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JEZUINA KOHLS SCHWANZ

DIDÁTICA

FACULDADE SÃO BRAZ

CURITIBA/PR – 2018

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Sumário

Introdução ........................................................................................ 03
Aula 1 – Fundamentos da educação ................................................ 04
Aula 2 – A aprendizagem e suas diferentes concepções .................. 15
Aula 3 – A didática na história ........................................................... 28
Aula 4 – Teorias do conhecimento .................................................... 42
Aula 5 – Currículo Escolar, Projeto Político Pedagógico e
Planejamento ................................................................................... 54
Aula 6 – A importância da didática na articulação de teoria e prática 68
Aula 7 – A didática na prática ............................................................ 83
Aula 8 – Avaliação ............................................................................ 97
Referências 111
Currículo do Professor-autor 115

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Introdução

Educar é uma ação tipicamente humana. Mas para que educar? Por que,
ao longo do tempo e de maneiras diferenciadas, o ser humano busca pela
educação? O homem humaniza-se à medida que reflete sobre o mundo no qual
está inserido e sobre as relações que nele estabelece, para tanto, cria
mecanismos para transformá-lo e para extrair dele sua sobrevivência. A
educação é parte fundamental nesse processo de humanização.
Sendo assim, é fundamental discutirmos como se deu o fenômeno
educativo ao longo da história. Para tanto, vamos pensar a educação na
perspectiva da didática, ou seja, na articulação entre a teoria e a prática
pedagógica.
Ao longo desse material, estudaremos a Didática a partir de uma
perspectiva histórica, passando pelos fundamentos da educação, pelas
diferentes teorias do conhecimento, até chegarmos à aprendizagem e suas
diferentes concepções.
Nesse percurso buscaremos compreender a Didática enquanto disciplina,
que visa o desenvolvimento crítico dos educadores em formação, a fim de que
possam avaliar de forma clara e objetiva a realidade do ensino na qual estão
inseridos. Para tanto, é necessário que o educador tenha uma base teórica
sólida, pois esta influenciará toda a sua prática docente.
Convido você para que juntos possamos tecer novos caminhos para a
prática educativa, alicerçada nas teorias da didática!
Bom estudo!

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Aula 1 – Fundamentos da Educação

Fonte: © Public Domain Vectors (2017)

Olá, estudante! Nesta aula, vamos saber mais a respeito da educação,


seu conceito, um pouco de sua história ao longo do tempo e as discussões atuais
relacionadas ao tema. Vamos lá?

Conceito de Educação

Você sabia que ao pesquisarmos o termo educação no buscador Google


são devolvidos aproximadamente 8.250.000 resultados em 0,73 segundos? São
retornos dos mais simples, como o dizer que “a educação equivale ao ato de
educar-se” (MICHAELIS, 2017), em contraste com outros mais completos como
o de “a educação é o conjunto de métodos próprios para assegurar a formação
e o desenvolvimento intelectual e moral de um ser humano” (CONTRERAS,
2015).

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Desses retornos, alguns estão relacionados também à pedagogia, à
autonomia (FREIRE, 1996), às competências do indivíduo (PERRENOUD et al,
2000) e à didática (PIMENTA, 1999) e au saber docente (TARDIF, 2002). Além
desses, vários outros conceitos são associados. Apesar disso, Ambrosio (2007)
indica que a educação vem inibindo a construção de novos saberes e, assim,
priorizando o conhecimento disciplinar concluído. O que leva a crer que talvez a
educação não esteja acompanhando as atualizações da contemporaneidade,
quiçá reproduzindo conhecimentos que possam não condizer com a totalidade
da realidade social dos sujeitos que visa a educar.
Dentre tantos estudiosos da área, o conceito de Vianna (2006) parece
bastante adequado e atual por tocar em pontos muito importantes no que tange
à forma e condução do processo educacional. Para ele: “A educação em sentido
amplo representa tudo aquilo que pode ser feito para desenvolver o ser humano,
e no sentido estrito representa a instrução e o desenvolvimento de competências
e habilidades” (p. 130).
De acordo com Gadotti (2000), falar de educação exige certa dose de
cautela, devido às tantas perspectivas criadas em torno do que a crise de
paradigmas que o novo milênio traria, apoiadas em estudiosos e educadores que
tentaram apontar algum caminho para o futuro prático da educação. Em meio a
isso, o autor questiona:

Qual o papel da educação e quais as perspectivas para a


educação neste terceiro milênio?
Reflita

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Você já ouviu falar de Gadotti?
É um renomado educador brasileiro, que estuda e
defende a educação no cenário educacional nacional. Na
internet, há vários artigos de sua autoria. Aqui, recomenda-
se a leitura de “Perspectivas Atuais da Educação”,
publicado no ano 2000. Esse artigo foi escolhido, pois foi
Curiosidade publicado num momento de virada e de reflexão sobre a
educação, como o próprio autor propõe. O autor palestra
em eventos e tem outras várias publicações falando sobre
os desafios da educação.

Marcos da Educação

Fonte: © Pixabay (2017)

Observe que os marcos de tempo sempre são favoráveis à análise de


práticas que atravessaram anos, pois “para entender o futuro é preciso revisitar
o passado” (Gadotti, 2000, p. 04). Conforme a ideia, Amado (2007) indica que a
história da educação permite compreender sua evolução, seus processos e
etapas, suas acelerações e afrouxamentos. Graças ao passado, afirma, é
possível descobrir as origens longínquas das tradições educativas, bem como

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analisar o peso da herança do passado sobre a prática educativa. Em primeiro
lugar, fala do pensamento pedagógico e das ideias em educação ao longo da
evolução humana como base para as concepções gerais das instituições
educacionais.
Para que você consiga se situar na história da educação ao longo dos
anos, o quadro disponibilizado por Amado (2007) apresenta um panorama geral
da história da educação. Ele é bem resumido e aponta os grandes marcos.
Acredito que ele seja útil para que você possa visualizar os percursos da
educação ao longo dos anos, da mais antiga registrada até o ponto em que se
inicia a formação para profissionalização. Confira a seguir!

Quadro 1 – Quadro Geral da História da Educação

Período Localidade Foco da educação


(Conhecimento)

IX a.C. Grécia – Esparta Militar

VII – V a.C. Grécia – Atenas Ginástica e Música

III a.C. Roma Agrícola, moral e militar

II a.C. – II d.C. Roma Humanista

I a IV d.C. Roma Catequística

XII d.C a XV D.C. Europa Profissional

Fonte: Adaptado de Amado (2007)

A educação como processo permeou a evolução da humanidade, no ato


de educar os filhos para a continuidade da sobrevivência. Nas sociedades
primitivas, o processo educativo era mantido a partir de métodos informais, pelos
quais os indivíduos eram integrados à convivência em sociedade e lhes eram

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passados os valores e costumes construídos pelas gerações anteriores. Essa
transmissão limitava-se ao estímulo de memorização (GILES, 1987).
Somente com os desenhos nas pedras é que se começou a produzir
registros dos costumes e vida dos indivíduos a partir do uso da escrita, criando
um banco de dados primitivo das informações disponíveis às próximas gerações
da sociedade, demarcando eventos e a evolução da raça humana.
Sempre voltada para questões econômicas, a educação desde muito
tempo serviu para concentrar o saber e explorar os menos favorecidos em prol
da geração de riquezas, como se viu no Egito, na época dos escravos, em que
os patrões exerciam as melhores práticas para explorar o trabalho servil. Em
Roma, na época do Império Romano, não foi tão diferente, a educação no seio
da família focava-se no ensino do direito e das condições para desempenhar
atividades políticas típicas da classe dominante.
À diferença do que se viu no Egito, em Roma, os conhecimentos e
habilidades eram ensinados em escolas. Assim, cada passo do desenvolvimento
histórico impôs a necessidade de instruir quem é destinado ao círculo de poder
e manter na escuridão do conhecimento quem era destinado à produção
(MEDICE, 2011).
Os gregos faziam da mesma forma. Os precursores do estudo da filosofia
objetivavam conhecer a razão de ser das coisas e solucionar problemas típicos
daquela época, embora reconhecessem que não havia verdade absoluta. Os
ensinamentos voltavam-se para a arte de falar e de convencer.
Martins (2004) afirma que a educação não era um direito de todo cidadão
grego, mas certamente ela já era responsável por tornar os homens mais
evoluídos e felizes, pois era propagado um sistema educacional capaz de
assegurar o triunfo a quem a ele aderisse.
A esta altura, é possível falar de Sócrates e Platão (MARTINS, 2004).
Enquanto o primeiro disseminava uma nova visão de homem e de universo,
apostando em uma ciência universalista; o último falava da formação homem
para uma sociedade ideal, pois educação seria sinônimo de liberdade que liberta
o indivíduo da ignorância.

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Já a educação formal foi estabelecida dentro de espaços também formais,
que foram se moldando conforme as necessidades dos indivíduos. A escola
formal, por sua vez, como instituição de caráter social, foi instituída para
transmitir o legado cultural da humanidade (UFPB, 2016) de forma reprodutivista,
destinando-se de forma ampla e tradicional, a uma pequena minoria,
consentindo a educação como processo de desenvolvimento individual, o que
muda no final do século XX, quando a educação também passa a ser vista como
algo socialmente construído (GADOTTI, 2000; RAUBER, 2008).
Almeida (2004) expõe que ainda há uma pressão no sentido de atender
às demandas de reproduzir, manter e reforçar privilégios de alguns em
detrimento da maioria, a qual é perceptível em várias reformas e programas
oficiais, isso por que, explica UFPB (2016), as mudanças na concepção de
homem, de educação, de ensino e de sociedade se voltam para um novo modelo
que exige que homens atendam às demandas emergentes dessa maioria,
ampliando-se como direito de todos.

Independentemente da fase, preceito e mesmo que


se perceba ou não, a educação sempre esteve, está e
estará relacionada a uma dimensão política, em que o
caráter educativo assume também caráter político no
cumprimento de seu papel de formação integral do
indivíduo para a sociedade e ao considerar os elementos
Importante
complexos da vida contemporânea, registram Stigar e
Schuck (2017), apoiados nas premissas de Saviani e Morin
(1999).

Discussões atuais de Educação

Você pode observar que, de acordo com Nascimento e Hetkowski (2009),


o espaço de educação não pode ser visto unicamente como uma máquina
reprodutiva de alfabetização; eles frisam que cada vez mais a sociedade exige
que foque nessa formação integral, que contempla aspectos intelectuais e,

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também, morais. Por essa razão, o ato de educar abrange mais do que a sala
de aula, e o contexto interfere no processo educativo com o quanto deve ser
considerado na execução do ato de educar. Para complementar esse
pensamento, Almeida (2004) indica que tudo isso somado implica no re-
equacionamento do papel da educação na contemporaneidade.
Note que, por estar atrelada à educação, a pedagogia trata da mesma
forma de concepções distintas: a tradicional e a nova, diz Libâneo (2008).
Enquanto no formato tradicional, enfatiza-se a transmissão do saber de forma
ativa pelo professor e passiva por parte do estudante; a nova questiona a
validade da primeira, percebendo o estudante como sujeito livre e ativo,
extrapolando a aceitação pura do desenvolvimento biológico e respeitando as
especificidades individuais, tornando os sujeitos do processo (professor;
estudante) ativos (idem). O estabelecimento desse movimento data do século
XX.
De forma mais profunda, seguem considerações a respeito de ambas, a
partir de algumas literaturas (NOSELLA, 2011; UFPB, 2016; TARDIF, 2014).
De acordo com o que você estudou no início desta unidade, a pedagogia
tradicional está centrada na transmissão do conhecimento e na capacidade
igualitária de aprendizagem. O professor é autônomo em relação ao conteúdo,
ao método e à avaliação. Em relação às funções psicológicas, prevalece a
memorização do conteúdo pelo mimetismo e pela aplicação sistemática de
tarefas. Todos os estudantes são iguais, independentemente de suas idades,
facilidades e dificuldades.
Por essa razão devem seguir o mesmo ritmo e obedecer aos mesmos
modos de aprender (sendo visuais, auditivos ou cinestésicos) e chegarem aos
mesmos resultados. Os conhecimentos se dão de forma isolada. As aulas
seguem o método expositivo e o sistema avaliativo somente reconhece a
avaliação do tipo prova escrita.
Rey (2003) explica que quando o processo de aprender não tem relação
com a vida do indivíduo ou como a forma como ele aprende, acaba não fazendo
sentido para ele. Nisso, atinge-se a não produção de pertencimento em que o
educador ou a instituição que ele representa conduz a uma aprendizagem

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formal, descritiva, rotineira, mnemônica, que não instiga o sujeito que aprende.
E entender isso faz considerar a própria função do professor nos processos de
aprendizagem dos indivíduos, que podem ou não caracterizar o espaço de
aprendizagem como espaço de subjetividade social.

Já tentou escutar um audiobook e não entendeu nada?


Conhece alguém que precisa escrever/praticar para entender algum
conteúdo? Isso significa que nem todos nós aprendemos da mesma
forma. Você já fez um teste?
A internet tem uma infinidade de informações de tudo,
tTambém é cheia de testes e alguns deles podem contribuir para o
processo de aprendizagem, gerando informações de como cada um
de nós aprende. Até porque se a aprendizagem e o desenvolvimento
é o que nos faz evoluir, temos que nos conhecer. Seguem alguns
Saiba mais links com testes.

 http://www.qmagico.com.br/descubra-como-aprender-melhor
 https://educacao.uol.com.br/quiz/2015/05/01/descubra-qual-e-o-seu-
perfil-de-estudos.htm
 https://www.terra.com.br/noticias/educacao/teste-descubra-qual-e-o-
seu-estilo-de-
aprendizagem,b4c90861ce9fa4967a060646cd5b79c5687jRCRD.html

A Pedagogia Nova

A pedagogia nova fala do estímulo à autonomia dos estudantes, no


sentido de alcançar suas potencialidades, vivenciar, experimentar e criar seu
conhecimento de forma particular. O foco centra-se no estudante. Aceita-se que
o estudante não aprende apenas escutando, vendo ou escrevendo. Segundo
UFPB (2016), as primeiras experiências desse movimento foram realizadas junto
a crianças excepcionais.
Essa pedagogia remonta uma ressignificação da pedagogia, que
atualmente surgem com várias nomenclaturas, sendo uma das mais comuns a
de metodologias ativas, as quais envolvem os trabalhos em grupo, os estudos

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de caso, as saídas de campo, os estudos dirigidos, as pesquisas, os princípios
da autoeducação, da problematização, a sala de aula inversa, todas essas
atividades que podem ser promovidas e devem ser acompanhadas pelo
professor. Passam a ser valorizadas as atuações específicas de cada estudante
no desempenho do grupo.
Para Xavier (1992, p. 13),

[...] de um lado está a escola tradicional, aquela que dirige, que modela,
que é “comprometida”; de outro está a escola nova, a verdadeira
escola, a que não dirige, mas abre ao humano todas as suas
possibilidades de ser. Portanto, “descompromissada”. É o produzir
contra o deixar ser; é a escola escravizadora contra a escola
libertadora.

Com o passar do tempo, ao mesmo passo em que o desenvolvimento da


era atual consagra dificuldades que precisam ser analisadas sob uma
abordagem macroscópica. Almeida (2004) traz à tona um dos pontos que,
segundo ela, é um dos possíveis entraves à nova percepção sobre a forma de
ver e pensar a educação: a forma predominante do conhecimento orientado pela
disciplinaridade, as disciplinas.

O ensino através das disciplinas

Figura 1: O ensino disciplinar

Fonte: © Public Domain Invectors (2017)

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Você já reparou que o ensino em geral, desde o ensino fundamental até
chegar à universidade, é fragmentado, dividido em disciplinas? Vamos
aprofundar um pouquinho esse conceito!
Segundo Morin (1999), a disciplina é uma categoria de organização do
conhecimento científico baseado na divisão e especialização do trabalho, que
apesar de pertencer a um conjunto vasto tende a delimitar as fronteiras de
entendimento e aplicação dos conteúdos que aborda. Essa falsa
independência dos conteúdos, historicamente reproduzida, continua
Almeida (2004), fragmenta o conhecimento, anula a visão do todo, anula as
relações dos conhecimentos com o universo do qual fazem parte.

Você sabe a diferença entre o que é multidisciplinar, o


que é interdisciplinar e o que é transdisciplinar? Essas
expressões atualmente estão muito em evidência na
educação. São vistas como possíveis modelos a ser
Reflita
seguidos, conforme a orientação da instituição de ensino.

Outro ponto importante a ser considerado são as tecnologias disponíveis


e que podem (alguns dirão que devem) ser associadas à educação. São as
riquezas trazidas pela sociedade moderna a algo tão tradicional como a
educação (MORAN, 2002). Só este ponto já contempla muito material para
discussão. Seja sempre curioso para saber do que está acontecendo no mundo
da educação e ativo nas discussões. Em se tratando de educação, é isso que
vai fazer diferença na sua própria (educação).

Conclusão da aula

A educação sempre esteve e estará atrelada a uma dimensão política,


social e cultural. Nesse sentido, o caráter educativo assume também caráter
político no cumprimento de seu papel de formação integral do indivíduo para a

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sociedade. Entendermos os fundamentos da disciplina de Didática e sua relação
com a Pedagogia e com a educação, faz com que nos aproximemos mais da
história da educação, seus caminhos, continuidades e descontinuidades. Todo
esse processo histórico é de fundamental importância para a formação do futuro
educador e educadora.

Atividades de Aprendizagem

Sugestão de pesquisa
A pedagogia nova versa a respeito do estímulo à autonomia dos
estudantes, no sentido de alcançar suas potencialidades, vivenciar,
experimentar e criar seu conhecimento de forma particular. O foco centra-se no
estudante. Nela, acredita-se que o estudante não aprende apenas escutando,
vendo ou escrevendo.
A partir do exposto em nossa aula, procure pesquisar mais a respeito
dessa pedagogia, desde seu surgimento, os países que a adotaram e as críticas
que surgiram quando de sua concepção. Será uma boa oportunidade para você
aprofundar seus conhecimentos a respeito do tema e aguçar seu espírito de
pesquisador (a).

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Aula 2 – A aprendizagem e suas diferentes concepções

Agora que já falamos de educação, fica até difícil abordar a aprendizagem


de forma separada, pois esses conceitos têm uma relação muito estreita. Você
já deve ter percebido isso, não é mesmo? Lembre-se de que é de fundamental
importância que você leia os textos com atenção e realize as atividades e leituras
propostas em cada unidade!

O que é aprendizagem?

Primeiramente gostaria de observar que, em tempos atuais, há uma


variedade de concepções de aprendizagem no contexto da educação, cada qual
decorrente de variadas correntes epistemológicas e psicológicas.
Assim como na área de moda, elas vão retomando espaços, vão se
combinando, vão sendo criticadas, vão retomando espaço novamente, e assim
sucessivamente, fazendo com que alguns ciclos se fechem e novos sejam
iniciados.
Alguns autores as discutem com a cabível orientação de que essas não
podem ser equiparadas, tendo em vista as diferentes relações entre
aprendizagem e desenvolvimento que abordam e as experiências pedagógicas
que as embasam (BAQUERO, 1998; SACRISTÁN e GOMES, 1998, SPINILLO,
1999). Com isso, é possível acreditar que talvez não haja um consenso sobre os
mistérios da aprendizagem do humano.
Antes de qualquer coisa, cabe a definição nua e crua de aprendizagem,
embora falar desse assunto de forma neutra não seja tarefa simples, tendo em
vista as crenças pessoais e experiências de quem tentar abordá-la. Enfim,
vamos tentar!
De acordo com a definição de Hamze (2015, s/p), temos: “Aprendizagem
é processo de mudança de comportamento obtido por meio da experiência
construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais”. Para
o autor, aprender é o resultado da interação entre diferentes estruturas mentais
e o meio.

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Note que o conceito trazido por Hamze não quis se comprometer com
nenhuma das concepções reconhecidas nacionalmente e trouxe em seu
conceito todos os aspectos relevantes de cada uma delas. Seu conceito é
importante exatamente por essa razão. Para ele, a aprendizagem é processo
singular individualizado e realmente vai envolver todos esses aspectos para
cada um de nós com determinada importância relativa, pois depende do
momento, depende do conhecimento que está sendo trabalhado, da forma como
está sendo trabalhado, de onde está sendo trabalhado etc.
Dada a dificuldade de falar de forma neutra, você está convidado a
conhecer dois dos estudiosos mais discutidos: Vygotsky e Piaget. Certamente
eles não são os únicos de quem você ouvirá falar, mas trazem pontos de vistas
importantes, e há quem diga que eles eram de correntes divergentes.

Concepções vygotskyana e piagetiana da aprendizagem

Ambos (Vygotsky e Piaget) foram escolhidos por terem dedicado suas


trajetórias científicas na União Soviética em uma época em que a psicologia
pressupunha que os mecanismos humanos se davam mediante relações
simplistas ou mecânicas. Seguidores dirão que eles revolucionaram a visão
vigente da psicologia. Além disso, como já foi dito, são dois dos estudiosos mais
estudados, em nível de mestrado e doutorado, dada a riqueza de suas
abordagens e o impacto até hoje na psicologia moderna da aprendizagem.

Para você se inteirar mais desses teóricos, o artigo


“Relações entre Aprendizagem e Desenvolvimento em
Piaget e Vygotsky: dicotomia ou compatibilidade?”, de
autoria de Marcílio Lira de Souza Filho, traz inferências
interessantes a respeito da convergência e/ou divergência
Saiba mais dos ideários desses autores. Outros pesquisadores no
Brasil e no mundo dedicaram-se também a fazer essa
relação entre os autores.

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Vamos ver a seguir algumas de suas concepções de aprendizagem!
De acordo com Vygotsky (1984, p. 115)

“[...] a aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta


organização da aprendizagem conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um
grupo de processos de desenvolvimento [...]”.

Para o autor o processo de aprendizagem é um momento necessário e


universal para que se desenvolvam na criança as características humanas não-
naturais, mas que são formadas historicamente.
Para esse autor, a aprendizagem infantil é fundamental para a
compreensão do desenvolvimento humano como um todo, porque durante toda
a sua vida o ser humano vai estabelecendo relação com os pares com que se
depara. É assim que o indivíduo vai se apropriando do legado cultural humano.
Enquanto isso, Piaget fazia menção à aprendizagem por esquemas e
ação a partir da manipulação de objetos, bem como entendia que a
aprendizagem dependia do nível de maturação do indivíduo. Para ele:

Conhecer é atuar, a fonte do ato inteligente é a ação [...]. A ação é o


principal ingrediente da formação intelectual. É comum as diversas
repetições ou aplicações, como a (ação) de uma criança que classifica
figuras geométricas ou as de um científico que aplica lógica
proposicional para reunir classes complementares. Em todos os casos,
trate-se da mesma maneira de interagir com a realidade, trata-se de
um mesmo esquema (PIAGET, 1970, p. 107).

Por fim, de acordo com Piaget, existem evidências de que os efeitos da


aprendizagem no desenvolvimento cognitivo da criança não são mera
coincidência. Pois [...] nenhuma dessas perspectivas, se tomadas ao extremo,
fornece interpretações adequadas acerca das possibilidades de mudanças no
curso do desenvolvimento a partir da aprendizagem (SPINILLO, 1999, p. 57).
O autor salienta a importância desse estímulo que faz diferença na vida e
no desenvolvimento das pessoas, ou seja, aprender é o que nos permite atingir
nosso potencial como seres humanos racionais e psicologicamente ativos.

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Fato é que, ao longo de sua vida, é possível afirmar que o ser humano
processa uma quantidade inestimável de informações as quais transformam em
conhecimento, conceituando o processo de aprendizagem de forma ampla,
simples e relacionada à condição de vida humana.

Figura 1: Estudante

Fonte: © Pixabay (2018)

Fischer (2000) fala da capacidade humana de aprender durante a vida,


inclusive após determinada formação escolar. Para ele, esse talvez seja o
aspecto central da nova ordem social, pois o futuro depende da informação e do
conhecimento produzido.
A aprendizagem torna-se, desse modo, um processo contínuo, ativo e
progressivo ao longo da vida. Assim como a criança precisa aprender a falar,
depois a escrever, os adultos precisam trabalhar habilidades físicas e mentais
que saciem suas necessidades, e, quando a idade vai aumentando, os idosos,
além de continuar a aprender, talvez precisem reaprender.

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O interessante de tudo isso é ver que, após tantos
anos de estudo do comportamento humano, ainda há
espaço para discussões de como o ser humano aprende e
Curiosidade gera sua aprendizagem.

Como você deve ter observado, cada uma dessas etapas é marcada pela
aprendizagem (BRUNER, 1991), que pode ser registrada, por exemplo, quando
muda-se a execução de uma antiga tarefa por ter se aprendido uma forma mais
interessante, mais fácil ou mais inovadora. Parece que a certeza da vida gira em
torno de que, ao observar o meio e as pessoas, o ser humano aprende com eles
o tempo todo e desenvolve-se cognitivamente.
Contudo, ao elevar o nível da concepção de aprendizagem, deve-se
agregar elementos importantes que fazem desse processo único para cada ser
humano, o fato de que o processo (aprendizagem) de cada indivíduo acontece
em meio a situações, experiências, condições e sob ritmo, predisposição e
presença de agentes externos diferentes, e estimulando suas capacidades e,
logo, desenvolvimento.
No cenário educativo, na aprendizagem que se consideraria formal,
aquele que ocorre no meio escolar ou acadêmico, além desses fatores, existem
outros referentes à relação com os pares, ao posicionamento do educador, às
expectativas de futuro do “aprendente”, pois entende-se que esses condicionam
o processo de aprendizagem.
Tudo isso atribui imensurável valor ao processo de aprendizagem, pois
sob essa concepção acaba respondendo não apenas pela alfabetização, mas
pela integração do indivíduo na sociedade e compromete-se com a educação
como instrumento de progresso dos indivíduos dentro da realidade.

E se aprender não é apenas acessar informações e conhecimento, ensinar é


mais do que transferir conhecimento, mas está na ação de criar possibilidades
para a produção intelectual alheia (FREIRE, 1996).

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Dessa forma, o processo formativo deve extrapolar a formalidade e os
procedimentos descritivos. Isto é, deve interligar valores, dar atenção às
competências transversais, às qualidades pessoais, às circunstâncias da vida.
Tudo isso por que não é possível transformar os modos de pensar e agir dos
indivíduos sem atender ao envolvimento de uma maneira mais ativa,
comprometida e inovadora (ALVES, 2012).
Com isso, é preciso disponibilizar de modo articulado todos os fatores que
intervêm positivamente nos processos de formação: estudantes, professores,
currículos, instituições e contextos para que seja verdadeiro o sucesso do
processo de aprendizagem. Posto isso, é que opta-se por tratar de maneira
equivalente desses processos, indicando o uso da expressão ensino-
aprendizagem, pois não há um sem o outro, como expôs Alves (2012).

Dica de leitura: “O Processo de Aprendizagem e seus


Transtornos”, de Félix Diaz, apresenta informações importantes
a respeito desse tema.

A obra está disponível no link a seguir.


<http://www.repositorio.ufba.br:8080/ri/bitstream/ri/5190/1/O%2
Saiba mais
0processo%20de%20aprendizagem-repositorio2.pdf.

Vale a pena a leitura!

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Sociedade do Conhecimento e/ou Sociedade da Aprendizagem

Figura 2: Homem em processo de aprendizagem

Fonte: © Pixabay (2017)

Prosseguimos com o tema aprendizagem, o qual há uma série de autores


que falam de pontos importantes a esse respeito atualmente. Conheça a seguir
alguns deles.
Rauber (2008) e Castells (1999; 2003), por exemplo, falam da sociedade
da informação (ou do conhecimento mais especificamente, conforme a literatura
utilizada) e das novas tecnologias que apoiam a disseminação do conhecimento
operando com base na cultura digital dominante. Para eles, a globalização da
informação afeta por maneira a importância que o conhecimento tem em todos
os setores e na vida das pessoas, mesmo reconhecendo as grandes massas
excluídas dessa evolução. Não obstante, os autores falam da forma de obtenção
dessa informação e conhecimento.
A sociedade da informação não é modismo, como já foi pensado na
década de 80 e 90 (TAKAHASHI, 2000); pelo contrário, significa uma ruptura
com um passado de falta de acesso e consequentemente uma mudança
definitiva na forma como a sociedade se organiza, aprende e evolui. As
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tecnologias, afirma o autor, afetam diretamente todas as atividades sociais do
indivíduo.
Desse modo, a discussão desse tema na educação envolve a análise
crítica da estrutura de informações disponíveis porque é a partir delas que os
indivíduos vão basear sua nova forma de buscá-las e aprender, subsidiando o
aumento do nível de (in)formação das pessoas.

É interessante imaginar que, embora a internet tenha revolucionado toda a vida


da sociedade, o que caracteriza a revolução tecnológica não é a centralidade do
conhecimento ou da informação, mas suas aplicações em ferramentas de
processamento de informação, as quais ocorrem invariavelmente em
retroalimentação cumulativa.

A tecnologia amplifica sua força a partir da quantidade de informação que


consegue disseminar sem qualquer esforço, apenas existindo na vida das
pessoas (CASTELLS, 2003).
Para que você possa avançar nessa discussão, importante definirmos
dado, informação e conhecimento, pois isso vai fazer toda a diferença no
entendimento de aprendizagem proposto aqui.
Primeiro vamos ver a relação entre dado e informação, na visão de
Rezende et al.:

A informação é todo o dado trabalhado, tratado, com valor significativo


[...] e com sentido natural e lógico para quem a utiliza. O dado por sua
vez é entendido como elemento de informação, conjunto de letras,
números ou dígitos que tomado isoladamente não transmite
conhecimento, mas ganha significado quando é trabalhada por
pessoas e recursos computacionais, possibilitando a projeção de
cenários, simulações e oportunidades, [que] pode definir
conhecimento. O conceito de conhecimento complementa o de
informação com valor relevante e propósito definido (REZENDE et al,
2000, p. 60).

Por sua vez, o conhecimento é feito de informações, embora se deva


considerar que nem toda a informação é transformada em conhecimento. Vamos
ver agora a relação entre a informação e conhecimento.

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De acordo com Pellicer (1997, p. 8), as informações são à base do
conhecimento, porém a obtenção desse conhecimento implica no desencadear
de diversas operações intelectuais, “[...] que colocam em relação às novas
informações armazenadas pelo indivíduo [...]”. Portanto o conhecimento é
alcançado quando essas distintas informações “[...] se relacionam entre si
mutuamente, criando uma rede de significados que são interiorizados ou
assimilados” (PELLICER, 1997, p. 08).
Para Takahashi (2000), uma das características principais da era atual é
a abundância de informações. Contudo, se por um lado a dinâmica da sociedade
da informação requer educação continuada ao longo da vida do indivíduo, por
outro está o fato de que informações não se transformam magicamente em
conhecimento, ou seja, para que isso ocorra é imprescindível que sejam
estabelecidos critérios para organizá-las e selecioná-las. Nisso subjaz um novo
modelo de aprendizagem, que carece de nova postura e novas
responsabilidades dos indivíduos nele envolvidos.
Dito isso, de nada adianta um professor com competências tecnológicas
avançadas, ou com domínio de determinados sistemas, o que cabe ao professor
é trabalhar pedagogicamente as habilidades com foco na aprendizagem, a fim
de contribuir para a tal organização e seleção de informações úteis de
construção de conhecimento.

No link a seguir, você poderá assistir à palestra do filósofo


Mário Sérgio Cortella sobre os “Paradigmas da Tecnologia
na Educação”.

Mídias https://www.youtube.com/watch?v=1Lvl_pG72Vk

23
Figura 3: Aprendizado por meio de tecnologia

Fonte: © Pixabay (2018)

Da mesma forma, compete ao aprendente desvencilhar-se dos modelos


elementares e alcançar o discernimento crítico de seus pensamentos, seja
avaliando, analisando ou relacionando (JONASSEN, 1996), pois a sociedade do
conhecimento é a sociedade da aprendizagem (HARGREAVES, 2001). Para
Jonassen e Hargreaves, não há diferença entre uma ou outra.
Veja você que aqui poderíamos estar falando de educação a distância
(EaD) e de seu conceito universal de educação, que é a modalidade de ensino
com flexibilidade espaço-temporal em que professores e alunos estão separados
geograficamente e conectados mediante recursos tecnológicos (LÉVY, 1993;
PALLOFF e PRATT, 2002; SILVA, 2003; BRASIL, 2005). Contudo, a questão
não é essa; não se trata de discutirmos a tecnologia em uma metodologia
específica que depende predominantemente dela.
A questão é mais profunda do que discutir a aprendizagem mediada pela
tecnologia; a questão aqui é falar da existência das tecnologias em praticamente
tudo o que nos rodeia e sermos inteligentes de sabermos que é imprescindível
aprender a fazê-las trabalhar a nosso favor, seja na posição de aprendente ou
de educador.

24
Como aprendente, buscando efetivamente e selecionando o que é
relevante; como educador, sabendo que não adianta reclamar que os estudantes
estão utilizando essas tecnologias em sala, mas pensar em desafios que os
integrem a esse contexto tecnológico.
No tipo de sociedade atual, há uma inerente cultura de acessar
informações e de aprender, que muitas vezes atropela as pessoas. Neste tipo
de sociedade, registra Jonassen (2007), os indivíduos são avaliados pelas suas
capacidades de desenvolverem competências que possibilitem o exercício de
suas funções, de suas criatividades, de suas integralidades.
Atualmente, não há mais espaço para modelos verticais de
aprendizagem, em que o professor é um ser superior com conhecimento
adquirido e os demais são agentes passivos do processo, pois agora todos têm
voz no sistema de autoformação, pois estão calçados na quantidade de
informação acessível na rede.

Quem nunca sentiu algum sintoma de doença e


pesquisou na internet qual poderia ser o diagnóstico? Ou
ouviu pessoas conversando a respeito de algum assunto e
pesquisou sobre ele na internet? É exatamente disso que
se trata essa atual discussão de sociedade da informação
(ou do conhecimento). Hoje em dia tem mais acesso às
informações, porque estão mais facilmente à disposição
delas.
Reflita
Se isso representa a libertação do conhecimento que
estava preso com alguns detentores, também representa
maiores desafios para professores que precisam estar
preparados e ter respostas para os questionamentos que
possam surgir.

Para que a cultura aprendente dê conta das necessidades de


conhecimento dos indivíduos, Coutinho e Lisboa (2011), pautadas em Falabela,

25
falam da aprendizagem baseada em elementos que tornam os processos de
aprendizagem diferentes dos antes das tecnologias.

Desafio Significado Integração Contexto


relacional
A aprendizagem A aprendizagem A aprendizagem A aprendizagem
precisa ser precisa vir ao precisa ser ponto envolve emoções
baseada em encontro dos comum de causadas pelo
situações interesses dos construção, desconforto da
desafiadoras as indivíduos de estruturando a dúvida, do novo,
quais se forma que eles flexível relação e, por isso, deve
impulsiona os se sintam entre o acontecer
aprendentes a motivados a aprendente, a mediante
buscarem formas aprender o ordem e o mundo intervenção
diferenciadas de conceito em que ele vive. social.
aprender. estudado.

Não é intenção, mas aqui há uma grande coincidência entre as falas de


Vygotsky e Piaget. Eles falaram lá no início do século XX desses pontos, de tão
relevantes que eles são. Contudo, não é sobre essa coincidência que você deve
saber e, sim, sobre as metodologias que surgem na contemporaneidade e visam
a dar conta desses elementos: as metodologias ativas de aprendizagem.

Conclusão da aula

A sociedade da informação e do conhecimento já é uma realidade,


operando com base na cultura digital dominante. Essa realidade tem trazido a
nós educadores constantes desafios. A globalização da informação afeta por
maneira a importância que o conhecimento tem em todos os setores das nossas
vidas, mesmo reconhecendo que existe um número grande de pessoas que não
participam dessa revolução.

26
A sociedade da informação significa uma ruptura com um passado e
consequentemente uma mudança definitiva na forma como a sociedade se
organiza, aprende e evolui. Portanto, trazê-las para o cenário educacional tem
sido um desafio constante.

Atividades de Aprendizagem

Lembre-se de algum conteúdo que você já domine e teve dificuldade para


aprender. Pense em como uma metodologia ativa poderia ter lhe ajudado mais
facilmente a aprender, alguma que seu professor poderia ter utilizado. Isso vai
fazer você perceber que o desafio de situações reais traz sentido à
aprendizagem e auxilia, e muito, na aplicação de determinado conceito e não
somente na sua assimilação. É importante ter sempre isso em mente.

27
Aula 3 – A didática na história

Figura 4: © Estátua em bronze de Aristóteles

Fonte: © Pixabay 2017

A educação sempre “andou em compasso” com a história, portanto é


impensável falar de educação, de pedagogia e de didática sem conhecermos
seus fundamentos históricos. Esses fundamentos foram escritos em um
tempo/espaço que não o nosso, mas ajudam-nos a compreender a educação tal
como ela é hoje. Os fundamentos da Didática trazem as diferentes visões que
existem acerca da produção do conhecimento, portanto, fundamental para a sua
formação.
Da mesma forma que o processo de aprendizagem e a educação, a
didática sempre existiu na história, dado o fato de que o homem sempre ensinou
e sempre aprendeu, contudo, seu estudo não é uma constante na história da
educação.

28
Em seus primórdios, teve sua fundamentação baseada em contribuições
da psicologia, filosofia e sociologia, que juntas trazem luz à complexidade do ato
de ensinar e aprender que dão vida à prática pedagógica.

Fundamentação histórica da didática

A didática abrange tanto o ato de ensinar – ou arte de ensinar – quanto


os métodos empregados. Além disso, a partir da literatura, pode ser conceituada
sob duas abordagens: como saber e como disciplina. Como saber tem relação
com o ser e se fazer ciência, um ramo de conhecimento; enquanto disciplina
cumpre seu papel nos currículos de formação de professores, conectando teoria
e prática em função do ensino.
Logo, temos como objetivo da didática, em síntese, a instrumentalização
entre a teoria e a prática pedagógica, compreendendo o processo de ensino e
suas múltiplas determinações e redimensionando-a mediante proposta de
ensino numa perspectiva crítica e reflexão sobre o papel sociopolítico da
educação (ARANHA, 1996; QUEIROZ e MOITA, 2007; LIBANEO, 2008,
FREITAS, 2013).

Um dos maiores expoentes do pensamento


sobre didática é Comênio, também
conhecido como Pai da Didática, que no
século XVII elaborou uma proposta
pedagógica que visava uma reforma do
ensino em prol das necessidades humanas.

Figura 4: Comênio

Fonte: © Wikimedia Commons


(2018)

29
Para o educador, a educação era baseada em uma perspectiva religiosa
e deveria melhorar a vida social do homem, por isso deveria promover maior
solidez moral. Para tal, cria que a educação deveria ser dividida em etapas
adequadas às idades dos aprendentes e ao momento evolutivo: infância,
puerícia, adolescência e juventude. Ele foi o preconizador da criação das escolas
maternais, a fim de fornecer às crianças pequenas as noções elementares e os
primeiros sentidos pelas experiências sensoriais por meio do estímulo ao contato
com objetos físicos (RODRIGUES, 2017).
Após ele, Rousseau (1991; 1995), que mais tarde consta neste material
como um dos vultos das teorias do conhecimento, acredita na superioridade das
crianças em relação aos adultos. Para ele, o homem nasce bom e a sociedade
o corrompe ao longo de sua trajetória. O estudioso também acreditava nos
diferentes períodos de escolaridade para faixas etárias, de forma similar à de
Comênio em respeito aos níveis de desenvolvimento dos indivíduos, os quais a
didática do educador e a organização do ensino deveriam respeitar.
As crianças de um a cinco anos deveriam ser tratadas de forma natural
nessa primeira fase; na segunda fase, dos cinco aos 12 anos, a criança deveria
ter seu acompanhamento monitorado, mas ainda de forma informal; a terceira
fase, dos 12 aos 15 anos, prevê a ocorrência de conhecimento formal e
desenvolvimento intelectual, condizente com a curiosidade e interesse natural
do indivíduo; e somente a quarta fase, dos 15 aos 21 anos, priorizaria os
aspectos práticos e relacionais existentes no mundo e na vida comum com
outras pessoas.
Pestalozzi também surge como ícone do estudo da didática, como
defensor do livre acesso à educação, por todos, independentemente de sua
classe social (UFPB, 2016). Sua maior contribuição foi a proposta de uma nova
metodologia (organização) para a prática pedagógica, que consistia na
apresentação do conteúdo de forma simples, seguido de observação e de
exercícios de fixação. Baseado em preceitos cristãos, o educador investiu no
estudo da educação baseada no afeto.
Para Pestalozzi, é função do educador buscar os melhores métodos
didáticos e de certo o melhor deles é baseado no dom do amor, pois é por meio

30
desse que a natureza do ser humano se manifesta em potencialidades de ser e
fazer (INCONTRI, 1997). Embora questionável na época, tanto era correto
associar educação a sentimentos humanos, que Freire também falou sobre
esperança mais tarde (FREIRE, 1992).
Herbart, considerando o ideário de Pestalozzi, expandiu-o criando um
seminário pedagógico para a experimentação universitária, aponta UFPB (2016).
Pensando a educação como ciência, resgatou a ideia de ensino por meio da
instrução e da disciplina necessária à formação do caráter e do conhecimento.
Apostando no rigor metodológico para a análise do comportamento dos
estudantes, indicava passos necessários para a didática que propunha. Ao
professor, nesse caso, cabia: preparar a mente dos estudantes, trazendo ideias
anteriores com relação ao novo conceito a ser estudado; apresentar o conceito
a ser assimilado; associar as ideias anteriores com o novo conceito; elaborar
teoricamente o novo conceito; acompanhar a aplicação do conceito em
atividades (FREITAS, 2013).
Agora vamos falar de Dewey. As propostas dele de pedagogia e didática
refletiram numa reformulação na política educacional nos Estados Unidos,
traduzida em movimentos ao redor do mundo que levaram ao repensar das
práticas escolares, inclusive no Brasil (UFPB, 2016). Para o estudioso, a
instrução se dá pela ação dentro de um organismo vivo e cabe à escola estimular
os estudantes a participarem das atividades típicas desse organismo. O foco da
didática, sob sua ótica, era a ação ao invés da instrução.

Tendências Pedagógicas da Didática

No Brasil, a pedagogia está classificada em grupos conforme a didática


em que se apoiam, as quais englobam visões específicas. Ao longo das outras
aulas, serão discutidas diferentes visões de aprendizagem que trazem mais
informações sobre estas (visões). Por essa razão, nesta aula, os temas não
serão tão aprofundados, mas de qualquer forma é importante entender as
nomenclaturas e fundamentações de cada teoria.

31
A pedagogia tradicional

Fonte: © Wikimedia Commons (2018)

A pedagogia tradicional aceita a didática de ensino baseada na


transmissão de conteúdos, na centralidade do professor e crê que a capacidade
de todos, crianças e adultos, se dá da mesma forma, independentemente da
idade deles.
Teve início no século XIX e chegou com grande representatividade no
século XX. Reconhecida, na época, como uma tendência liberal, foi pioneira e
ainda se percebem algumas de suas diretrizes pelo fato de ter sido a primeira a
ser aplicada (CLAUSSE, 1976).

32
A pedagogia renovada

Fonte: © Pixabay (2018)

A pedagogia renovada consiste na didática baseada no estímulo dado


ao aluno de busca por si próprio o conhecimento e as experiências necessárias,
partindo de seus interesses e necessidades. Aqui, são visadas as atividades
facilitadoras da aprendizagem.
A Escola Nova, como também foi chamada, fundou-se a partir de vários
movimentos e veiculava um ideal liberal-progressista não diretiva, em que o
aluno toma o centro do processo no lugar do professor, aponta Luckesi (1994).
Essa surge como contradição da primeira no final do século XIX.

33
A pedagogia tecnicista

Figura 5: Imagem da cena do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin

Fonte: © Wikimedia Commons (2018)

A pedagogia tecnicista está alicerçada na didática mecânica, na


racionalidade dos conteúdos e no aporte tecnológico educacional voltado a
diferentes ofícios. Seus objetivos se estabeleciam em um momento de forte
desenvolvimento industrial, dessa forma, não interessava o espírito crítico e
reflexivo dos alunos.
Segundo Aranha (1996), surgida por volta de 1970 e considerada não
dialógica, via professores e alunos como receptores de projetos elaborados
autoritariamente focados no mundo do trabalho sem quaisquer vínculos com o
contexto social ao qual se destinavam.

34
Para saber um pouco mais da revolução industrial e
aprofundar seu conhecimento nessa didática tecnicista,
assista ao filme Tempo modernos, de Charles Chaplin,
Mídias disponível no link a seguir.

https://www.youtube.com/watch?v=WVK1oHItoWI

A pedagogia libertadora e a pedagogia crítico-social

Fonte: © Flickr (2018)

A pedagogia libertadora acredita na didática que propõe o homem como


agente de mudança e a reflexão crítica do conhecimento a serviço das
transformações sociais, como forma de superação das desigualdades
criadas/mantidas pela sociedade.
De cunho progressista, surgiu dos trabalhos com educação popular,
tornando-se referência para o processo de reflexão crítica das práticas
pedagógicas desenvolvidas pela educação formal, registram Queiroz e Moita

35
(2007). Foca na ressignificação entre professor e aluno, ressaltando a
mediatização do ensino-aprendizagem pela realidade que os rodeia. Seu maior
expoente é Paulo Freire.
A pedagogia crítico-social dos conteúdos surge em momento de
descrédito dos modelos anteriores, parciais e fragmentados, ora técnico ora
humano, consistindo na didática mediada por objetos-conteúdos-métodos que
faz o encontro de alunos, conteúdos e professores.
Com isso, a prática dos alunos é considerada e apresentada de forma
crítica, no sentido de compreender a aplicação do conteúdo em uma prática de
cunho social. A escola, nesse sentido, complementa Saviani (2001), assume o
lugar das mudanças sociais, bem como permite ao indivíduo ingressar na vida
adulta e atuar dentro da comunidade. Seu ensino torna-se mais pluralizado, por
pressupor que os indivíduos precisam entrar em contato com outras culturas.

Didática e Ensino

Agora que você já sabe mais da fundamentação histórica da didática,


cabe começar a refletir sobre o objeto da didática, que é o ensino. Como você já
viu, a didática relaciona-se com o ensino e com os métodos, ou seja, é o ato de
instrumentalizar a teoria na prática pedagógica (ARANHA, 1996; QUEIROZ e
MOITA, 2007; LIBANEO, 2008, FREITAS, 2013). Não suficiente, agora há que
se falar dos elementos que lhe trazem implicações.
Um ponto interessante a respeito da didática é que tanto estudantes
quanto professores têm opiniões a respeito de como ela deve ser, parecer,
ensinar, fazer aprender. Isso acontece a partir das experiências próprias de
sucesso ou fracasso em situação escolar frente a algum conteúdo.
Ao longo da atividade de ensinar e aprender do homem destacam-se três
concepções de ensino: a de que o ensino é algo que vem de fora para dentro; a
de que o ensino vem de dentro para fora; a de que o ensino é uma construção
do conhecimento.
Atualmente, entende-se que o ensino é prática ou ação social, intencional
e sistemática, projetada para o alcance de determinados objetivos previamente

36
definidos que envolvem conteúdos, intermediação e avaliação, tanto do ensino
quando da aprendizagem.
Hoje o ato de ensinar exige do professor um olhar abrangente (holístico)
de aprendizagem, com fins a compreender o mundo atual, suas demandas,
relação do seu conhecimento com as demais áreas do conhecimento, o espaço,
o tempo, a participação dos estudantes e a forma de se ministrar a aula. Por isso,
a didática está diretamente ligada ao ato de aprender do professor, pois ele
aprende quando ensina devido à especificidade de seu ofício.
Ser professor nesse “atualmente” implica entender a amplitude desse
papel, requer do profissional permanente qualificação e atualização em relação
não somente aos conteúdos que leciona, mas também em relação ao próprio
papel docente, diz Coll (1994). Ao pensar o ensino em meio ao processo
educativo pode-se chegar à conclusão de que ele é o complemento único da
aprendizagem, não sua antítese, sendo a aprendizagem a única resposta
aceitável para qualquer trabalho didático-pedagógico.
A moderna concepção de aprendizagem extrapola a mimetização do
conhecimento e, por conseguinte, a pura transmissão ou assimilação, envolve
por outro lado a construção de esquemas que permitam identificar e resolver
desafios dentro de uma realidade específica, articulando novos saberes e
práticas (PIMENTA, 1999; TARDIF, 2002).
A propósito, propondo um esquema:

Ensinar envolve intencionalidade; intencionalidade envolve reflexão; reflexão


envolve conhecimento prévio dos alunos; esse conhecimento prévio envolve
tempo; tempo envolve comprometimento com o ensino; comprometimento com
o ensino envolver compromisso com o futuro da sociedade.

Veja a seguir a representação desse esquema:

37
Ensino

Futuro da Intencio-
sociedade nalidade

Comprome-
Reflexão
timento

Conheci-
Tempo mento

A principal premissa da didática é a organização do ensino de modo a


permitir a melhoria da aprendizagem, informa UFPB (2016). A organização do
ensino como trabalho consciente exige consideração do ano escolar do aluno,
idade, características de seu desenvolvimento mental, as especificidades dos
conteúdos, as condições e diretrizes da instituição de ensino, bem como o
currículo e o sistema de avaliação adequado a tais conteúdos (COLL, 1994;
PIMENTA, 1999; TARDIF, 2002, LIBÂNEO, 2008).
A partir disso, várias estratégias podem ser utilizadas, propondo integrar
os estudantes aos conhecimentos a serem trabalhados e acompanhá-los
durante sua trajetória.

Você já parou para pensar em como as aulas que


ministra são iniciadas (se for professor) ou como as aulas
que você assiste se iniciam (se for estudante)?
Reflita

38
Se está acompanhando esse material, e já falamos
de educação e aprendizagem, temas muito importantes e
complexos, já deve ter capacidade de refletir sobre isso.
Por que você não começa a fazer suas anotações e
analisá-las? Vai ser bem interessante criar subsídios sobre
este conteúdo comparando as teorias às práticas com que
tem acesso.

Para concluir esta aula, importante tocarmos em dois assuntos que não
podem faltar: currículo e avaliação. Certamente você os verá com maior
profundidade durante outras aulas, mas é obrigatório citá-los agora, exatamente
para expor a relação entre os temas.
A didática pressupõe um conjunto de conteúdos e conhecimentos a serem
trabalhados e de competências a serem desenvolvidas, pois é a partir deles que
ela (didática) elabora os métodos para trabalhá-los. Logo, não existe didática
sem conteúdos a serem trabalhados (LIBÂNEO, 2008). Esse conjunto de
conteúdos e competências formam um currículo. Didática não é o currículo em
si; a didática é a forma como a teoria e a prática imbricadas serão trabalhadas.
Contudo, o currículo faz parte da didática.

Currículo é uma construção social do conhecimento, pressupondo a


sistematização dos meios para que essa construção se efetive; a
transmissão dos conhecimentos e as formas de assimilá-los, portanto,
[pressupõe] produção, transmissão e assimilação como processos que
compõem metodologia de construção coletiva do conhecimento
escolar, [que é] o currículo propriamente dito (VEIGA, 2006, p. 07).

O currículo é a organização dos conteúdos em disciplinas e do tempo


(VEIGA, 1991; 2006). E como indica Libâneo (2008), o currículo é um campo
para projeção da didática. Dessa forma, entende-se que a relação entre didática
e currículo é intrínseca e seus conceitos não podem ser separados.

39
A legislação, a sociedade e o meio social constroem os currículos, tendo
cada qual sua contribuição no currículo vigente nas instituições de ensino. O que
está no currículo é o que essas instâncias afirmaram ser importante aprender.
O currículo vem da prática, das necessidades e da evolução dos
indivíduos na sociedade, visando formação pessoal e integral. Fica evidente,
para Moreira (1998), que não sendo o currículo um elemento atemporal, é que o
currículo e a didática subsidiarão a prática docente do profissional reflexivo que
deseja vê-los como campos a serem explorados, e que essa exploração deve
ser feita com apoio dos estudantes. Leia-se apoio, pois o ensino-aprendizagem
é um processo colaborativo, não um jogo de forças.
É por isso que se fala por maneira sobre as relações de poder existentes
na educação e nos currículos, pois por toda a história essas relações tiveram
relevância na formação dos indivíduos. São muitas implicações envolta dessa
relação.

O livro “Currículo, Poder e Lutas Educacionais – com


a palavra, os subalternos”, de Michael Apple e Kristen
Buras, traz uma reflexão interessante a respeito do tema e
Saiba mais de como a sociedade os encara ao longo dos tempos.

Em consequência dos conteúdos a serem trabalhados e das


competências a serem desenvolvidas é que se comenta sobre o estabelecimento
de um sistema de avaliação condizente com ambos.
Vários são os conceitos de avaliação. Normalmente eles afunilam no
conceito de acompanhamento da aprendizagem, não necessariamente
apoiando-se em provas, mas invariavelmente apoiando-se em desafios. Para o
autor, a avaliação é uma apreciação qualitativa de dados relevantes do processo
de ensino e de aprendizagem que apoia o professor nas decisões de sua prática
docente (LUCKESI, 1994).

40
Cabe, logicamente, apontar a esta altura que, conforme as diretrizes e
bases da educação nacional no Brasil, a avaliação do rendimento escolar deve
atender a vários critérios, entre eles que “[a] avaliação contínua e cumulativa do
desempenho do aluno, com prevalência de aspectos qualitativos sobre os
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas
finais” (BRASIL, 1996).
Devido à complexidade do tema avaliação, você terá a oportunidade de
aprofundar seus conhecimentos na nossa última aula, que será exclusivamente
dedicada a esse tema!

Conclusão da aula

Independentemente de como se entende a avaliação e de seu reflexo na


formação, o sistema avaliativo apropriado ao novo modelo de escola que se
reconhece atualmente exige uma avaliação significativa, assim como a
aprendizagem deve ser centrada na aprendizagem qualitativa e não em
desempenhos quantitativos por si só. A avaliação deve ser diagnóstica e por ser
assim, capaz de dar subsídios ao professor de como auxiliar os estudantes a
aprender, pois esse é o objetivo.

Atividades de Aprendizagem

Em nossa aula, você estudou a respeito dos diferentes tipos de pedagogia,


para aprofundar seus estudos, pesquise cada uma delas e tente dar um exemplo
que as caracterize.

41
Aula 4 – Teorias do conhecimento

Como você já deve ter percebido, a aprendizagem pôde e foi analisada e


estudada sob diferentes perspectivas. O mesmo acontece, então, com as várias
teorias criadas em torno do conhecimento, consideradas concepções de
educação em diferentes tempos e lugares.
Se você pensar a respeito da construção do conhecimento, verá que não
podemos limitar suas linhas de pensamento, pois em vários momentos há
cruzamentos e convergências entre si, podendo mudar inclusive a nomenclatura
dependendo da literatura. Apesar da importância relativa de cada uma delas na
história e da evolução dos estudos sobre educação, torna-se crucial a reflexão
de cada uma delas no cotidiano educativo, pois elas não se esgotam na teoria
nem são equiparáveis, isto é, não se pode supor que uma é melhor do que a
outra.

Diferentes concepções de conhecimento

Existem distintas concepções de conhecimento que foram delineadas ao


longo dos anos. Cada uma delas apresenta suas próprias especificidades. A
seguir, para sua melhor compreensão, estudaremos cada uma das principais
concepções do conhecimento (MIZUKAMI, 1986; BAQUERO, 1998; SANTOS,
2005), as quais podem ser classificadas em: tradicional, comportamentalista,
humanista, cognitivista e sociocultural.

42
Concepção tradicional

Figura 6: Ensino de Matemática

Fonte: © Public Domain Vectors (2018)

A concepção tradicional de conhecimento vê a prática educativa como


a transmissão de conhecimentos já constituídos do professor para os
estudantes, independente dos interesses desses. O processo de educação é
centrado no professor que transmite informações da realidade, abastecendo os
estudantes de conteúdos atualizados, porém prontos, e prestando-lhes
prescrições exteriores de como utilizá-los.
Por ser rígida, exige que os padrões sejam aceitos sem grandes
questionamentos ou liberdade de criação. O estudante é um mero receptor
passivo de informações sem direito a grandes questionamentos, bem como suas
especificidades não são consideradas durante o processo. O conhecimento
parece referir-se à capacidade de reter informações cumulativamente.

Concepção comportamentalista

A concepção comportamentalista do conhecimento também centra sua


prática no objeto de estudo, porém considera, além do conhecimento teórico, a
experenciação como ferramenta capaz de fazer com que os estudantes criem

43
suas próprias descobertas, direcionando-os ao entendimento dos conteúdos,
que continuam sendo prescritos por autoridades superiores.
Esse modelo é desenvolvido a partir de processos pelos quais o
comportamento é modelado e reforçado, visando ao desenvolvimento de
habilidades. O estudante é visto aqui como um recipiente de informações e
pode ser levado a um comportamento esperado. O conhecimento é baseado na
experiência planejada e direcionada para esse fim, transmitindo
comportamentos éticos e práticas sociais esperados.

Concepção humanista

A concepção humanista passa a centralidade do processo para o


estudante, já pressupondo a importância da interação entre sujeito e objeto e
entre os sujeitos, percebendo o estudante como autor de conhecimento a partir
da sua própria atuação para qualificar seu conhecimento.
O professor, sob essa ótica, é um facilitador, criando condições para a
aprendizagem, respeitando a curiosidade natural dos sujeitos e aceitando que o
conhecimento é algo inerente à atividade humana. É esperado do professor que
ele desafie e proponha problematização, cabendo ao aluno analisar, levantar
hipóteses, argumentar etc. O estudante é considerado uma pessoa situada no
mundo, com potencialidades e com liberdade para desenvolver seu
conhecimento e a si próprio.

Concepção interacionista

A concepção de conhecimento interacionista centra-se na relação entre


sujeito e objeto, sendo o conhecimento decorrente da assimilação do objeto de
estudo por parte do sujeito e da qualificação de suas funções mentais. Aqui, o
aprendente formula novos conhecimentos a partir de uma rede individual criada
progressivamente a partir das relações estabelecidas de forma orgânica.

44
O interacionismo aposta na combinação de influências ambientais, em
que o indivíduo assume papel ativo, utilizando-se de significações para aprender
e se desenvolver. Nessa abordagem, a aprendizagem e o desenvolvimento se
mistura e se complementam, tornando o indivíduo responsável pela sua
aprendizagem.

Concepção sociocultural

A concepção sociocultural divulga as relações entre sujeitos como o ponto


alto da geração de conhecimento e da aprendizagem, pois considera que toda a
cultura produzida pelos homens foi socialmente constituída e que o
estabelecimento das relações sociais é o que mantém a evolução e o
desenvolvimento da mente humana.
O conhecimento assume um caráter amplo, não restrito à escola formal,
mas acerca do mundo. A escola existe num contexto histórico da sociedade, e o
sujeito se apropria da cultura a partir das suas relações e das condições de seu
contexto de vida. A educação é produto contínuo e inacabada construção de
conhecimento a partir da consciência crítica.

Principais expoentes no campo do conhecimento

Agora que você já viu as teorias de conhecimento, é chegada a hora de


saber mais dos expoentes dessas teorias, que dedicaram seus estudos à criação
de ideários sobre aprendizagem, desenvolvimento e educação. Obviamente, não
foram os únicos, mas são dos nomes mais relevantes da área educativa. Você
vai perceber o porquê e como auxiliaram na compreensão do homem.

Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778)

Filósofo, Teórico e Escritor suíço, Rousseau ficou conhecido no século


XVIII, momento histórico em que pais deixavam filhos sob cuidado de outras

45
pessoas com a preocupação em transformar crianças em adultos. É possível
entender, por suas considerações, que o estudioso focava verdadeiramente no
estudo da condição humana em relação à educação cujo fim era a apropriação
de sua natureza pelo homem.
Para Rousseau, as crianças eram seres superiores aos adultos devido a
sua inocência natural, por essa razão, devem ter sua simplicidade respeitada,
bem como devem ser estimuladas pelo adulto corporal e sensorialmente
(ROUSSEAU, 1995).
Ele afirmava que é crucial a observação por parte do educador da criança
em condição de aprendizagem, a fim de perceber as diferentes experiências que
o estão instruindo e formando seu caráter e individualidade. Rousseau (1991)
também afirmou que a linguagem é um aspecto interessante do processo de
construção porque ela evolui conforme a criança se desenvolve, iniciando no
choro, mais primitiva, até o ponto em que atinge o domínio sobre a comunicação
oral e escrita.
É de Rousseau (1995) o conceito da educação negativa, em que a
premissa é da educação pela natureza, em contato com plantas e animais e
respeito às fases da infância, em detrimento da interferência da sociedade
comum na vida do homem urbano.

Burrhus Frederic Skinner (1904 — 1990)

Psicólogo estadunidense, Skinner focou sua atenção nos estudos do


comportamento humano, na tentativa de sistematizar as relações
comportamentais do indivíduo com o ambiente mediante o que denominou de
análise experimental de comportamento (SKINNER, 1938).
Numa época em que se negava a existência do que não fosse físico, o
estudioso propôs mudanças no estudo do comportamento humano,
apresentando consequências que determinavam a probabilidade de ocorrência
de determinados comportamentos, em especial os reforços positivos que os
determinavam.

46
A relação do autor com a aprendizagem está no fato de que, para ele,
esse processo é uma resposta possível a determinado estímulo (MOREIRA,
1995), o que parece impor na relação e no ambiente a responsabilidade de criar
condições para que a aprendizagem se dê como consequência do
comportamento.

Jean William Fritz Piaget (1896 – 1980)

Biólogo, Psicólogo e Epistemólogo suíço, Piaget acreditava que a


aprendizagem apoia-se no desenvolvimento mental do indivíduo. Para ele, a
aprendizagem é um processo de assimilação dos conhecimentos, o qual
ocorre durante toda a vida conforme os níveis de desenvolvimento do
indivíduo (tais níveis estariam relacionados à faixa etária e estágio da vida).
O autor discutia as potencialidades genéticas e os processos de
adaptação, assimilação e acomodação dos indivíduos em relação ao
conhecimento (PIAGET, 1970).
O indivíduo reage de forma constante à interação com o ambiente, o que
resulta em adaptação a esse meio, a qual envolve os processos de assimilação
e acomodação (PIAGET, 1970; 1976). A assimilação tem foco na apropriação de
conhecimentos e habilidades por meio do ensino, em que se assimila
conhecimento devido ao estudo e à relação com os objetos de conhecimento.
Enquanto isso, a acomodação desse conhecimento refere-se à organização
mental necessária para aprender o novo e ajustá-lo mentalmente a cada
experiência de aprendizagem, acomodando-o nas estruturas cognitivas
existentes.
É interessante comentar que para, o autor, a inteligência seria uma
adaptação em sua forma mais elevada, assim, o indivíduo mais inteligente seria
aquele com maior capacidade de organização progressiva do conhecimento,
adaptando-se com mais propriedade à realidade.

Lev Semenovitch Vygotsky (1896 – 1934)

47
Vygotsky foi um importante teórico e Psicólogo bielo-russo. A seu
respeito, cabe destacar a sua dedicação ao estudo das relações sociais e seu
apoio à aprendizagem e ao desenvolvimento. Para Vygostky (2000), as relações
sociais são a base de toda a natureza humana, pois é nas relações com os
outros que os indivíduos aprendem, se qualificam e se desenvolvem. Nisso,
a linguagem é o que faz os indivíduos se conectarem aos mais experientes,
acionando processos cognitivos. As relações sociais são os gatilhos tanto para
a mediação quanto para a zona de desenvolvimento proximal, que são os meios
para que o indivíduo aprenda e se desenvolva.
A mediação, dizia Vygotsky (1984; 1995), está relacionada à
internalização necessária para a mente humana aprender. Por meio da relação
com outras pessoas mais competentes em determinado assunto, o aprendente
internaliza os conhecimentos e os processa, aprendendo. A internalização
consiste em um processo de conversão dos conhecimentos de uma esfera social
para a individual.
A esse conceito soma-se o uso de instrumentos materiais (objetos) e os
psicológicos (atividades psíquicas) que podem subsidiar a aprendizagem.
Respectivamente, são exemplos: os instrumentos para cortar uma árvore; fazer
comida ou caçar; e as atividades de memorização, comparação, atenção e
decisão, os quais podem apoiar esse processo.
Enquanto isso, ele (VYGOTSKY, 1984) apresentava seu conceito de zona
de desenvolvimento proximal (ZDP), local em que se encontram os
conhecimentos não amadurecidos, cujo amadurecimento depende do auxílio de
alguém mais competente, fazendo a mediação. Dizia o autor que “o que a criança
pode fazer hoje com o auxílio dos adultos poderá fazê-lo amanhã por si só”
(p. 113). Ele acreditava, fazendo analogias, que o conhecimento não
amadurecido corresponde a brotos de flores que apresentam potencial de ir
desabrochando por meio do auxílio externo.

48
Jerome Seymour Bruner (1915 – 2016)

Professor e Psicólogo estadunidense, Bruner ocupava-se de discutir o


processamento da informação, a organização mental do conhecimento, o
raciocínio e a tomada de decisão. Para ele (BRUNER, 1991), a aprendizagem
está mais para um processo interno e mediado cognitivamente por outrem do
que um resultado da relação natural com o ambiente.
Sobre essa mediação, Bruner (1985) por sua vez, comentava que o auxílio
externo pode ser comparado a um andaime, levando a criança do momento em
que ela precisa de assistência até o momento em que se torna capaz de realizar
a atividade sozinha e, posteriormente, à transferência subsequente do que foi
aprendido.
Ao mesmo passo que alertava para a valorização do potencial do
indivíduo por parte do educador (idem), pois de outra forma a interação entre
educador e aprendente seria referente a uma repetição sem sentido para ambos,
não dando espaço para a curiosidade e descoberta. Estando os processos de
aprendizagem individuais apoiados nos momentos de desenvolvimento dos
indivíduos, é importante registrar que este método não visa a ser estruturado,
dando espaço a questionamentos e situações particulares.

Jacques Lucien Jean Delors (1925)

Economista e Político francês Delors trata em suas considerações dos


pilares de uma educação de qualidade para o século XXI e com o compromisso
com essa educação, pois a educação só cumprirá sua finalidade quando
representar fonte de saber, ser efetivamente espaço de aprendizagem e
constituir-se como lugar de cultura e estudo aberto aos indivíduos (DELORS et
al, 2000).
Ele traz à reflexão as quatro aprendizagens que seriam fundamentais: o
aprender a conhecer indicando o interesse e abertura para o novo conhecimento;
o aprender a fazer relacionado às dificuldades e encantos de executar e
enfrentar os desafios da prática; o aprender a conviver com os outros e com suas

49
diferenças com respeito; e, por último, o aprender a ser, mais complexo e
profundo, relacionado ao papel social, cidadão, fraterno que representa o
objetivo primordial da vida, viver.

Principais educadores brasileiros reconhecidos por suas concepções de


conhecimento

Como você vai ver a seguir, não só os autores estrangeiros viraram


referenciais para a área do conhecimento. No Brasil, temos importantes nomes,
e que, através de seus estudos, deixaram suas marcas na história da educação
mundial. Veja a seguir alguns deles.

Hugo Assman (1933 – 2008)

Teólogo Católico brasileiro,


Assman tratava do ato de reencantar
a educação. Posto isso, discutia
técnicas, metodologias e práticas
criativas capazes de despertar
curiosidade e motivações positivas
nos pares do processo (ASSMAN,
2001), bem como questionou o papel
do educador como pessoa que
entusiasma os aprendentes a se
Fonte: © Wikimedia Commons (2018) encantarem pelo processo de
aprender.

Graças à obrigatoriedade de domínio de determinados assuntos, a


educação promove mecanicamente de inclusão/exclusão e parece eximir os
pares da relação que movimenta o processo de aprendizagem em função do
conhecimento social valoroso.

50
Para ele, as experiências sensoriais e a prática da liberdade são capazes
de dinamizar e torna prazerosos os processos de educar e de aprender, mesmo
que comprometidos com o que é formal e necessário à educação dos indivíduos.

Paulo Freire (1921 – 1997)

E, por fim, você já deve ter


ouvido falar de Freire. De todos, talvez
esse seja o nome mais comum para
quem inicia seus estudos em
educação.
Defensor da educação como
instrumento para transformação da
realidade por meio da ação do
homem, porque Freire (1988)
acreditava, inclusive, que o homem
que entende e muda a realidade pode
Fonte: © Wikimedia Commons (2018) continuar transformando-a.

O educador falava de autonomia, prática educativa e visão de mundo,


além de características, para ele, inerentes ao ensino e à aprendizagem, como
curiosidade, competência, generosidade e tolerância, entre tantas
características humanas que se pode exercer na ação de educar.
Seu “método de alfabetização de adultos”, chamado de “Método Paulo
Freire”, foi parte de um projeto revolucionário de alfabetização, iniciado no Brasil
na década de 1960, expandindo-se para outros países da América Latina, o que
o tornaria conhecido mundialmente.
Reconhecendo o trabalho do estudioso na área e a importância da
literatura que ele nos deixou, cabe ressaltar duas de suas obras, as quais
apresentam um ideário largamente utilizado na contemporaneidade, dada sua
aplicabilidade: Pedagogia do Oprimido (FREIRE, 1987) e Pedagogia da
Autonomia (FREIRE, 1996).

51
A primeira obra fala da educação como prática de liberdade, da comunhão
dos homens em prol de libertação, dos reflexos do que se denominou de
educação bancária – de forma resumida, como se o professor apenas
depositasse o conteúdo no aprendente, das vantagens da educação
problematizadora e da aprendizagem colaborativa e mediatizada pelo mundo e
da ação cultural que pode ser tanto uma ferramenta opressora como um
compromisso com a libertação do homem.
A segunda obra diz respeito à relação do docente com o discente,
engrandecendo a importância da reflexão crítica sobre a prática, retoma a
necessidade de rever o ensino como mera transferência de conhecimento e o
reconhecimento da educação como algo ideológico.

Conclusão da aula

As diferentes teorias do conhecimento acompanharam o fluxo da história


da educação, seus avanços e tropeços. Ao longo dos séculos pensadores da
educação desenvolveram teorias que acreditavam ser a melhor para
determinado grupo de sujeitos. Com o passar dos anos, essas teorias foram
sendo ressignificadas e repensadas a fim de entender um público cada vez mais
específico. Hoje, você pôde entender um pouquinho de cada uma delas, bem
como suas principais contribuições para a educação e, consequentemente, para
a disciplina de Didática.

Atividades de Aprendizagem

Paulo Freire, defensor ferrenho da educação como instrumento para


transformação da realidade por meio da ação do homem, acreditava que o
homem que entende e muda a realidade pode continuar transformando-a. Suas
principais bases epistemológicas estavam baseadas na autonomia, na prática
educativa e na visão de mundo. Toda a sua obra foi dedicada a uma pedagogia
libertaria, voltada para as classes oprimidas.

52
Pesquise a respeito do seu revolucionário “método de alfabetização de
adultos”, também chamado de “Método Paulo Freire”. A partir de sua pesquisa,
procure listar algumas das principais características do método que o deixou
conhecido no mundo inteiro.

53
Aula 5 – Currículo Escolar, Projeto Político Pedagógico e
Planejamento

Você já refletiu até agora sobre educação, aprendizagem, conhecimento


e história da didática. Agora é a hora de falarmos sobre projeto político
pedagógico, planejamento escolar, currículo e didática. Em seguida, você verá
que a educação é ainda mais complexa do que conseguimos perceber em sala
de aula.

Figura 7: Alunos durante atividade em aula

Fonte: © Flickr (2018)

Projeto político-pedagógico

Segundo Veiga (2006), a escola é lugar de concepção, realização e


constante avaliação dos projetos educativos, contudo, seu projeto político-
pedagógico deve assumir suas responsabilidades, contemplando mais do que
planos de ensino e atividades, mas pressupondo experiências enriquecedoras a

54
todos seus envolvidos que objetivem a formação crítica e responsável do
cidadão para a sociedade.

Um projeto escolar, nesse sentido, é uma direção


que norteia um compromisso com a evolução da
coletividade. Por essa razão, deve estar articulado ao
Importante compromisso sociopolítico e aos interesses reais da
população.

O projeto político-pedagógico pode ser entendido como a própria


organização do trabalho da escola (VEIGA, 1991). Dessa forma, a construção
do projeto é coalizão de princípios e práticas contraditórias que intenta a
acomodação de todos os envolvidos na ação pedagógica, indica Martins (2009).
Sua construção comumente representa instrumento de luta contra os efeitos
negativos da padronização do trabalho pedagógico que não considera os
espaços e realidades dos envolvidos. Para a autora, essa construção deve
entender a finalidade da escola, sua estrutura, seu currículo, o tempo
escolar, o processo de decisão, as relações de trabalho e a avaliação dos
processos.
Por constituir-se em um processo de decisões democráticas, um projeto
político-pedagógico deve se preocupar em superar conflitos, rompendo com a
rotina racionalizada da burocracia que permeia as relações internas da escola,
diminuindo os efeitos da divisão do trabalho que reforça as diferenças sociais,
registra Veiga (1989).
Essa preocupação reflete na organização do trabalho pedagógico, não
somente na organização da escola, mas também da sala de aula, considerando
suas relações com o contexto social imediato. Isso implica uma mudança
substancial em que a organização não parta somente de órgãos superiores.
Você deve perceber que, se os projetos políticos-pedagógicos se
abastecem da vivência cotidiana, seus membros e órgãos competentes não
devem trabalhar para definir currículos prontos, mas, pelo contrário, devem
estimular inovações e coordenar ações organizadas pelas escolas.

55
Contudo, para alcançar a nova organização que faça jus às necessidades
da comunidade escolar, ideia que por si só parece uma ousadia para a área de
educação, é necessário referencial que dê fundamentação a essa construção.
Posto isso, você será conduzido agora à discussão sobre planejamento escolar.

Planejamento escolar

Fonte: © Pixabay (2017)

Como o termo planejamento não é oriundo da educação, e sim da


administração, parece justo ao falarmos de planejamento informar que esse
termo é aplicável a qualquer área, inclusive a doméstica. Da mesma forma que
as empresas administram seus recursos visando ao alcance de seus objetivos,
em casa fazemos (ou deveríamos fazer) a mesma ação. Da mesma forma a
instituição escolar, pois seus resultados dependem da adequada administração
de seus recursos.
Agora, você deverá estar preparado para vislumbrar sua aplicação na
instituição de ensino. Isso pode parecer estranho no primeiro momento, mas vai
fazer todo o sentido no final da próxima seção.

56
Quer saber mais a respeito de planejamento?
Se antes de iniciar a próxima seção, quiser saber
mais sobre o assunto, leia o artigo “Planejamento
Estratégico, Tático e Operacional”, do Portal da
Administração. Ele está disponível no link:
Saiba mais <http://www.portal-
administracao.com/2014/07/planejamento-estrategico-
tatico-operacional.html>

Em um primeiro momento, vale registrar para você que, por mais


complicado que possa parecer, educação tem tudo a ver com administração.
Historicamente no Brasil, a administração da educação tem focado
separadamente ora na criação da estrutura hierárquica, no gerenciamento dos
recursos, ora na burocratização dos processos, na variação das legislações
específicas, entre outros. A lógica empresarial, mesmo mostrando os efeitos da
ênfase na eficiência e eficácia, da qualidade ou das soluções globalizadas não
conseguiu dar conta das demandas particulares da realidade da educação.
Nesse sentido, Veiga (1995) afirma que a educação precisa considerar a
capacidade individual das pessoas e o contexto sociocultural para a construção
do conhecimento, como agente, o que faz variar constantemente tanto o produto
quanto o processo educativo.
Contudo, na complexidade desse processo é imprescindível que se
busque um nível de interdisciplinaridade entre educação e administração a
fim de que se alcancem os fins educacionais, pois qualquer tarefa dentro de
uma organização depende direta ou indiretamente de uma ação administrativa.
Para darmos continuidade ao tema, é importante estabelecer que a escola
é uma organização, e que organização é um conjunto de pessoas e recursos
organizados racionalmente para a realização de um objetivo. O objetivo, por sua
vez, é o compromisso que justifica sua existência, da escola como organização.
E a partir desse objetivo, são planejadas as ações necessárias.

57
Logo, a escola é uma organização e precisa ser administrada,
considerando seu objetivo relacionado ao conhecimento, à comunidade escolar
e ao ambiente/realidade em que realiza suas atividades, indica Veiga (1991).
Veiga (1995) também considera que cada projeto planejado pressupõe
rupturas com a realidade que precisa ser alterada e compromisso com o futuro.
Planejar, para o autor, caracteriza o rompimento com um estado estável para
arriscar-se na busca de uma estabilidade. Um projeto educativo, nesse contexto,
é uma promessa de nova atuação, comprometendo seus atores.
O planejamento, bem como outras funções do processo administrativo, é
atividade regular das organizações, pois articula os meios para atingir os fins.
Todos os membros da organização administram, em maior ou menor grau,
dependendo da quantidade de elementos (conhecimento, comunidade e
ambiente) que consideram em suas decisões (VEIGA, 1995).
O papel de seus membros faz parte dos objetivos e estimula a
organização escolar a não ser apenas influenciada pelo meio, mas também
exercer sua influência nos rumos do meio. O desafio das organizações em geral
segue sendo a mudança necessária para lidar com as transformações
ambientais.

Para que o planejamento seja mais do que uma simples expectativa em


relação ao futuro, é necessário que sejam considerados:

2. As políticas e os
procedimentos de
execução 3. O tempo
1. O objetivo a ser
(metas e possibilidades (para/até quando esse
atingido (o que se quer
para atingir tal objetivo, objetivo deve ser
alcançar)
no caso especial, atingido).
quando há legislação
respectiva)

58
Além disso, temos que levar em conta um fator importante: o custo
(quanto é necessário investir e quanto se tem disponível para investir); recursos
(exemplos: colaboradores internos e externos, espaço e estrutura física,
mobiliário, bens móveis etc.); e meios de controle (acompanhamento das metas
e previsão de resoluções em caso de problemas) (CHIAVENATO, 1997;
MAXIMIANO, 2000).
Em detrimento disso, o planejamento da educação parece,
generalizando, reduzir o processo à execução de técnica mecânica, em que
se define objetivo, programa, sistema de avaliação, bibliografia e se
reproduz. Esse padrão de planejamento não valoriza as diferenças, as
adversidades, o sentido da aprendizagem.
Sendo assim, é importante que você entenda que o espaço educativo faz
parte de algo maior, a estrutura e a cultura de uma sociedade, mais
especificamente de uma comunidade com características próprias. Ousa-se
dizer que qualquer projeto não ligado ao que é local pode excluir mais do que já
seria esperado, pois não envolve.
No âmbito da escola, Sacristán e Gomes (1998) informam que o
planejamento é apenas uma das complexas atividades e compromissos dessa
instituição, exatamente por que planejar a atividade escolar envolve situações
ambientais e acompanhamento dos múltiplos efeitos produzidos por tais
situações. Esse, por sua vez, é um dos principais desafios da escola, pois ao
mesmo tempo que planejar a atuação escolar dá liberdade para criar e refletir
sobre o futuro e seus objetivos, vai de encontro aos diferentes saberes,
pensamentos, bem como força o enfrentamento com as dificuldades de planejar
pensando na complexidade gradativa das condições do trabalho educativo, já
que prática do planejamento extrapola a sala de aula, atingindo uma dimensão
contextual maior.
Note que é fundamental a participação dos
professores na tarefa de planejamento, como recurso
imprescindível do processo educativo, pois mais do que
Importante planejar conteúdos, deve-se assumir o planejamento
da formação humana, cultural e social dos indivíduos.

59
Sacristán e Gomes (1998) afirmam que planejar envolve a necessidade
de propor um projeto pedagógico coerente aos estudantes, a partir de um efetivo
envolvimento que somente as atuações coletivas dos professores podem suprir
as lacunas na mediação do que é estabelecido do que é significativo em um
projeto qualitativo de mudança.
O papel do educador como profissional que aplica o currículo prescrito é
imprescindível na construção do conhecimento escolar, identificando as maiores
necessidades da comunidade escolar, os interesses sociais, políticos e
ideológicos imbricados, da mesma forma que se certifica de atender às
competências pré-estabelecidas e aos limites impostos pelas normativas
vigentes.
Agora que você já entendeu as diferentes formas de planejamento escolar
e sua importância, passaremos a abordar questões referentes ao currículo
escolar.

Principais concepções de currículo

“O currículo é um importante elemento constitutivo da organização


escolar” (VEIGA, 1991, p. 26). Ele deve prever, além dos conhecimentos a serem
discutidos/construídos/trabalhados, a interação entre os sujeitos, a
sistematização dos meios e da avaliação e, não menos importante, o alicerce
teórico a ser utilizado.

O currículo é equivalente à organização dinâmica do


conhecimento escolar, não pode ser simplificado
cientificamente; por outro lado, deve promover reflexão e
Importante ampliar a compreensão das questões curriculares.

De acordo com Sacristán e Gomes (1998), o currículo corresponde à


organização de práticas educativas úteis para a formação do indivíduo, contudo,
parece não totalmente vinculado, na prática, à matéria realidade, o que

60
compromete o entendimento de sua complexidade e das distintas realidades que
o condicionam.
Nesse sentido, Almeida (2004, p. 13) esclarece que o currículo “envolve
crenças, princípios, valores, convicções conhecimentos sobre a comunidade
acadêmica, sobre o contexto científico e social e constitui um compromisso
político e pedagógico coletivo”, demandando análise de conhecimentos,
identidades e subjetividades.
Conforme Gadotti (2000), as novas matrizes teóricas não têm
internalizado bem a universalização da educação de qualidade, bem como não
apresentam ainda a consistência global necessária para indicar caminhos
realmente seguros numa época de profundas e rápidas transformações.
Para o autor, seja qual for à perspectiva que a educação contemporânea
tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma educação que vise
à formação do cidadão integral, crítico e superador de limites, mais voltada para
a transformação social do que para a transformação cultural. Somado a isso,
Lopes (2000) questiona o fato de que os currículos apresentarem objetos de
estudo desvinculados da realidade social.

Figura 8: Aula prática de educação no trânsito

Fonte: © Pixabay (2018)

61
Almeida (2004) acrescenta que somente considerando a realidade social
se pode reordenar o fenômeno educativo e ação pedagógica para seus genuínos
fins.
Discutir currículo atualmente significa resgatar e posicionar-se dentre as
tantas teorias que foram e estão em desenvolvimento, conjecturando a respeito
de perspectivas face aos valores e às condições sociais das diferentes parcelas
da população. As constantes crises expõem os desafios da globalização e as
dificuldades de lidar com eles (SILVA e GENTILLI, 1996; MACEDO e LOPES,
2002).
Logo, faz-se imprescindível abordar concepções de currículo,
considerando seu potencial teórico para responder à ausência de orientações
aos profissionais de educação de como superar tais crises. Na contramão disso,
o autoritarismo com que os conteúdos são definidos eximem o professor da
contribuição e, eventualmente, até de entendimento, fazendo com que eles
continuem a ser reproduzidos sem demonstrar a possibilidade de criação de elos
significativos entre educadores e educandos.
As discussões críticas de currículos originaram-se de estudos
sociológicos que questionaram seu caráter prescritivo, dando a ideia de
neutralidade e, desde esse período, já era analisado sua desvinculação do
contexto social. Tal período se deu nas décadas de 1970 e 1980. McLaren (1977)
comenta que o currículo serve para preparar estudantes para posições na
sociedade, o que leva a crer que não é possível concebê-lo eximido de seu
compromisso social.
Macedo e Lopes (2002) falam das relações de poder por trás da
construção de um currículo e nas identidades sociais implicadas. Para os
autores, o currículo contribui para a manutenção de relações sociais, importando
conhecimentos e condições sociais que preparam estudantes para posições
dominantes ou subordinadas. Contudo, pode pensar que em tempos atuais, os
currículos praticados devem ofertar condições de repensar essa manutenção e
a possibilidade de transformar as práticas sociais.
Para saber mais sobre currículo, é importante você saber das
considerações de Cunha (2011), apoiadas na base de análise de Grundy.

62
Suas ideias são muito convergentes com o que se imagina o currículo
quando se pensa o que um currículo deveria fazer por seus estudantes. A autora
comenta da coerência entre o que dispõe a teoria de currículo enquanto
processo e a respectiva argumentação do autor (Grundy), a partir dos seguintes
princípios:

 Deve ser uma prática sustentada pela reflexão enquanto práxis,


mais do que ser entendida como um plano que é preciso cumprir,
pois se constrói através de uma interação entre o refletir e o atuar,
dentro de um processo circular que compreende o planejamento, a
ação e a avaliação, tudo integrado por uma espiral de pesquisa-
ação.
 Uma vez que a práxis tem lugar num mundo real e não em outro,
hipotético, o processo de construção do currículo não deveria se
separar do processo de realização nas condições concretas dentro
das quais a desenvolve.
 A práxis opera num mundo de interações, que é o mundo social e
cultural, significando, com isso, que não pode se referir de forma
exclusiva a problemas de aprendizagem, já que se trata de um ato
social, o que leva a ver o ambiente de aprendizagem como algo
social, entendendo a interação entre o ensino e a aprendizagem
dentro de determinadas condições.
 Do princípio anterior se deduz que a práxis assume o processo de
criação de significado como construção social, não carente de
conflitos, pois se descobre que esse significado acaba sendo
imposto pelo que se tem mais poder para controlar o currículo”
(CUNHA, 2011, p. 582).

Essas características da prática, prossegue a autora, permitem


perspectivar a construção de um currículo emancipatória, que transforma os
atores em articuladores críticos, partindo do pressuposto de que o professor real
na escola real lida com o planejado, com a prática e com o objetivo, processo

63
incompatível com a rigorosidade dos modelos teórico-lógicos. Isso pois o
planejamento deve deixar espaço para as mudanças ao longo do processo que
estrategicamente absorvem as práticas reais a partir da concepção de um
currículo baseado na escola.
Segundo Almeida (2004), o presente contribui para o debate a respeito da
organização curricular, pois esse é suscetível a análise concomitante de espaço,
tempo e movimentos pelos quais os currículos evoluem, sob no mínimo duas
dimensões: a primeira referindo-se ao produto do processo de organização
curricular; a segunda, ao processo de organização coletiva que extrapola a
formulação de qualquer documento.

Dito isso, é possível falar do currículo como processo e como produto.

A partir do entendimento de Sacristán e Gomes (1998), o currículo é


prática realizada em meio a um complexo sistema de relações, que por essa
razão acontece de forma singular dadas às condições que significam seus
processos.

O currículo como processo

O currículo como processo é aceito como algo intangível, incompleto,


não estruturado e, assim, variável, extrapolando a ideia de rol de conteúdos ou
orientações metodológicas e avaliativas rígidas, pois pressupõe a importância
da ação pedagógica, da postura aberta e flexível. Como objeto de construção
social, o currículo se concretiza nas instituições educativas de forma atemporal
e parcial (ALMEIDA, 2004), excluindo a ideia de modelos prontos e apostando
na desconstrução e reconstrução constantes na vivência curricular.
Nas ações mencionadas pelos autores, constituem-se redes e construção
de significados baseados nos diferentes compromissos que a ação pedagógica
assume com cada indivíduo envolvido. Sob essas considerações, o autor afirma
que

64
Entender o currículo como processo inclui entender a
prática escolar vigente para poder modificá-la
Importante conforme seus interesses.

Cunha (2011) alerta que sob essa perspectiva, o projeto de currículo


considera os sujeitos envolvidos imprimindo no processo a deliberação de
escolhas, caminhos, negociações, ganhos e perdas. Nesse contexto, o professor
é um parceiro que respalda as escolhas tomadas na coletividade.
A lógica do currículo como processo, prossegue a autora, mesmo
persistindo a matriz disciplinar, alude a uma organização curricular que direciona
para a criação de situações curriculares pouco estruturadas nas quais os
estudantes têm espaço para refletir a respeito de suas experiências de vida e
para sentir a educação como um processo democrático, onde é permitido
negociar sua própria agenda de aprendizagem, de sua própria produção de
conhecimento.
Pacheco (2003) fala das características que alicerçam tal organização:
 as situações dependem de pouca estruturação prévia, assim,
os problemas e os objetivos não são apresentados destarte. Antes
são definidos por uma negociação entre as partes envolvidas;
 o conhecimento é criado em determinadas situações pelos próprios
sujeitos, por meio de sua ação ou inação e isso constitui parte do
conhecimento proposto para construção;
 o conhecimento não é instrumentalizado de modo a solucionar
problemas específicos, mas é analisado holisticamente em ações
que incluem percepções, valores e sentimentos.

Por sua vez, outra concepção de currículo pode ser aqui abordada. Agora
vamos ver como analisar o currículo como produto.

65
O currículo como produto

O currículo como produto é concebido como algo a ser baseado na


racionalidade técnica e aplicado de forma pré-estabelecida, como se a
organização curricular cumprisse a intervenção do Estado na vida social
(SACRISTÁN e GOMES, 1998). De forma resumida, é presumir que a educação,
mediante implantação do currículo, é ferramenta de controle ideológico na
sociedade.
Almeida (2004) é enfática ao abordar a impossibilidade de conceber um
currículo como algo rígido, pois sua retomada deve realmente acontecer
permanentemente, possibilitando ação, reflexão, avaliação e novas ações
relacionadas, em um processo democrático de intenções e decisões.

Lembre-se: assim como um currículo não pode


nortear-se apenas por demandas mercadológicas, indica a
autora, também não pode desconsiderar pistas externas
Importante importantes de que pessoas e profissionais se deve formar
para o mundo.

Essa concepção baseia-se na linearidade e prescrição de um currículo


estático para aplicação em uma realidade analisada sob uma única visão, sem
aceitação das particulares que a compõem.
Cunha (2011) indica que neste caso a produção do conhecimento foca no
que deve ser o sujeito para a sociedade e na construção das características que
formam esse “deve ser” (grifos da autora), como se a realidade do sujeito já
estivesse definida e a educação apenas agisse em suas incapacidades. E, para
isso, o currículo mínimo é prescrito por uma administração central aos
professores e esses apenas cumprem os objetivos que o programa de
escolarização prevê que sejam atingidos, sem espaço para questionamentos.
Como não poderia ser diferente, pode-se entender que essa forma de
organização escolar arca com uma redução de saberes e construções sociais,

66
pois nela o currículo é encarado como atividade desfragmentada de trabalho
intelectual e de questões políticas e sociais.
Caro(a) estudante, neste caso, o currículo torna-se um guia de conteúdos,
construído por quem domina a especialização do conhecimento e rejeita o
espaço social em que ele se constitui. Dessa forma, segundo Sacristán e Gomes
(1998), o currículo transforma-se em produto a ser consumido pela comunidade
escolar.

Conclusão da aula

Dentre todos os temas abordados nesta aula, o mais intrigante e talvez


importante de todos seja o currículo. Quantas transformações ele veio sofrendo
nos últimos 20 anos! De currículo estático, pronto e imposto por órgãos alheios
a realidade escolar, até um currículo pautado no diálogo, nascido dentro das
próprias escolas, a partir de seus próprios anseios. Essas transformações
ocorridas tornam-se necessárias na medida em que os sujeitos educativos
entendam sua participação na história da educação. Entendam que, uma
sociedade só muda se as bases educacionais mudarem também. Daí temos a
real importância do currículo escolar pautado na democracia e no diálogo: Criar
uma sociedade mais justa, onde a educação, como diria Freire, é a arma para
mudar o mundo!

Atividades de Aprendizagem

Com qual concepção de currículo você mais se identifica? Você acredita


que essas duas concepções podem viver em harmonia em um mesmo ambiente
ou, ao invés disso, que uma instituição de ensino deve guiar-se por uma única
corrente ideológica? Conforme a sua resposta, como acredita que isso deva ser
trabalhado com os professores?

67
Aula 6 – A importância da didática na articulação de teoria e
prática

Ao longo da história da educação, a partir de uma percepção didática, o


processo de ensino-aprendizagem foi permeado por práticas indissociáveis.
Portanto, nesse momento de nossa disciplina, é indispensável que discutamos
sobre a dualidade existente entre teoria e prática. Você perceberá, que ambas
devem caminhar juntas, a fim de que se possa estabelecer uma ressignificação
de ambas. Essa dicotomia não mais se sustenta no atual cenário educacional.
Quebrar esse ciclo histórico criado em torno da didática é um dos objetivos desta
nossa aula.
Compreender os caminhos históricos percorridos pela disciplina de
Didática e suas implicações na formação do professor foi importante para que
você possa entender como a teoria e a prática são fundamentais no processo
educativo. Foi sobre isso que falamos em nossas primeiras aulas.

Tentando ressignificar a Didática

Como você já viu nas outras aulas, a Didática enquanto disciplina é


considerada uma ciência que analisa os saberes necessários à prática docente.
Sendo assim, ela é um dos principais instrumentos que contribuem para a
formação do professor. A partir dela, o professor adquire os ensinamentos
necessários para a sua prática.
Conforme Libâneo (1990), a Didática pode ser entendida como um estudo
sistematizado, intencional, de investigação e de prática. Atualmente, novos
saberes e metodologias estão sendo incorporados no cenário educativo,
provocando profundas transformações na prática social de ensinar.
A disciplina de Didática não tem o intuito de lhe fornecer um acumulo de
informações das práticas e técnicas do processo de ensino-aprendizagem,
estáticas, presas no tempo e no espaço. Mas fornecer a você estudante, uma
bagagem teórica que o habilite a escolher dentre as diferentes metodologias e

68
métodos, aquelas que mais se encaixem em sua linha de pensamento, na sua
própria concepção de educação.

Articulação entre teoria e prática pedagógica

Fonte: © Pixabay (2017)

A articulação entre teoria e prática é ponto crucial na formação de


qualquer educador, lembrando aqui que a teoria se ocupa da pesquisa unindo-
se com os problemas reais que aparecem no dia a dia do professor, as escolhas
feitas a partir desses problemas reais é que devem estar pautadas na teoria
pedagógica.
Dito isso, trago aqui a importância da reflexão na ação, descrita por Freire
(1996). Com base nos pensamentos do autor, o educador deve refletir a prática
por meio da teoria e vice-versa. Nesse sentido, afirma que: “[...] a reflexão crítica
da prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria
pode ir virando blá blá blá, e a prática um ativismo” (FREIRE, 1996, p. 24).
A fim de que você possa adentrar nas diversas metodologias possíveis,
trago, com base em Perrenoud (2000, p. 14), 10 procedimentos da atuação do
educador, os quais denominou de famílias de competências:

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 1ª família: Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
 2ª família: Administrar a progressão das aprendizagens.
 3ª família: Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.
 4ª família: Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho.
 5ª família: Trabalhar em equipe.
 6ª família: Participar da administração da escola.
 7ª família: Informar e envolver os pais.
 8ª família: Utilizar novas tecnologias.
 9ª família: Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.
 10ª família: Administrar sua própria formação contínua.

A partir dessas competências abordadas por Perrenout, você deve estar


pensando na complexidade do ato de educar. Mas não se preocupe, vamos
trabalhar de forma que você consiga, ao longo do curso, adquirir as
competências necessárias para ser um bom educador.
Para concluir esse item, utilizo a fala de Veiga (2010, p. 51) que diz que:

“[...] a tarefa está em criar outras práticas, o desafio é construir de modo coletivo
uma Didática que faça pensar a respeito de nossas práticas pedagógicas”.

Para ela, a prática pedagógica nada mais é do que uma dimensão da


prática social inserida em um dado contexto social, e que nosso dever enquanto
educadores é o de possibilitar que ela se realize (VEIGA, 1989).

70
Métodos e metodologias

Fonte: © Pixabay (2017)

A partir dessa imagem divertida de um alfabeto de biscoitos, sugiro a


reflexão a você:

É possível ensinarmos temos complexos com ferramentas


lúdicas e pouco convencionais?
Reflita

Vivemos em um mundo globalizado, onde as tecnologias de informação e


comunicação têm deixado os professores preocupados com métodos e a relação
de como deixar o conteúdo escolar mais atrativo para o educando.

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A palavra método vem do latim methodus, de origem
grega meta+ thodos; e significa, meio, meta, objetivos,
caminho, percurso, logo tem-se como significado o caminho
e ou os meios para se chegar a um determinado objetivo
(RANGEL, 2005).
A mesma autora segue explicitando a palavra técnica
que seria o como fazer um dado trabalho, seus
procedimentos e encaminhamentos.
Vocabulário
Temos então:

Método = caminho

Técnica = como percorrer esse caminho

Logo, a metodologia da didática pressupõe o conjunto de métodos e


técnicas de ensino para a aprendizagem (RANGEL, 2005, p. 9). Temos, pois,
uma Metodologia como campo em que se estuda os diferentes métodos a serem
aplicados na área educacional a fim de colaborar para a construção do
conhecimento.
De acordo com Gil (1997, p. 109) os métodos e técnicas de ensino são
fundamentais para “[...] conduzir o estudante a integrar no seu comportamento,
conhecimentos, técnicas, habilidades, hábitos e atitudes que hão de enriquecer
a sua personalidade”. Conforme o autor, a metodologia didática utiliza-se de
determinados métodos e técnicas que, em conjunto com outros aspectos são
fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem.
A Metodologia do Ensino é a aplicação de métodos distintos utilizados no
processo de ensino-aprendizagem. Mas é importante lembrar que, a escolha de
uma dada metodologia dependerá de diferentes fatores, como, por exemplo, a
realidade de cada turma e de cada educando. Desde a capacidade cognitiva,
emocional até o contexto social que está inserido. Tudo isso conta na hora de
escolher uma metodologia de ensino.

72
Nessa linha, Rangel (2005, p. 9) complementa: “Se o método é
meio/caminho, é interessante que a opção do professor seja pelo meio/caminho
que, de modo direto e significativo, conduza à aprendizagem”.
Mas ainda fica a pergunta: quais métodos e técnicas serão mais
adequadas no dia a dia da sala de aula? Para responder a essa questão, no item
a seguir, você será convidado a estudar a respeito das atividades de ensino-
aprendizagem.

Atividades de ensino-aprendizagem

Fonte: © Pixabay (2017)

Para Rangel (2005) as atividades consistem em trabalho com o


conhecimento usadas como forma de aplicação delas. “As atividades, então,
referem-se a ações; essas ações correspondem aos objetivos a serem
alcançados” (RANGEL, 2005, p. 13).
Essas ações podem corresponder a diferentes níveis de elaboração do
conhecimento, sendo, portanto, parte fundamental do processo de ensino-
aprendizagem. Esses níveis de elaboração podem ser divididos em diversas
classificações, as chamadas habilidades cognitivas:

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 Informação/ conhecimento: Essa categoria agrupa os processos
que demandam que o educando reproduza com precisão uma
informação que lhe foi passada, seja ela um relato, ou uma fórmula;
 Compreensão: Essa categoria demanda elaboração
(modificação) de um dado ou de uma informação original. A
elaboração ainda não requer um grande grau de complexidade; o
sujeito deverá ser capaz de usar uma informação original e
ampliando-a.
 Aplicação: Nessa categoria reúne os processos nos quais o
educando conduz uma informação genérica para uma situação
específica, mais complexa.
 Análise: Os processos dessa categoria caracterizam-se por
separar uma informação em novos elementos, estabelecendo
relações entre eles. O processo de Análise implica a identificação
de aspectos centrais de uma proposição, verificação da sua
validade, constatando possíveis divergências.
 Síntese: É essa categoria que representa os processos nos quais
o sujeito acumula elementos de informação que irão compor algo
novo contendo traços individuais distintos.
 Avaliação: A última categoria diz respeito aos processos
cognitivos mais complexos. Fundamentalmente, o processo de
avaliar consiste na comparação de um dado, de uma informação,
de uma teoria, com um conjunto de critérios, que podem ser
internos ao próprio objeto da avaliação ou externos a ele.

74
Essas habilidades cognitivas são explicitadas a partir do quadro de
Taxonomia de Bloom, criado em 1956:

Quadro 1: Taxionomia de Objetivos Educacionais de Bloom (Tradicional)


Capacitação Definição Palavras-chave

Identificar, descrever,
Informação Lembrar a informação. nomear, rotular,
reproduzir, seguir.

Entender o significado, Resumir, converter,


Compreensão parafrasear um defender, parafrasear,
conceito. interpretar, dar exemplos.

Usar a informação ou
Criar, fazer, construir,
Aplicação o conceito em uma
modelar, prever, preparar.
nova situação.

Dividir a informação ou
o conceito em partes Comparar/contrastar,
Análise visando um dividir, distinguir,
entendimento mais selecionar, separar.
completo.

Reunir ideias para Categorizar, generalizar,


Síntese
formar algo novo. reconstruir.

Avaliar, criticar, julgar,


Fazer julgamentos
Avaliação respaldar, argumentar,
sobre o valor.
justificar.

Fonte: Bloom (1977 – adaptado)

75
Benjamim Bloom foi professor na Universidade de Chicago
e desenvolveu a taxonomia dos objetivos educacionais,
exercendo grande influência nos processos de planificação
e de avaliação educacional. Existem muitas críticas a sua
obra, mas o que se sabe é que a maioria dos educadores
que criticam a sua teoria, sequer leram um texto dele. A
taxonomia dos objetivos educacionais insere-se no
paradigma comportamentalista, o qual foi alvo de ataques
por parte dos movimentos pedagógicos libertários. A
classificação proposta pelo autor divide as possibilidades de
aprendizagem em três grandes domínios: o cognitivo,
Curiosidade
abrangendo a aprendizagem intelectual; o afetivo,
abrangendo os aspectos de sensibilização e gradação de
valores; e o psicomotor, abrangendo as habilidades de
execução de tarefas que envolvem o aparelho motor.
Benjamim Bloom foi o autor que mais influência exerceu nas
teorias da aprendizagem durante a segunda metade do
século XX. A sua herança educacional, apesar das críticas,
mantém-se atual. Portanto, merece nossa leitura e atenção.

Durante o processo de elaboração do conhecimento por meio das


atividades de aprendizagem, são utilizados os seguintes raciocínios:

Observação Correlação Distinção

Dedução Conclusão

76
Conforme afirma Rangel (2005, p.14), “esses e outros raciocínios são
desenvolvidos pela e para a compreensão, reconstrução, reelaboração,
ressignificação, criação do conhecimento.”
Complementando e juntando os métodos e as técnicas, tem-se
procedimentos distintos a serem empregados no processo, quais sejam:

 Exposição;

 Arguição;

 Leituras orientadas, comentadas pelo educador;

 Debates;

 Discussões em grupos;

 Demonstrações, entre outras tantas.

A partir do exposto até aqui, você deve ter percebido que para que aja
uma construção do conhecimento, e que esta seja significativa, é necessário que
o educador tenha um bom aporte teórico e conheça diferentes métodos e
metodologias a fim de escolher com sabedoria as atividades de aprendizagem
que constarão de seu planejamento. Logo, para que essa aprendizagem seja
favorecida, é necessário que o educador tenha em seu repertório questões que
sejam significativas.

O método de ensino posto em prática

Um ponto fundamental no que diz respeito à utilização de diferentes


técnicas com intuito de mudança comportamental dos sujeitos educativos é que
se busque um método de ensino condizente com nossa própria concepção de
educação, de homem e de mundo.
Nesse sentido, os métodos e técnicas servem para a construção do
pensamento científico, tendo como ponto de partida o senso comum. Sendo

77
assim, a metodologia tem o papel de “corrigir”, com o intuito de promover a
objetividade e acentuar o espírito crítico do educando.
Os métodos e técnicas didáticas servem também para transformar o aluno
em estudante, instigando a sua autonomia intelectual, livrando-o do estado de
dependência com relação aos professores e aos outros.

De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa,


a etimologia da palavra aluno vem do latim Alumnus, i
“criança de peito, lactente, menino, aluno, discípulo”,

Vocabulário derivado do verbo alére: “fazer aumentar, crescer,


desenvolver, nutrir, alimentar, criar, sustentar, produzir,
fortalecer etc”. Portanto, temos aqui uma visão de
dependência com o nutriz (o professor). Aluno é aquele que
está sendo nutrido a partir dos conhecimentos do professor.

Nesse ínterim, o educador se utiliza de recursos que compõem o conjunto


dos métodos e técnicas de ensino; o estudante, de igual maneira, se utiliza de
recursos para sua própria aprendizagem.
Portanto, os métodos e técnicas utilizados em sala de aula devem buscar
para formar nesse estudante a capacidade de construir sua própria trajetória em
sua formação, a partir da utilização racional desses recursos.

A realização do método

Conforme afirma Rangel (2005), a realização do método tem início na sua


explicação, momento em que o educador esclarece seu encaminhamento, para
que os estudantes realizem as técnicas e as atividades relacionadas ao contexto
e ao conteúdo a ser abordado.
Para a autora, “as conclusões do encaminhamento metodológico do
conteúdo podem incluir a síntese e a estruturação do conhecimento, podendo-

78
se, nesse caso, utilizar esquemas com os aspectos mais pontuais, estruturantes
do conteúdo” (Rangel, 2005, p. 17).
Podemos destacar entre os possíveis encaminhamentos do método:

 A apresentação do tema: ações específicas;

 Realização das técnicas e atividades: questões, conversas,


exercícios, produção de textos, entre outros.

Esses encaminhamentos são necessários para que aja uma verificação


da aprendizagem e para averiguar como o conhecimento está sendo
consolidado, talvez seja necessário que você utilize a síntese, bem como uma
revisão de conteúdo a respeito de cada conteúdo e metodologia abordada.
Algumas atividades que você irá trabalhar em aula poderão ser aplicadas
a diferentes métodos e técnicas de ensino-aprendizagem, por exemplo:

 Exercícios;

 Arguição;

 Trabalhos individuais e ou em grupos.

Diferentes métodos de ensino

De acordo com o que você estudou nessa unidade existem diferentes


métodos de ensino e possibilidades de aplicação, os quais veremos mais
detalhadamente a seguir.

Assista no vídeo disponível no link a seguir à reportagem


sobre diferentes métodos de ensino.
https://www.youtube.com/watch?v=8vhtRt2Rm88
Mídias

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Método de ensino individualizado

Apesar desse método que iremos tratar agora ser o método


individualizado, de acordo com Rangel (2005), todo método de ensino-
aprendizagem pressupõe diálogo, seja entre o professor/estudante, autor/leitor,
estudante e suas próprias reflexões.
Sendo assim, caracteriza-se por técnicas nas quais os estudantes
constroem suas atividades de forma autônoma (RANGEL, 2005). Portanto os
métodos individualizados visam dar condições para que os estudantes
desenvolvam suas potencialidades, a partir de seus próprios anseios.
Você já deve ter percebido que nesse enfoque temos como principais
características o desenvolvimento da autonomia, da iniciativa e do pensar crítico.
Mas lembre-se de que esse método não independe do professor! Pelo contrário,
o educador deve sugerir etapas intermediarias e acompanhar os avanços do
educando, por meio de:

 Atividades de autocorreção;

 Revisão;

 Reescrita;

 Continuidade ou reinício de cada etapa (RANGEL, 2005).

Cito agora alguns exemplos de método de ensino individualizado:


 Estudo dirigido: caracteriza-se por etapas realizadas com a
supervisão do educador, as quais são pautadas na autonomia do
estudante e inclui leituras, exercícios e autocorreção.
 Estudo supervisionado: caracteriza-se por atividades diferentes
de estudo, previstas e acompanhadas pelo educador. Esse tipo de
estudo também requer autonomia e domínio prévio do conteúdo.
Como exemplo, temos: leituras, trabalhos e pesquisas diversas.
 Tarefa dirigida: tem como foco a recuperação da aprendizagem.
Assim como as demais precisa da autonomia do educando.

80
 Estudo livre: como o próprio nome diz, baseia-se na liberdade
escolha por parte do estudante; o professor sugere uma pesquisa,
por exemplo, e a escolha do objeto a ser estudado fica a cargo do
estudante, que a partir de suas próprias preferências realizará a
tarefa.

Métodos de ensino para grupos

Para Rangel (2003, p. 25) os métodos de ensino para grupos são


desenvolvidos tendo como base os princípios e processos de ensino-
aprendizagem “ [...] recorrentes à interação, ao diálogo, à parceria dos alunos.
Eles apontam conceitos, elementos e fatores essenciais do conteúdo, visando
garantir aos estudantes, coletivamente, uma base comum de conhecimento”.
Esse método é baseado em técnicas de ensino coletivas, como:

 Exposição do professor;

 Leituras orientadas;

 Seminários;

 Debates;

 Simpósios.

Nesse momento, é importante observar que nem sempre existem


condições favoráveis às práticas em grupo. O professor deve ficar atento ao
comportamento da turma a fim de que o trabalho não seja frustrado.
Pois as “[...] condições de trabalho em grupo referem-se ao ambiente
físico e social. Tanto quanto o ambiente físico, o ambiente social pode favorecer
a aproximação, a interação e o diálogo” (RANGEL, 2005, p. 27).

81
Como sugestão de vídeo para essa aula, proponho o
curta metragem Aprender a aprender, do original The
Potter. O curta retrata um processo de aprendizagem
baseado em uma pedagogia problematizadora. Nele, o
aprendiz pretende aprender a criar de forma rápida pela
Mídias magia; no entanto o mestre o leva para outro caminho, o da
construção.
https://youtu.be/Pz4vQM_EmzI

Conclusão da aula

Chegamos ao final de mais uma aula, nesta, falamos dos métodos e


metodologias que servirão de norte para a sua prática educativa! Sei que isso é
uma grande preocupação para todo jovem educador. Mas é importante salientar
que a prática depende da teoria, e essa deve ser adequada a sua realidade!
Realidade esta que deve estar pautada em uma concepção de educação e de
cidadão que se deseja formar. Logo você irá perceber que os métodos são
importantes, mas são apenas um meio para se atingir os fins educativos.

Atividades de Aprendizagem

A fim de instigar sua autonomia, a proposta é uma atividade que utilize o


método individualizado de ensino abordado em nossa aula. Para tanto,
escolha, dos temas abordados nas nossas aulas, um que lhe chame atenção e
redija um texto, pode ser resumo, resenha, ou até mesmo um texto autoral.
Lembre-se: em EAD, você é o sujeito de sua própria formação.

82
Aula 7 – A didática na prática

Até agora você aprendeu desde os fundamentos históricos da disciplina


de Didática, as teorias do conhecimento, principais autores até os métodos e
metodologias. A partir de agora, você vai estudar a respeito de como colocar
esses conhecimentos em prática no dia a dia em sala de aula.
Para falarmos do “como fazer?”, você deverá retomar um pouco do que
viu na aula passada a respeito da aprendizagem, pois as técnicas e as diferentes
metodologias empregadas encaminham processos distintos relacionados ao ato
de ensinar e aprender.

Diferentes recursos, diferentes aprendizagens

Fonte: © Pixabay (2017)

As atividades propostas e os diferentes recursos utilizados


complementam os processos de ensino-aprendizagem, colaborando com “[...] a
aplicação, a transposição do conhecimento, sua reelaboração e reconstrução.
Por meio das atividades, estreita-se a relação entre prática-teoria-prática
(RANGEL, 2005, p. 33).

83
Em se tratando de recursos a serem utilizados em sala de aula, (lembre-
se de que quando digo sala de aula, estou me referindo a diferentes espaços
onde exista a relação de ensino-aprendizagem, seja ela física, virtual ou em um
parque), faz-se necessário que você entenda o que é recurso.
De acordo com Pilleti (2004, p.51) ao citar Gagné (1971, p. 247), temos a
seguinte definição para o termo recursos de ensino: “[...] são componentes do
ambiente da aprendizagem que dão origem à estimulação para o aluno”. Esses
componentes podem ser os mais diversificados possíveis.
Atente-se para o fato de que 1971, ano da obra de Gagné, os recursos
disponíveis para o educador eram bem diferentes do que os que existem hoje.
Os recursos eram: o próprio professor, o quadro negro, alguns livros didáticos,
mapas em molduras amareladas, fitas gravadas, recursos naturais, gravuras e
filmes.
E hoje? Quantas possibilidades! Uma infinidade delas. São imagens em
3D, mapas virtuais, filmes recém-lançados, livros para baixar, sites para visitar.
E, claro: o bom e velho quadro negro, ou a lousa branca (mais moderna não é?),
o diálogo entre professor e estudante, os recursos oriundos da natureza a nossa
volta...
De acordo com Pilleti (2004), não existe uma classificação universal para
os tipos de recursos de ensino existentes, mas tradicionalmente eles são
classificados da seguinte maneira:

Tipo de recurso

Recursos visuais: Projeções, cartazes, gravuras...

Recursos auditivos: Rádios, gravações, aparelhos de CDs...

Cinema, televisão, blogs, sites


Recursos audiovisuais:
interativos...

Fonte: Pilleti (2004 – adaptado)

84
O próprio autor, reconhece que essa é uma classificação bem abrangente,
a ela deve se incluir os recursos disponíveis no cotidiano do professor, que ele
chama de “recursos da comunidade” e complementa: “[...] a utilização desses
recursos da comunidade contribui para diminuir a distância entre a “ilha, na qual
está a escola e a terra firme da vida [...]” (PILLETI, 2004, p. 152).
Para ele, os recursos da comunidade apresentam a vantagem de trazer o
valor da vida real à aprendizagem que acontece na escola e, ainda:

 reduzem o nível de abstração;

 indicam a real função da escola, inserida em um contexto social;

 favorecem uma via de comunicação entre a escola e seu entorno;

 auxiliam o estudante a avaliar o mundo a sua volta;

 são um ótimo recurso motivacional (PILLETI, 2004).

Você deve estar pensando que, no final das contas, tudo pode se tornar
recurso na mão do professor, que comprometido com o processo educativo faz
valer-se de uma infinidade de artefatos para agregar valor à prática educativa.

Há milhares de anos, nossos antepassados já


usavam objetos que facilitavam suas atividades diárias.
Achados arqueológicos indicam que os primeiros objetos
Saiba mais usados pelo homem eram simples, feitos à mão, utilizando
pedras. Acredita-se que eles eram usados como martelos,
projéteis, objetos para cortar e raspar e, depois, pontas de
lança. Tudo pensado para sua sobrevivência no planeta. No
começo, os materiais eram usados da maneira como eram
encontrados na natureza (galhos de árvores, pedras brutas)
e, com o passar do tempo, foram cada vez mais se
modificando, até atingirem níveis mais altos de sofisticação.
Basta lembrar que, primitivamente, a contagem dos objetos
era feita com pedrinhas, gravetos, desenhos no chão; hoje,

85
milhares de anos depois, tem-se o computador, que não só
quantifica como realiza operações extremamente complexas
em uma velocidade impressionante. Em relação à
educação, não foi diferente. Os primeiros grupamentos
humanos a fixarem-se na terra, cultivando-a e criando
animais, preocuparam-se com a transmissão do
conhecimento aos mais jovens, tendo em vista prepará-los
para a sobrevivência e defesa da comunidade. Nesse
período, além dos processos de imitação e participação por
parte dos mais novos, a exposição oral era a ferramenta
educacional utilizada pelos mais velhos, tanto para transmitir
o aprendizado das tarefas do dia a dia quanto para estimular
o cultivo dos valores que constituíam o grupo. Nesse
processo de transmissão oral, a memorização era o único
recurso de aprendizagem que os alunos tinham para
guardar as informações recebidas. Para essa tarefa, era
destacado um membro do grupo, geralmente aquele que
teve maior facilidade em reter os ensinamentos recebidos
que, explorando ao máximo os recursos de sua memória de
longo prazo, transmitia-os por meio de dramatizações,
personalizações e diversos outros artifícios narrativos. A
aplicação desses recursos, em si, já demonstra uma
preocupação, antiga, com a facilitação do processo ensino-
aprendizagem, uma vez que era preciso garantir a atenção
das crianças e dos jovens e estimular seus circuitos de
memória. Trecho do texto extraído do livro Equipamentos e
materiais didáticos (FREITAS, 2009, p. 20). Disponível em: <
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000013636.pdf>.
Acesso em: 31/07/2018, às 19h10 (fins pedagógicos).

86
Para complementar essa parte da nossa “conversa”, temos uma
Classificação Brasileira dos Recursos Audiovisuais, que traz, de forma
detalhada, a classificação dos recursos visuais, auditivos ou audiovisuais,
Algumas dessas tecnologias educacionais foram criadas exclusivamente para
fins pedagógicos, isto é, para mediarem a construção do conhecimento que
ocorre no ambiente escolar.

Tabela 2: Classificação brasileira dos recursos audiovisuais


Recursos visuais Recursos auditivos Recursos audiovisuais

- Álbum seriado Aparelho de som Filmes

- Diapositivos e diafilmes
- Álbum seriado - Discos
com som

- Cartazes - Fitas cassete - Cinema sonoro

- Exposição - CDs - Televisão

- Fotografias - Rádio - Videocassete

- Programas para
- Flanelógrafo - CD-ROM
computadores com som

- Gráficos - Aparelho de DVD

- Gravuras - Computador

- Modelos

- Mural

- Museus

- Objetos

- Quadro de giz

- Quadros

87
- Transparências

Fonte: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/profunc/equip_mat_dit.pdf>. Acesso


em: 31/07/2018, às 19h12min (fins pedagógicos).

Lembro a você de que essa é uma tabela apenas de classificação geral;


ao professor, cabe a escolha daqueles recursos que mais se adéquem a sua
prática.

Recursos e estímulos

Nesta aula estamos estudando “recursos”, mas podemos chamá-los de


“tecnologias educacionais”, de materiais e ou equipamentos didáticos, que são
todo e qualquer recurso utilizado em um procedimento de ensino, com o intuito
de estimular o estudante e aproximá-lo do objeto de estudo.
Os recursos, artefatos ou materiais, quando bem explorados podem vir a
desenvolver uma série de estímulos nos estudantes, resultando assim em uma
aprendizagem mais significativa. Podendo colaborar para:

 Motivar o interesse dos estudantes;

 Aumentar a capacidade de observação;

 Conectar o estudante a realidade na qual está inserido;

 Concretizar os conteúdos da aprendizagem;

 Desenvolver a experimentação;

 Fomentar a pesquisa.

Agora que você já conhece um pouco mais a respeito dos recursos e seus
usos e finalidade, veja a seguir a tabela que vai ajudá-lo (a) a refletir a respeito
da utilização ou não de um dado material.

88
Retemos Aprendemos

10 % do que lemos 1% por meio do gosto

20 % do que escutamos 1,5 % por meio do tato

30 % do que vemos 3,5 % por meio do olfato

50 % do que vemos e escutamos 11 % por meio da audição

70 % do que ouvimos e logo 83 % por meio da visão


discutimos

90 % do que ouvimos e logo


realizamos

Fonte: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/profunc/equip_mat_dit.pdf>. Acesso


em: 31/07/2018, às 19h14min (fins pedagógicos).

Agora ficou mais fácil entender a importância de diversificar os recursos


que serão utilizados em suas aulas não é mesmo?
Nesse sentido, é importante que você conheça a proposta pedagógica da
escola e os materiais disponíveis. Pois, como afirma Freitas (2009, p. 20), “[...]
nenhum material didático pode, por mais bem elaborado que seja, garantir, por
si só, a qualidade e a efetividade do processo de ensino e aprendizagem”.
Esses materiais apenas facilitam a mediação entre o conteúdo e o
estudante, e, portanto, “[...] não podem ser utilizados como se fossem começo,
meio e fim de um processo didático” (FREITAS, 2009, p. 20) .

Critérios na escolha dos recursos

Os diferentes materiais (recursos) utilizados em sala de aula podem vir a


colaborar para a melhoria da aprendizagem. Mas cuidado!

89
O excesso e uso indiscriminado deles também
podem atrapalhar. Nunca utilize um objeto de ensino que
você não conhece, apenas por modismo!
Importante

Logo, torna-se imprescindível que você atente-se a alguns critérios antes


de escolhê-los:
 Ao escolher um material de ensino, você deve ter em mente os
objetivos a serem alcançados;
 Não escolha materiais aleatórios, sem um fim específico;
 Não utilize recursos que você não domine totalmente, pois correrá o
risco de não saber empregá-lo;
 O sucesso na aplicação de um recurso depende das características
dos próprios recursos, podendo ou não exercer os benefícios
esperados em diferentes contextos de aprendizagem;
 Ao escolher um recurso, você deve estar atento à natureza da
matéria ensinada, ou seja, algumas disciplinas necessitam de mais
recursos que as outras, como, por exemplo: a Química e a Biologia;
 Sempre leve em consideração o fator tempo, pois certos materiais
requerem uma preparação prévia, bem como um tempo considerável
para apresentação e aplicação.

Lembre-se: de nada adianta você levar um ótimo recurso para a sala se não
conseguir explorar todas as suas potencialidades.

90
Recursos didáticos mais comuns em escolas brasileiras

Fonte: © Pixabay (2017)

A partir de agora, você vai conhecer os recursos didáticos mais


conhecidos e utilizados em escolas no Brasil, sempre levando em consideração
a realidade sócio, econômica e cultural do país e ou localidade que você vai
atuar.
Entre os mais comuns estão:

 o álbum seriado;

 os cartazes;

 mimeógrafo;

 revistas e jornais;

 livros diversos;

 o rádio e a televisão;

 o quadro de escrever;

 sucatas em geral.

91
Agora você pode estar se perguntando: Em tempos de avanços nas
tecnologias educacionais, vou ter que aprender sobre como usar um
retroprojetor? Um mimeógrafo? De que se trata mesmo?
Em resposta as suas inquietações, respondo que sim. E aproveito para
lembrar que as escolas públicas brasileiras espalhadas pelo Brasil afora têm
realidades sócioeconômicas bastante distintas. Muitas crianças e jovens
brasileiros não têm, em suas escolas, as condições mínimas com relação à
infraestrutura. Quem dirá com relação a equipamentos de última geração.

O livro didático

Você sabia que um dos principais recursos utilizados no Brasil durante o


último século foi o livro didático? O responsável pela introdução dessa
ferramenta pedagógica no país foi o Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas.
Isso se deu em meados do século XIX. Junto com o livro didático, trazido da
Europa e muito distante da realidade do brasileiro, o Barão trouxe também outros
recursos pedagógicos como: mapas e globos terrestres (FREITAS, 2009).
O livro didático tem sido desde sua inserção no país um recurso bastante
criticado. Isso se deve ao fato histórico de ser, quase sempre, produzido nos
grandes centros, desprezando, assim, as particularidades e regionalismo do
povo brasileiro.
Você já parou para pensar que o Brasil tem uma grande extensão
territorial onde coexistem diferentes culturas, raças e etnias? Como desprezar
essas características que tornam o brasileiro tão especial? E, ainda, como
englobar, em um único livro didático, todas essas diferenças?
Essas questões são bastante complexas e acabam por esbarrar na
burocracia, sem levar em conta o que os educadores e educandos esperam
dessa importante ferramenta didática.
Uma das principais polêmicas atuais com relação ao livro didático tem
girado em torno de questões que abordam padrões de família, religiosidade e
também as questões de gênero, mas que não podem ficar de fora das tônicas
educativas.

92
Temos uma produção de excelentes materiais didáticos produzidos nos
últimos anos. Esses materiais têm buscado contemplar toda essa diversidade
que mencionei anteriormente.

Mapas e globos terrestres

Fonte: © Pixabay (2017)

Os mapas, por sua vez, tinham uma função meramente ilustrativa e não
dialogavam com questões étnicas e culturais. Muitas vezes quando encontramos
um mapa nas escolas, eles estão ultrapassados e malcuidados. Claro que,
atualmente, algumas escolas têm recursos tecnológicos que auxiliam o trabalho
de cartografia.
Em uma rápida busca na web, temos a nosso alcance a possibilidade de
fazer um tour por mapas virtuais a partir de sites como o Google Maps, o Google
Search, o Google Earth e outros tantos.

93
O Google é considerado o maior site de busca da
web, através do buscador Google Search. O serviço foi
criado a partir de um projeto de doutorado de estudantes da
Universidade de Stanford (1996). Quando realizamos uma
pesquisa no Google, temos acesso a um enorme número de
sites de todo mundo. Para não perdermos tempo, podemos
diminuir os critérios de busca aumentando o número de
palavras-chave, como, por exemplo, o nome do país, ou da
cidade que se deseja visualizar o mapa. O Google Maps é
um serviço de pesquisa que permite a visualização de
mapas e imagens de satélite da Terra, e são disponibilizados
Curiosidade gratuitamente. O Google Earth tem a função de apresentar
um modelo tridimensional do globo terrestre, construído a
partir de imagens de satélite obtidas através de fontes
diversas. Sendo assim, o programa pode ser usado
simplesmente como um gerador de mapas bidimensionais e
imagens de satélite ou como um simulador das diversas
paisagens presentes no planeta Terra. Para ter acesso a
essas maravilhas da tecnologia moderna, faça a sua
pesquisa no Google!

O que é um equipamento didático?

Como você viu até aqui, o uso de ferramentas didáticas é essencial no dia
a dia das escolas, atuando como incentivo à aprendizagem, uma vez que as
mensagens que o estudante recebe por meio delas não são somente verbais,
mas compreendem os sons, as cores e até mesmo as sensações.
O material didático auxilia na comunicação entre educador, educando,
conteúdo e aprendizagem, além de quebrar um pouco a monotonia de aulas
meramente expositivas. Existem diferentes equipamentos didáticos, grande
parte deles utiliza-se de recursos audiovisuais, os quais foram pensados e
construídos especialmente para fins educativos, visando atender à demanda de

94
disciplinas específicas, como, por exemplo, os livros didáticos e mapas
escolares, já citados anteriormente.
Mas é fato que alguns artefatos não foram criados com fins pedagógicos,
mas com o tempo, tornaram-se ferramentas essenciais no trabalho de apoio ao
professor em sala de aula. Temos microscópios, equipamentos laboratoriais de
física e química, criados para tender demandas específicas de uma dada área,
como, por exemplo, a Medicina. Esses equipamentos são, atualmente,
essenciais no processo de formação de profissionais dessas áreas, bem como
em laboratórios do ensino médio espalhados pelo país.
Posso citar também equipamentos de cozinha, sim de cozinha. Panelas,
fogões, termômetros específicos para a culinária podem ser importantes
ferramentas didáticas, auxiliando o professor de Química, Física, Matemática,
Ciências e outras tantas matérias que compõem o currículo escolar. Sendo
assim, os utensílios de cozinha e os instrumentos de medição pedagógica
passam a adquirir um caráter didático, haja vista que atuarão como mediadores,
contribuindo para a construção do conhecimento.

Conclusão da aula

Quantas possibilidades existem quando nós, educadores e futuros


educadores, temos a sensibilidade de observar e de criar a partir de um objeto
considerado trivial uma oportunidade de aprendizagem. Os recursos
educacionais e todo um aparato didático pedagógico de nada valem se o
professor não estiver comprometido com a aprendizagem do estudante e com a
construção do conhecimento.

Atividades de Aprendizagem

Procure fazer uma linha do tempo demonstrando a evolução dos recursos


pedagógicos no decorrer do tempo. O recorte temporal poderá ser feito a seu

95
critério. Isto quer dizer que você pode utilizar como base, por exemplo, sua
própria trajetória escolar.

96
Aula 8 – Avaliação

Seja bem-vindo à nossa última aula! Nesta aula vamos iniciar os estudos
refletindo sobre:

O que é avaliar?

Vamos responder a esta questão no decorrer desta aula, depois,


discorreremos sobre avaliação de aprendizagem no contexto educacional e em
nosso cotidiano; a relação da avaliação com a concepção pedagógica; os tipos
de avaliação diagnóstica formativa ou processual e somativa. No final desta aula,
podemos relacionar e conhecer quais os instrumentos de avaliação que
empregamos em relação a nossa prática docente e à concepção pedagógica.

O que é avaliar?

Fonte: © 2017 Pixabay

O que pensamos quando alguém envolvido no contexto educacional


pergunta: “O que é avaliar?”
Provavelmente responderíamos: avaliar é receber uma nota de uma prova
ou um teste em que o resultado será aprovado(a) ou reprovado(a). Esta é apenas
uma possibilidade de resposta entre outras que esta assertiva nos induz.

97
Mas pode-se perceber que nossas repostas são influenciadas pelo
pensamento de que a avaliação é uma das formas de controle que o sistema
educacional tem perante o aluno, para distinguir os fracassados dos bem-
aventurados.
Também percebemos que esta maneira de pensar a avaliação escolar
contribui para distinguir e classificar estudantes, assim como corrobora para que
a sociedade desacredite de suas funções, seu corpo docente e discente
enquanto instituição educacional e, consequentemente, fomenta os elevados
índices estatísticos do fracasso e evasão escolar.
Contrariando as ideias que suscitam a resposta da pergunta que nos
introduziu à quarta aula, avaliar no contexto educacional significa basicamente,
comprovar se os objetivos propostos de determinado conteúdo da aula foram
atingidos, isto é, “[...] verificar até que ponto as metas estabelecidas, previstas
foram atingidas” [...] tanto pelos discentes quanto pelos educadores
(HAYDT,1997, p. 25).
Contudo, ao mesmo tempo em que nos perguntamos os motivos que
respondemos à pergunta com descrença e negativismo, o de que avaliar é
apenas o modo de classificar e excluir, também podemos encontrar subsídios
para justificar nosso pensamento na sociedade em que vivemos, pois a escola é
seu reflexo, reproduzindo os valores e a ética.
Portanto, ao modificarmos os comportamentos que temos perante a
sociedade, a questão central de avaliação terá outra resposta porque a “[...]
avaliação não se dá nem se dará num vazio conceitual, mas sim dimensionada
por um modelo teórico de mundo e de educação, traduzido em prática
pedagógica” (LUCKESI, 2000, p. 28).

98
Avaliação e concepção pedagógica

Fonte: © Public Domain Vectors (2018)

Se você parar para observar nossas ações em diferentes espaços do


cotidiano, estará em várias situações de avaliação. Situações que ora estamos
emitindo opiniões a respeito das pessoas, das coisas e, de outras em que somos
avaliados.
Notamos que a todo instante o ato de avaliar e emitir julgamentos ou
opinião nos acompanha. Não poderíamos nos surpreender se na escola esta
prática fosse diferente. A avaliação sob o prisma da aprendizagem expõe
características e finalidades diferentes, de acordo com a concepção pedagógica.
A concepção de avaliação no modelo pedagógico tradicional, que
contempla as abordagens tradicional e tecnicista, é aquela em que o professor
é centralizador do conhecimento e, com isso, deverá repassar aos estudantes.
Estes por sua vez, apenas escutavam, na tentativa de memorizar por meio dos
exercícios apresentados ao final da aula ou como tema a ser apresentado
posteriormente.
Com esse modelo de avaliação, não há educação e sim informação. Não
ocorrem discussões em salas de aula, o histórico de cada estudante não importa
para desvelar sua aprendizagem e, em consequência disso, “[...] os conteúdos
e procedimentos didáticos não tinham nenhuma relação com o cotidiano do
aluno e muito menos com as realidades sociais” (LUCKESI, 1994, p. 55).

99
Além de reforçar, como já foi comentado anteriormente, o caráter
competitivo entre os pares enquanto que o estudante se torna um ser passivo e
dependente.
Os educandos eram classificados pela sua capacidade de
armazenamento e memorização nas aulas e a devoluta em provas e testes. Não
raro, essas correções davam preferência nas questões que eram respondidas
com a escrita literal da fala do educador ou o texto do livro didático sem
acréscimos ou supressão. Este fato ficou conhecido e ainda é popularmente
chamado entre os estudantes como “decoreba”.
Este modelo de avaliação e aprendizagem está arraigado no Brasil e,
consequentemente, em nosso sistema educacional, pois foi na década de 30
que ele oficialmente deixou de existir desde sua implantação com a chegada dos
jesuítas. O modelo de aprendizagem empregado pelos jesuítas no documento
foi denominado Ratio Studiorum.

Ratio Studiorum: é o plano de estudo que


normatiza os princípios pedagógicos dos colégios
religiosos, e sua redação foi finalizado em 1599.
Vocabulário

Claro que não é o que observamos no modelo escolar porque deixar de


existir não quer dizer não ser mais utilizado. Luckesi (2011, p. 223) nos aponta
indícios de instrumentos que ainda são utilizados na avaliação educacional pelo
corpo docente e comprova que o modelo tradicional ainda perdura no âmbito
escolar:

1. Elaborar um questionário, após certo período das aulas, para coletar


dados do desempenho dos alunos.

2. Ao determinar que os estudantes respondam ao questionário, seguir o


mesmo procedimento: dispor todos sentados e distantes uns dos outros

100
para não colarem, distribuir o questionário, fiscalizar os alunos durante a
realização da atividade para evitar a “cola” e recolher o documento com as
respostas.

3. Corrigir cada um dos questionários, atribuindo-lhes nota classificatória.

4. Por último, registrar tudo na caderneta (ou livro de chamada).

As práticas citadas por Luckesi proliferam em nossas ações pedagógicas.


É preciso ler para agir; planejar; ter como orientação o projeto político
pedagógico, o planejamento de ensino e o plano de aula.
Enquanto que na abordagem pedagógica, considerada mais moderna,
como as pedagogias libertadora e a crítico-social, a avaliação tem outra
proposta, como: a orientação e cooperação entre os pares, incentivar a
construção do conhecimento do estudante por meio de ações que o torne agente
autônomo, dinâmico, crítico e reflexivo do seu espaço e do seu contexto social e
político.

Tarefas da avaliação

Fonte: © Pixabay (2017)

101
Independentemente dos tipos de avaliação que escolhemos, diagnóstica
formativa ou processual ou somativa, e de acordo com o planejamento, todas
têm objetivos a serem alcançados no processo de ensino e aprendizagem.
Entre as etapas que a tarefa de avaliar tem como metas estão:

 Conhecer o estudante: um dos papéis que o educador tem desde o


reconhecimento de sua profissão é o de orientação do estudante durante
todo o processo de ensino e aprendizagem. Neste ínterim, a avaliação
também fornece dados para conhecer as ações, aptidões, habilidades e
competências que possam colaborar para o crescimento pessoal e
profissional do estudante.
 Verificar os ritmos de aprendizagem do estudante: para atingirmos
este objetivo é necessário dispormos dos instrumentos de avaliação.
Dentre os números instrumentos que dispomos para coleta de dados,
poderá ser realizado por meio de provas, jogos, simulações, exercícios
para averiguar os ritmos de aprendizagem durante o início meio e o fim.
 Detectar as dificuldades de aprendizagem: os tipos de avaliação e os
instrumentos auxiliam o educador a perceber as dificuldades, assim como
os avanços no processo de ensino e na aprendizagem do estudante.
 Orientar o ensino e a aprendizagem: os resultados obtidos pela
avaliação devem ser utilizados para adequar o planejamento de ensino à
estratégia e metodologia, tanto do professor quanto do estudante.

Tipos de avaliação

Ao escolhermos um tipo de avaliação, é importante considerarmos qual o


objetivo que desejamos com determinado conteúdo e qual será sua função.
Vamos conhecer os tipos de avaliação que temos no ensino e aprendizagem:
diagnóstica, formativa ou processual e somativa.

102
Avaliação Diagnóstica

A avaliação diagnóstica realiza-se no início do período letivo ou da


unidade de ensino e tem como função averiguar o conhecimento prévio do (a)
estudante. A verificação da aprendizagem do período letivo tem como objetivo
detectar as dificuldades de aprendizagem e como isso nos revela se os objetivos
estão sendo atingidos de acordo com o planejamento de ensino. Também nos
revela se há conhecimento prévio dos estudantes com relação a determinado
assunto.
Notamos que na detecção dos conhecimentos prévios e dos obstáculos
que possam vir a existir, a avaliação diagnóstica colabora para que possamos
reavaliar, reorganizar as fases do plano de ensino e reformular as metas a serem
alcançadas.
É um processo que corrobora para criar uma sintonia de aprendizagem e
ensino entre professor e aluno, proporcionando no espaço educativo uma
sincronia entre as necessidades educacionais e o planejamento.
Ao citarmos os instrumentos utilizados pelo educador para aplicar a
avaliação diagnóstica, elegemos como principal instrumento o diálogo. A
conversa é primordial para nos aproximarmos do estudante e saber de suas
dificuldades e facilidades em relação aos conteúdos, assim como com seus pais,
educadores e colegas. Juntamente com o diálogo aplicamos o questionário.
Outro instrumento importante é a ficha individual do aluno onde
anotaremos nossas observações a respeito de suas atitudes desse, perante as
situações cotidianas do universo escolar e no decorrer dos procedimentos
analisados, dispor para nossos pares.
Luckesi (2005, p. 82) alerta para “[...] eficiência da avaliação diagnóstica
que só é possível se estiver articulada com uma concepção pedagógica
progressiva [...].

103
Avaliação formativa ou processual

A avaliação formativa conhecida também como processual é aplicada


durante o decorrer do período letivo, isto é, de forma contínua e informal; tem
como função ser reguladora ou controladora do processo de ensino e
aprendizagem, pois informa aos envolvidos no processo o resultado das
atividades propostas.

Por que a avaliação formativa ou processual tem como função ser reguladora
ou controladora?

A avaliação formativa ou processual passa a ser reguladora ou


controladora no momento em que é realizada a cada atividade proposta, isto é,
alunos e educadores devem analisar cada etapa dos seus procedimentos.
Em relação aos educadores, os resultados obtidos pelos alunos servem
para informá-los em relação às deficiências e avanços dos estudantes no
processo de ensino e aprendizagem, concedendo reformulações de estratégias,
recursos e planejamento para que os objetivos sejam atingidos.
Considera Perrenoud (2002, p. 103), que a avaliação formativa ou
processual “[...] é que ajuda o aluno a aprender e a se desenvolver, ou melhor,
que participa da regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido
de um projeto educativo”.
Já aos alunos, cabe se atentarem em averiguar seus avanços e
dificuldades e construírem a responsabilidade e autonomia de sua
aprendizagem.
Pode-se dizer também que a avaliação formativa ou processual nada
mais é que o feedback para os alunos e professores no decorrer do processo de
ensino e aprendizagem.

104
Feedback: realimentar ou dar resposta a um determinado
pedido ou acontecimento. O termo é utilizado em áreas
como Administração de Empresas, Psicologia ou
Engenharia Elétrica. O significado de feedback é utilizado
em teorias da Administração de Empresas, quando é dado
um parecer de uma pessoa ou grupo de pessoas na
realização de um trabalho com o intuito de avaliar o seu
Vocabulário desempenho. É uma ação que revela os pontos positivos e
negativos do trabalho executado tendo em vista a melhoria
dele.
Disponível em: <https://www.significados.com.br/feedback/>. Acesso
em: 01/08/2018, às 18h24min.

A periodicidade juntamente com os instrumentos de como realizar a


avaliação formativa ou processual dependerá do dia a dia da rotina escolar. Se
for diariamente, optaremos pelos instrumentos que estão disponíveis, como:
reexaminar os cadernos, as tarefas que pedimos para serem praticadas em casa
ou no ambiente escolar, os questionamentos com respostas e as observações
durante a permanência do estudante no âmbito escolar.
Sendo assim, ocasionalmente optaremos por provas; jogos; testes;
seminários individuais e coletivos; apresentações de relatórios e de trabalhos.
Sempre será feito periodicamente após cada unidade didática, projetos,
subunidade, semestre e bimestre.
Independentemente da periodicidade e dos instrumentos aplicados,
devemos indicar com clareza aos estudantes, os critérios estabelecidos para
obtermos os resultados e os objetivos da avaliação. As evidências mostradas
pela aplicação dos instrumentos serão compartilhadas pelos estudantes e
educadores, para que possamos equiparar os procedimentos, estratégias e
metodologia da unidade didática.

105
Avaliação somativa

Até hoje, com salvas exceções, a avaliação somativa continua sendo


utilizada pelo sistema educacional brasileiro. Talvez você recorde desse tipo de
avaliação assim que começarmos a descrevê-la no ensino fundamental
(antigamente chamado de 1.º Grau) ou no próprio ensino médio (que antes da
LDB/96 era conhecido por 2.º grau).
Esse tipo de avaliação tem caráter conservador e, como consequência,
recorre como forma de segregar estudantes e contribuir com a evasão escolar,
pois enfatiza os instrumentos de avaliação (provas subjetivas e objetivas mais
usadas) e o resultado final do processo educativo.
Ao classificar estudantes por meio de uma avaliação final, que tem por
objetivo os resultados cumulativos de suas aprendizagens as quais foram
desenvolvidas durante o semestre, bimestre, ano letivo ou curso, ela beneficia a
nota e atesta se o estudante assimilou ou não os conteúdos.
Com a peculiaridade de ser classificatória e ter por base o nível de
aproveitamento e os critérios estabelecidos, consequentemente, privilegia o
caráter comparativo entre os colegas e ressalta esta atitude como modelo de
escola tradicional, contribuindo para a comparação e a concorrência entre seus
pares.
Não se pode esquecer que qualquer tipo de avaliação, e principalmente a
avaliação somativa, reflete uma sociedade e por si só não a modifica ou a
transforma ou quebra paradigmas, e sim uma conjuntura de valores e
procedimentos desta sociedade, que refletirá também na escolha dos tipos dos
instrumentos de avaliação a serem utilizados na escola.

106
Instrumentos de Avaliação

Fonte: © Public Domain Vectors (2017)

Os instrumentos de avaliação são os recursos que utilizamos para


processar a coleta e os dados obtidos pelo tipo de avaliação que elegemos.
O educador deve considerar que, ao eleger os instrumentos de avaliação,
juntamente com a técnica ou recursos, tem que pensar se os demais
componentes do planejamento de ensino estão em sincronia, como, por
exemplo: os objetivos elencados para desenvolver as habilidades;
conhecimentos e atitudes; a metodologia; o objeto de estudo; o tempo do
professor para o desenvolvimento do conteúdo; o número de estudantes.
Veja alguns dos inúmeros procedimentos utilizados em nosso âmbito
escolar.
 Autoavaliação: é um dos instrumentos que pode ser elaborado
conjuntamente com o portfólio e o memorial, pois fortalece a interação
estabelecida no processo de ensino e aprendizagem pelo estudante e
educador.
 Memorial: é um instrumento avaliativo que consiste em um texto
descritivo autobiográfico, isto é, o escrevente narra, analisa os
acontecimentos que se processam durante um determinado período de

107
sua trajetória. O principal objetivo é descrever os processos resultantes
positivos ou negativos das aprendizagens vivenciadas.
 Prova: as provas podem ser orais ou escritas. Subdividindo a prova
escrita em objetiva ou subjetiva, são organizadas pelo professor com o
objetivo de tomar conhecimento se o conteúdo desenvolvido durante um
determinado período foi aprendido pelos estudantes.

As provas com questões objetivas podem ser apresentadas na forma de


resposta curta, podendo ser de lacuna (completar); de certo e errado, como
também de verdadeiro ou falso de acasalamento, correlação ou combinação; de
múltipla escolha.
 Relatório (individual ou em grupo): o registro tem como finalidade
informar os resultados das atividades de ensino e aprendizagem
realizadas durante um período determinado.
 Teste: este instrumento é utilizado na avaliação formativa para investigar
as dificuldades ou não do conteúdo estudado.
 Portfólio: é uma pasta onde estão armazenados os documentos de uma
ou de várias disciplinas durante o período de sua vigência. Estes
documentos podem ser os relatórios, diários, anotações, poesias, ações
pessoais, fotografias etc.

Cabe ressaltar que apesar das indicações, a premissa para termos um


bom uso do instrumento aliado ao nosso planejamento de ensino é que,
conhecer o estudante, saber suas dificuldades, anseios e desejos, nos coloca à
frente de qualquer papel que a avaliação possa nos incumbir.

Conclusão da aula

Para concluirmos a disciplina de Didática, discutimos o que é avaliar no


contexto educacional. As discussões fomentadas se inserem na perspectiva que
as mudanças educativas são relacionadas com nossos modos de pensar e agir

108
e, consequentemente, seu reflexo também estará no âmbito escolar. A
abordagem tradicional ainda perdura em nosso processo educativo com práticas
docente, muitas vezes inconsciente. A escolha dos instrumentos de avaliação
tem correlação com os tipos de avaliação que escolheremos, entre elas, a
diagnóstica formativa ou processual e a somativa.

Atividades de Aprendizagem

Agora você já é capaz de identificar os tipos de avaliações que já fez


durante a sua vida como aluno, cite situações que englobem as três avaliações
estudadas (diagnóstica formativa ou processual e a somativa) e relate qual foi a
sua reação ao receber seu parecer, nota ou conceito.

109
Conclusão da disciplina

A Didática enquanto disciplina, deve buscar o desenvolvimento do espírito


crítico dos professores em processo de formação, para que possam avaliar de
forma clara e objetiva a realidade do ensino. Conforme você pôde perceber, a
educação é um processo que faz parte do desenvolvimento de cada sociedade
e isso significa entender que a prática pedagógica é parte integrante do todo
social. Cabe ainda reafirmar as bases teóricas que influenciam a prática docente,
as quais estão ligadas à formação da identidade do professor.
A didática nesse processo é viva, ativa, moldada no tempo e espaço no
qual está inserida. Dito isso, é de suma importância que se busque uma didática
que valorize a educação e todos os sujeitos nela envolvidos.

110
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Currículo do professor(a)-autor(a)

Jezuina Kohls Schwanz

Doutora em Educação (Universidade Federal de Pelotas); Mestre em Memória


Social e Patrimônio Cultural (Universidade Federal de Pelotas); Especialização
em Memória, Identidade e Cultura Material (Universidade Federal de Pelotas);
Graduada em Pedagogia (Universidade Federal de Pelotas). Tem experiência
na área de gestão, educação a distância e educação patrimonial. Professora
conteudista da Faculdade São Braz. Atualmente é professora do Curso de
Pedagogia da Universidade Positivo (Curitiba) e historiadora e pesquisadora
integrante do CEIHE – Centro de Estudos e Investigação em História da
Educação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

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