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HISTÓRIA DO

ENSINO RELIGIOSO E
PERSPECTIVAS ATUAIS

Autoria: Giseli Cristina dos Passos

1ª Edição
Indaial - 2021
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci

Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz


Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2021


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
P289h

Passos, Giseli Cristina dos

História do Ensino Religioso e perspectivas atuais. / Giseli


Cristina dos Passos. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

132 p.; il.

ISBN 978-65-5646-319-3
ISBN Digital 978-65-5646-318-6
1. Ensino Religioso. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da
Vinci.

CDD 200

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
A História do Ensino Religioso no Brasil................................... 7

CAPÍTULO 2
Ensino Religioso: Legislação Normativa.................................. 49

CAPÍTULO 3
Ensino Religioso: Sala de Aula, Desafios e Perspectivas...... 91
APRESENTAÇÃO
Caro pós-graduando, o Ensino Religioso é a disciplina em que se confia
a educação referente à religiosidade, do ponto de vista das escolas laica e
pluralista. As religiões estão diretamente ligadas à história humana e refletem nos
comportamentos pessoal e social da humanidade.

É preciso elucidar que o Ensino Religioso existe sob o fundamento do


conhecimento, sendo, atualmente, de matrícula facultativa e oferta obrigatória.
Assim, buscaremos compreender como a disciplina se apresentou e se
reestruturou no cenário educacional.

O primeiro capítulo fará referência à historicidade da disciplina, analisará o


percurso do Ensino Religioso do Brasil-Colônia, os desdobramentos no período
da República, a partir de 1889, até a aprovação da Lei nº 9.475/97. Destacará
a luta empreendida pela Igreja Católica para a manutenção do Ensino Religioso
no ordenamento curricular, além dos constantes conflitos para a manutenção e a
estruturação da disciplina no ensino fundamental das escolas públicas do país.
Apresentará o FONAPER como importante associação não governamental para
reestruturação da disciplina, promovendo a criação das Diretrizes Curriculares do
Ensino Religioso.

Bons estudos!
C APÍTULO 1
A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO
BRASIL

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Situar o Ensino Religioso de cada período histórico no Brasil.


 Identificar as características educacionais do Ensino Religioso no decurso da
história, além da transformação ao longo do tempo.
 Desenvolver uma visão panorâmica da história do Ensino Religioso no Brasil.
 Entender as relações entre o Ensino Religioso e a sociedade no passado e no
presente, e identificar as projeções para a disciplina no futuro.
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

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Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Caro pós-graduando, a discussão acerca do Ensino Religioso, na educação
pública do Brasil, é ponto de debate frequente. Com matrícula facultativa e oferta
obrigatória, é, por vezes, identificada a partir de padrões históricos e culturais
que a associam a uma prática pedagógica contrária à laicidade e à diversidade
religiosa.

Agora, buscaremos compreender como a disciplina se apresentou e se


reestruturou no cenário educacional, uma vez que a presença foi motivada por
contextos históricos, econômicos, sociais e políticos, que mudaram, de acordo
com os interesses dos gestores políticos, religiosos e lideranças da área ao longo
do processo histórico.

O primeiro capítulo fará referência à historicidade da disciplina, analisará o


percurso do Ensino Religioso do Brasil-Colônia, os desdobramentos no período
da República, a partir de 1889, até a aprovação da Lei nº 9.475/97. Destacará
a luta empreendida pela Igreja Católica para a manutenção do Ensino Religioso
no ordenamento curricular, além dos constantes conflitos para a manutenção e a
estruturação da disciplina no ensino fundamental das escolas públicas do país.
Apresentará o FONAPER como importante associação não governamental para
reestruturação da disciplina, promovendo a criação das Diretrizes Curriculares do
Ensino Religioso.

A partir de agora, prezado pós-graduando, você inicia a sua leitura para


compreender como essa disciplina se constituiu no cenário educacional brasileiro
ao longo da história. Descubra conosco como se deram a formação da identidade
e o papel dessa disciplina. Bons estudos!

2 O ENSINO RELIGIOSO NOS


PERÍODOS COLONIAL E IMPERIAL
Entendemos, por Período Colonial, a fase que vai de 1530 a 1822, sendo
caracterizada pela colonização portuguesa em terras que, posteriormente,
chamar-se-iam de Brasil. Importante demarcar que o período de 1500 a 1530 é
conhecido por Período Pré-Colonial, pois, apesar da chegada dos portugueses
a essas terras, houve uma marginalização de Portugal em relação ao Brasil, e o
interesse português, naquele momento, era o comércio, com as chamadas Índias,
apenas existindo efetiva colonização posteriormente (SCHWARCZ; STARLING,
2015).

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História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Observe, a seguir, uma figura que remeterá ao primeiro ato oficial do Brasil,
a primeira missa. Trata-se de uma pintura histórica do brasileiro Victor Meirelles e
foi inspirada na carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal.

FIGURA 1 – PRIMEIRA MISSA

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_missa_no_Brasil>. Acesso em: 9 abr. 2021.

Caro pós-graduando, aprofunde o seu conhecimento a respeito


da obra anterior de Victor Meirelles. Acesse o site e veja o vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=El3nhTDreyw.

Para Borin (2018, Nesse processo de domínio português em terras brasileiras, é


p. 131), “o ‘Ensino importante destacar a participação da Companhia de Jesus, ordem
Religioso’ se religiosa católica, que foi fundada em 1534, mas que desembarcou
caracterizava como
por aqui apenas em 1549, com os objetivos de difundir o cristianismo
‘doutrinação’,
promovendo as nas terras americanas, converter indígenas e integrá-los à civilização
‘aulas de catequese’ ocidental (SCHWARCZ; STARLING, 2015).
aos nativos e negros
‘pagãos’. O enfoque Com os jesuítas, o ensino da religião católica, no Brasil, tornou-
central da proposta se uma questão de cumprimentos de acordos entre a Igreja Católica
era promover
e a Coroa Portuguesa, visando, principalmente, a uma doutrinação e
uma ‘Verdade
de Fé’, tendo um a uma imposição das ideologias colonialistas, baseadas nos valores
conhecimento sociais cristãos. Para Borin (2018, p. 131), “o ‘Ensino Religioso’ se
vinculado à religião caracterizava como ‘doutrinação’, promovendo as ‘aulas de catequese’
cristã”. aos nativos e negros ‘pagãos’. O enfoque central da proposta era

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Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

promover uma ‘Verdade de Fé’, tendo um conhecimento vinculado à religião


cristã”. Esse momento demarcaria os primeiros passos de uma educação religiosa
no nosso país.

Em 1707, surgiram as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia,


considerado o primeiro documento oficial que tratou da educação religiosa
no Brasil e que previa a obrigação dos senhores proprietários de cuidarem da
educação religiosa dos escravizados, pois, para Torres-Londono (2006, p. 276), “ao
contrário do que aconteceu com a população indígena, os membros da hierarquia
da igreja, bispos, cónegos, visitadores eclesiásticos e as ordens religiosas, não se
preocuparam em defender os africanos, questionar a legitimidade do cativeiro ou
definir, para eles, formas de atendimento religioso”.

Cabe destacar que não se falava, ainda, do Ensino Religioso como uma
disciplina, tratava-se mais de uma formação religiosa.

Já em 1759, o então Marquês de Pombal, ministro português, expulsou os


jesuítas de Portugal e das colônias, o que incluía o Brasil. A educação formal,
antes, a cargo da igreja, passou para as mãos de leigos, nas chamadas aulas
régias (SCHWARCZ; STARLING, 2015).

Para melhores compreensões histórica e legal do Ensino


Religioso, o quadro a seguir servirá como uma síntese da leitura
anterior.

LINHA DO TEMPO ENSINO RELIGIOSO PERÍODO COLONIAL

FONTE: A autora

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História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

1 - Vindos para a América do Sul com um projeto claro de


catequizar grupos indígenas que encontrassem. O início
das atividades jesuítas, na América Portuguesa, deu-se em
1549. São famosas as cartas dos padres jesuítas Manuel
de Nóbrega e José de Anchieta, desde meados do século
XVI, relatando as tentativas de conversão. A seguir, você
encontrará um trecho de uma delas:

“Convidamos os meninos a ler e a escrever e, conjunctamente, lhes


ensinamos a doutrina christã [...], porque muitos se admiram de como
sabemos ler e escrever e têm grande inveja e vontade de aprender
e desejam ser christãos como nós outros, mas somente os impede
o muito que custa tirar os maus costumes delles, e nisso está, hoje,
toda a fadiga nossa”.

(Carta de Pe. Manuel da Nóbrega ao D. Navarro, seu mestre, em


Coimbra - Salvador, 10 de agosto de 1546)

A partir da leitura do trecho exposto, é possível identificar


um dos principais instrumentos utilizados pelos jesuítas na
catequização dos indígenas. Qual seria? Além disso, para
Manuel de Nóbrega, qual seria o maior impedimento para a
catequese?

Após um longo período de domínio português, o Brasil proclamou a sua


independência em 1822, e passou a ser governado por D. Pedro I. A história do
Brasil-Império se estendeu até 1889. A primeira Constituição brasileira, e única
do Império, foi outorgada em 25 de março de 1824, e definia o governo como
monarquia constitucional hereditária, além disso, manteve a religião católica como
religião oficial do Império, além de restringir a vivência das outras religiões aos
cultos doméstico e particular.

Art. 5. A Religião Cathólica Apostólica Romana continuará


a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão
permitidas com seu culto doméstico, ou particular, em casas
para isso destinadas, sem forma alguma que seja exterior do
templo (BRASIL, 1824).

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Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

Esse período da história do Brasil demarcou uma segunda fase do Ensino


Religioso no nosso país, agora, conectada ao Estado, porém, ainda voltada para
um ensino da fé católica, servindo como aparelho ideológico, devido ao poder que
a igreja ainda detinha. Para Junqueira (2011, p. 37), o Ensino Religioso, nessa
fase, “caracterizava-se como catequese dirigida aos índios, escravos e ao povo
como um todo”.

Durante o Império, vimos surgir a primeira lei de educação do Brasil, a Lei


Nacional de Instrução Pública, de 15 de outubro de 1827. Nela, determinava-se a
criação de Escolas de Primeiras Letras, a serem implementadas em cidades-vilas
e locais populosos. Verifique o Art. 6º, que contemplava o Ensino Religioso:

Art. 6. Os professores ensinarão a ler e a escrever as quatro


operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e
proporções, as noções mais gerais de geometria prática,
a gramática de língua nacional, e os princípios de moral
cristã e da doutrina da religião católica e apostólica romana,
proporcionados à compreensão dos meninos, preferindo, para
as leituras, a Constituição do Império e a história do Brasil
(BRASIL, 1827).

Naquele momento em que a rede pública de ensino começou a existir


timidamente e lentamente, ainda se verificava uma imposição de credo e de
religião, e a finalidade esperada do Ensino Religioso era a catequização e a
formação moral do indivíduo. Importante observar que, durante o período imperial,
a instrução primária era privilégio usufruído somente para os mais favorecidos,
sendo notável a distância entre a classe dominante e a grande massa analfabeta.
Surgiam, nas cidades mais populosas, as escolas para meninas.

1 - Com base na leitura anterior e na do trecho a seguir, da


Lei Nacional de Instrução Pública, de 1827, será possível
perceber que, no período do Império, prevaleceu a
presença do Ensino Religioso no currículo escolar,
visando dar legitimidade à aliança estabelecida entre
o Estado e a Igreja. Além da imposição de credo e de
religião, qual outra finalidade era esperada do Ensino
Religioso no período imperial?

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História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

TRECHOS DA LEI NACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA DE 1827

FONTE: <https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/
nas-escolas-do-imperio-menino-estudava-geometria-e-menina-
aprendia-corte-e-costura>. Acesso em: 9 abr. 2021.

Para melhores compreensões histórica e legal do Ensino Religioso, o


quadro a seguir servirá como uma síntese da leitura anterior.

LINHA DO TEMPO ENSINO RELIGIOSO PERÍODO IMPERIAL

FONTE: A autora

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Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

3 O ENSINO RELIGIOSO NO
PERÍODO REPUBLICANO
Pós-graduando, Proclamação da República, no Brasil, aconteceu em 1889.
Esse período da nossa história é dividido em fases, para melhor entendimento:

• República Velha 1889 – 1930.


• Era Vargas 1930-1945.
• República Populista 1945-1964.
• Ditadura Civil-Militar 1964-1985.
• Nova República 1985 – hoje.

Abordaremos as três primeiras fases do período republicano, sendo que as


duas últimas terão partes próprias para abordagem. Assim, voltemos ao início
dessa história. A Proclamação da República foi, em grande parte, resultado da
aliança dos cafeicultores com o exército, visando vencer um inimigo comum: o
Império. Nos primeiros dias, após 15 de novembro de 1889, houve um consenso
que mencionava que os militares deveriam exercer o poder político, unidade
que se romperia posteriormente. O governo provisório da recém-instalada
República desejava resolver os primeiros e mais urgentes problemas criados pela
proclamação, até que fosse redigida uma nova Constituição.

FIGURA 2 – PINTURA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA, DE BENEDITO CALIXTO

FONTE: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/11/12/republica-completa-
130-anos-com-problemas-ainda-a-espera-de-solucao>. Acesso em: 9 abr. 2021.

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História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Aprofunde o seu conhecimento acerca da Proclamação da


República em https://www.youtube.com/watch?v=T2gMKpADSQU.

O primeiro presidente da República, o marechal Deodoro da Fonseca, desde


o início, cercou-se de positivistas, dentre eles, Rui Barbosa. Importante precursor
para as mudanças educacionais, reivindicou, também, a Igreja e o Estado livres,
e defendia a liberdade de culto religioso, mas em local próprio e desvinculado das
escolas.

Para Tomazini (2016, p. 38), “o Estado assume uma postura laica, isto é,
passa a não professar nenhuma crença em particular e desvincula a religião de
qualquer interferência na educação. Isso gera a eliminação da aula de religião nas
escolas públicas”.

Positivismo foi uma corrente filosófica de Auguste Comte (1798-


1857), que surgiu como reação ao idealismo, cuja proposta era dar, à
filosofia, um caráter distante da teologia e da metafísica, e considerar,
como único e verdadeiro, o conhecimento humano, baseando-se
apenas em fatos da experiência.

FONTE: https://www.michelis.uol.com.br. Acesso em: 9 abr. 2021.

Nesse contexto, foi oficializado o Decreto nº 119-A, de 07 de janeiro de 1890


(BRASIL, 1890). Nele, houve a separação entre Estado e igreja no Brasil, iniciando-
se, assim, um novo momento na história do país, que repercutiria fortemente no
campo educacional, e, em particular, no Ensino Religioso, pois esse projeto de
laicidade do Estado brasileiro se efetivaria com a Constituição de 1891. O Art.
72, parágrafo 6°, cita que “será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos
públicos” (BRASIL, 1891). Para Cury (2004, p. 76), a Carta Magna de 1891

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Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

se laiciza, repondo a liberdade plena de culto Para Cury (2004,


e a separação da Igreja e do Estado [...], e põe
p. 76), a Carta
o reconhecimento exclusivo, pelo Estado, do
casamento civil, a secularização dos cemitérios Magna de 1891 se
e, finalmente, determina a laicidade nos laiciza, repondo a
estabelecimentos de ensino mantidos pelos poderes liberdade plena de
públicos (CURY, 2004, p. 76). culto e a separação
da Igreja e do
Estado [...], e põe
o reconhecimento
exclusivo, pelo
Estado, do
casamento civil,
a secularização
dos cemitérios
e, finalmente,
determina a
laicidade nos
estabelecimentos
de ensino mantidos
pelos poderes
públicos (CURY,
2004, p. 76).

O termo laico significa algo alheio ao clero ou a qualquer outra


ordem religiosa; leigo. Oposto ao controle do clero sobre a sociedade.

FONTE: https://www.michelis.uol.com.br. Acesso em: 9 abr. 2021.

Em https://www.youtube.com/watch?v=Y77Sg6Npv0A&t=615s,
você encontrará um debate a respeito do Estado laico e da intolerância
religiosa, de suma importância para a prática da educação.

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História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Aprofunde o seu conhecimento acerca da intolerância religiosa


no nosso país, fazendo a leitura da obra NOGUEIRA, S. Intolerância
religiosa. São Paulo: Editora Jandaíra, 2020.

O Estado laico pode autorizar o Ensino Religioso nas suas escolas?

Em um paradigma cartesiano, dicotômico, pode-se afirmar que cabe,


ao Estado “laico”, a preocupação com os corpos, e não com os
espíritos, com as ciências e as tecnologias, e não com as crenças e
as religiões, com a vida terrena presente, e não com a vida depois da
morte, com o natural, e não com o sobrenatural, com o imanente, e
não com o transcendente.
Entende-se que Ensino Religioso é coisa de espírito, de igreja,
assunto confessional, dogmático, sobrenatural, próprio de grupos
religiosos. Estado e igrejas não só estão separados, mas, como água
e óleo, vivem em mundos e paradigmas diferentes e, não poucas
vezes, também divergentes. Acontece, porém, que o cidadão crente
se sente dividido, pois pertence, ao mesmo tempo, ao estado civil
(matéria, corpo) e ao estado religioso (espírito, alma).

A partir de uma visão globalizante do ser humano, pode-se ver as


duas realidades integradas (a profana e a sagrada), e, a partir daí,
também, pode-se visualizar, em uma sociedade democrática, a
possibilidade de cooperação e a parceria entre os gestores dessas
realidades profanas e religiosas, entre ciência e religião, entre Estado
e igrejas. Consequentemente, autorizar o Ensino Religioso não
confessional, o que já existe, não fere a natureza do Estado laico,
pois respeita a diversidade religiosa da população.

A religião não é assunto tão somente do indivíduo que crê e milita


em alguma igreja, mas é um fato antropológico e social que perpassa
todos os âmbitos de vida dos cidadãos que compõem o Estado plural
e laico. Daí que, em uma proposta de formação integral, a dimensão
religiosa não pode ser excluída.

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Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

Entende-se que a escola é o espaço de construção de conhecimentos


e, principalmente, de socialização dos conhecimentos historicamente
produzidos e acumulados. Se o conhecimento religioso faz parte do
conhecimento humano, o patrimônio da humanidade deve, também,
estar disponível a todos os educandos.

O Ensino Religioso, na matriz curricular, deve apresentar a religião


como fato antropológico e social que permeia a vida dos cidadãos,
crentes e não crentes, de qualquer sociedade, de todas as culturas.

Em uma educação integral e de qualidade, a dimensão religiosa


não pode ser excluída. Entende-se, pois, que a única maneira de
viabilizar a laicidade do Estado, com o Ensino Religioso nas escolas
públicas, é através do modelo não confessional, que traz doutrinas,
dimensões sociais das diferentes religiões. Tal entendimento se
justifica em razão de que a laicidade impõe que o Estado se mantenha
neutro em relação às diferentes concepções religiosas presentes na
sociedade, sendo-lhe vedado tomar partido em questões de fé, além
de buscar o favorecimento ou o embaraço de qualquer crença ou
grupo de crenças.

FONTE: CORDEIRO, D. Diversidade religiosa, direitos humanos e Ensino


Religioso. In: POZZER, A. et al. Ensino religioso na educação básica:
fundamentos epistemológicos e curriculares. Florianópolis: Saberes em
Diálogo, 2015. p. 145-153. Disponível em: https://fonaper.com.br/biblioteca/
ensino-religioso/ensino-religioso-na-educacao-basicafundamentos-
epistemologicos-e-curriculares-2015/. Acesso em: 9 abr. 2021.

1 - Faça uma pesquisa dos seguintes termos e dos respectivos


exemplos de países na atualidade: Estado laico, Estado
confessional, Estado teocrático e Estado ateu.

Para Saviani (2008, p. 179), “a exclusão do Ensino Religioso das escolas foi
algo que a Igreja jamais aceitou, o que a levou a mobilizar todas as suas forças
para reverter esse estado de coisas”. A Igreja Católica lutará, a todo o momento,
para garantir a inserção da disciplina no currículo e para defender a importância e
a legitimidade com o Estado laico. Importante observar que, ao longo da história

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História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

da Primeira República (1889 - 1930), a oportunidade de ingresso e a qualidade


do ensino brasileiro permaneceram como privilégios de uma pequena classe
dominante em detrimento de uma grande parcela da população, formada apenas
para trabalhar.

A crise de 1929 gerou um desgaste na economia cafeeira brasileira.


Surgiu, assim, um movimento revolucionário que derrubou a República Velha.
Encabeçado por Getúlio Vargas, o movimento aglutinou diversas forças sociais:
oligarquias dissidentes, classe média, burguesia urbana e instituições, como o
exército, reivindicando a participação política em um cenário dominado, até então,
quase que, exclusivamente, pela oligarquia cafeeira.

FIGURA 3 – GETÚLIO VARGAS

Vargas criou o
Ministério da
Educação e Saúde,
FONTE: <https://www.bbc.com/portuguese/
ocupado por brasil-46159747>. Acesso em: 9 abr. 2021.
Francisco Campos.
O novo ministro,
articulado com a Getúlio Vargas, líder máximo da Revolução de 30, governou
hierarquia católica e
o Brasil até 1945. O governo atravessou uma fase provisória (1930-
antiliberal, colaborou
para o retorno do 1934), uma fase constitucional (1934-1937) e uma fase ditatorial (1937-
Ensino Religioso 1945) (SCHWARCZ; STARLING, 2015). Naquele momento da nossa
ao currículo, por história, chamada de Era Vargas, aconteceram mudanças significativas
meio do Decreto nº na relação entre a Igreja e o Estado, principalmente, no que se refere
19.941, de 30 de ao Ensino Religioso nas escolas públicas.
abril de 1931, que
promovia o Ensino
Religioso, de modo Vargas criou o Ministério da Educação e Saúde, ocupado por
facultativo, nos Francisco Campos. O novo ministro, articulado com a hierarquia
estabelecimentos católica e antiliberal, colaborou para o retorno do Ensino Religioso ao
educacionais, a currículo, por meio do Decreto nº 19.941, de 30 de abril de 1931, que
níveis primário, promovia o Ensino Religioso, de modo facultativo, nos estabelecimentos
secundário e
educacionais, a níveis primário, secundário e normal.
normal.

20
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

Desde então, a inclusão do Ensino Religioso é profundamente Após discussões


questionada no cenário republicano de um país laico. Após discussões acerca da inclusão,
acerca da inclusão, ou não, na Carta Magna de 1934, o artigo 153 ou não, na Carta
propôs: Magna de 1934, o
artigo 153 propôs.
Art. 153 O Ensino Religioso será de frequência
facultativa e ministrado de acordo com os princípios da confissão
religiosa do aluno, manifestada pelos pais ou responsáveis, e
constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias,
secundárias, profissionais e normais (BRASIL, 1934).

Para Cury (2004, p. 189), “o Ensino Religioso aparece em todas as


constituições federais desde 1934, sob a figura de matrícula facultativa. Contudo,
tal permanência não se deu sem conflitos”, e fez “parte de um capítulo próprio
da história da educação brasileira, nas mais diferentes legislações de ensino”.
Interessante perceber que a lei não oferecia alternativa com o que fazer com os
alunos que optassem por não assistir às aulas, fato que permanece em questão
até os dias atuais.

O caráter facultativo

O caráter facultativo da oferta do Ensino Religioso merece uma


pequena reflexão. Ser facultativo é não ser obrigatório na medida
em que não é um dever. O caráter facultativo caminha na direção de
salvaguardas para não ofender o princípio da laicidade. O mesmo
se pode dizer da vedação de quaisquer formas de proselitismo e
do fato de deixar, a uma entidade civil multirreligiosa, a definição de
conteúdos. Como diz o parecer CP/CNE nº 05/97:

A Constituição apenas reconhece a importância do


Ensino Religioso para a formação básica comum do
período de maturação da criança e do adolescente
que coincide com o ensino fundamental e permite uma
colaboração entre as partes, desde que estabelecida
em vista do interesse público e respeitando – pela
matrícula facultativa – opções religiosas diferenciadas
ou, mesmo, a dispensa de frequência de tal ensino na
escola (p. 2).

O caráter facultativo de qualquer coisa gera o livre-arbítrio da


pessoa responsável por realizar ou deixar de realizar algo que é
proposto. A faculdade demonstra a a possibilidade de poder fazer ou
não, de agir ou não como algo inerente ao direito subjetivo da pessoa.

21
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Ora, para que o caráter facultativo seja efetivo e a possibilidade de


escolha se exerça como tal, é necessário que, dentro de um espaço
regrado como é o das instituições escolares, haja a oportunidade
de opção entre o Ensino Religioso e outra atividade pedagógica,
igualmente significativa para tantos quantos que não fizerem a
escolha pelo primeiro. Não se configura, como opção, a inatividade,
a dispensa ou as situações de apartamento em locais que gerem
constrangimento.

Ora, a (s) atividade (s) pedagógica (s) alternativa (s), constante


(s) do projeto pedagógico do estabelecimento escolar, igualmente,
do Ensino Religioso, deve (m) merecer, da parte da escola para os
pais ou os alunos, a devida comunicação, a fim de que estes possam
manifestar vontade perante uma das alternativas. Esse exercício de
escolha, então, é um momento importante para a família, e para os
alunos exercerem, conscientemente, a dimensão da liberdade como
elemento constituinte da cidadania.

FONTE: CURY, C. R. J. Ensino Religioso na escola pública: o retorno de


uma polêmica recorrente. Revista Brasileira de Educação, Minas
Com a instauração Gerais, v. 1, n. 27, p. 183-213, 2004. Disponível em: https://www.scielo.
do Estado Novo, em br/pdf/rbedu/n27/n27a12.pdf. Acesso em: 9 abr. 2021.
1937, a Constituição
de 1934, logo, foi
substituída por uma
nova Carta Magna,
que mantinha o
Com a instauração do Estado Novo, em 1937, a Constituição de
Ensino Religioso
com a seguinte 1934, logo, foi substituída por uma nova Carta Magna, que mantinha
ressalva, no Art. o Ensino Religioso com a seguinte ressalva, no Art. 133: “O Ensino
133: “O Ensino Religioso poderá ser contemplado como matéria do curso ordinário
Religioso poderá das escolas primárias, normais e secundárias. Não poderá, porém,
ser contemplado constituir objeto de obrigação dos mestres ou dos professores, nem de
como matéria do
frequência compulsória por parte dos alunos” (PAULY, 2004, p. 175).
curso ordinário
das escolas
primárias, normais Durante essa fase ditatorial varguista, é importante destacar o
e secundárias. Não Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de 1942, que instituiu a lei orgânica
poderá, porém, do ensino secundário e dispunha, no Art. 21:
constituir objeto
de obrigação dos Art. 21 O ensino de relação constitui parte integrante da
mestres ou dos educação da adolescência, sendo lícito, aos estabelecimentos
professores, nem de ensino secundário, incluí-lo nos estudos do primeiro e do
de frequência segundo ciclos.
compulsória por Parágrafo único. Os programas de ensino de religião e o
parte dos alunos” regime didático serão fixados pela autoridade eclesiástica
(PAULY, 2004, p. (BRASIL, 1942).
175).

22
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

A participação do Brasil, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ao lado


dos aliados, criou uma situação complicada: combatia-se a ditadura nazifascista na
Europa, enquanto aqui se mantinha um regime ditatorial, já desgastado. Em 1943,
começou a articulação para a redemocratização do país. Getúlio, percebendo que
tal processo era inevitável, sinalizou em direção ao abrandamento da ditadura,
antecipando o processo de redemocratização. Marcaram-se as eleições, porém,
o exército, em 1945, desencadeou um golpe, derrubando Vargas e garantindo as
eleições democráticas sem a participação dele.

FIGURA 4 – JORNAL O GLOBO EDIÇÃO DE 30 DE OUTUBRO DE 1945

FONTE: <https://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos>. Acesso em: 9 abr. 2021.

Por fim, pouco restava do pacto de 1934, e o futuro regime Art. 168 A legislação
restabeleceria a tradição republicana de afastamento entre o Estado e do ensino adotará
a igreja, porém, mesmo assim, o Ensino Religioso ficou garantido na os seguintes
Constituição Federal de 1946, devido à articulação de grupos religiosos princípios:
vinculados à Igreja Católica. [...] V - o Ensino
Religioso constitui
disciplina dos
Art. 168 A legislação do ensino adotará os seguintes
princípios:
horários das escolas
[...] V - o Ensino Religioso constitui disciplina oficiais, é de
dos horários das escolas oficiais, é de matrícula matrícula facultativa
facultativa e será ministrado, de acordo com a e será ministrado,
confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, de acordo com
se for capaz, ou pelo seu representante legal ou a confissão
responsável (BRASIL, 1946). religiosa do aluno,
manifestada por ele,
Para Tomazini (2016, p. 44), “neste período de redemocratização se for capaz, ou pelo
do país, o Ensino Religioso foi visto como uma disciplina que propiciou seu representante
legal ou responsável
um constrangimento no cotidiano escolar pelos defensores da escola
(BRASIL, 1946).
laica, visto que legitimaria, mais uma vez, o modelo confessional”.

23
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Em 1961, foi promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional (LDB), que definia e regularizava a organização da educação brasileira
com base nos princípios presentes na Constituição. Um ponto importante de
disputa foi a questão do Ensino Religioso nas escolas públicas, que se formaram,
no período da elaboração, dois grupos opostos: um a favor da inclusão do Ensino
Religioso na LDB, esse grupo, liderado pela Igreja Católica; e, o outro, contra,
como a Associação Brasileira de Educação. Como resultado dessa disputa, o
Ensino Religioso continuou a difundir os ensinamentos em sala de aula. Veja o
que a Lei n° 4024/61 propôs no Art. 97:

Art. 97 O Ensino Art. 97 O Ensino Religioso constitui disciplina dos horários das
escolas oficiais, é de matrícula facultativa, e será ministrado,
Religioso constitui
sem ônus, para os poderes públicos, de acordo com a confissão
disciplina dos
religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo
horários das escolas seu representante legal ou responsável.
oficiais, é de § 1° A formação de classe, para o Ensino Religioso, independe
matrícula facultativa, de número mínimo de alunos.
e será ministrado, § 2° O registro dos professores de Ensino Religioso será
sem ônus, para os realizado perante a autoridade religiosa respectiva (BRASIL,
poderes públicos, 1961).
de acordo com
a confissão Nesse período, a disciplina de Ensino Religioso continuava a ser
religiosa do aluno, de matrícula facultativa, com professores escolhidos por autoridades
manifestada por
religiosas, de forma voluntária ou financiada por tradições religiosas e
ele, se for capaz,
ou pelo seu com o desafio de lecionar, conforme crença de cada estudante.
representante legal
ou responsável.
§ 1° A formação
de classe, para o
Ensino Religioso,
independe de
número mínimo de
alunos.
§ 2° O registro dos
professores de
Ensino Religioso
será realizado
perante a autoridade
religiosa respectiva
(BRASIL, 1961).

Para melhores compreensões histórica e legal do Ensino


Religioso, o quadro a seguir servirá como uma síntese da leitura
anterior.

24
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

LINHA DO TEMPO ENSINO RELIGIOSO REPÚBLICA VELHA,


ERA VARGAS E REPÚBLICA POPULISTA

FONTE: A autora

4 O ENSINO RELIGIOSO NA
DITADURA CIVIL-MILITAR
A Ditadura Civil-Militar, instaurada em 1964, estendeu-se por 21 anos, nos
quais a presidência da República foi ocupada, sucessivamente, por generais
do exército. Foi um período marcado por extremo autoritarismo e ausência de
democracia no nosso país. Vimos florescer, na história do Brasil, violência, censura
e repressão, “gerando profundas mudanças em diversos setores, inclusive, na
educação” (TOMAZINI, 2016, p. 45).

25
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

FIGURA 5 – PASSEATA DOS CEM MIL, DE 1968

FONTE: <https://www.memorialdademocracia.com.br>. Acesso em: 9 abr. 2021.

Aprofunde o seu conhecimento acerca da Ditadura Civil-Militar


do Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=EoJDRsV_TiU.

A Constituição Federal, de 24 de janeiro de 1967, assim se referia ao Ensino


Religioso nas escolas públicas, no Art. 176, Inciso V: “O Ensino Religioso, de
matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas de
graus primário e médio” (BRASIL, 1967). Para Tomazini (2016, p. 45), nesse
período, o ponto mais relevante foi a “questão da remuneração dos professores,
que proveu alguns debates”, e que, pela “primeira vez na história brasileira,
a Constituição Federal apresentou um artigo que não explicitava o caráter
confessional ao Ensino Religioso”.

Abordamos, ao longo deste capítulo, alguns termos que


definiremos a seguir.

A Constituição é a lei maior de um país, superior a todas as outras


leis. A respeito da maneira como ela foi feita, encontraremos dois
tipos:

26
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

a) Constituição outorgada: imposta ao povo pelo governante. Foram


Constituições outorgadas, no Brasil: 1824, 1937 e 1967.
b) Constituição promulgada: democrática, ou seja, feita pelos
representantes do povo. Foram Constituições promulgadas, no
Brasil: 1891, 1934, 1946 e 1988 (atual).

Além da Constituição, outras leis e decretos foram criados com a finalidade


de ensinar valores e noções considerados necessários à formação do cidadão
ideal que se pretendia para o Brasil. Em 1971, foi outorgada a nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei n° 5.692/71, que fazia
referência ao Ensino Religioso nas escolas públicas, no Art. 7°, § único: “O Ensino
Religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais dos
estabelecimentos oficiais de 1° e 2° graus”. A LDB, de 1971, excluiu a
A LDB, de 1971,
expressão sem ônus para os cofres públicos. O Estado passou a assumir excluiu a expressão
os custos da realização, e não estabeleceu que o Ensino Religioso devia sem ônus para os
ser lecionado, de acordo com a crença religiosa do aluno. cofres públicos. O
Estado passou a
Nesse momento, uma nova disciplina, no currículo escolar de 1° e assumir os custos
da realização, e não
2° graus, tornou-se de matrícula obrigatória, a Educação Moral e Cívica.
estabeleceu que o
Ensino Religioso
Os objetivos dessa disciplina, na escola, eram
devia ser lecionado,
promover e fortalecer o civismo no Brasil, tendo,
como meios, o ‘culto’ aos símbolos nacionais e as de acordo com a
tradições. Além dessa ‘formação cultural’, outro crença religiosa do
propósito era estimular os educandos a obedecerem aluno.
às leis, desenvolvendo um senso moral baseado em
pressupostos religiosos (BORIN, 2018, p. 22).

Houve, outra vez, uma reaproximação entre Estado e igreja, sendo, a


Educação Moral e Cívica, um meio para difundir as ideias das duas instituições
aos alunos. “Cabia, à igreja, a função de ensinar os preceitos morais, tão importan-
tes para a consolidação das forças militares. As responsabilidades eclesiais eram
estimular e desenvolver, nos estudantes, o caráter” (BORIN, 2018, p. 23).

27
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

1 - Durante a Ditadura Civil-Militar, também foi criado o Guia


de Civismo, selecionado após um concurso, em 1968, e
publicado em 1971. O guia possuía quatro tomos e era
destinado ao Ensino Médio. A publicação precisava ser
utilizada pelos professores de Educação Moral e Cívica em
consultas permanentes, servindo como um norteador da
disciplina. Leia um trecho desse guia a seguir:

“O estado existe para o homem, para protegê-lo e incentivá-lo. Se


o homem não atingir os seus ideais, não completar, não for feliz,
se não se realizar, o Estado não cumpre a sua missão: falha, e
nenhuma doutrina de força subsistirá. A integração total do homem
compreende a harmonia integral entre espírito e carne, proclamada
pelos sagrados preceitos do Cristianismo. Não basta, ao homem, ser
atleta perfeito, um artista consumado, um filósofo profundo: é preciso
que a sua alma se volte para Deus”.

A partir da sua leitura anterior e do trecho do Guia de Civismo,


identifique a função principal dada à religião cristã católica
durante a Ditadura Civil-Militar brasileira.

Nesse contexto, a Igreja Católica passava por profundas modificações,


advindas do Concílio Vaticano II. Buscava-se uma igreja mais próxima da
realidade que se abria para o mundo, revendo o seu lugar nele e disposta a lutar
por justiça e por fraternidade.

O que foi o Concílio Vaticano II?

Conferência realizada entre 1962 e 1965 gerou transformações


profundas na igreja

Foi uma série de conferências realizadas entre 1962 e 1965,


consideradas o grande evento da Igreja Católica do século 20. Com
os objetivos de modernizar a igreja e de atrair os cristãos afastados
da religião, o papa João XXIII convidou bispos de todo o mundo para

28
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

diversos encontros, debates e votações no Vaticano.

Da pauta dessas discussões, constavam temas, como os rituais da


missa, os deveres de cada padre, a liberdade religiosa e a relação
da igreja com os fiéis e os costumes da época. “O Concílio tocou em
temas delicados, que mudaram a compreensão da igreja acerca da
sua presença no mundo moderno. Foram repensadas, por exemplo,
as relações com as outras igrejas cristãs, o judaísmo e crenças não
cristãs”, diz o teólogo Pedro Vasconcelos, da Pontifícia Universidade
Católica (PUC), de São Paulo.

Após três anos de encontros, as autoridades católicas promulgaram


16 documentos como resultado do Concílio. Muitas novidades
apareceram nas questões teológicas e na hierarquia da igreja. O
papa, por exemplo, aceitou dividir parte do seu poder com outros
cardeais, e as missas passaram a ser rezadas na língua de cada
país – antes, eram celebradas sempre em latim. Na questão dos
costumes, porém, o encontro foi pouco liberal. A igreja continuou
condenando o sexo antes do casamento e defendendo o celibato
(proibição de se casar e de transar) para os padres.

FONTE: https://super.abril.com.br/tudo-sobre/concilio/. Acesso em: 9 abr.


2021.

Por fim, o Ensino Religioso, nas escolas públicas brasileiras, passou por um
processo de mudança e, em vários Estados, formaram-se grupos ecumênicos
com a finalidade de criar um programa interconfessional cristão. Junqueira (2015,
p. 13) destaca a criação da Revista de Catequese, em 1977, que publicava
“artigos, notícias e experiências desse componente curricular que, com a Lei nº
5.692, de 1971, deu início a um novo percurso e a uma nova orientação para a
disciplina”.

A partir de 1979, a Ditadura Civil-Militar dava sinais de enfraquecimento.


Iniciou-se o processo de redemocratização com a sociedade civil, como a greve
dos metalúrgicos do ABC paulista. Inicialmente, os operários exigiam reajustes de
salário, porém, passaram a exigir, também, liberdades democráticas. Somou-se,
ainda, o fato de os exilados políticos voltarem ao Brasil com a aprovação da Lei
da Anistia, o fim do bipartidarismo e a criação de novos partidos.

29
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Para melhores compreensões histórica e legal do Ensino Religioso, o


quadro a seguir servirá como uma síntese da leitura anterior.

LINHA DO TEMPO ENSINO RELIGIOSO NA DITADURA CIVIL-MILITAR

FONTE: A autora

5 O ENSINO RELIGIOSO E O
PERÍODO DA REDEMOCRATIZAÇAO
DO BRASIL
Em 1983, o Brasil via nascer a campanha das “Diretas Já”, que pedia por
eleições diretas para presidente da República, e em 1985, as eleições presidenciais
ocorreriam de forma indireta, porém, marcando o fim da Ditadura Civil-Militar no
Brasil. Iniciava-se um período, na história do nosso país, conhecido como Nova
República. Faltava a lei fundamental, do Estado, ser mudada, e, após um ano e
oito meses de trabalho, deputados e senadores aprovaram a nova Constituição,
promulgada em 5 de outubro de 1988, também conhecida como “Constituição
Cidadã”, que incorporava exigências de diferentes grupos e movimentos sociais
(SCHWARCZ; STARLING, 2015).

30
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

FIGURA 6 – ULYSSES GUIMARÃES ERGUE A CONSTITUIÇÃO DE 1988

FONTE: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/10/05/senadores-
comemoram-os-32-anos-da-constituicao>. Acesso em: 9 abr. 2021.

No vídeo a seguir, poderemos acompanhar um momento histórico


do nosso país, a evolução dos debates mais importantes durante a
elaboração da Constituição de 1988, além da promulgação: https://
www.youtube.com/watch?v=XywPfKnZL4E.

A Constituição de 1988 traz, no Art. 5:

Art. 5 Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se, aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no país, a inviolabilidade dos direitos à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
VI - são invioláveis as liberdades de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e às
liturgias (BRASIL, 1988).

A Constituição de 1988, válida até hoje, contempla a autonomia religiosa,


assegurando a liberdade de crenças e, inclusive, o direito de não crer, além de
reforçar o caráter laico do Estado. O Art. 19 assegura:

31
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Art. 5 Todos são Art. 19. É vedado, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios:
iguais perante a lei,
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,
sem distinção de embaraçar-lhes o funcionamento ou manter, com eles ou
qualquer natureza, seus representantes, relações de dependência ou aliança,
garantindo-se, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
aos brasileiros e II - recusar fé aos documentos públicos;
aos estrangeiros III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.
residentes no país,
a inviolabilidade
dos direitos à
vida, à liberdade,
à igualdade, à
segurança e à
propriedade, nos
termos seguintes:
VI - são invioláveis
as liberdades de
consciência e de
crença, sendo
assegurado o
livre exercício dos
cultos religiosos e
garantida, na forma
da lei, a proteção
aos locais de culto e
às liturgias (BRASIL,
1988).

1 - Leia o texto a seguir, pesquise a definição de intolerância


e escreva a sua reflexão a respeito do que significa ser
intolerante.

“Invadir terreiros de umbanda e candomblé, que, além de locais


sagrados de culto, são, também, guardiães da memória de povos
arrancados da África e escravizados no Brasil; desrespeitar a
espiritualidade dos povos indígenas, ou tentar impor, a eles, a visão
de que a sua religião é falsa; agredir os ciganos, devido à etnia ou
crença, mesmo motivo que os levou ao quase extermínio na Europa,
durante a Segunda Guerra Mundial: tudo isso é intolerância, é
discriminação contra religiões [...]. O Código Penal Brasileiro, por sua
vez, considera crime (punível com multa e até detenção) zombar,

32
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

publicamente, de alguém por motivo de crença religiosa, impedir


ou perturbar cerimônia ou culto, além de ofender, publicamente,
imagens e outros objetos de culto religioso”.

FONTE: JUNIOR, J. R. Diversidade religiosa e direitos humanos. 2021.


Disponível em: http://www.mestreirineu.org/diversidade.htm. Acesso em: 9
abr. 2021.

Para Tomazini (2016, p. 49), o Art. 19, da Constituição de 1988, trata “de
desdobramento do princípio da igualdade”, e de um “imperativo de imediata
aplicação, inclusive, em relação ao ensino público”, porém, a Constituição dispõe
sobre o Ensino Religioso no Art. 210, parágrafo 1º:
Art. 210. Serão
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para
fixados conteúdos
o ensino fundamental, de maneira a assegurar
formação básica comum e respeito aos valores
mínimos para o
culturais e artísticos, nacionais e regionais. ensino fundamental,
§ 1° - O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, de maneira a
constituirá disciplina dos horários normais das assegurar formação
escolas públicas de ensino fundamental” (BRASIL, básica comum
1988). e respeito aos
valores culturais e
Tomazini (2016, p. 49) ressalta que, naquele momento, “a disciplina artísticos, nacionais
não possuía uma nomenclatura definida, era chamada de ‘aulas de e regionais.
§ 1° - O Ensino
religião’, ‘formação religiosa’, ‘educação religiosa’, mesmo com a
Religioso, de
legislação a referindo como Ensino Religioso”. Ainda, grupos religiosos matrícula facultativa,
começaram a construir uma identidade para a disciplina, em um constituirá disciplina
momento em que o país assumia o direito à diversidade e a sociedade dos horários
se percebia heterogênea. Como lidar com essas questões em sala de normais das escolas
aula? públicas de ensino
fundamental”
(BRASIL, 1988).
Em 1995, em Florianópolis, foi criado o Fórum Nacional Permanente
do Ensino Religioso, o FONAPER, com o objetivo de promover um grupo
que representasse os interesses do Ensino Religioso. Dentre os objetivos iniciais,
estavam garantir a presença do Ensino Religioso na LDB de 1996, produzir e
publicar um Parâmetro Curricular Nacional para a disciplina (JUNQUEIRA, 2002).

33
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso

O Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso – FONAPER é


uma associação civil de direito privado, de âmbito nacional,
sem vínculo político-partidário, confessional, sindical, sem fins
econômicos, que congrega, conforme o estatuto, pessoas jurídicas
e pessoas naturais identificadas com o Ensino Religioso, sem
discriminação de qualquer natureza. Fundado em 26 de setembro
de 1995, em Florianópolis/SC, vem atuando nas perspectivas
de acompanhar, organizar e subsidiar o esforço de professores,
pesquisadores, sistemas de ensino e associações na efetivação do
Ensino Religioso como componente curricular. O FONAPER é um
espaço de discussão e ponto aglutinador de ideias, propostas e ideais
na construção de propostas concretas para a operacionalização do
Ensino Religioso na escola.

FONTE: https://fonaper.com.br/institucional/. Acesso em: 9 abr. 2021.

Conforme Wagner e Junqueira (2011, p. 86-87), já na primeira sessão do


FONAPER, que aconteceu em março de 1996, houve o início da elaboração de
um texto para compor os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso
– PCNER. Em junho do mesmo ano, foram fixados os eixos temáticos; em
julho, contatados professores para serem colaboradores dos textos que dariam
sustentação às diretrizes; e, por fim, após outra sessão e reuniões, em outubro, foi
feita a redação final do texto dos PCNER, além da entrega ao MEC, em Brasília.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso serviram como


referencial curricular para a constituição da identidade da disciplina escolar,
tornando-se modelo para a disciplina de Ensino Religioso nas escolas públicas.
Foram compostos por: apresentação; elementos históricos do Ensino Religioso;
concepção de área de ensino e objetivos da disciplina; critérios para a organização
e a seleção de conteúdos e de pressupostos didáticos; além de fornecerem
orientação didática, sugerindo formas de avaliação.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso – PCNER


apresentam cinco eixos organizadores, que indicam os conteúdos de cada ciclo
ou série do Ensino Fundamental, para a efetivação da área do conhecimento:
Culturas e Tradições Religiosas, Escrituras Sagradas e/ou Tradições Orais,

34
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

Teologias, Ritos e Ethos. Os eixos do Ensino Religioso foram elaborados, com


a finalidade de contemplar as diferentes facetas do fenômeno religioso, além
de apresentá-lo nas diferentes concepções, trazendo, para a sala de aula, a
pluralidade religiosa.

• Culturas e Tradições Religiosas: o eixo Culturas e Tradições Religiosas


estabelece o estudo do fenômeno religioso à luz da razão humana,
analisando questões, como função e valores das tradições religiosa e
ética, teodiceia, tradição religiosa natural e revelada, existência e destino
do ser humano nas diferentes culturas.

Esse eixo temático organiza os conteúdos de forma interdisciplinar. Os


conteúdos estabelecidos dialogam com a filosofia, a história, a sociologia, a
psicologia e as tradições religiosas.

A filosofia permite que o educando conheça a ideia de transcendente de


todas as tradições religiosas sem inferir verdade absoluta, transmitindo valores
e verdades. A história, diferente da filosofia, estuda a organização das tradições
religiosas dos contextos históricos, tendo, como ponto de partida, a seguinte
pergunta norteadora: como as religiões se organizaram em tempos e em espaços
diferentes? Deve ser explicada, ao educando, a origem da história das religiões e
das transformações no tempo. A sociologia nos permite trazer o posicionamento
político e as ideologias das tradições religiosas, refletindo cada função política.
A psicologia tem a função de explicar os caráteres subjetivo e psíquico dos
acontecimentos a partir da experiência religiosa de cada sujeito.

• Escrituras Sagradas e/ou Tradições Orais: o eixo Escrituras Sagradas


e/ou Tradições Orais explica cada forma de organização religiosa que
tem tradição escrita e/ou oral. Os textos sagrados transmitem, conforme
a fé dos seguidores, uma mensagem do transcendente.

Os conteúdos para esse eixo temático foram programados da seguinte


maneira:

• Primeiro: revelação, a autoridade do discurso religioso fundamentada


na experiência mística do emissor que a transmite como verdade do
transcendente para o povo.
• Segundo: história das narrativas sagradas: o conhecimento dos
acontecimentos religiosos dos mitos, segredos sagrados e formação dos
textos.
• Terceiro: contexto cultural: a descrição dos contextos social, político e
ideológico determinantes na redação final dos textos sagrados.

35
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

• Quarto: exegese: a análise e a hermenêutica atualizadas dos textos


sagrados.

Desse modo, observa-se que a revelação é transmitida com a ajuda do


discurso religioso, proferido com valores. As histórias das narrativas compõem
valores, os quais transmitem novos significados ao longo dos tempos. Com
relação ao contexto cultural, o texto sagrado é escrito com influência dos
contextos históricos, ou seja, valores, concepções de vida e muitos outros. Por
fim, na tradição escrita, a exegese contém um método a partir do qual se realiza
a interpretação de textos sagrados. Dentre as análises, os PCNER destaca a
hermenêutica.

• Teologias: o eixo Teologias significa o conjunto de afirmações e de


conhecimentos elaborados pela religião e repassados para os fiéis sobre
o transcendente, de um modo organizado ou sistematizado.

Os conteúdos do eixo temático estão organizados da seguinte maneira:

• Primeiro: divindades: a descrição das representações do transcendente


nas tradições religiosas.
• Segundo: verdades de fé: o conjunto de mitos, crenças e doutrinas de
orientação à vida do fiel em cada tradição religiosa.
• Terceiro: vida além da morte: as possíveis respostas norteadoras do
sentido de vida: a ressurreição, a reencarnação, a ancestralidade e o
nada.

Podemos identificar, nesse mesmo eixo temático, divindades dentro das


histórias das tradições religiosas, mas cada religião possui a sua divindade e um
sistema de crença com valores religiosos e muitos outros. No que diz respeito à
morte, as religiões explicam esse fenômeno de modo diferente, como a doutrina
espírita, que estabelece essas questões através do fenômeno da reencarnação.

• Ritos: o eixo Ritos reúne conteúdos com práticas celebrativas das


tradições religiosas, formando um conjunto de rituais agrupados de
várias maneiras.

O estudo dos ritos se inicia com uma proposta de movimento que busca
articular, positivamente, as nossas experiências rituais com aquelas que outras
pessoas ou grupos vivenciaram ou vivenciam. A maioria das nossas experiências,
religiosas ou não, tem relação com algum tipo de ritual. No cotidiano, vivenciamos
alguns ritos não religiosos que se repetem, muitas vezes, ao longo do dia, e
não nos damos conta da sua presença, até porque o rito está relacionado ao
movimento e é ressignificado em tempos e em espaços opostos.

36
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

Importante destacar que conteúdos relacionados a ritos não devam


apresentar somente práticas celebrativas do catolicismo. A definição dos
conteúdos deve contemplar práticas religiosas significantes elaboradas pelos
diferentes grupos religiosos, símbolos religiosos, comparando o significado e o
relacionamento das tradições religiosas com o transcendente e com os outros.

• Ethos: o eixo temático Ethos está intimamente ligado aos valores,


sendo que a moral humana e o próprio sentido de vida” e concepção
de mundo definem o significado. A adoção de conteúdos para esse eixo
é alteridade, valores e limites. A alteridade impulsiona o educando a
se relacionar com o outro. Os valores ampliam a visão de mundo do
educando, “apresentando, a ele, um conjunto de normas das tradições
religiosas”. Já o conteúdo de limites está na “fundamentação religiosa
ética de várias tradições religiosas”.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso


apresentam alguns termos que são muito importantes. Assim, segue
uma pequena definição de alguns apresentados neste capítulo, mas
se sinta à vontade para pesquisar mais, se quiser. Bons estudos!

Teodiceia: o termo teodiceia vem do grego, theós, que significa


Deus, e diceia, que significa justiça, ou seja, literalmente, quer dizer
“justiça de Deus”. Parte da metafísica, que trata do problema do mal,
procura justificar a bondade de Deus contra as objeções levantadas
a propósito daquele problema. É um termo derivado da obra Ensaio
de Teodiceia, do filósofo alemão Leibniz, que justifica a existência de
Deus a partir da discussão do problema do mal e da sua relação com
a bondade de Deus.

Metafísica: metafísica é uma palavra de origem grega. Meta significa


depois de, além de tudo, ou seja, literalmente, quer dizer “o que está
para além da física/natureza”.

Transcendente: que excede ou vai além da natureza física.

Hermenêutica: arte ou técnica de interpretar ou de explicar um texto


ou um discurso. Ver indicações de sites.

Exegese: análise, explicação ou interpretação de uma obra feita de


maneira cuidadosa.

37
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Ethos: característica comum a um grupo de indivíduos pertencentes


a uma mesma sociedade.

1 - Para Borin (2018, p. 27), uma aula de Ensino Religioso, voltada


ao conhecimento de diversas religiões, pode, facilmente,
ser substituída por uma aula de “história das religiões”.
Ao falar da história das religiões, corre-se o risco de que
as aulas possam ser apenas uma parte do conteúdo da
disciplina “História”, e não da disciplina “Ensino Religioso”.
Em outras palavras, a aula pode se caracterizar somente por
conhecimentos históricos, e não pela característica própria
do Ensino Religioso.

FONTE: BORIN, L. C. História do Ensino Religioso no Brasil. 1. ed. Santa


Maria: UFMS, 2018.

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino


Religioso, quais conhecimentos devem ser abordados, a fim de
caracterizar, efetivamente, a disciplina de Ensino Religioso, e
não de História das Religiões?

Ensino Religioso e abordagens a partir das Leis de Diretrizes e Bases


da Educação Nacional

38
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

FONTE: Adaptado de Souza (2006)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96,


sancionada em 20 de dezembro de 1996, definiu, no Art. 33:

Art.33 O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, constitui


disciplina dos horários normais das escolas públicas de
ensino fundamental, sendo oferecido sem ônus para os cofres
públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos
alunos ou por seus responsáveis, em caráter:
I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do
seu responsável, ministrado por professores ou orientadores
religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas
ou entidades religiosas; ou
II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas
entidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração
do respectivo programa (BRASIL, 1996).

A LDB, de 1996, trazia à tona, novamente, o Ensino Religioso, não sendo


custeado pelos cofres públicos, oferecido nas modalidades confessional e
interconfessional. Assim, o Ensino Religioso poderia ser oferecido ora na
modalidade confessional, de acordo com a opção religiosa manifestada pelos

39
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

alunos ou pelos responsáveis, ora na modalidade interconfessional, com um


acordo entre as diversas entidades religiosas responsáveis pelo programa.

Importante demarcar um breve histórico que se iniciou durante a Assembleia


Nacional Constituinte, que acompanhou a fundação da FONAPER, com a
formação de um forte lobby das igrejas cristãs, em especial, da liderança aberta,
ou não, da Igreja Católica Apostólica Romana. Como apresentam Dickie e Lui
(2007, p. 239), “entidades, como a Associação Interconfessional de Educação de
Curitiba (Assintec), do Paraná, o Conselho de Igrejas para Educação Religiosa
(Cier), de Santa Catarina, o Instituto de Pastoral de Campo Grande, Mato Grosso
(Irpamat), e o Setor de Educação da CNBB”. Esse lobby assumiu negociações
e garantiu a presença do Ensino Religioso na Constituição de 1988, além
de intensos debates a respeito da responsabilidade financeira do Estado no
pagamento dos professores de Ensino Religioso após a LDB nº 9.394, de 1996.

Lobby é uma atividade em que empresas, entidades, pessoas físicas


e segmentos da sociedade lutam para viabilizar interesses perante o
governo, no Congresso ou no Executivo.

FONTE: https://www.politize.com.br. Acesso em: 9 abr. 2021.

Para Junqueira (2002), após fortes pressões, lideradas pela Igreja Católica
e pelo FONAPER, foram apresentados, ao Congresso Nacional, três projetos de
lei que alteraram o Art. 33, da LDB de 1996. O primeiro projeto foi apresentado
pelo deputado federal Nelson Marquezan, retirando a expressão sem ônus para
os cofres públicos. O segundo projeto foi apresentado pelo deputado federal
Maurício Requião, mudando, de forma substancial, o artigo da LDB. Estabelecia
que o Ensino Religioso deveria colaborar com a formação básica do cidadão e
vetava qualquer forma de proselitismo e doutrinação, respeitando a diversidade
religiosa brasileira. Por fim, o projeto de lei de autoria do Poder Executivo, n°
3.043/97, que defendia a manutenção do texto da LDB, mas acrescentava que a
definição de conteúdos, de formação e de remuneração dos professores seria de
responsabilidade do sistema de ensino, sendo admitida parceria total ou parcial
com entidade civil que congregasse diversas denominações religiosas.

Alterou-se o conteúdo no qual resultou a Lei 9.475/97:

40
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

Art. 33. O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é


parte integrante da formação básica do cidadão e constitui
disciplina de horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo
(Redação dada pela Lei n° 9.475, de 22.7.1997).
§ 1°. Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos
para a definição dos conteúdos do Ensino Religioso e
estabelecerão as normas para a habilitação e a admissão dos
professores (Redação incluída pela Lei n° 9.475, de 22.7.1997).
§ 2°. Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída
pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos
conteúdos dos ensinos religiosos (Redação incluída pela Lei
n° 9.475, de 22.7.1997).

A nova redação assegurou a matrícula facultativa, o respeito às diversidades


cultural e religiosa, e vetou o proselitismo, ou seja, o esforço contínuo para a
conversão de alguém a uma determinada religião, seita ou doutrina. A nova
redação especificava que as unidades da federação ficariam responsáveis pela
oferta da disciplina, pela definição dos conteúdos e pela formação docente. Para
tanto, ficou mantido que os sistemas de ensino precisavam consultar agências
consultivas, a fim de elaborar propostas.

Para Tomazini (2016, p. 52), a Lei nº 9.475/97 era ampla e ambígua, pois
deixava várias lacunas a serem preenchidas pelos Conselhos Estaduais de
Ensino, conforme realidade e vivências regionais, ficando, a cargo das Secretarias
Estaduais de Educação e dos Conselhos de Educação, a regulamentação. “Além
disso, existe a possibilidade de o Projeto Político Pedagógico de cada unidade
escolar adaptar tal legislação à realidade. Essa expressão facultativa permanece
até os dias atuais” (TOMAZINI, 2016, p. 52).

Borin (2018, p. 26) aponta para a contradição da Lei nº 9.475/97: “podemos


dizer que é um tanto paradoxal uma disciplina se constituir como uma forma
integrante para a formação básica do cidadão e, ao mesmo tempo, ser de
matrícula facultativa”.

A relação estabelecida pela Lei nº 9.475/97, entre a responsabilidade do


Estado, o não proselitismo, e a existência de uma entidade civil, que atue como
consultora dos conteúdos, estimulou a FONAPER a criar, nos diferentes Estados,
Conselhos para o Ensino Religioso (CONER), que assumiram ser, a entidade
civil considerada pela lei, como assessora das Secretarias de Educação para os
conteúdos de Ensino Religioso.

41
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Por fim, em 1998, o Conselho Nacional de Educação (CNE) instituiu as


Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (Resolução CEB/
CNE nº 2), conferindo, ao Ensino Religioso, o status de área do conhecimento. O
Ensino Religioso, de maneira facultativa, legitimou-se como disciplina comum das
escolas públicas do Ensino Fundamental, assumindo a identidade pedagógica.

Para melhores compreensões histórica e legal do Ensino Religioso, o


quadro a seguir servirá como uma síntese da leitura anterior.

LINHA DO TEMPO ENSINO RELIGIOSO - REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL

FONTE: A autora

42
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

1 - Com a intenção de melhorar a organização das ideais


estudadas, preencha o quadro comparativo a seguir, com
a abordagem que cada LDB faz da disciplina de Ensino
Religioso:

LDB Lei nº 4.024, de Lei nº 5.692, de Lei nº 9.394, de


TEMA 1961 1971 1996

ENSINO
RELIGIOSO

2 - A Lei nº 9.475/97 deu nova redação ao Art. 33, da LDB nº


9394/96, e constituiu o Ensino Religioso como disciplina
escolar, desse modo, considera-se como uma área de
conhecimento. Acerca da Lei nº 9.475/97, analise as
afirmativas a seguir:

O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da


formação básica do cidadão, e constitui disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o
respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer
formas de proselitismo.
Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a
definição dos conteúdos de Ensino Religioso e estabelecerão as
normas para a habilitação e a admissão dos professores.
Os sistemas de ensino ouvirão entidades clericais, para a definição
dos conteúdos do Ensino Religioso.

43
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Está (estão) CORRETA (s):


a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Podemos perceber que, nesses longos séculos de história do nosso país, a
prática do Ensino Religioso sempre esteve presente. Em um primeiro momento,
efetivava-se como ensino da religião cristã católica, sendo responsável por
catequizar diferentes nações indígenas e por converter diversos povos oriundos
da África. Ainda hoje, muitos professores de Ensino Religioso, por não terem
embasamento nas práticas pedagógicas, ainda elaboram aulas a partir de valores
cristãos, desvinculadas dos novos paradigmas educacionais.

Em 1889, com a Proclamação da República, o país se declarou laico. Buscou-


se uma separação entre o Estado e a religião cristã católica. Nesse contexto, o
Ensino Religioso se tornou motivo de intensos conflitos e disputas. Durante todo
o século XX, acompanhamos a disciplina, buscando reconhecimento no currículo
básico da educação pública do Brasil. Para tanto, a disciplina se desvinculou do
confessionalismo e do proselitismo, reconhecendo e respeitando as diferenças
culturais presentes no nosso país.

Apesar de o Brasil ser um país de múltiplas religiões e de crenças, que tem


o Ensino Religioso atuante nas instituições de ensinos público e privado em todo
o território nacional, percebemos, ainda, muitos preconceitos na aceitação do
diferente, da alteridade e da diversidade. Assim, esperamos que o fato de você
conhecer os caminhos traçados pelo Ensino Religioso na história do Brasil possa
contribuir para novos caminhos, sabendo quais foram os erros e os acertos, e
ressignificando o papel desse componente curricular.

44
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

REFERÊNCIAS
BORIN, L. C. História do Ensino Religioso no Brasil. 1. ed. Santa Maria:
UFMS, 2018.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de


Educação. Câmara da Educação Básica. Resolução nº 2, de 7 abril de 1998.
Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília,
1998.

BRASIL. Lei nº 9.475, de 22 de julho de 1997. Dá nova redação ao Art. 33, da


Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l9475.htm. Acesso em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e


bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/
leis/L9394.htm. Acesso em: 9 abr. 2021.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/cciv il03/Constituicao/Constituicao88.htm. Acesso
em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para


o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm. Acesso em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1967. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituicao67.htm. Acesso
em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as diretrizes e bases


da educação nacional. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/
lei/1960-1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722-normaatualizada-pl.html.
Acesso em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. 1946.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao/Constituicao46.
htm. Acesso em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de 1942. Disponível em: http://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del4244.htm. Acesso em: 6
abr. 2021.
45
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil.


1937. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ cciv i l 03 / Constituicao/
Constituicao37.htm. Acesso em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. 1934.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/ constituicao34.
htm. Acesso em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Decreto nº 19.941, de 30 de abril de 1931. Disponível em: https://


www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19941-30-abril-1931-
518529-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil.


1891. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03 / Constituicao/
Constituicao91.htm. Acesso em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Decreto n° 119-A, de 7 de janeiro de 1890. Prohibe a intervenção da


autoridade federal e dos Estados federados em matéria religiosa, consagra a
plena liberdade de cultos, extingue o padroado e estabelece outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decreto/1851-1899/d119-a.
htm. Acesso em: 6 abr. 2021.

BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. Manda crear escolas de primeiras letras


em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LIM/LIM-15-10-1827.htm. Acesso em: 6
abr. 2021.

BRASIL. Constituição Política do Império do Brazil. 1824. Disponível em:


http:// www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Constituicao/ Constituicao24.htm. Acesso
em: 6 abr. 2021.

CURY, C. R. J. Ensino Religioso na escola pública: o retorno de uma polêmica


recorrente. Revista Brasileira de Educação, Distrito Federal, v. 1, n. 27, p. 183-
212, 2004.

DICKIE, M. A. S.; LUI, J. de A. O Ensino Religioso e a interpretação da lei.


Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 13, n. 27, p. 237-252, 2007.

FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Parâmetros


Curriculares Nacionais – Ensino Religioso. São Paulo: Ave Maria, 1997.

46
Capítulo 1 A HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

JUNQUEIRA, S. R. A. Educação e história do Ensino Religioso. Pensar a


Educação em Revista, Curitiba/Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 5-24, 2015.

JUNQUEIRA, S. R. A. A presença do Ensino Religioso no contexto da educação.


In: WAGNER, R.; JUNQUEIRA, S. O Ensino Religioso no Brasil – 2. Ed. Rev. e
Ampl. Curitiba: Champagnat, 2011.

JUNQUEIRA, S. R. A. O processo de escolarização do Ensino Religioso no


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PAULY, E. L. O dilema epistemológico do Ensino Religioso. Revista Brasileira


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http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-24782004000300012&script=sci_
arttext. Acesso em: 11 maio 2020.

SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. 2. ed. Campinas:


Autores Associados, 2008.

SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. 1. ed. São Paulo:


Companhia das Letras, 2015.

TOMAZINI, D. A. O Ensino Religioso na educação pública e o trabalho


docente: um estudo no município de Uberlândia/MG a partir da Lei de Diretrizes
e Bases 1996/97. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2016.

TORRES-LONDONO, F. As Constituições do Arcebispado da Bahia de 1707


e a presença da escravidão. Curitiba: Aos quatro ventos, 2006.

WAGNER, R.; JUNQUEIRA, S. Uma breve história do Fórum Nacional


Permanente do Ensino Religioso – FONAPER (1995 a 2010). In: WAGNER, R.;
JUNQUEIRA, S. O Ensino Religioso no Brasil – 2. Ed. Rev. e Ampl. Curitiba:
Champagnat, 2011.

47
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

48
C APÍTULO 2
ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO
NORMATIVA

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Promover o conhecimento da legislação que embasa o Ensino Religioso.


 Apresentar o conhecimento religioso a partir de pressupostos éticos e
científicos.
 Interpretar a legislação normativa para o Ensino Religioso.
 Problematizar representações sociais preconceituosas acerca do outro, com o
intuito de combater a intolerância, a discriminação e a exclusão.
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

50
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Caro pós-graduando, neste capítulo, compreenderemos a legislação que
embasa o Ensino Religioso, mais propriamente, as Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Para isso,
inicialmente, abordaremos algumas diferenças essenciais.

As DCNs foram instituídas, em 1998, pelo Conselho Nacional de Educação


(CNE), porém, têm origem na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), de 1996. As DCNs são normas para a Educação Básica e orientam o
planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino.

As DCNs se diferem dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), pois


enquanto as DCNs são leis, dando as metas e os objetivos a serem buscados em
cada curso, os PCNs são apenas referências curriculares, não leis.

Pós-graduando, no capítulo anterior, abordamos as três versões da LDB e os


Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso, você se lembra?

A BNCC é um documento que determina os conhecimentos essenciais


que todos os alunos da Educação Básica devem aprender, ano a ano,
independentemente do lugar onde moram ou estudam. Todos os currículos de
todas as redes públicas e particulares do país devem conter esses conteúdos.
Os DCNs são
Em suma, a BNCC foi elaborada à luz do que mencionam os PCNs normas para a
e as DCNs. No entanto, a BNCC é mais específica, determinando, com Educação Básica
mais clareza, os objetivos de aprendizagem de cada ano escolar. Ela é e orientam o
obrigatória em todos os currículos, de todas as redes do país, públicas planejamento
e particulares, ao contrário dos documentos anteriores, que devem curricular das
escolas e dos
continuar existindo, mas apenas como documentos orientadores não
sistemas de ensino.
obrigatórios. As DNCs conferem,
ao Ensino Religioso,
o status de área
do conhecimento,
2 AS DIRETRIZES mesmo que, de
maneira facultativa,
CURRICULARES E O ENSINO como disciplina
comum das escolas
RELIGIOSO públicas de Ensino
Fundamental,
Como abordamos ao fim do Capítulo 1, as Diretrizes Curriculares passando a
ser designada
Nacionais (DCNs) foram instituídas, em 1998, pelo Conselho Nacional
como “Educação
de Educação (CNE). Os DCNs são normas para a Educação Básica Religiosa”.

51
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

e orientam o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino. As


DNCs conferem, ao Ensino Religioso, o status de área do conhecimento, mesmo
que, de maneira facultativa, como disciplina comum das escolas públicas de
Ensino Fundamental, passando a ser designada como “Educação Religiosa”.

Aprofunde o seu conhecimento acerca das DCNs. Acesse:


https://www.youtube.com/watch?v=CBIMqXbeg8U
Se preferir, leia os seguintes documentos na íntegra:
h t t p : / / p o r t a l . m e c . g o v. b r / i n d e x . p h p ? o p t i o n = c o m _
docman&view=download&alias=6704-rceb004-10-1&category_
slug=setembro-2010-pdf&Itemid=30192 (Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica - Resolução CNE
n° 04/2010) e http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=7246-rceb007-10&category_
slug=dezembro-2010-pdf&Itemid=30192 (Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental dos Nove Anos - Resolução
CNE n° 07/2010).

§ 1º Integram, a
Base Nacional
Comum Nacional:
a) a Língua O Ensino Religioso é tratado, conforme previsto nas Diretrizes
Portuguesa;
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Resolução
b) a Matemática;
c) o conhecimento CNE n° 04/2010) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
dos mundos Fundamental dos Nove Anos (Resolução CNE n° 07/2010). Segundo a
físico, natural, Resolução CNE nº 04/2010:
das realidades
social e política, Art. 14. A Base Nacional Comum, na Educação Básica,
especialmente, do constitui-se de conhecimentos, saberes e valores produzidos
Brasil, incluindo-se culturalmente, expressos nas políticas públicas e gerados
o estudo da História nas instituições produtoras dos conhecimentos científico
e das Culturas e tecnológico, no mundo do trabalho, no desenvolvimento
das linguagens, nas atividades desportivas e corporais,
Afro-Brasileira e
na produção artística, nas formas diversas de exercício da
Indígena, cidadania e nos movimentos sociais.
d) a Arte, nas § 1º Integram, a Base Nacional Comum Nacional:
diferentes formas a) a Língua Portuguesa;
de expressão, b) a Matemática;
incluindo-se a c) o conhecimento dos mundos físico, natural, das realidades
Música; social e política, especialmente, do Brasil, incluindo-se o
e) a Educação estudo da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena,
Física; d) a Arte, nas diferentes formas de expressão, incluindo-se a
Música;
f) o Ensino
e) a Educação Física;
Religioso. f) o Ensino Religioso.

52
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

§ 2º Tais componentes curriculares são organizados


Art. 14 O currículo
pelos sistemas educativos, em forma de áreas
de conhecimento, disciplinas, eixos temáticos,
da Base Nacional
preservando-se a especificidade dos diferentes Comum do Ensino
campos do conhecimento, por meio dos quais se Fundamental
desenvolvem as habilidades indispensáveis ao deve abranger,
exercício da cidadania, em ritmo compatível com as obrigatoriamente,
etapas do desenvolvimento integral do cidadão. conforme o Art. 26,
§ 3º A Base Nacional Comum e a parte diversificada da Lei nº 9.394/96,
não podem se constituir em dois blocos distintos, o estudo da Língua
com disciplinas específicas para cada uma dessas
Portuguesa e
partes, mas devem ser organicamente planejadas e
geridas de tal modo que as tecnologias de informação
da Matemática,
e de comunicação perpassem, transversalmente, a o conhecimento
proposta curricular, desde a Educação Infantil até dos mundos
o Ensino Médio, imprimindo direção aos projetos físico e natural e
político-pedagógicos (BRASIL, 2010a, grifo nosso). das realidades
social e política,
Já as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental especialmente, a
do Brasil, além do
dos Nove Anos (Resolução CNE n° 07/2010) abordam a disciplina de
ensino da Arte, da
Ensino Religioso do seguinte modo: Educação Física e
do Ensino Religioso.
Art. 14 O currículo da Base Nacional Comum Art. 15 Os
do Ensino Fundamental deve abranger, componentes
obrigatoriamente, conforme o Art. 26, da Lei
curriculares
nº 9.394/96, o estudo da Língua Portuguesa e
da Matemática, o conhecimento dos mundos obrigatórios do
físico e natural e das realidades social e política, Ensino Fundamental
especialmente, a do Brasil, além do ensino da Arte, serão assim
da Educação Física e do Ensino Religioso. organizados em
Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do relação às áreas de
Ensino Fundamental serão assim organizados em conhecimento:
relação às áreas de conhecimento: I – Linguagens:
I – Linguagens: a) Língua
a) Língua Portuguesa;
Portuguesa;
b) Língua Materna, para populações indígenas;
c) Língua Estrangeira moderna; b) Língua Materna,
d) Arte; e para populações
e) Educação Física; indígenas;
II – Matemática; c) Língua
III – Ciências da Natureza; Estrangeira
IV – Ciências Humanas: moderna;
a) História; d) Arte; e
b) Geografia; e) Educação Física;
V – Ensino Religioso.
II – Matemática;
§ 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado
em língua portuguesa, assegurada, também, às III – Ciências da
comunidades indígenas, a utilização das línguas Natureza;
maternas e processos próprios de aprendizagem, IV – Ciências
conforme o Art. 210, § 2º, da Constituição Federal. Humanas:
a) História;
b) Geografia;
V – Ensino
Religioso.

53
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

§ 2º O ensino de história do Brasil levará em conta as


contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação
do povo brasileiro, especialmente, das matrizes indígena,
§ 6º O Ensino africana e europeia (Art. 26, § 4º, da Lei nº 9.394/96).
Religioso, de § 3º A história e as culturas indígena e afro-brasileira,
presentes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos no
matrícula facultativa
âmbito de todo o currículo escolar e, em especial, no ensino de
ao aluno, é parte Arte, Literatura e História do Brasil, assim como a história da
integrante da África, deverão assegurar o conhecimento e o reconhecimento
formação básica do dos povos para a constituição da nação (conforme Art. 26-
cidadão e constitui A, da Lei nº 9.394/96, alterado pela Lei nº 11.645/2008). A
componente inclusão possibilita ampliar o leque de referências culturais
curricular dos de toda a população escolar e contribui para a mudança das
horários normais suas concepções de mundo, transformando os conhecimentos
das escolas comuns veiculados pelo currículo e contribuindo para a
construção de identidades mais plurais e solidárias.
públicas de Ensino
§ 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não exclusivo,
Fundamental, do componente curricular Arte, o qual compreende, também,
assegurado as artes visuais, o teatro e a dança, conforme o § 6º, do Art.
o respeito às 26, da Lei nº 9.394/96.
diversidades cultural § 5º A Educação Física, componente obrigatório do currículo do
e religiosa do Ensino Fundamental, integra a proposta político-pedagógica da
Brasil e vedadas escola e será facultativa ao aluno apenas nas circunstâncias
quaisquer formas previstas no § 3º, do Art. 26, da Lei nº 9.394/96.
de proselitismo, § 6º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao aluno,
é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui
conforme o Art. 33,
componente curricular dos horários normais das escolas
da Lei nº 9.394/96 públicas de Ensino Fundamental, assegurado o respeito às
(BRASIL, 2010b, diversidades cultural e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer
grifo nosso). formas de proselitismo, conforme o Art. 33, da Lei nº 9.394/96
(BRASIL, 2010b, grifo nosso).

As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica


(Resolução CNE n° 04/2010) fixam, no Art. 14, o Ensino Religioso como área
do conhecimento, preservando as singularidades e o reconhecendo o papel para
o desenvolvimento integral do cidadão. Já nas Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Ensino Fundamental dos Nove Anos (Resolução CNE n° 07/2010), o Ensino
Religioso é reafirmado como um componente curricular do Ensino Fundamental,
sendo, a oferta, obrigatória, porém, de matrícula facultativa nas escolas públicas,
como uma forma de salvaguardar a liberdade religiosa, sendo proibido qualquer
ato de proselitismo, ou seja, ação ou empenho de tentar converter uma ou várias
pessoas em prol de determinada religião.

54
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

Atente-se para o fato de que, nas Diretrizes Curriculares Nacionais


para o Ensino Fundamental dos Nove Anos (Resolução CNE n°
07/2010), o Ensino Religioso é colocado como componente curricular
dos horários normais das escolas públicas. A seguir, leia um recorte
de texto que abordará o Ensino Religioso nas escolas privadas.

O Ensino Religioso nas Escolas Privadas

Raquel Adriano Momm Maciel de Camargo

[...] No Art. 19º, da Constituição, é assegurada, no Brasil, a


coexistência de escolas públicas e privadas. As escolas públicas
precisam de coerência com quem as mantém, com o Estado, que
é laico, e, portanto, tendo a importância da legislação destinada
às escolas públicas. Da mesma forma, acontece com as escolas
privadas, cuja livre iniciativa é assegurada pela legislação,
estabelecendo-se a relação com o Ensino Religioso, de acordo com
as características das mantenedoras.

No Art. 20º, da Constituição Brasileira, encontramos quatro


categorias, nas quais se encontram as escolas privadas:

Art. 20º. As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas


seguintes categorias:

I - particulares em sentido estrito, assim entendidas


as que são instituídas e mantidas por uma ou mais
pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não
apresentem as características dos incisos a seguir;
II - comunitárias, assim entendidas as que são
instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma
ou mais pessoas jurídicas, inclusive, cooperativas de
professores e alunos que incluam, na sua entidade
mantenedora, representantes da comunidade;
III - confessionais, assim entendidas as que são
instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma
ou mais pessoas jurídicas que atendem às orientações
confessional e ideologia específicas e ao disposto no
inciso anterior;
IV - filantrópicas, na forma da lei (BRASIL, 1988, p. 9).

Nas escolas públicas de Ensino Fundamental, o Ensino


Religioso é de matrícula facultativa, oferecida dentro do próprio
horário de aula, e é compreendida, na LDB, como “parte integrante

55
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

da formação básica do cidadão”. De acordo com a Lei de Diretrizes


e Bases da Educação, no Ensino Religioso, deve ser “assegurado o
respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer
formas de proselitismo”. Como menciona Silva (2015, s.p.), na 38ª
edição do Curso de Direito Constitucional Positivo, “vale dizer: é
um direito do aluno religioso ter a possibilidade de se matricular na
disciplina, mas não lhe é dever fazê-lo”.

Referente ao Ensino Religioso nas escolas públicas, estabelece,


a LDB, que é atribuição, dos sistemas de ensino (estaduais e
municipais), a “definição dos conteúdos, do Ensino Religioso”,
desde que ouvidas as entidades civis “constituídas pelas diferentes
denominações religiosas”.

As denominações são direcionadas às escolas públicas e


são as mais conhecidas e debatidas nos cursos de formação de
professores, nas salas de aula e nos meios de comunicação,
portanto, de conhecimento por parte dos educadores e da sociedade.

Uma generalização incorreta é atribuir, às escolas privadas,


mantidas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, com
características próprias, a especificidade do Ensino Religioso
oferecido nas escolas públicas e mantidas pelo Estado laico, que
não podem fazer opção por nenhuma religião. Acerca do assunto,
conforme Silva (2015, s.p.), “nota-se que só as escolas públicas são
obrigadas a manter a disciplina e apenas no Ensino Fundamental”.

As próprias atribuições dos sistemas de ensino estadual e


municipal, de ouvir as entidades civis e de definir os conteúdos do
Ensino Religioso do Ensino Fundamental, são referentes às escolas
públicas mantidas pelo Estado laico, e não devem ser entendidas
como uma autorização para a interferência na oferta do Ensino
Religioso das escolas privadas, cujos mantenedores possuem
características próprias.

A Legislação do Ensino Religioso nas Escolas Privadas

Ressaltamos duas situações fundamentais do Parecer 16/98,


do Conselho Nacional de Educação, no item “preceito legal maior”.
A primeira indica o dever da escola pública de ministrar o Ensino
Religioso: “1ª - O que fazer ou qual a obrigação legal? Está
explicitado, na Lei Maior: ministrar Educação Religiosa no Ensino
Fundamental da rede pública”.

56
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

A segunda aborda a “competência dos estabelecimentos


de ensino” na “organização e no cumprimento da PROPOSTA
PEDAGÓGICA”, tendo, ao fim, uma referência explícita e exclusiva
aos estabelecimentos de ensino de iniciativa privada:

Ficam, assim, definidos, O QUE FAZER e COMO


FAZER.
Isso posto, há que se considerar, ainda, como de muita
importância para o mérito da questão, que se tenha em
conta a competência dos estabelecimentos de ensino,
principalmente, na organização e no cumprimento da
PROPOSTA PEDAGÓGICA, como “in verbis”, do Art.
12, da LDB nº 9.394/96:
”Art. 12 - Os estabelecimentos de ensino, respeitadas
as normas comuns e as do sistema de ensino, terão
as incumbências de: I - elaborar e executar a proposta
pedagógica”.
Na proposta pedagógica, os estabelecimentos de
ensino deverão dispor o seu currículo, a sua grade
curricular, as suas disposições pedagógicas e didáticas
com todo o processo educativo e de aprendizagem, que
a filosofia da sua entidade mantenedora e/ou a própria
escola (entidade educativa) tem, como princípio, para
haver a procedência. Esse último contexto, quando se
tratarem de estabelecimentos de ensino da iniciativa
privada (BRASIL, 1998, p. 4).

A Não Obrigatoriedade da Oferta

Na Resolução 02/98, do Conselho Nacional de Educação, o


Ensino Religioso é listado com Matemática, Ciências, Geografia,
História, e outras áreas do conhecimento relacionadas na Base
Nacional Comum. Contudo, no Ensino Religioso, e somente nele, a
resolução toma o cuidado de ressaltar que deve ocorrer na forma
do Art. 33, da Lei nº 9.394, ou seja, o fato do Ensino Religioso estar
listado na Base Nacional Comum não se sobrepõe ao fato de que
se “constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas
de Ensino Fundamental”. Portanto, a Resolução não dá margem
para ser confundida como extensão da oferta obrigatória de Ensino
Religioso para as escolas privadas.

O Parecer 16/98, do Conselho Nacional de Educação, ressalta


duas situações fundamentais no item “preceito legal maior”. Uma
delas indica a não obrigatoriedade da oferta do Ensino Religioso
nas escolas privadas, ao indicar a obrigação da escola pública,
e, enquanto obrigação somente da escola pública, de ministrar o
Ensino Religioso. Diz, o texto do parecer: “1ª - O que fazer ou qual a

57
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

obrigação legal? Está explicitado na Lei Maior: ministrar a Educação


Religiosa no Ensino Fundamental da rede pública”.

A Obrigatoriedade da Matrícula no Ensino Religioso nas


Escolas Privadas

Conforme mencionado, a LDB institui que os estabelecimentos


de ensino devem confeccionar as próprias propostas pedagógicas, o
que oportuniza, às escolas particulares, a inclusão ou não do Ensino
Religioso na grade de conteúdo, além da forma de avaliação e da
matrícula. [...]

Considerações Finais

Diante do exposto, verificamos que, no atual ordenamento


jurídico brasileiro, a escola privada se encontra amparada em um
arquétipo da nossa sociedade e ao lado da cidadania, dignidade da
pessoa humana e pluralidade política, que é a livre iniciativa, uma
vez que a promoção do ensino não é de caráter exclusivo do Estado.

Apoiadas pelo próprio laicismo republicano, que não pode optar


por nenhuma etnia, raça ou religião, as escolas particulares podem
escolher 1) por não oferecer o Ensino Religioso na grade curricular,
de acordo com a filosofia da mantenedora, e 2) promover o Ensino
Religioso, de acordo com a confessionalidade, sendo presença não
facultativa, desde que este tem se tornado explícito nos Estatutos e
nos Regimentos próprios.

FONTE: http://www.sinepepr.org.br/sinepe_on_line/2015/agosto/
artigo_4_8_15_Raquel.pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.

58
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

1 - Conforme leitura do texto anterior, responda:

“Uma generalização incorreta, portanto, é atribuir, às escolas


privadas, mantidas por pessoas físicas ou jurídicas de direito
privado, com características próprias, a especificidade do
Ensino Religioso oferecido nas escolas públicas e mantidas
pelo Estado laico, que não podem fazer opção por nenhuma
religião”. Qual legislação a autora apresenta para justificar a não
obrigatoriedade da oferta?

Para uma formação sólida, é importante uma educação que aborde


opiniões divergentes acerca do mesmo tema, que suscite debates
saudáveis e respeitosos. Leia a matéria a seguir e reflita.

Ensino Religioso e escola pública: uma relação delicada


Todos têm o direito de manifestar a sua fé, mas incluir a disciplina na
grade pode causar momentos embaraçosos

Fernanda Salla

(Crédito: Benett)

59
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Aulas de religião na escola pública, isso pode? Sim, de acordo com


a Constituição brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), desde que não sejam obrigatórias para os alunos e
a instituição assegure o respeito à diversidade de credos e coíba o
proselitismo, ou seja, a tentativa de impor um dogma ou converter
alguém. Faz sentido oferecer a disciplina na rede pública? Dessa
vez, a resposta é não, e os motivos são três.

O primeiro tem a ver com a dificuldade de cumprir o que é determinado


legalmente, a começar pelo caráter facultativo. O que fazer com
os estudantes que, por algum motivo, não queiram participar das
atividades? Organizar a grade para que eles tenham, como opção,
atividades alternativas, é o que se espera da escola, porém, não é
o que acontece em muitas redes. Nelas, nenhum aluno é obrigado
a frequentar as aulas da disciplina, mas, se não o fizerem, têm de
descobrir, sozinhos, como preencher o tempo ocioso. A lei não obriga
a rede a oferecer uma aula alternativa, mas é contraditório permitir
que as crianças fiquem na escola sem uma atividade com objetivos
pedagógicos.

A questão da diversidade, outro item previsto na lei, também não


é uma coisa simples de ser resolvida. Como garantir que todos os
grupos religiosos, incluindo divisões internas e dissidências, sejam
respeitados durante o programa em um país plural como o nosso?
Dados do Censo Demográfico 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que 64,6% da população
se declara católica; 22,2%, evangélica; 2%, espírita; 3%, praticante
de outras religiões; e, 8%, sem religião.

O segundo motivo é de foro íntimo e tem a ver com as escolhas


de cada um e com o respeito às opções dos outros. De que forma
assegurar que o professor responsável por lecionar Ensino Religioso
não gere erro de impor o seu credo aos estudantes? Ou que aja de
maneira preconceituosa caso alguém não concorde com as suas
opiniões? É fato que todos, educadores e alunos, têm os direitos de
escolher e de exercer a fé, está na Constituição também. Não há mal
algum em rezar, celebrar dias santos, frequentar igrejas (ou outros
templos), ter imagens de devoção ou portar objetos, como crucifixos
e véus, porém, em hipótese alguma, a escola pode ser usada como
palco para militância religiosa e manifestações de intolerância. É
bom lembrar que a mesma Carta Magna determina que o Estado

60
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

brasileiro é laico e, por meio das instituições, deve se manter neutro


em relação a temas religiosos. Quando isso não acontece, aumentam
os riscos de constrangimentos e eventos de bullying.

Stela Guedes Caputo, doutora em Educação e docente da


Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), pesquisou, por
mais de duas décadas, a infância e a adolescência de praticantes do
candomblé. Por causa da fé, muitos deles foram humilhados pelos
colegas e, até mesmo, pelos professores. Para evitar tais situações,
a maioria omitia a crença na tentativa de se proteger.

O terceiro motivo para deixar o Ensino Religioso fora do currículo


é a essência da escola. Cabe, a ela, usar os dias letivos para
ensinar, aos estudantes, os conteúdos dos diversos campos do
conhecimento. Há tempos, sabe-se que estamos longe de cumprir
essa obrigação básica. Os resultados de avaliações, como a Prova
Brasil e o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, sigla
em inglês), comprovam, com clareza, essa falta grave. Boa parte dos
estudantes conclui o Ensino Fundamental sem alcançar proficiência
em leitura, escrita e Matemática.

Há que se avaliar um argumento usado por quem defende o Ensino


Religioso como forma de tratar de valores morais. Sem dúvida,
é importante que a escola explore esse tema, mas desde que
ele perpasse todo o currículo e esteja presente no discurso e nas
atitudes de toda a comunidade escolar. Por isso, não faz sentido
falar de moral nas aulas de religião e nas atividades alternativas
oferecidas para quem optar por não cursar a disciplina.

Em um cenário ideal, a moral trabalhada no ambiente educacional


não tem a ver com a pregada pelas religiões. Educação e verdades
incontestáveis não combinam. Enquanto os credos são dogmáticos
e pautados na heteronomia (quer dizer, as normas são reguladas por
uma autoridade ou um poder onipresente), a escola é o lugar para a
conquista e o desenvolvimento da autonomia moral. Isso quer dizer
que crianças e adolescentes devem aprender e ser estimulados
a analisar os atos por meio da relação de respeito com o outro,
compreendendo as razões e as consequências de se comportar de
uma ou de outra maneira. Bons projetos de educação moral, que
abrem espaço para questionamentos e mudanças de hábito, dão
conta do recado.

61
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Mesmo sem oferecer a disciplina, muitas instituições pecam ao


usar a religião no dia a dia. Segundo respostas dadas por 54.434
diretores ao questionário da Prova Brasil 2011, independentemente
do oferecimento da matéria, 51% das escolas cultivam o hábito de
cantar músicas religiosas ou de fazer orações no período letivo, no
horário de entrada ou da merenda etc.

Outro exemplo de como os limites são extrapolados é apresentado


no estudo O Uso da Religião como Estratégia de Educação Moral
em Escolas Públicas e Privadas de Presidente Prudente, de Aline
Pereira Lima, mestre em Educação e docente da Faculdade Estadual
de Ciências e Letras de Campo Mourão (Felicam). Na instituição
pública analisada, mesmo sem a presença da matéria na grade dos
anos iniciais do Ensino Fundamental, a religião estava muito mais
presente do que nas duas escolas particulares visitadas, que tinham
caráter confessional declarado. O discurso teológico permeava
o dia a dia dos estudantes, e era usado para solucionar casos de
indisciplina e de violência. A pesquisadora observou, também, que
os professores diziam, aos estudantes, frases, como "Deus castiga
os desobedientes".

Sem contestar ou ameaçar a liberdade de credo de ninguém, espera-


se que os educadores sigam buscando ensinar o que realmente
interessa. Sem orações, imagens e afins.

Religiosidade e Educação

Contrariando a laicidade do Estado, as escolas têm


manifestações de crenças

66% ministra aulas de Ensino Religioso


51% tem o costume de fazer orações ou de cantar músicas religiosas
22% tem objetos, imagens, frases ou símbolos religiosos expostos

FONTE: Questionário Diretor Prova Brasil 2011

FONTE: https://novaescola.org.br/conteudo/74/ensino-religioso-e-escola-
publica-uma-relacao-delicada. Acesso em: 24 abr. 2021.

62
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

1 - O texto anterior trouxe uma situação-problema que força


você, pós-graduando, a pensar de modo não uniforme,
além de ponderar soluções. Assim, resuma os três motivos
apresentados pela autora para a não aceitação do Ensino
Religioso nas escolas públicas e, na sequência, apresente
argumentos fundamentados que resolveriam as questões.

1 - Releia os Arts. 14 e 15, das Diretrizes Curriculares Nacionais


para o Ensino Fundamental dos Nove Anos (Resolução
CNE n° 07/2010), presentes neste capítulo, e, na sequência,
enumere os pontos principais referentes ao Ensino Religioso.

Como vimos até agora, o Ensino Religioso trabalha com base nas orientações
epistêmicas, pedagógicas e curriculares, sinalizadas, principalmente, nas DCNs
e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com as quais trabalharemos
a seguir. Antes, porém, veja o esquema que representa a articulação entre os
antecedentes legais.

FIGURA 1 – ARTICULAÇÃO ENTRE OS ANTECEDENTES LEGAIS

FONTE: A autora

63
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

3 A BASE NACIONAL COMUM


CURRICULAR E O ENSINO
RELIGIOSO
A Base Nacional A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento, de
Comum Curricular caráter normativo, que define o conjunto orgânico e progressivo de
(BNCC) é um aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver
documento, de ao longo das etapas e das modalidades da Educação Básica.
caráter normativo,
Historicamente, a BNCC já era prevista pela Constituição de 1988, no
que define o
conjunto orgânico Art. 210:
e progressivo de
aprendizagens Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o Ensino
Fundamental, de maneira a assegurar formação básica
essenciais que
comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais
todos os alunos e regionais.
devem desenvolver § 1º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, constituirá
ao longo das etapas disciplina dos horários normais das escolas públicas de Ensino
e das modalidades Fundamental.
da Educação § 2º O Ensino Fundamental regular será ministrado em língua
Básica. portuguesa, assegurada às comunidades indígenas, também,
a utilização das línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem.
A BNCC é orientada
pelas Diretrizes Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Curriculares Nacional (LDB), a BNCC deve nortear os currículos dos sistemas e
Nacionais da
as redes de ensino das Unidades Federativas, além das propostas
Educação Básica
e estabelece pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de Educação
conhecimentos, Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil.
competências e
habilidades que A BNCC é orientada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais
se esperam que da Educação Básica e estabelece conhecimentos, competências e
todos os estudantes
habilidades que se esperam que todos os estudantes desenvolvam ao
desenvolvam
ao longo da longo da escolaridade básica.
escolaridade básica.

Para ler a respeito do histórico, da implementação e da BNCC na


íntegra, acesse o site http://basenacionalcomum.mec.gov.br/.

64
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

Silva afirma (2018, p. 32) que a “BNCC foi construída com a colaboração de
muitos professores da educação básica. Teve muitos debates nacionais, nos quais
os professores ajudaram na organização dos conteúdos”. Para Tomazini (2016, p.
72), embora a proposta da BNCC tenha sido elaborada, ouvindo as vozes dos
diferentes gestores da educação pública do nosso país, “em um rápido acesso às
redes sociais e sites especializados nas áreas de política pública e de educação,
é possível ver que ocorreram inúmeros impasses acerca do documento, que se
tornou alvo de inúmeras polêmicas e conflitos”. O Ensino Religioso foi um dos
temas de grande impasse e profundos questionamentos de valia no referido
documento.

No contexto de impasses e com a efetiva participação do FONAPER, o Ensino


Religioso foi inserido nas discussões. Garcia (2020, p. 8) “relata que, nas três
minutas preliminares ao texto final da BNCC, conduzidas pelo MEC, a previsão
do Ensino Religioso ora se apresentava área exclusiva do conhecimento, ora
subárea do conhecimento, até chegar a ser excluído, integralmente, da proposta
de conteúdo da base”. Coube, ao Conselho Nacional da Educação (CNE), o papel
de propor, além de definir as diretrizes do Ensino Religioso, no campo da BNCC,
do “ponto de vista conceitual e da perspectiva didático-pedagógica, inserindo,
definitivamente, a disciplina no contexto político-pedagógico geral da BNCC”
(GARCIA, 2020, p. 8).

A BNCC foi homologada em dezembro de 2017, mobilizando o sistema


educacional brasileiro para a adequação e a elaboração de currículos do Ensino
Fundamental. A BNCC do Ensino Fundamental foi homologada em março de 2018,
organizada em cinco áreas do conhecimento e dos respectivos componentes
curriculares.

65
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

FIGURA 2 – ÁREAS DO CONHECIMENTO E COMPONENTES


CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL (BNCC)

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2021.

1 - Para melhor organizar o seu conhecimento, preencha a


tabela a seguir, com base nos Capítulos 1 e 2 deste material:

66
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

SIGLA DEFINIÇÃO OBJETIVO


DA SIGLA
LDB

PCNs

DCNs
BNCC

A BNCC, inicialmente, explicitou que, “ao longo da história da educação


brasileira, o Ensino Religioso assumiu diferentes perspectivas teórico-
metodológicas, geralmente, de viés confessional ou interconfessional” (BRASIL,
2017, p. 435), e que, hoje, a disciplina se estabelece como

componente curricular, de oferta obrigatória, nas escolas


públicas de Ensino Fundamental, com matrícula facultativa
em diferentes regiões do país. Foram elaborados propostas
curriculares, cursos de formações inicial e continuada e
materiais didático-pedagógicos que contribuíram para a
construção da área do Ensino Religioso, cujas natureza e
finalidade pedagógicas são distintas da confessionalidade
(BRASIL, 2017, p. 435).

Para Pozzer e Palheta (2019, p. 76), “a proposta do Ensino Religioso (ER), na


Base Nacional Comum Curricular (BNCC), possui um caráter não confessional e
não proselitista, reafirmando a necessidade do estudo do conhecimento religioso
na escola, a partir de pressupostos éticos e científicos”. Perceba a sutileza dos
termos confessional, interconfessional e não confessional, presentes ao longo da
construção dessa área do conhecimento que é o Ensino Religioso. Observe, a
seguir, uma distinção de termos.

67
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

• Confessional: ensino de uma única crença.


• Interconfessional: ensino de várias crenças, porém, o viés é
confessional. Cada religião, além da Igreja Católica, pode ensinar
uma crença, induzindo o educando a seguir o credo ensinado.
• Não confessional: ensino a partir do qual se estudam as
manifestações culturais e religiosas da sociedade, tendo, como
objeto de análise, cultos, festas, rituais etc. de cada religião, de
forma a permitir, ao estudante, o conhecimento das expressões
de fé nas mais diferentes formas. Também chamado de ensino
fenomenológico.

Além das diferenças expostas anteriormente, você pode encontrar,


em materiais e em concursos da área de Ensino Religioso, os termos
elucidados, como a seguir, pelo texto de Cordeiro.

MODALIDADES DE ENSINO RELIGIOSO PRATICADAS NO BRASIL

A modalidade confessional (uni, pluri, inter-religiosa) [...]:

a) A variante uni-religiosa atravessou os períodos Colonial e Imperial


e entrou, também, no período Republicano, como catequese ou
Ensino Religioso católico.
b) A variante plurirreligiosa se manifestou pela presença de diversas
denominações na escola, que pregaram doutrinas e fizeram
novos prosélitos.

68
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

c) A variante inter-religiosa obteve declínio, devido à dificuldade


de compatibilizar conteúdos comuns por denominações
diferentes, mesmo dentro do Cristianismo. Essas denominações
se agregaram nos Conselhos Interconfessionais de Ensino
Religioso (CIER), tendo em vista o cumprimento do § 2º, do Art.
1º, da Lei nº 9.475/97: “Os sistemas de ensino ouvirão a entidade
civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a
definição dos conteúdos do Ensino Religioso” [...].

A modalidade de Ensino Religioso não confessional ou


transconfessional é o modelo seguido pela maioria das escolas
públicas, após o advento da Lei n° 9.475/97, seguindo os Parâmetros
Curriculares do Ensino Religioso elaborados pelo FONAPER:

• Não é o Ensino Religioso de uma ou de algumas religiões, mas


de todas, grandes e pequenas.
• A disciplina Ensino Religioso não pertence a denominações
religiosas, mas à própria rede de ensino, e integra o currículo da
escola pública.
• É a maneira de compatibilizar a laicidade do Estado com o
Ensino Religioso nas escolas públicas, e apresenta doutrinas e
dimensões sociais das diferentes religiões.
• Justifica-se em razão da laicidade do Estado, que deve se manter
neutro em relação às diferentes concepções religiosas presentes
na sociedade, sendo-lhe vedado tomar partido em questões de
fé, além de buscar o favorecimento ou o embaraço de qualquer
crença, ou grupo de crenças [...].

FONTE: CORDEIRO, D. Diversidade religiosa direitos humanos e Ensino


Religioso. In: POZZER, A. et al. Ensino Religioso na Educação Básica:
fundamentos epistemológicos e curriculares. Florianópolis: Saberes em
Diálogo, 2015. p. 145-153.

69
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

1 - No Brasil, encontramos diversos tipos de Ensino


Religioso. A respeito disso, como se classifica o
Ensino Religioso, que é ministrado nas escolas
públicas? Teoricamente, não admite qualquer tipo de
proselitismo religioso, preconceito ou manifestação
em desacordo com o direito individual dos alunos e
das famílias de professar um credo religioso, ou, até
mesmo, o de não professar nenhum. Deve assegurar
as diversidades cultural e religiosa, fundamentando-
se, essencialmente, em princípios de cidadania, ética,
tolerância e em valores humanos universais presentes
em todas as culturas e tradições religiosas existentes.

a) Confessional.
b) Interconfessional.
c) Pluriconfessional.
d) Não Confessional.

A BNCC trabalha com um conjunto de aprendizagens essenciais aos


estudantes brasileiros, e o desenvolvimento integral é marcado por meio das dez
competências gerais para a Educação Básica, apoiando as escolhas necessárias
para a concretização dos projetos de vida e a continuidade dos estudos. Observe:

70
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

FIGURA 3 – COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Na BNCC, competência é definida:

como a mobilização de conhecimentos (conceitos e


procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e
socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas
complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e
do mundo do trabalho (BRASIL, 2017, p. 8).

71
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

A Base, A Base, considerando os marcos normativos e as competências


considerando os gerais, define os seguintes objetivos para o Ensino Religioso enquanto
marcos normativos área do conhecimento:
e as competências
gerais, define a) Proporcionar a aprendizagem dos conhecimentos religiosos,
os seguintes culturais e estéticos, a partir das manifestações religiosas
objetivos para o percebidas na realidade dos educandos.
Ensino Religioso b) Propiciar conhecimentos do direito à liberdade de
enquanto área do consciência e de crença, no constante propósito de promoção
dos direitos humanos.
conhecimento.
c) Desenvolver competências e habilidades que contribuam
para o diálogo entre perspectivas religiosas e seculares de
vida, exercitando o respeito à liberdade de concepções e o
pluralismo de ideias, de acordo com a Constituição Federal.
d) Contribuir para que os educandos construam os sentidos
pessoais de vida a partir de valores, princípios éticos e
cidadania (BRASIL, 2017, p. 436).

Conforme a BNCC, o Ensino Religioso se traduz, pedagogicamente, através


de diferentes áreas do conhecimento científico, como das Ciências Humanas e
Sociais, e, notadamente, da Ciência da Religião.

Essas Ciências investigam a manifestação dos fenômenos


religiosos em diferentes culturas e sociedades enquanto
um dos bens simbólicos resultantes da busca humana por
respostas aos enigmas do mundo, da vida e da morte. De modo
singular, complexo e diverso, esses fenômenos alicerçaram
distintos sentidos e significados de vida e diversas ideias de
divindade (s), em torno dos quais se organizaram cosmovisões,
linguagens, saberes, crenças, mitologias, narrativas, textos,
símbolos, ritos, doutrinas, tradições, movimentos, práticas e
princípios éticos e morais.
Os fenômenos religiosos, nas múltiplas manifestações, são
parte integrante do substrato cultural da humanidade (BRASIL,
2017, p. 436).

Para Silva (2018), a BNCC desvincula o Ensino Religioso do proselitismo,


instaurando uma perspectiva reelaborada pelo conhecimento científico da Ciência
da Religião. Você já ouviu falar desse campo do conhecimento, chamado de
Ciência da Religião? E da diferenciação em relação à Teologia?

72
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

Para saber da Ciência da Religião, das abordagens, das questões


e das atualidades, veja a entrevista a seguir, com Emerson Sena
da Silveira, doutor em Ciência da Religião e Antropólogo (Ciências
Sociais) pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e
professor associado do Departamento de Ciência da Religião
(DCRE), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Participa
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião (PPCIR-
UFJF):
https://www.youtube.com/watch?v=q6QwfmJB4hk.

Além das competências gerais, a BNCC trabalha com competências


específicas, no caso, do Ensino Fundamental, por área do conhecimento e por
componentes curriculares. Considerando os pressupostos, e em articulação com
as competências gerais da Educação Básica, a área de Ensino Religioso e, por
consequência, o componente curricular de Ensino Religioso, devem garantir, aos
alunos, o desenvolvimento de competências específicas, como exposto a seguir:

FIGURA 4 – COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE ENSINO


RELIGIOSO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

73
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Para garantir o desenvolvimento das competências específicas, na BNCC,


cada componente curricular apresenta um conjunto de habilidades (práticas
cognitivas e socioemocionais ou equivalentes a expectativas de aprendizagem).
Essas habilidades estão relacionadas a diferentes objetos de conhecimento,
entendidos como conteúdos, conceitos e processos que, por sua vez, são
organizados em unidades temáticas. Importante destacar que os critérios de
organização das habilidades na Base

(com a explicitação dos objetos de conhecimento aos quais


se relacionam e do agrupamento desses objetos em unidades
temáticas) expressam um arranjo possível (dentre outros).
Portanto, os agrupamentos propostos não devem ser
tomados como modelo obrigatório para o desenho dos
currículos (BRASIL, 2017, p. 441, grifo nosso).

Na BNCC, cada habilidade é identificada por um código


alfanumérico, cuja composição é a seguinte:

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

74
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

Como Junqueira e Itoz (2020, p. 86) informam, as “habilidades são Assim, para o
como degraus que precisam ser galgados para adquirir competências, Ensino Religioso, as
porém, habilidades, por si só, não desenvolvem conhecimento. Para unidades temáticas
isso, é preciso estrutura – unidades temáticas e objetos de conhecimento propostas são:
–, como nas demais áreas”. Assim, para o Ensino Religioso, as unidades
• Identidades e
temáticas propostas são:
alteridades.
• Manifestações
• Identidades e alteridades. religiosas.
• Manifestações religiosas. • Crenças religiosas
• Crenças religiosas e filosofias de vida. e filosofias de vida.

Ao se falar das identidades e das alteridades, pretende-se que os


estudantes

reconheçam, valorizem e acolham o caráter singular e diverso


do ser humano, por meio da identificação e do respeito às
semelhanças e diferenças entre o eu (subjetividade) e os outros
(alteridades), da compreensão dos símbolos e dos significados
e da relação entre imanência e transcendência (BRASIL, 2017,
p. 438).

Na sequência, manifestações religiosas são consideradas um conjunto de


elementos, símbolos, ritos, espaços, territórios e lideranças em que se “pretende
proporcionar o conhecimento, a valorização e o respeito às distintas experiências
e manifestações religiosas, além da compreensão das relações estabelecidas
entre as lideranças e as denominações religiosas e as distintas esferas sociais”
(BRASIL, 2017, p. 439).

Por fim, crenças religiosas e filosofias de vida se concentram em assuntos


considerados importantes para as religiões, movimentos religiosos e filosofias
de vida, como “mitos, ideia (s) de divindade (s), crenças e doutrinas religiosas,
tradições orais e escritas, ideias de imortalidade, princípios e valores éticos”
(BRASIL, 2017, p. 439).

Perceba que muitos dos termos apresentados nas unidades temáticas são
do nosso conhecimento até aqui, e óbvios no Ensino Religioso, porém, deparamo-
nos com um termo novo: filosofias de vida.

Também, as filosofias de vida se ancoram em princípios, cujas


fontes não advêm do universo religioso. Pessoas sem religião
adotam princípios éticos e morais, cuja origem decorre de
fundamentos racionais, filosóficos, científicos, dentre outros.
Esses princípios, geralmente, coincidem com o conjunto de
valores seculares de mundo e de bem, como: o respeito à vida
e à dignidade humana, o tratamento igualitário das pessoas,
a liberdade de consciência, a crença e as convicções, e os
direitos individuais e coletivos (BRASIL, 2017, p. 441).

75
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Costa e Stern (2020, p. 191) alertam que, “além das crenças religiosas,
há outros ideais que influenciam a conduta humana, classificados, de maneira
geral, como filosofias de vida. Esse termo aponta para princípios éticos e morais,
seguidos por pessoas sem religião”. Para Costa e Stern (2020, p. 191), estudar as
filosofias de vida é relevante aos estudantes, para que estes possam percebam
as múltiplas formas de ver o mundo. “Afinal, grupos religiosos e não religiosos
tendem a conviver no espaço público”, trocando ideais e posturas de vida.

1 - Para além das crenças religiosas, há outros ideais que


influenciam a conduta humana, e podem surgir das mais
diferentes fontes. Quais exemplos podem ser citados acerca
das filosofias de vida?

Para Rodrigues (2016, p. 57), a BNCC constitui o documento que, na


atualidade, melhor define e qualifica o lugar e a tarefa do Ensino Religioso no
âmbito do currículo escolar:

Ao compreender esse componente como conhecimento


relevante para a formação cidadã, que resulta dos processos de
produção humana ligados à história, ao pensamento humano e
às tradições socioculturais, a BNCC aponta para um horizonte
de conteúdos específicos que dizem respeito ao conhecimento
de religião, finalmente, entendida como objeto de estudo e
investigação.

A seguir, você encontrará a organização da disciplina de Ensino Religioso,


conforme a BNCC. Lembre-se: a Base é um importante documento normativo
para a construção de currículos, materiais didáticos e formação de professores.

76
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

FIGURA 5 – ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL/ANOS INICIAIS -


UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES 1º ANO

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2021.

FIGURA 6 – ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL/ANOS INICIAIS -


UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES 2º ANO

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2021.

77
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Utilizando a BNCC, Silveira e Silveira (2016, p. 61) sugerem, para os 1º e 2º


anos, trabalharem com o seguinte, dentre outras coisas: “quem é o aluno/aluna;
quais as minorias religiosas presentes; que estruturas familiares estão ali; quais
são as vivências religiosas familiares, de fato”, a fim de que se reconheçam o eu,
o outro e o nós, valorizando a diversidade existente.

FIGURA 7 – ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL/ANOS INICIAIS -


UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES 3º ANO

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2021.

Para o 3º ano, Silveira e Silveira (2016, p. 62) recomendam trabalhar, com


base na BNCC, com os “espaços sagrados em que vivem/viveram os alunos/
familiares; territórios; práticas e vestimentas religiosas na lembrança dos alunos”,
além de “significado, práticas e vestuários das religiões em perspectiva histórica”.
Pretende-se criar o respeito às distintas experiências e manifestações religiosas.

78
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

FIGURA 8 – ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL/ANOS INICIAIS -


UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES 4º ANO

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2021.

Para o 4º ano, Silveira e Silveira (2016, p. 62) indicam os “rituais de religiões


antigas e atuais, pinturas rupestres a contemporâneas; arquitetura (templos)
de religiões antigas às atuais; mitos e lendas de povos “primitivos” e religiões,
inclusive, o cristianismo”. Já Costa e Stern (2020, p. 193) chamam atenção para
o objeto de conhecimento “Ideia (s) de divindade (s)”. Os autores alertam ser
de “alta relevância, pois a maioria das religiões tem, entre as crenças, a noção
de seres metaempíricos”. Costa e Stern (2020, p. 193), ainda, lembram que o
“conhecimento cognitivo, nesse período, pede por exemplos concretos”, e deve
ser “necessário adaptar o conhecimento” a linguagem dos alunos, além de “usar
cores, formas e narrações lúdicas que instiguem os estudantes”.

79
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

FIGURA 9 – ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL/ANOS INICIAIS -


UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES 5º ANO

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2021.

Com base na BNCC, Silveira e Silveira (2016, p. 62) explanam a possibilidade


de trabalhar, com o 5º ano, “relatos que os alunos ouviram; contar histórias
das expressões religiosas; abordar as narrativas religiosas da comunidade
local”. É possível selecionar “mitos e ritos de religiões; relatos de vários povos
indígenas brasileiros e outras regiões do planeta”, por exemplo. Costa e Stern
(2020, p. 194) lembram que “narrativas são discursos – orais ou escritos – que
expressam mensagens. Todo o mito é uma narrativa simbólica, ou seja, expressa
e tem significado para quem ouve ou lê”. Para os autores, os estudantes devem
conseguir identificar, com respeito, as narrativas de cada cultura religiosa,
entendendo que elas auxiliam na preservação da memória social.

80
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

FIGURA 10 – ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL/ANOS FINAIS -


UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES 6º ANO

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2021.

Para o 6º ano, Silveira e Silveira (2016, p. 62) recomendam os “escritos


sagrados: Bíblia (católica e protestante), Alcorão, Torá, Talmude, Tripitaka (do
Budismo), Mahabharata, Bhagavad Gita, Upanishad, Vedas (Hinduísmo)” e,
assim, explicar “história e sociologia da longa constituição desses escritos”. Costa
e Stern (2020, p. 198) advertem que é “visado que os educandos identifiquem
as características dos textos religiosos, além de que reconheçam a importância
na continuidade da memória coletiva”. Os estudantes precisam valorizar a
diversidade, a convivência intercultural e o respeito às diferenças.

81
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

FIGURA 11 – ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL/ANOS FINAIS -


UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES 7º ANO

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2021.

Para o 7º ano, Silveira e Silveira (2016, p. 63) pontuam a importância de


“quem são os líderes religiosos na comunidade local”, por exemplo, ainda,
“líderes das diversas religiões” e “líderes religiosos brasileiros e internacionais”.
Abordar “direitos humanos”, “convenções internacionais”, “intolerância religiosa”
e “violência de gênero nas religiões”. Costa e Stern (2020, p. 201-202) explanam
que, no 7º ano, busca-se “mostrar outras referências morais, além das religiosas,
como os Direitos Humanos”. Trata-se, agora, “de saber de questões mais jurídicas,
incluindo leis nacionais e regionais”.

82
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

FIGURA 12 – ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL/ANOS FINAIS -


UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES 8º ANO

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2021.

Para o 8º ano, Silveira e Silveira (2016, p. 63) citam as “definições de crença


e de doutrina; doutrinas religiosas; filosofias de vida; presença de religiões nas
mídias, novas e antigas; tecnologias e religiões”. Costa e Stern (2020, p. 202)
pontuam que, no 8º ano, são estudadas “as crenças e as convicções de todo tipo
(religiosas ou não), e como elas têm impacto nas ações humanas”. A atenção
também se volta para as “crenças institucionalizadas, socialmente, por diversas
religiões”. Por terceiro, à “relação entre crenças religiosas e filosofias de vida”. A
BNCC propõe “que o uso das mídias sociais e das tecnologias, pelas religiões,
seja explorado”.

83
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

FIGURA 13 – ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL/ANOS FINAIS -


UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES 9º ANO

FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2021.

Para o 9º ano, Silveira e Silveira (2020, p. 63) indicam trabalhar com


“definições de imanência e transcendência (variam nas religiões, há religiões sem
transcendência); concepções de vida e de morte nas religiões; ética, principais
definições (ética pragmática, ética de valores, ética de responsabilidade); e
relação com tradições religiosas”.

No 9º ano, o objeto de conhecimento “vida e morte” é apresentado aos


estudantes. Costa e Stern (2020, p. 206) colocam que “a morte é uma temática
instigante ao estudo não apenas das religiões, mas, também, à própria reflexão
da vida nas aulas de Ensino Religioso”. Os autores colocam que isso pode ser
feito, por exemplo, “através de estudos de ritos fúnebres realizados por distintas
tradições” ou “comparações entre visões da morte e pós-morte entre as religiões”.

84
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

A BNCC apresenta a imanência como a dimensão concreta, biológica


e, a transcendência, como a dimensão subjetiva, simbólica.

O livro mencionado a seguir é uma importante obra de análise do


Ensino Religioso, a partir da Base Nacional Comum Curricular:
SILVEIRA, E. S. da; JUNQUEIRA, S. O Ensino Religioso na BNCC:
teoria e prática para o Ensino Fundamental. Petrópolis: Vozes, 2020.

1 - A BNCC é um documento de caráter normativo que define


o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens
essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo
das etapas e das modalidades da Educação Básica.
As aprendizagens essenciais definidas na BNCC devem
concorrer para assegurar, aos estudantes, o desenvolvimento
de dez competências gerais, que consubstanciam, no âmbito
pedagógico, os direitos de aprendizagem e de desenvolvimento.
Além disso, cada área do conhecimento estabelece
competências específicas, cujo desenvolvimento deve ser
promovido para atingir as competências gerais.
Para garantir o desenvolvimento das competências específicas,
na BNCC, cada componente curricular apresenta um conjunto
de habilidades que estão relacionadas a diferentes objetos
de conhecimento, entendidas como conteúdos, conceitos e
processos, que, por sua vez, são organizados em unidades
temáticas. Assim, pesquise a definição que a BNCC traz das
competências e das habilidades e as diferencie.

85
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

1 - Agora que você compreendeu a função e a estrutura da


BNCC, que tal “colocar a mão na massa” e produzir um plano
de aula alinhado à Base? Siga o exemplo e produza o seu.
Vamos lá?!

Título da Aula: Tradição Escrita: registro dos ensinamentos sagrados


Ano: 6º ano
Unidade Temática: Crenças Religiosas e Filosofias de Vida
Objeto (s) de Tradição Escrita: registro dos ensinamentos sagrados
Conhecimento:
Habilidade (s) da (EF06ER02) Reconhecer e valorizar a diversidade de textos
BNCC: religiosos escritos (textos do Budismo, Cristianismo, Espiritismo,
Hinduísmo, Islamismo, Judaísmo etc.).
Duração: Uma aula de 50 minutos
Metodologia: Usando slides ou impressões, apresente, aos estudantes, um
resumo das informações dos livros sagrados presentes no site:

https://novaescolaproducao.s3.amazonaws.com/qFUZzswhk-
6MMMXcdDg4rDkcUSW9XvksqyfFgqgGAhs2baS62Udrnh2gqb-
gm6/his5-03und05-fontes.pdf.

Explique o contexto de surgimento das religiões e como os livros


sagrados foram produzidos.

Diga que os textos religiosos são a base dessas crenças, e o


lugar em que estão sistematizados os ensinamentos de cada
doutrina religiosa. Apesar do passar do tempo, os ensinamentos
que contêm continuam sendo apropriados pelos seguidores das
religiões e utilizados como maneiras de compreender os aconte-
cimentos do mundo.

Mencione que algumas das figuras das fontes não são dos pri-
meiros registros desses livros, mas de versões que foram feitas
posteriormente.

Pergunte, aos alunos, se eles acreditam que ainda existem,


na humanidade, os primeiros exemplares dos livros religiosos.
Relacione com os textos védicos, apontando a idade que teriam
esses manuscritos (mais de quatro mil anos), e pergunte como
teriam sido escritos, qual técnica teria sido empregada. Você
pode relacionar essa ideia para o registro com as tábuas de pe-
dra dos Dez Mandamentos, recebidos por Moisés, que são parte
fundamental da Torá. Levante questões, como: Por que teriam
sido usadas essas pedras? Como eram os livros naquela épo-
ca? Eles existiam em abundância? Quem sabia ler e escrever no
momento em que cada religião foi fundada? etc.

86
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

Avaliação: Produza uma linha do tempo coletiva com os momentos de


elaboração dos escritos sagrados. Para isso, você deve utilizar
folhas de cartolina ou papel-cartão. Construa, coletivamente,
esse trabalho, em grupos ou com a turma toda, refletindo acerca
das passagens do tempo e da escrita dos textos sagrados. Esse
recurso é importante para que os alunos compreendam que as
religiões se desenvolveram em diferentes momentos da história.
No site a seguir, você encontrará a explicação detalhada da ativ-
idade: https://novaescola.org.br/conteudo/2371/espiral-do-tempo.
Referências: https://novaescolaproducao.s3.amazonaws.com/qFUZzswhk-
6MMMXcdDg4rDkcUSW9XvksqyfFgqgGAhs2baS62Udrnh2gqb-
gm6/his5-03und05-fontes.pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.

https://novaescola.org.br/conteudo/2371/espiral-do-tempo. Aces-
so em: 24 abr. 2021.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Caro pós-graduando, visando promover o conhecimento e a interpretação da
legislação que embasa o Ensino Religioso, foram apresentadas, neste capítulo,
as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC).

As DCNs são normas para a Educação Básica e orientam o planejamento


curricular das escolas e dos sistemas de ensino. Vimos que as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental dos Nove Anos (Resolução
CNE n° 07/2010) apresentam o Ensino Religioso como um componente curricular
do Ensino Fundamental, sendo, a oferta, obrigatória, porém, de matrícula
facultativa, como uma forma de salvaguardar a liberdade religiosa, sendo proibido
qualquer ato de proselitismo. A resolução ainda afirma a importância do Ensino
Religioso para a formação básica do cidadão.

A BNCC é um documento de caráter normativo que define o conjunto


orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem
desenvolver ao longo das etapas e das modalidades da Educação Básica. Na
Base, o Ensino Religioso possui um caráter não confessional e não proselitista,
reafirmando a necessidade do estudo do conhecimento religioso na escola, a partir
de pressupostos éticos e científicos. Conforme a BNCC, o Ensino Religioso se
traduz pedagogicamente, através de diferentes áreas do conhecimento científico,
como das Ciências Humanas e Sociais, e, notadamente, da Ciência da Religião.

87
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Analisamos como a Base apresenta o Ensino Religioso como área do


conhecimento e componente curricular, além dos objetivos e das competências
específicas. Por fim, como a BNCC, a fim de garantir o desenvolvimento das
competências gerais e específicas, apresenta um conjunto de habilidades, objetos
de conhecimento e unidades temáticas.

Buscou-se fortalecer o conhecimento religioso a partir de pressupostos


éticos e científicos, e, dessa maneira, problematizar representações sociais
preconceituosas do outro, com o intuito de combater a intolerância, a discriminação
e a exclusão.

88
Capítulo 2 ENSINO RELIGIOSO: LEGISLAÇÃO NORMATIVA

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2017.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 11 abr. 2021.

BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CEB/CNE, nº 4/2010. Estabelece


Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica. 2010a. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12992:di
retrizes-para-a-educacao-basica&catid=323. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASI. Ministério da Educação. Resolução CEB/CNE, nº 7/2010. Estabelece


Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos.
2010b. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&v
iew=article&id=12992:diretrizes-para-a-educacao-basica&catid=323. Acesso em:
24 abr. 2021.

COSTA, M. O.; STERN, F. L. Crenças religiosas e filosofias de vida na BNCC:


importância para o Ensino Religioso sob a perspectiva da Ciência da Religião.
In: SILVEIRA, E. S. da; JUNQUEIRA, S. O Ensino Religioso na BNCC: teoria e
prática para o Ensino Fundamental. Petrópolis: Vozes, 2020.

GARCIA, G. Prefácio. In: SILVEIRA, E. S. da; JUNQUEIRA, S. O Ensino


Religioso na BNCC: teoria e prática para o Ensino Fundamental. Petrópolis:
Vozes, 2020.

JUNQUEIRA, S. R. A.; ITOZ, S. O Ensino Religioso segundo a BNCC. In:


SILVEIRA, E. S. da; JUNQUEIRA, S. O Ensino Religioso na BNCC: teoria e
prática para o Ensino Fundamental. Petrópolis: Vozes, 2020.

POZZER, A.; PALHETA, F. S. B. Ensino Religioso e decolonialidade do saber.


Florianópolis: FONAPER, 2019. Disponível em: fonaper.com.br. Acesso em: 24
abr. 2021.

RODRIGUES, E. Fundamentos teóricos e epistemológicos para a docência em


Ensino Religioso: uma proposta em construção. In: JUNQUEIRA, R. A.; GOMES,
E. S. L. Ensino Religioso: religião e cultura. João Pessoa: Editora da UFPB,
2016.

SILVA, M. da P. L. da. Eixos temáticos do Ensino Religioso na obra de


Inês Carniato: uma análise nos livros didáticos da coleção Ensino Religioso
fundamental. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2018.

89
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

SILVEIRA, E. S. da; SILVEIRA, D. D. S. da. Ciência (s) da religião: um quadro


de referências para o Ensino Religioso. In: JUNQUEIRA, R. A.; GOMES, E. S. L.
Ensino Religioso: religião e cultura. João Pessoa: Editora da UFPB, 2016.

TOMAZINI, D. A. O Ensino Religioso na educação pública e o trabalho


docente: um estudo no município de Uberlândia/MG a partir da Lei de Diretrizes
e Bases 1996/97. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2016.

90
C APÍTULO 3
ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA,
DESAFIOS E PERSPECTIVAS

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Entender o processo de formação do professor de Ensino Religioso.


 Reconhecer a importância do Ensino Religioso para a formação do
aluno, a partir de pressupostos éticos e científicos. Abordar esse
conhecimento com base nas diversas culturas e tradições religiosas,
sem desconsiderar a existência de filosofias seculares de vida.
 Propiciar conhecimentos dos desafios para o Ensino Religioso
frente aos atuais contextos sociocultural e religioso do país.
 Analisar as perspectivas para o Ensino Religioso.
 Valorizar o Ensino Religioso, para a formação do aluno,
como importante componente para a promoção da cidadania,
combate à intolerância, à discriminação e à exclusão.
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

92
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Neste capítulo, buscaremos entender a formação do profissional docente em
Ensino Religioso no nosso país. Processo nem sempre tranquilo, em consequência
do percurso da constituição da identidade desse componente curricular. Veremos
quais as diretrizes seguidas pelos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação
para a formação de professores que atuam nos anos iniciais e finais, do Ensino
Fundamental, em Ensino Religioso. Ainda, o perfil desses profissionais e os
desafios para a formação.

Na sequência, debruçar-nos-emos sobre a importância do Ensino Religioso


para a formação dos estudantes. Respondemos algumas indagações: por
que é preciso aprender isso? Qual o sentido desse conhecimento? Para isso,
primeiramente, abordaremos a legislação que embasa esse componente curricular
para, depois, abarcarmos alguns dos teóricos da área.
Hoje, quando
Também analisaremos alguns dos desafios enfrentados pelo Ensino pensamos na
Religioso nos atuais contextos sociocultural e religioso brasileiros. Por formação do
profissional
fim, apresentaremos as perspectivas para esse componente curricular
docente em Ensino
no sentido de expectativas, esperanças e metas a serem atingidas para Religioso, partimos
fortalecer o Ensino Religioso enquanto área de conhecimento, pois, do do Art. 33, da Lei
ponto de vista curricular, está instituído nos dispositivos legais em âmbito de Diretrizes e
nacional, porém, é indispensável pensar nos caminhos de atenção e de Bases da Educação
afirmação. Nacional (BRASIL,
1996), que, no
primeiro inciso,
traz que “os
2 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR sistemas de ensino
regulamentarão
PARA O ENSINO RELIGIOSO os procedimentos
para a definição
dos conteúdos do
Junqueira (2002, p. 111) afirma que, “ao longo da história do Ensino Ensino Religioso
Religioso, sempre houve preocupação com a formação dos professores, e estabelecerão
porém, esta nem sempre foi algo tranquilo, em consequência da as normas para
a habilitação e
dificuldade de identidade da disciplina”. Hoje, quando pensamos na
a admissão dos
formação do profissional docente em Ensino Religioso, partimos do professores.”
Art. 33, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL,
1996), que, no primeiro inciso, traz que “os sistemas de ensino regulamentarão
os procedimentos para a definição dos conteúdos do Ensino Religioso e
estabelecerão as normas para a habilitação e a admissão dos professores.” Inciso
esse que foi incluso pela Lei nº 9.475, de 22 de julho de 1997.

93
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Na LDB (BRASIL, 1996), é mencionado, no Art. nono, aos Estados,


municípios e à própria União, um regime de colaboração, remetendo-nos ao
Parecer CP/CNE nº 097/99, que trata da formação de professores para o Ensino
Religioso nas escolas públicas, aprovado em 4 de abril de 1999:

[...] Em primeiro lugar, deve-se considerar que, atribuindo a


lei aos diferentes sistemas de ensino, não só a definição dos
conteúdos do Ensino Religioso, mas, também, as normas
para habilitação e admissão dos professores, é impossível
prever a diversidade das orientações estaduais e municipais
e, assim, estabelecer uma diretriz curricular uniforme para
uma licenciatura em Ensino Religioso que cubra as diferentes
opções.
Em segundo lugar, precisamos reconhecer que a Lei nº
9475 não se refere à formação de professores, isto é, ao
estabelecimento de cursos que habilite para essa docência,
mas que atribua, aos sistemas de ensino, tão somente, o
estabelecimento de normas para habilitação e admissão dos
professores [...] (BRASIL, 1999).

Para Miranda, Cunha e Rédua (2019, p. 55), “a União se esquiva de autorizar,


de reconhecer e de avaliar as pretensões em formação docente do profissional em
Ensino Religioso a nível de licenciatura, e reafirma ser, dos Estados e municípios,
essa incumbência”. Assim, ficam as perguntas, e a formação do docente em
Ensino Religioso, como fica? Como Estados e municípios devem lidar? Quais as
possibilidades?

Miranda, Cunha e Rédua (2019, p. 55) alertam que “a política nacional,


em nome da laicidade, não menciona nenhuma diretriz que norteie a formação
docente”. Com isso, fica o pressuposto do Fórum Nacional Permanente do Ensino
Religioso (FONAPER), que, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino Religioso (PCNER), divulgou, em 1997, cinco diretrizes para a
habilitação e a admissão do profissional docente:

1. Fazer parte do quadro permanente do magistério federal/


estadual ou municipal 2. Ser portador de diploma de
licenciatura em Ensino Religioso. [...] Portadores de diploma
de especialista em Ensino Religioso (mínimo de 360 h/a). [...]
Bacharéis na área da religiosidade, com complementação
exigida no MEC, desde que tenha cursado disciplina na área
temática de Teologia Comparada, no total de 120 h/aula. 3.
Demonstrar capacidade de atender às pluralidades cultural
e religiosa brasileiras, sem proselitismo. 4. Comprometer-se
com os princípios básicos de convivência social e cidadania,
vivenciando a ética própria aos profissionais da educação. 5.
Apresentar domínio dos Parâmetros Curriculares Nacionais
do Ensino Religioso [...] (FONAPER, 1998 apud JUNQUEIRA,
2016, p. 52).

94
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

1 - Estudamos, até aqui, que a União se esquiva de autorizar, de


reconhecer e de avaliar a formação docente do profissional
em Ensino Religioso, deixando essa incumbência aos
municípios e aos Estados. A seguir, você encontrará os
procedimentos adotados pelo estado do Paraná para a
atribuição de aulas de Ensino Religioso, conforme Art.
6º, Deliberação nº 01, de 2006, do Conselho Estadual de
Educação – CEE/PR:

Art. 6° Para o exercício da docência no Ensino Religioso,


exigir-se-á, em ordem de prioridade:
I - nos anos iniciais:
a - graduação em Curso de Pedagogia, com habilitação
para o magistério dos anos iniciais;
b - graduação em Curso Normal Superior;
c - habilitação em Curso de Nível Médio - modalidade
normal, ou equivalente.
II - nos anos finais:
a - formação em cursos de licenciatura na área
das Ciências Humanas, preferencialmente, em
Filosofia, História, Ciências Sociais e Pedagogia, com
especialização em Ensino Religioso (PARANÁ, 2006).

O Conselho Estadual de Educação do Paraná, partindo,


principalmente, da Constituição Federal e das disposições
constantes no Art. 33, da Lei nº 9394/96, com a redação dada pela
Lei nº 9.475/97, priorizou, para as escolas estaduais públicas,
os professores efetivos, ou seja, do quadro permanente, com
concurso nas disciplinas de Filosofia, História, Sociologia,
Geografia ou Pedagogia, e com Especialização em Ensino
Religioso. Assim, podemos perceber que foram contemplados
alguns dos pressupostos divulgados pelo FONAPER.

Agora, é sua vez de pesquisar o que as resoluções e os


pareceres do Conselho Estadual de Educação do seu Estado
dispõem sobre o Ensino Religioso nos Ensinos Fundamental e
Médio, nas escolas da rede pública. Caso você seja do Paraná,
pode escolher outro Estado para fazer a pesquisa.

95
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Para Junqueira Para Junqueira (2016, p. 16), os Conselhos Estaduais e Municipais


(2016, p. 16), de Educação seguem as diretrizes para a formação de professores/
os Conselhos as que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, “admitindo
Estaduais e professores/as habilitados/as para exercer a docência só após a
Municipais de conclusão do Curso Normal no Ensino Médio, Curso Normal Superior
Educação seguem
ou Curso de Pedagogia, com habilitação nos anos iniciais”.
as diretrizes para
a formação de
professores/as que Para os anos finais do Ensino Fundamental, há uma tentativa
atuam nos anos de seguir o que o FONAPER propõe para a formação acadêmica
iniciais do Ensino dos professores da área. Há uma exigência legal de licenciatura para
Fundamental, a docência na educação básica. Para o Ensino Religioso, o desafio
“admitindo
persiste, pois, na maioria das unidades da federação, não existe a
professores/as
habilitados/as para oferta para a graduação nesse ensino.
exercer a docência
só após a conclusão Junqueira (2016, p. 12) informa que há “um índice elevado de
do Curso Normal professores atuando em áreas que não são da sua especificidade e,
no Ensino Médio, com isso, assumem a docência para suprir a carência nos diferentes
Curso Normal
componentes curriculares. Essa é uma prática de norte a sul do país”.
Superior ou Curso
de Pedagogia, com Para compreender o processo de seleção de professores, é necessário
habilitação nos anos estabelecer a situação da formação dos professores no campo do
iniciais”. Ensino Religioso.

Para os anos Considera-se, como precursora, a experiência do Estado de Santa


finais do Ensino
Catarina, pioneira em implantar e em organizar a Licenciatura em
Fundamental, há
uma tentativa de Ciências da Religião/Ensino Religioso. Junqueira (2016, p. 131) relata
seguir o que o que, “em outros Estados da federação, há cursos livres, de extensão
FONAPER propõe ou de especialização para complementar a formação acadêmica dos
para a formação professores/as que são oriundos/as de outras áreas, porém, atuam no
acadêmica dos ER”.
professores da área.
Segundo Junqueira (2016), no Estado de Minas Gerais, foi
organizado um curso a partir da Pedagogia com ênfase no Ensino Religioso. Nos
estados do Amapá e Rondônia, os professores de Ensino Religioso devem cursar
licenciatura em Ciências da Religião, e em decorrência da dificuldade de aprovar
a Licenciatura em Ciências da Religião/Ensino Religioso.

Os Estados do Paraná, Mato Grosso Sul, São Paulo, Alagoas e Maranhão


definiram que os/as professores/as que estão habilitados/as para a docência são
os/as formados/as em Filosofia, História, Ciências Sociais e Pedagogia, propondo,
preferencialmente, especialização nessa área do conhecimento. Diferentes
Estados indicam que professores/as de qualquer área do conhecimento podem

96
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

exercer a docência para o Ensino Religioso, a exemplo do Mato Grosso e do Rio


Grande do Sul. Já os Estados de Alagoas, Ceará e o Distrito Federal incluem,
dentre os autorizados, os bacharéis em Teologia.

Para Passos (2015, p. 27), há uma ambiguidade na Lei n° 9.475, que


modifica o Art. 33, da LDB, cujo conteúdo delega aos sistemas de ensino sem,
contudo, estabelecer exigências acerca da mesma formação. Em termos de
titulação necessária, deixa, portanto, “descobertas, na ordem legal e na ordem
prática, as exigências da formação docente para o ER”. Os limites da legislação
nacional vigente fazem perpetuar as contradições e as precariedades práticas
nos âmbitos estaduais e municipais, consequências diretas de uma construção
histórica marcada por vitórias políticas e por insuficiências epistemológicas.

O Ensino Religioso foi “instituído de frente para trás, se considerado o


processo regular de instituição das ciências que têm os nascedouros nas
pesquisas e os habitats nas instituições de Ensino Superior” (PASSOS, 2015,
p. 27). Essa “casa sem alicerces” permanece, obviamente, instável e sujeita a
críticas justas e injustas por parte de pessoas cultas e do senso comum, por parte
de igrejas e de legisladores e por esferas de poderes executivos, como

a insistência, nos debates que afirmam a inconstitucionalidade


do ER na escola pública, ignorando todo o acúmulo de reflexão
que defende um modelo desconfessionalizado, amparado
nos estudos científicos da religião e gerido como as demais
áreas pelos sistemas de ensino e pelas escolas, sem qualquer
ingerência das confissões religiosas (PASSOS, 2015, p. 28).

Junqueira (2016, p. 16-17) chama atenção para as inquietações de natureza


acadêmica que refletem nos cursos de graduação Licenciatura em Ensino
Religioso e Ciências da Religião, isso porque essas áreas analisam e pesquisam
o campo religioso dentro da complexidade e a partir do olhar interdisciplinar.

Nesse debate, muitos profissionais da Teologia seguem


reivindicando, para si, a tarefa de formar os/as profissionais
para atuar no ER, mas há entraves e incoerência, pois
não há uma teologia sem uma identidade confessional.
É preciso considerar que não há teologia aconfessional
ou supraconfessional. A teologia sistematiza experiências
religiosas e afirma em que os adeptos de uma denominação
religiosa devem crer e agir na organização da vida, tornando-
se, então, membros daquele grupo religioso. A sistematização
da fé normatiza o modo de vida de um grupo religioso.
As pesquisas e as sistematizações, nos campos pedagógicos
do Ensino Religioso e das Ciências da Religião, são mais
abrangentes, pois essas áreas centralizam a formação
nos seres humanos pela perspectiva das crenças, com
manifestações, ações, rituais e tudo o que tem a ver com o
universo religioso.

97
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

A formação em Ciências da Religião/Ensino Religioso tem, como objetivos,


evitar o proselitismo, a doutrinação e garantir a democracia e o reconhecimento
da diversidade cultural. O aporte teórico oferece a possibilidade de investigação
das diversas manifestações do fenômeno religioso na história e nas sociedades,
ao mesmo tempo em que é regido por princípios e fundamentos da Ciência da
Educação, enquanto área de conhecimento, levando em conta todas as áreas,
subáreas e especialidades, compreendendo o fenômeno religioso em todas as
situações da existência humana. É o pressuposto pedagógico que sustenta a
proposta do Ensino Religioso na escola, com as diferentes crenças, grupos e
tradições religiosas e/ou ausência.

A seguir, você poderá assistir a uma entrevista com a professora


Maria José Torres Holmes, acerca da Formação do Professor de
Ensino Religioso. Holmes é mestre e especialista em Ciências das
Religiões pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Lecionou
na Rede Pública Estadual da Paraíba e na Rede Municipal de
João Pessoa/PB: https://www.youtube.com/watch?v=Cn4wcp_
tzeI&t=621s.

A presença do Ensino Religioso no currículo escolar tem sido


atribulada. Daí a importância de se conhecer a história da
disciplina, além de compreender os processos de formação e
de profissionalização dos docentes. Sérgio Rogério Azevedo
Junqueira e Edile Maria Fracaro Rodrigues explicam como se deu,
historicamente, a política de formação dos professores de Ensino
Religioso.

Modelos de Formação do Ensino Religioso

A identidade do Ensino Religioso, construída, no início,


substancialmente, pelas legislações, também pode ser compreendida
pelos esforços em estabelecer uma política de formação. A década
de 1990 é, com certeza, um período que marca esse percurso.

98
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Antes da década de 90, a formação dos professores era organizada,


quase na sua totalidade, pelas instituições religiosas cristãs. Algumas
experiências em parceria com os sistemas de ensino, em decorrência
da proposta confessional ou interconfessional, foram adotadas por
essa disciplina. Os cursos receberam diversas denominações, como
Teologia, Ciências Religiosas, Catequese, Educação Cristã e outras
similares, oferecidos por igrejas, ficando condicionadas à ajuda
financeira do exterior e/ou a recursos do próprio professor.

Essas propostas não graduavam os professores em conformidade


com os profissionais da educação de outras disciplinas, gerando
impasses e dificuldades na vida funcional. Os professores das outras
disciplinas tinham as graduações reconhecidas pelo MEC, dando-
lhes direito ao ingresso por concurso público e, em consequência,
de seguir plano de carreira funcional. Os professores de Ensino
Religioso, embora, muitas vezes, formados por cursos de caráter
teológico, não tinham reconhecimento por parte do MEC. Por
imperativo da legislação, eram-lhes negados os acessos funcionais
na área do magistério, sendo apenas permitida a contratação dos
serviços em caráter temporário.

Em decorrência, é possível localizar professores que, em


consequência de atuarem na disciplina de Ensino Religioso por mais
de 30 anos consecutivos, encontram-se sem acesso aos direitos
legais trabalhistas, como plano previdenciário de saúde, 13º salário,
contratação nos mesmos parâmetros aos demais profissionais da
área da Educação, plano de carreira, aposentadoria por tempo de
serviços prestados, dentre outros, pois não tinham acesso ao direito
de concurso público na disciplina de atuação.

Tudo isso se deve ao fato de, ainda, não existirem políticas nacionais
para a formação de docentes nessa área do conhecimento, e não
estarem instituídas as Diretrizes Nacionais para a Licenciatura de
Graduação Plena em Ensino Religioso, abrindo-se, dessa forma,
lacunas para tais procedimentos.

Desde a década de 1970, percebem-se tentativas de estabelecer

99
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

a profissionalização dessa área do conhecimento, por meio da


formação específica do professor, mas, a partir da segunda metade
dos anos 90, o cenário foi alterado com a elaboração final da Lei
de Diretrizes. A organização do FONAPER e a alteração do Art. 33,
da LDBEN (BRASIL, 1996), também se constituíram em fatores
importantes para a disciplina que assumisse o perfil da escola, e se
implementou, assim, a discussão da profissionalização docente.

A mudança de paradigma na concepção do Ensino Religioso


também levou à elaboração dos PCNER e à busca de definição de
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores
para a área do conhecimento. O Ministério da Educação passou
a exigir novas propostas de formação docente, cabendo, assim, à
comunidade acadêmica e aos sistemas de ensino, no que concerne
aos encaminhamentos previstos em forma de lei, a habilitação dos
professores de Ensino Religioso (JUNQUEIRA, 2002).

A nova redação do Art. 33, da LDBEN (BRASIL, 1996), prescrita na


forma da Lei n° 9.475/97 (BRASIL, 1997), veio, portanto, contemplar
ambas as questões, não excluindo a valiosa colaboração das
diferentes denominações religiosas no que se refere à definição dos
conteúdos para a disciplina de Ensino Religioso.

O quadro a seguir apresentará o caminho da história da formação de


professores de Ensino Religioso.

100
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

FONTE: JUNQUEIRA, S. R. A.; RODRIGUES, E. M. F. A formação do


professor de Ensino Religioso: o impacto sobre a identidade de um
componente curricular. Rev. Pistis Praxis Teol. Pastor., Curitiba, v. 6, n.
2, p. 587-609, 2014. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/
pistispraxis/article/view/8183. Acesso em: 11 abr. 2021.

Segundo Cortella (2007, p. 20), a construção da competência do professor


de Ensino Religioso precisa ser feita de “forma embasada, consistente, metódica,
com os recursos e as reflexões da Didática e da Pedagogia dos processos
educativos”, ou seja, é preciso investir na formação desses profissionais, assim,
faz-se necessária uma formação pautada em uma base científica, em uma
religiosidade consciente, em uma solidez pedagógica e em um compromisso ético
com a formação cidadã. Além disso, a formação e a admissão de professores
devem habilitá-los à compreensão da dinâmica sociocultural.

101
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

O professor de Ensino Religioso deve ter uma atenção


humanista mais próxima dos alunos, observando as
necessidades, sobretudo, considerando e respeitando a
bagagem cultural religiosa, em virtude das desigualdades
de pensamentos, opções religiosas, pluralidade de credos
religiosos que existem no contexto da sala de aula (TOMAZINI,
2016, p. 65).

Para Dias e Rosseto (2019, p. 35), a “competência do docente que atua


no Ensino Religioso está intrinsecamente ligada ao entendimento da proposta
curricular, conhecimentos pedagógicos, epistemologia e avaliação”. O Ensino
Religioso deixou o cunho catequético para trás e assumiu um novo aspecto a
partir do qual o aluno não é contemplado apenas dentro da denominação religiosa
da qual faz parte. “Com todas essas mudanças, os professores que assumem
a disciplina precisam passar pelas formações multicultural e multiconfessional,
respeitando as diferenças culturais religiosas, incluindo as afro-brasileiras e as
indígenas” (DIAS; ROSSETO, 2019, p. 35).

Por fim, para Passos (2015), o Ensino Religioso só pode ser uma disciplina
reconhecida como legítima se emanar de uma ciência que se apresente à
comunidade científica e à sociedade como epistemologicamente consistente e
pedagogicamente necessária. Assim, Passos (2015, p. 29) afirma que não resolve
ser algo “imposto como uma espécie de necessidade natural ou como um dogma
por autoridades políticas e religiosas”.

Segue uma análise crítica e histórica do processo de


escolarização do Ensino Religioso, no Brasil, nos últimos trinta anos.
Abordará, também, a relação deste com o ambiente escolar, as
origens no país e o desenvolvimento na história nacional com enfoque
na educação: JUNQUEIRA, S. R. A. O processo de escolarização
do Ensino Religioso no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.

102
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

1 - Considerando os prescritos no Art. 33, da LDB 9.394/1996,


e as posteriores atualizações, classifique as assertivas a
seguir em verdadeiras (V) ou falsas (F):

( ) O ER é parte integrante da formação básica do cidadão.


( ) O ER é disciplina do currículo escolar.
( ) O ER é ministrado com respeito à diversidade cultural do Brasil,
vedadas
quaisquer formas de proselitismo.
( ) Os sistemas de ensino estabelecem normas para a habilitação e
a admissão de
professores.

Assinale a sequência CORRETA:


a) V – V – V – V.
b) V – F – F – V.
c) F – V – V – V.
d) V – V – V – F.

3 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO
RELIGIOSO PARA A FORMAÇÃO DO
ALUNO
Pós-graduando, quando nos indagamos a respeito da importância do Ensino
Religioso para a formação do aluno, podemos partir, primeiramente, da legislação
que embasa esse componente curricular. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (BRASIL, 1996) apresenta o Ensino Religioso como parte integrante da
formação básica do cidadão, enquanto os Parâmetros Curriculares Nacionais
do Ensino Religioso buscaram caracterizá-lo como área de conhecimento e
um instrumento de promoção para a cidadania, visando ao diálogo intercultural
religioso. Nessa perspectiva, o Ensino Religioso assume um compromisso de
aproximar o conhecimento religioso, de modo que permite, ao educando, conhecer
o que, até então, estava desconhecido: as religiões “apagadas” pela intolerância.

Já as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental dos


Nove Anos (Resolução CNE n° 07/2010) reiteram o Ensino Religioso como um

103
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

componente curricular do Ensino Fundamental e parte integrante da formação


básica do cidadão. Por fim, a Base Nacional Comum Curricular traz os caráteres
não confessional e não proselitista ao Ensino Religioso, reafirmando a necessidade
de estudo do conhecimento religioso na escola, a partir de pressupostos éticos e
científicos para alcançar os seguintes objetivos:

a) Proporcionar a aprendizagem dos conhecimentos religiosos,


culturais e estéticos, a partir das manifestações religiosas
percebidas na realidade dos educandos.
b) Propiciar conhecimentos dos direitos à liberdade de
consciência e de crença, no constante propósito de promoção
dos direitos humanos.
c) Desenvolver competências e habilidades que contribuam
para o diálogo entre perspectivas religiosas e seculares de
vida, exercitando o respeito à liberdade de concepções e o
pluralismo de ideias, de acordo com a Constituição Federal.
d) Contribuir para que os educandos construam sentidos
pessoais de vida a partir de valores, princípios éticos e de
cidadania (BRASIL, 2017, p. 436).

Perceba que há um destaque na legislação que embasa o Ensino


Religioso para a função de promoção da cidadania. A seguir, você
encontrará um site com a definição de cidadania e a respectiva
importância: https://www.politize.com.br/por-que-e-importante-
cidadania/.

104
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

FIGURA 1 – DEFINIÇÃO DE CIDADANIA, CIDADÃO E EXERCER CIDADANIA

FONTE: <https://www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: 11 abr. 2021.


A BNCC, principal
documento que
No capítulo anterior, trabalhamos, com detalhes, com o Ensino embasa o Ensino
Religioso na BNCC: objetivos, competências, habilidades etc. Lembra? Religioso, busca
A BNCC, principal documento que embasa o Ensino Religioso, busca problematizar
problematizar representações sociais preconceituosas acerca do representações
sociais
outro, com o intuito de combater a intolerância, a discriminação e
preconceituosas
a exclusão. Por isso, a interculturalidade e a ética da alteridade acerca do outro,
constituem fundamentos teóricos e pedagógicos, porque favorecem o com o intuito
reconhecimento e o respeito às histórias, memórias, crenças, convicções de combater a
e valores de diferentes culturas, tradições religiosas e filosofias de vida. intolerância, a
discriminação e a
exclusão. Por isso, a
É certo que, para todo conhecimento, é preciso questionar: Por que
interculturalidade e
é preciso aprender isso? Qual o sentido desse conhecimento? Caron a ética da alteridade
e Martins Filho (2020, p. 31) afirmam que “o Ensino Religioso não constituem
é para quem tem religião ou para quem não tem. O Ensino Religioso fundamentos
é para todos”, pois possibilita leitura de um mundo cada vez mais teóricos e
complexo e polissêmico. Trata-se de um espaço de aprendizagens, pedagógicos,
porque favorecem o
experiências pedagógicas, intercâmbios, diálogos permanentes, que
reconhecimento e o
visam ao acolhimento das identidades culturais, religiosas ou não, nas respeito às histórias,
perspectivas dos direitos humanos e da cultura da paz. Tais finalidades memórias, crenças,
se articulam aos elementos da formação integral dos estudantes, na convicções e valores
medida em que fomentam a aprendizagem da convivência democrática de diferentes
e cidadã, princípio básico à vida em sociedade. culturas, tradições
religiosas e filosofias
de vida.

105
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Para Caron e Martins Filho (2020, p. 30), “o Ensino Religioso pode contribuir
para que os/as educandos/as desenvolvam um olhar e uma escuta sensível,
possibilitando, dessa maneira, um ambiente de respeito e de aprendizagem
significativa”. Espera-se que, ao aprenderem a respeito da diversidade cultural
religiosa, que permeia a formação do povo brasileiro, nossos estudantes
“possam entender que a paz e a guerra, a inclusão e a exclusão, a opressão ou a
libertação não são fatos naturais e lineares. Vão se dando na história, construída
por homens e mulheres, sobretudo, na relação que estabelecem com o fenômeno
religioso” (CARON; MARTINS FILHO, 2020, p. 30).

Os conteúdos curriculares do Ensino Religioso estão relacionados com as


diversas manifestações do sagrado, que constituem o conhecimento religioso,
patrimônio cultural da humanidade. O objeto de estudo desse componente
não são aspectos teológicos, mas aspectos de fenômeno religioso. “O estudo
da manifestação religiosa, em sala de aula, deve estar vinculado à defesa dos
direitos humanos, ao combate a qualquer formato de intolerância religiosa e de
racismo religioso, à defesa da laicidade e do pluralismo religioso” (REIS, 2020, p.
166).

O ser humano busca respostas para a existência em diferentes formas de


crer, ou a opção da não crença. “Com o entendimento, então, de que a religião é
vivida em contextos sociais e individuais, que influenciam a vida em sociedade,
a cultura e a história propõem o entendimento do ser humano como religioso”
(RODRIGUES, 2020, p. 114). O Ensino Religioso tem, como finalidade, ampliar
o horizonte de conhecimento de cada discente, a fim de que, tendencialmente,
tenha condições de construir opiniões, e, informado, possa elaborar e fazer as
próprias opções.

Para Junqueira e Itoz (2020, p. 85), “o Ensino Religioso trabalha com


pesquisa, observação, identificação, análise, apropriação e ressignificação
de saberes, visando ao desenvolvimento de habilidades e competências que
levem a leitura de mundo e de profundo respeito às culturas”. Esse componente
curricular também contribui para que os estudantes se apropriem da linguagem
escrita, reconhecendo-a como forma de interação, inclusive, na forma ética de se
comunicar com o outro.

Rodrigues (2013) interpreta a religião, em um Estado laico, como


possibilidade para o desenvolvimento da cidadania e da cultura religiosa, sendo, o
Ensino Religioso, aplicável perante a laicidade do ensino, na qual a secularização
não se torna empecilho para a sua presença na educação pública. Para a autora,
admite-se a relevância do fato religioso como elemento que constitui a cultura
brasileira. Nessa perspectiva, a disciplina tem espaço quando se propõe a
abordar, fenomenologicamente, a religião,

106
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

[...] reconhecendo os valores histórico-social e cultural da


religião, assim como o traço simbólico que confere, aos
sujeitos religiosos, dispositivos para a vivência da religião,
pragmática e ontologicamente, promovendo, entre os
educandos, o conhecimento necessário para o fortalecimento
de noções, como o reconhecimento da alteridade e o respeito
pela diferença (RODRIGUES, 2013, p. 231).

O Ensino Religioso deve garantir o respeito ao multiculturalismo e suscitar


reflexões, críticas e debates construtivos a respeito do fenômeno religioso com
respeito à alteridade. Uma vez que o país concentra a pluralidade e a diversidade
religiosas, a escola não pode deixar de abordar o tema, já que é um espaço que,
em tese, é plural e democrático. Assim, “uma escola inteligente não pode deixar
de fora o conteúdo religioso” (CORTELLA, 2007, p. 19).

É evidente que o Ensino Religioso é visto como um componente curricular


que exige atenção, devido aos impasses históricos, e por a nomenclatura
referenciar religião, indo de encontro com o caráter laico e a secularização da
educação. Contudo, o Ensino Religioso pode se tornar um aparato de efetivação
da aceitação e da vivência do multiculturalismo. Esse processo rico de abertura
se dá em uma dinâmica dialogal, construtiva e de partilha de vida, propiciando
a empatia, a simpatia, a sensibilidade e o respeito. Um caminho nem sempre
fácil, que exige, antes de qualquer coisa, disponibilidade interior de professor de
Ensino Religioso.

A disciplina, uma ameaça à liberdade religiosa e homogeneizadora, a partir


de um pensamento dominante, pode se revelar como defensora do direito à
diversidade, propagadora de princípios éticos de respeito ao outro e à vida em
democracia (OLIVEIRA et al., 2007). A concepção de Deus, que era una e cristã,
passa a reconhecer as diferentes manifestações do sagrado e a falar, agora,
de transcendente, legitimando o direito de professar diferentes crenças e, até
mesmo, a opção de não ter crença alguma (TEIXEIRA; MENEZES, 2007).

A religião domina uma grande parcela do imaginário social das pessoas, e


se nota que a influência é percebida nas esferas política, econômica e social.
Atualmente, a escola necessita ser um espaço caracterizado como um lugar
de diálogo, tendo em vista a diversidade de saberes religiosos, partindo da
compreensão de que esse é um ambiente para a troca de informações necessárias
para formar a personalidade dos alunos.

A instituição escolar precisa ter compromisso, levando os estudantes às


práticas de democratizações cultural e social, pois o Ensino Religioso deve estar
no currículo escolar para auxiliar cada ser humano a se encontrar consigo, com o

107
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

outro, e com o transcendente, a partir das experiências que cada um traz para o
diálogo construtor de novas realidades.

O conhecimento religioso é, também, um conhecimento humano, e que deve


ser acessível a todos, para aqueles que buscam expandir horizontes para refletir
na parte histórica da produção humana.

No espaço da sala de aula, caminha-se no sentido de compreender as


diferentes religiões, estabelecendo relações positivas. A escola tem, como função,
promover reformas direcionadas para favorecer o processo de aculturação mútua
e pluralista entre educadores e educandos, a fim de inserir o diálogo inter-religioso
para constituir uma sociedade pluralista.

O Ensino Religioso contribui para que os alunos aprendam a ter um olhar


amplo a respeito da realidade, tendo, como objetivos concretizar e ressignificar as
ações e o respeito ao fenômeno religioso. A sala de aula deve ser um ambiente
que trabalha o desenvolvimento e o pensamento dos alunos no combate,
principalmente, às discriminações racial e étnica, incluindo, acima de tudo, a
intolerância religiosa. Dessa forma, o Ensino Religioso apresenta uma contribuição
para que se entenda a religiosidade humana e com respeito às crenças alheias,
pois, em alguns aspectos, na dinâmica educativa do Ensino Religioso, há aqueles
que desejam aprender acerca da totalidade da vida e do mundo que os cerca, já
que as matrizes curriculares fazem menção, de forma explícita, de conhecimentos
culturais advindos das mais variadas religiões existentes no mundo.

Uma sala de aula que trabalha com o Ensino Religioso sempre é marcada
pelas diferenças, por isso, torna-se um desafio para educadores, visto que
precisam ter uma postura que garanta a liberdade de expressão sobre as mais
diferentes religiões por parte dos alunos. Esse ambiente deve ser considerado
ideal para construir a identidade individual, sempre tendo o cuidado de combater
a desigualdade e a intolerância religiosa.

A principal articulação do Ensino Religioso é trabalhar para formar a


consciência dos alunos, incluindo, como base principal, a diversidade religiosa,
ou seja, como se trata de um processo educativo religioso, o intuito é desenvolver
uma sensibilidade solidária baseada na perspectiva da opção de fé ou não fé de
cada um.

É urgente o ensinar em sala de aula, que os alunos renunciem da violência


religiosa, dando-lhes um espírito aberto para compreender e respeitar a crença do
outro. Em um mundo globalizado, é importante a tarefa de resgatar a humanidade,
pois viver em sociedade exige um conjunto de valores e de princípios arraigados

108
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

na responsabilidade, honestidade, lealdade, sinceridade, cooperação, partilha,


empatia, valores que regulam a conduta entre os seres humanos e a relação com
as pessoas.

Ao longo dos tempos, a história sempre foi marcada pela intolerância,


arrogância, principalmente, em relação às diferenças étnicas de classe e de
gênero, sofrendo variação, de acordo com o nível de intensidade de cada cultura,
principalmente, entre os povos do Ocidente e do Oriente. Reconhecer o fenômeno
religioso como uma condição existencial e entender a disciplina como norteadora
do caminho do aluno, para relacionar com as novas realidades que o cercam, são
fundamentais.

A sala de aula não deve se tornar uma comunidade de fé, contudo, um espaço
de reflexões para superar limites, o que gera a necessidade de construir uma
dimensão pedagógica que favoreça a reflexão, ainda mais em uma sociedade, na
qual, diariamente, encontram-se exemplos de desrespeito à vida, à ética, à moral,
à convivência fraterna entre pessoas e grupos.

Cabe, ao componente curricular Ensino Religioso, ajudar os alunos no


entendimento dessa diversidade cultural, procurando, sempre, a busca pela ética,
para promover a formação humana, garantindo o cultivo de valores éticos, morais
e espirituais no exercício da cidadania.

1 - A partir da análise da legislação que embasa o Ensino


Religioso e dos teóricos abordados, resuma os pontos
principais que apresentam a importância do Ensino Religioso
para a formação dos alunos.

109
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

4 DESAFIOS PARA O ENSINO


RELIGIOSO FRENTE AOS ATUAIS
CONTEXTOS SOCIOCULTURAL E
RELIGIOSO BRASILEIROS
A Constituição Federal brasileira de 1988 definiu o Estado brasileiro como
Estado Laico. Salles e Gentilini (2018, p. 860) informam que “essa secularização,
diante da qual mesmo as matrizes mais tradicionais não ficaram imunes, aproxima-
nos da necessidade de fundamentações histórica, sociológica e filosófica acerca
desse fenômeno no cenário religioso”.

Esse panorama secular afetou a educação e apresentou desafios para


o Ensino Religioso. Ao mesmo tempo em que percebemos “uma ampliação
quantitativa no pluralismo religioso brasileiro, percebemos, também, o aumento da
radicalização de posições em um mercado que disputa fiéis, obrigando a religião a
se fundamentar, discursivamente, para se legitimar” (SALLES; GENTILINI, 2018,
p. 860).

GRÁFICO 1 – POPULAÇÃO RESIDENTE POR RELIGIÃO 2010

FONTE: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9662-censo-
demografico-2010.html?edicao=9749&t=destaques>. Acesso em: 11 abr. 2021.

110
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Nesse atual contexto, o Ensino Religioso enfrenta, como primeiro desafio, a


própria estruturação como disciplina, “aceitando que a sociedade brasileira é uma
sociedade secularizada” (SALLES; GENTILINI, 2018, p. 860) e que as futuras
gerações surgirão em um contexto pós-secular. Assim, pensar, no programa da
disciplina, nas questões seculares, seria fundamental:

Tais questões estão relacionadas a situações cotidianas, como


a união homoafetiva, o feminismo, a liberação ou não das
drogas e as suas consequências, as discriminações étnica e de
gênero, a violência generalizada, os crimes contra a natureza e
os animais, a questão dos refugiados, o terrorismo etc.
Entendemos que não cabe, à disciplina Ensino Religioso,
estabelecer padrões comportamentais para a sociedade,
menos ainda, orientar escolhas, mas cabe, seguramente,
fornecer, aos alunos, a possibilidade de discuti-los, segundo
as suas crenças e valores, em um ambiente de esclarecimento
maduro, e não de doutrinação religiosa de qualquer espécie
(SALLES; GENTILINI, 2018, p. 861)

Como segundo desafio, encontra-se o “reconhecimento efetivo da laicidade


nas instituições públicas, dentre elas, as escolas públicas” (SALLES; GENTILINI,
2018, p. 861). De nada vale o esforço de estabelecer a obrigatoriedade da oferta
do Ensino Religioso se elas forem proselitistas. Combater a intolerância e a
radicalização religiosas só é possível em um ensino que não se paute em apenas
uma doutrina específica, mas legitime todas as expressões religiosas, levando em
conta o contexto histórico, por exemplo.

Uma questão controvérsia atual para o Ensino Religioso é o Art.


11, do Decreto nº 7.107, de 2010. Nesse decreto, é promulgado um
acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a Santa
Sé. Conhecido, por alguns, como Tratado Brasil-Santa Sé, é relativo
ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil. Veja o que o Art. 11
apresenta:

A República Federativa do Brasil, em observância aos


direitos de liberdade religiosa, da diversidade cultural
e da pluralidade confessional do país, respeita a
importância do ensino religioso em vista da formação
integral da pessoa.
§1º. O ensino religioso, católico e de outras confissões
religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina
dos horários normais das escolas públicas de Ensino
Fundamental, assegurado o respeito à diversidade
cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a
Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer
forma de discriminação (BRASIL, 2010, grifo nosso).

111
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Salles e Gentillini (2018, p. 859-860) explicam:

Que tal orientação causou não só um desconforto


entre os grupos de múltiplas pertenças religiosas no
país, como, também, uma distorção legal complexa
ao confrontar as orientações das diretrizes e a própria
Constituição.
Uma iniciativa da Procuradoria Geral da República
(PGR), em agosto de 2017, reacendeu fortemente a
discussão a respeito do Ensino Religioso nas escolas
públicas e, indiretamente, influenciou as escolas
privadas brasileiras que também oferecem a disciplina
Ensino Religioso aos alunos. A PGR encaminhou,
ao Supremo Tribunal Federal, uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) contra a oferta de Ensino
Religioso nas escolas públicas na modalidade
confessional, ou relacionada a uma religião específica,
solicitando a suspensão da eficácia do dispositivo I,
do Art. 33, da LDB, e do Art. 11, do Decreto n. 7.107
(BRASIL, 2010).
O argumento principal da referida ADI foi o de que o
Ensino Religioso, nas escolas públicas, para estar em
harmonia com o que determina a Constituição Federal,
deveria ser de natureza não confessional, ou seja, os
conteúdos programáticos deveriam estar centrados
na história, nos aspectos sociais, nas práticas e nas
doutrinas das religiões e formas de religiosidade, sem
qualquer caráter catequizador por parte dos professores,
abrindo espaço para posições não religiosas. Segundo
a PGR, essa seria uma forma de garantir, efetivamente,
a laicidade do Estado brasileiro e a neutralidade em
relação às manifestações religiosas da população
brasileira.
O Supremo Tribunal Federal, por seis votos a cinco,
não acatou a ADI proposta pela PGR, mas as razões
apresentadas pelos ministros indicaram, claramente,
o que ainda se constitui em uma questão polêmica: o
Ensino Religioso escolar e a devida conciliação com a
laicidade do Estado.

Já Silva (2015, p. 157-158) informa:

Defensores da laicidade e da liberdade religiosa refutam


o Acordo, aduzindo que o documento favorece a Igreja
Católica em detrimento das demais religiões existentes
em um país plural como o Brasil. Além disso, o Art. 11,
do tratado internacional, torna-se alvo de polêmicas por
trazer, consigo, a expressão “Ensino Religioso, católico
e de outras confissões religiosas”, sendo, portanto,
impugnada por vários intelectuais em face do princípio
da laicidade (BRASIL, 2010). [...]
O posicionamento que prevaleceu entre os ministros
foi o de que a facultatividade da disciplina de Ensino
Religioso, disposta no Art. 210, §1º da Constituição

112
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Federal, garante a laicidade do Estado. Tutelaram que


o Ensino Religioso, de caráter confessional, representa
um direito subjetivo do aluno, portanto, não confronta
com o princípio da laicidade, já que, aqueles que não
professam determinada confissão religiosa, ou, até
mesmo, os ateus e agnósticos, que compõem grupos
religiosos minoritários, têm a opção de não realizar
matrícula na disciplina.
Já o grupo de votos vencidos sustentou que o Ensino
Religioso, de caráter confessional, tanto é incompatível
com o princípio da laicidade estatal, que implica na
neutralidade do Estado, quanto com a liberdade
religiosa e a igualdade. Preceituam que a neutralidade
implica na ausência de identidade com uma religião
específica, pois o ensino de determinada religião
é capaz de promover a discriminação e a exceção
daqueles alunos que não pertençam ao padrão
religioso imposto. Reiteraram que, para a garantia da
laicidade do Estado, faz-se necessário o ensino não
confessional, que, por sua vez, dispõe de conteúdo,
abrangendo doutrinas, práticas, história e dimensões
sociais das diferentes religiões, além de posições não
religiosas, como o ateísmo e o agnosticismo.

Importante entender que todas as discussões em torno do


Ensino Religioso, nas escolas públicas, ocorrem pelo fato de que a
disciplina não possuía diretrizes claras na legislação, abrindo espaço
para serem aplicadas de diversas formas em território nacional,
gerando, desse modo, confronto com o princípio da laicidade. No
entanto, a partir da aprovação da Base Nacional Comum Curricular,
a partir da qual o Ensino Religioso é admitido como componente
curricular, novas possibilidades de estudo se abriram, cuja natureza
e finalidades pedagógicas são distintas da confessionalidade.

É levado em consideração que o conhecimento religioso, objeto


da área de Ensino Religioso, é produzido no âmbito das diferentes
áreas do conhecimento científico das Ciências Humanas e Sociais,
notadamente, da (s) Ciência (s) da (s) Religião (ões), cabendo, ao
Ensino Religioso, tratar dos conhecimentos religiosos a partir de
pressupostos éticos e científicos, sem privilégio de nenhuma crença
ou convicção. Isso faz com que sejam abordados conhecimentos com
base nas diversas culturas e tradições religiosas, sem desconsiderar
a existência de filosofias seculares de vida.

113
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Acesse o Decreto nº 7.107, de 2010, na íntegra, a seguir: http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2010/Decreto/D7107.htm.

Tolerância religiosa, no ambiente escolar, também é um dos desafios para escolas


brasileiras. Salles e Gentilini (2018, p. 861) afirmam que os estudantes sofrem, nesse
ambiente, “todo tipo de assédio moral e tortura psicológica relacionados às crenças
e práticas religiosas” e, normalmente, os agressores escapam de punições com
alegações “abusivas e desrespeitosas, como a defesa das crenças, o cumprimento
de ordens de líderes religiosos ou, até mesmo, a inspiração divina”.

Em 2013, em levantamento através da Pesquisa Nacional


de Saúde Escolar, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) identificou que 4,2% dos estudantes entre
13 e 17 anos declararam ter sido vítimas de humilhações por
motivo de crença religiosa; desses, 1,5% declarou ter sofrido
agressões físicas e destruição de pertences por defenderem
posições religiosas. Segundo pesquisa dos Direitos Humanos,
Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA), de
2014, órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU),
embora não existam dados suficientes que apontem, com
certeza, quais religiões são alvos preferenciais de preconceito,
a discriminação contra religiões mediúnicas e afro-brasileiras
tem sido a mais frequente, extravasando os muros escolares e
ganhando contornos de violência urbana com ataques às casas
de axé, umbandas e centros espíritas e membros (SALLES;
GENTILINI, 2018, p. 862).

Salles e Gentilini (2018, p. 862) apontam que outro desafio para o Ensino
Religioso são os livros didáticos. Para eles, esses materiais “não têm contribuído
para uma cultura de tolerância religiosa”. Segundo um estudo financiado
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco), em 2010, acerca da laicidade e da educação, pelas pesquisadoras
Diniz, Lionço e Carrião, as religiões cristãs têm presença em 65% dos livros
didáticos, e as demais não ultrapassam o índice de 12%, destacando-se as
religiões afro-brasileiras e indígenas, que são citadas em apenas 3 e 2% dos
livros, respectivamente. Os líderes religiosos mais citados nos livros foram Jesus
Cristo (81%) e Gandhi (21%).

Um Ensino Religioso que reconheça a diversidade cultural e o pluralismo


religioso da sociedade brasileira, com certeza, facilitaria o percurso desse
componente curricular como facilitador para uma convivência pacífica e formadora
de cidadãos éticos.

114
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Ao longo deste material, muito se falou do papel que o Ensino


Religioso tem no combate à intolerância religiosa, porém, é
importante problematizar a tolerância.

Na atualidade, o conceito se baseia no respeito ao princípio da


dignidade da pessoa humana. Tolerar o outro significa aceitá-lo e
respeitá-lo em sua alteridade, entendê-lo como cidadão de direitos,
porém, há divergências, pois a tolerância pode ser interpretada
como, simplesmente, suportar o outro, sem, no entanto, aceitá-lo em
sua diversidade. Leia o texto a seguir, com uma importante reflexão
a respeito disso.

A intolerância ao diferente: o problema do bullying escolar


Fernanda Carolina de Araujo Ifanger

[...] Trata-se, aqui, da tolerância entendida no seu viés negativo,


como indiferença diante do outro, indulgência com a opressão, em
nome da tranquilidade de uma vida descompromissada.

Tolerar o outro pode significar, nesse contexto, que ele não é aceito,
que as escolhas e o modos de vida não são respeitados, apenas
tolerados, pelo fato de ele ser uma pessoa e merecer respeito
moral. Fato é que, nesse caso, o tolerante “não tem nenhuma
relação positiva para com os valores concretos do interlocutor, e
ele, até mesmo, pode rejeitá-los em bloco, na expectativa de que os
próprios valores possam, um dia, convencer os que são meramente
tolerados”.

Se viver a experiência do outro, a deficiência do outro, significa


aprender a perceber, a conviver e a tolerar esse outro, também pode
significar ser indiferente e intolerante frente ao outro. Literalmente
falando, tolerar significa ser indiferente e intolerante frente ao outro
[...]. Portanto, tolerante é aquele que suporta alguém, que é capaz de
admitir, nos outros, maneiras de pensar, de agir e de sentir diferentes
ou, até mesmo, diametralmente opostas. No entanto, a ação de
tolerar coloca o tolerante em uma posição simétrica de poder, ou
seja, permite que ele demarque uma separação que não significa,
simplesmente, uma distância, mas uma diferença nas relações de
poder. Aquele que suporta, que tolera o outro é o mesmo que o
hospeda, que o recebe; portanto, é aquele que pode depreciá-lo,
julgá-lo, aceitá-lo ou não.

115
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Em virtude dessa imprecisão da palavra, Cortella propõe que o termo


seja substituído por acolhimento. Para ele, “acolher não é suportar,
aguentar; acolher é, acima de tudo, hospedar em mim, receber
comigo, repartir e, portanto, ser capaz de convivência na qual se
preservem a individualidade, a liberdade e a dignidade recíprocas”.

O autor defende que, para concretizar uma tolerância que seja


efetivamente acolhimento, mister o respeito a cinco valores
fundamentais: humildade, sinceridade, integridade, pluralidade e
solidariedade.

FONTE: IFANGER, F. C. de A. A intolerância ao diferente: o problema


do bullying escolar. 2014. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/2/2136/tde-12122014-092730/publico/Bullying_Fernanda_
Carolina_de_Araujo_Ifanger_Final.pdf. Acesso em: 11 abr. 2021.

O livro a seguir trata das relações raciais e do Ensino Religioso


no Brasil. Analisa como os discursos de livros didáticos de Ensino
Religioso, produzidos em distintas perspectivas, apresentam formas
simbólicas que atuam para produzir ou reproduzir desigualdades
raciais: NASCIMENTO, S. L. do. Relações raciais e Ensino
Religioso. Belo Horizonte: Nandyala, 2012.

1 - O Ensino Religioso, como parte da formação integral, exige:

a) tolerância, respeito, convivência e aceitação das diferentes


crenças e manifestações religiosas.
b) ensinar somente a religião predominante entre os alunos.
c) ensinar com ênfase na religião do docente.
d) ter, como livro didático principal, a Bíblia ou o Corão.

2 - O Ensino Religioso é parte integrante da formação básica do


cidadão. Das atividades a seguir, qual não se enquadra nas
atribuições de um professor desse componente curricular?
116
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

a) Promover a tolerância religiosa entre os educandos.


b) Proporcionar o conhecimento do fenômeno religioso a partir da
realidade sociocultural do educando.
c) Estimular o educando a compreender a diversidade religiosa.
d) Ser capaz de compreender e de interagir com o pluralismo
religioso brasileiro.
e) Praticar orações com os educandos.

5 PERSPECTIVAS PARA O ENSINO


RELIGIOSO
A partir de agora, abordaremos as perspectivas para o Ensino Religioso
no sentido de expectativas, esperanças ou metas a serem atingidas. Na seção
anterior, abordamos os desafios e vislumbramos algumas soluções.

Fleuri (2015, p. 43) aponta que a “diversidade cultural religiosa, em face


do complexo processo histórico de formação do povo brasileiro, exige atenção
e esforços conjuntos no sentido de erradicar conflitos e relações de poder que
buscam homogeneizar os diferentes, anulando as diferenças”. O autor alerta
que tal “processo, muitas vezes, ocorre no próprio contexto escolar, por meio
de práticas e de tentativas de invisibilização, silenciamentos e discriminações
relacionados às diferentes identidades e valores de caráteres religioso e não
religioso” (FLEURI, 2015, p. 43), mas que uma verdadeira educação para a
cidadania promove um trabalho educacional com as diferentes religiões na escola.

Para Fleuri (2015, p. 43), a solução seria “não apenas saber que o outro
tem convicções diferentes das nossas, para alimentar a nossa cultura geral,
desenvolver uma atitude respeitosa em relação a ele, que lhe permita se sentir
aceito com a sua identidade”. Trata-se, também, de aprender a viver sem se sentir
ameaçado na própria identidade por essa diferença. Fleuri (2015, p. 43-44) fala da
importância de desenvolver, nos estudantes, reciprocidade, em uma perspectiva
de educação democrática.

Nesse sentido, a escola pode buscar desenvolver, nas


crianças pertencentes a religiões diferentes, uma disposição
a reconhecer ou atribuir, ao outro, aquilo que desejam que
seja reconhecido ou atribuído a si mesmas. Essa atitude
deve ser formada, sem exercer uma violência moral, com
crianças vindas de contextos religiosos fundamentalistas e que
partilham de convicções ateias nas suas relações com colegas
de outras convicções. Como a reciprocidade é uma atitude que

117
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

não pode ser imposta normativamente, a formação supõe um


processo educacional na perspectiva democrática. A natureza
das convicções morais e religiosas, mesmo concebidas como
absolutas, não é, necessariamente, um entrave à participação
e à deliberação democrática. Entretanto, se a convicção é
absoluta, a maneira de expressá-la no contexto público deveria
responder às exigências de respeito em relação àqueles que
não a compartilham.

Assim, despertar, no estudante, a reciprocidade, por meio de uma educação


verdadeiramente democrática, que vise ao diálogo problematizador, de modo
a superar os dispositivos disciplinares no espaço escolar, pode ser a solução
para uma educação que objetive, efetivamente, uma formação de respeito,
reciprocidade, convivência democrática entre pessoas e grupos que assumem
convicções religiosas diferentes em um mundo cada vez mais hostil frente às
diferenças.

Outra questão é como trabalhar, no dia a dia da escola, temas geradores


de um significativo processo educativo, inclusive, no campo do diálogo crítico e
criativo entre as culturas religiosas. Salles e Gentilini (2018, p. 871) apresentam
uma proposta para o Ensino Religioso, tendo, como referência, um mundo
secular. Para esses autores, um primeiro passo seria a elaboração de “projetos
interdisciplinares nos quais o Ensino Religioso fosse inserido, e não mantido à
parte, como, atualmente, ocorre no currículo escolar” (SALLES; GENTILINI, 2018,
p. 872).

A racionalidade mitológica dos gregos e a beleza colorida


das linhagens africanas, e, até mesmo, o monoteísmo e o
politeísmo, em termos mais gerais, podem se transformar em
eixos de um trabalho interdisciplinar entre História, Língua
Portuguesa e Ensino Religioso, por exemplo.
Parece-nos pertinente que a colocação de temas relacionados
com a origem e a evolução dos códigos éticos e morais,
historicamente responsáveis pela manutenção da coesão
social nas diversas culturas e civilizações, sejam discutidos
nesta disciplina e entre ela e as demais, propiciando um
espaço para reflexão e crescimento (SALLES; GENTILINI,
2018, p. 872).

O Ensino Religioso pode se transformar em um espaço onde se discutem


questões que são eticamente transversais a todas as religiões. Os responsáveis
por esse componente curricular, e os professores de outras áreas do
conhecimento, podem trabalhar juntos, para que essas questões sejam debatidas,
uma vez que incidem sobre a convivência dentro e fora do ambiente escolar e,
logo, têm reflexo no desempenho escolar dos alunos e nas ações futuras, como
membros pertencentes da sociedade.

118
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

1 - Seguindo a proposta de Salles e Gentilini (2018), e a partir


das orientações e do modelo a seguir, escolha um tema
transversal e, em uma folha externa, desenvolva um projeto
interdisciplinar entre o Ensino Religioso e, pelo menos, mais
uma disciplina do Ensino Fundamental – Anos Finais. Vamos
lá?!

Orientações

PROJETO INTERDISCIPLINAR

Tema: Além dos professores envolvidos, é importante envolv-


er os estudantes na escolha do tema, pois o sucesso
do projeto depende, em boa parte, do envolvimento
deles.
Público-alvo: Quais são os anos que devem trabalhar com o proje-
to? Todo o Fundamental? Dividido por turno?
Tempo necessário: Pode variar de algumas aulas até o ano letivo todo, por
exemplo.
Disciplinas envolvidas: Formam a equipe interdisciplinar que deve desenvolv-
er o projeto.
Objetivo geral: Objetivo geral, ou seja, comum ao projeto como um
todo. Aonde se quer chegar com o projeto?
Objetivos específicos: É o desdobramento do objetivo geral. São mais con-
cretos e bem explícitos para que possam ser obser-
vados e avaliados com mais segurança.
Habilidades: Verificar, na BNCC, as habilidades que são desenvolvi-
das com o projeto em ambas as disciplinas.
Metodologia: Quais as ferramentas/metodologia de ensino são uti-
lizadas para transmitir o conhecimento?
Recursos: Quais os recursos/materiais são necessários para
desenvolver o projeto.
Avaliação: A avaliação deve estar estreitamente relacionada aos
objetivos. A avaliação deve servir para reorientar a
prática educacional e nunca como um meio para estig-
matizar alunos.
Referências: Quais livros, sites etc. são usados como base teórica
para a elaboração do projeto?

119
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Modelo

PROJETO INTERDISCIPLINAR

Tema: Religiões e resistências culturais


Público-alvo: 7º anos
Tempo Duas aulas de Ensino Religioso, duas aulas de História e
necessário: duas aulas em comum entre as disciplinas.
Disciplinas Ensino Religioso e História
envolvidas:
Objetivo geral: Analisar as relações da religião com a resistência de culturas
marginalizadas.
Objetivos Conhecer a trajetória dos africanos e dos descendentes no
específicos: Brasil.
Destacar o papel deles como sujeitos históricos que
imprimiram marcar, como própria, as culturas material e
espiritual do Brasil.
Habilidades: Ensino Religioso:
(EF07ER01) Reconhecer e respeitar as práticas de
comunicação com as divindades em distintas manifestações
e tradições religiosas.
(EF07ER02) Identificar práticas de espiritualidade utilizadas
pelas pessoas em determinadas situações (acidentes,
doenças, fenômenos climáticos).
História:
(EF07HI01) Explicar o significado de “modernidade” e
as lógicas de inclusão e de exclusão, com base em uma
concepção europeia.
(EF07HI02) Identificar conexões e interações entre as
sociedades do Novo Mundo, da Europa, da África e da Ásia
no contexto das navegações, e indicar a complexidade e
as interações que ocorrem nos Oceanos Atlântico, Índico e
Pacífico.
(EF07HI03) Identificar aspectos e processos específicos das
sociedades africanas e americanas antes da chegada dos
europeus, com destaque para as formas de organização
social e o desenvolvimento de saberes e técnicas.

120
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Metodologia: Há muitas coisas em comum entre o Brasil e a África, além


de serem banhados pelo Atlântico. O Brasil foi primeiro
habitado pelos índios e, depois, colonizado pelos europeus.
Na formação do brasileiro, participaram, também, os negros
africanos, que foram trazidos para o trabalho escravo. Mais
tarde, chegaram os povos da Ásia, de outros países da
América, enfim, de todas as partes do mundo. Os povos que
formaram o Brasil também trouxeram costumes, tradições,
crenças, santos e deuses.
Um dos povos africanos trazidos para o Brasil foram os
negros iorubás, também chamados de nagôs.
Assim, para o desenvolvimento desse projeto, pode ser
acordado que, no mesmo período em que o professor de
História aborda a vinda dos iorubás ao Brasil, o professor de
Ensino Religioso fala dos Orixás (duas aulas cada disciplina).
Na sequência, em uma aula em comum, os professores de
Ensino Religioso e História, juntos, abordam como a religião
desse povo os ajudou a suportarem o cativeiro, como ela
precisou ser ressignificada em terras brasileiras e por quais
motivos.
Por fim, na última aula, depois de retomar o percurso
explicativo, os alunos devem responder:
No que se transformou a religião dos iorubás?
Qual a importância para o povo escravizado?
Recursos: A exposição do conteúdo pode se dar com o auxílio dos livros
didáticos, slides ou impressão de material. Para a avaliação,
pode ser utilizado o caderno, folha A4 à parte, ou, até mesmo,
cartolina para a produção de cartazes.
Avaliação: As questões finais podem ser respondidas pelos estudantes
no caderno, folha A4 ou por meio da produção de cartazes
individuais ou em grupo.
Referências: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum
Curricular. 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.
mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.
pdf. Acesso em: 11 abr. 2021.

https://novaescola.org.br/plano-de-aula/6156/religioes-e-
resistencias-culturais Acesso em: 11 abr. 2021.

121
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Silva (2015, p. 137) coloca que “todo componente curricular traça o perfil
e a razão de ser no currículo escolar, e isso não é diferente para o ER. Há a
necessidade de um novo olhar sobre a formação docente para o ER”, como
concluímos na primeira seção deste capítulo: os aspectos legais referentes à
formação de professores de Ensino Religioso, no Brasil, deixam transparecer um
conjunto de lacunas a serem suprimidas.

Silva (2015, p. 139) afirma que “outra proposta é a que procura fundamentar
o ER no modelo das Ciências da Religião, baseando-se na argumentação de que
os estudos realizados nesse campo se constituem como área de conhecimento
que pode sustentar o ER como disciplina escolar”. O entendimento de que o
Ensino Religioso configura presença ambígua do privado, em ambiente público,
decorre da compreensão do componente curricular em estreita ligação com as
religiões.

É de suma importância pensar e repensar, na práxis, como sujeito do


conhecimento religioso, cujos pressupostos epistemológicos e pedagógicos
encontrem fundamentos científicos, éticos, políticos e culturais. Esses aspectos
precisam ser trabalhados em sala de aula com uma metodologia própria,
integrados aos objetos específicos de uma área de conhecimento e voltados, ao
mesmo tempo, para o sujeito do conhecimento religioso, seja ele professor ou
estudante.

Ao pensarmos, atualmente, nos planos de aula de professores de Ensino


Religioso das escolas públicas brasileiras, surgem as seguintes questões: como
ensinar? O que ensinar? Levando em consideração os pressupostos anteriores,
a BNCC pode e deve ser uma importante aliada para a compreensão das
manifestações religiosas e das contribuições para as sociedades humanas, de
modo não proselitista, científico e, principalmente, didático-pedagógico.

Kluck (2020, p. 138) chama a atenção, também, para a importância das


metodologias ativas para o desenvolvimento e a construção da aprendizagem,
“formação analítica, crítica, reflexiva e significativa, além de ativa e autônoma,
que possibilite a atuação intencional dos estudantes”. Além disso, a autora aponta
que, apesar de o senso comum indicar que a docência está ligada a um “dom”
recebido, “é incontestável que o exercício alteritário dela depende dos diferentes
modos de desenvolvimento profissional, construído por meio de formação
continuada em serviços, livros, formação complementar de cursos e palestras
etc.” (KLUCK, 2020, p. 140).

122
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

FIGURA 2 – BENEFÍCIOS DE TRABALHAR COM AS METODOLOGIAS ATIVAS

FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/11897/como-as-metodologias-
ativas-favorecem-o-aprendizado>. Acesso em: 11 abr. 2021.

Fortalecer o Ensino Religioso enquanto área de conhecimento é um processo


necessário. Do ponto de vista curricular, está instituído nos dispositivos legais em
âmbito nacional, porém, é indispensável pensar nos caminhos de atenção e de
afirmação desse componente.

Alteritário vem do termo alteridade, ou seja, qualidade ou estado


do que é outro ou do que é diferente. É um termo abordado
pela filosofia e pela antropologia.

Um dos princípios fundamentais da alteridade é que o homem, na


sua vertente social, tem uma relação de interação e dependência
com o outro. Por esse motivo, o “eu”, na sua forma individual, só
pode existir através de um contato com o “outro”.

Quando é possível verificar a alteridade, uma cultura não tem, como


objetivo, a extinção de outra, isso porque a alteridade faz com que um
indivíduo seja capaz de se colocar no lugar do outro, em uma relação
baseada no diálogo e na valorização das diferenças existentes.

123
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Ao longo desta seção, autores abordados, como Fleuri (2015)


e Kluck (2020), apontaram a importância de uma metodologia
própria voltada a atingir os objetivos do Ensino Religioso, como o
combate à intolerância, à discriminação e à exclusão. Fleuri (2015)
chama atenção para a necessidade de despertar, nos estudantes,
reciprocidade, por meio de uma educação democrática, e Kluck (2020)
assinala as metodologias ativas como importantes instrumentos para
o desenvolvimento crítico, reflexivo e significativo. A seguir, você
encontrará um site que elucidará o que são as metodologias ativas
e alguns dos exemplos, fundamentais ao desenvolvimento de uma
educação democrática: https://novaescola.org.br/conteudo/11897/
como-as-metodologias-ativas-favorecem-o-aprendizado.

O site #Colabora é um projeto jornalístico que aposta em uma visão


de sustentabilidade que vai muito além do meio ambiente, que trata de
temas relacionados à educação, saúde, desigualdade, saneamento,
diversidade e consumo. Desde 2019, editoriais são guiados pelos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos
pela ONU. Em 2020, #Colabora fez uma série de reportagens acerca
do Ensino Religioso no país: Em Nome da Educação: O Calvário do
Ensino Religioso. Leia a seguir uma delas.

Ex-pastor busca tirar o estereótipo de que o Ensino Religioso é


‘chato’

Com música e poesia, Serjão desenvolve projetos pedagógicos para


cumprir a carga horária semanal na escola

Por Fernanda Baldioti

“Hoje, estou aqui para problematizar: o que vocês acham da atitude


de um governador, que é ligado à bancada evangélica, de descer de
um helicóptero vibrando após a execução de uma pessoa, mesmo
sendo ela o bandido?” Essa foi uma das provocações que Sérgio Luiz
Fonseca Cruz, professor de Ensino Religioso do Colégio Estadual

124
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Hilário Ribeiro, em Niterói, fez a 23 alunos presentes em uma aula


especial no mês da Consciência Negra. Presbiteriano, formado em
Teologia, psicólogo e músico, Serjão, como é conhecido, usa o seu
jeito brincalhão e uma linguagem bem acessível para tentar tirar o
estereótipo de que o Ensino Religioso é uma disciplina “chata”.

“Tive uma professora de religião, no meu ginásio, que dava uma


aula muito chata. Quando passei no concurso, pensei que a última
coisa que eu queria na vida era dar aula como ela. No primeiro dia,
pedi para os alunos colocarem, num papel, o que eles achavam do
Ensino Religioso. Fui lendo as respostas em voz alta e me lembro
de que um deles respondeu que ‘achava uma palhaçada’, e fui logo
dizendo ‘Não sou palhaço’’, diverte-se Serjão.

Brincadeiras à parte, ele conta que busca trabalhar, com os alunos,


questões relacionadas a respeito, a diferenças e a crises sociais.
Como não conseguiu formar uma turma sequer em 2019, já que a
disciplina é de matrícula facultativa, ele ficou a cargo de desenvolver
projetos pedagógicos para cumprir a carga horária semanal na
escola.

“Faço o meu trabalho da forma que me permitem fazer: se dão mais


espaço, a gente trabalha mais, se dão menos, a gente trabalha
menos. Se perguntar, aos alunos, se eles querem assistir a aulas
de português ou de matemática, eles também não querem. Tento
ajudá-los a construir um olhar respeitoso para com as diferenças.
Fiz o projeto Prole Preta, no qual trabalho com poesia, leitura de rap,
exploro a questão do negro, da mulher…”, explica.

Ex-pastor, Serjão é professor de Ensino Religioso desde 2014,


quando foi aprovado no concurso. Apesar de, oficialmente, o Estado
do Rio adotar o modelo confessional, ele diz que faz questão de
tratar a sala de aula como um lugar plural:

“A escola é laica, e quando fiz o concurso, pensei ‘Alguém tem que


ocupar esse espaço. Que seja eu, que eu tenho formação e estou
preparado para isso’. Nunca fiz proselitismo ou abri a Bíblia para dar
aula. Também não devemos ver o professor como dono de todo o
saber, que despeja conteúdo nas cabecinhas vazias dos alunos. Eles
trazem muita coisa também, e essa troca é muito rica”, afirmando
que a sua fé transcende a questão institucional: “Oro todo dia, leio a
Bíblia em casa, mas não chuto santa e respeito às diferenças”.

125
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

Sérgio defende a importância da disciplina como canal de transmitir


valores importantes aos alunos e de estimular os jovens a terem uma
percepção crítica da sociedade e do tempo em que eles vivem:

“A religião é uma realidade na vida do ser humano. Vemos a influência


religiosa na vida do país, nos atentados de 11 de setembro… É
importante estudar esse fenômeno”.

A turma do segundo ano do ensino médio, que assistiu à aula de


Serjão, tem uma formação bem eclética no que diz respeito à
religião. O #Colabora conversou com Barbara Duarte, de 18 anos,
frequentadora da umbanda e de centros ciganos, e com Gabriela, de
17 anos, que é agnóstica.

“Gosto das aulas do Serjão. Ajuda-nos a quebrar tabus porque, em


casa, não temos muito conhecimento acerca de outras religiões. As
famílias, em geral, são fechadas em religiões específicas. É bem raro
ter diversidade. A minha é protestante, então, todas as discussões
são muito limitadas aos conceitos do cristianismo”, afirma Gabriela.

Barbara já sofreu na pele o preconceito e acredita que a disciplina


possa ajudar a diminuir os estereótipos:

“Já me chamaram de macumbeira. É normal, eu não ligo. O que pesa


mesmo é quando atrelam a gente ao diabo e não buscam entender o
que é a nossa religião”.

FONTE: https://projetocolabora.com.br/ods4/ex-pastor-professor-
presbiteriano-busca-tirar-o-estereotipo-de-que-o-ensino-religioso-e-uma-
disciplina-chata/. Acesso em: 11 abr. 2021.

Nos sites a seguir, você encontrará as outras reportagens do


#Colabora acerca do Ensino Religioso no país. Leia https://
projetocolabora.com.br/especial/em-nome-da-educacao-o-calvario-
do-ensino-religioso/ ou veja a reportagem: https://www.youtube.com/
playlist?list=PLgNzTb6N6XKrEIN4qKz0oZm88Hrs4gIkM.

126
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, vimos que a União, em nome da laicidade, esquiva-se de
autorizar, de reconhecer e de avaliar as pretensões na formação docente do
profissional em Ensino Religioso em nível de licenciatura, e reafirma ser, dos
Estados e dos municípios, essa incumbência. Com isso, os Conselhos Estaduais
e Municipais de Educação seguem as diretrizes para a formação de professores
que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, admitindo professores
habilitados para exercer essa docência só após a conclusão do Curso Normal no
Ensino Médio, Curso Normal Superior ou Curso de Pedagogia, com habilitação
nos anos iniciais. Para os anos finais do Ensino Fundamental, há uma tentativa de
seguir o que o FONAPER propõe para a formação acadêmica dos professores da
área. Há uma exigência legal de licenciatura para a docência na educação básica,
porém, para o Ensino Religioso, há um desafio, pois, na maioria das unidades da
Federação, não existe a oferta para a graduação no ensino.

Acerca da importância do Ensino Religioso para a formação dos estudantes,


podemos perceber que a legislação que embasa o Ensino Religioso, como a Lei
de Diretrizes e Bases, da Educação Nacional, apresenta-o como parte integrante
da formação básica do cidadão, enquanto os Parâmetros Curriculares Nacionais
do Ensino Religioso buscaram caracterizá-lo como área de conhecimento e
um instrumento de promoção para a cidadania, visando ao diálogo intercultural
religioso.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental dos


Nove Anos (Resolução CNE n° 07/2010) reiteram o Ensino Religioso como um
componente curricular do Ensino Fundamental e parte integrante da formação
básica do cidadão. Por fim, a Base Nacional Comum Curricular traz um caráter não
confessional e não proselitista ao Ensino Religioso, reafirmando a necessidade do
estudo do conhecimento religioso na escola, a partir de pressupostos éticos e
científicos.

Busca-se problematizar representações sociais preconceituosas a respeito


do outro, com o intuito de combater a intolerância, a discriminação e a exclusão.
Por isso, a interculturalidade e a ética da alteridade constituem fundamentos
teóricos e pedagógicos do Ensino Religioso, porque favorecem o reconhecimento
e o respeito às histórias, memórias, crenças, convicções e valores de diferentes
culturas, tradições religiosas e filosofias de vida.

O conhecimento religioso é, também, um conhecimento humano, e que deve


ser acessível a todos, para aqueles que buscam expandir os horizontes para refletir
na parte histórica da produção humana. No espaço da sala de aula, caminha-

127
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

se no sentido de compreender as diferentes religiões, estabelecendo relações


positivas. A escola tem, como função, promover o diálogo inter-religioso para
constituir uma sociedade pluralista, contribuindo para que os alunos aprendam a
ter um olhar amplo acerca da realidade, para concretizar e ressignificar as ações
e o respeito ao fenômeno religioso.

Dentre os desafios enfrentados pelo Ensino Religioso nos atuais contextos


sociocultural e religioso brasileiros, estão: panorama secular, ampliação
quantitativa do pluralismo religioso e a radicalização de posições religiosas, esta
que afeta a educação e apresenta provocações para o Ensino Religioso. Além
disso, o ensino enfrenta, como desafio, a própria estruturação como disciplina
e o reconhecimento efetivo da laicidade nas instituições públicas, dentre elas,
as escolas. Outro desafio é a intolerância religiosa no ambiente escolar, visível,
também, nos livros didáticos, pois esses materiais, em sua grande maioria, não
têm contribuído para uma cultura de tolerância religiosa, por abordar, em grande
parte, o cristianismo, deixando pouco espaço para as demais religiões. Um
Ensino Religioso que reconheça a diversidade cultural e o pluralismo religioso da
sociedade brasileira, com certeza, facilita o percurso desse componente curricular
como facilitador para uma convivência pacífica e formadora de cidadãos éticos.

Para finalizar abordamos as perspectivas para o Ensino Religioso, no


sentido de expectativas, esperanças e metas a serem atingidas para fortalecê-lo
enquanto área de conhecimento. Nesse caminho, apontamos que a diversidade
cultural religiosa exige atenção e esforços conjuntos no sentido de erradicar
conflitos e relações de poder que buscam homogeneizar os diferentes, anulando
as diferenças. O Ensino Religioso precisa ensinar não apenas que o outro tem
convicções diferentes das nossas, mas, também, desenvolver uma atitude
respeitosa em relação a ele, que lhe permita se sentir aceito.

Trata-se de aprender a viver sem se sentir ameaçado, na própria identidade,


pela diferença, em uma perspectiva de educação democrática, o que desperta, no
estudante, a reciprocidade.

Vimos que uma educação verdadeiramente democrática, que ambicione o


diálogo, pode ser a solução para uma educação que vise, efetivamente, a uma
formação de respeito, reciprocidade, convivência democrática entre pessoas e
grupos, estes que assumem convicções religiosas diferentes em um mundo
cada vez mais hostil, frente às diferenças. Outra questão é como abordar temas
geradores de um significativo processo educativo, inclusive, no campo do diálogo
crítico e criativo, entre as culturas religiosas, tendo, como referência, um mundo
secular, no qual se discutem questões que são eticamente transversais a todas
as religiões. Trouxemos, como proposta, os projetos interdisciplinares.

128
Capítulo 3 ENSINO RELIGIOSO: SALA DE AULA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

É de suma importância pensar, além de repensar na práxis como sujeito


do conhecimento religioso, cujos pressupostos epistemológicos e pedagógicos
encontram fundamentos científicos, éticos, políticos e culturais. Esses aspectos
precisam ser trabalhados em sala de aula, com uma metodologia própria,
integrados aos objetos específicos de uma área de conhecimento e voltados, ao
mesmo tempo, para o sujeito do conhecimento religioso. Assim, a BNCC pode e
deve ser uma importante aliada para a compreensão das manifestações religiosas
e das contribuições para as sociedades humanas, de modo não proselitista,
científico e, principalmente, didático-pedagógico. Além disso, abarcamos a
relevância das metodologias ativas para o desenvolvimento e a construção da
aprendizagem, as formações analítica, crítica, reflexiva e significativa, além de
ativa e autônoma, que possibilitem a atuação intencional dos estudantes.

129
História do Ensino Religioso e Perspectivas Atuais

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