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O Estado Novo e as Novas Diretrizes Educacionais:
A Ideologia do Estado e a Educação como
Instrumento do Estado
Sumário
O Estado Novo e as Novas Diretrizes Educacionais: A
Ideologia do Estado e a Educação como Instrumento
do Estado
Desenvolvimento do material
Patricia Wanzeller Para início de conversa... ................................................................................. 3
Objetivos ..................................................................................................... 3
1. A Educação e a Ideologia do Estado ....................................................... 4
1ª Edição
Copyright © 2021, Afya.
2. Novas Tendências na Formação
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, de Professores ............................................................................................... 6
transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico,
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
2.1 A Reforma de Francisco Campos ....................................................... 8
autorização, por escrito, da Afya. 2.2 A Reforma de Gustavo Capanema (1934-1945) ........................... 16
3. O Estado Novo (1937-45) ......................................................................... 20
3.1 As Leis Orgânicas de Ensino ................................................................... 24
Referências .......................................................................................................... 27
Para início de conversa... Objetivos
Neste capítulo, vamos aprender que, a partir da Revolução de 1930, a ▪ Contextualizar a influência do Estado Novo nas diretrizes
centralização política e econômica voltou a ser vigente no Brasil. A figura educacionais.
de Getúlio Vargas surgiu com a intenção de ser responsável por grandes ▪ Analisar as novas tendências de formação de professores e as
mudanças no país e, com esse fim, criou o Ministério da Educação e consequências na Educação Básica.
Saúde Pública e implantou a Reforma Francisco Campos, que organizou
os ensinos secundário e superior no Brasil.
Veremos que a Universidade do Brasil foi criada por lei oriunda do Poder
Legislativo, em 5 de julho de 1937, ainda antes do Estado Novo, dando
continuidade à antiga Universidade do Rio de Janeiro, criada na década
de 1920 como uma reunião das escolas superiores existentes na cidade.
▪ Decreto n° 19.404, de 3 de outubro de 1930, que permitia a promoção No seu primeiro ano de funcionamento, a UDF inaugurou os primeiros
escolar por frequência; cursos de formação de professores e de especialização em diversas
▪ Decreto n° 19.444, de 1 de dezembro de 1930, que ampliava a disciplinas. Para seu corpo docente foi articulada a vinda de uma
estruturação do Ministério da Educação. missão francesa composta de professores de diferentes áreas, como
Eugène Albertini, Henry Hauser, Jacques Perrot, entre outros. Sobre isso,
transcrevem-se, em seguida, alguns trechos do Decreto nº 5.513, de 4 de
2. Novas Tendências na Formação abril de 1935:
de Professores Art. 4º O Instituto de Educação, que tem por fim prover a formação
do magistério e concorrer, como centro de documentação e pesquisa,
Em 1932, Anísio Teixeira encabeçou as reformas educacionais no Rio de para a formação de uma cultura pedagógica nacional, fica diretamente
Janeiro, inspiradas em um movimento renovador que visava à criação de incorporado à universidade pela sua atual Escola de Professores,
A novidade já havia sido anunciada em 1931, quando Francisco Campos O grupo católico defendia que a educação deveria partir, principalmente,
estava à frente do Ministério da Educação e assinou um decreto da iniciativa privada, com separação de sexos, sendo a responsabilidade
fosse pública, gratuita, laica e obrigatória, com um Plano Nacional de Art. 5º Constituem atribuições fundamentais do Conselho: I-retirar: a) colaborar
com o Ministro na orientação e direção superior de ensino; b) promover e estimular
Educação que proporcionasse unidade à educação no país. Assim, um
iniciativas em benefício da cultura nacional, e animar atividades privadas, que
dos primeiros atos foi a criação do Conselho Nacional de Educação, pelo
se proponham a colaborar com o Estado em quaisquer domínios da educação; c)
Decreto nº 19.850, de 11 de abril de 1931. sugerir providências tendentes a ampliar os recursos financeiros, concedidos pela
União, pelos Estados ou pelos municípios à organização e ao desenvolvimento
Decreto nº 19.850, de 11 de abril de 1931
do ensino, em todos os seus ramos; d) estudar e emitir parecer sobre assumptos
Art. 1º Fica instituído o Conselho Nacional de Educação, que será o órgão consultivo
de ordem administrativa e didática, referentes a qualquer instituto de ensino, que
do ministro da Educação e Saúde Pública nos assuntos relativos ao ensino.
devem ser resolvidos pelo Ministro; e) facilitar, na esfera de sua ação, a extensão
Art. 2º O Conselho Nacional de Educação destina-se a colaborar com o Ministro nos universitária e promover o maior contacto entre os institutos técnicos-científicos e o
altos propósitos de elevar o nível da cultura brasileira e de fundamentar, no valor ambiente social; f) firmar as diretrizes gerais do ensino primário, secundário, técnico
intelectual do indivíduo e na educação profissional apurada, a grandeza da Nação. e superior, atendendo, acima de tudo, os interesses da civilização e da cultura do
§ 1º Os membros do Conselho Nacional de Educação serão escolhidos de acordo país. (BRASIL, 1931a)
com os seguintes itens: I - Um representante de cada universidade federal ou
equiparada; II - Um representante de cada um dos institutos federais de ensino do De certa forma, Francisco Campos caminhou para fundir as principais
direito, da medicina e de engenharia, não incorporados a universidades; III - Um ideias dos grupos. Entre 1931 e 1932, foram editados dois decretos que
representante do ensino superior estadual equiparado e um do particular também reorganizaram o Ensino Secundário no país, sendo o primeiro o Decreto
equiparado; IV - Um representante do ensino secundário federal; um do ensino nº 19.890, de 18 de abril de 1931:
secundário estadual equiparado e um do particular também equiparado; V - Três
membros escolhidos livremente entre personalidades de alto saber e reconhecida Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931
capacidade em assumptos de educação e de ensino. Art. 1.º O ensino secundário, oficialmente reconhecido, será ministrado no Colégio
§ 2º Será membro nato do conselho o diretor do Departamento Nacional do Ensino. Pedro II e em estabelecimentos sob regime de inspeção oficial.
Art. 4º O Conselho Nacional de Educação não terá atribuições de ordem administrativa, Art. 2º. O ensino secundário compreenderá dois cursos seriados: fundamental e
mas opinará em última instância sobre assuntos técnicos e didáticos e emitirá complementar.
parecer sobre as questões administrativas correlatas atendidos os dispositivos
Dispõe sobre o uso da ortografia simplificada do idioma nacional nas repartições 2º - A Academia das Ciências de Lisboa aceita as modificações propostas pela
públicas e nos estabelecimentos de ensino. O Chefe do Governo Provisório Academia Brasileira de Letras e constantes das referidas bases;
da República dos Estados Unidos do Brasil, considerando a vantagem de dar 3º - As duas Academias examinarão em comum as dúvidas que de futuro se suscitarem
uniformidade à escrita do idioma nacional, o que somente poderá ser alcançado por quanto à ortografia da língua portuguesa;
um sistema de simplificação ortográfica que respeite a história, a etimologia e as 4º - As duas Academias obrigam-se a empregar esforços junto aos respectivos
tendências da língua: Governos, a fim de, em harmonia com os termos do presente acordo, ser decretada
Resolve: nos dois países a ortografia nacional. [...] (BRASIL, 1931e)
Com o Estado Novo, Vargas fechou o Congresso Nacional, acabou com Art. 125. A educação integral da prole é o primeiro dever e o direito natural dos
os partidos políticos e outorgou a Constituição de 1937, a qual dava pais. O Estado não será estranho a esse dever, colaborando, de maneira principal
ou subsidiária, para facilitar a sua execução ou suprir as deficiências e lacunas da
plenos poderes ao Executivo. A Carta Constitucional, imposta em 1937,
educação particular.
foi instrumento de notável retrocesso em matéria educacional. Além
Art. 129. A infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à educação
disso, parte das conquistas alcançadas com a Constituição de 1934 foi
em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios
descaracterizada pela Constituição do “Estado Novo”. assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em todos os seus grãos,
a possibilidade de receber uma educação adequada às suas faculdades, aptidões e
Com o fechamento do Congresso, o Ministério da Educação teve muito
tendências vocacionais.
mais liberdade de ação, com o presidente legislando por meio de
O ensino pré-vocacional profissional destinado às classes menos favorecidas é, em
decretos-leis. Com isso, foi criado, por exemplo, o Serviço do Patrimônio
matéria de educação, o primeiro dever do Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse
Histórico Artístico e Nacional (SPHAN), pelo Decreto n° 378, de 13 de dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos
Tais diretrizes voltadas para a profissionalização, atendendo a uma II. Criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai),
demanda do mercado em expansão, tornam-se mais nítidas e organizadas Decreto n° 4.048, de 22 de janeiro de 1942
com as chamadas Leis Orgânicas de Ensino, na gestão Capanema,
Decreto-Lei nº 4.048, de 22 de janeiro de 1942
aprovadas a partir de 1942. O ginásio, equivalente ao segundo ciclo do
Ensino Fundamental de hoje, passou a ter quatro anos, e o colegial – o Art. 1º Fica criado o Serviço Nacional de Aprendizagem dos Industriários.
atual Ensino Médio – três. Foi criado o curso supletivo de dois anos para Art. 2º Compete ao Serviço Nacional de Aprendizagem dos Industriários organizar e
administrar, em todo o país, escolas de aprendizagem para industriários.
a população adulta, e a rede pública foi organizada em escolas com uma
ou mais classes, além da escola supletiva. Parágrafo único. Deverão as escolas de aprendizagem, que se organizarem, ministrar
ensino de continuação e do aperfeiçoamento e especialização, para trabalhadores
As Leis Orgânicas de Ensino promulgadas por Gustavo Capanema foram industriais não sujeitos à aprendizagem.
quatro. São elas: Art. 3º O Serviço Nacional de Aprendizagem dos Industriários será organizado e
dirigido pela Confederação Nacional da Indústria.
I. Lei Orgânica do Ensino Industrial, criada a partir do Decreto n° 4.073, Art. 4º Serão os estabelecimentos industriais das modalidades de indústrias
de 30 de janeiro de 1942 enquadradas na Confederação Nacional da Indústria obrigados ao pagamento de
uma contribuição mensal para montagem e custeio das escolas de aprendizagem.
Decreto-Lei nº 4.073, de 30 de janeiro de 1942
(BRASIL, 1942a)
Art. 1º Esta lei estabelece as bases de organização e de regime do ensino industrial,
que é o ramo de ensino, de grau secundário, destinado à preparação profissional dos III. Reforma da Legislação para o Ensino Secundário, com o Decreto-Lei
trabalhadores da indústria e das atividades artesanais, e ainda dos trabalhadores n° 4.244, de 9 de abril de 1942
dos transportes, das comunicações e da pesca.
Art. 2º Na terminologia da presente lei: a) o substantivo “indústria” e o adjetivo Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de 1942
“industrial” têm sentido amplo, referindo-se a todas as atividades relativas aos Art. 1º O ensino secundário tem as seguintes finalidades: 1. Formar, em prosseguimento
trabalhadores mencionados no artigo anterior; b) os adjetivos “técnico”, “industrial” da obra educativa do ensino primário, a personalidade integral dos adolescentes; 2.
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do Ensino Normal. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/
fed/decret/1930-1939/decreto-21241-4-abril-1932-503517-
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