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Sugiro um retorno ao início dos anos 80, um retorno às práticas escolares no que se
refere à organização do ensino. Talvez, muitas dessas práticas ainda permaneçam na escola
desse século XXI... Entretanto, vale um retorno ao tempo de vinte anos atrás para
entendermos alguns nós que ainda amarram o nosso fazer de hoje.
Naquele tempo, aos professores eram exigidos planos3 de curso, das unidades e das
aulas que desencadeavam-se a partir de algumas informações iniciais decorrentes de um
trabalho específico de início de ano chamado "sondagem". A entrega desses documentos
era feita junto à supervisão pedagógica da escola.
Obviamente, muito da elaboração ficava a cargo de puro pensamento hipotético,
pois era preciso imaginar tanto as situações como as respostas dos alunos, as condições
climáticas favoráveis para o desenvolvimento de certas atividades, a distribuição de tempo
das atividades no semestre; por conseguinte, o planejamento banalizava-se em um ato
meramente burocrático. O setor pedagógico terminava recebendo e arquivando planos que,
na maioria das vezes, eram modificados. Havia uma mecanização instalada e aceita.
Planejamento era uma chatice, servindo apenas à burocracia.
2 Esse texto é uma adaptação reduzida do artigo publicado no livro PLANEJAMENTO EM DESTAQUE:
análises menos convencionais. Maria Luisa M. Xavier e Maria Isabel H. Dalla Zen (orgs.) Porto Alegre,
Mediação, 2000. p. 59-73.
3 O plano de curso, considerando a organização escolar da época, era elaborado ao início de cada ano letivo,
em reuniões específicas, havendo um plano para cada nível da pré-escola, um por série no currículo por
atividades, um por área no currículo por área (5ª a 8ª série do 1º grau) e um por disciplina, no currículo por
disciplina (2º grau). Os planos das unidades eram exigidos para a pré-escola e currículo por atividades. As
unidades deveriam atender ao princípio de globalização, cada uma deveria durar cerca de duas semanas.
Ocorria que, geralmente as séries definiam entre si as mesmas temáticas e até era possível repeti-las de um
ano para outro.
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Hoje, sabe-se o quanto havia de político e ideológico nessa conduta. Pois, enquanto
era dispensado tempo em sala de aula para pensar exclusivamente o "como", deixando os
planos exemplares em suas formas, pouco ou nada era questionado sobre a "quem servia-se
e para que e para quem" pensava-se tais ações.
Eis o poder de um planejamento. É ele uma proposta didático-pedagógica que
fundamenta-se em pressupostos teóricos e em princípios orientadores. Ou seja, há intenções
no fazer pedagógico. Tenho conceituado pressupostos como a expressão da fundamentação
teórica; são os alicerces, as referências para a prática; representam as metas e, até, os ideais.
Por sua vez, entendo princípios como necessários para garantirem a aproximação da prática
aos ideais e vice-versa. É uma forma de promover a reflexão sobre a ação (está havendo
uma aproximação ou não aos ideais?).
Dar-se conta da importância desse embasamento é o primeiro passo para que o
professor assuma de fato seu papel de planejador - um papel ativo no processo. Se
entendida a importância do planejamento, torna-se indispensável uma defesa a sua prática,
porém é preciso apoio e estudo para encaminhar um processo de planejamento mais
coletivo. Como integrar todos os envolvidos - a comunidade escolar - no processo de um
planejamento conjunto? Uma pista pode estar no livro "Planejamento como prática
educativa" (1985) de Danilo Gandin. Nele o autor sugere, passo a passo, em linguagem
clara e acessível, um trabalho com referências e para tanto sugere três questões básicas “O
que queremos alcançar?”, “A que distância estamos daquilo que queremos alcançar?”, “O
que faremos concretamente (em tal prazo) para diminuir esta distância?”. E desfaz um dos
nós que vem atando o fazer pedagógico ao afirmar:
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em outras palavras, "planejamento é processo constante, através do qual a preparação, a
realização e o acompanhamento se fundem, são indissociáveis". Enquanto revisa-se uma
ação realizada está se preparando uma nova ação num processo contínuo e ininterrupto.
Ao revisitar brevemente um tempo não tão distante, espero ter argumentado a favor
do uso de um "planejamento de e com intenções" e, consequentemente, da relevância do
"conhecimento das razões, do por que e para que no sentido de qualificarmos cada vez
mais o como".
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manifestem-se, discutindo, posicionando-se, argumentando. Um exercício também
importante é pensar de que forma pode-se aliar o para que ao como. Uma alternativa seria
optar por um planejamento de currículo integrado. Para tanto, torna-se relevante eleger
princípios de ação.
Santomé (1998:187) nos auxilia na argumentação a favor de um currículo que
priorize a integração:
Depreendo no citado autor posições muito afins com as idéias de Paulo Freire,
educador incansável na defesa de uma pedagogia da pergunta, da curiosidade, inversa da
fragmentação, da imposição, do depósito de conhecimentos. Em suas obras encontra-se
explicitamente sua posição a favor da pedagogia da autonomia; eis um trecho de um de
seus últimos livros que confirma seus princípios:
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Quando saio de casa não tenho dúvida nenhuma de que, inacabados e
conscientes do inacabamento, abertos à procura, curiosos, ‘programados, mas para
aprender’, exercitaremos tanto mais e melhor a nossa capacidade de aprender e de
ensinar quanto mais sujeitos e não puros objetos do processo nos façamos. (Freire,
1997:65)
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estratégia visível, o motor para aprendizagem está movido por um determinado tema,
tópico ou centro de interesse, que serve de eixo integrador.
A seguir, são apresentadas algumas formas de integração, afins com a idéia de "eixo
integrador". Antes, porém, duas recomendações importantes devem ser feitas:
há um risco desta sistematização ser usada para “enquadramentos”; deve-se evitar tal
tentativa, pois em uma proposta de integração pode-se cogitar a conciliação de mais de
uma destas formas;
ao observar-se a época da origem da proposta, é importante remetê-la a um panorama
histórico-econômico-político-social-cultural, assim as críticas devem considerar este
contexto.
Centros de interesse para Decroly são idéias-eixo ao redor das quais convergem as
"necessidades" fisiológicas, psicológicas e sociais da criança. Decroly (apud Feil & Lutz,
1985), no começo deste século, agrupa as necessidades em quatro blocos: alimentação;
lutas contra a intempérie; defesa contra os perigos e inimigos diversos; ação e trabalho
solidário somados ao lazer. As atividades escolares, em todas as matérias, devem
concentrar-se nos centros. Esses são os seguintes: a criança e a família; a criança e a
escola; a criança e o mundo animal; a criança e o mundo vegetal; a criança e o mundo
geográfico; a criança e o universo. Sugere três etapas de aprendizagem: observação direta
das coisas, associação das coisas observadas e expressão do pensamento da criança através
da linguagem oral e escrita, do desenho, da modelagem e de outros trabalhos manuais.
O método globalizado de centros de interesse é orientado por cinco princípios
fundamentais: liberdade, individualidade, atividade, intuição e globalização. No meu
entender, este último, "globalização", destaca-se por sintetizar as idéias do teórico acerca
do método e ainda, por revelar suas concepções de conhecimento e aprendizagem.
Segundo o autor deve- se atentar para este princípio uma vez que:
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a criança, com sua visão sincrética do mundo, não tem condições de perceber
partes separadamente para depois reconstruir o todo; o ensino fragmentado em
disciplinas não permite o desenvolvimento da inteligência, pois reduz a
aprendizagem a uma transmissão isolada, levando inclusive, a criança a se
desinteressar pela escola. (Decroly apud Feil & Lutz, 1985:19)
Afirma ainda que o programa deve tender à unidade, no sentido de que todas as suas
partes devem relacionar-se entre si, formando um todo indivisível. Desta forma, propõe o
estudo das diferentes realidades, através de um eixo, um centro de interesse que unifique e
dê sentido a essa globalidade.
Se Kilpatrick foi o “pai da idéia”, entende-se que outros autores souberam dar uma
abordagem mais social à proposta de projetos. Celestine Freinet não propõe explicitamente
4 Nas consultas bibliográficas realizadas não foi encontrada a data de falecimento de W. Kilpatrick
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tal método, mas defende veementemente a “noção de trabalho como função vital de todo e
qualquer ser vivo. É o trabalho necessidade natural. É a escola do trabalho que se
transforma em escola da vida e uma será naturalmente a outra” (Nascimento, 1995:63).
Posteriormente, Jolibert e seus colaboradores (1994), entre tantos outros/as
autores/as, influenciados pelas idéias de Freinet, formulam também proposta de trabalho
com projetos. Exemplificam para demonstrar como é possível promover a aprendizagem da
leitura e da escrita através de situações reais. Propõem uma organização do trabalho a partir
de princípios como a vida cooperativa, a apropriação dos alunos de sua vida escolar e a
organização do ensino através de projetos.
Os temas geradores foram pensados por Paulo Freire (1980:32) para serem usados
no método de alfabetização, pois, segundo o autor, "procurar o tema gerador é procurar o
pensamento do homem sobre a realidade e a sua ação sobre esta realidade que está em sua
práxis".
Isto acontece quando, mesmo na etapa de alfabetização, há um interesse em
provocar debates mais profundos sobre as questões que as palavras geradoras apenas
sugerem. Os temas podem ser colecionados sob todas as formas possíveis de material:
entrevistas escritas e gravadas, dados sobre o lugar, sobre a comunidade, fotos,
documentos. Assim como na pesquisa do universo vocabular, cada palavra geradora
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aparece dentro das frases, de falas das pessoas, cada palavra aponta para questões, para
temas: temas geradores. Antes de trabalhar com a palavra para fazer o trabalho coletivo de
alfabetizar e alfabetizar-se, o grupo de educandos trabalha a questão que a palavra geradora
sugere, é desafiado a pensar sobre o assunto ou tema.
A autora sugere ainda a seleção dos temas geradores considerando "temas cíclicos",
aqueles originários de festas, eventos ou comemorações periodicamente celebradas e,
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"temas contextualizados", detectados pelos professores como relevantes ou sugeridos pelas
crianças e pais.
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A título de exemplificação e ilustração, pode-se observar como vem sendo
concretizada esta maneira de articulação acompanhando a reorientação curricular das
escolas sob responsabilidade das secretarias municipais vinculadas aos governos de
Administrações Populares no país. Em especial, a capital gaúcha, em suas três5 gestões da
Administração Popular, através da sua Secretaria de Educação, insistiu na orientação de
uma organização curricular nas escolas que tenha como ponto de partida o questionamento
e análise da realidade local.
5 A administração popular está em sua quarta gestão - 2001 a 2004. Neste ano de 2001, a Secretaria de
Educação de Porto Alegre está realizando uma série de reuniões de trabalho com as equipes diretivas das
escolas e com o corpo docente para flexibilizar as orientações referentes ao planejamento institucional.
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na fragmentação. Como afirma Ramos (1998:10) isto conduz “a uma trivialização do
conteúdo dos temas transversais ou assegura um efeito meramente estético”.
Sendo assim, não deve-se entender os estudos culturais como uma forma de
articulação mas, sim, como análises sociológicas relevantes para a compreensão das tramas
nas relações sociais. Como orienta McLaren (1997:211):
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Como educadoras/es precisamos nos tornar teóricas/os de um pós-
modernismo de resistência que possa ajudar as alunas e os alunos a fazerem as
conexões necessárias entre seus desejos, suas frustrações e com as formas sociais e
culturais que os informam. Norman Denzin observa que os teóricos do pós-
modernismo são inevitavelmente narradores de histórias que nos possibilitam a
compreensão da vida social como uma trama cultural.
Por fim, sugere-se que os planos de aula sejam instrumentos de trabalho, garantindo
vínculos com a proposta/projeto da instituição.
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O diário de classe do/a professor/a também desempenha um papel importante para o
planejamento, pois este se faz e se refaz, dinamicamente, na prática. Como defende
Madalena Freire (1983:77) “o diário torna-se importante instrumento de reflexão
(constante) da prática do professor. Através dessa reflexão diária ele avalia e planeja sua
prática. É também importante ‘documento’, onde o vivido é registrado, com a colaboração
dos alunos. Neste sentido, educador e educando, juntos, repensam sua prática”.
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