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Material Teórico
A Modernização na Agropecuária Brasileira Pós Anos 1990
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Profa. Ms. Natalia Conti
A Modernização na Agropecuária
Brasileira Pós Anos 1990
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Analisar os processos de modernização no campo no Brasil
pós anos 1990;
· Discutir a relação entre o processo de globalização e
modernização agrícola;
· Evidenciar os novos fronts agrícolas no território brasileiro.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
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Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE A Modernização na Agropecuária Brasileira Pós Anos 1990
Os Processos da Modernização
A modernização da agricultura brasileira no período compreendido entre
as décadas de 1960 e 1980, correspondendo ao regime militar no país. Essa
modernização agrícola esteve assentada em duas bases principais: a industrialização
da agricultura e o avanço das fronteiras agrícolas no país. As atividades agrícolas
foram integradas à indústria por meio da difusão do paradigma da Revolução Verde
e da formação dos complexos agroindustriais a partir da década de 1970.
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Ao analisar o primeiro período de modernização da agricultura brasileira, José
Graziano da Silva (1980, p. 50) conclui que “[...] as disparidades regionais se
acentuaram, não apenas entre as três macrorregiões do país – Nordeste, Norte e
Centro-Sul – mas também dentro dessas regiões”.
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Há diversas interpretações na literatura sobre o tema no Brasil. Os defensores
do neoliberalismo defendem as privatizações como um instrumento para garantir
maior flexibilidade e competitividade à economia brasileira, já que o Estado não
seria capaz de gerenciar adequadamente essas empresas.
Analistas críticos, por sua vez, denunciam as privatizações como uma forma de
dilapidação da estrutura e do patrimônio do Estado, constituídos durante décadas
a partir de fundos públicos com o objetivo de criar centros internos de acumulação
de capital e garantir a soberania nacional. Para o geógrafo David Harvey (2004),
os processos de privatização são o caso mais emblemático de “acumulação por
espoliação”, um processo fundamental para a compreensão do capitalismo
contemporâneo.
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Esse modelo foi imposto a esses países que, para equacionar as contas
nacionais, eram obrigados a recorrer aos empréstimos internacionais do FMI e,
como consequência, implantar as medidas neoliberais, como no caso do Brasil. Há,
portanto, uma transformação radical na ação do Estado, que traz consequências
sérias para a continuidade do processo de modernização da agricultura brasileira.
A constituição dos complexos agroindustriais nas décadas de 1970 e 1980 foi,
em grande medida, patrocinada pelo Estado, através de incentivos fiscais, políticas
específicas de crédito e criação de empresas públicas.
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O paradigma da Revolução Verde foi superado com a introdução das novas
tecnologias de informação e comunicação (NTICs) e boa parte da pauta de
exportações agrícolas se voltou para as commodities agrícolas. Somados a esses
dois fatores, há a reorientação radical do papel do Estado, que deixa de ser o
principal articulador das atividades econômicas agrícolas como no período anterior,
cedendo espaço às grandes corporações internacionais, conhecidas como tradings,
que assumem tarefas como o desenvolvimento de sementes, o fornecimento de
fertilizantes e defensivos, o financiamento à produção, o armazenamento, o
transporte e a comercialização.
Disso decorre que, com a agricultura científica globalizada, há uma nova rodada
de subordinação dos pequenos e médios agricultores que, dessa vez, passam a
participar de circuitos espaciais produtivos de alcance internacional, capitaneados
pelas tradings com atuação global.
Por isso, a agricultura que se expande nos anos 90 é adjetivada como “científica”:
há uma incorporação constante de inovações tecnológicas, que rompem antigos
limites “naturais” da produção agrícola (como a fertilidade dos solos), ampliando
consideravelmente os índices de produtividade das principais commodities
agrícolas, como a soja. Luís Aracri (2010) chama de “agricultura de precisão” a
nova base técnica, baseada nas NTICs, que atualmente está presente nas áreas de
produção agrícola moderna.
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De acordo com a Biudes, Assad & Castillo (2005), “[...] a definição sobre o
quê, como, quando e onde plantar com base em sistemas mais modernos traz uma
racionalidade à agricultura que antes não havia. Decorre daí uma reorganização
territorial produtiva”.
As Áreas da Soja
Explor
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Milton Santos e Maria Laura Silveira (2001) afirmam que os usos agrícolas do
território brasileiro podem ser agrupados em duas situações geográficas: os belts
e fronts. Os belts são as regiões agrícolas consolidadas do Sudeste e do Sul, prin-
cipalmente, que, ao passar por processos de modernização e industrialização da
produção, abrigam uma agricultura capitalizada e marcada por conteúdos técnicos
expressivos.
Milton Santos e Maria Laura Silveira (2001, p. 119) explicam sobre os fronts
agrícola no Brasil:
Trata-se, assim, da produção de uma nova geografia feita de belts
modernos e de novos fronts no Brasil. Esses belts são, por vezes,
heranças e cristalizações de fronts próprios de uma divisão territorial
do trabalho anterior; áreas que, ocupadas em outro momento, hoje se
densificam e se tecnificam. Nelas, amadurecem as inovações de ontem
e chegam outras, próprias do período, para criar novos arranjos, com a
resistência e a cooperação das rugosidades do lugar. Constitucionalmente
integradas a sistemas de engenharia complexos, essas terras ganham
novas valorizações que acabam por “expulsar” certos produtos para áreas
ainda não utilizadas.
A difusão das inovações nas fronteiras agrícolas do cerrado tem sido, portanto,
facilitada pela ausência de uma ocupação prévia mais densa da região, que criaria
rugosidades (SANTOS, 2006) e dificultaria a instalação das novas infraestruturas
e conteúdos geográficos necessários para a agricultura científica globalizada. Cabe
ressaltar, mais uma vez, que essas regiões não se encontravam “vazias”, como
afirmam os autores:
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Com efeito, até os anos de 1970, as terras dos estados do Centro Oeste,
hoje cobertas pela soja, eram consideradas inadequadas para agricultura e
eram ocupadas por populações indígenas e pequenos posseiros, além de
algumas fazendas de pecuária extensiva dispersas ao longo de um vasto
território. Já regiões como o Triângulo Mineiro e o Oeste baiano eram
áreas tradicionalmente ocupadas pela criação de gado, praticada, sobre-
tudo em grandes fazendas, e cultivos ligados à pequena produção agrícola
destinada ao consumo local e regional” (HEREDIA et alii, 2010, p. 169).
Figura 1
Fonte: IBGE, 2012
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Figura 2
Fonte: IBGE, 2006
Os governos federal e estadual, por sua vez, têm investido enormes montantes
na instalação de rodovias, ferrovias e na modernização dos portos brasileiros para
fazer frente a essa questão e baratear o custo dos transportes, permitindo que esses
produtos se insiram de forma cada vez mais agressiva nos mercados internacionais.
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A grande questão que se coloca, porém, é quem se beneficia de fato com esses
investimentos públicos em infraestrutura logística no país. Diversas pesquisas
demonstram que o agronegócio globalizado é o grande beneficiado por esses
investimentos públicos, que, em um quadro de restrições de gastos públicos, drenam
parte dos orçamentos que poderiam ser aplicados em outras áreas.
Para Tânia Bacelar de Araújo (2000), esse processo significa uma “desintegração
competitiva”: o Brasil passa a se inserir de forma competitiva na globalização
econômica, ao mesmo tempo em que as relações entre as regiões do território
nacional se enfraquecem, apontando para uma desintegração interna.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Expansão Agrícola, Preços e Apropriação de Terra por Estrangeiros no Brasil
SAUER, Sérgio; LEITE, Sérgio Pereira. Expansão agrícola, preços e apropriação de
terra por estrangeiros no Brasil. Rev. Economia e Sociologia Rural, v. 50, n. .3
Brasília Jul., 2012.
https://goo.gl/qHNTEm
Livros
Globalização e Agricultura
ELIAS, Denise. Globalização e agricultura: a Região de Ribeirão Preto. São Paulo:
Edusp, 2003.
Vídeos
Produtores de Cana-de-Açúcar Investem em Mecanização da Colheita em São Paulo
Matéria Jornalística – Rede Globo (2min58). Produtores de cana-de-açúcar investem
em mecanização da colheita em São Paulo.
https://goo.gl/d46RYp
Filmes
Amazônia em Chamas
Amazônia em Chamas (1994), filme americano sobre Chico Mendes.
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Referências
ARACRI, L. A. dos S. Reestruturação produtiva, território e difusão de
inovações no campo: a agricultura de precisão em Mato Grosso. Rio de Janeiro:
Arquimedes, 2010.
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SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Edusp, 2006 [1996].
SILVA, José Graziano da. O que é questão agrária. São Paulo: Brasiliense, 1980.
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