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Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte

Núcleo de Alfabetização e Letramento/SMED-BH


Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – CEALE/FaE/UFMG

CONHECIMENTOS ESSENCIAIS
PARA O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Proposta para o trabalho com crianças do recorte etário de 4 a 8 anos

Este documento visa apresentar uma seleção de conhecimentos essenciais


para o processo de alfabetização e letramento. Cabe esclarecer que a expres-
são conhecimentos essenciais, usada neste documento, não se refere a uma
seleção aleatória no conjunto de conhecimentos, mas está relacionada à im-
portância desses conhecimentos no recorte etário de 4 a 8 anos.

É grande o nosso desafio de elaborar esta proposta em tempos de pandemia,


pois isso envolve a ideia de transformar o complexo em algo simples, mas não
simplificado, ou seja, apresentar o imprescindível para a alfabetização e o le-
tramento de crianças dentro de um contexto atípico, mantendo-as engajadas
em ações de leitura, escrita e oralidade.

Esclarecemos que este documento tem raízes na discussão que vinha sendo
feita no Núcleo de Alfabetização e Letramento, instituído em 2019, e nos tem-
pos de distanciamento social, na produção de um esboço que viria como fonte/
eixo para a produção de materiais e atividades para crianças de 6 a 8 anos,
elaborado inicialmente por/para um de seus grupos de trabalho, o GT 3 - Pro-
dução de materiais e atividades -, que é constituído por membros de gerências
da SMED/BH, diretorias regionais, professores e coordenadores pedagógicos.

A sua produção foi ampliada, tendo em vista uma demanda da SMED para a
produção de uma proposta que indicasse uma expectativa de conhecimentos
essenciais para o processo de alfabetização e letramento a serem garantidos
como direitos das crianças, incorporando, inclusive, aquelas de 4 e 5 anos da
Etapa da Educação Infantil (BNCC, 2018, p.34), que passou a ser obrigatória
com a Emenda Constitucional no. 59/2009. Em consonância com esses docu-
mentos, organizamos o bloco de 4 e 5 anos para a Educação Infantil, dialogan-
do, principalmente, com o campo de experiências “fala, escuta, pensamento e
imaginação” (BNCC, 2018, p.42-49) e a delimitação ano a ano para o ensino fun-
damental, uma vez que, no Ensino Fundamental, inicia-se uma etapa de maior
investimento na elaboração dos conhecimentos, com uma “progressiva sistema-
tização”, conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018, p.57).

Assim, este documento foi produzido com base nas experiências da equipe
que compõe o Núcleo de Alfabetização e Letramento, assessoras do Centro
de Alfabetização, Leitura e Escrita da FAE/UFMG, gerências da SMED, Dire-
torias Regionais de Educação; nas ações de regionais para acompanhamento
da alfabetização (Instrumento de Acompanhamento da Avaliação da Regional

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Centro-Sul e Venda Nova, 2019); nas Proposições Curriculares da Rede Muni-
cipal de Educação/BH (2012); nos materiais de formação (PNAIC, 2012) e nos
documentos nacionais do Ministério da Educação (BNCC, 2018).

Partindo de atitudes favoráveis à cultura escrita e oral, utilizamos como organi-


zação a ideia de eixos/práticas e não conteúdos, considerando que as práticas
de oralidade, leitura e escrita ocorrem a partir da compreensão e da produção
de textos e em situações significativas para as crianças. Os gêneros apresen-
tados para leitura, escrita e oralidade se filiam a campos de atuação presentes
na BNCC e são sugestões de entradas pelas funções dos textos neste período.
São destacados, também, gêneros da esfera literária que contribuem para a
fruição, o jogo, a imaginação e a reflexão sobre a condição humana. Na or-
ganização do que é considerado essencial, também são focalizados alguns
conhecimentos e habilidades que podem contribuir para a alfabetização das
crianças, como conhecimento do alfabeto e outros símbolos, análise fonológi-
ca e sua relação com a escrita, compreensão do princípio alfabético e análise
grafofonêmica, que podem ser empregados na leitura e escrita de palavras,
possibilitando maior foco no sistema alfabético/ortográfico de escrita. Ao veri-
ficar quantitativamente as linhas dos quadros, o professor pode achar que há
uma preponderância ou detalhamento maior nos 6 anos, no eixo apropriação
do sistema de escrita. No entanto, vários conhecimentos estão relacionados
dentro do item apropriação da escrita, e na prática pedagógica o professor
pode abordá-los numa mesma experiência ou atividade.

A progressão se fará a partir dos gêneros textuais e seus temas, escolhidos


para cada ano, pelos graus de autonomia (com mediação do professor e sem
mediação do professor) e pelo tipo de experiência vivenciada (mais informal e
assistemática ou com sistematização), o que permite reunir, num mesmo campo
conceitual e pedagógico, a etapa da educação infantil e dos primeiros três anos
do ensino fundamental, para ações envolvendo alfabetização e letramento.

É importante considerar que muitas aprendizagens da leitura e da escrita inicia-


das na etapa da Educação Infantil, a partir de contextos e situações significativas
e de modo intencional, são imprescindíveis ao processo de transição harmonio-
so entre a educação infantil e o ensino fundamental e entre os anos dessa etapa.
Uma estratégia que encontramos para demonstrar esse continuum na aprendi-
zagem foi o uso da mesma cor em tonalidades diferentes que escurecem para
mostrar o mesmo conhecimento/habilidade em processo de aprofundamento.
Isso porque consideramos que o conhecimento deve perpassar as experiências
desde a educação infantil até 8 anos. O que difere um ano do outro é o grau de
autonomia do leitor/escritor, a extensão, o vocabulário e os temas dos textos au-
tênticos, tratados em gêneros apropriados aos contextos e próximos do universo
das crianças.

Em cada linha, a tonalidade mais forte indica que o conhecimento deve ser
sistematizado naquele ano, mas é o professor que deve avaliar se pode ser
tratado antes ou se deve ser retomado e/ou aprofundado nos anos posteriores.

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Para melhor compreensão da progressão das aprendizagens e por entendê-las
como um processo que depende de condições cognitivas, linguísticas, sociais,
culturais, escolares e emocionais, o uso de cores pretende indicar essa fluidez:
da aprendizagem inicial para uma aprendizagem já consolidada, ou seja, do
tom mais claro para o mais escuro. O quadrinho na cor branca significa que a
aprendizagem indicada NÃO necessita ser promovida naquela faixa etária por
ser considerada precoce ou por ser dada como consolidada.

O detalhamento expresso neste documento sobre os conhecimentos, as atitu-


des e as habilidades não representam um volume maior de trabalho pedagó-
gico, porque as aprendizagens ocorrem de maneira integrada, em contextos
significativos, e uma aprendizagem repercute na outra.

A opção por articular conhecimentos essenciais/ aprendizagens essenciais em


atitudes, e habilidades diz respeito ao caráter complexo que envolve essas di-
mensões, pois suas fronteiras são, muitas vezes, imperceptíveis.

Esta proposta visa contribuir para este contexto em que o ensino e a apren-
dizagem escolares são diferenciados e seu foco é na alfabetização e no le-
tramento. As condições para desenvolvê-las no ensino remoto, presencial ou
híbrido, certamente, têm que ser repensadas por escolas e professores, em
contexto de distanciamento social, daí o desafio de formular propostas meto-
dológicas neste tempo em que as perspectivas socioemocionais específicas da
pandemia estão impactando as relações sociais e escolares. Este documento
passará a ter sentido quando professores e escolas o utilizarem para tomarem
decisões pedagógicas que oportunizem a participação das crianças em situa-
ções escolares cada vez mais qualificadas.

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