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História da Educação e

da Pedagogia
Modelo Escolar Brasileiro dos
Séculos XVI e XVIII
Sumário
Modelo Escolar Brasileiro dos Séculos XVI e XVIII
Para Início de Conversa... ................................................................................ 3
Objetivos .......................................................................................................... 3
Desenvolvimento do material
Patricia Wanzeller 1. Modelo Escolar no Período Colonial ....................................................... 4
1.1. A Educação Religiosa no Brasil Colonial ...................................... 5
2. Influências do Pensamento Liberal
1ª Edição
na Educação ................................................................................................... 9
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Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, 2.1. A Educação Liberal: Primeiras Tentativas de um Plano para a
transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, Educação no Brasil Império ................................................................ 10
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Afya. Referências ....................................................................................................... 13
Para Início de Conversa... Objetivos
Neste capítulo, veremos como a educação no Brasil Colônia foi marcada ▪ Apresentar as deficiências do modelo de educação no Brasil no
pela presença dos Jesuítas e como funcionava seu método de ensino. Período Colonial.
▪ Analisar as consequências do pensamento liberal na educação
Abordaremos, também, a Reforma Pombalina, que expulsou os Jesuítas
brasileira.
da colônia, mas não conseguiu implementar um sistema de educação
bom o bastante para, pelo menos, suprir a ausência dos inacianos.

Aqui, começaremos a ver como aconteceram os primeiros esforços para a


organização de um sistema de educação que fosse efetivo, ainda durante
o Primeiro Reinado e no período regencial.

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1. Modelo Escolar no Período Colonial Para consecução dos objetivos do Projeto Português de colonização, a Coroa
Portuguesa contou com a colaboração da Companhia de Jesus para converter o índio
Tomando como premissa a ideia de que a educação é um à fé católica por intermédio da catequese e do ensino: ler e escrever em português.
fenômeno social e, portanto, completamente vinculado
ao momento e aos agentes históricos, devemos analisar
o projeto jesuítico levando em conta o desenvolvimento
sociopolítico da época colonial.

Figura 2: Objetivos do Projeto Português de colonização. Fonte: Dreamstime.

Isto é, o modelo educacional proposto pelos jesuítas, que pretendia formar um


modelo de homem baseado nos princípios escolásticos, era amplamente coerente
com as necessidades e aspirações de uma sociedade em formação na primeira fase
do período colonial brasileiro. Dentre os princípios escolásticos estavam:

1. a busca da perfeição humana por meio da palavra de Deus e a vontade dos


Figura 1: Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Fonte: Wikimedia. homens;

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2. a obediência absoluta e sem limites aos superiores; 1.1. A Educação Religiosa no Brasil Colonial
3. a disciplina severa e rígida;
A educação no Brasil Colonial foi marcada pela presença e administração
4. a hierarquia baseada na estrutura militar; dos jesuítas. Mas não somente os jesuítas atuaram como educadores
5. a valorização da aptidão pessoal de seus membros. nesse período; beneditinos e franciscanos também possuíam escolas.
A atuação jesuítica na colônia brasileira pode ser dividida em duas
fases distintas: a primeira fase, considerando o primeiro século de
atuação dos padres jesuítas, foi a de adaptação e construção de seu
trabalho de catequese e conversão do índio aos costumes dos brancos;
a segunda fase, o segundo século de atuação dos jesuítas, foi de grande
desenvolvimento e extensão do sistema educacional implantado no
primeiro período.

O primeiro grupo de jesuítas chegou em 1549, na mesma época em que


desembarcou o Governador-Geral Tomé de Sousa. Eles eram chefiados
pelo padre Manuel da Nóbrega, que se tornou o primeiro Provincial com
a fundação da província jesuítica brasileira, em 1553, e fundou, na Bahia,
em agosto de 1549, a primeira “escola de ler e escrever” brasileira.

Figura 3: Educação religiosa no Brasil Colonial. Fonte: Wikimedia.

Os beneditinos trabalhavam em dois de seus maiores mosteiros, o de


Salvador e o do Rio de Janeiro. O mosteiro de Salvador foi fundado em
1580 e elevado à condição de Abadia, em 1584. Como uma das sedes

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beneditinas nas Américas, o mosteiro da Bahia tornou-se um local
de preservação e desenvolvimento das artes e do saber. A tradicional
formação religiosa e humanística dos monges começou a ser feita nesse
mosteiro, posto que nele foram instalados cursos de Teologia e Filosofia.

Os franciscanos se estabeleceram no Brasil em 1585, com a construção


do Convento de Nossa Senhora das Neves, em Olinda. O objetivo
primário era adotar escolas de “primeiras letras” para a catequese dos
indígenas e estudos mais avançados dentro do próprio convento, para
aqueles que seguiriam ao sacerdócio. Em 1586, foi fundado um internato
para os curumins, no qual estes eram ensinados a ler e escrever, bem
como sobre música e contas.

Os religiosos utilizavam, também, o conhecimento das crianças em


suas viagens de catequese ao interior, aproveitando-se dos seus Figura 4: Os franciscanos. Fonte: Wikimedia.
conhecimentos locais e da língua de cada aldeia ou tribo. Diferentemente
dos beneditinos e jesuítas, os franciscanos atuavam mais no interior do As escolas eram gratuitas, em grande parte financiadas pelo governo
país, realizando missões-volante próximas às suas sedes. português com esmolas para os conventos, conforme afirma Frei
Jaboatão (1858-1862). A partir de 1718, passou-se a oferecer aulas
gratuitas nos conventos de São Cristóvão, Penedo, Alagoas, Igarassu e
Cairu.

‘‘ Ressurreição,
Quando o provincial da Província do Santo Antônio do Brasil, frei Manuel da
solicitou, em 1739, da Coroa portuguesa o aumento do número
máximo de franciscanos, limitado naquele momento a 236 religiosos, ele
justificou o seu pedido, entre outros, com “a atuação (dos franciscanos)

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como mestres de gramática extramuros”, atividades regulares e integrais nos
Com isso, o comércio também cresceu, e as cidades começaram a se
conventos existentes. Por meio de um Aviso Real de 1740, o número máximo
tornar importantes centros urbanos; nelas, houve o surgimento de
foi elevado a 400, mas não satisfez as necessidades das décadas seguintes.
Com o mesmo argumento utilizado em 1739, os franciscanos repetiram, em uma nova camada social rica e que estava interessada em se educar:
1779, a solicitação de outro aumento do número máximo, destacando, de novo, a burguesia comercial. Estudar em universidades portuguesas era
as suas atividades educacionais nos seus conventos, ou seja, os franciscanos a conclusão de um ensino que possivelmente havia sido iniciado em
desenvolveram atividades nítidas na área da educação durante a época colonial. escolas catedralícias ou em casa dos professores.
(OLIVEIRA, 2017 n.p)
’’ A reforma de Pombal criou as aulas régias, sustentadas pelo estado a
Como já vimos, os jesuítas tinham o monopólio régio para atuar nos partir de um imposto chamado de “Subsídio Literário”, e os professores
ensinos primário e superior tanto em Portugal como no Brasil Colônia; seriam selecionados por concurso público. Em 1760, foi realizado o
entretanto, outras ordens religiosas também atuaram na educação dos primeiro concurso, na cidade de Recife, mas as nomeações só foram
indígenas e dos colonos. feitas em 1774, ou seja, quem tinha condições financeiras pagava a um
professor particular.
A reforma na educação empreendida pelo Marquês de Pombal repercutiu
duramente no ensino brasileiro. A Igreja deixou de ter o controle sobre Para se tornar professor não havia uma formação específica e, por isso,
muitas vezes eram os padres os selecionados, assim, a Igreja Católica
a educação, já que este passou às mãos do Estado português, mas não
continuava presente, mesmo que indiretamente, na formação dos
houve uma mudança significativa nos conteúdos ensinados, pois, na
estudantes.
maioria das vezes, os professores das escolas régias eram os mesmos
professores das escolas religiosas.

A economia brasileira do século XVIII era voltada para a mineração, com


a exploração de ouro, prata e pedras preciosas — claro que ainda havia
produção da cana-de-açúcar, mas o eixo central da economia havia saído
da região nordeste e migrado para a região sudeste.

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‘‘ de
Era deplorável, nessa época, a instrução pública no Brasil. A política despótica
Portugal não tolerava que houvesse tipografia alguma em sua Colônia da
América, de sorte que o povo se achava mesmo em estado como se nunca
houvera inventado a imprensa. Raros eram os livros que circulavam, e não
havia o menor gosto pela leitura. As escolas eram poucas e mal dirigidas; havia
diminuta frequência de alunos e, geralmente, as mulheres não aprendiam a ler.
(ZOTTI, 2004, p.117)
’’
Uma das primeiras intervenções de D. João VI no Brasil foi a criação de
faculdades. Foi criada a Academia Real Militar, que, juntamente com a
Real Academia da Marinha, formavam Engenheiros Civis e preparavam
a carreira das armas. Também foram criados os cursos para médico-
cirúrgicos do Rio de Janeiro e da Bahia, que foram o embrião das
Figura 5: O antigo noviciado jesuíta da Cotovia, depois Real Colégio dos Nobres. Fonte: primeiras Faculdades de Medicina; além dos cursos de Agricultura,
Wikimedia. Economia, Química, Desenho Técnico, Comércio, Matemática, Serralheiros,
Espingardeiros e a Escola de Ciências, Artes e Ofícios.
Os professores eram agraciados com títulos de nobreza, que lhes davam
alguns benefícios, como a isenção de alguns impostos. Como não havia Todos eram cursos superiores ou técnico, pois não havia a preocupação
mais um sistema formal, com edifícios e locais apropriados, muitas vezes em formar alunos no ensino primário. Os esforços foram concentrados
as aulas aconteciam nas casas dos professores. Algumas mudanças no na necessidade das elites e da burguesia do país, conforme afirma
cenário educativo brasileiro aconteceram mesmo com a vinda da família Fernando de Azevedo (1964, p.69-71):
real portuguesa, em 1808.

A instalação da Corte Portuguesa trouxe alguns benefícios imediatos,


‘‘ especiais,
Sobre as ruínas do velho sistema colonial, limitou-se D. João VI a criar escolas
montadas com o fim de satisfazer o mais depressa possível e com
como a criação da Imprensa Régia e o aumento da circulação de jornais menos despesas a tal ou qual necessidade do meio a que se transportou a Corte
Portuguesa. Era preciso, antes de mais nada, prover a defesa militar da Colônia
impressos, posto que o sistema de educação àquela época era deplorável.

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e formar para isso oficiais e engenheiros, civis e militares: duas escolas vieram
atender a essa necessidade fundamental, criando-se, em 1808, a Academia de
Marinha e, em 1810, a Academia Real Militar, com oito anos de cursos. Eram O “pai do liberalismo” foi o autor de dois tratados de governo
que sustentaram a implantação da monarquia parlamentarista
necessários médicos e cirurgiões para o Exército e a Marinha: criaram-se, então, na Inglaterra, inspiraram a Constituição dos Estados Unidos e
em 1808, na Bahia, o curso de cirurgia, que se instalou no Hospital Militar e, anteciparam as ideias dos iluministas franceses.
no Rio de Janeiro, os cursos de anatomia e cirurgia, a que acrescentaram, em
Na política
1809, os de medicina, e que, ampliados em 1813, constituíram com os da Bahia,

’’
equiparados aos do Rio, as origens do ensino médico no Brasil. ‘

A questão do ensino primário continuava sem solução; nenhum


passo para solucioná-la efetivamente foi dado, pois a pretensão era a
Construiu uma teoria do conhecimento inovadora, que investigou o modo
formação das elites econômicas nas universidades e quadros técnicos como a mente capta e traduz o mundo exterior.
que atendessem às demandas mais imediatas do governo.
Na filosofia

2. Influências do Pensamento Liberal Constituiu a ideia de que o aprendizado depende, primordialmente, das

na Educação informações e vivências às quais a criança é submetida. No livro Alguns


pensamentos referentes à educação, Locke afirma que é possível levar,
facilmente, “a alma das crianças” em uma ou noutra direção, “como a água”.
Formar um aluno, sob o aspecto intelectual ou moral, seria exclusivamente o
O ideário que surgiu no século XVII e ganhou destaque na Europa do resultado do trabalho das pessoas que os educam — pais e professores —, a
quem caberia, sobretudo, dar o exemplo de como pensar e se comportar,
século XVIII teve seu apogeu após a Revolução Industrial, no início do Na educação treinando a criança para agir adequadamente.
século XIX. Basicamente, consistia na premissa de que todos os seres
humanos são dotados de capacidades para o trabalho e que todos têm
Figura 6: Influências do Pensamento Liberal na Educação. Fonte Dreamstime.
direitos naturais a exercer a sua capacidade de criar e evoluir.
Segundo a historiadora Emília Viotti (1999), as primeiras manifestações
A influência do inglês John Locke (1632-1704) costuma ser separada em
do liberalismo no país datam do fim do século XVIII e início do século
três grandes áreas:

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XIX. E nos tempos subsequentes serão diferentes os momentos de A necessidade de uma educação pública de qualidade apareceu nas
organização no contexto nacional. discussões dos deputados constituintes, mas com a dissolução ainda em
1823; apenas a criação de universidades em São Paulo e Olinda chegou
2.1. A Educação Liberal: Primeiras Tentativas de um Plano para a a ser discutida, mas não promulgada. De fato, na Constituinte de 1823,
pela primeira vez se associou sufrágio universal e educação popular, um
Educação no Brasil Império
como base do outro.
Em 1821, D. João e a Corte retornaram a Portugal, permanecendo D.
Pedro no Brasil como príncipe regente. As Cortes portuguesas tentaram Também foi debatida a criação de universidades no Brasil, com várias
recolonizar o Brasil, que havia sido elevado à condição de Reino Unido propostas apresentadas. Como resultado desse movimento de ideias,
com Portugal e Algarves, em 1815. Tal projeto encontrou resistência dos surgiu o compromisso do Império, na Constituição de 1824, em assegurar
brasileiros, que não aceitaram e apoiaram a permanência de D. Pedro no “instrução primária e gratuita a todos os cidadãos”, confirmado logo
país. Os eventos que decorreram daí levaram à Independência, em 1822, depois pela Lei de 15 de outubro de 1827, que determinou a criação
e à instalação da Assembleia Constituinte, inaugurada em 1823. de escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e vilarejos,
envolvendo as três instâncias do Poder Público.

De acordo com Hilsdorf (2012, p.44), a Constituição outorgada em 1824,

‘‘ [...] de orientação liberal, mas não democrática, [...] assegurava direitos civis (de
cidadania) aos brasileiros brancos, mas não aos índios e escravos, e de direitos
políticos (de voto) aos brasileiros brancos que tinham, no mínimo, renda de 100
mil réis anuais: quem é “coisa” não tem direitos, quem é “povo” ou “plebe” tem
direitos civis e políticos diferenciados, proporcionais à renda. Considerando a
questão do ângulo do princípio liberal proclamada de igualdade, essa repartição
mostrava-se enormemente restritiva, pois, na época, três quartos da população
compunham-se de escravos, e grande parte do restante era de brancos livres e
pobres. Assim, é uma lei liberal moderada que constitui como povo brasileiro a
Figura 7: Aclamação de D. João. Fonte: Wikimedia.

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classe senhorial, resguardando os seus direitos segundo a ótica da preservação conteúdos das disciplinas; deve ser ensinado a “ler e escrever, as quatro operações
da ordem estabelecida. Que ordem? A ordem social escravagista e a ordem de aritmética, prática dos quebrados, decimais e proporções, as noções mais

’’
política liberal constitucionalista. Hilsdorf (2012, p.44) gerais de geometria prática, a gramática nacional, os princípios da moral cristã e
de doutrina da religião católica e apostólica romana”; e que se desse preferência,
No que se refere à educação, a Constituição destacava, no inciso 32 no ensino de leitura, a temas sobre a Constituição do Império e História do Brasil.
de seu último artigo, o 179, do último título, o art.VIII, que “a instrução
primária é gratuita para todos os cidadãos”, e o 33, que dispunha “sobre
(FÁVERO, 2005, p.58)
’’
os colégios e universidades, aonde serão ensinados os elementos das Em um relatório do Ministro Lino Coutinho, fica evidenciada a
Ciências, Belas Letras e Artes [...]” (BRASIL, 1824). precariedade do ensino no Brasil. Apesar da determinação da Lei de
1827, a situação real é muito grave, pois o governo não dispunha de
‘‘ diretamente
Os direitos e garantias, especificamente os direitos à educação, atendiam
às reivindicações dos liberais de Portugal, onde D. Pedro empenhava-
dinheiro para construir ou reformar escolas, investir na formação e pagar
os professores ou comprar o material didático.
se em manter o direito à sucessão de D. João VI. A gratuidade universal à educação
primária, genericamente proclamada e candidamente outorgada na Constituição, O sistema de educação permaneceu inalterado até a promulgação do
não derivou de interesses articulados e reclamos sociais organizados, inserindo- Ato Adicional à Constituição de 1834. Esse documento passou para os
se no texto como um reconhecimento formal de um direito subjetivo dos poderes locais das províncias a organização de seu currículo, desde
cidadãos, que é uma obrigação efetiva do Estado. (FÁVERO, 2005, p.53)
’’ que atento às determinações do governo imperial, a incumbência de
Pelo menos a Constituição de 1824 pode estabelecer que a educação criar estabelecimentos próprios, bem como regulamentar os cursos
seria gratuita e acessível a todos os cidadãos (homens brancos livres). de primeiras letras, cursos de formação de professores e providenciar
No dia 15 de outubro de 1827, deputados e senadores aprovaram uma condições de sua execução.
lei que indicava a criação de escolas de primeiras letras em todas as Ao governo central ficaria a responsabilidade pela criação e manutenção
cidades e vilas do território. A Lei de 1827 determinava que: de cursos superiores e das aulas primárias e secundárias no Rio de Janeiro,
capital do Império. O que se viu foi uma tentativa de descentralização
‘‘[...] os presidentes de província definiam os ordenados dos professores; os
professores que não tivessem formação para ensinar deveriam providenciar da educação, delegando às províncias a responsabilidade pelos cursos
a necessária preparação em curto prazo e às próprias custas; determinava os primários e secundários.

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O governo imperial, para cumprir sua parte em referência ao ensino A partir de então, durante esse período, por conta da descentralização,
secundário, criou, em 1837, o Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. O as províncias, para atenderem à demanda de docentes, publicaram
Pedro II possibilitava a seus alunos o acesso direto para os cursos nas os decretos para criação das primeiras escolas normais no Brasil,
universidades, fato que não era permitido aos colégios das províncias, com o objetivo de preparar professores para oferecer a instrução de
o que acabou por desestimular a manutenção das escolas secundárias primeiras letras.
provinciais.
A primeira escola normal do país surgiu em 1835, em Niterói, e sua
função inicial era o ensino do método Lancaster. No entanto, criado pelo
governo do Império, o Colégio Pedro II era frequentado pela aristocracia
e ofertava o melhor ensino e a melhor cultura, com o objetivo de formar
as elites dirigentes. Considerado uma escola modelo para as demais
no país, o curso secundário ali oferecido estava organizado de modo
regular e seriado de estudos literários e científicos, preparatórios aos
cursos superiores e às carreiras comerciais e industriais, sendo conferido,
ao seu concluinte, o grau de bacharel em Letras.

Neste capítulo, vimos que, com a falta de incentivo provincial na criação


e manutenção de ginásios e liceus, a iniciativa privada começou a criar
escolas particulares que preparassem para os exames de admissão
necessários para o ingresso nas faculdades e universidades.

Descobrimos, ainda, que as avaliações eram organizadas e aplicadas


pelo Colégio Pedro II, referência no ensino brasileiro do período, afinal, o
ensino brasileiro ainda passaria por duas reformas no período imperial.
Figura 8: Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1856. Fonte: Wikimedia.

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