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Definição de consumo

Para Bauman, antes de ser sujeito, o consumidor é, na verdade, uma mercadoria.

Se reduzido à forma arquétipa, do ciclo metabólico, de ingestão, digestão e excreção, o


consumo é uma condição, e um aspecto permanente e irremovível, sem limites temporais ou
históricos; um elemento inseparável da sobrevivência biológica que nós humanos
compartilhamos com todos os outros organismos vivos. (Bauman, 2008)

Consumo no Continente Africano


No continente africano, o consumo se mostra muito distinto de todos os outros continentes. A
grande maioria dos países vivem em condições precárias de sobrevivência em territórios
subdesenvolvidos e/ou extremamente desiguais.

Trazendo um exemplo concreto, temos Moçambique com mais de 30 milhões de habitantes ao


todo e cerca de uma milhão de habitante somente em Maputo, capital do país, onde
concentra um dos maiores comércios ambulantes do território moçambicano.

O mercado informal de Ximpamanine em Maputo é conhecido por sua enorme variedade de


produtos por barracas expostas ao ar livre; de comida e temperos a eletrônicos e roupas, o
mercado a céu aberto de Maputo funciona até mesmo de madrugada. Os comerciantes que
trabalham no mercado da capital de Moçambique são moradores de lá ou de regiões próximas
e buscam a fuga da miséria em que vivem. (Stacciarini & Silva, 2018)

Ainda assim, vivem e trabalham em condições precárias, onde não há saneamento básico,
recapeamento ou limpeza, o que prejudica sua saúde e a qualidade da mercadoria que é
comercializada por ali.

Os consumidores são habitantes de Moçambique, turistas ou moradores da região, mas, em


grande parte, quem some vive por ali e fazem parte dessa porcentagem de pessoas que vivem
o drama da miséria e pobreza que maltrata diariamente o território africano por um problema
econômico, social e estrutural complexo que atinge grande parte da população e, com isso,
podemos notar que não há um consumo glamoroso nos lugares mais afetados por essa
desigualdade. As pessoas produzem e consomem o essencial para sua sobrevivência, sem
espaço para luxos ou coisas caras.

É importante falar sobre isso para entendermos que, na era moderna, o consumo se mostra
diferente para diferentes cultura, continentes, países, regiões, e, claro, classes sociais.

Enquanto as classes mais baixas, pobres, moradores de lugares subdesenvolvidos e precários


que muitas vezes não tem uma moradia que abrigue todos os seus familiares, ou um teto que
esteja inteiro e atenda suas necessidades básicas, em um local onde não há nem mesmo
saneamento básico ou luz e água usado para necessidades básicas do dia a dia como cozinhar
ou tomar banho, enquanto essas pessoas estão preocupadas em sobreviver e consumir o que
necessitam para suprir suas necessidades fisiológicas, as classes mais altas como A, B e C estão
preocupadas em consumir exageradamente muitas coisas que não vão fazer diferença alguma
em seus dia a dia.

Enquanto a classe B e C consomem para se “aproximar” da elite, querer parecer fazer parte de
algo e lugares que não a pertencem, as classes mais baixas como a D e E buscam apenas
sobreviver com o mínimo e muitas vezes nem isso.
Para Baudrillard, o consumo de bens já não é mais para atender a uma necessidade, mas sim
para mostrar status, poder. Não basta também ser apenas o objeto em si, mas sim sua
qualidade e sua quantidade; quanto mais itens de qualidade superior você adquire, mais poder
de compra você parece ter, logo, você se destaca por parecer estar em classes mais altas.

É uma função social de prestígio e de distribuição hierárquica. O valor de troca supera a


simples necessidade, o valor de uso, fornecendo a possibilidade de distinção social e de uma
ideologia a ela ligada. Assim, o objeto não é somente uma função da necessidade: uma
verdadeira análise deve levar em conta os motivos de sua existência, o significado atribuído à
troca: o valor de troca-signo é fundamental. (BAUDRILLARD, 1996: p.10)

“... é absurdo falar de uma ‘sociedade de consumo’ como se o consumo fosse um sistema de
valores universal, próprio de todos os homens, uma vez que fundado na satisfação das
necessidades individuais. Na verdade, trata-se de uma instituição e de uma moral e, a este
título, em qualquer sociedade passada ou futura, de um elemento da estratégia de poder”.
(BAUDRILLARD, 1996: p.33)

Entrando num contexto histórico e colonial, o consumo começa no continente africano através
da comercialização de terra.

Os primórdios da colonização européia tiveram como importante empreitada a mudança do


significado da terra para as diversas tribos africanas, Antes, a idéia de terras como mercadoria,
como valor de troca, era ausente, pois esta era dotada de significados míticos e compreendida
como lócus de trabalho e de reprodução sócio cultural. A cartografia européia serviu como
instrumento de racionalização, de geometrização do território, de meio de desterritorialização
cultural, favorecendo a expropriação e a mercantilização dos recursos naturais (KI-ZERBO,
1972)

Em contrapartida a tanta pobreza e escassez, estudos indicam o crescimento da Africa do Sul,


país que fica no mesmo continente de Moçambique e, inclusive, é um de seus vizinhos e vem
se destacando por sua crescente economia nos últimos anos. O turismo é uma das principais
fontes de capital na Africa do Sul, o que levou a sediar a Copa do Mundo em 2010 e, até hoje
recebe milhões de visitantes por ano. É onde encontra-se grandes parques nacionais, resorts
luxuosos e reservas de savanas abertas à visitação, mas se engana quem acredita que esse luxo
está disponível para todos.

Em 2021, a Africa do Sul foi considerado o país mais desigual do mundo numa lista de mais de
140 países. Em dados divulgados em um relatório do Banco Mundial, 10% da população detém
mais de 80% da riqueza do país.

Conclusão
Indo para uma linha talvez até um pouco radical, podemos analisar o que Diógenes de Sínope
falava sobre sobrevivência e consumo onde afirma que tudo pertence a todos. Dessa forma,
por que devemos pagar para usufruirmos de bens ou serviços que deveriam ser de fácil acesso
a todos?

Os filósofos Cínicos acreditavam que riqueza e poder eram os maiores


responsáveis pela corrupção e mazelas entre os homens.
Achamos essas ideias realmente absurdas por conta do contexto capitalista e
consequentemente consumista em que vivemos na era moderna, ou é absurdo porque vai
além? Realmente conseguiríamos nos desenvolver e viver bem da forma de Diógenes falava ou
pereceríamos da mesma forma?

“Diógenes despachava um discurso longo

e ferido sobre a necessidade de lutar contra a arraigada carência

humana de prazer e conforto que consome as pessoas e sobre a

importância de se exercitar na disciplina de subjugar desejos e

impulsos contranaturais.”(Grecco)

Isso seria, por exemplo, como já foi dito em aula, quando você acorda e sente vontade de
tomar leite com Nescau porque na sua mente ficou um comercial da marca visto na noite
anterior. Na verdade, sua vontade não é tomar leite com Nescau, mas sim tomar leite com
achocolatado.

Conta-se que ele se descreveu como um cão, o tipo que todo

mundo elogia, mas que todos evitam, o que implica que, à distância

e vicariamente, o estilo de vida de um cínico é admirado e

respeitado por muitos, mas que poucos são os que têm a coragem e

a clareza de pensamento para imitá-lo. (NAVIA, 2010, p.70)

Não há como negar que a economia capitalista revelou-se competente em aumentar a


produção, gerando um consumo incomum na história da humanidade.

Para Harvey (2003) essa expansão do consumo, juntamente com a emulação do consumismo,
do modo de vida e das formas culturais norte-americana, têm contribuído globalmente para o
processo de acumulação interminável do capital.

Adam Przeworski diz que, a partir dos meados da década de 50 do século XX, a massa
trabalhadora tornou-se “capaz de consumir muito mais do que sonhariam as elites do mundo
pré-moderno, ao passo que as elites passaram a consumir um nível que ultrapassa qualquer
medida anterior”.

Em 2003, 1/5 da humanidade, e mais outro 1/5 que foi incluído no bloco II, não tem acesso, a
não ser em casos excepcionais, a veículos aéreos ou motorizados, à eletricidade, a telefone, a
computadores, à internet; isso sem falar das necessidades básicas.

Os atuais padrões de produção e consumo são injustos socialmente e insustentáveis


ecologicamente.

https://www.academia.edu/57783595/
O_Consumo_no_Capitalismo_notas_para_pensar_o_mercado_a_internet_e_o_individualismo
&nav_from=afff271d-d1d9-4d21-bfb2-ef54e74e6386&rw_pos=0

https://www.revistaespacios.com/a14v35n08/14350804.html CONSUMO CONSCIENTE


https://www.revistas.usp.br/novosolhares/article/download/51444/55511/64011

https://www.revista.ueg.br/index.php/elisee/article/view/6833

https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/74213

https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2022/03/09/
interna_internacional,1351431/africa-do-sul-e-o-pais-mais-desigual-do-mundo-diz-banco-
mundial.shtml

https://xdocz.com.br/doc/tcc-diogenes-o-cinico-qxn416pmdznj#:~:text=Di%C3%B3genes
%20desprezava%20os%20valores%20e,alcan%C3%A7ada%20com%20autodom%C3%ADnio
%20e%20liberdade.

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