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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
BRASÍLIA – DF
MAIO - 2004
UNB – UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência
da Informação e Documentação - FACE
Programa de Pós Graduação em Administração – PPGA
BRASÍLIA – DF
MAIO - 2004
UNB – UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência
da Informação e Documentação - FACE
Programa de Pós Graduação em Administração – PPGA
Washington Olivetto
AGRADECIMENTOS
À luz das teorias mais recentes sobre o empreendedorismo, esse estudo tem como
objetivo principal identificar qual é o potencial empreendedor de pequenos empresários de
Brasília. O referencial teórico revisado deu origem a uma matriz de características
empreendedoras que permitiu identificar o empreendedor como a pessoa que identifica uma
oportunidade, utiliza-se de criatividade para aproveitá-la, sendo capaz de implementar a sua
idéia, mesmo que corra riscos moderados, realizando com sucesso todo o processo de
inovação. Uma segunda matriz de características empreendedoras foi criada a partir da análise
do discurso de grande empresários brasileiros e foi observado elevado grau de concordância
entre o grupo de autores e o grupo de empresários quanto a três dos quatro fatores. O Carland
Entrepreneurship Index - CEI foi utilizado como instrumento para medir o potencial
empreendedor de uma amostra de 169 pequenos empresários do setor de serviços, donos de
restaurantes e academias de Brasília. Os resultados apresentados mostraram um potencial
empreendedor moderado na amostra, sendo que o fator idade apresentou variação na média de
pontuação no instrumento. Além disso, a amostra apresentou maior potencial empreendedor
nos fatores risco e busca de oportunidades. Entretanto, a validação estatística do CEI mostrou
que a escala, neste estudo, apresentou-se frágil quanto à validade e fidedignidade, sugerindo
uma adaptação do instrumento.
In the light of the most recent theories about entrepreneurship, the main objective of
this study is to quantify the entrepreneurial drive of small businessmen of Brasília, Brazil. The
analysis of previous studies by researchers originated a matrix of entrepreneurial
characteristics which allowed to identify the entrepreneur as the person who identifies an
opportunity, uses creativity to make the best of it, being capable to implement his idea, even
taking some risks, successfully doing the innovation process. A second matrix of
entrepreneurial characteristics was created based on the analysis of the speech of great
Brazilian businessmen and it showed an elevated degree of agreement between the group of
researchers and the group of businessmen regarding three of the four characteristics. The
Carland Entrepreneurship Index (CEI) was used to measure the entrepreneurial drive of a
sample composed of 169 small businessmen owners of restaurants and gyms in Brasília. The
results showed a moderate entrepreneurial drive, but the age factor showed variations in the
mean score. Moreover, the sample showed increased entrepreneurial drive regarding the
factors risk taking and opportunity seeking. However, statistic validation of the instrument
showed that the scale, in this study, appeared weak regarding validity and fidelity, suggesting
an adaptation of the instrument.
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 14
2.1 Pequenas Empresas .............................................................................................. 14
2.2 Empreendedorismo ............................................................................................... 17
2.2.1 Características Empreendedoras ................................................................... 23
2.3 Inovação .............................................................................................................. 40
2.4 Criatividade .......................................................................................................... 44
2.5 Correr Riscos ........................................................................................................ 49
2.6 Empreendedor: conceito deste estudo .................................................................. 51
3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 52
3.1 Caracterização da Pesquisa ................................................................................... 52
3.2 População ............................................................................................................. 52
3.3 Amostra ................................................................................................................ 52
3.4 Coleta de Dados .................................................................................................... 58
3.4.1 Instrumento de Coleta de Dados - CEI – Carland Entrepreneurship Index . 58
3.5 Procedimento de Coleta de Dados ........................................................................ 60
3.6 Análise de Dados .................................................................................................. 61
3.6.1 Análise Bibliográfica ..................................................................................... 62
3.6.1.1 Wollheim, B.; Marcondes, P. Empreendedor não é brincadeira - 2003 62
3.6.1.2 Mendonça, L. C. Empresários vencedores e suas histórias de sucesso
– 2002 .................................................................................................... 66
3.6.1.3 Britto, F. e Wever, L. Empreendedores Brasileiros: vivendo e
aprendendo com grandes nomes – 2003 ............................................... 68
3.6.2 Análise Estatística ......................................................................................... 71
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 73
4.1 Resultados - Objetivo Específico 1 - Matriz de Fatores Empreendedores ............ 73
4.2 Resultados - Objetivo Específico 2 - Matriz de Fatores Empreendedores ............ 78
4.3 Resultados - Objetivo Geral ................................................................................... 84
4.4 Resultados - Objetivo Específico 3 – Validação estatística do CEI ...................... 94
4.5 Resultados - Objetivo Específico 4 – Variáveis biográficas e funcionais e o
potencial empreendedor ................................................................... 102
5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................. 108
LISTA DE TABELAS
TABELA 18 Comparação entre sexo dos funcionários e média da soma dos escores do
CEI ............................................................................................................... 102
TABELA 19 Comparação entre renda familiar e média da soma dos escores do CEI ..... 103
TABELA 20 Comparação entre número de funcionários e média da soma dos escores
do CEI .......................................................................................................... 103
TABELA 21 Comparação entre grupos de tempo de funcionamento e média da soma
de escores do CEI ........................................................................................ 104
TABELA 22 Comparação entre grupos de faixa etária e média da soma dos escores do
CEI ............................................................................................................... 105
TABELA 23 Comparaçãoentre níveis de escolaridade e média da soma de escores do
CEI ............................................................................................................... 106
TABELA 24 Comparação entre estado civil e média da soma de escores do CEI .......... 106
LISTA DE FIGURAS
1. INTRODUÇÃO
nacional, reforçando a idéia de que a pequena empresa é responsável, diretamente, pelas taxas
de emprego e produção nacional, como pode ser observado no quadro a seguir:
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Da mesma forma, Van Hoorn (1979) identifica cinco características que apresentam
traços comuns nos pequenos negócios: procedimentos administrativos, recursos humanos,
atividades específicas, recursos e responsabilidades. Para esse autor, os procedimentos
administrativos necessários para avaliar regularmente a situação estratégica e exercer o
controle são pouco desenvolvidos ou quase inexistentes nas pequenas empresas. A segunda
característica que Van Hoorn (1979) aponta é a de que a maior parte dos membros da
administração são pessoas cujos conhecimentos foram adquiridos na prática do trabalho
quotidiano. Isto é, os dirigentes de pequenos negócios estabelecem estratégias confiando em
informações e experiências armazenadas em sua memória. A seguir, esse autor considera que
as pequenas empresas estão limitadas a um número comparativamente pequeno de atividades
(que incluem produtos, tecnologias, serviços, know-how), predominantemente dirigidas a um
grupo específico de consumidores ou a algumas regiões geográficas. Portanto, essas empresas
têm uma base comercial mais limitada do que as grandes empresas e, com isso, são mais
vulneráveis às mudanças bruscas, sendo mais raras suas oportunidades para diversificar o
risco através do gerenciamento da linha de produtos.
A quarta característica citada por Van Hoorn (1979) é a de que as pequenas empresas
possuem recursos e capacidades comparativamente limitados, especialmente quanto ao capital
(os empréstimos são difíceis e o fluxo de caixa é reduzido) e à formação profissional do
pessoal (principalmente da administração e da assessoria). Então, na visão desse autor, a
capacitação e a informação para a administração estratégica adequada parecem ser,
freqüentemente, insuficientes; e ele aponta ainda como uma barreira não apenas a condição
diminuta da empresa, mas como, também, a atitude dos dirigentes.
Nessa linha, Van Horn (1979) comenta que uma quinta característica das pequenas
empresas é estarem os cargos administrativos e alguns conjuntos de atividades
freqüentemente sob a responsabilidade de membros da família do fundador da empresa, o que,
conforme o autor, eleva a presença de argumentos não racionais no processo de tomada das
decisões estratégicas importantes.
As pequenas empresas, na visão de Lima (1999), são geralmente "organizações de
uma só cabeça", isto é, organizações onde o dirigente tem uma auto-suficiência muito
acentuada. Nesta situação, a estrutura organizacional mais comum é a chamada "estrutura
simples”, ou seja, a estrutura pouco elaborada.
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Para que as pequenas empresas aumentem as suas chances de sucesso, ou mesmo para que
reduzam o risco de não sobreviver, segundo esse autor, os pequenos empresários necessitam
desenvolver as suas características empreendedoras, o que não só é de interesse da própria
empresa como também uma responsabilidade para com a sociedade.
Nesse mesmo sentido, num atual contexto de incertezas e desafios, Souza (2001a, p.
32) destaca que:
(...) o desenvolvimento e até mesmo a sobrevivência das organizações
depende, em grande parte, da formação e da capacitação de seus atores. Essa
formação, que cada vez mais necessita permear todo o processo de vida das
pessoas, está voltada não só para conhecimentos e habilidades, mas,
também, busca a criatividade e a auto-realização do indivíduo, o que
expressa um dos aspectos fundamentais do empreendedorismo.
2.2 Empreendedorismo
Segundo Souza Neto (2001), o uso mais antigo do termo empreendedorismo registra-
se na história militar francesa, no século XVII e fazia referência a pessoas que se
comprometiam em conduzir expedições militares. O mesmo autor atribui a um irlandês, do
século XVIII, Richard Cantillon (1697 – 1734), o primeiro uso do termo entrepreneur no
contexto empresarial, para se referir a alguém que compra bens e serviços a certos preços com
vistas a vendê-los a preços incertos no futuro.
O surgimento do termo empreendedorismo, na visão de Filion (1997), deu-se, no
século XIX, através de pessoas que aproveitavam oportunidades de obter lucros assumindo os
riscos inerentes à atividade. Essas pessoas eram responsáveis por adquirir um produto em seu
estado bruto, desenvolvê-lo e vendê-lo a um preço maior. Ainda no século XIX, os
economistas passam a ver o empreendedor como aquele que transfere recursos econômicos de
um setor de produtividade mais baixa para um setor de produtividade mais elevada e de maior
rendimento, como um agente da mudança.
A forma de empreender por meio das pequenas empresas, na visão de Dolabela
(1999), foi primeiro percebida, na década de 1920, pelos ingleses, que criaram grupos de
pesquisas para estudar a importância da pequena empresa na economia pós Primeira Guerra
Mundial. Uma das descobertas dessas pesquisas foi que os pequenos negócios geravam mais
empregos do que as grandes organizações. Os estudos não pararam aí, tendo sido observado
que os pequenos negócios surgem quando as circunstâncias não favorecem a produção em
massa das grandes empresas e sua conseqüente economia de escala.
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citam como exemplo disso a criação de uma divisão de estudos nessa área pela Academy of
Management, em 1987, que definiu o empreendedorismo como:
Ainda segundo esses autores, a Universidade de Harvard, desde 1946, possui linha de
pesquisa e estudos específicos sobre o empreendedorismo, definindo o termo como a busca de
oportunidades, além dos recursos tangíveis, correntemente controlados; descrevendo, assim,
uma maneira de gerenciar muito mais do que uma função econômica específica ou
características de um indivíduo.
Gimenez, Inácio e Sunsin (2001, p.11) apresentam a definição de empreendedorismo
do Centro para Empreendedorismo Arthur M. Blank, do Babson College como:
Enquanto essa expansão é notável, também fica aparente, para os autores, o aspecto
descontínuo das pesquisas sobre empreendedorismo, bem como sua falta de unidade com os
trabalhos anteriores.
Brazeal e Herbert (2000) consideram que a questão da unidade de análise e a questão
da generalidade tornam mais complexos os estudos sobre o empreendedorismo. Embora esse
campo de estudo tenha recentemente testemunhado o desenvolvimento de estruturas
conceituais mais inclusivas e a utilização de técnicas estatísticas mais sofisticadas, não tem
alcançado seu pleno potencial como um campo com aplicabilidade gerencial substantiva. Para
esses autores a pesquisa sobre empreendedorismo estaria sofrendo "a amargura do
crescimento".
A gênese da aparente fragmentação do estudo do empreendedorismo, na visão de
Brazel e Herbert (2000), pode residir em questões comparativamente básicas e não resolvidas,
como uma falha na articulação de uma definição operacional do fenômeno do
empreendedorismo, bem como a sua relação com a mudança, a inovação, a aprendizagem, a
criatividade, e facções separadas do empreendedorismo.
Wortman (1987) observou uma emergente fragmentação do campo do
empreendedorismo, em adição à falta de integração e ao cultivo de um rumo distinto para as
pesquisas. Esse autor postulou que os estudos do empreendedorismo estavam sofrendo por
falta de questões de conteúdo, aplicações estatísticas não rigorosas e falta de significância
prática.
Contrapondo os argumentos levantados por Brazeal e Herbert (2000), e no sentido de
explicar a aparente falta de continuidade da pesquisa empírica sobre empreendedorismo,
Gartner (1989) e Wortman (1987) chamam a atenção para a natureza complexa da disciplina.
Particularmente, os autores consideram desafiantes as decisões relacionadas às variáveis
independentes que seriam estudadas, as formas que essas variáveis devem ser
operacionalizadas, as abordagens mais apropriadas para reunir os dados e as técnicas que
devem ser usadas para analisar os dados.
Nessa mesma linha de pensamento, Filion (1997) defende que o desenvolvimento do
empreendedorismo não segue o padrão de outras disciplinas. Esse autor comenta que um
grande número de pesquisadores, cada um usando uma cultura, uma lógica e uma
metodologia estabelecidas em graus variados em seus próprios campos, demonstram interesse
em trabalhar no campo da disciplina.
Os primeiros doutorados em empreendedorismo e pequenos negócios, diz Filion
(1997), apareceram nos anos 1980; a grande maioria dos interessados no estudo e pesquisa do
21
iniciada por Schumpeter (1997), tem permanecido como uma das características dominantes
desse conceito, especialmente entre os economistas.
Na linha comportamental, uma das maiores referências foi McClelland (1972) que
define os empreendedores relacionando-os à sua necessidade de sucesso, de reconhecimento,
e ao desejo de poder e de controle. As primeiras pesquisas realizadas por esse autor definem o
que ele denominou de “necessidade de realização” do indivíduo como a principal força
motivadora do comportamento empreendedor.
Para McClelland (1972), a necessidade de realização significaria a vontade humana de
se superar e de se distinguir, englobando um conjunto de características psicológicas e
comportamentais que compreendem, entre outras, gosto pelo risco moderado, iniciativa e
desejo de reconhecimento. Alem disso, o autor identificou ser pouco provável que uma
crescente necessidade de realização resultasse, per si, em atividade econômica, a menos que
houvesse uma oportunidade para tanto na esfera do próprio indivíduo.
Os pontos essenciais da discussão levantada por McClelland (1972) são o conceito de
‘personalidade’ e a questão de determinar até que ponto o comportamento empreendedor é
produto de características fundamentais da personalidade. Para esse autor, os fatores sociais e
ambientais, inclusive o treinamento, cumpririam um importante papel ao estimular motivos
latentes e a tradução de disposições mentais em padrões específicos de comportamento.
O estudo do empreendedorismo, atualmente, na visão de Cunningham e Lischeron
(1991) está sendo estruturado em torno de seis linhas de pensamento, ou escolas: do "grande
homem"; das características psicológicas; clássica; da gestão; da liderança e a escola do intra-
empreendedorismo.
A escola do grande homem sugere que o empreendedorismo é uma habilidade inata ao
ser humano, intuitiva, um “sexto sentido”; uma composição de traços e instintos que
acompanham o indivíduo desde o seu nascimento. A escola das características psicológicas
atribui aos empreendedores valores, atitudes e necessidades únicas, que os motivam a
aproveitar as oportunidades. A escola clássica reflete o pensamento, inicialmente
desenvolvido por Shumpeter (1997), apresentando a inovação como a característica central do
comportamento empreendedor. A escola da gestão foca o empreendedor como dono de uma
empresa ou empreendimento econômico. A escola da liderança defende que os
empreendedores são essencialmente líderes, com a capacidade de adaptar o seu estilo às
necessidades das pessoas. Por fim, a escola do intra-empreendedorismo sugere que as
habilidades empreendedoras, bem como a inovação, podem ser úteis dentro do complexo
ambiente organizacional.
23
Por sua vez, West (2003), lembra que a pesquisa sobre o empreendedorismo é
multidisciplinar por natureza e que as diferentes disciplinas vão focar diferentes aspectos e
variáveis do fenômeno. Para esse autor, a questão central do fenômeno empreendedor está
intimamente ligada à criação e uso de conhecimento de forma mais apropriada que outros
atores. O conhecimento que gera a identificação de oportunidades, a criação de novas
empresas e outros traços empreendedores podem ser descritos em termos de comportamentos
e atitudes. O processamento dessas características pode ocorrer no nível de análise
psicossocial, no nível estrutural e mesmo no nível ecológico1 e, por isso, West (2003)
caracteriza o empreendedorismo como um fenômeno multi-níveis.
Em seus estudos McClelland (1972) procurou identificar o que fazem e como pensam
os empreendedores bem sucedidos, procurando estabelecer um ponto de partida para detectar
e reforçar tais características em outros indivíduos. A tendência mais recente, segundo o
relatório de pesquisa do Management Systems International (1999), nas discussões das
variáveis psicológicas que afetam o comportamento empreendedor é dar maior ênfase às
características do que aos traços da personalidade.
1
Scott (1998) define o nível de análise psicossocial como aquele relacionado ao indivíduo; o nível estrutural
como aquele relacionado à organização; e o nível ecológico como aquele relacionado ao ambiente.
24
Weber (1989) sublinhava o fato de que atitudes tais como a racionalidade econômica e
o espírito de iniciativa do capitalismo moderno eram conseqüências de certas concepções
religiosas do mundo a que as seitas protestantes, calvinistas, davam particular realce. Assim,
esse autor lançou as bases para o esforço de compreensão das origens sociais e psicológicas
de forças econômicas chaves como os rápidos progressos tecnológicos, a especialização da
mão-de-obra, o crescimento da população e o operoso espírito empresarial.
Weber (1989) identificou no sistema de valores um elemento fundamental para a
explicação do comportamento empreendedor. Em sua análise, esse autor aponta que um dos
fatores motivadores para quem se estabelecia por conta própria era a crença religiosa ou o
trabalho ético protestante que estabelecia normas de conduta que punham freio à
extravagância, ao consumo ostensivo e à indolência. Com isso, o resultado era maior
produtividade, diminuição das despesas e aumento da poupança, todos fatores vitais para o
crescimento econômico. Weber (1989) via os empreendedores como inovadores, pessoas
independentes, cujo papel de liderança nos negócios inferia uma fonte de autoridade formal.
A partir de Schumpeter (1997), Weber (1989) e outros autores, McClelland (1972)
inicia uma linha de pesquisa sobre alguns fatores psicológicos que poderiam ser associados ao
progresso econômico e a ascensão de uma nação. Esse autor identificou, por meio de métodos
quantitativos, na “necessidade de realização” dos indivíduos, um fator primordial para o
desenvolvimento de um país.
Em seu trabalho, busca descobrir as razões do crescimento e declínio econômicos.
Após criticar as teorias históricas, sociológicas e econômicas anteriores, esse autor levanta a
hipótese de que a “necessidade de realização” é responsável, em parte, pelo crescimento
econômico. O autor define esse conceito como a motivação de algumas pessoas em fixar,
para si próprias, os padrões de realização e buscam arduamente alcançar essas metas que
estabelecem, ou como diz o próprio autor, “(...) esse homem nada retira para si mesmo de sua
riqueza , exceto o sentimento irracional de ter feito bem o seu trabalho. É exatamente assim
que definimos o motivo de realização ao codificá-lo para sua expressão na fantasia”
(MCCLELLAND, 1972, p. 72).
É interessante notar que, em sua pesquisa esse autor indica que a liderança não está
associada à necessidade de realização e, de fato, os indivíduos com alta necessidade de
realizar não são considerados líderes por seus pares. Além disso, diz McClelland (1972), esses
indivíduos apresentaram uma preferência maior por carreiras que envolviam risco e
mostraram-se mais dispostos a abrir o próprio negócio do que os indivíduos com pouca
necessidade de realização.
26
Além disso, McClelland (1972) indica que o perfil da pessoa com alta necessidade de
realização é o de um indivíduo que busca o caminho para sua realização pessoal, estando
atento às estruturas sociais e às oportunidades e, além disso, que foi educado para desenvolver
a sua auto-confiança para atuar de forma confiante no êxito de suas iniciativas.
Esse autor discute ainda a relação entre a inovação e a necessidade de realização,
apresentando uma relação muito estreita entre esses dois conceitos. De fato, McClelland
(1972) argumenta que a necessidade de realização leva os indivíduos a se interessarem por
atividades construtivas que levariam ao descobrimento de novos processos e produtos,
caracterizados pelas inovações. Nesse sentido, esse autor indica que o empresário inovador é
justamente o elemento de ligação entre a necessidade de realização e o crescimento
econômico.
Entenda-se que McClelland (1972) considera que qualquer profissional, de qualquer
área, pode ostentar todos os comportamentos próprios do papel empresarial, muito embora
seu “status” não seja, primordialmente, o de empresário. O interesse fundamental desse autor
reside no comportamento do papel empresarial como um tipo analítico, ideal, que possa ser
identificado e medido.
Existem algumas características, para esse mesmo autor, que permitem identificar o
potencial empreendedor de um indivíduo, relacionadas à sua aceitação de riscos, nível de
atividade inovadora, responsabilidade, conhecimento do resultado de suas ações e
planejamento a longo prazo.
Ainda em seu estudo, McClelland (1972) analisa as possíveis fontes de estímulo ao
desenvolvimento de uma alta necessidade de realização e conclui que, além da família, um
Estado pode influenciar nessa característica ao educar as pessoas para o desenvolvimento de
atitudes empreendedoras, mas que quanto mais cedo o indivíduo receber os primeiros
estímulos, mais propenso ele estará a se tornar um empresário inovador.
Mais tarde, McClelland (apud Management Systems International, 1999) realizou uma
pesquisa com o intuito de identificar determinadas competências ou traços que pareçam ter
alguma correlação com a atividade empreendedora bem sucedida na Índia, Malawi e Equador.
A partir daí, esse pesquisador apresentou dez características do comportamento
empreendedor: busca de oportunidade e iniciativa, persistência, correr riscos calculados,
27
pessoas ao seu redor. Finalmente, nos seus estudos, esse autor identificou que os
empreendedores possuíam métodos próprios de aprendizagem.
Por sua vez, Drucker (1986) relaciona a capacidade de ser inovador com o
empreendedorismo, sendo a inovação o instrumento específico dos empreendedores, o meio
pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente ou um
serviço diferente. A inovação, para esse autor, pode bem ser apresentada como uma
disciplina, ser aprendida e ser praticada. Os empreendedores buscam, com propósito
deliberado, as fontes de inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades
para que a inovação tenha êxito. A inovação, complementa Drucker (1986), é o ato que
contempla os recursos com a nova capacidade de criar riqueza.
Ainda na visão de Drucker (1986), uma empresa não precisa ser pequena e nova para
ser empreendedora, mas o autor considera o espírito empreendedor uma característica distinta,
seja de um indivíduo ou de uma instituição. Continuando, Drucker (1986) considera
empreendedor aquele que assume riscos, mas não diferentemente de qualquer outra pessoa
que se envolva com atividades econômicas. Além disso, afirma que o empreendedor não
precisa, necessariamente, ser o empregador.
Drucker (1986) comenta que a essência da característica empreendedora está em saber
lidar com as incertezas e que qualquer indivíduo que tenha à sua frente uma decisão
importante a ser tomada pode se comportar de forma empreendedora, desde que tenha
conceitos e teorias dando suporte aos seus atos. Para esse autor, empreender é uma iniciativa
arriscada para as pessoas que não sabem o que estão fazendo, que não possuem método.
Além disso, diz Drucker (1986), o empreendedor vê a mudança como norma e como
sendo sadia, provocando ele mesmo essa mudança. Motivados por dinheiro, poder, ou
reconhecimento os empreendedores não se contentam com o que já existe, procurando criar
novos valores e reorganizar recursos existentes para uma configuração mais adequada.
Drucker (1986) comenta que o empreendedor tende a ficar atento a contingências
como o inesperado, a incongruência, a mudanças na estrutura de um setor ou de um mercado,
a mudanças demográficas, a mudanças de percepção, disposição e significado, e a novos
conhecimentos para colocar em prática a sua disciplina de mudança.
A estratégia empreendedora tem como objetivo a busca deliberada da inovação, na
visão desse mesmo autor, que destaca, ainda, algumas atitudes pessoais que considera
importantes para quem segue essa estratégia, como a análise das oportunidades, conversar
com o mercado e com os clientes, manter a simplicidade das soluções, e a liderança. O
29
empreendedor, para Drucker (1986), não tenta ser engenhoso demais, não diversifica demais
logo no início e não tenta inovar para o futuro, mas sim para o presente.
O empreendedor, continua esse autor, faz suas inovações de maneira concentrada e
guiada pelo mercado e procura definir e minimizar os riscos. “Os empreendedores são
conservadores. Eles têm que ser. Eles não se concentram nos riscos e sim nas oportunidades”
(DRUCKER, 1986, p.196).
Drucker (1986) comenta ainda que o empreendedorismo, além de exigir atenção
especial às oportunidades, exige conhecimento do negócio, de seus produtos, seus mercados,
seus clientes, suas tecnologias. Os empreendedores buscam trabalhar com pessoas e unidades
que façam o melhor de forma diferente, buscam, também, obter feedback constante dos
resultados face às expectativas e manter um controle para mensurar o sucesso ou os fracassos
de suas iniciativas.
Mintzberg et al. (2000) realiza uma análise no que denomina de escola
empreendedora, a qual apresenta uma perspectiva estratégica menos coletiva e mais pessoal,
onde a organização é vista como o terreno no qual o líder realiza suas manobras para obtenção
de resultados. O conceito mais central dessa escola é a visão, uma representação mental de
estratégia criada ou ao menos expressa na cabeça do líder.
As principais características da abordagem das personalidades empreendedoras,
conforme Mintzberg et al (2000), são a busca ativa de oportunidades, a centralização do
poder, o uso de golpes ousados, ou seja, a busca por condições de incerteza na qual a
organização pode obter consideráveis ganhos; e o crescimento como meta dominante,
caracterizado pela necessidade de realização.
A riqueza de uma nação, diz Degen (1989), é medida por sua capacidade de produzir
em quantidade suficiente os bens e serviços necessários ao bem-estar da população. Por outro
lado, na visão desse autor, o melhor recurso para solucionar os graves problemas sócio-
econômicos é a liberação da criatividade dos empreendedores, através da livre iniciativa, para
produzir esses bens e serviços.
De acordo com esse autor, sorte, na visão empreendedora, não é fator determinante de
sucesso do empreendedor, que estaria mais relacionado à aplicação sistemática de técnicas
gerenciais em sintonia com os objetivos de desenvolvimento de novos empreendimentos. Para
Degen (1989), existem quatro estratégias empreendedoras para uma organização, que
envolvem a identificação de oportunidades, o atendimento a uma necessidade específica do
mercado, o desenvolvimento de um negócio dominante e a diversificação.
30
O autor afirma que o preparo de um indivíduo para iniciar um negócio próprio cresce
com seu domínio sobre as tarefas necessárias para o seu desenvolvimento, com o aumento de
sua capacidade gerencial e com o crescimento de sua visão empreendedora refletida no seu
domínio sobre a complexidade do negócio.
O empreendedor, para Degen (1989), além de profundo conhecimento técnico sobre o
produto que pretende oferecer e sobre o mercado em que pretende atuar, formaliza estratégias
e faz uso de ferramentas de planejamento e controle que lhes proporcionam uma visão sobre a
viabilidade ou não de seus empreendimentos. Além disso, para o autor, ser empreendedor
significa ter a necessidade de realizar coisas novas, pondo em prática idéias próprias, assumir
riscos e estar presente em todas as atividades da empresa.
Degen (1989) comenta, ainda, que o empreendedor é aquele que não se cansa de
observar negócios, na constante procura de novas oportunidades. Por qualquer lugar que
passe, o empreendedor estará sempre tentando enxergar aquilo que ainda não foi visto, seja no
“caminho de casa, do trabalho, nas compras, nas férias, lendo revistas, jornais ou vendo
televisão”. Ao identificar uma oportunidade, diz esse autor, o empreendedor em potencial
coleta o máximo de informações possível sobre o negócio que pretende desenvolver. A
criatividade para Degen (1989) também desempenha papel importante para o empreendedor,
uma vez que ela permitirá as associações que gerarão novos negócios e novos
empreendimentos. No que diz respeito à motivação, o mesmo autor comenta que a maioria
dos empreendedores sente-se motivada pela possibilidade de ganhar muito dinheiro e, em
alguns casos, pelo desejo de sair da rotina a que estavam submetidos.
A questão do “capital social”, ou seja, os valores e idéias que são incutidos nas
pessoas, de forma subliminar, pelos pais, professores, amigos e outros que influenciaram a
formação intelectual e a orientação da vida do indivíduo, foi analisada pro Degen (1989). Para
esse autor, o filho de um empreendedor aprende desde cedo o valor e os riscos de um negócio
próprio e ser empreendedor passa a ser algo natural.
Na visão de Degen (1989), dois outros fatores são fundamentais para que um
empreendedor dê início à inovação e à mudança: o seu preparo e seus interesses e obrigações.
O primeiro refere-se à percepção que o empreendedor tem dele mesmo, o que se reflete na sua
autoconfiança, e o segundo relaciona-se à visão de outros interesses e obrigações da sua vida,
que pode minar essa autoconfiança. Como essas duas condições estão deslocadas no tempo, a
maioria dos potenciais empreendedores têm um período de livre escolha, definido como o
momento da vida do empreendedor no qual sente-se preparado para empreender, antes de
estar comprometido com outros interesses e obrigações, representado na figura a seguir:
31
outras condições necessárias ao seu sucesso. As aptidões nesse caso, referem-se àquelas
habilidades naturais do indivíduo, normalmente associadas às tarefas realizadas com
facilidade a ponto do indivíduo, ao realizá-la, não perceber a passagem do tempo nem o
esforço envolvido. Lalkala (apud BARROS e PRATES, 1996), nesse sentido, destaca que um
número significativo de empresas está passando a solicitar aos seus trabalhadores que
descrevam ou demonstrem como resolveram um problema ou alcançaram um resultado no
passado, avaliando suas aptidões e não apenas seu currículo (seus ativos).
O temperamento, seguindo o raciocínio do autor acima referido, é um atributo que se
refere, principalmente, à forma como são explicitadas as reações diante de situações e de
pessoas. O conhecimento possibilita o direcionamento de esforços para tarefas mais
adequadas ao perfil específico do empreendedor. Os ativos constituem as experiências,
características, áreas de especialização ou patrimônio que podem prover vantagem do
empreendedor sobre outras pessoas; a maioria dos ativos é decorrente do exercício das
aptidões e, nos dias de hoje, têm seu valor cada vez mais dependentes das situações e, por
isso, aumenta a necessidade de conhecimento dos comportamentos do cliente para o
desenvolvimento de ativos de maior valor.
Ainda para Lalkala, (apud BARROS e PRATES, 1996), o resultado concreto da vida
do empreendedor é a inovação no trabalho, nos estudos, na sua empresa, na vida pessoal. Para
inovar, além do espírito empreendedor, é necessário, diz esse autor, conhecer o mercado e
suas necessidades, bem como exercer a criatividade. Na visão desse autor, o processo criativo
visando a inovação envolve quatro fases: preparação (fase de pesquisa, de levantamento de
dados, de caracterização de cenários, identificação de demandas, é um sub-processo racional -
nele, o empreendedor assume um papel de explorador); incubação (fase artística, de liberdade,
de sonho, sem limites, de quebra de paradigmas, é um sub-processo intuitivo e emotivo - nele,
o empreendedor assume o papel de um sonhador e artista); iluminação (fase de separação das
opções, classificação das alternativas, tomada de decisão, é um processo racional - nele, o
empreendedor assume o papel de juiz); e verificação (fase de convencimento, defesa de uma
minoria, de negociação, é um sub-processo misto, emotivo e racional - nele, o empreendedor
assume o papel de um guerreiro).
Souza (2001a), por sua vez, ressalta a importância do desenvolvimento de uma
consciência para a formação de pessoas disseminadoras da inovação, característica que essa
autora considera básica para a formação de empreendedores. Além disso, Souza (2001a)
destaca que a pró-atividade, criticidade, criatividade, liderança, visão de futuro e a
34
ANTES AGORA
Espírito Pesquisador Espírito Empreendedor
Formação Acadêmica Nenhuma Formação Acadêmica
Envolvimento Puramente Técnico Sede de Novidades Tecnológicas
Pouco Entrosamento com as Demais Áreas da Empresa Faro para os Negócios
Visão Voltada para a Solução Rotineira dos Problemas Visão Global do Negócio da Empresa
Quadro 4 – Espírito Empreendedor
Fonte: Leite (2001)
que focam as inovações estão a tentativa de evitar conflitos e a flexibilidade vista pela
criatividade.
Para os mesmos autores, o traço de evitar conflitos estimula a criatividade na busca de
soluções engenhosas que possam contornar restrições impostas pelas normas administrativas e
técnicas. Com isso, tenta-se ajustar as necessidades objetivas e pragmáticas às situações
formalizadas sem criar muito atrito. Isso daria ao empreendedor brasileiro uma capacidade de
flexibilidade e de raciocínio estratégico capaz de vencer obstáculos que se apresentem, até
mesmo de forma imprevista.
De acordo com Dolabela (1999), o empreendedorismo é um ramo da administração de
empresas, uma vez que não se pode dissociar o empreendedor da empresa que criou. Para esse
autor, o empreendedor é uma pessoa de grande imaginação, capaz de desenvolver e realizar
visões, e para quem o ser é mais importante que o saber. Dolabela (1999) realiza uma análise
comparada de características dos perfis do gerente, empreendedor e intra-empreendedor, e
apresenta algumas características, tais quais o desejo de se auto-realizar e a motivação pela
liberdade de ação ao invés do poder, como sendo características do perfil do empreendedor.
Os fatores levantados por Dolabela (1999) podem ser observados no quadro abaixo:
O empreendedor é visto por Dolabela (1999) como o indivíduo que transforma idéias
em oportunidades através da busca intensa de informações sobre o negócio que pretende criar.
Nesse sentido, um empreendedor, para esse autor, não é o indivíduo que, de posse de uma
idéia, se lança no mercado sem antes se cercar de todos os cuidados e informações que
demonstrem ser aquela idéia uma oportunidade real de construir um negócio de sucesso. As
boas idéias não são, necessariamente, oportunidades, e uma das grandes causas de insucesso
entre os empreendedores iniciantes é não saber distinguir umas das outras.
Timmons e Hornaday, (apud Dolabela, 1999) identificam iniciativa, perseverança,
trabalho por metas, intuição, comprometimento, feedback, orientação para resultados, redes de
relações, e conhecimento do ramo, como características complementares ao perfil do
empreendedor.
Cella (2002) buscou identificar, em sua pesquisa junto aos produtores rurais e pessoal
de assistência técnica do Rio Grande do Sul, fatores que descrevem um empreendedor rural
bem sucedido. A grande quantidade de dados levantados por esse autor foi condensada por
meio de uma análise fatorial multivariada que gerou oito fatores que compreendiam mais de
sessenta por cento da amostra usada na pesquisa. Esses fatores foram: (1) financeiro; (2)
planejamento comercial; (3) comunicação e informação; (4) planejamento pessoal; (5)
gerenciamento de pessoal; (6) organização da produção; (7) aproveitamento de oportunidades;
(8) experiência comercial.
Segundo Longenecker, Moore e Petty (1997), os empreendedores podem ser
considerados como “heróis populares” dentro do atual ambiente empresarial e, por meio da
descoberta de oportunidades e da criação de novos negócios, os empreendedores geram
empregos, introduzem inovações e estimulam o crescimento econômico. Observar o mundo à
sua volta, dizem esses autores, permite aos empreendedores encontrar boas oportunidades
para a criação de novos negócios. Segundo Longenecker, Moore e Petty (1997) oportunidades
potencialmente lucrativas estão presentes no ambiente a todo momento, aguardando que
alguém enxergue nelas a possibilidade de sua transformação em um negócio.
No quadro teórico até aqui apurado, várias são as características que podem compor o
perfil do empreendedor em diferentes enfoques. No sentido de estabelecer a definição de
empreendedorismo a ser utilizada nesse trabalho, buscou-se aprofundar o entendimento sobre
três dos fatores mais citados: inovação, criatividade e “correr riscos”, identificando suas
relações com a busca de oportunidades.
40
2.3 Inovação
A inovação, para Motta (1989), pressupõe que algo foi inventado, descoberto e
projetado, por antecedência, como resultado de um processo criativo ou da detecção de uma
oportunidade, embora esse autor ressalte que a ordem em que esses fatores ocorrem pode
variar. Na visão de Motta (1989), inovar é aplicar o incomum, o novo, como uma solução
criativa para problemas que vão sendo detectados.
O conceito de inovação, segundo Fiates & Schneider (1998), está relacionado à
introdução de algo novo junto a um mercado potencialmente consumidor. Nesse mesmo
sentido, Utterback (1974) propõe que o processo de inovação se completa após três fases: a
geração da idéia, através de análise de mercado e de tecnologia; a projeção de soluções
criativas alternativas para resolver problemas pré-estabelecidos; e a implementação da
inovação no mercado.
Prather (2000) também analisa a inovação como um processo e detecta que dentro de
um determinado ambiente, tal processo inicia-se com um problema, uma necessidade ou uma
oportunidade. A partir daí, idéias são geradas para atender à situação detectada e,
posteriormente, são implantadas com atenção aos seus resultados. Para esse autor, o maior
problema encontrado nesse processo de inovação está exatamente no momento da
implementação, quando a organização ou o indivíduo precisarão dispor de recursos e
incentivos para realizar as idéias criadas. Para Prather (2000), é nesse momento que a maioria
das empresas ou pessoas desistem de ser inovadores.
Além disso, segundo Varadarajan e Jayachandran (1999), qualquer investimento em
inovações, incrementais ou radicais, pode significar ir de encontro ao uso racional e eficiente
de recursos no curto prazo, por causa da natureza incerta dos retornos de investimentos das
inovações. Ainda segundo esses autores, o impacto das inovações na performance da empresa
é função de uma complexa interação da competência inovativa da empresa, competência dos
seus competidores e das características de demanda dos mercados, o que signfica que a
implementação de uma inovação por uma empresa normalmente está ligada ao risco.
42
2.4 Criatividade
2
A palavra Gestalt tem origem alemã e surgiu em 1523 de uma tradução da Bíblia, significando "o que é
colocado diante dos olhos, exposto aos olhares". Está associada, hoje, a um processo de dar forma. Gestalt, para
a psicologia, significa uma integração de partes em oposição à soma do "todo" (FERREIRA, 1986).
45
atividades mentais que geram a criatividade. Para a psicologia cognitiva, na visão desse autor,
a cognição é entendida como um processo disparado por uma situação, compreendida pelos
mecanismos perceptivos do cérebro. Tal situação é uma perturbação interna do indivíduo,
possivelmente fruto de uma ressonância causada por algum fator externo.
Os conhecimentos, para Souza (2001b), são todo o repertório de representações
armazenadas na memória de longo prazo, tanto em nível de conhecimentos específicos quanto
de conhecimentos abstratos (morais, culturais, genéricos). Toda situação, para ser
compreendida, é representada pelo indivíduo. Portanto, pode-se dizer que a representação é a
construção de um “modelo de similaridade” para o mundo, com base na experiência de vida e
na varredura feita na memória em busca de situações análogas. Caso não seja possível
representar adequadamente a situação, o indivíduo irá recorrer aos seus processos de
raciocínio, buscando construir a representação para a situação a fim de poder compreendê-la,
o que acontece, por exemplo, na resolução de problemas.
Qualquer que seja o caminho percorrido, ainda para Souza (2001b), a situação
conduzirá a mente a produzir: atividades de execução automatizadas, que acontecem quando a
situação é conhecida e bem representada, a ponto de poder ser executada sem atenção
consciente; atividades de execução não automatizadas, quando a representação da situação é
recém-elaborada ou não é comum e, portanto, requer um esforço consciente para a execução
das tarefas necessárias; ou atividades de solução de problemas, quando não há uma
representação satisfatória para a situação. Assim, segundo Souza (2001b), a criatividade seria
a construção de uma representação em resposta a uma nova situação.
Para as ciências aplicadas como a Administração, a Engenharia e a Publicidade, a
criatividade, conforme Kim (1990), identifica-se com a resolução de problemas não triviais,
aqueles no qual não são óbvios, de início, nem a solução nem os meios para alcançá-la. O
processo de criação, segundo Kneller (1978), para a resolução de tais problemas envolve
quatro fases identificáveis: preparação, incubação, inspiração e verificação.
A fase de preparação, na visão de Kneller (1978), consiste na coleta de informações
sobre o problema a ser resolvido, incluindo pesquisas, leituras, anotações, indagações e
explorações em busca da solução. Após um período de preparação o indivíduo entra na fase
de incubação, na qual processos mentais inconscientes são acionados, fazendo “inesperadas
conexões” que constituem a essência da criatividade. A fase da inspiração ocorre com a
identificação da idéia, de forma pronta, que poderá solucionar de forma “pura e genial” o
problema. Essa solução, no entanto, ainda será testada para verificar a sua validade em termos
práticos, e é este o objeto da fase de verificação.
47
Alencar (1993, p.15), por sua vez, identifica duas dimensões que parecem permear a
noção de criatividade:
(...) pode-se notar que uma das principais dimensões presentes nas mais
diversas definições de criatividade propostas até o momento diz respeito ao
48
3. METODOLOGIA
3.2 População
3.3 Amostra
compor a amostra deste estudo, pequenos empresários do setor de serviços, pois além de
apresentar o maior número de pequenas empresas de Brasília, esse setor também é, segundo
Gronroos (1993), um dos responsáveis pelo aumento de riqueza e do nível de emprego na
sociedade, o que o torna relevante para o desenvolvimento de qualquer região. As 2.437
pequenas empresas de serviços em Brasília são enquadradas em 115 categorias, de acordo
com os critérios da RAIS (MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO, 2002). Na
tabela abaixo são apresentadas as categorias com maior freqüência de pequenas empresas na
região estudada:
Tabela 2 – Categorias de pequenos negócios de maior incidência no Plano Piloto do Distrito Federal
Serviços Freqüência % Freqüência
Restaurantes 276 11,33
Bancos 180 7,39
Lanchonetes 163 6,69
Outras atividades de serviços 145 5,95
Outras atividades associativas 125 5,13
Condomínios prediais 123 5,05
Ensino fundamental 68 2,79
Transporte rodoviário de cargas 63 2,59
Outras atividades de ensino 62 2,54
Educação infantil-pré-escola 50 2,05
Caixas econômicas 46 1,89
Atividades de organizações religiosas 46 1,89
Atividades de organizações sindicais 41 1,68
Estabelecimentos hoteleiros 40 1,64
Atividades desportivas 38 1,56
Atividades jurídicas 36 1,48
Atividades de serviços de complementação de diagnósticos 36 1,48
Atividades de atendimento hospitalar 35 1,44
Publicidade 33 1,35
Atividades de atenção ambulatorial 29 1,19
Outras atividades relacionadas ao lazer 29 1,19
Ensino médio 26 1,07
Atividades de correio nacional 25 1,03
Serviços de arquitetura e engenharia e de assessoramento técnico 25 1,03
Outras atividades relacionadas com a atenção à saúde 24 0,98
Academias de ginástica e manutenção do físico corporal 24 0,98
Atividades de imunização, higienização e de limpeza em prédios 23 0,94
Agências de viagens 21 0,86
Cabeleireiros e outros tratamentos de beleza 21 0,86
Atividades de contabilidade e auditoria 18 0,74
Atividades de assessoria em gestão empresarial 18 0,74
TOTAL 1905 77,55
Fonte: Relação Anual de Informações Sociais – MTE (2002).
54
Sendo:
n : o número de elementos da amostra (tamanho da amostra)
N : o número de elementos da população (tamanho da população)
Z : o valor da abscissa da curva normal associada ao nível de confiança fixado.
d : o erro tolerável da amostra (precisão da amostra) em porcentagem.
p e q : proporção de se escolher uma dada empresa aleatoriamente.
Continuação
VARIÁVEL Freqüência Absoluta %
Estado Civil
Casado 113 66,9
Separado 17 10,1
Solteiro 39 23,1
Idade
Até 25 anos 14 8,3
26 a 35 anos 37 21,9
36 a 45 anos 59 34,9
Acima de 45 anos 59 34,9
Escolaridade
Primeiro Grau 24 14,2
Segundo Grau 61 36,1
Terceiro Grau 83 49,1
Omisso 1 0,6
Fonte: Dados da Pesquisa
Carland, Carland e Hoy (1992) concluíram que o empreendedorismo é uma função de,
principalmente, cinco elementos: necessidade de realização, criatividade, propensão à
inovação, ao risco e à postura estratégica, este último um fator que esses autores ligam à
busca de oportunidades. Esses elementos representam, também, os principais fatores ligados
ao empreendedorismo identificados no marco teórico deste trabalho.
O CEI é um questionário de auto-resposta com trinta e três frases afirmativas em
pares, no formato de escolha forçada e seu objetivo é identificar o potencial empreendedor
atual dos respondentes. Através de uma escala preferencial, o respondente, ao preencher o
questionário baseando-se na sua personalidade e preferências, será enquadrado como mais ou
menos empreendedor. Foi desenvolvido e validado (CARLAND, CARLAND e ENSLEY,
2001) por seus autores não para ser usado como palavra final, mas como um forte indicador
59
Carland, Carland e Hoy (1992) não objetivaram criar, com o CEI, tipologias
dicotômicas de ser ou não empreendedor. No entendimento desses autores, um indivíduo
desloca-se sobre um continuum onde todos seriam empreendedores (mais ou menos) em
função da maior ou menor presença das características avaliadas pelo CEI. O questionário foi
60
originalmente desenvolvido por Carland, Carland e Hoy (1992) em inglês, mas foi traduzido
para o português por Inácio (2002), utilizando o método de Douglas e Craig (apud
GIMENEZ, INÁCIO E SUNSIN, 2001) que compreende a tradução do instrumento original –
source – para o idioma alvo – target, e sua re-tradução para o idioma original, novamente.
Comparam-se os resultados e, se necessário, refaz-se o mesmo processo até que ambos os
instrumentos contenham o mesmo significado.
Em sua pesquisa, Inácio (2002) aplicou o CEI junto aos donos das empresas das
incubadoras tecnológicas do estado do Paraná, obtendo 73 questionários respondidos. Como
parte de sua análise, Inácio (2002) realizou a análise de validade e confiabilidade do
instrumento em português, concluindo que o instrumento apresentava-se em boas condições
para ser aplicado cientificamente.
Esse mesmo autor buscou identificar a relação entre cada um dos 33 pares de
perguntas do CEI com as quatro principais características identificadas por Carland, Carland e
Hoy (1992) para o desenvolvimento do potencial empreendedor: traços de personalidade
(necessidade de realização e criatividade), propensão à inovação, propensão ao risco e
propensão à postura estratégica (busca de oportunidades), conforme o quadro a seguir:
que, por sua vez, preenchia as respostas em uma cópia impressa do CEI. Ao final, o pequeno
empresário validou a folha de respostas preenchida.
Os questionários coletados eram reunidos diariamente, totalizados e tabulados em uma
planilha eletrônica Excel. Os pequenos empresários foram abordados para responder ao CEI
em março e abril de 2004, mas alguns optaram por não fazê-lo alegando falta de tempo, falta
de motivação, falta de interesse ou mesmo por medo de que a utilização dos dados coletados
na pesquisa pudesse trazer problemas com a fiscalização.
Nos dia seguinte à coleta de dados, o mestrando ligava para os donos dos
estabelecimentos para confirmar se, de fato, eram eles os responsáveis pelas respostas. Além
disso, os questionários respondidos que indicaram que o empresário não se encaixava de
alguma forma na amostra pretendida nesse estudo, foram desconsiderados, assim como todos
aqueles respondidos por diretores, gerentes, encarregados ou contadores que, porventura, não
eram os reais donos dos pequenos empreendimentos.
Foi assegurado a todos os entrevistados que as informações fornecidas seriam tratadas
de forma confidencial e, dessa forma, os resultados apresentados não possibilitam
identificação dos mesmos.
característica. Após obter o quadro inicial, utilizou-se o dicionário (FERREIRA, 1986) para
agrupar fatores sinônimos citados pelos entrevistados.
Nessa etapa foram considerados três livros, nos quais os autores apresentam
entrevistas com empresários brasileiros falando de suas vidas, experiências e fatores que
consideram responsáveis por seus sucessos. Essas obras foram, de Wollheim, B. e Marcondes,
P.; Empreendedor não é brincadeira (2003); de Mendonça, L.; Empresários vencedores e
suas histórias de sucesso (2002); e de Britto, F. e Wever, L.; Empreendedores Brasileiros:
vivendo e aprendendo com grandes nomes (2003).
As entrevistas conduzidas por esses autores foram analisadas, neste trabalho, com a
finalidade de interpretar as características do potencial empreendedor na percepção dos
entrevistados. Buscou-se analisar, nos depoimentos, as afirmações e hipóteses que levariam à
construção do perfil do empreendedor.
do empreendedor estar atento ao ambiente à sua volta para poder calcular os riscos que irá
correr. As competências empreendedoras, para o administrador, são inatas, sendo a
criatividade sua principal característica, embora destaque, também, a adaptabilidade, o jogo
de cintura, a flexibilidade, a persistência e a obstinação. Para Guanaes ser organizado é
importante para dar sustentabilidade à criatividade do empreendedor, e a motivação é
essencial para manter o empreendedor seguindo o seu caminho.
Osvaldo Barbosa, administrador, responsável pelo lançamento do portal de Internet
MSN Brasil, da Microsoft, hoje o terceiro portal global mais visitado por brasileiros, diz que a
pessoa aprende a ser empreendedora desde que tenha dentro de si uma força criativa, um
conjunto de competências que irão diferenciá-la das demais pessoas. Para Barbosa o
empreendedor é motivado pela possibilidade de inovação e, para atingir seus objetivos, está
disposto a correr riscos, contando, principalmente, com a sua racionalidade, sua determinação
e capacidade diferenciada para observar oportunidades.
Paulo Humberg, profissional de marketing responsável pela criação do site de leilões
pela Internet Lokau, precursor desse tipo de serviço no Brasil, diz ser o empreendedor movido
pelo inconformismo, ou seja, ele sabe que o prazer de construir muitas vezes é maior que o
prazer da recompensa, sendo motivado pela realização e não pelo dinheiro. O empreendedor
de sucesso, diz Humberg, aprende com a sua experiência anterior e aplica o seu conhecimento
para diminuir as suas chances de insucesso futuro.
Paulo Anis Lima, advogado, fundador da revista Trip e da Trip editora, responsável
pela publicação de diversas revistas para públicos segmentados, considera que o
empreendedor é movido pela paixão por uma idéia ou um negócio e possui duas
características que se destacam: a liderança e o uso da rede de contatos. Além disso, o
advogado destaca a necessidade de estar em constante processo de aprendizagem e comenta
que o empreendedor, por natureza, necessita de curiosidade, observação e capacidade de se
comunicar bem.
Rodrigo Baggio, professor de informática, foi o criador do CDI – Comitê para a
Democratização da Informática, um projeto que leva o uso do computador e da Internet para
as comunidades mais carentes do Brasil, sendo caracterizado por Wollheim e Marcondes
(2003) como um empreendedor da área social. Para esse profissional, empreender está
relacionado com a capacidade de aprendizado das pessoas e com a sua ligação com um sonho,
com uma idéia brilhante ou com uma oportunidade que desperta a capacidade empreendedora.
Em sua visão, são importantes para o empreendedor, a determinação, a ética e a vontade de
superar o próprio negócio, ou seja, a constante necessidade de superar os próprios limites. É
66
papel do empreendedor, diz Baggio, estar sempre atento ao controle do seu negócio e com um
olhar no futuro para que as suas ações gerem um resultado inovador.
Sandra Chemin, dona da Hipermídia, empresa de design gráfico e marketing
interativo, considera que o modelo de seu pai foi determinante para que ela desenvolvesse o
espírito empreendedor. Sua motivação não foi o dinheiro, mas a necessidade de liberdade.
Como traços comuns aos empreendedores, em sua visão, estão a capacidade de sonhar e
motivar as outras pessoas com seus sonhos, e a capacidade de negociar. O planejamento é
destacado por Chemin como essencial para o sucesso do empreendedor.
Por fim, a última entrevista feita pelos autores Wollheim e Marcondes (2003) foi com
Sergio Kulikovsky, engenheiro, fundador da empresa NetTrade de administração de fundos de
ações pela Internet, posteriormente incorporada ao grupo Patagon. Para esse engenheiro, o
empreendedorismo é inato ao indivíduo, e vem à tona ao observar uma oportunidade de
mercado. Destaca, ainda, a obstinação, a motivação pelo desafio, a capacidade de correr riscos
e a necessidade de realização, como características empreendedoras.
O Brasil, segundo o trabalho de entrevistas realizado por Wollheim e Marcondes
(2003) apresenta poucas condições para o desenvolvimento do empreendedorismo, mas as
dificuldades são um fator motivador para os entrevistados.
Wollheim e Marcondes (2003) na análise das dezoito entrevistas realizadas, concluem
que o espírito empreendedor está normalmente em pessoas seguras de si que, inclusive,
acreditam ter pouco a aprender. Além disso, os empreendedores são diferentes, com um certo
grau de “loucura” e disposição para ir contra tudo todos, de forma obstinada. Por outro lado,
destacam a falta de base acadêmica nas ações dos empreendedores, estando suas atitudes
muito mais relacionadas à intuição.
Wollheim e Marcondes (2003) destacam, ainda, a capacidade dos empreendedores em
observar o mundo e, daí, tirar lições, serem inquietos dispostos a mudar, vivendo em um
estado de tensão. Ao concluírem, esses autores inferem em seu trabalho que o empreendedor
não é motivado por dinheiro, mas sim pela necessidade de criar algo, “mudar o mundo”.
Por fim foi realizada a análise dos dados coletados em campo por meio do questionário
CEI – Carland Entrepreneurship Index, com o qual buscou-se obter o grau de
empreendedorismo dos atores da amostra estudada.
As respostas dos participantes ao questionário foram registradas em um arquivo de
dados eletrônico no programa SPSS (Statistical Package for the Social Science), versão 10.0.
Em uma primeira etapa, foram realizadas análises descritivas e exploratórias para investigar a
exatidão da entrada dos dados, a distribuição dos casos omissos, o tamanho da amostra, os
casos extremos e a distribuição das variáveis.
Os dados foram inseridos sem erros de digitação; não foram encontrados mais de 5% de
dados omissos em qualquer variável; e o tamanho da amostra foi de 169 donos de empresas,
pertencentes à 2 (dois) tipos de empreendimentos diferentes.
Para identificação dos casos extremos univariados, todas as variáveis foram
transformadas em escores Z e consideradas casos extremos aquelas que apresentassem escores
padronizados iguais ou superiores a 3,29, p < 0,001, two-tailed; os casos extremos
multivariados foram identificados a partir da distância Mahalanobis (α=0,001)
(TABACHNICK E FIDELL, 2000). Não foram encontrados casos extremos uni e
multivariados.
Em relação à normalidade das respostas, não foram realizadas transformações das
variáveis nos casos de índices de assimetria e achatamento. Segundo Zerbini (2003) e
Carvalho (2003), experiências anteriores não notaram diferença nas análises com e sem
transformação das variáveis. Além disso, transformações são contra-indicadas neste tipo de
estudo, pois dificultam a interpretação dos resultados (TABACHNICK E FIDELL, 2000).
Em seguida, iniciaram-se as análises descritivas de cada variável do instrumento de
medida utilizado (médias, desvios padrão, mínimo, máximo e moda).
Para validar empiricamente a escala, algumas análises foram necessárias. O primeiro
passo foi realizar análises dos componentes principais (Principal Components - PC), para
72
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Barros e Prates
Lognecker et al
R. E. McDonald
J. Schumpeter
D. McClelland
Carland et al.
H. Mintzberg
F. Dolabela
P. Drucker
Frese et al
L. J. Flion
R. Lalkala
Autores
E. Angelo
M. Weber
R. Degen
E. Souza
D. Cella
E. Leite
I. Dutra
TOTAL
Fatores
Adaptabilidade X X 2
Afinco X X 2
Autoconfiança X 1
Bom uso de recursos disponíveis X 1
Buscar Informações X X X X X 5
Buscar Oportunidades X X X X X X X X X X X X X X X 15
Centralização X 1
Comprometimento X X X X X 5
Comunicação X 1
Conhecimento do Cliente X X 2
Conhecimento do Mercado X X X X X 5
Conhecimento do Produto X X X X X X 6
Controle X X X X 4
Correr Riscos X X X X X X X X X X 10
Criatividade X X X X X X X X X X X 11
Criticidade X 1
Envolvimento X X X X X 5
Estudo X 1
Exigência de Qualidade/Eficiência X 1
Experiência Administrativa X 1
Feedback X X 2
Flexibilidade X X X X X 5
Gosto pelo Trabalho X 1
Independência X X X 3
Iniciativa X X X X X X 6
Inovação X X X X X X X X X X X X X X X X X X 18
Intuição X X X 3
Liderança X X X X X X X 7
Metas Definidas X X 2
Motivação por dinheiro X X 2
Motivação por Liberdade X X X 3
Motivação por poder X 1
Motivação por reconhecimento X X 2
Necessidade de Realização X X X X X X 6
Orientação por Resultados X X X X 4
Persistência X X X X X X 6
Persuasão X X 2
Planejamento X X X X X 5
Pró-Atividade X X 2
Relacionamento Diferenciado X X 2
Superação X 1
Suporte à Independência X 1
Tenacidade X X X 3
Tolerância X 1
Uso de rede de relacionamentos X X X 3
Visionário X X X X X X X 7
Vivência empreendedora X X X 3
Vontade X 1
Vontade de Aprender X X X X X 5
Quadro 8 - Matriz de fatores empreendedores segundo os autores revisados
Fonte: Dados da Pesquisa
75
Tabela 10 – Contagem simples dos fatores empreendedores na visão dos autores revisados
Fatores Freqüência %
Inovação 18 95 %
Buscar Oportunidades 15 79 %
Criatividade 11 58 %
Correr Riscos 10 53 %
Liderança 7 37 %
Visão 7 37 %
Conhecimento do Produto 6 32 %
Iniciativa 6 32 %
Necessidade de Realização 6 32 %
Persistência 6 32 %
Buscar Informações 5 26 %
Comprometimento 5 26 %
Conhecimento do Mercado 5 26 %
Envolvimento 5 26 %
Flexibilidade 5 26 %
Planejamento 5 26 %
Vontade de Aprender 5 26 %
Controle 4 21 %
Orientação por Resultados 4 21 %
Independência 3 16 %
Intuição 3 16 %
Motivação por Liberdade 3 16 %
Tenacidade 3 16 %
Uso de rede de relacionamentos 3 16 %
Vivência empreendedora 3 16 %
Adaptabilidade 2 11 %
Afinco 2 11 %
Conhecimento do Cliente 2 11 %
Feedback 2 11 %
Metas Definidas 2 11 %
Motivação por dinheiro 2 11 %
Motivação por reconhecimento 2 11 %
Persuasão 2 11 %
Pró-Atividade 2 11 %
76
Continuação
Fatores Freqüência %
Relacionamento Diferenciado 2 11 %
Autoconfiança 1 5%
Bom uso de recursos disponíveis 1 5%
Centralização 1 5%
Comunicação 1 5%
Criticidade 1 5%
Estudo 1 5%
Exigência de Qualidade/Eficiência 1 5%
Experiência Administrativa 1 5%
Gosto pelo Trabalho 1 5%
Motivação por poder 1 5%
Superação 1 5%
Suporte à Independência 1 5%
Tolerância 1 5%
Vontade 1 5%
Fonte: Dados da Pesquisa
Os únicos fatores que foram mencionados por mais de 50% dos autores revisados
foram a inovação (95%), busca de oportunidades (79%), criatividade (58%) e a disposição
para correr riscos (53%). Entretanto, dos dezenove autores revisados, apenas seis (32%) citam
todas essas quatro características.
Muitos autores (FILION, 1997; SOUZA, 2001; CUNNINGHAM e LISCHERON,
1991; DOLABELA, 1999) apresentam o empreendedorismo como um fenômeno mais
fortemente estudado, recentemente, por duas linhas de pesquisa, a econômica, centrada na
inovação, e a comportamental, centrada nas atitudes e características. Entretanto, o grupo de
autores revisados no quadro 8, composto por representantes das duas linhas, apresentou um
elevado grau de concordância quanto à inovação (95%) e, também, apresentou elevado
interesse por identificar atitudes e características do empreendedor, o que mostra como é
difícil a distinção entre esses dois grupos.
A menção a quarenta e nove diferentes características do empreendedor por autores
que revisaram o tema, por um lado, reforça a visão de Brazeal e Herbert (2000) e Wortman
(1987) de que o estudo do empreendedorismo parece estar fragmentado e, principalmente,
carece de uma definição trabalhável do que seria um empreendedor e quais seriam as suas
características fundamentais.
Por outro lado, reforça também os argumentos de Gartner (1989), de que o
empreendedorismo é um fenômeno complexo, e, principalmente, de Filion (1997), que
argumenta ser esse um campo de pesquisa recente e que agrega pesquisadores vindos de áreas
77
distintas, cada qual com seu interesse e método e, dessa forma, buscando analisar diferentes
aspectos do empreendedor.
Também é interessante observar que as quatro características do empreendedor que
foram citadas por mais de 50% dos autores revisados: inovação, criatividade, busca de
oportunidades e a propensão ao risco, são descritas por Gimenez, Inácio e Sunsin (2001) e
Carland, Carland e Koiranen (1997), como de grande consenso na literatura, o que pode
significar os primeiros passos na direção da definição clara de empreendedor solicitada por
Brazeal e Herbert (2000).
Ainda sobre as informações apresentadas no quadro 8 e na tabela 10, é interessante
compará-las com a metodologia desenvolvida pela Organização das Nações Unidas – ONU
para capacitar empresários no entendimento, auto-avaliação e desenvolvimento de suas
características empreendedoras, aplicada em forma de curso, no Brasil, pelo SEBRAE.
Denominada Empretec, tem suas origens, segundo o SEBRAE (1997), nos Estados Unidos na
década de 1960, e foi elaborada com base nos estudos de McClelland (1972).
O único de sua natureza, aplicado em mais de 40 países e já tendo sido feito por mais
de 30.000 empresários no Brasil, sendo mais de 2.000 em Brasília, de acordo com dados do
SEBRAE (1997), esse treinamento considera que são treze as características do
comportamento empreendedor: busca de oportunidades, iniciativa, persistência, capacidade de
correr riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência, comprometimento, busca de
informações, estabelecimento de metas, planejamento, persuasão, uso de rede de contatos,
independência e autoconfiança. Essas características são utilizadas por diversos
pesquisadores, em seus trabalhos, como parâmetro para identificar o perfil empreendedor.
(HONESKO, 2002; CÂNDIDO, 1998; CAPELLE et al., 2001)
Observa-se que todas as treze características propostas pelo Empretec aparecem, com
maior ou menor freqüência, na tabela 10, o que significa que sua metodologia, de uma forma
geral, encontra respaldo nos autores revisados nesse trabalho quanto às características do
empreendedor. Entretanto, de forma mais específica, das quatro características consideradas
por mais de 50% dos autores, apenas duas (busca de informações e correr riscos) são treinadas
no Empretec. Além disso, das dez características mais citadas pelos autores revisados, apenas
quatro (40%) aparecem contempladas na metodologia da ONU.
Nos últimos 20 anos, houve uma evolução considerável no estudo do
empreendedorismo, com a publicação de novos trabalhos e novas pesquisas. (FILION, 1997,
2000; DOLABELA, 1999; LEITE, 2000) Assim, trabalha-se com a possibilidade de que as
características do comportamento empreendedor de hoje possam ser diferentes daquelas
78
Wollheim e Marcondes
Antônio Bonchristiano
Giovanni Scagianmte
Washington Olivetto
Leonardo Lamartine
Aleksandar Mandic
Eduardo Jerônimo
Evaldo R. de Melo
Alexandre Accioly
Sérgio Kulikovsky
Empresários
Marcos Wettreich
Osvaldo Barbosa
Luiz A. P. Guerra
Fábio Fernandes
Marcelo Lacerda
Caio Túlio Costa
Solange Alencar
Alberto Carneiro
Ricardo Queiroz
Ana Lúcia Serra
Paulo Humberg
Sandra Chemin
Rodrigo Baggio
Nizan Guanaes
Matinas Suzuki
Miguel Abuhab
Roberto Klabin
Arnaldo Xavier
Gustavi Viberti
Décio da Silva
Britto e Wever
Paulo Galvão
Julio Hungria
Alair Martins
Luiz Seabra
Salim Matar
Beni Nitzan
Otávio Piva
Meyer Nigri
Joana Woo
Paulo Lima
Fatores
Adaptabilidade X X
Ambição X
Arrojo X
Articulação X
Autoconfiança X X X
Bem Informado X
Bom Senso X X
Buscar Oportunidades X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
Centralização X X
Comprometimento X X X X
Comunicação X
Conhecimento do Cliente X X X X
Conhecimento do Mercado X X
Conhecimento do Produto X X X X
Controle X X X
Coragem X X X X
Correr Riscos X X X X X X X X X X X X X
Criatividade X X X X X X X X X X X X X X X
Curiosidade X
Dedicação X X X X
Descentralização X
Determinação X X X X X X X X X X X
Disciplina X
Ética X
Exigência de Qualidade X X X X
Firmeza X
Flexibilidade X X
Garra X
Gosto pelo trabalho X X X X X X X X X
Honestidade X X
Independência X
Iniciativa X
Inovação X X X X X X
Intuição X X X X X X X
Jogo de Cintura X
Liderança X X X X X X X
Metas Definidas X X
Motivação por dinheiro X
Motivação por Liberdade X X X
Motivação por desafios X X X X X X X
Motivação por reconhecimento X
Motivador X X X X X
Necessidade de Realização X X X X X X X X X X X
Negociação X X
Observador X X X X
Obstinação X X X X X X X X X X
Obsessão pela Vitória X
Organizado X
Ousado X X
Persistência X X X X X X X
Pensamento a Longo Prazo X X X X
Planejamento X X
Pragmático X X X X
Profissionalismo X
Racional X
Realizador X
Superação X X X
Trabalho em Equipe X X
Uso de rede de relacionamentos X X X X X
Visionário X X X X X X X X X
Vivência empreendedora X X X X X X X X X X X X X
Vontade de Aprender X X X X X X X X X X
Quadro 9 – Matriz de Fatores Empreendedores na visão dos empresários – análise inicial
Fonte: Dados da Pesquisa
80
Wollheim e Marcondes
Antônio Bonchristiano
Giovanni Scagianmte
Washington Olivetto
Leonardo Lamartine
Aleksandar Mandic
Evaldo R. de Melo
Eduardo Jerônimo
Alexandre Accioly
Sérgio Kulikovsky
Marcos Wettreich
Luiz A. P. Guerra
Osvaldo Barbosa
Fábio Fernandes
Caio Túlio Costa
Marcelo Lacerda
Solange Alencar
Alberto Carneiro
Ricardo Queiroz
Ana Lúcia Serra
Paulo Humberg
Sandra Chemin
Nizan Guanaes
Rodrigo Baggio
Matinas Suzuki
Miguel Abuhab
Roberto Klabin
Arnaldo Xavier
Gustavi Viberti
Décio da Silva
Britto e Wever
Empresários
Paulo Galvão
Julio Hungria
Alair Martins
Luiz Seabra
Salim Matar
Beni Nitzan
Otávio Piva
Meyer Nigri
Joana Woo
Paulo Lima
TOTAL
Fatores
Busca de
X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 30
Oportunidades
Comprometimento X X X X X X X X X X X X X X X 15
Comunicação X 1
Conhecimento do
X X X X 4
Cliente
Conhecimento do
X X 2
Mercado
Conhecimento do
X X X X 4
Produto
Controle X X X X X X X 7
Correr Riscos X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 19
Criatividade X X X X X X X X X X X X X X X 15
Descentralização X 1
Determinação X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 20
Exigência X X X X 4
Flexibilidade X X X 3
Honestidade X X X 3
Inovação X X X X X X 6
Intuição X X X X X X X 7
Liderança X X X X X X X X X X X X 12
Motivação por
X 1
dinheiro
Motivação por
X X X 3
Liberdade
Motivação por
X X X X X X X 7
desafios
Motivação por
X 1
reconhecimento
Necessidade de
X X X X X X X X X X X 11
Realização
Negociação X X 2
Persistência X X X X X X X 7
Planejamento X X X X 4
Pragmático X X X X X X X X 8
Uso de rede de
X X X X X X 6
relacionamentos
Visionário X X X X X X X X X X 10
Vivência
X X X X X X X X X X X X X 13
empreendedora
Vontade de
X X X X X X X X X X 10
Aprender
Quadro 10 - Matriz de Fatores Empreendedores na visão dos empresários – segunda análise
Fonte: Dados da Pesquisa
81
O único fator que foi mencionado por mais de 50% dos empresários foi a busca de
oportunidades (73%), embora o fator determinação, indicado por 20 empresários, tenha ficado
bem próximo da metade (49%).
Comparando a primeira matriz, dos autores revisados, com essa dos empresários
entrevistados, nota-se que, dos fatores ligados ao potencial empreendedor citados pelos
empresários, seis não foram encontrados na matriz dos autores: descentralização, honestidade,
pragmatismo, determinação, motivação por desafios e negociação. Entretanto, todos os fatores
que foram citados por mais de 26% dos autores revisados foram também citados pelos
empresários.
Ainda seguindo essa comparação, quanto à incidência de vezes que um fator foi
mencionado nos dois grupos, obteve-se a tabela a seguir que mostra as maiores diferenças:
De uma maneira geral, nota-se que houve pouca discordância entre os grupos de
autores revisados e o de empresários quanto à relevância dos fatores para a composição do
83
Micro-empreendedor
5 0 0,0% 0,0%
6 0 0,0% 0,0%
28,4%
7 1 0,6% 0,6%
8 0 0,0% 0,6%
9 2 1,2% 1,8%
10 0 0,0% 1,8%
11 2 1,2% 3,0%
12 8 4,7% 7,7%
13 12 7,1% 14,8%
14 10 5,9% 20,7%
15 13 7,7% 28,4%
16 6 3,6% 32,0%
17 16 9,5% 41,4%
18 22 13,0% 54,4%
Empreendedor
19 21 12,4% 66,9%
67,5%
20 13 7,7% 74,6%
21 8 4,7% 79,3%
22 14 8,3% 87,6%
23 3 1,8% 89,3%
24 8 4,7% 94,1%
25 3 1,8% 95,9%
85
Continuação
Pontuação Total no CEI Freqüência Freqüência em % % Acumulado
26 6 3,6% 99,4%
Macro-empreendedor
27 1 0,6% 100,0%
28 0 0,0% 100,0%
29 0 0,0% 100,0%
4,2%
30 0 0,0% 100,0%
31 0 0,0% 100,0%
32 0 0,0% 100,0%
33 0 0,0% 100,0%
Total 169 100,0% -
Fonte: Dados da Pesquisa
um grupo de donos de pequenos negócios nos Estados Unidos, obtendo média = 20,3, e junto
a uma amostra dos quinhentos maiores empresários do mesmo país, obtendo média = 23,1.
Mock e Hoy (1998) pesquisaram com o CEI um grupo de donos de empresas que não visam o
lucro (non-profit) voltadas para prover assistência aos portadores do vírus da AIDS, e
encontraram média = 20,53.
Isso indica que os resultados dessa pesquisa, no que tange ao enquadramento da
amostra na pontuação do CEI, apresentaram-se similares àqueles realizados, também com
empresários, por outros pesquisadores, embora o valor de 18,1 represente a menor média
aferida entre todos os empresários nas pesquisadas analisadas – o que pode significar que,
comparativamente aos empresários de outras localidades, o pequeno empresário de Brasília
possui um potencial empreendedor ligeiramente menor.
24
23
22
21
20
19
18
17
16
Frequência
15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33
Continuação
No. Itens E* % NE %
Eu quero que este negócio cresça e torne-se poderoso (E)
4 105 62,1 64 37,9
O real propósito deste negócio é dar suporte a minha família.
Minhas prioridades incluem um monte de coisas fora este negócio
11 104 61,5 65 38,5
Uma das coisas mais importantes da minha vida é este negócio (E).
A diferença entre os concorrentes é a atitude do proprietário
23 101 59,8 68 40,2
Nós temos alguma coisa que fazemos melhor do que os concorrentes (E).
É mais importante ver possibilidades nas situações (E)
33 97 57,4 72 42,6
É mais importante ver as coisas das maneiras que elas são.
Eu penso que procedimentos padrões são cruciais
19 95 56,2 74 43,8
Eu aprecio o desafio de inventar mais do que qualquer coisa (E).
A coisa mais importante que eu faço para este negócio é planejar (E)
5 87 51,5 82 48,5
Sou mais importante no gerenciamento do dia-a-dia deste negócio.
Eu provavelmente gasto muito tempo com este negócio (E)
9 87 51,5 82 48,5
Eu divido meu tempo entre este negócio, família e amigos.
Eu odeio a idéia de pegar dinheiro emprestado
27 86 50,9 83 49,1
Empréstimo é somente outra decisão de negócios (E).
As pessoas pensam em mim como um trabalhador esforçado (E)
29 84 49,7 85 50,3
As pessoas pensam em mim como alguém fácil de se relacionar.
Eu gasto tanto tempo planejando quanto gerenciando este negócio (E)
20 83 49,1 86 50,9
Eu gasto a maior parte do meu tempo gerenciando este negócio.
Eu anseio pelo dia em que gerenciar este negócio seja simples
14 80 47,3 89 52,7
Se gerenciar ficar muito simples, eu iniciarei outro negócio (E).
Objetivos por escrito para este negócio são cruciais (E)
1 77 45,6 92 54,4
É suficiente saber a direção geral em que você esta indo.
Eu adoro a idéia de tentar ser mais esperto que os concorrentes (E)
25 77 45,6 92 54,4
Se você mudar muito, você pode confundir os clientes.
Eu gosto de abordar situações de uma perspectiva otimista
6 75 44,4 94 55,6
Eu gosto de abordar situações de uma perspectiva analítica (E).
Eu penso que é importante ser otimista
18 74 43,8 95 56,2
Eu penso que é importante ser lógico (E).
Eu sempre procuro por novas maneiras de se fazer as coisas (E)
17 73 43,2 96 56,8
Eu procuro estabelecer procedimentos padrões para que as coisas sejam feitas certas.
As pessoas que trabalham para mim trabalham duro (E)
13 67 39,6 102 60,4
As pessoas que trabalham para mim gostam de mim.
Eu tenho percebido que gerenciar este negócio cai na rotina (E)
21 57 33,7 112 66,3
Nada sobre gerenciar este negócio é sempre rotina.
Qualidade e serviços não são suficientes. Você tem que ter uma boa imagem (E)
28 56 33,1 113 66,9
Um preço justo e boa qualidade é tudo o que qualquer cliente realmente deseja.
Eu prefiro as pessoas que são realistas
22 47 27,8 122 72,2
Eu prefiro as pessoas que são imaginativas (E).
Eu penso que eu sou uma pessoa prática
15 39 23,1 130 76,9
Eu penso que eu sou uma pessoa imaginativa (E).
Eu não teria iniciado este negócio se eu não tivesse certeza de que seria bem sucedido
3 31 18,3 138 81,7
Eu nunca terei certeza se este negócio dará certo ou não (E).
(E) = Afirmação representativa do Comportamento empreendedor
E* = Freqüência de marcações da sentença identificada como empreendedora
NE = Freqüência de marcações da sentença identificada como não empreendedora
Fonte: Dados da Pesquisa
O par de afirmações no. 30 (“Os únicos empreendimentos que este negócio faz são
aqueles relativamente seguros/ Se você quer que este negócio cresça, você tem que assumir
alguns riscos (E)”) obteve a maior freqüência de respostas para comportamento empreendedor
(81,7%), o que significa que a maioria dos donos de empreendimentos concordam que
assumir riscos faz parte de um comportamento empreendedor. Da mesma maneira, 79,9% dos
entrevistados acreditam que um plano de trabalho deveria ser escrito para ser efetivo e 78,1%
relataram que seus objetivos pessoais giram em torno do empreendimento.
Por outro lado, o item 3 (“Eu não teria iniciado este negócio se eu não tivesse certeza
de que seria bem sucedido/ Eu nunca terei certeza se este negócio dará certo ou não. (E)”),
obteve a menor freqüência de respostas para comportamento empreendedor (18,3%),
indicando que os donos de empreendimentos não percebem que a incerteza faz parte de um
comportamento empreendedor. Outros comportamentos considerados de empreendedores
também apresentaram freqüências de respostas baixas: 27,8% dos donos de empreendimentos
não preferem as pessoas imaginativas e 23,1% não se consideram pessoas imaginativas.
Esse resultado é compatível com aquele encontrado por Inácio (2002), conforme pode
ser observado no quadro 11 abaixo:
Quadro 11 – Comparação de respostas ao CEI entre a amostra e aquela analisada por Inácio(2002).
Itens do CEI com maior freqüência de respostas na afirmação empreendedora
Pequenos empresários de Brasília Pequenos empresários do Paraná
2, 4, 7, 8, 10, 11, 12, 16, 24, 26, 30, 31, 32 4, 7, 8, 10, 11, 16, 20, 23, 24, 26, 31, 33
Itens do CEI com menor freqüência de respostas na afirmação empreendedora
Pequenos empresários de Brasília Pequenos empresários do Paraná
3, 13, 15, 21, 22, 28 3, 13, 15, 21, 32
Fonte: Dados da Pesquisa
O quadro 11 mostra que a compreensão a respeito dos itens do CEI foi similar por
parte dos dois grupos. Em seu trabalho, Inácio (2002, p.60) comenta que, com relação ao item
21, pode ter havido uma má interpretação:
propostas por Carland, Carland e Hoy (1992), a saber, postura estratégica, propensão à
inovação, propensão ao risco e traços de personalidade, e os itens do Carland
Entrepreneurship Index. Essa relação foi apresentada anteriormente no quadro 7 (p. 60).
A tabela 16, a seguir, apresenta os resultados descritivos quanto às características
empreendedoras medidas no CEI, segundo a classificação de Inácio (2002):
Observa-se que dos treze itens do CEI que procuram observar, segundo Inácio (2002),
a característica “postura estratégica”, nove (69,2%) apresentaram tendência empreendedora na
92
amostra, sendo que a questão 8 (“Um plano deveria ser escrito para ser efetivo (E)/Um plano
não escrito para desenvolvimento é suficiente”) foi a que apresentou a maior freqüência de
respostas empreendedoras (79,9%) e, por sua vez, a questão 28 (“Qualidade e serviços não
são suficientes. Você tem que ter uma boa imagem (E) Um preço justo e boa Qualidade é
tudo o que qualquer cliente realmente deseja.”) foi a que apresentou a menor (33,1%).
A postura estratégica, assim como descrita por Carland, Carland e Hoy (1992) é um
fator relacionado à capacidade do indivíduo em interagir com o ambiente de modo a estar
preparado para possíveis problemas e atento às oportunidades. Para Leite (2000), a atenção às
oportunidades é característica principal do perfil do empreendedor e, para Filion (1999),
quando relacionada aos negócios, quase sempre consiste em ocupar um segmento que
ninguém tenha pensado em ocupar antes.
Com relação aos cinco itens do CEI que observam, segundo Inácio (2002), a
característica "propensão à inovação, dois (40%) apresentaram tendência empreendedora na
amostra, sendo que a questão 33 (“É mais importante ver possibilidades nas situações (E)/ É
mais importante ver as coisas das maneiras que elas são”.) foi a que apresentou a maior
freqüência de respostas empreendedoras (57,4%) e, por sua vez, a questão 22 (“Eu prefiro as
pessoas que são realistas / Eu prefiro as pessoas que são imaginativas (E)” foi a que
apresentou a menor freqüência (27,8%).
A inovação foi a característica do empreendedor que apresentou maior concordância
entre os atores revisados nesse trabalho (SCHUMPETER, 1997; MCCLELLAND, 1972;
WEBER, 1989; FILION, 1997, 1999, 2000, 2001; MCDONALD, 2002; DEGEN, 1989;
DRUCKER, 1986; SOUZA, 2001a; DUTRA, 2001; BARROS e PRATES, 1996;
MINTZBERG, 1979; ANGELO, 2003; LONGNECKER et al., 1997; LEITE, 2000, 2001;
CARLAND et al., 1984; FRESE et al., 1996; DOLABELA, 1999). De fato, Carland et al.
(1984) consideram a inovação como um fator crítico para o perfil empreendedor. Entretanto,
Hornaday (1992), em seus estudos, ilustrou que embora seja um elemento necessário ao
empreendedorismo, a inovação por si só é insuficiente para descrever completamente o
potencial empreendedor, em razão da dimensão do fenômeno empreendedor.
Já quanto à propensão ao risco, todos os itens do CEI que, segundo Inácio (2002),
estão relacionados a essa característica, apresentaram freqüência de respostas maior na opção
empreendedora do que na opção não empreendedora, com destaque para a questão 30 (“Os
únicos empreendimentos que este negócio faz são aqueles relativamente seguros/ Se você
quer que este negócio cresça, você tem que assumir alguns riscos (E)”) que apresentou 81,7%
de freqüência na opção empreendedora.
93
De acordo com Carland, Carland e Koiranen (1997), a propensão a assumir riscos foi a
primeira característica empreendedora a ser identificada, por Cantillion em torno de 1700,
identificando o empreendedor como a pessoa que assumia riscos na firma. Segundo os
estudos de Brockhaus (1980), entretanto, não há diferença no comportamento quanto ao risco
entre um empreendedor e a população em geral. Por outro lado, estudos mais recentes
(CARLAND, CARLAND e KOIRANEN, 1997; CARLAND, CARLAND e PEARCE, 1995)
têm mostrado uma maior propensão ao risco entre os empreendedores, principalmente ao
serem confrontados com riscos envolvidos na administração de um negócio.
A última característica do potencial empreendedor medida pelo CEI, segundo Inácio
(2002), são os traços de personalidade. Observa-se que dos doze itens que procuram observar
essa característica, cinco (41,6%) apresentaram tendência empreendedora na amostra, sendo
que a questão 10 (“Eu tendo a deixar meu coração governar minha cabeça/ Eu tendo a deixar
minha cabeça governar meu coração (E)”.) foi a que apresentou a maior freqüência de
respostas empreendedoras (75,1%) e, por sua vez, a questão 3 (“Eu não teria iniciado este
negócio se eu não tivesse certeza de que seria bem sucedido / Eu nunca terei certeza se este
negócio dará certo ou não (E)”.) foi a que apresentou a menor freqüência (18,3%).
Os traços de personalidade, segundo Carland, Carland e Hoy (1992), estão
relacionados à necessidade de realização, definida por McClelland (1972) como a capacidade
de um indivíduo em fixar para si mesmo um alto padrão de realização e motivar-se para
buscar arduamente alcançar as metas estabelecidas, e à criatividade, definida por Ostrower
(1987), como a capacidade de estabelecer relações entre dois fatores de forma adequada.
Carland, Carland e Koiranen (1997) consideram que essa característica é a que mais apresenta
divergências entre os estudiosos, mas que é central no modelo de análise do empreendedor.
Com base na análise dos resultados apresentados na tabela 16, observa-se que, de
maneira geral, o pequeno empresário de Brasília enquadrado na amostra apresenta facilidade
para analisar e assumir riscos inerentes à administração de um negócio, e mostra atenção para
descobrir novos segmentos ainda não ocupados pela concorrência. Entretanto, apresenta baixa
necessidade de realização e reduzida capacidade inovadora e criativa.
Notadamente, as duas características melhor pontuadas foram aquelas relacionadas aos
fatores externos, ambientais, enquanto as duas características pior pontuadas foram aquelas
relacionadas ao indivíduo. Possivelmente a experiência administrativa ou os treinamentos
empresariais conseguiram desenvolver nos empresários a capacidade de estar atento às
oportunidades e de analisar e correr riscos. Entretanto, a inovação, criatividade ou a
necessidade de realização, parecem ser características que embora possíveis de ser
94
desenvolvidas, são mais complexas e, por isso, demoram para ser assimiladas, exigindo mais
tempo e disposição do indivíduo.
Uma discussão apresentada anteriormente nesse trabalho (p. 77) mostra que das quatro
características (inovação, busca de oportunidades, correr riscos e criatividade) consideradas
como essenciais ao desenvolvimento do potencial empreendedor, de acordo com os autores
revisados, apenas duas (busca de informações e correr riscos) são treinadas no curso
Empretec, de acordo com o Sebrae (1997), reforçando a discussão do parágrafo anterior.
Com relação ao objetivo de pesquisa, a análise dos dados coletados através do CEI
fornece evidência de que os pequenos empresários da amostra deste trabalho possuem um
potencial empreendedor moderado, sendo considerados empreendedores segundo a escala do
instrumento. Entretanto, com relação às quatro características medidas, o grupo apresentou
notável disposição para correr riscos e forte presença da postura estratégica (busca de
oportunidades). Entretanto, mostrou-se frágil com relação às características de traços de
personalidade (criatividade e necessidade de realização) e propensão à inovação. Em
comparação com os resultados de pesquisas semelhantes com empresários de outras
localidades, a média de pontuação total do CEI (18,06) indica que os empresários pesquisados
possuem potencial empreendedor, na média, um pouco menor.
Antes de iniciar a validação estatística do CEI, descrita no próximo item deste
trabalho, é interessante observar que durante o processo de aplicação do questionário não
houve nenhum elogio específico ao instrumento, mas houve diversas críticas, embora muitas
delas direcionadas à quantidade de itens do CEI ou de caráter irrelevante. Entretanto, alguns
empresários comentaram que não sentiam que seu potencial empreendedor estava sendo
medido pelo instrumento e, outros, mostraram-se insatisfeitos em ter que escolher uma das
duas afirmações, afirmando que em alguns casos ambas e, em outros, nenhuma das duas
sentenças descreviam o seu comportamento.
A análise fatorial é uma técnica estatística baseada no pressuposto de que uma série de
variáveis observadas, medidas, pode ser explicada por um número menor de variáveis não
observáveis, hipotéticas, denominadas também de fatores. A tarefa da análise fatorial é
descobrir se as variáveis observadas relacionam-se com as variáveis hipotéticas.
95
Neste trabalho, obteve-se um KMO de 0,54, considerado por Kaiser (in Pasquali, no
prelo), um índice baixo de adequação da amostra. Este valor, no entanto, pode ser considerado
adequado, e não impede a continuidade da análise fatorial no caso do presente estudo, uma
vez que não há ainda um consenso sobre o conceito de empreendedorismo e a tendência ao
comportamento empreendedor, particularmente o instrumento de coleta de dados utilizado,
Carland Entrepreneurship Index, apresenta poucos estudos científicos no Brasil.
A análise dos Componentes Principais, com tratamento pairwise para os casos omissos
(desconsiderando os casos omissos), sugere também uma estrutura empírica com 13
componentes que explicam, em conjunto, 63,72% da variância total das respostas dos
participantes aos itens do questionário. Conclusão similar foi encontrada por Inácio (2002)
que, ao realizar sua análise, concluiu por uma solução com quatorze fatores, embora quatro
contribuam de forma mais acentuada.
Dando continuidade à análise dos Componentes Principais, para verificar a qualidade e
o número de fatores a serem eliminados, inicialmente foi analisada a distribuição dos valores
próprios (Figura 4), que apresentou claramente 4 componentes. Essa técnica, denominada
Scree Plot consiste em apresentar os valores próprios para visualizar onde os pontos, que
representam os fatores, passam de uma inclinação acentuada para quase uma linha horizontal,
sendo considerada a quantidade de fatores à esquerda dessa linha.
3,0
2,5
2,0
1,5
Valores Próprios
1,0
,5
0,0
1 5 9 13 17 21 25 29 33
3 7 11 15 19 23 27 31
Componentes
Fonte: Dados da Pesquisa
97
Deste modo, as análises fatoriais dos eixos principais (PAF) foram realizadas para 4,
3, 2 e 1 fatores, obtendo-se melhores resultados na solução com 4 fatores. Esse método
verifica como os itens agrupam-se em relação aos quatro fatores, observando-se o peso das
cargas fatoriais de cada item, pois a validade do item está relacionada com essa carga fatorial.
Comrey (apud OLIVEIRA, 2002), no contexto de validade dos itens, classifica
adequadamente as cargas fatoriais da seguinte maneira: cargas acima de 0,71 são excelentes;
de 0,63 a 0,70 são muito boas; de 0,55 a 0,62 são boas; de 0,45 a 0,54 são razoáveis e de 0,32
a 0,44 são pobres, mas aceitáveis.
A extração final dos fatores do CEI foi realizada por meio da PAF, com tratamento
pairwise para casos omissos. Foram incluídos na escala apenas os itens com conteúdos
semânticos similares e cargas fatoriais superiores ou iguais a 0,30, indicados por Carland,
Carland e Hoy (1992) como suficientes para os estudos nas ciências sociais.
As cargas fatoriais indicam a intensidade da relação entre a variável e o fator. Quanto
maior a carga, maior a sua relação com o fator. A variância explicada significa o peso que um
determinado fator apresenta no instrumento e, segundo Oliveira (2002), valores superiores a
3% são considerados bons.
O cálculo do Alfa de Cronbach visa verificar a precisão (fidedignidade) dos fatores
sendo que, quanto mais próximo de “1”, mais o fator estará sendo medido pelo instrumento. O
Valor Próprio (Eingeinvalue) expressa a variância total do modelo explicada por cada fator,
sendo que um fator deve possuir valor próprio maior ou igual a 1 para ser extraído. A
comunalidade representa quanto da variância total das variáveis é reproduzida pelos fatores
comuns e quanto mais estiver próxima de “1”, maior a relação do item com o fator.
A Tabela 17, a seguir, apresenta a estrutura empírica da escala, as cargas fatoriais e
comunalidades (h2) dos itens, o índice de consistência interna (Alfas de Cronbach), bem como
o valor próprio e percentual de variância explicada do fator.
98
Continuação
Cargas fatoriais
2
No. Código/ Descrição dos Itens Fator Fator Fator Fator h
1 2 3 4
A diferença entre os concorrentes é a atitude do proprietário.
23 -0,32 0,11
Nós temos alguma coisa que fazemos melhor do que os concorrentes.
Meus objetivos pessoais giram em torno deste negócio.
24 0,12
Minha vida real é fora deste negócio, com minha família e amigos.
Eu adoro a idéia de tentar ser mais esperto que os concorrentes.
25 0,32 0,11
Se você mudar muito, você pode confundir os clientes.
A melhor abordagem é evitar o risco tanto quanto possível.
26 0,46 0,28
Se você quer exceder a concorrência, você tem que assumir alguns riscos.
Eu odeio a idéia de pegar dinheiro emprestado.
27 0,45 0,21
Empréstimo é somente outra decisão de negócios.
Qualidade e serviços não são suficientes. Você tem que ter uma boa imagem.
28 0,04
Um preço justo e boa Qualidade é tudo o que qualquer cliente realmente deseja.
As pessoas pensam em mim como um trabalhador esforçado.
29 0,38 0,17
As pessoas pensam em mim como alguém fácil de se relacionar.
Os únicos empreendimentos que este negócio faz são aqueles relativamente
30 seguros. 0,32 0,39 0,29
Se você quer que este negócio cresça, você tem que assumir alguns riscos.
A coisa que eu mais sinto falta em trabalhar para alguém é a segurança.
31 0,34 0,12
Eu realmente não sinto falta de trabalhar para alguém.
Eu me preocupo com os direitos das pessoas que trabalham para mim.
32 0,12
Eu me preocupo com os sentimentos das pessoas que trabalham para mim.
É mais importante ver possibilidades nas situações.
33 0,45 0,23
É mais importante ver as coisas das maneiras que elas são.
N 169 169 169 169
Eigenvalue (Valor próprio) 2,18 1,55 1,20 1,00
% da Variância Explicada 6,6 4,7 3,6 3,0
No. de itens 6 5 6 5
Alfa ( ) 0,54 0,42 0,07 0,47
Alfa Padronizado 0,54 0,42 0,11 0,47
Fonte: Dados da Pesquisa
O Fator 3, composto por 6 itens (2; 8; 12; 18; 19 e 23), mede aspectos relacionados à
postura estratégica, traços de personalidade e inovação/criatividade. Este fator apresentou um
Alfa de 0,07 (Alfa Padronizado=0,11) e itens com cargas fatoriais variando entre –0,53 e
0,58.
O Fator 4, é composto por 5 itens (4; 16; 17; 31 e 33) e avalia aspectos referentes à
postura estratégica, traços de personalidade, propensão ao risco e inovação/criatividade . Este
fator apresentou um Alfa de 0,47 (Alfa Padronizado=0,47) e itens com cargas fatoriais
variando entre 0,34 e 0,45.
O item 30 (“Os únicos empreendimentos que este negócio faz são aqueles
relativamente seguros/ Se você quer que este negócio cresça, você tem que assumir alguns
riscos”) indica a possibilidade de pertencer a dois fatores. Foram realizadas análises com este
item nos dois fatores separadamente, bem como análises com os 2 fatores sem a presença
deste item. Optou-se por inserir tal item no segundo fator por apresentar carga fatorial maior e
por resultar em melhor solução fatorial. O mesmo ocorreu com o item 4 e a opção foi mantê-
lo no fator 4.
Dessa forma, não é possível afirmar que os fatores propostos por Inácio (2002) foram
confirmados. Isto indica que provavelmente os itens relacionados à postura estratégica, traços
de personalidade, propensão ao risco e inovação precisam ser revistos. Esta diferença de
resultados pode ter ocorrido também devido à utilização de diferentes amostras. Entretanto, a
primeira hipótese é mais provável, uma vez que Inácio (2002, p.112) não obteve acesso à
divisão original proposta pelos autores do questionário:
Segundo Pasquali (no prelo), a validade do fator é garantida pela própria análise
fatorial e é expressa pelo tamanho das cargas fatoriais, ou seja, quanto maiores elas forem,
mais a variável é representativa do fator, ou ainda, quanto mais próxima de 1 for a carga,
melhor é o item. Nos resultados apresentados na Tabela 8, é possível verificar que as cargas
fatoriais não foram tão altas. Entretanto, como mencionado anteriormente, o fenômeno
analisado ainda encontra-se no processo inicial de estudos científicos, e este resultado, na
verdade, torna-se uma notável contribuição para área, já que possibilitará melhorias e
adaptações a serem realizadas pelos pesquisadores.
Além disso, outra explicação de caráter mais amplo para os resultados encontrados
está no fato de que o Carland Entrepreneurship Index é um instrumento de pesquisa
desenvolvido nos Estados Unidos, por pesquisadores norte-americanos (CARLAND,
CARLAND e HOY, 1992). Em estudo mais recente, Carland, Carland e Koiranen (1997)
analisaram, através do CEI, o potencial empreendedor de dois grupos de empresários, um nos
Estados Unidos e outro na Finlândia. A conclusão da pesquisa desses autores mostra que as
características relacionadas ao potencial empreendedor são as mesmas, mas que suas
intensidades individuais, suas importâncias relativas, são diferentes em cada um dos países.
Dessa forma, o CEI pode carecer de ajustes e mudanças que o adequem à realidade e à
cultura do Brasil, sem que, contudo, seja necessário mudar suas bases teóricas que
permanecem sólidas conforme observado ao longo deste trabalho. Por fim, é importante dar
102
Tabela 18 - Comparação entre sexo dos funcionários e média da soma dos escores do CEI
Desvio-
Grupos Média t gl p
Padrão
Masculino 18,29 3,83 1,202 167 0,231
Feminino 17,48 4,24
Fonte: Dados da Pesquisa
O resultado mostra que não existe diferença significativa entre as médias dos grupos
definidos a partir do sexo dos funcionários. O grupo dos homens apresentou média igual a
18,29 (DP= 3,83), e o grupo das mulheres apresentou média igual a 17,48 (DP=4,24), para um
valor do teste t igual a 1,202 (gl=167; p=0,231). As médias dos grupos permaneceram 16 e 25
pontos, o que os coloca na faixa de Empreendedores.
103
De fato, o potencial empreendedor não parece ser afetado pela variável sexo, conforme
foi observado aqui e nas pesquisas semelhantes realizadas por Inácio (2002); Carland, Carland
e Koiranen (1997); Carland, Carland e Ensley (2001); Mock e Hoy (1998) e Young, Doyle e
Fischer (2002).
Na Tabela 19, é apresentado o resultado do teste de diferença entre médias (Teste t),
considerando p<0,05, que comparou a renda familiar relatada pelos donos dos
estabelecimentos entrevistados com a soma dos escores obtidos a partir do CEI.
Tabela 19. Comparação entre renda familiar e média da soma dos escores do CEI.
Desvio-
Grupos Média t gl p
Padrão
R$ 500,00 a R$ 4.000,00 18,65 3,51 1,00 85 0,32
Acima de R$ 4.000,01 17,78 4,33
Fonte: Dados da Pesquisa
O resultado mostra que não existe diferença significativa entre as médias dos grupos
definidos a partir da renda familiar. O grupo que relatou renda familiar de R$ 500,00 a R$
4.000,00 apresentou média igual a 18,65 (DP=3,51), ao passo que o grupo que relatou renda
familiar acima de R$ 4.000,01, apresentou média igual a 17,78 (DP=4,33), para um valor do
teste t igual a 1,00 (gl=85; p=0,32).
Com relação à renda, resultado similar foi encontrado por Carland, Carland e Koiranen
(1997) e Carland, Carland e Ensley (2001), nos quais a renda também não apresentou relação
direta com o escore no CEI.
Para realizar a comparação dos grupos de número de funcionários, foi realizado o teste
de diferença entre médias ANOVA. Na Tabela 20, são apresentadas a média da soma dos
escores obtidos a partir do CEI dos diferentes grupos.
Tabela 20. Comparação entre número de funcionários e média da soma dos escores do CEI.
Desvio-
Grupos Média F gl p
Padrão
10 a 14 funcionários 17,97 3,45 1,76 2 0,176
15 a 20 funcionários 17,31 4,27
Acima de 21 funcionários 18,85 4,37
Fonte: Dados da Pesquisa
Tabela 21. Comparação entre tempo de funcionamento e média da soma de escores do CEI
Desvio-
Grupos Média F gl p
Padrão
0 a 3 anos 18,83 3,89 0,89 3 0,448
4 a 7 anos 18,09 3,44
8 a 11 anos 17,45 4,38
Acima de 12 anos 17,65 4,30
Fonte: Dados da Pesquisa
Não foram observadas diferenças significativas entre as médias dos grupos definidos a
partir do tempo de funcionamento da empresa. As médias dos grupos variaram de 17,45 a
18,83, sendo que o grupo com intervalo de 8 a 11 anos apresentou a menor média (DP=4,38)
e o grupo com tempo de funcionamento de 0 a 3 anos apresentou a maior média (DP=3,89),
para um valor da ANOVA igual a 0,89 (gl=3; p=0,448). A partir deste resultado, pode-se
dizer que os diferentes tempos de funcionamento das empresas não interferem na percepção
de tendência ao comportamento empreendedor.
Acreditava-se que as empresas mais novas apresentariam um escore mais elevado que
as empresas mais antigas, justamente por estarem mais propensas a entrarem no mercado
como resultado de uma oportunidade. Os resultados mostram que embora apresentem
105
Tabela 22. Comparação entre grupos de faixa etária e média da soma dos escores do CEI.
Desvio-
Grupos Média F gl p
Padrão
Até 25 anos 20,71 3,93 2,77 3 0,044
26 a 35 anos 18,43 3,75
36 a 45 anos 17,61 3,99
Acima de 45 anos 17,64 3,88
Fonte: Dados da Pesquisa
Por outro lado, Gibb e Carland et al.(apud INÁCIO, 2002) indicam que quanto mais
avançada for a idade de um empresário, mais tende a aumentar seu potencial empreendedor,
em virtude do amadurecimento e acumulação de conhecimento. Entretanto, Inácio (2002)
também identificou que os empresários com 25 a 34 anos apresentaram maior tendência ao
desenvolvimento do potencial empreendedor. Assim, parece claro que há uma correlação
entre idade e potencial empreendedor, que pode estar relacionada à menor responsabilidade
que o indivíduo, nessa faixa etária, possui, estando mais propenso a arriscar e inovar.
Na Tabela 23, é apresentado o resultado do teste ANOVA (p<0,05) para as variáveis
nível de escolaridade dos donos de estabelecimentos e média da soma de escores obtida do
CEI.
Tabela 23. Comparação entre níveis de escolaridade e média da soma de escores do CEI
Desvio-
Grupos Média F gl p
Padrão
Primeiro grau 16,88 3,54 2,96 2 0,055
Segundo grau 17,56 3,90
Terceiro grau 18,77 4,03
Fonte: Dados da Pesquisa
Tabela 24. Comparação entre estado civil e média da soma de escores do CEI
Grupos Média Desvio-Padrão F gl P
Casado 17,96 4,02 0,26 2 0,774
Separado 18,71 3,27
Solteiro 18,05 4,10
Fonte: Dados da Pesquisa
107
A partir da análise dos resultados apresentados na tabela acima, verificou-se que não
existem diferenças significativas entre as médias de percepção quanto ao comportamento
empreendedor dos grupos definidos a partir do estado civil dos donos de estabelecimentos. As
médias dos grupos variaram de 17,96 a 18,71, para um valor da ANOVA igual a 0,26 (gl=2;
p=0,774). Pode-se dizer que o estado civil dos entrevistados não interfere na soma de escores
do CEI.
No capítulo seguinte, são apresentadas as sugestões e conclusões da presente pesquisa.
108
comportamental tem suas bases fundamentadas nos estudos de McClelland (1972) e busca
identificar os traços de personalidade que formam o perfil ideal do empreendedor, de modo
que as pessoas possam ser treinadas para desenvolver seu potencial empreendedor.
Notou-se que os autores revisados, que apresentam trabalhos mais recentes sobre o
empreendedorismo, não parecem se enquadrar em uma ou outra linha de pesquisa havendo
uma tendência convergente em identificar o indivíduo como portador das características que
iniciam o processo empreendedor, sendo a inovação um elemento central.
Nesse sentido as pesquisas realizadas por Carland e colegas (1984, 1992, 1995, 1997,
1998, 2001) interpretam o fenômeno empreendedor como o resultado de uma interação entre
algumas características principais que desenvolve, no indivíduo, a vontade de tomar atitudes
empreendedoras, liberando seu potencial. Para esses autores, todas as pessoas possuem essas
características com maior ou menor intensidade, deslocando-se em um continuum com
relação ao seu próprio potencial empreendedor.
A revisão dos autores indicou que a inovação, a busca de oportunidades, a criatividade
e a propensão a correr riscos são as características mais associadas ao perfil empreendedor,
citadas por mais de 50% dos autores revisados. Entretanto, no total, quarenta e nove
características foram citadas pelos diversos autores. Isso parece ser um indicador da
complexidade do fenômeno empreendedor e corrobora a análise de que esse é um campo de
pesquisa recente, que agrega pesquisadores vindos de áreas distintas e que analisam diferentes
aspectos do empreendedorismo. Todavia, mostra também a necessidade de realizar novas
pesquisas e trabalhos que busquem agregar o conhecimento produzido.
Paralelamente, foi observado que das treze características treinadas pelo Empretec,
talvez o mais renomado treinamento para empresários no Brasil que visa desenvolver o
potencial empreendedor, apenas quatro aparecem entre as dez mais citadas pelos autores
revisados. Além disso, das quatro características observadas como centrais ao comportamento
empreendedor, apenas duas são diretamente treinadas: correr riscos e buscar oportunidades.
Identificou-se, posteriormente, que o potencial empreendedor dos pequenos empresários de
Brasília apresentou fraquezas justamente nas duas características ausentes. Embora não possa
ser tirada qualquer conclusão científica, pois o objetivo dessa pesquisa não era
especificamente avaliar as características do Empretec, os indícios acima descritos sugerem
uma revisão nas características desse curso, embora pesquisas e estudos de caráter mais
específico se façam necessários.
A análise do discurso de empresários brasileiros de sucesso sobre as características
que formam o perfil do empreendedor, coletado por Wollheim, B. e Marcondes, P. (2003);
110
Além disso, o CEI apresenta uma escala dual, na qual o respondente é forçado a
escolher uma de duas sentenças com que mais se identifica. Esse tipo de escala não permite
uma avaliação direta de intensidade para cada item, o que também significou uma limitação
do estudo.
Segundo a classificação proposta por Carland, Carland e Hoy (1992), há uma
concentração de 67,5% da amostra na categoria Empreendedor, que, segundo esses autores,
caracteriza-se por concentrar seus esforços no lucro e no crescimento, busca a inovação
através de melhorias incrementais e almeja o reconhecimento, a admiração e a riqueza.
Com relação ao objetivo de pesquisa, a análise dos dados coletados através do CEI
fornece evidência de que os pequenos empresários pesquisados possuem um potencial
empreendedor moderado, sendo considerados empreendedores segundo a escala do
instrumento. Entretanto, com relação às quatro características medidas, o grupo apresentou
notável disposição para correr riscos e forte presença da postura estratégica (busca de
oportunidades). Entretanto, mostrou-se frágil com relação às características de traços de
personalidade (criatividade e necessidade de realização) e propensão à inovação. Em
comparação com os resultados de pesquisas semelhantes com empresários de outras
localidades, a média de pontuação total do CEI (18,06) indica que os empresários pesquisados
possuem potencial empreendedor, na média, um pouco menor.
Notadamente, as duas características que foram melhor pontuadas foram aquelas
relacionadas aos fatores externos, ambientais, enquanto as duas características pior pontuadas
foram aquelas relacionadas ao indivíduo. Possivelmente a experiência administrativa ou os
treinamentos empresariais conseguiram desenvolver nos empresários a capacidade de estar
atento às oportunidades e de analisar e correr riscos. Entretanto, a inovação, criatividade ou a
necessidade de realização, parecem ser características que embora possíveis de ser
desenvolvidas, são mais complexas e, por isso, demoram para ser assimiladas, exigindo mais
tempo e disposição do indivíduo. Além disso, essas observações são meras conjecturas e
pedem maior comprovação científica por pesquisas subseqüentes a esta.
Entretanto, todas as conclusões e análises acima devem ser observadas com muito
cuidado, pois a escala adaptada neste estudo mostrou-se frágil quanto à validade e
fidedignidade. Sugere-se a aplicação da escala em outros contextos e amostras, bem como
analisar cuidadosamente a diferença entre os conceitos referentes aos fatores propostos por
Carland, Carland e Hoy (1992): postura estratégica, traços de personalidade, propensão ao
risco e inovação.
112
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Planning, Londres, v. 12, n. 2, p. 84-91, 1979.
Estamos interessados em verificar sua tendência de comportamento empreendedor. Solicitamos sua colaboração
respondendo a este instrumento. Agradecemos sua colaboração.
Assinale com um (X) qual alternativa melhor descreve seu comportamento ou maneira de ser para cada um dos
33 pares de afirmações apresentadas a seguir.
Eu não teria iniciado este negócio se eu não tivesse certeza de que seria bem sucedido.
3
Eu nunca terei certeza se este negócio dará certo ou não.
Qualidade e serviços não são suficientes. Você tem que ter uma boa imagem.
28
Um preço justo e boa qualidade é tudo o que qualquer cliente realmente deseja.
Os únicos empreendimentos que este negócio faz são aqueles relativamente seguros.
30
Se você quer que este negócio cresça, você tem que assumir alguns riscos.
! " # ! "
! " $ ! " %& ! " % ! "
# ! " ' ! " ' ! " '
( #! " ! " ! " #
( # # !)))))))))))))))))))" ! "
126
Please darken the box next to the ONE of each pair of statements, which comes CLOSEST to representing the
way you USUALLY feel.
I'
m the one who has to do the thinking and planning.
12
I'
m the one who has to get things done.
The only undertakings this business makes are those that are relatively certain.
30
If you want the business to grow you have to take some risks.
The thing I miss most about working for someone else is security.
31
I don'
t really miss much about working for someone else.
Scoring Instructions
Put a check in the appropriate box for the first or second choice for each of the questions.
Count the number of checks appearing in boxes, which have the word "count" appearing in
them. The total of number of checks in "count" boxes will be the respondent' s
Entrepreneurship Index and will range from 0 to 33.