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Ano: 2017
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Arno Paulo Schmitz
2017
Curitiba, PR
Editora São Braz.
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FICHA CATALOGRÁFICA
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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz!
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Apresentação da disciplina
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Aula 1 – Formação da agricultura brasileira: das primeiras atividades
extrativas aos complexos rurais
Apresentação da aula 1
Importante
A agricultura brasileira tem sua origem no período da
monarquia, primeiramente com a extração de madeira. O Pau-
Brasil foi o primeiro produto a ser explorado nas terras
brasileiras, ou seja, uma atividade extrativista. Nos primeiros
séculos de ocupação pela coroa portuguesa e nos primórdios
da república, vários tipos de produções nas terras brasileiras
foram conhecidas como “ciclos”, por exemplo, o ciclo da cana-
de- açúcar, da borracha, do café, etc. Alguns desses ciclos
também receberam a denominação de complexos rurais, dado
o seu isolamento em relação a outros setores da economia.
Nesse contexto identifica-se a origem da agricultura patronal,
do colonato e da agricultura familiar no Brasil.
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portuguesa, assim como outros produtos lucrativos que surgiram após essa
primeira exploração. No manejo desse produto, a mão de obra utilizada
inicialmente era indígena (localmente encontrada) e escravizada pelos
portugueses (SIMONSEN, 2005).
Vocabulario
Plantation: tipo de sistema de produção agropecuário
baseado na monocultura voltada para exportação mediante a
utilização de áreas extensas de terra (latifúndio) e mão de
obra escrava.
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A agricultura em pequena escala somente seria observada com maior
intensidade a partir do ciclo do café, no qual parte dos “barões do café”
autorizava o plantio de outros produtos de subsistência em pequenas áreas no
interior dos cafezais. Esses trabalhadores faziam parte daquilo que se
convencionou chamar de colonato, em que os agricultores mantinham um tipo
de relação econômica mista (assalariada e autônoma) com os donos das terras.
Mas, em muitos casos, antes da abolição da escravatura, ainda havia o trabalho
escravo concomitante com o assalariado ou parceria.
Vocabulario
Colonato: é um sistema de exploração de grandes
propriedades rurais entre trabalhadores que são incumbidos
de cultivar uma determinada área e entregar parte da
produção ao proprietário, conservando outra parte para o seu
consumo.
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Vocabulario
Agricultura familiar: Existem vários e diferentes conceitos de
agricultura familiar, mas todos esses conceitos convergem na
questão de que a exploração da terra deve ter base no
trabalho de uma determinada família. O PRONAF (Programa
de Fortalecimento da Agricultura Familiar) do Ministério do
Desenvolvimento Agrário, para financiamento à produção
rural familiar, adota o critério de que para ser agricultura
familiar, uma pessoa deve ser proprietário, posseiro,
arrendatário, parceiro ou concessionário da reforma agrária;
devem residir na propriedade rural ou próximo a ela; devem
deter, sob qualquer forma, no máximo 4 (quatro) módulos
fiscais de terra (unidades de medida regionais estabelecidas
pelo INCRA), quantificados conforme a legislação em vigor,
ou o máximo de 6 (seis) módulos quando se tratar de
pecuarista familiar; em famílias cuja renda bruta anual familiar
seja de pelo menos 80% resultado da exploração do
estabelecimento rural (agropecuário ou não agropecuário) e;
podendo manter até 2 (dois) empregados permanentes, e com
a possibilidade de trabalho eventual de terceiros.
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integradas dentro das unidades produtivas (como nas fazendas de cana-de-
açúcar e de café).
Entretanto, somente parte dos bens eram produzidos para consumo interno
nas fazendas. O mercado interno, nacional e regional, não gerava demanda
importante e as atividades que provocariam o fortalecimento desses mercados
ainda se encontravam internalizadas às propriedades rurais, conforme discute
Graziano da Silva (1998, p. 05).
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Amplie Seus Estudos
SUGESTÃO DE LEITURA
Leia a obra Casa-Grande & Senzala, de
autoria de Gilberto Freyre. A obra analisa a
formação da sociedade brasileira baseado
nas raízes da sociedade escravocrata.
Leitura importante e muito interessante para
enriquecer o intelecto.
Furtado (1968, cap. 24) apud Gremaud, Saes & Toneto Júnior (1997, p.
32), afirmam que quanto a organização da produção e o grau de utilização dos
fatores, pouco ou nada se modificou com a passagem do trabalho escravo para
o trabalho livre na região cafeeira, que era o grande setor da economia brasileira
da época.
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Com relação aos trabalhadores dos outros setores, geralmente esses só
conseguiam satisfazer parte de todas as suas necessidades (alimentação,
vestuário, habitação, e outros). Isso, em razão do baixo grau de incorporação
aos mercados consumidores, resultado dos baixos salários da maior parte da
população.
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Paralelamente à expansão da cafeicultura, o sistema colonato permitiu um
certo aumento na oferta de alimentos para o mercado interno, que se acelerou
na década de 1930, como contrapartida à crise do setor exportador (com a
depressão econômica de 1929). Parte das terras destinadas aos cultivos de
exportação foi reorientada para a produção de alimentos voltadas ao mercado
urbano-industrial brasileiro que se expandia.
Gremaud, Saes & Toneto Júnior (1997, p. 51-52), expõem que, com a crise
de 29, os preços internacionais do café foram reduzidos drasticamente,
acelerando o processo de deterioração dos termos de troca.
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Outra explicação é a estrutura dos mercados; no caso dos produtos
manufaturados, esses têm característica oligopolista e comparados a um
mercado com características concorrenciais, como o de produtos agropecuários.
Os ganhos de produtividade do setor agropecuário são quase que totalmente
repassados aos preços (na forma de redução dos preços), enquanto que os
ganhos de produtividade do setor manufatureiro são, ao menos em parte, retidos
na forma de lucros, implicando em queda menor dos preços (GREMAUD,
VASCONCELLOS & TONETO JÚNIOR, 2002, p.347-348).
Vocabulario
Oligopolista é uma forma evoluída de monopólio, no qual
um grupo de empresas promove o domínio de determinada
oferta de produtos e/ou serviços.
Furtado (1968, Cap. 30) apud Gremaud, Saes & Toneto Júnior (1997, p.
50), entendem que as economias agroexportadoras tendem à superprodução,
em decorrência da abundância de recursos naturais e mão de obra e dos baixos
incentivos aos investimentos em outros setores.
Importante
Durante a crise de 1929, o Estado brasileiro tomou uma série
de medidas que visaram proteger o mercado interno da
recessão no mercado internacional. Instituíram-se políticas
restritivas e de controle às importações, desvalorização da taxa
de câmbio e financiamento de estoques. Com esse conjunto de
intervenções garantiu-se uma certa manutenção da renda
interna. A partir dessa conjuntura, iniciou-se o processo de
industrialização por substituição de importações.
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No período anterior a 1930, as indústrias existentes emergiram a partir da
economia cafeeira, ou seja, a sua base era atender as necessidades do mercado
consumidor incipiente, derivado do processo de imigração e da renda dos
trabalhadores interligados ao setor agroexportador. Duas correntes de
historiadores explicam a origem das indústrias: os adeptos da “teoria dos
choques adversos” defendem que as indústrias surgiram como resposta às
dificuldades na importação de produtos industriais, ou seja, foi a partir das crises
do setor exportador (choques adversos) que se desenvolveu a indústria.
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A crise do complexo rural e o surgimento do novo complexo cafeeiro
paulista - simultâneo ao processo de substituição de importações -
significou o desenvolvimento do mercado de trabalho e a constituição
do mercado interno. Foi um longo processo que ganhou impulso a partir
de 1850, acelerou-se após a grande crise de 1929 com a orientação
clara da economia no sentido da industrialização e se consolidou nos
anos 50, com a internalização do setor industrial produtor de bens de
capital e insumos básicos (D1). A partir daí completa-se o processo
geral de industrialização e se inicia o processo específico de
industrialização da agricultura, qual seja o de montagem do D1 agrícola
e do proletariado rural, que responderão pelo fornecimento de capital e
força de trabalho, respectivamente, para a nova dinâmica da
acumulação de capital no campo. O novo centro dinâmico da economia
- a indústria e a vida urbana - impõe suas demandas ao setor agrícola
e passa a condicionar suas transformações, que vão conduzindo ao
domínio dos complexos agroindustriais. (GRAZIANO DA SILVA, 1998,
p. 05).
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momento em diante a própria agricultura brasileira sofre grandes transformações
em suas bases produtivas, integrando-se aos demais setores da economia.
Resumo da Aula
Atividade de Aprendizagem
Descreva o grau de importância da cafeicultura brasileira no
período anterior as duas grandes guerras e como ela interferiu
na industrialização de toda a economia brasileira.
Apresentação da aula 2
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Aula 2 – Os complexos agroindustriais, os mercados dos produtos e as
tecnologias
18
Apesar de algumas agroindústrias (notadamente a têxtil e a alimentar) atingirem
certa relevância desde o início da industrialização brasileira, somente a partir da
internalização do D1, elas se desenvolveram amplamente, agregando
praticamente todos os segmentos produtivos da agropecuária, conforme afirma
Kageyama (1996; p.120).
Para Refletir
Se o governo utilizou taxas de câmbio preferenciais para o
setor agrícola se modernizar e empregou reservas cambiais
(moeda estrangeira em estoque no Banco Central brasileiro)
quem você acha que pagou essa conta?
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de ser individual para se tornar coletivo, no sentido de que o trabalho
agrícola converte-se em parte alíquota do trabalho social e seu produto
parte alíquota do valor global produzido na sociedade. A terra deixa de
ser “laboratório natural” para se converter em mercadoria. Os
equipamentos utilizados deixam de ser meros instrumentos de trabalho,
para representar partes do capital a ser valorizado. (KAGEYAMA, 1996,
p. 122).
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Essas cadeias podem ser chamadas de complexos agroindustriais, uma
vez que as ligações entre os agentes internos aos complexos passam a ser
sempre efetivadas através do capital, ou sistema financeiro, interligando as
ações da agricultura com a economia global. Conforme aumentou o nível de
modernização e integração dos diversos subsetores, maior era a demanda por
recursos monetários para investimentos na própria modernização. Então, os
bancos intensificaram suas relações com o setor agropecuário, buscando suprir
essa escassez de recursos e objetivando aumentar sua lucratividade através do
financiamento às atividades dos que exploravam o setor.
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processo subjacente de perda de autonomia e capacidade de decisão. A
agropecuária aumentou sua produtividade, cercada pelas indústrias de insumos
e agroindústrias processadoras, mas também aumentou seus custos absolutos
sem compensação nos níveis de lucratividade.
Vídeo
Assista o vídeo Industrialização e Modernização da Agricultura,
o qual traz de forma clara a explicação complementar a respeito
da modernização da agricultura brasileira.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=_jj6ykCOTcw
Saiba Mais
Para saber mais sobre a concentração na agroindústria
brasileira e os setores com maior concentração entre as
décadas de 1980-1990 leia o artigo Tendência da
concentração no sistema agroindustrial brasileiro, de autoria
de Marco Antonio Montoya, Ricardo Silveira Martins e Pedro
Valentim Marques.
Disponível no acesso:
http://cepeac.upf.br/download/rev_n07e08_1996_art1.pdf
No final dos anos 60, grande parte dos Complexos Agroindustriais (CAIs)
já haviam se consolidado, e as condições econômicas e políticas apresentavam
uma mudança qualitativa no padrão de desenvolvimento agrícola e de
acumulação. Os setores mais dinâmicos da agricultura já haviam implementado
seus processos de modernização, sobretudo com o auxílio do capital financeiro
22
e através da integração com outros setores da economia (indústria de insumos
e agroindústria processadora).
Para Refletir
A integração à agroindústria tem o objetivo de aumentar a
produtividade, mas com isso os produtores têm maiores
custos, será que eles sempre ganham?
Por outro lado, de maneira geral, não se pode omitir os reflexos da política
cambial, que em certos períodos da história produziram benefícios às
exportações, em termos de incremento das quantidades transacionadas, além
dos seus reflexos sobre a remuneração à produção.
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grandes regiões cuja principal fonte de renda é a agricultura permaneceram à
margem da modernização, mantendo pontualmente em algumas cadeias
somente um forward linkage (ligação a jusante) com alguma agroindústria
processadora, ou então um backward linkage (ligação a montante) com algumas
indústrias de insumos.
Saiba Mais
Para saber as características da agricultura regional e a sua
importância, veja a apresentação Mandioca a raiz do Brasil,
“O pão do Brasil”, Um símbolo da identidade cultural
brasileira - Domingo Haroldo Reinhardt (EMBRAPA-2013).
,
Disponível no acesso:
http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/capadr/audiencias-publicas/audiencias-
publicas-2013/audiencia-publica-16-de-abril-de-2013-
embrapa-mandioca
Portanto, não existe um modelo geral, mas sim várias dinâmicas próprias
de cada complexo. Alguns setores/produtos agregam maior taxa de
industrialização a montante, além de outra parte sem qualquer modernização.
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Em termos descritivos, pode-se dizer que o setor agrícola hoje é
formado pelo menos por 4 segmentos diferenciados:
O segmento mais moderno e industrializado, integrado
verticalmente e formado por complexos agroindustriais
completos, ou seja, complexos com três “pés” – A indústria a
montante, a produção agrícola (ou pecuária) e a agroindústria
processadora [...]
Um segmento plenamente integrado à frente, isto é às
agroindústrias processadoras e que, embora altamente
tecnificado, não mantém vínculos específicos com as indústrias
a montante [...]
Um conjunto de atividades modernizadas que dependem do
fornecimento de máquinas e insumos extra setoriais, mas sem
estabelecer soldagens específicas nem “para frente” nem “para
trás”, isto é sem tomar a forma de complexos [...]
Finalmente, há um conjunto de atividades agrícolas onde ainda
prevalece a produção em bases quase que artesanais, isto é, o
“resto” da agricultura, ainda não modernizado nem com
ligações intersetoriais fortes [...]. (KAGEYAMA, 1996, P. 186).
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Como resultado direto, o processo de formação dos Complexos
Agroindustriais teve reflexo sobre a produtividade total de fatores (PTF) na
produção rural brasileira. Vicente, Anefalos e Caser (2003) estimaram a PTF
entre os anos de 1970 e 1995 e identificaram um crescimento de 2,8% ao ano
nos componentes terra, trabalho e capital. Os melhores índices de PTF, nesse
período, estão associados aos estados das regiões sudeste e centro-oeste
brasileiro, onde a modernização agrícola se mostrou historicamente mais
intensiva.
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nesses limites geográficos. A diferença desses mercados regionais para os
mercados de produtos em larga escala é a ausência da fixação de preços. Mas,
não quer dizer que os produtores podem estabelecer preços de acordo com seu
desejo uma vez que sempre há um limite dado pelos consumidores e a pressão
dos produtores concorrentes.
Importante
Um destaque deve ser dado àqueles produtos agropecuários
considerados em nichos de mercado, tais como a produção de
hortifrutigranjeiros orgânicos. Nesses mercados a escala de
produção não é fundamental e a concorrência em preços é
menor. Além disso, geralmente os preços são majorados pela
qualidade e apresentação do produto. Logo, parcela importante
desses mercados é ocupada por produtores da agricultura
familiar, os quais geralmente podem auferir maiores rendas
comparativamente a outros mercados mais concorrenciais.
27
do progresso técnico na redução dos preços não é muito acentuada e costuma
ser administrada pelas grandes empresas que dominam o setor, pois os ganhos
de produtividade são parcialmente repassados aos preços.
Vocabulario
Engrendrar: engenhar, produzir, inventar; criar de maneira
imaginativa, ocasionar o aparecimento de alguma coisa sem
origem aparente.
28
Vale reforçar que sobre a dinâmica de preços agrícolas, especialmente
das commodities, pode-se verificar uma convergência de análise de grande parte
dos estudiosos dessa área, em que a partir da década de 70, os preços reais
(descontada a inflação) das principais commodities sofreram quedas sucessivas.
Tal dinâmica resulta em crises cíclicas em mercados específicos do produto e
implica na redução da renda agropecuária. Segundo Lopes (1997, p. 10), entre
1981 e 1995, os preços recebidos pelos produtores com a venda das principais
commodities (algodão, arroz, café, açúcar, cebola, feijão, laranja, mandioca,
milho, soja e trigo) variaram entre – 45% e – 71%, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Economia (IBRE)/Centro de Estudos Agrícolas (CEA)/FGV.
Resumo da Aula 2
29
mercados funcionam dessa forma e, especialmente, a produção em pequena
escala (ou familiar) pode encontrar alternativas a esse mercado que são mais
vantajosas.
Atividade de Aprendizagem
Pesquise e liste 3 (três) produtos que são commodities
agropecuárias negociadas e que tem preços fixados no
mercado internacional, bem como outros três produtos que
tem seus preços majorados regionalmente ou localmente.
Nesta aula o foco será o crédito para as atividades rurais. Sem este
instrumento, a maior parte da atividade agropecuária não pode ser efetuada.
Além disso, estudaremos as principais implicações da industrialização das
atividades no campo (inclusive sob o aspecto financeiro). Essas implicações
repercutem entre os produtores rurais e estes tendem a implementar estratégias
para reduzir os efeitos negativos desse modelo.
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produtiva (que é o meio ambiente). Neste sentido, muitos produtores buscam um
novo modelo de produção tal como o modelo de produção agroecológico ou
associam-se (em cooperativas ou redes) para implementar alternativas que
reduzam a sua fragilidade no mercado. Sobre essas questões que iremos refletir
nesta aula.
Fonte: http://www.triamanorte.com.br/arquivos_upload/noticias/thumbs/29.jpg
31
Saiba Mais
Para aprofundar sobre as coberturas do crédito rural, leia o
artigo O credito rural no contexto do desenvolvimento
econômico e social, de autoria de Rosimeire Aparecida de
Souza Antão e Tarcisio Campanholo.
Disponível no acesso:
http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigosv3n5/a
rtigo03.pdf
32
agroindústria através de crédito direto de investimento, bem como as atividades
agropecuárias carentes de modernidade. A estrutura de arrecadação dos
recursos foi baseada no direcionamento de percentuais sobre os depósitos à
vista nos bancos comerciais, recursos do orçamento da união e empréstimos
externos a juros preferenciais.
Importante
A implementação do crédito rural auxiliou no financiamento da
industrialização da agricultura, com taxas de juros preferenciais
nas primeiras décadas.
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Existiam interferências na alocação de recursos e fatores, privilegiando
insumos modernos, e concomitantemente os interesses de alguns grupos de
produtores rurais e da agroindústria, conforme Graziano da Silva (1998, p. 51).
Importante
A integração da agricultura ao sistema financeiro implicou não
somente na subordinação da agricultura às indústrias a
montante e jusante, mas também à política monetária regida
pelos governos. Logo, o mercado financeiro passou a ser
importante nas tomadas de decisões dos agricultores e
empresas ligadas à agricultura.
34
1982/1983, os empréstimos passaram a ter taxas de juros pós-fixadas, sendo
que essas regras foram modificadas várias vezes, até que em 1984/1985, pela
primeira vez desde a criação do SNCR, a taxa de juros cobrada foi positiva, ou
seja, acima da correção monetária geral da economia.
Vídeo
Assista o vídeo da TV Senado no qual o economista Antônio da
Luz explica o que é o crédito rural e como ocorre o
endividamento dos produtores.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=8AUs_dY3S0o
Numa análise geral, pode-se verificar que nessa época alguns setores da
agricultura já haviam alcançado patamares tecnológicos e econômicos
satisfatórios. Não se pode afirmar que o Estado abandonou totalmente os
processos de modernização e integração, porém, houve mudanças quanto aos
mecanismos que estimulavam a introdução de certos insumos. Nesse novo
panorama, o Estado passou a manipular outros instrumentos de política agrícola
que atingiram apenas certos produtos. A política de preços mínimos que
assegura rentabilidade para parte das culturas foi um desses instrumentos, o
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resultado foi o estímulo à produção de certos produtos recomendados pelo
Ministério da Agricultura.
Para o Estado, essa política era uma maneira de garantir divisas com a
exportação de produtos agrícolas, pois com o incentivo à produção de
commodities, resulta-se invariavelmente na entrada de dólares no mercado de
câmbio através das exportações.
Para Refletir
Se o Brasil vende soja no mercado internacional, existe a
entrada de dólares no Banco Central, será que esses dólares
eram utilizados para ajudar a pagar a dívida externa brasileira
da época?
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do poder de compra da moeda impedia os produtores de reconhecerem as reais
condições dos mercados (compra de insumos e venda do produto), bem como o
nível de renda gerado.
Curiosidade
A política de “bandas cambiais” era um dispositivo
implementado pelo Banco Central que não permitia
oscilação do câmbio acima de certo valor estabelecido
para determinado dia de contratação de moeda para
transações internacionais. Isso fazia com que o câmbio
não se desvalorizasse rapidamente o que provocava
competitividade alta dos produtos internacionais e
prejudicava as exportações brasileiras.
37
3.2 O modelo produtivista de produção agropecuária e as especificidades
regionais
38
Vocabulario
Segurança alimentar: é o conjunto de regras de produção,
transporte e armazenamento que visa respeitar certas
características físico-químicas, microbiológicas e sensoriais
padronizadas, pelas quais os alimentos estão adequados ao
consumo. Sua desobediência causa barreiras sanitárias no
comércio entre países.
39
trabalho, renda e outros), quanto da natureza (tipos de climas, solos, recursos
hídricos e outros). Isso tudo se reflete na sustentabilidade da produção agrícola,
dos meios de produção e da sociedade como um todo.
Saiba Mais
Para saber mais a respeito da sustentabilidade e a
agroecologia, leia o artigo de autoria de Francisco Roberto
Caporal e José Antônio Costabeber.
Disponível no acesso:
http://files.agrofamiliar.webnode.com/200000374-
93be394b70/Analise%20multidimensional%20da%20susten
tabilidade,%20uma%20proposta%20metodologica%20a%2
0partir%20da%20agroecologia%20-
%20Francisco%20Caporal,%20Jose%20Costabeber%20(1)
.pdf
40
redução da parcela da renda que é gasta com alimentos (quanto
maior o nível de renda, maior é a possibilidade de escolha do
produto);
a educação e o nível de informação da sociedade (acesso à
informação e maior nível educacional tornam o consumidor mais
crítico quanto a qualidade do produto a consumir);
organização dos consumidores para defesa e segurança alimentar,
em resposta ao nível de qualidade dos produtos, quantidades
padronizadas na comercialização, etc (organizações civis de
consumidores tendem a influenciar o modo de produzir em
atendimento às suas necessidades);
preferência pela produção ecologicamente correta (consciência
ecológica) e;
o Estado regulador que fornece suporte aos consumidores nas
questões de segurança alimentar (controle sobre a qualidade dos
alimentos comercializados).
41
Vídeo
Assista a reportagem Agricultura Familiar, Agronegócio e
Agroecologia, na qual traz importantes considerações sobre o
assunto.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=HvUsJYC_BNs
42
- Migração das áreas rurais para as cidades (e para fora do estado)
- Altas taxas de desemprego
- Baixo nível educacional – […]
- Problemas de saúde e nutrição – altas taxas de pessoas com câncer,
problemas cardiovasculares e obesidade – […]
- Economia baseada essencialmente nas exportações de alimentos in
natura e bens primários como carvão e madeira
- Poucas indústrias que adicionam alto valor aos produtos
- Uma população idosa, a mais idosa dos Estados Unidos
- Queda da renda, aumento dos empregos part-time (redução da renda
per capita)
- Isolamento – o estado de West Virginia está isolada do resto do país
a 200 anos […]. (LAWRENCE, 2000, p. 2-3). [Tradução do autor]
Saiba Mais
Para aprofundar sobre a questão do diferencial entre tipos
de agricultura leia a reportagem de Daniela Pin Menegazzo,
na qual aborda as características da produção em larga
escala e da produção ligada à agricultura familiar.
Link:
http://coral.ufsm.br/arco/Impressa/NoticiaImpressa.php?Id_
Noticia=61
43
Os níveis tecnológicos e as relações de trabalho nos segmentos mais
modernos da agricultura se diferenciaram. Leite (1983, p. 119), em uma
comparação do rendimento físico das principais culturas no Nordeste brasileiro,
entre os anos 1960 e 1979 com normalidade climática), verificou decréscimo na
produtividade e imputou a essa dinâmica os seguintes fatores: ausência de
adaptação das tecnologias ao meio e, portanto, as atuais são consideradas
predatórias; esgotamento dos solos derivados de plantios sucessivos sem
reposição de fertilidade e; desmatamento indiscriminado e moto-mecanização,
que provocam a compactação e erosão dos solos. Pode-se identificar ainda, nas
mais diversas regiões, tecnologias modernas de produção convivendo com
precárias relações de trabalho a níveis de remuneração extremamente baixos.
Vocabulario
Êxodo rural: Migração da população rural para, geralmente,
área de grande urbanização.
44
bastante diferente, com uma urbanização caótica (especialmente nos grandes
centros urbanos) e uma sociedade carente de condições mínimas de emprego,
renda, infraestrutura, etc. Veiga (2000, p. 97) defende que ao existirem
condições adequadas à consolidação de sistemas agrários baseados na
produção familiar (com modernização tecnológica), a inevitável queda no nível
de ocupação agrícola é mais do que compensada pela proliferação de
empreendimentos locais no setor secundário e terciário, entretanto para que isso
seja viável são necessários o desenvolvimento econômico regional e um
ambiente educacional adequados para a população rural. Com isso, se torna
relevante a agricultura familiar como colchão amortecedor das crises no setor
agrícola e como propulsora do desenvolvimento local.
45
crescente endividamento dos agricultores, resultado também das altas taxas de
juros e que desestimulam a ocupação da mão de obra na agricultura.
Fonte: http://www.culturamix.com/wp-content/uploads/2013/08/Saiba-Mais3.jpg
46
Saiba Mais
Para aprofundar sobre a questão das redes leia a Circular
Técnica Distribuição de Hortaliças no Brasil (EMBRAPA,
1999).
Disponível no acesso:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/77341
4/1/CNPHDOCUMENTOS16DISTRIBUICAODEHORTALIC
ASNOBRASILFL07826.pdf
Saiba Mais
Para saber mais sobre a importância das cooperativas no
âmbito do crédito à produção rural, leia o artigo Evolução do
crédito Rural no Brasil e o papel das cooperativas
agropecuárias no financiamento dos produtores rurais, de
autoria de Régio Marcio Toesca Gimenes, Fátima Pegorini
Gimenes e Isabel Cristina Gozer.
Disponível no acesso:
http://www.sober.org.br/palestra/9/855.pdf
47
As cooperativas de produtores rurais, no Brasil, é mais difundida na região
sul. Essas empresas são um bom exemplo de como os produtores podem
comercializar produtos industrializados, ao invés de produtos primários ou in
natura. O resultado é uma maior remuneração financeira do produtor rural
cooperado. Contudo, quanto maior a empresa, mais difícil é o respeito aos
objetivos primários dos produtores rurais, alternativamente isso pode resultar no
favorecimento de interesses de certos grupos de pessoas dentro das
cooperativas.
Resumo da Aula 3
48
Atividade de Aprendizagem
Pesquise sobre as raízes do cooperativismo e descreva como
ele auxilia os produtores rurais no aumento da sua renda.
Identifique quais são as possibilidades do cooperativismo
atualmente, quais são as suas ações em prol dos produtores
rurais.
Apresentação da aula 4
Nesta aula o foco será nas atividades não agrícolas no meio rural
(resultado de uma estratégia de sobrevivência da população rural). Pode-se
considerar que se trata de uma forma de recompor a renda das famílias rurais.
Além disso, outra forma de geração de renda é a implementação de projetos
para atividades ligadas à atividades estritamente agropecuárias ou parcialmente
rurais.
49
rurais não agrícolas seja em tempo integral ou parcial. O trabalho agrícola em
tempo parcial, conhecido na literatura como part-time farmer, se torna visível
quando os indivíduos destinam apenas parte do seu tempo de trabalho à
agropecuária, disponibilizando sua força de trabalho para outras atividades,
dentro ou fora do estabelecimento agrícola.
Para Graziano da Silva (1999, p.05), " [...] o part-time não é mais um
fazendeiro especializado, mas um trabalhador autônomo que combina diversas
formas de ocupação (assalariadas ou não). Essa é a sua característica nova:
uma produtividade que combina atividades agrícolas e não agrícolas". Em outras
palavras, ele se torna um indivíduo pluriativo, é a pluriatividade no meio rural (a
composição de horas de trabalho em ocupações agrícolas e não agrícolas
expressa claramente o conceito de pluriatividade aplicado as famílias rurais.
50
estão necessariamente relacionadas com a unidade produtiva, mas, com novas
atividades que se manifestam no meio rural ou em cidades de menor porte nas
regiões interioranas.
51
Saiba Mais
Para saber mais sobre pluriatividade e atividades não
agrícolas leia o artigo O Novo Rural Brasileiro, de autoria de
José Graziano da Silva.
Disponível no acesso:
http://www.geografia.fflch.usp.br/graduacao/apoio/Apoio/Ap
oio_Valeria/flg0563/1s2015/RURBANO7.pdf
O termo política, nesse caso, deve ser tratado não somente como aquelas
previamente organizadas mediante projetos públicos envolvendo grandes
montantes de recursos, mas também outras oriundas de pequenas inversões de
capital, efetuadas pelos próprios estabelecimentos agrícolas, cujo objetivo é
exercer outro tipo de atividade econômica diferente daquela explorada
anteriormente, para incrementar a atividade já existente.
Além desses fatores não agrícolas, existem ainda novas demandas que
advêm de diferentes setores da economia, concretizadas pelas alterações nos
gostos dos consumidores ou até mesmo das estruturas dos mercados, capazes
de gerar o consumo de novos produtos e serviços, agrícolas ou não. Graziano
da Silva (1999, p. 90-100) exemplifica algumas dessas novas atividades:
piscicultura, ranicultura, criação de aves raras, animais raros para corte,
floricultura, produtos orgânicos e diferenciados, fruticultura não tradicional (frutas
diferenciadas), turismo rural, hotel-fazenda/fazenda-hotel, complexos de criação
de animais de grande porte, festas regionais, entre outras.
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Importante
Assim como a modernização da agricultura foi difusa e
heterogênea nas diversas regiões do Brasil, a emergência das
atividades não agrícolas também responde a estes mesmos
mecanismos e é expressa principalmente pelo grau de
diversificação das economias e pelo nível de desenvolvimento
rural e urbano locais. Empiricamente estas atividades se
destacam nas regiões rurais mais desenvolvidas do país, ou
seja, onde existe proximidade relativa dos centros urbanos,
diversificação e desenvolvimento da indústria e dos serviços e,
consequentemente, um nível de renda mais elevado. Neste
sentido, a queda da ocupação na agricultura e sua influência na
nova dinâmica das ocupações rurais também são percebidas
no Nordeste brasileiro por exemplo, contudo em proporções
mais modestas que nos estados cujo desenvolvimento
econômico é significativamente maior.
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Vocabulario
Multifuncionalidade: são funções ambientais, ecológicas e
sociais das zonas rurais (e do residente no meio rural). Trata-
se da conservação do solo e dos recursos naturais
necessários à produção de alimentos saudáveis, logo é parte
da biodiversidade e da defesa do capital natural (mineral,
vegetal e animal) do qual o ser humano extrai benefícios para
seu bem-estar e preservação da vida.
54
cebola; ou a implantação de um hotel-fazenda. Em ambos casos, os produtores
devem se dirigir a um canal de crédito que financie essas atividades. O mesmo
procedimento é aplicado para o custeio (financiamento) de determinada safra.
Vocabulario
Cronograma de desembolso: é o instrumento pelo qual a
unidade orçamentária projeta no tempo o pagamento das
despesas autorizadas na lei orçamentária, relativas a cada
item do seu programa de trabalho.
Fonte: https://www.deere.de/common/media/images/parts/ag_parts_banner_2_522x302.jpg
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Saiba Mais
Para saber mais a respeito do PRONAF e investimento em
agroindústria, acesse o livro de recomendações básicas e os
manuais abaixo:
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endividamento/pagamento do produtor rural, assim como seus bens e garantias
que podem ser utilizadas no projeto de investimento.
Pesquise
Pesquise quais os itens que compõem uma planilha de
projeto de investimento rural. Sugestão: o Banco do
Nordeste, disponibiliza planilhas de custeio e investimento à
atividade rural.
Disponível no acesso:
http://www.bnb.gov.br/aplicativos-para-elaboracao-de-
propostas
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Capacidade de aporte financeiro inicial do proponente (quantidade
de recursos financeiros que o proponente dispõe para investir na
atividade);
Saiba Mais
Saiba mais a respeito do a fundo perdido do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), analise o projeto de
Capacitação participativa de agricultores, familiares e
formação de agentes de desenvolvimento agroflorestal para
difusão de experiências com práticas agroflorestais no
bioma da mata atlântica.
Disponível no acesso:
http://www.rebraf.org.br/media/MDA_Relatorio%20Final.pdf
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tal transição, identificar os custos incorridos, as tarefas a serem executadas no
tempo (cronograma) e as necessidades e fontes financeiras.
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Resumo da Aula 4
Atividade de Aprendizagem
Discorra sobre as principais atividades rurais não agrícolas
em regiões próximas de onde você reside e reflita sobre a sua
importância na composição da renda das famílias e sobre a
quantidade de horas implicada nestas atividades
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Resumo da disciplina
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Referências
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LAWRENCE, L. D. A 21st century challenge: Extension´s role in economic
development of rural communities. In: WORLD CONGRESS OF RURAL
SOCIOLOGY, 2000, Rio de Janeiro. Anais… Rio de Janeiro: Mundo Virtual. CD
ROM. 2000.
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VEIGA, J. E da. Cidades imaginárias: O Brasil é menos urbano do que se
calcula. Campinas – SP: Autores Associados. 302 p. 2002.
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