Durante o período regencial, espaço entre a abdicação de D. Pedro I e a coroação de D. Pedro II,
diversas revoltas e tentativas de separação e instalação de uma república aconteceram no Brasil. Sem
condições de controlar todas as revoltas, o governo regencial, pela sugestão de Diogo Feijó, criou a
Guarda Nacional, com o propósito de defender a constituição, a integridade, a liberdade e a
independência do Império Brasileiro. Sua criação desorganiza o Exército, e começa a se constituir no país
uma força armada vinculada diretamente à aristocracia rural, com organização descentralizada, composta
por membros da elite agrária e seus agregados. Para compor os quadros da Guarda nacional era
necessário possuir amplos direitos políticos, ou seja, pelas determinações constitucionais, poderiam fazer
parte dela apenas aqueles que dispusessem de altos ganhos anuais.
Com a criação da Guarda e suas exigências para participação, surgiram os coronéis, que eram
grandes proprietários rurais que compravam suas patentes militares do Estado. Na prática, eles foram
responsáveis pela organização de milícias locais, responsáveis por manter a ordem pública e proteger os
interesses privados daqueles que as comandavam. O coronelismo esteve profundamente enraizado no
cenário político brasileiro do século XIX e início do século XX.
Após o fim da República da Espada, os grupos ligados ao setor agrário ganharam força na política
nacional, gerando uma maior relevância para os coronéis no controle dos interesses e na manutenção da
22 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. Página 255.

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ordem social. Como comandantes de forças policiais locais, os coronéis configuravam-se como uma
autoridade quase inquestionável nas áreas rurais.
A autoridade do coronel, além de usada para manter a ordem social, era exercida principalmente
durante as eleições, para garantir que o candidato ou grupo político que ele representasse saísse
vencedor. A oposição ao comando do coronel poderia resultar em violência física, ameaças e
perseguições, o que fazia com que muitos votassem a contragosto, para evitar as consequências de
discordar da autoridade local, gerando uma prática conhecida como Voto de Cabresto.

A charge do gaúcho Alfredo Storni feita em 1927 critica uma prática bastante utilizada durante a
República Velha, conhecida como voto de cabresto. Na imagem, a mulher, identificada como soberania,
pergunta ao político se o eleitor, caracterizado como burro de carga e preso a um cabresto, trata-se do
“Zé Besta”, ao passo em que o político que o conduz responde que na verdade é o “Zé Burro”.
Na república velha, o sistema eleitoral era muito frágil e fácil de ser manipulado. Os coronéis
compravam votos para seus candidatos ou trocavam votos por bens materiais. Como o voto era aberto,
os coronéis mandavam os capangas para os locais de votação, com o objetivo de intimidar os eleitores e
ganhar os votos. As regiões controladas politicamente pelos coronéis eram conhecidas como currais
eleitorais.
Os coronéis costumavam alterar votos, sumir com urnas e até mesmo patrocinavam a prática do voto
fantasma. Este último consistia na falsificação de documentos para que pessoas pudessem votar várias
vezes ou até mesmo utilizar o nome de falecidos nas votações.
Dessa forma, a vontade política do coronel era atendida, garantindo que seus candidatos fossem
eleitos em nível municipal e também estadual, e garantindo também participação na esfera federal.

Prudente de Morais
Floriano tentou garantir que seu sucessor fosse um aliado político, porém as poucas bases de apoio
de que dispunha não lhe foram suficientes para concretizar o desejo. No dia 1 de março de 1894 foi eleito
o paulista Prudente de Morais, encerrando o governo de membros do exército, que só voltariam ao poder
em 1910, com a eleição do marechal Hermes da Fonseca.
Prudente buscou desvincular o exército do governo, substituindo os cargos que eram ocupados por
militares por civis, principalmente representantes da cafeicultura, promovendo uma descentralização do
poder.
A oposição ao governo cresceu, principalmente por parte dos jacobinos, formados por membros da
baixa classe média, operários e militares de baixa patente. Suas principais bandeiras eram a de uma
república forte, em oposição às tendências liberais, antimonarquistas e antilusitanas.

Campos Salles
Em 1898 o paulista Manuel Ferraz de Campos Salles assumiu a presidência no lugar de Prudente de
Morais. Antes mesmo de assumir o governo, Campos Salles renegociou a dívida brasileira, que vinha se
arrastando desde os tempos do império. Para resolver a situação, ele se reuniu com os credores e
estabeleceu um acordo chamado Funding-Loan. Este acordo consistia no seguinte: o Brasil fazia
empréstimos e atrasava o pagamento da dívida, fazendo concessões aos banqueiros nacionais. Como
consequência a indústria e o comércio foram afetados e as camadas pobres e a classe média também
foram prejudicadas.
A transição de governos consolidou o poder das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais no poder. O
único entrave para um governo harmônico eram as disputas políticas entre as oligarquias locais nos
Estados. O governo federal acabava intervindo nas disputas, porém, a incerteza de uma colaboração
duradoura entre os Estados e a União ainda permanecia. Outro fator que não permitia uma plena
consolidação política era a vontade do executivo em impor-se ao legislativo, mesmo com a afirmação na
Constituição de que os três poderes eram harmônicos e independentes e si.

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A junção desses fatores levou Campos Salles a criar um arranjo político capaz de garantir a
estabilidade e controlar o legislativo, que ficou conhecido como Política dos Governadores.
Basicamente, a política dos governadores apoiava-se em uma ideia simples: o presidente apoiava as
oligarquias estaduais mais fortes, e em troca, essas oligarquias apoiavam e votavam nos candidatos
indicados pelo presidente.
Na Câmara dos Deputados, uma mudança simples garantiu o domínio. Conhecida como Comissão
de Verificação de poderes, essa ferramenta permitia decidir quais políticos deveriam integrar a Câmara
e quais deveriam ser “degolados”, que na gíria política da época significava ser excluído.
Quando ocorriam eleições para a Câmara, os vencedores em cada estado recebiam um diploma. Na
falta de um sistema de justiça eleitoral, ficava a cargo da comissão determinar a validade do diploma. A
comissão era escolhida pelo presidente temporário da nova Câmara eleita, o que até antes da reforma
de Campos Salles significava o mais velho parlamentar eleito. Com a reforma, o presidente da nova
Câmara deveria ser o presidente do mandato anterior, desde que reeleito. Dessa forma, o novo presidente
da Câmara seria sempre alguém ligado ao governo, e caso algum deputado oposicionista ou que
desagradasse o governo fosse eleito, ficava mais fácil remove-lo do poder.

Convênio de Taubaté
Desde o período imperial O café figurava como principal produto de exportação brasileiro,
principalmente após a segunda década do século XIX. Consumido em larga escala na Europa e nos
Estados Unidos, o cultivo da planta espalhou-se pelo vale do Paraíba fluminense e paulista. Continuando
sua marcha ascendente, houve expansão dos cafeeiros na província de Minas Gerais (Zona da Mata e
sul do estado), ao mesmo tempo em que a produção se consolidava no interior de São Paulo,
principalmente no “Oeste Paulista”.
As condições climáticas favoráveis, o desenvolvimento de novas técnicas de cultivo e a facilidade no
transporte para o porto de Santos após a instalação das primeiras ferrovias provocaram uma crise de
superprodução no início da década de 1890. A grande oferta causada pela produção em excesso levou
a uma queda do preço, visto que havia mais produto no mercado e menos pessoas interessadas em
adquiri-lo.
O convênio de Taubaté foi um acordo firmado em 1906, último ano do mandato de Rodrigues Alves
(1902-1906), entre os presidentes dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, na cidade
de Taubaté (SP), com o objetivo de pôr em prática um plano de valorização do café, garantindo o preço
do produto por meio da compra, pelo governo federal, do excedente da produção. O acordo foi firmado
mesmo contra a vontade do presidente, e foi efetivamente aplicada por seu sucessor, Afonso Pena.

O Tratado de Petrópolis e a Borracha


O espaço físico que constitui o Estado do Acre, era, até o início do século XX, considerado uma zona
não descoberta, um território contestado pelos governos boliviano e brasileiro.
A Hevea Bralisiensis (nome Científico da seringueira) já era conhecida e utilizada pelas civilizações da
América Pré-Colombiana, como forma de pagamento de tributos ao monarca reinante e para cerimônias
religiosas. Na Amazônia, os índios Omáguas e Cambebas utilizavam o látex para fazer bolas e outros
utensílios para o seu dia a dia. Coube a Charles Marie de La Condamine e François Fresneau chamar a
atenção dos cientistas e industriais para as potencialidades contidas na borracha. Dela, podiam ser feitas,
borrachas de apagar, bolas, sapatos, luvas cirúrgicas, entre outros produtos.
Em 1839, Charles Goodyear descobriu o processo de Vulcanização, que consistia em misturar enxofre
com borracha a uma temperatura elevada (140ºC /150ºC) durante certo número de horas. Com esse
processo, as propriedades da borracha não se alteravam pelo frio, calor, solventes comuns ou óleos.
Apesar do surto econômico e da procura do produto, favorável para a Amazônia brasileira, havia um
sério problema para a extração do látex: a falta de mão-de-obra, que foi solucionada com a chegada à
região de nordestinos (Arigós) que vieram fugindo da seca de 1877. Prisioneiros, exilados políticos e
trabalhadores nordestinos misturavam-se nos seringais do Acre, fundavam povoações, avançavam e se
estabeleciam em pleno território boliviano.
A exploração brasileira na região incomodava o governo boliviano, que resolveu tomar posse definitiva
do Acre. Fundou a vila de Puerto Alonso, em 03 de janeiro de 1889, e foram instalados postos da
alfândega para arrecadar tributos originados da comercialização de borracha silvestre. Essa atitude
causou revolta entre os quase sessenta mil brasileiros que trabalhavam nos seringais acreanos.
Liderados pelo seringalista José Carvalho, do Amazonas, os seringueiros rebelaram-se e expulsaram as
autoridades bolivianas, em 03 de maio de 1889.
Após o episódio, um espanhol chamado Luiz Galvez Rodrigues de Aurias liderou outra rebelião, de
maior alcance político, proclamando a independência e instalando o que ele chamou de República do

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Acre, no local conhecido como Seringal Volta da Empresa, em 14 de julho de 1889. Galvez, o “Imperador
do Acre “, como auto proclamava-se, contava com o apoio político do governador do Amazonas, Ramalho
Junior. Entretanto, a República do Acre durou apenas oito meses. O governo brasileiro, signatário do
Tratado de Ayacucho, de 23 de março de 1867, reconheceu o direito de posse da Bolívia, prendeu Luiz
Galvez Rodrigues de Aurias e devolveu o Acre ao governo boliviano.
Mesmo com a devolução do Acre aos bolivianos, a situação continuava insustentável. O clima de
animosidade persistia e aumentava a cada dia. Em 11 de julho de 1901, o governo boliviano decidiu
arrendar o Acre a um grupo de empresários americanos, ingleses e alemães, formado pelas empresas
Conway and Withridge, United States Rubber Company, e Export Lumber. Esse consórcio constituiu o
Bolivian Syndicate que recebeu da Bolívia autorização para colonizar a região, explorar o látex e formar
sua própria milícia, com direito de utilizar a força para atender seus interesses. Os seringueiros brasileiros,
a maior parte formada por nordestinos, não aceitaram a situação. Estimulados por grandes seringalistas
e apoiados pelos governadores do Amazonas e do Pará, deram início, no dia 06 de agosto de 1902, a
uma rebelião armada: a Revolta do Acre. Os seringalistas entregaram a chefia do movimento rebelde ao
gaúcho José Plácido de Castro, ex-major do Exército, rebaixado a cabo por participar da Revolução
Federalista do Rio Grande do Sul, ao lado dos Maragatos.
A Revolta por ele liderada, financiada por seringalistas e por dois governadores de Estado, fortalecia-
se a cada dia, na medida em que recebia armamentos, munições, alimentos, além de apoio político e
popular. Em todo o país ocorreram manifestações em favor da anexação do Acre ao Brasil. A imprensa
do Rio de Janeiro e de São Paulo exigia do governo brasileiro imediata providências em defesa dos
acreanos. Por seu lado, o governo brasileiro procurava solucionar o impasse pela via diplomática, tendo
à frente das negociações o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco. Mas,
todas as tentativas eram inócuas e os combates entre brasileiros e bolivianos tornavam-se mais
frequentes e acirrados. Em meio aos conflitos, o presidente da Bolívia, general José Manuel Pando,
organizou sob seu comando uma poderosa expedição militar para combater os brasileiros do Acre. O
presidente do Brasil, Rodrigues Alves, ordenou que tropas do Exército e da Armada Naval, acantonadas
no Estado de Mato Grosso, avançassem para a região em defesa dos seringueiros acreanos. O
enfrentamento de tropas regulares do Brasil e da Bolívia gerou a Guerra do Acre.
As tropas brasileiras, formadas por dois regimentos de infantaria, um de artilharia e uma divisão naval,
ajudaram Plácido de Castro a derrotar o último reduto boliviano no Acre, Puerto Alonso, hoje Porto Acre.
Em consequência, no dia 17 de novembro de 1903, na cidade de Petrópolis, a repúblicas do Brasil e da
Bolívia firmaram o Tratado de Petrópolis, através do qual o Brasil ficou de posse do Acre, assumindo o
compromisso de pagar uma indenização de dois milhões de libras esterlinas ao governo boliviano e mais
114 mil ao Bolivian Syndicate.
O tratado de Petrópolis, aprovado pelo Congresso brasileiro em 12 de abril de 1904, também obrigou
o Brasil a realizar o antigo projeto do governo boliviano de construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré.
A Bolívia, aproveitando-se do momento político, colocou na pauta de negociações seu ambicionado
projeto. Em contrapartida, reconheceu a prioridade de chegada dos primeiros brasileiros à região e
renunciou a todos os direitos sobre as terras do Acre.
O Tratado de Petrópolis proporcionou o surgimento do Território Federal do Acre em 1903. Com o
crescimento da produção de látex, a região acreana produziu 47 mil toneladas de borracha silvestre,
somente em 1910, o que representou cerca de sessenta por cento de toda a produção amazônica.
Em 1876, Henry Alexander Wyckham contrabandeou sementes de seringueiras da região situada entre
os rios Tapajós e Madeira e as mandou para o Museu Botânico de Kew, na Inglaterra. Muitas das
sementes brotaram nos viveiros e poucas semanas depois, as mudas foram transportadas para o Ceilão
e Malásia. Na região asiática as sementes foram plantadas de forma racional e passaram a contar com
um grande número de mão-de-obra, o que possibilitou uma produção expressiva, já no ano de 1900.
Gradativamente, a produção asiática foi superando a produção amazônica e, em 1912 há sinais de crise,
culminando em 1914, com a decadência deste ciclo na Amazônia brasileira.
Para a economia nacional, a borracha teve suma importância nas exportações, visto que em 1910, o
produto representou 40 % das exportações brasileiras. Para a Amazônia, o primeiro Ciclo da Borracha foi
importante pela colonização de nordestinos na região e a urbanização das duas grandes cidades
amazônicas: Belém do Pará e Manaus. Durante o seu apogeu, a produção de borracha foi responsável
por aproximadamente 1/3 do PIB do Brasil. Isso gerou muita riqueza na região amazônica e trouxe
tecnologias que outras cidades do sul e sudeste do Brasil ainda não possuíam, tais como bondes elétricos
e avenidas construídas sobre pântanos aterrados, além de edifícios imponentes e luxuosos, como o
Teatro Amazonas, o Palácio do Governo, o Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, no caso de
Manaus, e o Mercado de São Brás, Mercado Francisco Bolonha, Teatro da Paz, Palácio Antônio Lemos,
corredores de mangueiras e diversos palacetes residenciais no caso de Belém.

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Industrialização e Greves no Brasil Republicano
Ao ser proclamada a República, em 1889, existiam no Brasil 626 estabelecimentos industriais, sendo
60% do ramo têxtil e 15% do ramo de produtos alimentícios. Em 1914, o número já era de 7 430 indústrias,
com 153 000 operários.
Após o incentivo para abertura de novas industrias decorrentes do período de 1914 a 1918, em que a
Europa esteve em guerra, diversas empresas produtoras principalmente de matéria-prima. Em 1920, o
número havia subido para 13 336, com 275 000 operários. Até 1930, foram fundados mais 4 687
estabelecimentos industriais. Por outro lado, já em 1907, o total de capital aplicado na indústria de
produtos alimentícios tinha superado o total aplica do no ramo têxtil. Nesse período, deve-se considerar
que a indústria brasileira reunia um grande número de pequenas oficinas, semiartesanais, que fabricavam
bens de consumo simples para suprimento local. Em 1920, apenas 482 estabelecimentos tinham mais de
100 operários.
Há que se levar em conta que a industrialização se concentrou no eixo Rio-São Paulo e,
secundariamente, no Rio Grande do Sul. O empresariado industrial era oriundo do café, do setor
importador e da elite dos imigrantes.
Durante o período republicano fica evidente o descaso das autoridades governamentais com os
trabalhadores. O país passava por um momento de industrialização e os trabalhadores começam a se
organizar.
Em sua maioria imigrantes europeus que possuíam uma forte influência dos ideais anarquistas e
comunistas, os primeiros trabalhadores das fabricas brasileiras possuíam um discurso inflamado,
convocando os colegas a se unirem em associações que resultariam posteriormente na fundação dos
primeiros sindicatos de trabalhadores. O número de trabalhadores crescia constantemente,
acompanhando o número de indústrias. Para se ter uma ideia do crescimento industrial no Brasil, no ano
de 1899 o País contava com aproximadamente 900 fábricas e 54 mil trabalhadores. Quinze anos depois,
em 1914 haviam mais de 7 mil fabricas e mais de 150 mil operários. A maior parte das industrias do país
estava concentrado na região Sudeste, em São Paulo e Rio de Janeiro.
Os líderes dos movimentos operários buscavam melhores condições de trabalho para seus colegas
como redução de jornada de trabalho e segurança no trabalho. Lutavam contra a manutenção da
propriedade privada e do chamado “Estado Burguês”.
Ocorreram entre 1903 e 1906 greves de pouca expressão pelo país, através de movimentos de
Tecelões, alfaiates, portuários, mineradores, carpinteiros e ferroviários. Em contrapartida, o governo
brasileiro criou leis para impedir o avanço dos movimentos, como uma lei expulsando os estrangeiros que
fossem considerados uma ameaça à ordem e segurança nacional.
A greve mais significativa do período ocorreu em 1917, a Greve Geral em São Paulo, que contou com
os trabalhadores dos setores alimentício, gráfico, têxtil e ferroviário como mais atuantes. O governo, para
reprimir o movimento utilizou inclusive forças do Exército e da Marinha.
A repressão cada vez mais dura do governo, através de leis, decretos e uso de violência acabou
sufocando os movimentos grevistas, que acabaram servindo de base para a criação no ano de 1922,
inspirado pelo Partido Bolchevique Russo, do PCB, Partido Comunista Brasileiro. Os sindicatos também
começam a se organizar no período.

Revoltas no Brasil Republicano

Guerra de Canudos
A revolta em Canudos deve ser entendida como um movimento messiânico, ou seja, a aglomeração
em torno de uma figura religiosa capaz de reunir fiéis e trazer a esperança de uma vida melhor através
de pregações. O termo messias vem de mashiah, palavra hebraica traduzida para o grego como
“salvador”.
Canudos formou-se através da liderança de Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido também por
Antônio Conselheiro, um beato que, andando pelo sertão, pregava a salvação por meio do abandono
material, exigindo que seus fiéis o seguissem pelo sertão nordestino.
Perseguido pela Igreja, e com um número significativo de fiéis, Antônio Conselheiro estabeleceu-se no
sertão baiano, à margem do Rio Vaza-Barris, formando o Arraial de Canudos. Ali fundou a cidade santa,
à qual dera o nome de Belo Monte, administrada pelo beato, que contava com vários subchefes, cada
qual responsável por um setor (comandante da rua, encarregado da segurança e da guerra, escrivão de
casamentos, entre outros).
A razão para o crescimento do arraial em torno da figura de Antônio Conselheiro pode ser explicada
pela pobrezasendo
republicano, dos habitantes
o beato um do sertão
aberto nordestino,
defensor aliada
da volta à fome e a insatisfação com o governo
da monarquia.

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A comunidade de Canudos, assim, sobrevivia e prosperava, mantendo-se por via das trocas com as
comunidades vizinhas.
Devido a um incidente entre os moradores do arraial e o governo da Bahia, uma questão mal resolvida
em relação ao corte de madeira na região, o governo estadual resolver repreender os habitantes,
enviando uma tropa ao local. Apesar das poucas condições materiais dos moradores, a tropa baiana foi
derrotada, o que levou o presidente da Bahia a apelar para as tropas federais.
Canudos manteve-se firme diante das ameaças, derrotando duas expedições de tropas federais
municiadas de canhões e metralhadoras, uma delas comandada pelo Coronel Antônio Moreira César,
também conhecido como "corta-cabeças" pela fama de ter mandado executar mais de cem pessoas na
repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina. A incapacidade do governo federal em conter os
revoltosos, com derrotas vergonhosas, gerou diversas revoltas no Rio de Janeiro.
Com a intenção de resolver de vez o problema, foi organizada a 4ª expedição militar ao vilarejo, com
8000 soldados sob o comando do general Artur de Andrade Guimarães. Dotada de armamento moderno,
a expedição levou um mês e meio para vencer os sertanejos, finalmente arrasando o arraial em agosto
de 1897, quando os últimos defensores do vilarejo foram capturados e degolados. Canudos foi incendiada
para evitar que novos moradores se estabelecessem no local. Nos jornais e também no pensamento do
governo federal, a vitória sobre Canudos foi uma vitória “da civilização sobre a barbárie”.
Os combates ocorridos em Canudos foram contados pelo Jornalista Euclides da Cunha, em seu livro
Os Sertões. O livro busca trazer um relato do ocorrido, através do ponto de vista do autor, que possuía
uma visão de “raça superior”, comum do pensamento cientifico da época. De acordo com esse
pensamento, o mestiço brasileiro seria uma raça de características inferiores, que estava destinada ao
desaparecimento por conta do avanço da civilização.
Não só Euclides da Cunha pensava da mesma forma. O pensamento racial baseado em teorias
cientificas foi comum no Brasil da virada do século XX.

A Guerra do Contestado
Na virada do século XX uma grande parte da população que vivia no interior do estado era composta
por sertanejos, pessoas de origem humilde, que viviam na fronteira com o Paraná. A região foi palco de
um intenso conflito por posse de terras, ocorrido entre 1912 e 1916, que ficou conhecido como Guerra
do Contestado.
O conflito teve início com a implantação de uma estrada de ferro que ligaria o Rio Grande do Sul a São
Paulo, além de uma madeireira, em 1912, de propriedade do empresário Norte-Americano Percival
Farquhar.
A Brazil Railway ficou responsável pela construção da estrada de ferro que ligaria os dois pontos.
Como forma de remuneração por seus serviços, o governo cedeu à companhia uma extensa faixa de
terra ao longo dos trilhos, aproximadamente 15 quilômetros de cada margem do caminho.
As terras doadas pelo governo foram entregues à empresa na categoria de terras devolutas, ou seja,
terras não ocupadas pertencentes à união. O ato desconsiderou a presença de milhares de pessoas que
habitavam a região, porém não possuíam registros de posse sobre a terra.
Apesar do contrato firmado, de que as terras entregues à companhia pudessem ser habitados somente
por estrangeiros, o principal interesse do empresário era a exploração da madeira que se encontrava na
região, em especial araucárias e imbuias, com alto valor de mercado. Não tardou para a criação da
Southern Brazil Lumber and Colonization Company, responsável por explorar a extração da madeira e
que posteriormente tornou-se a maior empresa do gênero na América do Sul.
A derrubada da floresta implicava necessariamente em remover os antigos moradores regionais,
gerando conflitos imediatos. Os sertanejos encontraram na figura de monges que vagavam pelo sertão
pregando a palavra de Deus a inspiração e a liderança para lutar contra o governo e as empresas
estrangeiras. O primeiro Monge que criou pontos de resistência ficou conhecido como José Maria.
Adorado pela população local, o monge era visto pelos sertanejos como um salvador dos pobres e
oprimidos, e pelo governo como um empecilho para os trabalhos de construção da estrada de ferro.
O governo e as empresas investiram fortemente na tentativa de expulsão dos sertanejos, e em 1912
próximo ao vilarejo de Irani ocorre uma intensa batalha entre governo e população, causando a morte do
Monge. A morte do líder causou mais revolta nos sertanejos, que intensificaram a resistência, unindo sua
crença em outras figuras que despontavam como lideranças, como Maria Rosa, uma jovem de quinze
anos de idade, que foi considerada por historiadores como Joana D'Arc do sertão, já que "combatia
montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos
e no fuzil". A jovem afirmava receber ordens espirituais de batalha do Monge Assassinado.
O conflito
contenção dosfoirevoltosos,
tomado como prioridade
como pelo governo
fuzis, canhões, federal, eque
metralhadoras investiu
aviões. grandeacaba
O conflito potencial bélicocom
em 1916 na

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a captura dos últimos lideres revoltosos. Assim como em canudos, a Revolta do Contestado foi marcada
por um forte caráter messiânico.

A Revolta da Vacina
A origem dessa revolta ocorrida no Rio de Janeiro deve ser procurada na questão social gerada pelas
desigualdades sociais e agravada pela reurbanização do Distrito Federal pelo prefeito Pereira Passos.
Além disso, o grande destaque do período foi a Campanha de Saneamento no Rio de Janeiro, dirigida
por Oswaldo Cruz. Decretando-se a vacinação obrigatória contra a varíola, ocorreu o descontentamento
popular. Disso se aproveitaram os militares e políticos adversários de Rodrigues Alves.
Assim, irrompeu a Revolta da Vacina (novembro de 1904), sob a liderança do senador Lauro Sodré.
O levante foi rapidamente dominado, fortalecendo a posição do presidente.

Revolta da Chibata
A Revolta da Chibata ocorreu em 22 de novembro de 1910 no Rio de Janeiro. Entre outros, foi motivada
pelos castigos físicos que os marinheiros brasileiros recebiam. As faltas graves eram punidas com 25
chibatadas (chicotadas). Esta situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros.
O estopim da revolta se deu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250
chibatadas, por ter ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas Gerais. O navio de guerra
estava indo para o Rio de Janeiro e a punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros,
desencadeou a revolta.
O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o comandante do navio e mais três oficiais. Já
na Baia da Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos marinheiros do encouraçado São Paulo.
O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o
fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso
não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de
Janeiro (então capital do Brasil).

Segunda revolta
Diante da grave situação, o presidente Hermes da Fonseca resolveu aceitar o ultimato dos revoltosos.
Porém, após os marinheiros terem entregues as armas e embarcações, o presidente solicitou a expulsão
de alguns revoltosos. A insatisfação retornou e, no começo de dezembro, os marinheiros fizeram outra
revolta na Ilha das Cobras. Esta segunda revolta foi fortemente reprimida pelo governo, sendo que vários
marinheiros foram presos em celas subterrâneas da Fortaleza da Ilha das Cobras. Neste local, onde as
condições de vida eram desumanas, alguns prisioneiros faleceram. Outros revoltosos presos foram
enviados para a Amazônia, onde deveriam prestar trabalhos forçados na produção de borracha.
O líder da revolta João Cândido foi expulso da Marinha e internado como louco no Hospital de
Alienados. No ano de 1912, foi absolvido das acusações junto com outros marinheiros que participaram
da revolta.
Conclusão: podemos considerar a Revolta da Chibata como mais uma manifestação de insatisfação
ocorrida no início da República. Embora pretendessem implantar um sistema político-econômico moderno
no país, os republicanos trataram os problemas sociais como “casos de polícia”. Não havia negociação
ou busca de soluções com entendimento. O governo quase sempre usou a força das armas para colocar
fim às revoltas, greves e outras manifestações populares.

O Cangaço no Nordeste
Entre o final do século XIX e começo do XX (início da República), ganharam força, no nordeste
brasileiro, grupos de homens armados, conhecidos como cangaceiros. Estes grupos apareceram em
função, principalmente, das péssimas condições sociais da região nordestina. O latifúndio, que
concentrava terra e renda nas mãos dos fazendeiros, deixava as margens da sociedade a maioria da
população.
Existiram três tipos de cangaço na história do sertão:
O defensivo, de ação esporádica na guarda de propriedades rurais, em virtude de ameaças de índios,
disputa de terras e rixas de famílias;
O político, expressão do poder dos grandes fazendeiros;
O independente, com características de banditismo.

No primeiro caso, após realizarem sua missão de caçar índios no sertão do Cariri e em outras regiões,
a soldo dosAs
lavradores. fazendeiros,
rixas entre os cangaceiros
famílias se dissolviam
e as vinganças e voltavam
pessoais a trabalhar
mobilizavam como vaqueiros
constantemente os bandosou

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armados. Parentes, agregados e moradores ligados ao chefe do clã por parentesco, compadrio ou
reciprocidade de serviços compunham os exércitos particulares.
O cangaço político resultou, muitas vezes, das rivalidades entre as oligarquias locais, e se
institucionalizou como instrumento dessas oligarquias, empenhadas na disputa para consolidar seu
poder.
No final do século XIX surgiram bandos independentes que não se subordinavam a nenhum chefe
local, tendo sua origem no problema do monopólio da terra. Esse tipo de cangaço já existira no passado,
em função das secas, mas não conseguira perdurar, eliminado pelos potentados locais, assim que se
restabeleciam as condições normais de vida.
O Cangaço pode ser entendido como um fenômeno social, caracterizado por atitudes violentas por
parte dos cangaceiros, que andavam em bandos armados e espalhavam o medo pelo sertão nordestino.
Promoviam saques a fazendas, atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para obtenção
de resgates. A população que respeitava e acatava as ordens dos cangaceiros era muitas vezes
beneficiada por suas atitudes. Essa característica fez com que os cangaceiros fossem respeitados e até
mesmo admirados por parte da população da época.
Os cangaceiros não moravam em locais fixos. Possuíam uma vida nômade, ou seja, viviam em
movimento, indo de uma cidade para outra. Ao chegarem nas cidades pediam recursos e ajuda aos
moradores locais. Aos que se recusavam a ajudar o bando, sobrava a violência.
Como não seguiam as leis estabelecidas pelo governo, eram perseguidos constantemente pelos
policiais. Usavam roupas e chapéus de couro para protegerem os corpos, durante as fugas, da vegetação
cheia de espinhos da caatinga. Além desse recurso da vestimenta, usavam todos os conhecimentos que
possuíam sobre o território nordestino (fontes de água, ervas, tipos de solo e vegetação) para fugirem ou
obterem esconderijos.
Existiram diversos bandos de cangaceiros. Porém, o mais conhecido e temido da época foio bando
comandado por Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), também conhecido pelo apelido de “Rei do
Cangaço”. O bando de Lampião atuou pelo sertão nordestino durante as décadas de 1920 e 1930.
De 1921 a 1934, Lampião dividiu seu bando em vários subgrupos, dentre os quais os chefiados por
Corisco, Moita Brava, Português, Moreno, Labareda, Baiano, José Sereno e Mariano. Entre seus bandos,
Lampião sempre teve grande apreço pelo bando de Corisco, conhecido como “Diabo Loiro” e também
grande amigo de Virgulino.
Lampião morreu numa emboscada armada por uma volante, junto com a mulher Maria Bonita e outros
cangaceiros, em 29 de julho de 1938. Tiveram suas cabeças decepadas e expostas em locais públicos,
pois o governo queria assustar e desestimular esta prática na região.
A morte de lampião atingiu o movimento do Cangaço como um todo, enfraquecendo e dividindo os
grupos restantes. Corisco foi morto em uma emboscada no ano de 1940, encerrando de vez o cangaço
no Nordeste.

A Semana de Arte Moderna de 1922


O ano de 1922 representou um marco na arte e na cultura brasileira, com a realização da Semana de
Arte Moderna, de 11 a 18 de fevereiro. A exposição marcava uma tentativa de introduzir elementos
brasileiros nos campo da arte e da cultura, vistas como dominadas pela influência estrangeira,
principalmente de elementos europeus, trazidos tanto pela elite econômica quanto por trabalhadores
imigrantes, principalmente italianos que trabalhavam na indústria paulista.
Na virada do século XX, São Paulo despontava como segunda maior cidade do país, atrás apenas do
Rio de Janeiro, capital nacional. Apesar de ocupar o segundo lugar em tamanho, a cidade possuía grande
taxa de industrialização, mais até que a capital, principalmente pelos recursos proporcionados pela
produção de café.
O contato proporcionado pelos novos meios de transporte e de comunicação proporcionou o contato
com novas tendências que rompiam com a estrutura das artes predominante desde o renascimento. Entre
elas estavam o futurismo, dadaísmo, cubismo, e surrealismo.
No Brasil, o espírito modernista foi apresentado por autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato,
Lima Barreto e Graça Aranha, que se desligaram de uma literatura de “falsas aparências”, procurando
discutir ou descobrir o “Brasil real”, frequentemente “maquiado” pelo pensamento acadêmico. As novas
tendências apareceram em 1917, em trabalhos: da pintora Anita Malfatti, do escultor Brecheret, do
compositor Vila Lobos e do intelectual Oswaldo de Andrade.
Os modernistas foram buscar inspiração nas imagens da indústria, da máquina, da metrópole, do
burguês e do proletário, do homem da terra e do imigrante.
Entre os
maneira escritores
geral, modernistas,
sua produção o que
literária melhor
reflete reflete o espírito
a sociedade em que da Semana
se forjoué sua
Oswald de Andrade.
formação cultural:De
o

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momento de transição que une o Brasil agrário e patriarcal ao Brasil que caminha para a modernização.
Ao lado de Oswald de Andrade, destaca-se como ponto alto do Modernismo a figura de Mário de
Andrade, principal animador do movimento modernista e seu espírito mais versátil. Cultivou a poesia, o
romance, o conto, a crítica, a pesquisa musical e folclórica.
Depois da sua realização, o prestígio e a produção cultural dos modernistas fez aumentar o debate e,
transbordando para o terreno da política, alimentou um forte sentimento nacionalista e uma preocupação
crescente com as coisas do povo brasileiro. Baseando-se nas preocupações sociais e políticas,
despontaram duas correntes de pensamento. Uma, de esquerda, atrelada ao “Movimento Pau-Brasil”,
tendo como expoente: Oswaldo de Andrade. Outra, de direita, apoiada no “Movimento da Anta” e no
“Verde-Amarelismo” de Plínio Salgado.

Principais artistas Modernistas:

Artes Plásticas

- Anita Malfatti (pintora)


- Di Cavalcanti (pintor)
- Vicente do Rego Monteiro (pintor)
- Inácio da Costa Ferreira (pintor)
- John Graz (pintor)
- Oswaldo Goeldi (pintor)
- Victor Brecheret (escultor)
- Wilhelm Haarberg (escultor)

Literatura

- Mario de Andrade (escritor)


- Oswald de Andrade (escritor)
- Sérgio Milliet (escritor)
- Plínio Salgado (escritor)
- Menotti del Picchia (escritor)
- Ronald de Carvalho (poeta e político)
- Renato de Almeida (escritor)
- Guilherme de Almeida (escritor)

Música

- Heitor Villa-Lobos (músico)


- Guiomar Novais (músico)
- Frutuoso Viana (músico)

Os anos 1920 e a crise política


Após a Primeira Guerra Mundial, a classe média urbana passava cada vez mais a participar da política.
A presença desse grupo tendia a garantir um maior apoio a políticos e figuras públicas apoiados em um
discurso liberal, que defendesse as leis e a constituição, e fossem capazes de transformar a Republica
Oligárquica em Republica Liberal. Entre as reivindicações estavam o estabelecimento do voto secreto, e
a criação de uma Justiça Eleitoral capaz de conter a corrupção nas eleições.
Em 1919, o Rui Barbosa, que já havia sido derrotado em 1910 e 1914, entrou novamente na disputa
como candidato de oposição, enfrentando o candidato Epitácio Pessoa, que concorria como novo
sucessor pelo PRM (Partido Republicano Mineiro).
Epitácio chefiava a delegação brasileira na Conferência de Paz realizada em Versalhes, na França.
Permanecendo ausente do Brasil durante toda a campanha, devido à sua atuação na Conferência de
Paz, Epitácio venceu Rui Barbosa no pleito realizado em abril de 1919 e retornou ao Brasil em julho para
assumir a presidência da República.
Apesar da derrota, o candidato oposicionista conseguiu atingir cerca de um terço dos votos, sem
nenhum apoio da máquina eleitoral, inclusive conquistando a vitória no Distrito Federal.
Mesmo com o acordo de apoio conseguido com a Política dos Governadores, e o controle estabelecido
por São Paulo e Minas Gerais no revezamento de poder, a partir da década de 1920, estados com uma
participação política e econômica considerada mediana resolveram interferir para tentar acabar com a
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hegemonia da política do “Café com Leite”. Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia se
uniram nas eleições presidenciais de 1922, lançando um movimento político de oposição - a Reação
Republicana - que lançou o nome do fluminense Nilo Peçanha contra o candidato oficial, o mineiro Artur
Bernardes.
A chapa oposicionista defendia a maior independência do Poder Legislativo frente ao Executivo, o
fortalecimento das Forças Armadas e alguns direitos sociais do proletariado urbano. Todas essas
propostas eram apresentadas num discurso liberal de defesa da regeneração da República brasileira. O
movimento contou com a adesão de diversos militares descontentes com o presidente Epitácio Pessoa,
que nomeara um civil para a chefia do Ministério da Guerra. A Reação Republicana conseguiu, em uma
estratégia praticamente inédita na história brasileira, desenvolver uma campanha baseada em comícios
populares nos maiores centros do país. O mais importante deles foi o comício na capital federal, quando
Nilo Peçanha foi ovacionado pelas massas.
Em outubro de 1921, os ânimos dos militares foram exaltados com a publicação de cartas no Jornal
Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, assinadas com o nome do candidato Artur Bernardes e endereçadas
ao líder político mineiro Raul Soares. Em seu conteúdo, criticavam a conduta do ex-presidente e Marechal
do Exército, Hermes da Fonseca, por ocasião de um jantar promovido no Clube Militar.
As cartas puseram lenha na fogueira da disputa, deixando os militares extremamente insatisfeitos com
o candidato. Pouco antes da data da eleição dois falsários assumiram a autoria das cartas e comprovaram
tratar-se de uma armação. A conspiração não teve maiores consequências, e as eleições puderam
transcorrer normalmente em março de 1922. Como era de se esperar, a vitória foi de Artur Bernardes. O
problema foi que nem a Reação Republicana nem os militares aceitaram o resultado. Como o governo se
manteve inflexível e não aceitou a proposta da oposição de rever o resultado eleitoral, o confronto se
tornou apenas uma questão de tempo.

O Tenentismo
Após a Primeira Guerra Mundial, vários oficiais jovens de baixa patente, principalmente tenentes (e
daí deriva o nome do movimento tenentista) sentiam-se insatisfeitos. Os soldos permaneciam baixos e o
governo não fazia menção de aumentá-los. Havia um grande número deles, e as promoções eram muito
lentas. Um segundo-tenente podia demorar dez anos para alcançar a patente de capitão.
Sua reinvindicações oficiais foram contra a desorganização e o abandono em que se encontrava o
exército brasileiro. Com o tempo os líderes do movimento chegaram à conclusão de os problemas que
enfrentavam não estavam apenas no exército, mas também na política. Com a intenção de fazer as
mudanças acontecerem, os revoltosos pressionaram o governo, que não se prontificou a atendê-los, o
que gerou movimentos de tentativa de tomada de poder por meio dos militares. Esse programa conquistou
ampla simpatia da opinião pública urbana, mas não houve mobilização popular e nem mesmo
engajamento de dissidências oligárquicas à revolução (com exceção do Rio Grande do Sul), daí o seu
isolamento e o seu fracasso.

Os 18 do Forte
Como citado anteriormente, a vitória de Artur Bernardes em março de 1922 não agradou os setores
oposicionistas. Durante o período em que aguardava para assumir a posse, que acontecia no dia 15 de
novembro, diversos foram os protestos contra o mineiro. Em junho, o governo federal interveio durante a
sucessão estadual em Pernambuco, fato que foi extremamente criticado por Hermes da Fonseca. O
presidente Epitácio Pessoa, que ainda exercia o poder, mandou prender o ex-presidente e ordenou o
fechamento do Clube Militar em 2 de julho.
As ações de Epitácio geraram uma crise que culminou em uma serie de levantes na madrugada de 5
de julho. Na capital federal, levantaram-se o forte de Copacabana, guarnições da Vila Militar, o forte do
Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1° Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do
Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar, comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio
do marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi comandado pelos "tenentes", uma vez que a
maioria da alta oficialidade se recusou a participar do levante.
Os rebeldes localizados no Forte de Copacabana passaram a disparar seus canhões contra diversos
redutos do Exército, forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério da Guerra. As forças
legais revidaram, e o forte sofreu sério bombardeio.
Os revoltosos continuaram sua resistência até a tarde de 6 de julho, quando resolveram abandonar o
Forte e marchar pela Avenida Atlântica, indo de encontro às forças do governo que enfrentavam. Ao grupo
de revoltosos aderiu um civil, Otávio Correia, que até então apenas observava o desenrolar dos fatos.
Em uma troca de tiros com as forças oficiais, morreram quase todos os revoltosos, que ficaram
conhecidos como “Os 18 do Forte de Copacabana”. Apesar do nome atribuído ao grupo, as fontes de

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informação da época não são exatas, com vários jornais divulgando números diferentes. Entre os mortos
em combate estavam os tenentes Mário Carpenter e Newton Prado. Os únicos sobreviventes foram os
tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes, com graves ferimentos.

A Revolta de 1924
Os participantes das Revoltas de 1922 foram julgados e punidos em dezembro de 1923, acusados de
tentar promover um golpe de Estado. Novamente o exército teve suas relações com o governo federal
agravadas, com uma tensão crescente que gerou uma nova revolta militar, novamente na madrugada,
em 5 de julho de 1924 em São Paulo, articulada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, pelo major
Miguel Costa, comandante do Regimento de Cavalaria da Força Pública do estado, e pelo tenente
Joaquim Távora, este último morto durante os combates. Tiveram ainda participação destacada os
tenentes Juarez Távora, Eduardo Gomes, João Cabanas, Filinto Müller e Newton Estillac Leal.
O objetivo do movimento era depor o presidente Artur Bernardes, cujo governo transcorria, desde o
início, sob estado de sítio permanente e sob vigência da censura à imprensa.
Entre as primeiras ações dos revoltosos, ganhou prioridade a ocupação de pontos estratégicos, como
as estações da Luz, da Estrada de Ferro Sorocabana e do Brás, além dos quartéis da Força Pública,
entre outros.
Logo após a ocupação, no dia 8 de julho o presidente de São Paulo, Carlos de Campos, deixou o
palácio dos Campos Elíseos, sede do governo paulista na época. No dia seguinte, os rebeldes instalaram
um governo provisório chefiado pessoalmente pelo general Isidoro. O ato foi respondido com um intenso
bombardeio das tropas legalistas sobre a cidade, principalmente em bairros operários de São Paulo na
região da zona leste. Os bairros da Mooca, Brás, Belém e Cambuci foram os mais atingidos pelo
bombardeio.
A partir do dia 16, sucederam-se as tentativas de armistício. Um dos principais mediadores foi José
Carlos de Macedo Soares, membro da Associação Comercial de São Paulo. Num primeiro momento, o
general Isidoro condicionou a assinatura de um acordo à entrega do poder a um governo federal provisório
e à convocação de uma Assembleia Constituinte. A negativa do governo federal, somada às
consequências do bombardeio da cidade, reduziu as exigências dos revoltosos à concessão de uma
anistia ampla aos revolucionários em 1922 e 1924. Entretanto, nem essa reivindicação foi atendida.
Como as exigências dos revoltosos não foram atendidas, e a pressão do governo aumentava, a
solução foi mudar a estratégia. Em 27 de julho os revoltosos abandonaram a cidade, indo em direção a
Bauru, no interior do Estado. O deslocamento foi facilitado graças a eclosão de diversas revoltas no
interior, com a tomada de prefeituras.
O saldo de 23 dias de combates foi de 503 mortos e quase cinco mil feridos, resultando no maior
conflito ocorrido na cidade de São Paulo (maior inclusive que a revolta de 1932). Com os bombardeios,
aproximadamente 20 mil pessoas ficaram desabrigadas.
Àquela altura, já haviam eclodido rebeliões militares no Amazonas, em Sergipe e em Mato Grosso, em
apoio ao levante de São Paulo, mas os revoltosos paulistas desconheciam tais acontecimentos.
Em outubro, enquanto os paulistas combatiam em território paranaense, tropas sediadas no Rio
Grande do Sul iniciaram um levante, associadas a líderes gaúchos contrários à situação estadual. As
forças rebeladas juntaram-se aos paulistas em Foz do Iguaçu, no Paraná, no mês de abril de 1925.
Formou-se assim o contingente que deu início à marcha da Coluna Prestes.

A Coluna Prestes
Enquanto isso, alguns militares se rebelavam em São Paulo, Luís Carlos Prestes, também militar,
organizava outro grupo no Rio Grande do Sul. Em abril de 1925, as duas frentes de oposição, a Paulista
liderada por Miguel Costa, e a Gaúcha, por Prestes, uniram-se em Foz do Iguaçu e partiram para uma
caminhada pelo Brasil.
Sempre vigiados por soldados do governo, os revoltosos evitavam confrontos diretos com as tropas,
por meio de táticas de guerrilha.
Por meio de comícios e manifestos, a Coluna denunciava à população a situação política e social do
país. Num primeiro momento, não houve muitos resultados, porém o Movimento ajudou a balançar as
bases, já enfraquecidas, do sistema oligárquico e a preparar caminho para a Revolução de 1930.
A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo cerca de 25 mil quilômetros através de treze
estados do Brasil. Estima-se que a Coluna tenha enfrentado mais de 50 combates contra as tropas
governistas, sem sofrer derrotas. Os principais comandantes do Exército nacional não só não puderam
desbaratar a Coluna Prestes, como sofreram pesadas perdas para os rebeldes durante sua marcha. A
Coluna, em seu trajeto, derrotou 18 generais.

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A passagem da Coluna Prestes, gerava reações diversas na população. Como forma de desmoralizar
o movimento, o governo condenava os rebeldes e associavam suas ações a assassinos e bandidos.
Segundo a Historiadora Anita Leocádia Prestes, Qualquer arbitrariedade era punida com grande rigor;
em alguns casos de maior gravidade, chegou-se ao fuzilamento dos culpados, principalmente quando
houve desrespeito a famílias e, em particular, a mulheres.
Iniciando a marcha, a coluna concluiu a travessia do rio Paraná em fins de abril de 1925 e adentrou no
Paraguai com a intenção de chegar a Mato Grosso. Posteriormente percorreu Goiás, entrou em Minas
Gerais e retornou a Goiás.
Após a passagem por Goiás, a Coluna partiu para o Nordeste, chegando em novembro ao Maranhão,
ocasião em que o tenente-coronel Paulo Krüger foi preso e enviado a São Luís. Em dezembro, penetrou
no Piauí e travou em Teresina sério combate com as forças do governo. Rumando então para o Ceará, a
coluna teve outra baixa importante: na serra de Ibiapina, Juarez Távora foi capturado.
Em janeiro de 1926, a coluna atravessou o Ceará, chegou ao Rio Grande do Norte e, em fevereiro,
invadiu a Paraíba, enfrentando na vila de Piancó séria resistência comandada pelo padre Aristides
Ferreira da Cruz, líder político local. Após ferrenhos combates, a vila acabou ocupada pelos
revolucionários.
Continuando rumo ao sul, a coluna atravessou Pernambuco e Bahia e retornou para Minas Gerais,
pelo norte do Estado. Encontrando vigorosa reação legalista e precisando remuniciar-se, o comando da
coluna decidiu interromper a marcha para o sul e, em manobra conhecida como "laço húngaro", retornar
ao Nordeste através da Bahia. Cruzou o Piauí, alcançou Goiás e finalmente chegou de volta a Mato
Grosso em outubro de 1926. Àquela altura, o estado-maior revolucionário decidiu enviar Lourenço Moreira
Lima e Djalma Dutra à Argentina, para consultar o general Isidoro Dias Lopes quanto ao futuro da coluna:
continuar a luta ou rumar para o exílio.
Entre fevereiro e março de 1927, afinal, após uma penosa travessia do Pantanal, parte da coluna,
comandada por Siqueira Campos, chegou ao Paraguai, enquanto o restante ingressou na Bolívia, onde
encontrou Lourenço Moreira Lima, que retornava da Argentina. Tendo em vista as condições precárias
da coluna e as instruções de Isidoro, os revolucionários decidiram exilar-se.
Durante o tempo em que passou na Bolívia, Prestes dedicou-se a leituras em busca de explicações
para a situação de atraso e miséria que presenciara em sua marcha pelo interior brasileiro. Em dezembro
de 1927 foi procurado por Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, que fora
incumbido de convidá-lo a firmar uma aliança entre "o proletariado revolucionário, sob a influência do
PCB, e as massas populares, especialmente as massas camponesas, sob a influência da coluna e de
seu comandante". Prestes, contudo, não aceitou essa aliança. Foi nesse encontro que obteve as
primeiras informações sobre a Revolução Russa, o movimento comunista e a União Soviética. A seguir,
muda-se para a Argentina, onde lê Marx e Lênin.

Fonte: http://www2.camara.leg.br/

A defesa do café
Os acordos para a manutenção do preço do café elevaram a dívida brasileira, principalmente após as
emissões de moeda realizadas entre 1921 e 1923 por Epitácio Pessoa, o que gerou uma desvalorização
do câmbio e o aumento da inflação. Artur Bernardes preocupou-se em saldar a dívida externa brasileira,
retomando o pagamento dos juros e da dívida principal a partir do ano de 1927.
Com o objetivo de avaliar a situação financeira do Brasil, em fins de 1923 uma missão financeira
inglesa, chefiada por Edwin Samuel Montagu chegou ao país. Após os estudos, a comissão apresentou
um relatório à presidência da República, em que apresentava os riscos decorrentes da emissão
exagerada de moeda e o consequente receio dos credores internacionais.
A defesa dos preços do café representava um gasto entendido pelo governo federal como secundário
nesse momento, mesmo em meio às críticas de abandono proferidas pelo setor cafeeiro. A solução foi
passar a responsabilidade da defesa do café para São Paulo. Em dezembro de 1924 foi criado o Instituto

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de Defesa Permanente do Café, que possuía a função de regular a entrada do produto no Porto de Santos
e realizar compras do produto para evitar a desvalorização.

O governo de Washington Luís


Em 1926, mantendo a tradicional rotação presidencial entre São Paulo e Minas Gerais, o paulista
radicado Washington Luís foi indicado para a sucessão e saiu vencedor nas eleições de 1926. Seu
governo seguiu com relativa tranquilidade, até que em 1929 uma série de fatores, internos e externos,
mudaram de maneira drástica os rumos do Brasil.
No plano interno, a insatisfação das camadas urbanas, em especial a classe média, crescia cada vez
mais. A estrutura de governo baseada no poder das oligarquias, dos coronéis e da predominância dos
grandes proprietários e produtores de café da região de São Paulo não atendia as exigências e os anseios
de boa parte da população, que não fazia parte ou não era beneficiada pelo sistema de governo.
Em 1926 surgiu o Partido Democrático, de cunho liberal. O partido desponta como oposição ao PRP
(Partido Republicano Paulista), que repudiava o liberalismo na prática. Seus integrantes pertenciam a
uma faixa etária mais jovem em comparação aos republicanos, o que também contribuiu para agradar
boa parte da classe média insatisfeita com o PRP.
Formado por prestigiados profissionais liberais e filhos de fazendeiros de café, o partido tinha como
pauta a reforma do sistema político, através da implantação do voto secreto, da representação de
minorias, a real divisão dos três poderes e a fiscalização das eleições pelo poder judiciário. Uma de suas
características era o ataque a ricos imigrantes, em especial o italiano Conde Francisco Matarazzo.
Matarazzo chegou ao Brasil em 1881, e fez fortuna através da venda de banha de porco em latas. Na
virada do século já havia acumulado uma grande fortuna, que passou a investir nas mais diversas áreas.
A princípio montou um moinho de trigo, depois tecelagens, indústria metalúrgica, moinhos para a
fabricação do sal, refinarias de açúcar, fábricas de óleo e gordura, frigoríficos, fábrica de velas, sabonete
e sabão. E mais: centros fabris, usina de sulfureto de carbono e de ácidos, fábrica de fósforos e pregos,
de louças e azulejos, usina de cal, destilaria de álcool, fábrica de papel e a primeira destilaria de petróleo
de Cubatão.
As Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM) chegaram a contar com mais de 200 fábricas.
Paralelamente à expansão industrial, Matarazzo tinha um banco, uma frota de navios, um terminal no
porto de Santos e duas locomotivas para transportar mercadorias.

A Sucessão de Washington Luís


Voltando à política do Café-com-leite, em 1929 começava a campanha para a escolha do sucessor de
Washington Luís. Pela tradição, o apoio deveria ser dado a um candidato mineiro, já que o presidente
que estava no poder fora eleito por São Paulo.
Ao invés de apoiar um candidato mineiro, Washington Luís insistiu na candidatura do governador de
São Paulo, Júlio Prestes. A atitude do presidente gerou intensa insatisfação em Minas Gerais, e ajudou
a alavancar o Rio Grande do Sul no cenário político.
O governador de Mineiro, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que esperava-se ser o indicado para a
sucessão presidencial, propôs o lançamento de um movimento de oposição para concorrer contra a
candidatura de Júlio Prestes. O apoio partiu de outros dois estados insatisfeitos com a situação política:
Rio Grande do Sul e Paraíba. Do Rio Grande do Sul surgiu, após inúmeras discussões entre os três
estados, o nome de Getúlio Vargas – governador gaúcho eleito em 1927, que fora Ministro da Fazenda
de Washington Luís – para presidente, tendo como vice o nome do governador da Paraíba e sobrinho do
ex-presidente Epitácio Pessoa, o pernambucano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Definidos os
nomes, foi formada a Aliança Liberal, nome que definiu a campanha. O Partido Democrático de São
Paulo expressou seu apoio à candidatura de Getúlio Vargas, enquanto alguns membros do Partido
Republicano Mineiro resolveram apoiar Júlio Prestes.
A Aliança Liberal refletia os desejos das classes dominantes regionais que não estavam ligadas ao
café, buscando também atrair a classe média. Seu programa de governo defendia o fim dos esquemas
de valorização do café, a implantação de alguns benefícios aos trabalhadores, como a aposentadoria
(nem todos os setores possuíam), a lei de férias e a regulamentação do trabalho de mulheres e menores
de idade. Além disso, insistiam no tratamento com seriedade pelo poder público das questões sociais,
que Washington Luís afirmava serem “caso de Polícia”. Um dos pontos marcantes da campanha da
Aliança Liberal foi a participação do proletariado.

Reflexos da Crise de 1929 no Brasil


No plano externo, a quebra da bolsa de valores de Nova York, seguida da crise que afetou grande
parte da economia mundial, também teve repercussões no Brasil.
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O ano de 1929 rendeu uma excelente produção de café, tudo que os produtores não esperavam. A
colheita de quase 30 milhões de sacas na safra 1927-1928 representava aproximadamente o dobro da
produção dos anos anteriores. Esperava-se que, devido a alternancia entre boas e más safras 1929
representasse uma colheita baixa, já que as três ultimas safras haviam sido boas.Aliada a ideia de uma
safra baixa, estava a expectativa de lucros certos, garantidos pela Defesa Permanente do Café, o que
levou muitos produtores a contraírem empréstimos e aumentarem suas lavouras.
A produção, ao contrário do esperado, graças às condições climáticas e a implantação de novas
técnicas agricolas. O excesso do produto foi de encontro com a crise, que diminuiu o consumo, e
consequente o preço do café. O resultado foi um endividamento daqueles que apostaram em preços altos
e não quitaram suas dívidas.
Em busca de salvação para os negócios, o setor cafeeiro recorreu ao governo federal, na busca de
perdão das dívidas e de novos financiamentos. O presidente, temendo perder a estabilidade cambial,
recusou-se a ajudar o setor, fator que foi explorado politicamente pela oposição.
Apesar do esforço em tentar combater o candidato de Washington Luís, a Aliança Liberal não foi capaz
de derrotar Júlio Prestes, que foi eleito presidente em 1º de Março de 1930.

A Revolução de 1930
Em 1º de março de 1930 Júlio Prestes foi eleito presidente do Brasil conquistando 1.091.709 votos,
contra 742.794 votos recebidos por Getúlio Vargas. Ambos os lados foram acusados de cometer fraudes
contra o sistema eleitoral, seja manipulando votos, seja impondo votos forçados através de violência e
ameaça.
A derrota Júlio Prestes nas eleições de 1930 para não significou o fim da Aliança Liberal e sua busca
pelo controle do poder executivo. Os chamados “tenentes civis” acreditavam que ainda poderiam
conquistar o poder através das armas.
As discordâncias provocadas pelo apoio de Washington Luís a Júlio Prestes não foram suficientes, até
aquele momento, para promover uma ruptura de grandes proporções na política, porém um grupo de
políticos mais jovens e em busca de ascensão política perceberam que para alcançar novos patamares,
ainda dependiam da aprovação de um grupo muito estreito.
Entre os que buscavam novos caminhos, estavam os gaúchos Getúlio Vargas, Flores da Cunha,
Osvaldo Aranha, Lindolfo Collor, João Neves, Maurício Cardoso e Paim Filho. Em Minas Gerais também
haviam Virgílio de Melo Franco e Francisco Campos, descendentes de famílias tradicionais do estado.
Até mesmo entre membros antigos da política, representantes das velhas oligarquias, haviam aqueles
que enxergavam nos políticos mais jovens a possibilidade de aumento do poder pessoal, como Artur
Bernardes, Venceslau Brás, Afrânio de Melo Franco, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e João Pessoa.
Buscando agir pelo caminho que o movimento tenentista havia tentado anos antes, os jovens políticos
buscaram fazer contato com militares rebeldes, que receberam a atitude com desconfiança. Entre os
motivos para o receio dos tenentes, estava o fato de que alguns nomes, como João Pessoa e Osvaldo
Aranha, estiveram envolvidos em perseguições, confrontos e condenações contra o grupo. Porém, depois
de conversas e desconfianças dos dois lados, os grupos chegaram a um acordo, com a adesão de nomes
de destaque dos movimentos da década de 20, como Juarez Távora, João Alberto e Miguel Costa. A
grande exceção foi o nome de Luís Carlos Prestes, que em maio de 1930 declarou-se abertamente como
socialista revolucionário, e recusou-se a apoiar a disputa oligárquica.
Os preparativos para a tomada do poder não aconteceram da maneira esperada, deixando o
movimento conspiratório em uma situação de desvantagem. Porém, em 26 de julho de 1930 ocorreu um
fato que serviu de estopim para o movimento revolucionário: por volta das 17 horas, na confeitaria
“Glória”, em Recife, João Pessoa foi assassinado por João Duarte Dantas.
O crime, motivado tanto por disputas pessoais como por disputas públicas, foi utilizado como
justificativa para o movimento revolucionário, sendo explorado seu lado público, e transformado João
Pessoa em “mártir da revolução”.
Entre as razões para o assassinato, estiveram as mudanças políticas promovidas por João Pessoa ao
tornar-se governador. Em uma tentativa de modernizar a administração, o governador direcionou as
transações comerciais para os portos da capital e de Cabedelo, buscando tornar eficiente a arrecadação
de impostos e diminuir a dependência que o estado tinha do Recife. A medida adotada pelo governador
chocava-se com os interesses de produtores, principalmente de algodão, do interior do estado, que
realizavam as transações comerciais por terra, diretamente com Recife, escapando dessa forma das
cobranças de impostos. Os interesses conflitantes resultaram na Revolta de Princesa, movimento rebelde
liderado por José Pereira Lima, deflagrado no município de Princesa, atual Princesa Isabel, na fronteira
com Pernambuco, em fevereiro de 1930. Um dos principais aliados do Coronel José Pereira foi a família
Dantas.

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As divergências entre governo e revoltosos resultou na invasão do escritório de advocacia de João
Dantas, que localizava-se na capital do estado, da qual foram retirados de um cofre alguns papéis, entre
eles cartas de amor trocadas entre o advogado e a professora Anaíde Beiriz. Apesar de ambos serem
solteiros, o jornal A União, de cunho governista, divulgou a existência das cartas como obras de conteúdo
impróprio, que não poderiam sequer serem publicadas no jornal.
Após a divulgação, a jovem professora, caindo em desgraça e abandonada pela família, fugiu para o
Recife. João Dantas sentiu-se com a honra manchada, e resolveu acertar as contas com o governador,
assassinando-o com dois tiros, dentro da Padaria Glória, na capital Pernambucana.
A morte de João Pessoa foi extremamente explorada por seus aliados como elemento político para
concretizar os objetivos da revolução. Apesar de ter morrido no Nordeste e ser natural da região, o corpo
do presidente da Paraíba foi enterrado no Rio de Janeiro, então capital da República, fator que reuniu
uma enorme quantidade de pessoas para acompanhar o funeral. A morte de João Pessoa garantiu a
adesão de setores do exército que até então estavam relutantes em apoiar a causa dos revolucionários.
Feitos os preparativos, no dia 3 de outubro de 1930, nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul
e no Nordeste, estourou a revolução, comandada por Getúlio Vargas e pelo tenente-coronel Góes
Monteiro. As ações foram rápidas e não encontraram uma resistência forte. No Nordeste, as operações
ficaram a cargo de Juarez Távora, que contando com a ajuda da população, conseguiu dominar
Pernambuco sem esforços.
Após o Sul e o Nordeste dominados, os esforços concentraram-se em São Paulo. Os revolucionários
montaram quartel em Ponta Grossa, no Paraná, e começaram a elaborar um plano de ataque contra as
forças militares leais a Washington Luís. O ataque, definido para acontecer em território paulista, mais
precisamente na cidade de Itararé, ficou conhecido como “batalha de Itararé” ou também, a batalha que
não ocorreu, pois antes do desfecho do confronto, em 24 de outubro, os generais Leite de Castro, Tasso
Fragoso e Mena Barreto e o almirante Isaías Noronha depuseram Washington Luís da presidência e
instalaram uma junta provisória de governo.
Em virtude do maior peso político que os gaúchos detinham no movimento e sob pressão das forças
revolucionárias, a Junta finalmente decidiu transmitir o poder a Getúlio Vargas. Num gesto simbólico que
representou a tomada do poder, os revolucionários gaúchos, chegando ao Rio, amarraram seus cavalos
no Obelisco da avenida Rio Branco. Em 3 de novembro chegava ao fim a Primeira República.

Questões

1. (Câmara dos Deputados - Analista Legislativo – CESPE) O fato é que a transição do Império
para a República, proclamada em 1889, constituiu a primeira grande mudança de regime político ocorrida
desde a Independência. Republicanistas “puros", como Silva Jardim, defendiam uma mudança de regime
que, a exemplo da França, tivesse como resultado maior participação da população na vida política
nacional. Mas, vitoriosos, os republicanos conservadores, como Campos Sales, mantiveram o modelo de
exclusão política e sociocultural sob nova fachada. Ao “parlamentarismo sem povo" do Segundo Reinado,
sucedeu uma República praticamente “sem povo", ou seja, sem cidadania democrática.
Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Ed.
SENAC São Paulo, 2008, p. 552.
Tendo o fragmento de texto acima como referência inicial e considerando o contexto histórico brasileiro
ao longo da segunda metade do século XIX e da primeira do século XX, julgue o item a seguir.
Os dois primeiros presidentes civis da República, ambos oriundos de São Paulo, eram representantes
das correntes políticas mais empenhadas em afastar do regime republicano que surgia a pecha de modelo
de exclusão política e sociocultural que historicamente recaía sobre o Estado brasileiro, desde a
Independência.
( ) Certo ( ) Errado
2. TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) Seu Mundinho, todo esse tempo
combati o senhor. Fui eu quem mandou atirar em Aristóteles. Estava preparado para virar Ilhéus do
avesso. Os jagunços estavam de atalaia, prontos para obedecer. Os meus e os outros amigos, para
acabar com a eleição. Agora tudo acabou.
(In: AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela)
O texto descreve uma realidade que, na história do Brasil, identifica o
(A) tenentismo, que considerava o exército como a única força capaz de conduzir os destinos do povo.
(B) coronelismo, que se constituía em uma forma de o poder privado se manifestar por meio da política.
(C)mandonismo, criado com o objetivo de administrar os conflitos no interior das elites agrárias do
país.
(D) messianismo, entidade com poderes políticos capaz de subjugar a população por meio da força.

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(E) integralismo, que consistia em uma forma de a oligarquia cafeeira demonstrar sua influência e
poder político.

03. TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) Para responder à questão,
considere o texto abaixo.
... A forma federativa deu ampla autonomia aos Estados, com a possibilidade de contrair empréstimos
externos, constituir forças militares próprias e uma justiça estadual.
[...] A representação na Câmara dos Deputados, proporcional ao número de habitantes dos Estados,
foi outro princípio aprovado...
[...] A aceitação resignada da candidatura Prudente de Moraes, que marcou o início da república civil
oligárquica, consolidada por Campos Sales, se deu em um momento difícil, quando Floriano dependia do
apoio regional [...].
(Adaptado de: FAUSTO, Boris. Pequenos ensaios de História da República (1889-1945). São Paulo:
Cebrap, 1972, p. 2-4)
O principal mecanismo para a consolidação da república a que o texto se refere foi a
(A) política de “salvação nacional", desencadeada pelos militares ligados aos grandes fazendeiros
mineiros e paulistas com a finalidade de fortalecer o poder das oligarquias estaduais do sudeste.
(B) “campanha civilista" que defendia a regulamentação dos preços dos produtos de exportação e
garantia os empréstimos contraídos no exterior aos fazendeiros das grandes propriedades.
(C)“política dos governadores", que consistia na troca de apoio entre governo federal e governos
locais, com a finalidade de manter no poder os representantes dos grandes fazendeiros.
(D)política do “café-com-leite", que incentivava uma disputa acirrada entre os representantes dos
pequenos Estados e enfraquecia o poder dos fazendeiros paulistas e dos mineiros.
(E) política de “valorização do café" realizada pelos Estados contribuía para o enfraquecimento do
poder local e garantia a troca de favores entre os fazendeiros e o governo federal.

04. TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) Ao contrário do que sucedeu na
Capital da República, as primeiras manifestações do movimento operário em São Paulo surgiram já sob
a inspiração de ideologias revolucionárias ou classistas – o anarquismo e, em muito menor grau, o
socialismo reformista. As condições sócio-políticas tendiam a confirmar as ideologias negadoras da
organização vigente na sociedade aos olhos da marginalizada classe operária nascente, estrangeira em
sua grande maioria. (...) O anarquismo se converteria, entretanto, na principal corrente organizatória do
movimento operário, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo.
(FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. São Paulo: s/data, p.60-62)
A corrente ideológica a que o texto se refere, e que dominou a cena do movimento operário brasileiro
durante a segunda década do século XX,
(A)pode ser tratada como um sistema de pensamento social visando a modificações fundamentais na
estrutura da sociedade com o objetivo de substituir a autoridade do Estado por alguma forma de
cooperação não governamental entre indivíduos livres.
(B)investe contra o capital e o Estado capitalista, pretendendo substitui-lo por uma livre associação de
produtores diretos, possuidores dos meios de produção e na organização do sindicato único como
meio de promover a emancipação das classes trabalhadoras.
(C)defende a coletivização dos meios de produção, a violência nas lutas operárias e dá ênfase ao
papel que os sindicatos desempenhariam na obra emancipadora dos trabalhadores e da sociedade, e na
luta operária para a conquista do Estado.
(D)argumenta que o sindicalismo operário deve ser o articulador da autogestão e um instrumento do
plano econômico e da unidade de produção, e que as diversas associações produtivas devem ser
coordenadas pelas federações sindicais ligadas ao Estado.
(E)inclina-se pelo caminho revolucionário ao sustentar a necessidade de realizar de imediato a tese
marxista segundo a qual o critério de distribuição de bens e serviços deveria ser determinada pelas
assembleias sindicais de cada Estado da Federação.

05. (SEE-AC - Professor de Ciências Humanas – FUNCAB) Leia o texto.


“O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato
que dizia que o sertão ia alagar
O medoOque algum
sertão dia omar,
vai virar mar também vire sertão.”
dá no coração

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(Sobradinho. Sá e Guarabyra.)
A expressão “O sertão vai virar mar” está associada a uma personagem de um importante movimento
messiânico do início da República brasileira.
O personagem referido é:
(A) João Cândido.
(B) Beato José Maria.
(C) Antônio Conselheiro.
(D) Marcílio Dias.
(E) Barão de Drumond.

Respostas

1. Resposta: Errado
Os dois primeiros presidentes civis, assim como seus sucessores, preocuparam-se em manter a
política brasileira fechada e restrita para pequenos grupos dominantes (oligarquias).

2. Resposta: B
Durante a República Velha os grandes fazendeiros(coronéis) impunham seu poder através de seus
exércitos particulares de jagunços. O voto era aberto e os eleitores que moravam nas grandes fazendas
eram forçados a votar no candidato do coronel.

3. Resposta: C
A política dos governadores foi um sistema político não oficial, idealizado e colocado em prática pelo
presidente Campos Sales (1898 – 1902), que consistia na troca de favores políticos entre o presidente da
República e os governadores dos estados. De acordo com esta política, o presidente da República não
interferia nas questões estaduais e, em troca, os governadores davam apoio político ao executivo federal.

4. Resposta: A
O anarquismo é o movimento político que defende a supressão de todas as formas de dominação e
opressão vigentes na sociedade moderna, dando lugar a uma comunidade mais fraterna e igualitária,
fruto de um esforço individual a partir de um árduo trabalho de conscientização. O anarquismo é
frequentemente apontado como uma ideologia negadora dos valores sociais e políticos prevalecentes no
mundo moderno como o estado laico, a lei, a ordem, a religião e a propriedade privada.

5. Resposta: C
Antônio Conselheiro foi o líder do arraial de canudos, no interior da Bahia, local em que ocorreu a
guerra de canudos, revolta de grande repercussão no período republicano.

A Nova Economia do Brasil


A política trabalhista foi taxada de “paternalista” por intelectuais de esquerda, que acusavam Getúlio
de tentar anular a influência desta sobre o proletariado, desejando transformar a classe operária num
setor sob seu controle nos moldes da Carta del Lavoro do fascista italiano Benito Mussolini. Os defensores
de Getúlio Vargas diziam que em nenhum outro momento da história do Brasil houve avanços
comparáveis nos direitos dos trabalhadores. Os expoentes máximos dessa posição foram João Goulart
e Leonel Brizola, sendo Brizola considerado o último herdeiro político do “Getulismo”, ou da “Era Vargas”,
na linguagem dos brasileiros.
A crítica de direita, ou liberal, argumenta que, em longo prazo, as leis trabalhistas prejudicam os
trabalhadores porque aumentam o chamado “custo Brasil”, onerando muito as empresas e gerando a
inflação que corrói o valor real dos salários. Segundo esta versão, o Custo Brasil faz com que as empresas
brasileiras contratem menos trabalhadores, aumentem a informalidade e faz que as empresas
estrangeiras se tornem receosas de investirem no Brasil. Assim, segundo a crítica liberal, as leis
trabalhistas gerariam, além da inflação, mais desemprego e subemprego entre os trabalhadores.

As Forças de oposição ao Regime Oligárquico


No decorrer das três primeiras décadas do século XX houveram uma série de manifestações operárias,
insatisfação dos setores urbanos e movimentos de rebeldia no interior do Exército (Tenentismo). Eram
forças de oposição ao regime oligárquico, mas que ainda não representavam ameaça à sua estabilidade.
Esse quadro sofreu uma grande modificação quando, no biênio 1921-30, a crise econômica e o
rompimento da política do café-com-leite por Washington Luís colocaram na oposição uma fração

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importante das elites agrárias e oligárquicas. Os acontecimentos que se seguiram (formação da Aliança
Liberal, o golpe de 30) e a consequente ascensão de Vargas ao poder podem ser entendidos como o
resultado desse complexo movimento político. Ele se apoiou em vários setores sociais liderados por
frações das oligarquias descontentes com o exclusivismo paulista sobre o poder republicano federal.

O Governo Provisório
Com Washingtom Luís deposto e exilado, Getúlio Vargas foi empossado como chefe do governo
provisório. As medidas do novo governo tinham como objetivo básico promover uma centralização política
e administrativa que garantisse ao governo sediado no Rio de Janeiro o controle efetivo do país. Em
outras palavras, o federalismo da República Velha caía por terra. Para atingir esse objetivo, foram
nomeados interventores para governar os estados. Eram homens de confiança, normalmente oriundos
do Tenentismo, cuja tarefa era fazer cumprir, em cada estado, as determinações do governo provisório.
Esse fato e mais o adiamento que Getúlio Vargas foi impondo à convocação de novas eleições
desencadearam reações de hostilidade ao seu governo, especialmente no estado de São Paulo. As
eleições dariam ao país uma nova constituição, um presidente eleito pela população e um governo com
legitimidade jurídica e política. Mas poderia também significar a volta ao poder dos derrotados na
Revolução de 30.

A Reação Paulista
A oligarquia paulista estava convencida da derrota que sofreu em 24 de outubro de 1930, mas não
admitia perder o controle do Executivo em “seu” próprio estado. A reação paulista começou com a não
aceitação do interventor indicado para São Paulo, o tenentista João Alberto. Às pressões pela indicação
de um interventor civil e paulista, começa a se somar a reivindicação de eleições para a Constituinte.
Essas teses foram ganhando rapidamente simpatia popular.
As manifestações de rua começaram a ocorrer com o apoio de todas as forças políticas do estado, até
por aquelas que tinham simpatizado com o movimento de 1930 (exemplo do Partido Democrático - PD).
Diante das pressões crescentes, Getúlio resolveu negociar com a oligarquia paulista, indicando um
interventor do próprio estado. Isso foi interpretado como um sinal de fraqueza. Acreditando que poderiam
derrubar o governo federal, os oligarcas articularam com outros estados uma ação nesse sentido.
Manifestações de rua intensificaram-se em São Paulo. Numa delas, quatro jovens, Miragaia, Martins,
Dráusio e Camargo foram mortos e se transformaram em mártires da luta paulista em nome da legalidade
constitucional. Getúlio, por seu lado, aprovou outras “concessões”: elaborou o código eleitoral (que previa
o voto secreto e o voto feminino), mandou preparar o anteprojeto para a Constituição e marcou as eleições
para 1933.

A Revolução Constitucionalista de 1932


A oligarquia paulista, entretanto, não considerava as “concessões” suficientes. Baseada no apoio
popular que conseguira obter e contando com a adesão de outros estados, desencadeou em 9 de julho
de 1932, a chamada Revolução Constitucionalista. Ela visava a derrubada do governo provisório e a
aprovação imediata das medidas que Getúlio protelava. Entretanto, o apoio esperado dos outros estados
não ocorreu e, depois de três meses, a revolta foi sufocada. Até hoje, o caráter e o significado da
Revolução Constitucionalista de 1932 geram polêmicas. De qualquer forma, é inegável que o movimento
teve duas dimensões. No plano mais aparente, predominaram as reivindicações para que o país
retornasse à normalidade política e jurídica, lastreadas numa expressiva participação popular. Nesse
sentido, alguns destacam que o movimento foi um marco na luta pelo fortalecimento da cidadania no
Brasil. Num plano menos aparente, mas muito mais ativo, estava o rancor das elites paulistas, que viam
no movimento uma possibilidade de retomar o controle do poder político que lhe fora arrebatado em 1930.
Se admitirmos que existiu uma revolução em 1930, o que aconteceu em São Paulo, em 1932, foi a
tentativa de uma contra revolução, pois visava restaurar uma supremacia que, durante mais de 30 anos,
fez a nação orbitar em torno dos interesses da cafeicultura. Nesse sentido, o movimento era marcado por
um reacionarismo elitista, contrário ao limitado projeto modernizador de 1930.

As Leis Trabalhistas
Foi aprovado também um conjunto de leis que garantiam direitos aos trabalhadores, destacando-se
entre eles: salário mínimo, jornada de oito horas, regulamentação do trabalho feminino e infantil, descanso
remunerado (férias e finais de semana), indenização por demissão, assistência médica, previdência
social. A formalização dessa legislação trabalhista teve vários significados e implicações. Representou a
primeira modificação importante na maneira de o Estado enfrentar a questão social e definiu as regras a
partir das quais o mercado de trabalho e as relações trabalhistas poderiam se organizar. Garantiu, assim,

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uma certa estabilidade ao crescimento econômico. Por fim, foi muito útil para obter o apoio dos
assalariados urbanos à política getulista.
Essa legislação denota a grande habilidade política de Getúlio. Ele apenas formalizou um conjunto de
conquistas que, em boa parte, já vigoravam nas relações de trabalho nos principais centros industriais.
Com isso, construiu a sua imagem como “Pai dos Pobres” e benfeitor dos trabalhadores.

O Controle Sindical
A aprovação da legislação sindical representou um grande avanço nas relações de trabalho no Brasil,
pois pela primeira vez o trabalhador obtinha, individualmente, amparo nas leis para resistir aos excessos
da exploração capitalista. Por outro lado, paralelamente à sua implantação, o Estado definiu regras
extremamente rígidas para a organização dos sindicatos, entre as quais a que autorizava o seu
funcionamento (Carta Sindical), as que regulavam os recursos da entidade e as que davam ao governo
direito de intervir nos sindicatos, afastando diretorias se julgasse necessário. Mantinha, assim, os
sindicatos sob um controle rigoroso.

Eleições Presidenciais de 1934


Uma vez promulgada a Constituição de 1934, a Assembleia Constituinte converteu-se em Congresso
Nacional e elegeu o presidente da República por via indireta: o próprio Getúlio. Começava o período
constitucional do governo Vargas.

O Governo Constitucional e a Polarização Ideológica


Durante esse período, simultaneamente à implantação do projeto político do governo, foram se
desenhando outros dois projetos para o país. Esse breve período constitucional foi marcado por lutas, às
vezes violentas, entre os defensores desses projetos, levando a uma verdadeira polarização ideológica.
O tom desse momento político do país foi marcado pelo confronto entre duas correntes: uma defendia
um nacionalismo conservador, a outra, um nacionalismo revolucionário.

Nacionalismo conservador
Esse movimento contava com o apoio de vários estratos das classes médias urbanas, Igreja e setores
do Exército. O projeto que seus apoiadores tinham em mente decorria de uma certa leitura que faziam da
história do país até aquele momento.
Segundo os conservadores, o aspecto que marcava mais profundamente a formação histórica do país
e do seu povo era a tradição agrícola. Desde o descobrimento, toda a vida econômica, social e política
organizou-se em torno da agricultura. Todos os nossos valores morais, regras de convivência social,
costumes e tradições, enfim, a espinha dorsal da nossa cultura, fincavam suas raízes no modo de vida
rural. Dessa forma, tudo o que ameaçava essa “tradição agrícola” (isto é, estímulos a outros setores da
economia, crescimento da indústria, expansão da urbanização e suas consequências, como a
propagação de novos valores, hábitos e costumes tipicamente urbanos, bem como novas formas de
expressão artística e culturais) representava um atentado contra a integridade e o caráter nacional, uma
corrupção da nossa identidade como povo e nação. Por ser contrário a transformações e à medida que
as tendências modernizadoras tinham origem externa (induzidas pela industrialização, vanguardas
artísticas europeias etc.) é que o movimento caracterizava-se por ser nacionalista e conservador.
Para que a coerência com a nossa identidade histórica fosse mantida, os ideólogos do nacionalismo
conservador propunham o seguinte: os latifúndios deveriam ser divididos em pequenas parcelas de terras
a ser distribuídas. Assim, as famílias retornariam ao campo, tornando o Brasil uma grande comunidade
de pequenos e prósperos proprietários. Podemos concluir, a partir desse ideário, que eram
antilatifundiários, antiindustrialistas e, no limite, anticapitalistas. Na esfera política, defendiam um regime
autoritário de partido único.

O Integralismo
Esse movimento deu origem à Ação Integralista Brasileira, cujo lema era Deus, Pátria e Família, tendo
como seu principal líder e ideólogo Plínio Salgado. Tradicionalmente, a AIB tem sido interpretada como a
manifestação do nazifascismo no Brasil, pela semelhança entre os aspectos aparentes do integralismo e
do nazifascismo. Uniformes, tipo de saudação, ultranacionalismo, feroz anticomunismo, tendências
ditatoriais e apelo à violência eram traços que aproximavam as duas ideologias. Um exame mais atento,
entretanto, mostra que eram projetos distintos. Enquanto o nazi fascismo era apoiado pelo grande capital
e buscava uma expansão econômico-industrial a qualquer custo, ao preço de uma guerra mundial se
necessário, os integralistas queriam voltar ao campo. Num certo sentido, o projeto nazifascista era mais

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modernizante que o integralista. Assim, as semelhanças entre eles escondiam propostas e projetos
globais para a sociedade radicalmente distintos.

Nacionalismo Revolucionário
Frações dos setores médios urbanos, sindicatos, associações de classe, profissionais liberais,
jornalistas e o Partido Comunista prestaram apoio a outro movimento político: o nacionalismo
revolucionário. Este defendia a industrialização do país, mas sem que isso implicasse subordinação e
dependência em relação às potências estrangeiras, como a Inglaterra e os Estados Unidos.
O nacionalismo revolucionário propunha uma reforma agrária como forma de melhorar as condições
de vida do trabalhador urbano e rural e potencializar o desenvolvimento industrial. Considerava que a
única maneira de realizar esses objetivos seria a implantação de um governo popular no Brasil. Esse
movimento deu origem à Aliança Nacional Libertadora, cujo presidente de honra era Luís Carlos Prestes,
então membro do Partido Comunista.

As Eleições de 1938
Contida a oposição de esquerda, o processo político evoluiu sem conflitos maiores até 1937. Nesse
ano, começaram a se desenhar as candidaturas para as eleições de 1938. Dentre as candidaturas,
começou a se destacar a de Armando Sales Oliveira, paulista que articulava com outros estados sua
eleição para presidente. Getúlio Vargas, as oligarquias que lhe davam apoio e os militares herdeiros da
tradição tenentista não viam com bons olhos a possibilidade de retorno da oligarquia paulista ao poder.
Mas, uma vez mantido o calendário eleitoral, isso parecia inevitável.

O Plano Cohen
Enquanto as articulações políticas visando as eleições se desenvolviam, veio à luz o famoso Plano
Cohen. Segundo as informações oficiais, forças de segurança do governo tinham descoberto um plano
de tomada do poder pelos comunistas. Muito bem elaborado, colocava em risco as instituições, caso
fosse deflagrado. O governo então, para evitar o perigo vermelho, solicitou do Congresso Nacional a
aprovação do estado de sítio, que suspendia as liberdades públicas e dava ao governo amplos poderes
para combater a subversão.

A Decretação do Estado de Sítio e o Golpe de 1937


A fração oligárquica paulista hesitava em aprovar a medida, mas diante do clamor do Exército, das
classes médias e da Igreja, que temiam a escalada comunista, o Congresso autorizou a decretação do
estado de sítio. A seguir, com amplos poderes concentrados em suas mãos, Getúlio Vargas outorgou
uma nova Constituição ao país, implantando, por meio desse golpe o Estado Novo.

Estado Novo (1937-1945)23


A ditadura estabelecida por Getúlio Vargas durou oito anos, indo de 1937 a 1945. Embora Vargas
agisse habilidosamente, com o intuito de aumentar o próprio poder, não foi somente sua atuação que
gerou o Estado Novo. Pelo menos três elementos convergiam para sua criação:
- A defesa de um Estado forte por parte dos cafeicultores, que dependiam dele para manter os preços
do café;
- Os industriais, que seguiam a mesma linha de defesa dos cafeicultores, já que o crescimento das
industrias dependia da proteção estatal;
- As oligarquias e classe média urbana, que assustavam-se com a expansão da esquerda e julgavam
que para “salvar a democracia” era necessário um governo forte

Além disso Vargas tinha também o apoio dos militares, por alguns motivos:
- Por sua formação profissional, os militares possuíam uma visão hierarquizada do Estado, com
tendência a apoiar mais um regime autoritário do que um regime liberal;
- Os oficiais de tendência liberal haviam sido expurgados do exército por Vargas e pela dupla Góis
Monteiro-Gaspar Dutra;
- Entre os oficiais do exército estava se consolidando o pensamento de que se deveria substituir a
política no exército pela política do exército. E a política do exército naquele momento, visava o próprio
fortalecimento, resultado atingido mais facilmente em uma ditadura.

23 Adaptado de MOURA, José Carlos Pires. História do Brasil.

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Com todos esses fatores a seu favor, não houveram dificuldades para Getúlio instalar e manter por
oito anos a ditadura no país. Durante o período foi implacável o autoritarismo, a censura, a repressão
policial e política e a perseguição daqueles que fossem considerados inimigos do Estado.

Política econômica do Estado Novo


Por meio de interventores, o governo passou a controlar a política dos estados. Paralelamente aos
interventores, foi criado em cada um dos estados um Departamento Administrativo, que era
diretamente subordinado ao Ministério da Justiça, com membros nomeados pelo presidente da república.
Cada Departamento Administrativo estudava e aprovava as leis decretadas pelo interventor e fiscalizava
seus atos, orçamentos, empréstimos, entre outros. Dessa forma os programas estaduais ficavam
subordinados ao governo federal.
Na área federal foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). Além de
centralizar a reforma administrativa, o Departamento tinha poderes para elaborar o orçamento dos órgãos
públicos e controlar a execução orçamentaria deles. Com a criação do DASP e do Conselho Nacional
de Economia, não só a atuação administrativa e econômica do governo passou a ser muito mais
eficiente, como também aumentou consideravelmente o poder do Estado e do presidente da república,
agora diretamente envolvido na solução dos principais problemas econômicos do país, inclusive com a
criação de órgãos especializados: o instituto do Açúcar e Álcool, o Instituto do Mate, Instituto do pinho,
etc.
Por meio dessas medidas, o governo conseguiu solucionar de maneira satisfatória os principais
problemas econômicos da época. A cafeicultura foi convenientemente defendida, a exportação agrícola
foi diversificada, a dívida externa foi congelada, a indústria cresceu rapidamente, a mineração de ferro e
carvão expandiu-se e a legislação trabalhista foi consolidada. Com essas medidas as elites enriqueceram,
a classe média melhorou seu padrão de vida e o operariado ganhou a proteção que lutou por anos para
conseguir. Dessa forma Vargas atingiu altos níveis de popularidade, mesmo com a repressão e
perseguição política de seu regime.
No mesmo período de 1937 a 1940, a ação econômica do Estado objetivava racionalizar e incentivar
atividades econômicas já existentes no Brasil. Já a partir de 1940, com a instalação de grandes empresas
estatais, o Estado alterou seu papel, passando a ser um dos principais investidores do setor industrial,
principalmente na indústria pesada (responsável por transformar grandes quantidades de matéria-prima).
Os investimentos estatais concentravam-se na indústria pesada, principalmente a siderurgia, química,
mecânica pesada, metalurgia, mineração de ferro e geração de energia hidroelétrica. Esses eram setores
que exigiam grandes investimentos e garantiam retorno somente no longo prazo, o que não despertou o
interesse da burguesia brasileira. Como saída, existiam duas opções para sua implantação: o
investimento do capital estrangeiro ou o investimento estatal, sendo o segundo o escolhido. A iniciativa
teve êxito graças a um pequeno número de empresários e também do exército, que associava a indústria
de base com a produção de armamentos, entendendo-a como assunto de segurança nacional.
A maior participação do Estado na economia gerou a formação de novos órgãos oficiais de
coordenação e planejamento econômico, destacando-se:
CNP – Conselho Nacional do Petróleo (1938)
CNAEE – Conselho Nacional de Aguas e Energia Elétrica (1939)
CME – Coordenação da Mobilização Econômica (1942)
CNPIC – Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial (1944)
CPE – Comissão de Planejamento Econômico (1944)

As principais empresas estatais criadas no período foram:


CSN – Companhia Siderúrgica Nacional (1940)
CVRD – Companhia Vale do Rio Doce (1942)
CNA – Companhia nacional de Álcalis (1943)
FNM – Fábrica Nacional de Motores (1943)
CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco (1945)

Desse modo, apesar da desaceleração do crescimento industrial ocasionado pela Segunda Guerra
Mundial, devido à dificuldade para importar equipamentos e matéria-prima, quando o Estado Novo se
encerrou em 1945, a indústria brasileira estava plenamente consolidada.

Características políticas do Estado Novo


Pode até parecer estranho, mas a ditadura estadonovista possuía uma constituição, que é uma
característica das ditaduras brasileiras, onde a constituição afirmava o poder absoluto do ditador.

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A nova constituição foi apelidada de “Polaca”, elaborada por Francisco Campos, o mesmo responsável
por criar o AI-1 em 1964, que deu origem à ditadura militar no Brasil. A constituição “Polaca” era
extremamente autoritária e concedia poderes praticamente ilimitados ao governo.
Em termos práticos, o governo do Estado Novo funcionou da seguinte maneira:
- O poder político concentrava-se todo nas mãos do presidente da república;
- O Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais foram fechadas;
- O sistema judiciário ficou subordinado ao poder executivo;
- Os Estados eram governados por interventores nomeados por Vargas, os quais, por sua vez,
nomeavam os prefeitos municipais;
- A Polícia Especial (PE) e as polícias estaduais adquiriram total liberdade de ação, prendendo,
torturando e assassinando qualquer pessoa suspeita de se opor ao governo;
- A propaganda pela imprensa e pelo rádio foi largamente usada pelo governo, por meio do
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
Foram fechados os partidos políticos, até mesmo o Partido Integralista, que mudou seu nome para
Associação Brasileira de Cultura. Em 1938 os integralistas tentaram um golpe de governo que fracassou
em poucas horas, com seus principais líderes presos, inclusive Plinio Salgado, que foi exilado para
Portugal.
Nesse meio tempo, o DIP e a PE prosseguiam seu trabalho. Chefiado por Lourival Fontes, o DIP era
incansável tanto na censura quanto na propaganda, voltada para todos os setores da sociedade –
operários, estudantes, classe média, crianças, militares – e abrangendo assuntos tão diversos quanto
siderurgia, carnaval e futebol; procurava-se, assim, formar uma ideologia estadonovista que fosse aceita
pelas diversas camadas sociais e grupos profissionais e intelectuais. Cabia também ao DIP o preparo das
gigantescas manifestações operarias, particularmente no dia 1º de Maio, quando os trabalhadores, além
de comemorarem o Dia do Trabalho, prestavam uma homenagem a Vargas, apelidado de “o pai dos
pobres”.

Leis trabalhistas no governo de Getúlio Vargas


Getúlio Vargas garantiu diversas mudanças em relação ao trabalho e ao trabalhador durante seu
governo. Decretou a organização da jornada de trabalho, instituiu o Ministério do Trabalho, criou a Lei de
Sindicalização, o salário mínimo em 1940.
Apesar de muitas das conquistas trabalhistas terem sido aprovadas por Vargas, elas já eram
reinvindicações antigas de diversos movimentos de trabalhadores, principalmente operários e sindicatos
urbanos, desde a Primeira República
As concessões garantidas por Getúlio criavam a imagem do Estado disciplinando o mercado de
trabalho em benefício dos assalariados, porém também serviram para encobrir o caráter controlador do
Estado sobre os movimentos operários, e possuía clara inspiração nas ideias do Ditador italiano Benito
Mussolini.
O relacionamento entre Getúlio e os trabalhadores era muito interessante, temperado pelos famosos
discursos do ditador os quais sempre começavam pela frase “trabalhadores do Brasil...”. Utilizando um
modelo de política populista, Vargas, de um lado, eliminava qualquer liderança operaria que tentasse
um atuação autônoma em relação ao governo, acusando-a de “comunista”, enquanto por outro lado,
concedia frequentes benefícios trabalhistas ao operariado, incluindo a decretação do salário-mínimo e
da Consolidação das Leis do Trabalho(CLT). Desse modo, por meio de uma inteligente mistura de
propaganda, repressão e concessões, Getúlio obteve um amplo apoio das camadas populares.

A CLT entrou em vigor em 1943, durante a típica comemoração do 1º de maio. Entre seus principais
pontos estão:
Regulamentação da jornada de trabalho – 8 horas diárias.
Descanso de um dia semanal, remunerado.
Regulamentação do trabalho e salário de menores.
Obrigatoriedade de salário mínimo como base de salário.
Direito a férias anuais.
Obrigatoriedade de registro do contrato de trabalho na carteira do trabalhador.

As deliberações da CLT priorizaram, em 1943, as relações do trabalhador urbano, praticamente


ignorando o trabalhador rural, que ainda representava uma grande parcela da população. Segundo dados
do IBGE, em 1940 aproximadamente 70% da população brasileira estava na zona rural.
Essas pessoas não foram beneficiadas com medidas trabalhistas específicas, nem com políticas que
facilitassem o acesso à terra e à propriedade.

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Porém, não houve legislação que protegesse o trabalhador rural ou lhe facilitasse o acesso à terra.
Mantiveram-se as relações de arrendamento e as diárias. Os poucos trabalhadores assalariados do
campo cumpriam funções especializadas.
Para organizar os trabalhadores rurais, desde a década de 50, surgiram movimentos sociais como as
Ligas Camponesas, as Associações de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, até o mais estruturado
destes movimentos, o MST, nascido nos encontros da CPT- Comissão Pastoral da Terra, em 1985, no
Paraná.
Enquanto isso, a Polícia Especial (PE), sob o comando de Filinto Müller, continuava agindo: prendia
milhares e milhares de pessoas, sendo que a maioria jamais foi julgada, ficando apenas presas e sendo
torturadas durante anos a fio.
Após o fim do Estado Novo foi formada uma comissão para investigar as barbaridades cometidas pela
polícia durante o período de ditadura, chamada de “Comissão Parlamentar de Inquérito dos Atos
Delituosos da Ditadura”. Mas os levantamentos feitos pela comissão em 1946 e 1947, eram quase sempre
abafados, fazendo-se o possível para que caíssem no esquecimento, por duas razões:
- A maioria dos torturadores e assassinos permaneciam no polícia depois que a PE havia sido extinta,
sendo apenas transferidos para outros órgãos e funções;
- Muitos civis e militares envolvidos nas torturas e assassinatos fizeram mais tarde rápida carreira,
chegando a ocupar postos importantes na administração e na política.
O relatório concluído pela comissão revela os extremos da violência e banditismo organizado
alcançados durante o Estado Novo: prisões arbitrarias, intimidação, tortura. Muitas vezes os presos eram
pendurados em “paus-de-arara”, espancados com paus e pedaços de borracha e espetados com
alfinetes. Além disso as torturas também poderiam incluir a inserção de farpas de bambu sob as unhas,
retirada de pelos e dentes com alicate, queimaduras com cigarro ou maçarico em órgãos sexuais,
choques e a obrigação de beber óleo de rícino.
Para os torturadores não havia muita diferenciação entre homens, mulheres, crianças e velhos. Muitas
vezes os familiares próximos também eram presos e torturados para obrigar o preso a falar. Quando não
resistia aos ferimentos, o prisioneiro era desovado em um matagal ou atirado de um prédio alto para
simular suicídio.
Também era comum durante o período a espionagem, feita por militares e civis, que eram conhecidos
como “invisíveis”. Sua função poderia ser a de espiar alguém em específico ou fazer uma espionagem
generalizada em escolas, universidades, fábricas, estádios de futebol, transporte público, cinemas, locais
de lazer, unidades militares e repartições públicas. Formaram-se milhares de arquivos pessoais com
informações minuciosas sobre as pessoas, que seriam utilizadas novamente 19 anos após o fim do estado
Novo, na Ditadura Militar.

Fim do Estado Novo


Com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, houveram muitas consequências. Permitiu ao
governo de Vargas neutralidade para negociar tanto com os Aliados como com o Eixo, conseguindo
financiamento dos Estados Unidos para a construção da usina siderúrgica de Volta Redonda, a compra
de armamentos alemães e fornecimento de material bélico norte-americano.
Apesar da neutralidade de Getúlio, que esperava o desenrolar do conflito para determinar apoio ao
provável vencedor, em seu governo haviam grupos divididos e definidos sobre quem apoiar: Oswaldo
Aranha, que era ministro das Relações Exteriores era favorável aos Estados Unidos, enquanto os
generais Gaspar Dutra e Góis Monteiro eram favoráveis ao nazismo. Com a entrada dos Estados Unidos
na guerra em 1941 e o torpedeamento de vários navios mercantes brasileiros, o país entra em guerra ao
lado dos aliados em agosto de 1942. A saída de Lourival Fontes (DIP) Fillinto Müller (PE) e Francisco
Campos (Ministério da Justiça) também colaboraram para a decisão.
Em 1944 foram mandados 25.000 soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália,
marcando a participação do Brasil no conflito.
Mais do que a vitória contra as forças do Eixo na Europa, a Segunda Guerra Mundial teve um efeito
na política brasileira. Muitos dos que lutavam contra o Fascismo na Europa não aceitavam voltar para
casa e viver em um regime autoritário. O sentimento de revolta cresceu na população e muitas
manifestações em prol da redemocratização foram realizadas, mesmo com forte repressão da polícia.
Pressionado pelas reivindicações, em 1945 Vargas assinou um Ato Adicional que marcava eleições para
o final daquele ano. Foram formados vários partidos: UDN (União Democrática nacional), PSD (Partido
Social Democrático), PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o PCB (Partido Comunista Brasileiro) foi
legalizado, além de outros menores. Venceu a candidatura do General Dutra, que concorreu pela aliança
entre PTB e PSD. Além dele foram candidatos o brigadeiro Eduardo Gomes da UDN e Yedo Fiúza do
PCB.

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Apesar dos protestos para o fim do Estado Novo, muitas pessoas queriam que a redemocratização
ocorresse com a continuação de Getúlio no poder. Daí vem o movimento conhecido como “Queremismo”,
que vem do slogan “Queremos Getúlio”.

Questões

01. (Enem) O autor da constituição de 1937, Francisco Campos, afirma no seu livro, O Estado
Nacional, que o eleitor seria apático; a democracia de partidos conduziria à desordem; a independência
do Poder Judiciário acabaria em injustiça e ineficiência; e que apenas o Poder Executivo, centralizado em
Getúlio Vargas, seria capaz de dar racionalidade imparcial ao Estado, pois Vargas teria providencial
intuição do bem e da verdade, além de ser um gênio político.
CAMPOS, F. O Estado nacional. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940 (adaptado).
Segundo as ideias de Francisco Campos,
(A) os eleitores, políticos e juízes seriam mal-intencionados.
(B) o governo Vargas seria um mal necessário, mas transitório.
(C) Vargas seria o homem adequado para implantar a democracia de partidos.
(D) a Constituição de 1937 seria a preparação para uma futura democracia liberal.
(E) Vargas seria o homem capaz de exercer o poder de modo inteligente e correto.

02. (Fuvest) Em 10 de novembro de 1937, para justificar o golpe que instaurava o Estado Novo, Getúlio
Vargas discursava:
“Colocada entre as ameaças caudilhescas e o perigo das formações partidárias sistematicamente
agressivas, a Nação, embora tenha por si o patriotismo da maioria absoluta dos brasileiros e o amparo
decisivo e vigilante das Forças Armadas, não dispõe de meios defensivos eficazes dentro dos quadros
legais, vendo-se obrigada a lançar mão das medidas excepcionais que caracterizam o estado de risco
iminente da soberania nacional e da agressão externa.”
Baseando-se no texto acima, pode-se entender que:
(A) Vargas fala em nome da Nação, considerando-se o intérprete de seus anseios e necessidades.
(B) a defesa da Nação está exclusivamente nas mãos do exército e do patriotismo dos brasileiros.
(C) Vargas delega às Forças Armadas o poder de lançar mão de medidas excepcionais.
(D) as medidas excepcionais tomadas estão na relação direta da falta de formações políticas atuantes.
(E) Vargas estabelece uma oposição entre o patriotismo dos brasileiros e a ação das Forças Armadas.

03. (Faap) "Batemo-nos pelo Estado Integralista. Queremos a reabilitação do princípio de autoridade,
que esta se respeite e faça respeitar-se. Defendemos a família, a instituição fundamental cujos direitos
mais sagrados são proscritos pela burguesia e pelo comunismo."
Este texto, pelas ideias que defende, é provável que tenha sido escrito por:
(A) Jorge Amado
(B) Carlos Drummond de Andrade
(C) Mário de Andrade
(D) Oswald de Andrade
(E) Plínio Salgado

04. (Fei) O Estado Novo, período que se seguiu ao golpe de Getúlio Vargas (10/11/1937 até
29/10/1945) caracterizou-se:
(A)pela centralização político-administrativa, eliminação da autonomia dos estados e extinção dos
partidos políticos;
(B) pela proliferação de partidos políticos, revogação da censura, descentralização político-
administrativa;
(C) pelo apoio ao comunismo internacional;
(D)pelo movimento tenentista, reconhecimento dos partidos de esquerda e estabelecimento das
eleições diretas;
(E)pela formação de uma Assembleia Constituinte que votaria a Constituição de 1937, conhecida
como a mais liberal da República.

05. (Fuvest) Na história da República brasileira, a expressão "Estado Novo" identifica:


(A) o período de 1930 a 1945, em que Getúlio Vargas governou o país de forma ditatorial, só com o
apoio dos militares, sem a interferência de outros poderes.

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(B)O período de 1950 a 1954, em que Getúlio Vargas governou com poderes ditatoriais, sem garantia dos
direitos constitucionais.
(C) o período de 1937 a 1945, em que Getúlio Vargas fechou o Poder Legislativo, suspendeu as
liberdades civis e governou por meio de decretos-leis.
(D)o período de 1945 a 1964, conhecido como o da redemocratização, quando foi restabelecida a
plenitude dos poderes da República e das liberdades civis.
(E)o período de 1930 a 1934, quando se afirmou o respeito aos princípios democráticos, graças à
Revolução Constitucionalista de São Paulo.

Respostas

1. Resposta: E
O objetivo de Francisco Campos com seu livro e com a Constituição de 1937 era justificar e legitimar
legislativamente o poder autoritário de Vargas.

2. Resposta: A
Exercendo uma posição de liderança e com o objetivo de centralizar o poder em sua pessoa, Vargas,
no discurso, coloca-se como representante da nação, que é incapaz de enfrentar nos quadros legais os
supostos perigos que a ameaçam, cabendo ao Estado sob seu comando tomar essas medidas
excepcionais.

3. Resposta: E
O movimento Integralista ganhou destaque no Brasil com um crescente número de seguidores. O
partido, influenciado pelo fascismo italiano, iniciou suas atividades durante o primeiro governo de Getúlio
Vargas combatendo os defensores de pensamentos de esquerda. Os integralistas acusavam os
comunistas de corromper a família com seus pensamentos que ameaçavam a formação religiosa das
pessoas.

4. Resposta: A
Durante o período foi implacável o autoritarismo, a censura, a repressão policial e política e a
perseguição daqueles que fossem considerados inimigos do Estado. Por meio de interventores, o governo
passou a controlar a política dos estados.

5. Resposta: C
A ditadura estabelecida por Getúlio Vargas durou oito anos, indo de 1937 a 1945.

O Governo de Eurico Gaspar Dutra

O governo Dutra foi marcado, internamente, pela promulgação da nova Carta Constitucional, em 18
de setembro de 1946. De caráter liberal e democrático, a Constituição de 1946 iria reger a vida do país
por mais duas décadas.
Em 18 de setembro de 1946 foi oficialmente promulgada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil
e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o que consagrou liberdades que existiam na
Constituição de 1934, mas haviam sido retiradas em 1937.

Alguns dos dispositivos regulados pela Constituição de 1946 foram:


- A igualdade de todos os cidadãos perante a lei;
- A liberdade de expressão, sem censura, fora em espetáculos e diversões públicas;
- Sigilo de correspondência inviolável;
- Liberdade de consciência, crença e exercício de quaisquer cultos religiosos;
- Liberdade de associação para fins lícitos;
- Casa como asilo do indivíduo torna-se inviolável;
- Prisão apenas em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade competente e a garantia ampla
de defesa do acusado;
- fim da pena de morte;
- Os três poderes são definitivamente separados.

A separação dos três poderes visava delimitar a ação de cada um deles. Esta nova lei, na verdade, foi
elaborada devido à reflexão sobre os anos em que Vargas ampliou as atribuições do Poder Executivo e
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obteve controle sobre quase todas as ações do Estado. Fora isso, o mandato do presidente se
estabeleceu em 5 anos, sendo proibida a reeleição para cargos do Executivo.
No que se referia às leis trabalhistas, a Constituição de 1946 manteve o princípio de cooperação dos
órgãos sindicais e diminuiu o controle dos mecanismos do Estado aos sindicatos e seus adeptos. Já no
que tocava à organização do processo eleitoral, a Carta de 1946 diluiu as bancadas profissionais de
Getúlio Vargas e aumentou a participação do voto das mulheres, que na constituição anterior só era
permitido às mulheres que tinham cargo público remunerado.
Sendo assim, a distribuição das cadeiras na Câmara dos Deputados foi alterada, aumentando-se as
vagas para Estados considerados “menores”. Porém, o Governo de Dutra feriu sua própria constituição,
que pregava o pluripartidarismo, ao iniciar uma cassação ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
A Constituição de 1946 ficou em vigência até o Golpe Militar, em 1964. Nessa ocasião, os militares
passaram a aplicar uma série de emendas para estabelecer as diretrizes do novo regime até ser
definitivamente suspensa pelos Atos Institucionais e pela Constituição de 1967.
Com o avanço da redemocratização, o movimento operário ganhou vigor, com um aumento
significativo no número de sindicalizados e a eclosão de várias greves no país. Para barrar o avanço do
movimento sindical, que contava com forte apoio dos comunistas, Dutra, ainda no início do governo, antes
da promulgação da nova Constituição, baixou um decreto proibindo o direito de greve.
No primeiro ano do governo Dutra, por conta de uma conjuntura internacional favorável à cooperação
entre países capitalistas e socialistas, a atuação dos comunistas, apesar das restrições, foi tolerada. As
mudanças ocorridas no cenário internacional a partir de 1947, com o dissolvimento da aliança entre os
Estados Unidos e a União Soviética transformaram a situação, levando ao início da Guerra Fria. Segundo
o presidente americano Harry Truman, as potência mundiais da época estavam divididas em dois
sistemas nitidamente contraditórios: o capitalista e o comunista. E a política externa americana voltou-se
para o combate ao comunismo.

No Brasil, as repercussões da Guerra Fria foram imediatas. No dia 7 de maio de 1947, após uma
batalha judicial, o PCB teve seu registro cassado. Nesse mesmo dia, o Ministério do Trabalho decretou a
intervenção em vários sindicatos e fechou a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil, criada pelo
movimento sindical em setembro de 1946 e não reconhecida oficialmente pelo governo. A exclusão dos
comunistas do sistema político- partidário culminou em janeiro de 1948, com a cassação dos mandatos
de todos os parlamentares que haviam sido eleitos pelo PCB. Sob o impacto da cassação, o PCB lançou
um manifesto pregando a derrubada de imediata do governo Dutra, considerado um governo
"antidemocrático", de "traição nacional" e "a serviço do imperialismo norte- americano".
A política econômica do governo Dutra foi guiada pelo plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte
e Energia), destacando-se nesse programa o incentivo dado à pesquisa, refino e distribuição do petróleo.
Por meio dessas ações de controle, o governo Dutra conseguiu atingir uma média anual de crescimento
econômico de 6%.
Quanto à política externa, a aliança com os Estados Unidos foi reforçada. Em decorrência disso, o
Brasil foi um dos primeiros países ocidentais a romper relações com a União Soviética. Durante a época
da Guerra Fria, o país manteve-se aliado aos norte-americanos. O Brasil tomou parte da fase inicial da
Organização das Nações Unidas (ONU) como membro não permanente, participando da aprovação do
Estado de Israel, em 1947, tendo Oswaldo Aranha como Presidente da Segunda Assembleia Geral da
ONU.
Em nível de integração internacional, a atuação brasileira se fez presente na montagem do Sistema
Interamericano, iniciada no Rio de Janeiro, em 1947, com a Conferência para a Manutenção da Paz e da
Segurança, em que as nações do continente assinaram o Tratado Internamericano de Assistência
Recíproca e, no ano seguinte, na Conferência de Bogotá, com a aprovação da criação da Organização
dos Estados Americanos (OEA). Em 1948, com o intuito de estabelecer um foro de defesa de interesses
econômicos comuns, os países latino-americanos criaram a Comissão Econômica para a América Latina
(CEPAL).
O governo Dutra pregava a não intervenção do Estado na economia e a liberdade de ação para o
capital estrangeiro. Sua política econômica fez crescer a inflação e a dívida externa.
Em um ano de liberação cambial, o presidente esgotou as reservas cambiais.
O liberalismo econômico adotado pelo presidente Dutra, dando facilidade à livre importação de
mercadorias, teve como consequência o esgotamento das divisas do país; mais tarde, o governo teve de
modificar sua posição, restringindo algumas importações.
Em abril de 1950, Dutra sancionou a lei 1.079, também conhecida como Lei do Impeachment.
O período que abrange os anos de 1946 a 1964, é considerado pelos historiadores e cientistas sociais
como a primeira experiência de regime democrático no Brasil. O período de existência da República

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Oligárquica ou República Velha (1889-1930) esteve longe de representar uma experiência
verdadeiramente democrática devido aos incontáveis vícios políticos mascarados por princípios de
legalidade jurídica prescritos nas leis.
Não obstante, o presidente Eurico Gaspar Dutra praticou uma política governamental deliberadamente
autoritária a partir de medidas que desrespeitou flagrantemente a Constituição vigente.
Chegando em 1950, os brasileiros preparavam-se para uma nova eleição para presidente da
República. Mais uma vez, assim como em 1945, o cenário político nacional experimentava a carência de
líderes políticos nacionais. De tal forma, o PSD ofereceu a candidatura do incógnito mineiro Cristiano
Machado e a UDN apostou novamente no brigadeiro Eduardo Gomes. O PTB por sua vez, chegava à
frente lançando o nome de Getúlio Vargas, que venceu com 48% dos votos válidos.

O governo democrático de Getúlio Vargas


Em 1950 Getúlio lança-se à presidência juntamente com Café Filho pelo PTB e PSP (Partido Social
Progressista). Com a fraca concorrência, é eleito presidente do Brasil, assumindo novamente o poder,
agora por vias democráticas, em 31 de janeiro de 1951.
De volta ao Palácio do Catete, Vargas adotou "uma fórmula nova e mais agressiva de nacionalismo
econômico, tanto aos aspectos internos quanto aos externos dos problemas brasileiros. A fórmula do
nacionalismo radical propunha, como o próprio nome já diz, uma mudança radical na estrutura social e
econômica que vigorava, visto que a mesma era considerada exploradora pelos nacionalistas radicais24
Após a década de 30, no primeiro governo de Vargas, o governo começou a investir na “nacionalização
dos bens do subsolo” devido à presença de empresas estrangeiras.
Um dos maiores incentivadores de tal campanha foi um importante escritor brasileiro: Monteiro Lobato.
Ao voltar dos EUA, onde se encantara com a perspectiva de um país próspero para seus habitantes, ele
se tornou um grande articulador da conscientização popular através de palestras, artigos em jornais, livros
sobre o assunto e até cartas ao então presidente, Getúlio Vargas que, em 1939 cria o CNP – Conselho
Nacional de Petróleo – tornando o petróleo um recurso da União.
Mais tarde, no início da década de 50 a esquerda brasileira lança a campanha “O Petróleo é Nosso”
contra a tentativa dos chamados “entreguistas” de propugnar a exploração do petróleo brasileiro por
empresas ou países estrangeiros alegando que o país não possuía recursos nem técnica suficiente para
fazê-lo.
Em resposta, Getúlio Vargas assina a Lei 2.004 de 1953, criando a Petrobras.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e o projeto de criação da Eletrobrás
também fazem parte da política nacionalista, industrialista e estatizante de novo governo de Getúlio.
Desde o início do seu mandato sofreu forte oposição, sem conseguir o apoio que precisava para
realizar reformas. Neste período Vargas entra em constantes atritos com empresas estrangeiras
acusadas de enviar excessivas remessas de lucro ao exterior. Em 1952 um decreto institui um limite de
10% para tais remessas.
Em 1953 João Goulart foi nomeado para o ministério do Trabalho, com o objetivo de criar uma política
trabalhista que aproximasse os trabalhadores do governo, aventando-se a possibilidade do aumento do
salário-mínimo em 100%. A campanha contra o governo voltou-se então contra Goulart. Jango, como era
conhecido, causava profundo descontentamento entre os militares que em 8 de fevereiro de 1954
entregaram um manifesto ao ministério da Guerra (Manifesto dos Coronéis). Getúlio pressionado e
procurando conciliar os ânimos, aceitou demitir João Goulart.
Os ânimos contra Getúlio se acirraram e ele procurou mais do que nunca se amparar nos
trabalhadores, concedendo em 1º de maio de 1954 o aumento de 100% no salário-mínimo. A oposição
no congresso entra com um pedido de impeachment, porém sem sucesso.
Embora Vargas tivesse o apoio político do PTB e do PSD; dos militares nacionalistas; de segmentos
da burguesia e da elite agrária; dos sindicatos e de parte das massas urbanas, seu governo sofreu forte
oposição. No meio político, o foco da oposição era a UDN. Para esse partido, "a indústria e a agricultura
deveriam desenvolver-se livremente, de acordo com as forças do mercado, além de valorizar o capital
estrangeiro, atribuindo-lhe o papel de suprir as dificuldades naturais do País.
Na imprensa, as críticas e acusações a Getúlio foram nucleadas pelo político udenista e proprietário
do jornal Tribuna da Imprensa, Carlos Lacerda.
A imprensa conservadora e particularmente o jornal Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda inicia uma
violenta campanha contra o governo. Em 5 de agosto de 1954, Lacerda sofre um atentado que matou o
major-aviador Rubens Florentino Vaz. O incidente teve amplas repercussões e resultou numa grave crise
política.
24 SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975

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As investigações demonstraram o envolvimento de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de
Getúlio. Fortunato acabou sendo preso.
A pressão da oposição tornou-se mais intensa, no Congresso e nos meio militares, exigia-se a renúncia
de Vargas. Cria-se um clima de tensão que culmina com o tiro que Vargas dá no coração na madrugada
de 24 de agosto de 1954. Antes de suicidar-se escreveu uma Carta-Testamento, na realidade seu
testamento político. Onde diz coisas como: “Contra a justiça da revisão do salário mínimo se
desencadearam os ódios (…) Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja
independente. (…) Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente
dou o primeiro passo no caminho da Eternidade e saio da vida para entrar na História”.

Governo Café Filho (1954-1955)


João Fernandes Campos Café Filho, ou simplesmente Café Filho, como era mais conhecido no meio
político, teve um curto mas agitado governo. Durante os pouco mais de 14 meses em que ocupou a
Presidência da República, Café Filho teve que conciliar os problemas econômicos herdados do governo
anterior com o acirramento político provocado pelo cenário aberto com a morte de Getúlio Vargas. Café
Filho nasceu em Natal (RN), no dia 3 de fevereiro de 1899. Sua primeira experiência política ocorreu em
1923, quando candidatou-se ao cargo de vereador, em Natal. Derrotado, candidatou-se novamente em
1928, quando mais uma vez perdeu a disputa, em meio a denúncias de fraude. Em 1934, já sob o governo
constitucional de Getúlio Vargas, que assumira o poder em 1930, Café Filho foi eleito deputado federal,
cargo que ocupou novamente em 1945, na primeira eleição realizada após o fim do Estado Novo.

A sucessão presidencial
Em 1955, durante a disputa presidencial, o PSD, partido que Vargas fundara uma década antes, lançou
o nome de Juscelino Kubitscheck à Presidência da República. Na disputa para vice-presidente, que na
época ocorria em separado da corrida presidencial, a chapa apresentou o ex-ministro do Trabalho do
governo Vargas, João Goulart, do PTB, sigla pela qual o ex-presidente havia sido eleito em 1950. Setores
mais radicais da UDN, representados pelo jornalista Carlos Lacerda, receosas de que a vitória de
Juscelino Kubitscheck e Jango pudesse significar um retorno da política varguista, passaram a pedir a
impugnação da chapa. Lacerda chegou a declarar, na época, que "esse homem [Juscelino Kubitscheck]
não pode se candidatar; se candidatar não poderá ser eleito; se for eleito não poderá tomar posse; se
tomar posse não poderá governar". A pressão da UDN para que Café Filho impedisse a posse dos novos
eleitos intensificou-se logo após a divulgação dos resultados oficiais, que davam a vitória à chapa PSD-
PTB. De outro lado, entre os militares, também surgiam divergências quanto ao resultado das urnas. A
principal delas ocorreu quando um coronel declarou-se contrário à posse de JK e Jango, numa clara
insubordinação ao ministro da Guerra de Café Filho, marechal Henrique Lott, que havia se posicionado a
favor do resultado.

Carlos Luz
A intenção de Lott em punir o coronel, entretanto, dependia de autorização do presidente da República,
que em meio a tantas pressões foi internado às pressas num hospital do Rio de Janeiro. Afastado das
atividades políticas, Café Filho foi substituído, no dia 08 de novembro de 1955, pelo primeiro nome na
linha de sucessão, Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados. Próximo à UDN, Carlos Luz decidiu
não autorizar o marechal Lott a seguir em frente com a punição, o que provocou sua saída do Ministério
da Guerra. A partir de então, Henrique Lott iniciou uma campanha contra o presidente em exercício, que
terminou na sua deposição, com apenas três dias de governo. Acompanhado de auxiliares civis e
militares, Carlos Luz refugiou-se no prédio da Marinha e, em seguida, partiu para a cidade de Santos, no
litoral paulista. Com a morte de Vargas, a internação de Café Filho e a deposição de Carlos Luz, o próximo
na linha de sucessão seria o vice-presidente o Senado, Nereu Ramos, que assumiu a Presidência da
República e reconduziu Lott ao cargo de ministro da Guerra. Subitamente, Café Filho tentou reassumir o
cargo, mas foi vetado por Henrique Lott e outros generais que o apoiavam. Café Filho era acusado de
conspirar contra a posse de JK e Jango. No dia 22 de novembro, o Congresso Nacional aprovou o
impedimento para que ele reassumisse a Presidência da República. Em seu lugar, permaneceu o senador
Nereu Ramos, que transmitiu, sob Estado de Sítio, o governo ao presidente constitucionalmente eleito:
Juscelino Kubitscheck, o "presidente bossa nova".

Nereu de Oliveira Ramos


Nascido na cidade de Lages, em Santa Catarina, Nereu de Oliveira Ramos era advogado e assumiu a
presidência aos 67 anos. Em virtude do impedimento do Presidente Café Filho e do Presidente da Câmara

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dos Deputados Carlos Luz, o Vice-Presidente do Senado Federal, assumiu a Presidência da República,
de 11/11/1955 a 31/01/1956.

Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961)


Na eleição presidencial de 1955, o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) se aliaram, lançando como candidato Juscelino Kubitschek para presidente e João Goulart para
vice-presidente. A União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Democrata Cristão (PDC) disputaram
o pleito com Juarez Távora. Também concorreram os candidatos Adhemar de Barros e Plínio Salgado.
Juscelino Kubitschek venceu as eleições. O vice-presidente Café Filho havia substituído Getúlio Vargas
na presidência da República. Porém, antes de terminar o mandato, problemas de saúde provocaram o
afastamento de Café Filho. Quem assumiu o cargo foi o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos
Luz.

A ameaça de golpe
Rumores de um suposto golpe, tramado pelo presidente em exercício Carlos Luz, por políticos e
militares pertencentes a UDN contra a posse de Juscelino Kubitschek fizeram com que o ministro da
Guerra, general Henrique Teixeira Lott, mobilizasse tropas militares que ocuparam importantes prédios
públicos, estações de rádio e jornais. O presidente em exercício Carlos Luz foi deposto. Foi empossado
provisoriamente no governo o presidente do Senado, Nereu Ramos, que se encarregou de transmitir os
cargos a Juscelino Kubitschek e João Goulart, a 31 de janeiro de 1956. A intervenção militar assegurou,
portanto, as condições para posse dos eleitos.

O Plano de Metas
O governo de Juscelino Kubitschek entrou para história do país como a gestão presidencial na qual se
registrou o mais expressivo crescimento da economia brasileira. Na área econômica, o lema do governo
foi "Cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo". Para cumprir com esse objetivo, o governo
federal elaborou o Plano de Metas, que previa um acelerado crescimento econômico a partir da expansão
do setor industrial, com investimentos na produção de aço, alumínio, metais não ferroso, cimento, álcalis,
papel e celulose, borracha, construção naval, maquinaria pesada e equipamento elétrico. O Plano de
Metas teve pleno êxito, pois no transcurso da gestão governamental a economia brasileira registrou taxas
de crescimento da produção industrial (principalmente na área de bens de capital) em torno de 80%.

A construção de Brasília
A ideia de estabelecer a capital do Brasil no interior do país nasceu ainda no século XVIII, algumas
décadas após Rio de Janeiro tornar-se o centro administrativo do Brasil, título que até então pertencia a
Salvador. Os inconfidentes mineiros queriam que a capital da república, caso seu plano de separação
funcionasse, fosse a cidade de São João del Rey (MG). Mesmo com a independência do Brasil em 1822,
a capital permaneceu no Rio. Já em meados do século XIX, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagem
reiniciou a luta pela transferência, propondo que uma nova capital fosse construída na região onde hoje
fica a cidade de Planaltina (GO).
Após a Proclamação da República, a ideia de transferir a capital brasileira voltou a ser tema de debate,
principalmente pelos problemas sanitários e as epidemias de Febre Amarela que assolavam o Rio de
Janeiro durante o verão, e pela posição estratégica em caso de guerra, já que o acesso a uma capital no
interior do território brasileiro seria dificultado para os inimigos. Os constituintes de 1891 estabeleceram,
nas Disposições Transitórias, essa determinação que, não tendo sido executada em toda a Velha
República, foi renovada na constituição promulgada em 1934. Igualmente a carta de 1946 conservou
aquele propósito, determinando a nomeação, pelo presidente da República, de uma comissão de técnicos
que visassem estudos localizando, no Planalto Central, uma região onde fosse demarcada a nova capital.
Em maio de 1892, o governo Floriano Peixoto criou a Comissão Exploradora do Planalto Central e
entregou a chefia a Louis Ferdinand Cruls, astrônomo e geógrafo belga radicado no Rio de Janeiro desde
1874. Essa comissão tinha como objetivo, conforme disposto na constituição, proceder à exploração do
planalto central da república e à consequente demarcação da área a ser ocupada pela futura capital.
Diversos problemas, entre eles a questão logística, impediram a construção da nova capital federal,
pois a dificuldade nos transportes e também no acesso ao Planalto Central tornavam a ideia inviável.
Ao assumir a presidência da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, logo após a sua posse, em
Janeiro de 1956, afirmou o seu empenho “de fazer descer do plano dos sonhos a realidade de Brasília”.
Apresentando o projeto ao congresso como um fato consumado, em setembro do mesmo ano, foi
aprovada a lei nº 2.874 que criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (vulgarizada pela sigla
NOVA-CAP). As obras se iniciaram em Fevereiro de 1957, com apenas 3 mil trabalhadores – batizados

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de “candangos”. Aqueles que construíram Brasília, vindos de todos os quadrantes do território nacional,
foram chamados Candangos.
O arquiteto Oscar Niemeyer foi escolhido para a chefia do Departamento de Urbanística e Arquitetura,
recusando-se a traçar os planos urbanísticos de Brasília, insistindo na necessidade de um concurso para
a escolha do plano-piloto. Em Março de 1957, foi escolhida uma comissão do concurso para a escolha
do Plano-piloto
Concorreram 26 projetos, dos quais 16 foram eliminados na seleção prévia. Entre os que ficaram
estavam o de Lúcio Costa, o de Nei Rocha e Silva, e de Henrique Mindlin, o de Paulo Camargo, o de
MMM Roberto e o da firma Construtec.
O projeto aprovado, de autoria de Lúcio Costa, dividiu a opinião dos arquitetos. Para uns, não passava
de um esboço, um rabisco, e sua inscrição não deveria ter sido sequer aceita. Para outros, era
simplesmente brilhante, genial.
A concepção do Plano Piloto nasceu do gesto de quem assinala uma cruz. Um símbolo de conquista,
de quem toma posse de um território. Adaptado à topografia local e ao escoamento das águas, um dos
eixos dessa cruz, o Norte-Sul, seria arqueado e daria ao desenho final a noção de um pássaro – ou, como
diria mais tarde Lucio Costa, a sugestão de uma libélula, uma borboleta, um arco e flecha...
Entre os princípios básicos do projeto estão a setorização urbana por atividades determinadas e uma
técnica rodoviária que elimina cruzamentos. A cidade gira em torno de dois grandes troncos de circulação,
o Eixo Monumental, que vai de Leste a Oeste, e o Eixo Rodoviário-Residencial, que vai de Norte a Sul e
é cortado transversalmente pelas vias locais.
Com exceção da área central, onde prevalecem edifícios mais altos e mais aglomerados, o Plano Piloto
se caracteriza pela paisagem horizontalizada, pela predominância de espaços livres e pela grande
amplitude visual.
Em 21 de abril de 1960 uma festa na Praça dos Três Poderes marcou a inauguração oficial da nova
capital. Mas, pelo menos no início, a imagem de modernidade que Brasília pretendia passar não
funcionou. No dia seguinte à inauguração, o presidente do Senado, Filinto Müller, aprovou um recesso de
30 dias, alegando falta de condições de trabalho e de moradia na cidade que ainda era um canteiro de
obras.

Desenvolvimento e dependência externa


A prioridade dada pelo governo ao crescimento e desenvolvimento econômico do país recebeu apoio
de importantes setores da sociedade, incluindo os militares, os empresários e sindicatos trabalhistas. O
acelerado processo de industrialização registrado no período, porém, não deixou de acarretar uma série
de problemas de longo prazo para a econômica brasileira. O governo realizava investimentos no setor
industrial a partir da emissão monetária e da abertura da economia ao capital estrangeiro. A emissão
monetária (ou emissão de papel moeda) ocasionou um agravamento do processo inflacionário, enquanto
que a abertura da economia ao capital estrangeiro gerou uma progressiva desnacionalização econômica,
porque as empresas estrangeiras (as chamadas multinacionais) passaram a controlar setores industriais
estratégicos da economia nacional. O controle estrangeiro sobre a economia brasileira era preponderante
nas indústrias automobilísticas, de cigarros, farmacêutica e mecânica. Em pouco tempo, as multinacionais
começaram a remeter grandes remessas de lucros (muitas vezes superiores aos investimentos por elas
realizados) para seus países de origem. Esse tipo de procedimento era ilegal, mas as multinacionais
burlavam as próprias leis locais. Portanto, se por um lado o Plano de Metas alcançou os resultados
esperados, por outro, foi responsável pela consolidação de um capitalismo extremamente dependente
que sofreu muitas críticas e acirrou o debate em torno da política desenvolvimentista.

Denúncias da oposição
A gestão de Juscelino Kubitschek, popularmente chamado de JK, em particular a construção da cidade
de Brasília, não esteve a salvo de críticas dos setores oposicionistas. No Congresso Nacional, a oposição
política ao governo de JK vinha da União Democrática Nacional (UDN). A oposição ganhou maior força
no momento em que as crescentes dificuldades financeiras e inflacionárias (decorrentes principalmente
dos gastos com a construção de Brasília) fragilizaram o governo federal. A UDN fazia um tipo de oposição
ao governo baseada na denúncia de escândalos de corrupção e uso indevido do dinheiro público. A
construção de Brasília foi o principal alvo das críticas da oposição. No entanto, a ação de setores
oposicionistas não prejudicou seriamente a estabilidade governamental na gestão de JK.

Governabilidade e sucessão presidencial


Em comparação com os governos democráticos que antecederam e sucederam a gestão de JK na
presidência da República, o mandato presidencial de Juscelino apresenta o melhor desempenho no que

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se refere à estabilidade política. A aliança entre o PSD e o PTB garantiu ao Executivo Federal uma base
parlamentar de sustentação e apoio político que explica os êxitos da aprovação de programas e projetos
governamentais. O PSD era a força dominante no Congresso Nacional, pois possuía o maior número de
parlamentares e o maior número de ministros no governo. O PSD era considerado um partido
conservador, porque representava interesses de setores agrários (latifundiários), da burocracia estatal e
da burguesia comercial e industrial. O PTB, ao contrário, reunia lideranças sindicais representantes dos
trabalhadores urbanos mais organizados e setores da burguesia industrial. O êxito da aliança entre os
dois partidos deu-se ao fato de que ambos evitaram radicalizar suas respectivas posições políticas, ou
seja, conservadorismo e reformismo radicais foram abandonados. Na sucessão presidencial de 1960, o
quadro eleitoral apresentou a seguinte configuração: a UDN lançou Jânio Quadros como candidato; o
PTB com o apoio do PSB apresentou como candidato o marechal Henrique Teixeira Lott; e o PSP
concorreu com Adhemar de Barros. A vitória coube a Jânio Quadros, que obteve expressiva votação.
Naquela época, as eleições para presidente e vice-presidente ocorriam separadamente, ou seja, as
candidaturas eram independentes. Assim, o candidato da UDN a vice-presidente era Milton Campos, mas
quem venceu foi o candidato do PTB, João Goulart. Desse modo, João Goulart iniciou seu segundo
mandato como vice-presidente.

Governo Jânio Quadros (1961)


Na eleição presidencial de 1960, a vitória coube a Jânio Quadros. Naquela época, as regras eleitorais
estabeleciam chapas independentes para a candidatura a vice-presidente, por esse motivo, João Goulart,
do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foi reeleito. A gestão de Jânio Quadros na presidência da
República foi breve, duraram sete meses e encerrou-se com a renúncia. Neste curto período, Jânio
Quadros praticou uma política econômica e uma política externa que desagradou profundamente os
políticos que o apoiavam, setores das Forças Armadas e outros segmentos sociais. A renúncia de Jânio
Quadros desencadeou uma crise institucional sem precedentes na história republicana do país, porque a
posse do vice-presidente João Goulart não foi aceita pelos ministros militares e pelas classes dominantes.

A crise política
O governo de Jânio Quadros perdeu sua base de apoio político e social a partir do momento em que
adotou uma política econômica austera e uma política externa independente. Na área econômica, o
governo se deparou com uma crise financeira aguda devido a intensa inflação, déficit da balança
comercial e crescimento da dívida externa. O governo adotou medidas drásticas, restringindo o crédito,
congelando os salários e incentivando as exportações. Mas foi na área da política externa que o
presidente Jânio Quadros acirrou os ânimos da oposição ao seu governo. Jânio nomeou para o ministério
das Relações Exteriores Afonso Arinos, que se encarregou de alterar radicalmente os rumos da política
externa brasileira. O Brasil começou a se aproximar dos países socialistas. O governo brasileiro
restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética (URSS). As atitudes menores também tiveram
grande impacto, como as condecorações oferecidas pessoalmente por Jânio ao guerrilheiro
revolucionário Ernesto "Che" Guevara (condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul) e ao cosmonauta
soviético Yuri Gagarin, além da vinda ao Brasil do ditador cubano Fidel Castro.

Independência e isolamento
De acordo com estudiosos do período, o presidente Jânio Quadros esperava que a política externa de
seu governo se traduzisse na ampliação do mercado consumidor externo dos produtos brasileiros, por
meio de acordos diplomáticos e comerciais. Porém, a condução da política externa independente
desagradou o governo norte-americano e, internamente, recebeu pesadas críticas do partido a que Jânio
estava vinculado, a UDN, sofrendo também uma forte oposição das elites conservadoras e dos militares.
Ao completar sete meses de mandato presidencial, o governo de Jânio Quadros ficou isolado política e
socialmente. Jânio Quadros renunciou a 25 de agosto de 1961.

Política teatral
Especula-se que a renúncia foi mais um dos atos espetaculares característicos do estilo de Jânio. Com
ela, o presidente pretenderia causar uma grande comoção popular, e o Congresso seria forçado a pedir
seu retorno ao governo, o que lhe daria grandes poderes sobre o Legislativo. Não foi o que aconteceu,
porém. A renúncia foi aceita e a população se manteve indiferente. Vale lembrar que as atitudes teatrais
eram usadas politicamente por Jânio antes mesmo de chegar à presidência. Em comícios, ele jogava pó
sobre os ombros para simular caspa, de modo a parecer um "homem do povo". Também tirava do bolso
sanduíches de mortadela e os comia em público. No poder, proibiu as brigas de galo e o uso de lança-

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perfume, criando polêmicas com questões menores, que o mantinham sempre em evidência, como um
presidente preocupado com o dia-a-dia do brasileiro.

Governo João Goulart (1961-1964)


Com a renúncia de Jânio Quadros, a presidência caberia ao vice João Goulart, popularmente
conhecido como Jango. No momento da renúncia de Jânio Quadros, Jango se encontrava na Ásia, em
visita a República Popular da China. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu
o governo provisoriamente. Porém, os grupos de oposição mais conservadores representantes das elites
dominantes e de setores das Forças Armadas não aceitaram que Jango tomasse posse, sob a alegação
de que ele tinha tendências políticas esquerdistas. Não obstante, setores sociais e políticos que apoiavam
Jango iniciaram um movimento de resistência.

Campanha da legalidade e posse


O governador do estado do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, destacou-se como principal líder da
resistência ao promover a campanha legalista pela posse de Jango. O movimento de resistência, que se
iniciou no Rio Grande do Sul e irradiou-se para outras regiões do país, dividiu as Forças Armadas
impedindo uma ação militar conjunta contra os legalistas. No Congresso Nacional, os líderes políticos
negociaram uma saída para a crise institucional.
A solução encontrada foi o estabelecimento do regime parlamentarista de governo que vigorou por
dois anos (1961-1962) reduzindo enormemente os poderes constitucionais de Jango. Com essa medida,
os três ministros militares aceitaram, enfim, o retorno e posse de Jango. Em 5 de setembro Jango retorna
ao Brasil, e é empossado em 7 de setembro.

O retorno ao presidencialismo
Em janeiro de 1963, Jango convocou um plebiscito para decidir sobre a manutenção ou não do sistema
parlamentarista. Cerca de 80 por cento dos eleitores votaram pelo restabelecimento do sistema
presidencialista. A partir de então, Jango passou a governar o país como presidente, e com todos os
poderes constitucionais a sua disposição. Porém, no breve período em que governou o país sob regime
presidencialista, os conflitos políticos e as tensões sociais se tornaram tão graves que o mandato de
Jango foi interrompido pelo Golpe Militar de março de 1964. Desde o início de seu mandato, Jango não
dispunha de base de apoio parlamentar para aprovar com facilidade seus projetos políticos, econômicos
e sociais, por esse motivo a estabilidade governamental foi comprometida. Como saída para resolver os
frequentes impasses surgidos pela ausência de apoio político no Congresso Nacional, Jango adotou uma
estratégia típica do período populista, recorreu a permanente mobilização das classes populares a fim de
obter apoio social ao seu governo. Foi uma forma precária de assegurar a governabilidade, pois limitava
ou impedia a adoção por parte do governo de medidas antipopulares, ao mesmo tempo em que seria
necessário o atendimento das demandas dos grupos sociais que o apoiavam. Um episódio que ilustra de
forma notável esse tipo de estratégia política ocorreu quando o governo criou uma lei implantando o 13º
salário. O Congresso não a aprovou. Em seguida, líderes sindicais ligados ao governo mobilizaram os
trabalhadores que entraram em greve e pressionaram os parlamentares a aprovarem a lei.

As contradições da política econômica


As dificuldades de Jango na área da governabilidade se tornaram mais graves após o restabelecimento
do regime presidencialista. A busca de apoio social junto às classes populares levou o governo a se
aproximar do movimento sindical e dos setores que representavam as correntes e idéias nacional-
reformistas. Por esta perspectiva é possível entender as contradições na condução da política econômica
do governo. Durante a fase parlamentarista, o Ministério do Planejamento e da Coordenação Econômica
foi ocupado por Celso Furtado, que elaborou o chamado Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e
Social. O objetivo do Plano Trienal era combater a inflação a partir de uma política de estabilização que
demandava, entre outras coisas, a contenção salarial e o controle do déficit público. Em 1963, o governo
abandonou o programa de austeridade econômica, concedendo reajustes salariais para o funcionalismo
público e aumentando o salário mínimo acima da taxa pré-fixada. Ao mesmo tempo, Jango tentava obter
o apoio de setores da direita realizando sucessivas reformas ministeriais e oferecendo os cargos a
pessoas com influência e respaldo junto ao empresariado nacional e os investidores estrangeiros.

Polarização direita-esquerda
Ao longo do ano de 1963, o país foi palco de agitações sociais que polarizaram as correntes de
pensamento de direita e esquerda em torno da condução da política governamental. Em 1964 a situação
de instabilidade política agravou-se. O descontentamento do empresariado nacional e das classes

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dominantes como um todo se acentuou. Por outro lado, os movimentos sindicais e populares
pressionavam para que o governo programasse reformas sociais e econômicas que os beneficiassem.
Atos públicos e manifestações de apoio e oposição ao governo eclodem por todo o país. Em 13 de março,
ocorreu o comício da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que reuniu 300
mil trabalhadores em apoio a Jango. Uma semana depois, as elites rurais, a burguesia industrial e setores
conservadores da Igreja realizaram a “Marcha da Família com Deus e pela Liberdade”, considerada o
ápice do movimento de oposição ao governo. As Forças Armadas também foram influenciadas pela
polarização ideológica vivenciada pela sociedade brasileira naquela conjuntura política, ocasionando
rompimento da hierarquia devido à sublevação de setores subalternos. Os estudiosos do tema assinalam
que, a quebra de hierarquia dentro das Forças Armadas foi o principal fator que ocasionou o afastamento
dos militares legalistas que deixaram de apoiar o governo de Jango, facilitando o movimento golpista.

Questões

01. (TRT-MG – Analista – FCC) O Ministro do Trabalho João Goulart provocou grande turbulência
política em 1954 ao
(A)ser nomeado para esse cargo à revelia da vontade de Vargas, uma vez que era o principal líder do
Partido Trabalhista, que nele via possibilidade de reverter o clima político desfavorável em razão da
oposição exercida pela União Democrática Nacional.
(B)propor um aumento de 100% no valor do salário mínimo, proposta que causou a indignação de
setores do Exército insatisfeitos com sua situação e incomodados com o fato de que o salário de um
operário, caso recebesse o aumento em questão, se aproximaria do salário de um oficial.
(C)comunicar o suicídio de Getúlio Vargas e ler, no rádio, sua carta-testamento, alegando que uma
conspiração política antivarguista havia influenciado a população que agora culpava a ele e ao ex-
presidente pela alta inflacionária e pela crise econômica em curso.
(D)renunciar a esse cargo diante da reação agressiva do empresariado e das Forças Armadas às
suas medidas trabalhistas, atitude que despertou o apoio da população a Jango e o clamor por sua
permanência no cargo, fenômeno apelidado de “queremismo”.
(E)atender às pressões dos sindicatos e propor amplas reformas de base, insubordinando-se à
autoridade de Getúlio Vargas por considerar que seu governo não estava tomando medidas
suficientemente favoráveis aos trabalhadores.

02. (SEDUC-PI – Professor-História – NUCEPE)


“Bossa nova mesmo é ser presidente
Desta terra descoberta por Cabral
Para tanto basta ser tão simplesmente
Simpático, risonho, original".
(Juca Chaves. Presidente Bossa Nova. RGE, 1957).
Considerando o período apresentado na composição, e o governo de Juscelino Kubitschek (1956-
1961), podemos afirmar CORRETAMENTE:
(A)Com seu Plano de Metas, o governo de Juscelino propunha romper com a política econômica do
governo Vargas, investindo com capitais nacionais nas áreas prioritárias para o governo, como energia,
transporte, indústria e distribuição de renda.
(B)Como efeito da euforia e do crescimento econômico, o governo de Juscelino conseguiu reduzir
drasticamente as disparidades econômicas e sociais do país, permitindo uma tranquilidade social que
perdurou até vésperas do Golpe Civil-Militar.
(C)Apoiado em capitais externos, Juscelino pôde ampliar a base monetária do país e assim custear
investimentos produtivos que permitiram o controle do déficit do orçamento público e a redução da
inflação.
(D)Seu governo coincidiu com um período de forte otimismo, apoiado em uma visão de modernidade
industrializante, o que fez o presidente prometer 50 anos de desenvolvimento em 5 anos de mandato.
(E) Apesar de sua política populista, Juscelino agia de forma autoritária em sua forma de governar,
condição que pode ser exemplificada com o episódio em que puniu o ministro da Guerra, o general
Teixeira Lott, por ter contrariado um de seus aliados políticos, o coronel Jurandir Mamede, subordinado
do general.

03. (IF-AL – Professor – CEFET) O Governo João Goulart (1961/1964) foi marcado pela interrupção
e conseguinte instalação da ditadura militar no país. O governo Goulart, na prática, ficou caracterizado
em função das suas ações políticas, como um governo:

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(A) Autoritário, com uma linha ideológica próxima ao socialismo chinês.
(B)Democrático, sendo apoiado durante todo seu curto período pelos partidos de esquerda, inclusive o
partido comunista.
(C)Conturbado, em que foi implantado o parlamentarismo, fato este, que não foi suficiente para
amenizar as crises políticas do período.
(D) Democrático, sendo apoiado incondicionalmente pelas forças armadas.
(E) Autor das reformas de base, sendo estas apoiadas por setores da chamada classe média, dos
trabalhadores e do empresariado mais progressista. Obteve, assim, êxito na proposta de modernizar o
país.

Respostas

1. Resposta: B
No início de 1954, Jango propôs um projeto de aumento do salário mínimo de 100%. Segundo ele,
devido à elevação do custo de vida, a questão salarial continuava explosiva e, para enfrentá-la, era
necessário elevar o salário mínimo de 1.200 para 2.400 cruzeiros. A reação contrária foi tamanha que
Jango acabou sendo exonerado do cargo em 22 de fevereiro do mesmo ano.

2. Resposta: D
O marco da proposta de campanha de JK foi o “Plano de Metas”, com previsões esperançosas para
acelerar o crescimento econômico através da indústria, produção do aço, alumínio, cimento, álcalis e
outros metais. Com a abertura do mercado estrangeiro a ampliação e investimentos na indústria se
tornariam ainda mais fáceis. O plano consistia de 31 metas, sendo a última, a construção de Brasília,
chamada de Meta Síntese.

3. Resposta: C
Além implantação de um sistema parlamentar que não rendeu resultados, a aproximação de Jango a
figuras ligadas ao bloco comunista, como o revolucionário Che Guevara e o cosmonauta Yuri Gagarin
foram motivo de duras críticas da oposição.

O Regime Militar
Em 1º de abril de 1964 foi dado o golpe militar pelo exército. Contou com apoio de vários setores
sociais como o alto clero da Igreja Católica, ruralistas e grandes empresários urbanos. Devido a este
apoio este período atualmente é chamado de Ditadura Civil-Militar
(Ditadura militar com apoio civil). O argumento para o golpe foi afastar o “risco comunista”. Entre
1946 e 1964 o Brasil viveu um período democrático e muito rico culturalmente. Neste momento os
movimentos sociais e estudantis atuaram com bastante intensidade. Havia um movimento que lutava pela
reforma agrária (como o MST) chamado de “ligas camponesas”, a UNE (união nacional de estudantes),
teatros populares e sindicatos de várias categorias de trabalhadores. Muitas manifestações populares e
greves estavam ocorrendo naquele momento, sobretudo no início da década de 60. Nas eleições de 1959
foi eleito para presidente da república Jânio Quadros e como vice João Goulart (eram de partidos opostos
Goulart era PTB, partido de Vargas e Jânio era apoiado pela UDN. Jânio Quadros após pouco mais de
seis meses de mandato renunciou à presidência. O vice João Goulart estava em visita diplomática à
China. O congresso (deputados federais e senadores) brasileiro quis impedir a posse de João Goulart por
considerá-lo esquerdista comunista. Para tanto, enquanto ainda Jango estava no exterior o regime de
governo foi mudado de presidencialismo para parlamentarismo. Quando Jango retorna toma posse como
presidente, mas com poderes limitados.
No presidencialismo o presidente é ao mesmo tempo chefe de governo (quem governa realmente) e
chefe de Estado (representação diplomática)
No parlamentarismo o presidente é chefe de Estado (representação diplomática) e o chefe de governo
é o primeiro ministro (escolhido entre os deputados)
Jango passou seu governo tentando retomar o poder conseguiu um plebiscito para 1963 para a
população optar pelo presidencialismo ou pelo parlamentarismo. O presidencialismo ganhou e Goulart
tenta a reeleição. Realizou alguns comícios em que anunciou as reformas de base: A reforma agrária
(redistribuição das terras improdutivas), tributária (reordenamento dos impostos) , política (mudanças na
lei eleitoral). Essas reformas eram consideradas muito esquerdistas e radicais para a época, o que
reforçava a imagem de comunista de Jango. Além disso, como a crise econômica e uma pesada inflação
estava rolando à anos, as greves se espalharam. Espalharam-se manifestações de apoio ao presidente
e de repúdio a ele, como a “marcha por Deus, pela Família e pela Liberdade”

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Diante deste contexto de fortes agitações sociais que o exército dá o golpe sob o argumento de afastar
o risco comunista que rondava os pais.
Quando inicia o governo militar realizam uma grande perseguição política aos líderes de esquerda,
que são presos na calada da noite. Os deputados e políticos em geral que tinham mandatos de partidos
de esquerda foram cassados (expulsos). Para tanto foi criado o SNI (serviço nacional de informação). Era
o serviço secreto do Exército e havia agente em todos os lugares como jornais, sindicatos, escolas ...
Bastava o agente do SNI apontar um suspeito para ele ser preso. Apesar das cassações de mandato o
congresso nacional foi mantido. Os militares passaram a governar através de Atos institucionais. Mesmo
após a constituição de 67, que institucionalizava o regime os militares continuaram governando através
de atos institucionais.

AI- 1: Ampliação dos poderes do presidente, eleição indireta e a cassação de parlamentares de


esquerda. (O início da instalação da Ditadura. Perseguem lideranças de oposição (lideres camponeses,
estudantis, sindicais, partidários e intelectuais) e são cassados mandados políticos e cargos públicos.
AI- 2: Instituiu bipartidarismo. Só podiam existir a ARENA e o MDB. Consolida as eleições indiretas.
Os voto dos congressistas para a presidência era aberto e declarado dito no microfone na assembleia.
Além disso, toda a oposição já teve seus mandatos cassados. Não havia oposição de fato. O congresso
aprovava tudo o que os presidentes militares mandavam.
AI- 3: Estabelecia eleições indiretas para governadores de estado. Votavam os deputados estaduais
por voto aberto e declarado.
AI- 4: convocação urgente da assembleia para a aprovação da constituição de 67
AI- 5: Concede poder excepcional ao presidente que pode cassar mandatos e cargos fechar o
congresso, estabelecer estado de sítio. Eliminou as garantias individuais.

Os presidentes eram escolhidos pelos próprios militares em colégio eleitoral, assim como os
governadores de estado e prefeitos de cidades com mais de 300 mil habitantes. O voto da população em
nível federal limita-se aos deputados e senadores que eram ou da ARENA (partido do sim) ou do MDB
(partido do sim senhor). Não havia oposição real e concreta no congresso. Somente a permitida pelos
militares.

Foram presidentes militares:


Castelo Branco (64-67)
Costa e Silva (67-69)
Garrastazu Médici (69-74)
Ernesto Geisel (74-79)
Figueiredo (79-85)

A ditadura entre 1964 e 1967 durante o governo do Marechal Castelo Brancos foi um período mais
brando dentro do contexto do regime. Os partidos foram extintos (ficou o bipartidarismo) e a censura
ocorria, mas ainda que pequeno, havia um espaço para os trabalhadores e estudantes se manifestares,
sobretudo os artistas. As manifestações proliferaram. Ocorreram grandes greves operárias em Contagem
(MG) e São Paulo. O último ato de Castelo Branco foi a imposição de LSN (lei de segurança nacional),
que estabelecia que certas ações de oposição ao regime seriam consideradas “atentatórias” à segurança
nacional e punidas com rigor. Após enfrentamentos entre os estudantes e militares em que ocorreram
mortes de jovens, contra a repressão ocorreu a passeata dos 100 mil. Em dezembro de 1968, sob o
governo do Marechal Costa e Silva foi instituído o AI-5 o mais duro e repressor dos atos institucionais
acabava com as garantias civis (de ser preso após julgamento por exemplo), enrijecia a censura e a
perseguição. Concedia uma autoridade excepcional para o poder executivo. O Presidente poderia fechar
o congresso nacional e cassar mandatos parlamentares, aposentar intelectuais, demitir juízes, suspender
garantias do judiciário e declarar estado de sítio.
Alguns grupos políticos contra a ditadura passaram à atuar na clandestinidade. Alguns deles, devido
ao AI-5 optaram por partir para a revolta armada. Surgiram focos de guerrilha urbana (principalmente são
Paulo) e guerrilha rural (na região do rio Araguaia). A guerrilha nunca representou um grande problema
de verdade pois eram pequenos e poucos grupos, mas forneceu o argumento que a ditadura precisava
para manter e aumentar a repressão, pois tínhamos inclusive um inimigo interno comunista. O risco não
havia passado (lembra-se que o pretexto do golpe era afastar o risco comunista?).

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Milagre econômico e repressão
Durante o Governo do General Médici o país viveu a maior onda de repressões e torturas da ditadura.
O AI-5 era aplicado com toda a força e a censura era plena. Ao mesmo tempo o pais vivia um período de
propaganda ufanista (nacionalismo de enaltecimento do Brasil) e experimentava um grande crescimento
econômico e urbano em razão do “milagre econômico”. Foram contraídos empréstimos e concedidos
créditos ao consumido, mas ao mesmo temo os salários foram congelados. Esta política nos primeiros
anos de aplicação gerou um enorme consumo e consequentemente gerou empregos (cada vez menos
remunerados). Ao final da década de setenta o pais amargava uma grande inflação, salários cada vez
mais defasados e um aumento da desigualdade social. O período Médici foi o qual viveu maior
propaganda ufanista crescimento econômico conciliada com a maior repressão do período.

Movimentos de resistência

O movimento estudantil
Entre os grupos que mais protestavam contra o governo de João Goulart para a implementação de
reformas sociais estavam os estudantes, mobilizados pela União Nacional dos Estudantes e União
Brasileira dos Estudantes secundaristas. Quando os militares chegaram ao poder em 1964, os estudantes
eram um dos setores mais identificados com a esquerda, comunista, subversiva e desordeira; uma das
formas de desqualificar o movimento estudantil era chamá-lo de baderna, como se seus agentes não
passassem de jovens irresponsáveis, e isso se justificava para a intensa perseguição que se estabeleceu.
Em novembro de 64, Castelo Branco aprovou uma lei, conhecida como lei "Suplicy de Lacerda", nome
do ministro da Educação, reorganizando as entidades e proibindo-as de desenvolverem atividades
políticas.
Os estudantes reagiram, boicotando as novas entidades oficiais e realizando passeatas cada vez mais
frequentes. Ao mesmo tempo, o movimento estudantil procurou assegurar a existência das suas
entidades legítimas, agora na clandestinidade.
Em 1968 o movimento estudantil cresceu em resposta, não só a repressão, mas também em virtude
da política educacional do governo, que já revelava a tendência que iria se acentuar cada vez mais, no
sentido da privatização da educação, cujos efeitos são sentidos até hoje.
A política de privatização tinha dois sentidos: um era o estabelecimento do ensino pago (principalmente
no nível superior) e outro, o direcionamento da formação educacional dos jovens para o atendimento das
necessidades econômicas das empresas capitalistas (mão-de-obra e técnicos especializados). Estas
diretrizes correspondiam à forte influência norte-americana exercida através de técnicos da Usaid
(agência americana que destinava verbas e auxílio técnico para projetos de desenvolvimento
educacional) que atuavam junto ao MEC por solicitação do governo brasileiro, gerando uma série de
acordos que deveriam orientar a política educacional brasileira.
As manifestações estudantis foram os mais expressivos meios de denúncia e reação contra a
subordinação brasileira aos objetivos e diretrizes do capitalismo norte-americano. O movimento estudantil
não parava de crescer, e com ele a repressão. No dia 28 de março de 1968 uma manifestação contra a
má qualidade do ensino, realizada no restaurante estudantil Calabouço, no Rio de Janeiro, foi
violentamente reprimida pela polícia, resultando na morte do estudante Edson Luís Lima Souto.
A reação estudantil foi imediata: no dia seguinte, o enterro do jovem estudante transformou-se em um
dos maiores atos públicos contra a repressão; missas de sétimo dia foram celebradas em quase todas as
capitais do país, seguidas de passeatas que reuniram milhares de pessoas.
Em outubro do mesmo ano, a UNE (na ilegalidade) convocou um congresso para a pequena cidade
de Ibiúna, no interior de São Paulo. A polícia descobriu a reunião, invadiu o local e prendeu os estudantes.

Movimentos sindicais
As greves foram reprimidas duramente durante a ditadura. Os últimos movimentos operários ocorreram
em 1968, em Osasco e Contagem, sendo reavivadas somente no fim da década de 1970, com a greve
de 1.600 trabalhadores, no ABC paulista em 12 de maio de 1978, que marcou a volta do movimento
operário à cena política.
Em junho do mesmo ano, o movimento espalhou-se por São Paulo, Osasco e Campinas. Até 27 de
julho registraram-se 166 acordos entre empresas e sindicatos, beneficiando cerca de 280 mil
trabalhadores. Nessas negociações, tornou-se conhecido em todo o país o presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luís Inácio da Silva.
No dia 29 de outubro de 1979 os metalúrgicos de São Paulo e Guarulhos interromperam o trabalho.
No dia seguinte o operário Santos Dias da Silva acabou morrendo em confronto com a polícia, durante

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um piquete na frente uma fábrica no bairro paulistano de Santo Amaro. As greves se espalharam por todo
o país.
Em consequência de uma greve realizada no dia 1º de Abril de 1980 pelos metalúrgicos do ABC
paulista e de mais 15 cidades do interior de São Paulo, no dia 17 de Abril, o ministro do Trabalho, Murillo
Macedo, determinou a intervenção nos sindicatos de São Bernardo do Campo e Santo André, prendendo
13 líderes sindicais dois dias depois. A organização da greve mobilizou estudantes e membros da Igreja.

Ligas Camponesas
O movimento de resistência esteve presente também no campo. Além da sindicalização, formaram-se
Ligas Camponesas que, sobretudo no Nordeste, sob a liderança do advogado Franscisco Julião, foram
importantes instrumentos de organização e de atuação dos camponeses. Em 15 de maio de 1984 cerca
de 5 mil cortadores de cana e colhedores de laranja do interior paulista entraram em greve por melhores
salários e condições de trabalho. No dia seguinte invadiram as cidades de Guariba e Bebedouro. Um
canavial foi incendiado. O movimento foi reprimido por 300 soldados. Greves de trabalhadores se
espalharam por várias regiões do país, principalmente no Nordeste.

A luta armada
Militantes da Esquerda resolveram resistir ao regime militar através da luta armada, com a intenção de
iniciar um processo revolucionário. Entre os grupos mais notórios estão:
Ação Libertadora Nacional (ALN), em que se destaca Carlos Marighella, ex-deputado e ex-membro
do Partido Comunista Brasileiro, morto numa emboscada em 1969;
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que era comandada pelo ex-capitão do Exército Carlos
Lamarca, morto na Bahia, em 17 de setembro de 1971. Em 1969 funde-se com o Comando de
Libertação Nacional (COLINA), e muda o nome para Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
(VAR-Palmares), que teve participação também da atual presidente Dilma Rousseff;
A Ação Popular, que teve origem em 1962 a partir de grupos católicos, especialmente influentes no
movimento estudantil;
Partido Comunista do Brasil (PC do B), que surge de um conflito interno dentro do PCB.

Um dos principais feitos da ALN, em conjunto ao Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8), foi
o sequestro do embaixador estadunidense Charles Ewbrick, em 1969. Em nenhum lugar do mundo um
embaixador dos EUA havia sido sequestrado. Essa façanha possibilitou aos guerrilheiros negociar a
libertação de quinze prisioneiros políticos. Outro embaixador sequestrado foi o alemão-ocidental Ehrefried
Von Hollebem, que resultou na soltura de quarenta presos.
A luta armada intensificou o argumento de aumento da repressão. As torturas aumentaram e a
perseguição aos opositores também. Carlos Marighella foi morto por forças policiais na cidade de São
Paulo. As informações sobre seu paradeiro foram conseguidas também através de torturas.
O VPR realizou ações no Vale do Ribeira, em São Paulo, mas teve que enfrentar a perseguição militar
na região. Lamarca conseguiu fugir para o Nordeste, mas acabou morto na Bahia, em 1971.
O último foco de resistência a ser desmantelado foi a Guerrilha do Araguaia. Desde 1967, militantes
do PCdoB (Partido Comunista do Brasil) dirigiram-se para região do Bico do Papagaio, entre os rios
Araguaia e Tocantins, onde passaram a travar contato com os camponeses da região, ensinando a eles
cuidados médicos e auxiliando-os na lavoura.
As Forças Armadas passaram a perseguir os guerrilheiros do Araguaia em 1972, quando descobriu a
ação do grupo. O desmantelamento ocorreria apenas em 1975, quando uma força especial de
paraquedistas foi enviada à região, acabando com a Guerrilha do Araguaia.
No Brasil, as ações guerrilheiras não conseguiram um amplo apoio da população, levando os grupos
a se isolarem, facilitando a ação repressiva. Após 1975, as guerrilhas praticamente desapareceram, e os
corpos dos guerrilheiros do Araguaia também. À época, a ditadura civil-militar proibiu a divulgação de
informações sobre a guerrilha, e até o início da década de 2010 o exército não havia divulgado informação
sobre o paradeiro dos corpos.
Situação Econômica Pós 1964, Redemocratização do País e Diretas Já.
O General Geisel assume em 74. Foi o militar que deu início à abertura política, assinalando o fim da
ditadura. O fim do regime foi articulado pelos próprios militares que planejarem uma abertura “lenta,
segura e gradual”. Nas eleições parlamentares de 74 os militares imaginaram que teriam a vitória da
ARENA, mas o MDB teve esmagadora vitória. Em razão deste acontecimento a ditadura lança a lei falcão
e o pacote de abril. A lei falcão acabava com a propaganda eleitoral. Todos os candidatos apareceriam
o mesmo tempo na TV, segurando seu número enquanto uma voz narrava brevemente seu currículo.
Apesar de uma oposição consentida o MDB estava incomodando e o pacote de abril serviu para

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garantir supremacia da ARENA. A constituição poderia ser mudada somente por 50% dos votos
(garante a vitória da ARENA). Um terço dos senadores seria “senador biônico”, ou seja, indicado pela
assembleia (sempre senadores da ARENA) e alterou o coeficiente eleitoral de forma que a região
nordeste (que ainda ocorria claramente o voto de “cabresto” e os eleitores votavam em peso na ARENA)
tivesse um maior número de deputados. Geisel pôs fim ao AI-5 em 1978.
Em 1979 assumiu a presidência o General Figueiredo, sob uma forte crise econômica resultado da
política econômica do milagre brasileiro. Em 79 foi aprovada a lei da anistia (perdão de crimes
políticos), que de acordo com o governo militar era uma anistia “ampla, geral e irrestrita”. O que isso
queria dizer? Que todos os crimes cometidos na ditadura seriam perdoados, tanto o “crime” dos militantes
políticos, estudantes, intelectuais e artistas que se encontravam exilados (fora do pais por motivos de
perseguição política), e puderam voltar ao Brasil, como os torturadores do regime também foram.
Em 1979 são liberadas para a próxima eleição de 1982 a voto direto aos governadores. Também foi
aprovada a “lei orgânica dos partidos” que punha fim ao bipartidarismo e foram fundados novos 5
partidos:

PDS (Partido democrático social)


PMDB (Partido do movimento democrático brasileiro)
PTB (Partido trabalhista brasileiro)
PDT (Partido trabalhista brasileiro)
PT (partido dos trabalhadores)
Obs.: A lei eleitoral obrigava a votar somente em candidatos do mesmo partido, de vereador à
governador. A oposição ao regime, na eleição para governador de 1982, obteve vitória esmagadora.
Em 1984 o deputado do PMDB Dante de Oliveira propôs uma emenda constitucional que restabelecia
as eleições diretas para presidente. A partir da emenda Dante de Oliveira tem início o maior movimento
popular pela redemocratização do pais, as Diretas Já que pediam eleições diretas para presidente no
próximo ano. Infelizmente a emenda não foi aprovada. Em 1985 ocorreram eleições indiretas e formaram-
se chapas para concorrer à presidência. Através das eleições indiretas ganhou a chapa do PMDB em que
o presidente eleito foi Tancredo Neves e seu vice José Sarney. Contudo Tancredo Neves passou mal
na véspera da posse e foi internado com infecção intestinal, não resistiu e morreu. Assumiria a presidência
da República em 1985 José Sarney.
O Governo de José Sarney foi um momento de enorme crise econômica, com hiperinflação, mas um
dos momentos mais fundamentais que coroaria a redemocratização, pois foi em seu governo que foi
aprovada a nova constituição. Foi reunida em 1987 uma assembleia nacional constituinte (assembleia
reunida para escrever e promulgar uma nova constituição).

A constituição de 1988
A nova constituição foi votada em meio a grandes debates políticos de diferentes visões políticas.
Havia muitos interesses em disputa. O voto secreto e direto para presidente foi restaurado, proibida a
censura, garantida a liberdade de expressão e igualdade de gênero, racismo tornou-se crime e o estado
estabeleceu constitucionalmente garantias sociais de acesso a saúde, educação, moradia e
aposentadoria.
Ao final de 1989 foi realizada a primeira eleição livre desde o golpe de 1964. Foi disputada em dois
turnos. O segundo foi concorrido entre o candidato Fernando Collor de Mello (PRN – partido da renovação
nacional), contra Luís Inácio Lula da Silva. Collor ganhou a eleição, com apoio dos meios de comunicação
e governou até 1992 após ser afastado por um processo de impeachment e ocorreram grandes
manifestações populares, sobretudo estudantis, conhecidas como o “movimento dos caras-pintadas”.

Questões

01. (TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) O processo de abertura política
no Brasil, ao final do período de regime militar, foi marcado
(A) pela denominada “teoria dos dois demônios”, discurso oficial que culpava os grupos guerrilheiros
e o imperialismo soviético pelo endurecimento do autoritarismo no Brasil e nos países vizinhos.
(B)pelo chamado “entulho autoritário”, pois a Constituição outorgada em 1967 continuou vigente,
mantiveram-se os cargos “biônicos” e persistiu prática da decretação de Atos Institucionais durante a
década de 1980.
(C)pela lógica do “ajuste de contas”, pois, ainda que o governo encampasse uma abertura “lenta,
gradual e irrestrita”, os setores populares organizaram greves nacionais que culminaram na realização de
eleições diretas para presidente em 1985.

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(D)pelo caráter de “transição negociada”, uma vez que prevaleceram pressões por parte dos setores
afinados com o regime e concessões dos movimentos pela democratização, em um complexo jogo
político que se estendeu pelos anos 1980.
(E)pela busca da “conciliação nacional” ao se instituírem as Comissões da Verdade que conseguiram,
com o aval do primeiro governo civil pós-ditadura, atender as demandas por “verdade, justiça e reparação”
da sociedade brasileira.

02. (TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) A respeito dos Atos Institucionais
decretados durante o regime militar no Brasil,
(A)sucederam-se rapidamente totalizando cinco durante a ditadura, sendo o último, em 1968, o que
suspendeu a garantia do direito ao habeas corpus e instituiu a censura prévia.
(B)refletiram a intenção dos militares em preservar a institucionalidade da democracia, uma vez que
todos os atos eram votados pelo Congresso.
(C)prestaram-se a substituir a falta de uma nova Constituição, chegando a 20 decretações que se
estenderam até o governo Geisel.
(D) foram mais de dez e entre os objetivos de sua promulgação destaca-se o reforço dos poderes
discricionários da Presidência da República.
(E)concentraram-se nos dois primeiros anos de governo militar e instituíram o estado de sítio e o
bipartidarismo.

03. (TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) O golpe de 1964, que deu início
ao regime militar no Brasil e que foi chamado pelos militares de “revolução de 64”, teve, entre seus
objetivos
(A)refrear o avanço do comunismo apoiado pelo presidente Jango que, após ver concretizado seu
programa reformista, articulava-se para adaptar o Estado aos moldes socialistas, por meio do projeto de
uma nova constituição difundido e aplaudido no histórico Comício da Central do Brasil.
(B)reinstaurar o presidencialismo, uma vez que o regime parlamentarista pelo qual João Goulart
governava favorecia alianças entre partidos pequenos e grupos de esquerda liderados pelo PTB, que
tinha representação significativa na Câmara e no Senado.
(C)destituir o governo de João Goulart, contando com o apoio do governo dos Estados Unidos e de
parcelas da sociedade brasileira que apoiaram, dias antes, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade
organizada por setores conservadores da Igreja Católica.
(D)restaurar a ordem no país e garantir a recuperação do equilíbrio econômico, uma vez que greves
paralisavam a produção nacional e movimentos de apoio à reforma agrária se radicalizavam, caso das
Ligas Camponesas que haviam iniciado a guerrilha do Araguaia.
(E)iniciar um processo autoritário de transição política e econômica nos moldes do neoliberalismo, por
meio de uma estratégia defendida por entidades como o FMI, a ONU e a Cepal, com o aval do
empresariado brasileiro insatisfeito com o governo vigente.

04. (VUNESP) A partir dessa época, a tortura passou a ser amplamente empregada, especialmente
para obter informações de pessoas envolvidas com a luta armada. Contando com a “assessoria técnica”
de militares americanos que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares começavam a agredir no
momento da prisão, invadindo casas ou locais de trabalho. A coisa piorava nas delegacias de polícia e
em quartéis, onde muitas vezes havia salas de interrogatório revestidas com material isolante para evitar
que os gritos dos presos fossem ouvidos.
(Roberto Navarro – http://mundoestranho.abril.com.br.)
Os aspectos citados no texto permitem identificar a época a que ele se refere como sendo a da
(A) repressão à Revolução Constitucionalista de 1932.
(B) Nova República, cujo primeiro presidente foi José Sarney.
(C) Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder.
(D) democracia populista, que durou de 1946 a 1964.
(E) ditadura militar, iniciada com o golpe de 1964.

05. (VUNESP) A imagem a seguir refere-se a um movimento da década de 1980 que contou com
grande participação popular em várias cidades do Brasil.

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(Http://www.oabsp.org.br/portaldamemoria/historia-da-oab/ a-redemocratizacao-e-o-processo-
constituinte)
Assinale a alternativa que indica corretamente o objetivo deste movimento.
(A) Devolver à população o direito de votar nos candidatos à presidência do país.
(B) Anistiar os presos políticos e permitir o retorno dos exilados ao Brasil.
(C) Reajustar o salário-mínimo de acordo com os índices reais de inflação.
(D) Autorizar a justiça comum a punir políticos envolvidos em crimes de corrupção.
(E) Permitir que leis propostas pela população fossem discutidas no Congresso Nacional.

Respostas

1. Resposta: D
A ideia de uma abertura “Lenta, gradual e segura” foi utilizada pelo governo militar. No final da década
de 70 e início da década de 80 ocorreram sim muitas greves, principalmente na região do ABC paulista.
A primeira eleição direta para presidente após a abertura ocorreu em 15 de novembro de 1989.

2. Resposta: D
Os Atos Institucionais foram normas elaboradas no período de 1964 a 1969, durante o regime militar.
Foram editadas pelos Comandantes-em-Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ou pelo
Presidente da República, com o respaldo do Conselho de Segurança Nacional. Foram 17 atos ao todo,
sendo o mais conhecido deles o AI-5, cuja descrição é: Suspende a garantia do habeas corpus para
determinados crimes; dispõe sobre os poderes do Presidente da República de decretar: estado de sítio,
nos casos previstos na Constituição Federal de 1967; intervenção federal, sem os limites constitucionais;
suspensão de direitos políticos e restrição ao exercício de qualquer direito público ou privado; cassação
de mandatos eletivos; recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de
Vereadores; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos
Complementares decorrentes; e dá outras providências.

3. Resposta: C
Em 1º de abril de 1964 foi dado o golpe militar pelo exército. Contou com apoio de vários setores
sociais como o alto clero da Igreja Católica, ruralistas e grandes empresários urbanos. Devido a este
apoio este período atualmente é chamado de Ditadura Civil-Militar (Ditadura militar com apoio civil). O
argumento para o golpe foi afastar o “risco comunista”.

4. Resposta: E
Citando a própria matéria referida na questão:
Uma pesquisa coordenada pela Igreja Católica com documentos produzidos pelos próprios militares
identificou mais de cem torturas usadas nos "anos de chumbo" (1964-1985). Esse baú de crueldades,
que incluía choques elétricos, afogamentos e muita pancadaria, foi aberto de vez em 1968, o início do
período mais duro do regime militar. Durante o governo militar, mais de 280 pessoas foram mortas -
muitas sob tortura. Mais de cem desapareceram, segundo números reconhecidos oficialmente. Mas
ninguém acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar chegou a ser punido.

5. Resposta: A
Em 1984 o deputado do PMDB Dante de Oliveira propôs uma emenda constitucional que restabelecia
as eleições diretas para presidente. A partir da emenda Dante de Oliveira tem início o maior movimento
popular pela redemocratização do pais, as Diretas Já que pediam eleições diretas para presidente no
próximo ano. Infelizmente a emenda não foi aprovada. Em 1985 ocorreram eleições indiretas e formaram-
se chapas para concorrer à presidência. Através das eleições indiretas ganhou a chapa do PMDB em que
o presidente eleito foi Tancredo Neves e seu vice José Sarney.

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A Nova República
Chamamos Nova República a organização do Estado Brasileiro a partir da eleição indireta de Tancredo
Neves pelo Colégio eleitoral, após o movimento pelas diretas já, o qual foi um dos mais importantes
líderes. No dia da posse foi hospitalizado e faleceu. Então a cadeira presidencial foi ocupada por seu vice
José Sarney

Eleições Diretas
Em novembro de 1980, foram restauradas as eleições diretas para governador. Realizadas as
eleições, as previsões do estrategista do regime se confirmaram. Apesar de a oposição (PMDB, PDT e
PT) ter recebido a maioria dos votos e eleito governadores de estados importantes (Montoro, em São
Paulo; Brizola, no Rio de Janeiro; Tancredo Neves, em Minas Gerais), o PDS conseguiu obter maioria no
Congresso (Câmara e Senado) e no Colégio Eleitoral, que deveria eleger o sucessor de Figueiredo em
1984. Os militares conseguiam assim criar as condições que garantiam a continuidade da abertura nas
sequências e no ritmo que desejavam, bem como a transferência do poder aos civis de sua confiança.

A Resistência às Reformas Políticas de Figueiredo


Assim como Geisel, o general Figueiredo teve de enfrentar resistência da linha-dura às reformas
políticas que estavam em andamento. As primeiras manifestações dos grupos que estavam descontentes
com a abertura vieram em 1980. No final desse ano e no início de 1981, bombas começaram a explodir
em bancas de jornal que vendiam periódicos considerados de esquerda (Jornal Movimento, Pasquim,
Opinião etc.). Uma carta-bomba foi enviada à OAB e explodiu nas mãos de uma secretária, matando-a.
Havia desconfianças de que fora uma ação do DOI-Codi, mas nunca se conseguiu provar nada.

O Caso Riocentro
Em abril de 1981, ocorreu uma explosão no Riocentro durante a realização de um show de música
popular. Dele participavam inúmeros artistas considerados de esquerda pelo Regime. Quando as
primeiras pessoas, inclusive fotógrafos, se aproximaram do local da explosão, depararam com uma cena
dramática e constrangedora. Um carro esporte (Puma) estava com os vidros, o teto e as portas
destroçados. Havia dois homens no seu interior, reconhecidos posteriormente como oficiais do Exército
ligados ao DOI-Codi. O sargento, sentado no banco do passageiro, estava morto, praticamente partido
ao meio. A bomba explodira na altura de sua cintura. O motorista, um capitão, estava vivo, mas
gravemente ferido e inconsciente. O Exército abriu um Inquérito Policial-Militar para apurar o caso e,
depois de muitas averiguações, pesquisas, tomadas de depoimentos, concluiu que a bomba havia sido
colocada ali, dentro do carro e sobre as pernas do sargento do Exército, por grupos terroristas. Essa foi
a conclusão da Justiça Militar, e o caso foi encerrado.

A campanha das Diretas-já


As eleições de 1982, como dissemos, provocaram um clima de euforia na oposição, pois ela fora muito
bem votada, em especial o PMDB. Esse fortalecimento da oposição acabou motivando o deputado Dante
de Oliveira, do PMDB, a propor, em janeiro de 1983, uma emenda constitucional restaurando as eleições
para presidente da República em 1984. A iniciativa do deputado passou, a princípio, despercebida.
Entretanto, progressivamente, sua proposta foi ganhando adesões importantes. Em março, o jornal Folha
de S. Paulo resolveu, em editorial, apoiar a emenda para as diretas. Em junho, reuniram-se no Rio de
Janeiro os governadores Franco Montoro e Leonel Brizola, mais o líder do PT, Luís Inácio da Silva, para
discutir como os partidos políticos de oposição poderiam agir para aprovar a emenda das diretas. Vários
governadores do PMDB assinaram um manifesto de apoio. O PT e entidades da sociedade civil de São
Paulo convocaram uma manifestação de apoio à eleição direta. Ela reuniu cerca de 10.000 pessoas. A
campanha começava a ganhar as ruas. A seguir, ocorreram manifestações em Curitiba (40.000 pessoas),
Salvador (15.000 pessoas), Vitória (10.000 pessoas), novamente em São Paulo (200.000 a 300.000
pessoas). Em fevereiro de 1984, Ulisses Guimarães (PMDB), Lula (PT) e Doutel de Andrade (PDT) saíram
em caravana pelo Brasil, fazendo comícios nos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Lula
começava a se firmar como liderança nacional. A campanha ganhava força. Novas manifestações
ocorreram no Rio de Janeiro, Belém, Belo Horizonte (250.000 pessoas). No dia 10 de abril de 1984, foi
convocada uma manifestação no Rio de Janeiro, com o apoio de Brizola, que reuniu na praça da
Candelária cerca de 1 milhão de pessoas. Era a maior manifestação pública realizada em toda a história
do país até aquela data. No dia 16 realizada no Anhangabaú, em São Paulo, uma manifestação que
quebrou o recorde do Rio. Reuniu mais de 1,7 milhão de pessoas. Não havia dúvida. O povo brasileiro
queria votar para presidente. O governo era contra. Figueiredo aparecia na televisão dizendo que a
eleição seria indireta. O governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, Mário Andreazza (ministro dos

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Transportes de Figueiredo), Paulo Maluf, José Sarney, todos do partido do governo, o PDS, faziam de
tudo para evitar que a campanha produzisse efeito no Congresso. Mário Andreazza, Paulo Maluf e Sarney
disputavam a indicação pelo PDS como candidatos a presidente no Colégio Eleitoral. As emissoras de
televisão, principalmente a Rede Globo, tentaram ignorar as manifestações públicas. Quem só se
informava pelo Jornal Nacional teve a impressão de que a campanha das diretas surgiu do nada. Quando
as manifestações de rua superaram 1 milhão de pessoas, até a Globo teve de dar a notícia.
Finalmente, no dia 25 de abril de 1984, ocorreu a votação da emenda Dante de Oliveira. Foi derrotada.
Faltaram 22 votos para atingir os dois terços necessários. Da bancada do PDS, 112 deputados não
compareceram ao Congresso, contrariando a vontade popular, que se manifestara de forma cristalina nas
ruas. Um profundo sentimento de frustração e impotência tomou conta do país. O Congresso Nacional,
que deveria expressar a vontade da nação, na verdade, agia de acordo com a vontade e as conveniências
políticas de uma elite minoritária, mas que dominava o país. O poder dessa elite advinha da força
econômica, do controle que mantinha sobre o PDS, sobre vários políticos oportunistas e do comando que
detinha dos meios de comunicação, especialmente das emissoras de televisão.

As Articulações Políticas que Antecederam a Eleição Indireta de Janeiro de 1985


Derrotada a emenda das diretas, estava nas mãos do Colégio Eleitoral a escolha do novo presidente.
Ele era composto por senadores, deputados federais e delegados de cada estado. O PMDB iria lançar
um candidato. Desde meados de 1984, o nome estava praticamente escolhido. Era o governador de
Minas Gerais, Tancredo Neves. Político moderado, ligado aos banqueiros, era um homem de confiança
dos grupos conservadores, mas, ao mesmo tempo, respeitado pela oposição. Faltava, entretanto, definir
quem seria o vice-presidente na chapa de Tancredo. Do lado do PDS as coisas estavam cada vez mais
complicadas. Três grupos políticos debatiam-se para conseguir a indicação do partido. O primeiro era
liderado por Paulo Maluf; o segundo, por Mário Andreazza; e o terceiro, por um grupo de políticos do
Nordeste liderado por José Sarney e Marco Maciel. Com a aproximação da convenção do PDS, Paulo
Maluf, com seu estilo autoritário, arrivista e arrogante, tinha grandes chances de conseguir a indicação.

O Surgimento da Frente Liberal: José Sarney, Marco Maciel, Antônio Carlos Magalhães e aliados já
se sentiam derrotados do PDS. Estavam também convencidos de que teriam pouca influência em um
possível governo malufista. Criaram, então, a Frente Liberal, embrião do futuro PFL (Partido da Frente
Liberal).

O Surgimento da Aliança Democrática


A Frente Liberal aliou-se ao PMDB, compondo uma frente política para derrotar Maluf no Colégio
Eleitoral. Surgiu a Aliança Democrática, que apoiou a chapa Tancredo Neves (presidente), pelo PMDB, e
José Sarney (vice-presidente), pela Frente Liberal. Enquanto Maluf representava uma fração de elite
econômica paulista, o leque de forças políticas que sustentavam a Aliança Democrática era muito maior.
Ela juntava o maior partido de oposição, o PMDB, lideranças de Minas Gerais e as principais expressões
políticas conservadoras dos estados nordestinos. Além disso, tais lideranças, como José Sarney e
Antônio Carlos Magalhães, eram políticos da confiança de Roberto Marinho, proprietário da Rede Globo
de Televisão. Ou seja, o apoio desses políticos à candidatura Tancredo trouxe junto o apoio da Rede
Globo. Maluf estava derrotado. Alguns militares acusaram os dissidentes do PDS, que formaram a Frente
Liberal, de traidores. Tiveram como resposta que traição era apoiar um corrupto como Maluf. Entre
xingamentos e agressões verbais, os meses finais de 1984 expiraram.

A Vitória da Aliança Democrática e a posse de Sarney


Em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves, primeiro presidente civil em 20
anos. Ele obteve 275 votos do PMDB (em 280 possíveis), 166 do PDS (em 340 possíveis), que
correspondiam à dissidência da Frente Liberal, e mais 39 votos espalhados entre os outros partidos. No
total foram 480 contra 180 do candidato derrotado. O PT, por não concordar com as eleições indiretas,
não participou da votação. A posse do novo presidente estava marcada para 15 de março. Um dia antes,
entretanto, Tancredo Neves foi internado com diverticulite. Depois de várias operações, seu estado de
saúde se agravou, falecendo no dia 21 de abril de 1985. Com a morte do presidente eleito, assumiu o
vice, José Sarney. Figueiredo negou-se a lhe entregar a faixa presidencial, dando-a a Ulisses Guimarães,
presidente da Câmara, e este empossou Sarney.

O governo Sarney
José Sarney foi o primeiro presidente após o fim da ditadura militar. Durante seu governo foi
consolidado o processo de redemocratização do Estado brasileiro, garantido liberdade sindical e

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1381340 E-book gerado especialmente para DIEGO SALES DE OLIVEIRA
participação popular na política, além da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte,
encarregada de elaborar uma nova constituição para o Brasil.
Entre os princípios incluídos na Constituição de 1988 também chamada Carta Magna, estão:
- garantia de direitos políticos e sociais;
- aumento de assistência aos trabalhadores;
- ampliação das atribuições do poder legislativo;
- limitação do poder executivo;
- igualdade perante a lei, sem qualquer tipo de distinção;
- estabelecimento do racismo como crime inafiançável

No plano econômico, o governo adotou inúmeras medidas para conter a inflação, como congelamento
de preços e salários e a criação de um novo plano econômico, o Plano Cruzado.
No final de 1986, o plano começou a demonstrar sinais de fracasso, acentuado pela falta de
mercadorias e pressão por aumento de preços.
Além do Plano cruzado, outras tentativas de conter a inflação foram colocadas em prática durante o
governo Sarney, como o Plano Cruzado II, o Plano Bresser e o Plano de Verão. No último mês do
governo Sarney, março de 1990, a inflação alcançou o nível de 84%.

O governo Collor
No final de 1989, os candidatos Fernando Collor de Mello, do PRN (Partido da Renovação Nacional)
e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (Partido dos Trabalhadores) disputaram as primeiras eleições diretas
(com voto da população) para presidente após a redemocratização. Com forte apoio de setores
empresariais e principalmente da mídia, Collor vence as eleições.
Collor, durante a campanha presidencial, apresentou-se como caçador de marajás, termo referente
aos corruptos que beneficiavam-se do dinheiro público. Seus discursos possuíam forte influência do
populismo, principalmente do Peronismo argentino, dizendo-se representante dos descamisados
(população mais pobre)
Seu governo ficou marcado pelos Planos Collor:

Plano Collor25
A inflação em um ano de março de 1989 a março de 1990 chegou a 4.853%, e no governo anterior
teve vários planos fracassados de conter a inflação. Depois de sua posse, Collor anuncia um pacote
econômico no dia 15 de março de 1990, o Plano Brasil Novo. Esse plano tinha como objetivo pôr fim à
crise, ajustar a economia e elevar o país, do terceiro para o Primeiro Mundo. O cruzado novo é substituído
pelo "cruzeiro", bloqueia-se por 18 meses os saldos das contas correntes, cadernetas de poupança e
demais investimentos superiores a Cr$ 50.000,00. Os preços foram tabelados e depois liberados
gradualmente. Os salários foram pré-fixados e depois negociados entre patrões e empregados. Os
impostos e tarifas aumentaram e foram criados outros tributos, foram suspensos os incentivos fiscais não
garantidos pela Constituição. Foi Anunciado corte nos gastos públicos, também se reduziu a máquina do
Estado com a demissão de funcionários e privatização de empresas estatais. O plano também prevê a
abertura do mercado interno, com a redução gradativa das alíquotas de importação. As empresas foram
surpreendidas com o plano econômico e sem liquidez pressionaram o governo. A ministra da economia
Zélia Cardoso de Mello, faz a liberação gradativa do dinheiro retido, denominado de "operação
torneirinha", para pagamento de taxas, impostos municipais e estaduais, folhas de pagamento e
contribuições previdenciárias. O governo liberou os investimentos dos grandes empresários, e deixou
retido somente o dinheiro dos poupadores individuais.

Recessão - No início do Plano Collor a inflação foi reduzida, pois o plano era ousado e radical, tirava
o dinheiro de circulação. Porém, com a redução da inflação, iniciava-se a maior recessão da história no
Brasil, houve aumento de desemprego, muitas empresas fecharam as portas e a produção diminuiu
consideravelmente, com uma queda de 26% em abril de 1990, em relação a abril de 1989. As empresas
foram obrigadas a reduzirem a produção, jornada de trabalho e salários, ou demitir funcionários. Só em
São Paulo nos primeiros seis meses de 1990, 170 mil postos de trabalho deixaram de existir, pior
resultado, desde a crise do início da década de 80. O Produto Interno Bruto diminuiu de US$ 453 bilhões
em 1989 para US$ 433 bilhões em 1990.

25 LENARDUZZI, Cristiano, Et al. PLANO COLLOR. Adaptado

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Privatizações - Em 16 de agosto de 1990 o Programa Nacional de Desestatização que estava previsto
no Plano Collor foi regulamentado e a Usiminas a primeira estatal a ser privatizada, através de um leilão
em outubro de 1991. Depois mais 25 estatais foram privatizadas até o final de 1993, quando Itamar Franco
já estava à frente do governo brasileiro, com grandes transferências patrimoniais do setor público para o
setor privado, com o processo de privatização dos setores petroquímico e siderúrgico já praticamente
concluído. Então se inicia a negociação do setor de telecomunicações e elétrico, existindo uma tentativa
de limitar as privatizações à construção de grandes obras e à abertura do capital das estatais, mantendo
o controle acionário pelo Estado.

Plano Collor II
A inflação entra em cena novamente com um índice mensal de 19,39% em dezembro de 1990 e o
acumulado do ano chega a 1.198%, o governo se vê obrigado a tomar algumas medidas. É decretado o
Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991.
Tinha como objetivo controlar a ciranda financeira, extinguiu as operações de overnight e criou o Fundo
de Aplicações Financeiras (FAF) onde centralizou todas as operações de curto prazo, acabando com o
Bônus do Tesouro Nacional fiscal (BTNf), que era usado pelo mercado para indexar preços, passa a
utilizar a Taxa Referencial Diária (TRD) com juros prefixados e aumenta o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF). Pratica uma política de juros altos, e faz um grande esforço para desindexar a
economia e tenta mais um congelamento de preços e salários. Um deflator é adotado para os contratos
com vencimento após 1º de fevereiro. O governo acreditava que aumentando a concorrência no setor
industrial conseguiria segurar a inflação, então se cria um cronograma de redução das tarifas de
importação, reduzindo a inflação de 1991 para 481%.

A queda de Collor
Após um curto sucesso nos primeiros meses de governo, a administração Collor passou por profundas
crises. Com a taxa de inflação superior a 20%, em 1992 a impopularidade do presidente cresceu. Em
maio do mesmo ano, o irmão do presidente, Pedro Collor, acusou Paulo Cesar Farias, que havia sido
caixa da campanha de Fernando Collor, de enriquecimento ilícito, obtenção de vantagens no governo e
ligações político financeiras com o presidente.
Em junho do mesmo ano, o Congresso Nacional instalou uma Comissão de Inquérito Parlamentar(cpi)
para que fossem apuradas as irregularidades apontadas. Em 29 de setembro a Câmara dos Deputados
aprovou a abertura do processo de Impeachment e em 3 de outubro o presidente foi afastado. Em
dezembro o processo foi concluído e Fernando Collor teve seus direitos políticos cassados por oito anos,
e o governo passou para as mãos de seu vice, Itamar Franco.

O governo Itamar Franco (1992-1994)


Durante seu período na presidência, Itamar Franco passou por um quadro de crescente dificuldade
econômica e alianças políticas instáveis, com inúmeras nomeações e demissões de ministros do
executivo.
Um plebiscito foi realizado em 1993 para definir a forma de governo, com uma vitória esmagadora da
Republica presidencialista. Outras opções incluíam a monarquia e o parlamentarismo.
No ano de 1993 a economia começava a dar sinais de melhora, com índice de crescimento de
aproximadamente 5%, que não ocorria desde 1986. Apesar do crescimento, houve um aumento na
população, deixando a renda per capita com menos de 3%.
Em 1994 a inflação continuou a subir, até que os efeitos do Plano Real começaram a surtir efeito.

Implantação do Plano Real26


O Plano de Fernando Henrique Cardoso, que era ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco,
consistia em três fases: o ajuste fiscal, o estabelecimento da URV (Unidade de Referência de Valor) e a
instituição de uma nova moeda, o Real. De acordo com os autores do plano, as reformas liberais do
Estado, que estavam em andamento naquele período seriam fundamentais para efetividade do plano.
A primeira fase, o “ajuste fiscal” procurava criar condições fiscais adequadas para diminuir o
desequilíbrio orçamentário do Estado, principalmente sua fragilidade com financiamento, que seria um
dos principais problemas relacionados à inflação. A criação do FSE (Fundo Social de Emergência), que
tinha por finalidade diminuir os custos sociais derivados da execução do plano e dos cortes de impostos,
foi uma das principais iniciativas do governo.

26Adaptado de Ipolito.

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A URV, o embrião da nova moeda, que terminou quando o Real começou a funcionar em 1º de julho
de 1994, era um índice de inflação formado por outros três índices: O IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas,
o IPCA do IBGE e o IPC da FIPE/USP. O objetivo do governo era amarrar o URV ao dólar, preparando o
caminho para a “âncora cambial” da moeda e também evitar o caráter abrupto dos outros planos, com
esta ferramenta transitória. Dessa forma, ao contrário da proposta de “moeda indexada” e da criação de
duas moedas, apenas separaram-se duas funções da mesma moeda, pois o URV servia como uma
“unidade de conta”.
A terceira fase do plano consistiu na implementação da nova moeda, que substituiria o Cruzeiro de
acordo com a cotação da URV que, naquele momento, valia CR$ 2.750,00. O governo instituiu que este
valor corresponderia a R$ 1,00 que, por sua vez, foi fixada pelo Banco Central em US$ 1,00, com a
garantia das reservas em dólar acumuladas desde 1993.
No entanto, apesar de amarrar a moeda ao dólar, o Governo não garantiu a conversibilidade das duas
moedas, como ocorreu na Argentina. Dessa forma, o Real conseguiu corresponder de uma forma mais
adequada às turbulências desencadeadas pela crise do México, que começou a se intensificar no final de
1994.
A política de juros altos, que promoveu a entrada de capitais de curto prazo, e a abertura do país aos
produtos estrangeiros, com a queda do Imposto de Importação, foram fundamentais para complementar
a introdução da nova moeda e para combater a inflação e elevar os níveis de emprego.
O sucesso do Plano Real garantiu a Fernando Henrique a vitória nas eleições de 1994 logo no primeiro
turno, contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

O primeiro governo Fernando Henrique


Em seu discurso de posse, o presidente destacou como prioridades a estabilização da nova moeda e
a reversão do quadro de exclusão social dos brasileiros.
Assim como outros países ao redor do mundo, o Brasil começava a dar início ao MERCOSUL.

MERCOSUL27

Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram, em 26 de março de 1991, o Tratado de Assunção,


com vistas a criar o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). O objetivo primordial do Tratado de Assunção
é a integração dos Estados Partes por meio da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, do
estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC), da adoção de uma política comercial comum, da
coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, e da harmonização de legislações nas áreas
pertinentes.
A configuração atual do MERCOSUL encontra seu marco institucional no Protocolo de Ouro Preto,
assinado em dezembro de 1994. O Protocolo reconhece a personalidade jurídica de direito internacional
do bloco, atribuindo-lhe, assim, competência para negociar, em nome próprio, acordos com terceiros
países, grupos de países e organismos internacionais. O MERCOSUL caracteriza-se, ademais, pelo
regionalismo aberto, ou seja, tem por objetivo não só o aumento do comércio intrazona, mas também o
estímulo ao intercâmbio com outros parceiros comerciais. São Estados Associados do MERCOSUL a
Bolívia (em processo de adesão ao MERCOSUL), o Chile (desde 1996), o Peru (desde 2003), a Colômbia
e o Equador (desde 2004). Guiana e Suriname tornaram-se Estados Associados em 2013. Com isso,
todos os países da América do Sul fazem parte do MERCOSUL, seja como Estados Parte, seja como
Associado.
O aperfeiçoamento da União Aduaneira é um dos objetivos basilares do MERCOSUL. Como passo
importante nessa direção, os Estados Partes concluíram, em 2010, as negociações para a conformação
do Código Aduaneiro do MERCOSUL.
Na última década, o MERCOSUL demonstrou particular capacidade de aprimoramento institucional.
Entre os inúmeros avanços, vale registrar a criação do Tribunal Permanente de Revisão (2002), do
Parlamento do MERCOSUL (2005), do Instituto Social do MERCOSUL (2007), do Instituto de Políticas
Públicas de Direitos Humanos (2009), bem como a aprovação do Plano Estratégico de Ação Social do
MERCOSUL (2010) e o estabelecimento do cargo de Alto Representante-Geral do MERCOSUL (2010).
Merece especial destaque a criação, em 2005, do Fundo para a Convergência Estrutural do
MERCOSUL, por meio do qual são financiados projetos de convergência estrutural e coesão social,
contribuindo para a mitigação das assimetrias entre os Estados Partes. Em operação desde 2007, o
FOCEM conta hoje com uma carteira de projetos de mais de US$ 1,5 bilhão, com particular benefício
para as economias menores do bloco (Paraguai e Uruguai). O fundo tem contribuído para a melhoria em
27 Adaptado de: http://www.mercosul.gov.br/index.php/saiba-mais-sobre-o-mercosul

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setores como habitação, transportes, incentivos à microempresa, biossegurança, capacitação tecnológica
e aspectos sanitários.
O Tratado de Assunção permite a adesão dos demais Países Membros da ALADI ao MERCOSUL. Em
2012, o bloco passou pela primeira ampliação desde sua criação, com o ingresso definitivo da Venezuela
como Estado Parte. No mesmo ano, foi assinado o Protocolo de Adesão da Bolívia ao MERCOSUL, que,
uma vez ratificado pelos congressos dos Estados Partes, fará do país andino o sexto membro pleno do
bloco.
Com a incorporação da Venezuela, o MERCOSUL passou a contar com uma população de 285
milhões de habitantes (70% da população da América do Sul); PIB de US$ 3,2 trilhões (80% do PIB sul-
americano); e território de 12,7 milhões de km² (72% da área da América do Sul). O MERCOSUL passa
a ser, ainda, ator incontornável para o tratamento de duas questões centrais para o futuro da sociedade
global: segurança energética e segurança alimentar. Além da importante produção agrícola dos demais
Estados Partes, o MERCOSUL passa a ser o quarto produtor mundial de petróleo bruto, depois de Arábia
Saudita, Rússia e Estados Unidos.
Em julho de 2013, a Venezuela recebeu do Uruguai a Presidência Pro Tempore do bloco. A Presidência
Pro Tempore venezuelana reveste-se de significado histórico: trata-se da primeira presidência a ser
desempenhada por Estado Parte não fundador do MERCOSUL.
Na Cúpula de Caracas, realizada em julho de 2014, destaca-se a criação da Reunião de Autoridades
sobre Privacidade e Segurança da Informação e Infraestrutura Tecnológica do MERCOSUL e da Reunião
de Autoridades de Povos Indígenas. Uma das prioridades da Presidência venezuelana, o foro indígena é
responsável por coordenar discussões, políticas e iniciativas em benefício desses povos. Foram também
adotadas, em Caracas, as Diretrizes da Política de Igualdade de Gênero do MERCOSUL, bem como o
Plano de Funcionamento do Sistema Integrado de Mobilidade do MERCOSUL (SIMERCOSUL). Criado
em 2012, durante a Presidência brasileira, o SIMERCOSUL tem como objetivo aperfeiçoar e ampliar as
iniciativas de mobilidade acadêmica no âmbito do Bloco.
No segundo semestre de 2014, a Argentina assumiu a Presidência Pro Tempore do MERCOSUL.
Entre os principais resultados da Cúpula de Paraná, Argentina, destacam-se: a assinatura de Memorando
de Entendimento de Comércio e Cooperação Econômica entre o MERCOSUL e o Líbano; a assinatura
de acordo-quadro de Comércio e Cooperação Econômica entre o MERCOSUL e a Tunísia; e a aprovação
do regulamento do Mecanismo de Fortalecimento Produtivo do bloco.
Em 17 de dezembro de 2014, o Brasil recebeu formalmente da Argentina a Presidência Pro Tempore
do MERCOSUL, que foi exercida no primeiro semestre de 2015. No dia 17 de julho de 2015 a Presidência
Pro Tempore foi passada ao Paraguai, que a exercerá por um período de seis meses.

Dados Gerais

Composição do Bloco
Todos os países da América do Sul participam do MERCOSUL, seja como Estado Parte, seja como
Estado Associado.
Estados Partes: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai (desde 26 de março de 1991) e Venezuela
(desde 12 de agosto de 2012).
Estado Parte em Processo de Adesão: Bolívia (desde 7 de dezembro de 2012).
Estados Associados: Chile (desde 1996), Peru (desde 2003), Colômbia, Equador (desde 2004),
Guiana e Suriname (ambos desde 2013).

Objetivos
O MERCOSUL tem por objetivo consolidar a integração política, econômica e social entre os países
que o integram, fortalecer os vínculos entre os cidadãos do bloco e contribuir para melhorar sua qualidade
de vida.

Princípios
O MERCOSUL visa à formação de mercado comum entre seus Estados Partes. De acordo com o art.
1º do Tratado de Assunção, a criação de um mercado comum implica:
- Livre circulação de bens, serviços e fatores de produção entre os países do bloco;
- Estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial conjunta em
relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a coordenação de posições em foros
econômico-comerciais regionais e internacionais;
- Coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados Partes;

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- Compromisso dos Estados Parte em harmonizar a legislação nas áreas pertinentes, a fim de
fortalecer o processo de integração.

O segundo governo Fernando Henrique

Em seu segundo mandato, vencido novamente através da disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva,
houveram dificuldades para manter o valor do Real em relação ao Dólar.
A partir de dezembro de 1994 eclodiu a crise cambial mexicana, e a saída de capital especulativo
relacionada à queda da cotação do dólar nos mercados internacionais começou a colocar em xeque a
estabilização da economia nacional e o Plano Real, que dependia em grande parte do capital estrangeiro.
A crise mostrou que a política de contenção da inflação com a valorização das moedas nacionais frente
ao dólar não poderia ser sustentável no longo prazo.
Negando sempre à similaridade entre o Brasil e o México e a Argentina, o governo passou a
desacelerar a atividade econômica e a frear a abertura internacional com a elevação da taxa de juros,
aumento das restrições às importações e com estímulos à exportação. Com a necessidade de opor a
situação econômica brasileira à mexicana, como um sinal ao capital especulativo, o governo quis mostrar
que corrigiria a trajetória de sua balança comercial, atingindo saldo positivo.
Após retomada do crescimento entre abril de 1996 e junho de 1997, a crise dos “Tigres Asiáticos”, que
começou com a desvalorização da moeda da Tailândia, se alastrou para Indonésia, Malásia, Filipinas e
Hong Kong e acabou por atingir Nova York e os mercados financeiros mundiais.
A crise obrigou o governo a elevar novamente as taxas de juros e decretar um novo ajuste fiscal.
Novamente a fuga de capitais voltou a assolar a economia brasileira e o Plano Real.
A consequência foi a demissão de 33 mil funcionários públicos não estáveis da União, suspensão do
reajuste salarial do funcionalismo público, redução em 15% dos gastos em atividades e corte de 6% no
valor dos projetos de investimento para 1998, o que resultou em uma diminuição de 0,12% do PIB naquele
ano.
A crise se intensificou em agosto com o aumento da instabilidade financeira na Rússia, com a
desvalorização do rublo e a decretação da moratória por parte do governo.
A resposta brasileira foi a mesma de sempre, a elevação da taxa de juros básica para até 49% e um
novo pacote fiscal para o período 1999/2001. No entanto, diferentemente das outras duas crises, o
governo recorreu ao FMI em dezembro de 1998, com quem obteve cerca de US$ 41,5 bilhões,
comprometendo-se a manter o mesmo regime cambial, desvalorizando gradativamente o Real, acelerar
as privatizações e as reformas liberais, realizar o pacote fiscal e assumir metas com relação ao superávit
primário.

O fim da âncora cambial


Nos primeiros dias do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, em janeiro de 1999, a
repercussão da crise cambial russa chegou ao seu limite no Brasil. As elevadas taxas de juros
começavam a perder força como ferramenta de manutenção do capital externo na economia brasileira e
um novo déficit recorde na conta de transações correntes obrigou o governo a mudar a banda cambial,
que foi ampliada para R$ 1,32.
Logo no primeiro dia, o Real atingiu o limite máximo da banda, sendo desvalorizado em 8,2%, o que
influenciou na queda do valor dos títulos brasileiros no exterior e das bolsas de valores do mundo todo.
O Banco Central tentou defender o valor da moeda, vendendo dólares, mas a saída de capitais continuou
ameaçando se aproximar do limite de 20 bilhões, que foi acordado com o FMI no ano anterior. Nesse
momento, o governo não teve outra escolha senão deixar o câmbio flutuar livremente, alcançando a
cotação de R$ 1,98 em 13 dias.
Os índices de desemprego atingiram um alto nível, alcançando 7,6 milhões de pessoas em 1999,
número três vezes maior que os 2 milhões do final da década de 1980. Apenas a Federação Russa, com
9,1 milhões e a Índia com 40 milhões possuíam taxas de desemprego maiores que as do Brasil.
No plano político, foi aprovada em 2000 a Lei de Responsabilidade Fiscal, com o objetivo de controlar
os gastos do poder público e de restringir as dívidas deixadas por prefeitos e governadores a seus
sucessores.

O governo Lula

Pouco antes de encerrar seu primeiro mandato, Fernando Henrique aprovou uma emenda que alterou
a constituição, permitindo a reeleição por mais um mandato. Com o fim de seu segundo mandato em

231
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2002, José Serra, que foi ministro da saúde e um dos fundadores do PSDB foi apoiado por Fernando
Henrique para a sucessão.
Do lado da oposição, Lula concorreu à presidência pela quarta vez, conseguindo levar a disputa para
o segundo turno com o candidato tucano, quando obteve 61% dos votos válidos.
A vitória de Lula foi atribuída ao desejo de mudança na distribuição de riquezas, entre diversos grupos
sociais.
Em seus dois mandatos, de 2003 a 2010, não foram adotadas medidas grandiosas, com o presidente
buscando ganhar progressivamente a confiança de agentes econômicos nacionais e internacionais. Foi
mantida a política econômica do governo FHC, com a busca pelo combate da inflação por meio de altas
taxas de juros e estímulos à exportação. Em 2005 foi saldada a dívida com o FMI.
Como resultado da política econômica, em julho de 2008 a dívida externa total do país era de US$ 205
bilhões, e o país possuía reservas internacionais acima dos US$ 200 bilhões.
As exportações bateram recordes sucessivos durante o governo Lula, com ampliação do saldo positivo
da balança comercial.
No plano social, o projeto de maior repercussão e sucesso foi o Bolsa-Família, baseado na
transferência direta de recursos para famílias de baixa ou nenhuma renda. Em janeiro de 2009 o programa
já contava com mais de 10 milhões de famílias atendidas, recebendo uma remuneração que variava de
R$ 20,00 a R$ 182,00. Para utilizar o programa, era exigência a frequência escolar e vacinação das
crianças. O programa teve como efeito a melhoria alimentar e nutricional das famílias mais pobres, além
de uma leve diminuição nas desigualdades sociais.
Em seu segundo mandato, destacou-se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O Mensalão
Em 2005, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB – RJ) denunciou no jornal Folha de São Paulo o
esquema de compra de votos conhecido como Mensalão.
No Mensalão deputados da base aliada do PT recebiam uma “mesada” de R$ 30 mil para votarem de
acordo com os interesses do partido. Entre os parlamentares envolvidos no esquema estariam membros
do PL (Partido Liberal), PP (Partido Progressista), PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
e do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro).
Entre os nomes mais citados do esquema estão José Dirceu, que na época era ministro da Casa Civil
e foi apontado como chefe do esquema. Delúbio Soares era Tesoureiro do PT e foi acusado de efetuar
os pagamentos aos membros do esquema. Marcos Valério, que era publicitário e foi acusado de arrecadar
o dinheiro para os pagamentos.
Outras figuras de destaque no governo e no PT também foram apontadas como participantes do
mensalão, tais como: José Genoíno (presidente do PT), Sílvio Pereira (Secretário do PT), João Paulo
Cunha (Presidente da Câmara dos Deputados), Ministro das Comunicações, Luiz Gushiken, Ministro dos
Transportes, Anderson Adauto, e até mesmo o Ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Processo de Impeachment de Dilma28


Às 13h34 desta quarta-feira (31/08/16), Dilma Rousseff (PT) sofreu impeachment e encerrou seu
mandato frente à Presidência da República. Em discurso após a votação no Senado, Dilma disse que
sofreu um segundo golpe e prometeu uma oposição “firme e incansável”. Às 16h49, Michel Temer (PMDB)
deixou a vice-presidência oficialmente e foi empossado presidente. Mais tarde, na primeira reunião
ministerial, respondeu aos opositores, prometendo não levar “desaforo para casa”: “golpista é você”.
Após 73 horas, o julgamento do impeachment no Senado terminou com o veredicto de condenação de
Dilma por crime de responsabilidade, pelas "pedaladas fiscais" no Plano Safra e por ter editado decretos
de crédito suplementar sem autorização do Congresso Nacional. Foram 61 a favor e 20 contrários ao
impeachment, sem abstenções. Em uma segunda votação, os senadores decidiram manter a
possibilidade de Dilma disputar novas eleições e assumir cargos na administração pública.
Governistas surpresos com a segunda votação prometeram recorrer. Segundo o colunista Gerson
Camarotti, a divisão foi costurada entre PT e PMDB para aliviar Dilma. O senador Aloysio Nunes (PSDB-
SP) decidiu entregar o cargo, mas Temer não aceitou. O senador Fernando Collor, que sofreu
impeachment em 1992, criticou: "dois pesos, duas medidas”.

Discurso de Dilma
Em seu primeiro pronunciamento, a agora ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que a decisão é o
segundo golpe de estado que enfrenta na vida e que os senadores que votaram pelo seu afastamento
28 31/08/2016 – Fonte: http://especiais.g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/2016/impeachment-de-dilma/

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definitivo rasgaram a Constituição. Ao lado de aliados, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi
enfática: "Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos
lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode
sofrer.

Posse de temer
Três horas após o afastamento de Dilma Rousseff, Michel Temer foi empossado o novo presidente da
República. A cerimônia durou apenas 11 minutos. Ao apertar a mão de Temer, o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), disse a ele: "Estamos juntos".
Na primeira reunião ministerial do governo, Temer afirmou que agora a cobrança sobre o governo será
"muito maior" e rejeitou a acusação de que o impeachment foi um golpe. "Golpista é você, que está contra
a Constituição", afirmou dirigindo-se a Dilma.
O novo presidente embarca para a China, onde participa, nos dias 4 e 5, em Hangzhou, da Cúpula de
Líderes do G20, grupo das 20 principais economias do mundo. Temer afirmou que vai "revelar aos olhos
do mundo que temos estabilidade política e segurança jurídica." Durante a ausência, assume
provisoriamente a Presidência o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara.

Repercussão e manifestações
Após a votação final do impeachment, houve protestos a favor e contra Temer pelo país. Na Avenida
Paulista, um grupo protestava contra o impeachment, enquanto outro comemorava com bolo e
champagne.

Repercussão internacional
A rede norte-americana CNN deu grande destaque à notícia em seu site e afirmou que a decisão é
“um grande revés” para Dilma, mas "pode não ser o fim de sua carreira política". O argentino “Clarín”
afirma que o afastamento de Dilma marca “o fim de uma era no Brasil”. O “El País”, da Espanha, chamou
a atenção para a resistência da ex-presidente, que decidiu enfrentar o processo até o final, apesar das
previsões de que seu afastamento seria concretizado.

E como fica agora?29


O rito da destituição de Dilma foi consumado e o Partido dos Trabalhadores (PT), que a sustentava,
passa à oposição, depois de 13 anos no poder. Mas o Senado manteve os direitos políticos dela, o que
lhe permitirá se candidatar a cargos eletivos e exercer funções na administração pública.
A saída da presidenta era desejada, segundo as pesquisas, por 61% dos brasileiros, o que não impede
que tenha sido uma comoção nacional.
Atualmente o presidente Temer está afundado em denúncias e escândalos e também sofre grande
pressão para deixar o cargo.

Questões

01. (IF-AL- Cefet) O Brasil, a partir do processo de redemocratização (1985), definiu-se por medidas
econômicas que foram significativamente adotadas. Podemos afirmar que entre as medidas citadas
consta:

(A) Processo de privatização em ramos da economia, como comunicação e mineração.


(B) Prioridade na ampliação do comércio internacional com os países africanos e asiáticos.
(C) Proteção da indústria nacional, por meio do aumento de tarifas alfandegárias de importações.
(D) Retirada da prioridade para exportações dos produtos agrícolas nacionais.
(E)Um intenso programa de reforma agrária no país, inclusive sem indenizações das terras
desapropriadas.

02. (CESGRANRIO) Nas cidades gregas da Antiguidade, a democracia limitava-se à minoria da


população. Os escravos e as mulheres não tinham direitos políticos. Além disso, só aqueles que nasciam
na cidade de Atenas podiam ser cidadãos.
De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, quem NÃO pode votar no Brasil atualmente são os
(A) maiores de 70 anos.
(B) maiores de dezesseis anos.
29 31/08/2016 – Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/01/opinion/1472682823_081379.html

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(C) estrangeiros naturalizados.
(D) analfabetos.
(E) que estão cumprindo o serviço militar obrigatório.

03. (MPE-SP – VUNESP) Com o fim da ditadura e o restabelecimento da normalidade democrática, a


escolha do Presidente da República passou a ocorrer por meio do voto popular, exigindo que os
candidatos expusessem suas propostas e o histórico de sua atuação política. Nos anos 1980 e 1990,
respectivamente, o Brasil conheceu um candidato popularmente chamado de “O caçador de marajás” e
outro que, enquanto foi Ministro da Fazenda, ganhou notoriedade pela implantação do Plano Real,
responsável pela estabilização da economia nacional. Esses presidentes foram, respectivamente,

(A) Fernando Collor de Mello e Tancredo Neves.


(B) José Sarney e Fernando Henrique Cardoso.
(C) Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.
(D) Tancredo Neves e Itamar Franco.
(E) Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva.

Respostas

1. Resposta: A
Entre as medidas tomadas para garantir o funcionamento da economia brasileira estiveram os
programas de privatização de algumas empresas estatais, como a Vale do Rio Doce, por exemplo.

2. Resposta: E
Os menores de 16 anos, os conscritos (o jovem prestando serviço militar obrigatório), e os presos com
sentença transitada em julgado que estejam cumprindo suas penas privativas de liberdade não podem
votar. A razão para isso é que todos eles seriam facilmente manipuláveis pelos pais, pelo comandante do
quartel ou pelo diretor do presídio.

3. Resposta: C
Collor, durante a campanha presidencial, apresentou-se como caçador de marajás, termo referente
aos corruptos que beneficiavam-se do dinheiro público. Seus discursos possuíam forte influência do
populismo, principalmente do Peronismo argentino, dizendo-se representante dos descamisados
(população mais pobre).
O sucesso do Plano Real garantiu a Fernando Henrique a vitória nas eleições de 1994 logo no primeiro
turno, contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

A Bahia no processo de Independência: o 2 de Julho e seu significado político.


Canudos: messianismo e conflito social.

(Tratamos todo o conteúdo de História da Bahia no tópico anterior (“a sociedade baiana no período
colonial (...)”. Fizemos isso para que não houvesse apenas a “quebra” do período republicano entre as
duas partes. Os conflitos de Canudos também se encontram dentro do período do Brasil Republicano.).

Mundo contemporâneo: da Primeira Guerra Mundial à Globalização.


Os países BRIC: coalizões, impasses e desafio geopolíticos no capitalismo.

Primeira Guerra Mundial


A Primeira Guerra Mundial ou Grande Guerra, como foi chamada na época, aconteceu entre os anos
de 1914 e 1918. Foi chamada assim por seus contemporâneos, pois nenhuma das guerras europeias
haviam atingido proporções globais.

I - Antecedentes
A Primeira Guerra Mundial, surgiu a partir de tensões formadas na segunda metade do século XIX. O
desenvolvimento do nacionalismo e do imperialismo – prática que consistiu no domínio de nações
poderosas sobre povos mais pobres – desencadeou a formação dos Estados nacionalistas. O capitalismo,

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1381340 E-book gerado especialmente para DIEGO SALES DE OLIVEIRA
motivou o conflito entres as grandes potências europeias. O desejo de ampliar mercados, através do
imperialismo, aumenta ainda mais a tensão entre os países da Europa.
Um dos fatores que fez aumentar a insatisfação entre os países europeus, foi a má divisão da África e
Ásia, que ocorreu no final do século XIX. Como a Itália e a Alemanha haviam se unificado tardiamente,
fato que fez com que eles ficassem fora do processo neocolonial, enquanto a França e a Inglaterra
exploravam as novas colônias, ricas em matérias-primas, gerou descontentamento, e aumentou o
sentimento de rivalidade já existente entre a Alemanha e a França, já que os franceses haviam perdido
para a Alemanha a região da Alsácia-Lorena. As tensões crescem mais ainda quando a Alemanha, de
forma diplomática, exige o domínio de regiões afro-asiáticas, pertencentes a Inglaterra.
Apesar de ter se unificado tardiamente, a Alemanha conseguiu que seus produtos industrializados
ganhassem espaço. Os alemães conseguiram formar uma grande indústria que conseguiu superar a
tradicional potência britânica.
A partir do Imperialismo, um novo sentimento surge na paisagem pré Primeira Guerra. O nacionalismo,
aparece como uma fonte legitimadora da guerra. Esse sentimento aparece sob diversas formas, por
exemplo, na França o revanchismo aparece, provocado pela sua derrota na Guerra Franco-Prussiana.
Na Rússia, surge o pan-eslavismo, que se baseava na teoria de que todos os eslavos pertencentes a
Europa Oriental, deveriam constituir-se como uma família, e a Rússia como país mais poderoso dos
estados eslavos, deveria ser o líder e o protetor. Já na Alemanha, aparece uma forma de nacionalismo
que se manifesta na forma de pangermanismo, uma corrente ideologia que lutava para que todos os
povos germânicos se unissem sob a liderança alemã.
O grande sentimento nacionalista e a disputa imperialista, fazem com que as nações formem dois
blocos. O primeiro a surgir foi a Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Austro-Hungria e a Itália no
ano de 1882. Logo depois, surge a Tríplice Entente, aliança militar formada pela Inglaterra, França e
Rússia.
Dessa forma, as seis maiores potências europeias estavam prontas para a guerra, a Europa estava
dividida politicamente em dois blocos. A única coisa que faltava para iniciar um confronto era um pretexto,
e ele surge no dia 28 de junho de 1914, com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro
do trono austríaco, na capital da Bósnia, Sarajevo, por um estudante sérvio.

II.- A Guerra
Com a morte do arquiduque austríaco, a Áustria culpou a Sérvia e exigiu que providencias fossem
tomadas. Como a Sérvia não encontrou uma saída que agradece ambos, a Áustria declara guerra à
Sérvia. No dia 30 de julho a Rússia entra na guerra, mobilizando suas tropas para atacar a Áustria, em
resposta a Alemanha declara guerra aos russos. Logo em seguida, no dia 3 de agosto, a Alemanha
declara guerra à França e invade o território Belga, um país neutro. Devido a violação da neutralidade, a
Alemanha da motivo para a Inglaterra intervir e declarar guerra à Alemanha, no dia 4 de agosto.

a. - Primeira Fase da Guerra: Guerra de movimento


A primeira fase da guerra, iniciada em agosto de 1914, contou com ataques a França, realizados pela
Alemanha. Os alemães planejavam derrotar a França de forma rápida, contudo o exército francês
conseguiu deter o ataque, esse conflito ficou conhecido como a primeira batalha de Marne. Essa batalha
inaugurou a chamada guerra de trincheiras (frentes estáticas escondidas em valas cavadas no chão). Os
franceses conseguiram deter a ofensiva alemã, a apenas 40 km de Paris, graças à ajuda dos britânicos,
esse avanço é contido, mas a capital do país passa a ser Bordeaux. A Rússia, em 15 de agosto de 1914,
invade a Alemanha e a Austro-Hungria.

b. - Segunda Fase da Guerra: Guerra de Trincheiras ou Guerra de posições


A segunda fase da Primeira Guerra Mundial, foi a época em que ocorreu os avanços estratégicos. O
uso das trincheiras foram amplamente utilizados. O armamento despertou um surto industrial fazendo
com que novas armas aparecessem.

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Em 1917, com o triunfo da revolução Russa, a Rússia assina um acordo com a Alemanha, que
oficializava a sua saída da guerra, o acordo levou o nome de Tratado de Brest-Litovsk.
No mesmo ano os Estados Unidos entram na Guerra após ter seus navios mercantes atacados em
águas internacionais, por submarinos alemães. Apesar de manterem uma política de não-intervenção nos
assuntos europeus, depois do ataque, o presidente declara guerra à Alemanha.
Com a intensificação da guerra, as alianças estavam desenhadas da seguinte forma: A Tríplice
Aliança, antes de iniciar a guerra, reunia a Alemanha, Austro-Hungria e Itália. Com o início dos conflitos,
O império Turco-Otomano alia-se com a Alemanha, devido a sua rivalidade com a Rússia em 1914, a
Bulgária se une a eles em 1915. A Tríplice-Entente, antes formada pela Inglaterra, França e Rússia,
durante a guerra, mais 24 nações são incorporadas. Nações como o Japão (1915), Portugal e Romênia
(1916), Estados Unidos, Grécia e Brasil (1917). A Itália que antes pertencia a Tríplice Aliança, entra no
conflito em 1915 ao lado dos países da tríplice Entente.

III.- O Final da Guerra


Depois da saída da Rússia e com a entrada dos Estados Unidos no conflito, a situação da Aliança foi
ficando cada vez mais crítica. E março de 1918 os alemães iniciaram mais uma ofensiva na frente
ocidental, utilizando aviões, canhões e tanques, nessa investida, chegaram a 46 km de Paris. Nesse
momento, com a ajuda dos norte-americanos, os alemães forma obrigados a recuar. A partir de então,
eles começaram a perder aliados até o ponto da situação ficar insustentável.
Neste momento o povo alemão sofria com a fome, devido a um bloqueio naval, a escassez de
alimentos levou a população a fazer uma manifestação pedindo o a saída da guerra. A população de
Berlim, em novembro de 1918, conseguiu tirar do poder o imperador Guilherme II, implantou-se então um
governo provisório, sob a liderança do Partido Social-Democrata, que assinou um acordo de paz com os
Aliados, terminando assim, a Primeira Guerra Mundial

IV.– Consequências
Com a rendição dos países que formavam a Tríplice Aliança, um acordo foi assinado, nas proximidades
de Paris, apenas os países vencedores participaram. Pelo acordo a Alsácia-Lorena, voltava a pertencer
a França, além de ter perdido território para outros países. Este tratado também impôs fortes punições, a
Alemanha foi obrigada a pagar uma indenização aos países, afim de pagar os prejuízos da guerra, outra
imposição foi a de que deveria ser entregue aos países vencedores uma parte de sua frota mercante,
suas locomotivas e suas reservas de ouro. Seu exército teve de ser reduzido, assim como sua indústria
bélica. Esse tratado, assinado em junho de 1919 levou o nome de Tratado de Versalhes, pois foi
assinado na sala dos Espelhos do palácio de Versalhes.
A Primeira Guerra Mundial, deixou um legado de aproximadamente 10 milhões de mortos, e quase o
triplo de feridos. Campos a indústria foram destruídos, além dos grandes prejuízos.
O conceito de guerra mudou a partir da Primeira Guerra Mundia, o modelo aristocrático que
caracterizou as guerras de Napoleão, não existia mais. O uso de novas armas, como bombas, tanques,
rifles de precisão e metralhadoras, transformou os exércitos em uma máquina mortífera. Esse motivo fez
com que a guerra durasse mais do que se esperava.

As Influências da Primeira Guerra Mundial no Cenário Brasileiro30


30
BRASIL ESCOLA. As influências da Primeira Guerra Mundial no cenário brasileiro. Brasil Escola. Disponível em:
<http://brasilescola.uol.com.br/historiab/influencias-da-primeira-guerra-cenario-brasileiro.htm> Acesso em 10 de maio de 2017.

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A primeira guerra representa para a industrialização brasileira um momento de desenvolvimento
acelerado. Por ser o Brasil geograficamente complexo, com suas unidades distantes e pobres,
representava um mercado interno incipiente. Somente através das medidas fiscais e protecionistas de
certos governos, pode-se localizar uma indústria caseira nos fins do século XIX e início do XX. Com a
Guerra dificultam-se as importações de produtos, incentivando-se o surgimento de novos ramos
industriais. Por ser este um processo de transformação das estruturas de certas zonas geográficas é um
processo lento. Esta expansão é liderada pelas regiões Sul e Leste, por serem ricas e variadas
climaticamente.
Os elementos da acumulação capitalista são a aplicação de pequeno capital e o baixo salário, que
acrescia, além dos lucros normais, pela inflação e pela aplicação de parte dos lucros do café, devido à
proibição de novos plantios em 1902.
Depois de 1914 surgem as grandes indústrias e uma concentração operária. Dá seus primeiros passos
a indústria pesada e vai ocupar parcialmente um mercado que demanda uma autossuficiência, somente
alcançada no período da Segunda Guerra, em Volta Redonda. Paradoxalmente, desenvolvem-se as
indústrias subsidiarias estrangeiras de petróleo e derivados, químicos e farmacêuticos, que
conjuntamente aos trustes estrangeiros, crescem acompanhando as necessidades do país.
As classes dominantes não apoiam esta expansão, por ser formada basicamente por proprietários
de terras. A indústria só superará a atividade agrária após a Segunda Guerra. Somente no governo de
Afonso Pena que se compreendeu a necessidade de um equilíbrio entre indústria e consumidor. No
Governo de Hermes da Fonseca e de Venceslau Brás, tentava-se rever as taxas alfandegárias. A guerra
precipita a solução, onde, nota-se a necessidade de desenvolver os recursos industriais de energia e ferro
próprios.
Devido à guerra, ocorrem grandes dificuldades fiscais, levando o país a uma inflação acelerada, onde
a moeda circulante ultrapassa a casa de um milhão de contos de réis de emissão do tesouro, sem contar
as emissões bancárias. O presidente Epitácio Pessoa (1919- 1922), adota uma política de baixa cambial.
Com esta situação, aumenta as reivindicações operárias e pequeno-burguesas com relação a custo de
vida e moradia. Este governo foi o último que tentou uma política antiindustrialista. Os governos
posteriores tiveram de reconhecer a necessidade da industrialização.
Diferentemente da produção industrial, exclusivamente de consumo interno, a produção industrial,
exclusivamente de consumo interno, a produção agrícola é basicamente de exportação.
Esta produção primária aumenta progressivamente, acarretando em um saldo credor para o Brasil,
onde, se permitia cobrir compromissos externos e suprir algumas necessidades internas. Com a
concorrência das plantações africanas e asiáticas, onde ocorre aplicação de grandes capitais e uso de
técnica racional, com mão-de-obra mais barata e clima propício, fizeram com que certos produtos de
exportações brasileiras a partir da Primeira Guerra fossem declinando.
Por sua vez, o café, teve vários fatores a seu favor. O Brasil que possuía ¾ da produção mundial
expandia-se nas terras roxas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, principalmente. Aumenta
continuamente sua produção devido a interesses capitalistas estrangeiros, que participaram
principalmente de sua distribuição. Devido ao consumo ser menor que a produção, sente-se à
consequência da acumulação que se dá a partir da Crise de 1893.
Com estas ações protecionistas, que garantia a estabilidade, guerra, em um país como o Brasil, um
círculo vicioso entre bons preços e mais aplicações de capitais em novas lavouras, tendo como resultado
um acúmulo de estoque que tendia à crise, desenrolada e m 1929. (Esta crise de 1929 foi uma crise
mundial que assolou em especial os EUA com o Crack da bolsa de Nova York que depois da primeira
guerra viveram um fortalecimento da suas economias por tudo que produzirem ser exportado para a
Europa que ficou destruída com a Guerra neste período já estavam quase que recuperada e não
precisava mais nem dos empréstimos em dinheiro americano ou de produtos dos demais países os
excedentes de produção levaram muitos destes países à crise econômica). Em continuação aos
prósperos anos de guerra, as mercadorias agrícolas e industriais atingem um superávit, com relação às
importações. Passada a euforia econômica de 1919, segue uma paralisação e a crise de 1920, acelerada
devido à política titubeante e antiindustrialista do governo.

Questões

01. (CVM - Agente Executivo – ESAF) Atritos permanentes decorrentes de disputas imperialistas,
profundas rivalidades políticas assentadas em extremado nacionalismo e constituição de dois blocos
antagônicos de alianças entre países, a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente, configuram, entre outros
aspectos, o quadro histórico que resultou na:
(A) Segunda Guerra Mundial.

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(B) Guerra Franco-Prussiana
(C) Guerra dos Boxers
(D) Guerra Civil Americana
(E) Primeira Guerra Mundial

02. (PC-MG - Escrivão de Polícia Civil – FUMARC) São conjunturas que precedem à eclosão da
Primeira Guerra Mundial, EXCETO:
(A) A presença de várias potências europeias na Ásia e na África fez com que interesses imperialistas
se antagonizassem, sobretudo, no que se refere ao controle de territórios.
(B) A política de alianças produzirá um “efeito dominó”, lançando à guerra, uma após outra as nações
signatárias dos acordos.
(C)O nacionalismo adquire grande importância na eclosão da guerra, uma vez que as alianças entre as
nações europeias, no período que precede o conflito, nortearam-se fundamentalmente, por questões
étnicas.
(D)A escalada inflacionária, o desemprego e o ódio racial favoreceram a subida ao poder de partidos
totalitários como o Partido Nacional dos Trabalhadores Alemães. Antissemitismo e expansionismo
territorial faziam parte da política desses partidos, o que acabou determinando a guerra.

03. (CONFERE – Auditor - INSTITUTO CIDADES) Vários problemas atingiam as principais nações
europeias no início do século XX. O século anterior havia deixado feridas difíceis de curar. Alguns países
estavam extremamente descontentes com a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX.
Alemanha e Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no processo neocolonial. Enquanto isso, França e
Inglaterra podiam explorar diversas colônias, ricas em matérias-primas e com um grande mercado
consumidor. A insatisfação da Itália e da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada uma das
causas da:
(A) Guerra Fria
(B) Grande Guerra
(C) Segunda Guerra Mundial
(D) Revolução Socialista Marxista

04. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Acerca do processo histórico que desencadeou a I
Guerra Mundial, julgue (C ou E) os itens a seguir.
A expansão econômica da Alemanha levou-a a competir com a Inglaterra e com a França.
(A) Certo
(B) Errado

05. (SEE-AL - Professor – História – CESPE) No que se refere à Idade Contemporânea e ao período
que abrange as duas guerras mundiais e seus efeitos, julgue os itens a seguir.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Espanha, a Suíça e os Países Baixos mantiveram-se imparciais
e conseguiram permanecer relativamente distantes do conflito.
(A) Certo
(B) Errado

06. (Prefeitura de Betim – MG – Professor PII - História - Prefeitura de Betim – MG) É coerente
com as razões que levaram à 1ª Grande Guerra Mundial:
(A)Um dos fatos que contribuiu para o final do confronto foi a entrada da Rússia na Guerra, pois tinha um
exército grande e bem preparado, impondo aos alemães derrotas vexatórias.
(B) O processo de Imperialismo, promovido pelas grandes potências capitalistas da Europa,
principalmente França, Inglaterra e Alemanha, gerou conflitos e até confrontos pela disputa de territórios,
ao ponto de desencadear a 1ª Guerra.
(C) Temendo uma ofensiva alemã, Japão, Inglaterra e França formaram a Tríplice Aliança.
(D)O início da Guerra se deu quando as tropas alemãs invadiram a Polônia, apresentando ao mundo a
famosa Guerra Relâmpago, deixando marcas desastrosas para os poloneses.

07. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Acerca do processo histórico que desencadeou a I
Guerra Mundial, julgue (C ou E) os itens a seguir.
A ascensão econômica e política do Império Austro-Húngaro levou-o a confrontar os interesses
ingleses nos Bálcãs. O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, em Sarajevo, permitiu que se

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atribuísse ao imperialismo britânico a responsabilidade pelo clima de tensão regional, e constituiu o marco
inicial da guerra.
(A) Certo
(B) Errado

08. Os países envolvidos na I Guerra Mundial dividiram-se em duas coligações de nações que se
enfrentaram durante os anos da guerra, incialmente eram formados por seis países. Das alternativas
abaixo, qual está correta?
(A)Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão; e os Aliados, composto por França, Inglaterra e
Estados Unidos.
(B) Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão; e Tríplice Entente, formada pela França, Inglaterra e
Rússia.
(C) Tríplice Aliança, composta pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália; e a Tríplice Entente, formada pela
França, Inglaterra e Rússia
(D)Tríplice Aliança, composta pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália; e os Aliados, composto por
França, Inglaterra e Estados Unidos.

09. Após o início da guerra, os bloco antes formados por seis países, sofrem alterações, A Tríplice-
Entente, antes formada pela Inglaterra, França e Rússia, durante a guerra, mais 24 nações são
incorporadas. Nações como o Japão, Portugal e Romênia, Estados Unidos, Grécia e Brasil. Sobre a
formação da Tríplice Aliança, podemos afirmar que quais países compunham esse bloco?
(A) Alemanha, Império Turco-Otomano, Bulgária e Austro-Hungria.
(B) Alemanha, Rússia e Itália.
(C) Alemanha, Inglaterra e Rússia.
(D) Alemanha, Itália, Império Austro-húngaro

10. Qual foi o estopim para que acontece a Primeira Guerra Mundial?
(A) O não cumprimento do Tratado de Versalhes pela Alemanha.
(B) Assassinato do primeiro-ministro francês General De Gaulle.
(C) Assassinato do príncipe herdeiro do trono austríaco Francisco Ferdinando.
(D) A Revolução Socialista em 1917 na URSS.

Respostas

1. Resposta: E.
Podemos afirmar que os antecedentes da Primeira Guerra Mundial surgiu a partir de tensões formadas
na segunda metade do século XIX, com o desenvolvimento do nacionalismo e do imperialismo nos países
europeus. A partir dessas tensões dois blocos antagônicos se formas, a Tríplice Aliança, formada pela
Alemanha, Austro-Hungria e a Itália no ano de 1882 e a Tríplice Entente, aliança militar formada pela
Inglaterra, França e Rússia.

2. Resposta: D.
A opção D é a única que não se refere ao período que antecede a Primeira Guerra Mundial, pois a
afirmativa da questão, refere-se aos motivos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. As opções A,
B e C estão corretas a respeito dos motivos que precederam o início da Grande Guerra.

3. Resposta: B.
A unificação tardia da Alemanha e da Itália, faz com que ambas as nação ficassem fora do processo
neocolonial, gerando um grande descontentamento. As tensões crescem mais ainda quando a Alemanha,
de forma diplomática, exige o domínio de regiões afro-asiáticas, pertencentes a Inglaterra.

4. Resposta: A.
Apesar de ter se unificado tardiamente, a Alemanha conseguiu que seus produtos industrializados
ganhassem espaço. Os alemães conseguiram formar uma grande indústria que conseguiu superar a
tradicional potência britânica.

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5. Resposta: A.
A afirmativa da questão está correta, Espanha, a Suíça e os Países Baixos mantiveram-se imparciais
durante a Primeira Guerra, conseguindo manter uma certa distância dos conflitos acontecidos entre os
anos de 1914 a 1918.

6. Resposta: B.
O capitalismo, motivou o conflito entres as grandes potências europeias. O desejo de ampliar
mercados, através do imperialismo, aumentou ainda mais a tensão entre os países da Europa, pois como
a Alemanha e a Itália se unificaram tardiamente, ambas ficaram fora do processo neocolonial, o que gerou
grande descontentamento.

7. Resposta: B.
A Afirmativa da questão está errada. Primeiramente a responsabilidade pelo assassinado do
arquiduque Francisco Ferdinando, em Sarajevo, foi dada a Sérvia. A Inglaterra só entra na guerra a partir
do ataque a Bélgica, pais neutro, pelo exército alemão.

8. Resposta: C
O grande sentimento nacionalista e a disputa imperialista, fazem com que as nações formem dois
blocos. O primeiro a surgir foi a Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Austro-Hungria e a Itália no ano
de 1882. Logo depois, surge a Tríplice Entente, aliança militar formada pela Inglaterra, França e Rússia.

9. Resposta: D
A Tríplice Aliança, antes de iniciar a guerra, reunia a Alemanha, Austro-Hungria e Itália. Com o início
dos conflitos, O império Turco-Otomano alia-se com a Alemanha, devido a sua rivalidade com a Rússia
em 1914, a Bulgária se une a eles em 1915.

10. Resposta: C
Com a formação dos blocos formados, a única coisa que precisavam para iniciarem uma guerra era
um pretexto e ele surge no dia 28 de junho de 1914, com o assassinato do arquiduque Francisco
Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, na capital da Bósnia, Sarajevo, por um estudante sérvio.

Revolução Russa

Antecedentes

A Rússia era o único país da Europa a manter um governo absolutista na virada do século XX. O Antigo
Regime na Rússia compunha-se de um poder político absoluto exercido pelo imperador (tsar ou czar), da
antiga dinastia dos Romanov. Apoiava-se em uma organização basicamente agrária, tendo em vista que
85% da população vivia no campo. Os nobres proprietários de terra e a burguesia industrial e mercantil
concentravam-se nas cidades, bem como os cossacos da Guarda Imperial, que representavam outros
pontos de apoio. O governo era autocrático. O imperador escolhia um corpo de ministros, seus auxiliares
no governo. Não havia nenhuma forma de restrição efetiva ao seu poder.
O Império Russo começou a enfrentar diversos problemas a partir de 1905, com o início da Guerra
Russo-Japonesa, causada pelo interesse de ambos os países na região chinesa da Manchúria. Apesar
dos esforços, o exército russo sofreu uma desastrosa derrota, frente aos armamentos mais avançados
dos japoneses.
A derrota ante os japoneses mostrou a deficiência do Estado tsarista, tornando evidente a urgência de
reformas. A partir de então, começam as manifestações e revoltas contra o Império. Os partidos políticos
mais organizados destacaram-se, principalmente o Partido Operário Social-Revolucionário Russo,
fundado em 1898, e o Partido Social-Democrático Russo, de 1902. O Partido Social-Democrático era
composto por dois grupos surgidos nas reuniões em Londres e Genebra em 1903:

Bolcheviques, de tendência radical;


Mencheviques, moderados e conciliadores.

Os protestos e movimentos de rua foram reprimidos de maneira extrema pelas tropas imperiais, com
destaque para o episódio do Domingo Sangrento, de 22 de janeiro de 1905, em que mais de 100 pessoas
morreram em um protesto pacífico pelas ruas de São Petersburgo. Enquanto isso, a tripulação do
couraçado Potemkin amotinava-se contra seus oficiais. As greves multiplicavam-se, atingindo até mesmo

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a zona rural. Esse conjunto de pressões levou o imperador a criar a Duma, espécie de Assembleia
Legislativa. No fundo, era uma reação do poder imperial, que pretendia com essa concessão estancar os
movimentos de rua e ganhar tempo para controlar o problema. As Dumas eleitas entre 1905 e 1912, ao
todo em número de quatro, foram pressionadas, nada podendo fazer. O disfarce constitucional do Império
Russo não durou muito tempo. Os efeitos da Grande Guerra, na qual a Rússia se viu envolvida, acabaram
por desmascará-lo. A crise gerada pela guerra evidenciava a deficiência da estrutura imperial. Alguns
dados poderão exemplificar melhor a questão: o exército precisava de 1,5 milhão de obuses e conseguiu
apenas 360 mil; a balança comercial entre 1914 e 1917 apresentava um déficit que subira de 214 milhões
de rublos em 1914 para 1,658 bilhões em 1917; em 1914, a dívida pública do Estado era de 1 bilhão de
rublos, e em 1917 chegara a 10 bilhões; o meio circulante passou de 1,6 bilhão em 1914 para 9,5 bilhões
em 1917.
Os salários eram assim desvalorizados, por causa da inflação violenta, e as empresas com capitais
nacionais iam à falência, aumentando a entrada do capital estrangeiro, o qual alcançaria 50% do capital
total da Rússia em 1917 (33% era francês, 23% inglês, 20% alemão, 14% belga e 5% norte-americano).
Nessa conjuntura de crises, os descontentamentos sociais cresceram; as greves eram numerosas.
Somente no ano de 1916, entraram em greve cerca de 1 170 000 operários.

Fevereiro de 1917: A Revolução Burguesa


As medidas tomadas pelo governo imperial não agradavam a maioria dos setores da população russa.
As manifestações aumentavam diariamente, tanto nas cidades quanto no campo. A burguesia liberal, com
apoio da esquerda moderada, pressionavam o governo por meio de greves gerais, como aconteceu em
Petrogrado. O imperador não deu muita atenção ao movimento, que estava restrito à capital, que contava
com uma guarnição militar forte.
Mas ele não contava com dois pontos essenciais: os soldados não se prestaram a reprimir os
movimentos, com os quais eram coniventes, e os chefes socialistas puseram-se imediatamente a
organizar a luta. No dia 12 de março (27 de fevereiro pelo calendário russo, atrasado 13 dias em relação
ao calendário ocidental), os soldados recusaram-se a marchar contra o povo amotinado. Sem o exército,
o poder político imperial desapareceu. Dois governos foram constituídos imediatamente, o primeiro por
deputados da Duma; o segundo, intitulado soviete, era um conselho de soldados, trabalhadores e
camponeses. Inicialmente, a Revolução limitou-se a Petrogrado, mas em seguida difundiu-se
rapidamente. O tsar abdicou e os sovietes, que se organizavam para dirigir as grandes cidades, formaram,
junto com a Duma, um governo provisório; a monarquia absolutista estava vencida. O governo provisório
era dirigido pelo príncipe Lvov e dominado pela burguesia. Pusera fim ao tsarismo para organizar uma
República parlamentar liberal. Era fundamental, portanto, manter a Rússia no sistema de alianças
mundial, o que significava continuar a guerra contra a Alemanha. A partir de maio, o ministro da Guerra,
Kerensky, preparou uma grande ofensiva contra a Áustria-Hungria, aliada da Alemanha. O país não tinha
condições para dar sequência à guerra, estava esgotado. Além disso, a burguesia não representava a
massa. Era uma minoria reduzida que não tinha força suficiente para impedir a elevação dos preços,
estimular a produção ou impedir as deserções dos soldados, muitos dos quais lutavam descalços.

A Revolução Socialista
O governo provisório foi marcado pela instabilidade política e Petrogrado transformou-se em núcleo
revolucionário. Os bolcheviques aumentavam suas fileiras e o Congresso dos sovietes, controlado por
eles, exigia a retirada da Rússia da guerra. O governo provisório perseguiu os líderes bolcheviques e
reprimiu violentamente as manifestações públicas; para escapar da perseguição, Lenin refugiou-se na
Finlândia.
Em julho, os bolcheviques contavam com o considerável número de cerca de 200 mil partidários.
Contavam ainda com o apoio dos marinheiros da base de Kronstadt. O fracasso da ofensiva contra a
Áustria-Hungria deu oportunidade à manifestação do dia 17 de julho, em Petrogrado. Caiu o governo
provisório de Lvov, que foi substituído por Kerensky. Adversário dos bolcheviques, Kerensky não era
menos socialista, só que mais moderado. Em setembro, o general Kornilov, ligado ao Antigo Regime,
marchou em direção a Petrogrado. Kerensky foi obrigado a pedir ajuda, até mesmo aos bolcheviques.
Kornilov foi batido, mas Kerensky mostrou sua dependência em relação aos trabalhadores e aos
bolcheviques.

A Revolução de Outubro
A crise na Rússia era enorme, e foi apenas agravada pela participação do país na Primeira Guerra.
Aproveitando-se da situação, o partido bolchevique deu um golpe de Estado, comando por Lenin. O
episódio ficou conhecido como Revolução de Outubro.

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Logo que foi declarada a revolução, uma coligação internacional esforçou-se reverter a situação em
que a Russia encontrava-se. Os confrontos duraram até 1921, quando a Rússia saiu vencedora. Durante
esse período, Trotsky organizou o Exército Vermelho e propôs a ideia de uma revolução permanente que
deveria ser difundida por todo o mundo, ao que se opôs Stalin, que pretendia consolidar a Revolução na
Rússia em primeiro lugar.
Assim que os comunistas tomaram o poder na Rússia, implantaram o governo do povo, a ditadura do
proletariado, que se fazia representar pelos sovietes. Decretou-se a comunização total: os bens de
produção foram estatizados, as indústrias com mais de cinco empregados e as terras foram coletivizadas,
a moeda foi extinta, criando-se um bónus correspondente às horas de trabalho e que poderia ser trocado
por alimentos e serviços. As dificuldades foram a oposição interna (camadas descontentes) e a pressão
externa. Por isso foi adotada a NEP (Nova Política Econômica), a partir de 1921. As pequenas indústrias
voltaram à situação anterior; a venda dos produtos agrícolas foi devolvida aos camponeses; e a moeda
voltou a circular. Lenin pretendia dar um passo atrás para poder "dar dois passos à frente". A produção
agrícola recuperou-se rapidamente, bem corno a produção industrial. Porém, os kulaks, camponeses
abastados, enriqueciam com a alta de preços.

A morte de Lenin
No mesmo ano da criação da União Soviética, 1922, Lênin contraiu uma doença que o levaria à morte
em 21 de janeiro de 1924.
Vladimir Ilyitch Ulianov nasceu em Simbirsk, na Rússia, no dia 22 de abril de 1870. Entre os seis
filhos da família, o jovem se tornou conhecido como Lênin. Desde adolescente teve contato com
ideologias políticas, especialmente por causa da influência de seu irmão Alexandre Uilánov. Este, aos
21 anos fazia parte de um grupo de estudantes niilistas em São Petersburgo. O irmão de Lênin integrou
um grupo de extrema esquerda chamado Pervomartovtsi, o qual foi responsável pela tentativa de
assassinato do czar Alexandre III. Uilánov foi preso juntamente com o restante do grupo, sendo
condenado à morte em 1887, quando Lênin tinha apenas 17 anos. O ocorrido deixou Lênin muito
impressionado e convencido de que o anarquismo não oferecia a melhor alternativa para se derrubar o
czarismo na Rússia.
No mesmo ano da morte do irmão, Lênin começou a alterar o destino de sua vida. Em 1887 mudou-
se para Kazan, onde foi cursar a faculdade de Direito. No decorrer dos estudos que o jovem Lênin teve
contato com as ideologias que realmente marcariam suas ações futuras. E, principalmente, tornou-se
um marxista. Após se formar, Lênin dedicou-se ao estudo dos problemas econômicos da Rússia, tendo
como base orientadora os escritos de Marx e Engels.
Após sua morte, seu corpo foi embalsamado e permanece até hoje exposto em seu mausoléu na Praça
Vermelha, em Moscou.

A Sucessão de Lenin
Com a morte de Lenin, as visões sobre a continuidade da revolução ficam divididas entre os dois
membros do Partido Comunista dispostos a substitui-lo: Joseph Stalin e Leon Trotsky.
Para Trotsky, a União Soviética não deveria limitar seus anseios revolucionários aos limites da nação
russa. A Revolução deveria espalhar-se pela Europa, com a União Soviética agindo como incentivadora
de novas revoluções, criando uma comunidade de países que compartilhassem uma visão política
semelhante e com interesse na cooperação, como definia a doutrina do marxismo.
Stalin, por outro lado, acreditava que a revolução deveria manter-se dentro do país, desenvolvendo
suas forças produtivas e abstendo-se da participação em processos revolucionários exteriores.
Através de uma aliança com outros líderes bolcheviques, Stalin derrotou Trotsky e foi eleito líder da
União Soviética, durante o XIV Congresso do Partido Comunista Russo (1925). Ocupando a função de
chefe de Estado, Stalin logo determinou a expulsão partidária e o exílio de Leon Trotsky.

Stalinismo
O termo stalinismo define o período em que a URSS foi governada por Josef Vissarionovith
Djugatchvili, ou simplesmente Josef Stalin (que significa "de aço"), entre 1924 e 1953.
A ascensão de Stalin representou uma enorme mudança no processo de implantação do socialismo.
O foco voltou-se para o interior do país, deixando de lado a revolução internacional. Stalin implantou um
governo autoritário e burocratizado, controlado por uma elite militar e alheio às decisões de conselhos
populares e seus representantes.
Com o objetivo de desenvolver a indústria pesada no país, em 1927 foi anunciado o primeiro plano
quinquenal. Os planos quinquenais foram um instrumento de planificação econômica implantado por

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Stalin na antiga União Soviética, com o objetivo de estabelecer prioridades para a produção industrial e
agrícola do país para períodos de cinco anos.
Seguiram-se outros planos quinquenais, que desenvolveram a produção industrial e agrícola. A grande
dificuldade estava na agricultura, em relação à qual o governo abandonou a ideia de coletivização total e
criou as granjas coletivas (kolkhozes) e as fazendas estatais (sovkhozes). Existia um mercado paralelo
em que os camponeses podiam vender os excedentes da produção, a qual deveria ser fornecida ao
Estado a preços de custo. A produção econômica global era planificada e dirigida por um órgão central,
o Gosplan. Um banco central, o Gosbank, acumulava os capitais em nome do Estado, cerca de 25% do
produto global, e os distribuía para os bancos industriais, comerciais e agrícolas. Os bens de produção
foram incrementados em detrimento dos bens de consumo.
O comércio era realizado em grandes lojas do Estado e a variedade dos produtos era muito reduzida,
pois a padronização diminuía os custos. O avanço da economia soviética em relação aos países
capitalistas foi muito grande no setor industrial, mas permaneceu atrasado no setor agrícola. A ideia de
uma sociedade comunista preconizada por Marx esteve bem longe de realizar-se na Rússia, onde foi
necessário distinguir com salário os trabalhadores mais eficientes, e ao mesmo tempo realizar a
conversão da produção industrial para bens de consumo. Existia uma elite intelectual, os grandes
cientistas e a cúpula dirigente do partido, que preservava alguns privilégios em relação aos demais
membros da população. Os países socialistas são monopartidários, isto é, só o Partido Comunista é
legalizado e a única forma de participação política é pertencer ao partido. A unidade básica de poder é o
soviete de camponeses, operários e soldados, de onde saem os representantes para eleger os membros
do governo. Abolindo os cultos e as religiões tradicionais, violentamente perseguidos nos países
socialistas, acabou-se por criar uma nova forma de religião, a religião do Estado.

Questões

01. (IF-AL – História – CEFET-AL) A Revolução Russa de 1917 marca o início de uma experiência
cujos reflexos se fazem sentir ainda hoje. Esse movimento representou uma grande ruptura econômica,
política e social, sem precedentes, possibilitando, apesar das mais variadas pressões externas, a
superação de um atraso até então secular do povo russo. Sobre esse fato, considere as seguintes
preposições:

I. Embasada ideologicamente nos fundamentos liberais, a Revolução Russa de 1917 consolidou o


primeiro Estado socialista, representativo das aspirações do proletariado.
II. O movimento revolucionário agregou em si, diferentes segmentos sociais, da burguesia ao
campesinato, tendo neste último o principal mentor do processo de tomada ao poder.
III. Na queda do regime czarista e deflagração da Revolução Russa em 1917, houve a participação de
líderes, grupos e organizações de oposição com divergências na estratégia de encaminhamento do
movimento.
IV.Stalin e Trotsky divergiram quanto aos rumos da revolução, já que o primeiro defendeu o “socialismo em
um só país”, ao passo que o segundo propôs a “revolução permanente”.

Podemos considerar falsas apenas as seguintes afirmativas:


(A) I, II e IV
(B) I e II
(C) III e IV
(D) II e IV
(E) I e IV

02. (Fgv) Em abril de 1917, o líder bolchevique Lenin, exilado em Zurique (Suíça), voltou à Rússia
lançando as Teses de Abril. Nesse programa político é incorreto afirmar que Lenin propunha a/o:
(A) formação de uma República de sovietes;
(B) concessão à defesa nacional, dando total apoio ao governo provisório;
(C) nacionalização dos bancos e das propriedades privadas;
(D) reconstituição da Internacional;
(E) controle da produção pelos operários.

03. (Puccamp) A Revolução Socialista na Rússia, em 1917, foi um dos acontecimentos mais
significativos do século XX, uma vez que colocou em xeque a ordem socioeconômica capitalista. Sobre
o desencadeamento do processo revolucionário, é correto afirmar que:

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(A)os mencheviques tiveram um papel fundamental no processo revolucionário por defenderem a
implantação ditadura do proletariado.
(B) os bolcheviques representavam a ala mais conservadora dos socialistas, sendo derrotados, pelos
mencheviques, nas jornadas de outubro.
(C)foi realimentado pela participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, o que desencadeou uma
série de greves e revoltas populares em razão da crise de abastecimento de alimentos.
(D)foi liderada por Stalin, a partir de outubro, que estabeleceu a tese da necessidade da revolução em um
só país, em oposição a Trotsky, líder do exército vermelho.
(E)o Partido Comunista conseguiu superar os conflitos que existiam no seu interior quando
estabeleceu a Nova Política Econômica que representava os interesses dos setores mais conservadores.

Respostas

1. Resposta: B
A ideologia de base da Revolução Russa foram as ideias do comunismo de Marx e Engels. A revolução
começa como um movimento urbano, apesar da participação dos camponeses, porém estava mais
concentrado nos trabalhadores urbanos.

2. Resposta: B
Lenin era totalmente contra o governo provisório. O próprio Lenin foi um dos elementos que ajudaram
a decretar seu fim

3. Resposta: C
A Rússia já passava por diversos problemas internos como a falta de alimentos e a crise política. A
entrada e desempenho desastroso do país na Primeira Guerra serviu apenas para alimentar os ânimos
revolucionários.

Crise de 1929, New Deal e a hegemonia dos EUA no pós-guerra31

A crise de 1929 e a Grande Depressão


A atual crise que assola o capitalismo tem sido comparada ao “crash” (quebra) de 1929, que iniciou
uma longa depressão na economia mundial e teve efeitos catastróficos para a classe trabalhadora. O que
aconteceu naqueles dias de outubro não foi apenas um pequeno abalo ou uma turbulência semelhante a
várias outras crises capitalistas.
A crise de 1929 foi o maior desastre da história capitalismo no século 20 e representou uma devastação
da economia mundial. Os resultados foram a pobreza generalizada das massas, uma drástica
desvalorização e a aniquilação de capitais e mercadorias. O tombo, evidentemente, foi mais alto nos EUA,
epicentro da crise e a maior economia global.
Os historiadores E. Hobsbawn e Paul Kennedy estimam que, entre 1929 e 1931, a produção norte-
americana de automóveis caiu pela metade. A produção industrial dos EUA caiu em um terço no mesmo
período. Entre 1929 e 1932, as exportações e importações (trigo, seda, borracha, chá, cobre, algodão,
café etc.) despencaram em taxas de 70%. Em 1929, apenas nos EUA, 4,6 milhões de trabalhadores
tinham perdido seus empregos. Em outubro de 1931, eram 7,8 milhões; em 1932, somavam 11,6 milhões;
e em 1933 havia nos EUA 16 milhões de desempregados, 27% de toda força de trabalho do país.
A crise se expandiu para todo o sistema capitalista. O comércio mundial caiu 60%. Houve uma crise
na produção básica de alimentos e matérias-primas devido à queda vertiginosa dos preços destes
produtos. O Brasil tornou-se símbolo do desespero e da dramaticidade da crise, quando o governo
queimou os estoques de café (principal produto de exportação do país) em locomotivas a vapor numa
inútil tentativa de frear a queda dos preços do produto.
A Grande Depressão não teve efeitos catastróficos apenas para os trabalhadores norte-americanos.
No pior período da depressão, entre 1932 e 1933, o desemprego chegou a níveis nunca vistos na história
do capitalismo. Na Inglaterra, o índice chegava a 23%. Na Alemanha, a taxa de desemprego atingiu os
espantosos 44%.
O desemprego em massa produziu cenas macabras como as enormes filas de sopas – conhecidas
como Marchas da Fome – em bairros operários onde as fábricas estavam totalmente paradas. O drama
dos trabalhadores também foi registrado pelo o olhar de artistas da época. É o caso do livro A Vinha da
ira, do escritor norte-americano John Steinbeck, cuja história é de uma família pobre do estado de
31 https://www.algosobre.com.br/historia/crise-de-1929-new-deal-e-a-hegemonia-dos-eua-no-pos-guerra.html.

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Oklahoma durante a Grande Depressão, que se vê obrigada a abandonar suas terras, perdidas por
dívidas bancárias. Ou ainda, o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, fabuloso registro da miséria
daqueles tempos e uma rigorosa crítica da produção com base no sistema de linha de montagem e
especialização do trabalho.

Uma crise inevitável


Não há como entender a quebra de 1929 sem compreender as contradições econômicas, sociais e
políticas do mundo que emerge após a Primeira Guerra Mundial (1914-1919).
A guerra foi consequência de uma profunda transformação estrutural do capitalismo com o advento do
imperialismo, grau superior do desenvolvimento capitalista.

As transformações econômicas dessa nova fase histórica do capitalismo são assim definidas por Lênin:
→ substituição da livre concorrência entre capitalistas pelos monopólios das grandes corporações;
→ exportação de capitais dos países imperialistas em escala global;
→ domínio absoluto do capital financeiro, a partir da fusão do capital bancário com o industrial.

Lênin afirmava que, no limiar do século 20, estava dada uma “situação monopolista de uns poucos
países riquíssimos, nos quais a acumulação do capital tinha alcançado proporções gigantescas. Constitui-
se um enorme ‘excedente de capital’ nos países avançados”. Daí a necessidade de que esse capital
excedente fosse exportado em busca de uma colocação lucrativa. A possibilidade da exportação de
capitais vinha do fato de existirem países onde “os capitais são escassos, o preço da terra e os salários
relativamente baixos, e as matérias-primas baratas (...) já incorporados na circulação do capitalismo
mundial”.
Como consequência, era preciso controlar o mercado mundial. Por isso as burguesias das principais
potências imperialistas empenharam-se febrilmente na preparação da Primeira Guerra Mundial como
forma de dividir e conquistar os mercados.

EUA: um gigante do pós-guerra


A Primeira Guerra fez com que os EUA emergissem como a principal economia do planeta. As
transações de produtos industriais e agrícolas se ampliaram com a abertura de créditos aos países
aliados, seguidas pela concessão de empréstimos à Inglaterra, França e, posteriormente, Alemanha. A
produção norte-americana deu um salto gigantesco em vários setores, destacando-se a indústria bélica,
de material de campanha e alimentos. Os EUA se tornaram o maior credor do mundo e no final dos anos
1920, o país respondia por mais de 42% da produção industrial global. Enquanto isso, França, Inglaterra
e Alemanha juntas detinham 28%.
O fim da guerra, porém, provocou uma pequena queda na economia norte-americana. Mas logo o
crescimento econômico é retomado, quando a França e a Inglaterra (e posteriormente Alemanha) passam
a saldar suas dívidas com os EUA. Esse período é marcado por grande entusiasmo e ficou conhecido
como “Big Bussines”, ou grandes negócios, caracterizado por uma superprodução de mercadorias e um
mercado em expansão.
Em 1924, a economia mundial parecia retomar o crescimento, embora o desemprego nos países da
Europa continuasse muito alto, com 12% na Inglaterra e 18% na Alemanha. A superprodução foi
característica de todo esse período, favorecida pela política de liberalismo econômico, responsável pelo
aumento dos estoques, pela queda nos preços, pela redução dos lucros e pelo desemprego.
No entanto, já em 1921, na contramão dos prognósticos mais otimistas, Trotsky avaliava que o breve
crescimento da economia era algo efêmero e cíclico que não deteria a crise estrutural do capitalismo:
“Quais são as perspectivas econômicas imediatas? É evidente que América se verá obrigada a diminuir
sua produção, não tendo a possibilidade de reconquistar o mercado europeu de antes da guerra. Por
outro lado, Europa não poderá reconstruir suas regiões mais devastadas nem os ramos mais importantes
de sua indústria. Por essa razão, assistiremos no futuro a uma volta penosa ao estado econômico de
antes da guerra e a uma dilatada crise: ao marcado estancamento em alguns países e em ramos das
indústrias particulares; em outros, a um desenvolvimento muito lento. As flutuações cíclicas seguirão
tendo lugar, mas em geral, a curva do desenvolvimento capitalista não se inclinará para cima senão para
abaixo” (relatório aos membros do Partido Comunista Russo, utilizado por Trotsky para o III Congresso
da Internacional Comunista; 23 de junho de 1921).
Com o início da recuperação do setor produtivo dos países europeus, a produção norte-americana
começou a entrar em declínio. Essa situação expressou-se principalmente no setor agrícola, com o
aprofundamento da queda dos preços dos produtos primários.

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A crise dos agricultores norte-americanos seria o prenúncio de 1929. Na medida em que as
exportações diminuíam, os grandes proprietários não conseguiam saldar as dívidas contraídas com os
bancos. Além disso, as ações das empresas tinham se sobrevalorizado imensamente num movimento de
especulação financeira.
Foi questão de tempo para que a crise no campo causasse desabastecimento nas cidades que já
enfrentavam problemas com o desemprego.
Quando veio o colapso das bolsas, no dia 29 de outubro, dia conhecido como “quinta-feira negra”, os
bancos do país estavam sobrecarregados de dívidas não saldadas, ações supervalorizadas de empresas
que estavam em queda e, assim, recusaram refinanciamentos ou novos empréstimos para a habitação,
automóveis etc. Calcula-se que cerca de mil hipotecas de casas foram executas por dia após 1929.
A quebradeira levou centenas de bancos à falência. Na época, o sistema financeiro norte-americano
era extremamente débil. Não havia bancos gigantes, como na Europa. O sistema bancário do país
consistia em pequenos bancos locais e regionais. Mas o tombo da economia norte-americana só estava
começando.

Hegemonia dos EUA no pós-guerra


A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque não só iniciou uma profunda depressão econômica
internacional que perdurou por toda a década de 1930. Também aprofundou os enormes conflitos
interimperialistas, abrindo, assim, os portões para uma nova guerra mundial.
Na Grande Depressão, os Estados imperialistas procuravam defender suas burguesias como podiam.
Não hesitaram em levantar barreiras tarifárias para proteger seus mercados dos efeitos da crise,
contrariando as doutrinas de livre comércio em que afirmavam repousar a prosperidade do mundo.
O fim da Primeira Guerra já marcava claramente a crise final da hegemonia inglesa no sistema
capitalista, o declínio econômico da Europa e a expansão econômica dos EUA. No entanto, o imperialismo
norte-americano ainda não tinha conquistado a posição de potência hegemônica na esfera capitalista.
Isto é, sua ascensão ainda não representava uma nova divisão mundial de forças, esferas de influência
e mercados.
O poderio dos EUA e a debilidade do imperialismo europeu aumentaram os conflitos com as potências
da Europa. Uma tendência prevista em análises da Internacional Comunista, particularmente por Trotsky,
nos anos 1920.
Mediante uma política expansionista e agressiva, potências imperialistas, como o Japão e a Alemanha
dos anos 1930, procuraram uma maior participação no mercado mundial.
Já nos EUA, a partir do New Deal, plano empregado pelo presidente eleito Franklin Roosevelt, pôs
uma breve interrupção à depressão. Diante de um enorme desemprego e um possível descontrole social,
o governo fez com que o Estado interviesse na economia, criando grandes obras de infra-estrutura,
salário-desemprego, assistência aos trabalhadores e concessão de empréstimos. No entanto, os Estados
Unidos só conseguiram retomar seu crescimento econômico com o início da produção armamentista para
a Segunda Guerra Mundial, no final de 1940.

New Deal – Superação da Crise nos EUA


1933 a 1935 (Primeira Etapa de Assistência e Recuperação.)
Política de recuperação econômica após a crise de 29, expandindo a intervenção do Estado na
economia e buscando a ampliação do mercado interno.
Abandono do liberalismo clássico que se opunha a qualquer tipo de intervenção na economia e adoção
de um liberalismo que previa a intervenção do estado na economia, como regulador do processo
econômico, sem eliminar a iniciativa privada. Ao mesmo tempo cresce a indústria bélica, acentuando a
militarização.
Em 21 de junho de 1931 o presidente americano Hoover propôs moratória de um ano sobre todos os
pagamentos intergovernamentais, inclusive dívidas e moratórias. Em junho/julho de 1932 uma comissão
concluiu um acordo que praticamente abolia as reparações de guerra. A Conferência Econômica Mundial
de junho/julho 1933 fracassou pela recusa dos EUA de colaborar com a estabilização das moedas
nacionais.
Com a crise o partido Republicano (Hoover) perdeu o poder e assumiu Roosevelt pelo Partido
Democrata e que será responsável pelo programa. Franklin Delano Roosevel (1882-1945), primo em
quinto grau de republicano Theodore Roosevel, presidente entre 1901 e 1909, foi acometido de pólio em
1921 o que o deixou paralítico e mesmo assim foi o único americano a ser eleito por quatro vezes segui
as, entre 1932 a 1944, sendo o grande responsável por tirar o país da depressão e leva-lo à condição de
superpotência.

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Em seu discurso de posse na presidência dos Estados Unidos, Roosevelt, em 1933, acusava a
profunda crise econômica e social: “... grande quantidade de cidadãos desempregados vê surgir à sua
frente o problema sinistro da existência, e um número igualmente grande labuta com escassa
remuneração”. Ao mesmo tempo, Roosevel propunha: “Esta nação exige ação, e ação imediata “ (Franklin
Delano Roosevelt, Documentos Históricos dos estados Unidos.)

Roosevelt Socialista?
O New Deal representou o abandono das políticas tradicionais do liberalismo, ineficazes diante da
nova situação, e decorreu de análises feitas pelo economista John M. Keynes. Porém o Estado não foi
utilizado para concorrer com a iniciativa privada ou a substituir, mas para estimular a recuperação do
empresariado e do mercado consumidor.
Muitos industriais e líderes do Partido Democrata de Roosevelt acusaram o presidente de ser "
socialista". Os conservadores direitistas fundaram a Liga Americana da Liberdade e chamavam Roosevelt
de " o coveiro da América " e alertavam para o perigo " acabaremos tendo um governo socialista que
destruirá a iniciativa privada, que fez grande este país. "
Roosevelt respondia:
"Ninguém nos EUA acredita mais firmemente do que eu no sistema de livre-empresa, propriedade
privada e lucros individuais. Foi este governo que salvou o sistema, quando ele estava à beira da ruína".
Para Peter Irons, autor de A People’s History of the Supreme Court, “Era difícil imaginar leis que fossem
mais agressivas ao laissez-faire, à liberdade de contrato e à competição de livre mercado. Também era
difícil imaginar leis que se baseassem em noções tão elásticas dos poderes constitucionais”.
Roosevelt tinha poderes amplos. O governo podia ficar o preço do litro de leite, estabelecer cotas de
produção de petróleo, definir o tamanho da jornada de trabalho dos bancários, fechar o mercado a
indústrias estrangeiras, dar e cancelar licenças de negócios. Roosevelt criou uma burocracia tão
volumosa que alguns patrões tinham de pagar salários diferentes em diferentes horas do dia de trabalho.
Cabia ao governo dizer aos agricultores o número de hectares em que podiam plantar algodão ou milho.
Ao pecuarista, quantas cabeças de gado podia criar ou o tamanho do seu aviário. (Veja, 18.03.2009, p.
86-87).
"Encontrando-se o Estado em situação de poder calcular a eficiência (...) dos bens de capital a longo
prazo e com base nos interesses gerais da comunidade, espero vê-lo assumir uma responsabilidade cada
vez maior na organização direta dos investimentos. (J. M. Keynes. A Teoria Geral do Emprego, do Juro
e da Moeda. 1936.)

O New Deal teve três momentos


O primeiro, de 1933 a 1934 teve início com o controle financeiro.
Recuperação econômica com as características de uma revolução. Decretou feriado bancário por 10
dias e proibiu a acumulação de ouro no tesouro, abandonando o padrão ouro.
Emitiu moeda para recuperar os preços dos produtos básicos.
Proibiu-se a exportação de ouro, desvalorizou-se o dólar e houve intervenções bancárias.
Procurou eliminar os abusos financeiros. Criou o “Federal Deposit Insurance Corporation”, garantindo
depósitos de até 5000 dólares. Restringiu o crédito bancário para fins de especulação evitando a
verticalização do mercado, “pools”, vendas fictícias de títulos e outros mecanismos para influenciar os
mercados.
Desenvolveu-se um programa de recuperação financeira, limitando o poder do grande capital e criando
o Sistema Federal de Reserva, aumentando as garantias aos investidores. Depósitos até US$ 2,5 mil
teriam garantia do governo. Se o banco quebrasse, o governo pagaria ao cliente. O “Reconstrution
Finance Corporation criada por Hoover em janeiro de 1932 foi utilizada para promover a reestruturação
do sistema bancário e financeiro. Foi feita a separação entre os bancos financeiro e de investimentos,
proibido o pagamento de juros sobre depósitos à vista e estabelecidos tetos no pagamento de juros para
os depósitos.
O programa de investimentos enfrentou resistências no meio empresarial, que se opunha à intervenção
estatal e por isso nunca foi plenamente aplicado.
Foram criados vários atos legais:
AAA – Agricultural Adjustment Act – maio de 1933 – fornecimento de crédito para a agricultura, pois
havia 15 milhões de agricultores arruinados. Os agricultores receberam subsídios para reduzir a área de
plantio. Em 1933 o governo destruiu 4 milhões de fardos de algodão e 20% da colheita de trigo e eliminou
6 milhões de suínos.

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NIRA – National Industrial Recovery Act - junho de 1933 – para acabar com o desemprego e garantir
recursos ás empresas e salários aos trabalhadores. Suspenderam-se as leis antitrustes, mas protegendo
consumidores e sindicatos, para aumentar a produção e o salário.
NIRA e AAA foram declarados posteriormente inconstitucionais.
O Emergency Bank Bill, de 9 de março de 1933 e o Glass-Steagall Act de junho de 1933 permitiram
um maior controle do Fed sobre o sistema bancário
Cerca de US$ 500 milhões foram repartidos entre os mais necessitados. Mais de US$ 3 bilhões foram
aplicados em grandes obras: construção ou restauração de estradas (400.000 km), barragens, usinas de
energia, 3,5 milhões de metros de tubulações de água e esgoto, 40 mil escolas, combate à erosão,
reflorestamento, demolição de “favelas”, hospitais, absorvendo a mão de obra desempregada.
Megaprojeto de desenvolvimento do vale do Rio Tenessee, na época uma das regiões mais pobres
dos EUA, resultou na construção de 15 represas, capazes de controlar as persistentes cheias do rio.
O Congresso criou o Federal Home Loan Banks, de financiamento imobiliário.

Welfare State
O New Deal está na origem dos programas de criação de empregos e redução das desigualdades
sociais (Social Security Act), que gerou o chamado Welfare State, ou Estado do Bem Estar Social,
adotado em vários países europeus.
Com o Social Security Act que definiu um segundo momento (1935-1936) criaram-se seguros
contra desemprego, pensões por velhice, doenças e acidentes, auxílio financeiro às crianças e mães
desvalidas e crianças aleijadas. Foram propostas ainda medidas para solucionar problemas rurais
imediatos.
Na verdade o pioneiro do conceito de Estado do Bem Estar Social foi Bismarck que para combater o
socialismo, pouco depois de 1880 criou o seguro saúde, seguro contra acidentes industriais e pensões
para a velhice. Depois da Primeira Guerra Mundial os ingleses criaram o seguro desemprego.
O Welfare State teve seu auge entre 1945 e 1973 após a Segunda Guerra Mundial juntamente com a
expansão da social democracia e da economia capitalista.
Segundo o historiador inglês David Reynolds “Durante a década de 30, mais de um terço da população
chegou a receber ajuda do governo. Os fundos públicos para esses programas não existiam antes de
1929. Dez anos depois, tomavam mais de um quarto de todo o gasto do governo”. Programas criados na
gestão Roosevelt, como o seguro-desemprego e a aposentadoria por idade, sobreviveram até o século
XXI. (Exame, 8.4.2009, p. 150).

O Fim Do Laissez Faire na Suprema Corte


A Suprema Corte americana julgou inconstitucionais apenas dois atos do Congresso entre 1790 e
1860, mas derrubou 58 entre 1860 e 1930, e sete de onze disposições legislativas importante do New
Deal, entre 1933 e 1936, na maioria dos casos argumentando que a Constituição proibia ao governo
federal interferir em contratos privados. Isso acabou em 1937, quando o presidente Roosevelt criou uma
crise constitucional ao propor a entrada de vários novos magistrados na Suprema Corte, com o intuito de
dissolver o poder de cinco juízes conservadores, que, ao barrar reformas econômicas propostas por via
legislativa, acabavam efetivamente escrevendo leis eles mesmos. Roosevelt e seus partidários
argumentaram, com justeza, que a Constituição não impunha o laissez-faire ou qualquer outra
modalidade de capitalismo. E de 1937 a 1981, os EUA experimentaram uma forma de capitalismo muito
próxima ao da Europa de hoje, caracterizado pela regulamentação governamental das atividades
econômicas.
Porém, Milton Friedman em seu famoso livro Capitalismo e Liberdade, afirmou que as operações de
mercado representam transações bilaterais e voluntárias, que são auto regulatórias e, portanto,
representam automaticamente o melhor para a sociedade, como no modelo de Adam Smith. Com a
presunção de que os mercados regulam a si mesmos, a desnormatização se converteria em prioridade,
como de fato ocorreu nos Estados Unidos de 1980 em diante”. Bruce Scott, Veja, 31.12.2008, p. 178-
179).

Corrupção Sob Controle


Estudo feito pelo Serviço Nacional de Pesquisa Econômica afirma que “antes de 1932, a administração
da assistência pública era vista por todos como politicamente corrupta “, e os imensos programas de
assistência do New Deal “ofereciam uma oportunidade de corrupção única na história do país “. No
entanto, “por volta de 1940 as acusações de corrupção e manipulação política haviam diminuído
consideravelmente “.

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Roosevelt conseguiu expandir o governo e mantê-lo livre de corrupção em grande parte pela
fiscalização incorporada desde o início aos programas do New Deal. A Administração de Progresso de
Obras (WPA), em particular, tinha uma poderosa divisão independente de “investigação de progresso”,
cuja função era investigar queixas de fraude. A divisão era tão diligente que, em 1940, quando uma
subcomitê do Congresso estudou a Administração de Progresso de Obras, não conseguiu encontrar nem
ao menos uma irregularidade séria que a divisão não tivesse detectado.
Roosevelt também garantiu que o Congresso não enxertasse medidas politiqueiras nos projetos de lei
de estímulo: não havia verbas reservadas a fins políticos nas leis que criaram a WPA e nas demais
medidas de emergência.
Por fim, não menos importante, Roosevelt criou um elo emocional com os americanos da classe
trabalhadora, que ajudou a sustentar seu governo em meio aos revezes e fracassos em seus esforços
para resolver os problemas econômicos. (Paul Krugman, F S P, 27.12.2008, p. B-6).

Fair Deal
Em 1948, Harry Truman, que havia assumido o cargo de presidente quando da morte de Franklin
Delano Roosevelt, candidatou-se à reeleição, apresentando um programa inspirado no New Deal, que
denominou de Fair Deal (Acordo Justo).
As medidas previam controle de salários e preços, construção de casas populares, melhoria do sistema
previdenciário, subsídios à agricultura, proposta de lei sobre os direitos civis e revogação da lei Taft-
Harley que havia sido aprovada em 1947 restringindo a ação dos sindicatos e proibindo as closed shops,
pelas quais uma empresa só poderia contratar trabalhadores de uma determinado sindicato com o qual
mantivesse acordo, dificultou as greves e proibiu os sindicatos de fazerem contribuições a partidos
políticos.
O Congresso não aprovou as medidas relativas aos direitos civis, nem a revogação da lei Taft-Harley,
mas aprovou a elevação do salário mínimo de 40 para 75 centavos a hora, uma lei de seguridade social
que beneficiou 10 milhões de trabalhadores e uma lei de construção de moradias.

O Brasil e a Crise de 1929


O ano de 1929 com a crise da Bolsa de Nova York inviabilizou o sistema de sustentação do preço do
café e levou à falência inúmeros fazendeiros, comerciantes e banqueiros.
Entre 1925 e 1929 a produção de café havia crescido de 17,7 para 28,4 milhões de sacas. Pelo
Convênio de Taubaté o governo comprava o excedente para impedir a queda nos preços. Com isso a
dívida do Estado de São Paulo havia passado de 1,8 milhão de libras esterlinas em 1892 para 11,9
milhões em 1929.
Washington Luís resolveu interromper as desvalorizações constantes que beneficiavam os
cafeicultores, mas tornavam os produtos importados cada vez mais caros. Decidiu substituir o mil-réis,
pelo cruzeiro, com uma cotação fixa diante da libra inglesa. Porém em 1929 tendo ocorrido uma super
safra, apenas a metade foi exportada e os fazendeiros queriam novas desvalorizações, que o presidente
não autorizou. O café teve seu auge em 1928 e perdeu mais de 50% do valor cinco meses após o “crash”
na Bolsa de Nova York.
Para segurar as cotações, o governo brasileiro promovia a queima do produto estocado, com o objetivo
de reduzir a oferta mundial, mesmo assim, grande parte dos agricultores, que até então dominavam o
cenário da economia brasileira, simplesmente quebrou.
Como ocorreu nas demais crises globais, o valor do dólar duplicou no Brasil em um ano, inviabilizando
as importações, mas fomentando e diversificando a indústria nacional.

O Totalitarismo
O Totalitarismo é uma forma de governo em que uma ditadura controla o estado em todas as esferas
da sociedade. O controle sobre os meios de informação é muito forte e a repressão é utilizada como meio
de conter as revoltas da população e evitar novas ações. A educação vincula-se à propaganda como
meio de controle e promoção do regime, ressaltando suas realizações, obras, projetos e principalmente
a figura do líder do governo, que em muitos casos passa a ser venerado através da imposição. O modelo
totalitário ganhou força no século XX após a Primeira Guerra Mundial. Existem duas vertentes do
Totalitarismo: Esquerda e Direita
O Totalitarismo de Esquerda caracteriza-se pela abolição da propriedade privada, adoção das ideias
do socialismo, extinção da religião na esfera política e coletivização obrigatória de meios de produção
agrícolas e industriais.

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No Totalitarismo de Direita as organizações sindicais estão sob olhar atento do Estado. A cultura,
religião e etnicidade são valorizados de maneira tradicionalista e a burguesia industrial é fortemente
apoiada.
Apesar das grandes diferenças, tanto o Totalitarismo de esquerda como o de direita possuem diversas
semelhanças, como a adoção de um único partido que comanda o pais e de onde partem as decisões
sobre os rumos que ele deve tomar. Ideias de supervalorização do sentimento de orgulho do
país(patriotismo), seu enaltecimento e elogios ao potencial energético, natural e humano (Ufanismo) e a
defesa ferrenha e muitas vezes irracional do país (chauvinismo) são incentivadas e impostas à população
como forma de aumentar e garantir seu domínio. O culto à personalidade do líder do partido é também
imposto como forma de dominação carismática. Alguns dos maiores exemplos de culto à personalidade
são os ditadores Adolf Hitler na Alemanha Nazista e Joseph Stalin na União Soviética. Na atualidade a
figura de Kim Il-Sung na Coréia do Norte é um exemplo de culto à personalidade.
Entre os regimes totalitários mais significativos estão o Nazifacismo presentes em países como Itália,
Alemanha, Portugal e Espanha, e o Stalinismo na União Soviética.

O Fascismo Italiano
O fascismo italiano teve início no começo da década de 20, resultado da insatisfação com os resultados
da Primeira Guerra Mundial. Os tratados assinados após a guerra não garantiram para a Itália alguns
territórios de interesse, como o caso de algumas colônias alemãs na África e a região da Dalmácia,
atribuída à Iugoslávia. Além dos territórios desejados não serem entregues ao país, o saldo de mortos
durante a guerra foi enorme. Em torno de 650 mil pessoas morreram, além da região de Veneza ter sido
devastada.
A situação econômica do pais entrou em um momento de grande caos e crise. A Itália já possuía um
problema de superpovoamento e atrasos de desenvolvimento, que foram agravados após a I Guerra com
a alta inflação provocada pela emissão de moedas e empréstimos exteriores para financiar seu exército.
Como resultado, a Lira, que era a moeda nacional da época, ficou extremamente desvalorizada.
Com a crise econômica afetando até mesmo as grandes indústrias do país, o desemprego cresceu,
juntamente com o número de greves de operários. Revoltas e pilhagens de lojas pela população tornaram-
se constantes. Por volta de 1920, mais de 600 mil metalúrgicos das regiões piemonteses e lombardos
tomaram controle de fábricas e tentaram dirigi-las, tentativa que falhou por conta da falta de credito
bancário. Além das fábricas e cidades, no campo várias terras foram ocupadas e muitos camponeses
exigiam reforma agraria.
Com medo do avanço dos movimentos sociais, do avanço das ideias comunistas e a incapacidade do
governo em conter as revoltas, grupos burgueses acabaram aliando-se a um grupo contrário ao
comunismo e ao socialismo: os Fascistas.
Os fascistas tinham como representante Benito Mussolini. Nascido em uma família pobre e
crescendo em um meio de influencias anarquistas, ingressou no Partido Socialista e refugiou-se durante
algum tempo na Suíça para fugir do serviço militar. Mussolini possuía ideais pacifistas, tendo inclusive
trabalhado como redator do jornal Avanti. Suas opiniões mudariam após o início da I Guerra Mundial,
quando fazia pedidos de intervenção militar da Itália em favor dos aliados em seu próprio jornal, Popolo
d’Itália.
Mussolini participou da guerra, de onde voltou gravemente ferido. Em seu jornal exigia atendimento
aos ex-combatentes que não conseguiam empregos, além de propor reformas sociais e criticar a
degradação e perda de poder do Estado, exigindo um regime de governo forte.
Os fascistas culpavam a democracia e o liberalismo. Vestiam-se de preto, daí o nome como foram
conhecidos, “camisas negras de Milão”. Formavam grupos paramilitares, os Squadres, ou “Fascio
de combatimiento” que combatiam as greves e os comunistas. Em 1922 estava marcada uma grande
greve geral em Roma, liderada pelos comunistas. Os fascistas impediram violentamente esta greve e
realizaram uma grande passeata, a “Marcha sobre Roma”. Após a marcha e a grande popularidade
alcançada pelos fascistas, o Imperador italiano indicou Mussolini para Primeiro Ministro. Mussolini foi
responsável por uma grande manobra diplomática com a Igreja Católica. Através do Tratado de Latrão
foi criado o Estado do Vaticano, que conquista o apoio e reconhecimento do Estado Italiano pela Igreja
(reconhecimento que não havia ocorrido desde a unificação Italiana em 1870)

Salazarismo e Franquismo
As consequências do fim da I Guerra Mundial e da Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque
causaram um efeito devastador na política e na economia de muitos países europeus. As crises
econômicas se alastravam, o desemprego aumentava junto com a insatisfação de operários de fabricas
que realizavam greves constantemente e muitos grupos políticos de esquerda chegavam ao poder. Com

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medo de perder espaço e privilégios, os grandes empresários e a igreja católica aliaram-se e financiaram
a ascensão de grupos políticos de extrema-direita para conter as revoltas sociais e o avanço das ideias
socialistas que se espalhavam pelo continente. A década de 30 na Europa foi marcada pela ascensão do
nazifascismo. Esse modelo de governo surgido na Itália e Alemanha foi também praticado em Portugal
(Salazarismo) e Espanha (franquismo).
Em Portugal, assim como na Alemanha, a crise de 1929 colocou a extrema direita no poder, o que
possibilitou a ascensão de Antônio Oliveira Salazar que em 1930 instaurou a ditadura do “Estado Novo”
e outorgou uma constituição autoritária, nacionalista, com unipartidarismo e a proibição de greves. O
ditador permaneceu no poder até 1970, quando faleceu. O modelo ditatorial permaneceu em vigor até o
ano de 1974, quando acontece a “Revolução dos Cravos” que derruba o governo autoritário promove
novamente a democracia. A revolução também coloca fim na Guerra Colonial portuguesa, conflito entre
tropas portuguesas e grupos separatistas de Angola, Guiné e Moçambique. Os separatistas buscavam a
autonomia, ou seja a independência do domínio colonial de Portugal. Salazar foi contrário à ideia de
separação e enviou tropas para suas colônias na África a partir de 1961 para conter os rebeldes. Com a
saída de Salazar do poder, a partir de 1975 tem início uma rodada de negociações para discutir a
descolonização dos territórios conflituosos com o Tratado de Alvor.
Com a queda do governo monárquico em 1931, após a renúncia do rei Afonso XIII, é proclamada a
Segunda Republica. Nas eleições ocorridas em dezembro do mesmo ano a esquerda sai vitoriosa. Alcalá
Zamora é eleito presidente da República. Com as reformas propostas pelo governo, que não se
mostraram significativas para nenhum dos lados, a insatisfação aumenta.
Manuel Azaña ficara encarregado por Alcalá Zamora de organizar o governo, que não consegue
resolver as questões agrária e trabalhista. Na questão religiosa, a companhia de Jesus é dissolvida na
Espanha, e as demais ordens religiosas apesar de continuarem, são proibidas de dedicar-se ao ensino.
As reformas foram consideradas moderadas em relação ao espirito anticlerical presente no parlamento
espanhol, que era composto por uma maioria de esquerda. As medidas tomadas não agradaram nem a
direita e a igreja, que enxergavam de forma negativa a laicização do Estado (Separação entre Estado e
religião) e do ensino, nem a esquerda, que considerava as reformas promovidas como medidas
insignificantes.
A polarização política (como no resto da Europa) entre a extrema direita e a extrema esquerda levou
o pais à uma guerra civil em 1936. Enfrentaram-se o “Nacionalistas”, grupo formado pelo Exército, a
Igreja e os Latifundiários (grandes proprietários de terra) e os “Republicanos”, grupo formado pelos
sindicatos, partidos de esquerda e os partidários da democracia. A Guerra Civil Espanhola (1936-1939)
teve apoio das tropas portuguesas da ditadura salazarista e também o apoio da Alemanha nazista. O
conflito serviu de laboratório para a nova nova tática de guerra nazista: a Blitzkrieg (termo alemão para
"guerra-relâmpago. A Blitzkrieg consistia em uma doutrina militar que consistia em utilizar forças móveis
em ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que as forças inimigas tivessem tempo de
organizar a defesa.Com o desequilíbrio das forças militares os nacionalistas venceram a guerra e subiu
ao poder o General Francisco Franco, que governou até 1975, ano de sua morte. Seu governo era
fundamentado no militarismo, anticomunismo e no catolicismo.
A Guerra Civil Espanhola deixou um saldo de mais de 500 mil vítimas, além de muitos prédios
destruídos, metade do gado do país morto e uma estagnação econômica que durou pelos próximos 30
anos. A guerra causou impacto também em vários artistas, que manifestaram sua visão através de obras
e textos criticando o conflito. Entre as produções mais expressivas está a pintura de Pablo Picasso,
Guernica.
A obra, uma pintura a óleo em estilo cubista, retrata o bombardeio e a destruição da cidade basca de
Guernica, no norte da Espanha. O autor a produziu em 1937, enquanto o autor morava em Paris. Nela
estão retratados os sofrimentos e mutilações de pessoas e animais e a destruição edifícios atingidos pela
Luftwaffe (Força Aérea Alemã).

Picasso, Pablo. Guernica. Óleo sobre tela. Fonte:http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2009/08/guernica2.jpg

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Além de Picasso, outros artistas como o pintor surrealista Salvador Dali, o poeta Federico García Lorca
e o escritor estadunidense Ernest Hemingway.

O Nazismo Alemão
O Nazismo era a sigla em alemão para “partido nacional socialista dos trabalhadores alemães”
(National Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei ou N.S.D.A.P) fundado em 1920. Em 1923 membros do
partido tentam um golpe de Estado que ficou conhecido como Putch de Munique. O golpe foi frustrado e
os nazistas foram presos, entre eles um soldado que combatera na Primeira Guerra Mundial, chamado
Adolf Hitler. Na cadeia Hitler escreve seu livro com os princípios fundamentais do nazismo o “Mein Kampf”
(minha luta) no qual ele expressou suas ideias antissemitas, racialistas e nacional-socialistas. Após serem
anistiados (anistia = perdão de crime político) os membros do partido começaram um intenso trabalho de
divulgação de suas ideias, recebendo o apoio de grandes industriais e banqueiros alemães. Com o apoio
recebido os nazistas chegam ao poder. Após a vitória parlamentar do partido nazista, Hitler é nomeado
chanceler (primeiro ministro) da Alemanha em 1933.
Com a chegada de Hitler ao poder, tem início a implantação da ditadura totalitária nazista. O
parlamento foi incendiado e a culpa foi jogada nos grupos comunistas. As greves e os partidos comunistas
foram proibidos, e teve início a perseguição realizada aos Judeus. Hitler desobedece ao tratado de
Versalhes e inicia a militarização do país, pregando a necessidade de “espaço vital” alemão, ou seja o
espaço necessário para a expansão territorial de um povo, e a conquista de territórios ocupados pela
população Germânica. Inicia-se também a recuperação econômica com base em um programa baseado
na militarização do país e criação de empregos (principalmente na indústria militar).

A expansão Nazista
Os nazistas deram início em 1936 uma expansão militar com a participação em conflitos, a invasão e
anexação de territórios. Hitler leva a Europa à guerra (desta vez sim, a culpa é da Alemanha). O início da
expansão militar ocorre com a participação alemã na “Guerra Civil Espanhola”, em 1936, depois em
1938 anexam a Áustria, e em 1938/39 invadem e anexam os Sudetos da Tchecoslováquia (região
montanhosa à sudoeste do país).

A Guerra civil espanhola e a Blitzkrieg: Para muitos historiadores a Guerra Civil Espanhola foi um
laboratório para os alemães testarem sua nova tática de guerra, a Blitzkrieg (Guerra relâmpago). Era um
ataque surpresa e simultâneo entre a aviação (Luftwaffe), divisão de tanques blindados (divisão Panzer)
e a infantaria de soldados.

Questões

01. O fascismo se afirmou onde estava em curso uma crise econômica (inflação, desemprego, carestia
etc.), ou onde ela não tinha sido completamente superada, assim como estava em curso uma crise do
sistema parlamentar, o que reforçava a ideia de uma falta de alternativas válidas de governo.
(Renzo De Felice. O fascismo como problema interpretativo,
In. A Itália de Mussolini e a origem do fascismo. São Paulo: Ícone Editora, 1988, p 78-79. Adaptado)

Interpretando-se o texto, pode-se afirmar que os regimes fascistas, característicos de alguns países
europeus no período entre as duas guerras mundiais, foram estabelecidos em um quadro histórico de
(A) abolição das economias nacionais devido à fusão de indústrias e de empresas capitalistas em
escala global.
(B) criação de blocos econômicos internacionais com a participação dos países de economia socialista.
(C)dificuldades econômicas conjugadas com a descrença na capacidade de sua solução pelos meios
democráticos.
(D) independência das colônias africanas devido ao desequilíbrio provocado pelas revoluções
nacionalistas.
(E)enfraquecimento do Estado na maioria das nações devido ao controle da economia pelos
trabalhadores.

02. (VUNESP PMSP) Leia a notícia.


Um jovem preso por planejar um massacre contra alunos da Universidade de Brasília (UnB) é suspeito
de atuar como representante de grupos neonazistas no Distrito Federal. A Polícia Federal (PF) investiga
a ligação de Marcelo Valle Silveira Mello, 26 anos, com radicais da Região Sul que pregam o ódio a
negros, homossexuais e judeus.

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(Http://www.correiobraziliense.com.br.
Acesso em 14.05.2012. Adaptado)

Prática como essa tem como modelo o regime nazista (1933-45), que defendia
(A) o pluripartidarismo e a expansão militar.
(B) a xenofobia e o internacionalismo.
(C) a democracia e o irracionalismo.
(D) o nacionalismo e a intolerância.
(E) a guerra e a diversidade cultural.

03. São características da ideologia Nazista:


(A) racismo, totalitarismo e marxismo;
(B) racismo, defesa do capitalismo e humanismo;
(C) unipartidarismo; marxismo e totalitarismo;
(D) sociedade militarista; antissemitismo e racismo;
(E) nacionalismo; bolchevismo e totalitarismo.

04. (Fgvrj) O período entre as duas grandes guerras mundiais, de 1918 a 1939, caracterizou-se por
uma intensa polarização ideológica e política. Assinale a alternativa que apresenta somente elementos
vinculados a esse período:
(A) New Deal; Globalização; Guerra do Vietnã.
(B) Guerra do Vietnã; Revolução Cubana; Muro de Berlim.
(C) Guerra Civil Espanhola; Nazifascismo; Quebra da Bolsa de Nova York.
(D) Nazifascismo; New Deal; Crise dos Mísseis.
(E) Doutrina Truman; República de Weimar; Revolução Sandinista.

05. (Upe) Leia atentamente o trecho que se segue, extraído do livro de memórias do cineasta espanhol
Luis Buñuel (1900-1983):

“Em julho de 1936, Franco desembarcava à frente de tropas marroquinas, com a intenção inabalável
de acabar com a República e de restabelecer ‘a ordem’ na Espanha. Minha mulher e meu filho acabavam
de retornar a Paris, fazia um mês. Eu estava sozinho em Madri. Em uma manhã, bem cedo, fui acordado
por uma explosão, seguida de várias outras. Um avião republicano bombardeava o quartel de La Montaña,
e ouvi também alguns disparos de canhão. [...]. Eu mal podia crer. [...]. A revolução violenta que sentíamos
germinar havia alguns anos, e que pessoalmente eu tanto almejara, passava sob a minha janela, diante
dos meus olhos. Ela me encontrava desorientado, descrente.”
(BUÑUEL, Luis. Meu último suspiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2009, p. 215. Adaptado.)

Baseando-se no texto acima e no fato histórico por ele mencionado, analise as afirmações seguintes:
I. Madri foi um dos palcos da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), que dividiu a Espanha entre radicais
conservadores de direita e republicanos de esquerda.
II. O general Franco tinha o apoio interno da Igreja, do exército e dos latifundiários, contando, ainda,
com o apoio internacional da Alemanha hitlerista.
III. A fuga para o exterior, como fez a esposa e o filho de Buñuel, foi uma prática comum entre os
cidadãos espanhóis, durante a guerra, a qual recebia apoio dos republicanos.
IV.Apoiados pela Igreja, os republicanos não aceitaram a participação de voluntários estrangeiros em seu
exército.
V. Os republicanos de esquerda foram influenciados pelo pensamento socialista e anarquista.

Estão corretas
(A) I, III e IV.
(B) I, IV e V.
(C) II, III e IV.
(D) II, IV e V.
(E) I, II e V.

06. (Unesp) Nas primeiras sequências de O triunfo da vontade [filme alemão de 1935], Hitler chega
de avião como um esperado Messias. O bimotor plaina sobre as nuvens que se abrem à medida que ele

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desce sobre a cidade. A propósito dessa cena, a cineasta escreveria: “O sol desapareceu atrás das
nuvens. Mas quando o Führer chega, os raios de sol cortam o céu, o céu hitleriano”.
(Alcir Lenharo. Nazismo, o triunfo da vontade, 1986.)

O texto mostra algumas características centrais do nazismo:


(A) o desprezo pelas manifestações de massa e a defesa de princípios religiosos do catolicismo.
(B) a glorificação das principais lideranças políticas e a depreciação da natureza.
(C) o uso intenso do cinema como propaganda política e o culto da figura do líder.
(D) a valorização dos espaços urbanos e o estímulo à migração dos camponeses para as cidades.
(E) o apreço pelas conquistas tecnológicas e a identificação do líder como um homem comum.

Respostas
1. Resposta C.
As inúmeras crises em que entraram diversos países após o fim da Primeira Guerra Mundial levaram
ao surgimento de muitos estados de governos extremistas, que levaram até mesmo a população a
acreditar que a melhor forma de governo seria a de um estado forte que controlava a economia.

2. Resposta D.
O Nazismo deriva do nome do partido que comandou a Alemanha de 1933 a 1945, o partido Nacional-
Socialista. Entre as crenças dos defensores do partido estava a de que o povo alemão derivava de uma
raça superior e de que muitos outros povos não chegavam nem perto do desenvolvimento alemão ou
como no caso dos Judeus, foram culpados pela situação econômica instável que o pais alcançou após o
final da Primeira Guerra Mundial.

3. Resposta D.
Entre as ideias defendidas pelo nazismo estavam as que pregavam o ódio a judeus, negros, ciganos,
homossexuais e outras minorias da sociedade, enquanto o povo alemão era celebrado como raça
suprema da humanidade. O alistamento militar tornou-se obrigatório a partir de 1936, além da existência
da juventude hitlerista, grupo paramilitar que alistava crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos.

4. Resposta C.
Os elementos apresentados na resposta mostram situações em que a polarização entre grupos de
direita e de esquerda tornou-se extrema. Os eventos apresentados ocorrem durante o período
mencionado, com o movimento nazifascista surgindo e ganhando força após o fim da Primeira Guerra
Mundial. A Bolsa de Nova York enfrenta momentos de crise com sua quebra em 1929, causando efeitos
devastadores na economia dos Estados Unidos, além de outros países. A Guerra Civil Espanhola ocorreu
de 1936 a 1939, surgindo do conflito entre grupos de esquerda e de direita na Espanha. Entre os tópicos
citados nas demais alternativas, a globalização surgiu após a queda da URSS no início dos anos 1990.
O Muro de Berlim foi erguido somente em 1961, época em que ocorria a Guerra do Vietnã, que durou de
1955 a 1975. A revolução cubana ocorreu em 1959 e a Crise dos Misseis, envolvendo Cuba e Estados
Unidos aconteceu no ano de 1962.

5. Resposta E.
A Guerra Civil Espanhola teve conflitos por toda a Espanha, uma disputa entre radicais conservadores
de direita e republicanos de esquerda. O general Francisco Franco recebeu apoio de grupos
conservadores que apoiavam a ideia de uma Espanha livre do comunismo e do socialismo. Entre os
grupos que o apoiavam estavam a Igreja, o Exército e diversos latifundiários (grandes proprietários de
terras). Com a intenção de frear o avanço do comunismo na Europa, tropas nazistas auxiliaram o general
no confronto com grupos influenciados pelas ideias socialistas e anarquistas.

6. Resposta C.
O Totalitarismo que ganhou força após o fim da Primeira Guerra Mundial na Europa tinha como
característica o culto ao líder e sua figura. O trecho representa essa ideia ao relacionar a chegada do
Führer (Hitler) com a chegada de bons tempos, da calmaria. O cinema foi uma das formas de propaganda
mais utilizadas pelo regime Nazista para divulgar suas ideias para a população, seja para enaltecer e
celebrar a figura do líder, seja para culpar e hostilizar a figura do Judeu.

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Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial, ocorreu entre 1939 e 1945. Assim como a Primeira Guerra, ela ganhou
esse nome por não ficar confinada apenas ao continente europeu. Foi a maior guerra vista na história da
humanidade, setenta e duas nações foram envolvidas. O número de mortes é estimado em cerca de
cinquenta milhões.

I - Antecedentes
Com o final da Primeira Guerra Mundial e com o Tratados de Versalhes, nações como a Alemanha
entraram em uma profunda crise social e econômica. Com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, a
situação que estava começando a melhorar, piora novamente, gerando um grande descontentamento em
relação ao liberalismo americano.
Sob essa paisagem é que surge movimentos em diversos países da Europa, principalmente Alemanha
e Itália, governos totalitaristas. Em 1922, Benito Mussolini chega ao poder na Itália, iniciando uma
ditadura do Partido Fascista, e em 1932, na Alemanha, o Partido Nazista após vencer as eleições alcança
o poder e Adolf Hitler é nomeado chanceler alemão.
Com o objetivo de expandir e ter de volta as região que lhe foram tiradas pelo Tratado, o governo
Alemão, desafiando os acordos feitos pelo Tratado de Versalhes, volta a produzir armamentos e a
aumentar sua força militar. A região da Renânia, que fazia fronteira com a França, volta a se rearmar.
Através destas atitudes a Europa já começa a se alarmar e esperar uma outra guerra acontecer.

Em 1935, a Itália dá início ao seu processo de expansão, anexando a Etiópia e logo depois a Albânia.
Na Alemanha, esse processo começa em 1938 quando anexam a Áustria e a Tchecoslováquia. Itália e
Alemanha já haviam assinado um acordo de apoio mútuo, em 1936, chamado de Eixo Roma-Berlim. O
Japão entra nesse acordo apenas quatro anos depois.
As outras nações, como a França e a Inglaterra, só interviram nas ações desses países, quando em
1939, após ter assinado um pacto de não agressão com a União Soviética - Pacto Ribbentrop-Molotov -
ela invade a Polônia, que havia ficado dividida pelo acordo. A invasão à Polônia aconteceu no dia 1° de
Setembro de 1939, dois dias depois é declarado guerra à Alemanha.
A Segunda Guerra Mundial reuniu nações de grande parte do mundo, divididas em dois blocos, o Eixo,
liderado pela Alemanha, Itália e Japão, e os Aliados, liderados principalmente pelos Estados Unidos,
Inglaterra e União Soviética.

II- A Guerra

II.a - Invasão da França e URSS


Sob o comando do general Erich Von Manstein, a Alemanha inaugura uma nova forma de guerra.
Conhecida como Blitzkrieg - guerra relâmpago – consistia em destruir o inimigo através do ataque
surpresa. Usando essa tática, em abril de 1940, o exército alemão invade e ocupa a Dinamarca e a
Noruega. Um mês depois Luxemburgo, Holanda e Bélgica, países até então neutros foram invadidos. O
próximo destino dos alemão era atacar a fronteira da França, que pegados de surpresa não conseguiram
se defender, deixando o exército alemão se aproximar de mais de Paris. No dia 14 de julho de 1940 a
capital francesa é dominada, forçando o governo francês a se transferir para o interior do país e apenas
alguns dias depois o governo francês se rende.
No acordo de rendição, metade do território da França passava a pertencer a Alemanha, a outra
metade ficaria com eles, desde que as autoridades francesas colaborassem com os alemães. O general
francês Charles de Gaulle, não contente com a situação, fugiu para a Inglaterra, de onde liderou
resistências contra a presença dos nazistas no país.
Em 1941, sem nenhum aviso, o exército alemão, invade a URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas), atacando durante três meses, três regiões diferentes – Leningrado, Moscou e Stalingrado).
Sabendo da força do exército, a posição tomada pela URSS foi de recuar. Contudo, Hitler, subestimando
as forças soviéticas, ordenou um ataque a Moscou e Leningrado, onde assistiu a sua tática de guerra
falhar. Além dos soviéticos terem se defendido bem, os alemães se viram enfrentando o rigoroso inverno
Russo.
Quando finalmente conseguem chegar a Stalingrado, a batalha acontece na própria rua, onde com
apenas 285 mil soldados a Alemanha se vê cercada por forças soviéticas. Apenas em janeiro de 1943 é
que, depois de vários meses de guerra, os sobrevivente alemães se rendem à força da URSS. Esse fato
marca o fim da fase próspera vivida pelo Eixo.

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II.Guerra no Pacífico e Entrada dos Estados Unidos na Guerra
Apesar do Japão estar aliado ao Eixo, ele permaneceu fora do conflito direto nos primeiros anos da
guerra. Até o ano de 1941, sua estratégia era pressionar os Estados Unidos, para que este reconhecesse
sua superioridade no continente Asiático. Quando perceberam que o governo americano não atenderiam
as suas exigências, o governo japonês ordenou um ataque surpresa à base norte-americana de Pearl
Harbor, no Havaí em dezembro de 1941. Após o ataque, o Governo dos Estados Unidos entram na guerra,
em favor aos Aliados.
Após o ataque, os japoneses conseguiram conquistar diversas regiões da Ásia, onde conseguiram o
domínio de matérias-primas importantes, como o petróleo, borracha e minério.
Em junho de 1942, os Estados Unidos conseguem vencer a força japonese no pacífico. Essa batalha
ganhou o nome de “Batalha de Midway”

III. – Fim da Guerra


Após a derrota dos japoneses no pacífico, as forças inglesas e norte-americanas conseguiram expulsar
o exército alemão do norte da África. No ano seguinte, em 1943, os Aliados conseguiram chegar no sul
da Itália, enquanto isso, o exército soviético (Exército Vermelho) dava início a invasão da Alemanha. Em
1944, na Itália, Mussolini é fuzilado por guerrilheiros Antifascistas.
No mesmo ano, no dia 6 de junho, que ficaria conhecido como o “Dia D”, as forças inglesas e norte
americanas, com mais de 3 milhões de homens, conseguem chegar no norte da França, região da
Normandia. Em agosto, os Aliados conseguem entrar em Paris. O fim da guerra para os alemães era
apenas uma questão de tempo.
No dia 30 de abril de 1945, Hitler, com sua mulher Eva Braun, se suicidam na capital da Alemanha,
Berlim. Após a sua morte, os soviéticos conseguem chegar a Berlim, onde finalmente o exército alemão,
junto com seus comandantes, assinam a rendição.
Apesar da guerra ter acabado na Europa, o Japão se recusou a se render. Para forçar sua saída, no
dia 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos ordena o lançamento de uma bomba atômica sobre a cidade
de Hiroshima, ode em questão de segundos mais de 80 mil pessoas foram mortas. Mesmo após o ataque
o Japão não concordou em assinar a rendição. Com isso três dias depois, outra bomba atômica é lança,
agora sobre a cidade de Nagasaki, matando mais de 40 mil pessoas. Depois do segundo ataque, o
governo japonês concorda em assinar a rendição.

IV. .d – Participação do Brasil na Segunda Guerra


O Brasil, comandado na época pelo então presidente Getúlio Vargas, tentou manter no início da guerra
uma posição neutra frente aos acontecimentos. Contudo em 1942, algumas embarcações brasileiras são
destruídas no Oceano Atlântico, por tropas do Eixo. Após o ataque, o presente Getúlio Vargas, resolve
fazer um acordo com o presidente norte-americano Roosevelt, onde o país entraria na guerra ao lado dos
Aliados. O Brasil participou da guerra enviando tropas e mais de 25 mil militares da Força Expedicionária
Brasileira, foram enviados pilotos e homens de apoio da Força Aérea. O país também participou da guerra
enviando matérias-primas, principalmente a borracha, e cedendo seus portos aos Aliados, principalmente
aos norte-americanos, onde abasteciam seus aviões.

III – Consequências
Com o fim da guerra em 1945, líderes dos três principais países vencedores – URSS, Estados Unidos
e Inglaterra – se reuniram em na Conferência de Potsdam, onde ficou decidido que a Alemanha seria
dividida em quatro áreas de ocupação, que foram entregues a França, Inglaterra, Estados Unidos e União
Soviética. A capital, Berlim, também foi dívida. Já o Japão teria seu território dominado pelos Estados
Unidos por tempo indeterminado.
Após a guerra, os Estados Unidos e a URSS saíram como grandes potência mundiais. As ideias
antagônicas desses países acabaram por dividir o mundo. De um lado estava o capitalismo e do outro o
socialismo. A partir dessa divisão, um conflito entre essas grandes potências se instaurou, começou a
chamada Guerra Fria.

III.a – Criação da Organizações das Nações Unidas


Em fevereiro de 1945, após uma das conferências de paz, ficou decido a criação de um órgão que
tentaria unir as nações, estabelecendo relações amistosas entre os países. A Carta das Nações Unidas
foi incialmente assinada por cinquenta países, onde foram excluídos de participar os países que
participaram do Eixo. A criação da ONU foi a segunda tentativa de promover a paz, a primeira tentativa
que fracassou, foi a formação da Liga das Nações, criada após a Primeira guerra.

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Questões

1. (TJ-PR - Titular de Serviços de Notas e de Registros – IBFC/) Sobre a Segunda Guerra Mundial
(1939/1945), assinale a alternativa incorreta:
(A) Uma de suas causas foram as severas sanções pecuniárias impostas pelo Tratado de Versalhes
à Alemanha e seus aliados, comprometendo a sua economia, elevando a inflação a índices astronômicos
e gerando um arraigado sentimento de humilhação nos alemães e a exacerbação do nacionalismo,
possibilitando a ascensão de Hitler e do Partido Nazista ao poder.
(B)O evento que deflagrou o conflito foi o ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, situadano
Oceano Pacífico.
(C) O conflito envolveu basicamente dois grupos: o Eixo (integrado por Alemanha, Itália e Japão) e os
Aliados (entre eles: Inglaterra, Estados Unidos, França e União Soviética).
(D)Com a vitória aliada, foi dissolvido o Terceiro Reich e dividida a Alemanha (Oriental e Ocidental),
criada a ONU-Organização das Nações Unidas e iniciada a Guerra Fria, diante do estabelecimento dos
Estados Unidos e da União Soviética como superpotências.

2. (SEDU-ES - Professor B — Ensino Fundamental e Médio — História – CESPE) Um mundo


dividido ideologicamente, além das marcas da destruição causadas por vigorosas máquinas de guerra —
eis a realidade que emerge da Segunda Guerra Mundial, oficialmente encerrada em 1945. No que
concerne à história mundial após o encerramento do grande conflito, julgue o próximo item.
A Organização das Nações Unidas (ONU) é considerada uma das mais significativas consequências
da Segunda Guerra Mundial e nela coexistem órgãos de participação igualitária entre os estados-
membros, como a Assembleia Geral, e outros dominados por alguns poucos, como o Conselho de
Segurança.
(A) Certo
(B) Errado

3. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Na Segunda Guerra Mundial, o Japão aliou-se à
Alemanha, tal como já fizera na Primeira Guerra.
(A) Certo
(B) Errado

4. (SEDF - Estudantes Universitários – CESPE) As divergências econômicas entre França e


Alemanha foram o estopim do conflito de proporções mundiais conhecido como a Segunda Guerra
Mundial.
(A) Certo
(B) Errado

5. (SEE-AL - Professor – História – CESPE) Com relação à participação do Brasil na Segunda Guerra
Mundial, julgue os itens subsequentes.
A atuação da Força Expedicionária Brasileira não foi decisiva para a vitória dos Aliados na Segunda
Guerra Mundial, visto que o contingente militar brasileiro era relativamente pequeno e o envio de soldados
para o combate ocorreu tardiamente.
(A) Certo
(B) Errado

6. (SEDU-ES - Professor B — Ensino Fundamental e Médio — História – CESPE) Um mundo


dividido ideologicamente, além das marcas da destruição causadas por vigorosas máquinas de guerra —
eis a realidade que emerge da Segunda Guerra Mundial, oficialmente encerrada em 1945. No que
concerne à história mundial após o encerramento do grande conflito, julgue o próximo item.
A bipolaridade americano-soviético traduziu-se em um jogo de enfrentamento que se convencionou
chamar de Guerra Fria.
(A) Certo
(B) Errado

7. (MPE-SP - Auxiliar de Promotoria – VUNESP) Em relação à participação do Brasil na 2.ª Guerra


Mundial, é correto afirmar que o país
(A) manteve neutralidade política, não participando do conflito.
(B) enviou apenas um corpo médico para o conflito, e não soldados.

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(C) lutou ao lado dos Aliados: Inglaterra, França, Estados Unidos e União Soviética.
(D) lutou ao lado do Eixo: Itália, Alemanha e Japão.
(E) participou do conflito, do início ao fim da guerra (1939- 1945).

8. (SEDU-ES - Professor B — Ensino Fundamental e Médio — História – CESPE) O intervalo entre


as duas guerras mundiais do século XX não foi outra coisa senão uma trégua. Nesse sentido, a Grande
Guerra de 1914 nada mais fez do que preparar a Segunda Guerra Mundial. Revanchismo, orgulho
nacional ferido e problemas econômico-sociais figuraram entre os fatores que levaram à eclosão do
conflito em 1939, sem contar com a desorganização da economia mundial determinada pela Crise de
1929. Em relação a esse quadro, cujo epicentro foi a Segunda Guerra Mundial, julgue o item subsequente.
Causas distintas e diferentes protagonistas inviabilizam qualquer análise histórica que estabeleça
vínculos entre as guerras mundiais do século XX.
(A) Certo
(B) Errado

9. (SEPLAG-DF - Professor – História - CESPE) Em dezembro de 1941, os Estados Unidos da


América (EUA) uniram duas guerras paralelas, a da Ásia e a da Europa, em uma só.
(A) Certo
(B) Errado

10. (CONFERE - Auditor(a) VII - INSTITUTO CIDADES) No ano de 1939, em meio à atmosfera de
tensão política que desencadeou a sucessão de conflitos da Segunda Guerra Mundial, um acordo de não
agressão foi firmado entre a Alemanha e a União Soviética, o Pacto Germano-Soviético. Esse pacto
estabelecia que, se acaso a Alemanha entrasse em conflito com a Inglaterra ou a França em razão de
uma eventual investida da Alemanha contra a Polônia, a URSS, por sua vez, ficaria afastada, sem se
manifestar militarmente. Tal pacto também pode ser chamado de:
(A) Tratado de Moscou
(B) Tratado de Versalhes
(C) Pacto de Varsóvia
(D) Pacto Ribbentrop-Molotov

Respostas

1. Resposta: B.
A afirmativa “B” está errada pois o fato que desencadeou a guerra foi a quebra do pacto feito entre a
Alemanha e a União Soviética, quando o exército alemão invadiu a Polônia.

2. Resposta: A.
A criação da ONU, após a Segunda Guerra Mundial, pode ser considerada uma das principais
consequências da guerra. A Carta das Nações Unidas foi incialmente assinada por cinquenta países,
onde foram excluídos de participar os países que participaram do Eixo. A criação da ONU foi a segunda
tentativa de promover a paz.

3. Resposta: B.
A afirmativa da questão está errada, pois o Japão não se aliou a Alemanha na Primeira Guerra. O país
fez parte da Tríplice Entente.

4. Resposta: B.
O fato que serviu de estopim para a guerra foi a invasão da Polônia pela Alemanha, já que esta havia
feito um acordo com a União Soviética de não agressão e a região polonesa havia sido dividida. Após
esta invasão França e Inglaterra declararam guerra à Alemanha, iniciando assim a Segunda Guerra
Mundial.

5. Resposta: A.
Apesar da entrada do Brasil na guerra e do envio de soldados e pilotos, podemos considerar que a
sua participação do país não foi o fator decisivo para que os Aliados ganhassem a guerra. O país entrou
no conflito tardiamente, apenas em 1942

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6. Resposta: A.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a URSS saíram como grandes potência
mundiais. As ideias antagônicas desses países acabaram por dividir o mundo entre o capitalismo e
socialismo, conflito que ganhou o nome de Guerra Fria.

7. Resposta: C.
Após receber ataques em suas embarcações, o presente Getúlio Vargas, resolve fazer um acordo com
o presidente norte-americano Roosevelt, onde o país entrou na guerra ao lado Aliados Inglaterra, França,
Estados Unidos e União Soviética.

8. Resposta: B.
Tanto a Primeira como a Segunda Guerra Mundial estão intimamente ligadas, uma é decorrência da
outra. As feridas abertas no primeiro conflito é que resultam no início do segundo conflito.

9. Resposta: A.
Quando em 1941 o Japão ataca a base norte-americana no Havaí, eles já estavam em guerra na Ásia,
pelo domínio da região. Após o ataque, os Estados Unidos entram na guerra, que acontecia na Europa,
e continuava a lutar com o Japão no Pacífico.

10. Resposta: D.
O Pacto de não agressão assinado pela Alemanha e União Soviética em 1939 ganhou o nome de
Pacto Ribbentrop-Molotov.

Guerra Fria
O período conhecido como Guerra Fria teve início logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em
1945, percorrendo praticamente todo o restante do século XX, e terminando em 1991, com o fim da União
Soviética.
Ela tem início partir da emergência de duas grandes potências econômicas no fim da Segunda Guerra
Mundial: Estados Unidos e União Soviética, defensores do Capitalismo e do Socialismo,
respectivamente.
A diferença ideológica entre os dois países era marcante, o que levou o período a ser conhecido
também como Mundo Bipolar.

A conferência de Potsdam
Logo após o término da guerra, em 1945, as nações vencedoras do conflito reuniram-se para decidir
sobre os rumos da política e da economia mundial.
No dia 17 de julho os Estados Unidos, a União Soviética e o Reino Unido estabeleceram as definições
sobre a Alemanha no pós-guerra, dividindo-a em zonas de ocupação. Sob o controle soviético ficaram os
territórios a leste dos rios Oder e Neisse. Berlim, encravada no território que viraria Alemanha Oriental,
também foi dividida em quatro setores. Ao final da conferencia foram definidas quatro ações prioritárias a
serem exercidas na Alemanha: desnazificar, desmilitarizar, descentralizar a economia e reeducar os
alemães para a democracia. Também foi exigida a rendição imediata do Japão.

As tensões começam
Desde a Revolução Russa, em 1917, vários setores do capitalismo, especialmente nos Estados
Unidos, temiam o aumento do socialismo, conflitante com seus interesses. Após o fim da Segunda Guerra
essa preocupação aumentou ainda mais, já que a União Soviética havia saído como uma das vencedoras
do conflito.
A definição de fronteiras estabelecidas durante acordos anteriores, como a conferencia de Yalta não
agradou a todos, e focos de conflitos começaram a aflorar. Em 1947 surgiram, tanto na Grécia quanto na
Turquia, movimentos revolucionários de caráter comunista, com o objetivo de aliar esses países à União
Soviética. Pelo acordo estabelecido na Conferência de Yalta, ambos os países deveriam ficar sob o
domínio do Reino Unido, o que levou as tropas estadunidenses a intervirem na região e sufocar os
movimentos revolucionários.
Como parte da justificativa para a invasão, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, enviou
uma mensagem ao Congresso dizendo que os Estados Unidos deveriam apoiar os países livres que
estavam “resistindo a tentativas de subjugação por minorias armadas ou por pressões externas.” Com

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esse discurso o presidente pretendia justificar também qualquer intervenção em países que estivessem
sob o domínio ou influência política comunista.
Essa atitude do presidente ficou conhecida como Doutrina Truman, iniciando efetivamente a Guerra
Fria. A partir de então, Estados Unidos e União Soviética passaram a buscar o fortalecimento econômico,
político, ideológico e militar, formando os dois blocos econômicos que dominaram o mundo durante
restante do conflito.
A oposição dos Estados Unidos ao comunismo gerou um pensamento maniqueísta, colocando
capitalismo como algo bom e o comunismo como algo ruim e mau. A análise desses sistemas econômicos
através de definições tão simples é algo equivocado, pois não é possível reduzi-los a uma comparação
tão rasa. O auge desse maniqueísmo político se deu através da figura do senador Joseph Raymond
McCarthy. Por meio de discursos inflamados e diversos projetos de lei, esse estadista conseguiu aprovar
a formação de comitês e leis que determinavam o controle e a imposição de penalidades contra aqueles
que tivessem algum envolvimento com “atividades antiamericanas”. Essa perseguição ao comunistas
ficou conhecida como Macarthismo.

Incentivos Econômicos
Em 1947 os Estados Unidos lançaram uma política econômica de reconstrução da Europa, devastada
pela guerra. O Programa de Recuperação Europeia ficou popularmente conhecido como Plano
Marshall. Recebeu esse nome em função do Secretário de Estado dos Estados Unidos chamado
George Marshall, seu idealizador.
Entre os objetivos do Plano Marshall estavam:
- Possibilitar a reconstrução material dos países capitalistas destruídos na Segunda Guerra Mundial;
- Recuperar e reorganizar a economia dos países capitalistas, aumentando o vínculo deles com os
Estados Unidos, principalmente através das relações comerciais;
- Fazer frente aos avanços do socialismo presente, principalmente, no leste europeu.
Até o início da década de 1950, os Estados Unidos destinaram cerca de 13 bilhões de dólares aos
países que aderiram ao plano. O dinheiro foi aplicado em assistência técnica e econômica e, ao fim do
período de investimento, os países participantes viram suas economias crescerem muito mais do que os
índices registrados antes da Segunda Guerra Mundial. A Europa Ocidental gozou de prosperidade e
crescimento nas duas décadas seguintes e viu nascer a integração que hoje a caracteriza. Por outro lado,
os Estados Unidos solidificavam sua hegemonia mundial e a influência sobre vários países europeus,
enquanto impunha seus princípios a vários países de outros continentes. Entre os países que mais
receberam auxílio do plano estão a França, a Inglaterra e a Alemanha.
A União Soviética também buscou recuperar a economia dos países participantes do bloco socialista,
através da COMECON (Conselho de Assistência Econômica Mútua) auxiliando a Polônia, Bulgária,
Hungria, Romênia, Mongólia, Tchecoslováquia e Alemanha Oriental. Assim como os Estados Unidos, a
União Soviética também utilizou o plano para espalhar sua influência e sua ideologia para os países
beneficiados.
Baseados nesses programas de ajuda, os dois blocos que se formavam passaram a construir alianças
político-militares com o objetivo de proteção contra ataques inimigos. Essas alianças também eram
utilizadas como demonstração de força através do desenvolvimento armamentista.

As Alianças Militares
No dia 4 de abril de 1949 foi criada em Washington a Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), formada pelos Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha Ocidental, Canadá, Islândia,
Bélgica, Holanda, Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Portugal, Itália, Grécia e Turquia. Ficava então
estabelecido que os países envolvidos se comprometiam na colaboração militar mútua em caso de
ataques oriundos dos países referentes ao bloco socialista.
A atuação da OTAN não ficou restrita apenas ao campo militar. Embora fosse seu preceito inicial, a
organização tomou dimensões de interferência nas relações econômicas e comerciais dos países
envolvidos.
Como resposta à criação da OTAN, em 1955 o bloco soviético também criou uma aliança militar, o
Pacto de Varsóvia, celebrado entre a União Soviética, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria,
Polônia, Romênia e Alemanha Oriental.
A atuação do Pacto de Varsóvia se deu no âmbito militar e no econômico, e manteve a ligação entre
os países membros. As principais ações do Pacto de Varsóvia se deram na repressão das revoltas
internas. Foi o caso no ano de 1956 quando as forças militares do grupo reprimiram ações de revoltosos
na Hungria e na Polônia e também em 1968 no evento conhecido como Primavera de Praga, ocorrido na
Tchecoslováquia.

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Os Conflitos
Com a criação das alianças políticas, tanto Estados Unidos como União Soviética estiveram presentes
em diversos conflitos pelo mundo, fosse com a presença militar ou com o apoio econômico. Apesar disso,
os países nunca enfrentaram um ao outro diretamente.

Guerra da Coréia (1950-1953)


Após o termino da Segunda Guerra, a Coréia foi dividida em duas zonas de influência: o Sul foi
ocupado pelos Estados Unidos e o Norte foi ocupado pela União Soviética, sendo divididos pelo Paralelo
38º, determinado pela conferência de Potsdam
Em 1947, na tentativa de unificar a Coréia, a Organização das Nações Unidas – ONU - cria um grupo
não autorizado pela URSS, para pretensamente ordenar a nação através da realização de eleições em
todo o país. Esta iniciativa não tem êxito e, no dia 9 de setembro de 1948, a zona soviética anuncia sua
independência como República Democrática Popular da Coréia, mais conhecida como Coréia do
Norte. A partir de então, a região é dividida em dois países diferentes - o norte socialista, apoiado pelos
soviéticos; e o sul, reconhecido e patrocinado pelos EUA.
Mesmo após a divisão entre os dois países, a região da fronteira continuou gerando tensões, com
tentativas dos dois lados para garantir a soberania sobre o território vizinho, principalmente através da
propaganda, de ambos os lados.
Em 25 de junho de 1950 a Coreia do Norte alegou uma transgressão do paralelo 38º pela Coreia do
Sul. A partir de então começa uma invasão que resulta na tomada da capital sul-coreana, Seul, em 3 de
julho do mesmo ano.
A ONU não aceitou a invasão propagada pela Coreia do Norte e enviou tropas para conter o avanço,
comandadas pelo general americano Douglas MacArthur, para expulsar os socialistas, que pretendiam
unificar o país sob a bandeira do Comunismo. A união Soviética não agiu diretamente no conflito, porém,
cedeu apoio militar para a Coreia do Norte.
Em setembro de 1950, as forças das Nações Unidas tentam resgatar o litoral da região oeste, sob o
domínio dos norte-coreanos, atingindo sem muitas dificuldades Inchon, próximo a Seul, onde se
desenrola uma das principais batalhas, e depois de poucas horas elas ingressam na cidade invadida,
com cerca de cento e quarenta mil soldados, contra setenta mil soldados da Coréia do Norte. O resultado
é inevitável, vencem as forças sob o comando dos EUA. Com o domínio do Sul, as tropas multinacionais
seguem o exemplo dos norte-coreanos e também atravessam o Paralelo 38º. Seguem então na direção
da Coréia do Norte, entrando logo depois em sua capital, Pyongyang, ameaçando a fronteira chinesa ao
acuar os norte-coreanos no Rio Yalu, sede de intensa batalha.
Com medo do avanço das tropas sobre seu território, a China resolve entrar na batalha, enviando
trezentos mil soldados para auxiliar a Coreia do Norte, forçando o general MacArthur a recuar e
conquistando Seul em janeiro de 1951. Em contrapartida, as tropas americanas avançaram novamente
entre fevereiro e março, expulsando as tropas coreanas e chinesas e obrigando-as a retornar para os
limites estabelecidos pelo Paralelo 38º, deixando os conflitos equilibrados entre os dois lados. A guerra
continua até meados de 1953, quando em 27 de julho o tratado de paz é assinado, com o Armistício de
Panmunjon. Após o tratado, as fronteiras estabelecidas em 1948 foram mantidas e foi criada uma região
desmilitarizada entre as duas Coreias. Apesar do fim da guerra as tensões entre os dois países continua
até a atualidade, com a corrida armamentista e as declarações da Coreia do Norte sobre a fabricação e
armazenamento de armamento nuclear.

Guerra do Vietnã (1959-1975)


O Vietnã está localizado na península da Indochina. Era uma possessão colonial francesa. Na
Segunda Guerra foi invadido pelos japoneses. Os vietnamitas expulsaram o Japão ao fim da guerra e
teve início o processo independência (chamado pelos franceses de descolonização). Ao norte as tropas
que expulsaram os franceses eram tropas lideradas por líderes socialistas. Em 1954, na Convenção de
Genebra, foi reconhecida a independência dos países da península da Indochina: Laos, Camboja e
Vietnã.
Foi estabelecida então a divisão do Vietnã pelo Paralelo 17º. O Vietnã do Norte manteve-se governado
pelo líder comunista Ho Chi Minh e o Vietnã do Sul, governado pelo rei Bao Dai, que nomeou Ngo Dinh
Diem como Primeiro-ministro.
Em 1955, Ngo Dinh Diem, aplicou um golpe de Estado e depôs o rei Bao Dai. Após a chegada ao
poder, Ngo Dihn Diem proclamou a República, recebendo apoio dos Estados Unidos. O governo de Ngo
Dihn Diem foi marcado pelo autoritarismo e pela impopularidade. Em 1956 o presidente suspendeu as
eleições estabelecidas pela conferência de Genebra, repetindo o ato em 1960.

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Em oposição ao governo foi criada a Frente de Libertação Nacional, que tinha como objetivo depor
o presidente e unificar o Vietnã. A Frente de Libertação, possuía um exército guerrilheiro, o Vietcongue.
Após o cancelamento das eleições em 1960, o conflito teve início. O exército Vietcongue teve apoio
do Vietnã do Norte e em 1961 os Estados Unidos enviaram auxilio ao presidente do Vietnã do Sul. O
exército guerrilheiro dominou boa parte dos territórios do Sul até 1963, mesmo ano em que morreu o
presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, e o governo foi assumido por seu vice, Lyndon Johnson.
Em 1964, dois comandantes estadunidenses iniciaram o bombardeio do Vietnã do Norte, sob a
alegação de que o país havia atacados dois navios norte-americanos em Tonquim.
Os bombardeios norte-americanos sobre o Norte prolongaram-se até 1968, quando foram suspensos
com o início das conversações de paz, em Paris, entre norte-americanos e norte-vietnamitas. Como nos
encontros de Paris não se chegou a uma solução, os combates prosseguiram. Em 1970, o presidente dos
EUA, Richard Nixon, autorizou a invasão do Camboja e, em 1971, tropas sul-vietnamitas e norte-
americanas invadiram o Laos. Os bombardeios sobre o Vietnã do Norte por aviões dos EUA recomeçaram
em 1972.
Desde 1968, a opinião pública norte-americana, perplexa diante dos horrores produzidos pela guerra,
colocava-se contrária à permanência dos EUA no conflito, exercendo uma forte pressão sobre o governo,
que iniciou a retirada gradual dos soldados. Em 1961, eram 184.300 soldados norte-americanos em
combate; em 1965, esse número se elevou para 536.100 soldados; e, em 1971, o número caía para
156.800 soldados. Em 27 de janeiro de 1973 era assinado o Acordo de Paris, segundo o qual as tropas
norte-americanas se retiravam do conflito; haveria a troca de prisioneiros de guerra e a realização de
eleições no Vietnã do Sul. Com a retirada das tropas norte-americanas, os norte-vietnamitas e o
Vietcongue deram início a urna fulminante ofensiva sobre o Sul, que resultou, em abril de 1975, na vitória
do Norte. Em 1976, o Vietnã reunificava-se, adotando o regime comunista, sob influência soviética. Em
1975, os movimentos de resistência no Laos e no Camboja também tomaram o poder, adotando o regime
comunista, sob influência chinesa no caso do Camboja. Os soldados cambojanos, com apoio vietnamita,
em 1979, derrubaram o governo pró-chinês do Khmer Vermelho.
A guerra do Vietnã é considerada o conflito mais violento da segunda metade do século XX, com
violações constantes dos direitos humanos e batalhas sangrentas. Durante todo o desenrolar da guerra,
os meios de comunicação do mundo inteiro divulgaram a violência e intensidade do conflito, além de
falarem sobre o mau desempenho dos americanos, que investiram bilhões de dólares e mesmo assim,
não conseguiram derrotar o Vietnã. Foi nesta guerra que os helicópteros foram usados pela primeira vez.
Entre as técnicas mais devastadoras utilizadas pelos Estados Unidos estavam o Agente Laranja e o
Napalm.
A característica de guerrilha do exército Vietcongue priorizava os ataques através de emboscadas,
evitando o combate direto. Para facilitar a identificação dos guerrilheiros nas matas, os norte-americanos
e sul-vietnamitas utilizaram o Agente Laranja, um desfolhante (produto químico que causa a queda das
folhas, normalmente utilizado como agrotóxico) lançando-o através de aviões, o que impedia que os
soldados se escondessem na mata. Calcula-se que tenham sido lançados 45,6 milhões de litros do
produto durante os anos 60, atingindo vinte e seis mil aldeias e cobrindo dez por cento do território do
Vietnã. O Agente Laranja causa sérios danos ao meio ambiente e à população, e seus efeitos, como
degradação do solo e mutações genéticas são sentidos até hoje.
Outro agente químico utilizado na guerra, foi o Napalm, que é um conjunto de líquidos inflamáveis à
base de gasolina gelificada, tendo o nome vindo de seus componentes: sais de alumínio co-precipitados
dos ácidos nafténico e palmítico.
O napalm foi usado em lança-chamas e bombas incendiárias pelos Estados Unidos, vitimando alvos
militares e cidades e vilarejos de civis posteriormente.

Conflitos árabes-israelenses (1948-1974)


Desde a criação de Israel, em 1948, por diversas ocasiões o estado judeu entrou em guerra com seus
vizinhos árabes. As diferenças entre esses grupos continuam no século XXI.
A parte do Oriente Médio conhecida como Palestina era a antiga terra do povo judeu. No século I d.C.,
os romanos expulsaram grande parte dos judeus da região, espalhando-os por outras partes do império.
Os muçulmanos tomaram posse da Palestina no século VII. De 1923 a 1948, a região foi dominada pelos
britânicos, e nesse período muitos judeus emigraram de volta da Europa para lá. Tanto os árabes como
os judeus que viviam na Palestina passaram a disputar o controle do território.
Quando os britânicos deixaram a região, as Nações Unidas (ONU) dividiram a região. Cada um dos
dois povos recebeu uma parte da terra, mas os árabes não concordaram com a partilha, dizendo que os
judeus receberam terras que pertenciam a eles.

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Em 14 de maio de 1948, com a criação de Israel, os palestinos e os países árabes vizinhos declararam
guerra a Israel. Forças árabes ocuparam partes da Palestina, mas quando acabou a guerra Israel ficou
com mais terras do que tinha antes.
Em janeiro de 1949, Israel e os países árabes assinaram acordos sobre as fronteiras. Contudo, não
houve um tratado de paz. Os inúmeros palestinos que perderam suas casas foram acabar em campos de
refugiados nos países árabes.
Em meados de 1967, o conflito entre a Síria e Israel levou à Guerra dos Seis Dias. Israel viu que o
Egito estava se preparando para entrar na guerra para ajudar a Síria. Em 5 de junho, os israelenses
atacaram rapidamente a força aérea egípcia e destruíram-na quase por completo. Em apenas seis dias
Israel ocupou a Cidade Velha de Jerusalém, a península do Sinai, a Faixa de Gaza, o território da Jordânia
a oeste do rio Jordão (chamado Cisjordânia) e as colinas sírias de Golã, junto à fronteira de Israel.
Em 6 de outubro de 1973, dia do Yom Kippur (ou Dia do Perdão), que é sagrado para os judeus, e
época do ramadã, mês sagrado para os palestinos, o Egito e a Síria atacaram Israel. Nessa guerra, os
israelenses empurraram ambos os exércitos inimigos de volta a seus territórios, mas sofreram pesadas
perdas. Ao terminar a luta, no início de 1974, a ONU estabeleceu zonas neutras entre esses países e
Israel.
Em 26 de março de 1979, Israel e o Egito assinaram um tratado de paz. Contudo, a tensão entre Israel
e as comunidades árabes continuou. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) atacou Israel
em 1982, a partir de campos de refugiados no Líbano. Em 5 de junho de 19892, Israel contraatacou e
invadiu esse país. Após meses de bombaredeios israeleses, foi negociada a retirada da OLP da capital
libanesa. As tropas israelenses permaneceram ali até 2000.
No final da década de 1970, os israelenses começaram a construir assentamentos nas áreas ocupadas
por eles na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Em 1987, o aumento no número desses assentamentos
causou protestos dos palestinos. Estouraram rebeliões e ataques — conhecidos como intifada —, que
continuaram até o início dos anos 1990. Em 1993, Israel concordou em ceder aos palestinos parte do
controle dos territórios ocupados. Em 2000, porém, começou nova intifada. Isso paralisou as
conversações de paz entre Israel e os palestinos.
A questão Alemã e o muro de Berlim

Após a divisão alemã entre os vencedores da Segunda Guerra, os países capitalistas (Estados Unidos,
França e Inglaterra) resolveram unificar suas zonas de ocupação e implantar uma reforma monetária,
além de criar um Estado provisório sob seu controle. Para empresários e autônomos, a reforma era algo
extremamente favorável.
Com medo de que a população do lado oriental migrasse para a zona de domínio ocidental, Stalin
bloqueou o lado ocidental de Berlim, deixando-o isolado. Para incorporar essa parte da cidade à Zona de
Ocupação Soviética, Stalin mandou interditar todas as comunicações por terra.
Vale lembrar que pela divisão de territórios em Potsdam, Berlim estava situada dentro do domínio
soviético. Porém, a cidade também foi dividida, provocando isolamento da parte Ocidental por via
terrestre.

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Isolado das zonas ocidentais e de Berlim Oriental, o oeste de Berlim ficou sem luz nem alimentos de
23 de junho de 1948 até 12 de maio de 1949. A população só sobreviveu graças a uma ponte aérea
organizada pelos Aliados, que garantiu seu abastecimento.
Em 23 de maio de 1949, os aliados criaram a República Federal da Alemanha (RFA). A URSS que
ocupava a parte leste do país decidiu também por transformá-la em um país, e em outubro do mesmo
ano foi fundada a República Democrática Alemã (RDA), com capital em Berlim Oriental. A RDA era
baseada na política comunista e de economia planificada, dando prosseguimento à socialização da
indústria e ao confisco de terras e de propriedades privadas. O Partido Socialista Unitário (SED) passou
a ser a única força política na "democracia antifascista" alemã-oriental.
Com a criação dos dois Estados alemães, a disputa entre EUA e URSS foi acirrada, manifestando de
maneira intensa a disputa da Guerra Fria.
Auxiliada pelo Plano Marshall, em alguns anos a Alemanha Ocidental alcançou um nível de
prosperidade econômica elevada, garantida também pela estabilidade interna e pela integração à
comunidade europeia que surgia no pós-guerra. A RFA também integrou a OTAN.
A Alemanha Oriental integrou o pacto de Varsóvia, e apesar das despesas com a guerra e com a
reconstrução do país, também alcançou desenvolvimento significativo entre os países socialistas.
Apesar do avanço, com o passar do tempo as diferenças foram acentuando-se, e muitos alemães
residentes na parte Oriental migravam para a parte ocidental, atraídos pela liberdade democrática e pelo
estilo de vida.
A situação ficou crítica no final dos anos 50, com as tentativas de unificação. A RFA não reconhecia a
RDA como um país, e exigia a integração. Por outro lado, os soviéticos exigiam a saída das tropas norte-
americanas de Berlim Ocidental.
Entre 1949 a 1961, quase 3 milhões de pessoas fugiram da Alemanha comunista para os setores
ocidentais de Berlim. Somente em julho de 1961, 30 mil pessoas escaparam. A ameaça de esvaziamento
da Alemanha Oriental levou a URSS a construir uma barreira física no meio da cidade. Na manhã de 13
de agosto de 1961, soldados começaram a construir o Muro de Berlim, demarcando a linha divisória
inicialmente com arame farpado, tanques e trincheiras. Nos meses seguintes, foi sendo erguido em
concreto armado o muro que marcaria a vida da cidade até 1989. Ao longo dos anos, a fronteira
transformou-se numa fortaleza. Como os soldados tivessem ordem de atirar para matar, muitos que
tentaram atravessar acabaram morrendo.
A divisão imposta pelo Muro de Berlim também separou muitas famílias, o que levou muitas pessoas
a tentar atravessá-lo durante os 28 anos em que manteve-se de pé. Ao longo do tempo o muro foi sendo
fortificado com paredes de concreto, alarmes, e torres de vigia, dificultando cada vez mais a fuga.

Corrida Armamentista
Apesar de não terem travado batalhas diretas, os líderes dos blocos econômicos gastaram
massivamente na pesquisa, desenvolvimento e produção de armas. Assim que um novo armamento era
apresentado por um país, o outro buscava desenvolver algo semelhante e, se possível, melhor. Essa
busca pela superioridade bélica ficou conhecida como corrida armamentista, e preocupou muitos, pois
a capacidade de destruição alcançada pelos armamentos poderia até mesmo destruir o planeta, caso
usados com força total.
O ponto de partida da corrida armamentista se deu com as bombas nucleares lançadas pelos Estados
Unidos no Japão em 1945. Em 1949 a União Soviética também possuía a tecnologia para produzir tais
bomba. A possibilidade de ataque nuclear por ambos os lados criaram a ideia de uma Hecatombe
Nuclear, que aconteceria caso um dos países atacasse o outro, desencadeando uma guerra que
terminaria por extinguir os seres humanos.
Surgiu assim um jogo político-diplomático conhecido como "o equilíbrio do terror", que se transformou
num dos elementos principais do jogo de poder entre EUA e URSS. Os dois buscavam produzir cada vez
mais armamentos de destruição em massa, como forma de ameaçar o inimigo.
A corrida armamentista implicava também uma estratégia de dominação, em que as alianças regionais
e a instalação de bases militares eram de extrema importância. Os exércitos de ambos os lados possuíam
centenas de soldados, armas convencionais, armas mortais, mísseis de todos os tipos, inclusive
nucleares que estavam permanentemente apontados para o inimigo, com objetivo de atingir o alvo a partir
de longas distâncias.
Para se ter uma noção do poder destrutivo dos armamentos, em 1960 a União Soviética produziu a
maior bomba nuclear de todos os tempos, a Tsar Bomba. Com um poder de detonação de 100 megatons
a bomba era 3 mil vezes mais poderosa que a bomba lançada sobre Hiroshima em 1945, e era capaz de
destruir tudo em um raio de 35 quilômetros da explosão.

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A necessidade de posicionar-se contra o inimigo deixou o mundo muito perto da Terceira Guerra
Mundial em 1962, durante o episódio conhecido como Crise dos Mísseis de Cuba.
Em 1961 os Estados Unidos haviam instalado uma base na Turquia, com capacidade de operação de
armamentos nucleares. A atitude desagradou os soviéticos, devido à proximidade geográfica da Turquia
e da URSS. Para revidar, a União Soviética decidiu instalar uma base de misseis em Cuba, sua aliada na
América, que havia passado por uma revolução socialista em 1959, e estava localizada a
aproximadamente 200 quilômetros da costa da Flórida, ao sul dos Estados Unidos.
Desde a revolução socialista, os Estados Unidos tentavam derrubar o presidente da ilha, Fidel Castro.
Em 1961, apoiados pela CIA, agência secreta americana, um grupos de 1400 refugiados cubanos tentou
invadir a ilha pela baía dos Porcos, em um episódio desastroso que acabou com a morte de 112 pessoas
e a prisão dos restantes.
Buscando novas maneiras de depor o presidente, em 1962 os americanos sobrevoaram a ilha e
descobriram que a União Soviética estava instalando também plataformas de lançamento de armamentos
nucleares.
No dia 14 de agosto, o presidente americano, John Kennedy, anunciou para a população de seu país
sobre o risco existente com a possibilidade de um ataque altamente destrutivo, encarando o fato como
um ato de guerra. Do outro lado do Atlântico, o Primeiro Ministro soviético Nikita Kruschev alegou que a
base com os mísseis resultavam apenas de uma ação defensiva e serviriam também para impedir um
nova invasão dos Estados Unidos à Cuba.
Durante treze dias de tensão, foram realizadas diversas negociações que acabaram por resultar na
retirada dos misseis da Turquia e de Cuba.

Corrida Espacial
A tentativa de superioridade não esteve limitada ao campo bélico. Durante a Guerra Fria a disputa
também foi travada fora do planeta.
Durante a Segunda Guerra, os cientistas alemães desenvolveram a tecnologia de propulsão de
foguetes, que foram utilizados para equipar as bombas V-1 e V-2. Após o termino da guerra, muitos dos
cientistas que trabalharam no projeto de construção desses artefatos foram capturados por ambos os
lados, que buscavam o domínio dessa tecnologia.
Em 4 de outubro de 1957 a União Soviética lançou na órbita terrestre o satélite Sputnik I. Poucas
semanas depois, em novembro, os soviéticos inovaram novamente e lançaram o primeiro ser vivo ao
espaço, a cadela Laika, que morreu na volta.
Como reação por parte dos Estados Unidos, em 1958 foi criada a National Aeronautics & Space
Administration, NASA, que no mesmo ano lançou ao espaço o satélite Explorer 1.
Buscando superar suas conquistas, a união Soviética saiu na frente novamente, lançando o primeiro
ser humano em órbita terrestre. Em 12 de abril de 1961, durante uma hora e quarenta e oito minutos, o
cosmonauta Iuri Gagarin percorreu 40 mil quilômetros ao redor da terra, a bordo da capsula espacial
Vostok 1. Os Estados Unidos reagiram em 1962, ao enviar o astronauta John Glenn para o espaço.
Após os lançamentos de seres humanos ao espaço, o objetivo foi enviar um ser humano para a lua.
Os Estados Unidos investiram pesadamente no programa Apollo, que em 1968 enviou a primeira equipe
de astronautas para a órbita lunar e, em 1969 realizou o primeiro pouso, com os astronautas Neil
Armstrong e Edwin Aldrin.
A União Soviética não conseguiu acompanhar o passo dos Estados Unidos, e mudou seu foco para a
exploração e pesquisa do ambiente espacial e da gravidade zero com a estação espacial Salyut, lançada
em 19 de abril de 1971. Em resposta, os americanos lançaram, em maio de 1973, a Skylab. Em 1986, a
URSS lançou a Mir, que já foi destruída.
Durante a Guerra Fria, importantes projetos espaciais foram realizados. A sonda americana Voyager
1, lançada em 1977, foi a Júpiter e a Saturno e a Voyager 2, lançada no mesmo ano, visitou Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno. As duas sondas encontram-se agora fora do sistema solar. O Telescópio
Espacial Hubble, a nave Galileu, a Estação Espacial Internacional Alpha, a exploração de Marte e o Neat
(Programas de Rastreamento de Asteroides Próximos da Terra) fazem parte dessa geração.
Em 1978, a Agência Espacial Europeia entra na corrida espacial com os foguetes lançadores Ariane.
A França passa a controlar sozinha o projeto Ariane em 1984 e, atualmente, detém cerca de 50% do
mercado mundial de lançamento de satélites.

O fim da Guerra Fria


A disputa entre União Soviética e Estados Unidos durante a Guerra Fria sofreu uma desaceleração
entre o fim dos anos 1970 e início de 1980. Durante esse período a União Soviética passou a enfrentar
crises internas nos setores políticos e econômicos. O gasto com armamentos e pesquisas espaciais para

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equiparar-se aos Estados Unidos foi enorme, e os dois países buscam firmar acordos para reduzir o poder
bélico, e finalmente alcançar uma trégua.
Internamente, o país passava por crises de abastecimento e revoltas sociais. Desde a morte de Stalin,
em 1956, a URSS passou por pequenas reformas, porém manteve o perfil ditatorial, com controle sobre
os meios de comunicação e da população. Os líderes que sucederam Stalin mantiveram o mesmo
sistema, o que agravou a crise interna. Em 1985 o país colocou no poder o ultimo líder do Partido
Comunista da União Soviética: Mikhail Gorbachev. Gorbachev defendia a ideia de que a URSS deveria
passar por mudanças que a adequassem à realidade mundial.
Durante a década de 1980 a União Soviética enfrentou momentos difíceis, como a invasão ao
Afeganistão, que gerou altos gastos, e o acidente na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Além disso,
boa parte das commodities, matérias-primas exportadas pelo país, como petróleo e gás natural sofreram
quedas nos preços. Buscando salvar o país de um colapso iminente, Gorbachev lançou dois planos: a
Perestroika e o Glasnost.
A Perestroika, Também chamada de reestruturação econômica, teve início em 1986, logo após a
instalação do governo Gorbatchev. A Perestroika consistia em um projeto de reintrodução dos
mecanismos de mercado, renovação do direito à propriedade privada em diferentes setores e
retomada do crescimento. Ou seja, acabar com a economia planificada existente na União Soviética.
A Economia planificada, também chamada de "economia centralizada" ou "economia centralmente
planejada", é um sistema econômico no qual a produção é previa e racionalmente planejada por
especialistas, na qual os meios de produção são propriedade do Estado e a atividade econômica é
controlada por uma autoridade central.
A perestroika tinha como objetivo acabar com os monopólios estatais, descentralizar as decisões
empresariais e criar setores industriais, comerciais e de serviços em mãos de proprietários privados
nacionais e estrangeiros. Apesar das mudanças, o Estado continuaria como principal proprietário, porém,
permitindo a propriedade privada em setores secundários da produção de bens de consumo, comércio
varejista e serviços não-essenciais. No setor agrícola foi permitido o arrendamento de terras estatais e
cooperativas por grupos familiares e indivíduos. A retomada do crescimento é projetada por meio da
conversão de indústrias militares em civis, voltadas para a produção de bens de consumo, e de
investimentos estrangeiros.
O Glasnost, Também chamado de transparência política, surgiu juntamente com a perestroika, e foi
considerado essencial para mudar a mentalidade social, liquidar a burocracia e criar uma vontade política
nacional de realizar as reformas.
Entre as medidas mais importantes estavam o fim da censura, da perseguição e da proibição de
determinados assuntos. Foi marcada simbolicamente pelo retorno do exílio do físico Andrei Sakharov, em
1986, e incluiu campanhas contra a corrupção e a ineficiência administrativa, realizadas com a
intervenção ativa dos meios de comunicação e a crescente participação da população. Avança ainda na
liberalização cultural, com a liberação de obras proibidas, a permissão para a publicação de uma nova
safra de obras literárias críticas ao regime e a liberdade de imprensa, caracterizada pelo número
crescente de jornais e programas de rádio e TV que abrem espaço às críticas.
A abertura causada pela Perestroika e pelo Glasnost impulsionaram os movimentos de independência
e de separação de países membros da URSS, enfraquecendo o Pacto de Varsóvia. Um importante
acontecimento nesse período foi a queda do Muro de Berlim, que simbolicamente representava o fim da
Guerra Fria.
O muro de Berlim formava uma barreira, sendo que Somente na região metropolitana de Berlim, o
Muro tinha mais de 43 quilômetros de comprimento, vigiado por torres militares para observação do
movimento nos arredores. Além disso, contava com cães policiais e cercas elétricas para manter a
população afastada. Mesmo com todos esses mecanismos, muitas pessoas tentaram atravessar essa
barreira, resultando em 80 mortes oficialmente.
A proibição existia apenas na passagem de Berlim Oriental para Berlim Ocidental. O trajeto contrário
era permitido. Durante a década de 70, havia oito pontos onde, obtidas as permissões e os documentos
necessários, as pessoas do lado ocidental podiam atravessar o muro. O mais famoso deles - conhecido
como Checkpoint Charlie - era reservado para visitantes estrangeiros, incluindo diplomatas e autoridades
militares do bloco capitalista.
Durante o tempo em que esteve de pé, o Muro de Berlim foi um ícone da Guerra Fria. Com as
mudanças políticas ocorridas na União Soviética, várias revoltas começaram a surgir nas duas partes da
Alemanha, pedindo a queda do Muro, que separava o país desde 1961. No dia 9 de novembro de 1989,
diante das pressões contra o controle de passagem do muro, o porta-voz da Alemanha Oriental, Günter
Schabowski, disse em uma entrevista que o governo iria permitir viagens da população ao lado Ocidental.
Questionado sobre quando essa mudança vigoraria, ele deu a entender que já estava valendo.

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Finalmente, população revoltada resolve derrubar o muro por conta própria, utilizando marretas, martelos
e tudo o mais que estivesse disponível.
O muro só foi totalmente destruído entre julho e novembro de 1990, porém as pessoas e o próprio
governo iam abrindo passagens para facilitar o transito entre as duas partes da cidade. No dia 3 de
outubro de 1991, após uma separação que dividiu a Alemanha em duas, o país foi novamente unificado
por lei, atendendo ao desejo da população alemã que celebrou a vitória.
Além da Alemanha, a Polônia e a Hungria abriam caminho para eleições livres, e revoltas pelo fim da
URSS aconteceram na Tchecoslováquia, Bulgária, e Romênia. As políticas adotadas por Gorbachev
causaram uma divisão dentro do Partido Comunista, com setores contra e a favor das reformas. Esta
situação repentina levou alguns conservadores da União Soviética, liderados pelo General Guenédi
Ianaiev e Boris Pugo, a tentar um golpe de estado contra Gorbachev em Agosto de 1991. O golpe, todavia,
foi frustrado por Boris Iéltsin. Mesmo assim, a liderança de Gorbachev estava em decadência e, em
Setembro, os países bálticos conseguiram a independência.
Em Dezembro, a Ucrânia também se tornou independente. Finalmente, no dia 31 de Dezembro de
1991, Gorbachev anunciava o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, renunciando ao cargo.
Assim termina a União Soviética, e também acaba oficialmente a Guerra Fria.

Questões

01. (VUNESP PMSP) Os dois lados viram-se comprometidos com uma insana corrida armamentista
para a mútua destruição. Os dois também se viram comprometidos com o que o presidente em fim de
mandato, Eisenhower, chamou de “complexo industrial-militar”, ou seja, o crescimento cada vez maior de
homens e recursos que viviam da preparação da guerra.
Mais do que nunca, esse era um interesse estabelecido em tempos de paz estável entre as potências.
Como era de se esperar, os dois complexos industrial-militares eram estimulados por seus governos a
usar sua capacidade excedente para atrair e armar aliados e clientes, e conquistar lucrativos mercados
de exportação, enquanto reservavam apenas para si os armamentos mais atualizados e, claro, suas
armas nucleares.
(Eric Hobsbawm. Era dos extremos – O breve século XX – 1914-1991.
São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 233. Adaptado)
O historiador refere-se à situação da política internacional que resultou, em grande medida, da
Segunda Guerra Mundial, e que pode ser definida como a
(A) democratização do uso de armas nucleares, o que tornou possível o seu emprego por pequenos
grupos de guerrilheiros.
(B) existência de equilíbrio nuclear entre as maiores potências, somada à grande corrida armamentista.
(C)expansão da ideologia da paz armada, que estimulou as potências a equiparem os países pobres
com armas nucleares.
(D) predominância de uma potência nuclear em escala global, que interfere militarmente nos países
subdesenvolvidos.
(E)formação de uma associação internacional de potências nucleares, que garantiu uma paz
duradoura entre os países.

02. Período histórico denominado de Guerra Fria, refere-se


(A) à rivalidade de dois blocos antagônicos liderados pelos EUA e URSS.
(B) às sucessivas guerras pela independência nacional ocorridas na Ásia.
(C) ao conjunto de lutas travadas pelo povo iraquiano contra a dinastia Pahlevi.
(D) às disputas diplomáticas entre árabes e israelenses pela posse da península do Sinai.

03. Sobre a queda do muro de Berlim, no dia 10 de novembro de 1989, é correto afirmar que
(A)o fato acirrou as tensões entre Oriente e Ocidente, manifestas na permanência da divisão da
Alemanha.
(B) resultou de uma longa disputa diplomática, que culminou com a entrada da Alemanha no Pacto de
Varsóvia.
(C)expressou os esforços da ONU que, por meio de acordos bilaterais, colaborou para reunificar a
cidade, dividida pelos aliados.
(D)constituiu-se num dos marcos do final da Guerra Fria, política que dominou as relações
internacionais após a Segunda Guerra Mundial.
(E)marcou a vitória dos princípios liberais e democráticos contra o absolutismo prussiano e
conservador.
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04. O lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, em 6 de agosto de 1945, provocou
a rendição incondicional do Japão, na Segunda Guerra. Nesse momento, o mundo ocidental vivia a
dualidade ideológica, capitalismo e socialismo. Nesse contexto, o lançamento da bomba está relacionado
com
(A)o descompasso entre o desenvolvimento da ciência, financiado pelos Estados beligerantes (em
guerra), e os interesses da população civil.
(B)a busca de hegemonia dos Estados Unidos, que demonstraram seu poder bélico para conter, no
futuro, a União Soviética.
(C)a persistência da luta contra o nazifascismo, pelos países aliados, objetivando a expansão da
democracia.
(D) a difusão de políticas de cunho racista associadas a pesquisas que comprovassem a superioridade
da civilização europeia.
(E)a convergência de posições entre norte-americanos e soviéticos, escolhendo o Japão como inimigo a
ser derrotado.

5. (SEDUC-PI – História – NUCEPE) O século XX foi marcado por conflitos de diferentes matizes,
principalmente após a 2ª Guerra Mundial. Sobre esse período, podemos afirmar corretamente, EXCETO
que
(A) a Guerra do Vietnã, que durou entre 1967 e 1975, teve início quando as tropas do Vietnã do Norte
invadiram Saigon, capital do Vietnã do Sul. Considerada a maior derrota militar dos Estados Unidos no
século XX, teve entre seus motores de reação a guerrilha, a militância pacifista e a cobertura crítica da
imprensa.
(B) na União Soviética, o governo de Mikhail Gorbatchev implantou a glasnost no campo político e a
perestroika na área econômica, decisões que evidenciaram a crise do “socialismo real” naquele país,
contribuindo para seu esfacelamento político.
(C) na década de 1950, os Estados Unidos implantaram a política conhecida como macarthismo, que
restringiu-se ao apoio financeiro para a reconstrução das economias europeias, devastadas após a 2ª
Guerra Mundial.
(D) a Queda do Muro de Berlim, em 1989, é considerada a metáfora do fim da Guerra Fria, e
repercutiu no mundo inteiro, com o fim de diversos regimes socialistas do Leste Europeu, tendo
repercutido até nas eleições presidenciais brasileiras, ao promover um discurso de descrédito às
esquerdas brasileiras.
(E) a Revolução Cubana, na década de 1950, combateu o governo de Fulgêncio Batista e implantou
um governo dirigido pelo Partido Comunista na América Central.

Respostas

1. Resposta B.
O medo de um ataque nuclear desferido pelo inimigo fez com que as duas maiores potências do mundo
durante a Guerra Fria, EUA e URSS entrassem em uma disputa tecnológica para provar ao inimigo que
possuíam o melhor armamento. O clima de desconforto entre as duas nações criou um equilíbrio gerado
pela constante atualização de seus armamentos.

2. Resposta A.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os dois países emergem como as duas grandes
superpotências do planeta, em uma disputa indireta que possuía ideias políticas diferentes. De um lado
os EUA com a defesa do Capitalismo enquanto do outro a URSS representava a ideia de uma sociedade
Socialista.

3. Resposta D.
A queda do muro de Berlim é um dos grandes marcos do fim da Guerra Fria. Após o fim da Segunda
Guerra e a divisão da Alemanha entre os vencedores do conflito e simbolizou a divisão do mundo durante
a Guerra Fria, separando em dois a cidade de Berlim e estabelecendo contraste entre o mundo capitalista
e o mundo socialista.

4. Resposta B.
Com o lançamento de duas bombas atômicas no Japão em 1945, os estados Unidos demonstram ao
mundo o seu potencial bélico. A demonstração de poder levou a URSS a desenvolver um programa

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nuclear durante a Guerra Fria, dentro da ideia do medo de ser atacado pelo inimigo sem poder devolver
o ataque em poder de fogo semelhante.

05. Resposta: C
O Macarthismo era uma ideia de perseguição aos comunistas dentro dos EUA. A política de auxilio
econômico após a Segunda Guerra Mundial ficou conhecida como Plano Marshall.

A nova ordem mundial, o espaço geopolítico e a globalização32

Uma ordem mundial refere-se às hierarquias nas relações de poder entre os países do mundo33

Uma ordem mundial diz respeito às configurações gerais das hierarquias de poder existentes entre
os países do mundo. Dessa forma, as ordens mundiais modificam-se a cada oscilação em seu contexto
histórico. Portanto, ao falar de uma nova ordem mundial, estamos nos referindo ao atual contexto das
relações políticas e econômicas internacionais de poder.
Durante a Guerra Fria, existiam duas nações principais que dominavam e polarizavam as relações de
poder no globo: Estados Unidos e União Soviética.
Essa ordem mundial era notadamente marcada pelas corridas armamentista e espacial e pelas
disputas geopolíticas no que se refere ao grau de influência de cada uma no plano internacional. Este era
o mundo bipolar.
A partir do final da década de 1980 e início dos anos 1990, mais especificamente após a queda do
Muro de Berlim e do esfacelamento da União Soviética, o mundo passou a conhecer apenas uma grande
potência econômica e, principalmente, militar: os EUA. Analistas e cientistas políticos passaram a nomear
a então ordem mundial vigente como unipolar.
Entretanto, tal nomeação não era consenso. Alguns analistas enxergavam que tal soberania pudesse
não ser tão notável assim, até porque a ordem mundial deixava de ser medida pelo poderio bélico e
espacial de uma nação e passava a ser medida pelo poderio político e econômico.
Nesse contexto, nos últimos anos, o mundo assistiu às sucessivas crescentes econômicas da União
Europeia e do Japão, apesar das crises que estas frentes de poder sofreram no final dos anos 2000.
De outro lado, também vêm sendo notáveis os índices de crescimento econômico que colocaram a
China como a segunda maior nação do mundo em tamanho do PIB (Produto Interno Bruto). Por esse
motivo, muitos cientistas políticos passaram a denominar a Nova Ordem Mundial como mundo multipolar.
Mas é preciso lembrar que não há no mundo nenhuma nação que possua o poderio bélico e nuclear
dos EUA.
Esse país possui bombas e ogivas nucleares que, juntas, seriam capazes de destruir todo o planeta
várias vezes.
A Rússia, grande herdeira do império soviético, mesmo possuindo tecnologia nuclear e um elevado
número de armamentos, vem perdendo espaço no campo bélico em virtude da falta de investimentos na
manutenção de seu arsenal, em razão das dificuldades econômicas enfrentadas pelo país após a Guerra
Fria.
É por esse motivo que a maior parte dos especialistas em Geopolítica e Relações Internacionais,
atualmente, nomeia a Nova Ordem Mundial como mundo unimultipolar. “Uni” no sentido militar, pois os
Estados Unidos é líder incontestável. “Multi” em razão das diversas crescentes econômicas de novos
polos de poder, sobretudo a União Europeia, o Japão e a China.

32 SCALZARETTO, Reinaldo. Geografia Geral – Geopolítica. 4ª edição. São Paulo: Anglo.


33 PENA, Rodolfo F. Alves. Nova Ordem Mundial – Geopolítica. Disponível em: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/nova-ordem-mundial.htm.

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A Divisão do Mundo entre Norte e Sul
Durante a ordem geopolítica bipolar, o mundo era rotineiramente dividido entre leste e oeste.
O Oeste era a representação do Capitalismo liderado pelos EUA, enquanto o Leste demarcava o
mundo Socialista representado pela URSS. Essa divisão não era necessariamente fiel aos critérios
cartográficos, pois no Oeste havia nações socialistas (a exemplo de Cuba) e no leste havia nações
capitalistas.
Contudo, esse modelo ruiu. Atualmente, o mundo é dividido entre Norte e Sul, de modo que no Norte
encontram-se as nações desenvolvidas e, ao sul, encontram-se as nações subdesenvolvidas ou
emergentes. Tal divisão também segue os ditames da Nova Ordem Mundial, em considerar
preferencialmente os critérios econômicos em detrimento do poderio bélico.

Em vermelho, os países do sul subdesenvolvido e, em azul, os países do norte desenvolvido

Observa-se que também nessa nova divisão do mundo não há uma total fidelidade aos critérios
cartográficos, uma vez que alguns poucos países localizados ao sul pertencem ao “Norte” (como a
Austrália) e alguns países do norte pertencem ao “Sul” (como a China).

A Economia Capitalista Hoje:


Vivemos na segunda década da Nova Ordem Internacional. Suas características tornam-se a cada dia
mais claras. Suas raízes econômicas remontam às transformações iniciadas com as tecnologias dos anos
de 1970, que influenciam as potências atuais de forma marcante.
No campo geopolítico, essa nova era configurou-se com a crise do socialismo, o fim da Guerra Fria e
a valorização dos problemas sociais e ambientais.
Na atualidade, o grupo de países desenvolvidos, formado por 23 nações (Estados Unidos, Canadá,
Japão, Austrália, Nova Zelândia, Islândia, Noruega, Suíça e os 15 membros da União Europeia), torna-
se cada vez mais rico. Em 2005, a população dessas nações somava 900 milhões de pessoas (13% do
total mundial) e produzia cerca de 32 trilhões de dólares (80% do PIB mundial), o que dava uma renda
per capita de mais de 35 mil dólares. Em 1960, os mesmos países tinham cerca de 20% da população
mundial e controlavam cerca de 60% do PIB do mundo.
Uma das características político-econômicas mais importantes da Nova Ordem Internacional foi o
crescente uso dos princípios teóricos do neoliberalismo. O jornalista Ignacio Ramonet, do jornal francês
Le Monde, acredita que os neoliberais criaram, com seu pragmatismo, um conjunto de regras econômicas
muito claro, que se resume aos seguintes aspectos:
* O Estado deve se restringir a algumas funções públicas;
* O déficit público deve ser evitado e, se existir, reduzido;
* As empresas estatais devem ser privatizadas;
* O Banco Central de cada país deve ser independente;
* A moeda deve ser estável, com um mínimo de inflação;
* Os fluxos financeiros não devem sofrer restrições;
* Os mercados devem ser abertos, liberalizados e desregulamentados;
* A produção industrial deve ser internacionalizada, buscando-se mão-de-obra mais barata;
* As empresas devem ser modernizadas, enxutas e competitivas.

Frente às crises e ao aumento da miséria nos países subdesenvolvidos, alguns neoliberais modernos
defendem que esse receituário não tem dado certo por culpa dos governos. Seria necessário apenas
conter os monopólios privados, supervisionar os bancos com mais atenção, investir em educação e
aumentar a poupança interna.
Dentro da Nova Ordem Internacional, o controle que os países desenvolvidos exerciam sobre o
comércio de exportação no mundo continuou, embora sua participação no total tenha sido um pouco
reduzida. Essa redução foi consequência do crescimento das exportações conquistado pelos países
subdesenvolvidos industrializados.

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A participação dos países subdesenvolvidos no comércio mundial de exportação vinha decrescendo
desde o início da Ordem da Guerra Fria (era de cerca de 31% do total mundial em 1950 e caiu para cerca
de 20% em 1985). Essa situação começou a se reverter no início da Nova Ordem Internacional. Nos dez
anos seguintes, os países pobres passaram a controlar maiores parcelas do comércio mundial de
exportação.
Esse aumento das exportações, por si só, não foi suficiente para elevar o padrão de riqueza dos países
subdesenvolvidos como um todo. A maior parte desse aumento foi de responsabilidade de um restrito
grupo de países subdesenvolvidos industrializados, enquanto a grande maioria dos mais de 150 países
subdesenvolvidos continuou a assistir à queda dos preços de suas mercadorias de exportação
(commodities) e a redução de sua participação no comércio mundial, exceto os exportadores de petróleo.
Mesmo assim, o crescimento do comércio internacional é apontado como um dos indicadores da
aceleração do processo de globalização, que criou uma maior dependência das economias nacionais em
relação à economia internacional, pois uma grande parcela das atividades produtivas e dos trabalhadores
fica dependente do desempenho de seus países no mercado mundial.
Esse crescimento do comércio e essa maior dependência das economias nacionais são o resultado
das políticas de liberalização alfandegária colocadas em prática desde o final da Segunda Guerra
Mundial. Desde então, as taxas alfandegárias médias dos países mais desenvolvidos do mundo caíram
de 40% para menos de 5%. Por outro lado, o crescimento do comércio internacional foi fruto da maior
integração e complementação econômica dos conjuntos de países que formaram organizações ou zonas
de livre comércio, como a União Europeia e o Nafta.

Características da Nova Ordem Internacional:


A Nova Ordem Internacional já pode ser caracterizada por um amplo conjunto de aspectos. Citaremos
todos, porém, nos atentaremos mais detalhadamente, à Globalização.
São eles:
* Investimentos em P&D;
* Os blocos econômicos;
* Dívida externa;
*Desemprego;
* As economias em transição;
* O problema da pobreza.

* Globalização:
A Globalização não é nenhuma novidade. Há séculos ela evolui na forma de ciclos, intensificando os
fluxos de pessoas, bens, capital e hábitos culturais. Ela se originou com a primeira fase da expansão
capitalista europeia, impulsionada pelas Grandes Navegações do final do século XV. Entre 1870 e 1890,
a globalização foi novamente intensificada, graças à aceleração dos investimentos internacionais, a
ampliação do comércio e o aperfeiçoamento dos meios de transportes e comunicações. Posteriormente,
durante o período que se estende entre 1910 e 1920, houve nova aceleração desse processo, associada
ao crescente militarismo, que culminaria com a Primeira Guerra Mundial. Um terceiro pico ocorreu durante
a década de 1930, antecedendo a Segunda Guerra Mundial.
Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de globalização foi mais lento, amarrado pelas relações limitadas entre os
países capitalistas e os socialistas e pelas políticas comerciais altamente protecionistas. Somente na década de 1990 os
investimentos internacionais retornariam ao patamar de 1941.

Com a expansão das transnacionais, a partir da década de 1950, a globalização foi acelerada. Hoje, a
Terceira Revolução Industrial, que gerou um sistema de produção econômica com regras que se
uniformizam e se universalizam rapidamente, está criando uma nova onda de globalização. Suas
instituições passam a controlar e organizar essa economia em que as fronteiras perdem a importância e
muitos Estados disputam o direito de abrigar as sedes ou as filiais das grandes corporações, que
controlam a oferta de empregos e investimentos.
Dessa forma, o espaço geográfico mundial tem caminhado em direção a uma crescente
homogeneização, fruto da imposição de um sistema econômico e social globalizado sobre toda a
superfície da Terra. Nas últimas décadas, esse processo sofreu uma forte aceleração, especialmente
porque o polo de oposição ao capitalismo, que durante 45 anos compartia o mundo, criando a bipolaridade
da Guerra Fria, entrou em crise.
Os investimentos internacionais são realizados de forma direta, pelas empresas transnacionais que
implantam ou ampliam suas unidades produtivas, ou indireta, quando se relacionam aos fluxos de capital

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que entram por meio de empréstimos, moeda trazida por estrangeiros, pagamentos de exportações,
vendas de títulos públicos no exterior e investimentos no mercado financeiro (especialmente em bolsas
de valores). Observe sua evolução recente:

Os investimentos internacionais foram acelerados na Nova Ordem. Eles saltaram de 924 bilhões de dólares em 1991 para
mais de 5,4 trilhões em 2001.
Na era da globalização, quando as informações são instantâneas, um observador pode acompanhar a abertura e o
fechamento das mais importantes bolsas de valores do mundo durante 22 horas seguidas: se ele estiver em São Paulo, a
Bolsa de Tóquio abre às 21 horas (hora de Brasília) e fecha às 5 horas do dia seguinte. Uma hora mais tarde, abre a Bolsa
de Londres e, às 11 horas, a de Nova Iorque, que só fecha às 19 horas.

Podemos notar facilmente que a maior parte dos investimentos tem sido sempre no mercado
financeiro, ou seja, nas bolsas de valores. É o que se chama de capital volátil. Esses investimentos entram
nos países e saem muito rapidamente, circulando diariamente no mundo, de uma bolsa para outra, mais
de 3 trilhões de dólares.
O mercado financeiro de ações comercializadas em bolsas de valores estocava um patrimônio coletivo
de 47 trilhões de dólares em 2005. Com o desenvolvimento da informática, o mercado financeiro se
acelerou como forma de investimento.
Os investimentos financeiros diretos também cresceram bastante, aumentando mais de sete vezes
nesse período, principalmente por meio da compra de empresas privatizadas, dentro da política
neoliberal. As privatizações se expandiram muito desde o início da década de 1990. Entre 1988 e 2003,
houve mais de 9 mil privatizações em cerca de 120 países, que somaram mais de 410 bilhões de dólares
de transações.
Grande parte das pessoas acredita que as privatizações, na atualidade, só ocorrem em países
subdesenvolvidos ou nos países socialistas que estão em transição para a economia de mercado. Na
verdade, a década de 1990 foi marcada pelo aumento das privatizações em diversos países
desenvolvidos.
Embora a globalização seja comandada pelos agentes financeiros e econômicos, há uma profunda
relação entre seus interesses e as ações políticas desenvolvidas pelos Estados. Na atualidade, vemos
uma espécie de privatização do Estado, que é colocado a serviço dos interesses do grande capital.
Hoje, mais do que em qualquer outra época da modernidade, a elite econômica colocou o Estado a
serviço de seus interesses. São os governos dos países mais ricos do mundo que promovem, numa ação
política bem orquestrada, a globalização, preparando encontros, ampliando o raio de ação das
organizações internacionais, realizando acordos comerciais, que favorecem a quem controla a economia.
Recentemente, por causa das transformações econômicas em direção à globalização, a redução das
taxas alfandegárias e a liberação do movimento dos capitais, muitos estudiosos passaram a acreditar que
o Estado nacional estava em fase de dissolução. Em verdade, ocorreu a sua transformação: as relações
entre o Estado e a economia se internacionalizaram, e a privatização tornou-se norma. Dessa forma, o
Estado abandonou o papel de agente econômico, desfazendo-se dos seus ativos, e passou a exercer o
papel de organizador e gestor de uma economia globalizada, no qual o conceito de soberania nacional
passou por uma revisão.
As aquisições e fusões que têm caracterizado a globalização desde o início da década de 1990 não
pretendem aumentar a produção, criar novas fábricas e ampliar os empregos. A função dessa onda de
fusões é cortar as atividades redundantes, reduzir a concorrência e aumentar a concentração de capitais.
O resultado final tem sido sempre a elevação das taxas de desemprego e o aumento da monopolização.
O volume das transações financeiras provocadas pelas fusões de grandes empresas tem ampliado o mercado de ações
e acelerado a movimentação de capitais.

No contexto da globalização, os países subdesenvolvidos ou periféricos não têm peso na definição


desse novo panorama geopolítico mundial, ficando, cada mais uma vez, atrelados aos países líderes.
Assim, com a decadência do bloco socialista, resta para o capitalismo resolver, num futuro próximo, três
graves problemas:

Desigualdade – Há uma crescente desigualdade de padrão de vida entre os países desenvolvidos e


os subdesenvolvidos, além das diferenças de renda dentro dos próprios países desenvolvidos. Segundo
Hobsbawm, a ameaça que a expansão socialista representou após 1945 impulsionou a formação do
Welfare State (Estado de bem-estar social), com reformas sociais nos países desenvolvidos, criando-se
uma parceria entre capital e trabalho organizado (sindicatos), sob os auspícios do Estado. Isso gerou a
consciência de que a democracia liberal precisava garantir a lealdade da classe trabalhadora, com caras

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concessões econômicas. O abandono dessas políticas sociais tem ampliado o quadro da desigualdade
social, até mesmo em países desenvolvidos.

Conflitos Étnicos – Ascensão do racismo e crescente xenofobia, especialmente na Europa e nos


Estados Unidos, devido ao grande fluxo de imigrantes das regiões mais pobres para os países
industrialmente mais desenvolvidos.

Meio Ambiente – Crise ecológica mundial, que alerta para a necessidade de solucionar as agressões
ao meio ambiente, que podem afetar todo o planeta.

Questões

01. (PC/PI – Escrivão de Polícia Civil – UESPI) No início dos anos 1990, o mundo assistiu à
derrocada do chamado Bloco Socialista, comandado pela ex-União Soviética, tendo como consequência
o fim da Guerra Fria e o surgimento de uma Nova Ordem Mundial, que apresenta como características,
EXCETO,
(A) o controle do mercado mundial por grandes corporações transnacionais.
(B)aprofundamento da Globalização da economia e consolidação da tendência à formação de blocos
econômicos regionais.
(C)processos pacíficos de Fragmentação territorial sem ocorrência de conflitos étnicos, a exemplo da ex-
Iugoslávia.
(D) ampliação das desigualdades internacionais.
(E)a existência de uma realidade mais complexa, com múltiplas oposições ou tensões econômicas,
étnicas, religiosas, ambientais etc.

02. (Prefeitura de Martinópole/CE – Agente Administrativo – CONSULPAM) A nova economia


internacional possui elementos característicos onde os que se destacam são os que se referem ao quadro
geral determinado pela Globalização. Com isso podemos AFIRMAR que o atual cenário mundial é
assinalado pela:
(A) bipolaridade
(B) unimultipolaridade
(C) velha ordem mundial
(D) Nova Guerra Fria

3. (SEDU/ES – Professor de Geografia – CESPE/Adaptada) Com relação à geografia política


mundial, julgue o item a seguir.
A nova ordem mundial apresenta uma faceta geopolítica e outra econômica. Na geopolítica, houve
uma mudança para um mundo multipolar, onde as potências impõem mais por seu poder econômico que
pelo poder bélico. Na economia, o que aconteceu foi o processo de globalização e a formação de blocos
econômicos supranacionais.
(....) Certo (....) Errado

4. (IF/SE – Analista – IF/SE/Adaptada) "Com a derrocada do socialismo real e da União Soviética,


entre 1989 e 1991, surgiu uma nova ordem mundial que, a princípio, parecia ser unipolar, com uma única
superpotência, os Estados Unidos. Mas essa ideia parece ser aplicável somente a um breve período
transitório, pois o poderio estadunidense vem se enfraquecendo, em termos relativos (isto é, em
comparação com o crescimento da China, da Europa unificada, da Índia etc...)." Vesentini, Wiliam - 2009.
Assinale a afirmativa correta sobre os fatos da nova ordem mundial:
(A)O ponto fraco da União Europeia é o rápido envelhecimento e o baixo poder aquisitivo de sua
população.
(B)Apesar da crise na transição do socialismo real para a economia, a herdeira da Ex União Soviética,
Rússia, voltou a ser uma superpotência, apesar da fragilidade do setor de tecnologia de ponta.
(C)Uma das dificuldades para o Japão na formação de um Megabloco na Ásia é a desconfiança de
algumas importantes nações, como China e Coréia do Sul, que o consideram um país imperialista,
sobretudo pela brutalidade e pelo racismo demonstrado pelas tropas japonesas quando da ocupação de
seus territórios.
(D)A China atualmente é o Estado nacional que poderia ameaçar a hegemonia estadunidense, em
função do crescimento econômico e do regime político democrático.

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(E) A Índia é outro país que vem se modernizando, e é favorecida pela abundância de recursos
minerais e ausência de problemas étnicos, sociais e político territoriais.

05. (IF/SP – Professor de Geografia – FUNDEP) O processo de mundialização da economia


capitalista inaugurou uma nova divisão internacional do trabalho porque
(A) a diversidade das plantas industriais, até então vigentes nas mais diferentes economias do planeta,
sofreram homogeneização, excluindo a complementaridade.
(B)a divisão do mundo em países produtores de bens industrializados e países unicamente produtores de
matérias-primas, quer agrícolas, quer minerais, já não bastava.
(C)a expansão industrial sobrepôs uma divisão horizontal à antiga divisão vertical do trabalho,
mediante eliminação de níveis de qualificação dentro de cada ramo industrial
(D)a indústria multinacional restringiu sua atuação aos mercados de países centrais e criou bases
produtivas adaptadas às necessidades de seus mercados nacionais.

Respostas

1. Resposta: C.
(...). Com a crise do bloco socialista, no final dos anos 1980, uma nova fase se abriu para a história da
Iugoslávia. Em 1991, Croácia, Eslovênia e Macedônia declararam sua independência, sendo que apenas
esta última de maneira pacífica. A separação da Croácia e da Eslovênia foi acompanhada por intensos
conflitos militares liderados pelo então presidente sérvio Slobodan Milosevic. Em 1992, a Bósnia declarou
sua independência, passando a enfrentar militarmente a Croácia, em disputa por territórios, e sobretudo
a Sérvia, contrária ao movimento separatista de mais uma região iugoslava. (...)
(Fonte:http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/geopolitica/conflitos-na-ex-iugoslavia.htm).

2. Resposta: B.
Nova Ordem Mundial é a lógica internacional da ordem de poder entre os Estados nacionais no período
que sucede a Guerra Fria. A Nova Ordem Mundial é caracterizada pela UNIMULTIPOLARIDADE, uma
vez que temos a supremacia dos Estados Unidos no campo bélico e político, e a emergência de várias
potências no campo econômico: China, União Europeia, Japão e o próprio EUA.

3. Resposta: Certo.
Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, a comunidade internacional passa por uma reformulação
das estruturas de poder e força entre os Estados Nacionais, gerando uma nova configuração geopolítica
e econômica que foi chamada de Nova Ordem Mundial. Uma das mudanças principais desse novo plano
geopolítico internacional foi o estabelecimento de uma multipolaridade, onde o poderio militar não era
mais o critério determinante de poder global de um Estado Nacional, perdendo lugar para o poderio
econômico. Já a área econômica passa por um processo de globalização, gerando fluxos crescentes de
bens, serviços e capitais que perpassam as fronteiras nacionais. Além disso, a formação de blocos
econômicos supranacionais visam atender tanto os interesses de corporações transnacionais, que
almejam a eliminação das barreiras alfandegárias, como os Estados Nacionais que tentam garantir
algumas vantagens políticas.

4. Resposta: C.
O Japão apesar de ser o mais rico da Ásia em outrora buscou seu domínio nos países do pacífico com
ocupações territoriais, principalmente durante a 2ª guerra, desde então os asiáticos não fecham em um
bloco econômico com receio de um novo domínio japonês, através da economia sobre eles.

5. Resposta: B.
O processo de mundialização da economia capitalista monopolista teve como pressuposto básico a
necessidade de uma nova divisão internacional do trabalho. Já não bastava um mundo dividido em países
produtores de bens industrializados e países unicamente produtores de matérias-primas, quer agrícolas,
quer minerais. A mundialização da economia pressupõe uma descentralização da atividade industrial e
sua instalação e difusão por todo o mundo. Pressupõe também um outro nível de especialização dos
produtos oriundos dos diferentes países do mundo para o mercado internacional. Assim,
simultaneamente, a indústria multinacional implanta-se nos mercados existentes em todos os países
(através de filiais, fusões, associações, franquias etc.) e cria bases para a produção industrial adaptada
às necessidades desses mercados nacionais. Ao mesmo tempo, atua de forma a aprimorar a exploração
e a exportação das matérias-primas requeridas pelo mercado internacional. Esse processo de expansão

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industrial sobrepôs uma divisão vertical à antiga divisão horizontal do trabalho. Agora combina-se a antiga
divisão por setores (primário: agrícola e mineiro, e secundário: industrial) em níveis de qualificação dentro
de cada ramo industrial.
(ROSS, Sanches L. Jurandyr: Geografia do Brasil. - 4ª ed. - São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2001. - Didática; 3).

O poder dos Brics: conheça os países que formam o grupo34


O nome foi criado em 2001, quando o economista Jim O’Neill usou a sigla Bric para designar as
economias que mais deveriam crescer no futuro. Na época, ele alertava que as economias emergentes
cresceriam a taxas mais aceleradas do que as maiores economias do mundo. Brasil, Rússia, Índia e
China então ganharam destaque nas discussões sobre o mercado global e passaram a representar o
crescimento dos países emergentes. Na época, os PIBs dos BRIC, somados, equivaliam a 8% da
economia global — hoje esse número chega a 22%. A África do Sul só se juntou ao grupo em 2011,
quando a sigla foi atualizada para o Brics atual.
Muita coisa mudou até agora. Uma crise global em 2008 criou um obstáculo a mais para o crescimento
de todos os países. Brasil e Rússia passaram por importantes crises internas e o avanço da China vem
se desacelerando. Mas, apesar disso, o grupo, que antes era apenas uma sigla, formou-se na prática e
criou um banco próprio para investimentos.
Nesta semana, os líderes dos Brics estão reunidos em Xiamen, no Sul da China. O encontrou, que
começou no domingo (03/09), termina nesta terça-feira (05/09).
Veja algumas informações sobre os países que compõem o grupo.

Crescimento econômico
Em 2001, a China era a sexta maior economia do mundo, atrás de Estados Unidos, Japão, Alemanha,
Reino Unido e França. Hoje, segundo o Banco Mundial, o gigante asiático é a segundo maior economia,
com PIB de US$ 11 trilhões, atrás apenas dos EUA (US$ 18 trilhões). Apesar de estar ainda muito atrás
do primeiro colocado, o tamanho da economia chinesa vai muito além da japonesa, que está em terceiro
lugar na lista e tem um PIB de US$ 4,4 trilhtões.
A Índia, que no início do século ficava em décimo lugar na lista das economias mais fortes, avançou e
ficou em sétimo. O Brasil se manteve em nono lugar, com PIB equivalente a US$ 1,8 trilhão em 2016. A
Rússia, que em 2001 era a décima primeira maior economia, agora está em 12º lugar.

Projeção de crescimento
Em crescimento esperado para os próximos anos, a Índia toma a dianteira. Segundo projeção do
Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB do país deve crescer 7,2% em 2017 e 7,7% em 2018. A China
tem o crescimento esperado de 6,7% neste ano e de 6,4% no ano que vem.
Após anos de queda, o Brasil deve crescer 0,3% neste ano, na projeção do FMI, e 1,3% no ano que
vem. A Rússia, que via sua economia encolher nos últimos anos, deve crescer 1,4% em 2017 e em 2018.
Já a África do Sul deve reportar uma alta de 1% neste ano e de 1,2% no ano que vem.

Em 2050
De acordo com as projeções da PwC, as economias emergentes de hoje serão maioria na lista de
maiores do mundo em 2050. Com exceção dos Estados Unidos, países desenvolvidos, como Japão e
Alemanha, terão recuado nos rankings globais até 2050, sendo substituídos por Índia, Indonésia, Brasil,
México e Rússia. Diferente do ranking do Banco Mundial, porém, a PwC faz seu levantamento
considerando a Paridade de Poder de Compra (PPC).

Veja a lista das dez maiores economias em 2050, de acordo com a PwC:
1. China — US$ 58,499 trilhões
2. Índia — US$ 44,128 trilhões
3. Estados Unidos— US$ 34,102 trilhões
4. Indonésia — US$ 10,502 trilhões
5. Brasil — US$ 7,540 trilhões
6. Rússia — US$ 7,131 trilhões
7. México — US$ 6,863 trilhões
8. Japão — US$ 6,779 trilhões
9. Alemanha — US$ 6,138 trilhões
34
FRABASILE, DANIELA. O poder dos Brics: conheça os países que formam o grupo. Época Negócios. Disponível em: <
http://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2017/09/o-poder-dos-brics-conheca-os-paises-que-formam-o-grupo.html>

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10. Reino Unido— US$ 5,369 trilhões

População
Em 2014, os Brics fizeram um levantamento com dados sobre suas economias e suas populações. Com
1,3 bilhão de pessoas, a China é o país mais populoso do grupo, seguido pela Índia (1,2 bilhão). O Brasil
fica em terceiro lugar, com 201 milhões de habitantes. A Rússia tem 144 milhões, deixando a África do
Sul em último lugar, com 52 milhões.
O Brasil é o país que tem o maior percentual da população morando nas cidades. Por aqui, mais de
85% da população é urbana. Na Rússia, 74% das pessoas moram em cidades. Na China, essa proporção
cai para 54%. Já na Índia a maior parte da população, 70%, ainda vive no campo.

Gasto em saúde e educação


No mesmo relatório, os Brics compararam os gastos anuais com saúde e educação, em percentual do
PIB. Os dados são de 2011 a 2013, dependendo do país. O país que mais investe em educação é a África
do Sul, que gasta 6,8% de seu PIB na pasta. O Brasil fica em segundo lugar, com 5,3%. Rússia e China
ficam empatadas, com 4,3%. O investimento do governo indiano em educação equivale a 3,3% do PIB
do país.
Já na área da saúde, a China é a que mais investe, com gasto de 5,4% do PIB. O Brasil aparece em
segundo lugar com 5%, seguido por África do Sul (4%), Rússia (3,5%) e Índia (1,4%).

IDH
Se nos índices econômicos os Brics são destaque positivo, em rankings de qualidade de vida esses cinco
países ainda têm muito o que avançar. No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul não estão
nem perto do topo da lista.
O mais bem colocado é a Rússia, em 49º lugar. O Brasil aparece em 79º, a China em 90º. A África do
Sul ficou com a 119ª posição e a Índia em 131ª.

Gini
Outro problema comum entre os países que formam os Brics é a desigualdade. Para medir isso, o
índice de Gini mostra a concentração de renda entre os cidadãos de cada país. As notas variam de 0 a
100, sendo que 0 representa a igualdade absoluta e 100 a desigualdade absoluta. Estimativa do Banco
Mundial aponta que o país mais desigual do grupo é a África do Sul, com índice de 63. Em seguida,
aparece o Brasil, com 51. China (42), Rússia (41) e Índia (35) encerram a lista.

Os povos indígenas da Bahia de hoje

Os povos indígenas na Bahia estão inseridos em dois contextos históricos e regionais básicos e bem
definidos; o do semi-árido nordestino ao Norte do estado, praticamente todo ele conquistado por frentes
de expansão da pecuária durante o século XVII, e onde boa parte da população indígena sobrevivente à
conquista foi reunida até o século XVIII em aldeamentos missionários de ordens religiosas como as dos
jesuítas e franciscanos; e o da Mata Atlântica e litoral ao Sul e Extremo Sul do estado, onde a conquista
se iniciou ainda no século XVI e aldeamentos missionários foram implantados já na segunda metade
deste, mas em que o processo de conquista, sobretudo das matas do interior, se fez de modo muito lento,
prolongando-se até as décadas iniciais do século XX, quando os dois últimos bandos indígenas ainda
autônomos no estado - Hã-Hã-Hãe e Baenã - foram atraídos ao Posto Indígena Caramuru do SPI (Serviço
de Proteção aos Índios), no atual município de Itaju do Colônia.
Logo em seguida à expulsão dos holandeses do Brasil, nos meados do século XVII, a população dos
aldeamentos litorâneos, de predominante origem etnolinguística tupi, passou a ser aos poucos
considerada como não mais de "índios", surgindo então com referência a eles a expressão "caboclos",
corruptela do termo tupi para "retirados da mata". Esta tendência à "desindianização" formal das
comunidades de aldeamentos coloniais se intensificou com a expulsão do Brasil, no início da segunda
metade do século seguinte, da ordem religiosa dos jesuítas, seguida da saída ou enfraquecimento
também de outras ordens missionárias, cujos aldeamentos passaram a ser diretamente administrados
pelo estado como "vilas", para as quais foram deliberadamente atraídos contingentes de não índios. Este

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processo atingiu sobretudo os aldeamentos no semi-árido, de diversa origem etnolinguística, com
possível predomínio da família cariri.
No início do século XIX deflagrou-se enfim o processo de conquista das matas do Sul, empreendimento
capitaneado pelo próprio estado em razão de uma nova geopolítica atlântica, com os conflitos na Europa
e a migração da corte portuguesa para o Brasil. Na primeira metade deste século seriam conquistados
os Camacã ou "mongoiós" do "planalto da Conquista", reunidos em seguida em aldeamentos missionários
de existência efêmera nas bacias dos rios Pardo e Cachoeira; e toda a população indígena ainda
autônoma no Extremo Sul, predominantemente da família linguística maxacali e etnia pataxó, depois
compulsoriamente reunida, junto com remanescentes de aldeamentos coloniais costeiros, em uma única
aldeia junto à foz do rio Corumbau, mandada implantar em 1861 pelo Presidente da Província.
Prosseguiu no século XIX a ocupação por não índios dos territórios dos aldeamentos e "vilas de índios"
- agora administrados por diretores nomeados pelo governo provincial; processo que foi acelerado pela
Lei de Terras de 1850. Eram comuns na segunda metade do século documentos oficiais que declaravam
não haver mais índios nesses estabelecimentos e eles foram sendo um a um extintos, até que, por um
decreto estadual de 1890, a própria Diretoria de Índios na Bahia foi extinta. Deste modo, o estado
ingressou no século XX sem contar mais com nenhuma comunidade indígena reconhecida enquanto tal
pelo poder público, ressalvados os poucos bandos ainda autônomos nas matas do Sul, nas bacias dos
rios Gongoji, Cachoeira, Pardo e Jequitinhonha. A maioria desses bandos foi simplesmente dizimada
entre 1910 e 1930 pelas frentes de expansão da lavoura cacaueira, ressalvados os dois pequenos grupos
mencionados acima.
Vale ressaltar que o processo de intrusão sobre as terras que o próprio poder colonial havia destinado
aos índios não se fez sem grande resistência destes, numa série de rebeliões e revoltas ao longo de toda
esta história, algumas das quais se tornaram célebres, como a da "Santidade do Jaguaripe", de índios
tupis, no Recôncavo, ainda no século XVI; e, na fase mais crítica deste processo, a série de revoltas das
aldeias dos Cariri e Sapuiá na Pedra Branca, no médio Paraguaçu, entre as décadas de 1840 e 1880; e,
mais recentemente, nas décadas de 1920 e 1930, as rebeliões lideradas pelos "caboclos" Marcelino,
entre os Tupinambá de Olivença, município de Ilhéus; e Sebereba, entre os Aricobé da antiga missão
homônima no município de Angical, Oeste do estado.
Em 1926 o governo estadual criou uma reserva para abrigar os índios no Sul do estado e nela foram
instalados o dito Posto Caramuru, para os recém contatados Hã-Hã-Hãe, de língua pataxó, e Baenã, de
filiação etnolinguística imprecisa, possivelmente Botocudos; e, mais ao Sul, no atual município de Pau
Brasil, o Posto Indígena Paraguaçu, para o qual foram atraídos contingentes de cariris-sapuiás egressos
das revoltas da Pedra Branca; de camacãs dos falidos e invadidos aldeamentos do Pardo e do Cachoeira;
e de alguns tupis de antigos aldeamentos litorâneos como Olivença, Trancoso, Barcelos e São Fidélis.
Demarcada apenas entre 1936 e 1937, esta reserva, que ficou conhecida como Caramuru-Paraguaçu,
foi imediatamente invadida por fazendeiros de cacau e gado que se valeram de arrendamentos e da
corrupção de servidores do SPI para desencadear um novo processo de expulsão dos índios que
perdurou - e quase foi plenamente consumado - com lances de extrema violência, até a década de 1970.
Na década de 1940, povos indígenas no Sertão do estado se mobilizaram para reaver terras usurpadas
dos seus antigos aldeamentos, chegando alguns a empreender longas viagens ao Rio de Janeiro para
ter com o Marechal Rondon, fundador e Presidente do SPI. Resultante disto, dois postos do órgão foram
instalados; um em 1944 junto aos Tuxá da antiga missão e então vila - e atual cidade - de Rodelas, no
submédio São Francisco, liderados em seu pleito pelo pajé João Gomes; e outro em 1949 na também
antiga missão do Saco dos Morcegos e então vila de Mirandela - no atual município de Banzaê - na bacia
do médio Itapecuru, única remanescente de quatro notáveis aldeamentos coloniais jesuíticos que
abrigaram, na região, os Quiriri falantes da língua quípea. Este segundo posto, para cuja implantação em
muito contribuíram as gestões do Padre Renato Galvão, pároco da vizinha cidade de Cícero Dantas,
assistiria ainda aos Caimbé da antiga missão e então vila de Maçacará, a mais antiga de todo o Sertão,
no município de Euclides da Cunha. Entretanto, a situação possessória das terras dos Quiriri e dos
Caimbé, intrusadas por muitos pequenos posseiros e por alguns fazendeiros de grande prestígio político,
se manteria inalterada até o início da década de 1980; enquanto que os Tuxá, cujo aldeamento chegou a
abranger, no período missionário, cerca de trinta ilhas muito férteis do São Francisco, conseguiram
reaver, ainda na década de 1940, apenas uma delas, a da Viúva, na qual trabalharam arduamente em
cultivos comerciais de arroz e cebola até 1986, quando esta veio a ser inexoravelmente submersa pelo
alagamento provocado com a construção da barragem da hidrelétrica de Itaparica, pela estatal Chesf
(Companhia Hidrelétrica do São Francisco).
Também na década de 1940 os longamente esquecidos "caboclos" do Extremo Sul do estado,
reunidos na aldeia à foz do Corumbau agora denominada Barra Velha, foram alcançados por uma
iniciativa estatal, a da implantação, pelo governo federal, de um "parque" para preservação do monumento

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natural e histórico do Monte Pascoal - que fica logo a Oeste da aldeia - e do sítio do "descobrimento do
Brasil", entre os municípios de Porto Seguro e Prado. Temerosos de perder suas terras, os Pataxó de
Barra Velha também empreenderam, liderados por seu cacique Honório, longa jornada ao Rio de Janeiro,
de onde retornaram na companhia de indivíduos que os induziram a uma rebelião que foi brutalmente
reprimida, em 1951, por um truculento aparato policial, com incêndios, espancamentos e estupros que
provocaram a fuga de muitos pataxós de sua aldeia. Dez anos depois, em 1961, foi enfim implantado o
Parque Nacional do Monte Pascoal, sob gestão do IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal), e os pataxós aí remanescentes, impedidos de plantar em seu próprio território assim
transmutado em "unidade de conservação", tiveram também que se dispersar, retirando do próprio
desespero uma renovada coragem para voltar a buscar a proteção do indigenismo estatal. Apenas
passados mais dez anos, em 1971, a Funai (Fundação Nacional do Índio), que sucedera ao SPI em 1967,
implantou um seu posto em Barra Velha.
A intenção de promover, pioneiramente, estudos antropológicos que pudessem fundamentar a
definição de um território para os Pataxó do Extremo Sul foi o principal móvel para que se firmasse, em
1973, um convênio entre a Funai e o Departamento de Antropologia da Ufba (Universidade Federal da
Bahia), embrião do atual Pineb (Programa de Pesquisas Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro) e vetor
de alguns estudos também pioneiros sobre povos indígenas no estado. Naquele início da década de
1970, em uma região tumultuada pelo avanço de novos contingentes demográficos e de uma voraz frente
madeireira - com a construção e inauguração, em 1974, dos trechos locais das rodovias BR-101 e BR-
367 - ao que se seguiu a introdução de um também voraz mercado de turismo; os dispersados Pataxó
voltaram a novamente se concentrar, principalmente em pontos do litoral onde haviam vivido seus
antepassados e em que ainda era possível encontrar alguns "parentes". Merece destaque dentre estas
localidades a da nova aldeia da Coroa Vermelha, para onde foram atraídos pela própria Prefeitura de
Santa Cruz Cabrália para atenderem, com o comércio de artesanato, ao público turista em visita ao sítio
da "primeira missa no Brasil". Entretanto, a Funai de então, dominada pelos militares do regime ditatorial
vigente, acabou por desconsiderar os estudos em curso e negociar com o IBDF a sessão aos Pataxó
apenas de uma estreita faixa do "parque", demarcada ao final de 1980.
Ao final da década de 1970 já se consolidava, porém, em todo o país, um novo indigenismo capaz de
se contrapor ao modelo indigenista estatal republicano - de inspiração militar e de embasamento jurídico-
legal tutelar - formado por quadros de extração acadêmica ou religiosa progressista reunidos em
organizações não governamentais. Este novo movimento social daria suporte à formação de um
movimento indígena minimamente articulado a nível nacional, e, no plano regional do Nordeste, à
retomada do processo designado por alguns estudiosos de "etnogênese" ou "emergência étnica", em que
grupos indígenas de há muito envolvidos por processos coloniais e desautorizados enquanto tais pelos
ditames da política indigenista estatal e das ideologias de mestiçagem dominantes nas concepções
vigentes sobre a formação nacional brasileira, organizam-se na revitalização de suas identidades, de suas
"culturas" próprias e na reivindicação de direitos territoriais longamente esbulhados.
Exemplo marcante desse processo à época foi a luta dos Pancararé, concentrados no Brejo do Burgo,
à entrada do Raso da Catarina, pela defesa de suas exíguas áreas agricultáveis - os "brejos" -
crescentemente invadidas; e pelo seu "reconhecimento" étnico oficial, liderados pelo seu cacique Ângelo
Xavier - de incansável disposição para a luta pela garantia dos direitos indígenas ao seu povo, após anos
de um duro exílio de migrante nordestino despossuído na cidade de São Paulo - e sob inspiração dos
seus parentes Pancararu, então já "reconhecidos", que vivem do lado pernambucano do São Francisco
mas que são como os Pancararé egressos da antiga missão do Curral dos Bois, no sítio da primitiva sede
do atual município de Glória. A surdez das autoridades governamentais da época aos clamores dos
Pancararé só fez aguçar os conflitos entre índios e "posseiros" no Brejo do Burgo, o que culminou com o
assassinato do cacique Ângelo na véspera do Natal de 1979, mesmo mês em que se deu em Salvador a
organização inicial da Anaí (atual Associação Nacional de Ação Indigenista). O assassinato de Ângelo -
jamais punido - trouxe à consciência da opinião pública no estado uma primeira evidência trágica da
presença de conflitos graves envolvendo povos indígenas na Bahia, um dado que permanece, desde
então, permanentemente atualizado ao longo das décadas seguintes.
Também em 1979 os Quiriri de Mirandela iniciaram uma ousada autodemarcação do seu território,
com apoio e estímulo do indigenismo dissidente do CTI (Centro de Trabalho Indigenista) e do novo
indigenismo missionário do Cimi (Conselho Indigenista Missionário). Contando ainda com o interesse do
então chefe do Posto Indígena, Gilvan Cavalcanti, os Quiriri obtiveram da Funai a demarcação oficial do
seu território em 1981, estritamente respeitados os seus limites estabelecidos em um alvará régio de 1700
e ainda muito vivos na memória deste povo. Embora esta demarcação não tenha redundado diretamente
na remoção dos muitos ocupantes não índios do território quiriri, representou uma primeira e significativa
vitória dos povos indígenas na Bahia no reconhecimento formal dos seus direitos territoriais. Com sua

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terra demarcada, os Quiriri voltaram a tomar a iniciativa e em 1982 ocuparam a maior das fazendas aí
intrusadas, a Picos, forçando a Funai a negociar a saída definitiva do seu pretenso proprietário. A
retomada da Picos pelos Quiriri foi outro marco inicial nas lutas destes povos, tendo sido a primeira ação
de uma forma extrema de luta - as "retomadas" - a que tem lançado mão, nas décadas seguintes e em
momentos diversos, absolutamente todos os povos indígenas no estado.
Também em 1982 muitos dos índios expulsos da reserva Caramuru-Paraguaçu se organizaram e, sob
a liderança do cacique Nelson Saracura, retomaram uma das fazendas invasoras do seu território, a São
Lucas, próxima ao antigo posto Paraguaçu. No período em que a reserva esteve mais despovoada de
índios, entre 1976 e 1982, o governo do estado, nos mandatos de Roberto Santos e Antônio Carlos
Magalhães, chegou a emitir títulos de propriedade para os fazendeiros invasores, o que só veio a ser
judicialmente questionado pela Funai em seguida à retomada indígena, numa ação pela nulidade destes
títulos que ainda hoje permanece sem julgamento pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A heróica
resistência do cariri-sapuiá Samado Santos, que jamais deixou a reserva, e a tranquila permanência, junto
às ruínas do posto Caramuru no rio Colônia, de Barretá, última remanescente do bando Hã-Hã-Hãe
contatado na década de 1930, estimularam, em seguida à retomada, o retorno de muitos outros índios,
agora emblematicamente unificados sob a designação daquele último bando autônomo - Pataxó Hã-Hã-
Hãe - e que, embora confinados e sem água na São Lucas, seguiram enfrentando o cerco de pistoleiros
que assassinaram muitos dos seus, como Djalma, sequestrado em 1987, e João Cravim, emboscado em
1988.
Reações violentas à crescente mobilização dos índios na Bahia pela recuperação dos seus territórios
causaram também o assassinato do quiriri Zezito, em plena praça de Mirandela, em 1983; e do caimbé
Nilo, em 1986, num ataque armado articulado por fazendeiros da família do ex-ministro Oliveira Brito à
retomada indígena na "fazenda Ilha", e que envolveu também o incêndio de casas e roças. Também em
1986 os Tuxá foram forçados a deixar seu território agora alagado e a transferir sua aldeia, junto com a
própria cidade de Rodelas, para uma nova localização à margem da represa de Itaparica. Nesse
processo, extremamente traumático, inclusive pela submersão de sítios sagrados, a comunidade tuxá se
dividiu e quase metade dela optou por se transferir para um trecho ainda não represado do São Francisco,
indo viver no longínquo município de Ibotirama, onde as condições e o imóvel que lhes foi destinado pela
Chesf são claramente insuficientes para a retomada de suas atividades produtivas tradicionais; enquanto
que a comunidade que permaneceu em Rodelas não teve até hoje, passados mais de vinte anos,
plenamente definido o território para o seu reassentamento produtivo, o que significa que há toda uma
geração de tuxás que simplesmente não aprendeu a trabalhar na terra!
Entretanto, a grande luta dos índios naquele final da década de 1980 pela garantia de direitos e dos
seus territórios tradicionais se travou em outro lugar, em Brasília, onde, graças à mobilização do nascente
movimento indígena brasileiro, a Assembleia Nacional Constituinte promulgou, em outubro de 1988, uma
nova carta constitucional que dispõe que "são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens" (artigo 231); e que "os
índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de
seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo" (artigo 232). Com
isto, encerraram-se os quase quinhentos anos de leis que determinavam a assimilação forçada de
indígenas às sociedades colonial ou nacional (artigo 231) e o instituto da tutela estatal sobre a cidadania
indígena (artigo 232), agora livre para organizar suas próprias instituições representativas.
Além disto, o §1 do dito artigo 231 tornou claro - pela primeira vez desde a introdução dessa figura
legal pela Constituição de 1934 - o que são "terras tradicionalmente ocupadas pelos índios", dotando
enfim o Estado de parâmetros legais e técnicos seguros para a definição e proteção destas terras. Com
isto, e com a mobilização indígena, seguiu-se, na década de 1990, um período de conquistas para os
povos indígenas na Bahia, no qual foi homologada já em 1990, pioneiramente para o estado, a
demarcação da Terra Indígena dos Quiriri; seguindo-se as regularizações também das Terras dos Caimbé
e Pancararé; assim como das Terras pataxós de Mata Medonha e Coroa Vermelha, garantindo-se nesta
última, que abriga a maior aldeia indígena no estado - hoje com mais de 5 mil habitantes - a remoção de
mais de trezentas ocupações comerciais de não índios e que não se implantasse no local o projeto de
um "memorial do encontro" alusivo aos quinhentos anos do "descobrimento" do Brasil, que se pretendia
"comemorar", aí, no ano 2000.
Na segunda metade da década ganharam destaque as retomadas indígenas, mais uma vez a começar
pelos Quiriri que, em uma sequência impressionante de ações entre 1995 e 1998, conseguiram remover
todos os mais de dois mil ocupantes dos oito povoados intrusados em sua Terra. Em 1997, após várias
retomadas revertidas por liminares judiciais, os Pataxó Hã-Hã-Hãe enfim obtiveram no STJ (Superior
Tribunal de Justiça) a garantia de posse de uma dessas áreas. Em gestões na capital federal para que

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1381340 E-book gerado especialmente para DIEGO SALES DE OLIVEIRA
as autoridades dessem imediato cumprimento a essa decisão, o representante indígena Galdino foi
brutalmente assassinado por jovens da classe média local logo em seguida às comemorações do Dia do
Índio daquele ano, em um episódio que chocou o país. Com a decisão judicial favorável e com a
decadência da lavoura cacaueira no período, a Funai conseguiu ao final da década negociar a saída de
alguns médios fazendeiros de áreas retomadas pelos Pataxó Hã-Hã-Hãe de modo que, mesmo ainda
pendentes do julgamento pelo STF da ação de anulação dos títulos dos invasores, os índios da Reserva
Caramuru-Paraguaçu já controlam cerca de um terço do seu território de 54 mil hectares, rompendo o
confinamento em que estiveram desde 1982.
Também a partir de 1997, os Pataxó do Extremo Sul desencadearam uma série de retomadas, a
começar, em outubro, pela principal intrusão na Terra Indígena Coroa Vermelha, o que ensejou a imediata
emissão da declaração de posse indígena dessa Terra pelo Ministério da Justiça e sua consequente
demarcação e extrusão, concluídas respectivamente em 1998 e 1999. No mesmo ano retomaram a última
área intrusada na Terra Indígena Águas Belas, que foi também demarcada. Em abril de 1998 ocuparam
a Aldeia Velha - junto ao Arraial d'Ajuda, próximo à cidade de Porto Seguro - obtendo, com apoio do
Ministério Público Federal (MPF), o imediato início dos estudos de identificação dessa Terra pela Funai,
o que lhes permitiu a permanência aí até a garantia de sua posse definitiva por portaria ministerial, já no
início de 2011. Em outubro de 1998 ocuparam o território da aldeia Corumbauzinho, estrategicamente
localizado entre a já demarcada Águas Belas e o limite sul do Parque do Monte Pascoal, o que fez com
que o MPF emitisse "recomendação legal" para que a Funai realizasse os estudos de identificação dessa
Terra Indígena e, mais, revizasse os limites da Terra Indígena Barra Velha, oriunda do espúrio "acordo
de partilha" do Parque em 1980.
A 19 de agosto de 1999, um dia após a criação pela Funai do Grupo Técnico para realização desses
estudos, os Pataxó ocuparam enfim todo o Parque do Monte Pascoal, daí removendo a administração do
órgão federal encarregado (Ibama). A isso se seguiram, até os anos iniciais da década seguinte, outra
série de retomadas de áreas do tradicional território pataxó no entorno do Parque, desde Guaxuma ao
norte até Cumuruxatiba ao sul - incluindo aí áreas de outro "Parque", o "do Descobrimento" - sob comando
da recém criada Frente de Resistência e Luta Pataxó e inspiração do respeitado líder Joel Brás. Apenas
em 2008 foram concluídos e aprovados os estudos relativos à parte norte desse território, que ora se
denomina Terra Indígena Barra Velha do Monte Pascoal, e em 2010 o Instituto Chico Mendes (ICMBio,
novo órgão responsável pela gestão das unidades de conservação federais) capitulou enfim de sua
pretensão de gestão exclusiva do Parque Monte Pascoal, aí intrusado. Resta ainda por se definirem os
estudos e acordos com o ICMBio - relativamente ao Parque do Descobrimento - quanto à parte sul desse
território, ora denominado Terra Indígena Comexatiba. Quando enfim regularizado, o território pataxó no
Monte Pascoal será, em extensão contínua, a maior (cerca de 70 mil hectares) e mais populosa (mais de
5 mil habitantes em 2010) Terra Indígena no estado.
Nas duas décadas finais do século XX estabeleceram-se na Bahia constituindo pequenas aldeias e
respectivos territórios grupos familiares oriundos de povos indígenas de Pernambuco e Alagoas; a
começar pelos Pancaru da família Quinane, oriundos do Agreste pernambucano, que se fixaram na Terra
Indígena Vargem Alegre em Serra do Ramalho no sudoeste do estado. Também de Pernambuco vieram
grupos familiares dos Aticum, fixados em assentamentos nos municípios de Angical e Santa Rita de
Cássia no oeste, e em seguida também em Curaçá e Rodelas, à margem do submédio São Francisco; e
dos Trucá, estabelecidos em Sobradinho e na aldeia Tupã em Paulo Afonso, também junto ao submédio
São Francisco. De Alagoas veio parte da família Sátiro, dos Xucuru-Cariri, fixada junto ao povoado da
Quixaba, também à margem do submédio São Francisco, município de Glória; e por fim um grupo dos
Cariri-Xocó que estabeleceram a aldeia Thá-Fene no município de Lauro de Freitas, Região Metropolitana
de Salvador.
Também nessas décadas prosseguiu o processo de emergência étnica que ao final da década de 1980
trouxe a conhecimento a pequena etnia dos Cantaruré, no município de Glória, e, como outras etnias
próximas em Pernambuco e Alagoas, um "ramo" dos Pancararu. Os Cantaruré tiveram o seu território
identificado e regularizado já na década seguinte. Foi também ao final dessa década de 1990 que a Bahia
testemunhou a reorganização dos Tumbalalá - municípios de Abaré e Curaçá - que formam, com os Tuxá
e os Trucá, o trio de povos da antiga nação Procá habitante do arco no extremo norte do curso do São
Francisco; e dos Tupinambá de Olivença - antiga aldeia jesuíta de Nossa Senhora da Escada no município
de Ilhéus - que são já hoje a segunda maior etnia no estado, com mais de 4 mil indígenas nos municípios
de Ilhéus, Buerarema e Una. Os territórios dos Tumbalalá e dos Tupinambá de Olivença, identificados na
primeira década do século XXI, estão também dentre os maiores no estado, com mais de 40 mil hectares
cada. Mais que isso, a Terra Indígena Tupinambá de Olivença se tornou, ao final dessa primeira década,
protagonista em ações de retomada, principalmente a partir de sua comunidade na Serra do Padeiro,
liderada pelo cacique Babau e também protagonista de um impressionante processo de organização

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social. Com isso, essa Terra se tornou também, ao lado do território dos Pataxó no Monte Pascoal e da
Reserva Caramuru-Paraguaçu dos Pataxó Hã-Hã-Hãe, um dos três grandes focos de conflitos fundiários
que marcam hoje o cenário da política indigenista na Bahia; conflitos nos quais não deixam de estar
também infelizmente presentes manifestações de preconceito da parte de veículos de imprensa e
autoridades públicas, e mesmo de criminalização, o que atinge líderes indígenas destacados como Babau
e Joel Brás, dentre outros.
Também nessa década vêm se organizando, desde as repercussões dos "500 anos do descobrimento"
no Extremo Sul do estado, segmentos da tradicional população indígena nessa região, nomeadamente
no vale do rio Jequitinhonha - municípios de Belmonte e Itapebi - que afirmam ascendências dos Camacã,
Botocudos e, principalmente, Tupi, pelo que se têm apresentado como os Tupinambá do Jequitinhonha.
No mesmo período vem também se organizando o povo indígena Paiaiá - de forte presença histórica em
vastas extensões do semi-árido no estado - a partir de uma sua comunidade no município de Utinga na
Chapada Diamantina.
Ao se iniciar a segunda década deste século, o movimento dos povos indígenas na Bahia segue
crescente e vigoroso. Há, como se viu, muitas conquistas a destacar mas ainda muitas por que lutar
arduamente. São hoje quinze povos indígenas na Bahia, com população próxima aos 40 mil indivíduos,
vivendo em pelo menos 33 territórios, em 27 municípios e cerca de cem comunidades locais.

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