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Disciplina: Elaboração e Análise de Projetos para a Agricultura Familiar

Autores: D.r Arno Paulo Schmitz

Revisão de Conteúdos: Esp. Marcelo Alvino da Silva

Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso

Ano: 2017

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Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em
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Arno Paulo Schmitz

Elaboração e Análise de Projetos


para a Agricultura Familiar
1ª Edição

2017
Curitiba, PR
Editora São Braz.

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FICHA CATALOGRÁFICA

SCHMITZ, Arno Paulo.


Elaboração e Análise de Projetos para a Agricultura Familiar / Arno Paulo
Schmitz. – Curitiba, 2017.
65 p.
Revisão de Conteúdos: Marcelo Alvino da Silva.

Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso.

Material didático da disciplina de Elaboração e Análise de Projetos para


a Agricultura Familiar – Faculdade São Braz (FSB), 2017.
ISBN: 978-85-5475-010-7

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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

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comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as
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grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e
estudantes.

Bons estudos e conte sempre conosco!


Faculdade São Braz

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Apresentação da disciplina

Estudar as origens e conceitos que envolvem as relações


socioeconômicas no meio rural é fundamental para compreender o cenário atual,
bem como os possíveis desdobramentos futuros desta sociedade complexa.
Além disso, no processo de planejamento torna-se necessário o entendimento
das inter-relações entre os atores que fazem parte desse mundo tão instigante
e encantador. Sendo assim, você aluno, será convidado a refletir sobre a
formação e as relações existentes no campo, e ao final desta disciplina terá uma
visão mais clara sobre o universo rural brasileiro. O processo de educação do
campo perpassa obrigatoriamente por esta compreensão, justamente para que
seja proveitoso e eficiente.

A disciplina Elaboração e análise de projetos para a agricultura familiar,


objetiva expor as raízes históricas do meio rural brasileiro, particularmente
quanto as interrelações entre seus atores sociais e o processo produtivo
associado, destacando-se a agropecuária de cunho familiar e patronal. As
tecnologias de produção e as conexões com o mercado consumidor podem
diferir sobremaneira a depender de uma série de fatores, inclusive da região
onde se situa a exploração da atividade agropecuária. Isso porque as diferenças
regionais são fundamentais para entender o acesso aos meios de produção e as
relações com os demais agentes envolvidos no processo de produção e
consumo. As diferenças também podem ser observadas na ocupação da mão
de obra e nas condições de reprodução da sociedade no meio rural. Isso tudo
implica em diferenciais quando se pensa em planejamento e projetos para o
futuro.

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Aula 1 – Formação da agricultura brasileira: das primeiras atividades
extrativas aos complexos rurais

Apresentação da aula 1

Nesta aula o foco será a análise sobre as raízes do setor agropecuário no


Brasil, com ênfase na sua importância para o entendimento das origens desse
setor na socioeconomia brasileira e a sua relação com outros setores e a
sociedade em geral, e assim auxiliar na compreensão das atividades rurais em
contextos atuais.

1. Formação da agricultura brasileira: das primeiras atividades extrativas


aos complexos rurais

Importante
A agricultura brasileira tem sua origem no período da
monarquia, primeiramente com a extração de madeira. O Pau-
Brasil foi o primeiro produto a ser explorado nas terras
brasileiras, ou seja, uma atividade extrativista. Nos primeiros
séculos de ocupação pela coroa portuguesa e nos primórdios
da república, vários tipos de produções nas terras brasileiras
foram conhecidas como “ciclos”, por exemplo, o ciclo da cana-
de- açúcar, da borracha, do café, etc. Alguns desses ciclos
também receberam a denominação de complexos rurais, dado
o seu isolamento em relação a outros setores da economia.
Nesse contexto identifica-se a origem da agricultura patronal,
do colonato e da agricultura familiar no Brasil.

1.1 As primeiras utilizações das terras brasileiras

Após o descobrimento, a primeira riqueza explorada no Brasil, sob os


domínios da coroa portuguesa, foi o Pau-Brasil, produto esse que tornou-se
conhecido por suas propriedades úteis na tinturaria, com o emprego da sua
resina de cor avermelhada. As aplicações eram diversas, desde o tingimento de
tecidos até misturas para pinturas. Além disso, o pau-brasil também foi utilizado
na marcenaria como alternativa a outras madeiras encontradas em solo europeu.
Esse produto era altamente rentável, tanto que foi declarado monopólio da coroa

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portuguesa, assim como outros produtos lucrativos que surgiram após essa
primeira exploração. No manejo desse produto, a mão de obra utilizada
inicialmente era indígena (localmente encontrada) e escravizada pelos
portugueses (SIMONSEN, 2005).

Outros ciclos de produtos podem ser observados no Brasil colonial, a


depender da região, tal como a cana-de-açúcar no nordeste, o ciclo da borracha
em alguns estados na região norte e o café na região sudeste. Diferentemente
dos ciclos do pau-brasil e da cana-de-açúcar, a produção de látex (para
transformação em borracha) se utilizava principalmente de mão de obra não
escrava, tal como meeiros e outros tipos de arranjo da força de trabalho
(ARRUDA, 1999). Destaca-se o café como o cultivo protagonista na época da
transição da mão de obra escrava para livre.

A produção, em grande parte desses ciclos, era voltada exclusivamente


para o mercado internacional, ou seja, a produção era destinada à exportação.
Outra característica importante desses ciclos é a produção em grande escala
(grandes áreas de terra – latifúndio), o que se costumou chamar de Plantation.

Vocabulario
Plantation: tipo de sistema de produção agropecuário
baseado na monocultura voltada para exportação mediante a
utilização de áreas extensas de terra (latifúndio) e mão de
obra escrava.

Esse modelo de produção é a gênese da agricultura patronal (aquela que


se utiliza primordialmente de mão de obra externa à propriedade na produção)
no Brasil. Isso porque as pequenas propriedades rurais praticamente não
existiam, resultado da primeira grande política de ocupação do solo brasileiro
implementada através das capitanias hereditárias (distribuição de terras a
donatários). Os donatários eram proibidos de conceder pequenas áreas de
terras à produtores.

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A agricultura em pequena escala somente seria observada com maior
intensidade a partir do ciclo do café, no qual parte dos “barões do café”
autorizava o plantio de outros produtos de subsistência em pequenas áreas no
interior dos cafezais. Esses trabalhadores faziam parte daquilo que se
convencionou chamar de colonato, em que os agricultores mantinham um tipo
de relação econômica mista (assalariada e autônoma) com os donos das terras.
Mas, em muitos casos, antes da abolição da escravatura, ainda havia o trabalho
escravo concomitante com o assalariado ou parceria.

Vocabulario
Colonato: é um sistema de exploração de grandes
propriedades rurais entre trabalhadores que são incumbidos
de cultivar uma determinada área e entregar parte da
produção ao proprietário, conservando outra parte para o seu
consumo.

Em suma, especialmente no período de tempo situado próximo à abolição


da escravatura (1822) havia diversos arranjos possíveis para a força de trabalho:
escravo, assalariado e parceiro (arrendatários, meeiros e comissionados).

Uma parcela relevante dos colonos e imigrantes estrangeiros tiveram a


oportunidade de comprar suas próprias terras, geralmente em regiões mais
distantes das cidades e vilas (fronteiras agrícolas). Isso porque os preços das
terras nas localidades era menor e possível de ser pago. Essas compras
poderiam envolver pagamentos em dinheiro e montantes de produtos a serem
colhidos em safras futuras. Contudo, esses agricultores passaram a ter
autonomia sobre o cultivo, e esse tipo de exploração da terra, baseado na mão
de obra familiar, é o que observa-se hoje em dia como agricultura familiar.

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Vocabulario
Agricultura familiar: Existem vários e diferentes conceitos de
agricultura familiar, mas todos esses conceitos convergem na
questão de que a exploração da terra deve ter base no
trabalho de uma determinada família. O PRONAF (Programa
de Fortalecimento da Agricultura Familiar) do Ministério do
Desenvolvimento Agrário, para financiamento à produção
rural familiar, adota o critério de que para ser agricultura
familiar, uma pessoa deve ser proprietário, posseiro,
arrendatário, parceiro ou concessionário da reforma agrária;
devem residir na propriedade rural ou próximo a ela; devem
deter, sob qualquer forma, no máximo 4 (quatro) módulos
fiscais de terra (unidades de medida regionais estabelecidas
pelo INCRA), quantificados conforme a legislação em vigor,
ou o máximo de 6 (seis) módulos quando se tratar de
pecuarista familiar; em famílias cuja renda bruta anual familiar
seja de pelo menos 80% resultado da exploração do
estabelecimento rural (agropecuário ou não agropecuário) e;
podendo manter até 2 (dois) empregados permanentes, e com
a possibilidade de trabalho eventual de terceiros.

1.2 Os complexos rurais

Até o início do Século XX, o setor agropecuário colonial brasileiro


caracterizou-se por “complexos rurais”, termo esse para designar que a
produção nos latifúndios e o aquecimento da economia eram determinados pela
dinâmica das exportações. Geralmente, haviam poucos produtos cultivados em
escala razoável e destinados ao mercado interno. Se os preços internacionais
estivessem favoráveis, os recursos financeiros, materiais e humanos eram
alocados para obter aumentos na produção, caso contrário, eram utilizados em
atividades de subsistência da força de trabalho e na manutenção da unidade
produtiva.

Nas fazendas executavam-se várias tarefas, tais como pequenas


manufaturas, equipamentos simples, transportes e habitação, além de atividades
ligadas diretamente à produção. A divisão do trabalho foi paulatinamente
introduzida e as atividades agrícolas e manufatureiras eram fortemente

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integradas dentro das unidades produtivas (como nas fazendas de cana-de-
açúcar e de café).

Nessas fazendas eram executados o plantio e a colheita integrados ao


beneficiamento. No caso da cana-de-açúcar o processo de transformação
gerava o açúcar; enquanto que para o café fazia-se o beneficiamento do grão
(secagem, peneiração, etc.) de tal forma que se pudesse comercializá-lo com a
maior remuneração possível e menor perda por queda na qualidade do produto.

Entretanto, somente parte dos bens eram produzidos para consumo interno
nas fazendas. O mercado interno, nacional e regional, não gerava demanda
importante e as atividades que provocariam o fortalecimento desses mercados
ainda se encontravam internalizadas às propriedades rurais, conforme discute
Graziano da Silva (1998, p. 05).

Corroborando Graziano da Silva, para Tavares (1983, p. 31-32) as


economias agroexportadoras são um “modelo de desenvolvimento voltado para
fora”. O principal entrave à formação do mercado interno era justamente a
divisão do trabalho, ou seja, existia uma divisão do trabalho social entre os
setores voltados para a exportação e os setores dirigidos ao mercado interno.

A economia agroexportadora permitia altos lucros em determinados


períodos (a depender do cenário internacional) e era especializada em poucos
produtos. Paralelamente, o pequeno setor direcionado ao mercado interno
caracterizava-se pela baixa produtividade e atendia somente a uma pequena
parcela da população total. Isto porque os centros urbanos e vilas eram pouco
povoados, além de que a massa de salários da sociedade brasileira era
pequena, o que implicava em pequeno consumo. Ressalta-se que parte
importante da população era escrava e não recebia salários.

No período que antecedeu a abolição da escravatura, pela própria relação


de trabalho, os escravos (enquanto parcela da população) permaneceram
excluídos do mercado consumidor e, no pós-abolição, os trabalhadores rurais
(que formavam a maior parte da população) e os trabalhadores dos outros
setores, obtinham níveis de renda muito baixos.

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Amplie Seus Estudos
SUGESTÃO DE LEITURA
Leia a obra Casa-Grande & Senzala, de
autoria de Gilberto Freyre. A obra analisa a
formação da sociedade brasileira baseado
nas raízes da sociedade escravocrata.
Leitura importante e muito interessante para
enriquecer o intelecto.

Furtado (1968, cap. 24) apud Gremaud, Saes & Toneto Júnior (1997, p.
32), afirmam que quanto a organização da produção e o grau de utilização dos
fatores, pouco ou nada se modificou com a passagem do trabalho escravo para
o trabalho livre na região cafeeira, que era o grande setor da economia brasileira
da época.

A alta concentração da propriedade rural (grandes extensões de terras sob


propriedade de poucas pessoas) e do capital impediam uma distribuição de
renda mais equânime e a formação e fortalecimento do mercado interno. Além
disso, essa estrutura provocava grande disparidade na disposição produtiva
geral (agricultura/indústria), com reflexos no mercado interno. Em outras
palavras, a oferta (em termos de valor) era relativamente muito maior do que era
demandado internamente.

O ajuste entre a oferta total de produtos e a demanda interna dava-se pelo


comércio exterior, através da exportação de produtos agrícolas e a importação
de bens de luxo (para as classes de altas rendas), bens de capital, insumos à
produção e parte dos bens-salário (consumidos internamente).

Diferentemente das elites, o restante da população permanecia limitada ao


nível de subsistência da força de trabalho, tanto no campo quanto nas cidades.
Os trabalhadores rurais produziam todo alimento que consumiam e satisfaziam
somente parte de suas outras demandas (roupas, calçados, utensílios
domésticos, entre outros). Mas, isso não significa que o nível de alimentação era
adequado para esses trabalhadores.

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Com relação aos trabalhadores dos outros setores, geralmente esses só
conseguiam satisfazer parte de todas as suas necessidades (alimentação,
vestuário, habitação, e outros). Isso, em razão do baixo grau de incorporação
aos mercados consumidores, resultado dos baixos salários da maior parte da
população.

Romeiro (1998, p. 101-103) destaca que a produção de alimentos para o


mercado interno se relegava às terras residuais não ocupadas pelo setor
agroexportador, tanto na periferia ou no interior das grandes fazendas, quanto
nas áreas de fronteira agrícola (áreas distantes) ou seja, áreas ainda não
ambicionadas pelos grandes fazendeiros.

A principal consequência dessa estrutura de produção para o mercado


interno é o caráter precário da propriedade e uso do recurso terra, cujo
desdobramento era a instabilidade da produção e graves problemas de
abastecimento, observados desde o Século XVII.

Uma certa melhoria das condições de vida dos trabalhadores rurais


somente foi observada a partir do primeiro quartil do Século XX, com a
preponderância do sistema de colonato sobre o sistema de parceria, imputados
aos imigrantes europeus que trabalhavam nas lavouras.

O sistema de parceria foi intensamente utilizado na região Sudeste e


geralmente previa a seção de terras, poderia prever o pagamento de salários e
comissões sobre a produção aos trabalhadores rurais (na sua maioria
imigrantes) e esses tinham de reembolsar ao fazendeiro os gastos com a viagem
e instalação (na região sul a colonização se deu especialmente com o intuito de
implementar estratégias de defesa do território).

No sistema de colonato o imigrante ficava isento dos custos de viagem (que


era pago pelo governo) e instalação, além disso esse sistema previa uma
remuneração em dinheiro (parte vinculada ao número de pés de café tratados e
outra parte era variável de acordo com a colheita) e seção de uma parcela da
terra para cultivos de subsistência, sendo que os excedentes da produção
poderiam ser vendidos pelos colonos no mercado interno (cidades e vilas),
segundo Romeiro (1998, p. 102).

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Paralelamente à expansão da cafeicultura, o sistema colonato permitiu um
certo aumento na oferta de alimentos para o mercado interno, que se acelerou
na década de 1930, como contrapartida à crise do setor exportador (com a
depressão econômica de 1929). Parte das terras destinadas aos cultivos de
exportação foi reorientada para a produção de alimentos voltadas ao mercado
urbano-industrial brasileiro que se expandia.

A crise do complexo rural se deu em função de uma série de fatores. Para


Graziano da Silva (1998, p. 07), foi fundamental a transição (forçada pelos
capitais internacionais) do trabalho escravo para o trabalho assalariado, a partir
da suspensão efetiva do tráfico negreiro depois de 1850.

Converse Com Seus Colegas


Discuta com seus colegas a respeito da abolição da
escravatura e identifique se eles acreditam que os escravos
foram recompensados pelos anos de escravidão.

Tavares (1983, p. 32-33) destaca o período 1914-1945, que envolveu as


duas grandes guerras mundiais e a grande crise mundial nos anos 30, como
ponto crítico de ruptura do modelo primário-exportador. A queda nas receitas de
exportações brasileiras reduziu praticamente à metade a capacidade de
importação. Isso porque com menor exportação reduz-se a capacidade de
importar, via falta de moeda externa. Mas, mesmo depois de ultrapassada a
crise, os patamares de comércio exterior não se restabeleceram.

Gremaud, Saes & Toneto Júnior (1997, p. 51-52), expõem que, com a crise
de 29, os preços internacionais do café foram reduzidos drasticamente,
acelerando o processo de deterioração dos termos de troca.

A deterioração dos termos de troca é a relação entre os preços das


exportações e das importações de uma economia. A medida que a renda cresce
existe a tendência do menor crescimento da demanda por produtos primários e
maior por produtos manufaturados, ou seja aumentando-se a renda de uma
família não significa que ela vá consumir mais café, por exemplo.

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Outra explicação é a estrutura dos mercados; no caso dos produtos
manufaturados, esses têm característica oligopolista e comparados a um
mercado com características concorrenciais, como o de produtos agropecuários.
Os ganhos de produtividade do setor agropecuário são quase que totalmente
repassados aos preços (na forma de redução dos preços), enquanto que os
ganhos de produtividade do setor manufatureiro são, ao menos em parte, retidos
na forma de lucros, implicando em queda menor dos preços (GREMAUD,
VASCONCELLOS & TONETO JÚNIOR, 2002, p.347-348).

Vocabulario
Oligopolista é uma forma evoluída de monopólio, no qual
um grupo de empresas promove o domínio de determinada
oferta de produtos e/ou serviços.

Ademais, houve crescimento da capacidade produtiva dos cafezais nos


anos 1920 e, especialmente em três safras (1927/28, 1928/29 e 1929/30) haviam
se formado grandes estoques e os mercados financeiros internacionais retraíram
os empréstimos para compra desses excedentes de café.

Furtado (1968, Cap. 30) apud Gremaud, Saes & Toneto Júnior (1997, p.
50), entendem que as economias agroexportadoras tendem à superprodução,
em decorrência da abundância de recursos naturais e mão de obra e dos baixos
incentivos aos investimentos em outros setores.

Importante
Durante a crise de 1929, o Estado brasileiro tomou uma série
de medidas que visaram proteger o mercado interno da
recessão no mercado internacional. Instituíram-se políticas
restritivas e de controle às importações, desvalorização da taxa
de câmbio e financiamento de estoques. Com esse conjunto de
intervenções garantiu-se uma certa manutenção da renda
interna. A partir dessa conjuntura, iniciou-se o processo de
industrialização por substituição de importações.

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No período anterior a 1930, as indústrias existentes emergiram a partir da
economia cafeeira, ou seja, a sua base era atender as necessidades do mercado
consumidor incipiente, derivado do processo de imigração e da renda dos
trabalhadores interligados ao setor agroexportador. Duas correntes de
historiadores explicam a origem das indústrias: os adeptos da “teoria dos
choques adversos” defendem que as indústrias surgiram como resposta às
dificuldades na importação de produtos industriais, ou seja, foi a partir das crises
do setor exportador (choques adversos) que se desenvolveu a indústria.

Paralelamente, estão os partidários da “industrialização induzida por


exportações”, que defendem a tese de que o crescimento da indústria foi
determinado justamente pelos momentos de expansão da economia cafeeira.
Nesses períodos, ocorria um aumento da massa salarial, que por sua vez
expandia a renda e aquecia o mercado consumidor. Concomitantemente, as
divisas geradas com a exportação agrícola proporcionavam as condições
necessárias para a importação de máquinas e equipamentos, fundamentais para
viabilizar o setor industrial, inclusive equipamentos de segunda mão a preços
muitos baixos (FURTADO, 1998, p. 198).

Numa análise mais profunda, Gremaud, Vasconcellos & Toneto Júnior


(2002, p. 356), afirmam que não se pode imputar o desenvolvimento da indústria
às crises do setor cafeeiro, uma vez que a participação do capital estrangeiro era
reduzida e, portanto os “vazamentos do capital cafeeiro” proporcionaram a
industrialização, haja vista que os primeiros industriais eram pessoas ligadas
direta ou indiretamente ao setor cafeeiro, a exemplo das famílias Matarazzo e
Prado em São Paulo.

Furtado (1998, p. 198), afirma que na migração de capital entre o setor


agroexportador e o industrial, deve-se considerar que as taxas de rentabilidade
do capital nas atividades ligadas ao setor interno eram positivas e crescentes,
enquanto que no setor exportador ocorria o contrário.

A partir da industrialização em diversos setores da economia brasileira, que


Celso Furtado chamou de “deslocamento do centro dinâmico”, iniciou-se o
processo de industrialização da agricultura, conforme afirma Graziano da Silva
(1998):

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A crise do complexo rural e o surgimento do novo complexo cafeeiro
paulista - simultâneo ao processo de substituição de importações -
significou o desenvolvimento do mercado de trabalho e a constituição
do mercado interno. Foi um longo processo que ganhou impulso a partir
de 1850, acelerou-se após a grande crise de 1929 com a orientação
clara da economia no sentido da industrialização e se consolidou nos
anos 50, com a internalização do setor industrial produtor de bens de
capital e insumos básicos (D1). A partir daí completa-se o processo
geral de industrialização e se inicia o processo específico de
industrialização da agricultura, qual seja o de montagem do D1 agrícola
e do proletariado rural, que responderão pelo fornecimento de capital e
força de trabalho, respectivamente, para a nova dinâmica da
acumulação de capital no campo. O novo centro dinâmico da economia
- a indústria e a vida urbana - impõe suas demandas ao setor agrícola
e passa a condicionar suas transformações, que vão conduzindo ao
domínio dos complexos agroindustriais. (GRAZIANO DA SILVA, 1998,
p. 05).

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA
Leia a obra História econômica do Brasil
(Caio Prado Júnior). Esse livro discorre
sobre a mudança na sociedade brasileira
através daquilo que ele chama de transição
para o sistema capitalista.

O montante produzido na agropecuária passou progressivamente a ser


influenciado principalmente pela demanda dos grandes centros urbanos
brasileiros, que impulsionavam as transformações no meio rural. A aceleração
desse processo levou à constituição dos complexos agroindustriais em cada um
dos subsetores da agricultura (de acordo com a velocidade individual de
internalização). Tais complexos tinham como premissa básica a substituição da
produção de mercadorias dotadas somente de valores de uso por atividades
agrícolas integradas à indústria, o incentivo à divisão do trabalho, as trocas
intersetoriais, a especialização da produção agrícola e a inversão da
preponderância do mercado externo pelo mercado interno.

Vale reforçar a importância que a agricultura brasileira teve,


especialmente no período que antecedeu as duas primeiras guerras mundiais.
Um destaque deve ser dado à cafeicultura, que proporcionou acumulação de
capital, com os devidos reflexos sobre o restante da economia nacional. Desse

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momento em diante a própria agricultura brasileira sofre grandes transformações
em suas bases produtivas, integrando-se aos demais setores da economia.

Resumo da Aula

Nesta aula foram abordadas as raízes da nossa disposição agrária, as


características produtivas (produção para exportação e fatores de produção
utilizados na agricultura) e a transição para uma agricultura mais voltada para o
mercado interno. Evidenciou-se a mão de obra escravista, a qual preponderava
nas atividades rurais no período do Brasil Colônia. Um dos reflexos disso foi o
início do processo de industrialização brasileiro, com a transição do capital da
agricultura cafeeira para a indústria, bem como o início do processo de
industrialização da própria agricultura oriunda também da importação (em
condições facilitadas) de insumos para a agricultura.

Atividade de Aprendizagem
Descreva o grau de importância da cafeicultura brasileira no
período anterior as duas grandes guerras e como ela interferiu
na industrialização de toda a economia brasileira.

Aula 2 – Os complexos agroindustriais, os mercados dos produtos e as


tecnologias

Apresentação da aula 2

Nesta aula o foco será a industrialização da agricultura brasileira e suas


repercussões, especialmente com respeito ao uso de tecnologia, a escala de
produção e a formação dos preços dos produtos agrícolas. Essas questões são
importantes para o entendimento da importância da interligação do setor agrícola
aos demais setores econômicos e como esta interligação se deu em apenas
parte das regiões brasileiras. Serão destacadas também a dinâmica existente
entre a tecnologia empregada na produção, a qual visa aumentar a
produtividade, e sua relação com os preços dos produtos agrícolas.

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Aula 2 – Os complexos agroindustriais, os mercados dos produtos e as
tecnologias

Parte da agricultura brasileira se modernizou, com o emprego de insumos


e máquinas a partir do Pós-Segunda Guerra Mundial (período histórico em que
os complexos agroindustriais começam a ser estabelecidos e adotados pela
agricultura brasileira). Em outras palavras, introduziu-se mais tecnologia
(utilização de insumos industriais tais como máquinas, fertilizantes e defensivos)
na atividade agrícola e isto aumentou sobremaneira a produtividade das
lavouras. Uma consequência importante foi o desemprego no campo e a
dependência de muitos cultivos à indústria e ao sistema financeiro, pois
fomentou-se a necessidade de insumos industrializados para efetuar o plantio,
tratos culturais e colheita, bem como a necessidade de financiamento para esses
afazeres no meio rural. Tudo isso tem repercussões sobre o nível de renda no
campo e no nível de emprego.

2.1 A formação dos complexos agroindustriais e a produtividade dos


fatores de produção

No pós-guerra (o segundo grande conflito mundial) a agricultura brasileira


passou a adotar um processo de modernização baseado no uso de insumos
industrializados. Esses insumos eram basicamente tratores, fertilizantes e
defensivos, e visavam principalmente o incremento da produtividade e o
aumento das áreas cultivadas. O resultado foi um aumento da oferta de
alimentos bem como das exportações.

Nesse período, a economia e a agricultura brasileira ainda era muito


dependente do mercado externo, seja para a importação de máquinas e insumos
utilizados na produção, ou para a exportação de produtos agrícolas. A decisão
de produzir no meio rural foi gradativamente internalizada em função das
exigências do mercado nacional, porém os insumos necessários para
implementar a produção ainda eram importados e isto se traduzia num gargalo
interno do setor agropecuário.

As agroindústrias só obtiveram um desenvolvimento expressivo a partir


da introdução da indústria nacional de insumos (que podemos chamar de D1).

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Apesar de algumas agroindústrias (notadamente a têxtil e a alimentar) atingirem
certa relevância desde o início da industrialização brasileira, somente a partir da
internalização do D1, elas se desenvolveram amplamente, agregando
praticamente todos os segmentos produtivos da agropecuária, conforme afirma
Kageyama (1996; p.120).

Para apressar a formação do mercado agrícola interno, havia a


necessidade de elevar o montante de capital inserido nos produtos das relações
comerciais entre os setores e, principalmente, a importação de insumos e
máquinas para o processo de produção. O suporte do Estado nessa questão foi
fundamental, o início da transição dos complexos rurais para o sistema integrado
à agroindústria (anos 50) foi sustentado com recursos da conta cambial (reservas
cambiais) e a utilização do sistema de taxas múltiplas de câmbio, que
proporcionou importações de máquinas e equipamentos a preços favoráveis,
conforme expõe Kageyama (1996; p. 159).

Para Refletir
Se o governo utilizou taxas de câmbio preferenciais para o
setor agrícola se modernizar e empregou reservas cambiais
(moeda estrangeira em estoque no Banco Central brasileiro)
quem você acha que pagou essa conta?

Paralelamente a importação de bens de capital e insumos, deu-se início


a industrialização por substituição de importações na agricultura, que para o
meio rural se fundamentou na implantação da indústria nacional de consumo
intermediário agrícola (bens de capital e insumos). O processo produtivo deixou
de ser basicamente artesanal e passou a existir pelo menos uma relação
comercial simples (indústria/agricultura).

Para Kageyama (1996):

Pelo aprofundamento da divisão do trabalho a agricultura se converte


assim num ramo da produção, que compra insumos e vende matérias-
primas para outros ramos industriais. O processo de produção deixa em
grande medida de ser artesanal e passa a ser regido (pelo menos) pela
cooperação simples, como na manufatura; o processo de trabalho deixa

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de ser individual para se tornar coletivo, no sentido de que o trabalho
agrícola converte-se em parte alíquota do trabalho social e seu produto
parte alíquota do valor global produzido na sociedade. A terra deixa de
ser “laboratório natural” para se converter em mercadoria. Os
equipamentos utilizados deixam de ser meros instrumentos de trabalho,
para representar partes do capital a ser valorizado. (KAGEYAMA, 1996,
p. 122).

Para Sorj (1980, p. 65), a forma e o ritmo de penetração da agroindústria


no meio rural estão relacionados a uma série de fatores, porém não
suficientemente claros ao ponto de listá-los com absoluta confiança. Entretanto,
aqueles cujo grau de importância é relativamente maior estão identificados pelos
estudiosos que se dedicam a analisar o desenvolvimento agrícola.

- As relações sociais de produção vigentes. Dados os diferentes


níveis de área disponível e poupança ou acumulação nas diferentes
unidades produtivas, a capacidade de integrar a tecnologia moderna
varia enormemente de empresa para empresa.
- As políticas estatais que favorecem sistematicamente a grande e
média empresa na política de créditos e subsídios.
- A renda da terra, que favorece investimentos nas terras de maior
renda diferencial.
- Os diferentes níveis de capacidade dos produtores familiares de
auto-organização que aumente a sua autonomia frente à
agroindústria, através do movimento cooperativo, e
- Finalmente, encontra-se o impacto da tecnologia agrícola sobre os
diferentes produtos: enquanto, para alguns produtos, a aplicação de
insumos modernos implica importantes ganhos de produtividade,
para outros esses ganhos são irrelevantes. Assim, os produtos de
importação geralmente se encontram na primeira categoria,
enquanto os produtos alimentícios tendem a se encontrar na segunda
(com a importante exceção do açúcar, soja, trigo e, em certos casos,
do arroz). (SORJ, 1980, p. 65).

Na dinâmica do produto agrícola a partir da constituição dos Complexos


Agroindustriais (CAIs), verifica-se a formação de cadeias, onde a produção
agrícola é apenas um dos elos. Dessa forma, a agroindústria processadora, a
produção agrícola em larga escala e a indústria de insumos a montante formam
cadeias produtivas nos diversos subsetores agrícolas (soja, café, açúcar, álcool,
milho, dentre outras), especialmente naqueles ligados à produção de
commodities agrícolas (soja, suco de laranja beneficiado, trigo, algodão,
borracha, café, etc).

A formação de cadeias produtivas agroindustriais apresenta a


consequência da internalização da indústria de insumos e de processamento dos
produtos da agropecuária.

20
Essas cadeias podem ser chamadas de complexos agroindustriais, uma
vez que as ligações entre os agentes internos aos complexos passam a ser
sempre efetivadas através do capital, ou sistema financeiro, interligando as
ações da agricultura com a economia global. Conforme aumentou o nível de
modernização e integração dos diversos subsetores, maior era a demanda por
recursos monetários para investimentos na própria modernização. Então, os
bancos intensificaram suas relações com o setor agropecuário, buscando suprir
essa escassez de recursos e objetivando aumentar sua lucratividade através do
financiamento às atividades dos que exploravam o setor.

Para Passos Guimarães (1976) (precursor nas análises das relações


intersetoriais – agricultura/indústria e da utilização do termo “Complexos
Agroindustriais” no Brasil) apud Graziano da Silva (1998, p. 76), baseado no
pensamento de Kautsky, o termo complexo agroindustrial mostra a integração
técnico-produtiva entre os setores agrícola e industrial (a montante e jusante da
agricultura).

A partir dessa análise derivou-se a ideia da “tesoura dos preços”. A


montante, a agricultura mantém relações com a indústria de insumos
oligopolizada (poucas empresas fornecedoras de insumos) que impõe preços
relativamente altos, enquanto paralelamente a agroindústria processadora
também oligopolizada tem poder de monopsônio (um único comprador) e impõe
preços baixos aos produtos primários.

Logo, existe uma compressão da renda dos agricultores integrados,


muitas vezes inviabilizando a sua sobrevivência, pois a indústria se apropria do
excedente (lucro e renda da terra) dos produtores rurais.

Segundo Passos Guimarães (1982, p. 114), o conceito de complexo


agroindustrial surgiu na década de 50 (Século XX), a partir dos estudos sobre os
quadros matriciais de Leontief (matriz insumo-produto), nos quais se obteve a
medida das relações intersetoriais entre a agricultura e os outros setores.

Essa mesma análise nos EUA e Europa demonstrou que a substituição


dos métodos tradicionais de exploração agrícola por métodos industrializados,
criou uma crescente dependência do setor agropecuário frente à indústria,
apesar da melhora no desempenho econômico. Entretanto, decorreu um

21
processo subjacente de perda de autonomia e capacidade de decisão. A
agropecuária aumentou sua produtividade, cercada pelas indústrias de insumos
e agroindústrias processadoras, mas também aumentou seus custos absolutos
sem compensação nos níveis de lucratividade.

Vídeo
Assista o vídeo Industrialização e Modernização da Agricultura,
o qual traz de forma clara a explicação complementar a respeito
da modernização da agricultura brasileira.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=_jj6ykCOTcw

A evolução da integração da agricultura e indústria traz consigo um


elemento nocivo que é a formação de mercados vendedores (indústria de
insumos) e compradores (agroindústria processadora) cada vez mais
concentrados e, consequentemente, menos competitivos, tendendo à condições
monopolísticas.

Saiba Mais
Para saber mais sobre a concentração na agroindústria
brasileira e os setores com maior concentração entre as
décadas de 1980-1990 leia o artigo Tendência da
concentração no sistema agroindustrial brasileiro, de autoria
de Marco Antonio Montoya, Ricardo Silveira Martins e Pedro
Valentim Marques.
Disponível no acesso:
http://cepeac.upf.br/download/rev_n07e08_1996_art1.pdf

No final dos anos 60, grande parte dos Complexos Agroindustriais (CAIs)
já haviam se consolidado, e as condições econômicas e políticas apresentavam
uma mudança qualitativa no padrão de desenvolvimento agrícola e de
acumulação. Os setores mais dinâmicos da agricultura já haviam implementado
seus processos de modernização, sobretudo com o auxílio do capital financeiro

22
e através da integração com outros setores da economia (indústria de insumos
e agroindústria processadora).

Em virtude dessas transformações, o desenvolvimento de parte da


agricultura tornou-se dependente da dinâmica industrial, uma vez que se
caracterizou uma forte relação técnica para com os diversos setores das cadeias.
Entretanto, esta dependência comprometeu o nível de acumulação de capital na
agricultura, pois era necessário, após as colheitas, remunerar o sistema
financeiro pelos investimentos em modernização realizados.

Para Refletir
A integração à agroindústria tem o objetivo de aumentar a
produtividade, mas com isso os produtores têm maiores
custos, será que eles sempre ganham?

Contudo, numa visão mais geral da economia agrícola brasileira,


principalmente entre os anos 1970 e 1990, é possível perceber a crescente
importância de novos produtos na renda gerada no setor agropecuário. Muitos
destes produtos possuem condições de ampliação de mercado, tais como as
frutas, flores e alimentos orgânicos.

Esses produtos, em sua grande maioria, não podem ser considerados


commodities, mas sim outros produtos direcionados especificamente aos
mercados interno e/ou externo, e ainda a alguns nichos de mercado. Isso se
deve ao desenvolvimento constante do mercado consumidor (nacional e
internacional), que gera novas demandas e responde positivamente às
inovações no mercado de alimentos.

Por outro lado, de maneira geral, não se pode omitir os reflexos da política
cambial, que em certos períodos da história produziram benefícios às
exportações, em termos de incremento das quantidades transacionadas, além
dos seus reflexos sobre a remuneração à produção.

Apesar da modernização ter sido implementada com sucesso em alguns


setores, verifica-se a forma heterogênea com que foi introduzida no Brasil. Em

23
grandes regiões cuja principal fonte de renda é a agricultura permaneceram à
margem da modernização, mantendo pontualmente em algumas cadeias
somente um forward linkage (ligação a jusante) com alguma agroindústria
processadora, ou então um backward linkage (ligação a montante) com algumas
indústrias de insumos.

Um exemplo particular dessa dinâmica é a produção de farinha de


mandioca no Norte-Nordeste, onde a existência de alguma integração em suas
relações de produção se dá com a indústria a montante, na compra de
equipamentos e materiais para montagem das farinheiras. Mesmo assim, não se
pode dizer que a produção de mandioca e, consequentemente, de farinha de
mandioca são modernas ou mesmo que não significam muito nessas regiões. A
importância econômica desse produto sempre foi elevada e se encontra entre os
principais da agricultura dessas regiões e é produzida quase que exclusivamente
por produtores familiares que utilizam técnicas rudimentares.

Saiba Mais
Para saber as características da agricultura regional e a sua
importância, veja a apresentação Mandioca a raiz do Brasil,
“O pão do Brasil”, Um símbolo da identidade cultural
brasileira - Domingo Haroldo Reinhardt (EMBRAPA-2013).
,

Disponível no acesso:
http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/capadr/audiencias-publicas/audiencias-
publicas-2013/audiencia-publica-16-de-abril-de-2013-
embrapa-mandioca

Portanto, não existe um modelo geral, mas sim várias dinâmicas próprias
de cada complexo. Alguns setores/produtos agregam maior taxa de
industrialização a montante, além de outra parte sem qualquer modernização.

Kageyama (1996), descreve esta segmentação do setor agropecuário e


define quatro segmentos:

24
Em termos descritivos, pode-se dizer que o setor agrícola hoje é
formado pelo menos por 4 segmentos diferenciados:
 O segmento mais moderno e industrializado, integrado
verticalmente e formado por complexos agroindustriais
completos, ou seja, complexos com três “pés” – A indústria a
montante, a produção agrícola (ou pecuária) e a agroindústria
processadora [...]
 Um segmento plenamente integrado à frente, isto é às
agroindústrias processadoras e que, embora altamente
tecnificado, não mantém vínculos específicos com as indústrias
a montante [...]
 Um conjunto de atividades modernizadas que dependem do
fornecimento de máquinas e insumos extra setoriais, mas sem
estabelecer soldagens específicas nem “para frente” nem “para
trás”, isto é sem tomar a forma de complexos [...]
 Finalmente, há um conjunto de atividades agrícolas onde ainda
prevalece a produção em bases quase que artesanais, isto é, o
“resto” da agricultura, ainda não modernizado nem com
ligações intersetoriais fortes [...]. (KAGEYAMA, 1996, P. 186).

Nos segmentos mais modernos da agropecuária, o nível de acumulação


depende não somente das integrações para frente e para trás, ou das condições
naturais (solo, chuvas, clima e outros), mas também dos impactos causados pela
formação dos mercados de produtos, sobretudo de commodities. A produção em
larga escala gerou grandes excedentes de alguns alimentos, que passaram a
ser negociados no mercado internacional.

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA
Leia a obra Mercados e comercialização de
produtos agrícolas (série Educação a
Distância), de autoria de Paulo Dabdab
Waquil, Marcelo Miele e Glauco Schultz.
Este livro apresenta o conceito de mercados
agrícolas, sua formação e características,
assim como a esfera da comercialização
agrícola.
Disponível no acesso:
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/1
0183/56447/000784016.pdf?sequence=1

25
Como resultado direto, o processo de formação dos Complexos
Agroindustriais teve reflexo sobre a produtividade total de fatores (PTF) na
produção rural brasileira. Vicente, Anefalos e Caser (2003) estimaram a PTF
entre os anos de 1970 e 1995 e identificaram um crescimento de 2,8% ao ano
nos componentes terra, trabalho e capital. Os melhores índices de PTF, nesse
período, estão associados aos estados das regiões sudeste e centro-oeste
brasileiro, onde a modernização agrícola se mostrou historicamente mais
intensiva.

Contudo, os fatores que mais contribuíram para elevação da


produtividade durante todo período estudado foram aqueles que compõe o fator
capital em termos de insumos modernos (irrigação e fertilizantes) e terra
(qualidade das terras). Adicionalmente, encontrou-se indícios de que o nível
educacional da mão de obra implicou em crescimento adicional da produtividade.

2.2 Os mercados dos produtos, a tecnologia e os preços

As negociações de produtos do tipo commodities acontecem geralmente


em bolsas de valores como as de Londres, Nova York e Chicago; ou ainda em
mercados do tipo spot. Os spot são mercados de commodities onde os negócios
são realizados com pagamento a vista e entrega imediata das mercadorias.
Diferencia-se do mercado futuro ou do mercado a termo (geralmente executados
em bolsas de valores específicas) porque nesses são feitos contratos para
pagamento e entrega posteriores.

Como nos países desenvolvidos a modernização agrícola já havia sido


implementada, formaram-se mercados internacionais de produtos específicos,
onde os preços praticados passaram a obedecer a lei da oferta e demanda
mundialmente constituída, ou seja, o preço de uma commodity é dado pelas
relações de tecnologia, produção, consumo e estoques mundiais do produto.
Nesse sentido, a rentabilidade de parte da produção brasileira de alimentos
passou a depender também dessa dinâmica, a partir do momento em que se
produziu produtos e excedentes negociáveis no mercado internacional.

Entretanto, muitos dos produtos não commodities são negociados em


nível regional ou local e portanto, sofrem a concorrência da produção efetuada

26
nesses limites geográficos. A diferença desses mercados regionais para os
mercados de produtos em larga escala é a ausência da fixação de preços. Mas,
não quer dizer que os produtores podem estabelecer preços de acordo com seu
desejo uma vez que sempre há um limite dado pelos consumidores e a pressão
dos produtores concorrentes.

Importante
Um destaque deve ser dado àqueles produtos agropecuários
considerados em nichos de mercado, tais como a produção de
hortifrutigranjeiros orgânicos. Nesses mercados a escala de
produção não é fundamental e a concorrência em preços é
menor. Além disso, geralmente os preços são majorados pela
qualidade e apresentação do produto. Logo, parcela importante
desses mercados é ocupada por produtores da agricultura
familiar, os quais geralmente podem auferir maiores rendas
comparativamente a outros mercados mais concorrenciais.

Veiga (1991, p. 103), comenta um modelo explicativo (popularizado como


treadmill) de Willian W. Cochrane para esta dinâmica e que é aceito
razoavelmente por grande parte dos especialistas em economia agrícola. Nesse
modelo, um dado agricultor que adota a tecnologia mais moderna, constata que
seus custos de produção se reduziram e o resultado foi um aumento da
produtividade e, consequentemente, do lucro. Esse produtor continuará
auferindo lucros adicionais enquanto o preço se situar no nível inicial (os preços
podem permanecer neste patamar por causa da fragmentação ou atomização
do setor), apesar da sua oferta ter influência infinitesimal na oferta total.
Paralelamente, a possibilidade de maior lucratividade estará disponível a outros
inovadores que logo passarão a imitá-lo, o que provocará um substancial
aumento da produção e, num mercado cuja concorrência é livre, a tendência
subsequente é a queda nos preços.

Para Abramovay (1998, p. 216), o desenvolvimento tecnológico na


agricultura pressiona os preços permanentemente para baixo. Contudo, essa
tendência é quase que geral no capitalismo e atinge também a indústria, a
depender do nível de concentração do setor (setores mais concentrados são
aqueles com poucas empresas). Nos setores mais concentrados a implicação

27
do progresso técnico na redução dos preços não é muito acentuada e costuma
ser administrada pelas grandes empresas que dominam o setor, pois os ganhos
de produtividade são parcialmente repassados aos preços.

Na agricultura familiar as implicações sobre o uso da tecnologia são ainda


mais dramáticos uma vez que se o produtor utiliza tecnologias defasadas ou
inferiores tecnicamente ele estará auferindo uma produtividade menor que os
demais produtores. Nesse sentido, se estiver inserido em um mercado de
commodities, o impacto negativo sobre os preços é imediato e certamente este
produtor poderá estar incorrendo em prejuízo. Contudo, se ele estiver inserido
em um outro mercado (não commodity), certamente estará deixando de auferir
maiores rendas. Logo, existe sempre uma pressão para que os produtores,
patronais ou familiares, utilizem tecnologias modernas.

Apesar disso, na agricultura existem ainda alguns mecanismos


(especialmente para o mercado interno) que dão suporte aos preços, tais como
as políticas públicas de preços mínimos engrendradas pelos governos que, de
certa forma, garantem um patamar mínimo de remuneração, embora
normalmente se situem próximos aos custos médios de produção e não
signifiquem ganhos reais de renda aos produtores.

Vocabulario
Engrendrar: engenhar, produzir, inventar; criar de maneira
imaginativa, ocasionar o aparecimento de alguma coisa sem
origem aparente.

Converse Com Seus Colegas


Consulte seus colegas sobre a política de preços mínimos
da Companhia Brasileira de Abastecimento (CONAB).
Verifique se eles conhecem a compra de grãos pela CONAB
a preços mínimos tabelados estipulados pelo governo e
sobre a política de armazenagem e venda de grãos pela
CONAB.

28
Vale reforçar que sobre a dinâmica de preços agrícolas, especialmente
das commodities, pode-se verificar uma convergência de análise de grande parte
dos estudiosos dessa área, em que a partir da década de 70, os preços reais
(descontada a inflação) das principais commodities sofreram quedas sucessivas.
Tal dinâmica resulta em crises cíclicas em mercados específicos do produto e
implica na redução da renda agropecuária. Segundo Lopes (1997, p. 10), entre
1981 e 1995, os preços recebidos pelos produtores com a venda das principais
commodities (algodão, arroz, café, açúcar, cebola, feijão, laranja, mandioca,
milho, soja e trigo) variaram entre – 45% e – 71%, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Economia (IBRE)/Centro de Estudos Agrícolas (CEA)/FGV.

Paralelamente, os custos de produção aumentaram significativamente


durante esse período, ou seja, maior parte da renda enviada às indústrias a
montante (BALSADI, 2000, p. 06).

Vale reforçar a importância da formação dos complexos agroindustriais,


dos aumentos de produtividade e da inserção nos mercados de produtos. A
questão mais relevante é que sempre que os produtores aumentam sua
produtividade, existe automaticamente uma redução do preço do produto, dado
pela dinâmica do mercado. Essa dinâmica somente se altera se houver um
aumento da demanda pelo produto. Caso contrário, os produtores sempre
estarão reduzindo sua renda por fazerem sua produção da melhor maneira
possível. As exceções são aqueles produtos em que não existe fixação de
preços em mercados internacionais, mas sim regionais ou locais. Nesses
mercados, ou em nichos de mercado, existe uma outra dinâmica de formação de
preços que pode remunerar de melhor forma os produtores e a tecnologia
industrial nem sempre é essencial.

Resumo da Aula 2

Nesta aula evidenciou-se a formação dos Complexos Agroindustriais


(CAIs) e a imposição de melhores tecnologias para o aumento da produtividade,
em diversos mercados de commodities agropecuárias. O retrospecto disso são
dinâmicas específicas de mercados internacionais, nos quais os produtores não
tem qualquer interferência na fixação de preços. Contudo, nem todos os

29
mercados funcionam dessa forma e, especialmente, a produção em pequena
escala (ou familiar) pode encontrar alternativas a esse mercado que são mais
vantajosas.

Atividade de Aprendizagem
Pesquise e liste 3 (três) produtos que são commodities
agropecuárias negociadas e que tem preços fixados no
mercado internacional, bem como outros três produtos que
tem seus preços majorados regionalmente ou localmente.

Aula 3 – O crédito rural e o modelo produtivista de produção

Nesta aula o foco será o crédito para as atividades rurais. Sem este
instrumento, a maior parte da atividade agropecuária não pode ser efetuada.
Além disso, estudaremos as principais implicações da industrialização das
atividades no campo (inclusive sob o aspecto financeiro). Essas implicações
repercutem entre os produtores rurais e estes tendem a implementar estratégias
para reduzir os efeitos negativos desse modelo.

3. O crédito rural e o modelo produtivista de produção

O crédito safra ao setor agropecuário é um instrumento importante para


que grande parte dos produtores rurais, patronais e familiares, possam efetuar
suas produções (plantio, tratos culturais e colheita), bem como investimentos em
infraestrutura e na comercialização das safras. Veremos que as taxas de juros
cobradas nos primeiros tempos dessa política induziram os produtores a
empregarem o modelo de produção industrializado, que poderemos chamar de
“revolução verde”, “modelo produtivista de produção rural” ou “modelo euro-
americano de produção rural”. A partir de certo momento, as taxas de juros
passaram a se alinhar com as demais taxas de juros de mercado e isto tornou
os produtores reféns de um modelo que nem sempre traz resultados financeiros
positivos. Além disso, existem implicações ou contradições internas a esse
modelo de produção que, em certas condições, degradam a própria matriz

30
produtiva (que é o meio ambiente). Neste sentido, muitos produtores buscam um
novo modelo de produção tal como o modelo de produção agroecológico ou
associam-se (em cooperativas ou redes) para implementar alternativas que
reduzam a sua fragilidade no mercado. Sobre essas questões que iremos refletir
nesta aula.

3.1 O crédito rural como financiamento à atividade rural

Com a formação dos CAIs e a modernização tecnológica houve uma


efetiva transformação na produção agropecuária brasileira. Nesse modelo de
industrialização da agricultura (derivado do que se costumou chamar de
revolução verde) a mudança da base técnica tornou-se praticamente irreversível
em alguns setores (soja, milho, açúcar, café e outros), tanto no aspecto trabalho
(força de trabalho assalariada), quanto no aspecto técnico (utilização de
insumos). A agricultura transformou-se em um ramo de produção semelhante a
uma indústria que está conectada com outros setores produtivos, e que também
dependem de insumos para produzir.

A integração dos capitais (industrial, financeiro e agrícola) solidificou-se


na década de 70 com a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR).
O SNCR fortaleceu a integração do capital financeiro com a agricultura e as
agroindústrias (tanto de insumos, quanto processadora). O crédito rural supriu
os produtores agropecuários e as cooperativas com financiamentos para a
produção, aquisição de máquinas, equipamentos e melhorias de infraestrutura
interna às unidades produtivas, além de recursos para viabilizar a
comercialização e o custeio das safras (adiantamento de recursos para compra
de insumos, pagamento de mão de obra e outros).

Fonte: http://www.triamanorte.com.br/arquivos_upload/noticias/thumbs/29.jpg

31
Saiba Mais
Para aprofundar sobre as coberturas do crédito rural, leia o
artigo O credito rural no contexto do desenvolvimento
econômico e social, de autoria de Rosimeire Aparecida de
Souza Antão e Tarcisio Campanholo.
Disponível no acesso:
http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigosv3n5/a
rtigo03.pdf

Em um primeiro momento as taxas de juros eram significativamente


inferiores às praticadas no mercado e eram sustentadas pelo governo federal,
pois o objetivo era impulsionar a atividade agrícola através da modernização e
incrementar as receitas com exportações, gerando saldos positivos na balança
comercial. Até 1979, o crédito rural foi regido por índices agrícolas que
diferenciavam as taxas de juros do setor, das praticadas no mercado financeiro.
Nos anos 80, esse padrão de financiamento foi rompido e o crédito rural passou
a obedecer às mesmas regras do sistema financeiro em geral.

Na história republicana do Brasil, o Estado sempre socorreu setores


específicos da agricultura em épocas de crise, utilizando-se de políticas pontuais
para criar um ambiente adequado à recuperação dos setores mais
representativos tanto econômica quanto politicamente. Apesar da criação da
carteira de crédito agrícola e industrial do Banco do Brasil (CREAI-1937), não
existiam linhas de crédito especiais até os anos 50. Porém, somente com a
implantação do modelo de complexos agroindustriais (que pode ser chamado de
modelo produtivista, euro-americano ou revolução verde) que se observou uma
política mais robusta e voltada para o desenvolvimento agrícola, mesmo que
para muitos estudiosos ela tenha sido equivocada e ineficaz (Kageyama,1996,
p. 186).

A partir de 1965, esse modelo de desenvolvimento se reproduziu apoiado


no financiamento agrícola, que passou a ter uma linha de crédito especial. A
fonte de recursos para estes financiamentos foi o Fundo Geral para a Indústria
e Agricultura (FUNAGRI), que fomentou uma política agroindustrial de crédito.
Esse fundo impulsionou e atuou paralelamente ao crédito rural, financiando a

32
agroindústria através de crédito direto de investimento, bem como as atividades
agropecuárias carentes de modernidade. A estrutura de arrecadação dos
recursos foi baseada no direcionamento de percentuais sobre os depósitos à
vista nos bancos comerciais, recursos do orçamento da união e empréstimos
externos a juros preferenciais.

Importante
A implementação do crédito rural auxiliou no financiamento da
industrialização da agricultura, com taxas de juros preferenciais
nas primeiras décadas.

O crescimento demasiado desse fundo, nos anos 70, gerou um


descontrole governamental sobre os programas, e esses passaram a responder
ao comando de forças políticas organizadas, conforme Graziano da Silva (1998,
p. 31). As demandas políticas passaram a influenciar decisivamente a
canalização dos recursos e, dessa forma, esta política se distanciou do seu
objetivo principal que era de introduzir e ampliar a modernização agrícola nos
diversos setores da agricultura e regiões do Brasil.

A criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) e a reforma do


sistema financeiro possibilitaram a transferência de parte dos recursos captados
pelos bancos comerciais para o financiamento da produção agrícola. Assim, o
aumento dos recursos direcionados à agricultura dependiam diretamente do
crescimento da economia como um todo.

O resultado do processo de subordinação da agricultura após a


implementação do SNCR (Sistema Nacional de Credito Rural) submeteu parte
da produção agrícola à agroindústria e ao sistema financeiro.

Nesse período houve uma grande expansão no volume de crédito, até


meados da década de 70, corroborado pelos efeitos das taxas de crescimento
econômico elevadas da época. No entanto, o crédito não foi utilizado somente
para desenvolver a produção agrícola, mas também para o setor agroindustrial,
uma vez que detinha explicitamente determinadas condições pré-fixadas de
utilização de insumos agropecuários.

33
Existiam interferências na alocação de recursos e fatores, privilegiando
insumos modernos, e concomitantemente os interesses de alguns grupos de
produtores rurais e da agroindústria, conforme Graziano da Silva (1998, p. 51).

Importante
A integração da agricultura ao sistema financeiro implicou não
somente na subordinação da agricultura às indústrias a
montante e jusante, mas também à política monetária regida
pelos governos. Logo, o mercado financeiro passou a ser
importante nas tomadas de decisões dos agricultores e
empresas ligadas à agricultura.

O crédito rural passou por dois períodos distintos. Primeiramente, desde


a criação do SNCR até o final da década de 70, houve um crescimento
significativo dos contratos de crédito agrícola. Nesse período, sobressaia-se o
esforço de implantação e consolidação do padrão integrado na agricultura.

No segundo momento, desde 1979, a política de ajuste fiscal do governo


e a crise mundial afetaram fortemente as fontes de financiamento do crédito rural
e causaram uma retração no montante de recursos destinados à modernização,
conforme afirma Kageyama (1996, p. 161).

Na década de 70, as taxas de juros para o crédito rural ficaram sempre


abaixo da inflação. Para investimentos e aquisição de certos insumos, tinham-
se linhas de crédito ainda mais favorecedoras. Entretanto a partir de 1979, houve
redução no volume de crédito destinado aos investimentos, mantendo-se o valor
destinado ao custeio e à comercialização. Apesar da retração, o governo passou
a reorientar e direcionar os financiamentos através de programas especiais
ligados a lavouras específicas, os quais favoreceram não somente a utilização
de insumos modernos, mas também a redução dos custos de produção.

Entre 1979 e 1986, a política de financiamento entrou em crise e os


reflexos foram a redução de recursos disponíveis e a mudança das regras e
condições de operação do crédito agrícola. As altas taxas de inflação e juros nos
anos 80 implicaram em quedas nos depósitos à vista e aumentaram os subsídios
implícitos nas taxas de juros pré-fixadas do crédito rural. No ano safra

34
1982/1983, os empréstimos passaram a ter taxas de juros pós-fixadas, sendo
que essas regras foram modificadas várias vezes, até que em 1984/1985, pela
primeira vez desde a criação do SNCR, a taxa de juros cobrada foi positiva, ou
seja, acima da correção monetária geral da economia.

As restrições ao crédito significaram retrações no financiamento agrícola


e perda do tratamento diferencial nas relações com o setor financeiro, o que
levou o setor agropecuário a ficar exposto às mesmas dificuldades enfrentadas
pelos demais setores da economia. Com essas modificações os agricultores
passaram a pagar mais do que a correção inflacionária e como os recursos para
investimento foram reduzidos drasticamente, eles arcaram com praticamente
todo o valor destinado a esse fim.

Vídeo
Assista o vídeo da TV Senado no qual o economista Antônio da
Luz explica o que é o crédito rural e como ocorre o
endividamento dos produtores.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=8AUs_dY3S0o

O contexto econômico internacional era desfavorável à agricultura. As


crises do petróleo e as maxidesvalorizações cambiais refletiram nos preços de
alguns insumos agrícolas ainda não produzidos no Brasil, e causaram recessões
em praticamente todas as nações capitalistas, limitando as transações
comerciais no mercado internacional.

Numa análise geral, pode-se verificar que nessa época alguns setores da
agricultura já haviam alcançado patamares tecnológicos e econômicos
satisfatórios. Não se pode afirmar que o Estado abandonou totalmente os
processos de modernização e integração, porém, houve mudanças quanto aos
mecanismos que estimulavam a introdução de certos insumos. Nesse novo
panorama, o Estado passou a manipular outros instrumentos de política agrícola
que atingiram apenas certos produtos. A política de preços mínimos que
assegura rentabilidade para parte das culturas foi um desses instrumentos, o

35
resultado foi o estímulo à produção de certos produtos recomendados pelo
Ministério da Agricultura.

A política de preços mínimos, com o decorrer do tempo, executou funções


cada vez mais importantes nos mercados e na alocação de recursos. Essa
política influencia na decisão de produção dos agricultores, uma vez que muitos
preferem a garantia de um patamar mínimo de preços em determinada cultura,
do que apostar na incerteza de outros mercados. Ademais, em certas ocasiões
e para alguns produtos, os preços mínimos chegaram até mesmo a ditar o
patamar de preços do mercado, especialmente quando a lei da oferta e demanda
conduzia os preços aquém dos custos de produção.

Para o Estado, essa política era uma maneira de garantir divisas com a
exportação de produtos agrícolas, pois com o incentivo à produção de
commodities, resulta-se invariavelmente na entrada de dólares no mercado de
câmbio através das exportações.

Para Refletir
Se o Brasil vende soja no mercado internacional, existe a
entrada de dólares no Banco Central, será que esses dólares
eram utilizados para ajudar a pagar a dívida externa brasileira
da época?

Apesar da crise no sistema financeiro e a conjuntura econômica


desfavorável, não houve queda acentuada no nível geral da produção
agropecuária. As reduções observadas na produção foram principalmente
oriundas de fatores climáticos. Ademais, quando comparados os desempenhos
da agropecuária e indústria na década de 80, verifica-se uma maior retração no
nível da atividade econômica industrial.

Entretanto, a escalada da inflação e os diversos planos de combate


implementados resultaram numa perda significativa do gerenciamento das
unidades produtivas, ou seja, as expectativas inflacionárias implicavam um perfil
mais conservador dos investidores. Enquanto isso, a desvalorização acelerada

36
do poder de compra da moeda impedia os produtores de reconhecerem as reais
condições dos mercados (compra de insumos e venda do produto), bem como o
nível de renda gerado.

No período pós “Plano Real” de erradicação da inflação, muitos setores


agroexportadores (sojicultura, citricultura, avicultura, etc.) tiveram sua
competitividade prejudicada pela política cambial e pelos preços praticados no
mercado internacional, notadamente nos primeiros cinco anos do plano real. Isso
porque não era possível (para muitos setores) cobrir ao menos os custos de
produção. Somente após o abandono da política de “bandas cambiais”, em 1999,
que o setor agropecuário passou a recuperar a sua competitividade,
fortalecendo-se efetivamente em 2000 e permitindo a ampliação das
exportações.

Curiosidade
A política de “bandas cambiais” era um dispositivo
implementado pelo Banco Central que não permitia
oscilação do câmbio acima de certo valor estabelecido
para determinado dia de contratação de moeda para
transações internacionais. Isso fazia com que o câmbio
não se desvalorizasse rapidamente o que provocava
competitividade alta dos produtos internacionais e
prejudicava as exportações brasileiras.

Segundo Filgueiras (2000, p. 208), mesmo após o abandono desta política


(com limites de flutuação da taxa de câmbio) as exportações não se ampliaram
na dimensão esperada, devido à perda de parceiros comerciais (inerentes aos
quatro anos e meio de câmbio “proibitivo” às exportações), da retração das linhas
de crédito e dos reflexos da desaceleração da economia internacional, que
resultaram numa redução da demanda no comércio mundial, além das quedas
nos preços das commodities agrícolas (o efeito majoritário das políticas de
crédito e dos commodities agrícolas pode representar o endividamento dos
produtores e o estabelecimento da política governamental de preços mínimos
aos produtos agrícolas).

37
3.2 O modelo produtivista de produção agropecuária e as especificidades
regionais

A difusão mundial do modelo euro-americano de modernização agrícola


incorporou à agricultura um caráter de produção especializada. No Brasil, a
diversidade regional (condições edafoclimáticas, alocação dos fatores de
produção e cultura) é indubitavelmente significativa e a especialização produtiva
teve que sofrer algumas alterações ao longo do tempo, sobretudo na procura de
um maior grau de adaptação da tecnologia ao meio. Nesse sentido, Romeiro
(1998, p. 106) destaca o papel da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), (criada no início dos anos 70) como principal órgão de pesquisa do
setor agropecuário para adaptação e geração de tecnologia para o meio rural
brasileiro.

Na agricultura do Século XX, a padronização deixou de ser apenas um


mecanismo básico da especialização produtiva e passou também a balizar o
produto final segundo as exigências dos mercados consumidores. Contudo,
deve-se destacar outros mecanismos indutores da padronização: tecnologia
(sementes industrializadas e a mecanização); economia (redução dos custos de
produção e aumento da produtividade tanto do trabalho quanto da lavoura);
orientação técnica (formação e acesso à informação limitada a concepção
produtivista); integração paralela (as agroindústrias processadoras ao se
integrarem aos produtores delimitam normas de produção); regulamentação
institucional com medidas que asseguram a saúde pública através da proteção
do consumidor final (segurança alimentar), tal como a fiscalização da qualidade
do produto facilitada pela padronização (a segurança alimentar é um elemento
importante na padronização da produção da cadeia agroalimentar);
protecionismo (a não padronização do produto repercute em barreiras não
tarifárias que impedem a comercialização); e ideologia (o produtivismo tornou-
se sinônimo de modernidade, enquanto que os produtores excluídos da
padronização ficam inferiorizados socialmente). Com a padronização dos
processos técnicos de produção e dos produtos, consolidou-se uma nova
padronização de ordem organizacional e econômica, que Dufumier e Couto
(1998, p. 87) traduzem como produtivismo.

38
Vocabulario
Segurança alimentar: é o conjunto de regras de produção,
transporte e armazenamento que visa respeitar certas
características físico-químicas, microbiológicas e sensoriais
padronizadas, pelas quais os alimentos estão adequados ao
consumo. Sua desobediência causa barreiras sanitárias no
comércio entre países.

Todo processo de modernização da agricultura implementado no Brasil


implicou em ganhos de curto prazo observados na economia, principalmente no
produto interno bruto do setor (PIB) e nas exportações. Para tanto, houve
aumentos reais nos rendimentos físicos da terra e na produtividade do trabalho,
enquanto que, paralelamente, reduziram-se os custos relativos por unidade
produzida, porém com quedas nos preços dos produtos.

A racionalização das práticas agrícolas e da gestão das propriedades


rurais inibiu o conhecimento tradicional dos agricultores, principalmente acerca
das estratégias de diversificação da produção acumuladas ao longo de séculos,
inclusive com relação ao plantio para o autoconsumo que foi drasticamente
reduzido. Houve a inibição dos conhecimentos tradicionais de produção e
manejo, relacionado diretamente a uma importante implicação do modelo
produtivista sobre o conhecimento tradicional dos agricultores. Portanto, a
especialização da produção substituiu o sistema policultura-criação de animais
e a intensificação do trabalho deu lugar ao capital, na forma de máquinas que
aumentam a produtividade.

Dufumier e Couto (1998, p. 89), alertam a possibilidade de uma crise


estrutural desse modelo que somente pode ser entendida a partir da observação
das singularidades dos sistemas agrários, bem como das condições
socioeconômicas e especificidades ecológicas locais, as quais se constituem em
elementos fundamentais para a reprodução de qualquer modelo de
desenvolvimento agrícola.

Em outras palavras, não é possível adotar um modelo geral (produtivista)


sem que se observem as necessidades e especificidades locais, tanto nas
relações socioeconômicas (acesso à terra, emprego, reprodução da força de

39
trabalho, renda e outros), quanto da natureza (tipos de climas, solos, recursos
hídricos e outros). Isso tudo se reflete na sustentabilidade da produção agrícola,
dos meios de produção e da sociedade como um todo.

Saiba Mais
Para saber mais a respeito da sustentabilidade e a
agroecologia, leia o artigo de autoria de Francisco Roberto
Caporal e José Antônio Costabeber.
Disponível no acesso:
http://files.agrofamiliar.webnode.com/200000374-
93be394b70/Analise%20multidimensional%20da%20susten
tabilidade,%20uma%20proposta%20metodologica%20a%2
0partir%20da%20agroecologia%20-
%20Francisco%20Caporal,%20Jose%20Costabeber%20(1)
.pdf

Parece razoável que existe a necessidade de manter e melhorar a


distribuição dos progressos tecnológicos e do bem-estar material alcançado por
parte da sociedade, contudo sem destruir a base natural sobre a qual tudo se
apoia (o meio ambiente). Carmo (1998, p. 222) comenta que em decorrência da
segmentação do mercado, entre produção massiva (de origem fordista -
industrializada) e a produção flexível com a diferenciação dos produtos, o
predomínio irrestrito das commodities já não é uma realidade absoluta. Nesse
sentido, certos segmentos de mercado da produção agrícola estão se
diferenciando, o que resulta em outros modelos de produção que proporcionam
maiores rendas aos produtores, níveis de emprego, segurança alimentar e a
redução dos impactos ambientais negativos. Esta diferenciação perpassa, tanto
pelas reações dos consumidores, quanto por impactos ambientais e
socioeconômicos derivados do próprio modelo produtivista.

De acordo com Dufumier e Couto (1998, p. 96-97), os consumidores


alteram qualitativa e quantitativamente a sua demanda por alimentos em virtude
de cinco elementos fundamentais, quais sejam:

40
 redução da parcela da renda que é gasta com alimentos (quanto
maior o nível de renda, maior é a possibilidade de escolha do
produto);
 a educação e o nível de informação da sociedade (acesso à
informação e maior nível educacional tornam o consumidor mais
crítico quanto a qualidade do produto a consumir);
 organização dos consumidores para defesa e segurança alimentar,
em resposta ao nível de qualidade dos produtos, quantidades
padronizadas na comercialização, etc (organizações civis de
consumidores tendem a influenciar o modo de produzir em
atendimento às suas necessidades);
 preferência pela produção ecologicamente correta (consciência
ecológica) e;
 o Estado regulador que fornece suporte aos consumidores nas
questões de segurança alimentar (controle sobre a qualidade dos
alimentos comercializados).

Nos países em que a concentração ou má distribuição de renda é


acentuada, como é o caso do Brasil, muitos desses mecanismos ainda não
atingiram a sua maturidade. Mesmo assim, com a evolução dos meios de
comunicação, até mesmo a população de baixa renda vem iniciando um
processo de conscientização que abarca alguns desses mecanismos.

Na agricultura, Dufumier e Couto (1998, p. 91-96), destacam aspectos que


contrariam preceitos da agroecologia (em um exame a partir de uma perspectiva
do ecossistema adequada à agricultura familiar), tais como a utilização de
fertilizantes em regiões de alta pluviometria, que torna os solos ácidos.
Paralelamente, o uso de defensivos contamina os solos e lençóis freáticos
impedindo a utilização desses recursos para outros fins tais como o turismo rural,
de aventura, etc., além de prejudicar a saúde pública e aumentar os gastos para
melhoramento da condição de potabilidade da água para consumo humano. A
prática sucessiva da aração leva à impermeabilização e empobrece a matéria
orgânica do solo através da ação solar.

41
Vídeo
Assista a reportagem Agricultura Familiar, Agronegócio e
Agroecologia, na qual traz importantes considerações sobre o
assunto.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=HvUsJYC_BNs

Os preceitos da agroecologia são adequados à sustentabilidade de longo


prazo. Paralelamente, podem ser bem ajustados à escala de produção da
agricultura familiar, uma vez que esta produção pode ser direcionada a nichos
de mercado (tal como produtos orgânicos) e resultar em remuneração
satisfatória às famílias rurais.

Muitos outros aspectos particulares de cada tipo de clima e solo sofrem


as ações degenerativas sob a aplicação do modelo produtivista, entretanto em
relação direta com o objetivo da sua implementação destaca-se a redução da
eficiência técnica, pois a partir de um dado momento não é mais possível extrair
custos decrescentes com a utilização de insumos industrializados. O retorno no
rendimento físico dos vegetais através do uso de fertilizantes químicos é limitado,
uma vez que a partir de um certo limite, os custos com doses adicionais sobrepõe
o retorno financeiro obtido na colheita. A redução da renda rural e proliferação
de atividades não agrícolas em certas regiões rurais representa os possíveis
impactos da adoção do modelo produtivista de produção rural sobre a renda e
ocupação das famílias rurais.

Além disso, existem limites para o emprego de máquinas e equipamentos


no preparo do solo, colheita, entre outros, pois a depender da qualidade do solo
a compactação e a erosão provocadas pelo peso e uso intenso das máquinas
torna-se praticamente inevitável.

A modernização tecnológica da agricultura traz consigo fortes impactos


socioeconômicos, que podem ser observados nos mais diversos países do
mundo, inclusive nos EUA onde este processo foi pioneiro. Lawrence (2000), ao
estudar o Estado americano de West Virginia descreve algumas resultantes
diretas e indiretas deste processo:

42
- Migração das áreas rurais para as cidades (e para fora do estado)
- Altas taxas de desemprego
- Baixo nível educacional – […]
- Problemas de saúde e nutrição – altas taxas de pessoas com câncer,
problemas cardiovasculares e obesidade – […]
- Economia baseada essencialmente nas exportações de alimentos in
natura e bens primários como carvão e madeira
- Poucas indústrias que adicionam alto valor aos produtos
- Uma população idosa, a mais idosa dos Estados Unidos
- Queda da renda, aumento dos empregos part-time (redução da renda
per capita)
- Isolamento – o estado de West Virginia está isolada do resto do país
a 200 anos […]. (LAWRENCE, 2000, p. 2-3). [Tradução do autor]

No Brasil esses impactos também podem ser identificados, porém com


algumas particularidades, tais como os reflexos da política agrícola, que
implementou esse modelo e trouxe uma maior concentração fundiária,
principalmente nos anos 70 e 80, origem dos modernos latifúndios. Graziano da
Silva (1998, p. 164-165) destaca as disparidades regionais e o “tamanho dos
produtores” como os principais efeitos da “modernização conservadora”, uma
vez que o esforço modernizador somente atingiu parte das regiões do Brasil e
nelas especialmente os latifundiários.

Saiba Mais
Para aprofundar sobre a questão do diferencial entre tipos
de agricultura leia a reportagem de Daniela Pin Menegazzo,
na qual aborda as características da produção em larga
escala e da produção ligada à agricultura familiar.
Link:
http://coral.ufsm.br/arco/Impressa/NoticiaImpressa.php?Id_
Noticia=61

Passos Guimarães (1982, p. 83), salienta que atualmente o


desenvolvimento industrial dita as regras e os limites do progresso e expansão
da produção rural. Mas, as regiões onde prevalecem os métodos modernos são
ladeadas por regiões cuja agricultura tradicional (não moderna) é preponderante,
sendo assim conclui-se que a agricultura não se desenvolveu uniformemente,
contudo, isso acontece nos mais diversos países inclusive nos mais
desenvolvidos.

43
Os níveis tecnológicos e as relações de trabalho nos segmentos mais
modernos da agricultura se diferenciaram. Leite (1983, p. 119), em uma
comparação do rendimento físico das principais culturas no Nordeste brasileiro,
entre os anos 1960 e 1979 com normalidade climática), verificou decréscimo na
produtividade e imputou a essa dinâmica os seguintes fatores: ausência de
adaptação das tecnologias ao meio e, portanto, as atuais são consideradas
predatórias; esgotamento dos solos derivados de plantios sucessivos sem
reposição de fertilidade e; desmatamento indiscriminado e moto-mecanização,
que provocam a compactação e erosão dos solos. Pode-se identificar ainda, nas
mais diversas regiões, tecnologias modernas de produção convivendo com
precárias relações de trabalho a níveis de remuneração extremamente baixos.

Da mecanização da agricultura resultou a erradicação de inúmeros postos


de trabalho, nas mais diversas tarefas desde o preparo da terra até a colheita.
Para Romeiro (1998, p. 105), isso transformou a mão de obra agrícola cada vez
mais temporária, ligada principalmente às fases da produção nas quais a
mecanização ainda não atuou, tais como podas ou colheitas de alguns tipos de
plantas (cacau, laranja, maçã, uva, etc.).

Dentre os resultados da mecanização e seu recorrente desemprego de


mão de obra está o êxodo rural, que na década de 70 e 80, levou grande
contingente populacional aos grandes centros urbanos, especialmente ao
Sudeste brasileiro (Rio de Janeiro e São Paulo). Neste contexto, a exclusão de
mão de obra levou ao êxodo rural como um dos resultados do modelo
produtivista e que fornece força de trabalho às atividades urbanas.

Vocabulario
Êxodo rural: Migração da população rural para, geralmente,
área de grande urbanização.

Dufumier e Couto (1998, p. 82), destacam que o poder público acreditava


que tudo se resolveria nas cidades. No entanto, o resultado tem se mostrado

44
bastante diferente, com uma urbanização caótica (especialmente nos grandes
centros urbanos) e uma sociedade carente de condições mínimas de emprego,
renda, infraestrutura, etc. Veiga (2000, p. 97) defende que ao existirem
condições adequadas à consolidação de sistemas agrários baseados na
produção familiar (com modernização tecnológica), a inevitável queda no nível
de ocupação agrícola é mais do que compensada pela proliferação de
empreendimentos locais no setor secundário e terciário, entretanto para que isso
seja viável são necessários o desenvolvimento econômico regional e um
ambiente educacional adequados para a população rural. Com isso, se torna
relevante a agricultura familiar como colchão amortecedor das crises no setor
agrícola e como propulsora do desenvolvimento local.

A modernização agrícola ainda avança com as novas técnicas de cultivo,


a mecanização desocupadora de mão de obra e as biotecnologias – apesar de
algumas restrições do mercado, particularmente em relação aos Organismos
Geneticamente Modificados (OGMs).

Os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) mais polêmicos


atualmente são as sementes transgênicas de milho, soja e outros grãos, cuja
introdução provocou reações de alguns mercados consumidores (tal como o
europeu), que tem rejeitado esses produtos em virtude do desconhecimento com
relação ao consumo humano e seus impactos sobre a saúde pública. Muitos
países, inclusive os EUA vem cultivando os produtos em larga escala, entretanto
não existe ainda um consenso a respeito das suas implicações.

Além disso, vêm ocorrendo várias modificações no management das


atividades agrícolas, como as alterações no plantio, tratos culturais e colheita,
na criação de animais, no beneficiamento de produtos e na administração das
diversas atividades no interior das unidades produtivas, que levam à diminuição
do número de pessoas necessárias para efetuar e manter o mesmo nível de
produção.

Outros fatores, como a influência dos mercados do produto são


constantes. Dentre elas pode-se notar as sucessivas e grandes oscilações e
quedas nos preços (notadamente de commodities) e seus reflexos na
comercialização no mercado nacional e internacional. Os impactos são o

45
crescente endividamento dos agricultores, resultado também das altas taxas de
juros e que desestimulam a ocupação da mão de obra na agricultura.

Considerando-se tudo isso em uma conjuntura de constantes aumentos


na produção mundial de alimentos, tem-se de fato, um cenário desfavorável para
a melhoria da renda de grande parte dos agricultores. Principalmente aqueles
que exploram a atividade agrícola nos países em desenvolvimento, cujos
instrumentos de política agrícola são limitados ou ineficientes e a sobreposição
de barreiras protecionistas (no comércio internacional) de muitos países
desenvolvidos é uma tarefa bastante difícil.

As barreiras aos produtos agrícolas podem ser alfandegárias (tarifas e


cotas à importação, por exemplo), sanitárias ou de outras formas, como o
subsídio ao produto interno, amplamente praticado nos EUA e países europeus.
Essas barreiras normalmente impedem o crescimento das exportações de
produtores brasileiros e limitam o ganho de renda.

Esse cenário é danoso para a atividade rural, especialmente para a


produção familiar, mas não exclusivamente. Em resposta a esse cenário, muitos
produtores, e algumas vezes mercados consumidores ou atravessadores da
produção rural, têm estabelecido redes de produção e distribuição de alimentos.
Mas geralmente alimentos diferenciados daquelas commodities (tais como
hortifrutigranjeiros, orgânicos, etc.). Um exemplo disso são algumas redes
supermercadistas que estabelecem parceria com agricultores para fornecimento
ininterrupto de leguminosas para venda nos seus pontos de venda. Essas
estratégias ligam diretamente os produtores ao mercado consumidor nas
cidades e garantem a receptividade do seu produto.

Fonte: http://www.culturamix.com/wp-content/uploads/2013/08/Saiba-Mais3.jpg

46
Saiba Mais
Para aprofundar sobre a questão das redes leia a Circular
Técnica Distribuição de Hortaliças no Brasil (EMBRAPA,
1999).
Disponível no acesso:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/77341
4/1/CNPHDOCUMENTOS16DISTRIBUICAODEHORTALIC
ASNOBRASILFL07826.pdf

Outra forma dos agricultores, especialmente, mas não exclusivamente


familiares, enfrentarem as dificuldades dos mercados de produtos commodities
e seus efeitos remuneratórios ruins, é a instituição ou arranjo dos produtores em
cooperativas. Uma cooperativa de produtores é a união jurídica de produtores
rurais sob objetivos pré-determinados (seja na produção agroindustrial, custeio,
investimento ou comercialização de produtos rurais, dentre outros), em que cada
produtor torna-se sócio do negócio e pode auferir ganhos relativos às vantagens
da venda conjunta da produção e em momento em que os preços estejam
melhores, ou seja no armazenamento e comercialização das safras.

Além disso, as cooperativas podem atuar no sentido de viabilizar a


produção rural através de crédito aos seus cooperados (custeio e investimento),
mas também pode atuar no processamento dos produtos rurais, tal como plantas
industriais de transformação de produtos agropecuários (abatedouros, produção
de derivados lácteos, etc.).

Saiba Mais
Para saber mais sobre a importância das cooperativas no
âmbito do crédito à produção rural, leia o artigo Evolução do
crédito Rural no Brasil e o papel das cooperativas
agropecuárias no financiamento dos produtores rurais, de
autoria de Régio Marcio Toesca Gimenes, Fátima Pegorini
Gimenes e Isabel Cristina Gozer.
Disponível no acesso:
http://www.sober.org.br/palestra/9/855.pdf

47
As cooperativas de produtores rurais, no Brasil, é mais difundida na região
sul. Essas empresas são um bom exemplo de como os produtores podem
comercializar produtos industrializados, ao invés de produtos primários ou in
natura. O resultado é uma maior remuneração financeira do produtor rural
cooperado. Contudo, quanto maior a empresa, mais difícil é o respeito aos
objetivos primários dos produtores rurais, alternativamente isso pode resultar no
favorecimento de interesses de certos grupos de pessoas dentro das
cooperativas.

Nesse contexto é possível concluir sobre a importância do crédito rural, mas


também seus efeitos nocivos quando empregado junto ao processo de industrialização
das atividades rurais. Entretanto, uma vez esclarecidos os problemas inerentes ao
modelo de produção produtivista, conclui-se que alternativas a estes mercados existem,
tal como a instituição de produções rurais sustentáveis, tal qual os preceitos
agroecológicos. Ainda pode-se estabelecer estratégias que mitiguem a tendência à
remuneração insuficiente com a associação de produtores e conexões com o mercado
consumidor.

Resumo da Aula 3

Nesta aula apresentou-se a Implementação e desenvolvimento do crédito


rural e sua interligação com a modernização da agricultura, revelando suas
particularidades negativas da adoção do modelo produtivista. No que tange a
expansão, o modelo produtivista de produção rural não leva em consideração as
características regionais de clima, solo e ecossistema. A indústria de insumos
com preços elevados e indústria de processamento do produto rural com preços
menores apresenta uma consequência em termos de preços encarados pelos
produtores rurais após a modernização agrícola. Contudo, identificou-se também
que algumas alternativas podem existir, tal qual o modelo voltado a agroecologia
e estratégias de cooperativismo e composição de redes para a distribuição da
produção.

48
Atividade de Aprendizagem
Pesquise sobre as raízes do cooperativismo e descreva como
ele auxilia os produtores rurais no aumento da sua renda.
Identifique quais são as possibilidades do cooperativismo
atualmente, quais são as suas ações em prol dos produtores
rurais.

Aula 4 – Atividades não agrícolas no meio rural e projetos para a agricultura


familiar

Apresentação da aula 4

Nesta aula o foco será nas atividades não agrícolas no meio rural
(resultado de uma estratégia de sobrevivência da população rural). Pode-se
considerar que se trata de uma forma de recompor a renda das famílias rurais.
Além disso, outra forma de geração de renda é a implementação de projetos
para atividades ligadas à atividades estritamente agropecuárias ou parcialmente
rurais.

4. Atividades não agrícolas no meio rural e projetos para a agricultura


familiar

A atividades não agrícolas e projetos para a agricultura familiar consistem


em formas de reorientar ou constituir novas maneiras de auferir renda. Essas
possibilidades não são as mesmas em qualquer espaço, dadas as condições
particulares de cada região, por exemplo pelas características específicas de
clima, topografia, solo, etc.

4.1 As atividades não agrícolas no meio rural

O modelo produtivista moderno-industrial faz emergir uma nova divisão


do trabalho rural, em que se percebe uma diminuição do emprego da mão de
obra em atividades agrícolas e um crescimento das ocupações em atividades

49
rurais não agrícolas seja em tempo integral ou parcial. O trabalho agrícola em
tempo parcial, conhecido na literatura como part-time farmer, se torna visível
quando os indivíduos destinam apenas parte do seu tempo de trabalho à
agropecuária, disponibilizando sua força de trabalho para outras atividades,
dentro ou fora do estabelecimento agrícola.

Para Graziano da Silva (1999, p.05), " [...] o part-time não é mais um
fazendeiro especializado, mas um trabalhador autônomo que combina diversas
formas de ocupação (assalariadas ou não). Essa é a sua característica nova:
uma produtividade que combina atividades agrícolas e não agrícolas". Em outras
palavras, ele se torna um indivíduo pluriativo, é a pluriatividade no meio rural (a
composição de horas de trabalho em ocupações agrícolas e não agrícolas
expressa claramente o conceito de pluriatividade aplicado as famílias rurais.

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA
Leia a obra O novo rural brasileiro, de
autoria de José Graziano da Silva. A obra
traz um retrato da nova face do meio rural
brasileiro, analisando novas ocupações e
políticas de ocupação para a população
rural.

Segundo Passos Guimarães (1982, p.177-178), na maioria dos países


capitalistas desenvolvidos, grande parte da população rural necessita trabalhar
em outras atividades fora do estabelecimento rural pelo menos 100 dias por ano
para complementar sua renda, uma vez que a renda agrícola apresenta-se
insuficiente. O caso mais expressivo é o do Japão, onde cerca de 40% das horas
de trabalho totais são destinadas a outras atividades fora da agricultura, gerando
cerca de 70% da renda total (dados de 1974).

Portanto, a tendência é o crescimento das ocupações exclusivas em


atividades rurais não agrícolas, já que estas, muitas vezes proporcionam maior
remuneração, alterando significativamente a composição da renda total das
famílias residentes na zona rural. Ressalta-se que muitas dessas atividades não

50
estão necessariamente relacionadas com a unidade produtiva, mas, com novas
atividades que se manifestam no meio rural ou em cidades de menor porte nas
regiões interioranas.

Schmitz e Couto (2000), indicam para a ampliação do número de


empresas (não somente agroindústrias que se aproximam da matéria-prima,
mas outras empresas de diversos setores) em pequenas cidades consideradas
extremamente dependentes da economia agrícola. Isso vem acontecendo em
decorrência das deseconomias de aglomeração ocorridas nos grandes centros
urbanos, cuja estratégia de alguns empresários tem sido a busca por melhoria
da qualidade de vida, fuga da violência crescente nas grandes cidades, melhoria
no aproveitamento do tempo (devido à inexistência de engarrafamentos, faltas
de empregados decorrentes de greves nos serviços de transporte público,
enchentes provocadas pela falta de estrutura urbana nos grandes centros,
dentre outros) e diminuição dos gastos com salários e impostos (ganhos fiscais
na instalação das indústrias e salários locais mais baixos que nas grandes
cidades). Portanto, a premissa básica é a busca de novas externalidades nas
pequenas cidades, gerando ganhos de produtividade e uma redução dos custos
de produção.

O processo de urbanização do campo também é considerado uma fonte


de emprego e renda para a população rural, pois implica no fornecimento de
serviços (algumas vezes serviços públicos) e comércio de forma contínua e cada
vez mais ampla aos cidadãos, com demanda crescente de quantidades de mão
de obra, conforme assinalam Schmitz e Couto (2000), Couto e Couto Filho
(1998) e Mattei (1997). As ocupações nesse setor (de serviços e comércio) são
derivadas de verdadeiras políticas econômicas privadas ou institucionais, que
refletem na valorização do espaço rural e na configuração de novos nichos de
mercado tais como o turismo rural e de aventura que demandam uma certa
qualidade nos serviços públicos para atrair consumidores.

51
Saiba Mais
Para saber mais sobre pluriatividade e atividades não
agrícolas leia o artigo O Novo Rural Brasileiro, de autoria de
José Graziano da Silva.
Disponível no acesso:
http://www.geografia.fflch.usp.br/graduacao/apoio/Apoio/Ap
oio_Valeria/flg0563/1s2015/RURBANO7.pdf

O termo política, nesse caso, deve ser tratado não somente como aquelas
previamente organizadas mediante projetos públicos envolvendo grandes
montantes de recursos, mas também outras oriundas de pequenas inversões de
capital, efetuadas pelos próprios estabelecimentos agrícolas, cujo objetivo é
exercer outro tipo de atividade econômica diferente daquela explorada
anteriormente, para incrementar a atividade já existente.

Para Veiga (2002, p. 73), o campo também costuma ser destino de


aposentados do meio urbano que levam consigo renda e, consequentemente,
criam empregos. Entretanto, mesmo quando a renda das aposentadorias não
advém da transferência de aposentados para o meio rural e sim de
aposentadorias rurais, em economias locais frágeis (como é o caso do semiárido
nordestino), essas rendas dinamizam a economia, arrefecem a pobreza rural,
financiam a produção e em algumas circunstâncias ditam o ritmo das trocas
econômicas.

Além desses fatores não agrícolas, existem ainda novas demandas que
advêm de diferentes setores da economia, concretizadas pelas alterações nos
gostos dos consumidores ou até mesmo das estruturas dos mercados, capazes
de gerar o consumo de novos produtos e serviços, agrícolas ou não. Graziano
da Silva (1999, p. 90-100) exemplifica algumas dessas novas atividades:
piscicultura, ranicultura, criação de aves raras, animais raros para corte,
floricultura, produtos orgânicos e diferenciados, fruticultura não tradicional (frutas
diferenciadas), turismo rural, hotel-fazenda/fazenda-hotel, complexos de criação
de animais de grande porte, festas regionais, entre outras.

52
Importante
Assim como a modernização da agricultura foi difusa e
heterogênea nas diversas regiões do Brasil, a emergência das
atividades não agrícolas também responde a estes mesmos
mecanismos e é expressa principalmente pelo grau de
diversificação das economias e pelo nível de desenvolvimento
rural e urbano locais. Empiricamente estas atividades se
destacam nas regiões rurais mais desenvolvidas do país, ou
seja, onde existe proximidade relativa dos centros urbanos,
diversificação e desenvolvimento da indústria e dos serviços e,
consequentemente, um nível de renda mais elevado. Neste
sentido, a queda da ocupação na agricultura e sua influência na
nova dinâmica das ocupações rurais também são percebidas
no Nordeste brasileiro por exemplo, contudo em proporções
mais modestas que nos estados cujo desenvolvimento
econômico é significativamente maior.

Nas economias locais onde a atividade agrícola dá mostras de


modernidade mais acentuada, com intensivo uso da tecnologia, outras
atividades e fontes de renda são necessárias para empregar a mão de obra
liberada pela agropecuária e manter o patamar da renda familiar. Segundo
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia - SEI (1999), essas
regiões pertencem ao “novo mundo rural desenvolvido”. Isso não quer dizer que
não haja desocupação na agricultura (e a consequente busca por outras
atividades) em áreas mais atrasadas economicamente, ao contrário, ela existe,
mas nem sempre o fator determinante é a modernização e sim uma "estratégia
de sobrevivência" perante as crises pelas quais o setor convive.

Outras atividades executadas no meio rural mas que, de certa forma,


tangenciam as atividades estritamente rurais, são ocupações que não
necessariamente se dedicam a explorar o meio rural. Essas atividades podem
ser definidas como a multifuncionalidade do agricultor.

53
Vocabulario
Multifuncionalidade: são funções ambientais, ecológicas e
sociais das zonas rurais (e do residente no meio rural). Trata-
se da conservação do solo e dos recursos naturais
necessários à produção de alimentos saudáveis, logo é parte
da biodiversidade e da defesa do capital natural (mineral,
vegetal e animal) do qual o ser humano extrai benefícios para
seu bem-estar e preservação da vida.

Portanto, a multifuncionalidade é a remuneração ao agricultor para que


ele mantenha preservado o meio ambiente, tal como, as nascentes de água e
rios (através da não poluição e do cuidado com as matas ciliares e preservação
de vertentes). Outro exemplo é a preservação do material genético de sementes
rústicas as quais serviram de base para o desenvolvimento de novas formas de
produção.

Esse tipo de remuneração e atividade tem origem em alguns países da


Europa e que se preocupam com a sustentabilidade. Contudo, no Brasil esse
tipo de iniciativa é incipiente e comumente confundido com alguma espécie de
proteção aos produtores rurais familiares. Geralmente esses países degradaram
demasiadamente seus recursos naturais e após essa fase desejam reequilibrar
o meio ambiente através de determinadas políticas, especialmente públicas.

4.2 Projetos para a agricultura familiar

Os projetos para a agricultura familiar devem, de maneira geral, ser


baseados inicialmente em uma necessidade ou uma oportunidade (produtiva)
identificada pelo produtor familiar (a qual atenda uma necessidade). Por
exemplo, o agricultor pode, em determinada circunstância, sentir a necessidade
de comprar um trator para executar determinadas tarefas na sua propriedade
rural. Ainda, em outro exemplo, o agricultor isoladamente ou em grupo, com
outros agricultores, pode objetivar a implantação de uma agroindústria de
fabricação de conservas de certos produtos tais como pepino, beterraba e

54
cebola; ou a implantação de um hotel-fazenda. Em ambos casos, os produtores
devem se dirigir a um canal de crédito que financie essas atividades. O mesmo
procedimento é aplicado para o custeio (financiamento) de determinada safra.

Vale reforçar a ligação da indústria com a agricultura nesse processo, um


exemplo evidente dessa ligação é a produção de tratores e equipamentos
agrícolas (para a execução de tratos culturais na lavoura).

Existem fontes específicas de recursos para a agricultura familiar, tal


como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)
do governo federal, que pode ser obtido em bancos credenciados para operar,
tais como Banco do Nordeste, Banco do Brasil, etc. Mas eventualmente os
agricultores familiares podem conseguir crédito para projetos em cooperativas
ou outro banco comercial qualquer que disponha de linha de crédito para esta
atividade.

Qualquer projeto a ser apreciado pelo agente financeiro deve estabelecer


com clareza os beneficiários, tal como se é um projeto de um determinado
agricultor familiar individual ou coletivo, bem como o objetivo (custeio ou
investimento), ou seja, o projeto para uma agricultura familiar é geralmente
objetivado pelo custeio de uma safra (ou atividade rural) ou investimento
produtivo rural, no qual apresenta as exigências (em um projeto para a
agricultura familiar) da quantidade de recursos financeiros envolvidos (projeção
realista) e cronograma de desembolso.

Vocabulario
Cronograma de desembolso: é o instrumento pelo qual a
unidade orçamentária projeta no tempo o pagamento das
despesas autorizadas na lei orçamentária, relativas a cada
item do seu programa de trabalho.

No caso do custeio, o objetivo é o financiamento de determinada safra ou


atividade temporária ou perene. Já no investimento pode haver por exemplo o
desejo de aquisição de máquinas ou materiais para determinada finalidade (a
construção de um galpão, ordenha mecânica, etc.), bem como o investimento
55
em agroindustrialização, que é a forma pelo qual um ou vários produtores
desejam transformar determinado produto, adicionando valor agregado (por
exemplo, produzir geleia de goiabas a partir da produção de goiabas obtido na
unidade produtiva). Nesse caso, o objetivo é a compra de maquinário, sua
instalação e a construção física de uma sede para a agroindústria.

Inadimplência em outro financiamento e incapacidade de


pagamento, apresenta negativa para o proponente em relação a
aprovação de um projeto para a agricultura familiar.

Fonte: https://www.deere.de/common/media/images/parts/ag_parts_banner_2_522x302.jpg

Atualmente, tanto para custeio quanto para investimento existem manuais


orientadores para os produtores familiares. Esses manuais podem ser
encontrados nas páginas do PRONAF, bem como em agências das entidades
financiadoras.

56
Saiba Mais
Para saber mais a respeito do PRONAF e investimento em
agroindústria, acesse o livro de recomendações básicas e os
manuais abaixo:

- Livro Recomendações básicas de BPA e BPF (1ª Edição


2006)
Disponível no acesso:
http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/user_arqu
ivos_64/Livro_Recomenda%C3%A7%C3%B5es_b%C3%A
1sicas_de_BPA_e_BPF.pdf

- Manual de orientações para concepção de projetos


agroindustriais
Disponível no acesso:
http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/user_arqu
ivos_64/Manual_de_orienta%C3%A7%C3%B5es_para_con
cep%C3%A7%C3%A3o_de_projetos_agroindustriais.pdf

- Manual de orientações sobre formas associativas e redes


de agroindústrias da agricultura familiar
Disponível no acesso:
http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/user_arqu
ivos_64/6_-
_Manual_sobre_rede_de_agroind%C3%BAstrias.doc

No caso da agroindústria deve-se estabelecer os beneficiários: individual


ou em grupo (sociedade empresarial, cooperativa, associação, condomínio,
formação de redes, redes de comercialização).

Além disso, os planos de receitas e despesas devem estar expostos


claramente, com a implementação da atividade ou ação proposta. Isto porque
qualquer projeto a ser financiado deve demonstrar os aspectos financeiros de
que tal investimento gerará resultado financeiro positivo para o produtor familiar.
Essa projeção geralmente é feita com o auxílio de planilhas financeiras de
projetos e que “dissecam” a atividade proposta, além de exigir apoio técnico para
implementação das propostas.

Complementarmente, deve-se estabelecer cronogramas de desembolso


e de pagamentos aos recursos tomados, com prazos e a capacidade de

57
endividamento/pagamento do produtor rural, assim como seus bens e garantias
que podem ser utilizadas no projeto de investimento.

Um destaque deve ser feito quanto ao “cenário” proposto para o projeto,


que complementa o cronograma; os cenários devem sempre ser realistas. Os
agentes financeiros tendem a não aprovar propostas de investimento irreais, pois
se o cenário não é real, certamente o tomador de recursos financeiros terá
problemas em honrar seus compromissos, e portanto isto resultará em um
problema tanto para o agente financeiro, quanto para o tomador de
financiamento.

Pesquise
Pesquise quais os itens que compõem uma planilha de
projeto de investimento rural. Sugestão: o Banco do
Nordeste, disponibiliza planilhas de custeio e investimento à
atividade rural.
Disponível no acesso:
http://www.bnb.gov.br/aplicativos-para-elaboracao-de-
propostas

As propostas de investimento ou custeio devem considerar:

 Avaliação de crédito/débito do proponente (se o tomador está em


débito com qualquer entidade financeira);

 Avaliação dos bens do proponente;

 Proposta financeira dos itens e das atividades a serem financiados;

 Cronograma de desembolso dos recursos financiados;

 Mensuração de outras despesas recorrentes na implantação do


projeto (por exemplo: assistência técnica, pagamento de taxas,
etc.);

 Quadro de usos e fontes (tabela com os recursos financeiros e não


financeiros a serem utilizados, bem como as suas fontes);

58
 Capacidade de aporte financeiro inicial do proponente (quantidade
de recursos financeiros que o proponente dispõe para investir na
atividade);

 Capacidade de pagamento do proponente e do projeto.

Alguns projetos podem ser feitos em associações de produtores ou


cooperativas com vistas a aproveitar recursos disponíveis a fundo perdido do
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) ou outra entidade estadual ou
municipal. Nessa situação, as associações ou cooperativas devem estabelecer
contato com a Secretaria de Agricultura Familiar ou um interlocutor para elaborar
um projeto que a beneficie. Os valores a fundo perdido representam parcela do
valor a ser liberado e uma parte do valor recebido deve ser restituído na forma
de pagamentos de financiamento.

Saiba Mais
Saiba mais a respeito do a fundo perdido do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), analise o projeto de
Capacitação participativa de agricultores, familiares e
formação de agentes de desenvolvimento agroflorestal para
difusão de experiências com práticas agroflorestais no
bioma da mata atlântica.
Disponível no acesso:
http://www.rebraf.org.br/media/MDA_Relatorio%20Final.pdf

Outros projetos para a agricultura familiar podem não ser baseados em


investimentos ou em custeios tomados de agentes financeiros. Nesse caso são
projetos de longo prazo que devem nortear os objetivos de um produtor ou de
um grupo. Exemplos desses projetos são a alteração da base produtiva de uma
localidade ou propriedade rural, tal como a transição da produção baseada na
pecuária para a produção de leguminosas sob os preceitos da agroecologia. Este
tipo de projeto deve ser estabelecido pelo(s) interessado(s) mediante um
horizonte temporal (estabelecer o tempo de duração) ao qual deseja proceder

59
tal transição, identificar os custos incorridos, as tarefas a serem executadas no
tempo (cronograma) e as necessidades e fontes financeiras.

Nesse caso trata-se de elaborar uma planilha, a exemplo do que é


necessário para um investimento financeiro frente a um banco e seguir o
planejamento feito ao longo do tempo. Em termos gerais, esse tipo de projeto
pode demorar mais sem financiamento externo, contudo não se corre o risco
financeiro de tomar esses recursos.

Vale reforçar a importância das ocupações agrícolas e não agrícolas para


a manutenção das famílias no meio rural. Muitas vezes elas são fator
preponderante para a sobrevivência ou manutenção das famílias residentes no
espaço agrário. Para que tanto as atividades agrícolas quanto não agrícolas
possam ser implementadas, em certas circunstâncias tornam-se necessários
investimentos e nesse caso os projetos para a agricultura familiar são
importantes, pois podem alterar a realidade local e reforçar o papel importante
da agricultura familiar para a sociedade como um todo.

A queda nas rendas agrícolas e o desemprego tecnológico oriundos do


avanço do produtivismo, induzem grande parte dos produtores a buscar novas
formas de geração de renda, tanto em outras atividades agrícolas quanto através
de ocupações não agrícolas. Sendo assim, o agricultor tende a tornar-se
pluriativo, ou seja, dividir seu tempo entre atividades agrícolas e não agrícolas,
localizadas dentro ou fora do seu estabelecimento rural. A heterogeneidade com
que o modelo produtivista foi implantado e as disparidades regionais quanto ao
desenvolvimento regional, local e rural, produzem obstáculos ao crescimento
das ocupações não agrícolas e, consequentemente, da geração de rendas não
agrícolas. Por conseguinte, economias locais cujo desenvolvimento regional
(urbano e rural) gera um nível significante de renda líquida vis-à-vis a população
ocupada e diversificação da economia, tendem a produzir um ambiente
adequado ao crescimento das ocupações não agrícolas no meio rural; senão, a
evolução dessas ocupações torna-se pouco relevante e as rendas oriundas
dessas ocupações não representam muito na composição da renda familiar total.
É nesse cenário que os projetos para a agricultura familiar podem viabilizar
novas formas de geração de renda, seja por atividades agrícolas ou não
agrícolas.

60
Resumo da Aula 4

Nesta aula evidenciaram-se as atividades não agrícolas no meio rural,


considerando-se como forma de recompor a renda das famílias rurais e a
implementação de projetos para atividades ligadas à atividades estritamente
agropecuárias ou parcialmente rurais (são mais comuns encontrar famílias rurais
com atividades não agrícolas em regiões rurais cercadas por regiões urbanas
economicamente mais desenvolvidas). O emprego doméstico em casa de família
de residente em área urbana representa uma ocupação não agrícola para
residente no meio rural.

Atividade de Aprendizagem
Discorra sobre as principais atividades rurais não agrícolas
em regiões próximas de onde você reside e reflita sobre a sua
importância na composição da renda das famílias e sobre a
quantidade de horas implicada nestas atividades

61
Resumo da disciplina

Nesta disciplina o intuito foi apresentar as raízes históricas e a formação


da agricultura brasileira, objetivando o entendimento do cenário atual foi formado
e também compreender as motivações das dificuldades encontradas por aqueles
que sobrevivem da atividade rural.

Os complexos rurais caracterizavam-se pelo isolamento quanto aos


demais setores da economia, com a importação de insumos e exportação de
produtos e seus lucros dependiam do mercado externo e dos preços (se
estivessem favoráveis, os lucros seriam bons). A cafeicultura foi a atividade rural
que estabeleceu-se no fim dos complexos rurais, fomentando a industrialização
e os seus recursos financeiros. Portanto, foi possível identificar que a agricultura
brasileira passou de complexos rurais para complexos agroindustriais e que isto
teve implicações importantes para os agricultores que aderiram ao modo
produtivista de exploração do solo.

As dificuldades que os agropecuaristas enfrentam, especialmente aqueles


que utilizam a mão de obra familiar, são muitas. Mas, é possível identificar
alternativas a esse modelo, tal como a ocupação da mão de obra rural em
atividades não agrícolas ou mesmo a migração para a produção rural em bases
mais naturais, como a agroecologia. Isso pode ser feito com o auxílio de um
projeto, com ou sem financiamento via agentes financeiros. Portanto, restam
alternativas aos agricultores familiares e uma forma de conseguir observar estas
alternativas é a partir da elevação do nível de escolaridade e do senso crítico.

62
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