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“Arqueologia e Poder” 1
ISSN 2237-8294
Abstract: This paper deals with the concept of neoclassical architecture to discuss some
buildings related to the architect Ramos de Azevedo. The aim is to understand the type of
dialogue between the architecture of the late nineteenth and early twentieth century in São
Paulo and its relations with the Greco-Roman ground - the "classical architecture".
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Para uma discussão sobre a idéia de arquitetura clássica e os elementos que a baseiam, ver SUMMERSON,
1980 e COLQUHOUN, 1991. Vale, ainda, a indicação de algumas obras básicas que oferecem elementos para
setores específicos dessa discussão: Para a arquitetura grega, ver LAWRENCE, 1998; para a arquitetura romana,
ver GROS, 1996; para a apresentação de tratados de arquitetura desde o Renascimento até a contemporaneidade,
ver EVERS et al., 2003.
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Para as várias formas de citações a elementos clássicos nesse período, ver PANOFSKY, 1960.
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Para uma apresentação inicial dos estilos em arquitetura, ver POTHORN, 1971 e 1983 e BURDEN, 2006.
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A presença do estilo chamado “neoclássico”, de forma generalista, pode ser bem mais antiga em São Paulo.
Efetivamente, trata-se de edifícios com elementos característicos da arquitetura clássica identificados na cidade
de São Paulo desde o final do século XVIII; ou seja, antes mesmo da ação da Missão Francesa no Rio de Janeiro
– para uma apresentação desse debate, ver TOLEDO, 2007, p. 15-6.
mudar a ênfase “de uma visão da Antiguidade dominada por Roma para uma
aproximação centrada no Renascimento. [...] Um historicismo baseado no
renascimento foi oficialmente declarado como o estilo mais adequado ao século XIX”
…a expressão que vem sendo utilizada para a arquitetura que, por um lado, tende à
simplificação racional defendida por Cordemoy e Laugier e, por outro lado, procura
apresentar as ordens com a maior fidelidade antiquaria. Razão e Arqueologia são dois
elementos complementares que fazem o Neoclassicismo e que o diferenciam do
Barroco. Ou não?6
6
… the expression which has come to be used for architecture which, on the one hand, tends towards the
rational simplification advocated by Cordemoy and Laugier and, on the other hand, seek to present the orders
whith the utmost antiquarian fidelity. Reason and archeology are the two complementary elements which make
Neo-Classicism and which differentiate it from the Barroque. Or do they?
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Para a biografia, contexto e obras de Ramos de Azevedo, ver LEMOS, 1993; CARVALHO, 1999 e FICHER,
2005.
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A idéia de que Ramos de Azevedo optou consistentemente pelo estilo “neoclássico” é bastante difundida. Além
de Tarasantchi (op. cit.), ver, por exemplo, LIMENA, 1996, p. 58 e ROCHA, 2000, p. 8, recuperando os mesmos
elementos da influência italiana.
Há dois edifícios projetados por Ramos de Azevedo que indicam bem esse
alinhamento ao projeto neorrenascentista: trata-se de dois prédios do final do século XIX que
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abrigam a Secretaria de Justiça de SP desde 1997 (ver fig. 1) que apresentam elementos
bastante indicativos, como a presença de balaustradas, a ordem colossal e a indicação da
rusticação no andar térreo dos edifícios – todos elementos propriamente renascentistas e
presentes nos edifícios aqui em questão.10
Mas, a situação é bastante diferente se se observar, por exemplo, o portal do Cemitério
da Consolação (ver fig. 2) também projetado por Ramos de Azevedo.11 Essa construção
apresenta clara referência à arquitetura clássica, especificamente à ordem dórica, com colunas
sem base e com capitéis simples (sem volutas ou folhagem de acanto); e, acima dos capitéis,
há ábacos quadrangulares sob uma arquitrave composta por tríglifos e métopas (inclusive a
distribuição proporcional dos tríglifos a partir da posição de dois deles alinhados aos eixos das
duas colunas é identificada, elemento essencial dessa ordem arquitetônica); proposta que
mostra um interesse em reproduzir formas identificadas em vários templos gregos e romanos.
Portanto, bem adequadamente, segundo a caracterização apresentada acima (SUMMERSON,
op. cit.), uma construção neoclássica.
Esses edifícios de São Paulo, cuja construção estava ligada ao escritório técnico de
Ramos de Azevedo, apresentam diferentes níveis de leitura da referência clássica da
arquitetura. O primeiros (aqueles da Secretaria de Justiça de SP – fig. 1) indicam que a leitura
da arquitetura clássica foi feita sobre uma leitura anterior: a renascentista; e assim, elementos
novos aparecem e dão novo sentido à presença do clássico (como o diálogo Brasil, Itália e
França); que havia operado em contextos variados como o do republicanismo e o da
representação social das elites paulistas da época. Já o portal do Cemitério da Consolação
apresenta outro referencial: o diálogo com as formas greco-romanas é mais direto, sem as
mediações do exemplo anterior. Ou seja, duas construções contemporâneas (os primeiros
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A “Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo” (aqui chamada “Secretaria de
Justiça”) ocupa dois edifícios no Pátio do Colégio (nº 148 e 184). Os dois foram projetados paralelamente, mas
construídos e inaugurados separadamente. Um deles (o da direita) foi inaugurado em 1891 para abrigar a
Secretaria da Fazenda e do Tesouro; enquanto o outro foi inaugurado em 1896 para sediar a Secretaria da
Agricultura.
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Para uma descrição dos tipos de balaústres e balaustradas e seus usos, ver GWILT, 1842, p. 739-45; para a
ordem colossal e a rusticação isolada na fachada do andar térreo como criações específicas do Renascimento, ver
SUMMERSON, 1980, p. 24 e 48. Para os termos em arquitetura aqui utilizados, ver BURDEN, 2006.
11
Para o Cemitério da Consolação e a intervenção das obras de Ramos de Azevedo, ver JORGE, 1979 e
CARVALHO, 1999, p. 242-3.
foram inaugurados no final do século XIX e o último no início do século XX) e as propostas
de diálogo com o referencial clássico são diferentes.
Ainda, essa variedade pode ser pensada a partir de outro referencial – o ecletismo, que
é caracterizado pela mistura de elementos distintos relacionados a estilos arquitetônicos
próprios;12 estilo ao qual Ramos de Azevedo também é relacionado.13 Assim, os edifícios que
atualmente abrigam a Secretaria da Justiça de São Paulo, nesse conjunto de caracterizações
variadas, podem ser apresentados como neoclássicos (PORTO, 1992, p. 78), ecléticos
(KÜHL, 1998, p. 113 e FABRIS, 2000, p. 85) e neorrenascentistas. Como visto, a sua clara
inserção no debate arquitetônico renascentista o situaria fora do campo do neoclássico,
pensando na formulação mais específica desse termo. Caracterizá-los como eclético, de outra
forma, o situaria no âmbito de certas misturas de estilo que até acontecem em elementos
ornamentais, mas as fachadas desses edifícios são estruturadas predominantemente por
elementos renascentistas.
* * *
Pensando no referencial básico (a arquitetura greco-romana), o debate aqui
apresentado a partir do delineamento de certos estilos (o eclético, o neorrenascentista e o
neoclássico) revela uma variedade de propostas de caracterização. Seria complicado
apresentar uma delas como verdadeira, em detrimento das outras ou mesmo dizer que todas
elas estão corretas: é importante tomar uma posição. A tomada aqui, baseia-se na avaliação
das propostas apresentadas e, mais que isso, no interesse específico apresentado acima: a
compreensão do diálogo entre esses arquitetos da contemporaneidade (no caso, Ramos de
Azevedo) e a referência original (a arquitetura greco-romana). Para tanto, as definições mais
precisas ajudam bastante.
Isso não quer dizer que a caracterização generalista de neoclássico esteja equivocada,
mas que, para a questão aqui colocada, ela revela pouco. Diferente disso, a caracterização
específica, indica-nos certas sutilezas nesse diálogo. Por exemplo, viu-se que as mediações
presentes na proposta neorrenascentista e eclética são fortes, já que operam sobre formas
criadas por arquitetos renascentistas e projetadas posteriormente, mas também pela inserção
de elementos de outros estilos ornamentais – as mesclas que caracterizam o estilo eclético. De
12
Ver LEMOS, 1987.
13
Para Ramos de Azevedo como um arquiteto “eclético”, ver LEMOS, 1987, p. 286 e CARVALHO, 1999.
Imagens
Fig. 1. Edifícios da Secretaria da Justiça, SP – Pátio do Colégio (acervo pessoal).
Fig. 2. Portal do Cemitério da Consolação – Rua da Consolação, SP (acervo pessoal).
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