Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Quando o Império Romano Ocidental sucumbiu aos violentos ataques das sucessivas ondas de
bárbaros migrantes (godos, visigodos e ostrogodos) as obras de arquitetura foram quase totalmente
interrompidas. Com a queda do Império Romano, também entrou em colapso toda a estrutura político-
econômica que tinha condições de financiar as grandes obras cívicas e, como conseqüência, o conhecimento
das técnicas da construção, adquirido durante o império romano, foi gradualmente sendo perdido. O
conhecimento vitruviano sobreviveu intacto no reino de Constantinopla, mas foi praticamente extinto no
Ocidente.
Com a influência bárbara, as formas clássicas e puras de Roma transformaram-se gradualmente numa
arquitetura diferente – a medieval. O Colégio dos Construtores de Roma, preservado durante o império, fora
totalmente dispersado e apenas alguns conhecimentos individuais foram conservados. Com a perda da
autoridade central, grupos autônomos de homens, com conhecimento da arte de construir, se reuniram
numa espécie de federação de mestres pedreiros que mantiveram o controle sobre a construção das
catedrais, castelos, pontes, etc. nos séculos seguintes.
De acordo com a antiga tradição maçônica, membros do disperso Colégio Romano de Arquitetos
fugiram para Comacina, uma ilha fortificada do lago de Como, no norte da Itália, onde resistiram durante
vinte anos às incursões dos lombardos que tinham invadido o país. Quando, finalmente, foram subjugados,
os reis lombardos tomaram os mestres construtores a seu serviço. A partir deste centro, os comacinos,
espalharam-se por toda a Europa ocidental e setentrional, a serviço dos governantes dos estados que
nasceram após a queda do Império Romano do Ocidente.
Os comacinos estavam, principalmente, a serviço de Rotharis, um rei lombardo, que a 22 de
novembro de 643 d.C. fez publicar um édito que, entre outras coisas, também se referia aos comacinos. O
título do Artigo 143 desse édito era Dos Mestres Comacinos e seus Colégios. O Artigo 144 dispunha: “Se uma
pessoa qualquer empregar ou contratar um ou mais mestres comacinos para projetarem uma obra (.......) e
acontecer de um comacino ser morto durante a sua execução, o proprietário da obra não será considerado
culpado.” Pode-se deduzir daí que os comacinos constituíam um poderoso corpo contra o qual o rei achava
que seus súditos deveriam ser protegidos. Joseph Fort Newton, em seu livro The Master Builders, fala de uma
pedra gravada no ano 712 que mostrava que a guilda dos comacinos estava organizada em duas classes:
discipuli et masgistri (aprendizes e mestres – como também consta no Estatuto de Bolonha, de 1248,) sob as
ordens de um gastaldo,, uma espécie de Grão-Mestre.
Como qualquer outro grupo de técnicos dotados de habilidades especiais, os comacinos ocupavam
uma posição de poder e de influência. Em quase toda a Europa Setentrional, onde se encontravam os sinais
da arquitetura romana, os comacinos eram solicitados para a construção dos grandes monumentos. Como os
magos, astrólogos e geomantes que cercavam a corte, nenhum rei respeitado da Idade das Trevas podia ficar
sem o seu séqüito de comacinos. Durante seu reinado, estes reis e nobres construíam seus palácios, capelas e
igrejas e, após a sua morte, os comacinos também construíam os seus mausoléus, como o de Teodorico em
Ravena, na Itália, ou de Estevaldo em Repton, na Inglaterra. Essas igrejas e esses mausoléus, até hoje, são o
testemunho do conhecimento dos Mestres comacinos sobre a Geometria Sagrada e sobre a arte de construir.
As igrejas de pedra da Northumbria e as obras-primas erigidas após a renascença, sob o patrocínio do
imperador Carlos Magno, apresentam já um avanço na complexidade e na sofisticação. Um ponto de
referência neste processo é a Capela Palatina de Aachen (Aix-la-Chapele); trata-se de uma igreja redonda,
baseada no octograma. A arquitetura da capela apresenta o retorno das influências do Império Romano do
Oriente, que naquela época ainda florescia ao redor de Constantinopla. A análise de muitas igrejas saxônicas
de Essex demonstrou que retângulos de raiz 3, 4, 5, 6 e mesmo 7 eram gerados para as suas plantas baixas,
através de um método geométrico. As igrejas de Inworth, Streethall, Checkney, Hadstock, Little Bardfield,
Fobbing, Corringham e White Roding possuem razões comprimento/largura que se aproximam da raiz 3. A
proporção geométrica, incomum em tempos posteriores, era o resultado da determinação das dimensões da
fundação, por meio de uma corda com nós, exatamente como na prática egípcia antiga.
A orientação da linha do centro – o equador da Loja Maçônica - era determinada pela observação
direta do nascer do sol, no dia do padroeiro local. O mestre maçom demarcava a metade largura pré-
estabelecida da igreja, ao sul da linha do centro. Um assistente caminhava então para o norte da mesma
linha, esticando e deixando a corda junto ao solo. Em seguida, traçava-se um quadrado no piso e, do
quadrado, construía-se um retângulo de raiz 2. A diagonal desse retângulo era então medida com a corda, e
dessa maneira se obtinha um retângulo de raiz 3. O retângulo da planta baixa da nave podia então ser
completado, usando-se a corda para medir a igualdade das diagonais deste retângulo.
Esse método parece particularmente saxão, pois a igrejas normandas posteriores foram assim
construídas, geralmente com base no quadrado duplo, o ad quadratum. Os maçons de Carlos Magno
utilizaram os métodos adotados posteriormente pelos normandos, e esses métodos, inicialmente
considerados “bárbaros”, se tornaram clássicos na Geometria Sagrada. A arquitetura de Carlos Magno e as
suas imitações revitalizaram os métodos romanos, utilizados na famosa igreja redonda de San Vitale em
Ravena, na Itália. Essa igreja foi construída no século VI por maçons de Constantinopla que haviam absorvido
o conhecimento da geometria oriental, juntamente com alguns dos seus métodos de construção.
Vários séculos depois, o influxo das idéias árabes veio enriquecer o conhecimento romano, o que
possibilitou a construção das grandes catedrais do período gótico. A infusão das técnicas do mundo islâmico
constituiu importante desenvolvimento na história da arquitetura sagrada ocidental. As idéias e as práticas
geométricas do mundo clássico tardio vieram enriquecer o acervo árabe, quando eles (os árabes)
conquistaram cidades de importância vital, como Alexandria. Textos, como os Elementos de Geometria de
Euclides, foram traduzidos para o árabe e aplicados na nova arquitetura sagrada, exigida pela nascente fé do
Islã.
Por volta do século XI, com a emergência de estados nacionais relativamente estáveis, as técnicas de
construção na Europa chegaram a um alto ponto de perfeição do estilo românico, sobrepujando até mesmo
as melhores obras do velho Império Romano. A técnica de construção de grandes arcos fora dominada, e os
construtores haviam aperfeiçoado tanto as junções de argamassa, que um cronista do século XII comentou
que as pedras da catedral de Old Sarum, iniciada em 1102, estavam tão bem colocadas, que se poderia
pensar que toda a obra era feita de uma única pedra
A esse elevado nível de perfeição somou-se um novo elemento – o arco pontiagudo, uma revolução
geométrica originária da arquitetura islâmica. Afirma-se que o arco pontiagudo teve origem na Europa no
Mosteiro beneditino italiano de Monte Cassino, construído entre 1066 e 1071. Alguns dentre os maçons que
trabalharam nesse projeto, senão todos eles, eram cidadãos de Amalfi, uma república marítima e comercial
italiana, que possuía postos comercias em lugares tão distantes quanto Bagdad. Com esse intercâmbio, foi só
uma questão de tempo para que os segredos da geometria dos maçons árabes fossem incorporados à
Geometria Sagrada ocidental, para formarem um novo estilo transcendente, conhecido universalmente como
estilo gótico, nome pejorativo que lhe foi dado no século XIII e que se referia aos godos, povo considerado
bárbaro, que invadiu a Europa ainda ao tempo do Império Romano.
O arco pontiagudo, que introduziu esta revolução, é obtido pela interseção de dois arcos. Em sua
forma perfeita, esse arco é a metade posterior do vesica piscis. É estranha a coincidência de que o patrono de
Amalfi seja Santo André. Aquilo que é tido como suas relíquias ainda repousa lá, e sua efígie dourada segura
um peixe – o emblema do VESICA.
Embora os pacíficos comerciantes de Amalfi importassem o arco pontiagudo, os outros segredos
maçônicos do Islã não foram conseguidos sob a égide do comércio.
A 27 de novembro de 1095, o Papa Urbano II conclamou a cristandade a liberar os lugares santos e a
devolvê-los ao cristianismo. Milhares de homens piedosos, sacerdotes, monges, mercenários, soldados
regulares e oportunistas atenderam ao chamado do Pontífice. A Primeira Cruzada foi bem sucedida. Nicéia foi
capturada em 1097; no ano seguinte caiu Antioquia e a 15 de julho de 1089 a cidade santa de Jerusalém
rendeu-se aos exércitos do cristianismo, após um cerco de apenas seis semanas.
Com esse sucesso, os “francos”, como eram conhecidos os cristãos ocidentais, prosseguiram na obra
de consolidação de suas conquistas. Para assegurar o domínio do país, os antigos castelos do país foram
reforçados, e novos castelos foram construídos em pontos estratégicos. Os maçons empregados na
construção desses castelos utilizaram o trabalho escravo, que sem dúvida incluiu uma boa quantidade de
maçons árabes, pois seus desenhos incorporam muitas características desconhecidas dos artífices europeus.
O entusiasmo dos maçons daquele período foi justificado pela rapidez com que as novas idéias
conquistaram a Europa. A estrutura completa das abóbadas de pedra, reforçadas com traves, conhecidas
apenas na Pérsia e na Armênia antes do ano 1100, foi utilizada na distante Catedral de Durham já em 1104.
Em Gales, a Abadia de Neath foi construída por um dos maçons do rei Henrique I, Lalys, um prisioneiro de
guerra sarraceno. Suas técnicas, aprendidas no Oriente Médio, foram sem dúvida transmitidas aos maçons
ingleses e galeses que com ele trabalharam nesse projeto.
Outro elemento importante na época, foi a redescoberta das obras de Euclides, o geômetra grego.
Sua obra fora considerada perdida para a Europa com a queda do Império Romano; sobrevivera apenas nas
traduções árabes. Por volta de 1120, o inglês Adelard of Bath fez uma tradução dos Elementos do árabe para
o latim, o que tornou acessíveis aos maçons europeus os conhecimentos de Euclides sobre a Geometria. O
modo de transmissão dessa obra seminal para a Inglaterra não é conhecido, mas os Cavaleiros Templários,
que detinham o conhecimento arcano tradicional, podem tê-la obtido de uma fonte árabe conquistada.
Ao longo dos séculos XII e XIII, foram desenvolvidas e refinadas as primeiras formas góticas. Os
métodos islâmicos foram estudados e incorporados numa nova linguagem, que passou de mão em mão, com
a explosão do simbolismo místico. As grandes catedrais dessa época, como as de Chartres e de Paris (Notre
Dame), apareceram numa forma completamente nova, num tempo consideravelmente curto. Sua
construção, executada com um fervor literalmente religioso, continua sendo uma proeza de organização. Um
novo conceito arquitetônico da Geometria Sagrada estava já implantado, e seguindo o seu curso.
Embora as igrejas redondas configurem um tema praticamente contínuo em toda a arquitetura
sagrada do mundo cristão, elas ocupam um lugar especial e um pouco herético no esquema da Geometria
Sagrada. O edifício redondo ocupou um lugar especial na iconografia cristã, pois fora a forma escolhida para o
Santo Sepulcro, que marcara o lugar do túmulo de Cristo. Como a forma circular desses edifícios
representasse a reprodução micro cósmica do mundo, as igrejas redondas representavam em toda a pare os
micro cosmos locais que representavam o omphalos geomântico.
As igrejas redondas derivaram originalmente dos templos pagãos primitivos, que tinham a mesma
forma. Os templos romanos redondos de Tivoli e Spalato, que sobreviveram até aos tempos modernos, são
típicos dos santuários que inspiraram os geômetras sagrados cristãos. O templo de Tivoli foi baseado no
modelo grego, com colunas externas, mas o de Spalato, que fazia parte do complexo do palácio do imperador
Diocleciano, já possuía colunas internas. Esse templo, planejado segundo o octógono, como muitas igrejas
templárias posteriores, foi o protótipo dos santuários cristãos primitivos, tais como o de San Vitale em
Ravena, que por sua vez influiu sobre o estilo da capela de Carlos Magno. Na Idade Média tardia, elas foram
adotadas pelos Cavaleiros Templários.
A Ordem do Templo foi constituída em 1118 em Jerusalém, com a função aparente de prover
proteção aos peregrinos da Terra Santa. O seu poder cresceu, e logo a Ordem se tornou fabulosamente rica e
capaz de erigir capelas e igrejas por toda a Cristandade, como, por exemplo, a igreja do Templo em Londres.
A forma redonda da igreja tornou-se relacionada com a Ordem e, no centro de suas igrejas, não havia
nenhum altar, mas sim um cubo perfeito, de pedra talhada, que era um dos mistérios dos Templários.
A ordem foi extinta em 1314, mas antes disso os Templários construíram templos redondos por toda
a Inglaterra: Cambridge, Bristow, Canterbury, Dover, Warwick. O de Londres era a sua base principal, por ter
sido construído segundo a forma do templo que está mais próximo do sepulcro de Cristo, em Jerusalém.
Atualmente, apenas seis igrejas redondas existem nas Ilhas Britânicas, duas delas em ruínas. A igreja do
Templo em Londres teve a sua cúpula destruída pelos alemães na 2ª Guerra Mundial, mas foi reconstruída.
Como já dito, as igrejas redondas pertencem a uma tradição separada da corrente principal da
Geometria Sagrada. Com a extinção dos Templários, a forma redonda das igrejas foi eliminada, até que a
Renascença a redescobrisse, diretamente das fontes pagãs antigas. Mas foi novamente suprimida, quando a
Igreja reconheceu as suas origens.
A forma redonda, ao contrário de outros padrões, tais como a Cruz Latina, não representava o corpo
de um homem ou o corpo de Deus. Ao contrário, representava o mundo, o domínio da matéria e, em termos
cristãos, as forças satânicas (na Idade Média satã era figurado como Rex Mundi – o rei do mundo). No
costume Templário, essa materialidade era enfatizada pelo cubo que se situava no centro da rotunda. O cubo
no interior do círculo representava a terra nos céus, a fusão dos poderes considerados heréticos pelos
cristãos medievais. Com esse simbolismo exposto, não foi difícil provar a acusação de heresia contra os
Templários. Princípios islâmicos conhecidos, derivados da ala mística do maometismo, os Sufis, só serviram
para amaldiçoar ainda mais os Templários.
Mas o conhecimento técnico islâmico era de outra natureza. Daí que um segundo período de forte
influência islâmica na arquitetura européia se manifestou, o que contribuiu para eliminar o chamado gótico
puro da Catedral de Chartres. Durante o século XIII, as hordas mongóis saíram de sua base na Ásia Central e
se converteram numa séria ameaça ao Oriente Médio e à Europa. Após a primeira fase de expansão, o
Império Mongol estava consolidado com seu posto avançado na Pérsia, sob o governo de um vice-rei, que
atendia pelo título de ILKHAN. Tendo deixado de representar uma ameaça à Cristandade, os mongóis logo
foram vistos como aliados contra os turcos. Vários reis cristãos enviaram emissários a sucessivos IlKhans, a
fim de cultivar essa aliança.
Digno de nota foi o Olkhan Arghun (1284-1291), que manteve relações com muitos estados cristãos.
Ele chegou a enviar uma embaixada a Londres, em 1289. Em troca, o rei Eduardo I da Inglaterra enviou uma
missão comandada por Sir Geoffrey Langley à Pérsia. Langley participara de uma cruzada com o rei no
começo dos anos 70 e viajara à Pérsia via Constantinopla e Trebizonda, em 1292. Tais embaixadas eram um
canal para a transmissão de novos conhecimentos. Os arquitetos asiáticos misturaram as suas técnicas com a
tradição islâmica persa e, aos poucos, o seu estilo foi absorvido pelos maçons europeus.
Um edifício do período Ilkhan, que exerceu grande influência na Europa, foi o famoso mausoléu do
Ilkhan Uljaitu, em Sultaneih. No início do século XX, o erudito alemão Ernst Diez fez estudo completo desse
memorial, e concluiu que toda a sua estrutura é determinada por dois quadrados interpenetrados, que
formam um octógono. A partir da base octogonal derivou-se a elevação, pelo uso de triângulos e de
quadrados. A altura do mausoléu, medida por M. Dieulafoy nos anos 80 do século XIX, é de 51 metros, e o
diâmetro interno tem exatamente a metade. Um sistema de razões derivadas geometricamente, foi a origem
básica dessas medias; os arquitetos persas levaram a medida do diâmetro principal das suas colunas para as
dimensões dos arcos ou domos, em relações determinadas e proporcionais às outras partes do mausoléu.
Neste mausoléu, o ponto básico de partida foi a dimensão do diâmetro da câmara mortuária.
A arquitetura deste mausoléu foi o ponto de partida que influenciou o octógono da Catedral de Ely,
no leste da Inglaterra. A origem oriental desta geometria não deteve os mestres maçons no desenvolvimento
de seus projetos. Como técnicos progressistas, eles acolheram com prazer as novas idéias orientais e as
incorporaram às suas últimas obras. Estes princípios transcendentes foram adotados pelos maçons que, por
conhecerem o simbolismo, estavam capacitados para trabalhar com novas e insuspeitadas técnicas.
O conhecimento acumulado da Pérsia e de outros países do Oriente Médio foi logo aumentado, com
informações provenientes de outros lugares. Em 1293, missionários cristãos foram da Itália à China, e em
1295 Marco Polo retornou a Veneza, vindo de Pequim. Com esse intercâmbio sem precedentes, era inevitável
o enriquecimento da Geometria Sagrada. Um exemplo disso é o Grande Salão da Piazza della Ragione, em
Pádua. Foi desenhado por um frade agostiniano chamado Frate Giovanni, por volta de 1306. Giovanni
trabalhara em muitos lugares da Europa e da Ásia, e trouxera planos e desenhos dos edifícios que vira. Em
Pádua, reproduziu um vasto teto de vigas que vira na Índia, e que media 240 por 84 pés.
Outras influências orientais podem ser demonstradas pelo aparecimento simultâneo de temas
exóticos em lugares bastante distantes entre si. O arco de gola, no qual os arcos que formam o arco principal
são voltados para fora - uma característica arquitetônica adota para as portas e janelas - apareceu
simultaneamente em Veneza e na Inglaterra. Detalhes da porta da Catedral de St. Mary Redcliffe, em Bristol,
e no castelo de Berkeley, também apresentam uma influência oriental inconfundível, que pode ser
comparada com a obra de Lalys, em Neath.
Visitas de pessoas cultas à Terra Santa, como por exemplo Simon Simeon e High, o Iluminador, em
1323, também serviram para reforçar o interesse dos círculos monásticos pelo desenho oriental. O estilo
“perpendicular” na Inglaterra, que surgiu por volta do final do século XIV, foi prenunciado pelos hexágonos
alongados dos edifícios muçulmanos egípcios do século XIII. Os elementos verticais que cruzam a curva de um
arco, uma característica importante do desenho da Capela do King’s College em Cambridge (iniciada em
1446), já existiam no Mausoléu de Mustapha Pasha no Cairo, construído entre 1269 e 1273.
Os maçons da Europa assimilaram prontamente as técnicas da arquitetura simbólica do Islã,
realçando-a e trazendo-a para a realidade cristã européia.
No final do séc. X, quando começou o período de construção de catedrais, as Lojas Maçônicas foram
formadas para garantir a organização necessária durante a construção dos edifícios.
A Igreja, o Rei ou o nobre que desejassem construir uma catedral, um castelo ou um palácio,
empregavam um Mestre Maçom que estabelecia a sua própria organização, e usualmente atuava como
arquiteto e chefe geral da obra.
Este grupo de Maçons construía uma estrutura temporária (canteiro de obras), que funcionava como
local de armazenamento dos materiais e como local de administração da construção. Nos primeiros tempos,
este local era também usado como refeitório e dormitório dos obreiros, sendo então chamado de Loja.
No período inicial, a Loja era composta de Aprendizes, Companheiros e um Mestre (na Itália só havia
Aprendizes e Mestres – Estatuto de Bolonha, de 1248). Os regulamentos e normas de trabalho, indispensáveis
durante a obra, eram então escritas e norteavam a vida profissional e pessoal dos obreiros. Tanto o Estatuto de
Bolonha quanto o Manuscrito Cooke, de 1430 d.C., mencionam em detalhes as responsabilidades dos Mestres
e dos demais obreiros.
Além destas leis, existiam os segredos que eram mantidos invioláveis em cada Grau da Instituição.
Somente o Mestre conhecia e entendia todos os segredos, que eram principalmente o conhecimento das
fórmulas da Geometria Sagrada e a capacidade de aplicá-las aos projetos de arquitetura.
Foi o trabalho destes Maçons Operativos que desenvolveu e introduziu na Europa o estilo gótico, em
substituição ao estilo românico que, por mais de 400 anos, foi o estilo predominante na maioria dos países
deste continente.
Hoje, não mais Operativos, os Maçons devem um preito de gratidão e de reconhecimento àqueles
Irmãos que, pelo seu engenho e arte, nos legaram as construções que tanto maravilham os olhos dos milhões
de pessoas que os visitam e que sabem apreciar a excelência do Estilo Gótico.
Os Godos, Visigodos e Ostrogodos, eram povos teutônicos, originários das Gálias e da Germânia que,
passando o mar Báltico, invadiram toda a Europa e migraram para o sul, estabelecendo-se na região do mar
Negro e do rio Danúbio. Estas invasões ocorreram entre os séculos III e V d.C., e estes povos, erroneamente
considerados bárbaros, atacaram e venceram o poderoso império romano, devastando a região dos Bálcãs e do
Mediterrâneo.
As novas catedrais mantiveram e ampliaram o formato da parte oriental das catedrais românicas
francesas, (onde fica o altar-mor) que inclui o corredor semicircular conhecido como o ambulatório, as capelas
radiais, e a alta abside poligonal (às vezes quadrada) que cerca o altar-mor. A nave gótica central e o coro são
igualmente de procedência românica.
Quando se compara um templo românico com um gótico, verifica-se de imediato a maior altura e
graciosidade deste estilo. As naves dos templos góticos são muito mais altas. Havia a necessidade de abrir
janelas nas paredes e, para isso, era necessário aliviar o seu peso, fazendo-as mais finas, concentrando as
cargas das abóbadas em determinados pontos, fazendo com que as paredes deixassem de receber os esforços
de sustentação destas abóbadas. Este alivio do peso das paredes permitiu a abertura das janelas laterais na
nave principal. A maior altura da nave central deve-se ao fato de suas janelas serem abertas por cima das naves
laterais, permitindo assim a iluminação natural da nave central.
O uso de arcos ogivais em diagonal permitiu direcionar o peso das abóbadas para os contrafortes, que
por sua vez descarregam estas pressões no solo. Para isso, foi fundamental a adoção do arco ogival, que recebe
diretamente as pressões exercidas pelo teto.
No estilo gótico, os contrafortes não são mais as colunas internas encostadas (adinteladas) nas paredes,
mas são erguidas na parte exterior das naves laterais. O segmento de arco que recebe a pressão exercida pelo
peso da abóbada e que a transmite ao contraforte, chama-se arcobotante. O arcobotante recebe a pressão da
abóbada e se apóia no contraforte. Assim, no templo gótico existe uma série de forças em equilíbrio, que se
compensam umas às outras. Os contrafortes e os arcobotantes são os elementos que sustentam todo o
edifício. As catedrais de Leon e de Valência – Espanha, a catedral de Notre Dame em Paris, e a de Reims –
França - mostram claramente estas estruturas, com seus contrafortes voadores e seus arcobotantes
No gótico, as janelas são tão grandes que reduziram o edifício a um simples esqueleto de pedra,
fechado por janelas. Estas janelas são, forçosamente, ogivais. Uma outra solução é subdividir a abertura em
dois arcos ogivais mais reduzidos, encimados por uma pequena rosácea.
A fachada principal das igrejas góticas é delimitada por duas torres que partem da base das naves
laterais. Estas torres são perfuradas por janelões e galerias porticadas e rematadas por campanários,
normalmente terminados em agulha. No meio das duas torres situa-se a rosácea, imenso círculo que deixa
passar a luz em sentido longitudinal, iluminando o altar-mor ao fundo da igreja (também se usava, como em
Notre Dame, fazer rosáceas na parede que fica atrás do altar principal) Esta rosácea pode ser aberta
diretamente na parede ou enquadrada por um arco ogival. A arcaria que rodeia a rosácea constitui mais um
elemento decorativo, servindo também para delimitar as diferentes partes do vitral ali colocado.
No seu conjunto, a fachada gótica divide-se em três partes horizontais: a inferior ou base, onde estão as
três portas ou entradas do templo; a porta central, maior do que as laterais. Nas portas, que apresentam forma
ogival, podem distinguir-se as arquivoltas, muito trabalhadas e esculpidas (as portas do Batistério Octogonal de
Florença são de ferro fundido, mostrando cenas Bíblicas).
No segundo trecho horizontal (acima das portas) estão as grandes janelas e a rosácea. Separando esta
segunda parte do primeiro e do terceiro trecho horizontal da fachada, encontram-se duas faixas, à maneira de
friso. Numa destas faixas, em toda a extensão da fachada, costuma haver uma sucessão de esculturas,
representando reis, santos ou personagens bíblicos. No terceiro trecho horizontal situam-se os campanários
das naves.
O gótico caracteriza-se pelo intenso trabalho feito pelos construtores na pedra, usando o malho e o
cinzel. Também os vãos são emoldurados e esculpidos. Existem ainda pequenas capelas, com colunas góticas, e
pináculos e baldaquinos.
A pilastra gótica forma uma espécie de coluna que se eleva a bastante altura, até ao início dos arcos
diagonais (ou cruzados) que sustentam a abóbada, e que descem até ao piso adossados (apoiados) no seu
fuste.
Existem ainda outros elementos secundários ou ornamentais, além das gárgulas, que compõem o estilo
arquitetônico gótico.
O primeiro exemplo de arquitetura gótica, que iria prosseguir com a construção das catedrais do norte
da França, foi a Abadia Real de Sainte Denis, onde eram sepultados os reis e rainhas franceses, construída nos
arredores de Paris em 1140 d.C. A abadia de Sainte Denis foi o marco inicial que levaria à construção da
primeira grande catedral gótica, Notre Dame de Paris, iniciada em 1163 d.C., seguida da catedral de Reims,
iniciada em 1210 d.C.. Reims representa o ápice da evolução do gótico clássico. Seguiram-se depois as catedrais
de Bourges, (1195 d.C.) e Amiens (concluída em 1288 d.C.) com sua belíssima nave central, suas agulhas de
pedra trabalhada e, sobretudo, suas lindas rosáceas. Ainda na França destacam-se, por sua beleza, as catedrais
de Chartres, (concluída em 1260 d.C.) e Rouen ou Ruão em português, concluída em 1415 d.C. Há a destacar
ainda a capela – Sainte Chapelle - mandada construir por Louis IX entre 1242 e 1248 na Ile-de-la-Cité, bem
próximo da Catedral de Notre Dame, e cujas paredes são totalmente pintadas com a Flor de Liz, símbolo maior
da França. (a Ile-de-la-Cité é uma ilha no centro do Rio Sena, na qual foi fundada a cidade de Lutetia, a primitiva
Paris. Neste local foi queimado na fogueira o Grão-Meste do Templo, Jacques De Mollay). A influência do estilo
gótico francês estendeu-se à maioria dos paises europeus.
Na Alemanha, a sala capitular de Marienburgo é um exemplo clássico das abóbadas góticas, com seus
arcos entrecruzados. A Catedral de Colônia, na Alemanha, (começada em 1248 d.C.) na cidade do mesmo nome
(Koln) é algo para não deixar de conhecer, com sua maravilhosa nave principal, que é a mais alta de todas as
catedrais góticas. Na Bélgica – Bruxelas – é notável a catedral de Santa Gúdula.
Na Itália, o gótico nunca foi a expressão dominante da arquitetura medieval. As catedrais romanas,
incluindo as de São Pedro, San Giovani in Laterano, (São João de Latrão) e a catedral de Florença (com seu
famoso Batistério românico) receberam quase nenhuma influência do gótico francês, sendo muito
influenciadas pelo “italianate”, estilo próprio italiano, como pode ser visto na catedral de São Marcos Veneza
(com seus subterrâneos inundados pela laguna), que praticamente nada tem do estilo gótico. O Palácio dos
Doges em Veneza, (construído ao lado da catedral de São Marcos, e atrás do qual fica a famosa Ponte dos
Suspiros (os presos que por ela passavam, suspiravam porque iam para os calabouços do Doge, de onde não
mais saíam) e a Torre do Município de Verona, são do mais puro estilo gótico. As catedrais de Siena e Orvieto,
têm em suas fachadas meras reminiscências do estilo gótico.
Na Espanha, o gótico pode ser apreciado nas catedrais de San Juan de los Reyes, em Toledo, na
Catedral de Burgos, e na Catedral de Santa Maria Del Mar, em Barcelona. Belíssimas são também as catedrais
de Gerona e de Palma de Maiorca, nas Ilhas Canárias.
Por último, não devemos esquecer a influência do estilo gótico na Escultura, na Pintura e nas Iluminuras
(bastante usadas pelos frades copistas de documentos, na Idade Média).
Eis aqui um simples esboço do Estilo Gótico, que bem poderia ser chamado de estilo maçônico, honra e
glória dos nossos Irmãos da Maçonaria Operativa.
A CATEDRAL GÓTICA DE MILÃO
Referências Bibliográficas