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UNB – UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência


da Informação e Documentação - FACE
Programa de Pós Graduação em Administração – PPGA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Características Empreendedoras de Pequenos


Empresários de Brasília

FERNANDO BANDEIRA SACENCO KORNIJEZUK


Aluno do curso de Mestrado em Administração

Orientadora: Profa. Dra. Eda Castro Lucas de Souza

BRASÍLIA – DF
MAIO - 2004
UNB – UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência
da Informação e Documentação - FACE
Programa de Pós Graduação em Administração – PPGA

Características Empreendedoras de Pequenos


Empresários de Brasília

Fernando Bandeira Sacenco Kornijezuk

Dissertação apresentada ao Programa de Pós


Graduação em Administração da
Universidade de Brasília, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em
Administração.

BRASÍLIA – DF
MAIO - 2004
UNB – UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência
da Informação e Documentação - FACE
Programa de Pós Graduação em Administração – PPGA

Características Empreendedoras de Pequenos


Empresários de Brasília

Dissertação de Mestrado avaliada pela seguinte Comissão Examinadora

Orientadora - Profa. Dra. Eda Castro Lucas de Souza

Profa. Dra. Edi Madalena Fracasso

Prof. Dr. Tomas de Aquino Guimarães


Aos meus pais e à minha irmã; À Juliana;
Aos Cavaleiros da Colher e;
À vovó Aglae.
“As pessoas nascem para realizar alguma coisa no mundo,
mas poucas são aquelas que conseguem descobrir o que devem fazer.
As que conseguem são os empreendedores”.

Washington Olivetto
AGRADECIMENTOS

Aos professores e funcionários do Departamento de Administração da Universidade de


Brasília, com quem tive o prazer de conviver durante os últimos anos;
Especialmente à minha orientadora, Profa. Dra. Eda Castro Lucas de Souza, que
iniciou-me no complexo caminho do estudo do empreendedorismo e infundiu-me, com todo
seu entusiasmo, o respeito maior pelo tema;
Ao Prof. Dr. Tomáz de Aquino que me deu apoio nos momentos mais difíceis do
trajeto, meus mais sinceros agradecimentos;
Aos colegas do mestrado que se tornaram amigos e parceiros, pelas descobertas, pelos
risos e pelo apoio;
Especialmente aos colegas Luciano Charlita, Robespierre Sá, Taís Zerbini e Angelino,
pelo apoio nos momentos complicados e pelas valiosas dicas;
Ao grande amigo Gummersindo Junior, pelo companheirismo e camaradagem;
Ao SEBRAE por ter me dado apoio na obtenção de material de pesquisa e na coleta de
dados, particularmente ao gerente da Unidade de Educação e Desenvolvimento da Cultura
Empreendedora, Ênio Pinto;
Ao meu colega Ricardo Garcia, que, como se não bastasse ser a pessoa incrível que é,
ainda arranja tempo para ser pai, mãe e o maior empreendedor que já conheci;
Aos colegas da Checon;
Aos meus chefes Gilberto Braga, Gustavo Morelli e Ijalmar Nogueira, pelo apoio e
pela compreensão durante os meus momentos de ausência ao longo desse trabalho;
Aos meus colegas de trabalho, pelo apoio dado durante os mesmos momentos de
ausência, particularmente a meus amigos Hermes, AnaQ, Cláudia e Carolina Guidotti;
Aos meus parentes e amigos: minha torcida organizada;
À minha irmã, pelo apoio e pela força. Você me inspira;
Especialmente à minha mãe Lucília Bandeira, que das formas mais incríveis que
qualquer pessoa possa imaginar me ajudou e me animou durante todo o percurso;
Especialmente ao meu pai, Nilton Sacenco. Pai, esse mestrado também é seu;
A meus gurus, por me ensinarem que embora o lado negro seja mais fácil e mais
rápido, a Força sempre está ao lado daqueles que fazem as coisas do jeito certo, com fé e
pureza de intenções;
E, principalmente, a Juliana Lemos, meu amor, minha mulher, minha vida. Por tudo.
RESUMO

À luz das teorias mais recentes sobre o empreendedorismo, esse estudo tem como
objetivo principal identificar qual é o potencial empreendedor de pequenos empresários de
Brasília. O referencial teórico revisado deu origem a uma matriz de características
empreendedoras que permitiu identificar o empreendedor como a pessoa que identifica uma
oportunidade, utiliza-se de criatividade para aproveitá-la, sendo capaz de implementar a sua
idéia, mesmo que corra riscos moderados, realizando com sucesso todo o processo de
inovação. Uma segunda matriz de características empreendedoras foi criada a partir da análise
do discurso de grande empresários brasileiros e foi observado elevado grau de concordância
entre o grupo de autores e o grupo de empresários quanto a três dos quatro fatores. O Carland
Entrepreneurship Index - CEI foi utilizado como instrumento para medir o potencial
empreendedor de uma amostra de 169 pequenos empresários do setor de serviços, donos de
restaurantes e academias de Brasília. Os resultados apresentados mostraram um potencial
empreendedor moderado na amostra, sendo que o fator idade apresentou variação na média de
pontuação no instrumento. Além disso, a amostra apresentou maior potencial empreendedor
nos fatores risco e busca de oportunidades. Entretanto, a validação estatística do CEI mostrou
que a escala, neste estudo, apresentou-se frágil quanto à validade e fidedignidade, sugerindo
uma adaptação do instrumento.

Palavras Chave: Empreendedorismo, Pequenas Empresas, Características Empreendedoras,


Inovação, Criatividade.
ABSTRACT

In the light of the most recent theories about entrepreneurship, the main objective of
this study is to quantify the entrepreneurial drive of small businessmen of Brasília, Brazil. The
analysis of previous studies by researchers originated a matrix of entrepreneurial
characteristics which allowed to identify the entrepreneur as the person who identifies an
opportunity, uses creativity to make the best of it, being capable to implement his idea, even
taking some risks, successfully doing the innovation process. A second matrix of
entrepreneurial characteristics was created based on the analysis of the speech of great
Brazilian businessmen and it showed an elevated degree of agreement between the group of
researchers and the group of businessmen regarding three of the four characteristics. The
Carland Entrepreneurship Index (CEI) was used to measure the entrepreneurial drive of a
sample composed of 169 small businessmen owners of restaurants and gyms in Brasília. The
results showed a moderate entrepreneurial drive, but the age factor showed variations in the
mean score. Moreover, the sample showed increased entrepreneurial drive regarding the
factors risk taking and opportunity seeking. However, statistic validation of the instrument
showed that the scale, in this study, appeared weak regarding validity and fidelity, suggesting
an adaptation of the instrument.

Key Words: Entrepreneurship, Small Business, Entrepreneurial Characteristics, Inovation,


Creativity.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 14
2.1 Pequenas Empresas .............................................................................................. 14
2.2 Empreendedorismo ............................................................................................... 17
2.2.1 Características Empreendedoras ................................................................... 23
2.3 Inovação .............................................................................................................. 40
2.4 Criatividade .......................................................................................................... 44
2.5 Correr Riscos ........................................................................................................ 49
2.6 Empreendedor: conceito deste estudo .................................................................. 51
3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 52
3.1 Caracterização da Pesquisa ................................................................................... 52
3.2 População ............................................................................................................. 52
3.3 Amostra ................................................................................................................ 52
3.4 Coleta de Dados .................................................................................................... 58
3.4.1 Instrumento de Coleta de Dados - CEI – Carland Entrepreneurship Index . 58
3.5 Procedimento de Coleta de Dados ........................................................................ 60
3.6 Análise de Dados .................................................................................................. 61
3.6.1 Análise Bibliográfica ..................................................................................... 62
3.6.1.1 Wollheim, B.; Marcondes, P. Empreendedor não é brincadeira - 2003 62
3.6.1.2 Mendonça, L. C. Empresários vencedores e suas histórias de sucesso
– 2002 .................................................................................................... 66
3.6.1.3 Britto, F. e Wever, L. Empreendedores Brasileiros: vivendo e
aprendendo com grandes nomes – 2003 ............................................... 68
3.6.2 Análise Estatística ......................................................................................... 71
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 73
4.1 Resultados - Objetivo Específico 1 - Matriz de Fatores Empreendedores ............ 73
4.2 Resultados - Objetivo Específico 2 - Matriz de Fatores Empreendedores ............ 78
4.3 Resultados - Objetivo Geral ................................................................................... 84
4.4 Resultados - Objetivo Específico 3 – Validação estatística do CEI ...................... 94
4.5 Resultados - Objetivo Específico 4 – Variáveis biográficas e funcionais e o
potencial empreendedor ................................................................... 102
5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................. 108

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 113

APÊNDICE A – Roteiro de Pesquisa ............................................................................. 123


ANEXO A – Carland Entrepreneurship Index ............................................................ 126
ANEXO B – Instruções para Tabulação do CEI .......................................................... 128
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Participação das pequenas empresas nos indicadores econômicos e sociais. 12


QUADRO 2 Classificação das empresas baseada no número de empregados .................. 16
QUADRO 3 Características atribuídas aos empreendedores pelos pesquisadores
comportamentais ........................................................................................... 27
QUADRO 4 Espírito Empreendedor ................................................................................. 37
QUADRO 5 Agentes na empresa inovadora ..................................................................... 38
QUADRO 6 Classificação do CEI – Micro Empreendedor, Empreendedor e Macro
Empreendedor ............................................................................................... 59
QUADRO 7 Características do empreendedor e sua relação com os itens do CEI ........... 60
QUADRO 8 Matriz de Fatores empreendedores segundo os autores revisados ............... 74
QUADRO 9 Matriz de Fatores Empreendedores na visão dos empresários – análise
inicial ............................................................................................................ 79
QUADRO 10 Matriz de Fatores Empreendedores na visão dos empresários – segunda
análise ........................................................................................................... 80
QUADRO 11 Comparação de respostas ao CEI entre a amostra e aquela analisada por
Inácio(2002)................................................................................................... 89

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 População - Quantidade de pequenas empresas no Plano Piloto do Distrito


Federal .......................................................................................................... 52
TABELA 2 Categorias de pequenos negócios de maior incidência no Plano Piloto do
Distrito Federal ............................................................................................. 53
TABELA 3 Quantidade de academias e restaurantes no Plano Piloto do Distrito
Federal .......................................................................................................... 54
TABELA 4 Tamanho da Amostra .................................................................................... 55
TABELA 5 Amostra Coletada ......................................................................................... 55
TABELA 6 Características da amostra – Tempo de funcionamento da empresa ............ 55
TABELA 7 Características da amostra – Número de empregados .................................. 56
TABELA 8 Características da amostra – Dados Demográficos ....................................... 56
TABELA 9 Características da amostra – Renda Familiar ................................................ 57
TABELA 10 Contagem simples dos fatores empreendedores na visão dos autores
revisados ....................................................................................................... 75
TABELA 11 Contagem simples dos fatores empreendedores na visão dos empresários .. 81
TABELA 12 Diferença entre os grupos quanto aos fatores do potencial empreendedor ... 82
TABELA 13 Posicionamento da amostra nas categorias do CEI ...................................... 84
TABELA 14 Enquadramento da amostra nas categorias de comportamento
empreendedor ............................................................................................... 85
TABELA 15 Resultados descritivos quanto ao comportamento empreendedor ................ 87
TABELA 16 Resultados descritivos quanto às características empreendedoras medidas
no CEI ........................................................................................................... 91
TABELA 17 Estrutura empírica do CEI ............................................................................. 98

TABELA 18 Comparação entre sexo dos funcionários e média da soma dos escores do
CEI ............................................................................................................... 102
TABELA 19 Comparação entre renda familiar e média da soma dos escores do CEI ..... 103
TABELA 20 Comparação entre número de funcionários e média da soma dos escores
do CEI .......................................................................................................... 103
TABELA 21 Comparação entre grupos de tempo de funcionamento e média da soma
de escores do CEI ........................................................................................ 104
TABELA 22 Comparação entre grupos de faixa etária e média da soma dos escores do
CEI ............................................................................................................... 105
TABELA 23 Comparaçãoentre níveis de escolaridade e média da soma de escores do
CEI ............................................................................................................... 106

TABELA 24 Comparação entre estado civil e média da soma de escores do CEI .......... 106

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Período de Livre Escolha para o Potencial Empreendedor ........................... 31


FIGURA 2 A visão integrada: Schumpeter, McClelland e Drucker ............................... 37
FIGURA 3 Gráfico de distribuição dos resultados do CEI ............................................. 86
FIGURA 4 Gráfico de Distribuição dos Valores Próprios para CEI ............................... 96
11

1. INTRODUÇÃO

As micro e pequenas empresas são consideradas um dos principais agentes do


desenvolvimento econômico, sendo que dentre suas mais significativas contribuições
encontram-se a geração de empregos mais estáveis e a criação de inovações tecnológicas
(TIMMONS, 1990). Segundo esse autor, desde a II Guerra Mundial, 50% das inovações e
95% das inovações radicais, aquelas que rompem com a tradição anterior (HAMEL, 2000),
têm sido originadas em pequenas empresas. Essa visão é compartilhada por Scott (1998), ao
sustentar que os negócios mais produtivos e inovadores muitas vezes são os de tamanho
pequeno ou médio.
Por outro lado, Rothwell & Zegveld (1982) discutem o papel das pequenas empresas
como fonte de inovações e concluem que as mudanças tecnológicas são melhor promovidas
num sistema que utiliza o potencial de simbiose entre pequenas empresas, adeptas da
inovação, e grandes empresas detentoras de recursos para desenvolver, com sucesso, a escala
de produção. Em vários setores, as pequenas empresas, segundo esses autores, são
responsáveis por uma fatia consideravelmente maior de inovações.
As pequenas empresas fornecem, também, uma parcela, cada vez maior, de
contribuição para o contexto sócio-econômico do Brasil. Novos pequenos negócios surgem
preenchendo os espaços criados pela crescente necessidade do mercado consumidor, gerando
oportunidades e inovações, além de proporcionarem a criação de postos de trabalho. Para
Fowler (2001), no plano social, as micro e pequenas empresas têm papel relevante na geração
de empregos, na absorção de matérias-primas, no atendimento dos mercados locais, na
distribuição equânime da renda e na mobilidade social. Ainda segundo esse autor, devido à
flexibilidade, criatividade e dinamismo das micro e pequenas empresas, elas podem contribuir
para o processo de ajustamento da economia brasileira, favorecendo a estabilidade monetária,
a abertura econômica e a transformação tecnológica.
Na visão de Colnago (2002), o fortalecimento da economia nacional passa pelo
incentivo ao incremento e ao nascimento de micro e pequenos negócios, apostando na sua
capacidade inovadora. Nesse sentido, o apoio e desenvolvimento do segmento das pequenas
empresas poderá oferecer condições para que os empresários venham a exercer e manter sua
capacidade produtiva e inovadora.
Pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas,
SEBRAE (2003), revela a participação alcançada pelas micro e pequenas empresas no cenário
12

nacional, reforçando a idéia de que a pequena empresa é responsável, diretamente, pelas taxas
de emprego e produção nacional, como pode ser observado no quadro a seguir:

As pequenas empresas, no Brasil, são responsáveis por:


48% da produção nacional; 60% da oferta de emprego;
98,5% das empresas existentes no país; 42% do pessoal ocupado na indústria;
95% das empresas do setor industrial; 80,2% dos empregos no comércio;
99,1% das empresas do setor de comércio; 63,5% da mão-de-obra do setor de serviços;
99% das empresas do setor de serviços; 21% do Produto Interno Bruto.
Quadro 1 – Participação das pequenas empresas nos indicadores econômicos e sociais.
Fonte: Sebrae (2003)

O Brasil, no entanto, apresenta um índice elevado de mortalidade das micro e


pequenas empresas. Segundo pesquisa do SEBRAE (1999), realizada em doze unidades da
federação, no período de agosto de 1998 a junho de 1999, foi apurada uma taxa de
mortalidade variando cerca de 30% a 61% no primeiro ano de existência da empresa, de 40%
até 68% no segundo ano, e de 55% até 73% no terceiro ano do empreendimento.
Para Sachs (2002) esse quadro é resultado da condição de inferioridade enfrentada
pelas micro e pequenas empresas nos mercados, identificada na dificuldade de acesso à
tecnologia e aos conhecimentos, no nível de formação do seu pessoal, na dificuldade de
acesso ao crédito, aos mercados, à mídia, aos poderes públicos e à classe política, além da
dificuldade em gerar economias de escala.
Para esse autor, “tampouco têm os pequenos empreendimentos, a robustez necessária
para enfrentar as vicissitudes da conjuntura e os choques de crises externas. Ressentem-se
ainda de organização sindical e de representação política insuficientes” (SACHS, 2002, p.35).
A pesquisa acima referida (SEBRAE, 1999) identificou ainda que, tanto para o grupo
de donos de pequenos negócios com sucesso quanto para aqueles que faliram, a sobrevivência
do negócio estava atrelada principalmente a três fatores: o bom conhecimento do mercado
onde se está atuando; o uso do capital próprio para administrar o negócio; e um bom
administrador, uma pessoa com conhecimento de técnicas administrativas e dotada de
características específicas para lidar com a dinamicidade do mercado.
No entanto, o sucesso ou a própria sobrevivência de uma pequena empresa não
depende, segundo Drucker (1986), apenas da habilidade dos empresários para o
gerenciamento dos negócios ou de condições favoráveis, estabelecidas por políticas
governamentais, voltadas ao crescimento econômico em um ambiente de livre mercado.
Depende, fundamentalmente do comportamento e das características pessoais que marcam os
13

empresários inovadores. A inovação, diz esse autor, é o instrumento específico dos


empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para
negócios ou serviços diferentes, podendo ser aprendida e praticada.
De um modo geral, o conceito de pessoa empreendedora é comumente vinculado ao
empresário, mas o fato de ser proprietário e dirigente de uma empresa não caracteriza
necessariamente que o empresário seja um empreeendedor, como observaram Carland et al.
(1984).
Nesse sentido, Drucker (1986) comenta que o empreendedor demonstra ter um
comportamento inovador, criando uma nova satisfação para o seu cliente, enquanto o
empresário deve estar mais preocupado com os aspectos operacionais da administração do
negócio.
Lima (1999) destaca que, apesar da existência de certas diferenças mais evidentes
entre os dois personagens em questão, o empreendedor e o empresário, eles compartilham
algumas características, o que significa que seria raro encontrar, particularmente no caso das
empresas de pequeno porte, um empresário que não tenha ao menos alguns traços de
empreendedor e vice-versa.
Assim, na possibilidade de empresários serem também empreendedores, a questão
que surge é qual o grau de empreendedorismo dos pequenos empresários de Brasília e que
características são importantes para que demonstrem possuir o perfil empreendedor. Nessa
linha, o objetivo deste trabalho é identificar qual é o potencial empreendedor de pequenos
empresários de Brasília.
Nesse sentido, buscou-se como objetivos específicos:
1. Elaborar uma matriz de fatores empreendedores a partir da visão dos autores
revisados no marco teórico;
2. Elaborar uma matriz de fatores empreendedores a partir da análise da
percepção, sobre os fatores empreendedores, de empresários brasileiros de
sucesso, entrevistados por Wollheim e Marcondes (2003), Mendonça (2002)
e Britto e Wever (2003);
3. Validar estatisticamente o instrumento utilizado para medir o potencial
empreendedor dos pequenos empresários;
4. Identificar possíveis diferenças significativas de variáveis biográficas e
funcionais quando associadas ao desenvolvimento do potencial
empreendedor.
14

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Pequenas Empresas

Uma das dificuldades de se trabalhar com os pequenos empresários, no Brasil, está na


forma variada e não discriminada de utilização da própria expressão pequena empresa, sem
uma definição específica e cuidadosa do significado de pequena. Vários indicativos,
quantitativos e qualitativos, já foram utilizados para estabelecer a medida de tamanho de uma
organização sem que pudessem ser considerados corretos e definitivos, sendo que os modelos
mais utilizados hoje envolvem o número de empregados e o montante financeiro de vendas.
Esta falta de consenso para a definição de critérios é fortemente relacionada à diversidade dos
tipos de empresas que operam nos diferentes segmentos de mercado. Uma empresa pode ser
considerada grande em relação a seus concorrentes mesmo que ela seja considerada pequena
em relação a outras empresas que atuam em outros ramos da economia de acordo com suas
vendas ou seu número de empregados. Em outras circunstâncias, uma mesma organização
pode ser considerada pequena segundo seu número de empregados e grande segundo suas
vendas - ou vice-versa (LIMA, 1999).
A Constituição Federal Brasileira (1988) assegura às microempresas e às empresas de
pequeno porte tratamento jurídico diferenciado e simplificado nos campos administrativo,
tributário, previdenciário, trabalhista, creditício e de desenvolvimento empresarial. Assim, o
conceito formal de micro e pequeno negócio foi estabelecido considerando-se como
microempresa a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que tiver receita bruta anual
igual ou inferior a R$ 244.000,00 (duzentos e quarenta e quatro mil reais); e, como empresa
de pequeno porte, a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que, não enquadrada como
microempresa, tiver receita bruta anual superior a R$ 244.000,00 (duzentos e quarenta e
quatro mil reais) e igual ou inferior a R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais).
Nesse momento, esses valores estão sendo discutidos pelo governo para ajustá-los ao aumento
da inflação.
Entretanto, Baumback (1983, p.5) sustenta que a definição “quantitativa” de pequenas
empresas omite suas características “qualitativas”. Baseado nisso, este autor sugere uma
definição indicando os atributos principais que são geralmente associados às pequenas
empresas:
De modo característico, uma pequena empresa é aquela que é (1) ativamente
administrada por seus proprietários, (2) fortemente personalizada, (3)
15

predominantemente local no que se refere a seu campo de atuação no


mercado, (4) de um tamanho relativamente pequeno em sua indústria e (5)
majoritariamente dependente de uma fonte interna de capital para financiar
seu crescimento.

Da mesma forma, Van Hoorn (1979) identifica cinco características que apresentam
traços comuns nos pequenos negócios: procedimentos administrativos, recursos humanos,
atividades específicas, recursos e responsabilidades. Para esse autor, os procedimentos
administrativos necessários para avaliar regularmente a situação estratégica e exercer o
controle são pouco desenvolvidos ou quase inexistentes nas pequenas empresas. A segunda
característica que Van Hoorn (1979) aponta é a de que a maior parte dos membros da
administração são pessoas cujos conhecimentos foram adquiridos na prática do trabalho
quotidiano. Isto é, os dirigentes de pequenos negócios estabelecem estratégias confiando em
informações e experiências armazenadas em sua memória. A seguir, esse autor considera que
as pequenas empresas estão limitadas a um número comparativamente pequeno de atividades
(que incluem produtos, tecnologias, serviços, know-how), predominantemente dirigidas a um
grupo específico de consumidores ou a algumas regiões geográficas. Portanto, essas empresas
têm uma base comercial mais limitada do que as grandes empresas e, com isso, são mais
vulneráveis às mudanças bruscas, sendo mais raras suas oportunidades para diversificar o
risco através do gerenciamento da linha de produtos.
A quarta característica citada por Van Hoorn (1979) é a de que as pequenas empresas
possuem recursos e capacidades comparativamente limitados, especialmente quanto ao capital
(os empréstimos são difíceis e o fluxo de caixa é reduzido) e à formação profissional do
pessoal (principalmente da administração e da assessoria). Então, na visão desse autor, a
capacitação e a informação para a administração estratégica adequada parecem ser,
freqüentemente, insuficientes; e ele aponta ainda como uma barreira não apenas a condição
diminuta da empresa, mas como, também, a atitude dos dirigentes.
Nessa linha, Van Horn (1979) comenta que uma quinta característica das pequenas
empresas é estarem os cargos administrativos e alguns conjuntos de atividades
freqüentemente sob a responsabilidade de membros da família do fundador da empresa, o que,
conforme o autor, eleva a presença de argumentos não racionais no processo de tomada das
decisões estratégicas importantes.
As pequenas empresas, na visão de Lima (1999), são geralmente "organizações de
uma só cabeça", isto é, organizações onde o dirigente tem uma auto-suficiência muito
acentuada. Nesta situação, a estrutura organizacional mais comum é a chamada "estrutura
simples”, ou seja, a estrutura pouco elaborada.
16

Seguindo a descrição de Mintzberg (1979) sobre estrutura simples, outros elementos


comuns às pequenas empresas são: a coordenação efetuada predominantemente pela
supervisão direta, o poder centralizado nas mãos do dirigente e a gestão das operações
internas sob o controle de apenas algumas pessoas, além do dirigente. A tomada de decisões é
flexível, e está relacionada à rapidez de resposta às mudanças do contexto de mercado que é
facilitada pela centralização do poder. As decisões estratégicas, administrativas e operacionais
são coordenadas de maneira estrita porque um só indivíduo é capaz de manter o controle
sobre elas.
Julien (apud LIMA, 1999) aponta a necessidade de flexibilidade como uma outra
característica estrategicamente central para as pequenas empresas. Ao contrário das grandes
empresas, as pequenas não têm recursos que permitam operar alterações no seu meio-
ambiente de forma a torná-lo mais favorável. As grandes organizações, por exemplo, podem
utilizar propagandas persistentes para modificar a atitude do mercado consumidor em relação
a seus produtos, serviços e imagem; ou mesmo assegurar uma posição dominante no mercado
através de fusões ou aquisições de outras empresas.
Neste trabalho, utilizou-se a classificação do SEBRAE (2003) para identificar
pequenas empresas, que associa o porte ao número de funcionários do negócio, como pode ser
observado no quadro 2 abaixo.

Classificação (Porte) Indústria Comércio e serviços


Micro empresa 1 a 19 funcionários 1 a 9 funcionários
Pequena empresa 20 a 99 funcionários 10 a 49 funcionários
Média Empresa 100 a 499 funcionários 50 a 99 funcionários
Grande Empresa 500 ou mais funcionários 100 ou mais funcionários
Quadro 2 – Classificação das empresas baseada no número de empregados.
Fonte: Sebrae (2003)

Embora não leve em consideração as características qualitativas das pequenas


empresas, como aquelas propostas por Baumback (1983) e Van Horn (1979), essa definição,
segundo o SEBRAE (2003), é mais utilizada por ser a única que está disponível em bases de
dados estruturados, uma vez que não existe fonte oficial ou base de dados sobre o faturamento
das empresas e as características qualitativas não são facilmente identificadas.
A correta identificação das pequenas empresas, para Drucker (1986), não é suficiente
por si só para garantir sustentabilidade no contexto atual de rápidas mudanças e inovação.
17

Para que as pequenas empresas aumentem as suas chances de sucesso, ou mesmo para que
reduzam o risco de não sobreviver, segundo esse autor, os pequenos empresários necessitam
desenvolver as suas características empreendedoras, o que não só é de interesse da própria
empresa como também uma responsabilidade para com a sociedade.
Nesse mesmo sentido, num atual contexto de incertezas e desafios, Souza (2001a, p.
32) destaca que:
(...) o desenvolvimento e até mesmo a sobrevivência das organizações
depende, em grande parte, da formação e da capacitação de seus atores. Essa
formação, que cada vez mais necessita permear todo o processo de vida das
pessoas, está voltada não só para conhecimentos e habilidades, mas,
também, busca a criatividade e a auto-realização do indivíduo, o que
expressa um dos aspectos fundamentais do empreendedorismo.

2.2 Empreendedorismo

Segundo Souza Neto (2001), o uso mais antigo do termo empreendedorismo registra-
se na história militar francesa, no século XVII e fazia referência a pessoas que se
comprometiam em conduzir expedições militares. O mesmo autor atribui a um irlandês, do
século XVIII, Richard Cantillon (1697 – 1734), o primeiro uso do termo entrepreneur no
contexto empresarial, para se referir a alguém que compra bens e serviços a certos preços com
vistas a vendê-los a preços incertos no futuro.
O surgimento do termo empreendedorismo, na visão de Filion (1997), deu-se, no
século XIX, através de pessoas que aproveitavam oportunidades de obter lucros assumindo os
riscos inerentes à atividade. Essas pessoas eram responsáveis por adquirir um produto em seu
estado bruto, desenvolvê-lo e vendê-lo a um preço maior. Ainda no século XIX, os
economistas passam a ver o empreendedor como aquele que transfere recursos econômicos de
um setor de produtividade mais baixa para um setor de produtividade mais elevada e de maior
rendimento, como um agente da mudança.
A forma de empreender por meio das pequenas empresas, na visão de Dolabela
(1999), foi primeiro percebida, na década de 1920, pelos ingleses, que criaram grupos de
pesquisas para estudar a importância da pequena empresa na economia pós Primeira Guerra
Mundial. Uma das descobertas dessas pesquisas foi que os pequenos negócios geravam mais
empregos do que as grandes organizações. Os estudos não pararam aí, tendo sido observado
que os pequenos negócios surgem quando as circunstâncias não favorecem a produção em
massa das grandes empresas e sua conseqüente economia de escala.
18

De acordo com Souza Neto (2001), em inglês utiliza-se o vocábulo francês


entrepreneur para denominar os novos empresários e as pessoas que se estabelecem por conta
própria, os empreendedores. Entretanto, com a evolução dos estudos científicos sobre o
empreendedorismo, o termo foi adquirindo significados mais complexos e completos.
Segundo Souza (2001a), o empreendedorismo é um tema relevante, atual e sua análise
pelo campo acadêmico ainda é recente. Segundo essa autora, os primeiros movimentos
acadêmicos sobre empreendedorismo surgiram nos anos 1940, na Harvard Business School,
sendo, no anos 1950, instituído o International Council for Small Business. Desde então a
realização de congressos, eventos e feiras deram origem à Enciclopédia do
Empreendedorismo e vêm ajudando a disseminar as pesquisas sobre o tema ao redor do
mundo.
O estudo do empreendedorismo, principalmente a partir da década de 80, segundo
Filion (2001b), vem ganhando escala em vários países. Nos Estados Unidos, cita o autor, a
Babson Entrepreneurship Research Conference foi fundada em 1981 com um reduzido
número de participantes e publicações, mas já em 1985 congregava mais de 300
pesquisadores e 60 monografias especializadas no assunto. Dolabela (1999) comenta que o
número de instituições universitárias que oferecem este tipo de conteúdo nos Estados Unidos
passou de 50, em 1975, para mais de mil em 1988. Em cinco estados daquele país o ensino do
empreendedorismo é obrigatório.
No Brasil, de acordo com Souza (2001a), a criação da disciplina Novos Negócios, no
curso de especialização em administração da Escola de Administração da Fundação Getúlio
Vargas, marca o início institucional do estudo do empreendedorismo no país. Em seguida, a
Universidade de São Paulo passa a oferecer a disciplina “Criação de Empresas” na faculdade
de economia, administração e contabilidade; e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
no Departamento de Ciência da Computação, cria a disciplina de “Ensino de Criação de
Empresas”.
Em 1995, diz Souza (2001a), várias disciplinas de empreendedorismo foram ofertadas
em universidades brasileiras e, no final dos anos 1990, com o apoio de várias instituições
governamentais e não governamentais, foi instituída, em Minas Gerais, a Rede de Ensino
Universitário de Empreendedorismo, cuja filosofia foi posteriormente expandida para todo o
País pelo Programa Reune Brasil. Conforme essa autora, a estimativa é de que 18.000 alunos
por ano tenham sido beneficiados pelo programa.
Para Gimenez, Inácio e Sunsin (2001), há, hoje, uma consolidação do
empreendedorismo como uma área do conhecimento com status científico. Esses autores
19

citam como exemplo disso a criação de uma divisão de estudos nessa área pela Academy of
Management, em 1987, que definiu o empreendedorismo como:

O estudo da criação e a administração de negócios novos, pequenos e


familiares, e das características e problemas especiais dos empreendedores.
Os principais tópicos incluem idéias e estratégias de novas empresas,
influências ecológicas sobre a criação e o desaparecimento de novos
negócios, aquisição e gerenciamento de novos negócios e de equipes
criativas, auto-emprego, gerentes-proprietários e o relacionamento entre
empreendedorismo e desenvolvimento econômico (GIMENEZ, INÁCIO e
SUNSIN, 2001, p.10).

Ainda segundo esses autores, a Universidade de Harvard, desde 1946, possui linha de
pesquisa e estudos específicos sobre o empreendedorismo, definindo o termo como a busca de
oportunidades, além dos recursos tangíveis, correntemente controlados; descrevendo, assim,
uma maneira de gerenciar muito mais do que uma função econômica específica ou
características de um indivíduo.
Gimenez, Inácio e Sunsin (2001, p.11) apresentam a definição de empreendedorismo
do Centro para Empreendedorismo Arthur M. Blank, do Babson College como:

Uma maneira de pensar e agir que é obcecada pela oportunidade, holística na


abordagem e balanceada na liderança. Empreendedorismo é identificar uma
oportunidade sem levar em consideração os recursos correntemente
disponíveis e agir sobre esta com o propósito de criação de riqueza nos
setores públicos, privados e globais.

Outra definição foi apresentada na pesquisa Treinamento Empresarial e


Fortalecimento do Desempenho Empresarial, da Management Systems International (1989),
trazendo o empreendedor como o indivíduo que organiza e/ou administra recursos sob a
forma de empresa responsável pela própria prestação de contas, não-agrícola, e que assume
uma parcela considerável de risco em razão de sua participação no patrimônio líquido da
referida empresa.
Para Brazeal e Herbert (2000) a despeito do número cada vez maior de contribuições
conceituais significantes dos pesquisadores no domínio do empreendedorismo, o
conhecimento gerado nem sempre tem contribuído para o desenvolvimento da disciplina na
forma de um coerente fluxo de pesquisa.
Depois da década de 1980, para os mesmos autores, o campo do empreendedorismo
tem percebido considerável expansão para áreas como o empreendedorismo corporativo,
ligações macro ambientais, empreendedorismo internacional e alternativas de carreira.
20

Enquanto essa expansão é notável, também fica aparente, para os autores, o aspecto
descontínuo das pesquisas sobre empreendedorismo, bem como sua falta de unidade com os
trabalhos anteriores.
Brazeal e Herbert (2000) consideram que a questão da unidade de análise e a questão
da generalidade tornam mais complexos os estudos sobre o empreendedorismo. Embora esse
campo de estudo tenha recentemente testemunhado o desenvolvimento de estruturas
conceituais mais inclusivas e a utilização de técnicas estatísticas mais sofisticadas, não tem
alcançado seu pleno potencial como um campo com aplicabilidade gerencial substantiva. Para
esses autores a pesquisa sobre empreendedorismo estaria sofrendo "a amargura do
crescimento".
A gênese da aparente fragmentação do estudo do empreendedorismo, na visão de
Brazel e Herbert (2000), pode residir em questões comparativamente básicas e não resolvidas,
como uma falha na articulação de uma definição operacional do fenômeno do
empreendedorismo, bem como a sua relação com a mudança, a inovação, a aprendizagem, a
criatividade, e facções separadas do empreendedorismo.
Wortman (1987) observou uma emergente fragmentação do campo do
empreendedorismo, em adição à falta de integração e ao cultivo de um rumo distinto para as
pesquisas. Esse autor postulou que os estudos do empreendedorismo estavam sofrendo por
falta de questões de conteúdo, aplicações estatísticas não rigorosas e falta de significância
prática.
Contrapondo os argumentos levantados por Brazeal e Herbert (2000), e no sentido de
explicar a aparente falta de continuidade da pesquisa empírica sobre empreendedorismo,
Gartner (1989) e Wortman (1987) chamam a atenção para a natureza complexa da disciplina.
Particularmente, os autores consideram desafiantes as decisões relacionadas às variáveis
independentes que seriam estudadas, as formas que essas variáveis devem ser
operacionalizadas, as abordagens mais apropriadas para reunir os dados e as técnicas que
devem ser usadas para analisar os dados.
Nessa mesma linha de pensamento, Filion (1997) defende que o desenvolvimento do
empreendedorismo não segue o padrão de outras disciplinas. Esse autor comenta que um
grande número de pesquisadores, cada um usando uma cultura, uma lógica e uma
metodologia estabelecidas em graus variados em seus próprios campos, demonstram interesse
em trabalhar no campo da disciplina.
Os primeiros doutorados em empreendedorismo e pequenos negócios, diz Filion
(1997), apareceram nos anos 1980; a grande maioria dos interessados no estudo e pesquisa do
21

fenômeno empreendedor é originária de outras disciplinas que não o empreendedorismo,


sendo que o estudo do assunto não foi seu primeiro campo de atividade.
Contudo, para esse mesmo autor, mais pessoas estão, agora, devotando tempo e
esforço exclusivamente ao empreendedorismo, pois o número de pequenas empresas está
crescendo, e a parcela do PIB atribuída às pequenas empresas de negócio empreendedor em
todos os países está aumentando a cada ano. Além disso, o avanço tecnológico está reduzindo
a quantidade de postos de trabalho nas grandes empresas e o poder gerador de empregos das
pequenas empresas empreendedoras passou a ser valioso para as nações. Para seguir a
evolução e as necessidades de seus estudantes e clientes, muitos professores têm tido que
aprender mais sobre empreendedorismo e pequenas empresas. Assim, a assimilação e
integração do empreendedorismo pelas outras disciplinas, especialmente nas ciências sociais e
administrativas, são, segundo Filion (1997), ímpar como fenômeno e nunca tinha antes
ocorrido, em tamanha extensão, na construção paradigmática em disciplinas das ciências
sociais.
Ainda para Filion (1997), pode parecer que haja uma confusão quanto ao conceito de
empreendedorismo por não existir consenso na definição e nos limites do empreendedor.
Contudo, esse é um assunto que atrai especialistas de diferentes áreas do conhecimento,
levando-os a discutir suas pesquisas em função de suas percepções particulares do fenômeno.
A aparente confusão, criada pelas diferentes visões desse conceito, basicamente reflete a
diferença lógica e a natureza desses enfoques.
Na visão de Filion (1997), entretanto, os enfoques sobre empreendedorismo de maior
destaque, por estarem sendo utilizados com maior intensidade no campo científico, são: o
econômico, representado por pensadores como Schumpeter (1997) e o comportamental,
representado por pensadores como McClelland (1972). De uma maneira geral, os economistas
tendem a alinhar empreendedores com inovação, enquanto os comportamentais concentraram-
se nas características criativas e intuitivas dos empreendedores.
No início do século XX, Schumpeter (1997) coloca que a essência do
empreendedorismo está na percepção e na exploração de novas oportunidades no âmbito dos
negócios, utilizando recursos disponíveis de maneira inovadora. Para o autor, sem inovação
não há empreendedores, sem investimentos empreendedores, não há retorno de capital e o
capitalismo não se propulsiona. Desde então, os economistas passam a ver os empreendedores
como detectores de oportunidades de negócios, criadores de empresas e corredores de risco.
Ao observar os esforços de construção de teorias no campo do empreendedorismo,
Mulholland (1994), aponta que a ligação estabelecida entre empreendedor e inovação,
22

iniciada por Schumpeter (1997), tem permanecido como uma das características dominantes
desse conceito, especialmente entre os economistas.
Na linha comportamental, uma das maiores referências foi McClelland (1972) que
define os empreendedores relacionando-os à sua necessidade de sucesso, de reconhecimento,
e ao desejo de poder e de controle. As primeiras pesquisas realizadas por esse autor definem o
que ele denominou de “necessidade de realização” do indivíduo como a principal força
motivadora do comportamento empreendedor.
Para McClelland (1972), a necessidade de realização significaria a vontade humana de
se superar e de se distinguir, englobando um conjunto de características psicológicas e
comportamentais que compreendem, entre outras, gosto pelo risco moderado, iniciativa e
desejo de reconhecimento. Alem disso, o autor identificou ser pouco provável que uma
crescente necessidade de realização resultasse, per si, em atividade econômica, a menos que
houvesse uma oportunidade para tanto na esfera do próprio indivíduo.
Os pontos essenciais da discussão levantada por McClelland (1972) são o conceito de
‘personalidade’ e a questão de determinar até que ponto o comportamento empreendedor é
produto de características fundamentais da personalidade. Para esse autor, os fatores sociais e
ambientais, inclusive o treinamento, cumpririam um importante papel ao estimular motivos
latentes e a tradução de disposições mentais em padrões específicos de comportamento.
O estudo do empreendedorismo, atualmente, na visão de Cunningham e Lischeron
(1991) está sendo estruturado em torno de seis linhas de pensamento, ou escolas: do "grande
homem"; das características psicológicas; clássica; da gestão; da liderança e a escola do intra-
empreendedorismo.
A escola do grande homem sugere que o empreendedorismo é uma habilidade inata ao
ser humano, intuitiva, um “sexto sentido”; uma composição de traços e instintos que
acompanham o indivíduo desde o seu nascimento. A escola das características psicológicas
atribui aos empreendedores valores, atitudes e necessidades únicas, que os motivam a
aproveitar as oportunidades. A escola clássica reflete o pensamento, inicialmente
desenvolvido por Shumpeter (1997), apresentando a inovação como a característica central do
comportamento empreendedor. A escola da gestão foca o empreendedor como dono de uma
empresa ou empreendimento econômico. A escola da liderança defende que os
empreendedores são essencialmente líderes, com a capacidade de adaptar o seu estilo às
necessidades das pessoas. Por fim, a escola do intra-empreendedorismo sugere que as
habilidades empreendedoras, bem como a inovação, podem ser úteis dentro do complexo
ambiente organizacional.
23

Por sua vez, West (2003), lembra que a pesquisa sobre o empreendedorismo é
multidisciplinar por natureza e que as diferentes disciplinas vão focar diferentes aspectos e
variáveis do fenômeno. Para esse autor, a questão central do fenômeno empreendedor está
intimamente ligada à criação e uso de conhecimento de forma mais apropriada que outros
atores. O conhecimento que gera a identificação de oportunidades, a criação de novas
empresas e outros traços empreendedores podem ser descritos em termos de comportamentos
e atitudes. O processamento dessas características pode ocorrer no nível de análise
psicossocial, no nível estrutural e mesmo no nível ecológico1 e, por isso, West (2003)
caracteriza o empreendedorismo como um fenômeno multi-níveis.
Em seus estudos McClelland (1972) procurou identificar o que fazem e como pensam
os empreendedores bem sucedidos, procurando estabelecer um ponto de partida para detectar
e reforçar tais características em outros indivíduos. A tendência mais recente, segundo o
relatório de pesquisa do Management Systems International (1999), nas discussões das
variáveis psicológicas que afetam o comportamento empreendedor é dar maior ênfase às
características do que aos traços da personalidade.

2.2.1 Características Empreendedoras

Schumpeter (1997) associa o empreendedor com a inovação, estando a essência do


empreendedorismo na percepção e no aproveitamento das novas oportunidades no âmbito dos
negócios. A trajetória econômica do capitalismo é descrita, por esse autor, como um “fluxo
circular” cuja tendência é o equilíbrio:
Ocorre no momento em que há uma mudança espontânea e descontínua nos
canais do fluxo, perturbação do equilíbrio que altera e desloca o estado de
equilíbrio previamente existente, dando, o equilíbrio estacionário, lugar ao
desequilíbrio dinâmico provocado pelo empreendedor (SCHUMPETER,
1997, p.72).

A contribuição dos empreendedores para o desenvolvimento da economia capitalista,


segundo a teoria de Schumpeter (1997), envolve a capacidade de promoção que o autor
denominou de “destruição criativa”, ou seja, um processo capaz de introduzir o novo e gerar
riquezas para um país. O empreendedor, para esse autor, é o agente do processo de destruição
criativa que, por sua vez, é o impulso fundamental que “aciona e mantém em marcha o motor

1
Scott (1998) define o nível de análise psicossocial como aquele relacionado ao indivíduo; o nível estrutural
como aquele relacionado à organização; e o nível ecológico como aquele relacionado ao ambiente.
24

capitalista”, constantemente criando novos produtos, novos métodos de produção, novos


mercados, sobrepondo-se aos antigos métodos menos eficientes e mais caros.
Alguns espaços possíveis de atuação do empreendedor, segundo Schumpeter (1997),
são: o produto, a produção, a comercialização/distribuição, o mercado, os
componentes/suprimentos e o espaço da gestão organizacional. Quanto ao produto, o autor
refere-se à descoberta de um novo bem ou uma nova qualidade; quanto à produção, trata da
introdução de um novo método capaz de revolucionar o processo produtivo; e, quanto à
distribuição, refere-se a algo capaz de promover uma maior aproximação dos consumidores
em relação aos produtos.
Ao tratar especificamente do mercado, Schumpeter (1997) comenta que o
empreendedor demonstra capacidade de descobrir um novo nicho, bem como uma nova fonte
de componente de fabricação de um produto ou serviço. Nos aspectos relacionados à gestão,
diz esse autor, cabe ao indivíduo empreendedor encontrar uma nova forma de organização do
negócio, capaz de assegurar sua manutenção e crescimento.
O empreendedor, segundo Schumpeter (1997), tem a função de realizar novas
combinações nos canais de produção, tendo como resultado a constituição de um novo
empreendimento. Para esse autor, é a capacidade de implementação das novas possibilidades
de combinação que destaca o empreendedor como uma categoria especial, que assegura o
desenvolvimento econômico.
Os empreendedores, diz Schumpeter (1997), não acumulam nenhum tipo de bem, não
criam meios de produção, mas empregam os meios de produção existentes de maneira
diferente, mais apropriada, mais vantajosa. Eles implantam novas combinações e deixam de
ser empreendedores no momento em que param de inovar.
O perfil traçado por Schumpeter (1997) para o empreendedor, descreve um indivíduo
que possui o sonho e a vontade de fundar um império pessoal, a vontade de conquistar; o
impulso de lutar, de se mostrar superior aos outros, de ser bem sucedido, não tanto pelos
frutos do sucesso, mas pelo sucesso em si mesmo; a alegria de criar e realizar coisas, ou
simplesmente de empregar a própria energia e engenho; um tipo que procura a dificuldade,
que se transforma para tornar possível a transformação, que se deleita com novos
empreendimentos, e para quem o ganho pecuniário é de fato a expressão consumada do
sucesso. Esse tipo de personalidade, para o autor, seria “inata” ao indivíduo.
A visão comportamental do empreendedorismo teve início após os trabalhos de Weber
(1989) que, em meados de 1930, concebeu os empreendedores fundamentalmente como
inovadores que possuíam uma importante função de liderança no ambiente organizacional.
25

Weber (1989) sublinhava o fato de que atitudes tais como a racionalidade econômica e
o espírito de iniciativa do capitalismo moderno eram conseqüências de certas concepções
religiosas do mundo a que as seitas protestantes, calvinistas, davam particular realce. Assim,
esse autor lançou as bases para o esforço de compreensão das origens sociais e psicológicas
de forças econômicas chaves como os rápidos progressos tecnológicos, a especialização da
mão-de-obra, o crescimento da população e o operoso espírito empresarial.
Weber (1989) identificou no sistema de valores um elemento fundamental para a
explicação do comportamento empreendedor. Em sua análise, esse autor aponta que um dos
fatores motivadores para quem se estabelecia por conta própria era a crença religiosa ou o
trabalho ético protestante que estabelecia normas de conduta que punham freio à
extravagância, ao consumo ostensivo e à indolência. Com isso, o resultado era maior
produtividade, diminuição das despesas e aumento da poupança, todos fatores vitais para o
crescimento econômico. Weber (1989) via os empreendedores como inovadores, pessoas
independentes, cujo papel de liderança nos negócios inferia uma fonte de autoridade formal.
A partir de Schumpeter (1997), Weber (1989) e outros autores, McClelland (1972)
inicia uma linha de pesquisa sobre alguns fatores psicológicos que poderiam ser associados ao
progresso econômico e a ascensão de uma nação. Esse autor identificou, por meio de métodos
quantitativos, na “necessidade de realização” dos indivíduos, um fator primordial para o
desenvolvimento de um país.
Em seu trabalho, busca descobrir as razões do crescimento e declínio econômicos.
Após criticar as teorias históricas, sociológicas e econômicas anteriores, esse autor levanta a
hipótese de que a “necessidade de realização” é responsável, em parte, pelo crescimento
econômico. O autor define esse conceito como a motivação de algumas pessoas em fixar,
para si próprias, os padrões de realização e buscam arduamente alcançar essas metas que
estabelecem, ou como diz o próprio autor, “(...) esse homem nada retira para si mesmo de sua
riqueza , exceto o sentimento irracional de ter feito bem o seu trabalho. É exatamente assim
que definimos o motivo de realização ao codificá-lo para sua expressão na fantasia”
(MCCLELLAND, 1972, p. 72).
É interessante notar que, em sua pesquisa esse autor indica que a liderança não está
associada à necessidade de realização e, de fato, os indivíduos com alta necessidade de
realizar não são considerados líderes por seus pares. Além disso, diz McClelland (1972), esses
indivíduos apresentaram uma preferência maior por carreiras que envolviam risco e
mostraram-se mais dispostos a abrir o próprio negócio do que os indivíduos com pouca
necessidade de realização.
26

O provável termo comum entre a necessidade de realização e a capacidade


de iniciativa seria semelhante interesse por situações que envolviam risco
moderado ou oportunidade máxima de obter satisfação de realização pessoal,
sem correr risco desnecessário de fracasso. (MCCLELLAND, 1972, p.86)

Além disso, McClelland (1972) indica que o perfil da pessoa com alta necessidade de
realização é o de um indivíduo que busca o caminho para sua realização pessoal, estando
atento às estruturas sociais e às oportunidades e, além disso, que foi educado para desenvolver
a sua auto-confiança para atuar de forma confiante no êxito de suas iniciativas.
Esse autor discute ainda a relação entre a inovação e a necessidade de realização,
apresentando uma relação muito estreita entre esses dois conceitos. De fato, McClelland
(1972) argumenta que a necessidade de realização leva os indivíduos a se interessarem por
atividades construtivas que levariam ao descobrimento de novos processos e produtos,
caracterizados pelas inovações. Nesse sentido, esse autor indica que o empresário inovador é
justamente o elemento de ligação entre a necessidade de realização e o crescimento
econômico.
Entenda-se que McClelland (1972) considera que qualquer profissional, de qualquer
área, pode ostentar todos os comportamentos próprios do papel empresarial, muito embora
seu “status” não seja, primordialmente, o de empresário. O interesse fundamental desse autor
reside no comportamento do papel empresarial como um tipo analítico, ideal, que possa ser
identificado e medido.
Existem algumas características, para esse mesmo autor, que permitem identificar o
potencial empreendedor de um indivíduo, relacionadas à sua aceitação de riscos, nível de
atividade inovadora, responsabilidade, conhecimento do resultado de suas ações e
planejamento a longo prazo.
Ainda em seu estudo, McClelland (1972) analisa as possíveis fontes de estímulo ao
desenvolvimento de uma alta necessidade de realização e conclui que, além da família, um
Estado pode influenciar nessa característica ao educar as pessoas para o desenvolvimento de
atitudes empreendedoras, mas que quanto mais cedo o indivíduo receber os primeiros
estímulos, mais propenso ele estará a se tornar um empresário inovador.
Mais tarde, McClelland (apud Management Systems International, 1999) realizou uma
pesquisa com o intuito de identificar determinadas competências ou traços que pareçam ter
alguma correlação com a atividade empreendedora bem sucedida na Índia, Malawi e Equador.
A partir daí, esse pesquisador apresentou dez características do comportamento
empreendedor: busca de oportunidade e iniciativa, persistência, correr riscos calculados,
27

exigência de qualidade e eficiência, comprometimento, busca de informações,


estabelecimento de metas, planejamento, persuasão e rede de contatos, independência e
autoconfiança.
A pesquisa do empreendedorismo com foco comportamental, para Filion (1997),
revelou que as características dos empreendedores refletem as características do período e do
local onde eles vivem, caracterizando o empreendedorismo como um fenômeno regional e
histórico. Segundo essa concepção, o autor identificou algumas características
comportamentais comuns aos empreendedores, que podem ser analisadas no quadro a seguir:

Inovadores Necessidade de Reconhecimento


Líderes Auto Conhecimento
Correm Riscos Moderados Confiantes
Independentes Pensam em Longo Prazo
Criadores Tolerância a Ambigüidade e à Incerteza
Energéticos Possuem Iniciativa
Tenacidade Aprendem
Originais Uso dos recursos disponíveis
Otimistas Sensíveis aos outros
Orientados a Resultados Agressivos
Flexíveis Tendem a confiar nas pessoas
Acreditam no dinheiro como medida da sua
Desembaraçados
performance
Quadro 3 - Características atribuídas aos empreendedores pelos pesquisadores comportamentais.
Fonte: Filion (1997)

Filion (1996) ainda realizou estudos no sentido de identificar características que


fossem comuns aos empreendedores. Suas pesquisas concluíram que esses atores possuíam
contato com pelo menos um modelo empreendedor durante a sua infância e juventude, com o
qual adquiriam valores de suma importância para o seu sucesso. Além disso, os
empreendedores, para o autor, possuem experiência administrativa, capacidade de diferenciar-
se da concorrência, intuição, tenacidade, toleram incertezas, usam bem os recursos
disponíveis, assumem riscos moderados, são imaginativos e orientam-se para resultados,
envolvem-se com suas tarefas, trabalham com afinco, são visionários e líderes, além de fazer
uso de suas redes de contatos moderadamente.
Os empreendedores, diz Filion (1996), possuem, ainda, um sistema de relacionamento
próprio, diferenciado, com os seus empregados e gostam de controlar o comportamento das
28

pessoas ao seu redor. Finalmente, nos seus estudos, esse autor identificou que os
empreendedores possuíam métodos próprios de aprendizagem.
Por sua vez, Drucker (1986) relaciona a capacidade de ser inovador com o
empreendedorismo, sendo a inovação o instrumento específico dos empreendedores, o meio
pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente ou um
serviço diferente. A inovação, para esse autor, pode bem ser apresentada como uma
disciplina, ser aprendida e ser praticada. Os empreendedores buscam, com propósito
deliberado, as fontes de inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades
para que a inovação tenha êxito. A inovação, complementa Drucker (1986), é o ato que
contempla os recursos com a nova capacidade de criar riqueza.
Ainda na visão de Drucker (1986), uma empresa não precisa ser pequena e nova para
ser empreendedora, mas o autor considera o espírito empreendedor uma característica distinta,
seja de um indivíduo ou de uma instituição. Continuando, Drucker (1986) considera
empreendedor aquele que assume riscos, mas não diferentemente de qualquer outra pessoa
que se envolva com atividades econômicas. Além disso, afirma que o empreendedor não
precisa, necessariamente, ser o empregador.
Drucker (1986) comenta que a essência da característica empreendedora está em saber
lidar com as incertezas e que qualquer indivíduo que tenha à sua frente uma decisão
importante a ser tomada pode se comportar de forma empreendedora, desde que tenha
conceitos e teorias dando suporte aos seus atos. Para esse autor, empreender é uma iniciativa
arriscada para as pessoas que não sabem o que estão fazendo, que não possuem método.
Além disso, diz Drucker (1986), o empreendedor vê a mudança como norma e como
sendo sadia, provocando ele mesmo essa mudança. Motivados por dinheiro, poder, ou
reconhecimento os empreendedores não se contentam com o que já existe, procurando criar
novos valores e reorganizar recursos existentes para uma configuração mais adequada.
Drucker (1986) comenta que o empreendedor tende a ficar atento a contingências
como o inesperado, a incongruência, a mudanças na estrutura de um setor ou de um mercado,
a mudanças demográficas, a mudanças de percepção, disposição e significado, e a novos
conhecimentos para colocar em prática a sua disciplina de mudança.
A estratégia empreendedora tem como objetivo a busca deliberada da inovação, na
visão desse mesmo autor, que destaca, ainda, algumas atitudes pessoais que considera
importantes para quem segue essa estratégia, como a análise das oportunidades, conversar
com o mercado e com os clientes, manter a simplicidade das soluções, e a liderança. O
29

empreendedor, para Drucker (1986), não tenta ser engenhoso demais, não diversifica demais
logo no início e não tenta inovar para o futuro, mas sim para o presente.
O empreendedor, continua esse autor, faz suas inovações de maneira concentrada e
guiada pelo mercado e procura definir e minimizar os riscos. “Os empreendedores são
conservadores. Eles têm que ser. Eles não se concentram nos riscos e sim nas oportunidades”
(DRUCKER, 1986, p.196).
Drucker (1986) comenta ainda que o empreendedorismo, além de exigir atenção
especial às oportunidades, exige conhecimento do negócio, de seus produtos, seus mercados,
seus clientes, suas tecnologias. Os empreendedores buscam trabalhar com pessoas e unidades
que façam o melhor de forma diferente, buscam, também, obter feedback constante dos
resultados face às expectativas e manter um controle para mensurar o sucesso ou os fracassos
de suas iniciativas.
Mintzberg et al. (2000) realiza uma análise no que denomina de escola
empreendedora, a qual apresenta uma perspectiva estratégica menos coletiva e mais pessoal,
onde a organização é vista como o terreno no qual o líder realiza suas manobras para obtenção
de resultados. O conceito mais central dessa escola é a visão, uma representação mental de
estratégia criada ou ao menos expressa na cabeça do líder.
As principais características da abordagem das personalidades empreendedoras,
conforme Mintzberg et al (2000), são a busca ativa de oportunidades, a centralização do
poder, o uso de golpes ousados, ou seja, a busca por condições de incerteza na qual a
organização pode obter consideráveis ganhos; e o crescimento como meta dominante,
caracterizado pela necessidade de realização.
A riqueza de uma nação, diz Degen (1989), é medida por sua capacidade de produzir
em quantidade suficiente os bens e serviços necessários ao bem-estar da população. Por outro
lado, na visão desse autor, o melhor recurso para solucionar os graves problemas sócio-
econômicos é a liberação da criatividade dos empreendedores, através da livre iniciativa, para
produzir esses bens e serviços.
De acordo com esse autor, sorte, na visão empreendedora, não é fator determinante de
sucesso do empreendedor, que estaria mais relacionado à aplicação sistemática de técnicas
gerenciais em sintonia com os objetivos de desenvolvimento de novos empreendimentos. Para
Degen (1989), existem quatro estratégias empreendedoras para uma organização, que
envolvem a identificação de oportunidades, o atendimento a uma necessidade específica do
mercado, o desenvolvimento de um negócio dominante e a diversificação.
30

O autor afirma que o preparo de um indivíduo para iniciar um negócio próprio cresce
com seu domínio sobre as tarefas necessárias para o seu desenvolvimento, com o aumento de
sua capacidade gerencial e com o crescimento de sua visão empreendedora refletida no seu
domínio sobre a complexidade do negócio.
O empreendedor, para Degen (1989), além de profundo conhecimento técnico sobre o
produto que pretende oferecer e sobre o mercado em que pretende atuar, formaliza estratégias
e faz uso de ferramentas de planejamento e controle que lhes proporcionam uma visão sobre a
viabilidade ou não de seus empreendimentos. Além disso, para o autor, ser empreendedor
significa ter a necessidade de realizar coisas novas, pondo em prática idéias próprias, assumir
riscos e estar presente em todas as atividades da empresa.
Degen (1989) comenta, ainda, que o empreendedor é aquele que não se cansa de
observar negócios, na constante procura de novas oportunidades. Por qualquer lugar que
passe, o empreendedor estará sempre tentando enxergar aquilo que ainda não foi visto, seja no
“caminho de casa, do trabalho, nas compras, nas férias, lendo revistas, jornais ou vendo
televisão”. Ao identificar uma oportunidade, diz esse autor, o empreendedor em potencial
coleta o máximo de informações possível sobre o negócio que pretende desenvolver. A
criatividade para Degen (1989) também desempenha papel importante para o empreendedor,
uma vez que ela permitirá as associações que gerarão novos negócios e novos
empreendimentos. No que diz respeito à motivação, o mesmo autor comenta que a maioria
dos empreendedores sente-se motivada pela possibilidade de ganhar muito dinheiro e, em
alguns casos, pelo desejo de sair da rotina a que estavam submetidos.
A questão do “capital social”, ou seja, os valores e idéias que são incutidos nas
pessoas, de forma subliminar, pelos pais, professores, amigos e outros que influenciaram a
formação intelectual e a orientação da vida do indivíduo, foi analisada pro Degen (1989). Para
esse autor, o filho de um empreendedor aprende desde cedo o valor e os riscos de um negócio
próprio e ser empreendedor passa a ser algo natural.
Na visão de Degen (1989), dois outros fatores são fundamentais para que um
empreendedor dê início à inovação e à mudança: o seu preparo e seus interesses e obrigações.
O primeiro refere-se à percepção que o empreendedor tem dele mesmo, o que se reflete na sua
autoconfiança, e o segundo relaciona-se à visão de outros interesses e obrigações da sua vida,
que pode minar essa autoconfiança. Como essas duas condições estão deslocadas no tempo, a
maioria dos potenciais empreendedores têm um período de livre escolha, definido como o
momento da vida do empreendedor no qual sente-se preparado para empreender, antes de
estar comprometido com outros interesses e obrigações, representado na figura a seguir:
31

Figura 1 – Período de Livre Escolha para o Potencial Empreendedor.


Fonte: Degen (1989)

O período de livre escolha de Degen (1989) aproxima-se dos resultados encontrados


na pesquisa do GEM – Global Entrepreneurship Monitor (2002) para o perfil do empresário
brasileiro, que indicou que a maior taxa de abertura de novas negócios é observada entre as
pessoas de 25 a 34 anos, entre as quais 18,6% informaram possuir ou estarem iniciando um
negócio próprio. Esse grupo representa 27% dos empresários brasileiros.
A pesquisa GEM - Global Entrepreneurship Monitor é realizada em 37 países e
identifica diversos aspectos relacionados ao universo das pequenas empresas. Segundo o
relatório dessa pesquisa, no Brasil, em 2002, 14,4 milhões de pessoas estavam envolvidas
com alguma atividade empresarial (Global Entrepreneurship Monitor - GEM, 2002), ou seja,
um em cada sete brasileiros estava administrando um negócio, fato que coloca o país em
sétimo lugar na classificação mundial da pesquisa. Segundo essa mesma pesquisa, 42% dos
brasileiros são empresários por oportunidade enquanto 55,6% o são por necessidade, este o
maior índice entre todos os países pesquisados.
McDonald (2002), por sua vez, identificou quatro características que melhor
exploravam o uso do conhecimento empreendedor: atenção às oportunidades do ambiente,
análise constante dos dados, suporte a novos projetos e tolerância ao risco. A primeira,
32

atenção às oportunidades do ambiente, refere-se ao conhecimento a respeito dos seus clientes,


concorrentes e outros importantes fatores do ambiente externo. A segunda dimensão, análise
constante de dados, diz respeito à importância dada ao estudo das novas opções obtidas em
resposta ao que o empreendedor aprendeu, assim como ao grau de envolvimento de pessoas
de diversas áreas da organização nesses estudos.
A terceira característica, suporte a novos projetos, representa o suporte financeiro e a
importância dada pelo empreendedor ao desenvolvimento de novos projetos e a quantidade de
tempo destinada a testes de inovações. Finalmente, a tolerância ao risco, procura verificar se o
empreendedor é favorável ao desenvolvimento de novas idéias, estimulando as pessoas a dar
sugestões e a correr riscos sem medo de conseqüências pessoais.
Por outro lado, para McDonald (2002), algumas características podem influenciar o
comportamento dos empreendedores, tais como: a orientação para a aprendizagem, através do
constante estudo do ambiente; a sua visão de futuro, que deve ser compartilhada por todos na
organização; a elaboração de uma missão organizacional clara e motivadora; a abertura para a
novas opiniões, e a sua atuação como líder, estando comprometido com a cultura da inovação.
Frese et al. (1996) realizaram um estudo baseado nos conceitos de empreendedorismo
desenvolvidos por Schumpeter, no qual analisaram os traços de personalidade que
diferenciam os empreendedores da antiga Alemanha Oriental dos administradores do mesmo
local. Identificaram, esses autores, na inovação, capacidade de implementar inovações, visão,
necessidade de realização, tenacidade e gosto pelo trabalho, como sendo traços de
personalidade dos empreendedores.
A capacidade de implementar inovações é definida por Frese et al. (1996) como sendo
a capacidade do empreendedor de demonstrar um alto grau de iniciativa, pró-atividade,
planejamento de longo prazo e capacidade de superação. Os mesmos autores, ao definirem
necessidade de realização, fazem uma ligação dessa característica com o desejo de controle e
independência. Já a definição de tenacidade estaria ligada à motivação por reconhecimento.
De acordo com Lalkala (apud BARROS E PRATES, 1996), o processo de inovação
começa com uma ação concreta de um indivíduo empreendedor, cujos atributos podem ser
classificados em 4 conjuntos: desejos, aptidões, temperamento e ativos. Para esse autor, o
desejo está ligado à vontade de realizar uma certa tarefa, relativa ao mercado de trabalho, com
mais intensidade que outras pessoas que estão interessadas nela.
Ainda para esse autor, as organizações já estão conscientes de que a motivação é a
pedra angular para o êxito em todos os seus processos e o desejo não somente representa uma
poderosa força motivadora em um empreendimento, como, também, ajuda a criar algumas das
33

outras condições necessárias ao seu sucesso. As aptidões nesse caso, referem-se àquelas
habilidades naturais do indivíduo, normalmente associadas às tarefas realizadas com
facilidade a ponto do indivíduo, ao realizá-la, não perceber a passagem do tempo nem o
esforço envolvido. Lalkala (apud BARROS e PRATES, 1996), nesse sentido, destaca que um
número significativo de empresas está passando a solicitar aos seus trabalhadores que
descrevam ou demonstrem como resolveram um problema ou alcançaram um resultado no
passado, avaliando suas aptidões e não apenas seu currículo (seus ativos).
O temperamento, seguindo o raciocínio do autor acima referido, é um atributo que se
refere, principalmente, à forma como são explicitadas as reações diante de situações e de
pessoas. O conhecimento possibilita o direcionamento de esforços para tarefas mais
adequadas ao perfil específico do empreendedor. Os ativos constituem as experiências,
características, áreas de especialização ou patrimônio que podem prover vantagem do
empreendedor sobre outras pessoas; a maioria dos ativos é decorrente do exercício das
aptidões e, nos dias de hoje, têm seu valor cada vez mais dependentes das situações e, por
isso, aumenta a necessidade de conhecimento dos comportamentos do cliente para o
desenvolvimento de ativos de maior valor.
Ainda para Lalkala, (apud BARROS e PRATES, 1996), o resultado concreto da vida
do empreendedor é a inovação no trabalho, nos estudos, na sua empresa, na vida pessoal. Para
inovar, além do espírito empreendedor, é necessário, diz esse autor, conhecer o mercado e
suas necessidades, bem como exercer a criatividade. Na visão desse autor, o processo criativo
visando a inovação envolve quatro fases: preparação (fase de pesquisa, de levantamento de
dados, de caracterização de cenários, identificação de demandas, é um sub-processo racional -
nele, o empreendedor assume um papel de explorador); incubação (fase artística, de liberdade,
de sonho, sem limites, de quebra de paradigmas, é um sub-processo intuitivo e emotivo - nele,
o empreendedor assume o papel de um sonhador e artista); iluminação (fase de separação das
opções, classificação das alternativas, tomada de decisão, é um processo racional - nele, o
empreendedor assume o papel de juiz); e verificação (fase de convencimento, defesa de uma
minoria, de negociação, é um sub-processo misto, emotivo e racional - nele, o empreendedor
assume o papel de um guerreiro).
Souza (2001a), por sua vez, ressalta a importância do desenvolvimento de uma
consciência para a formação de pessoas disseminadoras da inovação, característica que essa
autora considera básica para a formação de empreendedores. Além disso, Souza (2001a)
destaca que a pró-atividade, criticidade, criatividade, liderança, visão de futuro e a
34

independência são características fundamentais na formação de empreendedores no mundo


moderno.
Para essa autora, um indivíduo que continua a aprender em decorrência das
oportunidades de negócios e a tomar decisões que objetivam a inovação, desempenha um
papel empreendedor. Ela comenta ainda:
Empreendedorismo está associado à inovação e empreendedor é o inovador
com características, tais como, criatividade, persistência, internalidade
(habilidade de assegurar que seus desejos sejam realizados), liderança,
iniciativa, flexibilidade, habilidade em conduzir situações, habilidade em
utilização de recursos (SOUZA, 2001a, p.31).

Ao estudar a personalidade ou perfil do empreendedor e suas atividades profissionais,


Dutra (2001) tenta estabelecer uma clara distinção entre o empreendedor e o “empreendedor
empresário”, não esquecendo do “empresário não empreendedor”. O empreendedor, diz esse
autor, é o indivíduo visionário, que aproveita oportunidades, que possui comportamentos
como iniciativa, criatividade, persistência, comprometimento, mas, não necessariamente, está
atuando ou criando o próprio negócio, podendo utilizar sua capacidade, habilidades e
conhecimentos para um negócio que não é próprio. O empresário é aquele que não só pode
criar um negócio novo como, também, ser responsável por uma administração organizacional,
traçar planos, metas, delegando funções.
Nesse contexto, segundo Dutra (2001), o empresário possui algumas características
diferentes do empreendedor, como a motivação pelo poder, a complacência com aqueles que
estão no poder, podendo responsabilizar outras pessoas por seu destino; a atenção mais
voltada para eventos dentro da organização (no empreendedor, está mais voltada para a
tecnologia e o mercado); evita correr riscos, tentando descobrir necessidades ou produtos
através de pesquisas ou estudos; adia o reconhecimento do fracasso. O “empreendedor
empresário”, diz o autor, é o indivíduo que tem o desejo e intenta a realização de um negócio
de sucesso (lucrativo ou não) visando atender a um mercado inexplorado ou insatisfeito.
Para Bernardes (1988), o empreendedor é o fundador de uma empresa, ou então, o que
amplia os negócios de uma já existente e de sua propriedade. Enquanto que o empresário é
aquele que administra e mantém rentável uma firma, sem, necessariamente, inovar e fazê-la
crescer. Para Carland et al. (1984), um empresário é um indivíduo que estabelece e gerencia
um negócio com o propósito principal de atingir objetivos pessoais. O empreendedor, por sua
vez, está mais preocupado em inovar.
A diferença entre empreendedores e empresários, para Filion (1996) está relacionada
ao sistema de atividades. Os empresários, para esse autor, trabalham usando os recursos de
35

forma efetiva e eficiente para alcançar metas e objetivos, adaptando-se às mudanças e


trabalhando racionalmente dentro de um sistema de regras existente. Trabalham centrados em
processos que levem em conta o cenário e o ambiente organizacional. Já os empreendedores,
para Filion (1996), têm a capacidade de definir visão e objetivos e identificam recursos
capazes de ajudá-los na realização, mesmo que para isso precisem inicar o processo de
mudanças. Trabalham centrados no desenho de processos resultantes de uma visão
diferenciada do cenário e do ambiente organizacional, utilizando-se de sua imaginação e de
sua criatividade.
Com relação ao perfil empreendedor, Angelo (2003) identifica que o
empreendedorismo envolve todas as funções, atividades, e ações ligadas à percepção de
oportunidades e à criação de organizações que buscam organizadamente estas oportunidades.
Destaca cinco elementos fundamentais na caracterização de um empreendedor: criatividade,
habilidade de aplicar a criatividade, força de vontade, foco na geração de valor e a pré-
disposição para correr riscos calculados, quebrando regras e encurtando distâncias. Para esse
autor, os negócios verdadeiramente empreendedores tendem a crescer aceleradamente.
Os empreendedores bem sucedidos, para Angelo (2003), estudam previamente os
mercados/produtos em que vão atuar, planejam as suas ações e buscam reduzir o seu risco;
não necessariamente realizam inovações que quebram paradigmas, radicais, mas, por vezes,
essas inovações são de pequena variação, incrementais; e não precisam, forçosamente, de
experiência anterior no mercado em que irão empreender.
O empreendedor, na visão de Carland et al. (1984), é caracterizado pela preferência
por atividades criativas, manifestadas pela combinação inovadora de recursos para o lucro. A
pequena empresa, segundo esse autor, é qualquer negócio operado independentemente, não
dominante em seu campo e que não está envolvido em qualquer novo mercado ou prática
inovadora. No entanto, negócio empreendedor, diz esse autor, é aquele que foca a inovação
por meio de introdução de novos bens, novos métodos de produção, abertura de novos
mercados, ou reorganização industrial, é o que tem como meta a lucratividade e o
crescimento, e caracteriza-se por práticas estratégicas inovadoras.
Mais recentemente, ao estudar o modelo americano de empreendedorismo, Carland et
al. (1997), apresenta três características maiores da personalidade empreendedora. A primeira
é a propensão a assumir riscos, a segunda a preferência pela inovação e pela criatividade, e a
terceira é a necessidade de realização.
O empreendedor, para Carland et al. (1998), é um indivíduo altamente dirigido para o
sucesso, possui grande motivação com suas atividades e uma elevada propensão a assumir
36

riscos, lança inovações alterando as características de produtos, mercados ou indústrias. Para


esses autores, décadas de pesquisas e teorização indicam a confluência desses fatores na
diferenciação dos empreendedores dos seus semelhantes corporativos que reforçam essa
conceitualização do empreendedor como um realizador, criativo e tomador de riscos.
De fato, Carland e Carland (1998), em um esforço para determinar a propensão de um
grupo de indivíduos para o desenvolvimento do potencial empreendedor, realizaram uma
pesquisa cujos resultados deram suporte ao desenvolvimento empírico de um modelo para o
potencial empreendedor. Com o propósito de desenhar o perfil de empreendedores, esses
autores aplicaram testes em um grupo de alunos visando medir a necessidade de realização,
preferência pela inovação, e a propensão a aceitar riscos, aferindo suas relações com o
empreendedorismo, medido pelo CEI – Carland Entrepreneurship Index, um instrumento
desenvolvido pelos autores para medir o potencial empreendedor de um indivíduo
(CARLAND, CARLAND e HOY, 1992).
Os resultados da pesquisa de Carland e Carland (1998, p.9) mostraram uma forte
relação entre necessidade de realização, inovação, e propensão em aceitar riscos com o perfil
empreendedor, ou, como mostra o modelo matemático preconizado por esses autores:
“Potencial Empreendedor = f (Realização, Inovação, Riscos)”. Além disso, a pesquisa indicou
também que, na amostra, os homens mostraram possuir um potencial empreendedor maior
que as mulheres.
Carland e Carland (1998) concluíram, ainda, que embora esses três fatores sejam
componentes do potencial empreendedor, nenhum deles, sozinho, é suficiente para explicar o
empreendedorismo e que provavelmente outros fatores, notadamente a criatividade, podem
também afetar o potencial de um empreendedor.
Ao analisar o fenômeno do empreendedorismo e as empresas de bases tecnológicas,
Leite (2001) comenta que a atual economia está baseada no conhecimento encontrado-se em
constante mutação e que os empreendedores possuem mais capacidade de adaptação a esse
ambiente, em decorrência de sua ligação a uma cultura que valoriza a iniciativa, a inovação, o
pragmatismo e o individualismo. Além disso, para o autor, a criatividade é condição básica
para o processo de inovação desencadeado pelo empreendedor.
Leite (2001) argumenta que o profissional dotado de espírito empreendedor apresenta
diferenças significativas com relação ao profissional dotado de espírito pesquisador, o qual é
definido pelo autor como o profissional que dá mais valor ao “emprego estável, com o
pagamento garantido no fim do mês” e que valoriza os diversos benefícios oferecidos pela
empresa na qual trabalha, conforme pode ser observado no quadro abaixo:
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ANTES AGORA
Espírito Pesquisador Espírito Empreendedor
Formação Acadêmica Nenhuma Formação Acadêmica
Envolvimento Puramente Técnico Sede de Novidades Tecnológicas
Pouco Entrosamento com as Demais Áreas da Empresa Faro para os Negócios
Visão Voltada para a Solução Rotineira dos Problemas Visão Global do Negócio da Empresa
Quadro 4 – Espírito Empreendedor
Fonte: Leite (2001)

Os empreendedores, particularmente os de micro e pequenas empresas, diz Leite


(2001), são cidadãos que utilizam sua capacidade de trabalho e tenacidade para criar valor,
riqueza e postos de trabalho. Esses atores vão muito além das pessoas que precisam trabalhar
para sobreviver ou das que almejam cumprir uma vocação, e não se contenta com poucos
riscos e raras oportunidades. Além disso, Leite (2001) refere-se a empreendedores de sucesso
como aquele que sabem identificar e aproveitar as oportunidades e utilizam o conhecimento
do mercado e do negócio para transformar a sua visão em uma oportunidade real.
De uma forma esquemática, a visão integrada do empreendedor, a partir das definições
de Schumpeter, McClelland, Drucker, é apresentada por Leite (2001), como se pode observar
na figura abaixo:

Figura 2 – A visão integrada: Schumpeter, McClelland e Drucker


Fonte: Leite (2001)

Leite (2001) comenta que os comportamentos de um empreendedor de uma empresa


de base tecnológica são a flexibilidade, a atualização permanente, motivação, envolvimento e
compromisso, criatividade, atitude pró-ativa, disponibilidade às mudanças, capacidade de
adaptação, orientação para a resolução de problemas, tenacidade e resistência a situações
estressantes.
Barros e Prates (1996), ao realizarem uma análise sobre o estilo brasileiro de
administrar, dedicam uma parte de sua discussão ao processo de inovação e mudança nas
empresas do país e destacam que dentre as características comuns aos empresários brasileiros
38

que focam as inovações estão a tentativa de evitar conflitos e a flexibilidade vista pela
criatividade.
Para os mesmos autores, o traço de evitar conflitos estimula a criatividade na busca de
soluções engenhosas que possam contornar restrições impostas pelas normas administrativas e
técnicas. Com isso, tenta-se ajustar as necessidades objetivas e pragmáticas às situações
formalizadas sem criar muito atrito. Isso daria ao empreendedor brasileiro uma capacidade de
flexibilidade e de raciocínio estratégico capaz de vencer obstáculos que se apresentem, até
mesmo de forma imprevista.
De acordo com Dolabela (1999), o empreendedorismo é um ramo da administração de
empresas, uma vez que não se pode dissociar o empreendedor da empresa que criou. Para esse
autor, o empreendedor é uma pessoa de grande imaginação, capaz de desenvolver e realizar
visões, e para quem o ser é mais importante que o saber. Dolabela (1999) realiza uma análise
comparada de características dos perfis do gerente, empreendedor e intra-empreendedor, e
apresenta algumas características, tais quais o desejo de se auto-realizar e a motivação pela
liberdade de ação ao invés do poder, como sendo características do perfil do empreendedor.
Os fatores levantados por Dolabela (1999) podem ser observados no quadro abaixo:

Gerente Empreendedor Intra-Empreendedor


Motivado pelo poder Motivado pela liberdade de Motivado pela liberdade de ação e
ação, automotivado pelo acesso aos recursos
Motivação organizacionais. Automotivado, mas
sensível às recompensas
organizacionais.
Delega sua autoridade. O Arregaça as mangas. Colabora Pode delegar, mas coloca a mão na
trabalho de escritório no trabalho dos outros massa quando necessário
Atividades mobiliza todas as suas
energias
Usualmente formado em Tem mais faro para os negócios Parecido com o empreendedor, mas
administração. Possui que habilidades gerenciais ou utiliza certa habilidade política
Competências habilidades políticas políticas. Freqüentemente tem
formação em engenharia
Sobretudo os Principalmente a tecnologia e o Tudo o que acontece dentro e fora
Centro de acontecimentos internos à mercado das empresas, Compreende as
Interesse empresa necessidades do mercado
Esforça-se para evitar os Considera que o erro e o Dissimula os projetos de risco para
O erro e o erros e as surpresas fracasso são ocasiões para não macular a imagem de qualidade
fracasso aprender alguma coisa de sua empresa ou unidade
Aprova as decisões dos Segue a própria visão. Toma Mestre na arte de convencer os
seus superiores. Certifica- suas próprias decisões e outros da boa fundamentação de sua
Decisões se do que eles querem antes privilegia a ação em relação à visão. Orientado para a ação, mas
de agir discussão pronto para o compromisso
Vê a burocracia com Se o sistema não o satisfaz, ele Acomoda-se ao sistema ou o leva ao
Atitude frente satisfação; ela protege seu o rejeita para constituir o seu curto-circuito sem o abandonar
ao sistema status e poder
Funciona tendo a hierarquia As transações e a negociação As transações sociais se processam
Relações com como princípio básico são seus principais modos de dentro do respeito às pressões
os outros relação hierárquicas
Quadro 5 – Agentes na empresa inovadora
Fonte: Dolabela (1999)
39

O empreendedor é visto por Dolabela (1999) como o indivíduo que transforma idéias
em oportunidades através da busca intensa de informações sobre o negócio que pretende criar.
Nesse sentido, um empreendedor, para esse autor, não é o indivíduo que, de posse de uma
idéia, se lança no mercado sem antes se cercar de todos os cuidados e informações que
demonstrem ser aquela idéia uma oportunidade real de construir um negócio de sucesso. As
boas idéias não são, necessariamente, oportunidades, e uma das grandes causas de insucesso
entre os empreendedores iniciantes é não saber distinguir umas das outras.
Timmons e Hornaday, (apud Dolabela, 1999) identificam iniciativa, perseverança,
trabalho por metas, intuição, comprometimento, feedback, orientação para resultados, redes de
relações, e conhecimento do ramo, como características complementares ao perfil do
empreendedor.
Cella (2002) buscou identificar, em sua pesquisa junto aos produtores rurais e pessoal
de assistência técnica do Rio Grande do Sul, fatores que descrevem um empreendedor rural
bem sucedido. A grande quantidade de dados levantados por esse autor foi condensada por
meio de uma análise fatorial multivariada que gerou oito fatores que compreendiam mais de
sessenta por cento da amostra usada na pesquisa. Esses fatores foram: (1) financeiro; (2)
planejamento comercial; (3) comunicação e informação; (4) planejamento pessoal; (5)
gerenciamento de pessoal; (6) organização da produção; (7) aproveitamento de oportunidades;
(8) experiência comercial.
Segundo Longenecker, Moore e Petty (1997), os empreendedores podem ser
considerados como “heróis populares” dentro do atual ambiente empresarial e, por meio da
descoberta de oportunidades e da criação de novos negócios, os empreendedores geram
empregos, introduzem inovações e estimulam o crescimento econômico. Observar o mundo à
sua volta, dizem esses autores, permite aos empreendedores encontrar boas oportunidades
para a criação de novos negócios. Segundo Longenecker, Moore e Petty (1997) oportunidades
potencialmente lucrativas estão presentes no ambiente a todo momento, aguardando que
alguém enxergue nelas a possibilidade de sua transformação em um negócio.
No quadro teórico até aqui apurado, várias são as características que podem compor o
perfil do empreendedor em diferentes enfoques. No sentido de estabelecer a definição de
empreendedorismo a ser utilizada nesse trabalho, buscou-se aprofundar o entendimento sobre
três dos fatores mais citados: inovação, criatividade e “correr riscos”, identificando suas
relações com a busca de oportunidades.
40

2.3 Inovação

Segundo Cavalcante (1998), o conceito mais comumente utilizado de inovação é o de


Dosi (apud CAVALCANTE, 1998), no qual a inovação diz respeito à busca, descoberta,
experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, novos processos de
produção ou novas formas organizacionais.
O termo inovação, na visão de Robert (1995), tem sido pouco compreendido e a
primeira distinção que pode ser feita descrimina inovação de invenção. Esta está associada às
descobertas – tecnologias, patentes e fórmulas, enquanto que aquela tem uma dimensão mais
ampla, podendo ocorrer, tanto no desenvolvimento de novos produtos, como em processos.
Na maior parte dos casos, para esse autor, as inovações são incrementais e contínuas e, mais
raramente, mais drásticas, derivadas de novas invenções.
Freeman (1982), diferencia inovação de invenção, definindo esta como uma idéia, um
projeto ou um modelo de um produto, processo ou design, que para se transformar em
inovação precisa ser validada pelo mercado.
A inovação, conforme Brazeal e Herbert (2000), muitas vezes inclui atividades
contínuas e cíclicas associadas à identificação de problemas, à solução de problemas e à
implementação de problemas e, quanto à sua natureza, podem ser classificadas como
incrementais ou radicais. Para esses autores, as inovações incrementais consistem em
pequenas modificações ou refinamentos para processos pré-existentes. É possível que o efeito
cumulativo de uma série incremental de melhoramentos produza um resultado final que pode
encontrar a marca de uma inovação ou uma diferença substancial e criativa no processo.
Inovações radicais, para Brazeal e Herbert (2000), são inovações “descontínuas", que
representam partidas dramáticas de ideais correntes em desenho, aplicação ou processo. Esse
tipo de inovação, segundo Brazeal e Herbert (2000), representa “saltos quânticos” em teoria e
aplicação mais do que mudanças lineares e progressistas encontradas em inovações
incrementais.
A inovação pode ser algo que nunca existiu previamente, diz Spence (apud FILHO,
2001), ou estar relacionada à capacidade de se mostrar como novidade, quando se toma
consciência de sua existência. Além disso, Spence (apud FILHO, 2001) propõe que a
inovação pode ser considerada como uma invenção – a criação de algo totalmente novo; um
refinamento de algo que já existia; ou como a difusão ou adoção de uma inovação já existente.
Já, sob outro ângulo, a inovação está intimamente ligada à tecnologia, ou seja:
41

A tecnologia significa o conjunto de processos pelos quais uma organização


transforma mão-de-obra, capital, materiais e informação em produtos e
serviços de grande valor. Todas as empresas têm tecnologia. Um varejista
como a Sears emprega uma tecnologia específica para adquirir, apresentar,
vender e entregar produtos a seus clientes; por sua vez, o atacadista que
vende com desconto, como a PriceCostco, emprega uma tecnologia
diferente. Esse conceito de tecnologia, portanto, estende-se além da
engenharia e da produção, para abranger toda a extensão de marketing,
investimento e processos de administração. Inovação refere-se à mudança
em uma dessas tecnologias. (CHRISTENSEN, 2001, p.57)

A inovação, para Motta (1989), pressupõe que algo foi inventado, descoberto e
projetado, por antecedência, como resultado de um processo criativo ou da detecção de uma
oportunidade, embora esse autor ressalte que a ordem em que esses fatores ocorrem pode
variar. Na visão de Motta (1989), inovar é aplicar o incomum, o novo, como uma solução
criativa para problemas que vão sendo detectados.
O conceito de inovação, segundo Fiates & Schneider (1998), está relacionado à
introdução de algo novo junto a um mercado potencialmente consumidor. Nesse mesmo
sentido, Utterback (1974) propõe que o processo de inovação se completa após três fases: a
geração da idéia, através de análise de mercado e de tecnologia; a projeção de soluções
criativas alternativas para resolver problemas pré-estabelecidos; e a implementação da
inovação no mercado.
Prather (2000) também analisa a inovação como um processo e detecta que dentro de
um determinado ambiente, tal processo inicia-se com um problema, uma necessidade ou uma
oportunidade. A partir daí, idéias são geradas para atender à situação detectada e,
posteriormente, são implantadas com atenção aos seus resultados. Para esse autor, o maior
problema encontrado nesse processo de inovação está exatamente no momento da
implementação, quando a organização ou o indivíduo precisarão dispor de recursos e
incentivos para realizar as idéias criadas. Para Prather (2000), é nesse momento que a maioria
das empresas ou pessoas desistem de ser inovadores.
Além disso, segundo Varadarajan e Jayachandran (1999), qualquer investimento em
inovações, incrementais ou radicais, pode significar ir de encontro ao uso racional e eficiente
de recursos no curto prazo, por causa da natureza incerta dos retornos de investimentos das
inovações. Ainda segundo esses autores, o impacto das inovações na performance da empresa
é função de uma complexa interação da competência inovativa da empresa, competência dos
seus competidores e das características de demanda dos mercados, o que signfica que a
implementação de uma inovação por uma empresa normalmente está ligada ao risco.
42

Entretanto, destaca Porter (1998), a inovação é a melhor maneira de desenvolver e


sustentar uma vantagem sobre a concorrência. Para Vargas (2002), a inovação representa a
possibilidade de um desenvolvimento diferenciado e, especificamente, responde por aumentos
na produtividade e pela oportunidade de novos patamares de vantagem competitiva, sendo a
capacidade inovadora, portanto, um elemento crucial para a avaliação do potencial de um
setor da economia.
Schumpeter (1997) diz ser a inovação o elemento motriz da evolução do capitalismo,
seja em forma de introdução de novos bens ou técnicas de produção, ou mesmo através do
surgimento de novos mercados, fontes de oferta de matérias primas ou composições
industriais. O indivíduo que implementa essas novas combinações, para esse autor, inserindo
as inovações no sistema produtivo, é o inovador, podendo esse ser ou não o inventor.
O processo de inovação, para Robert (1995), passa, inicialmente, por um elevado grau
de compromisso e envolvimento das pessoas que atuam desde a fabricação até o consumo do
produto ou serviço. Além disso, o autor considera que encorajar riscos e criar metas que
foquem a inovação são importantes aspectos no estímulo à inovação.
Clark e Wheelwight (apud FILHO, 2001), procuraram identificar os principais
elementos que fomentam a inovação e apresentam os seguintes:
• Competências Centrais – atributos que permitem servir aos clientes de uma
forma única, diferenciada;
• Visão Direcionadora – uma clara visão do futuro, um destino geral que
descreve aonde se quer chegar;
• Organização e Liderança – promover o trabalho em equipe e fornecer gerentes
para liderarem os times, provendo direção e autoridade na tomada de decisão;
• Comprometimento e Motivação;
• “Push the Envelope” – estar sempre buscando melhorar os produtos e
processos, sempre almejando novos níveis de desempenho;
• Uso de protótipos;
• Integração – indo além do conceito de coordenação, redefinindo o conteúdo do
trabalho e as tarefas individuais de modo a aumentar o rendimento da equipe
como um todo.
Tidd, Bessant e Pavitt (1999) ressaltam o aprendizado, a adaptação e fatores tais como
tecnologia, mercado e organização, como pontos essenciais para o processo da inovação.
Ainda segundo esses autores, a gestão do desenvolvimento da inovação depende de um
43

processo de aprendizado preocupado em construir e integrar comportamentos chaves que se


transformem em rotinas (manutenção das inovações). Tal processo de aprendizado se dá,
segundo esses autores, por intermédio do compartilhamento de experiências; do
aprendendizado com as falhas e sucessos; da introdução de novos conceitos e novas idéias
sobre ferramentas e técnicas; e da reflexão estruturada sobre o processo da inovação.
A inovação, ainda conforme Tidd, Bessant e Pavitt (1999), pode ser encontrada em
todos os segmentos produtivos, tanto públicos quanto privados, e seria decorrente de um
conjunto de conhecimentos, experiências e habilidades para a criação de um novo produto,
processo ou serviço. O processo de inovação, para esses autores, parte da percepção de uma
oportunidade para a inovação; passa pela escolha estratégica de como utilizar essa inovação e
termina na efetiva implementação da inovação, com o lançamento de um novo produto ou
serviço.
Lindgren et al. (2000) destacam que a inovação é mais procurada em um ambiente de
mudança e imprevisibilidade. A empresa inovadora possui pouco ou nenhum conhecimento
prévio dos requerimentos de amanhã e está preocupada em criar idéias inovadoras que possam
guiar o pessoal no sentido de desenvolver novas soluções. Na empresa inovadora, a
competência está associada ao processo de mudança e deve ser vista como algo dinâmico,
emergente e situado em uma prática de constante evolução.
Drucker (1998) considera inovação como sendo uma prática sistemática, apresentando
como fontes: pesquisa e desenvolvimento, ocorrências inesperadas, necessidades do processo,
incongruências, mudanças no mercado ou indústria, mudanças demográficas, mudanças na
percepção e novos conhecimentos. A informação, para esse autor, tem papel relevante, tanto
na sua forma tácita como explícita, endógena ou exógena à organização, como principal
insumo para a identificação de oportunidades para a inovação. Quanto maior o
aproveitamento das informações, diz Drucker (1998), maior a probabilidade de se aproveitar
as oportunidades de inovação.
Para Alencar (1995), a inovação é promovida pela ação criativa que visa enfrentar a
mudança, a incerteza, a instabilidade e a concorrência. Depieri (2003) complementa essa
visão argumentando que a inovação está inserida no processo que se inicia com a criatividade,
ou seja, o processo criativo associado à ação, resulta na inovação, que, por sua vez, alavanca o
avanço tecnológico.
44

2.4 Criatividade

A inovação, para Conde (2002), decorre da criatividade, pois só se inova quando se


cria. Para a autora, a personalidade criativa lida com o desconhecido, transformando
possibilidades em probabilidades, e transformando o “caos em harmonia”. Etmologicamente,
segundo a mesma autora, a palavra criatividade provem do latim creare, fazer, e do termo
grego krainen que significa realizar.
Para compreender melhor o contexto e a variedade das definições, é interessante uma
análise histórica das teorias da criatividade. Os estudos sobre o tema atravessaram diferentes
pontos de vista, desde o enfoque filosófico, nos tempos antigos, até o recente cognitivismo,
não havendo ainda teoria universalmente aceita para a criatividade. (KNELLER, 1978)
Uma das mais velhas concepções da criatividade, segundo Kneller (1978), está na sua
concepção como origem divina, que dava conta do reconhecimento da existência de um
“inconsciente espiritual” que a originava. A seguir, esse autor diz que durante o século XVIII,
muitos pensadores associaram criatividade e genialidade. Essa teoria identifica a criação
como uma forma saudável e altamente desenvolvida da intuição, tornando o criador uma
pessoa rara e diferente, com a capacidade de intuir direta e naturalmente o que outras pessoas
só podem apurar divagando longamente.
A partir do século XIX, na visão de Kneller (1978), a criatividade passou a receber um
tratamento mais científico, proporcionado pelo desenvolvimento da Psicologia. As principais
contribuições foram o associacionismo, a teoria da Gestalt e a psicanálise. Na visão do
associacionismo, diz Kneller (1978), para se criar o novo parte-se do velho em um processo
de tentativa e erro por meio da combinação de idéias até que seja encontrado um arranjo que
resolva a situação.
A teoria da Gestalt, ainda para Kneller (1978), sustenta que o pensamento criador é
uma reconstrução de gestalts2 estruturalmente deficientes. A criação tem seu início com uma
configuração problemática, que, de certa forma, se mostra incompleta, porém permite ao
criador uma visão sistêmica da situação. A partir das dinâmicas, das forças e das tensões do
próprio problema, são estabelecidas linhas de tensão semelhantes na mente do criador. Para
“fechar” a gestalt, deve-se restaurar a harmonia do todo.

2
A palavra Gestalt tem origem alemã e surgiu em 1523 de uma tradução da Bíblia, significando "o que é
colocado diante dos olhos, exposto aos olhares". Está associada, hoje, a um processo de dar forma. Gestalt, para
a psicologia, significa uma integração de partes em oposição à soma do "todo" (FERREIRA, 1986).
45

Com o advento da psicanálise, Freud (apud KNELLER, 1978) coloca a criatividade


como resultado de um conflito no inconsciente que, mais cedo ou mais tarde, produz uma
solução para o conflito, que pode ser “ego-sintônica”, resultando em um comportamento
criador, ou à revelia do ego, originando uma neurose. Para esse autor, a criatividade é
impelida pelo inconsciente. Ainda para Freud (apud ALENCAR, 1993), a criatividade está
relacionada à imaginação: a criança produz um mundo imaginário, com o qual interage
rearranjando os componentes desse mundo de novas maneiras e, da mesma forma, o indivíduo
criativo, na vida adulta, comporta-se de maneira semelhante, fantasiando, racionalmente,
sobre um mundo imaginário.
Contrapondo a visão sobre a criatividade colocada pela psicanálise, a psicologia
humanista, a criatividade é a tendência do homem para atualizar-se e concretizar suas
potencialidades e, para tal, deveria estar aberto a novas experiências, conceitos, opiniões e
hipóteses; possuir habilidade para viver o momento presente, com o máximo de
adaptabilidade; e confiança para alcançar o comportamento mais satisfatório em cada
momento. A interação entre o indivíduo e o ambiente é considerada fator importante para o
processo criativo. (ALENCAR, 1993).
Nessa linha, Maslow (1982) apresenta a abertura à experiência como uma
característica da criatividade auto-realizadora. Esse autor comenta que o desenvolvimento
individual, quando bem sucedido, objetiva a auto-realização e a consegue quando o indivíduo
torna-se capaz de expressar a forma única que o caracteriza, realizando seu potencial criativo.
Ao exercer seu potencial criador, trabalhando e criando em qualquer campo do fazer, o
homem “configura a sua vida e lhe empresta um sentido”.
Koestler (apud KNELLER, 1978) apresenta a teoria da criatividade fundamentada em
recursos da psicologia, da neurologia, da fisiologia, da genética e diversas ciências na
proposição de um padrão comum, denominado “bissociação”, que consiste na conexão de
níveis de experiência ou sistemas de referências. Esse autor argumenta que, cotidianamente, a
pessoa adota um plano de experiências rotineiro, mas ao adotar uma postura criativa, o
indivíduo, pensa simultaneamente em mais de um sistema de referências. A matriz de
pensamentos ou de comportamentos é regida por um conjunto de normas que tanto pode ser
inato quanto aprendido, e possui uma certa flexibilidade podendo reagir a algumas
circunstâncias. A criatividade, para esse autor, ocorre quando duas ou mais matrizes
independentes interagem entre si.
A abordagem mais recente da criatividade, segundo Souza (2001b), foi desenvolvida
pelos estudiosos da psicologia cognitiva que buscam o entendimento processual das
46

atividades mentais que geram a criatividade. Para a psicologia cognitiva, na visão desse autor,
a cognição é entendida como um processo disparado por uma situação, compreendida pelos
mecanismos perceptivos do cérebro. Tal situação é uma perturbação interna do indivíduo,
possivelmente fruto de uma ressonância causada por algum fator externo.
Os conhecimentos, para Souza (2001b), são todo o repertório de representações
armazenadas na memória de longo prazo, tanto em nível de conhecimentos específicos quanto
de conhecimentos abstratos (morais, culturais, genéricos). Toda situação, para ser
compreendida, é representada pelo indivíduo. Portanto, pode-se dizer que a representação é a
construção de um “modelo de similaridade” para o mundo, com base na experiência de vida e
na varredura feita na memória em busca de situações análogas. Caso não seja possível
representar adequadamente a situação, o indivíduo irá recorrer aos seus processos de
raciocínio, buscando construir a representação para a situação a fim de poder compreendê-la,
o que acontece, por exemplo, na resolução de problemas.
Qualquer que seja o caminho percorrido, ainda para Souza (2001b), a situação
conduzirá a mente a produzir: atividades de execução automatizadas, que acontecem quando a
situação é conhecida e bem representada, a ponto de poder ser executada sem atenção
consciente; atividades de execução não automatizadas, quando a representação da situação é
recém-elaborada ou não é comum e, portanto, requer um esforço consciente para a execução
das tarefas necessárias; ou atividades de solução de problemas, quando não há uma
representação satisfatória para a situação. Assim, segundo Souza (2001b), a criatividade seria
a construção de uma representação em resposta a uma nova situação.
Para as ciências aplicadas como a Administração, a Engenharia e a Publicidade, a
criatividade, conforme Kim (1990), identifica-se com a resolução de problemas não triviais,
aqueles no qual não são óbvios, de início, nem a solução nem os meios para alcançá-la. O
processo de criação, segundo Kneller (1978), para a resolução de tais problemas envolve
quatro fases identificáveis: preparação, incubação, inspiração e verificação.
A fase de preparação, na visão de Kneller (1978), consiste na coleta de informações
sobre o problema a ser resolvido, incluindo pesquisas, leituras, anotações, indagações e
explorações em busca da solução. Após um período de preparação o indivíduo entra na fase
de incubação, na qual processos mentais inconscientes são acionados, fazendo “inesperadas
conexões” que constituem a essência da criatividade. A fase da inspiração ocorre com a
identificação da idéia, de forma pronta, que poderá solucionar de forma “pura e genial” o
problema. Essa solução, no entanto, ainda será testada para verificar a sua validade em termos
práticos, e é este o objeto da fase de verificação.
47

A definição de criatividade é analisada por Saleme (2004) no foco cognitivo e


neurocientífico. Cognitivamente, a criatividade é interpretada por essa autora como a
formação de novas táticas ou estruturas que resolvam um problema de forma incomum,
através de novos arranjos de idéias e conceitos já existentes, sempre no sentido de formar algo
que tenha forte distinção em relação às idéias tradicionais. Neurocientificamente, para Saleme
(2004), a criatividade está relacionada a “percepções cerebrais” sobre estruturas antigas,
provocando ressonâncias que caracterizem um “novo” qualquer.
Com base nos diferentes enfoques, a criatividade pode ser definida de várias formas.
Para Ghiselin (1952), criatividade é o processo de mudança, de desenvolvimento, de
evolução, na organização da vida subjetiva. Para Stein (1974) a criatividade é o processo que
resulta em um produto novo, que é aceito como útil, ou satisfatório por um número
significativo de pessoas em algum ponto no tempo.
Criatividade, segundo Torrance (1965), é o processo de tornar-se sensível a problemas,
deficiências, lacunas no conhecimento, desarmonia; identificar a dificuldade; buscar soluções,
formulando hipóteses a respeito das deficiências; testar e retestar estas hipóteses; e,
finalmente, comunicar os resultados. Para Anderson (apud SOUZA, 2001b), a criatividade
representa a emergência de algo único e original.
Cave (apud SOUZA, 2001b) vê a criatividade como a tradução dos talentos humanos
para uma realidade exterior que seja nova e útil, dentro de um contexto individual, social e
cultural. Essa tradução pode-se fazer, basicamente, de duas formas. A primeira é a habilidade
de recombinar objetos já existentes em maneiras diferentes para novos propósitos. A segunda,
“brincar” com a forma com que as coisas estão inter-relacionadas. Em ambos os casos, esse
autor considera a criatividade como uma habilidade para gerar novidade e, com isso, idéias e
soluções úteis para resolver os problemas e desafios do dia-a-dia.
Kneller (1978, p.15) identifica quatro dimensões da criatividade:
As definições corretas de criatividade pertencem a quatro categorias, ao que
parece. Ela pode ser considerada do ponto de vista da pessoa que cria, isto é,
em termos de fisiologia e temperamento, inclusive atitudes pessoais, hábitos
e valores. Pode também ser explanada por meio dos processos mentais –
motivação, percepção, aprendizado, pensamento e comunicação – que o ato
de criar mobiliza. Uma terceira definição focaliza influências ambientais e
culturais. Finalmente, a criatividade pode ser entendida em função de seus
produtos, como teorias, invenções, pinturas, esculturas e poemas.

Alencar (1993, p.15), por sua vez, identifica duas dimensões que parecem permear a
noção de criatividade:
(...) pode-se notar que uma das principais dimensões presentes nas mais
diversas definições de criatividade propostas até o momento diz respeito ao
48

fato de que criatividade implica emergência de um produto novo, seja uma


idéia ou invenção original, seja a reelaboração e aperfeiçoamento de
produtos ou idéias já existentes. Também presente em muitas das definições
propostas é o fator relevância, ou seja, não basta que a resposta seja nova; é
também necessário que ela seja apropriada a uma dada situação.

Ostrower (1987) conceitua criatividade como um potencial inerente ao homem e a


realização deste potencial uma de suas necessidades, o que a coloca em concordância com as
teorias motivacionais de Maslow (1982), que via, como fator motivacional, unicamente a
auto-realização expressa através do potencial criativo do indivíduo, considerando a motivação
fator exclusivamente interno.
A criatividade, ainda para Ostrower (1987), está ligada ao estabelecimento de relações
entre dois fatores de forma adequada. Assim, para que a criatividade se desenvolva, há a
necessidade de que exista uma oportunidade para que os indivíduos se sirvam de seus
próprios talentos e atinjam a realização pessoal.
Quanto às características do ser criativo, Dualib e Simonsen Jr. (1990) fazem uma
análise comparativa entre o profissional de marketing e uma pessoa criativa, e identificam
semelhanças quanto à persistência e quanto à clara noção de objetivo ou foco. Como aspectos
comuns da pessoa criativa, destacam a capacidade de comunicação, de rápida adaptação a
novas situações, e o inconformismo. Esses autores ainda identificam o administrador criativo
como a pessoa que tem a tendência de gerar novos negócios e não apenas gerir, e, nesse
sentido, faz uso da tecnologia e dos recursos à sua disposição.
Analisando a criatividade no âmbito da publicidade, Barreto (1982) destaca que as
características mais importantes para um homem criativo são sua receptividade, curiosidade e
capacidade de indagação. O homem criativo, na visão desse autor, é simples e direto e procura
simplificar as coisas.
Para Mirshawka e Mirshawka Jr (1992), ser criativo é provocar mudanças; é não se
deixar levar pela rotina e ser desafiador. Eles consideram que várias qualidades devem estar
presentes na pessoa criativa, tais como: poder de fantasia; capacidade de descobrir relações
entre as coisas; sensibilidade; certo grau de inquietude e anticonformismo; facilidade para
imaginar hipóteses; audácia para empreender novos caminhos. Acrescentam, ainda, uma lista
de características do indivíduo criativo, na qual destacam-se: grande inteligência;
versatilidade; intuição; confiança em si; tenacidade; flexibilidade; valor; decisão; ambição;
autocrítica e entrega.
A necessidade de se cultivar aspectos que favoreçam a criatividade do indivíduo é
enfatizada por Alencar (1997, p.49) que chama a atenção para a possibilidade de se
49

"promover mudanças no modo de agir e pensar de pessoas em diferentes fases da vida e


fortalecer alguns traços de personalidade que as condicionem ao uso de potencialidades
criativas".
Em investigação realizada com uma amostra de pesquisadores de uma universidade
pública brasileira, Alencar (1997) identificou traços de personalidade relacionados à
produtividade e criatividade dos participantes da pesquisa. Os aspectos indicados pelos
sujeitos como mais relevantes para o desempenho profissional deles foram: dedicação ao
trabalho e entusiasmo; iniciativa; perseverança, independência de pensamento e ação e
responsabilidade e imaginação. No contexto das organizações, Alencar (1997) não cita
nenhum estudo que aponte características do indivíduo criativo ou de traços de personalidade,
mas destaca o papel do conhecimento para que se mantenha uma cultura voltada para a
inovação.

2.5 Correr Riscos

Risco, segundo Llewellyn (2004), é a probabilidade de um evento não desejado


ocorrer e o grau de severidade da potencial perda. Entretanto, esse autor comenta que não há
modelos que combinem a probabilidade e a severidade do risco de modo objetivo, o que
significa que medir o risco envolvido em alguma atividade contém elementos de
subjetividade.
A natureza desse conceito, ainda para Llewellyn (2004), é essencialmente interativa,
pois só existe quando alguma coisa considerada de valor é colocada em risco, o que significa
uma interação entre o ator e o seu ambiente. O risco, para esse autor, varia de acordo com a
capacidade do indivíduo em controlá-lo e pode levar a uma posição de vantagem competitiva
ou de descoberta de oportunidades.
Llewellyn (2004) define o processo de calcular riscos como a tentativa de prever
resultados futuros baseando-se na extrapolação de experiências anteriores e a aplicação de
lógica. Entretanto, esse autor comenta que encontrar a divisão que separa o risco significativo
do risco aceitável ainda é um assunto cientificamente controverso. Os processos intuitivos de
medição de riscos são suscetíveis aos erros e aos vieses, mas são os mais utilizados por
indivíduos em uma série de situações. Por outro lado, lembra Llewellyn (2004), os processos
formais, mais sistemáticos, de cálculo de riscos levam muito tempo, são caros e dificilmente
se aplicam às situações específicas dos indivíduos e, mesmo que todas as variáveis relevantes
sejam levadas em consideração, o resultado não é infalível.
50

O comportamento de correr riscos, para Llewellyn (2004), é a participação voluntária


em uma situação que apresenta um grau significativo de risco, embora o próprio autor
considere a noção de “grau significativo de risco” com algo difícil de definir. Entretanto,
quando a situação envolve risco físico ou perda financeira, Llewllyn (2004) considera que há
um certo consenso quanto à existência de risco significativo. Para esse autor, as pessoas
tendem a adotar três tipos de posturas quando confrontadas com situações como essas
denominando de “evitadores de risco” os indivíduos que evitam o risco significativo;
“redutores de risco” os indivíduos que desprezam os riscos envolvidos e confrontam a
situação; e “otimizadores de risco” os indivíduos que buscam calcular e reduzir os riscos e
confrontam a situação.
Llewellyn (2004) diz ainda que é possível que um indivíduo, ao longo do tempo, mude
a sua postura frente ao risco significativo, mas que as evidências existentes sugerem que
assumir riscos é uma característica do indivíduo, que permanece constante ao longo do tempo.
Segundo Famá et al (2001), o risco pode ser definido como o grau de incerteza em
relação ao retorno esperado de uma atividade empresarial, sendo, portanto, a probabilidade da
ocorrência de um determinado evento e o seu impacto no resultado empresarial. Ainda para
esse autor, o risco da atividade empresarial é decorrente de alterações do segmento ou área de
atuação, desenvolvimento de produto, inovações tecnológicas, planos de marketing e quadro
funcional.
A tendência de assumir riscos moderados é uma característica destacada por diversos
autores (CARLAND, CARLAND e HOY 1992, SHUMPETER 1982, McCLELLAND 1972,
FILLION 2000) como diretamente ligada ao comportamento do empreendedor. De fato,
Carland, Carland e Hoy (1992) demonstram que os empreendedores possuem uma propensão
maior a correr riscos do que proprietários de pequenos negócios e gerentes. Essa tendência,
dizem esses autores, está relacionada às metas, ou seja, se por um lado o empreendedor tem
como metas principais o lucro e o crescimento do seu empreendimento, por outro, o
proprietário de pequena empresa está orientado para suprir as necessidades da família. O
risco, para McClelland (1972), também está vinculado ao processo de tomada de decisões,
uma vez que uma situação que não apresente qualquer risco não necessita de um processo
decisório.
Carland, Carland e Hoy (1992) demonstram que há diferença de comportamento
quanto à responsabilidade pela tomada de decisão final, pois os empreendedores tendem a
assumir essa responsabilidade de forma individualizada e os gerentes, por sua vez, de maneira
mais compartilhada.
51

A pesquisa realizada por McClelland (1972, p.256) sobre o comportamento do


empreendedor reforça as afirmações anteriores. O autor identificou que pessoas com maior
necessidade de realização (empreendedores, na definição desse autor) são mais propensas à
aceitação moderada de riscos como função da capacidade de decisão. Assim, segundo esse
autor, os empreendedores aceitam riscos moderados em situações em que suas habilidades
aumentam sua probabilidade de sucesso, minimizando o risco. O autor define esse
comportamento como percepção das probabilidades de êxito e afirma que “os indivíduos com
elevada n (necessidade de) Realização tendem a perceber que as suas probabilidades de êxito
são maiores, especialmente quando não há fatos para justificar suas estimativas”
(McCLELLAND, 1972, p. 273).
Nesse sentido Busenitz (1999, p. 327) afirma que “não existe diferença na tendência a
assumir riscos entre empreendedores e gerentes de grandes corporações; as diferenças estão
no modo como eles percebem e pensam em relação ao risco”. Empreendedores tendem a
tomar decisões com base em um menor número de informações e generalizam pequenas
amostras não randômicas como tendências para toda uma população. O autor conclui que “a
amostra não randômica mais comumente usada como base para a generalização é a
experiência pessoal” (BUSENITZ, 1999, p. 330).

2.6 Empreendedor: conceito deste estudo

Carland et al. (1984), caracterizaram o empreendedor como aquele que estabelece e


gerencia um negócio com o propósito principal de lucro e crescimento e é caracterizado
principalmente pelo comportamento inovador empregando práticas de gerenciamento
estratégico no negócio. Mais tarde, Carland, Carland e Hoy (1992), Carland et al. (1997) e
Carland e Carland (1998), acrescentariam ao perfil do empreendedor a necessidade de
realização, a propensão de correr riscos calculados e a criatividade.
Baseado na revisão de literatura acima apresentada e principalmente na visão de
Carland (1984), para efeito deste trabalho, o indivíduo empreendedor é aquele capaz de
identificar uma oportunidade, utilizar-se de criatividade para aproveitá-la, sendo capaz de
implementar a sua idéia, mesmo que corra riscos moderados, realizando com sucesso o
processo de inovação.
52

3. METODOLOGIA

A partir das características empreendedoras identificadas e da definição de indivíduo


empreendedor elaborada, identificar o potencial empreendedor de pequenos empresários de
Brasília foi o objetivo desta pesquisa de campo, coletando os fatos junto à realidade através de
uma técnica de survey, com base em uma amostra para descrever uma população no momento
histórico deste estudo.

3.1 Caracterização da Pesquisa

A pesquisa realizada nesse trabalho, tendo em vista os objetivos almejados e os


processos realizados, caracteriza-se, segundo as classificações de pesquisa apresentadas por
Silva (2001), como descritiva, visando descrever sistematicamente as características da
população em estudo estabelecendo relações entre suas variáveis, documental e de
levantamento de campo, pois envolveu consulta a livros já publicados e a interrogação direta
das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.

3.2 População

Nessa pesquisa, trabalhou-se com pequenas empresas do Plano Piloto do Distrito


Federal. Para determinar a população, optou-se trabalhar com os dados da Relação Anual de
Informações Sociais - RAIS (MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO, 2002),
conforme a tabela a seguir.

Tabela 1 – População - Quantidade de pequenas empresas no Plano Piloto do Distrito Federal


Setor Freqüência
Indústria 363
Comércio 2.010
Serviços 2.437
Total 4.810
Fonte: Relação Anual de Informações Sociais - MTE 2002

3.3 Amostra

Tendo em vista a indisponibilidade de recursos físicos e financeiros para trabalhar com


uma amostra de toda a população de pequenas empresas de Brasília, foram escolhidos, para
53

compor a amostra deste estudo, pequenos empresários do setor de serviços, pois além de
apresentar o maior número de pequenas empresas de Brasília, esse setor também é, segundo
Gronroos (1993), um dos responsáveis pelo aumento de riqueza e do nível de emprego na
sociedade, o que o torna relevante para o desenvolvimento de qualquer região. As 2.437
pequenas empresas de serviços em Brasília são enquadradas em 115 categorias, de acordo
com os critérios da RAIS (MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO, 2002). Na
tabela abaixo são apresentadas as categorias com maior freqüência de pequenas empresas na
região estudada:

Tabela 2 – Categorias de pequenos negócios de maior incidência no Plano Piloto do Distrito Federal
Serviços Freqüência % Freqüência
Restaurantes 276 11,33
Bancos 180 7,39
Lanchonetes 163 6,69
Outras atividades de serviços 145 5,95
Outras atividades associativas 125 5,13
Condomínios prediais 123 5,05
Ensino fundamental 68 2,79
Transporte rodoviário de cargas 63 2,59
Outras atividades de ensino 62 2,54
Educação infantil-pré-escola 50 2,05
Caixas econômicas 46 1,89
Atividades de organizações religiosas 46 1,89
Atividades de organizações sindicais 41 1,68
Estabelecimentos hoteleiros 40 1,64
Atividades desportivas 38 1,56
Atividades jurídicas 36 1,48
Atividades de serviços de complementação de diagnósticos 36 1,48
Atividades de atendimento hospitalar 35 1,44
Publicidade 33 1,35
Atividades de atenção ambulatorial 29 1,19
Outras atividades relacionadas ao lazer 29 1,19
Ensino médio 26 1,07
Atividades de correio nacional 25 1,03
Serviços de arquitetura e engenharia e de assessoramento técnico 25 1,03
Outras atividades relacionadas com a atenção à saúde 24 0,98
Academias de ginástica e manutenção do físico corporal 24 0,98
Atividades de imunização, higienização e de limpeza em prédios 23 0,94
Agências de viagens 21 0,86
Cabeleireiros e outros tratamentos de beleza 21 0,86
Atividades de contabilidade e auditoria 18 0,74
Atividades de assessoria em gestão empresarial 18 0,74
TOTAL 1905 77,55
Fonte: Relação Anual de Informações Sociais – MTE (2002).
54

Foram selecionadas, dentre as categorias, as academias de ginástica, por representarem


um ramo de concorrência acirrada e em franca expansão em Brasília, e os restaurantes, por
representarem um dos mais numerosos tipos de pequenos negócios localizados na região do
Plano Piloto.

Tabela 3 – Quantidade de academias e restaurantes no Plano Piloto do Distrito Federal


Serviços Freqüência
Academias 24
Restaurantes 276
Total 300
Fonte: Relação Anual de Informações Sociais – MTE (2002)

Para determinar o tamanho final da amostra de pesquisa, no caso de população finita


(pequena) como a deste trabalho, foi utilizada a fórmula “n” abaixo, apresentada por
Steverson (1986):

Sendo:
n : o número de elementos da amostra (tamanho da amostra)
N : o número de elementos da população (tamanho da população)
Z : o valor da abscissa da curva normal associada ao nível de confiança fixado.
d : o erro tolerável da amostra (precisão da amostra) em porcentagem.
p e q : proporção de se escolher uma dada empresa aleatoriamente.

Com um tamanho de população N = 300 empresas, para um nível de significância


prefixado de 5%, o que corresponde a um nível de confiabilidade de 95% sobre os resultados
da pesquisa, o valor Z é igual a 1,96. Admitiu-se que a proporção é desconhecida e que,
portanto, utiliza-se p = q = 0,5, pois obtém-se o maior tamanho possível de amostra e tomou-
se d (erro amostral) de 0,05, o que, de acordo com Gimenez, Inácio e Sunsin (2001), pode ser
admitido uma vez que intervalos de +/- 5% de variação sobre a média das pontuações do
questionário CEI - Carland Entrepreneurship Index - encontradas, fornecem uma clara
definição do potencial do empreendedor. O tamanho da amostra foi, então, calculado:
55

Assim, no intuito de garantir representatividade à pesquisa, o tamanho da amostra


desse estudo foi de 169 pequenas empresas, conforme a tabela a seguir:

Tabela 4 – Tamanho da Amostra


Serviços Amostra
Academias e Restaurantes 169
Fonte: Dados da Pesquisa

Tentou-se estabelecer contato com os donos de academias e donos de restaurantes e,


como resultado, obteve-se 169 questionários respondidos, conforme a tabela abaixo:

Tabela 5 – Amostra Coletada


Setor Amostra %
Academias 24 14,2
Restaurantes 145 85,8
Total 169 100%
Fonte: Dados da Pesquisa

A amostra é composta, em sua maioria, por 85,8% de restaurantes e 14,2% de


academias. As características da amostra podem ser visualizadas nas tabelas 6, 7, 8 e 9, a
seguir. Foram coletadas informações relativas ao tempo de funcionamento da empresa, ao
número de empregados, aos dados demográficos e renda familiar dos donos dos
estabelecimentos.
Na Tabela 6, abaixo, é apresentado o tempo de funcionamento das empresas
participantes da pesquisa. A variável “Tempo de funcionamento da empresa”, foi recodificada
em quatro categorias: 1) 0 a 3 anos; 2) 4 a 7 anos; 3) 8 a 11 anos e 4) Acima de 12 anos.
Grande parte dos estabelecimentos estão em funcionamento de 4 a 7 anos (31,4%) e há mais
de 12 anos (30,8%).

Tabela 6 - Características da amostra – Tempo de funcionamento da empresa


Tempo de funcionamento Freqüência Absoluta %
0 a 3 anos 42 24,9
4 a 7 anos 53 31,4
8 a 11 anos 22 13,0
Acima de 12 anos 52 30,8
Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Moda
9,62 9,38 0 44 1
Fonte: Dados da Pesquisa
56

Anteriormente ao processo de recodificação da variável, foram realizadas análises da


média, desvio-padrão, mínimo, máximo e moda do tempo de funcionamento da empresa. A
média aritmética de funcionamento foi de 9,62 anos e o desvio-padrão foi de 9,38 anos. O
menor tempo de funcionamento foi menor que 1 ano (representado pelo valor zero) e o maior
foi de 44 anos. Observa-se um alto desvio-padrão nesta variável, indicando uma grande
heterogeneidade da amostra em relação ao tempo de funcionamento das empresas.
Na Tabela 7, abaixo, são apresentadas as características da amostra quanto ao número
de empregados que trabalham nas empresas.

Tabela 7 - Características da amostra – Número de empregados


Número de empregados Freqüência Absoluta %
10 a 14 funcionários 79 46,7
15 a 20 funcionários 42 24,9
21 a 49 funcionários 48 28,4
Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Moda
19,27 11,39 10 49 10
Fonte: Dados da Pesquisa

A variável “Número de empregados” foi recodificada em três categorias: 1) 10 a 14


funcionários; 2) 15 a 20 funcionários e 3) 21 a 49 funcionários. Grande parte dos donos de
empresas que participaram do estudo relatou que possuem uma equipe composta de 10 a 14
funcionários (46,7%). Cabe observar que essa característica da amostra encontra-se de acordo
com dados apresentados pelo Sebrae (1999), mostrando que, no Brasil, quanto menor o porte
das empresas, mais numerosas elas são.
Utilizou-se o mesmo procedimento de análise realizada para a variável “Tempo de
funcionamento da empresa”: foram realizadas análises da média, desvio-padrão, mínimo,
máximo e moda, anterior ao processo de recodificação. A média aritmética do número de
funcionários que trabalham nas empresas foi de 19,27 (DP=11,39; Mínimo=10; Máximo=49;
Moda=10).
Na Tabela 8, a seguir, é possível visualizar os dados demográficos dos donos das
empresas participantes da pesquisa.

Tabela 8 - Características da amostra – Dados Demográficos


VARIÁVEL Freqüência Absoluta %
Sexo
Masculino 121 71,6
Feminino 48 28,4
57

Continuação
VARIÁVEL Freqüência Absoluta %
Estado Civil
Casado 113 66,9
Separado 17 10,1
Solteiro 39 23,1
Idade
Até 25 anos 14 8,3
26 a 35 anos 37 21,9
36 a 45 anos 59 34,9
Acima de 45 anos 59 34,9
Escolaridade
Primeiro Grau 24 14,2
Segundo Grau 61 36,1
Terceiro Grau 83 49,1
Omisso 1 0,6
Fonte: Dados da Pesquisa

A maioria da amostra é composta por donos de empresas do sexo masculino (71,6%),


por pessoas casadas (66,9%) e que possuem mais de 36 anos de idade (69,8%). Além destas
características, destaca-se que 49,1% dos proprietários possuem nível de escolaridade
referente ao terceiro grau.
Na Tabela 9, abaixo, são apresentadas as características da amostra quanto à renda
familiar das pessoas entrevistadas.

Tabela 9 - Características da amostra – Renda Familiar


Renda familiar Freqüência Absoluta %
R$ 500,00 a R$ 4.000,00 37 21,9
Acima de R$ 4.000,01 50 29,6
Omissos 82 48,5
Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Moda
6.236,78 4.909,39 1.000,00 35.000,00 5.000,00
Fonte: Dados da Pesquisa

A variável “Renda familiar” foi recodificada em duas categorias: 1) R$500,00 a


R$4.000,00 e 2) Acima de R$4.000,01. Grande parte dos donos de empresas que participaram
do estudo relataram que possuem uma renda familiar maior do que R$4.000,01 (29,6%).
Foram realizadas análises da média, desvio-padrão, mínimo, máximo e moda, anterior ao
processo de recodificação. A média aritmética da renda familiar dos donos de empresas foi de
R$ 6.236,78 (DP=R$4.909,39; Mínimo=R$1.000,00; Máximo=R$35.000,00; Moda=
R$5.000,00). Vale ressaltar que nesta variável foi detectada grande quantidade de dados
omissos (48,5%).
58

3.4 Coleta de Dados

Os dados da pesquisa de campo foram coletados por meio de um questionário de duas


partes, sendo que a primeira continha as questões do CEI – Carland Entrepreneurship Index
(CARLAND, CARLAND E HOY, 1992), e a segunda era composta de dados de identificação
dos entrevistados, vide Apêndice A. O CEI foi desenvolvido para medir o potencial
empreendedor, assim como o objetivo geral aqui pretendido, centrando-se em identificar
características que estão de acordo com a definição do empreendedor para esse trabalho e,
além disso, é de fácil aplicação e foi validado empiricamente por seus autores, motivos que
levaram à escolha desse instrumento para realização dessa pesquisa.

3.4.1 Instrumento de Coleta de Dados - CEI – Carland Entrepreneurship Index

O CEI é resultado da pesquisa sobre empreendedorismo, segundo os autores:


Baseamo-nos em conceitos de escritores como McClelland (1961) no estudo
da realização, Brockhaus (1980, 1982) na propensão pelo risco dos
empreendedores, Drucker (1985) em inovação, Jung (1923), Keirsey &
Bates (1984) e Myers & Briggs (1962) em tipologias cognitivas, nos estudos
de características de personalidades empreendedoras de Borland (1974),
Davids (1963), Dunkelberg & Cooper (1982), Gasse (1977), Hartman
(1959), Hornaday & Aboud (1971), Liles (1974), Mancuso (1975), Palmer
(1971), Sexton (1980), Timmons (1978), Vesper (1980), Welsh & White
(1981) e Williams (1981) e em nossa própria linha de pesquisa nesta área
(Carland, 1982; Carland, Hoy, Boulton & Carland, 1984, 1988; Carland,
Carland, & Hoy, 1982, 1983, 1988; Carland & Carland, 1983, 1984, 1986,
1987, 1988, 1991, 1992). (CARLAND, CARLAND & HOY, 1992, p. 1-2).

Carland, Carland e Hoy (1992) concluíram que o empreendedorismo é uma função de,
principalmente, cinco elementos: necessidade de realização, criatividade, propensão à
inovação, ao risco e à postura estratégica, este último um fator que esses autores ligam à
busca de oportunidades. Esses elementos representam, também, os principais fatores ligados
ao empreendedorismo identificados no marco teórico deste trabalho.
O CEI é um questionário de auto-resposta com trinta e três frases afirmativas em
pares, no formato de escolha forçada e seu objetivo é identificar o potencial empreendedor
atual dos respondentes. Através de uma escala preferencial, o respondente, ao preencher o
questionário baseando-se na sua personalidade e preferências, será enquadrado como mais ou
menos empreendedor. Foi desenvolvido e validado (CARLAND, CARLAND e ENSLEY,
2001) por seus autores não para ser usado como palavra final, mas como um forte indicador
59

do potencial empreendedor de um indivíduo. O questionário original, em inglês, está


disponível no Anexo A.
A maior ou menor presença das características empreendedoras em um indivíduo
coloca-o, segundo a escala do CEI, entre os valores de 0 a 33 pontos, contidos em três faixas,
conforme o quadro abaixo. O gabarito de tabulação do CEI, em inglês, está no Anexo B.

Categoria Pontuação Características Gerais


Micro-Empreendedor De 0 a 15 pontos Um Micro-Empreendedor possui um negócio que não visa o
crescimento direto, mas que pode se tornar uma referência em sua
cidade ou comunidade.
Esse tipo de empreendedor vê seu negócio como a fonte
primária para a renda familiar ou para estabelecer emprego familiar.
Considera sua empresa como aspecto importante da sua vida, mas
não será “consumido” por ela e irá buscar a sua satisfação pessoal
através de alguma atividade externa ao seu negócio.
O sucesso, para o micro-empreendedor, pode ser medido pelo
seu grau de liberdade e pela estabilidade de seu negócio, o que
proporcionará condições de aproveitar a vida.
Empreendedor De 16 a 25 pontos O Empreendedor, nessa escala, concentra seus esforços para o
lucro e crescimento do seu negócio. Seus objetivos são mais
ousados que os do micro-empreendedor, mas ao atingir o seu
padrão desejado de sucesso, possivelmente o seu foco também
mudará para outros interesses externos ao seu negócio.
Esse tipo busca a inovação, normalmente procurando melhorias
para os produtos, serviços e procedimentos já estabelecidos, ao
invés de engendrarem algo totalmente novo, pois essas melhorias
possuem menos probabilidades de desestabilizar o caminho para o
sucesso que é tão importante para o empreendedor.
O sucesso para as pessoas que se enquadram nessa categoria
pode ser simbolizado pelo reconhecimento, admiração e riqueza.
Macro-Empreendedor De 26 a 33 pontos O Macro-Empreendedor acredita que o seu próprio
envolvimento com seu negócio é o caminho para a auto-realização.
Costuma associar o seu sucesso ao crescimento e lucro do seu
negócio, mas o seu interesse não é monetário mas, sim, como um
placar, para medir o seu sucesso pessoal, pois o que realmente
deseja é dominar o seu mercado.
Esse tipo é considerado inovador e criativo e está
constantemente em busca de novos caminhos para transformar seus
sonhos em novos produtos, mercados, indústrias e desafios.
Um Macro-Empreendedor verá seu negócio como um meio de
mudar a indústria e tornar-se uma força dominante. Seus esforços
giram em torno do seu empreendimento com força e determinação.
Quadro 6 – Classificação do CEI - Micro Empreendedor, Empreendedor e Macro Empreendedor
Fonte: Carland, Carland e Hoy (1992)

Carland, Carland e Hoy (1992) não objetivaram criar, com o CEI, tipologias
dicotômicas de ser ou não empreendedor. No entendimento desses autores, um indivíduo
desloca-se sobre um continuum onde todos seriam empreendedores (mais ou menos) em
função da maior ou menor presença das características avaliadas pelo CEI. O questionário foi
60

originalmente desenvolvido por Carland, Carland e Hoy (1992) em inglês, mas foi traduzido
para o português por Inácio (2002), utilizando o método de Douglas e Craig (apud
GIMENEZ, INÁCIO E SUNSIN, 2001) que compreende a tradução do instrumento original –
source – para o idioma alvo – target, e sua re-tradução para o idioma original, novamente.
Comparam-se os resultados e, se necessário, refaz-se o mesmo processo até que ambos os
instrumentos contenham o mesmo significado.
Em sua pesquisa, Inácio (2002) aplicou o CEI junto aos donos das empresas das
incubadoras tecnológicas do estado do Paraná, obtendo 73 questionários respondidos. Como
parte de sua análise, Inácio (2002) realizou a análise de validade e confiabilidade do
instrumento em português, concluindo que o instrumento apresentava-se em boas condições
para ser aplicado cientificamente.
Esse mesmo autor buscou identificar a relação entre cada um dos 33 pares de
perguntas do CEI com as quatro principais características identificadas por Carland, Carland e
Hoy (1992) para o desenvolvimento do potencial empreendedor: traços de personalidade
(necessidade de realização e criatividade), propensão à inovação, propensão ao risco e
propensão à postura estratégica (busca de oportunidades), conforme o quadro a seguir:

Característica Itens do CEI


Traços de Personalidade 2, 3, 6, 7, 10, 13, 14, 15, 16, 18, 29 e 32
Propensão à Inovação 17, 19, 22, 25 e 33
Propensão ao Risco 26, 30, 31
Propensão à Postura Estratégica 1, 4, 5, 8, 9, 11, 12, 20, 21, 23, 24, 27 e 28
Quadro 07 – Características do empreendedor e sua relação com os itens do CEI
Fonte: Inácio (2002)

3.5 Procedimento de Coleta de Dados

O procedimento de coleta de dados iniciou-se com o treinamento da equipe de


pesquisa responsável pela aplicação do questionário. O objetivo da pesquisa e os itens do CEI
foram lidos e debatidos, um a um, para que a compreensão e a importância da correta
aplicação do questionário fossem internalizadas por todos.
A equipe foi responsável pela aplicação do questionário através de visitas in loco junto
aos donos de academias e restaurantes da região. O pequeno empresário recebia uma cópia
plastificada do questionário, lia os itens e ditava as suas escolhas para o membro da equipe
61

que, por sua vez, preenchia as respostas em uma cópia impressa do CEI. Ao final, o pequeno
empresário validou a folha de respostas preenchida.
Os questionários coletados eram reunidos diariamente, totalizados e tabulados em uma
planilha eletrônica Excel. Os pequenos empresários foram abordados para responder ao CEI
em março e abril de 2004, mas alguns optaram por não fazê-lo alegando falta de tempo, falta
de motivação, falta de interesse ou mesmo por medo de que a utilização dos dados coletados
na pesquisa pudesse trazer problemas com a fiscalização.
Nos dia seguinte à coleta de dados, o mestrando ligava para os donos dos
estabelecimentos para confirmar se, de fato, eram eles os responsáveis pelas respostas. Além
disso, os questionários respondidos que indicaram que o empresário não se encaixava de
alguma forma na amostra pretendida nesse estudo, foram desconsiderados, assim como todos
aqueles respondidos por diretores, gerentes, encarregados ou contadores que, porventura, não
eram os reais donos dos pequenos empreendimentos.
Foi assegurado a todos os entrevistados que as informações fornecidas seriam tratadas
de forma confidencial e, dessa forma, os resultados apresentados não possibilitam
identificação dos mesmos.

3.6 Análise de Dados

Visando cumprir o objetivo geral desse trabalho, que é o de identificar o potencial


empreendedor de pequenos empresários de Brasília, foram realizadas três etapas de análises.
No sentido de atingir o primeiro objetivo específico, foi construída uma matriz de
fatores empreendedores a partir da visão dos autores revisados. Durante o levantamento das
informações bibliográficas dessa pesquisa foram destacadas todas as referências que os
autores faziam, nos textos revisados, a possíveis fatores ligados positivamente ao
desenvolvimento do empreendedorismo. Cada fator era marcado com um “X” na matriz para
indicar a concordância daquele autor com a característica.
Para atingir o segundo objetivo específico foi realizada uma análise bibliográfica, na
qual foram considerados três livros que apresentam entrevistas com empresários,
considerados empreendedores pela opinião pública brasileira, para construir uma segunda
matriz de fatores empreendedores na visão desses entrevistados. Durante a análise, foram
destacadas todas as referências que os empresários faziam, em suas respostas, a possíveis
fatores ligados positivamente ao desenvolvimento do empreendedorismo. Cada fator era
marcado com um “X” na matriz para indicar a concordância daquele empresário com a
62

característica. Após obter o quadro inicial, utilizou-se o dicionário (FERREIRA, 1986) para
agrupar fatores sinônimos citados pelos entrevistados.

3.6.1 Análise Bibliográfica

Nessa etapa foram considerados três livros, nos quais os autores apresentam
entrevistas com empresários brasileiros falando de suas vidas, experiências e fatores que
consideram responsáveis por seus sucessos. Essas obras foram, de Wollheim, B. e Marcondes,
P.; Empreendedor não é brincadeira (2003); de Mendonça, L.; Empresários vencedores e
suas histórias de sucesso (2002); e de Britto, F. e Wever, L.; Empreendedores Brasileiros:
vivendo e aprendendo com grandes nomes (2003).
As entrevistas conduzidas por esses autores foram analisadas, neste trabalho, com a
finalidade de interpretar as características do potencial empreendedor na percepção dos
entrevistados. Buscou-se analisar, nos depoimentos, as afirmações e hipóteses que levariam à
construção do perfil do empreendedor.

3.6.1.1 Wollheim, B.; Marcondes, P. Empreendedor não é brincadeira - 2003

No livro Empreendedor não é brincadeira, Wollheim e Marcondes (2003)


entrevistaram dezoito pessoas consideradas pela opinião pública como empreendedores
brasileiros. Nos depoimentos apresentados a seguir, buscou-se identificar os fatores que os
entrevistados consideraram como ligados ao desenvolvimento do empreendedorismo.
Aleksander Mandic apostou nos serviços pagos de acesso à Internet e criou uma
pequena empresa, a Mandic BBS, que veio a se transformar em uma das gigantes de uma área
controlada por grandes empresas no Brasil, chegando a ocupar o terceiro lugar no ranking do
setor. Para ele, o papel do empreendedor está em estimular os seus funcionários a terem idéias
criativas, atuando como um motivador. Além disso, apresenta o empreendedor como pessoa
determinada, com gosto pelo trabalho e comprometido com os resultados da empresa. A
grande característica do empreendedor, diz Mandic, é ser sonhador, acreditar naquilo que tem
como visão de negócio e estar disposto a correr determinados riscos. Esse empresário destaca
a experiência anterior como fundamental para guiar os passos futuros de um empreendedor.
Ana Lúcia Serra, empresária no segmento de relações públicas, atendimento e
planejamento publicitário, dona de uma agência de publicidade, a Age, diz ser o
empreendedorismo o resultado de um conjunto de capacidades inatas que permitem o
63

reconhecimento de oportunidades. Na sua visão, o empreendedor é um líder que é motivado


por desafios e comprometido com o que faz, além de ter a capacidade de trabalhar em equipe.
Antônio Bonchristiano, empresário formado em economia que fundou a empresa de
comércio eletrônico Submarino, uma das maiores empresas da Internet brasileira, considera
empreendedora a pessoa que está atenta e preparada para as oportunidades que o mercado
apresenta, tendo dentro de si uma força criativa que precisa ser transformada em uma ação
inovadora, em um negócio de caráter duradouro e relevante. Bonchristiano diz que o
pensamento a longo prazo, o controle, a capacidade de motivar a equipe e a necessidade de
adrenalina, de correr riscos, são características inerentes ao perfil do empreendedor, que é
motivado principalmente pela necessidade de realização.
Caio Túlio Costa, diretor-fundador do Universo On-Line, o principal portal de notícias
da Internet brasileira, apresenta o ambiente como fundamental para o despertar de
competências e comportamentos que irão definir o espírito empreendedor; espírito este que é
representado por traços como: determinação, energia, desenvolvimento de metas e objetivos
claros. Caio Túlio Costa destaca que o empreendedor precisa ter foco e capacidade de ver
oportunidades que as outras pessoas, em geral, deixam passar de forma desapercebida, além
de ser, normalmente, motivado por ganhos financeiros.
Para Fábio Fernandes, publicitário e um dos donos da agência F/Nazca
Saatchi&Saatchi, a necessidade de realizar alguma coisa, de testar os próprios limites, de se
desafiar, associada ao espírito criativo são os aspectos formadores do espírito empreendedor.
O empreendedor, diz Fernandes, busca criar as próprias oportunidades, além de ter capacidade
de liderança, autoconfiança, persistência e se destacar das outras pessoas por não ter medo de
enfrentar as adversidades, de arriscar.
Gustavo Viberti, engenheiro especialista em computação, criador e fundador do maior
sistema de buscas da Internet brasileira, o Cadê?, diz estar o empreendedorismo ligado ao
momento da vida da pessoa e ao acúmulo de experiências anteriores, quando ocorre a junção
do desejo de perseguir um sonho com uma oportunidade a qual a pessoa está atenta. A
criatividade é essencial à pessoa dotada do espírito empreendedor, segundo Viberti, pois irá
ajudar a suplantar momentos de dificuldades.
Joana Woo, fundadora da Símbolo Editora, uma das cinco maiores do país, considera
que a maior motivação para empreender está na vontade de ser aceito, de brilhar. Nesse
sentido, o dinheiro é uma forma fundamental de representação do poder, o qual Woo diz ser
aspecto importante para realizar a vontade de ser aceito. Entretanto, a liberdade e a
independência são aspectos motivadores destacados pela editora, que, também, ressalta o
64

aspecto centralizador do comportamento empreendedor, o qual, diz Woo, está relacionado à


atenção às oportunidades, uso da criatividade e disposição para correr riscos.
Julio Hungria, jornalista fundador da rádio Atividade e do site de notícias Blue Bus,
voltado para o mercado publicitário, em sua fala diz ter o empreendedor uma natureza voltada
para observar e criar oportunidades e é motivado pelo prazer de ver alguma coisa realizada, de
construir e de ser útil, caracterizando-se, também, por possuir uma inquietação constante
quanto à necessidade de realizar e por ser ousado e atrevido. Além disso, destaca a
necessidade de possuir um plano, um projeto, e se ater a ele para poder empreender.
Marcelo Lacerda, engenheiro elétrico e cientista da computação fundador da Nutec
S.A., primeira provedora privada de acesso discado à Internet que, posteriormente, passou a
integrar a equipe fundadora da Terra Networks, presente em 42 países com 60 milhões de
usuários, considera que o empreendedorismo está presente com mais força em algumas
pessoas do que em outras, mas pode ser ensinado, aprendido e praticado. O empreendedor, diz
Lacerda, necessita de força de vontade e capacidade de superação e, nesse sentido, precisa
estar comprometido e envolvido com a sua idéia, com o seu sonho, para que seja um sucesso.
Para Marcos Wettrich, fundador da I-Best, uma das maiores empresas da Internet
brasileira, da Mantel, M-Lab, da Revista Internet World, e, também, criador de outros
negócios no Brasil, México, Espanha e Estados Unidos, existem dois tipos de
empreendedores, aqueles que aproveitam uma oportunidade de mercado e aqueles que o são
por natureza. Em ambos os casos, entretanto, alguns comportamentos aparecem de forma
repetida, tais como a determinação e o trabalho árduo, a intuição e a ambição. Outros aspectos
destacados por Wettrich foram a necessidade de estar sempre bem informado e nunca
esquecer das pessoas, tanto aquelas que trabalham na sua equipe como aquelas que podem
apoiar o desenvolvimento do seu negócio.
O jornalista Matinas Suzuki, um dos fundadores e idealizadores do IG, o primeiro
provedor de Internet gratuito do país, diz ser o empreendedor uma pessoa que nasceu com
algumas características genéticas diferenciadas mas que tem, também, o senso de
oportunidade. É uma pessoa intuitiva, com visão de longo prazo, determinada, que possui a
capacidade de ver as coisas por uma ótica diferenciada das outras pessoas. Consegue alinhar,
na operação do negócio, sua visão de sonho ao pragmatismo, além de possuír a capacidade de
mobilizar e liderar os seus empregados e sócios. Para Suzuki, o padrão de exigência do
empreendedor, que por natureza é descentralizador, é consideravelmente elevado.
O administrador Nizan Guanaes, fundador da DM9DDB, maior agência de
publicidade brasileira, e um dos fundadores do IG, considera como a primeira característica
65

do empreendedor estar atento ao ambiente à sua volta para poder calcular os riscos que irá
correr. As competências empreendedoras, para o administrador, são inatas, sendo a
criatividade sua principal característica, embora destaque, também, a adaptabilidade, o jogo
de cintura, a flexibilidade, a persistência e a obstinação. Para Guanaes ser organizado é
importante para dar sustentabilidade à criatividade do empreendedor, e a motivação é
essencial para manter o empreendedor seguindo o seu caminho.
Osvaldo Barbosa, administrador, responsável pelo lançamento do portal de Internet
MSN Brasil, da Microsoft, hoje o terceiro portal global mais visitado por brasileiros, diz que a
pessoa aprende a ser empreendedora desde que tenha dentro de si uma força criativa, um
conjunto de competências que irão diferenciá-la das demais pessoas. Para Barbosa o
empreendedor é motivado pela possibilidade de inovação e, para atingir seus objetivos, está
disposto a correr riscos, contando, principalmente, com a sua racionalidade, sua determinação
e capacidade diferenciada para observar oportunidades.
Paulo Humberg, profissional de marketing responsável pela criação do site de leilões
pela Internet Lokau, precursor desse tipo de serviço no Brasil, diz ser o empreendedor movido
pelo inconformismo, ou seja, ele sabe que o prazer de construir muitas vezes é maior que o
prazer da recompensa, sendo motivado pela realização e não pelo dinheiro. O empreendedor
de sucesso, diz Humberg, aprende com a sua experiência anterior e aplica o seu conhecimento
para diminuir as suas chances de insucesso futuro.
Paulo Anis Lima, advogado, fundador da revista Trip e da Trip editora, responsável
pela publicação de diversas revistas para públicos segmentados, considera que o
empreendedor é movido pela paixão por uma idéia ou um negócio e possui duas
características que se destacam: a liderança e o uso da rede de contatos. Além disso, o
advogado destaca a necessidade de estar em constante processo de aprendizagem e comenta
que o empreendedor, por natureza, necessita de curiosidade, observação e capacidade de se
comunicar bem.
Rodrigo Baggio, professor de informática, foi o criador do CDI – Comitê para a
Democratização da Informática, um projeto que leva o uso do computador e da Internet para
as comunidades mais carentes do Brasil, sendo caracterizado por Wollheim e Marcondes
(2003) como um empreendedor da área social. Para esse profissional, empreender está
relacionado com a capacidade de aprendizado das pessoas e com a sua ligação com um sonho,
com uma idéia brilhante ou com uma oportunidade que desperta a capacidade empreendedora.
Em sua visão, são importantes para o empreendedor, a determinação, a ética e a vontade de
superar o próprio negócio, ou seja, a constante necessidade de superar os próprios limites. É
66

papel do empreendedor, diz Baggio, estar sempre atento ao controle do seu negócio e com um
olhar no futuro para que as suas ações gerem um resultado inovador.
Sandra Chemin, dona da Hipermídia, empresa de design gráfico e marketing
interativo, considera que o modelo de seu pai foi determinante para que ela desenvolvesse o
espírito empreendedor. Sua motivação não foi o dinheiro, mas a necessidade de liberdade.
Como traços comuns aos empreendedores, em sua visão, estão a capacidade de sonhar e
motivar as outras pessoas com seus sonhos, e a capacidade de negociar. O planejamento é
destacado por Chemin como essencial para o sucesso do empreendedor.
Por fim, a última entrevista feita pelos autores Wollheim e Marcondes (2003) foi com
Sergio Kulikovsky, engenheiro, fundador da empresa NetTrade de administração de fundos de
ações pela Internet, posteriormente incorporada ao grupo Patagon. Para esse engenheiro, o
empreendedorismo é inato ao indivíduo, e vem à tona ao observar uma oportunidade de
mercado. Destaca, ainda, a obstinação, a motivação pelo desafio, a capacidade de correr riscos
e a necessidade de realização, como características empreendedoras.
O Brasil, segundo o trabalho de entrevistas realizado por Wollheim e Marcondes
(2003) apresenta poucas condições para o desenvolvimento do empreendedorismo, mas as
dificuldades são um fator motivador para os entrevistados.
Wollheim e Marcondes (2003) na análise das dezoito entrevistas realizadas, concluem
que o espírito empreendedor está normalmente em pessoas seguras de si que, inclusive,
acreditam ter pouco a aprender. Além disso, os empreendedores são diferentes, com um certo
grau de “loucura” e disposição para ir contra tudo todos, de forma obstinada. Por outro lado,
destacam a falta de base acadêmica nas ações dos empreendedores, estando suas atitudes
muito mais relacionadas à intuição.
Wollheim e Marcondes (2003) destacam, ainda, a capacidade dos empreendedores em
observar o mundo e, daí, tirar lições, serem inquietos dispostos a mudar, vivendo em um
estado de tensão. Ao concluírem, esses autores inferem em seu trabalho que o empreendedor
não é motivado por dinheiro, mas sim pela necessidade de criar algo, “mudar o mundo”.

3.6.1.2 Mendonça, L. C. Empresários vencedores e suas histórias de sucesso - 2002

No livro “Empresários vencedores e suas histórias de sucesso”, Mendonça (2002)


entrevistou sete empresários considerados empreendedores regionais do estado de
Pernambuco. Nos depoimentos apresentados a seguir, buscou-se identificar os fatores que os
entrevistados consideraram como ligados ao desenvolvimento do empreendedorismo.
67

Giovanni e Daniela Scaggiamte são um casal de italianos que trocaram Veneza, na


Itália, pela região do semi-árido do São Francisco, e são os donos da Agropecuária Daniela,
especialista em cultivo de uvas. Para o casal, as características dos empreendedores são o
controle de qualidade e de custos, garra e determinação. Além disso, esses empresários
destacam também a experiência anterior no ramo, firmeza, persistência, coragem, liderança,
atenção às novidades tecnológicas, trabalho com metas, autoconfiança e disposição para
correr riscos calculados, como fatores ligados ao empreendedorismo.
Leonardo Lamartine e Roberto Bitu são empresários do ramo de Fast-Food, donos da
Bonaparte, especializada em comida internacional, que hoje está presente em vários estados
do País. A principal característica dos empreendedores, para Lamartine e Bitu, é o extensivo
uso de suas redes de contatos para atingir os seus objetivos, mas esses empresários destacam,
também, a liderança, a habilidade em observar oportunidades e o conhecimento profundo do
produto.
Para Evaldo Rosendo de Melo, atual dono e diretor da Filiservice, uma empresa
pioneira em Pernambuco na venda e assistência técnica personalizada de balanças, máquinas
para cortar frios e balcões refrigerados, o empreendedor é uma pessoa visionária, atenta às
oportunidades de mercado, obstinada, e que possui planejamento de longo prazo.
Solange e Rêmulo Alencar, os donos da sapataria Pé Calçado, empresa que atende um
público de médio e baixo poder aquisitivo na região de Serra Talhada, em Pernambuco,
acreditam que as principais características dos empreendedores são a preocupação com a
qualidade do seu produto e atendimento ao cliente. Para esse casal, a principal motivação do
empreendedor encontra-se na identificação de uma oportunidade e destacam, também, como
características dos empreendedores, o poder de observação, persistência, capacidade de
aprendizado e a vontade.
Fundada por Arnaldo Xavier, a empresa Rota do Mar, situada em Santa Cruz do
Capibaribe, trabalha com confecções voltadas ao público jovem. Para esse empresário, o
perfil do empreendedor está ligado à constante busca pela inovação, liderança, criatividade e à
inspiração no modelo empreendedor observado durante a infância.
Para Eduardo Jerônimo e Lúcia Simões, donos da clínica médica Samed que fica em
Tabira, uma pequena cidade do sertão Pernambucano, o empreendedor é motivado pela
vontade de vencer desafios, de construir alguma coisa. Para superar as dificuldades e
prosperar, esses empresários acreditam que características como criatividade, obstinação,
persistência, autoconfiança, atenção às oportunidades, disposição para correr riscos e o
conhecimento profundo do negócio e do mercado, são essenciais para o empreendedor.
68

Por fim, Mendonça (2002) entrevistou o cirurgião-dentista Luis Antônio Portela


Guerra, um empresário que, ao passar um período acompanhando seu pai no hospital e
detectar que a principal dificuldade do acompanhante era estar atento ao nível de soro, fundou
a TMED, uma empresa de soluções na área de tecnologia médica. Para Guerra, um
empreendedor deve estar atento às oportunidades, e ser criativo e inovador. Além disso, esse
empresário destaca a experiência familiar empreendedora, vontade de criar alguma coisa
nova, vontade de aprender constantemente, persistência e, principalmente, capacidade de
realização como aspectos importantes para a caracterização de um empreendedor.

3.6.1.3 Britto, F. e Wever, L. Empreendedores Brasileiros: vivendo e aprendendo com


grandes nomes - 2003

No livro “Empreendedores Brasileiros: vivendo e aprendendo com grandes nomes”,


Britto e Wever (2003) entrevistaram quatorze empresários de diversos setores da economia
em busca da identificação de traços comuns a essas pessoas, consideradas empreendedores
brasileiros. Nos depoimentos apresentados a seguir, buscou-se identificar os fatores que os
entrevistados consideraram ligados ao desenvolvimento do empreendedorismo.
Para Alair Martins, dono do Grupo Martins, maior atacadista e distribuidor do País, o
despertar do empreendedorismo se dá na infância, com uma vivência empreendedora anterior
e destaca como principais características a rede de relacionamentos e a constante vontade de
aprender. Além disso, Martins também identifica a capacidade de superação, a centralização e
o controle, a atenção às oportunidades e a visão, como elementos que compõem o perfil do
empreendedor.
O engenheiro Mário Carneiro, fundador e dono da Casa do Pão de Queijo, uma rede
com trezentos e cinqüenta pontos de venda espalhados pelo País, considera que a essência da
“força empreendedora” está no espírito criativo e inovador, na confiança em um futuro
melhor, na gestão compartilhada, na diversificação dos produtos e na capacidade de articular
soluções.
Alexandre Accioly é o criador da Quatro/A, uma empresa de telemarketing, que se
tornou a maior empresa nacional de relacionamento à distância com clientes, e, na opinião do
empresário, o que caracteriza um empreendedor são a vontade, pragmatismo, criatividade,
flexibilidade e atenção às oportunidades do mercado. Além disso, o mesmo empresário
destaca a audácia, coragem, agressividade e paixão como características complementares ao
perfil empreendedor.
69

Na visão de Beni Niztan, fundador da Aceco, empresa de acessórios e equipamentos


para computadores, o empreendedor é a pessoa que identifica as oportunidades e usa as
parcerias e relacionamentos certos para ajudá-lo a ser vitorioso. Além disso, esse empresário
destaca a vontade, obstinação, rede de contatos, tino comercial, conhecimento do cliente e
personalidade forte e decidida, como fatores ligados ao empreendedorismo.
Décio da Silva é presidente da WEG, empresa de Santa Catarina especializada em
motores elétricos, e destaca como as principais características do empreendedorismo a
obsessão por vencer, vivência empreendedora anterior, pragmatismo, iniciativa e coragem.
Além disso, Silva destaca também a disciplina e gosto pelo trabalho, visão de negócio e de
futuro, preocupação com qualidade e com as necessidades do cliente e a inovação.
O fundador da Natura, a maior empresa brasileira de cosméticos, Luiz Seabra, acredita
que um empreendedor deve possuir visão de negócios, dedicação e capacidade de
compreensão dos desejos do consumidor. Para Seabra, as atitudes que complementam o perfil
de um empreendedor são o pensamento inovador, força interior, inventividade e obstinação.
O empresário Meyer Nigri, é o criador da Tecnisa Engenharia e Comércio, uma das
mais bem sucedidas construtoras do País. Para ele, um empreendedor deve ter tido uma
vivência empreendedora no seu passado, possuir capacidade de negociar, capacidade de
aprender com suas experiências e com outras pessoas que entendam mais dos aspectos
específicos do negócio. Além disso, na visão desse empresário, o empreendedor deve possuir
habilidades contábeis, ser honesto e estar sempre aprendendo.
Miguel Abuhab é o criador da Datasul, uma indústria de desenvolvimento de
programas de computador. Ele destaca como as principais características ligadas ao perfil do
empreendedor a decisão, visão de futuro, ousadia, criatividade e bom senso.
Já Otávio Piva, fundador da importadora de vinhos Expand, considera que o
empreendedor deve estar atento às possibilidades e correr riscos calculados. Esse empresário
destaca ainda que o empreendedor é uma pessoa com necessidade de liberdade e que tem
como características obstinação, profissionalismo, conhecimento do produto e honestidade.
Para Paulo Galvão, fundador da editora Klick, detentora de 90% do mercado de
fascículos do País, as características comuns do empreendedor são a agilidade para detectar
futuros bons negócios, capacidade de superar obstáculos e de correr riscos, instinto
empresarial, garra, aprendizado constante com novas experiências, individualismo e
obstinação.
Ricardo Queiroz, fundador da Zanthus, empresa especializada em automação bancária
e comercial, considera que o empreendedor está sempre atento às oportunidades e possui
70

algumas atitudes como a predisposição para correr riscos, pragmatismo, simplicidade,


atualização, disciplina e a disposição constante para o aprendizado.
O empresário Roberto Klablin é o criador do Refúgio Ecológico Caiman e da
Fundação SOS Mata Atlântica, e considera que o empreendedor deve possuir, antes de tudo, o
prazer de empreender, e que isso poderia ser observado pela necessidade de realização. Além
disso, deve procurar aprender constantemente e ser criativo e inovador.
Para Salim Mattar, fundador da Localiza, a maior locadora de carros do país, o
empreendedorismo está ligado ao gosto pelo trabalho, determinação, dedicação,
conhecimento do negócio, atenção às novas oportunidades, intuição, motivação para enfrentar
e vencer desafios, capacidade de inovar, tenacidade e bom senso.
Por fim, o publicitário Washington Olivetto, dono da agência de publicidade W/Brasil,
uma das maiores e mais premiadas do Brasil, foi o último entrevistado de Britto e Wever
(2003). Para esse profissional, as pessoas nascem para realizar alguma coisa no mundo, mas
poucas são aquelas que conseguem descobrir o que devem fazer. Para Olivetto, as que
conseguem são os empreendedores. Nesse sentido, as características ligadas ao perfil do
empreendedor são a atenção às oportunidades, a disposição para correr riscos, o gosto pelo
trabalho e a criatividade.
Após as quatorze entrevistas, Britto e Wever (2003) realizam sua própria análise sobre
o conteúdo do trabalho realizado e avaliam que algumas características comuns ao perfil
empreendedor podem ser retiradas dos depoimentos dos entrevistados. Para esses autores, os
comportamentos a seguir permeiam a vida profissional dos empreendedores:
1. Dinheiro – O dinheiro não é um fator de inibição para alguém começar um
negócio e não é a principal motivação do empreendedor;
2. Governo – O empreendedor é capaz de sobreviver a todas as dificuldades
colocadas pelo governo;
3. Opiniões – O instinto, intuição, do empreendedor é sua principal característica;
4. Equipe – O empreendedor valoriza a importância dos colaboradores e exalta a
preparação contínua do seu quadro;
5. Coragem – O empreendedor não teme nada nem ninguém. O empreendedor
deve quebrar paradigmas, pecando pela tentativa e não pela omissão.
6. Suor – O empreendedor é responsável direto pelas suas realizações e deve
trabalhar muito para realizar seus sonhos;
7. Inquietude – O empreendedor inova constantemente;
71

8. Imagem – Os empreendedores obtêm a imagem de bem sucedidos a partir de


iniciativas concretas, resultado de suas conquistas;
9. Família – O empreendedor possui, em sua família, suporte e inspiração para o
seu sucesso;
10. Vender – O gosto pelo comércio não sai das veias do autêntico empreendedor.

3.6.2 Análise Estatística

Por fim foi realizada a análise dos dados coletados em campo por meio do questionário
CEI – Carland Entrepreneurship Index, com o qual buscou-se obter o grau de
empreendedorismo dos atores da amostra estudada.
As respostas dos participantes ao questionário foram registradas em um arquivo de
dados eletrônico no programa SPSS (Statistical Package for the Social Science), versão 10.0.
Em uma primeira etapa, foram realizadas análises descritivas e exploratórias para investigar a
exatidão da entrada dos dados, a distribuição dos casos omissos, o tamanho da amostra, os
casos extremos e a distribuição das variáveis.
Os dados foram inseridos sem erros de digitação; não foram encontrados mais de 5% de
dados omissos em qualquer variável; e o tamanho da amostra foi de 169 donos de empresas,
pertencentes à 2 (dois) tipos de empreendimentos diferentes.
Para identificação dos casos extremos univariados, todas as variáveis foram
transformadas em escores Z e consideradas casos extremos aquelas que apresentassem escores
padronizados iguais ou superiores a 3,29, p < 0,001, two-tailed; os casos extremos
multivariados foram identificados a partir da distância Mahalanobis (α=0,001)
(TABACHNICK E FIDELL, 2000). Não foram encontrados casos extremos uni e
multivariados.
Em relação à normalidade das respostas, não foram realizadas transformações das
variáveis nos casos de índices de assimetria e achatamento. Segundo Zerbini (2003) e
Carvalho (2003), experiências anteriores não notaram diferença nas análises com e sem
transformação das variáveis. Além disso, transformações são contra-indicadas neste tipo de
estudo, pois dificultam a interpretação dos resultados (TABACHNICK E FIDELL, 2000).
Em seguida, iniciaram-se as análises descritivas de cada variável do instrumento de
medida utilizado (médias, desvios padrão, mínimo, máximo e moda).
Para validar empiricamente a escala, algumas análises foram necessárias. O primeiro
passo foi realizar análises dos componentes principais (Principal Components - PC), para
72

estimar o número de fatores, detectar a ausência de multicolinearidade e analisar a


fatorabilidade da matriz de correlações (PASQUALI, no prelo).
O passo seguinte foi obter estruturas fatoriais, utilizando o método de fatoração dos
eixos principais (Principal Axis Factoring - PAF). Os seguintes critérios foram utilizados para
facilitar a decisão referente à quantidade de fatores a serem extraídos do instrumento: valores
próprios superiores a 1; análise da distribuição dos valores próprios (scree plot); porcentagem
mínima de 3% de variância explicada para cada fator a ser extraído; cargas fatoriais
superiores a 0,30; análise dos índices de consistência interna dos itens (Alfa de Cronbach) e
interpretabilidade das soluções propostas (PASQUALI, no prelo). Segundo o mesmo autor
(no prelo, p.9), a análise fatorial não consiste em apenas uma única ou melhor técnica,
entretanto, o autor destaca que:
a briga em favor de uma técnica ou modelo ser melhor que outro ou ser o
único aceitável é descabida de sentido, porque todas elas são capazes de
descrever adequadamente os fenômenos naturais...todos estes métodos e
modelos, ainda que matematicamente distintos e até irreconciliáveis,
produzem na prática basicamente resultados idênticos, tornando-se a escolha
de qual método utilizar em um dado caso uma questão de gosto ou
indiferença.

Para cumprir o objetivo de identificar possíveis diferenças significativas de variáveis


demográficas e funcionais quando associadas ao desenvolvimento do potencial
empreendedor, foram realizados testes de diferença de médias (Teste t e ANOVA). Nessa
etapa, foi utilizada a variável soma dos escores obtida pelos indivíduos ao responderem ao
CEI como variável dependente.
Os resultados das análises são apresentados e discutidos no próximo capítulo.
73

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Resultados - Objetivo Específico 1 - Matriz de Fatores Empreendedores

A partir dos diferentes fatores relacionados ao empreendedorismo apresentados pelos


autores revisados no marco teórico desse trabalho, foi desenvolvida, neste estudo, uma matriz
de características empreendedoras, que não sendo uma listagem definitiva, possibilita sim
uma visão dos fatores recorrentes, nos diferentes enfoques, e que foram considerados para a
definição de empreendedor para este estudo e para as análises do potencial empreendedor dos
pequenos empresários de Brasília. Para melhor visualização, essa matriz é apresentada na
página seguinte:
74

Barros e Prates

Lognecker et al
R. E. McDonald
J. Schumpeter

D. McClelland

Carland et al.
H. Mintzberg

F. Dolabela
P. Drucker

Frese et al
L. J. Flion

R. Lalkala
Autores

E. Angelo
M. Weber

R. Degen

E. Souza

D. Cella

E. Leite
I. Dutra

TOTAL
Fatores
Adaptabilidade X X 2
Afinco X X 2
Autoconfiança X 1
Bom uso de recursos disponíveis X 1
Buscar Informações X X X X X 5
Buscar Oportunidades X X X X X X X X X X X X X X X 15
Centralização X 1
Comprometimento X X X X X 5
Comunicação X 1
Conhecimento do Cliente X X 2
Conhecimento do Mercado X X X X X 5
Conhecimento do Produto X X X X X X 6
Controle X X X X 4
Correr Riscos X X X X X X X X X X 10
Criatividade X X X X X X X X X X X 11
Criticidade X 1
Envolvimento X X X X X 5
Estudo X 1
Exigência de Qualidade/Eficiência X 1
Experiência Administrativa X 1
Feedback X X 2
Flexibilidade X X X X X 5
Gosto pelo Trabalho X 1
Independência X X X 3
Iniciativa X X X X X X 6
Inovação X X X X X X X X X X X X X X X X X X 18
Intuição X X X 3
Liderança X X X X X X X 7
Metas Definidas X X 2
Motivação por dinheiro X X 2
Motivação por Liberdade X X X 3
Motivação por poder X 1
Motivação por reconhecimento X X 2
Necessidade de Realização X X X X X X 6
Orientação por Resultados X X X X 4
Persistência X X X X X X 6
Persuasão X X 2
Planejamento X X X X X 5
Pró-Atividade X X 2
Relacionamento Diferenciado X X 2
Superação X 1
Suporte à Independência X 1
Tenacidade X X X 3
Tolerância X 1
Uso de rede de relacionamentos X X X 3
Visionário X X X X X X X 7
Vivência empreendedora X X X 3
Vontade X 1
Vontade de Aprender X X X X X 5
Quadro 8 - Matriz de fatores empreendedores segundo os autores revisados
Fonte: Dados da Pesquisa
75

No total, foram identificados 49 fatores mencionados pelos autores como


potencialmente ligados ao empreendedorismo. É possível que alguns desses fatores
apresentem dimensões similares, porém tal inferência foi desconsiderada em benefício do
rigor científico desse trabalho. A pontuação máxima que um fator poderia obter era de
dezenove pontos (equivalente a dezenove autores no quadro 8) e, nesse sentido, foram
organizados quanto à quantidade de vezes que foram mencionados conforme demonstra a
tabela 10.

Tabela 10 – Contagem simples dos fatores empreendedores na visão dos autores revisados
Fatores Freqüência %
Inovação 18 95 %
Buscar Oportunidades 15 79 %
Criatividade 11 58 %
Correr Riscos 10 53 %
Liderança 7 37 %
Visão 7 37 %
Conhecimento do Produto 6 32 %
Iniciativa 6 32 %
Necessidade de Realização 6 32 %
Persistência 6 32 %
Buscar Informações 5 26 %
Comprometimento 5 26 %
Conhecimento do Mercado 5 26 %
Envolvimento 5 26 %
Flexibilidade 5 26 %
Planejamento 5 26 %
Vontade de Aprender 5 26 %
Controle 4 21 %
Orientação por Resultados 4 21 %
Independência 3 16 %
Intuição 3 16 %
Motivação por Liberdade 3 16 %
Tenacidade 3 16 %
Uso de rede de relacionamentos 3 16 %
Vivência empreendedora 3 16 %
Adaptabilidade 2 11 %
Afinco 2 11 %
Conhecimento do Cliente 2 11 %
Feedback 2 11 %
Metas Definidas 2 11 %
Motivação por dinheiro 2 11 %
Motivação por reconhecimento 2 11 %
Persuasão 2 11 %
Pró-Atividade 2 11 %
76

Continuação
Fatores Freqüência %
Relacionamento Diferenciado 2 11 %
Autoconfiança 1 5%
Bom uso de recursos disponíveis 1 5%
Centralização 1 5%
Comunicação 1 5%
Criticidade 1 5%
Estudo 1 5%
Exigência de Qualidade/Eficiência 1 5%
Experiência Administrativa 1 5%
Gosto pelo Trabalho 1 5%
Motivação por poder 1 5%
Superação 1 5%
Suporte à Independência 1 5%
Tolerância 1 5%
Vontade 1 5%
Fonte: Dados da Pesquisa

Os únicos fatores que foram mencionados por mais de 50% dos autores revisados
foram a inovação (95%), busca de oportunidades (79%), criatividade (58%) e a disposição
para correr riscos (53%). Entretanto, dos dezenove autores revisados, apenas seis (32%) citam
todas essas quatro características.
Muitos autores (FILION, 1997; SOUZA, 2001; CUNNINGHAM e LISCHERON,
1991; DOLABELA, 1999) apresentam o empreendedorismo como um fenômeno mais
fortemente estudado, recentemente, por duas linhas de pesquisa, a econômica, centrada na
inovação, e a comportamental, centrada nas atitudes e características. Entretanto, o grupo de
autores revisados no quadro 8, composto por representantes das duas linhas, apresentou um
elevado grau de concordância quanto à inovação (95%) e, também, apresentou elevado
interesse por identificar atitudes e características do empreendedor, o que mostra como é
difícil a distinção entre esses dois grupos.
A menção a quarenta e nove diferentes características do empreendedor por autores
que revisaram o tema, por um lado, reforça a visão de Brazeal e Herbert (2000) e Wortman
(1987) de que o estudo do empreendedorismo parece estar fragmentado e, principalmente,
carece de uma definição trabalhável do que seria um empreendedor e quais seriam as suas
características fundamentais.
Por outro lado, reforça também os argumentos de Gartner (1989), de que o
empreendedorismo é um fenômeno complexo, e, principalmente, de Filion (1997), que
argumenta ser esse um campo de pesquisa recente e que agrega pesquisadores vindos de áreas
77

distintas, cada qual com seu interesse e método e, dessa forma, buscando analisar diferentes
aspectos do empreendedor.
Também é interessante observar que as quatro características do empreendedor que
foram citadas por mais de 50% dos autores revisados: inovação, criatividade, busca de
oportunidades e a propensão ao risco, são descritas por Gimenez, Inácio e Sunsin (2001) e
Carland, Carland e Koiranen (1997), como de grande consenso na literatura, o que pode
significar os primeiros passos na direção da definição clara de empreendedor solicitada por
Brazeal e Herbert (2000).
Ainda sobre as informações apresentadas no quadro 8 e na tabela 10, é interessante
compará-las com a metodologia desenvolvida pela Organização das Nações Unidas – ONU
para capacitar empresários no entendimento, auto-avaliação e desenvolvimento de suas
características empreendedoras, aplicada em forma de curso, no Brasil, pelo SEBRAE.
Denominada Empretec, tem suas origens, segundo o SEBRAE (1997), nos Estados Unidos na
década de 1960, e foi elaborada com base nos estudos de McClelland (1972).
O único de sua natureza, aplicado em mais de 40 países e já tendo sido feito por mais
de 30.000 empresários no Brasil, sendo mais de 2.000 em Brasília, de acordo com dados do
SEBRAE (1997), esse treinamento considera que são treze as características do
comportamento empreendedor: busca de oportunidades, iniciativa, persistência, capacidade de
correr riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência, comprometimento, busca de
informações, estabelecimento de metas, planejamento, persuasão, uso de rede de contatos,
independência e autoconfiança. Essas características são utilizadas por diversos
pesquisadores, em seus trabalhos, como parâmetro para identificar o perfil empreendedor.
(HONESKO, 2002; CÂNDIDO, 1998; CAPELLE et al., 2001)
Observa-se que todas as treze características propostas pelo Empretec aparecem, com
maior ou menor freqüência, na tabela 10, o que significa que sua metodologia, de uma forma
geral, encontra respaldo nos autores revisados nesse trabalho quanto às características do
empreendedor. Entretanto, de forma mais específica, das quatro características consideradas
por mais de 50% dos autores, apenas duas (busca de informações e correr riscos) são treinadas
no Empretec. Além disso, das dez características mais citadas pelos autores revisados, apenas
quatro (40%) aparecem contempladas na metodologia da ONU.
Nos últimos 20 anos, houve uma evolução considerável no estudo do
empreendedorismo, com a publicação de novos trabalhos e novas pesquisas. (FILION, 1997,
2000; DOLABELA, 1999; LEITE, 2000) Assim, trabalha-se com a possibilidade de que as
características do comportamento empreendedor de hoje possam ser diferentes daquelas
78

apresentadas anteriormente, ou que o próprio entendimento do fenômeno empreendedor tenha


evoluído e, dessa forma, transformado a própria compreensão das características de um
empreendedor.

4.2 Resultados - Objetivo Específico 2 - Matriz de Fatores Empreendedores

A seguir é apresentada a matriz de fatores empreendedores construída a partir da


análise bibliográfica, que busca expressar a visão sobre os fatores ligados ao
empreendedorismo segundo um grupo de empresários brasileiros de sucesso.
No total, foram identificados 63 fatores mencionados pelos empresários como
possivelmente ligados ao desenvolvimento do potencial empreendedor. Entretanto, notou-se
que alguns fatores levantados pelos entrevistados, em suas respostas, significavam, dentro do
contexto, o mesmo que outros fatores indicados por outros empresários, com denominação
diferente.
Assim, procedeu-se a nova análise das entrevistas, com ajuda de um dicionário
(FERREIRA, 1986), buscando agrupar os fatores comuns. As matrizes geradas a partir desses
dois momentos estão apresentadas nas páginas a seguir:
79

Wollheim e Marcondes
Antônio Bonchristiano

Giovanni Scagianmte

Washington Olivetto
Leonardo Lamartine
Aleksandar Mandic

Eduardo Jerônimo
Evaldo R. de Melo

Alexandre Accioly
Sérgio Kulikovsky
Empresários

Marcos Wettreich

Osvaldo Barbosa

Luiz A. P. Guerra
Fábio Fernandes

Marcelo Lacerda
Caio Túlio Costa

Solange Alencar

Alberto Carneiro

Ricardo Queiroz
Ana Lúcia Serra

Paulo Humberg

Sandra Chemin
Rodrigo Baggio
Nizan Guanaes
Matinas Suzuki

Miguel Abuhab

Roberto Klabin
Arnaldo Xavier
Gustavi Viberti

Décio da Silva

Britto e Wever
Paulo Galvão
Julio Hungria

Alair Martins

Luiz Seabra

Salim Matar
Beni Nitzan

Otávio Piva
Meyer Nigri
Joana Woo

Paulo Lima
Fatores
Adaptabilidade X X
Ambição X
Arrojo X
Articulação X
Autoconfiança X X X
Bem Informado X
Bom Senso X X
Buscar Oportunidades X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
Centralização X X
Comprometimento X X X X
Comunicação X
Conhecimento do Cliente X X X X
Conhecimento do Mercado X X
Conhecimento do Produto X X X X
Controle X X X
Coragem X X X X
Correr Riscos X X X X X X X X X X X X X
Criatividade X X X X X X X X X X X X X X X
Curiosidade X
Dedicação X X X X
Descentralização X
Determinação X X X X X X X X X X X
Disciplina X
Ética X
Exigência de Qualidade X X X X
Firmeza X
Flexibilidade X X
Garra X
Gosto pelo trabalho X X X X X X X X X
Honestidade X X
Independência X
Iniciativa X
Inovação X X X X X X
Intuição X X X X X X X
Jogo de Cintura X
Liderança X X X X X X X
Metas Definidas X X
Motivação por dinheiro X
Motivação por Liberdade X X X
Motivação por desafios X X X X X X X
Motivação por reconhecimento X
Motivador X X X X X
Necessidade de Realização X X X X X X X X X X X
Negociação X X
Observador X X X X
Obstinação X X X X X X X X X X
Obsessão pela Vitória X
Organizado X
Ousado X X
Persistência X X X X X X X
Pensamento a Longo Prazo X X X X
Planejamento X X
Pragmático X X X X
Profissionalismo X
Racional X
Realizador X
Superação X X X
Trabalho em Equipe X X
Uso de rede de relacionamentos X X X X X
Visionário X X X X X X X X X
Vivência empreendedora X X X X X X X X X X X X X
Vontade de Aprender X X X X X X X X X X
Quadro 9 – Matriz de Fatores Empreendedores na visão dos empresários – análise inicial
Fonte: Dados da Pesquisa
80

Wollheim e Marcondes
Antônio Bonchristiano

Giovanni Scagianmte

Washington Olivetto
Leonardo Lamartine
Aleksandar Mandic

Evaldo R. de Melo

Eduardo Jerônimo

Alexandre Accioly
Sérgio Kulikovsky
Marcos Wettreich

Luiz A. P. Guerra
Osvaldo Barbosa
Fábio Fernandes
Caio Túlio Costa

Marcelo Lacerda

Solange Alencar

Alberto Carneiro

Ricardo Queiroz
Ana Lúcia Serra

Paulo Humberg

Sandra Chemin
Nizan Guanaes

Rodrigo Baggio
Matinas Suzuki

Miguel Abuhab

Roberto Klabin
Arnaldo Xavier
Gustavi Viberti

Décio da Silva

Britto e Wever
Empresários

Paulo Galvão
Julio Hungria

Alair Martins

Luiz Seabra

Salim Matar
Beni Nitzan

Otávio Piva
Meyer Nigri
Joana Woo

Paulo Lima

TOTAL
Fatores
Busca de
X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 30
Oportunidades
Comprometimento X X X X X X X X X X X X X X X 15

Comunicação X 1
Conhecimento do
X X X X 4
Cliente
Conhecimento do
X X 2
Mercado
Conhecimento do
X X X X 4
Produto
Controle X X X X X X X 7

Correr Riscos X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 19

Criatividade X X X X X X X X X X X X X X X 15

Descentralização X 1

Determinação X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 20

Exigência X X X X 4

Flexibilidade X X X 3

Honestidade X X X 3

Inovação X X X X X X 6

Intuição X X X X X X X 7

Liderança X X X X X X X X X X X X 12
Motivação por
X 1
dinheiro
Motivação por
X X X 3
Liberdade
Motivação por
X X X X X X X 7
desafios
Motivação por
X 1
reconhecimento
Necessidade de
X X X X X X X X X X X 11
Realização
Negociação X X 2

Persistência X X X X X X X 7

Planejamento X X X X 4

Pragmático X X X X X X X X 8
Uso de rede de
X X X X X X 6
relacionamentos
Visionário X X X X X X X X X X 10
Vivência
X X X X X X X X X X X X X 13
empreendedora
Vontade de
X X X X X X X X X X 10
Aprender
Quadro 10 - Matriz de Fatores Empreendedores na visão dos empresários – segunda análise
Fonte: Dados da Pesquisa
81

Nessa segunda análise, os 63 fatores iniciais foram reorganizados em 30 fatores


ligados ao desenvolvimento do potencial empreendedor. A pontuação máxima que um fator
poderia obter era de quarenta e um pontos (equivalente a 41 pessoas na matriz de
empresários) e, nesse sentido, poderiam ser organizados segundo a tabela 11, abaixo, quanto à
quantidade de vezes que foram mencionados.

Tabela 11 – Contagem simples dos fatores empreendedores na visão dos empresários


Fatores Total %
Busca de Oportunidades 30 73 %
Determinação 20 49 %
Correr Riscos 19 46 %
Comprometimento 15 37 %
Criatividade 15 37 %
Vivência empreendedora 13 32 %
Liderança 12 29 %
Necessidade de Realização 11 27 %
Visão 10 24 %
Vontade de Aprender 10 24 %
Pragmático 8 20 %
Controle 7 17 %
Intuição 7 17 %
Motivação por desafios 7 17 %
Persistência 7 17 %
Inovação 6 15 %
Uso de rede de relacionamentos 6 15 %
Conhecimento do Cliente 4 10 %
Conhecimento do Produto 4 10 %
Exigência 4 10 %
Planejamento 4 10 %
Flexibilidade 3 7%
Honestidade 3 7%
Motivação por Liberdade 3 7%
Conhecimento do Mercado 2 5%
Negociação 2 5%
Comunicação 1 2%
Descentralização 1 2%
Motivação por dinheiro 1 2%
Motivação por reconhecimento 1 2%
Fonte: Dados da Pesquisa
82

O único fator que foi mencionado por mais de 50% dos empresários foi a busca de
oportunidades (73%), embora o fator determinação, indicado por 20 empresários, tenha ficado
bem próximo da metade (49%).
Comparando a primeira matriz, dos autores revisados, com essa dos empresários
entrevistados, nota-se que, dos fatores ligados ao potencial empreendedor citados pelos
empresários, seis não foram encontrados na matriz dos autores: descentralização, honestidade,
pragmatismo, determinação, motivação por desafios e negociação. Entretanto, todos os fatores
que foram citados por mais de 26% dos autores revisados foram também citados pelos
empresários.
Ainda seguindo essa comparação, quanto à incidência de vezes que um fator foi
mencionado nos dois grupos, obteve-se a tabela a seguir que mostra as maiores diferenças:

Tabela 12 – Diferença entre os grupos quanto aos fatores do potencial empreendedor


Fatores % Autores % Empresários Diferença
Inovação 95 % 15 % 80 %
Buscar Oportunidades 79 % 73 % 06 %
Criatividade 58 % 37 % 21 %
Correr Riscos 53 % 46 % 07 %
Liderança 37 % 29 % 08 %
Visão 37 % 24 % 13 %
Conhecimento do Produto 32 % 10 % 22 %
Necessidade de Realização 32 % 27 % 05 %
Persistência 32 % 17 % 15 %
Comprometimento 26 % 37 % 11 %
Conhecimento do Mercado 26 % 5% 21 %
Flexibilidade 26 % 7% 19 %
Planejamento 26 % 10 % 16 %
Vontade de Aprender 26 % 24 % 02 %
Controle 21 % 17 % 04 %
Intuição 16 % 17 % 01 %
Motivação por Liberdade 16 % 7% 09 %
Uso de rede de relacionamentos 16 % 15 % 01 %
Vivência empreendedora 16 % 32 % 16 %
Conhecimento do Cliente 11 % 10 % 01 %
Motivação por dinheiro 11 % 2% 09 %
Motivação por reconhecimento 11 % 2% 09 %
Comunicação 5% 2% 03 %
Exigência de Qualidade/Eficiência 5% 10 % 05 %
Fonte: Dados da Pesquisa

De uma maneira geral, nota-se que houve pouca discordância entre os grupos de
autores revisados e o de empresários quanto à relevância dos fatores para a composição do
83

perfil do empreendedor, pois, com a exceção de um fator, apresentaram concordância igual ou


superior a 78% em todas as características. Apenas quanto à inovação há uma grande
divergência entre os dois grupos (80%), o que pode ter acontecido pela ausência de questões,
quando da realização das entrevistas com os empresários, que procurassem identificar a
presença da inovação como aspecto do potencial empreendedor.
Além disso, tendo em vista os dois grupos analisados, de pesquisadores e de
empresários, é possível que tenha acontecido uma confusão por parte dos empresários quanto
ao próprio termo empreendedorismo, que o interpretaram como sendo o próprio processo de
abertura e manutenção de um negócio. Esse tipo de interpretação é, na visão de vários autores,
comum (BERNARDES, 1988; DUTRA, 2001; FILION, 1996, 1999, 2001a; CARLAND et
al., 1984; CARLAND, HOY e CARLAND, 1998; DRUCKER, 1986; LIMA, 1999) e poderia
ter levado a essa distorção quanto ao fator inovação. Entretanto, outra possível explicação é
aquela proposta por Conde (2002) e Kim (1990), considerada mais provável nessa situação,
de que não é incomum tomar a criatividade como sinônimo de inovação, e vice-versa,
principalmente quando os temas não são tratados dentro do rigor científico, o que não era a
preocupação maior de Wollheim e Marcondes (2003), Mendonça (2002) e Britto e Wever
(2003) ao entrevistar os empresários.
De qualquer modo, com exceção da inovação, as outras três características mais
citadas pelos autores revisados (busca oportunidades, correr riscos e criatividade), que
também compõe a definição de empreendedor utilizada nessa pesquisa e são preconizadas por
Carland et al. (1984), Carland, Carland e Hoy (1992), Carland, Hoy e Carland (1998) e
Gimenez, Inácio e Sunsin (2001), estão entre as cinco características mais citadas pelo grupo
de empresários, embora com menor grau de concordância entre os entrevistados.
Tal fato reforça a análise de Gimenez, Inácio e Sunsin (2001) e Carland, Carland e
Koiranen (1997), de que a busca de oportunidades, correr riscos, criatividade e a inovação são
elementos de elevado grau de consenso como características do empreendedor. O quadro 10
apenas reforça que esse consenso acontece não apenas do ponto de vista dos teóricos, mas,
também, do ponto de vista dos empresários.
Chama a atenção, particularmente, a característica busca de oportunidades, que é
indicada por 73% dos autores e 79% dos empresários, apresentando um alto índice de
menções em ambos os grupos. Também denominada “atenção às oportunidades”, essa
característica é definida por Passarella (1995) como a atenção constante a circunstâncias e
ocasiões que valem a pena ser seguidas e exploradas, avaliando a sua adequabilidade e
conveniência.
84

Entretanto, Passarella (1995) nota ser difícil dissociar a oportunidade da criatividade


ou do risco, ao argumentar que o processo de identificação de uma oportunidade relaciona-se
a um comportamento criativo latente e aplicado à circunstância, e relaciona-se com o processo
de avaliação do risco envolvido ao aproveitar-se da ocasião.
Observou-se, assim, que tanto para o grupo de autores revisados, como para o grupo
de empresários, a busca de oportunidades, criatividade, propensão a correr riscos e a inovação
aparecem como as principais características que compõem o perfil do empreendedor.

4.3 Resultados - Objetivo Geral

As respostas ao questionário CEI foram analisadas a seguir, buscando-se observar a


distribuição da amostra quanto à sua pontuação geral, classificando-a dentro dos parâmetros
apresentados por Carland, Carland e Hoy (1992), como microempreendedora, empreendedora
ou macroempreendedora, o que pode ser observado na tabela a seguir.

Tabela 13 – Posicionamento da amostra nas categorias do CEI


Pontuação Total no CEI Freqüência Freqüência em % % Acumulado
0 0 0,0% 0,0%
1 0 0,0% 0,0%
2 0 0,0% 0,0%
3 0 0,0% 0,0%
4 0 0,0% 0,0%

Micro-empreendedor
5 0 0,0% 0,0%
6 0 0,0% 0,0%

28,4%
7 1 0,6% 0,6%
8 0 0,0% 0,6%
9 2 1,2% 1,8%
10 0 0,0% 1,8%
11 2 1,2% 3,0%
12 8 4,7% 7,7%
13 12 7,1% 14,8%
14 10 5,9% 20,7%
15 13 7,7% 28,4%
16 6 3,6% 32,0%
17 16 9,5% 41,4%
18 22 13,0% 54,4%
Empreendedor

19 21 12,4% 66,9%
67,5%

20 13 7,7% 74,6%
21 8 4,7% 79,3%
22 14 8,3% 87,6%
23 3 1,8% 89,3%
24 8 4,7% 94,1%
25 3 1,8% 95,9%
85

Continuação
Pontuação Total no CEI Freqüência Freqüência em % % Acumulado
26 6 3,6% 99,4%

Macro-empreendedor
27 1 0,6% 100,0%
28 0 0,0% 100,0%
29 0 0,0% 100,0%

4,2%
30 0 0,0% 100,0%
31 0 0,0% 100,0%
32 0 0,0% 100,0%
33 0 0,0% 100,0%
Total 169 100,0% -
Fonte: Dados da Pesquisa

Do total de 169 respondentes, 48 (28,4%) estão dentro da faixa de micro-


empreendedores com média de 13,21 (DP=1,75); 114 (67,5%) podem ser considerados
empreendedores com média 19,61 (DP=2,35); e, 7 respondentes (4,1%) estão dentro da faixa
de macro-empreendedores com média de 26,14 (DP=0,38), o que pode ser observado na
tabela abaixo:

Tabela 14 – Enquadramento da amostra nas categorias de comportamento empreendedor


Desvio-
Categorias de comportamento empreendedor Média F* %
Padrão
Micro-empreendedor 13,21 1,75 48 28,4
Empreendedor 19,61 2,35 114 67,5
Macro-empreendedor 26,14 0,38 7 4,1
Geral 18,06 3,96 169 100
*F=Freqüência absoluta
Fonte: Dados da Pesquisa

Observa-se que a maior freqüência foi encontrada na categoria “Empreendedor” o que


reforça os argumentos de Lima (1999) que destaca que, apesar da existência de certas
diferenças mais evidentes entre empresários e empreendedores, seria raro encontrar,
particularmente no caso das empresas de pequeno porte, um empresário que não tenha
tendência empreendedora. Como pode ser observado na figura 3, a seguir, a distribuição dos
resultados do CEI apresentou um comportamento bem próximo da normalidade, apresentando
média = 18,1 (DP = 3,96), mínimo = 7, máximo = 27 e moda = 18.
Resultado similar foi encontrado por Inácio (2002), ao pesquisar empresários
localizados nas incubadoras de empresas do Paraná, que apresentaram média = 21,10.
Carland, Carland e Koiranen (1997) aplicaram o mesmo instrumento em um grupo de
empresários americanos e obtiveram média = 20,5, e em um grupo de empresários da
Finlândia, obtendo média = 18,3. Carland, Carland e Ensley (2001) aplicaram o CEI junto a
86

um grupo de donos de pequenos negócios nos Estados Unidos, obtendo média = 20,3, e junto
a uma amostra dos quinhentos maiores empresários do mesmo país, obtendo média = 23,1.
Mock e Hoy (1998) pesquisaram com o CEI um grupo de donos de empresas que não visam o
lucro (non-profit) voltadas para prover assistência aos portadores do vírus da AIDS, e
encontraram média = 20,53.
Isso indica que os resultados dessa pesquisa, no que tange ao enquadramento da
amostra na pontuação do CEI, apresentaram-se similares àqueles realizados, também com
empresários, por outros pesquisadores, embora o valor de 18,1 represente a menor média
aferida entre todos os empresários nas pesquisadas analisadas – o que pode significar que,
comparativamente aos empresários de outras localidades, o pequeno empresário de Brasília
possui um potencial empreendedor ligeiramente menor.

Distribuição da Amostra na Escala do CEI

24
23
22
21
20
19
18
17
16
Frequência

15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33

Pontuação dos Empresários

Figura 3 - Gráfico de distribuição dos resultados do CEI.


Fonte: Dados da Pesquisa

De acordo com Carland, Carland e Ensley (2001), alguns estudiosos do


empreendedorismo tendem a assumir que um indivíduo é ou não empreendedor: uma
condição dicotômica. Esperava-se que essa amostra, caso o empreendedorismo tivesse caráter
dicotômico, fosse distribuída nas duas extremidades do gráfico apresentado na figura 3.
87

Entretanto, a distribuição verificada está de acordo com o observado por Carland,


Carland e Hoy (1992) e Carland, Carland e Ensley (2001), que argumentam que o
empreendedorismo não está associado a uma relação “ser ou não ser”. No entendimento
desses autores, um indivíduo desloca-se sobre um continuum onde todos seriam
empreendedores (mais ou menos) e o que os diferencia não é a presença ou não do potencial
empreendedor, mas sim sua intensidade.
Segundo a classificação proposta por Carland, Carland e Hoy (1992), há uma
concentração de 67,5% da amostra na categoria Empreendedor, que, segundo esses autores,
caracteriza-se por concentrar seus esforços no lucro e no crescimento, busca a inovação
através de melhorias incrementais e almeja o reconhecimento, a admiração e a riqueza.
Na Tabela 15 é possível observar os resultados descritivos quanto ao comportamento
empreendedor. Os donos de empreendimentos que participaram desta pesquisa avaliaram a
tendência de comportamento empreendedor respondendo qual alternativa, de um total de 33
pares de afirmações, descreve seu comportamento frente à situação apresentada.
A afirmação que representa o comportamento empreendedor está identificada pela
letra “E”. A distinção entre afirmações que representam o comportamento empreendedor e
não-empreendedor foi proposta por Carland, Carland e Hoy (1992). Não foram identificados
casos omissos nas respostas dos 169 participantes da pesquisa.

Tabela 15 – Resultados descritivos quanto ao comportamento empreendedor


No. Itens E* % NE %
Os únicos empreendimentos que este negócio faz são aqueles relativamente seguros.
30 138 81,7 31 18,3
Se você quer que este negócio cresça, você tem que assumir alguns riscos (E).
Um plano deveria ser escrito para ser efetivo (E)
8 135 79,9 34 20,1
Um plano não escrito para desenvolvimento é suficiente.
Meus objetivos pessoais giram em torno deste negócio (E)
24 132 78,1 37 21,9
Minha vida real é fora deste negócio, com minha família e amigos.
A coisa que eu mais sinto falta em trabalhar para alguém é a segurança
31 128 75,7 41 24,3
Eu não sinto falta de trabalhar para alguém (E).
Eu tendo a deixar meu coração governar minha cabeça
10 127 75,1 42 24,9
Eu tendo a deixar minha cabeça governar meu coração (E).
A melhor abordagem é evitar o risco tanto quanto possível
26 125 74 44 26
Se você quer exceder a concorrência, você tem que assumir riscos (E).
O desafio de ser bem sucedido é tão importante quanto o dinheiro (E)
16. 124 73,4 45 26,6
O dinheiro que vem com o sucesso é a coisa mais importante.
Meu objetivo primário neste negócio é sobreviver
7 122 72,2 47 27,8
Eu não descansarei até que nós sejamos os melhores (E).
Eu sou aquele que tem de pensar e planejar (E)
12 116 68,6 53 31,4
Eu sou aquele que tem que fazer as coisas.
Eu gosto de pensar em mim mesmo como uma pessoa habilidosa
2 115 68 54 32
Eu gosto de pensar em mim mesmo como uma pessoa criativa (E).
Eu me preocupo com os direitos das pessoas que trabalham para mim (E)
32 108 63,9 61 36,1
Eu me preocupo com os sentimentos das pessoas que trabalham para mim.
88

Continuação
No. Itens E* % NE %
Eu quero que este negócio cresça e torne-se poderoso (E)
4 105 62,1 64 37,9
O real propósito deste negócio é dar suporte a minha família.
Minhas prioridades incluem um monte de coisas fora este negócio
11 104 61,5 65 38,5
Uma das coisas mais importantes da minha vida é este negócio (E).
A diferença entre os concorrentes é a atitude do proprietário
23 101 59,8 68 40,2
Nós temos alguma coisa que fazemos melhor do que os concorrentes (E).
É mais importante ver possibilidades nas situações (E)
33 97 57,4 72 42,6
É mais importante ver as coisas das maneiras que elas são.
Eu penso que procedimentos padrões são cruciais
19 95 56,2 74 43,8
Eu aprecio o desafio de inventar mais do que qualquer coisa (E).
A coisa mais importante que eu faço para este negócio é planejar (E)
5 87 51,5 82 48,5
Sou mais importante no gerenciamento do dia-a-dia deste negócio.
Eu provavelmente gasto muito tempo com este negócio (E)
9 87 51,5 82 48,5
Eu divido meu tempo entre este negócio, família e amigos.
Eu odeio a idéia de pegar dinheiro emprestado
27 86 50,9 83 49,1
Empréstimo é somente outra decisão de negócios (E).
As pessoas pensam em mim como um trabalhador esforçado (E)
29 84 49,7 85 50,3
As pessoas pensam em mim como alguém fácil de se relacionar.
Eu gasto tanto tempo planejando quanto gerenciando este negócio (E)
20 83 49,1 86 50,9
Eu gasto a maior parte do meu tempo gerenciando este negócio.
Eu anseio pelo dia em que gerenciar este negócio seja simples
14 80 47,3 89 52,7
Se gerenciar ficar muito simples, eu iniciarei outro negócio (E).
Objetivos por escrito para este negócio são cruciais (E)
1 77 45,6 92 54,4
É suficiente saber a direção geral em que você esta indo.
Eu adoro a idéia de tentar ser mais esperto que os concorrentes (E)
25 77 45,6 92 54,4
Se você mudar muito, você pode confundir os clientes.
Eu gosto de abordar situações de uma perspectiva otimista
6 75 44,4 94 55,6
Eu gosto de abordar situações de uma perspectiva analítica (E).
Eu penso que é importante ser otimista
18 74 43,8 95 56,2
Eu penso que é importante ser lógico (E).
Eu sempre procuro por novas maneiras de se fazer as coisas (E)
17 73 43,2 96 56,8
Eu procuro estabelecer procedimentos padrões para que as coisas sejam feitas certas.
As pessoas que trabalham para mim trabalham duro (E)
13 67 39,6 102 60,4
As pessoas que trabalham para mim gostam de mim.
Eu tenho percebido que gerenciar este negócio cai na rotina (E)
21 57 33,7 112 66,3
Nada sobre gerenciar este negócio é sempre rotina.
Qualidade e serviços não são suficientes. Você tem que ter uma boa imagem (E)
28 56 33,1 113 66,9
Um preço justo e boa qualidade é tudo o que qualquer cliente realmente deseja.
Eu prefiro as pessoas que são realistas
22 47 27,8 122 72,2
Eu prefiro as pessoas que são imaginativas (E).
Eu penso que eu sou uma pessoa prática
15 39 23,1 130 76,9
Eu penso que eu sou uma pessoa imaginativa (E).
Eu não teria iniciado este negócio se eu não tivesse certeza de que seria bem sucedido
3 31 18,3 138 81,7
Eu nunca terei certeza se este negócio dará certo ou não (E).
(E) = Afirmação representativa do Comportamento empreendedor
E* = Freqüência de marcações da sentença identificada como empreendedora
NE = Freqüência de marcações da sentença identificada como não empreendedora
Fonte: Dados da Pesquisa

As freqüências para comportamento empreendedor variaram de 31 a 138 respostas,


dentro da possibilidade de 169 respostas para cada par de afirmações.
89

O par de afirmações no. 30 (“Os únicos empreendimentos que este negócio faz são
aqueles relativamente seguros/ Se você quer que este negócio cresça, você tem que assumir
alguns riscos (E)”) obteve a maior freqüência de respostas para comportamento empreendedor
(81,7%), o que significa que a maioria dos donos de empreendimentos concordam que
assumir riscos faz parte de um comportamento empreendedor. Da mesma maneira, 79,9% dos
entrevistados acreditam que um plano de trabalho deveria ser escrito para ser efetivo e 78,1%
relataram que seus objetivos pessoais giram em torno do empreendimento.
Por outro lado, o item 3 (“Eu não teria iniciado este negócio se eu não tivesse certeza
de que seria bem sucedido/ Eu nunca terei certeza se este negócio dará certo ou não. (E)”),
obteve a menor freqüência de respostas para comportamento empreendedor (18,3%),
indicando que os donos de empreendimentos não percebem que a incerteza faz parte de um
comportamento empreendedor. Outros comportamentos considerados de empreendedores
também apresentaram freqüências de respostas baixas: 27,8% dos donos de empreendimentos
não preferem as pessoas imaginativas e 23,1% não se consideram pessoas imaginativas.
Esse resultado é compatível com aquele encontrado por Inácio (2002), conforme pode
ser observado no quadro 11 abaixo:

Quadro 11 – Comparação de respostas ao CEI entre a amostra e aquela analisada por Inácio(2002).
Itens do CEI com maior freqüência de respostas na afirmação empreendedora
Pequenos empresários de Brasília Pequenos empresários do Paraná
2, 4, 7, 8, 10, 11, 12, 16, 24, 26, 30, 31, 32 4, 7, 8, 10, 11, 16, 20, 23, 24, 26, 31, 33
Itens do CEI com menor freqüência de respostas na afirmação empreendedora
Pequenos empresários de Brasília Pequenos empresários do Paraná
3, 13, 15, 21, 22, 28 3, 13, 15, 21, 32
Fonte: Dados da Pesquisa

O quadro 11 mostra que a compreensão a respeito dos itens do CEI foi similar por
parte dos dois grupos. Em seu trabalho, Inácio (2002, p.60) comenta que, com relação ao item
21, pode ter havido uma má interpretação:

“Somente cinco respondentes acreditam que gerenciar seu próprio negócio


seja uma tarefa rotineira. Talvez isso se dê pela pouca e, na maioria dos
casos, pela inexistência de experiência profissional anterior, como também
pela falta de contato com funções administrativas e que agora, seja preciso
um certo tempo para que esses empreendedores possam organizar e
descobrir que o gerenciamento do dia-a-dia não é tão confuso, estabelecendo
procedimentos padrões para tal”.
90

O resultado apresentado pela amostra de pequenos empresários de Brasília, composta


por pessoas com relativa experiência nas funções de administração do negócio, parece
invalidar, pelo menos no caso dessa amostra, a explicação proposta por Inácio (2002).
Acredita-se que a explicação esteja ligada a uma característica cultural do Brasil, pois tendo
em vista as constantes variações econômicas e políticas do País, é compreensível que a
maioria dos pesquisados tenham marcado a afirmação “Nada sobre gerenciar este negócio é
sempre rotina”.
A amostra deste trabalho mostrou-se possivelmente desconfortável com relação às
questões 22, 15 e 3. Com relação às questões 22 e 15, a palavra “imaginativa”, presente nas
afirmações, embora conste no questionário original em inglês, apresenta, em português,
significado confuso para a população em geral. Durante o processo da aplicação do
questionário, de fato, esses foram os itens que mais exigiram esclarecimentos.
Já com relação à questão 3, acredita-se que a explicação esteja relacionada ao fato da
frase que caracteriza “Não Empreendedor” (Eu não teria iniciado este negócio se eu não
tivesse certeza de que seria bem sucedido) estar muito próxima de várias características não
medidas pelo CEI (CARLAND, CARLAND E HOY, 1992), como determinação e
autoconfiança e, desse modo, teriam causado uma má interpretação do instrumento. A
determinação foi a segunda característica mais citada (49%), pelo grupo de empresários
revisado (p. 81), e, segundo Degen (1989), está relacionada à capacidade de prever e executar
um plano de ações, superando obstáculos, para obter o sucesso do negócio.
Observa-se, também, que a afirmação “Não empreendedora” do item 3 parece estar
relacionada à capacidade de levantar informações prévias à respeito do negócio, característica
identificada por vários autores (MCCLELLAND, 1972; DEGEN, 1989; CELLA, 2002;
LONGNECKER et al., 1997; DOLABELA, 1999) como sendo relacionada ao perfil do
empreendedor.
Para Honesko (2002) a busca de informações está relacionada à criação de
oportunidades, pois gera novos conhecimentos que permitem a criação de inovações.
McDonald (2002), por sua vez, considera que o modo como as informações são interpretadas
e o uso dado ao conhecimento adquirido são importantes fatores para aumentar a chance de
sucesso de uma organização. Esse autor considera empreendedora a pessoa com a habilidade
de reconhecer uma informação valiosa e tomar uma atitude, como abrir um negócio, para
aproveitar-se da situação.
Dando continuidade à análise descritiva, é possível, ainda, observar os dados da
amostra quanto à relação proposta por Inácio (2002) entre as características do empreendedor
91

propostas por Carland, Carland e Hoy (1992), a saber, postura estratégica, propensão à
inovação, propensão ao risco e traços de personalidade, e os itens do Carland
Entrepreneurship Index. Essa relação foi apresentada anteriormente no quadro 7 (p. 60).
A tabela 16, a seguir, apresenta os resultados descritivos quanto às características
empreendedoras medidas no CEI, segundo a classificação de Inácio (2002):

Tabela 16 – Resultados descritivos quanto às características empreendedoras medidas no CEI


Questão Respostas Moda %NE %E Característica
8 169 1 20,1 79,9 Postura Estratégica
24 169 1 21,9 78,1 Postura Estratégica
12 169 1 31,4 68,6 Postura Estratégica
4 169 1 37,9 62,1 Postura Estratégica
11 169 1 38,5 61,5 Postura Estratégica
23 169 1 40,2 59,8 Postura Estratégica
5 169 1 48,5 51,5 Postura Estratégica
9 169 1 48,5 51,5 Postura Estratégica
27 169 1 49,1 50,9 Postura Estratégica
20 169 0 50,9 49,1 Postura Estratégica
1 169 0 54,4 45,6 Postura Estratégica
21 169 0 66,3 33,7 Postura Estratégica
28 169 0 66,9 33,1 Postura Estratégica
33 169 1 42,6 57,4 Propensão à Inovação
19 169 1 43,8 56,2 Propensão à Inovação
25 169 0 54,4 45,6 Propensão à Inovação
17 169 0 56,8 43,2 Propensão à Inovação
22 169 0 72,2 27,8 Propensão à Inovação
30 169 1 18,3 81,7 Propensão ao Risco
31 169 1 24,3 75,7 Propensão ao Risco
26 169 1 26,0 74,0 Propensão ao Risco
10 169 1 24,9 75,1 Traços de Personalidade
16 169 1 26,6 73,4 Traços de Personalidade
7 169 1 27,8 72,2 Traços de Personalidade
2 169 1 32,0 68,0 Traços de Personalidade
32 169 1 36,1 63,9 Traços de Personalidade
29 169 0 50,3 49,7 Traços de Personalidade
14 169 0 52,7 47,3 Traços de Personalidade
6 169 0 55,6 44,4 Traços de Personalidade
18 169 0 56,2 43,8 Traços de Personalidade
13 169 0 60,4 39,6 Traços de Personalidade
15 169 0 76,9 23,1 Traços de Personalidade
3 169 0 81,7 18,3 Traços de Personalidade
%E = Porcentagem da amostra que marcou a sentença identificada como empreendedora
%NE = Porcentagem da amostra que marcou a sentença identificada como não empreendedora
Fonte: Dados da Pesquisa

Observa-se que dos treze itens do CEI que procuram observar, segundo Inácio (2002),
a característica “postura estratégica”, nove (69,2%) apresentaram tendência empreendedora na
92

amostra, sendo que a questão 8 (“Um plano deveria ser escrito para ser efetivo (E)/Um plano
não escrito para desenvolvimento é suficiente”) foi a que apresentou a maior freqüência de
respostas empreendedoras (79,9%) e, por sua vez, a questão 28 (“Qualidade e serviços não
são suficientes. Você tem que ter uma boa imagem (E) Um preço justo e boa Qualidade é
tudo o que qualquer cliente realmente deseja.”) foi a que apresentou a menor (33,1%).
A postura estratégica, assim como descrita por Carland, Carland e Hoy (1992) é um
fator relacionado à capacidade do indivíduo em interagir com o ambiente de modo a estar
preparado para possíveis problemas e atento às oportunidades. Para Leite (2000), a atenção às
oportunidades é característica principal do perfil do empreendedor e, para Filion (1999),
quando relacionada aos negócios, quase sempre consiste em ocupar um segmento que
ninguém tenha pensado em ocupar antes.
Com relação aos cinco itens do CEI que observam, segundo Inácio (2002), a
característica "propensão à inovação, dois (40%) apresentaram tendência empreendedora na
amostra, sendo que a questão 33 (“É mais importante ver possibilidades nas situações (E)/ É
mais importante ver as coisas das maneiras que elas são”.) foi a que apresentou a maior
freqüência de respostas empreendedoras (57,4%) e, por sua vez, a questão 22 (“Eu prefiro as
pessoas que são realistas / Eu prefiro as pessoas que são imaginativas (E)” foi a que
apresentou a menor freqüência (27,8%).
A inovação foi a característica do empreendedor que apresentou maior concordância
entre os atores revisados nesse trabalho (SCHUMPETER, 1997; MCCLELLAND, 1972;
WEBER, 1989; FILION, 1997, 1999, 2000, 2001; MCDONALD, 2002; DEGEN, 1989;
DRUCKER, 1986; SOUZA, 2001a; DUTRA, 2001; BARROS e PRATES, 1996;
MINTZBERG, 1979; ANGELO, 2003; LONGNECKER et al., 1997; LEITE, 2000, 2001;
CARLAND et al., 1984; FRESE et al., 1996; DOLABELA, 1999). De fato, Carland et al.
(1984) consideram a inovação como um fator crítico para o perfil empreendedor. Entretanto,
Hornaday (1992), em seus estudos, ilustrou que embora seja um elemento necessário ao
empreendedorismo, a inovação por si só é insuficiente para descrever completamente o
potencial empreendedor, em razão da dimensão do fenômeno empreendedor.
Já quanto à propensão ao risco, todos os itens do CEI que, segundo Inácio (2002),
estão relacionados a essa característica, apresentaram freqüência de respostas maior na opção
empreendedora do que na opção não empreendedora, com destaque para a questão 30 (“Os
únicos empreendimentos que este negócio faz são aqueles relativamente seguros/ Se você
quer que este negócio cresça, você tem que assumir alguns riscos (E)”) que apresentou 81,7%
de freqüência na opção empreendedora.
93

De acordo com Carland, Carland e Koiranen (1997), a propensão a assumir riscos foi a
primeira característica empreendedora a ser identificada, por Cantillion em torno de 1700,
identificando o empreendedor como a pessoa que assumia riscos na firma. Segundo os
estudos de Brockhaus (1980), entretanto, não há diferença no comportamento quanto ao risco
entre um empreendedor e a população em geral. Por outro lado, estudos mais recentes
(CARLAND, CARLAND e KOIRANEN, 1997; CARLAND, CARLAND e PEARCE, 1995)
têm mostrado uma maior propensão ao risco entre os empreendedores, principalmente ao
serem confrontados com riscos envolvidos na administração de um negócio.
A última característica do potencial empreendedor medida pelo CEI, segundo Inácio
(2002), são os traços de personalidade. Observa-se que dos doze itens que procuram observar
essa característica, cinco (41,6%) apresentaram tendência empreendedora na amostra, sendo
que a questão 10 (“Eu tendo a deixar meu coração governar minha cabeça/ Eu tendo a deixar
minha cabeça governar meu coração (E)”.) foi a que apresentou a maior freqüência de
respostas empreendedoras (75,1%) e, por sua vez, a questão 3 (“Eu não teria iniciado este
negócio se eu não tivesse certeza de que seria bem sucedido / Eu nunca terei certeza se este
negócio dará certo ou não (E)”.) foi a que apresentou a menor freqüência (18,3%).
Os traços de personalidade, segundo Carland, Carland e Hoy (1992), estão
relacionados à necessidade de realização, definida por McClelland (1972) como a capacidade
de um indivíduo em fixar para si mesmo um alto padrão de realização e motivar-se para
buscar arduamente alcançar as metas estabelecidas, e à criatividade, definida por Ostrower
(1987), como a capacidade de estabelecer relações entre dois fatores de forma adequada.
Carland, Carland e Koiranen (1997) consideram que essa característica é a que mais apresenta
divergências entre os estudiosos, mas que é central no modelo de análise do empreendedor.
Com base na análise dos resultados apresentados na tabela 16, observa-se que, de
maneira geral, o pequeno empresário de Brasília enquadrado na amostra apresenta facilidade
para analisar e assumir riscos inerentes à administração de um negócio, e mostra atenção para
descobrir novos segmentos ainda não ocupados pela concorrência. Entretanto, apresenta baixa
necessidade de realização e reduzida capacidade inovadora e criativa.
Notadamente, as duas características melhor pontuadas foram aquelas relacionadas aos
fatores externos, ambientais, enquanto as duas características pior pontuadas foram aquelas
relacionadas ao indivíduo. Possivelmente a experiência administrativa ou os treinamentos
empresariais conseguiram desenvolver nos empresários a capacidade de estar atento às
oportunidades e de analisar e correr riscos. Entretanto, a inovação, criatividade ou a
necessidade de realização, parecem ser características que embora possíveis de ser
94

desenvolvidas, são mais complexas e, por isso, demoram para ser assimiladas, exigindo mais
tempo e disposição do indivíduo.
Uma discussão apresentada anteriormente nesse trabalho (p. 77) mostra que das quatro
características (inovação, busca de oportunidades, correr riscos e criatividade) consideradas
como essenciais ao desenvolvimento do potencial empreendedor, de acordo com os autores
revisados, apenas duas (busca de informações e correr riscos) são treinadas no curso
Empretec, de acordo com o Sebrae (1997), reforçando a discussão do parágrafo anterior.
Com relação ao objetivo de pesquisa, a análise dos dados coletados através do CEI
fornece evidência de que os pequenos empresários da amostra deste trabalho possuem um
potencial empreendedor moderado, sendo considerados empreendedores segundo a escala do
instrumento. Entretanto, com relação às quatro características medidas, o grupo apresentou
notável disposição para correr riscos e forte presença da postura estratégica (busca de
oportunidades). Entretanto, mostrou-se frágil com relação às características de traços de
personalidade (criatividade e necessidade de realização) e propensão à inovação. Em
comparação com os resultados de pesquisas semelhantes com empresários de outras
localidades, a média de pontuação total do CEI (18,06) indica que os empresários pesquisados
possuem potencial empreendedor, na média, um pouco menor.
Antes de iniciar a validação estatística do CEI, descrita no próximo item deste
trabalho, é interessante observar que durante o processo de aplicação do questionário não
houve nenhum elogio específico ao instrumento, mas houve diversas críticas, embora muitas
delas direcionadas à quantidade de itens do CEI ou de caráter irrelevante. Entretanto, alguns
empresários comentaram que não sentiam que seu potencial empreendedor estava sendo
medido pelo instrumento e, outros, mostraram-se insatisfeitos em ter que escolher uma das
duas afirmações, afirmando que em alguns casos ambas e, em outros, nenhuma das duas
sentenças descreviam o seu comportamento.

4.4 Resultados - Objetivo Específico 3 – Validação estatística do CEI

A análise fatorial é uma técnica estatística baseada no pressuposto de que uma série de
variáveis observadas, medidas, pode ser explicada por um número menor de variáveis não
observáveis, hipotéticas, denominadas também de fatores. A tarefa da análise fatorial é
descobrir se as variáveis observadas relacionam-se com as variáveis hipotéticas.
95

Há variáveis que se relacionam, ou seja, apresentam intercorrelações (covariância)


entre elas e possuem uma causa comum, chamada fator comum, produzindo esta relação.
Segundo Pasquali:

“Se observarmos, por exemplo, duas variáveis altamente relacionadas, sendo


esta relação expressa através da correlação ou covariância, então podemos
dizer que estas duas variáveis são aparentadas, isto é, elas pertencem à
mesma família, elas possuem um mesmo “pai”, e assim elas poderiam ser
economicamente identificadas através de um fator comum a elas em lugar de
serem individualmente mencionadas (PASQUALI, apud OLIVEIRA, 2002,
p. 51)”

Por meio da análise fatorial foi verificado se realmente os itens do questionário


estavam correlacionados com os quatro fatores identificados para o empreendedorismo e se
estavam agrupados de forma correta. O questionário possuía 33 itens e foi utilizado o
agrupamento proposto por Inácio (2002), apresentado anteriormente no quadro 7 (p. 60).
As respostas dos 169 participantes aos 33 pares de afirmações, submetidas a análises
exploratórias, não apresentaram respostas extremas uni e multivariadas, que destoassem
notadamente da mediana dos dados coletados. Todos os itens apresentaram dados omissos,
sem preenchimento, abaixo de 5%.
O primeiro procedimento realizado foi a análise da fatorabilidade dos dados, ou seja,
se o conjunto dos itens coletados apresenta associação, permitindo a análise fatorial. Para isso,
foi utilizado o método denominado Análise dos Componentes Principais (PC). Esse
procedimento busca encontrar conjuntos de fatores que formem combinações das variáveis na
matriz de correlação e permite descobrir quantos dos fatores podem ser desconsiderados. A
correlação de um item com ele mesmo é máxima e representada pelo número “1”. Quanto
maior a correlação entre as variáveis, mais ela se aproxima de “1”.
Analisada a matriz de correlações entre as variáveis observou-se poucos valores
superiores a 0,30, indicando que a matriz pode não ser fatorizável. Entretanto, Pasquali (no
prelo) relata que existem técnicas mais exatas para decidir a questão da fatorabilidade da
matriz, como por exemplo, a análise do índice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), que verifica a
fatorabilidade da matriz de covariâncias e trabalha com as correlações parciais entre as
variáveis. Isso ocorre quando duas variáveis são correlacionadas entre si após retirar a relação
que outras variáveis tenham com elas. O KMO varia de 0 a 1, sendo ideal quanto mais se
aproximar de 1.
96

Neste trabalho, obteve-se um KMO de 0,54, considerado por Kaiser (in Pasquali, no
prelo), um índice baixo de adequação da amostra. Este valor, no entanto, pode ser considerado
adequado, e não impede a continuidade da análise fatorial no caso do presente estudo, uma
vez que não há ainda um consenso sobre o conceito de empreendedorismo e a tendência ao
comportamento empreendedor, particularmente o instrumento de coleta de dados utilizado,
Carland Entrepreneurship Index, apresenta poucos estudos científicos no Brasil.
A análise dos Componentes Principais, com tratamento pairwise para os casos omissos
(desconsiderando os casos omissos), sugere também uma estrutura empírica com 13
componentes que explicam, em conjunto, 63,72% da variância total das respostas dos
participantes aos itens do questionário. Conclusão similar foi encontrada por Inácio (2002)
que, ao realizar sua análise, concluiu por uma solução com quatorze fatores, embora quatro
contribuam de forma mais acentuada.
Dando continuidade à análise dos Componentes Principais, para verificar a qualidade e
o número de fatores a serem eliminados, inicialmente foi analisada a distribuição dos valores
próprios (Figura 4), que apresentou claramente 4 componentes. Essa técnica, denominada
Scree Plot consiste em apresentar os valores próprios para visualizar onde os pontos, que
representam os fatores, passam de uma inclinação acentuada para quase uma linha horizontal,
sendo considerada a quantidade de fatores à esquerda dessa linha.

Figura 4 – Gráfico de Distribuição dos Valores Próprios para CEI.

Gráficos dos Valores Próprios


3,5

3,0

2,5

2,0

1,5
Valores Próprios

1,0

,5

0,0
1 5 9 13 17 21 25 29 33
3 7 11 15 19 23 27 31

Componentes
Fonte: Dados da Pesquisa
97

Deste modo, as análises fatoriais dos eixos principais (PAF) foram realizadas para 4,
3, 2 e 1 fatores, obtendo-se melhores resultados na solução com 4 fatores. Esse método
verifica como os itens agrupam-se em relação aos quatro fatores, observando-se o peso das
cargas fatoriais de cada item, pois a validade do item está relacionada com essa carga fatorial.
Comrey (apud OLIVEIRA, 2002), no contexto de validade dos itens, classifica
adequadamente as cargas fatoriais da seguinte maneira: cargas acima de 0,71 são excelentes;
de 0,63 a 0,70 são muito boas; de 0,55 a 0,62 são boas; de 0,45 a 0,54 são razoáveis e de 0,32
a 0,44 são pobres, mas aceitáveis.
A extração final dos fatores do CEI foi realizada por meio da PAF, com tratamento
pairwise para casos omissos. Foram incluídos na escala apenas os itens com conteúdos
semânticos similares e cargas fatoriais superiores ou iguais a 0,30, indicados por Carland,
Carland e Hoy (1992) como suficientes para os estudos nas ciências sociais.
As cargas fatoriais indicam a intensidade da relação entre a variável e o fator. Quanto
maior a carga, maior a sua relação com o fator. A variância explicada significa o peso que um
determinado fator apresenta no instrumento e, segundo Oliveira (2002), valores superiores a
3% são considerados bons.
O cálculo do Alfa de Cronbach visa verificar a precisão (fidedignidade) dos fatores
sendo que, quanto mais próximo de “1”, mais o fator estará sendo medido pelo instrumento. O
Valor Próprio (Eingeinvalue) expressa a variância total do modelo explicada por cada fator,
sendo que um fator deve possuir valor próprio maior ou igual a 1 para ser extraído. A
comunalidade representa quanto da variância total das variáveis é reproduzida pelos fatores
comuns e quanto mais estiver próxima de “1”, maior a relação do item com o fator.
A Tabela 17, a seguir, apresenta a estrutura empírica da escala, as cargas fatoriais e
comunalidades (h2) dos itens, o índice de consistência interna (Alfas de Cronbach), bem como
o valor próprio e percentual de variância explicada do fator.
98

Tabela 17 - Estrutura empírica do CEI


Cargas fatoriais
2
No. Código/ Descrição dos Itens Fator Fator Fator Fator h
1 2 3 4
Objetivos por escrito para este negócio são cruciais.
1 0,34 0,16
É suficiente saber a direção geral em que você esta indo.
Eu gosto de pensar em mim mesmo como uma pessoa habilidosa.
2 0,36 0,15
Eu gosto de pensar em mim mesmo como uma pessoa criativa.
Eu não teria iniciado este negócio se eu não tivesse certeza de que seria bem
3 sucedido. 0,07
Eu nunca terei certeza se este negócio dará certo ou não.
Eu quero que este negócio cresça e torne-se poderoso.
4 0,34 0,35 0,31
O real propósito deste negócio é dar suporte a minha família.
A coisa mais importante que eu faço para este negócio é planejar.
5 0,33 0,27
Sou mais importante no gerenciamento do dia-a-dia deste negócio.
Eu gosto de abordar situações de uma perspectiva otimista.
6 0,49 0,31
Eu gosto de abordar situações de uma perspectiva analítica.
Meu objetivo primário neste negócio é sobreviver.
7 0,32 0,19
Eu não descansarei até que nós sejamos os melhores.
Um plano deveria ser escrito para ser efetivo.
8 0,39 0,27
Um plano não escrito para desenvolvimento é suficiente.
Eu provavelmente gasto muito tempo com este negócio.
9 0,12
Eu divido meu tempo entre este negócio, família e amigos.
Eu tendo a deixar meu coração governar minha cabeça.
10 0,07
Eu tendo a deixar minha cabeça governar meu coração.
Minhas prioridades incluem um monte de coisas fora este negócio.
11 0,08
Uma das coisas mais importantes da minha vida é este negócio.
Eu sou aquele que tem de pensar e planejar.
12 0,32 0,17
Eu sou aquele que tem que fazer as coisas.
As pessoas que trabalham para mim trabalham duro.
13 0,40 0,20
As pessoas que trabalham para mim gostam de mim.
Eu anseio pelo dia em que gerenciar este negócio seja simples.
14 0,11
Se gerenciar ficar muito simples, eu iniciarei outro negócio.
Eu penso que eu sou uma pessoa prática.
15 0,13
Eu penso que eu sou uma pessoa imaginativa.
O desafio de ser bem sucedido é tão importante quanto o dinheiro.
16 0,45 0,22
O dinheiro que vem com o sucesso é a coisa mais importante.
Eu sempre procuro por novas maneiras de se fazer as coisas.
17 Eu procuro estabelecer procedimentos padrões para que as coisas sejam feitas 0,34 0,16
certas.
Eu penso que é importante ser otimista.
18 -0,53 0,31
Eu penso que é importante ser lógico.
Eu penso que procedimentos padrões são cruciais.
19 0,58 0,35
Eu aprecio o desafio de inventar mais do que qualquer coisa.
Eu gasto tanto tempo planejando quanto gerenciando este negócio.
20 0,31 0,19
Eu gasto a maior parte do meu tempo gerenciando este negócio.
Eu tenho percebido que gerenciar este negócio cai na rotina.
21 0,17
Nada sobre gerenciar este negócio é sempre rotina.
Eu prefiro as pessoas que são realistas.
22 0,14
Eu prefiro as pessoas que são imaginativas.
99

Continuação
Cargas fatoriais
2
No. Código/ Descrição dos Itens Fator Fator Fator Fator h
1 2 3 4
A diferença entre os concorrentes é a atitude do proprietário.
23 -0,32 0,11
Nós temos alguma coisa que fazemos melhor do que os concorrentes.
Meus objetivos pessoais giram em torno deste negócio.
24 0,12
Minha vida real é fora deste negócio, com minha família e amigos.
Eu adoro a idéia de tentar ser mais esperto que os concorrentes.
25 0,32 0,11
Se você mudar muito, você pode confundir os clientes.
A melhor abordagem é evitar o risco tanto quanto possível.
26 0,46 0,28
Se você quer exceder a concorrência, você tem que assumir alguns riscos.
Eu odeio a idéia de pegar dinheiro emprestado.
27 0,45 0,21
Empréstimo é somente outra decisão de negócios.
Qualidade e serviços não são suficientes. Você tem que ter uma boa imagem.
28 0,04
Um preço justo e boa Qualidade é tudo o que qualquer cliente realmente deseja.
As pessoas pensam em mim como um trabalhador esforçado.
29 0,38 0,17
As pessoas pensam em mim como alguém fácil de se relacionar.
Os únicos empreendimentos que este negócio faz são aqueles relativamente
30 seguros. 0,32 0,39 0,29
Se você quer que este negócio cresça, você tem que assumir alguns riscos.
A coisa que eu mais sinto falta em trabalhar para alguém é a segurança.
31 0,34 0,12
Eu realmente não sinto falta de trabalhar para alguém.
Eu me preocupo com os direitos das pessoas que trabalham para mim.
32 0,12
Eu me preocupo com os sentimentos das pessoas que trabalham para mim.
É mais importante ver possibilidades nas situações.
33 0,45 0,23
É mais importante ver as coisas das maneiras que elas são.
N 169 169 169 169
Eigenvalue (Valor próprio) 2,18 1,55 1,20 1,00
% da Variância Explicada 6,6 4,7 3,6 3,0
No. de itens 6 5 6 5
Alfa ( ) 0,54 0,42 0,07 0,47
Alfa Padronizado 0,54 0,42 0,11 0,47
Fonte: Dados da Pesquisa

O Fator 1, composto pelos itens 1; 5; 6; 20; 26 e 27 (total de 6 itens), agregou itens


que foram propostos em fatores distintos por Inácio (2002). Os itens deste fator agruparam
itens referentes aos aspectos da postura estratégica do empreendedor, dos traços de
personalidade e propensão ao risco. Como mostra a Tabela 8, este fator apresentou um índice
de consistência interna igual a 0,54 (Alfa Padronizado=0,54), e itens com cargas fatoriais
variando entre 0,31 e 0,49.

O Fator 2, composto pelos itens 7; 13; 25; 29 e 30 (total de 5 itens). Da mesma


maneira que no fator anterior, o Fator 2 agrupou itens referentes aos traços de personalidade,
100

propensão ao risco e inovação/criatividade. Este fator apresentou um Alfa de 0,42 (Alfa


Padronizado=0,42) e itens com cargas fatoriais variando entre 0,32 e 0,40.

O Fator 3, composto por 6 itens (2; 8; 12; 18; 19 e 23), mede aspectos relacionados à
postura estratégica, traços de personalidade e inovação/criatividade. Este fator apresentou um
Alfa de 0,07 (Alfa Padronizado=0,11) e itens com cargas fatoriais variando entre –0,53 e
0,58.

O Fator 4, é composto por 5 itens (4; 16; 17; 31 e 33) e avalia aspectos referentes à
postura estratégica, traços de personalidade, propensão ao risco e inovação/criatividade . Este
fator apresentou um Alfa de 0,47 (Alfa Padronizado=0,47) e itens com cargas fatoriais
variando entre 0,34 e 0,45.

O item 30 (“Os únicos empreendimentos que este negócio faz são aqueles
relativamente seguros/ Se você quer que este negócio cresça, você tem que assumir alguns
riscos”) indica a possibilidade de pertencer a dois fatores. Foram realizadas análises com este
item nos dois fatores separadamente, bem como análises com os 2 fatores sem a presença
deste item. Optou-se por inserir tal item no segundo fator por apresentar carga fatorial maior e
por resultar em melhor solução fatorial. O mesmo ocorreu com o item 4 e a opção foi mantê-
lo no fator 4.

Do total de 33 afirmações, apenas 22 permaneceram no instrumento após a validação


estatística. Os pares de afirmações de número 3; 9; 10; 11; 14; 15; 21; 22; 24; 28 e 32 não
obtiveram carga fatorial mínima de 0,30. Em sua análise estatística, Inácio (2002) apenas os
pares de afirmações de número 5 e 28 não obtiveram carga fatorial mínima de 0,30.

Dessa forma, não é possível afirmar que os fatores propostos por Inácio (2002) foram
confirmados. Isto indica que provavelmente os itens relacionados à postura estratégica, traços
de personalidade, propensão ao risco e inovação precisam ser revistos. Esta diferença de
resultados pode ter ocorrido também devido à utilização de diferentes amostras. Entretanto, a
primeira hipótese é mais provável, uma vez que Inácio (2002, p.112) não obteve acesso à
divisão original proposta pelos autores do questionário:

“Com relação ao CEI, um trabalho maior foi necessário, porque não se


dispunha da classificação prévia dos autores do instrumento. Desse modo,
após discussões com professores e amigos do mestrado, bem como através
da revisão da literatura, chegou-se a classificação apresentada.”
101

Todavia, a intenção de identificar os fatores atrelados aos itens do CEI não é


infundada, pois, nas palavras de seus criadores:

“Nossa revisão de literatura nos levou a concluir que o empreendedorismo é,


primariamente, uma gestalt de quatro elementos: traços de personalidade,
preferência pela inovação, propensão ao risco e postura estratégica. Esses
quatro elementos se combinam dentro de um indivíduo de forma que ele
desenvolve um desejo de tomar atitudes empreendedoras. Para medir o
potencial empreendedor de um indivíduo desenvolvemos um instrumento
que mede o potencial de um empreendedor em cada um dos quatro fatores.”
(CARLAND, CARLAND e ENSLEY, 2001, p.58)

Segundo Pasquali (no prelo), a validade do fator é garantida pela própria análise
fatorial e é expressa pelo tamanho das cargas fatoriais, ou seja, quanto maiores elas forem,
mais a variável é representativa do fator, ou ainda, quanto mais próxima de 1 for a carga,
melhor é o item. Nos resultados apresentados na Tabela 8, é possível verificar que as cargas
fatoriais não foram tão altas. Entretanto, como mencionado anteriormente, o fenômeno
analisado ainda encontra-se no processo inicial de estudos científicos, e este resultado, na
verdade, torna-se uma notável contribuição para área, já que possibilitará melhorias e
adaptações a serem realizadas pelos pesquisadores.

Da mesma maneira, verifica-se que os índices de consistência interna obtidos também


foram baixos, em contradição àqueles apresentados por Inácio (2002) e Carland, Carland e
Ensley (2001). Estes índices verificam a estabilidade do fator, ou a fidedignidade do fator.
Novamente, não é adequado dizer que os índices são “ruins”, sem que sejam analisadas as
situações que permeiam o fenômeno estudado.

Além disso, outra explicação de caráter mais amplo para os resultados encontrados
está no fato de que o Carland Entrepreneurship Index é um instrumento de pesquisa
desenvolvido nos Estados Unidos, por pesquisadores norte-americanos (CARLAND,
CARLAND e HOY, 1992). Em estudo mais recente, Carland, Carland e Koiranen (1997)
analisaram, através do CEI, o potencial empreendedor de dois grupos de empresários, um nos
Estados Unidos e outro na Finlândia. A conclusão da pesquisa desses autores mostra que as
características relacionadas ao potencial empreendedor são as mesmas, mas que suas
intensidades individuais, suas importâncias relativas, são diferentes em cada um dos países.

Dessa forma, o CEI pode carecer de ajustes e mudanças que o adequem à realidade e à
cultura do Brasil, sem que, contudo, seja necessário mudar suas bases teóricas que
permanecem sólidas conforme observado ao longo deste trabalho. Por fim, é importante dar
102

prosseguimento às pesquisas de validação empírica do conceito de “empreendedorismo” e


suas dimensões, para que a área de estudo apresente avanços teóricos e metodológicos.

4.5 Resultados - Objetivo Específico 4 – Variáveis biográficas e funcionais e o potencial


empreendedor.

Para cumprir esse objetivo foram realizadas comparações de grupos e médias,


utilizando testes de diferença entre médias (Teste t e ANOVA).
O Teste t é utilizado para verificar se a diferença observada entre duas médias obtidas
nas amostras é considerada grande para ser significativa e visa comprovar se tal diferença é
significativa e pode ser explicada devido ao erro amostral ou não.
A análise de variância (ANOVA) é um teste estatístico que visa fundamentalmente
verificar se existe uma diferença significativa entre as médias e se os fatores exercem
influência em alguma variável dependente. Os fatores propostos podem ser de origem
qualitativa ou quantitativa, mas a variável dependente necessariamente deverá ser contínua. A
variável dependente, nessa análise, foi o total de pontos do CEI.
As variáveis foram submetidas a análises exploratórias, segundo os procedimentos
propostos por Tabachnick e Fidell (2000). Todos os itens apresentaram dados omissos abaixo
de 5%. Não foram identificados casos extremos uni e multivariados.
Na Tabela 18, é apresentado o resultado do teste de diferença entre médias (Teste t),
considerando p<0,05, que comparou o sexo dos donos de estabelecimentos com a média da
soma dos escores obtidos a partir do CEI.

Tabela 18 - Comparação entre sexo dos funcionários e média da soma dos escores do CEI
Desvio-
Grupos Média t gl p
Padrão
Masculino 18,29 3,83 1,202 167 0,231
Feminino 17,48 4,24
Fonte: Dados da Pesquisa

O resultado mostra que não existe diferença significativa entre as médias dos grupos
definidos a partir do sexo dos funcionários. O grupo dos homens apresentou média igual a
18,29 (DP= 3,83), e o grupo das mulheres apresentou média igual a 17,48 (DP=4,24), para um
valor do teste t igual a 1,202 (gl=167; p=0,231). As médias dos grupos permaneceram 16 e 25
pontos, o que os coloca na faixa de Empreendedores.
103

De fato, o potencial empreendedor não parece ser afetado pela variável sexo, conforme
foi observado aqui e nas pesquisas semelhantes realizadas por Inácio (2002); Carland, Carland
e Koiranen (1997); Carland, Carland e Ensley (2001); Mock e Hoy (1998) e Young, Doyle e
Fischer (2002).

Na Tabela 19, é apresentado o resultado do teste de diferença entre médias (Teste t),
considerando p<0,05, que comparou a renda familiar relatada pelos donos dos
estabelecimentos entrevistados com a soma dos escores obtidos a partir do CEI.

Tabela 19. Comparação entre renda familiar e média da soma dos escores do CEI.
Desvio-
Grupos Média t gl p
Padrão
R$ 500,00 a R$ 4.000,00 18,65 3,51 1,00 85 0,32
Acima de R$ 4.000,01 17,78 4,33
Fonte: Dados da Pesquisa

O resultado mostra que não existe diferença significativa entre as médias dos grupos
definidos a partir da renda familiar. O grupo que relatou renda familiar de R$ 500,00 a R$
4.000,00 apresentou média igual a 18,65 (DP=3,51), ao passo que o grupo que relatou renda
familiar acima de R$ 4.000,01, apresentou média igual a 17,78 (DP=4,33), para um valor do
teste t igual a 1,00 (gl=85; p=0,32).
Com relação à renda, resultado similar foi encontrado por Carland, Carland e Koiranen
(1997) e Carland, Carland e Ensley (2001), nos quais a renda também não apresentou relação
direta com o escore no CEI.
Para realizar a comparação dos grupos de número de funcionários, foi realizado o teste
de diferença entre médias ANOVA. Na Tabela 20, são apresentadas a média da soma dos
escores obtidos a partir do CEI dos diferentes grupos.

Tabela 20. Comparação entre número de funcionários e média da soma dos escores do CEI.
Desvio-
Grupos Média F gl p
Padrão
10 a 14 funcionários 17,97 3,45 1,76 2 0,176
15 a 20 funcionários 17,31 4,27
Acima de 21 funcionários 18,85 4,37
Fonte: Dados da Pesquisa

Considerando p<0,05, verificou-se que não existem diferenças significativas entre as


médias dos grupos definidos a partir do no. de funcionários das empresas. O grupo de 10 a 14
104

funcionários apresentou média igual a 17,97 (DP=3,45); o grupo de 15 a 20 funcionários


apresentou média 17,31 (DP=4,27) e, o grupo que tem acima de 21 funcionários, apresentou
média igual a 18,85 (DP=4,37), para um valor da ANOVA igual a 1,76 (gl=2; p=0,176).
É interessante observar no grupo que possui acima de 21 funcionários, uma leve
tendência ao aumento do escore médio no CEI. Ao realizar um estudo comparativo entre um
grupo de pequenos empresários americanos e uma amostra dos 500 maiores empresários do
mesmo País, Carland, Carland e Ensley (2001) identificaram resultados similares, com média
= 20,3 para os pequenos empresários, e média = 23,1 para os grandes empresários.
Esses resultados contrastam com a visão de Lima (1999) de que os pequenos
empresários tendem a apresentar maior potencial empreendedor do que grande empresários.
Entretanto, os dados são muitos preliminares para garantir qualquer conclusão nesse sentido,
mas novas pesquisas no sentido de elucidar essa questão seriam de interesse no entendimento
da relação entre o empreendedorismo e as pequenas empresas.
Na Tabela 21, é apresentado o resultado da comparação entre grupos formados a partir
do tempo de funcionamento da empresa e média da soma de escores obtida no CEI (ANOVA,
p<0,05).

Tabela 21. Comparação entre tempo de funcionamento e média da soma de escores do CEI
Desvio-
Grupos Média F gl p
Padrão
0 a 3 anos 18,83 3,89 0,89 3 0,448
4 a 7 anos 18,09 3,44
8 a 11 anos 17,45 4,38
Acima de 12 anos 17,65 4,30
Fonte: Dados da Pesquisa

Não foram observadas diferenças significativas entre as médias dos grupos definidos a
partir do tempo de funcionamento da empresa. As médias dos grupos variaram de 17,45 a
18,83, sendo que o grupo com intervalo de 8 a 11 anos apresentou a menor média (DP=4,38)
e o grupo com tempo de funcionamento de 0 a 3 anos apresentou a maior média (DP=3,89),
para um valor da ANOVA igual a 0,89 (gl=3; p=0,448). A partir deste resultado, pode-se
dizer que os diferentes tempos de funcionamento das empresas não interferem na percepção
de tendência ao comportamento empreendedor.
Acreditava-se que as empresas mais novas apresentariam um escore mais elevado que
as empresas mais antigas, justamente por estarem mais propensas a entrarem no mercado
como resultado de uma oportunidade. Os resultados mostram que embora apresentem
105

resultado médio maior, a diferença não é representativa e, com relação ao tempo de


funcionamento, resultado similar foi encontrado por Carland, Carland e Koiranen (1997), e
esse fator não apresentou relação direta com o escore no CEI.
O teste de diferença entre médias (ANOVA) foi utilizado para identificar possíveis
diferenças entre a idade dos respondentes e a média da soma dos escores do CEI. Na Tabela
22, são apresentados os resultados de tal análise.

Tabela 22. Comparação entre grupos de faixa etária e média da soma dos escores do CEI.
Desvio-
Grupos Média F gl p
Padrão
Até 25 anos 20,71 3,93 2,77 3 0,044
26 a 35 anos 18,43 3,75
36 a 45 anos 17,61 3,99
Acima de 45 anos 17,64 3,88
Fonte: Dados da Pesquisa

Verificou-se a existência de diferenças significativas entre as médias de idade dos


donos de estabelecimentos entrevistados quanto à percepção de tendência ao comportamento
empreendedor, considerando p<0,05. As médias dos grupos definidos a partir da idade dos
participantes do estudo variaram de 17,61 a 20,71, sendo que o grupo que possui idade de até
25 anos apresentou a maior média (DP=3,93) e o grupo que possui idade de 36 a 45 anos
apresentou a menor média (DP=3,99), para um valor da ANOVA igual a 2,77 (gl=3;
p=0,044).
É possível afirmar, a partir deste resultado, que a idade dos donos de estabelecimentos
influenciam na percepção de tendência ao comportamento empreendedor. A partir da análise
do teste Post Hoc, verificou-se que o grupo de donos de estabelecimento que tem idade até 25
anos, apresenta maiores escores quanto ao comportamento empreendedor do que os grupos
que possuem idade entre 36 a 45 anos e acima de 45 anos (p=0,040 e 0,043 respectivamente).
De acordo com Degen (1989) a maioria dos potenciais empreendedores têm um
período de livre escolha, definido como o momento da vida do indivíduo para o qual se sente
preparado para empreender, antes de estar comprometido com outros interesses e obrigações.
Para esse autor, a faixa etária que apresentaria maior taxa de potencial empreendedor seria
entre 24 e 34 anos. Na pesquisa GEM – Global Entrepreneurship Monitor (2002), o perfil do
empresário brasileiro indicou que a maior taxa de abertura de novos negócios é observada
entre as pessoas de 25 a 34 anos.
106

Por outro lado, Gibb e Carland et al.(apud INÁCIO, 2002) indicam que quanto mais
avançada for a idade de um empresário, mais tende a aumentar seu potencial empreendedor,
em virtude do amadurecimento e acumulação de conhecimento. Entretanto, Inácio (2002)
também identificou que os empresários com 25 a 34 anos apresentaram maior tendência ao
desenvolvimento do potencial empreendedor. Assim, parece claro que há uma correlação
entre idade e potencial empreendedor, que pode estar relacionada à menor responsabilidade
que o indivíduo, nessa faixa etária, possui, estando mais propenso a arriscar e inovar.
Na Tabela 23, é apresentado o resultado do teste ANOVA (p<0,05) para as variáveis
nível de escolaridade dos donos de estabelecimentos e média da soma de escores obtida do
CEI.

Tabela 23. Comparação entre níveis de escolaridade e média da soma de escores do CEI
Desvio-
Grupos Média F gl p
Padrão
Primeiro grau 16,88 3,54 2,96 2 0,055
Segundo grau 17,56 3,90
Terceiro grau 18,77 4,03
Fonte: Dados da Pesquisa

Embora apresente um grau levemente ascendente com relação à maior escolaridade,


não foram identificadas diferenças significativas entre as médias dos grupos definidos a partir
nível de escolaridade dos donos de empreendimentos. A menor média foi referente ao
Primeiro grau (M=16,88 e DP=3,54) e maior média foi referente ao Terceiro grau (M=18,77,
DP=4,03), para um valor da ANOVA igual a 2,96 (gl=2; p=0,055). Esse resultado diverge
daquele encontrado por Inácio (2002), que encontrou forte correlação entre o grau de
escolaridade e os escores do CEI. Nesse sentido, novos estudos se fazem necessários para
esclarecer essa lacuna.
Na Tabela 24, é apresentada a comparação entre médias da soma de escores do CEI
dos grupos definidos a partir do estado civil dos donos de empreendimentos entrevistados. Foi
utilizado o teste ANOVA, considerando p<0,05.

Tabela 24. Comparação entre estado civil e média da soma de escores do CEI
Grupos Média Desvio-Padrão F gl P
Casado 17,96 4,02 0,26 2 0,774
Separado 18,71 3,27
Solteiro 18,05 4,10
Fonte: Dados da Pesquisa
107

A partir da análise dos resultados apresentados na tabela acima, verificou-se que não
existem diferenças significativas entre as médias de percepção quanto ao comportamento
empreendedor dos grupos definidos a partir do estado civil dos donos de estabelecimentos. As
médias dos grupos variaram de 17,96 a 18,71, para um valor da ANOVA igual a 0,26 (gl=2;
p=0,774). Pode-se dizer que o estado civil dos entrevistados não interfere na soma de escores
do CEI.
No capítulo seguinte, são apresentadas as sugestões e conclusões da presente pesquisa.
108

5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho foram realizadas uma série de análises e revisões


bibliográficas relacionadas às pequenas empresas e ao empreendedorismo, com o objetivo de
identificar as principais características relacionadas ao desenvolvimento de um perfil
empreendedor e, dessa forma, medir o potencial empreendedor de um grupo de pequenos
empresários de Brasília.
Inicialmente buscou-se definir o que seria uma pequena empresa e foi observado que,
basicamente, existem duas correntes distintas para identificar um pequeno negócio: uma, mais
científica, que busca avaliar aspectos qualitativos. Outra, mais prática, busca avaliar aspectos
quantitativos. A primeira argumenta que uma empresa pode ser considerada grande em
relação a seus concorrentes mesmo que ela seja considerada pequena em relação a outras
empresas que atuam em outros ramos da economia de acordo com suas vendas ou seu número
de empregados. A segunda argumenta que a realização de pesquisas junto às pequenas
empresas favorece a escolha de um método mais fácil de identificação e que o método de
seleção por número de empregados apresenta um indicador suficientemente fiel das faixas
empresariais.
De fato, para realização de pesquisas, a utilização do corte por número de empregados
apresentou-se mais prática e, conforme observado durante a aplicação dos instrumentos de
pesquisa, aparentemente identificou com bastante precisão as pequenas empresas mesmo
quando levadas em consideração suas características qualitativas.
Entretanto, uma vez que essa conclusão baseou-se apenas na observação do
entrevistador, fica como sugestão para futuras pesquisas sobre pequenos negócios verificar se
o critério de determinação do porte da empresa pela quantidade de funcionários reflete, com
precisão adequada, as características qualitativas das empresas, o que daria maior rigor
científico aos estudos futuros sobre os pequenos negócios.
Realizou-se, então, uma revisão teórica sobre o conceito de empreendedorismo, no
sentido de fornecer maior compreensão sobre as diferentes abordagens do tema. Verificou-se
que há alguma divergência entre os autores sobre a origem histórica do fenômeno, mas uma
concordância ao afirmar que, de forma científica, o estudo do empreendedorismo é recente.
Alguns autores defendem que as linhas de pesquisa de maior interesse entre os pesquisadores
são a econômica e a comportamental.
A linha econômica tem suas bases fundamentadas nos estudos de Schumpeter (1989) e
identificam o empreendedor como aquele responsável por promover a inovação. A linha
109

comportamental tem suas bases fundamentadas nos estudos de McClelland (1972) e busca
identificar os traços de personalidade que formam o perfil ideal do empreendedor, de modo
que as pessoas possam ser treinadas para desenvolver seu potencial empreendedor.
Notou-se que os autores revisados, que apresentam trabalhos mais recentes sobre o
empreendedorismo, não parecem se enquadrar em uma ou outra linha de pesquisa havendo
uma tendência convergente em identificar o indivíduo como portador das características que
iniciam o processo empreendedor, sendo a inovação um elemento central.
Nesse sentido as pesquisas realizadas por Carland e colegas (1984, 1992, 1995, 1997,
1998, 2001) interpretam o fenômeno empreendedor como o resultado de uma interação entre
algumas características principais que desenvolve, no indivíduo, a vontade de tomar atitudes
empreendedoras, liberando seu potencial. Para esses autores, todas as pessoas possuem essas
características com maior ou menor intensidade, deslocando-se em um continuum com
relação ao seu próprio potencial empreendedor.
A revisão dos autores indicou que a inovação, a busca de oportunidades, a criatividade
e a propensão a correr riscos são as características mais associadas ao perfil empreendedor,
citadas por mais de 50% dos autores revisados. Entretanto, no total, quarenta e nove
características foram citadas pelos diversos autores. Isso parece ser um indicador da
complexidade do fenômeno empreendedor e corrobora a análise de que esse é um campo de
pesquisa recente, que agrega pesquisadores vindos de áreas distintas e que analisam diferentes
aspectos do empreendedorismo. Todavia, mostra também a necessidade de realizar novas
pesquisas e trabalhos que busquem agregar o conhecimento produzido.
Paralelamente, foi observado que das treze características treinadas pelo Empretec,
talvez o mais renomado treinamento para empresários no Brasil que visa desenvolver o
potencial empreendedor, apenas quatro aparecem entre as dez mais citadas pelos autores
revisados. Além disso, das quatro características observadas como centrais ao comportamento
empreendedor, apenas duas são diretamente treinadas: correr riscos e buscar oportunidades.
Identificou-se, posteriormente, que o potencial empreendedor dos pequenos empresários de
Brasília apresentou fraquezas justamente nas duas características ausentes. Embora não possa
ser tirada qualquer conclusão científica, pois o objetivo dessa pesquisa não era
especificamente avaliar as características do Empretec, os indícios acima descritos sugerem
uma revisão nas características desse curso, embora pesquisas e estudos de caráter mais
específico se façam necessários.
A análise do discurso de empresários brasileiros de sucesso sobre as características
que formam o perfil do empreendedor, coletado por Wollheim, B. e Marcondes, P. (2003);
110

Mendonça, L. (2002); e Britto, F. e Wever, L. (2003), apresentou, inicialmente, 69


características ligadas ao comportamento empreendedor. Uma segunda análise reduziu esse
número para 30, mas, mesmo assim, foram apresentadas seis características que não haviam
sido identificadas na revisão dos autores, totalizando 55 características distintas ligadas ao
perfil do empreendedor.
Entretanto, com exceção da inovação, as outras três características mais citadas pelos
autores revisados (busca oportunidades, correr riscos e criatividade) apareceram entre as cinco
características mais citadas pelo grupo de empresários. A inovação foi uma característica com
elevado índice de discordância entre os dois grupos, mas a discussão dos resultados indicou
que a mais provável explicação relaciona-se ao fato de que não é incomum tomar a
criatividade como sinônimo de inovação, e vice-versa, principalmente quando o tema não é
tratado dentro do rigor científico.
Dessa forma, é possível concluir que as características busca de oportunidades, correr
riscos, criatividade e inovação são elementos de elevado grau de consenso como
características do empreendedor, tanto do ponto de vista dos autores como, também, do ponto
de vista dos empresários. É possível concluir, também, que particularmente a característica
“busca de oportunidades”, indicada por 73% dos autores e 79% dos empresários,
apresentando um alto índice de indicações em ambos os grupos revisados, aparece como
central para o desenvolvimento do potencial empreendedor.
Após realizar a revisão bibliográfica sobre as características empreendedoras, é
possível concluir que o indivíduo empreendedor é aquele capaz de identificar uma
oportunidade, utilizar-se de criatividade para aproveitá-la, sendo capaz de implementar a sua
idéia, mesmo que corra riscos moderados, realizando com sucesso o processo de inovação.
Contudo, avançar na análise de literatura, visando eliminar confusões conceituais e
metodológicas da área de estudo sobre empreendedorismo é uma agenda de pesquisa aqui
sugerida pois a quantidade de autores e empresários revisados nesse trabalho são apenas uma
pequena parcela daqueles que devotam esforços para pesquisar o empreendedorismo.
Por medir o potencial empreendedor associado a esses fatores, foi selecionado o
Carland Entrepreneurship Index - CEI como instrumento de pesquisa. Inicialmente desejava-
se que a amostra fosse referente a toda a população de pequenos empresários de Brasília, mas,
por motivo de falta de recursos, optou-se por estabelecer alguns cortes na amostra até chegar,
no setor de serviços, aos donos de restaurantes e academias. Os resultados obtidos não podem,
assim, ser extrapolados para todo o universo de pequenos empresários, o que representa uma
limitação desse estudo.
111

Além disso, o CEI apresenta uma escala dual, na qual o respondente é forçado a
escolher uma de duas sentenças com que mais se identifica. Esse tipo de escala não permite
uma avaliação direta de intensidade para cada item, o que também significou uma limitação
do estudo.
Segundo a classificação proposta por Carland, Carland e Hoy (1992), há uma
concentração de 67,5% da amostra na categoria Empreendedor, que, segundo esses autores,
caracteriza-se por concentrar seus esforços no lucro e no crescimento, busca a inovação
através de melhorias incrementais e almeja o reconhecimento, a admiração e a riqueza.
Com relação ao objetivo de pesquisa, a análise dos dados coletados através do CEI
fornece evidência de que os pequenos empresários pesquisados possuem um potencial
empreendedor moderado, sendo considerados empreendedores segundo a escala do
instrumento. Entretanto, com relação às quatro características medidas, o grupo apresentou
notável disposição para correr riscos e forte presença da postura estratégica (busca de
oportunidades). Entretanto, mostrou-se frágil com relação às características de traços de
personalidade (criatividade e necessidade de realização) e propensão à inovação. Em
comparação com os resultados de pesquisas semelhantes com empresários de outras
localidades, a média de pontuação total do CEI (18,06) indica que os empresários pesquisados
possuem potencial empreendedor, na média, um pouco menor.
Notadamente, as duas características que foram melhor pontuadas foram aquelas
relacionadas aos fatores externos, ambientais, enquanto as duas características pior pontuadas
foram aquelas relacionadas ao indivíduo. Possivelmente a experiência administrativa ou os
treinamentos empresariais conseguiram desenvolver nos empresários a capacidade de estar
atento às oportunidades e de analisar e correr riscos. Entretanto, a inovação, criatividade ou a
necessidade de realização, parecem ser características que embora possíveis de ser
desenvolvidas, são mais complexas e, por isso, demoram para ser assimiladas, exigindo mais
tempo e disposição do indivíduo. Além disso, essas observações são meras conjecturas e
pedem maior comprovação científica por pesquisas subseqüentes a esta.
Entretanto, todas as conclusões e análises acima devem ser observadas com muito
cuidado, pois a escala adaptada neste estudo mostrou-se frágil quanto à validade e
fidedignidade. Sugere-se a aplicação da escala em outros contextos e amostras, bem como
analisar cuidadosamente a diferença entre os conceitos referentes aos fatores propostos por
Carland, Carland e Hoy (1992): postura estratégica, traços de personalidade, propensão ao
risco e inovação.
112

Sugere-se como agenda de pesquisa, especificamente, a elaboração de um novo


instrumento para medir o potencial empreendedor ou uma recodificação dos itens do CEI em
relação aos quatro fatores medidos pelo instrumento e uma adaptação dos itens à cultura
brasileira, uma vez que o instrumento, da forma como está, não apresentou índice de
confiabilidade suficiente para medir os fatores. Entretanto, cabe ressaltar que os resultados
aqui encontrados diferem daqueles identificados por outros pesquisadores, que validaram o
CEI da forma como ele se apresenta. Esse é mais um motivo que reforça a necessidade de
mais pesquisas que validem o instrumento.
Além disso, a amostra de 169 questionários respondidos apresenta-se no limite
considerado razoável para realização da análise fatorial para um instrumento de 33 itens.
Dessa forma, novas análises estatísticas, com base amostral maior, podem apresentar
resultados diferentes daqueles encontrados aqui.
Com relação às variáveis biográficas e funcionais e sua relação com o potencial
empreendedor, observou-se que sexo, renda, número de funcionários, tempo de
funcionamento, escolaridade e estado civil não apresentaram variações relevantes quanto à
pontuação média obtida no CEI. Entretanto, a variável “idade” apresentou diferença
significativa entre as médias de idade dos donos de estabelecimentos entrevistados. Com
relação a essa variável biográfica, os resultados encontrados reforçam os estudos de outros
autores e pesquisadores, mostrando que há maior potencial empreendedor nas pessoas mais
jovens.
As contribuições deste estudo consistem na organização das visões de diversos autores
sobre as características empreendedores em uma matriz de maior compreensão, na observação
de que as pesquisas realizadas pelos autores encontra respaldo no que é observado pelos
empresários brasileiros, mostrando o caráter prático da disciplina empreendedora, na
revalidação do CEI e na identificação de confusões conceituais e metodológicas na área de
estudo sobre empreendedorismo e pequenas empresas.
Por fim, espera-se que os resultados desta pesquisa possam vir a ser úteis para estudos
científicos sobre o comportamento empreendedor.
113

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123

APÊNDICE A: Roteiro de Pesquisa

Estamos interessados em verificar sua tendência de comportamento empreendedor. Solicitamos sua colaboração
respondendo a este instrumento. Agradecemos sua colaboração.

Assinale com um (X) qual alternativa melhor descreve seu comportamento ou maneira de ser para cada um dos
33 pares de afirmações apresentadas a seguir.

Objetivos por escrito para este negócio são cruciais.


1
É suficiente saber a direção geral em que você esta indo.

Eu gosto de pensar em mim mesmo como uma pessoa habilidosa.


2
Eu gosto de pensar em mim mesmo como uma pessoa criativa.

Eu não teria iniciado este negócio se eu não tivesse certeza de que seria bem sucedido.
3
Eu nunca terei certeza se este negócio dará certo ou não.

Eu quero que este negócio cresça e torne-se poderoso.


4
O real propósito deste negócio é dar suporte a minha família.

A coisa mais importante que eu faço para este negócio é planejar.


5
Sou mais importante no gerenciamento do dia-a-dia deste negócio.

Eu gosto de abordar situações de uma perspectiva otimista.


6
Eu gosto de abordar situações de uma perspectiva analítica.

Meu objetivo primário neste negócio é sobreviver.


7
Eu não descansarei até que nós sejamos os melhores.

Um plano deveria ser escrito para ser efetivo.


8
Um plano não escrito para desenvolvimento é suficiente.

Eu provavelmente gasto muito tempo com este negócio.


9
Eu divido meu tempo entre este negócio, família e amigos.

Eu tendo a deixar meu coração governar minha cabeça.


10
Eu tendo a deixar minha cabeça governar meu coração.

Minhas prioridades incluem um monte de coisas fora este negócio.


11
Uma das coisas mais importantes da minha vida é este negócio.

Eu sou aquele que tem de pensar e planejar.


12
Eu sou aquele que tem que fazer as coisas.

As pessoas que trabalham para mim trabalham duro.


13
As pessoas que trabalham para mim gostam de mim.

Eu anseio pelo dia em que gerenciar este negócio seja simples.


14
Se gerenciar ficar muito simples, eu iniciarei outro negócio.
124

Eu penso que eu sou uma pessoa prática.


15
Eu penso que eu sou uma pessoa imaginativa.

O desafio de ser bem sucedido é tão importante quanto o dinheiro.


16
O dinheiro que vem com o sucesso é a coisa mais importante.

17 Eu sempre procuro por novas maneiras de se fazer as coisas.


Eu procuro estabelecer procedimentos padrões para que as coisas sejam feitas certas.

Eu penso que é importante ser otimista.


18
Eu penso que é importante ser lógico.

Eu penso que procedimentos padrões são cruciais.


19
Eu aprecio o desafio de inventar mais do que qualquer coisa.

Eu gasto tanto tempo planejando quanto gerenciando este negócio.


20
Eu gasto a maior parte do meu tempo gerenciando este negócio.

Eu tenho percebido que gerenciar este negócio cai na rotina.


21
Nada sobre gerenciar este negócio é sempre rotina.

Eu prefiro as pessoas que são realistas.


22
Eu prefiro as pessoas que são imaginativas.

A diferença entre os concorrentes é a atitude do proprietário.


23
Nós temos alguma coisa que fazemos melhor do que os concorrentes.

Meus objetivos pessoais giram em torno deste negócio.


24
Minha vida real é fora deste negócio, com minha família e amigos.

Eu adoro a idéia de tentar ser mais esperto que os concorrentes.


25
Se você mudar muito, você pode confundir os clientes.

A melhor abordagem é evitar o risco tanto quanto possível.


26
Se você quer exceder a concorrência, você tem que assumir alguns riscos.

Eu odeio a idéia de pegar dinheiro emprestado.


27
Empréstimo é somente outra decisão de negócios.

Qualidade e serviços não são suficientes. Você tem que ter uma boa imagem.
28
Um preço justo e boa qualidade é tudo o que qualquer cliente realmente deseja.

As pessoas pensam em mim como um trabalhador esforçado.


29
As pessoas pensam em mim como alguém fácil de se relacionar.

Os únicos empreendimentos que este negócio faz são aqueles relativamente seguros.
30
Se você quer que este negócio cresça, você tem que assumir alguns riscos.

A coisa que eu mais sinto falta em trabalhar para alguém é a segurança.


31
Eu realmente não sinto falta de trabalhar para alguém.

32 Eu me preocupo com os direitos das pessoas que trabalham para mim.


Eu me preocupo com os sentimentos das pessoas que trabalham para mim.
125

É mais importante ver possibilidades nas situações.


33
É mais importante ver as coisas das maneiras que elas são.

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126

ANEXO A: Carland Entrepreneurship Index

Please darken the box next to the ONE of each pair of statements, which comes CLOSEST to representing the
way you USUALLY feel.

Written objectives for this business are crucial.


1
It'
s enough to know the general direction you are going.

I like to think of myself as a skillful person.


2
I like to think of myself as a creative person.

I wouldn't have started this business if I hadn'


t been sure that it would go.
3
I'm never sure whether this business will go or not.

I want this business to grow and become a major force.


4
The real purpose of this business is to support my family.

The most important thing I do for this business is plan.


5
I am most important in day to day management of this business.

I like to approach situations from a sympathetic perspective.


6
I like to approach situations from an analytical perspective.

My primary purpose here is to survive.


7
I won'
t rest until we are the best.

A plan should be written in order to be effective.


8
An unwritten plan for development is enough.

I probably spend too much time with this business.


9
I balance my time between this business, family and friends.

I tend to let my heart rule my head.


10
I tend to let my head rule my heart.

My priorities include a lot of things outside this business.


11
One of the most important things in my life is this business.

I'
m the one who has to do the thinking and planning.
12
I'
m the one who has to get things done.

People who work for me, work hard.


13
People who work for me, like me.

I look forward to the day when managing this business is simple.


14
If managing gets too simple, I'
ll start another business.

I think I am a practical person.


15
I think I am an imaginative person.
127

The challenge of being successful is as important as the money.


16
Money, which comes with success, is the most important thing.

I'm always looking for new ways to do things.


17
I try to establish set procedures to get things done right.

I think it is important to be sympathetic.


18
I think it is important to be logical.

I think that standard operating procedures are crucial.


19
I enjoy the challenge of invention more than anything else.

I spend as much time planning as in running this business


20
I spend most of my time running this business.

I have found that managing this business falls into a routine.


21
Nothing around here is ever routine.

I prefer people who are realistic.


22
I prefer people who are imaginative.

The difference between competitors is the owner'


s attitude.
23
We have some things, which we do better than the competitors.

My personal objectives revolve around this business.


24
My real life is outside this business with family and friends.

I enjoy the idea of trying to outwit the competition.


25
If you change too much, you can confuse the customers.

The best approach is to avoid risky moves whenever possible.


26
If you want to outdo the competition you have to take some risks.

I hate the idea of having to borrow money.


27
Borrowing is just another business decision.

Quality and service aren'


t enough. You must have a good image.
28
A fair price and good quality is all any customer really wants.

People think of me as a hard worker.


29
People think of me as easy to get along with.

The only undertakings this business makes are those that are relatively certain.
30
If you want the business to grow you have to take some risks.

The thing I miss most about working for someone else is security.
31
I don'
t really miss much about working for someone else.

I am concerned about the rights of people who work for me.


32
I am concerned about the feelings of people who work for me.

It is more important to see possibilities in a situation.


33
It is more important to see things the way they are.
128

ANEXO B: Instruções para tabulação do CEI

Scoring Instructions

Put a check in the appropriate box for the first or second choice for each of the questions.
Count the number of checks appearing in boxes, which have the word "count" appearing in
them. The total of number of checks in "count" boxes will be the respondent' s
Entrepreneurship Index and will range from 0 to 33.

Questions 1st 2nd


1 Count
2 Count
3 Count
4 Count
5 Count
6 Count
7 Count
8 Count
9 Count
10 Count
11 Count
12 Count
13 Count
14 Count
15 Count
16 Count
17 Count
18 Count
19 Count
20 Count
21 Count
22 Count
23 Count
24 Count
25 Count
26 Count
27 Count
28 Count
29 Count
30 Count
31 Count
32 Count
33 Count

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