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Material Teórico
Globalização, Território e Cultura
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Globalização, Território e Cultura
Como na unidade anterior, a leitura do texto teórico e a realização das atividades são
fundamentais para o acompanhamento do conteúdo a ser desenvolvido.
É essencial conhecer os processos e situações no mundo sobre território e cultura, os
discursos e teorias existentes para analisá-las, caso da teoria do “choque de civilizações”, sobre
o processo de globalização e as mudanças empreendidas nas formas de cultura, entre outras.
Desse modo, leia atentamente o texto, procure observar as diferentes condições existentes
em relação ao processo de globalização e a questão cultural e como isso tem modificado e
criado tensões entre as diferentes territorialidades existentes.
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Unidade: Globalização, Território e Cultura
Contextualização
Atenção
Conforme o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves diz, existem diversas culturas pelo
mundo e as formas de agriculturas e os alimentos existentes são demonstrações delas.
Contudo, a racionalidade econômica global vem criando cada vez mais uma homogeneização
nas maneiras de produzir e de se alimentar, bem como tensões entre territorialidades modernas,
ocidentais e capitalistas em relação às formas mais tradicionais.
Leia o texto teórico da disciplina para compreender esses e outros processos relacionados
à globalização, território e cultura.
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Globalização, território e cultura
Nesta unidade, vamos tratar sobre cultura, globalização e território, comentando algumas
situações ao longo da história e evidenciando o atual processo de globalização, que vem
promovendo novas dinâmicas territoriais e culturais no mundo, produzindo novos processos
de tensão entre diferentes territorialidades.
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Unidade: Globalização, Território e Cultura
Marrocos
ncesa
África ocidental francesa Sudão
anglo-egípcio
Somália
rial fra
Nigéria
Etiópia
britânica
quato
Libéria Camarões
Oceano Guiné Ruanda- Uganda Somália
e
Quênia
África
Atlântico espanhola Urundi italiana
Congo Tanganica
belga
Angola Rodésia
do norte
Rodésia Madagascar
França Mandato francês Sudoeste Bechuana do sul
Grã-bretanha Mandato britânico africano lândia
Bélgica Mandato belga União
Portugal Mandato sul-africano Sul-africana Oceano
Espanha Países independentes Índico
Itálica
Fonte: Adaptado de washingtoncandido.wordpress.com
Ao longo dos séculos XIX e início do XX, sobretudo, com as expedições científicas e a
difusão da ciência moderna, muitos estudos procuraram vincular a superioridade da raça
branca e também da cultura europeia e norte-americana, branca e cristã, em detrimento das
outras raças e culturas. Essas teses racistas, preconceituosas, foram largamente difundidas por
alguns deterministas ou darwinistas sociais.
Essas teorias tornaram-se uma forma de justificar a colonização de povos da África e Ásia,
por exemplo, legitimando os processos de imperialismo e a exploração dos continentes e de
seus povos.
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Saiba Mais
Em relação às teorias mais recentes para compreender o mundo, como aponta o autor,
existe a concepção da teoria do “choque de civilizações”, cujas ideias advêm do mundo pós
Guerra Fria.
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Unidade: Globalização, Território e Cultura
Civilização
ortodoxa
Civilização Civilização
ocidental confuciana
Civilização Civilização
latino-americana árabe-muculmana
Seriam elas: a Ocidental (liderada pelos EUA e Europa Ocidental), a Islâmica ou Muçulmana
(situada no norte da África e parte do Oriente Médio), a Sínica-Confucionista (da China e
países do sudeste asiático), a Japonesa, a Hindu, a Ortodoxa ocidental (do leste da Europa), a
Latino-americana (por incorporar valores das civilizações indígenas e por sua cultura católica, é
considerada praticamente uma sub-civilização ocidental) e, por fim, a Africana (região Centro-
Sul da África), a qual Huntington hesita em definir como uma civilização.
A principal característica que Huntington utilizava para definir as diferentes civilizações é a
religião, sendo que das cinco principais religiões, quatro – cristianismo, islamismo, hinduísmo
e confucionismo, estão citadas.
Para o autor, haveria uma gradação entre essas civilizações e este valoriza de forma enfática
a experiência cultural da civilização ocidental, formada, sobretudo, pelos EUA e Europa
Ocidental, compreendendo-a como sinônima de progresso, de moderna, de urbana.
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Huntington explica seu conceito para civilização:
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Unidade: Globalização, Território e Cultura
Saiba Mais
Boko Haram
Grupo extremista Boko Haram surgiu como seita e virou grupo armado.
Milícia radical sequestrou mais de 200 estudantes na Nigéria. Sua atuação já
resultou na morte de pelos menos 1.500 pessoas.
O grupo radical islâmico Boko Haram, que intensificou seus ataques nas últimas
semanas na Nigéria e assumiu a autoria do sequestro de mais de 200
estudantes, nasceu de uma seita que atraiu jovens do norte do país.
Seus líderes são críticos em relação ao governo nigeriano e querem estabelecer
a lei do Islã no país. Além disso, condenam a educação ocidental e são contra
mulheres frequentarem a escola.
Boko Haram significa “a educação ocidental é pecaminosa” em hausa, a língua
mais falada no norte da Nigéria.
Para Mohammed Yusuf, fundador da seita, os valores ocidentais, instaurados pelos
colonizadores britânicos, são a fonte de todos os males sofridos pelo país. Ele
atraiu a juventude de Maiduguri, capital do estado de Borno, com um discurso
agressivo contra o governo da Nigéria. “O objetivo é estabelecer uma república
islâmica”, afirma o pesquisador francês Marc-Antoine Pérouse de Montclos.
Segundo informações da agência AFP, o grupo recruta novos membros
principalmente entre os “almajirai”, estudantes islâmicos itinerantes, que não
tiveram acesso a uma educação de qualidade. Também recebe apoio de intelectuais
que consideram que a educação ocidental corrompe o Islã tradicional.
Fonte: Trecho literal extraído de GLOBO. G1. Grupo extremista Boko Haram surgiu como seita e virou grupo armado. São Paulo, 06-05-2014.
Disponível em: http://goo.gl/uyMttl.
Acesso em: 20 mai. 2015.
Importante ressaltar que nem todos que professam o islamismo são radicais e fundamentalistas
como esses grupos, e também que alguns atores sociais hegemônicos que representam o
“mundo ocidental” também igualmente criaram ao longo dos séculos discursos preconceituosos
contra os muçulmanos.
O ideal é que houvesse respeito cultural, mas as questões territoriais, econômicas, culturais
e sociais se imbricam.
O processo de globalização vem ampliando as formas de contato entre os diversos povos e
culturas. A seguir vamos discutir mais essa questão.
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Globalização e cultura
O processo de globalização foi intensificado nas décadas finais do século XX, tanto do
ponto de vista econômico, quanto dos sistemas técnicos que vêm permitindo uma maior
integração do mundo.
Do ponto de vista cultural, existem padrões culturais que se tornaram dominantes,
principalmente com a intensificação do processo capitalista, do aumento da urbanização e da
ampliação dos usos de tecnologias informacionais, que vêm modificando as práticas socioculturais
e permitindo maior contato entre diferentes grupos e culturas de diferentes lugares.
Não se trata de uma homogeneização total, já que ainda existem diferenças marcantes do
ponto de vista cultural entre os diversos povos e civilizações do mundo.
Contudo, alguns padrões culturais vêm se estabelecendo como dominantes - podem ser
padrões de vestimenta, alimentação, cultura midiática, música, entre tantos outros. Um
exemplo de algo que se tornou global são as vestimentas e também o cinema, como explica o
cientista social Renato Ortiz:
Nesse caso, além de uma produção multilocalizada, aquilo que antes era a vestimenta
típica de um determinado povo, cada vez mais está sofrendo um processo de uniformização,
tornando-o praticamente a mesma vestimenta em várias partes do mundo. Não nos cabe
discutir se são melhores ou piores, mas tornam o mundo menos multicolorido, menos diverso.
Outro aspecto que podemos citar são as comidas rápidas - o fast food, cujo padrão vem
sendo incorporado por diferentes culturas, sobretudo nas grandes metrópoles.
Essa estandardização, ou seja, essa uniformização da produção de alimentos e de comidas
típicas da sociedade norte-americana traz a lógica capitalista do “não podemos perder tempo”,
nem para comer. É a comida de segundos, do tempo rápido, do mundo capitalista global.
Essa lógica de produção de comidas rápidas tem relação com o mundo moderno, no qual o
tempo é apreendido pelo processo capitalista e as formas de existência também. Não há mais tempo
para a comida do fogão a lenha, nem mesmo de comidas que levem muito tempo para serem feitas.
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Unidade: Globalização, Território e Cultura
O modelo de taylorização citado pelo autor tem relação com o controle do tempo de
movimentos, ou seja, é uma produção em série do setor industrial que passa a ser usada em
produção de lanches e comidas rápidas.
Esse processo de padronização alimentar vem acarretando problemas nutricionais no mundo,
sobretudo devido à ampliação de comidas gordurosas e industrializadas, com muitos conservantes
e químicas, e, ao mesmo tempo, uma vida corrida, mas que não proporciona exercitar o corpo.
O modo de vida urbano, sobretudo nas metrópoles, traz mudanças culturais, entre elas o
modo de se alimentar, e isso vem trazendo problemas para a saúde das pessoas, conforme
atesta estudos sobre saúde:
É fato que a lógica capitalista global é cada vez mais dominante, mas há resistências de
diferentes tipos e também racionalidades distintas. Citamos como exemplo pequenas cidades
na França que fazem questão de evidenciar sua cultura local, por meio de suas produções de
vinho e queijo.
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O circuito espacial de produção do queijo roquefort, por exemplo, vira atrativo turístico
cultural e vendem-se, além do queijo, camisetas e outros presentinhos que remetem à produção.
Contudo, para que o produto tenha o selo de queijo “roquefort” francês é necessário que
seja seguido o procedimento produtivo, criado ao longo da história da cultura local da região
de Roquefort-sur-Soulzon, no sul francês. O queijo é feito à base de leite de ovelha, sendo
maturado nas cavernas de Cobalou e de um fungo comum na região, dando-lhe as propriedades
que o tornaram um queijo patenteado e famoso.
O produto pode ser então comercializado globalmente, mas não é uniformizado num
processo comum em todos os países, pois este tem relação com a cultura local de uma
cidadezinha do sul da França.
Saiba Mais
Há também uma apropriação dos alimentos que foram cultivados por muitos anos e até
séculos por alguns povos que vivem de modo mais tradicional, num ritmo mais lento e próximo
à natureza e de repente foi sendo cooptada pelo modo de produção capitalista, da agricultura
moderna, das commodities agrícolas, com transgênicos, com sementes manipuladas
geneticamente.
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Unidade: Globalização, Território e Cultura
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Territorialidades em tensão
O fato é que, seja por fator político e geopolítico ou eminentemente econômico, o mundo
“ocidental”, liderado principalmente pelo modo de vida europeu e norte-americano, sobretudo
com a expansão capitalista e a intensificação do processo de globalização, vem alterando as
formas de vida mais tradicionais e, por isso, há diversas territorialidades em tensão.
Por territorialidade, compreendemos uma expressão de um grupo no território. Podemos
tratar de territorialidade dos muçulmanos, de um grupo indígena, de um caiçara, ou seja, a forma
como expressam sua cultura no território revela a territorialidade de um determinado grupo.
A territorialidade define um modo de vida, uma característica sociocultural, uma identidade
cultural, que cria certo processo de ideias e modo de vida em comum, de compartilhamento
de forma de vida e ideais, diferenciando-o de outras territorialidades.
Para alguns autores, a globalização induz a uma desterritorialização. Trata-se da ideia de que
as pessoas perdem suas referências e raízes culturais, territoriais, em detrimento da formação
de hábitos e comportamentos cada vez mais padronizados, similares, iguais, homogêneos, isto
é, a estandardização do comportamento, da uniformização dos modos de vida.
Outros usam a expressão “aldeia global” para se referir a esses padrões globais de modos
de vida, de consumo, de culturas cada vez mais parecidas. Contudo, cabem ressalvas tanto em
relação ao termo “desterritorialização” quanto de “aldeia global”.
O fato de termos contatos com outros modos de vida, de nos submetermos à força ou não
a eles, não significa que estejamos de fato “desterritorializados”, já que em algum território
estaremos vivendo, nos relacionando, ainda que com mudanças em relação ao que vivíamos
anteriormente.
Tampouco vivemos no mundo de hoje numa só aldeia global. Há ainda muita diversidade
étnica, cultural e de modos de vida que não são apenas e tão somente o reconhecido pelo
mundo ocidental (principalmente das grandes metrópoles europeias e norte-americanas).
Alguns autores denominam de “não-lugar” esses lugares cada vez mais iguais, impessoais,
que não têm referência com a história do local. Esse é o caso dos aeroportos e free-shops ou
de alguns espaços turistificados que parecem ser iguais em todo o mundo, não tendo assim a
peculiaridade da cultura local.
Sobre isso, Renato Ortiz comenta:
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Unidade: Globalização, Território e Cultura
Como afirma o autor, tornam-se espaços impessoais, aqueles com os quais não temos
relação de identidade cultural, de afeto, pois são criados como lugares para o consumo. Isso
também acaba fazendo parte dessa cultura “moderna” de massa, global.
Há algumas atividades turísticas que visam a respeitar e considerar as características das
culturas locais, sejam daquela comida e alimento típico de uma determinada região, da música
e/ou da dança, das paisagens, do patrimônio cultural, entre outras características.
Entretanto, há muitas situações nas quais o turismo se realiza exatamente modificando as
características da cultura local. É a festa do santo que é mudada para se adequar ao turista, a comida
local que é preterida em relação a uma comida mais cosmopolita, mais comum das grandes cidades.
Nesse sentido, o turista acaba conhecendo os lugares superficialmente, de forma efêmera,
criando lugares imaginários, que não têm um conteúdo da cultura local verdadeiramente. Há uma
verdadeira indústria do turismo, que induz a existência dos passeios turísticos de city tours por
pontos da cidade, previamente definidos, mas que possibilitam pouco o contato com a cultura local.
Sobre essa questão, a geógrafa Ana Fani Alessandri Carlos comenta:
Como afirma a autora, embora existam diversos museus em Nova York, vende-se o circuito
só de compras. Assim, a imagem construída pelo turismo, muitas vezes, vincula-se apenas ao
comércio de mercadorias, e a própria paisagem vira mercadoria a ser consumida pelo turista,
mas sempre guiado por trajetos pré-definidos, no qual se vende a cultura que interessa à
própria indústria do turismo.
Você sabia?
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No entanto, há resistências em relação a esse processo global, procurando evidenciar os
regionalismos, ou seja, as características de uma determinada região ou lugar do mundo, já que
a globalização induziu a processos de eventos culturais, exposições e tendências arquitetônicas
cada vez mais semelhantes.
Por isso, tem havido um movimento em cidades europeias, por exemplo, onde o turismo
cultural é bastante usual, de incrementar as especificidades locais, evidenciando a identidade
cultural de cada cidade, para que elas sejam distinguidas umas das outras.
Essa preocupação também tem permeado os documentos elaborados pelo Ministério do
Turismo no Brasil, conforme atesta o comentário a seguir:
Desse modo, é fundamental envolver as culturas locais, dos diversos segmentos sociais, em
torno das atividades de turismo cultural e não somente os atores hegemônicos. Além de fonte
de renda para as comunidades tradicionais, existe a necessidade de se respeitar a diversidade
existente em termos de cultura.
Finalizando, nesta unidade evidenciamos que existem diferentes discursos e situações sobre
a questão cultural, o território e o processo de globalização no atual momento da história.
Ainda existem muita diversidade sociocultural no mundo e territórios e territorialidades com
características peculiares, apesar de um processo de globalização que induz a modos de vida
cada vez mais homogeneizantes.
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Unidade: Globalização, Território e Cultura
Material Complementar
Vídeos:
Encontro com Milton Santos ou o Mundo global visto do lado de cá (89 min.,
2007). Documentário feito a partir da entrevista de Milton Santos sobre globalização.
Entre muros na escola. François Marin (François Bégaudeau) trabalha como professor
de língua francesa em uma escola de Ensino Médio, localizada na periferia de Paris. Há um
choque de culturas, já que há franceses e outros imigrantes provenientes de diferentes países.
Hotel Ruanda (2004). Em 1994, um conflito político em Ruanda levou à morte de
quase um milhão de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os
ruandenses tiveram de buscar saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma
delas foi oferecida por Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que era gerente do hotel Milles
Collines, localizado na capital do país. Paul abrigou no hotel mais de 1200 pessoas
durante o conflito.
Livros:
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A globalização da natureza e a natureza da
globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
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Referências
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996.
LIMA, Mônica. História da África: temas e questões para a sala de aula. OLIVEIRA,
Iolanda; SISS, Ahyas (orgs.). População negra e educação escolar. Niterói, Cadernos
PENESB do Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira Faculdade de
Educação, Universidade Federal Fluminense, Nov, 2006, p. 68 - 101. Disponível em:
<http://www.uff.br/penesb/images/jdownloads/Publicacoes/penesb7_web.pdf#page=68>.
Acesso em: 09 mai. 2015.
SAID, Edward W. Orientalismo: o oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia
das Letras, 2001.
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Unidade: Globalização, Território e Cultura
Anotações
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