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Estudos Bíblicos

Cristologia
Material Teórico
A Cristologia nos Reformadores e no Concílio Vaticano II

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Reuberson Rodrigues Ferreira

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
A Cristologia nos Reformadores
e no Concílio Vaticano II

• Introdução;
• A Cristologia sob a Perspectiva de Lutero, Calvino e Zuínglio;
• Concílio Ecumênico Vaticano II: Aspectos Diversos;
• Conclusão – Revisão.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Apresentar, dentro da matiz protestante e católica, peculiaridades sobre o entendi-
mento acerca do Cristo.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Cristologia nos Reformadores e no Concílio Vaticano II

Introdução
Caro(a) estudante:

O apaixonante processo de compreensão da reflexão cristológica e seu avançar


pela história tem sido a pauta primeira deste curso como um todo. Da pergunta dos
apóstolos até a sistematização dessa reflexão nos vários concílios chamados ecumê-
nicos, tem nos levado a uma descoberta cada vez mais profunda e inebriante sobre
o Cristo da fé. Aquele que após mais de dois mil anos de história do cristianismo,
ainda desperta no leitor destas páginas e de tantos outros, indagações e inquieta-
ções, isto é, a figura do Galileu de Nazaré que para os seus discípulos é reconhecido
como Kyrios, Senhor (Cf. At 2:36). Título assumido desde a primeira hora quando
seus discípulos, através da infusão do Espírito Santo, após passarem do torpor e da
tristeza pela morte de seu mestre, à certeza e à convicção de que aquele a quem eles
seguiram, era de fato o Salvador de Israel (At 3:18; 13:23); o Messias esperado,
como atesta o conteúdo do primeiro anúncio, o chamado kerigma (At. 2:36; 9:22).

Nesta unidade, avançaremos de modo particular por dois eventos pontuais da


reflexão cristológica. Quer-se apresentar para os leitores, por um lado, a reflexão
que os três teólogos considerados pais do protestantismo - Lutero, Calvino e Zuglio
- refletiram sobre Cristo. De outro, para o universo cristão-católico, quer-se apre-
sentar o que um evento, chamado pelo católicos como maior evento do século XX,
refletiu sobre o cristo. Para aqueles que, embora cristãos, não se identificam com
nenhuma dessas tradições religiosas, o relevante desta explanação é a capacidade
de entender como tradições religiosas moldadas por seus pressupostos teológicos
são capazes de estruturar, sedimentar e moldarem-se por uma reflexão cristológica.

O objetivo desta sessão, tal como das anteriores, é adentrar de maneira di-
dática e prática naquilo que ao longo da história nos eventos mais significativos
para as tradições católicas e protestantes foi construído como reflexão cristológica.
A proposta é apresentar o que, nos país do Protestantismo e no Concílio Vaticano
II foi estabelecido como verdade acerca de Jesus Cristo. De Lutero ao Vaticano II, o
ideal é imergir o estudante no que foi definido como refletido sobre Jesus na pena
dos teólogos de cada período.

Do ponto de vista metodológico, o percurso será simples. Em dois grandes frag-


mentos, apresentaremos o contexto em que surgiu a chamada reforma protestante
bem como Concilio Vaticano II. Contíguo a isso, apresentaremos o que cada ins-
tância refletiu sobre Cristo. Dado o percurso anunciado, enveredemos pelas sendas
daquilo que os pais da reforma protestante refletiram sobre o Cristo.

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A Cristologia sob a Perspectiva
de Lutero, Calvino e Zuínglio
Antes de adentrar na questão propriamente dita cristológica tratada sob a ótica
de Lutero, Calvino e Zuínglio, convém recordar ao estudante o que foi a reforma
protestante, suas raízes, seus efeitos e sua história.

A reforma protestante é um movimento religioso que salta aos olhos como defi-
nidor dos rumos do cristianismo universal. A rigor, ele não foi o primeiro evento que
abalou a estrutura e a unidade de Igreja. Outros acontecimentos como o grande cis-
ma do ocidente (1054) já haviam sido elementos de divergência ou causaram fissura
na unidade da Igreja Universal. A reforma protestante, contudo, emulou um conjunto
de ideias religiosas e políticas que facultou mudanças em nível eclesial e extraeclesial.
“A reforma protestante desencadeou mudanças não apenas no contexto
religioso, mas também nas esferas extraeclesiais. É fato que a reforma
contribui decisivamente para libertação do Espírito crítico da nova socie-
dade ocidental” (MURAD, et. Ali, p.103).

Reforma Protestantes: Alguns Aspectos


Inesquecível, sem dúvida, para a História eclesiástica é, entre outras datas, o dia
31 de outubro de 1517. Trata-se do dia em que Martin Lutero, Monge católico,
afixou, segundo o costume acadêmico, na porta da Igreja do Castelo e da Univer-
sidade de Wittenberg suas “95 Teses”. A motivação primordial era sua aversão à
sobrevalorização das indulgências papais e uma “catequese” sobre o real valor des-
sa prática. Esse ato desencadeou uma série de fatos. Embora houvesse precedentes
em nomes como João Wycliff (1325-1384), João Huss (1372-1415) e Jerônimo
Savonarola (1452-1498), a história remete a Lutero o fundamento do que logrou
o singular nome de reforma protestante.

As razões que concorreram para consolidação da reforma protestante foram de


várias ordens: religiosa, política e econômica. No últimos anos do que se chamou
de idade média, havia muita convulsão política, social e religiosa: revoltas dos cam-
poneses, guerras, epidemias (Peste negra) o declínio do feudalismo e da liderança
dos Papas e da Igreja. A população se ressentia dos abusos da Igreja e da sua falta
de propósitos, de seus escândalos e corrupção. Associava-se a isso muita violência,
baixa expectativa de vida, contrastes e desigualdades sociais e econômicas às vés-
peras da Reforma. Havia até mesmo certa revolta com a chamada “contabilidade
salvífica” que tratava pecados como débitos e as boas obras como créditos. Nesse
universo, a venda de “indulgências”, a busca de relíquias de santos, a flagelação,
tornavam-se viés aos quais os fieis recorriam como caminho de salvação, sem uma
conversão necessária.

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UNIDADE A Cristologia nos Reformadores e no Concílio Vaticano II

Essas ideias associadas a outras inquietações levaram o monge agostiniano a


fixar na Universidade de Wittenberg suas “95 Teses” em 1517. Contíguo a isso,
Lutero foi chamado a retratar-se num episódio chamado de Dieta de Worns diante
da autoridade eclesial, o que ele não fez. Foi, por isso, excomungado e iniciou, não
sem conflito com católicos, o que se chamou de reforma protestante. Ela se espa-
lhou rapidamente pela Europa. Deve-se dizer que muitas guerras político-religiosas
entre católicos e protestantes, de 1546 a 1555, ocorreram. Elas cessaram com
tratado de “Paz de Augsburgo” que reconheceu a legalidade do luteranismo como
religião oficial nos territórios cujos príncipes a adotassem como tal.

O protestantismo se espalhou pela Suécia, Dinamarca, Noruega e Islândia. Fo-


ram defendidos princípios básicos que caracterizaram as convicções e práticas pro-
testantes nomeadas solas, que veremos em minúcias a seguir.

Largos traços, a reforma protestante se iniciou com o monge católico Marti-


nho Lutero. Tratava-se de um movimento de contestação aos princípios da Igreja
católica que conflitavam com valores apresentados pelo ex-monge agostiniano.
Esse movimento de caráter, inicialmente, religioso ganhou contornos políticos e
difundiu-se rapidamente pela Europa.

Lutero, o Protestantismo e a Cristologia


Martin Lutero, nascido em 1483, Eileben, morreu em 18 de dezembro de 1546.
Ele estudou filosofia e iniciou o curso de direito, a pedido de seu Pai. Em segui-
da, entrou no convento dos Eremitas observantes de Santo Agostinho em Efrut.
Em 1507, faz seus primeiros votos e em 1508 ordenou-se sacerdote. Foi professor
de ética e exegese bíblica na universidade de Wittenberg. Ele, como sabido, tornou-
-se excessivamente decisivo para o protestantismo a partir da publicação de suas
noventa e cinco teses contra a exacerbada valorização das indulgências vendidas
a absurdos preços. Segundo MEYER & ISERLOR, inicialmente Lutero não era
contra as indulgências, todavia, sua atitude era para contestar o Dominicano João
Tetzel que vendia, a pedido do Bispo Alvercht Von Brandeburg, para construção
da Basílica de São Pedro em Roma, indulgências com um valor econômico absur-
do, prometendo graças inatingíveis. Assim, entre outras coisas, Lutero limita em
sua tese o valor das indulgências, afirmando que elas são apenas “... dispensas de
penas eclesiásticas” (Cf. BHILMEYER, k & TUECHLE. p. 23-24). Nas próprias
teses de Lutero, vejamos:
“O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas
que impôs por decisão própria ou dos cânones” (tese V); Erram, portanto,
os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de
toda pena e salva pelas indulgências do Papa. (tese XXI, disponível em:
(<www.lutero.com.br>)

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Suas teses são rapidamente difundidas em toda Alemanha. Por isso, Lutero
é submetido a um processo no qual é acusado de heresia. Ele recebe uma bula,
“Exsurge Domine”, alertando para que reveja, no mínimo, quarenta e um pon-
tos de sua doutrina. Essa bula Pontifícia ele queima. Finalmente em 03 de janeiro
de 1521 é excomungado da Igreja católica pelo documento Pontifício: Decet
Romanum Pontificem. De todo esse movimento de Lutero, três princípios fun-
damentais podem delinear claramente o que foi o início do que mais tarde se
chamou protestantismo.

Os postulados fundantes do pensamento de Martin Lutero podem ser sinteti-


zados em cinco pontos: sola Gratia, Sola fidei, sola Scriptura, solus Christus e
sola Deo Gloria. Esses pontos serão aqui apresentados seguindo o raciocínio de
MEYER & ISERLOR (1969, p.45) que, por sua vez, seguem o Artigo Esmalcádicos
de Lutero. A Sola gratia na concepção de Lutero diz da gratuidade de Deus. Deus
é gratuito e sua “adesão ao homem não tem uma razão demonstrável. Por isso
mesmo, não pode haver razão para que ele se anule” MEYER & ISERLOR (1969,
p.46). Alargando mais o horizonte de compreensão desse tópico, o historiador
Giacomo Martina (1995, p.129-130) diz que com esse conceito o pai do protes-
tantismo rejeita toda e qualquer mediação. Do mesmo modo, nega a autoridade
pontifícia e de qualquer instituição hierárquica. Ao mesmo tempo, com este postu-
lado, Lutero retira o aspecto sacrificial da Eucaristia; destitui a autoridade sacerdo-
tal de qualquer capacidade de oferecer sacrifício e consequentemente restringe os
sacramentos à Eucaristia, ao Batismo e à penitência – esta última praticável, mas
não necessária.

Outro argumento de Lutero é o Sola Fide. De acordo com BHILMEYER & TUECHLE
(1965, p.25-26), esta descoberta de Lutero é conhecida como “Turmerlenbnis” ou “Epi-
sódio da Torre” e relaciona-se com a sua nova compreensão da passagem escriturística de
Rm 1, 171. Segundo seu entendimento, Lutero vê nessa passagem que todas as atitudes
do homem, grandes ou pequenas, boas ou más, meritórias ou desprezíveis, são desneces-
sárias à salvação humana. Elas não têm nenhuma potencialidade salvífica, somente a fé no
sacrifício de Cristo é que salva.

O terceiro ponto definitivo na “doutrina” protestante reside na supremacia da


palavra (Sola Escriptura) em face de qualquer outro mecanismo institucional – Ma-
gistério católico vigente em sua época. O conteúdo que o Sola Escriptura traz em
seu bojo é primariamente de oposição ao Magistério e à tradição Eclesiástica. Para
Lutero, somente nas Sagradas Escrituras encontram-se todas as verdades reveladas
e o paradigma para interpretá-la. Esses dois postulados, evidentemente, excluem a
tradição bem como a mediação do magistério da Igreja para interpretar e entender
as Sagradas Escrituras. Em extremo: A igreja visível é desnecessária.

1 O Texto diz: Rm 1, 17: Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.

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UNIDADE A Cristologia nos Reformadores e no Concílio Vaticano II

Associa-se a estes três solas outros dois, um chamado Solus Christus (Somente
por Cristo) e Sola Deo gloria (Somente a Deus a glória). Este se liga à certeza de
que a salvação vem de Deus e, por isso, a ele somente deve ser dado todo louvor,
toda adoração e glória. O outro, por seu turno, testifica a certeza de que Cristo é o
único viés da salvação dada gratuitamente por Deus à humanidade.

Nesse sentido, a cristologia proposta por Lutero deriva como um corolário, des-
ses cinco pontos iniciais. Ele advoga, sem parcimônia, a precedência da graça de
Deus ante qualquer ação humana no processo de salvação, a incontestável força
da fé como caminho possível para atingir a salvação sem necessidade de obras, e
ainda a centralidade da Escritura, de Cristo e da glória devida ao Senhor. Com esse
pressuposto, constitui-se a cristologia de Lutero.

A teologia reformada, oriunda de Lutero, desse modo, afirma que a Escritura e


sua doutrina sobre a graça e a fé enfatizam que a salvação é solus Christus, “so-
mente por Cristo”, isto é, Cristo é o único Salvador. A centralidade de Cristo é o
fundamento da fé protestante. Martinho Lutero disse que Jesus Cristo é o “centro
e a circunferência da Bíblia” (Bekke, 2018). Isso significa que quem ele é e o que
ele fez em sua morte e ressurreição é o conteúdo fundamental da Escritura.

Para uma leitura sobre a cristologia de Lutero, sobretudo a partir da Confissão de Ausburgo
Explor

apresentada pelo sucesso do pai do Protestantismo, Melancton convém ler: WESTPHALEU-


LER Renato. O significado da fórmula “por causa de Cristo” Uma abordagem sobre a experi-
ência da justificação a partir da Confissão de Augsburgo-IV. Estudos Teológicos, v. 43, n. 1,
p. 50-63, 2003. Disponível em: https://goo.gl/7CkCB1

Para Lutero, de igual modo, Cristo é o centro das escrituras, embora ele não fale
diretamente e continuamente sobre ele. O texto bíblico, por sua vez, é a palavra
Deus revestida de palavra humana. Assim, a imagem do Cristo na Manjedoura é a
corporificação da Palavra de Deus, eterna (MURAD, et ali. p.106). Cristo, de igual
modo, é plenamente humano e plenamente divino, a face concreta encarnada de
Deus. Por ele e nele, a plenitude da salvação chegou à humanidade, ele é, portanto,
o único salvador.

Em síntese, convém afirmar que Lutero, mesmo tendo sua teologia aprofunda
por seus discípulos, fundamentou na tradição cristã sedimentada desde os concílios
e fixou sua germinal cristologia. Assegurando que Cristo, verdadeiro homem e ver-
dadeiro Deus é e segue sendo o único caminho de Salvação.

Cristologia em Calvino
Na esteira do ex-monge agostiniano, Pai da reforma protestante, desponta um
outro paladino das ideias do protestantismo, o teólogo francês João Calvino. Entre
estudiosos e pesquisadores se diz, não sem razão, que aquilo que Lutero fizera pela
difusão das ideias reformistas na Alemanha Calvino o fizera pelos países de língua

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francesa. De fato, a vertente do protestantismo difundida por Calvino, conhecida
como calvinismo, foi bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países
Baixos, África do Sul, Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.

Calvino nasceu na Picardia, ao norte da França, em julho de 1509. Filho de


nobre família católica, associada a autoridades eclesiásticas, Calvino Cursou, a pe-
dido de seu pai, Direito, muito embora num primeiro momento tenha estudado te-
ologia. Quando Martinho Lutero afixou suas teses na basílica de Wittenberg, João
Calvino tinha apenas sete anos. O passar do tempo, não obstante, encarregou-se
de uni-los de forma visceral.

Teólogo profícuo, João Calvino condensou seu pensamento em vários escritos,


contudo, a mais importante foi a Instituição da Religião Cristã ou, simplesmente
Institutas. Essa obra fundamental gozava, na primeira edição, de apenas seis capí-
tulos; a última totalizou oitenta, foram oito edições ao todo. Nesses capítulos, está,
além de outros temas, o extrato principal da teologia, incluso da cristologia calvinista.

Para uma rápida compreensão dessa valiosa obra escrita por Calvino, pode-se ler a resenha:
Explor

ROCHA, Nelson Célio Mesquita. A Cristologia de Calvino. Rio de Janeiro. Julho-agosto, 1999.
Disponível em: https://goo.gl/Qrx2Uf

Prescindindo dos outros temas relevantes para Calvino e focando apenas na


questão cristológica, convém explicitar sumariamente o que esse reformador
pensava sobre o Cristo. A teologia de Calvino é profundamente cristocêntrica.
Ao final, dentro da perspectiva reformada, as cinco solas de Lutero reverberaram
em todos os outros continuadores do protestantismo.

Ao atestar uma teologia eminentemente cristológica, Calvino dirige-se a Cristo


como o redentor e o mediador da imagem humana desfigurada ante o criador.
Assim, dois temas são os mais pertinentes da cristologia Calvinista: A mediação e
a redenção operadas em Cristo.

O tema que domina a sua cristologia é o papel que Jesus Cristo detém, ele é
o grande e decisivo mediador da humanidade. A revelação de Deus em Cristo é
o supremo exemplo da sua capacidade de assumir a humanidade. Para Calvino,
a humanidade necessita de um Mediador pelo fato de ser pecadora e, ao mesmo
tempo, pela certeza de que somos obra desse criador, criaturas. Cristo é, assim, um
mediador da redenção humana, salvador dos homens, prometido por Deus para
trazer à fonte da Vida humanidade. Como atesta o reverendo ROCHA (1999):
Segundo Calvino, para povo eleito de Deus prometeu um redentor a fim
de que a humanidade pudesse retornar à fonte a ver Vida, a verdadeira
vida. Assim, Cristo é verdadeira vida (Jo 11, 25; 14, 16). No mediador,
segundo João 12, o que O recebem tornam-se filhos de Deus.

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UNIDADE A Cristologia nos Reformadores e no Concílio Vaticano II

Cristo, como Mediador, sem prescindir de sua divindade, é verdadeiro Deus e


verdadeiro homem (1 Tm 3.16). Ele é o Verbo eterno de Deus gerado do Pai antes
de todas as eras, que, em sua encarnação, ocultou a sua divindade sob o “véu” da
sua carne. Note, caro aluno, que Calvino reafirma posições cristológicas assumidas
em Concílios Chamados ecumênicos, não negando nem a divindade tampouco a
humanidade de Jesus.

Outro aspecto relevante da Cristologia proposta por Calvino reside no papel


redentor de Cristo. O reformista francês entendia a obra da redenção operada em
Cristo em conexão com o tríplice múnus atribuído ao messias no antigo testamen-
to, sacerdote profeta e Rei, vejamos:
Como Profeta, ele foi ungido pelo Espírito para ser arauto e testemunha
da graça de Deus, fazendo-o através do seu ministério de ensino e pre-
gação. Na qualidade de Rei, Cristo atua como o vice-regente do Pai no
governo do mundo; um dia sua vitória e senhorio se manifestarão plena-
mente. Em seu ofício sacerdotal, ele foi um Mediador puro e imaculado
que aplacou a ira de Deus e fez perfeita satisfação pelos pecados huma-
nos. (GEORGE, 1994)

Cristo, portanto, revelado como Messias, testemunhou a graça e atuação de


Cristo entre os homens. Tanto sua vida, suas pregações e milagres são partes da
redenção. Seu sacrifício expiatório foi o caminho para a salvação da humanidade
pela expiação dos homens em vista da ira divina. Ou como sintetiza Murad:
Calvino explica Cristo sob o aspecto de profeta, rei e sacerdote. Mediante
a sua morte redentora, Jesus apaziguou a ira do pai, remove a inimizade
entre Deus e cancela tudo que há de mau no ser humano (MURAD, et ali,
2010, p.110).

Zuínglio e a Cristologia
Inserido no rol dos grandes nomes que impulsionaram a reforma protestante, ao
lado de Lutero e Calvino, desponta Ulrich Zuínglio. Ele difundiu o protestantismo
mormente na região de Zurique, Suíça. Ele nasceu em Wildhaus, Sankt Gallen, em
1 de Janeiro de 1484. Filho de um magistrado, teve educação refinada. Estudou
nas universidades de Viena e Basiléia. Ordenou-se sacerdote católico, atuou em
duas paróquias em cidades distintas, entre elas, a portentosa abadia de Einsedeln.

As vicissitudes e ilicitudes da vida clerical, sobretudo quando atuara na abadia


Einsiedeln como capelão, concorreram para sua adesão, tempos depois, ao pro-
testantismo. Associado a essa complexa conjuntura eclesial, outro elemento que
concorreu pra sua adesão e empenho na difusão das ideias protestantes foi a des-
coberta da doutrina paulina da Justificação (cf. MURAD, 2010, p. 108).

A teologia de Zuínglio concorda em grande parte com os postulados daquela


defendida por Martin Lutero. Excetuando aspectos relativos ligados ao Culto, mor-
mente à presença real de cristo na Eucaristia, Zuínglio advoga conceitos como a

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predestinação, a primazia da Escritura e da Graça redentora de Deus que pode,
entre outros, salvar e eleger aqueles que querem salvar.

No que tange a Cristo, Zwuiglio segue a linha dos demais baluartes do protes-
tantismo. Chancelando a tradição oriunda dos concílios, ele atesta também a dupla
natureza de Cristo e todas as demais definições relativas a Cristo definidas ante-
riormente. Sua cristologia admitia, desse modo, os conceitos dos quatro primeiros
concílios gerais de Nicéia, 325; Constantinopla, 381; Éfeso, 431 e Calcedônia,
451, bem como dos credos apostólico, Niceno e Atanasiano (Cf. COUTO, 2018).

Alguns aspectos, no entanto, são reconsiderados e aprofundados. Zuínglio, de


maneira especial, afirmando a primazia da redenção operada por Cristo e a supre-
macia da Sagrada Escritura, nega o culto de imagens, nega a missa como sacrifício
e todos os simbolismos de vestes litúrgicas da Igreja e da tradição católica. Para
ele, os santos não tinham poder de mediação e o culto a eles era inócuo, ante a
redenção operada por Cristo.

Largos traços, Zuínglio é o herdeiro da tradição iniciada com Lutero. Assumindo


a tradição dos concílios ecumênicos e aprofundando aspectos da reforma protes-
tante, ele assegura aspectos essenciais das naturezas humanas e divina de Cristo
e retira elementos que, pautados pelas cinco solas de Lutero, tornam-se obsoletos
para o protestantismo da época, sobretudo no que diz respeito a cristo.

Concílio Ecumênico Vaticano II:


Aspectos Diversos
O extenso percurso desenhado na sessão anterior nos colocou no eixo central
da reflexão cristológica apresentada pelos pais da reforma protestante. Na ma-
triz católica, houve como reação ao protestantismo, a chamada contrarreforma.
Ela balizou definições católicas que foram apropriadas pelos seguidores dessa Igreja
ao longo de séculos, dentre elas a doutrina dos sacramentos muito questionada
pelos reformadores. Muitos anos depois, um novo concílio foi celebrado que levou
o nome de Concílio Vaticano I ( 1869-1870?). Este, além de inconcluso, não ofe-
receu muitas novas temáticas à reflexão dessa tradição religiosa, reafirmando con-
cepções atinentes ao período da reforma, condenando posições da modernidade e
definindo de forma dogmática a infalibilidade do Papa.

Pouco menos de um século do Vaticano I, celebrou-se o Vaticano II (1962 –


1965) Esse concílio sim, marcou profundamente a fisionomia da tradição católica.
Um dos representantes máximo do catolicismo definiu como “flor espontânea de
inesperada primavera (JOAO XXIII, 1963)” que marcou profundamente a Igreja.
Com ele, quase cinco séculos de um conturbado, beligerante e controverso relacio-
namento com a modernidade foi, em certa medida, mitigado, repropondo o lugar
da Igreja católica na sociedade contemporânea.

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UNIDADE A Cristologia nos Reformadores e no Concílio Vaticano II

O Concílio Vaticano II, diferente dos outros concílios estudados neste tema, é
aceito somente pela tradição católica em seus vários matizes. Suas definições legis-
lam e explicam, do ponto de vista católico, a fé. Ele não nega as verdades definidas
como elementos de fé nos concílios anteriores. Ele, não raro, é chamado de um
Concílio de cunho Pastoral e não de definições dogmáticas, embora tenha se atido
em fazer afirmações sobre a natureza da Igreja, da revelação, entre outros. Foi um
longo processo até se chegar a todas às resoluções conciliares.

Para uma rápida compreensão de como aconteceu o Concílio Vaticano II, oportuna leitura
Explor

de: PASSOS, João Décio Processo. Conciliar. In: PASSOS, João Décio e SANCHEZ, Wagner Lopes
(org.). Dicionário do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulinas/Paulus. 2015 p. 784-788.

Como natural, as definições Conciliares são compiladas em documentos, decre-


tos e Constituições já desde os tempos imemoriais. No Caso do Concílio Vatica-
no II, essa política também foi assimilada. Todas definições desse Concílio foram
amalgamadas em textos que foram elaborados ao longo de três anos. O Concílio,
deve-se dizer a rigor, iniciou-se bem antes da própria celebração dele naquilo que
foi chamado de movimentos bíblicos, teológicos, litúrgicos e ecumênicos. Esses
movimentos postulavam um novo entendimento de conceitos basilares na Igreja
católica reativos à teologia, liturgia e temas correlatos.

Em sua estrutura final, o Concílio Vaticano II legou à história eclesial quatro


importantes Constituições, nove Decretos e três Declarações. Eles inicialmente
são escritos em latim, seus nomes derivam das primeiras palavras do texto redi-
gido e sempre acusam o que se propõe refletir. Tão importante quanto os docu-
mentos, deve-se dizer, foi o que o vaticano II fez reverberar no interior da Igreja,
isto é, um profundo espírito de colegialidade, atualização e renovação sintetizado
na palavra italiana aggiornamento, popularizada em diversos ambientes acadê-
micos e eclesiais.

Os Documentos do vaticano II são nomeadamente as constituições sobre: a sa-


grada liturgia “Sacrosanctum Concilium” (SC); a Igreja “Lumen gentium” (LG); a
revelação divina “Dei Verbum” (DV) e a l sobre a Igreja no mundo atual “Gaudium
et spes” (GS). Os Decretos sobre: os meios de comunicação social “Inter mirifica”
(IM); as Igrejas Católicas orientais “Orientalium Ecclesiarium” (OE); o ecume-
nismo “Unitatis redintegratio” (UR); o ministério pastoral dos bispos “Christus
Dominus” (CD); (28.10.1965); a formação sacerdotal “Optatam totius” (OT);
a conveniente renovação da vida religiosa “Perfectae caritatis” (PC); o apostola-
do dos leigos “Apostolicam actuositatem” (AA); a atividade missionária da Igreja
“Ad gentes” (AG); o ministério e vida dos padres “Presbyterorum Ordinis” (PO);
por fim, as Declarações sobre a educação cristã “Gravissimum educationis” (GE);
as relações da Igreja com as religiões não cristãs “Nostra aetate” (NA); e a liberda-
de religiosa “Dignitatis humanae” (DH).

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Explor
Para uma rápida compreensão da construção dos documentos do Concílio Vaticano II,
Consultar: SOUZA, Ney. Esquema dos Documentos Conciliares. In: PASSOS, João Décio e
SANCHEZ, Wagner Lopes (org.). Dicionário do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulinas/
Paulus. 2015. p. 372- 374.

Percebe-se nos temas tratados uma pluralidade de assuntos, desde a reflexão


sobre a igreja até o diálogo com as outras tradições, e desde a formação do
Clero até o uso dos meios de comunicação. Essa diversidade indica a amplitude
da reflexão feita pela própria Igreja católica acerca de sua presença e atuação
no mundo. Inserido nesse emaranhado de documentos, de maneira transversal,
pode-se adentar na questão da Cristologia do Vaticano II.

Concílio Vaticano II e a Cristologia


O Concílio Vaticano II, em essência, não buscava propor novas definições Cris-
tológicas, mesmo que a elas tivesse que se ater. Tratava-se antes de uma proposta
nova, de uma forma de compreensão nova. Assim, o Concílio Ecumênico de 1964
da Igreja católica transbordou em seus poros elementos ligados à Cristologia, so-
bretudo tendo como referencial o amplo lastro teológico da Igreja sedimentado ao
longo de mais de dois mil anos de história.

Lapidar é afirmar que o Concílio Vaticano II é essencialmente cristocêntrico.


A ideia basilar de toda a reforma proposta pelos padres conciliares, deve-se dizer,
movia-se por uma volta à centralidade do cristianismo, ao evangelho e a Cristo. Era
uma busca de renovação para que a Igreja se apresentasse ao mundo como ela é
e realmente deveria ser, sinal do Deus redentor da humanidade e do seu reino de
Deus anunciado por Jesus Cristo.

Dois aspectos, numa perspectiva transversal, podem ser listados como caracte-
rísticos de uma cristologia proveniente do Concílio Vaticano II, a saber: noção de
redentor, a historicidade de Cristo. O primeiro atine à questão da missão de Jesus,
isto é, salvar a humanidade; o segundo aspecto, concerne à ação concreta de Cris-
to na história humana.

A Dimensão do Cristo Salvador que desponta no Concílio Vaticano II não é um


dado novo, é uma verdade absoluta e irrefutável da tradição cristã. No entanto, o
que o Concílio atesta são aspectos dilatados da compreensão de salvação. Para o
Vaticano II, o homem, diferente do que há muito fora afirmado, não é redimido
apenas pelo fato de ser pecador. Essa seria, a rigor, uma compreensão verdadeira,
não obstante, em sentido positiva, a salvação é também uma plenificação da huma-
nidade. Cristo é aquele que por meio de quem a vida humana é plenificada, visto
que nele ela tem sua origem e a ressurreição, a plenitude humana é apresentada.
(cf. MANZATTO, 205 p.211).

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UNIDADE A Cristologia nos Reformadores e no Concílio Vaticano II

O cristão, tornado conforme à imagem do Filho que é o primogénito en-


tre a multidão dos irmãos recebe “as primícias do Espírito” (Rom. 8,23),
que o tornam capaz de cumprir a lei nova do amor (28). Por meio des-
te Espírito, «penhor da herança (Ef. 1,14), o homem todo é renovado
interiormente, até à “redenção do corpo” (Rom. 8,23): “Se o Espírito
d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Aquele
que ressuscitou Jesus de entre os mortos dará também a vida aos vossos
corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita” (Rom. 8,11) (29).
É verdade que para o cristão é uma necessidade e um dever lutar contra
o mal através de muitas tribulações, e sofrer a morte; mas, associado ao
mistério pascal, e configurado à morte de Cristo, vai ao encontro da res-
surreição, fortalecido pela esperança. (Gaudium et Spes, 22).

A redenção e a salvação humana pontuados no Concílio, deve-se mencionar,


não são elementos abstratos. O Próprio concílio a define de maneira clara e obje-
tiva: “A salvação do humano concreto [...] a salvação não pode ser entendida de
maneira individualista” (cf. MANZATTO, 205 p.213). Nesse sentido, o concílio
entende a salvação humana proposta pelo Cristo, como um dado contextual que
visa salvar de maneira integral o homem na sua inteireza e completude, no contex-
to histórico em que vive. Não se trata apenas da dimensão humana espiritual do
homem que é salva, mas social política e econômica. Isso pode ser lido no Concílio
no Documento Gaudium et spes (Alegria e esperanças) de maneira precisa:
Trata-se, com efeito, de salvar a pessoa do homem e de restaurar a socie-
dade humana. Por isso, o homem será o fulcro de toda a nossa exposição:
o homem na sua unidade e integridade: corpo e alma, coração e consci-
ência, inteligência e vontade (GS, 3).

Associa-se, ainda, a essa perspectiva conciliar o outro aspecto, a noção de sal-


vação como dimensão comunitária. A proposta redentora de Cristo não é apre-
sentada apenas a um indivíduo, mas a um povo. Não há, de maneira alguma, no
concílio uma ideia restritiva ou particularizada de Salvação. Ela é destinada a todos
os povos.
Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável a Deus aquele
que O teme e obra justamente (cfr. Act. 10,35). Contudo, aprouve a Deus
salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer li-
gação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na ver-
dade e O servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para
Seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente,
manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua his-
tória, e santificando-o para Si. Mas todas estas coisas aconteceram como
preparação e figura da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de
ser estabelecida e da revelação mais completa que seria transmitida pelo
próprio Verbo de Deus feito carne.(Cf. Lumem Gentium, 9)

Nesse espírito, a dimensão salvadora manifestada em Cristo e apresentada pelo Con-


cílio vaticano II, configura-se com uma salvação não apenas após o fim da vida, mas

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como uma salvação que tende a salvar o homem em sua inteireza, na história em vista
do Reino Definitivo e, de igual modo, como um povo, não de maneira individualizada.

O segundo aspecto desta sumaria visão acerca de Cristo no Concílio Ecumênico


da Igreja Católica chamado Vaticano II é a dimensão de Cristo na história, a histo-
ricidade de Cristo e sua ação concreta na realidade humana. Jesus não é um mito
ou um fantasma. Sua presença na história, na concretude humana é afirmada des-
de o Antigo testamento, passando pelos primeiros concílios e retomada de forma
eloquente no Concílio Vaticano II.

Esse conceito associa-se à ideia de encarnação, do Cristo, filho de Deus fei-


to homem, assumiu a realidade humana, fazendo-se salvador da Humanidade.
Entende-se que o Cristo encarnado é o Jesus histórico, por isso, não se prescindi
dessa base para construir a ideia sobre o Jesus Cristo. Essa ideia abre espaço
para o entendimento de que a encarnação de Cristo fez com que ele assumisse a
realidade humana e suas vicissitudes, buscando plenificá-la. Assim, a encarnação
de Jesus não é “apenas a valorização do humano, mas, sobretudo do histórico”
(MANZZATO, 2005, p.216).

Essa valorização do humano e do histórico leva-nos a pensar que em Jesus, a


salvação divina, tendo como finalidade a eternidade, dá-se na realidade própria de
cada ser humano, realiza-se na história. Esse dado abre “o caminho para enten-
der-se o seguimento de Jesus como sendo o comportamento histórico esperado
de seus seguidores. Ultrapassa-se uma visão de cultivo de virtudes, para perceber a
ação cristã dentro de perspectivas históricas” (MANZZATO, 2005, p.216).

Largos traços, entende-se que a salvação e a história são dimensões constitutivas


do Concílio Vaticano II. Ele não prescinde do largo lastro teológico da Igreja sedi-
mentado ao longo de mais de dois mil anos de história, contudo acentua esses dois
aspectos que conferem uma perspectiva para os católicos entendida como mais
representativa de seu pensamento sobre o Cristo.

Em Síntese Importante!

Esta sessão apresentou o que, nos país do Protestantismo, isto é, Lutero, Calvino, Zu-
ínglio, pensaram sobre Cristo. Todos os três, não prescindem como foi dito, da tradição
cristã acerca das verdades da fé definidas nos concílios. Reconhecem e admitem a dupla
natureza de cristo – humana e divina - e sua missão na redenção humana. Eles acen-
tuam aspectos particulares desse mesmo cristo, sobretudo em decorrência das posições
dos reformistas, acenando para Cristo como único mediador da humanidade.
O Concílio Vaticano, largos traços, desenvolve uma Cristologia transversal. Seus Docu-
mentos conclusivos não são de viés exclusivamente dogmáticos. Esse fato não conflita
com uma reflexão teológica sobre cristo. O concílio, tal como afirmamos, atribui em seus
postulados cristológicos a missão de Cristo como Salvador – numa perspectiva concreta
e comunitária – e sua ação na história proveniente de sua encarnação que salva o ho-
mem no seu universo real.

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UNIDADE A Cristologia nos Reformadores e no Concílio Vaticano II

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
A Cristologia de Calvino
ROCHA, Nelson Célio Mesquita. A Cristologia de Calvino. Rio de Janeiro. Julho-
agosto, 1999.
Concílio Vaticano II: Análise e Prospectivas
MANZATTO, O paradigma Cristológico do Vaticano II e sua incidência na Igreja da
América Latina. In: GONÇALVES, Paulo Sérgio Lopes. BOMBONATO, Vera Ivanise
(org.). Concílio Vaticano II: Análise e prospectivas. São Paulo: Paulinas. 2. ed.2005.
Dicionário do Concílio Vaticano II
PASSOS, João Décio Processo. Conciliar. In: PASSOS, João Décio e SANCHEZ,
Wagner Lopes (org.). Dicionário do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulinas/Paulus.
2015 p. 784-788.

Leitura
Solus Christus
BEEKE, Joel. Solus Christus.
https://goo.gl/zWs8Cw
Teologia dos reformadores
GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994.
https://goo.gl/Hrup4X

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Referências
ALBERIGO, G. (org.). História dos concílios ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1997.

BEEKE, Joel. Solus Christus. Disponível em: http://www.ministeriofiel.com.br/


artigos /detalhes/608/Solus_Christus Acesso em: 19.10.2018.

CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II . Gaudium et Spes (GS). In: Compên-


dio do Vaticano II: Constituições, Decretos e Declarações. 29. ed. Petrópolis:
Vozes, 2000.

CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II . Lumem Gentium (LG). In: Compêndio


do Vaticano II: Constituições, Decretos e Declarações. 29. Ed. Petrópolis:
Vozes, 2000.

COUTO, Vinicius. Teologia dos reformadores: uma introdução histórica aos


principais pensamentos de Lutero, Zwinglio e Calvino. Disponível em: http://prvi-
niciuscouto.blogspot.com/2013/12/teologia-dos-reformadores-uma.html. Acesso
em: 22.11.2018.

DUPUIS, J. Introdução à Cristologia. São Paulo: Loyola, 1999.

JOÃO XXIII, Alocução aos Dirigentes da Ação Católica: Concílio e União. In: KLO-
PPENBURG, Boaventura. Concílio Vaticano: Documentário pré-conciliar. v. I. Petró-
polis: Editora Vozes, 1963. p.39.

MANZATTO. O paradigma Cristologico do Vaticano II e sua incidência na Igreja


da América Latina. In: GONÇALVES, Paulo Sérigo Lopes. BOMBONATO, Vera
Ivanise (org.). Concílio Vaticano II: Análise e prospectivas. 2.ed. São Paulo: Pau-
linas, 2005.

MARTINA, Giacoma. História da Igreja: de Lutero aos nosso dias. São Paulo:
Loyola, 1995.

MEYER, HARDING & ISERLOH, E. Lutero e o Luteranismo Hoje. Petrópolis:


Vozes, 1969.

MURAD, Afonso; GOMES, Paulo Roberto; RIBEIRO, Súsie. A casa da teologia.


Introdução ecumênica à ciência da fé. São Paulo: Paulinas, 2010.

PASSOS, João Décio Processo. Conciliar. In: PASSOS, João Décio e SANCHEZ,
Wagner Lopes (org.). Dicionário do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulinas/
Paulus. 2015 p. 784-788.

ROCHA, Nelson Célio Mesquita. A Cristologia de Calvino. Rio de Janeiro. Julho-


-Agosto, 1999.

SOUZA, Ney. Esquema dos Documentos Conciliares. In: PASSOS, João Décio e
SANCHEZ, Wagner Lopes (org.). Dicionário do Concílio Vaticano II. São Paulo:
Paulinas/Paulus. 2015. p. 372- 374.

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UNIDADE A Cristologia nos Reformadores e no Concílio Vaticano II

Sites visitados
COMISSÃO INTERLUTERANA DE LITERATURA. Disponível em: <www.lutero.
com.br> Acesso em 20 out. 2018.

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