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Edição Especial – ANAIS I Semana de Arqueologia - Unicamp

“Arqueologia e Poder” 1
ISSN 2237-8294

Tradição clássica no Brasil contemporâneo: o estilo “neoclássico” e a metrópole


paulistana.

Gilberto da Silva Francisco*

Resumo: Este artigo discute a noção de neoclássico no debate de algumas edificações


relacionadas ao arquiteto Ramos de Azevedo, tendo como objetivo entender as formas de
diálogo entre a arquitetura do final do século XIX e início do século XX em São Paulo e suas
relações com o referencial greco-romano, caracterizado como “arquitetura clássica”.

Palavras-chave: Tradição Clássica, Arquitetura Clássica, São Paulo.

Abstract: This paper deals with the concept of neoclassical architecture to discuss some
buildings related to the architect Ramos de Azevedo. The aim is to understand the type of
dialogue between the architecture of the late nineteenth and early twentieth century in São
Paulo and its relations with the Greco-Roman ground - the "classical architecture".

Keywords: Classical Tradition, Classical Architecture, São Paulo.

O debate sobre as permanências e apropriações de elementos criados ou


consistentemente utilizados na “Antiguidade Clássica” é bastante amplo e vem se tornando
tema importante no interesse dos estudos acadêmicos e mesmo fora deles. Os vieses, bastante
variados, são freqüentemente enquadrados nos estudos de recepção/apropriação/uso do
passado. É, nesse contexto, que venho desenvolvendo algumas pesquisas relacionadas a dois
campos relevantes nesse debate: a escrita e a arquitetura. Neste momento, tratarei apenas de
aspectos delimitados do campo da chamada “arquitetura clássica” na cidade de São Paulo1 a
partir do exemplo isolado de três edifícios projetados pelo arquiteto Ramos de Azevedo.
O objetivo desta pesquisa é lidar com as formas de diálogo estabelecidas por
arquitetos que projetaram e (ou) construíram edifícios e monumentos na cidade de São Paulo

* Doutor em Arqueologia (MAE/USP); membro do Laboratório de Estudos sobre o Império Romano e


Mediterrâneo Antigo (LEIR-MAE/USP).
1
Para algumas reflexões sobre a escrita no debate indicado, ver FRANCISCO, 2009.

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em períodos variados na contemporaneidade tendo como referencial a arquitetura greco-


romana. Ou seja, busca-se compreender em que medida as formas próprias dos edifícios
gregos e romanos antigos, incluídos no campo “arquitetura clássica”, forneceram base para a
produção do século XIX e XX na cidade de São Paulo.
* * *
A idéia de uma “arquitetura clássica” é complexa e amplamente discutida.2 De forma
genérica, pode-se dizer que se trata de um conjunto de elementos arquiteturais que foram
cunhados para articular um segmento de edifícios entre gregos e romanos, contexto em que
tais elementos possuíam um apelo claramente estético, mas também uma função estrutural na
articulação dos edifícios. Esses elementos, utilizados de forma menos profunda no período
chamado “medieval”,3 foram sistematicamente reposicionados como centrais no debate
renascentista sobre a arquitetura, projetando uma linguagem clássica arquitetônica em vários
países europeus, tornando-se referência para outros estilos, como o barroco, e mesmo para a
sua crítica, como o debate estabelecido pela proposta neoclássica, e as citações a estilos então
bem delimitados (os historicismos), como o neogrego, o neorrenascentista, o neobarroco e
formas clássicas freqüentemente integradas aos estilos eclético e romântico.4 Além disso,
certas inclusões de elementos claramente identificados à arquitetura clássica em edifícios
recentes na proposta “neoclássica contemporânea” também agregam esse grupo.
A partir disso, aqui, compreende-se como “arquitetura clássica” ou “linguagem
clássica da arquitetura” todo esse debate arquitetônico que se estabeleceu em torno das formas
clássicas (greco-romanas), e não apenas estas. Essa linguagem clássica da arquitetura é
presente na experiência atual seja como fato histórico (formas criadas pelos gregos e romanos
e constantemente reelaboradas desde o Renascimento), como patrimônio cultural (desde a
forma abstrata “arquitetura clássica” até uma série de edifícios tombados, cuja construção
remonta a espaços de importância histórica ou “monumentos” de importância artístico-
cultural) e como elemento da paisagem urbana atual (seja pela manutenção/preservação de
edifícios considerados bens patrimoniais ou pela contínua construção de edifícios
caracterizados pela presença de elementos identificados à arquitetura clássica atualmente).

2
Para uma discussão sobre a idéia de arquitetura clássica e os elementos que a baseiam, ver SUMMERSON,
1980 e COLQUHOUN, 1991. Vale, ainda, a indicação de algumas obras básicas que oferecem elementos para
setores específicos dessa discussão: Para a arquitetura grega, ver LAWRENCE, 1998; para a arquitetura romana,
ver GROS, 1996; para a apresentação de tratados de arquitetura desde o Renascimento até a contemporaneidade,
ver EVERS et al., 2003.
3
Para as várias formas de citações a elementos clássicos nesse período, ver PANOFSKY, 1960.
4
Para uma apresentação inicial dos estilos em arquitetura, ver POTHORN, 1971 e 1983 e BURDEN, 2006.

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Tendo em vista que a idéia de “arquitetura clássica” é bastante variada, é preciso


compreender as especificidades nesse conjunto. Situar todo esse amplo debate no interior de
um conceito indica a inserção em uma ampla tradição, mas é possível identificar claramente
especificidades nas propostas. Assim, a generalidade ajuda até certo ponto. Um exemplo claro
é a própria caracterização do conceito de “neoclássico”. Desde já é importante dizer que o
objetivo aqui não é propor a substituição absoluta de uma caracterização mais específica sobre
uma mais abrangente, mas entender qual é o grau de abrangência que interessa aqui neste
debate. Para tanto, será discutido, na seqüência, a inserção da metrópole paulistana nesse
contexto.
* * *
A presença de elementos da arquitetura clássica (colunas ou pilastras remetendo às
ordens clássicas, arcadas, entre outros, já era observados em algumas construções coloniais,
sobretudo aquelas caracterizadas como barrocas), mas a linguagem clássica mais articulada
começa a ser desenvolvida no Brasil com a vinda da Missão Francesa, a convite de Dom João
VI, no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XIX, desenvolvendo-se, assim, alguns
edifícios que respondiam mais consistentemente à organização arquitetônica caracterizada
como clássica. Na região de São Paulo, em meados do século XIX essas formas começavam a
aparecer em alguns edifícios – é o que indicam algumas fotografias de Militão (SIMÕES
JÚNIOR, 2003, p. 47)5 – mas esse estilo só foi amplamente desenvolvido ao longo da
segunda metade do século XIX, destacando-se, assim, a figura de Ramos de Azevedo em
projetos e execução de edifícios públicos e da elite paulista. Quanto a isso, contextualizando a
situação, Maria Cristina Wolff de Carvalho, na sua publicação sobre “Ramos de Azevedo”, de
1999, diz o seguinte:

A independência do país favoreceu a retomada da atividade no campo da arquitetura e


da construção. Os edifícios que surgem nos cerca de trinta anos subseqüentes
possibilitam um aprofundamento nas pesquisas que indicaram ampliações do universo
neoclássico rumo ao gosto pelo renascimento italiano, seguindo, aliás, a tendência
dominante em Paris. Vale lembrar que lá, na École des Beaux-Arts, o sucessor de
Quatremère de Quincy como professor de Arqueologia, Raoul Rochette, haveria de

5
A presença do estilo chamado “neoclássico”, de forma generalista, pode ser bem mais antiga em São Paulo.
Efetivamente, trata-se de edifícios com elementos característicos da arquitetura clássica identificados na cidade
de São Paulo desde o final do século XVIII; ou seja, antes mesmo da ação da Missão Francesa no Rio de Janeiro
– para uma apresentação desse debate, ver TOLEDO, 2007, p. 15-6.

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mudar a ênfase “de uma visão da Antiguidade dominada por Roma para uma
aproximação centrada no Renascimento. [...] Um historicismo baseado no
renascimento foi oficialmente declarado como o estilo mais adequado ao século XIX”

Para o debate aqui proposto, sobre o diálogo como o referencial greco-romano,


algumas informações são bastante importantes. A primeira é a delimitação entre o
“neoclássico” e o “renascimento italiano”. O termo neoclássico é, geralmente, utilizado de
maneira generalista. Como se trata de um termo autodescritivo (neoclássico = “novo
clássico”), muitas das formas de citações à arquitetura clássica greco-romana podem ser
chamadas de neoclássicas. Ou seja, o clássico renascentista, o próprio neoclássico (como
academicamente formulado), alguns estilos historicistas (o neorrenascentista, o neobarroco, o
romântico e o eclético com elementos clássicos) e mesmo o neoclássico contemporâneo
(nome aplicado às recentes soluções de fachada com elementos clássicos na arquitetura de
edifícios residenciais e comerciais de alto padrão) são chamados genericamente de
“neoclássico”. Entretanto, entre especialistas, o termo corresponde a um conceito bem
delimitado. Por exemplo, Summerson (1980, p. 37) diz que o neoclássico é:

…a expressão que vem sendo utilizada para a arquitetura que, por um lado, tende à
simplificação racional defendida por Cordemoy e Laugier e, por outro lado, procura
apresentar as ordens com a maior fidelidade antiquaria. Razão e Arqueologia são dois
elementos complementares que fazem o Neoclassicismo e que o diferenciam do
Barroco. Ou não?6

A conceituação é bastante clara do ponto de vista do objetivo: referenciação mais


detida; ou seja, menos desvios com relação ao referencial (a arquitetura greco-romana), e
certa posição crítica ao Barroco, o que dá uma pista quanto à sua época – entre meados do
século XVIII e, como se sabe, até meados do século XIX. Assim, o neoclássico, tal como
conceituado academicamente, apesar de inúmeras posições (mesmo Summerson – Op. cit. –
coloca dúvida sobre essa caracterização muito específica), pode ser genericamente reduzido a
esses poucos elementos. Entretanto, fora do discurso especializado a situação muda bastante.

6
… the expression which has come to be used for architecture which, on the one hand, tends towards the
rational simplification advocated by Cordemoy and Laugier and, on the other hand, seek to present the orders
whith the utmost antiquarian fidelity. Reason and archeology are the two complementary elements which make
Neo-Classicism and which differentiate it from the Barroque. Or do they?

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Tendo em vista a caracterização abrangente do conceito (desde qualquer apropriação


feita de elementos da arquitetura clássica até uma discussão e uma aplicação específica,
datada do século XVIII e XIX, buscando maior fidelidade formal e estrutural), é importante
escolher em que medida esses diferentes conceitos aproximados pelo mesmo termo elucidam
a discussão aqui colocada.
Retomando a caracterização de Carvalho, indicada acima, é clara a opção pelo estilo
que a autora chama de “neoclássico”, mas conectado ao “Renascimento italiano” como um
“estilo dominante em Paris” e um “historicismo baseado no renascimento”. Apesar de o termo
utilizado ser “neoclássico”, parece que se trata de uma formulação neorrenascentista. E, essa
confusão parece se bastante comum na bibliografia. Especificamente sobre o arquiteto Ramos
de Azevedo,7 Ruth S. Tarasantchi, na sua obra “Pintores paisagistas: São Paulo, 1890 a
1920”, publicada em 2002, diz que:

A arquitetura de São Paulo teve, assim, todos os estilos, apesar de nela


prevalecer a influência italiana. Ramos de Azevedo construía suas obras no
estilo neoclássico, as, como trabalhava com o italiano Domiziano Rossi, o
estilo era italianizante, como foi a construção da Politécnica. (p. 33).

A caracterização do estilo relacionado a Ramos de Azevedo parece repetir-se.8 A


autora situa esse arquiteto no campo do “neoclássico”, mas relacionado à “influência italiana”
e “estilo italianizante”, dada a sua proximidade com o arquiteto italiano “Domiziano Rossi”, o
que parece não explicar consistentemente o fenômeno. De início, é interessante observar que,
o que Tarasantchi chama de neoclássico com influência italiana é, de fato, o estilo
neorrenascentista. Além disso, parece que a influência de Rossi isoladamente não explica essa
situação, já que o fenômeno baseado na opção pelo estilo neorrenascentista em construções
variadas da época era bastante amplo. (CARVALHO, 1999, p. 55). Assim, a situação poderia
estar baseada também na experiência que o próprio Ramos de Azevedo obteve na Europa, e as
formas que evocavam as construções de Paris da época.
* * *

7
Para a biografia, contexto e obras de Ramos de Azevedo, ver LEMOS, 1993; CARVALHO, 1999 e FICHER,
2005.
8
A idéia de que Ramos de Azevedo optou consistentemente pelo estilo “neoclássico” é bastante difundida. Além
de Tarasantchi (op. cit.), ver, por exemplo, LIMENA, 1996, p. 58 e ROCHA, 2000, p. 8, recuperando os mesmos
elementos da influência italiana.

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Há dois edifícios projetados por Ramos de Azevedo que indicam bem esse
alinhamento ao projeto neorrenascentista: trata-se de dois prédios do final do século XIX que
9
abrigam a Secretaria de Justiça de SP desde 1997 (ver fig. 1) que apresentam elementos
bastante indicativos, como a presença de balaustradas, a ordem colossal e a indicação da
rusticação no andar térreo dos edifícios – todos elementos propriamente renascentistas e
presentes nos edifícios aqui em questão.10
Mas, a situação é bastante diferente se se observar, por exemplo, o portal do Cemitério
da Consolação (ver fig. 2) também projetado por Ramos de Azevedo.11 Essa construção
apresenta clara referência à arquitetura clássica, especificamente à ordem dórica, com colunas
sem base e com capitéis simples (sem volutas ou folhagem de acanto); e, acima dos capitéis,
há ábacos quadrangulares sob uma arquitrave composta por tríglifos e métopas (inclusive a
distribuição proporcional dos tríglifos a partir da posição de dois deles alinhados aos eixos das
duas colunas é identificada, elemento essencial dessa ordem arquitetônica); proposta que
mostra um interesse em reproduzir formas identificadas em vários templos gregos e romanos.
Portanto, bem adequadamente, segundo a caracterização apresentada acima (SUMMERSON,
op. cit.), uma construção neoclássica.
Esses edifícios de São Paulo, cuja construção estava ligada ao escritório técnico de
Ramos de Azevedo, apresentam diferentes níveis de leitura da referência clássica da
arquitetura. O primeiros (aqueles da Secretaria de Justiça de SP – fig. 1) indicam que a leitura
da arquitetura clássica foi feita sobre uma leitura anterior: a renascentista; e assim, elementos
novos aparecem e dão novo sentido à presença do clássico (como o diálogo Brasil, Itália e
França); que havia operado em contextos variados como o do republicanismo e o da
representação social das elites paulistas da época. Já o portal do Cemitério da Consolação
apresenta outro referencial: o diálogo com as formas greco-romanas é mais direto, sem as
mediações do exemplo anterior. Ou seja, duas construções contemporâneas (os primeiros

9
A “Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo” (aqui chamada “Secretaria de
Justiça”) ocupa dois edifícios no Pátio do Colégio (nº 148 e 184). Os dois foram projetados paralelamente, mas
construídos e inaugurados separadamente. Um deles (o da direita) foi inaugurado em 1891 para abrigar a
Secretaria da Fazenda e do Tesouro; enquanto o outro foi inaugurado em 1896 para sediar a Secretaria da
Agricultura.
10
Para uma descrição dos tipos de balaústres e balaustradas e seus usos, ver GWILT, 1842, p. 739-45; para a
ordem colossal e a rusticação isolada na fachada do andar térreo como criações específicas do Renascimento, ver
SUMMERSON, 1980, p. 24 e 48. Para os termos em arquitetura aqui utilizados, ver BURDEN, 2006.
11
Para o Cemitério da Consolação e a intervenção das obras de Ramos de Azevedo, ver JORGE, 1979 e
CARVALHO, 1999, p. 242-3.

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foram inaugurados no final do século XIX e o último no início do século XX) e as propostas
de diálogo com o referencial clássico são diferentes.
Ainda, essa variedade pode ser pensada a partir de outro referencial – o ecletismo, que
é caracterizado pela mistura de elementos distintos relacionados a estilos arquitetônicos
próprios;12 estilo ao qual Ramos de Azevedo também é relacionado.13 Assim, os edifícios que
atualmente abrigam a Secretaria da Justiça de São Paulo, nesse conjunto de caracterizações
variadas, podem ser apresentados como neoclássicos (PORTO, 1992, p. 78), ecléticos
(KÜHL, 1998, p. 113 e FABRIS, 2000, p. 85) e neorrenascentistas. Como visto, a sua clara
inserção no debate arquitetônico renascentista o situaria fora do campo do neoclássico,
pensando na formulação mais específica desse termo. Caracterizá-los como eclético, de outra
forma, o situaria no âmbito de certas misturas de estilo que até acontecem em elementos
ornamentais, mas as fachadas desses edifícios são estruturadas predominantemente por
elementos renascentistas.
* * *
Pensando no referencial básico (a arquitetura greco-romana), o debate aqui
apresentado a partir do delineamento de certos estilos (o eclético, o neorrenascentista e o
neoclássico) revela uma variedade de propostas de caracterização. Seria complicado
apresentar uma delas como verdadeira, em detrimento das outras ou mesmo dizer que todas
elas estão corretas: é importante tomar uma posição. A tomada aqui, baseia-se na avaliação
das propostas apresentadas e, mais que isso, no interesse específico apresentado acima: a
compreensão do diálogo entre esses arquitetos da contemporaneidade (no caso, Ramos de
Azevedo) e a referência original (a arquitetura greco-romana). Para tanto, as definições mais
precisas ajudam bastante.
Isso não quer dizer que a caracterização generalista de neoclássico esteja equivocada,
mas que, para a questão aqui colocada, ela revela pouco. Diferente disso, a caracterização
específica, indica-nos certas sutilezas nesse diálogo. Por exemplo, viu-se que as mediações
presentes na proposta neorrenascentista e eclética são fortes, já que operam sobre formas
criadas por arquitetos renascentistas e projetadas posteriormente, mas também pela inserção
de elementos de outros estilos ornamentais – as mesclas que caracterizam o estilo eclético. De

12
Ver LEMOS, 1987.
13
Para Ramos de Azevedo como um arquiteto “eclético”, ver LEMOS, 1987, p. 286 e CARVALHO, 1999.

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outra forma, a proposta neoclássica, conforme a caracterização específica, propõe um acesso


mais direto.

Imagens
Fig. 1. Edifícios da Secretaria da Justiça, SP – Pátio do Colégio (acervo pessoal).
Fig. 2. Portal do Cemitério da Consolação – Rua da Consolação, SP (acervo pessoal).

Bibliografia.
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Fig. 1. Edifícios da Secretaria da Justiça, SP – Pátio do Colégio (arquivo pessoal).

Fig. 2. Portal do Cemitério da Consolação – Rua da Consolação, SP (arquivo pessoal).

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