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DIVERSIDADE

ÉTNICO-CULTURAL
ORIENTAÇÕES DE ESTUDO
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado
e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica
e atuação profissional, veja a seguir algumas
recomendações básicas:

PROGRAMAÇÃO
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fixo para estudar

SAÚDE FÍSICA E MENTAL CONCENTRAÇÃO


Não se esqueça de descansar, Mantenha o foco! Evite se
alimentar-se e hidratar-se distrair com as redes sociais

ORGANIZAÇÃO COMUNICAÇÃO
Conserve seu material e local Mantenha contato com seus colegas
de estudos sempre organizados e tutores para trocar ideias!

ABSORÇÃO EMPENHO
Aproveite as indicações de Seja original!
Material Complementar Nunca plagie trabalhos

Participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar


a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores.
Diversidade Étnico-cultural
Responsável pelo Conteúdo
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni

Revisão Textual Revisão Técnica


Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Prof.ª Dr.ª Vivian Fiori

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Tratar da diversidade cultural e algumas teorias sobre o assunto;
• Explicar a visão etnocêntrica;
• Evidenciar as formas de contracultura.

SUMÁRIO
• Diversidade Cultural.............................................................................................................................................. 4
• Explicações para as Diferenças Étnico-Culturais..................................................................................................... 6
• Contracultura........................................................................................................................................................ 10
UNIDADE
Diversidade Étnico-cultural

Diversidade Cultural
Registros históricos e artefatos possibilitaram aos arqueólogos encontrar evidências de que
os diversos grupos humanos, em sua relação com a natureza e com o meio no qual viviam, cria-
ram e produziram modos de vida que os diferenciavam dos demais.
Em contraponto à dimensão biológica e racial, é importante ressaltar que a cultura diz res-
peito a uma construção humana, elaborada ao longo do tempo histórico da existência do ho-
mem, em suas diferentes condições do meio geográfico no qual vivia.
O processo de renovação cultural é, por instância, dialético, de forma que não se pode pen-
sar cultura dos povos – com seus hábitos, costumes, crenças, religiões, formas de alimentação
etc. – sem trazer a sua relação com a sociedade de cada época, com o meio geográfico e com as
condições dos diversos grupos humanos. Nesse processo há sempre permanências, tradições na
cultura, ao mesmo tempo em que também vai se renovando.
A Antropologia é a Ciência que vem estudando essa dimensão cultural desde o século XIX,
de forma mais pormenorizada, caracterizando-a da seguinte maneira:
• A cultura não pode ser confundida com caracteres genéticos e/ou biológicos, como algo
que já nascemos; mas sim como aprendizado que adquirimos de diferentes formas ao
longo de nossas vidas;
• A cultura é uma dimensão humana, já que algumas espécies também vivem em sociedade
– como formigas ou abelhas –, mas não produzem cultura como o ser humano;
• O homem e demais animais adaptam-se ao meio no qual vivem, mas o homem, conforme
sua cultura, adapta-se e transforma o meio, produzindo novas formas de vida – de mora-
dia, vestimenta, explicação do mundo, meios de produção – mediante técnicas;
• A cultura produzida pelos povos e sociedades de cada época cria certas padronizações,
tabus, normas – caso das normas da língua, da religião, entre outras. Tais normas e pre-
ceitos das religiões, por exemplo, definem o comportamento de um indivíduo de deter-
minada religião, diferindo-o de outro. De modo similar, as normas de linguagem – de
como falar e escrever – são também padronizadas. Há discursos hegemônicos, que ditam
os valores do que deve ser o certo e errado, moldando partes das características de uma
determinada cultura;
• Há interação da sociedade, economia, cultura, proporcionando transformação constante
e integrada, de forma dialética, ou seja, com a permanência de contradições.
As formas de alimentação são exemplos de como os comportamentos sociais evoluíram à
medida que a sociedade se tornava mais complexa. De homens e mulheres coletores, pescadores
e caçadores, que tinham grande grau de dependência da natureza e cujas técnicas eram rudi-
mentares e locais, o ser humano passou a domesticar animais e plantas, de forma sistemática e
em escala mais ampla, no que viria a ser chamado de agricultura e de pecuária.
Daí vem a palavra agricultura, que era, de fato, uma expressão da cultura dos povos que, ao
domesticarem plantas, em sua relação com a natureza, criaram as diversas culturas alimentares que
distinguem um povo dos outros, mesmo hoje em dia. Quando mencionamos, por exemplo, culiná-
ria italiana, indiana, japonesa, mineira etc., estamos tratando dessa dimensão da cultura alimentar.
Logo, a palavra cultura foi usada primeiramente com o termo agricultura – como prática do campo
–, tais como cultura do trigo, do milho e assim usada no sentido dessa prática primordial.
Posteriormente, passou a ser empregada como conceito que exprimia o modo de vida, em
um primeiro momento dos camponeses – do homem que produzia e praticava agricultura – e
depois em um sentido e conotação mais ampla, como a cultura dos homens e seus modos de
vida, hábitos e costumes.

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Diversidade Étnico-cultural

As diversas tradições da cultura alimentar foram hibridizadas, misturadas, mescladas, com


novas descobertas, que surgiam à medida que havia migrações dos povos. Igualmente pelo
processo de colonização e outros movimentos da população ao longo da história, houve maior
contato entre povos que tinham diferentes hábitos e produtos alimentares.
Foi o caso da batata e do tomate, por exemplo, que são oriundos do Continente americano e
foram levados à Europa mediante o processo de colonização. Sua cultura foi tão bem absorvida
pelos europeus, que é impossível hoje pensar na culinária italiana sem considerar o molho de
tomate, ou na portuguesa sem o bacalhau com batatas.
E hoje, com uma cultura mais globalizada, vemos alguns hábitos alimentares tornarem-se
hegemônicos, devido à estandardização – padronização – dos costumes, veiculados pela propa-
ganda, pela mídia em geral, pelas redes sociais e pela indústria de alimentos.
A Revolução Técnico-Científica, empreendida a partir da segunda metade do século XX,
com o avanço das ciências – Química, Biotecnologia –, das técnicas – sobretudo da Engenharia
Genética –, promoveu transformações nas formas de se alimentar e também de produzir sinte-
ticamente, de maneira artificial e/ou por meio de hibridizações e da criação de novos alimentos.
Portanto, não existe uma só cultura, mas uma diversidade de culturas pelo mundo, que vão
sempre mudando ao longo do tempo, considerando as mediações da família, da sociedade de
cada época, da natureza, da escola, entre outras interações, as quais acabam por alterar os mo-
dos de vida, as formas de existência e, assim, a própria cultura.
Logo, um indivíduo imerso em uma determinada cultura nunca tem total conhecimento da
qual, tanto porque esta muda, quanto porque certos traços lhe escapam. Mesmo fazendo parte
de um grupo com o qual nos identificamos, não somos todos iguais em todos os aspectos dessa
cultura, principalmente no mundo de hoje e aos que vivem nas grandes metrópoles, onde há
multiplicidade de informações que nos chegam, diversidade de eventos que nos trazem diferen-
tes maneiras de pensar, de viver.
Do mesmo modo que a cultura não passa sempre por uma transformação total, por isso é
dialética, há sempre um pouco do passado em tudo que fazemos, ao mesmo tempo em que tam-
bém vamos inovando. Vejamos um exemplo: as formas de nos expressar na língua portuguesa
não são as mesmas desde o século XIX, pois isto foi sendo modificado; mas, ao mesmo tempo,
não é uma linguagem inteiramente nova, por isso incorporamos novidades a nossa linguagem,
mas também outras normas da língua permanecem. Ou seja, há sempre permanências e tradi-
ções na cultura, ao mesmo tempo em que esta é constantemente recriada.
As bases materiais e técnicas vão também mudando e isso faz com que a cultura também se
altere. O nosso modo de vida urbano, por exemplo, trouxe aos homens e mulheres novas formas
de sobreviver, mas os que vivem na cidade perderam a cultura do campo, das formas de plantar, de
modo que se você pergunta para uma criança que vive em meio urbano de onde vem uma fruta, é
comum que responda: “Do supermercado”, que é a visão imediata da cultura que cada um possui.
Assim, afirmamos que a cultura tem relação com o tempo histórico, produzido pelos grupos,
povos e sociedade de cada época, como também tem relação com o espaço e meio geográfico,
porque é diferente e diversa nos distintos lugares do mundo.
Desse modo, as transformações pelas quais determinada cultura passa se processam sempre
em um movimento dialético – interno e externo –, a saber:
• Interno, endógeno, dentro da mesma cultura, vai se alterando ao longo da história;
• Externo, exógeno, devido ao contato com outras culturas, de forma amigável ou por meio
de guerras, saques, domínios etc.
Ambos os modos são condições integradas e ocorrem em um processo contínuo.

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Explicações para as Diferenças Étnico-Culturais


Ao tratar do tema das diferenças étnico-culturais, é fundamental conceituar etnia. Trata-se
de um termo que deriva de ethos, palavra grega, e pode ser definido como um grupo biológico
e culturalmente mais homogêneo, que tem o mesmo ethos, ou seja, costumes, religião, crenças,
língua, hábitos, entre outras características comuns. Dito de outra forma, partilhando certos
costumes, tradições, técnicas, comportamentos em comum.
Tal termo não é sinônimo de raça, já que raça é relacionada exclusivamente ao sentido bioló-
gico, da cor da pele, dos traços físicos – do cabelo, do nariz, das formas físicas etc. –, sendo um
componente do biótipo humano.
Ao longo da história humana, o homem, em sua relação com o meio geográfico, com a natu-
reza e com outros grupos humanos, foi elaborando formas de viver e de cultura.
Mediante o processo de colonização, neocolonização ou outros movimentos migratórios,
os diversos grupos humanos foram colocados em maior contato entre si, levando a questiona-
mentos em relação às diferenças raciais, do biótipo – características físicas, cor da pele, formato
do corpo, do cabelo etc. –, bem como aspectos étnico e socioculturais, tais como formas de
organização social, crenças, religiões, técnicas usadas, relações familiares, formas de moradia,
entre outros.
O surgimento de civilizações em algumas regiões do mundo – caso do Oriente Próximo
(Egito Antigo, Mesopotâmia, Fenícia etc.) e dos vales fluviais na China e Índia – ocasionou o
surgimento de maior separação entre diferentes tipos de trabalhadores – artesãos, agricultores,
escribas, construtores. Essa evolução favoreceu o surgimento das primeiras cidades, nas quais
ocorriam contatos entre diferentes grupos humanos, superando aquela condição na qual os
povos viviam somente em aldeias.
Mesmo entre os que permaneceram em aldeias, as guerras e os saques promoviam o conta-
to entre diferentes grupos humanos, o que levava sempre aos questionamentos em relação às
diferenças étnico-culturais, bem como das origens dos seres humanos. Surgiam, assim, mitos
e religiões. Em geral, os povos da Antiguidade buscavam nos mitos, nas crenças animistas, ou
nas ideias filosóficas as explicações para as diferenças raciais, étnico-culturais entre os homens.

Você Sabia?
Que se entende por crenças animistas aquelas que acreditam na força espiritual de
objetos, tais como pedras, plantas, animais etc., atribuindo-lhes poder espiritual, ou
como amuletos?

Era comum os povos considerarem que estavam no centro do mundo, e a própria cartografia
e seus mapas refletiam tal concepção, no que se define como visão etnocêntrica.
Na China Antiga, por exemplo, os mapas eram produzidos colocando as dinastias chinesas
no centro do mundo e os demais povos mais distantes eram definidos como selvagens. Já os es-
quimós, da mesma forma, colocavam-se no centro do mundo e se não conheciam outros povos,
era porque estes não eram importantes, diziam.
O etnocentrismo não se resume à produção de desenhos e mapas a partir da visão de um
povo, mas tem relação com a forma de pensar, na qual as pessoas ou grupos humanos interpre-
tam e leem o mundo a partir da própria ótica, da cultura, do modo de pensar e de vida – como
se a própria cultura fosse o centro do mundo, a forma correta de agir, o modo de vida adequado.
Conforme afirma o pesquisador Everardo Rocha (1988, p. 18), no livro O que é etnocen-
trismo, sobre o conceito do termo: “Etnocentrismo é uma visão de um mundo onde o nosso

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próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através
dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência”.
Desse modo, a visão etnocêntrica acaba por levar a extremos de xenofobia – aversão a es-
trangeiros –, intolerância social e étnico-cultural e especificamente religiosa, por aqueles que
reconhecem apenas sua cultura como legítima.
O etnocentrismo pode levar à exacerbação de movimentos sociopolíticos que acabam se tornan-
do intolerantes, perseguindo outras etnias, religiões e/ou manifestações culturais, discriminando
outros povos, podendo, inclusive, constituir-se em partidos políticos ou entidades que buscam
valorar sua etnia e cultura em julgar a cultura do “outro”, em um movimento de negação das de-
mais culturas.
Termos como cultura “atrasada”, “inferior”, foram usados ao longo da história para justificar
repressões, ataques, guerras ou, de forma subliminar, discriminações que aparentemente não
são violentas, mas que escondem preconceitos com outros povos que não têm a mesma cultu-
ra do opressor. Pauta-se em um juízo de valor do que é certo e o que é errado, depreciando e
mediado por impressões sobre a cultura alheia. Quando alguns europeus vieram colonizar a
América, por exemplo, houve várias situações nas quais a visão etnocêntrica do grupo coloni-
zador predominou, de modo que quando os europeus colonizaram o Novo Mundo – Conti-
nente americano –, fizeram-no com a mesma concepção etnocêntrica, a qual ficou conhecida
como eurocentrismo.
Os mapas elaborados a partir daí, já conhecidos como mapas mundi, devido ao maior co-
nhecimento do planeta Terra e do mundo, às grandes navegações, permitiu que se produzissem
mapas em escala global. Todavia, a forma de projetar o Planeta foi o mapa que até hoje conhece-
mos, com a Europa ao centro, dando uma visão de maior importância ao Continente europeu.
Como se vê no mapa de Mercator, um belga que elaborou o mapa mundi em 1578 e que reflete
tal visão eurocêntrica:

Figura 1 – Mapa mundi de Mercator (1578)


Fonte: Reprodução

#ParaTodosVerem. Mapa Mundi de Mercator de 1578. Gravura colorida que representa


duas partes do globo terrestre com seus continentes como eram compreendidos na
época que foi desenhado. O continente americano ainda muito tímido ao lado esquer-
do e, ao lado direito, a África, Europa e Oceania. Fim da descrição.

Os viajantes e relatos administrativos davam o tom dos discursos sobre o que era o Novo
Mundo – América –, em geral, com preconceito em relação aos povos nativos ou oriundos de
outras partes que não fosse a Europa. Todos eram vistos como selvagens, como povos atrasa-
dos, como se tivessem culturas que fossem superiores às demais. Daí expressões equivocadas

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que eram – e ainda por muito tempo foram comuns –, tais como do indígena indolente e
preguiçoso, do negro arredio, do turco avarento, entre tantas expressões preconceituosas.
Com o advento da Ciência Moderna, que se produziu principalmente na Europa e se difun-
diu pelo mundo mediante os processos de colonização, neocolonialismo e expansão capitalista,
o discurso em torno das diferenças étnico-culturais tomou caráter de Ciência, muitas vezes
imbuído de significativa discriminação.
A teoria do darwinismo social, comum no final do século XIX e meados do século XX,
deu à natureza e ao meio um papel de destaque na existência dos grupos humanos. O principal
representante dessa teoria foi Hebert Spencer (1820-1903).
Tal concepção afirmava, em analogia a uma visão da teoria da evolução de Darwin, que
haveria uma seleção natural entre as espécies e que isto tinha correspondência à sociedade. Par-
tindo desse princípio, alguns grupos humanos eram mais fortes do que outros, pois todos pas-
sariam por uma seleção natural, considerando, assim, que a sociedade também tinha evoluído
dessa forma. Como comenta um pesquisador sobre o termo darwinismo social e depois o que
se chamou de pós-darwinistas, temos que:
A obra de Darwin, A origem das espécies por meio da seleção natural, ou a
conservação das raças favorecidas na luta pela vida, publicada em inglês em
novembro de 1859, parecia fornecer caução científica aos partidários da supre-
macia da raça branca, tema que, depois do século XVII, jamais deixou de estar
presente, sob diversas formas, na tradição literária europeia. Os pós-darwi-
nianos ficaram, portanto, encantados: iam justificar a conquista do que eles
chamavam de “raças sujeitas”, ou “raças não evoluídas”, pela “raça superior”,
invocando o processo inelutável da “seleção natural”, em que o forte domina o
fraco na luta pela existência. (UZOIGWE, 2010)

Tais teorias do darwinismo social e determinismo acabaram justificando os processos de neo-


colonialismo ou imperialismo dos europeus e norte-americanos, dominando outros países e povos.

Darwinismo social: baseada nas teorias de Charles Darwin – naturalista britânico, quem
dizia que as espécies passavam por um processo de seleção natural, no qual os mais fortes so-
breviviam –, esta concepção naturalista de Darwin foi utilizada como padrão de interpretação
da sociedade, por cientistas como Hebert Spencer, originando o darwinismo social. A partir
desta teoria, a explicação era de que a sociedade evoluiria em etapas, igualmente às diversas
espécies, tendo sociedades e grupos sociais que estariam mais aptos a vencer os obstáculos
do meio e a evoluírem, enquanto outros seriam mais fracos. Desse modo, a sociedade tinha
um cunho biológico, natural.

Outra teoria próxima ao darwinismo social e da mesma época foi a determinista, a qual defi-
nia que o meio, ou seja, a natureza, era fundamental nas características raciais e étnico-culturais
dos diversos grupos. O homem, assim, era produto do meio em que vivia.
Alguns chegavam a afirmar que o caráter dos grupos humanos seria definido pelas condi-
ções do meio. A concepção de que a tropicalidade fazia com que as pessoas fossem mais indo-
lentes, tornando os povos desses lugares mais atrasados, sendo a pobreza uma condição que se
explicava pelas condições do meio.
Tais discursos, imbuídos do aparato científico, ajudaram europeus e norte-americanos a ex-
pandirem seus limites políticos e geopolíticos na América do Norte e Central, bem como nos
continentes africano e asiático, principalmente.

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Você Sabia?
Que, no começo do século XX, os Estados Unidos ocuparam alguns países da América
Central, caso da Nicarágua, Cuba, entre outros, e os chamaram de protetorados norte-
-americanos, dizendo que buscavam protegê-los dos europeus?
Nos livros produzidos na época, muitos estudiosos diziam que os povos da América
Central eram atrasados, preguiçosos e, por isso, a missão civilizatória norte-ameri-
cana era fundamental para trazer os povos desses lugares a uma melhor condição.

É claro que o meio, a natureza e fatores físico-naturais são condicionantes que podem ser consi-
derados na produção de alimentos, hábitos de alimentação e/ou de vestimentas, nas formas de vida,
mas não são determinantes. Ou seja, as pessoas não são o que são, nem escolhem suas formas de
vida apenas mediadas pelo clima, condições da natureza e do meio. No entanto, a existência do ser
humano não é apenas biológica, natural, genética, mas também ocorre por meio do aprendizado
que recebe ao longo de sua vida, na família, nas instituições sociais e religiosas, na escola, na rela-
ção com o meio geográfico – não somente com a natureza. É por meio dessas relações que vamos
adquirindo conhecimentos que nos dão identidade cultural – seja pela religião, crenças, formas
de se alimentar, de se vestir, pelos códigos de moral, formas de agir, dos gestos, das expressões.
Enfim, a dificuldade de algumas pessoas ou povos em aceitar o “outro”, em aceitar a diferença
cultural e racial levou a verdadeiros genocídios ao longo da história humana.

Genocídio: é uma forma de extermínio parcial ou total de um povo, de sua cultura, conside-
rando-se os componentes étnico-culturais, tais como a religião, as crenças, os costumes, entre
outros. Como define o dicionário:
A palavra genocídio é derivada do grego genos, que significa “raça”, “tribo” ou “nação” e do
termo de raiz latina -cida, que significa “matar”. O termo foi criado por Raphael Lemkin, um
judeu polaco, jurista e que foi conselheiro no Departamento de Guerra dos Estados Unidos du-
rante a Segunda Guerra Mundial. A tentativa de extermínio total do povo judeu pelos nazistas
– Holocausto – foi um motivo forte que levou Lemkin a lutar por leis que punissem a prática
de genocídio. A palavra passou a ser usada após 1944.

O racismo e o preconceito étnico-cultural dominaram o cenário durante o período entre


guerras mundiais, com fenômenos conhecidos como Holocausto, no qual milhões de judeus
foram mortos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), bem como com a Lei do Apar-
theid, na África do Sul, institucionalizada pelos bôeres ou africâneres – descendentes de holan-
deses – em 1948, que viveram na África do Sul, contra os negros e outros grupos que não eram
brancos e descendentes de europeus.

Apartheid foi institucionalizado na África do Sul como uma Lei étnica-racial, que segrega-
va negros, mestiços e asiáticos que moravam no País a viverem separados nas cidades, em
áreas conhecidas como townships. Além destas áreas nas cidades, os povos negros nativos
de diversas etnias deveriam viver em bantustões, territórios que foram declarados livres e
independentes pelo governo sul-africano para tornar a África do Sul somente branca. Nesse
regime, o negro não tinha direito a voto, nem poderia andar livremente pelas áreas declaradas
brancas, exceto se tivesse um passe para isso. Tal regime racial e étnico durou de 1948 até
1994, quando Nelson Mandela tornou-se presidente eleito.

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Rompendo com as teorias deterministas, evolucionistas e darwinistas sociais, Malinowski


(1994-1942) deu ênfase ao relativismo e à pluralidade da cultura, mostrando que por meio da
educação e da cultura os povos aprendem com os demais, seja na educação formal ou informal,
com seus pares – na transmissão de sua cultura.
Para isso, cada povo foi criando diferentes maneiras de elaborar sua cultura e de transmiti-la,
assim como com o mundo cada vez mais global, muitas dessas formas de elaborar uma cultura,
hábitos, normas e padrões culturais foram também se tornando mais universais, ou seja, conhe-
cidos por diversas culturas.
Devido aos acontecimentos ocorridos no período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
foi criado, em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU), que elaborou o documento co-
nhecido como Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assim diz o documento, em seus
artigos 1º e 2º:
Art. 1º. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em di-
reitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros
em espírito de fraternidade.

Art. 2º. Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades


proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente
de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra,
de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra
situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto
político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da
pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou su-
jeito a alguma limitação de soberania.
Fonte: https://bit.ly/3rY3iVp

A partir de normas e declarações como estas, podemos dizer que algumas referências para a
questão social, política, racial e étnico-cultural tornaram-se universais. Não significa que todos
os países e povos compartilhem dos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos
e o pratiquem plenamente, mas trata-se de uma ótica mais global sobre tais questões.
Apesar de haver culturas que, ao longo da história, sobrepuseram-se a outras, há também
contra racionalidades, como é o caso da contracultura.

Contracultura
Alguns movimentos socioculturais são de oposição ao modo dominante de vida, ao modo
hegemônico, que se contrapõem à cultura vigente em uma época, em um lugar ou de forma
mais universal.
As décadas de 1960 e 1970 corresponderam a um momento de muita ebulição social e cul-
tural. Fatos como a Guerra do Vietnã, na qual os Estados Unidos foram lutar, levaram ao surgi-
mento de movimentos pacifistas contra as armas nucleares e as guerras em si, assim como mo-
vimentos sociopolíticos de mulheres, estudantes e negros. Destes surgiram novas identidades
socioculturais, na música, nas artes, no teatro, nas formas de se vestir, de se alimentar, de viver.
Pode-se dizer que tais movimentos foram de contracultura, pois buscaram ir contra o mun-
do das guerras, da cultura imposta pela raça branca e do consumismo capitalista, enfim, da
cultura dominante.
Esse ideário da contracultura levou milhares de estudantes à luta por uma melhor educação
e por outros motivos de melhor vida, fosse no Brasil, nos Estados Unidos, na França e em outros
países. Assim como a formas de música e de um jeito de viver que se contrapunham ao modo de
vida cheio de normas e regras advindas de uma sociedade hierárquica patriarcal, buscaram uma
vida alternativa, como dizia a música de Raul Seixas: “Viva a sociedade alternativa”.

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Figura 2 – Casal hippie


Fonte: Getty Images

#ParaTodosVerem. Casal hippie. Imagem colorida de um casal na beira de uma estra-


da. O homem está de pé, ele tem longos cabelos pretos, possui uma bandana na cabe-
ça e um colar no pescoço, veste camisa branca de mangas longas, calças jeans e tênis.
A mulher está sentada numa mala de viagem, ao lado do homem, ela tem longos ca-
belos loiros e encaracolados, veste um vestido florido e sandálias. Fim da descrição.

Os hippies, o rock, os eventos de música nesse período ajudaram a exemplificar o que seria a
contracultura: uma contraposição à cultura dominante, com um olhar crítico, questionador do
modo de vida vigente, buscando interpretar o mundo sob outros vieses, outras formas de pen-
sar. Nas artes visuais, por exemplo, com a Pop Art, o psicodelismo, com o surrealismo e formas
gráficas que mexeram com o inconsciente e que foram contra a arte do consumismo.
Na visão homem-natureza, ou ambiental, buscou-se um modo de vida menos estressante,
mais próximo à natureza, com menos agrotóxicos, menos poluentes visuais, sonoros e do ar.
Contrapôs-se à sociedade de consumo, do capitalismo exacerbado, das tecnologias, tal qual
afirma um pesquisador sobre este assunto:
A contracultura pregou o seu “retorno à natureza”. Diante da alienação tra-
balhista e do pragmatismo cientificista, ergueu os valores da contemplação e
da harmonia. Era como se os jovens do mundo ocidental, especialmente os
hippies, estivessem redescobrindo o milagre diário da natureza. Celebrava-se,
na verdade, o mito da pureza do ser humano em contato com o mundo natural.
Um ambientalismo místico, em suma, integrando a novíssima fantasia utópica
da juventude mundial. (RISÉRIO, 2005, p. 27)

Desse modo, diversos movimentos de contracultura buscaram uma vida alternativa, sobre-
tudo nas sociedades do mundo ocidental – Europa e América do Norte –, trazendo à tona a
contestação – caso dos hippies, dos beatniks e dos punks, cujas formas de ser e estar eram con-
trapontos ao mundo ocidental capitalista.
Finalizando esta Unidade, é importante observar que existem diferentes culturas pelo mun-
do e, ao longo da história, muitas tornaram-se etnocêntricas; bem como, além da cultura domi-
nante, hegemônica, existiram – e existem – movimentos de contracultura.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidadania
BIANCHETTI, L.; FREIRE, I. M. (Org.). Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidada-
nia. Campinas, SP: Papirus, 1998.

Antropologia Social e Cultural


CHICARINO, T. Antropologia Social e Cultural. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2014.

Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações sobre as mudanças na alimentação urbana


GARCIA, R. W. D. Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações sobre as mu-
danças na alimentação urbana. Rev. Nutrição, Campinas, SP, v. 16, n. 4, p. 483-492, out./dez. 2003.

Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e identidade


PAULA, C. R. Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e identidade. Curitiba, PR:
Intersaberes, 2013.

O que é contracultura?
PEREIRA, C. A. M. O que é contracultura? São Paulo: Nova Cultural; Brasiliense, 1986.

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Referências
BOAS, F. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
KUPER, A. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru, SP: Edusc, 2002.
MELLO, L. G. Antropologia Cultural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
PALTRINIERI, A. C. Imigração, raça e cultura: o ensinamento de Franz Boas. Outros
Tempos, São Luís, MA, v. 6, n. 7, jul. 2009. Disponível em: <http://www.outrostempos.uema.
br/vol.6.7.pdf/Anna%20Casella%20Paltrinieri.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2017.
RISÉRIO, A. Duas ou três coisas sobre a contracultura no Brasil. In: Anos 70: trajetórias. São
Paulo: Itaú Cultural, 2005.
ROCHA, E. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Col. Primeiros passos).
ROSZAK, T. A contracultura: reflexões sobre a sociedade tecnocrática e a oposição juvenil.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1972.
UZOIGWE, G. N. Partilha europeia e conquista da África: apanhado geral. 2010. Disponível
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GENOCÍDIO. Significados. <https://www.significados.com.br/genocidio>. Acesso em: 16/01/2017.

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