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História da educação
2023
PEDAGOGIA
HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO
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SUMÁRIO
Unidade 1 ......................................................................................................................... 5
Caríssimos estudantes,
A disciplina HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO tem como objetivo principal contribuir para a sua
compreensão da evolução sócio-histórico da educação através da identificação dos paradigmas
educacionais, na realidade tempo/espaço, com atenção especial para a História da Educação no
Brasil, suas tendências e concepções de educação ideal, conforme a realidade educacional, no
contexto sócio-político específico de cada época.
Essa disciplina conduzirá você a uma reflexão sobre o nosso passado educacional. com o apoio
dos autores clássicos da historiografia da história da educação. Será apresentada uma análise das
principais características dos processos educativos e sua interação com o contexto socioeconômico
e cultural em diferentes períodos históricos da civilização, relacionando-os ao contexto educativo
brasileiro, de forma a auxiliá-lo na identificação dos aspectos históricos que fundamentam nosso
atual sistema educacional.
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Unidade 1
No desenvolvimento desta unidade, você vai encontrar temáticas que são abordadas com
base em uma perspectiva histórica, verá que tudo na Educação, dos conhecimentos às relações
entre sujeitos escolares, espaços, metodologias e materiais foi inventado, produzido pelo ser
humano em circunstâncias sociais e históricas determinadas.
Com base em autores como Maria Lúcia Aranha (1990), Paul Monroe (1976), Tomas
Giles (1987), Luciano Farias Filho (1995), Mario Mana- corda (2006), entre outros, serão
apresentados os fundamentos teóricos para que você compreenda a educação antiga e medieval.
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A educação está envolvida nas relações sociais que os homens estabelecem e sofre
influência ideológica por estar ligada à política. Portanto, o fenômeno educacional não é neutro,
está ligado às questões culturais, políticas e sociais de seu tempo (FARIA FILHO, 1995).
A escola faz parte de um mundo marcado por desigualdades e lutas sociais; nesse sentido,
faz-se relevante refletir sobre a escola como um instrumento de transformação da sociedade, ao
mesmo tempo em que as trans- formações políticas, econômicas e sociais contribuem para a
constituição dos sistemas de ensino.
De acordo com Aranha (1996), nas civilizações orientais, embora seja reconhecida a
existência da escrita, não havia propostas propriamente pedagógicas, a preocupação com a
educação permeava os livros sagrados, que ofereciam regras ideais de conduta e orientação para o
enquadramento das pessoas nos rígidos sistemas religiosos e morais. Veremos que as grandes
civilizações, na antiguidade, tinham modelos de educação parecidos, cujos ensinamentos eram
passados principalmente de pai para filho.
Vamos conversar um pouco sobre essa educação? Vamos encontrar nos registros
proporcionados pelos historiadores que a educação, para falar bem e para a
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da personalidade. Nesse contexto, o objetivo principal da educação era o falar bem, embora a
escrita já fizesse parte da cultura antiga.
Como você poderá verificar através de pesquisas mais aprofundadas, a escrita aparece na
antiguidade como instrumento de registro dos atos oficiais, era utilizada por peritos e não
necessariamente por governantes, ao passo que o falar bem se identifica com a arte do governo, ou
seja, era instrumento direto da política.
No antigo Egito, a educação começava cedo na vida da criança, pois esse povo tinha um
caráter bastante prático por natureza. Os egípcios necessitaram desenvolver técnicas e ciências
para resolver seus problemas cotidianos tendo em vista sua ocupação geográfica, ou seja,
localizada às margens do Rio Nilo, na porção nordeste do continente africano. Os alunos recebiam
informações sentados em esteiras. O ensino é direcionado a prática, com exercícios e com
aplicações de artes da arquitetura da época, do comércio e da administração.
Vamos observar através dos registros dos historiadores que a educação no antigo Egito
estava voltada para o desenvolvimento da fala, da obediência e da moral. As escolas funcionavam
como templos e algumas casas foram frequentadas por pouco mais de vinte alunos. A
aprendizagem se fazia por transcrições de hinos, livros sagrados, acompanhada de exortações
morais e de coerções físicas. Ao lado da escrita, ensinava-se também aritmética, com sistemas de
cálculo, complicados problemas de geometria associados à agrimensura, conhecimentos de
botânica, zoologia, mineralogia e geografia.
Pode-se afirmar que, no início do Médio Império (2133- 1786 a.C.), o uso do livro de
texto aparecia, com frequência, sendo utilizado pelos escribas, e, isto acontecia por um pai escriba
educando seu próprio filho ou um discípulo.
Vamos observar, também, que, na antiguidade, as escolas se não eram públicas, ao menos
eram coletivas, e havia presente a relação educativa privada, de pai para filho ou de escriba para
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discípulo (aluno). Segundo Manacorda (2006), a progressiva transformação da sabedoria em
cultura, em conhecimento erudito e em assimilação da tradição, com seus rituais, e a correlativa
constituição da escola com seus materiais didáticos, os rolos de papiros, é confirmada tanto pelas
inscrições fúnebres como pelos textos literários.
“Faz-se o que se diz quando se estuda nos livros. Penetra nos livros,
coloca-os no teu coração: tudo o que dirás será excelente. Um escriba
destinado para uma função consulta os escritos”. (Br. 291 apud
MANACORDA, 2006, p. 27).
Veja que através da leitura deste parágrafo, já no segundo período (cerca de 1785 a 1580
a. C.), a passagem da sabedoria para a cultura ou instrução tornou-se mais clara, pois o sábio deixa
de ser apenas aquele que possui experiência e inteligência para ser também aquele que conheceu a
tradição através dos livros, que adquiriu cultura e assimilou a sabedoria dos antigos através dos
livros. É neste momento histórico que o livro ganha destaque como instrumento de instrução.
De acordo com Manacorda (2006), é no Novo Império (1552 – 1069 a. C.) que ocorre a
generalização e a consolidação da escola, pois neste período aparece uma quantidade considerável
das chamadas coletâneas escolares, textos e cadernos de exercícios, contendo hinos, orações,
sentenças morais, além de sátiras de ofícios e exaltações dos antigos escribas e do ofício de
escriba.
Vamos perceber que, já na antiguidade, havia uma preocupação com a educação infantil,
pois, segundo Manacorda (2006), há registros de que foi inventada para as crianças pequeninas, no
que se refere ao cálculo, noções aritméticas a serem aprendidas através do jogo e da diversão;
subdivisão de maçãs e de coroas entre certo número de alunos, dando a cada aluno o mesmo
número, entre outras atividades que proporcionavam este trabalho. Este fato foi comprovado
através dos achados arqueológicos, tanto de brinquedos como de representações de jogos, junto
com as fontes literárias apresentadas e os testemunhos iconográficos, que consistem em fontes
preciosas de informações a respeito de aspectos concretos da educação na antiguidade.
Outro fato importante, como você pode constatar, é que a presença da religião configura-
se também como uma característica marcante da educação e de todos os aspectos da vida egípcia.
O faraó era o sumo sacerdote dos cultos oficiais e chefe de Estado. Este Estado apoiava-se na
forma teocrática de governo, onde a administração burocrática era ligada à casta sacerdotal. Pode-
se observar que a flexibilidade da sociedade egípcia se deu, entre outros fatores, pelo fato de
qualquer menino talentoso poder se tornar um escriba.
Junto à tesouraria real sempre havia uma escola pública, equipada para a for- mação de
escribas, cujos serviços eram indispensáveis para a manutenção de todo o aparato burocrático do
Estado. Mesmo não conseguindo emprego jun- to ao governo, o escriba era sempre procurado para
a administração das gran- des fazendas e junto aos grandes comerciantes do reino. A instrução
nessas es- colas era gratuita, custeada pelo próprio Estado. O instrumento de mobilidade e de
estabilidade social é a escola. Trata-se de aprender a ler e escrever para subir socialmente.
(GILES, 1987, p. 54).
Propomos aqui falar um pouco dos tipos de escola, no antigo Egito, com base nos
registros encontrados. Vamos lá! Veremos, através dos registros históricos, que, no Egito, no
período depois de 3.000 a.C. ocorreram três tipos de escolas:
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De acordo com os registros históricos, aos cinco anos, iniciava-se a formação dos jovens
nas escolas da aldeia, sob a orientação do templo local, em que podiam aprender os fundamentos
de determinada profissão. Aos dezessete anos, os jovens que se destacavam continuavam os
estudos no templo central ou nas escolas superiores de instrução escribal, durante três ou quatro
anos.
Nesse tipo de educação egípcia, você observará que, para se tornar escriba, o aluno tinha
que alcançar perfeição na reprodução dos textos antigos e modelos de escrita, somente através
desse resultado é que poderia ter acesso à mobilidade social. Veremos, também, que o processo
educativo do Egito antigo consistia na conservação das instituições existentes na sociedade sem
que elas fossem modificadas. O modelo educacional do Egito antigo funcionou durante 3000 anos.
Veremos que, para as classes dominantes, a educação grega visava prepará-las para as
tarefas de poder. O mesmo acontecia no Egito, portanto, a ênfase na formação do sujeito era no
“pensar” e no “falar” (política) e no “fazer”, este último aspecto inerente ao uso das armas. Para a
classe trabalhadora (dos governados), não havia escolas, mas havia treinamento no trabalho e isto
consistia em imitar a atividade dos adultos no trabalho. Para as classes excluídas e oprimidas, nada
havia, nem escolas nem treinamento.
Durante os primeiros sete anos, a criança ficava sob os cuidados dos referidos assistentes,
bem como do “pedônomo”, em habitações públicas de soldados, mantidas pelo Estado. Nessas
habitações, a criança era preparada para se tornar um guerreiro. Pode- se dizer que a imitação era a
base da educa- ção grega, mas ela, ao contrário da educação oriental, incidia sobre modelos vivos,
sendo o docente um dos mais importantes. “Pelo contato direto do menino com o adulto, como da
criança com o pedagogo e do jovem com o ‘inspirador’, os gregos efetuaram de modo mais
prático a educação moral da juventude”. (MONROE, 1983, p. 49).
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Escola do alfabeto
Veja que, por longo período, os conteúdos e fins da educação permanecem tendo como
seu principal veículo a música e a ginástica, porém, com o desenvolvimento da democracia, a
educação deixa de ser privilégio das classes dominantes e é estendida para as classes menos
favorecidas, ou seja, é direcionada a todos os cidadãos livres. Nesse momento, nasce um fato
novo, a escola de escrita.
Você observou, no início deste estudo, que no Egito os ensinamentos eram escritos?
Lembra-se dos escribas? Recorda que este ensinamento era repassado pelos escribas?
Observou que a escrita egípcia era hieroglífica e, sendo assim, era bastante complexa e de domínio
exclusivo dos escribas? Observou que, por esse motivo, os escribas também eram considerados
homem de poder, por do- minar esta técnica? Então vamos continuar nossa discussão sobre a
educação no Egito e descobrir o que deste modelo existe até hoje na educação brasileira?
Veja você que para entendermos a escola do alfabeto precisamos voltar um pouco na
educação egípcia. Então vamos lá!
Na Grécia, com a escrita alfabética considerada mais simples, veremos que surge um
meio mais democrático de comunicação e de educação. A escola de escrita se abre a todos os
cidadãos. Junto aos mestres de música e de ginástica, surge um novo mestre, o das letras do
alfabeto.
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Continuando nossa conversa, veremos que, posteriormente, a escrita grega foi adaptada
pelos romanos, constituindo-se o sistema alfabético greco-romano, que deu origem ao nosso
alfabeto atual. Veremos que esse sistema representa o menor inventário de símbolos que permite a
maior possibilidade combinatória de caracteres, isto é, representação dos sons da fala em unidades
menores que a sílaba.
No que se refere à educação grega, podemos considerar que essa teve como
particularidade a oportunidade do desenvolvimento individual. As explicações religiosas são
substituídas pelo reconhecimento da razão autônoma, pela inteligência crítica, pela personalidade
livre, capaz de formular o ideal de formação do cidadão. Assim, Aranha (1990) relata que uma
nova concepção de cultura e do lugar do indivíduo na sociedade repercute na educação, bem como
nas teorias educacionais. De fato, os filósofos gregos refletiram a esse respeito, para que a
educação pudesse desenvolver um pro- cesso de construção consciente de que o homem fosse
constituído de modo correto e sem falha, nas mãos, nos pés e no espírito.
Ao aprofundar no estudo da história da educação na Grécia, você observará que esta tinha
a missão de aplicar a inteligência a todas as fases da vida, pois, no modelo de educação grega
deste período, o saber deixou de ser servo da teologia e a pesquisa não era privilégio especial do
sacerdócio. Verá que, nesse contexto, existia uma contraposição de ideias, discutidas por meio de
debates, de forma que provocasse um conflito. Nesses debates, os gregos defendiam ideais
filosóficos que, ao serem estabelecidos, foram cristalizados de forma a influenciar o mundo
ocidental, até a atualidade. De acordo com Chatelet:
Você precisa saber que, na educação grega no novo período, continuam as ideias
educacionais, religiosas e morais, porém, nesse momento, desenvolveu-se um novo pensamento
filosófico e novas práticas educativas surgiram.
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superficial e geralmente corrupta; já não é um estádio de desenvolvimento
possível para um povo inteiro, ou para indivíduos de dada categoria, mas a
simples obtenção ou mesmo mera insígnia de distinção de uma classe
favorecida. Quando o antigo vigor político e as oportunidades para as
atividades políticas desapareceram, o governo municipal se tornou mera
máquina para coletar impostos, quando o exército se encheu de bárbaros, a
classe superior, agora mais numerosa do que nunca, voltou-se para o único
traço remanescente da primitiva Roma imperial - a cultura. (MONROE,
1976, p. 23).
Observe que, na educação romana, prevaleceu um sistema modificado que incluía
elementos gregos e romanos. A cultura e literatura grega chegaram às classes superiores, nas quais
se organizou um sistema de escolas de gramática e de retórica, fundaram-se universidades e
bibliotecas. Mas, com o tempo, essa educação ficou formal e irreal e perdeu sua importância
social. Surge, então, uma nova educação ministrada pela Igreja.
Temos, ainda, que na educação romana, que era essencialmente prática, as escolas e os
professores, de uma forma geral, ocupavam papéis secundários, pois a família era o centro do
processo educacional. Vimos também que existiram, em Roma, inicialmente, as escolas
elementares, denominadas ludi, as quais ficavam responsáveis por ensinar os rudimentos da
leitura, da escrita e do cálculo. Entre meados do século III e I, a cultura grega foi assimilada pelos
romanos e, com isto, surgiu a escola grega de gramática, a qual marcou o período introdutório das
escolas gregas. Nela, lecionavam docentes gregos, que ensinavam noções básicas da língua e da
literatura (MONROE, 1983).
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Diante do exposto, vale esclarecermos a você que, no decorrer da história, devido a
muitos acontecimentos políticos, encontramos a decadência da cultura clássica, que
compreendemos fazer parte do mundo grego.
Escolas medievalistas
Convidamos você a continuar a reflexão sobre a educação medievalista com vistas a
revisitar a história da educação na Idade Média e isto requer que não nos esqueçamos de ponderar
que a vida da Igreja cristã primitiva era em si mesma uma escola de enorme importância, pois
durante aproximadamente mil anos a educação se caracterizaria pela ausência de elementos
intelectuais com priorização dos elementos cristãos e morais. E, na sequência, salientamos que,
naquele contexto histórico, a Igreja estava empenhada na reforma moral do mundo, para a
educação moral dos seus próprios membros.
Veja que as escolas eram verdadeiros catecumenatos, tinham o aspecto mais primitivo da
vida da Igreja Cristã, que se aproximava de uma instrução formal. Era, na verdade, a preparação
dos conversos, jovens e idosos; destinava-se à instrução na doutrina e na prática de vida cristã.
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vida monástica. Os mosteiros foram considerados os grandes depositários da literatura e do saber,
principalmente da literatura dos antigos. Os monges produziram materiais, destacando-se as
discussões das sete artes liberais (trivium - gramática, retórica, filosofia - e quadrivium - aritmé-
tica, geometria, astronomia e música), que significava o conjunto do saber.
A escolástica
Antes de refletirmos acerca do significado da escolástica, é necessário que você se
lembre-se de que, no curso da história, posteriormente à invasão dos bárbaros e à queda do
império romano, mais precisamente nos séculos V, VI e VII, pensadores cristãos resgataram os
pensamentos gregos por meio do estudo das ciências da natureza, da lógica, da matemática, da
literatura, da retórica, da astronomia e da música, a serviço da fé e da razão. E, ainda, para
pensarmos na escolástica, precisamos esclarecer-lhe que a educação como disciplina intelectual
foi denominada escolástica e que, para Manacorda (2006), o nome Escolástica surge por ser a
filosofia ensinada nas escolas presididas por um eclesiástico ou, em latim, scholasticus.
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de espírito perante os princípios fundamentais já estabelecidos pela
autoridade. (MONROE, 1976, p.99)
Podemos aqui dizer que, na realidade, a escolástica deveria sistematizar o conhecimento
dando-lhe formas científicas, porém o pensamento escolástico acreditava que o conhecimento era
primeiramente de caráter teológico e filosófico e que a forma científica valorizava a lógica
dedutiva Assim, essa educação conseguiu elaborar vários sistemas de conhecimento abrangendo a
área de seu interesse. Observe o que Monroe nos fala a esse respeito:
Nesse contexto, você verá que Aquino retoma as ideias de Aristóteles no que diz respeito
ao ser e ao saber, dando ênfase à importância da realidade sensorial, por meio da reflexão sobre
princípios básicos que utilizou para elaborar argumentos que provassem a existência de Deus. Na
obra De Magistro, Aquino apresenta seu pensamento, que se opõe às doutrinas predominantes, ao
defender a existência de um só intelecto para todos os homens. Assim concebe que o ensino é
superior à aquisição do conhecimento por si próprio, considerando que o ensinar é, ao mesmo
tempo, de caráter ativo e contemplativo.
A respeito desse marco da história da educação, Silveira Rodrigues (2006) afirma que
podemos considerar que a manifestação do pensamento desses autores, ao res- gatar o pensamento
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grego, dá continuidade a contraposições de ideias que marcam uma diversidade nas concepções de
educação predominantes no decorrer da história. Nas palavras da autora:
Utilizando o método do diálogo, anunciando sua tese, dando voz ao
adversário, contestando e posteriormente apontando soluções, Aquino
demonstra sua visão de mundo, sua vontade inovadora sobre o mesmo,
tendo como instrumento a educação que, para ele, é feita de forma teórica
e prática. Assim, aqui é valorizado tanto o trabalho manual como parte do
exercício do pensamento. Vale aqui esclarecer a marcante oposição entre o
pensamento da patrística e o de Aquino, que na idade média dão
continuidade à oposição estabelecida na Grécia clássica, entre as ideias
essencialistas socrático-platônico e a existencialista epicurista-aristotélica.
O primeiro direciona ao entendimento de que o fenômeno da
aprendizagem não depende da atividade do homem, mas sim, da
contemplação em busca do autoconhecimento como o encontro com sua
essência, por meio da reflexão. E o segundo, em oposição à patrística,
defende a ideia de que a aprendizagem não é fruto só da contemplação,
mas sim do caráter ativo em consonância com o contemplativo, por
intermédio dos órgãos do sentido. Onde a aprendizagem não é gratuita,
vinda da alma. Mas sim, fruto da experiência do homem no meio em que
vive. Diante dessa visão da aprendizagem, conclui-se que o ensino não
acontece somente por meio da fala, mas também por intermédio da ação.
(SILVEIRA RODRIGUES, 2006, p.48).
Veja que, nesse contexto, a educação passa a ser concebida como uma atividade que
torna aquilo que é potencial em atual, que valoriza a atividade prática ao valorizar o trabalho
manual como parte do exercício do pensamento.
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Agostinho, de forma que fosse possível permanecerem presentes na sociedade ocidental da Idade
Moderna até a atualidade, por meio da fundamentação das diversas teorias de ensino-
aprendizagem que encontramos predominando nas escolas atualmente e sobre as quais você vai
estudar na disciplina de Didática, ainda neste Curso.
e. III
Unidade 2
e IV
Ao final deste estudo, pretendemos que você seja capaz de: compreender a história da
educação marcada pelas principais trans- formações ocorridas no período renascentista e suas
contribuições na educação ocidental; compreender o Renascimento como caminho para
construção do pensamento humanista e, ainda, compreender a Reforma e a Contrarreforma como
direção à elaboração da base do pensamento pedagógico renascentista.
Através de uma análise dos registros históricos, você verá que o otimismo renascentista
foi paralisado pelas lutas religiosas, e as instituições eclesiásticas e estatais começaram a se
assustar. Verá que a liberdade dos educado- res foi cortada e, no mundo católico, teve início uma
profunda decadência das universidades. Verá também que os efeitos da Reforma na educação se
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fizeram sentir a longo prazo e que um dos mais importantes efeitos foi a extensão do ensino
primário.
É preciso que você saiba que, com a Contrarreforma, os países católicos ganharam novas
instituições de educação: os colégios. Nesse período, foi criado um modelo institucional
destinado aos filhos das classes privilegiadas, sendo desenvolvidos métodos de grande
refinamento psicológico. Veja que o ideal da educação renascentista tinha sido o de formar o
homem capaz de dominar todos os campos do conhecimento, desde a arte até a ciência. Tarefa
considerada impossível.
De acordo com Cambi (1999), no fim dos anos quatrocentos, quando a Europa se laiciza
economicamente com a retomada do comércio, e politicamente, com o nascimento dos Estados
nacionais e sua política de controle sobre toda a sociedade e também ideologicamente, separando
o mundano do religioso e afirmando sua autonomia e centralidade na própria vida do homem;
quando a Europa – que, convém lembrar, é uma construção pro- movida pela fé cristã e pela ideia
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do Império - se abre para o mundo: com as descobertas geográficas, com seus comércios, seus
intentos de colonização, política e religiosa; quando a própria cultura sofre uma dupla e profunda
transformação, radica-se no homem e nas suas cidades, isto é, liga-se à experiência da vida
individual e social, independentemente de qualquer hipoteca religiosa, como faz o humanismo,
sobretudo italiano, redescobrindo o valor autônomo do pensamento e da arte, ou então se dirige
para um novo âmbito do saber – científico-técnico.
Cambi (1999) continua seu relato dizendo que a ruptura da Modernidade apresenta- se,
portanto, como uma revolução em muitos âmbitos: geográfico, econômico, político, social,
ideológico, cultural e pedagógico; de fato, também no âmbito pedagógico. Como revolução
geográfica, desloca o eixo da história do Mediterrâneo para o Atlântico, do Oriente para o
Ocidente. Com as viagens de descobrimento e a colonização das novas terras, prepara um contato
bastante estreito entre diferentes áreas do mundo, entre etnias e culturas, entre modelos
antropológicos diferentes (como ocorre com os “selvagens” reconhecidos ora como indivíduos
inferiores em estado pré civil ora como herdeiros diretos do “homem natural”).
Este autor destaca que, como revolução econômica, acaba com o modelo feudal, ligado a
um sistema econômico fechado, baseado na agricultura, para ativar, por sua vez, uma economia
de intercâmbio, baseada na mercadoria e no dinheiro, na capitalização, no investimento, na
produtividade: modelo que implica uma racionalização dos recursos (financeiros e humanos) e
um cálculo do lucro como regra do crescimento econômico. Nasce o sistema capitalista, e nasce
independente de princípios éticos, de justiça e de solidariedade, para caracterizar-se, ao contrário,
pelo puro cálculo econômico e pela exploração de todo recurso (natural, humano, técnico).
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Como
revoluçã
o social, promove a formação e a afirmação de uma nova classe: a burguesia, que nasce nas
cidades e promove o novo processo econômico (capitalista), assim como delineia uma nova
concepção do mundo (laica e racionalista) e novas relações de poder (opondo-se à também
aristocracia feudal e aliando-se à coroa, depois entrando em conflito aberto também com está e
com seu modelo de Estado-patrimonial e de exercício absoluto do poder).
No século XVIII, que foi marcado pelo pensamento iluminista, fez-se urgente todo um
conjunto de alterações com relação ao ensino. Defendeu-se a educação leiga, livre e universal,
pois o Iluminismo:
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valores da cultura greco-romana. Vivencia-se, então, um movimento que se tornou considerado
como um importante período de transição envolvendo as estruturas feudo-capitalistas.
Vale esclarecer, ainda, que, nesse contexto abordado, mais precisamente no campo da
produção cultural, esse movimento atingiu a elite das cidades prósperas de forma a provocar a
mudança na qualidade da produção intelectual e aumentar a produção cultural. Assim, podemos
ponderar que o desenvolvimento quantitativo foi favorecido pela imprensa e pela ação de
mecenas.
No momento em questão, precisamos esclarecer para você, ainda, que três classes sociais
se estabeleceram: o clero, a nobreza e a burguesia. Dessa forma, os leigos, que eram pagos,
tornam- se responsáveis pela educação da burguesia. Nesse contexto, inicia-se o processo de
venalidade da ciência, em contradição com a gratuidade sugerida pelo clero.
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escola construída para atender às necessidades de uma sociedade mercantil, quase totalmente livre
da igreja e do império. O que, por sua vez, provoca a venalidade da ciência, fazendo emergir uma
revolução em torno dos métodos de ensino.
Conforme esta discussão que apresentamos a você, podemos encontrar, nas palavras de
Cambi (1999), assertivas que confirmam nosso posicionamento no que diz respeito à afirmação
de que se mudam os métodos de ensino por meio da mudança das teorias pedagógicas que tinham
anteriormente como critério de verdade do conhecimento as sagradas escrituras, cujos métodos de
ensino recebem uma conotação empírica, de acordo com as exigências de um modelo educacional
com base na instrução. Nas palavras do autor:
Com a modernidade nasce a pedagogia como ciência: como saber da formação humana
que tende a controlar racionalmente as complexas (e inúmeras) variáveis que ativam esse
processo. Mas nasce também uma pedagogia social que se reconhece como parte orgânica do
processo da sociedade em seu conjunto, na qual ela desempenha uma função insubstituível e cada
vez mais central: formar o homem-cidadão e formar o produtor, chegando depois, pouco a pouco,
até o dirigente. Como também nasce uma pedagogia antropológico-utópica que tende a desafiar a
existente e a colocar tal desafio como o ver- dadeiro sentido do pensar e fazer pedagogia (como
faz Comenius, como faz Rousseau) Na modernidade, a pedagogia-educação se renova,
delineando-se como saber e como práxis, para responder de forma nova àquela passagem do
mundo tradicional para o mundo moderno, sobre a qual insistiram, ainda recentemente,
historiadores e teóricos da pedagogia, como Clausse e Suchodolski. E a renovação se configurou
como uma revolução: como um impulso e um salto em relação ao passado e como o nascimento
de uma nova ordem. (CAMBI, 1999, p. 199)
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pode considerar que existia, naquele contexto, uma vertente do pensamento humanista que levava
a uma maior reflexão do papel da igreja e das verdades que ela pregava.
Em 1517, Martinho Lutero encontrou terreno fértil à sua pregação nas regiões em que
era interessante aos nobres se apoderarem das terras da Igreja Católica. Aliando-se aos príncipes,
conseguiu principalmente o apoio do Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Carlos V.
As doutrinas luteranas causaram grande agitação, principalmente sua ideia subversiva de
confiscar os bens da Igreja:
Você verá que a Reforma teve implicações relevantes na educação, pois Martinho Lutero
insistia em suas pregações que o ensino deveria ser ministrado a todos, nobre, plebeu, rico e
pobre. Defendeu que a educação não devia por mais tempo ser pela religião e pela igreja,
defendia ainda a criação de uma rede de ensino público para oferecer instrução ao povo,
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argumentava que o dinheiro investido em educação seria menor que o gasto com armas e traria
mais benefícios. Dessa forma, Monroe refere-se ao pensamento ora mencionado expressando
entender que nele havia a defesa das escolas como necessárias para
(...) a segurança dos negócios deste mundo, como a história dos gregos e
romanos claramente nos ensina. O mundo tem necessidade de homens e
mulheres educados, para que os homens possam governar o país
acertadamente e para que as mulheres possam criar convenientemente
seus filhos, dirigir os seus criados e os negócios domésticos. (MONROE,
1976, p. 179).
Enfim, podemos considerar que o contexto da Reforma promoveu uma necessidade de
difusão da instrução com o intuito de que a cada um fosse possível ler e interpretar as sagradas
escrituras, independentemente da interpretação do clero. Dessa forma, entendemos que a
exigência de instrução e de democracia foi um aspecto que contribuiu com a disseminação dos
ideais de modernidade, que, por sua vez, relacionam-se com um projeto educativo que não é
diferente das ideias de Platão nas Leis, seja diretamente relacionado com o Estado, que tem suas
obrigações, seja com a família e com a escola, local onde se inicia e se deslancha o processo
educativo. Assim, Lutero, segundo Nunes:
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ideologia. Dessa forma, criam ordens religiosas com o intuito de se defender e realizar um
trabalho de catequese nos países a serem conquistados.
Nesse contexto, é criada e aprovada a ordem dos jesuítas, que, por sua vez, criou o
catecismo, catequese e os seminários, com vistas a reconquistar os fiéis. Além disso, incentivou
pregadores apostólicos romanos como responsáveis pela catequese no novo mundo. Dessa forma,
a Companhia de Jesus, segundo Manacorda:
Você precisa ter claro que o movimento iluminista foi marcado pela influência que os
empreendimentos científicos do século XVII e início do século XIII delinearam no pensamento
ocidental, que era alicerçado no misticismo religioso, de forma a construir o racionalismo, em que
o mundo físico e seus fenômenos passavam a ser explicados pela razão, e não mais pela religião.
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No que se refere aos ideais iluministas, esses valorizavam o homem e sua capacidade de
controlar e conhecer tudo o que o rodeia. No plano social, esse otimismo se traduziu na crença de
que os homens são agentes históricos, que são capazes de conduzir a história de acordo com os
seus interesses.
Vamos agora pontuar algumas ideias acerca da educação, produzidas pelos autores
citados no parágrafo anterior. E, para tal, iniciaremos com uma breve reflexão acerca do
pensamento de Comênio (1592-1670), filósofo cujo pensamento humanístico contribuiu para a
renovação da educação, por meio da defesa de que o homem é capaz de aprender e, sendo assim,
pode ser educado. Seguidor da lógica do racionalismo cartesiano, esse autor concebeu a didática
como a arte de ensinar, colocando-se a serviço dos interesses da sociedade burguesa e marcando a
história da educação. Segundo Silveira Rodrigues:
Comênio (1957) propõe uma sabedoria universal e, dessa forma, influencia permanente-
mente a pedagogia das épocas anteriores, ao propor um método de ensino que seja possível
ensinar a todos os povos e uma escola que seja para a vida toda, pois todos são capazes de
aprender. Nas palavras do autor:
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informação, de forma a diplomar as pessoas para alimentar a ilusão da conquista de um espaço no
mercado de trabalho.
Iniciamos a nossa reflexão sobre do Rousseau, lembrando que esse filósofo revoluciona
a imagem da criança ao afirmar que esta é um adulto em miniatura. O que podemos considerar
um avanço, ao levar em conta a condição que era dada à criança, que até mesmo era considerada
como um bichinho de estimação.
Rousseau defende a pequena burguesia. Porém, ressalta que a sociedade faz o homem
negar sua natureza de ser bom, e torna-o egoísta e artificial. Mas, contraditoriamente, propõe a
igualdade jurídica para todos ao afirmar que o Estado é democrático. Combate o intelectualismo e
a divisão de classe ao criticar o senhor dos escravos, que se acha o senhor dos demais seres, sem
deixar de ser tão escravo quanto eles. Assim, critica também a sociedade privada. Afirma que o
homem nasceu livre e a sociedade o acorrenta de todas as formas, desde o modelo de educação
que lhe impõe. Dessa forma, Rousseau afirma que:
Veja você que a educação, a formação e a instrução, portanto, são três coisas tão
diferentes no que se refere ao seu objeto quanto à governanta, o preceptor e o professor. Essas
distinções, porém, não são bem compreendidas e, para ser bem dirigida, a criança deve seguir um
só guia. Devemos, pois, generalizar nossas ideias e considerar em nosso aluno o homem abstrato,
o homem exposto a todos os acidentes da vida humana.
34
Assim, é preciso ensinar à criança a se conservar como homem, a suportar todos os
atropelos que a sociedade lhe expõe. Porém, é interessante ponderar que, contraditoriamente,
Rousseau afirma que a educação pode vir da natureza quando se refere ao desenvolvimento das
faculdades dos órgãos. Ideias de exclusão podem ser percebidas em “O contrato social” ao referir-
se ao camponês como aquele que não precisa de escolas, pois o que precisa aprender aprende com
a natureza. Ou seja, no campo onde vive.
O filósofo afirma que a natureza ensina o camponês. Afirmação esta que é negada na
obra “O Emílio”, ao atribuir à personagem principal, que representa uma classe privilegiada, a
condição de uma educação superior, com vistas a formar o homem Ideal.
Suchoudolsk levanta a seguinte questão a respeito dos interesses que permeiam o pensa-
mento de Rousseau:
O autor pretendeu provar que “é bom tudo o que sai das mãos do criador
da Natureza e tudo degenera nas mãos do homem”. Posto isto, será
possível confiar aos homens o problema da educação? Não será
conveniente dar à criança um desenvolvimento livre e espontâneo? A
educação - segundo Rousseau - não deve ter por objetivo a preparação da
criança com vistas ao futuro ou modelá-la de determinado modo; deve ser
a própria vida da criança. É preciso ter em conta a criança não só porque
ela é objeto da educação. É a partir do desenvolvimento concreto da
criança, das necessidades e dos impulsos de seus sentimentos e de seus
pensamentos que se forma o que ela há de vir a ser, graças ao auxílio
inteligente do mestre. Os educadores não poderiam ter outras pretensões;
seriam absolutamente nocivas. (SUCHODOLSKI, 1984, p. 41).
Observe que, de acordo com a direção acima apresentada, Rousseau defendia que o
processo educativo devia ter características de uma orientação direcionada, respeitando a
individualidade do educando; e, para que isto aconteça, é necessário que o educador o conheça e
busque acompanhar o seu amadurecimento progressivamente, com liberdade para alcançar a
educação ideal.
O professor deve ser aquele amigo que orienta e que possa intervir com respeito, sempre
que for necessário, com vistas ao aperfeiçoamento dos órgãos dos sentidos - entendidos como
instrumentos do conhecimento. Dessa forma, preparará o educando para, futuramente, ter
condições para seguir o caminho da verdade, da bondade, tendo condições de ser dono de si
mesmo e ser capaz de julgar e avaliar a realidade que o cerca.
35
Diante das considerações aqui apresentadas, vale recorrer às palavras de Silveira
Rodrigues:
D
iante das
colocaçõ
es que
apresent
amos por
interméd
Unidade 3
io da
2. A educação brasileira na colônia e no império citação
3.
acima, é
pertinente consideramos que a proposta de educação apresentada por Rousseau traz em si um
romantismo humanístico que se encontra totalmente incoerente com a realidade das condições
atribuídas ao ensino público que conhecemos no Brasil, no âmbito da sociedade capitalista.
36
por objeto
Buscaremos, portanto, nesta unidade, tratar da educação no Brasil durante suas fases
colonial e imperial, destacando o período que contou com a hegemonia dos jesuítas (1549
-1759), uma vez que ele retrata duzentos e dez anos da história da educação brasileira.
1ª fase (1549 – 1759): a do predomínio dos jesuítas, fase a qual denominamos de fase da
implementação do ensino religioso, que se es- tende até a expulsão dos jesuítas.
2ª fase (1759 – 1808): a das reformas do Marquês de Pombal, fase a qual denominamos
de período pombalino, que se inicia após a ex- pulsão dos jesuítas do Brasil e termina com a
transferência da família real para o Rio de Janeiro.
3ª fase: (1808 – 1889): a do período que se inicia com a chegada, ao Brasil, de D. João
VI, então Rei de Portugal, e a corte portuguesa, e se encerra na Proclamação da República.
Faremos este estudo seguindo, tanto quanto possível, os debates e estudos empreendidos pelos
autores apresentados como referência básica, acrescidos de outros autores apresentados como
referências complementares.
Para melhor compreender nossa história educacional, convidamos você a rever alguns
fatos discutidos nas unidades anteriores como: no período compreendido entre os séculos XV e
37
XVI surge a Renascença, que recebe esse nome por sugerir a retomada dos valores greco-
romanos. Esse período se destaca como o período das grandes invenções e das grandes viagens
marítimas que ocorriam motivadas pela necessidade de ampliação nos negócios da burguesia e
pela busca de enriquecimento da classe burguesa.
Veja que havia também, nesse período, um consenso entre a nobreza e a burguesia no que
diz respeito ao anseio de crescimento e hegemonia, pois a nobreza desejava manter os seus
privilégios e a burguesia queria aumentar seus lucros.
Gramsci faz sobre a hegemonia, quando este afirma que “uma massa humana não se
distingue e não se torna independente por si, sem organizar-se; (...) e não existe organização sem
intelectuais, isto é, sem organizadores e dirigentes...” (GRAMSCI, 1989, p. 21).
Nesta unidade, chamamos sua atenção para um aspecto inicial dessa questão, o problema
metodológico idealizado pelos jesuítas, pois estudar a ação pedagógica dos jesuítas implica
sempre no enfrentamento de um problema teórico-metodológico de grande importância,
considerando que a hegemonia exercida por eles na educação, durante o período colonial, no
Brasil, é um fato histórico de grande relevância.
Nesta altura, não é mais novidade para você que os jesuítas foram considerados os
primeiros educadores brasileiros e que a educação dos jesuítas permaneceu um tempo histórico
significativo a frente da educação desse país. Dessa forma, iniciaremos essas reflexões alertando
38
que chamamos de período Jesuítico o período educacional que compreende desde a chegada dos
jesuítas ao Brasil até a sua expulsão deste país.
Para você entender melhor esse período da educação brasileira, lembramos-lhe que o rei
de Portugal, Dom João III, convencido da necessidade de envolver a Monarquia para ocupação e
defesa da nova terra, o Brasil, instituiu um governo geral, nomeando para essa função Tomé de
Sousa, que se tornou o primeiro governador-geral deste país.
Veja você que, tão logo chegaram ao Brasil, os jesuítas criaram a primeira escola
elementar; era assim chamada porque era destinada apenas ao ensino da leitura e da escrita, ou
seja, das primeiras letras. Através dos registros históricos da época, podemos ressaltar que a
primeira escola elementar brasileira foi edificada na cidade de Salvador, e teve como mestre o
jesuíta Irmão Vicente Rodrigues.
Como você viu, a chegada dos padres jesuítas ao Brasil marca o início da história
educacional desse país. Observou, também, que esse fato inaugura a primeira fase e a mais longa e
importante de nossa história educacional, devido a seus impactos na educação nacional.
Diante das discussões acima, podemos inferir que a educação brasileira teve início com o
fim do regime de capitanias no Brasil, fato que ocorreu no ano de 1549, com a chegada do
primeiro governador-geral, que traz em sua companhia um grupo de padres jesuítas.
Começaremos essa discussão com a pro- posta de apresentar a proposta de ensino criada
pelo Padre Manoel da Nóbrega, líder dos jesuítas aqui no Brasil.
39
Esse padre forjou um plano de ensino adaptado ao nosso país. E, no que se refere à
proposta de estudo de Nóbrega, podemos ressaltar que esta se fundamentava no ensino do
Português, na doutrina cristã, no ensino de ler e escrever. Essa modalidade de ensino era chamada
de ensino básico.
Após a etapa do ensino básico recomendado pelos jesuítas, o aluno ingressava no estudo
da música instrumental e do canto orfeônico. Após essa etapa de estudo, o aluno se encontrava
pronto para prosseguir seus estudos de gramática, completando, depois, sua formação nas
Universidades Europeias.
No Brasil, as escolas dos jesuítas não se limitaram ao ensino das primeiras letras. Além
do curso elementar, mantinham cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso
de Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes.
Segundo Aranha (1990), uma das características mais criticadas do ensino proposto pelos
jesuítas foi a separação entre a escola e a vida, pois os jesuítas se mostravam excessivamente
conservadores, mantendo-se indiferentes às controvérsias do pensamento filosófico moderno, ou
seja, não buscavam relação do que ensinavam com as questões cotidianas.
Podemos observar que a ação escolarizadora dos jesuítas foi concretizada, no Brasil, pela
criação dos colégios, que se direcionavam principalmente à formação da elite dirigente colonial.
Vimos, também, que os jesuítas menosprezavam o estudo da história, da Letras/ Português e da
matemática, pois os jesuítas consideravam estas disciplinas como ciência vã. A forma de ensinar
dos jesuítas, ou seja, a metodologia adotada por eles no desenvolvi- mento e estudos dos textos
não permitia que os alunos desenvolvessem o espírito crítico. O ensino universalista e muito
formal desenvolvido pelos jesuítas distanciava os alunos da vida prática, porque era voltado para a
formação do homem erudito, pois os jesuítas cultuavam as belas-letras e o saber por saber.
40
Como você já viu, no estudo da unidade anterior, as escolas dos jesuítas eram regula-
mentadas por um documento escrito por Inácio de Loiola, o Ratio atque Instituto Studiorum,
chamado abreviadamente de Ratio Studiorum.
Vamos adiante com nossas discussões. Agora, a fim de observarmos, através dos relatos
históricos, que os jesuítas educavam e instruíam os filhos da elite colonial ao mesmo tempo em
que catequizavam os índios.
Veja você que a ação educacional dos jesuítas sobre os índios se resumia à cristianização
e à sua pacificação, para que eles se tornassem dóceis, facilitando o seu engajamento no trabalho
agrícola.
Lembramos, ainda, que o modelo de educação proposto pelos jesuítas não tinha como
objetivo contribuir para promover a emancipação das pessoas, pois era um modelo de educação
excludente. Assim, para os filhos dos colonos a ação dos jesuítas era diferente, pois eles se
dedicavam oferecendo aos aprendizes uma educação mais ampla, ultrapassando os limites da
educação elementar, ou seja, do ler e do escrever. Enquanto que, para os nativos, ofereciam a
catequese com o intuito de difundir valores e atitudes de subserviência.
Vimos que, nesse período, a nobreza buscava acentuar ainda mais o seu poder político e
econômico e a nova classe, a burguesia, buscava aumentar seus lucros; assim, uma educação com
base na catequese seria adequada.
Agora, gostaríamos de mostrar para você um fato muito interessante, que é o seguinte: a
ação educativa, que havia sido utilizada pelos jesuítas apenas como meio de submissão e domínio
41
político, passa a ser vista como responsável pelo descompasso entre o governo português e o resto
da Europa.
Nesse contexto, os jesuítas, não atendendo mais aos interesses de Pombal, foram expulsos
do reino e de seus domínios. Com a expulsão dos jesuítas, a educação brasileira vivenciou uma
grande ruptura histórica num processo já implantado e consolidado como modelo educacional;
passou por momentos de crise, o que acabou provocando um retrocesso no já defasado sistema
educacional imperial.
Veja você que com a expulsão dos jesuítas, deixam de existir no Brasil dezoito
estabelecimentos de ensino secundário e cerca de 25 escolas de ler e escrever. Em substituição às
es- colas dirigidas pelos jesuítas, foram instituídas por Pombal algumas aulas régias, sem nenhuma
ordenação entre elas.
Diante dessas mudanças instituídas por Pombal, você verá que várias foram as
consequências trazidas para a educação brasileira; entre elas, podemos citar a dificuldade de
encontrar o professor preparado para desenvolver o ensino que rompesse com o ideal da educação
jesuítica, pois boa parte dos professores aqui existentes possuía formação jesuítica, ou seja,
haviam sido alunos dos jesuítas.
Para falarmos a respeito da educação na era pombalina, precisamos ressaltar que Pombal
pensava em reerguer Portugal da decadência em que se encontrava diante de outras potências
europeias da época e apostou na educação como meio para a solução dessa crise.
42
No que se refere às aulas régias, essas eram autônomas e isoladas, com professor único e
uma não se articulava com as outras, ou seja, as aulas régias eram avulsas e se destinavam ao
estudo de Latim, Grego, Filosofia e Retórica. Veja você que, nas aulas régias, os próprios
professores é quem organizavam seus locais de trabalho e somente após colocar sua classe para
funcionar, os professores requisitavam do governo o pagamento pelo trabalho do ensino.
Veja que, em 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, a estrutura
educacional brasileira passa por modificações para adequar-se às necessidades da Corte que aqui
se instala. A primeira medida que D. João VI toma ao chegar ao Brasil foi a de instituir o ensino
superior não teológico, visando atender a essa demanda. Porém, nesse mesmo ano, surgem cursos
profissionalizantes em nível médio e em nível superior.
Foram então criadas, no Brasil Império, universidades para formar engenheiros, médicos
e militares. Foi no ano de 1808 que na Bah- ia se implantou o Curso de Cirurgia e, no mesmo ano,
na cidade do Rio de Janeiro, o Curso de Cirurgia e Anatomia.
Podemos afirmar que a única lei estabelecida quanto ao ensino elementar no período de
1827 a 1946 foi a Lei de 15 de outubro de 1827. Nessa lei, previa-se a educação como dever do
Estado; falava-se da distribuição racional do ensino por todo o território nacional, mas
contemplava apenas as escolas de primeiras letras; propunha-se o uso do método lancasteriano nas
escolas.
Isso mesmo!
O método lancasteriano traz traços que observamos até hoje em nossas escolas, isto é,
está presente no sistema de monitoria muito utilizado pelos professores do ensino fundamental.
Observamos através de uma reflexão histórica que, na Lei de 15 de outubro de 1827, o ensino era
bastante limitado quanto ao grau: (apenas um – primeiro grau); quanto aos objetivos:
(alfabetização - primeiras letras).
44
você viu, em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores, institui-se no Brasil o Méocê
observou a presença do método lancasteriano durante o seu período de educação fundamental? Vá
ao fórum e comente sobre sua experiência com seus colegas de curso.
Outro fato que se faz relevante aqui registrar é que, no ano de 1824, é outorgada a
primeira Constituição Brasileira e, no art. 179 dessa Lei Magna, diz que a “instrução primária é
gratuita para todos os cidadãos”.
O Decreto de 1826 trata da primeira Lei Geral relativa ao Ensino Elementar. Esse
decreto, outorgado por Dom Pedro I, veio a se tornar um marco na educação imperial, de tal modo
que passou a ser a principal referência para os docentes do primário e ginásio nas províncias. Essa
Lei tratou dos mais diversos assuntos, como descentralização do ensino, remuneração dos
professores e mestras, ensino mútuo, currículo mínimo, admissão de professores e escolas das
meninas.
Quanto aos estudos primários e médios, algumas escolas de primeiras letras foram
criadas. Todavia, as aulas continuaram avulsas, no velho estilo das aulas régias.
45
prática. Observe que, para as me- ninas, sem qualquer embasamento pedagógico, estavam
excluídas as noções de geometria. Aprenderiam, sim, as prendas (costurar, bordar, cozinhar etc.)
para a economia doméstica.
Percebe-se que, através do Ato Adicional de 1834, a educação da elite fica a cargo do
poder central e a do povo confinada às províncias. Observamos que a situação da educação básica
no Brasil ficou ainda mais comprometida depois do Ato Adicional de 1834, que de- legava às
províncias a prerrogativa de legislar sobre a educação primária, comprometendo definitivamente o
futuro da educação básica no Brasil, pois possibilitou que o governo central se afastasse da
responsabilidade de assegurar a educação elementar para todos.
Como você pode ver, durante a primeira metade do século XIX, não houve, no Brasil,
uma proposta de educação sistemática e planejada. As mudanças tendiam a resolver problemas
imediatos, que serviam para diminuir a defasagem da nova sede do império em relação a outros
países e para atender às demandas da Coroa.
Veja que, com o Ato Adicional de 1834, houve também a criação de sistemas paralelos
de ensino em cada província, numa tentativa de solucionar questões que eram centraliza- das pela
coroa anteriormente. Começa-se a ter uma preocupação com o ensino básico, continuando o poder
central responsável pelo en- sino superior. Tal medida em pouco alterou o quadro do ensino
elementar, pois a verba destinada às províncias para custeio da instrução pública era ínfima,
insuficiente para fazer frente a tais responsabilidades.
46
geral do ensino elementar continuou ruim e teve como uma das causas a falta de pessoal docente
habilitado.
Surgiram, então, por iniciativa dos governos provinciais, as primeiras escolas normais das
províncias, mas o nível era muito baixo. A normatização legal constituiu-se numa das principais
formas de intervenção do Estado no serviço de instrução do país, durante o período imperial.
Podemos dizer que a década de 1850 foi marcada por uma série de realizações relevantes
para a educação institucional no Brasil. No ano de 1854, foi criada a Inspetoria Geral da Corte,
com o objetivo de orientar e supervisionar o ensino brasileiro.
Veja que, no período imperial, duas características foram marcantes para o ensino dessa
época: o conjunto de ensino existente era carente de vínculos efetivos com o mundo prático, ou
seja, não preparava para a vida. O ensino desenvolvido nessa época era mais voltado para os
jovens do que para as crianças. Outro elemento marcante do ensino no período imperial foi a
reforma Leôncio de Carvalho, ocorrida no ano de 1879. Na condição de Ministro do Império,
Leôncio de Carvalho promulgou o Decreto nº 7.247, ad referendum da assembleia, instituindo a
liberdade do ensino primário e secundário no município da Corte e a liberdade do ensino superior
em todo o país.
Por liberdade de ensino, a nova Lei Decreto nº 7.247 entendia que todos os que se
achavam por julgamento próprio, capacitados a ensinar, poderiam expor suas ideias e adotar os
métodos que lhes conviessem. A frequência aos cursos secundários e superiores no Brasil, nesse
período, era livre, de forma que os alunos poderiam escolher com quem queriam aprender e, após
o término dos estudos, deve- riam ser submetidos aos exames de seus estabelecimentos de ensino
regulamentado.
47
Em 1879, Leôncio de Carvalho (segundo Fernando de Azevedo, o inovador de ensino
mais audacioso e radical do período imperial) estabeleceu normas para o ensino primário,
secundário e superior.
Você verá que os vestígios do ensino imperial estão presentes no modo de organizar o
ensino secundário, que acompanha, para sua estruturação, o parâmetro oferecido pelos exames
vestibulares.
Outro fator quanto ao ensino no período imperial que nos chama a atenção é o caráter
propedêutico assumido pelo ensino secundário, somado ao seu conteúdo humanístico, fruto da
aversão ao ensino profissionalizante, fundamentado numa ordem social escravocrata. Esse caráter
propedêutico do ensino se constitui em um fator do atraso cultural das escolas brasileiras até as
décadas recentes. Em 1882, Ruy Barbosa sugere a liberdade do ensino, o ensino laico e a
obrigatoriedade de instrução, obedecendo às normas emanadas pela Maçonaria Internacional.
Através de uma análise histórica da nossa educação, você verá que até a Proclamação da
República, em 1889, praticamente nada se fez de concreto pela educação brasileira. Verá que a
instrução primária, a profissional e o ensino normal ficaram inteiramente subordinados à iniciativa
e possibilidades econômicas dos esta- dos, da mesma forma que se subordinavam às províncias,
no Império.
48
Veja que o ensino dessa época era considerado elitista porque estava voltada para a
educação de camadas sociais mais altas; e excludentes, porque excluía os escravos, grande parte
dos pobres, negros ou brancos, e também as mulheres.
Unidade 4
Segundo Romanelli, em 1888, o Brasil contava com apenas 250.000 alunos matriculados,
para uma população de 14 milhões de habitantes. A autora afirma ainda que:
Como a educação ainda tinha um caráter elitista, frases como a do Senador baiano João
José de Oliveira Junqueira, senador entre 1873 e 1887, ficaram famosas: “Certas matérias, talvez,
não sejam convenientes para o pobre; o menino pobre deve ter noções muito simples”. É
49
interessante percebermos que tal fala encontra-se coerente com a fala do Rousseau, já mencionada
no capítulo anterior, que diz que para o camponês não precisa escola, pois ele já se encontra no
ambiente propício para aprender o que precisa, que é a natureza.
A esse respeito, Romanelli afirma que a educação popular do período era meramente
“propedêutica”, voltada para o exercício de funções, nas quais “a retórica tem o papel mais
importante do que a criatividade” (ROMANELLI, 1997, p. 41).
Veja que, ainda de acordo com Romanelli (1997), essa Constituição instituiu o sistema
federativo de governo, consagrou também a descentralização do ensino, prevista em seu artigo 35,
itens 3º e 4º, que reservou à União o direito de criar instituições de ensino superior e secundário
nos Estados, além de prover a instrução secundário no Distrito Federal.
À União cabia criar e controlar a instrução superior em toda a Nação, bem como criar e
controlar o ensino secundário acadêmico e a instrução em todos os níveis do Distrito Federal.
Aos Estados, cabia criar e controlar o ensino primário e o ensino profissional. Na época,
este compreendia principalmente escolas normais (de nível médio) para moças, e escolas técnicas,
para rapazes.
Observe que o ensino, nesse período, assume uma dualidade. De um lado, ofereceu
oportunidade de formação prática para a população rural e desfavorecida e, por outro, reforça a
preocupação com a educação da classe dominante, nas escolas técnicas e superiores.
Veja que, a respeito das intenções da reforma de Benjamin Constant, Azevedo (1963)
afirma que foram:
Você verá, ainda, que se destaca, na sua proposta, a liberdade que pretendia dar ao ensino
Superior, sendo considerada como “liberdade de ensino” que a mesma adotara, corolário do
dispositivo constitucional que assegurava a liberdade de profissão e a promessa de autonomia dos
51
estabelecimentos federais de ensino, da extinção da ação fiscalizadora do Governo Federal sobre
os estabelecimentos particulares.
Saiba que essa reforma propunha, ainda, uma reestruturação no Conselho Superior de
Ensino, então criado, e que, de acordo com a própria lei, substituiria a função fiscal do Estado,
tendo ação sobre os estabelecimentos mantidos pelo Governo Federal, assim mesmo respeitando a
autonomia a esses concedida (Decreto nº 8.659, de 05/04/1911)
Essa nova situação econômica exigia a formação de mão de obra especializada e, para tal,
foi necessário propor novas alternativas para o setor educacional, o que significava que a educação
não poderia ser pensada mais com o in- tuito de formar mão de obra barata, pois não era mais a
necessidade da sociedade emergente. Em meio ao contexto mencionado, entram em cena
educadores brasileiros que haviam estudado na Europa e Estados unidos, e que re- tornavam ao
Brasil com ideias oriundas do contexto em que se formaram, e assumem o papel de educadores e,
também, cargos no governo.
Compreendemos que tal realidade favoreceu a realização das reformas que mudaram o
modelo da educação brasileira, por meio da implantação da escola nova, que trazia consigo ideais
referentes à visão humanista moderna, como veremos a seguir.
52
apontou a necessidade de repensar a formação do magistério primário,
com a preparação nas escolas normais, uma vez que esse estabelecimento
não conseguia, a contento, oferecer sólida preparação pedagógica nem a
educação geral que deveria (AZEVEDO, 1963, p. 73).
Dessa forma, você não pode deixar de considerar que, apesar das primeiras reformas
republicanas e das iniciativas em prol do desenvolvimento do ensino público no país, a questão do
analfabetismo continuava representando um sério problema a ser enfrentado nas décadas do século
XX. É nessa realidade que o Manifesto dos Pioneiros compreende o envolvimento de di- versos
educadores que se voltaram aos problemas educacionais, com a intenção de “melhorar” a situação
do ensino no país.
Foi no bojo da manifestação política acima mencionada que, como expressão desse movi-
mento, pode-se destacar o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, em que
participaram pessoas como Roquete Pinto, Fernando de Azevedo, Cecília Meireles, Anísio
Teixeira, Paschoal Lemme e Lourenço Filho.
Para continuarmos nossas conversas, você precisa ter claro que, no que diz respeito ao
Manifesto, este se trata de um documento de política educacional que, mais do que a defesa da
Escola Nova, está em causa a defesa da escola pública. Nesse sentido, o Manifesto emerge como
uma proposta de construção de um amplo e abrangente sistema nacional de educação pública,
abarcando desde a escola infantil até a formação dos grandes intelectuais pelo ensino universitário
(Saviani, 1997, p.184).
53
de reexaminar e rever os problemas didáticos tradicionais de ensino
(NOGUEIRA, 2001, p.25).
Ainda a esse respeito, podemos esclarecer que a Pedagogia Nova expressa uma
preocupação com a formação do caráter e da personalidade do indivíduo, abrangendo, para tal,
conhecimentos da área da biologia e também da psicologia.
Dessa forma, fica apenas no discurso atingir a meta da educação para todo o cidadão,
visto que aproximadamente 50% da população ainda era analfabeta (FACCI, 1998). Quem tinha
condições financeiras adequadas para ingressar em escolas privadas tinha acesso à educação de
qualidade. Caso contrário, sub- metia-se a uma formação precária nos mais variados aspectos.
Estudiosos afirmam que a Escola Nova procurou corrigir as “imperfeições” deixadas pela
Pedagogia Tradicional; porém, contraditoriamente, não adequaram as escolas públicas ao novo
modelo idealizado para a educação, conforme o modelo europeu e norte-americano.
54
pedagógica vivenciada nas escolas brasileiras, a serviço dos ideais das políticas neoliberais, por
intermédio do banco mundial.
Voltamos a atenção à proposta educacional de Dewey e, assim, dizemos que esta pode ser
encarada como “escola ativa”, ou seja, o aprendizado é feito a partir do treino – tendência
influenciada pelo Taylorismo e Fordismo, fato que acena para um modelo de educação cujas
origens encontram-se no pensamento de Aristóteles, que valoriza a atividade teórica e a atividade
prática. Porém, não supera a dicotomia entre ambas, ao compreender que a teoria é a técnica que
dirige a ação prática.
Outra grande criação do período foi a re- forma do ensino profissional. O que não
poderíamos deixar de ponderar é que a criação dos mencionados cursos se justificava na demanda
da mão de obra especializada para o mercado de trabalho.
O primeiro curso profissional a ser cria- do pela reforma de Francisco Campos foi o de
contabilidade, seguido de sua devida regulamentação para o ensino superior (conforme decreto
20.158 de 30 de junho de 1931). Teve grande influência no período o ensino profissional
ministrado através das empresas e indústrias, tais como o Serviço Nacional da Indústria (Senai) e
o Serviço Nacional do Comércio (Senac).
Federal de 1946 foi a primeira a trazer no seu texto a expressão “diretrizes e bases”
associada à questão da educação nacional.
56
Porém, as discussões para a efetivação de uma lei que tratasse especificamente da
educação só ocorreram em 1961. Apesar de ser inovadora, no sentido de propor legalmente uma
estrutura para a educação nacional, essa lei não trouxe significativas mudanças para o cenário do
período.
Por outro lado, este mesmo Estado ouviu as exigências da “corrente católica”, ainda
doutrinária e influente, que queria estar presente no cenário da educação, do qual foi excluída com
a expulsão dos jesuítas. (CARVALHO, 2008).
Para Saviani (1997, p.21), esse período foi marcado pelo contexto político e econômico
de um país que fazia as “substituições de importações” e dava os primeiros passos para o avanço
da industrialização, visando proporcionar o desenvolvimento do país, condição necessária para a
sua libertação nacional.
Fique sabendo que, com a mudança econômica e a ruptura política provocada pelo golpe
militar de 1964, ao mesmo tempo em que se buscava uma libertação, propagava-se uma política
ideológica nacionalista. Isso desencadeava um plano econômico que levava à industrialização do
país, através de uma progressiva desnacionalização da economia. O Brasil tinha como opção:
57
Veja você que, em 1965, através da Lei 4.464, o Brasil regulamenta a organização de
órgãos de representação estudantil, e estabelece acordos como o MEC e seus órgãos, com a
USAID (agência internacional de desenvolvi- mento dos EUA), que fazia assistência técnica e
cooperação financeira, gerando o acordo MEC-USAID. Através desse acordo, as reformas no
Ensino Superior acabam incorporando as tendências modernizantes da economia (CARVALHO,
2008).
Carvalho (2008) ainda afirma que, no setor econômico, a indústria buscava ser mais
autônoma, porém, para isso, era necessário o investimento do capital estrangeiro que se instalava
no país, trazendo junto consigo influências nos vários outros setores, como o político e o social. A
educação novamente foi considerada meio para se estabelecer a ordem e o progresso, ou melhor,
para promover o desenvolvi- mento que dependia de uma modernização dos meios de
comunicação. Essa preocupação foi precursora do slogan “Educação, direito de todos. Escola para
todos”. Esse slogan fez com que as exigências de reestruturação educacional, sob a ótica do
projeto de educação do MECUSAID, fossem incorporadas à Lei 5.692/71, segunda lei de
diretrizes e bases da educação.
Além disso, por se tratar de uma lei promulgada durante o regime militar, continha fortes
pressões às inovações educacionais que trouxessem qualquer tipo de ameaça para o regime
ditatorial. Fortaleceu-se, no período, a criação de instituições particulares que atendiam
plenamente aos ditames dos militares (CARVALHO, 2008).
Assim, não podemos deixar de ponderar para você que, por intermédio da entrada do
capital estrangeiro, as políticas vigentes bus- cavam fortalecer o Estado, com fins a tornar o Brasil
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uma potência econômica, o que tornou o sistema educacional adequado ao modelo imposto pelas
políticas norte-americanas para a América Latina.
Veja você que foram criadas, nesse contexto, faculdades particulares, que funcionavam
como empresas, com o intuito de obter lucros.
Enfim, você precisa ter claro que a organização social brasileira ocorrida nas décadas de
1960 e 1970 marcou a história da educação desse país por atribuir a ela um papel unicamente
econômico, fazendo dela um veículo de desenvolvimento econômico-industrial, a favor do
desenvolvimento e da manutenção de condicionantes sociais, políticos, ideológicos e econômicos,
que contribuíram decisivamente para o processo de escravização do Brasil em relação ao capital
estrangeiro, representado pelas classes dominantes, compostas pelos grandes empresários e pelos
Estados Unidos.
Para prosseguirmos as nossas conversas, precisamos ter claro que, nas mencionadas
décadas, o Estado visava modelar e remodelar a formação das pessoas com um perfil técnico, para
promover o desenvolvimento social desejado a partir da relação capital-trabalho-educação como
instrumento da acumulação de capital.
Na sequência, é pertinente ressaltarmos que o aumento das vagas nas escolas, sem o
investimento na qualidade da educação, provocou a evasão e a repetência e, ainda, um processo de
formação de professores inadequado ao perfil necessário a um modelo de educação de pessoas
emancipadas.
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que se articulam com base em ideias marxistas oriundas de sociólogos franceses como Bourdieu e
Passeron, Baudelot e Establet e do filósofo Althusser, e assim, denunciam a escola como aparelho
ideológico do estado.
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Percebemos, assim, uma política educacional que não só permite como também incentiva
a privatização, assim como na década de 30. Com o discurso de investir na qualidade, justifica-se
a ideia de que a sociedade requer o trabalhador adequado às transformações sociais originadas
pela globalização. O que, por sua vez, exige a mudança do modelo de educação.
Para prosseguirmos nossas reflexões, precisamos nos ater aqui em pensar um pouco a
respeito da responsabilidade que é atribuída aos municípios sobre a educação. Isto ao
considerarmos as implicações que podem ocorrer diante de tal realidade. Por exemplo: você já
pensou no fato de que os municípios brasileiros são muito diferentes? Tanto culturalmente,
economicamente, socialmente, o que possivelmente vai acarretar um desnível na qualidade da
educação brasileira? O que podemos entender que determinados municípios, devido a diversos
fatores, como localização geográfica, cultura etc., terão possibilidades de produzir melhores
condições de educação para as pessoas em relação a outros? Assim, ponde- ramos que tal política
privilegia determinadas regiões como forma de promover a exclusão de muitas outras no que se
refere à qualidade da educação das pessoas.
Assim, o Estado deixa de ser responsável pelo sistema nacional de educação e efetiva- se
a descentralização da organização da es- cola, por meio da regionalização dos currículos. Dessa
forma, desarticulados do currículo nacional, promove a fragmentação do saber, desarticula os
professores, que assumem uma posição alienada, ao deixarem de questionar a sua condição
político-social de sujeito da educação. De acordo com Mialchi:
Diante do exposto, precisamos ter claro ainda que, com o objetivo redirecionamento à
educação escolar, dirigido em grande parte na
Dessa forma, é produzida para a educação brasileira uma maneira de difundir valores
referentes ao cotidiano das pessoas a fim de promover o discurso da paz entre os homens. Valores
esses necessários à manutenção do capitalismo presente na sociedade globalizada. Dessa forma,
atribui-se à educação escolar a função de formar pessoas para serem cidadãs do mundo, com perfil
para atuar em uma sociedade democrática.
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Com o mencionado intuito, valoriza-se a vida cotidiana que, por sua vez, é expressa nos
conteúdos de forma adaptada, e tem objetivos que apontam uma preocupação em construir uma
identidade nacional e pessoal a valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural das diversas
nações, contra qualquer que seja o tipo de discriminação. Na verdade, com o in- tuito de globalizar
a cultura dos países dominantes sobre os países periféricos.
Através dos estudos realizados, podemos perceber que, na história da educação brasileira,
não é novidade a utilização do discurso de respeito às diferenças com o intuito de promover a
violência cultural para favorecer órgãos de financiamento das políticas internacionais, que se
interessam em globalizar
o consumo. Assim, tais valores são veiculados pelos meios de comunicação, como no
caso das novelas, que trazem para dentro dos lares cenários que representam culturas diversas e
valores diversos a serem difundidos. Segundo Dala rosa, nos Parâmetros Curriculares Nacionais:
[...] como se essa noção tivesse uma existência independente do texto que
o instituiu como novo objeto. Da mesma forma, quem passa diretamente à
análise dos textos específicos das áreas disciplinares é porque se torna
‘compelido’ pela ‘autoridade’ estabelecida pelo texto a não fazer certas
questões prévias que poderiam colocar em dúvida as bases e os princípios
sobre os quais estão assentados os PCNs. Isso nos faz concordar que
colocar a ênfase no estabeleci- mento de um currículo nacional significa
desviar a atenção precisamente dos fatores que estão no início da cadeia
casual que leva aos baixos desempenhos (DALOROSA, 2001, p. 207).
Mais uma vez, em nome da situação in- grata com as pessoas que não possuem os bens
materiais necessários para vivenciar o consumo, tanto dos bens culturais como dos bens materiais
de forma organizada, os PCNs afirmam que as diferenças se resumem em diferenças culturais. Ao
não mencionar as diferenças econômicas tão evidentes nas escolas públicas desse país, limita o
olhar das pessoas e, consequentemente, a consciência crítica.
Enfim, você precisa entender aqui que, no contexto evidenciado no parágrafo anterior, os
PCNs trazem em si uma ideia de que existe um parâmetro natural a ser seguido.
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4.4 A educação superior no Brasil pós LDBEN 9.394/1996
Nos últimos anos, houve um processo expansionista no setor. Em 1999, por exemplo, o
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, INEP, registra que o ensino superior
brasileiro cresceu substantivamente em 11,8% em relação à matrícula do ano anterior.
Para a então presidente do Instituto, Helena Guimarães de Castro, esta foi a maior taxa de
crescimento das últimas duas décadas (CASTRO, 2000, apud CATANI, 2002) universitários,
faculdades integradas, instituições de ensino superior e demais instituições isoladas, amparadas
pelo Conselho Nacional de Educação que, em 1999, aprovou a criação de 567 novos cursos
universitários – mais da metade do que fora aprovado em toda a história do CNE (Folha de S.
Paulo. 26.02.02).
Nesse contexto, veja você que há, também, um novo delineamento na política de
formação de professores, vinculada ao estreitamento das exigências postas pelas reformas
educativas da educação básica, que visam à formação das novas gerações. A formação inicial de
professores, na ótica oficial, “deve ter como primeiro referencial as normas legais e
recomendações pedagógicas da educação básica” (MELLO, 2000). Constata-se, no setor, a ideia
de que é inviável ao poder público financiar, a preço das universidades tidas como “nobres”, a
formação superior de professores para a educação básica, uma vez que somam mais de um milhão.
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No viés ideológico, vamos ver que o Banco Mundial exerce uma função exponencial. No
entendimento de Coraggio (1996), em estudo publicado por Dourado (2002) apud Almeida e
Silva, (2007), esta instituição está por trás da ideia que defende um reducionismo economicista,
baseado no vetor custo-benefício, assim como da descentralização que permite desarticular setores
já organizados e da capacitação docente, em programas paliativos e rápidos, com os professores
em serviço.
O ensino no Brasil enfrenta uma situação singular nas duas últimas décadas. Fruto de
lutas, contradições, adaptações às tendências, interesses econômicos, encontra-se numa situação
tanto de reestruturação quanto de melhoria.
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