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História da Arquitetura

e Urbanismo
Material Teórico
Arquitetura Clássica – Civilizações Grega e Romana

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Silvio Pinto Ferreira Junior

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti
Arquitetura Clássica – Civilizações
Grega e Romana

• Introdução;
• Arquitetura Clássica;
• Grécia Antiga;
• Arquitetura Grega;
• Roma Antiga;
• Arquitetura Romana;
• Considerações Finais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer o surgimento e o desenvolvimento da arquitetura nas ci-
vilizações Grega e Romana.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Arquitetura Clássica – Civilizações Grega e Romana

Introdução
Na antiguidade, diversas civilizações deram sua contribuição à arquitetura, mas
o legado das civilizações grega e romana deixaram para as gerações futuras um
acervo impressionante de objetos, ferramentas, armas, arte, filosofia e estilo.

Nesta unidade vamos analisar estas duas civilizações que deram origem ao que
chamamos de período clássico e de nascimento de ideias importantes e inovadoras,
nunca vistas até então, que moldaram o ocidente.

A miscigenação de povos, à medida que o Império Grego e, posteriormente, o


Império Romano proporcionou, refletiu no ambiente construído e mais, apresentou
ao mundo estilos que mesclavam tecnologia, ousada engenharia, traçados urbanos
e muita arte, como veremos nas páginas a seguir.

Arquitetura Clássica
Um dos grandes momentos da arquitetura mundial é, sem dúvida, a arquitetura
produzida pelas civilizações grega e romana.

As obras construídas no estilo que denominamos “clássico” foram responsáveis


pela consolidação de uma linguagem arquitetônica que dominou o cenário ocidental
por pelo menos 5 séculos, sendo facilmente encontradas ainda nos dias de hoje.

Em termos de arquitetura, vejamos inicialmente o que significa a palavra “clássico”.

No cotidiano, usamos a expressão “clássico” para nos referirmos a determinadas


manifestações culturais que são consideradas o apogeu de seu estilo ou época.
Com isso, adquirem um status de qualidade, de atemporalidade.
“Um edifício clássico é aquele cujos elementos decorativos derivam direta
ou indiretamente do vocabulário arquitetônico do mundo antigo – o mundo
‘clássico’, como muitas vezes é chamado. Esses elementos são facilmente
reconhecíveis, como, por exemplo, os cinco tipos padronizados de colunas
que são empregados de modo padronizado, os tratamentos padronizados
de aberturas e frontões, ou, ainda, as séries padronizadas de ornamentos
que são empregadas nos edifícios clássicos” (SUMMERSON, 2006, p. 4).

Ou seja, a arquitetura clássica é aquela que se vincula, necessariamente, à ar-


quitetura da Grécia antiga, e que foi posteriormente apropriada e reinterpretada
pelos romanos.

Não se trata, obviamente, de apenas aplicar os elementos que são facilmente


reconhecíveis como colunas e frontões, mas de toda uma forma racional e harmô-
nica de composição que é a essência da arquitetura clássica.

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Antes de procurarmos definir, afinal, o que são as cinco ordens clássicas, ou
mesmo o que são as tais “colunas” e “frontões” e outros elementos arquitetônicos
tidos como clássicos, é necessário contextualizarmos no tempo as civilizações grega
e romana, e entendermos como tudo começou.

Grécia Antiga
Situada na região sul da Península Balcânica, o território da Grécia Antiga não
corresponde exatamente à abrangência da Grécia atual, e correspondia a três
regiões: a Grécia Continental, a Grécia Central e a Grécia Insular. Esta última diz
respeito a diversas ilhas que estão espalhadas pelo Mar Egeu. Além desta região
mais concentrada, os gregos estabeleceram assentamentos e colônias em muitas
áreas próximas, como é possível perceber no mapa a seguir.

Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons

Este mapa esquemático mostra a colonização de diversos povos na época da civilização da Grécia An-
tiga, comparando os domínios dos gregos (em marrom), com os dos fenícios. Nota-se que os gregos
chegavam a ocupar o sul da atual Itália, a costa da França e o norte da África.

O período da Grécia Antiga abrange de cerca de 1.000 a.C. até a morte de


Alexandre, o Grande, no ano de 323 a.C. Este período é dividido em dois:
• Período Arcaico: de 1.000 a.C até 490 a.C.
• Período Clássico: de 490 a.C. até 323 a.C.

Depois da morte de Alexandre, o Grande, deu-se início ao período mais grandioso


da civilização grega: o Período Helenístico, que terminou em 30 a.C., quando a
Grécia Antiga se dissolve e acaba se fundindo a outras culturas mediterrâneas.

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Apesar dos gregos antigos terem vivido há mais de 2.000 anos, a sua importân-
cia para a cultura ocidental é enorme.

Além de seu indiscutível legado arquitetônico e artístico, os gregos também con-


tribuíram com a filosofia (Sócrates, Platão, Aristóteles), a lógica, a retórica, a demo-
cracia, avanços matemáticos significativos (lembram-se do teorema de Pitágoras?),
o desenvolvimento da Medicina (Hipócrates); as Olimpíadas e as práticas esporti-
vas; a criação do teatro; a valorização do ser humano e seu potencial intelectual
para compreender o mundo.

Sem dúvida, podemos afirmar que os gregos são a raiz de toda a cultura que se
desenvolveu no mundo ocidental posteriormente.

Arquitetura Grega
O teórico Nikolaus Pevsner afirma, logo nas primeiras frases de seu livro Panora-
ma da Arquitetura Ocidental, que “o templo grego é o exemplo mais perfeito já al-
cançado de uma arquitetura que se realiza na beleza plástica” (PEVSNER, 2002, p. 6).

O mais importante e conhecido dos templos gregos, o Partenon, é certamente


conhecido como o edifício mais influente de todos os tempos, inspirando cópias
e versões ao longo da história, e ao redor do mundo. E, certamente, representa
o paradigma das realizações dos gregos na arquitetura (GLANCEY, 2001, p.45).

Figura 2 – O Partenon, na Acrópole de Atenas


Fonte: Wikimedia Commons

Os gregos nos trouxeram diversas inovações importantes no campo da arquite-


tura, já em termos de reflexão teórica. Na primeira delas, o arquiteto voltará sua
atenção apenas para o problema da construção. Com isso, a arquitetura passa a
ser fruto de reflexões para ser compreendida, e começam a surgir suas primeiras
leis, como se fosse uma forma de ciência.

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“Aqui se origina a distinção entre as artes (arquitetura, escultura, pintura,
etc.) que se consideram categorias permanentes e absolutas da atividade
humana. Para qualquer uma delas se supõe que existam algumas regras
objetivas, análogas às leis da natureza, e que o valor de cada obra
particular consiste em se adequar a elas (...). Em arquitetura, essas regras
são conhecidas pelo nome de ordens” (PEREIRA, 2010, p. 51).

As ordens são a base da arquitetura grega, que estabelece pela primeira vez
na história um instrumento de controle que estipula todo o processo de produção
de arquitetura.

Já foi dito que uma ordem é “a disposição regular e perfeita das partes, que
concorrem para a composição de um conjunto belo” (PEREIRA, ibidem). Esta é a
essência de todo o pensamento grego, que busca a realização de seu ideal de beleza
– e para atingir este objetivo decodifica a arquitetura em uma série de elementos
necessários para que ela obtenha a harmonia, a proporção e a combinação de
elementos de modo que ela seja, de fato, uma bela arquitetura.

Estes elementos são basicamente compostos por colunas e o entablamento, sen-


do que este último funciona como uma estrutura horizontal que sustenta o telhado,
como uma viga.

Mas antes de definirmos quais são estes elementos construtivos, e quais são as
ordens gregas, é necessário entender que os gregos eram notáveis pela tendência
de compreender o mundo através da razão, e não se limitavam às explicações
meramente espirituais para os fenômenos que observavam. Os gregos eram o que
se chama de humanistas, pois celebravam o homem e sua capacidade racional, de
entender e interpretar o mundo através da lógica e da filosofia.

Esta posição influencia a arquitetura, pois este antropocentrismo leva ao de-


senvolvimento de um sistema de medidas baseados no corpo humano, entendido
como cânone de beleza e proporção. Este sistema de medidas determinará uma
das grandes contribuições dos gregos para a arquitetura: a escala humana.

Antropocentrismo: Etimologicamente, a palavra antropocentrismo significa colocar


Explor

o homem no centro do mundo (antropo = homem), ou seja: avaliar o universo e seus


fenômenos a partir de sua relação com o homem. Designa uma postura geralmente oposta
a uma visão teocentrista (deus no centro do mundo).

Caro(a) aluno(a), como você já deve conhecer, uma escala é um sistema de


medidas, uma relação entre diferentes dimensões, de modo a manter uma relação
de proporção.

A escala humana parte das relações do próprio corpo humano: a medida dos pés
em relação às pernas, a medida de um polegar, a altura em relação às dimensões
da cabeça. Partindo do princípio de Delfos – “conhece-te a ti mesmo” – os gregos
passaram a medir o corpo humano e a estipular uma relação de proporções

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entendida como harmoniosa e bela. É a partir deste raciocínio que surge o sistema
de medida que mede as coisas por polegadas ou palmos, ou a distância em pés,
passos ou jardas.

Os edifícios passam a ser medidos e construídos a partir da mesma relação


dimensional do corpo humano, adaptando-se às medidas do homem.

Racionalistas, os gregos então tomaram como partida a proporção áurea para


a produção de suas obras de arte, buscando reproduzir a imagem do homem
perfeito, Belo, que reside apenas no mundo das ideias. Um exemplo é a estátua
Doríforo, de um importante escultor grego, Policleto, esculpida por volta de 440
a.C., nos traz um princípio de proporção entre as medidas tidas como perfeitas
no corpo humano.

Figura 3 – Doríforo, de Policleto (c. 440 a.C.). A altura de um ser humano


proporcional deve equivaler a 7 vezes o comprimento da cabeça
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

O mesmo raciocínio era transferido também para a arquitetura, procurando


produzir construções que seguissem as mesmas proporções. “Se a natureza dispõe
o corpo do homem de tal forma que cada membro se relaciona com o todo, os
gregos querem que exista também essa mesma correspondência de medidas entre
as partes e a obra inteira de arquitetura” (PEREIRA, 2010, p. 49). Seguindo a
escala humana e a proporção áurea, a arquitetura seria, também, Bela.

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As ordens gregas
Como mencionamos antes, os gregos criaram um sistema de regras que teriam
como objetivo desencadear a beleza e as proporções da natureza, que são chamadas
de ordens arquitetônicas.

A arquitetura grega é composta por um sistema ortogonal de elementos: colunas


ou paredes (vertical) encimadas por vigas (horizontal), sustentando um telhado.

As colunas são compostas por três partes: o fuste (corpo da coluna); a base, na
qual o fuste se apoia; e o capitel, que é o elemento decorativo no topo da coluna, que
costuma ter diferentes aparências de acordo com a ordem a que pertence. A coluna
sustenta o entablamento, que faz a função da viga estrutural e sustenta a cobertura.

Sob as colunas, no caso da arquitetura não ser implantada diretamente no chão,


há uma base ou plataforma sobre a qual se ergue a edificação, chamada estilobata.
Para fazer a conexão e o acabamento entre a coluna e a estilobata, é colocada a
base sob o fuste da coluna.
Explor

Ordem Dórica: https://goo.gl/JvNokM

Da mesma maneira, o capitel funciona como um elemento de ligação entre a


coluna e o entablamento, de forma a garantir um encaixe e acabamento perfeito
entre os elementos arquitetônicos.

São três as ordens gregas: a dórica, a jônica e a coríntia. Cada uma destas
ordens surgiu em locais diversos, e, portanto, trazem o mesmo nome de alguns dos
povos oriundos destas mesmas regiões.

Cada uma destas ordens tem sua estética distinta. Nós podemos reconhecer
as ordens facilmente por suas colunas, ou, mais especificamente, pelo capitel das
colunas – mas todos os outros elementos (arquitraves, frisos, cornijas, bases, etc.)
também têm configurações diferentes de acordo com a ordem a que pertencem.

Jônico

Dórico

Coríntio

Figura 4 – As três ordens gregas, jônica, dórica e coríntia. Note a diferença


entre o nível de rebuscamento da decoração de fustes e capitéis
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

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Quando o arquiteto opta por uma das ordens para compor seu edifício, todos
estes elementos já são pré-determinados. Não se pode usar uma coluna dórica
com um entablamento jônico. Não se pode usar um capitel coríntio num fuste com
dimensões dóricas. As ordens são relativamente rígidas e servem como orientação
para a composição, resultando numa economia de tempo e energia, pois as
escolhas de detalhes já foram feitas – e, ao mesmo tempo, não deixam de oferecer
uma margem de liberdade para se adaptar a cada caso particular.

Caro aluno, você pode conhecer mais sobre a arquitetura grega no documentário da History
Explor

Chanel indicado no link a seguir.


Grécia Antiga, arte e arquitetura: https://youtu.be/9OiiOuyiGLM

De forma simplificada, a principal diferença reside nas colunas – a relação entre


a altura da coluna e o diâmetro de seu fuste. É principalmente esta razão que vai
determinar se tal edifício pertence ao sintagma dórico ou jônico, sendo que a
ordem coríntia é uma variação do sintagma jônico.

As principais edificações gregas são cívicas, destinadas ao uso público, como os


templos, os anfiteatros, as pinacotecas.

Devido ao calor excessivo da região mediterrânea, o homem grego passa a maior


parte do tempo fora de casa, circulando pela pólis (a cidade grega), socializando e
discutindo política, celebrando seus deuses e filosofando. Tanto que o interior dos
templos gregos não eram espaços de reunião de pessoas para um culto, como são
as igrejas cristãs.

Os gregos costumavam realizar seus ritos religiosos em suas casas, mas se


encontravam no templo para as procissões públicas e festividades nacionais. Havia
um espaço determinado para essas congregações: um espaço circundante, em
torno do templo, chamado temenos – o templo era apenas um recinto sagrado
para guardar a imagem divina, acessado apenas de maneira processual para
depositar as oferendas e louvar as estátuas que representavam os deuses. Mesmo o
altar ficava no lado de fora da construção. É por esta razão que se costuma afirmar
que a arquitetura produzida pelos gregos tem um foco maior na sua composição
externa do que nos espaços internos.

Os temenos não eram destinados apenas a fins religiosos, mas também políticos,
e, assim como os templos mais notáveis, situam-se numa região da cidade grega
denominada de acrópole.

A acrópole é a parte da cidade situada na região mais alta, normalmente


em morros ou colinas. A altura da região atende a duas funções: simbólica e

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militar. Simbolicamente, a altura representa a elevação dos valores humanos e
a supremacia sobre outras partes da cidade, dada a importância das edificações
que lá estavam.

Já em termos militares, a altura tornava a região mais fácil de defender de ata-


ques. No princípio, como nas civilizações micênicas, as acrópoles atendiam apenas
a funções militares e eram geralmente cercadas por muralhas, reunindo os templos
e edifícios públicos mais importantes.

Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images

De todas as acrópoles gregas, a de Atenas é certamente mais célebre, pois é lá


que estão as ruínas das mais imponentes construções gregas que ainda existem,
como o Partenon.

Importante! Importante!

O aspecto mais interessante sobre os templos gregos, e que é possível perceber no


Partenon, é o mecanismo de correção ótica que os gregos empregavam. Esta técnica,
conhecida como êntase, mostra a obsessão dos gregos pela perfeição matemática na
construção de seus templos.

Falar da arquitetura grega requer um vasto conteúdo, dada a sua importância.


Aqui mostramos algumas características apenas da forma como os gregos pensaram
a arquitetura de forma tão inovadora para seu tempo.

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Roma Antiga
A civilização romana é outro grande momento da história mundial. Suas
contribuições culturais têm parentesco direto com a cultura que se originou na
Europa a partir daí – e, por conseguinte, a nossa.

Veio da Roma antiga a maior parte das nossas palavras e mesmo a base do
nosso idioma, que é de origem latina.

Os romanos tiveram realizações incomparáveis na área jurídica, militar, artística,


política, dentre muitas outras.

Roma é o berço do Cristianismo, que a princípio foi duramente combatido, e


que, já no fim do Império, foi estabelecido como religião oficial pelo Imperador
convertido Constantino – tanto que a sede da Igreja Católica, o Vaticano, se situa
dentro do perímetro urbano de Roma.

A civilização durou cerca de 12 séculos ao todo, surgindo a partir da fundação


da cidade de Roma, e chegou a dominar grande parte do território europeu, e da
bacia mediterrânea da Ásia e da África durante seu período imperial.

No início Roma foi uma monarquia e três dos seus últimos reis foram etruscos.
Depois de longas lutas, finalmente Roma venceu a Etrúria em torno de 200 a.C.,
paulatinamente anexando novos territórios ao seu Império, dando origem à vasta
e poderosa civilização no mapa a seguir.

Figura 6 – Mapa demonstrando as regiões que faziam parte do Império Romano


Fonte: Wikimedia Commons

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A cidade de Roma tem sua fundação envolta em mistérios e lendas (por exemplo,
a de que Roma teria sido fundada por dois irmãos – Rômulo e Remo – que teriam
sido criados por uma loba), e atribui-se ao ano de 753 a.C. sua fundação.

Sua população era formada basicamente pelos gregos e os etruscos (povos


itálicos que habitavam a península itálica a partir de 1200 a 700 a.C.).

Trocando ideias...Importante!
Caro aluno, você já ouviu a expressão “todos os caminhos levam a Roma”?
Pois bem, os romanos conquistaram todo o mundo ocidental conhecido, ligaram suas
extensas regiões por meio de uma rede de excelentes estradas e deram às suas grandes
cidades água corrente – trazida de colinas e montanhas a mais de 80 km de distância por
meio de grandes aquedutos. Ofereceram banhos públicos, lavatórios públicos, esgoto e
transporte público. Ou seja, a base das cidades dos tempos de hoje.

A praticidade dos romanos levou a um grande desenvolvimento na construção


civil, notadamente no desenvolvimento de novas técnicas (o que mais tarde seria
denominado engenharia), e no surgimento de uma noção de planejamento urbano.
Tanto que o termo “urbano” deriva de urbe, palavra latina que designa a cidade.

A arte produzida pelos romanos sofre duas influências bastante diversas: por um
lado, a forte influência da arte grega e seu ideal de beleza e harmonia; por outro
lado, a inclinação aos princípios etruscos de praticidade e expressão da realidade.
De fato, os romanos, descendentes dos etruscos, tinham personalidade diferente
dos gregos, e era um povo mais prático, menos voltado às questões teóricas. Essa
diferença é facilmente notável em sua arquitetura.

Arquitetura Romana
A primeira grande contribuição dos romanos é a pluralidade de programas
construtivos, o que reflete em grande medida a complexidade da sociedade romana.

As edificações públicas se tornam mais variadas, oferecendo uma infinidade de


equipamentos de lazer e funcionais na urbe. A cidade é, na essência, pública. Com
isso, a arquitetura amplia as respostas aos problemas técnicos que se apresentam,
aumentando seu território de aplicação.

Além dos tradicionais templos e edificações cívicas, os romanos constroem


termas e basílicas (que, na sociedade romana, eram edifícios cívicos e não religiosos,
como ficaram conhecidos depois); teatros, anfiteatros e circos; cisternas, aquedutos,
pontes, e construções utilitárias de todo tipo – que passam a ser incorporados
no campo da arquitetura. “Poucas vezes se deu na história uma revolução mais
transcendental do que a ocasionada por essa ampliação do território da arquitetura
romana dentro do mundo clássico” (PEREIRA, 2010, p.71).

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Além desta inovação, os romanos trouxeram outras, como a imensa criatividade


– as construções romanas exploram diferentes composições volumétricas e formas
arquitetônicas, numa escala monumental, apropriando-se poderosamente
do espaço externo e interno produzido pela construção – rompendo os limites
morfológicos anteriores.

Isto foi, em grande parte, ocasionado pelo desenvolvimento de novas técnicas


construtivas, herdadas dos etruscos: o arco, e, por consequência, a abóbada. Esta
tecnologia possibilita que as forças exercidas pelo peso das pedras e das estruturas
que o arco suporta (como as coberturas e vigas transversais do pórtico grego) sejam
distribuídas uniformemente pelo arco e os pilares.

Quando o arco se desdobra em vários, formando uma espécie de “túnel”, ele se


transforma numa abóbada, que faz as vezes de teto. O mecanismo de distribuição
de forças é o mesmo, possibilitando a ampliação da distância entre os elementos
verticais de sustentação. Estes elementos permitiam que os romanos construíssem
amplos espaços internos, livres dos excessos de colunas, típico dos gregos.

Os romanos também inventaram o concreto, o que aumentava a possibili-


dade de moldar plasticamente novas formas arquitetônicas e em grande escala.

Como o concreto era amplamente utilizado pelos romanos, construindo cúpulas


e abóbadas e, portanto, necessitavam menos de colunas para exercer a função
estrutural, os romanos muitas vezes usavam as colunas como elementos decorativos
em templos, banhos e arenas. Acabaram por desenvolver uma coluna plana ou
meia-coluna embutida no elemento vertical do arco, à qual chamamos de pilastra
(GLANCEY, 2007, pp. 31-32).

Longe de perderem importância, a linguagem clássica da arquitetura ganhou


maior fôlego e qualidade plástica. Os romanos, portanto, não abandonaram as
ordens – muito pelo contrário.

Os romanos acrescentaram às ordens dórica, jônica e coríntia mais duas ordens


próprias: a toscana (uma ordem similar à dórica, mais simplificada e robusta, vinda
dos etruscos), e a compósita, que é uma combinação das ordens jônica e coríntia,
e que, na antiguidade romana, só aparece no Coliseu. Portanto, as ordens clássicas
que conhecemos são cinco – e continuarão a ser utilizadas muitos e muitos séculos
depois. Além disso, as abóbadas, domos (colunas semiesféricas) e pilastras também
passam a incorporar o repertório da linguagem clássica da arquitetura.

Se para os gregos o Parthenon é um ícone de sua arquitetura, para os romanos,


em igual importância, podemos citar o Panteão.

O edifício é considerado o ápice da qualidade arquitetônica dos romanos – o


qual, assim como o Partenon, também é um templo, dedicado a todos os deuses
do panteão romano – daí seu nome.

Situado bem no centro da cidade de Roma, o Panteão foi construído entre 118-
128 d.C., e talvez tenha sido projeto do próprio imperador Adriano.

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O Panteão representa o ápice do projeto e da
engenharia estrutural dos romanos e explicita a di- O Panteão atual é um edifício
único em sua configuração.
ferença clara entre a arquitetura grega e a romana: Sua planta centralizada é
ao passo em que o Partenon nos mostra o caráter composta por um vasto salão
extrovertido e matemático da composição grega; encimado por uma imensa e
ambiciosa cúpula de cerca de
o Panteão exibe o cuidado com os espaços inter- 43 metros de diâmetro.
nos e a plasticidade dos volumes dos romanos.
O Panteão que nós conhecemos hoje é uma nova construção que substituiu ou-
tro templo, construído em 27 a.C., durante a República Romana, durante o tercei-
ro consulado de Marco Vipsânio Agripa, e destruído por um incêndio em 80 d.C.

Há a seguinte inscrição no pórtico da fachada principal: M.AGRIPPA.L.F.COS.


TERTIUM.FECIT, que significa: “Construído por Marco Agripa, filho de Lúcio,
pela terceira vez cônsul”. Quando Adriano reconstruiu o Panteão, ele manteve a
inscrição original, embora não se trate do mesmo edifício.

Figura 7 – Vista do Panteão atualmente


Fonte: Wikimedia Commons

Os edifícios públicos são de extrema importância para os romanos, que também


valorizavam o convívio fora de suas casas.

Os edifícios cívicos eram importantíssimos e costumavam ser agrupados em


fóruns. O mais soberbo deles é o Fórum de Trajano, inaugurado em 112 d.C.,
construído pelo arquiteto principal do imperador, Apolodoro.

O Fórum de Trajano combina princípios da arquitetura grega com uma impo-


nente organização axial e simétrica. Os edifícios eram acessados através de um
propileu arqueado, que dava entrada a uma praça quadrada de 126m de cada lado,
rodeada de pórticos com colunatas e presidida pelo monumento ao imperador.
De cada lado da praça, dois semicírculos prolongavam o espaço, destacando, ao
fundo, a Basílica Ulpia.
Explor

Propileu: é a porta monumental que serve como a entrada para uma acrópole.

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Figura 8 – Fórum Imperial de Trajano, como está hoje


Fonte: Wikimedia Commons

A basílica romana não é uma igreja – visto que a Igreja Católica ainda era
incipiente nesta época. A basílica era um edifício cívico, laico, que costumava ser
usado principalmente para o comércio e a justiça.

Outro equipamento público urbano extremamente representativo da arquitetura


romana são as termas, ou banhos públicos, onde a população complementava
sua higiene com as atividades desportivas e sociais. As termas eram fundadas pela
iniciativa privada, mas seus serviços eram gratuitos e frequentados por multidões.

Outros equipamentos de lazer são os destinados a espetáculos. O edifício para


espetáculo mais paradigmático da arquitetura romana é o anfiteatro, destinado a
combates, lutas e outros espetáculos similares.

O povo romano apreciava muito as lutas de gladiadores, que poderiam ser apre-
ciadas de qualquer ângulo. Assim, os romanos deixaram de dispor a arquibancada
em semicírculo, passando ao formato elíptico.

O espetáculo acontece na arena, na parte central, sob a qual existe uma série
de corredores e câmaras por onde saíam feras, gladiadores e atores.

A partir do uso dos arcos na construção, foi possível para os romanos construírem
anfiteatros muito mais amplos que os dos gregos, e sem precisar encontrar colinas
com a inclinação exata, podendo construí-los onde bem desejassem.

Através do uso de fileiras concêntricas de arcadas, umas sobre as outras, os


romanos construíam um declive artificial sobre o qual dispunham os assentos do
auditório, acomodando assim muitas pessoas.

O exemplo mais famoso de anfiteatro romano é o Coliseu, construído ao longo


de 8 a 10 anos. Foi iniciado no reinado do Imperador Vespasiano e concluído em
82 d.C., durante o reinado de Domiciano. Seu nome tem a mesma origem que
a palavra “colossal”, pois tem dimensões gigantescas: os eixos da elipse medem
190m (o mais longo) e 155m, e 48 metros de altura. O Coliseu tinha capacidade
para cerca de 40.000 pessoas sentadas, e mais 5.000 em pé.

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Figura 9 – O Coliseu hoje
Fonte: iStock/Getty Images

Um tipo de construção que surgiu com os romanos é o monumento, ou edi-


fícios que têm um fim memorial ou celebrativo. Dentre elas, destacam-se dois: os
arcos de triunfo e as colunas isoladas. As colunas comemorativas são colunas
isoladas, elevando-se a grandes alturas (a de Trajano chega a medir 35m), e traziam
entalhadas em seu fuste esculturas ilustrando as batalhas nas quais o Imperador
celebrado saíra vitorioso.

Os arcos de triunfo, por sua vez, são um fragmento de muro, divididos em três
seções – cada uma com um arco. Os dois laterais são secundários, menores e mais
estreitos. O arco principal é o do meio. No espaço entre os arcos e nas laterais
havia quatro colunas sobre pedestais, e sobre elas se sobressai um entablamento
com figuras esculpidas, que sustenta uma superestrutura chamada atiço, geralmen-
te decorada com esculturas e dizeres comemorativos em alto-relevo. Os dois arcos
mais famosos são o de Septimius Severo e Constantino, e inspiraram muitas cons-
truções a partir de sua forma simétrica e bem resolvida de composição.

Figura 10 – Arco de Septimius Severus, em Roma


Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Arquitetura Clássica – Civilizações Grega e Romana

As cidades romanas, as urbes, são relativamente bem planejadas. São normal-


mente orientadas em torno de uma piazza, ou praça, circundada pelas fachadas
das casas. Este espaço público era, antes de tudo, político: era lá que os romanos
se encontravam para conversar, discutir, reunir.
Explor

Planta esquemática de uma cidade romana: https://goo.gl/Dy695j

As urbes eram equipadas com redes de esgoto, abastecimento de água, banhos,


pavimentação, serviços de combate a incêndios, mercados, transporte público, entre
outros. Os traçados da rua eram predeterminados e regulares, a cidade tinha dimen-
sões limitadas, delimitada por muralhas. A rua determinava o desenho das quadras e
a consequente instalação das edificações, que são subordinados à trama viária.

Considerações Finais
As realizações da arquitetura grega e romana tiveram um impacto gigantesco
nas civilizações que a seguiram. No entanto, o período histórico que sucedeu à que-
da do Império Romano foi radicalmente diferente, e as realizações da Antiguidade
Clássica ficaram no ostracismo por cerca de 10 séculos, até que foram redesco-
bertos pelos humanistas no período do Renascimento. A partir dali, as realizações
dos gregos e romanos foram recuperadas, estudadas, e serviram como referência
à produção arquitetônica e urbanística até o séc. XIX.

Por este motivo, esta unidade é muito importante e certamente irá facilitar os
estudos nos nossos próximos encontros!

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
HISTÓRIA DE ROMA - Construindo um Império (History Channel)
https://youtu.be/42t1ToOfFxM

Leitura
História da Arquitetura
https://goo.gl/cY8fHf
História Antiga – Grécia e Roma
https://goo.gl/FiHMfT
Grécia e Roma – Vida Pública e Vida Privada
https://goo.gl/v4vzaq

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UNIDADE Arquitetura Clássica – Civilizações Grega e Romana

Referências
GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. São Paulo: Ed. Loyola, 2007.

GOMBRICH, Ernst H. História da Arte. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 2008. 16a edição.

MUMFORD, Lewis. A Cidade na História. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998.
4a edição.

PEREIRA, José Ramón A. Introdução à História da Arquitetura – das origens


ao século XXI. Porto Alegre: Bookman, 2010.

PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo: Martins


Fontes, 2002. 2a edição.

PROENÇA, Graça. A História da Arte. São Paulo: Ed. Ática, 2000.

SUMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura. São Paulo: Martins


Fontes, 2006. 4a edição.

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