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História da Educação e

da Pedagogia
História da Educação e da Pedagogia
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Núcleo de Educação a Distância (NEAD)


Lúcia Inês Kronemberger Andrade
Sumário
História da Educação e da Pedagogia
1. O Surgimento da História e da História da Educação ....................... 5
2. A Educação ao Longo da História ........................................................... 8
2.1 A Idade Média: um Retorno ao Pensamento Religioso ............. 11
Considerações Finais ........................................................................................ 14
Referências ....................................................................................................... 14

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Para Início de Conversa... Objetivos
Veremos que, em muitos momentos da História, o ato de educar esteve ▪ Reconhecer o contexto histórico do surgimento da educação e da
diretamente relacionado à religião. Isso porque crença, em muitas pedagogia.
sociedades, se configurou na única forma de explicação sobre a criação ▪ Reconhecer o ideário dos educadores que contribuíram para as
do Universo e das regras de sobrevivência e convivência nesse espaço. transformações da pedagogia ao longo dos tempos.
Vamos descobrir que do Oriente ao Ocidente, a religiosidade evidenciou-
se como a primeira expressão de cultura, isto é, de um trabalho
especificamente humano de entender a si mesmo e o mundo em que vive
e passar adiante essas explicações por meio de contos e lendas orais,
desenhos e pictogramas, cerimônias e ritos que tinham a perspectiva
de mostrar aos mais jovens como aquele grupo perpetuava a si, a sua
identidade e a sua memória.

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1. O Surgimento da História e da
História da Educação
Na Antiguidade Oriental, por exemplo, Os Analectos
(Rongo) também conhecidos como Os diálogos
de Confúcio foram amplamente utilizados em um
período denominado “Era dos Estados Combatentes
(475-221 a.C.)”, quando o território da China enfrentava
as lutas de unificação, e era necessário o preparo de
homens para administração pública e para formação de um
exército forte e leal ao imperador.
Figura 1: Filósofo Confúcio. Fonte: Wikimedia.
O compêndio de vinte livros feito pelos discípulos do filósofo Confúcio,
que viveu na China entre os anos de 551 e 479 a.C. estabeleceu uma A sua escola foi sistematizada nos seguintes princípios:
base sistema educacional a partir das ideias de cumprimento do dever,
do condicionamento dos hábitos e da temperança dos espíritos para ▪ Ren, humanidade (altruísmo).
evitar os excessos. No confucionismo, uma sociedade capaz se traduzia ▪ Li, ou cortesia ritual.
na capacidade de seus homens em instruir-se, culturalmente, a atuar em ▪ Zhi, conhecimento ou sabedoria moral.
prol do bem-estar comum. ▪ Xin, integridade.
▪ Zhing, fidelidade.
▪ Yi, justiça, retidão, honradez.

Assim como na China, a veneração dos ancestrais e da família


influenciou diretamente o sistema de aprendizado da civilização

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nipônica. Além do próprio Rongo, o Kojiki, baseado nas histórias que
passaram de geração em geração, foi essencial para a instituição das
primeiras instruções no Japão.

A memorização foi a ferramenta pedagógica mais utilizada em ambos


os sistemas educacionais. Ter na ponta da língua os ensinamentos de
Confúcio e Lao-Tsé, fundador do taoísmo, do xintoísmo e do budismo
era, nessas sociedades, sinônimo da boa formação religiosa e, sobretudo,
educacional.

Os livros religiosos também foram a base da educação formal para


os indianos. A casta (O sistema de castas divide os hindus em quatro
categorias principais: Brahmins, Kshatriyas, Vaishyas e Shudras. Além das
castas há ainda os Achhoots, os Dalits, ou os Intocáveis) entretanto, era o
fator diferencial para que os ensinamentos fossem além da religiosidade
e pudessem abranger a Gramática, a Literatura, a Astronomia, a História, a
Filosofia, a Medicina e o Direito. Apenas aos brâmanes, que compunham
Figura 2: O Livro dos Provérbios. Fonte: Wikimedia.
a classe de professores e intelectuais, dava-se acesso a esses saberes,
porque se acreditava na descendência direta de Brahma, Deus da religião Uma escola que ficou bastante conhecida na história judaica foi a dos
hindu, considerado o criador do Universo, dos deuses e do conhecimento. “doutores da lei”, onde eram formados os juízes eruditos, cuja atividade
era estudar profundamente provérbios e parábolas e aplicá-las como
O Livro dos Provérbios, o Eclesiástico e o Levítico também estruturaram o
julgamento na vida social. “A escola elementar só surge mais tarde.
ensino para os judeus. Depois do cativeiro no Egito, além da educação
Tanto que a Bíblia nem fala dela. Só o Talmude, que é a coleção de
familiar, foi instituída a educação colegiada, que previa a reunião
tradições rabínicas que interpretam a lei de Moisés fala da escola”.
constante de sacerdotes e profetas para o estudo das Sagradas Escrituras.
(PILETTI, p.29, 2021)

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Com a instituição das religiões monoteístas essas duas grandezas:
religião e educação estiveram ainda mais próximas, uma vez que
foram instituídas as primeiras escolas confessionais, onde os jovens
deveriam ser educados, dentro daquilo que estabeleciam as doutrinas,
os usos e costumes de sua fé. Esses espaços educacionais, e suas
práticas, cruzaram os tempos históricos, perpassando pela Idade Média
e chegando à contemporaneidade, e permanecem como uma opção no
Sistema Educacional Brasileiro, por exemplo.

Entretanto, dois momentos devem ser analisados como práticas


pedagógicas muito distintas das religiosas, e que surgem em momentos
muito específicos da história da humanidade: a educação com base
filosófica e a educação com base científica, também chamada de laica.

Segundo Anísio Teixeira, “as relações entre filosofia e educação são


tão intrínsecas que John Dewey pôde afirmar que as filosofias são,
em essência, teorias gerais de educação”. (TEIXEIRA 1959, p. 14-
Figura 3: O Talmude, em uma edição moderna impressa. Fonte: Wikimedia.
27) Não há dúvidas que os primeiros filósofos foram também os
Um traço comum do sistema educacional das sociedades citadas era o primeiros professores, “procurando reformular os valores da sociedade
fato de que o método de ensino se baseava na memorização, na repetição e, na realidade, reformar a educação corrente”. (TEIXEIRA 1959, p. 14)
e na revisão. A rigidez era uma constante em todos os níveis de ensino, Transcendendo aos mitos, tratando os problemas à luz da razão,
tanto no espaço familiar quanto no espaço escolar, dado que a educação libertando-se da divindade essencial das coisas, assim surgiram os
era um instrumento de doutrinação religiosa, mas, sobretudo, social, pois primeiros “educadores profissionais”.
estabelecia os valores de moralidade, justiça, disciplina e obediência.

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2. A Educação ao Longo da História de esteio a uma educação voltada para formação pessoas (homens e
mulheres) fortes no físico e no intelecto, conforme os heróis descritos:
É no espaço da Hélade, ou da Grécia Antiga, que repousa a herança do homens políticos e concretos, que viviam em prol de uma comunidade.
Ocidente em relação às suas estruturas mais profundas: a família, o
Estado, a escola, os mitos educativos e os ritos.

‘‘ Um rico mostruário de modelos socioeducativos, que vão desde a polis grega


até a res-publica romana, características que se sobrepõem, se entrecortam,
se entrelaçam até formar o riquíssimo tecido da educação ocidental. (CAMBI
1999, p.37)
’’
É na Antiguidade Ocidental que a educação transpõe o processo de
formação do conhecimento a partir da simples memorização de fatos
e lendas religiosas para criação de uma teoria, ou seja, de uma reflexão
sistemática e rigorosa sobre os problemas humanos, “conformando aos
poucos o grande ideal da formação humana, social ou individual, na
perspectiva de ideais universais”. (GOERGEN 2006, p. 182)

Homero (Segundo o historiador grego Heródoto, Homero nasceu por


volta do ano 850 a.C. na Jônia, que é hoje a parte asiática da Turquia), o
autor das obras épicas Ilíada e Odisséia é considerado o primeiro grande
filósofo das humanidades. Isto é, o primeiro poeta a escrever sobre os
problemas relativos à sociedade e ao indivíduo, e não apenas sobre as
virtudes das divindades. Numa Grécia dividida em reinos independentes,
Figura 4: Odisseu arrebatado pela canção de Demódoco. Por Francesco Hayez, 1813-15.
com uma sociedade amplamente estratificada, essas obras serviram Fonte: Wikimedia.

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Longe dos profetas orientais, os filósofos: conservar seu poder de decisão dentro da sua sociedade. O discurso e a
oratória, nunca foram tão importantes para organização sociopolítica,
‘‘ aSentiam-se professores do povo e artífices de seus ideais. A poesia, a retórica e
filosofia, que são os grandes estilos de expressão da alma grega, bem como a
uma vez que, nesse momento, Atenas tornou-se o “centro do mundo” e
pintura, a escultura e a arquitetura, espelham os grandes ideais do corpo e do surgiu a democracia.
espírito, que dominaram a vida grega e deram origem ao ideal de formação do
Nesse contexto histórico, dois filósofos tiveram relevância na formação
homem belo e bom (GOERGEN, 2006, p. 184)
’’ da região helênica: Sócrates (470-399 a. C.) e Platão (428 a.C. - 347 a.C.).
A influência de Homero estendeu-se por todo o período grego e sobre O primeiro, o mestre, tinha como pilares a sabedoria e a prática do bem.
toda a cultura ocidental. O grande diferencial de suas obras fundamentais O melhor caminho para atingi-los seria o autoconhecimento, e a melhor
foi a sistematização de histórias populares do passado lendário, que forma de ensinar esse caminho aos jovens seria a maiêutica.
haviam sido transmitidas pela oralidade, e que davam explicações sobre
Inspirado nos trabalhos de uma mãe parteira, o filósofo acreditava
a Natureza, os homens e a vida em sociedade.
que a produção do conhecimento estava diretamente relacionada à
Mitos que, embora não estivessem distantes de uma ascendência das combinação de conceitos corretos, à interrogação e ao exame. Era uma
crenças, guardavam uma moral que não se aproximava daquela verdade “técnica de trazer a luz” através do jogo dialético, do questionamento
dogmática dos ensinos religiosos, estruturando um conhecimento. exaustivo que conduziria à verdade. O célebre autor da frase “só sei que
Os deuses, em sua visão antropomórfica, apresentavam as fraquezas nada sei”, morreu acreditando que permanecer passivo diante da própria
humanas, mas guardavam em si os ideais e valores aspirados por todos ignorância seria o maior dos males que poderia atingir a humanidade.
os gregos.
‘‘ sePodes me dizer, Sócrates: a virtude é coisa que se ensina? Ou não é coisa que
ensina, mas se adquire pelo exercício? Ou nem que se adquire pelo exercício
Com o surgimento das cidades-Estados (pólis), no século VIII a. C. e o
nem coisa que se aprende, mas algo que advém aos homens por natureza ou
apogeu da vida comunitária nos séculos VI e V a.C., a mentalidade
política se traduziu na formação do cidadão. Isto é, o homem de vida
por alguma outra maneira? (PLATÃO 2001, p.19)
’’
pública, que participa das decisões do Estado na ágora (assembleias), Sócrates não deixou nada escrito, todo conhecimento sobre sua obra
que ritualiza suas crenças e que necessita do logos (razão) para vem de seu principal discípulo: Platão, que o representa nos diálogos

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Mênon. Além de apresentar sua dialética, isto é, a arte de pensar, consulado em 63 a.C. A obra De Officiis, foi escrita no intuito de ensinar
questionar e hierarquizar ideias, diferentemente de seu mestre, ele ao próprio filho os valores e os deveres, no sentido de torná-lo um
expõe o pensamento sobre uma possibilidade muito individualizada de cidadão útil à República.
se alcançar o conhecimento.
A educação romana visava, sobretudo, o ideal coletivo que consagrava
Segundo Platão, apenas algumas pessoas possuíam a capacidade de o indivíduo ao Estado. Formar o cidadão significava, para Cícero, instruí-
adquirir o conhecimento, estes seriam os filósofos. A educação formal lo para o bem comum, para utilidade comum (communis utilitatis), para
estaria diretamente voltada para a formação moral dos indivíduos; essa manter a sociedade unida e próspera.
tarefa cabia ao Estado, uma vez que dependia de um “bom governo”. O
mito da caverna, a Metafísica e a República são as obras mais conhecidas ‘‘ oQuem for cidadão grave, forte e digno de estar no governo, deve [...] empregar
seu préstimo a favor do Estado, deixando-se de riquezas e poder, e orientando
da filosofia platônica. sempre suas ações no bem comum: nem acusará alguém falsamente para lhe
atrair o ódio ou a inveja dos outros, e conservará firmemente a justiça e o decoro,
Outro grande filósofo humanista do mundo grego foi Aristóteles (385 –
mesmo com prejuízo seu, preferindo perder a vida a faltar ao cumprimento
322 a.C.). Além de discordar de Platão quanto à eficácia da democracia,
pensava o mesmo acerca do princípio educacional da reminiscência. O
desses graves deveres. (CÍCERO 1986, p. 155)
’’
jovem deveria aprender não pela busca, mas pelo exemplo. O caminho Finda República e instituído o Império Romano, Lúcio Aneu Sêneca
do conhecimento seria a arte da experiência, da dedução. A educação (4 a.C – 65 d.C), foi um dos mais influentes pensadores de sua época,
teria, por finalidade, a felicidade e o bem, assim como o bom intelecto, a ilustre representante do estoicismo. Linha filosófica baseada na ideia
retidão de caráter, a virtude. de que o homem deveria se dedicar ao conhecimento para entender
a ordem e o funcionamento do cosmos, na valorização do ensino da
Os gregos influenciaram diretamente na educação romana. Marco Túlio
ética e na reflexão.
Cícero (106 – 46 a. C.) viveu em Atenas, e foi responsável por introduzir
as ideias de Platão na vida pública. O título de pater pátria (o pai da Entretanto, Sêneca priorizou uma filosofia que transcendia à pura
pátria) foi conferido pelo Senado por sua atuação como grande orador e especulação teórica para se converter em uma doutrina prática. A
estadista na supressão da Segunda Conspiração de Catilina durante seu educação era o caminho para formação de um homem sábio e virtuoso,

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porém, não no sentido grego. A formação intelectual destinava-se o Dos seus tratados, Da Educação das Crianças é o único cujo foco é,
jovem a viver bem e a ter uma boa conduta de vida. Portanto, revestia-se exclusivamente, a educação do período greco-romano desde a infância
de um espírito totalmente prático. até a adolescência. Ainda que considerado apócrifa, isto é, escrito por
Para finalizar a antiguidade clássica, Lúcio Méstrio Plutarco (46-119), seus discípulos, a obra sintetiza a intenção de abordar a diferenciação
o biógrafo dos imperadores, faz um paralelo entre a educação e a de dois tipos de educação que podem e devem coexistir: a educação
agricultura. Assim como o processo de plantio depende de uma boa terra, feita no âmbito familiar, voltada para formação moral das crianças e
um agricultor capacitado e boas sementes para uma produção valorosa, formação intelectual dos jovens, feita exclusivamente pelos mestres.
ensinar e aprender dependem da natureza: arte e hábito.
2.1 A Idade Média: um Retorno ao Pensamento Religioso
As transformações causadas pela queda do Império Romano, em 476
d.C., ocorridas pelas invasões dos povos germânicos, assim como a
expansão progressiva da Igreja Católica, que se manteve como única
instituição centralizada de poder, tiveram ingerência direta na cultura e,
portanto, na educação na Europa. O processo educacional passou a ser
responsabilidade da Igreja.

Havia escolas que funcionavam anexas às catedrais e escolas monásticas,


que funcionavam nos mosteiros. O cônego, scholarius ou scholasticus,
dirigia a instituição de ensino, enquanto, clérigos de ordens menores
lecionavam as chamadas sete artes liberais (trivium e quadrivium):
gramática, dialética, retórica, aritmética, geometria, música e astronomia.
Nas Universidades, o decano era o diretor, e quatro eram as cadeiras:
Artes, Direito, Teologia e Medicina. Os cursos eram ministrados em latim,
Figura 5: Lúcio Méstrio Plutarco. Fonte: Wikimedia. considerada a língua dos intelectuais.

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O trivium tinha por objetivo ensinar a própria mente, isto é, as leis às quais Com Santo Agostinho, a patrística, vertente filosófica que faz referência
obedece ao pensar e expressar seu pensamento, e, reciprocamente, as regras às aos primeiros padres da Igreja Católica, tornou-se a base educacional
quais deve sujeitar-se para pensar e expressar-se corretamente. Tal é, com efeito, a
até o século VIII, aproximando o pensamento cristão e o conhecimento
meta da gramática, da retórica e da dialética. Esse triplo ensino é, pois, totalmente
formal. Manipula unicamente as formas gerais do raciocínio, abstração feita de sua religioso do ensino formal. Como processo de aprendizagem, é
aplicação às coisas, ou com o que é ainda mais formal do que o pensamento, ou considerado, a partir dessa aproximação, um estado contemplativo, seu
seja, a linguagem. fracasso dar-se-á pela “repetição cansativa do conhecimento, reduzida
(...) O quadrivium era um conjunto de conhecimentos relacionados com as coisas. inteligência do educando e desatenção do aluno” (PILETTI 2021, p. 54),
Seu papel era tornar conhecidas as realidades externas e suas leis, leis dos números,
assim como seu sucesso levará à “paz da alma”.
leis do espaço, leis dos astros, leis dos sons. Assim, as artes que abraçava eram
chamadas artes reales ou physica. (DURKHEIM, 1995, p. 52) A invasão árabe na Europa (711-1942) trouxe muitas inovações à
Aurélio Agostinho de Hipona (354-430), conhecido universalmente como vida intelectual. A introdução dos pensamentos dos Al Kindi (808-
Santo Agostinho, foi um dos mais importantes teólogos e filósofos nos 870), Alfarabi (880-950), Avicena (979-1037) e Averróis (1126-1198)
primeiros séculos do cristianismo. Suas obras-primas, De Civitate Dei (“A possibilitaram a circulação da Ciência, da Química, da Matemática e
Cidade de Deus”) e Confissões, foram os pilares da chamada “antiguidade da Física e da Astronomia em um mundo amplamente cristianizado. O
tardia” ou início da Era Medieval. Alcorão, Livro Sagrado, era a base da educação árabe e, portanto, leitura
obrigatória, entretanto, estudos como O Comentador, um compêndio
Entretanto, o texto De Magistro (389), constituído basicamente por um
de análises sobre o aristotelismo, conciliavam a religião à filosofia,
diálogo entre São Agostinho e Adeodato, seu filho, será o referencial
viabilizando um conhecimento que escapava à doutrinação da fé.
da estrutura educacional da época. A obra tem por objetivo a discussão
sobre a problemática da comunicação, ou melhor, a finalidade da fala Segundo Averróis, a fé não deve abolir a razão, assim como a filosofia
no processo de ensino, a necessidade de conhecer o significado e o deve auxiliar na interpretação e no desenvolvimento da verdade
conceito das palavras, com vistas a que elas pudessem ser utilizadas revelada no Alcorão. Portanto, a produção do conhecimento, o processo
adequadamente no ensino, o papel do latim; o ensino retórico da língua; educacional deve ser constituído a partir da investigação racional,
a imagem da filosofia, como lógica e metafísica. coerente, lógica e histórica.

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Santo Tomás de Aquino (1224/5-1274) foi um dos principais A Suma Teológica, principal obra do filósofo, constituía-se de questões
pensadores da Escolástica. Foi ele que, na esteira dos comentários sobre a natureza humana, a partir de suas duas potências: o intelecto e
produzidos pela filosofia árabe da época, “batizou” o pensamento do a vontade. A educação, na concepção do seu autor, consistia em propiciar
filósofo grego Aristóteles. ao indivíduo a realização plena de suas potências enquanto ser humano.
Isto é, o caminho pelo qual o homem pode desenvolver o intelecto e
‘‘ Anasescolástica foi um método de pensamento e de ensino que surgiu e se formou
escolas medievais e se plasmou de modo inexcedível nas universidades do a vontade, passando a usar o livre-arbítrio conscientemente (LE GOFF,
século XIII, máxime através do magistério e das obras de Santo Tomás de Aquino. 1995). E Deus seria seu principal agente nesse processo.
O termo escolástica, porém, significa ainda o conjunto das doutrinas literárias,
filosóficas, jurídicas, médicas e teológicas, e mais outras científicas, que se
elaboraram e corporificam no ensino das escolas universitárias do século XII ao
século XV, pois não nos cabe considerar a Segunda Escolástica que floresceu na
época do Renascimento. (NUNES,1979, p. 244)
’’
O método de ensino consistia, basicamente, em dois gêneros de
discussão filosófica: lectio e disputatio. No primeiro, o mestre lia e
analisava com seus alunos, os textos e autores de estimada relevância
histórica, como as Sagradas Escrituras (Teologia) e Aristóteles
(Filosofia). Depois, eram levantados temas de importância social,
que eram discutidos à luz dessas autoridades e sob uma perspectiva
dialética: leitura e estudo, basicamente.

a. Teoria.
b. Problema.
c. Hipótese.
d. Experimentação das hipóteses.
e. Solução do problema.

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Considerações Finais: Referências
Assim, vimos que o século XVI foi marcado por uma série de BUENO, A. (org.). Antigas leituras: visões da China Antiga. União da
transformações na sociedade europeia: a ascensão burguesa, a Vitória: Unespar, 2014.
intensificação do comércio, a expansão colonialista corrompendo a visão
teocêntrica instituída durante a Idade Média. CAMBI, F. História da pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999.

Com as Grandes Navegações, o Velho Mundo se expandia para além do CÍCERO, M. T. De Officiis. Rio de Janeiro: Livraria H. Antunes Ltda.
Atlântico e Mediterrâneo, descortinando novas culturas, novas filosofias Editora, 1986.
e humanidade completamente inusitada.
DURKHEIM, E. A igreja primitiva e o ensino. A evolução pedagógica. Porto
Afinal, no mesmo momento em que o monge Martinho Lutero fixava, em Alegre: Artes Médicas, 1995, p.52.
31 de outubro de 1517, suas 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg,
pondo em discussão as contradições do cristianismo. GOERGEN, P. De Homero e Hesíodo ou das origens da filosofia e da
educação. Pro-Posições, v. 17, n. 3 (51) - set./dez. 2006.

LE GOFF, J. Os intelectuais na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1995.

NUNES, R. Capítulo IX A escolástica. In: NUNES, R. História da Educação


na Idade Média. São Paulo: Edusp, 1979, p. 244.

PILETTI, C. PILETTI, N. História da educação: De Confúcio a Paulo Freire.


São Paulo: Contexto, 2021.

PLATÃO. Mênon. Rio de Janeiro: PUC-Rio/Loyola, 2001.

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TEIXEIRA, A. Filosofia e educação. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 32, n. 75, jul./set., 1959.

WEBER, M. Religião da China: Confucionismo e Taoísmo. Curitiba: Antônio


Fontoura, 2018.

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