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BIBLIOGRAFIA COMENTADA1

ANCILLI, E., et alii, La spiritualità cristiana. Storia e testi,


Studium, Roma 1981 ss.
A Coleção de Espiritualidade Cristã – Estudos e
Textos, editada pelas Edições Studium, de Roma,
dirigida por Ermanno Ancilli OCD, tem suas ca-
racterísticas próprias, como reflete o mesmo tí-
tulo da coleção: La spiritualità cristiana.
Storia e testi. O primeiro volume apareceu em
1983. A finalidade dessa coleção é ser, no âmbi-
to da história da espiritualidade, uma antologia de tex-
tos comentada. Com efeito, cada volume -confia-
do a um especialista distinto; em edição de
bolso, e de pouco mais de duzentas páginas cada
um-, se divide numa parte sistemática sobre o tema enunciado,
e uma coleção de «textos seletos». Os temas escolhidos abarcam
todo o arco histórico; porém, não se apresenta (tampouco parece
que se busque isso) um roteiro histórico rigoroso e uniforme. É,
portanto, uma obra útil para quem, conhecendo por outras leitu-
ras ao menos as grandes linhas da história da espiritualidade,
deseje aprofundar esse conhecimento, em alguns períodos e as-
pectos, mediante uma primeira aproximação direta com os

1
O asterisco (*) que precede uma obra indica que a mesma faz parte de
nossa ‘Bibliografia Primária’. As ‘análises’ das obras aqui elencadas foram
elaboradas e/ou adaptadas a partir dos textos dos prefácios ou apresentações
das mesmas, de resenhas em revistas (cf. sobretudo, SESÉ, J., “Historia de
la Espiritualidad Cristiana”, Scripta Theologica 29 (1997/1) 203-230;
STERCAL, Cl., Teologia spirituale: i manuali della spiritualità,
https://www.ftismilano.it/wp-content/uploads/sites/2/2019/05/Stercal2.pdf.).
textos escritos; sem que isso exima de uma leitura posterior
mais minuciosa das obras espirituais mais importantes.
Como costuma ocorrer em quase todas as antologias ou seleta
de textos, e nessa coleção com relação aos temas agrupados, há
muitas opções opináveis e discutíveis, segundo os critérios que
se tomam e as preferências de cada um. Não se pode deixar de
lamentar que em alguns volumes, ao invés de uma seleção, se
reproduza somente uma obra escrita, ainda que estas sejam im-
portantes e interessantes como o Tratado sobre o Espírito San-
to de S. Basílio, as Instituições cenobíticas de S. João Cassiano,
o Enchiridion de Erasmo e as Moradas de Sta. Teresa, se
impede com isso uma visão minimamente variada dos períodos
respectivos.
Apresentando sumariamente o conteúdo, diremos que:
-Os cinco primeiros livros estão dedicados à época patrística, e
tratam, respectivamente, do martírio, da vida cristã em geral
nos primeiros séculos, dos inícios do monaquismo, da oração, e
da experiência de Deus nos Padres gregos (em S. Basílio). Este
último volume é, pois, o mais discutível; já que não há outros
sobre os Padres latinos, ou outros aspectos e autores gregos.
-À Idade Média se dedicam seis volumes sobre os entornos do
ano mil (na prática, a vida monástica beneditina), sacerdotes e
cônegos, movimentos leigos, mendicantes, místicos do norte
europeu e espiritualidade oriental. Paradoxalmente, saem per-
dendo proporcionalmente as correntes e autores mais ativos e
influentes (monges e mendicantes); ainda que se torne, assim,
acessíveis obras e autores apenas editados ou comentados em
outros lugares.
-Os seis volumes agrupados sob o título «espiritualidade moderna»
são dedicados ao humanismo, os místicos do séc. XVI, a espiri-
tualidade protestante, a França do séc. XVII, a espiritualidade
russa moderna e a época de crises e renascimentos que abarca
os sécs. XVIII e XIX, em sua maior parte. Na «espiritualidade
contemporânea», o vol. 18 da coleção pretende abarcar todo o
período compreendido entre os dois concílios vaticanos, porém,
fica aquém dada a riqueza espiritual e literária do período.
-Os dois últimos volumes têm por objeto a espiritualidade pos-
conciliar, com os títulos: «A 'nova' espiritualidade» e a «A
nostalgia de Deus».

AUMANN, J. OP, Spiritual Theology, St Paul Publications,


Manilla 1979. Cf. (cons. mar. 2022:): http://www.traditio-
op.org/biblioteca/Aumann/Spiritual-Theology-by-Jordan-
Aumann-OP.pdf
Em seu livro “Teologia Espiritu-
al”, o dominicano Jordan Au-
mann dissipa o equívoco comum
de que a teologia ascética e místi-
ca é para poucos escolhidos. Ele
nos lembra que "o verdadeiro
propósito do estudo da vida espi-
ritual não é produzir estudiosos,
mas formar santos cristãos". Ba-
seando grande parte de sua obra
em Santo Tomás de Aquino, São João da Cruz e Santa Teresa
de Ávila, Frei Aumann prova que a perfeição cristã consiste
principalmente na caridade, uma caridade ricamente
recompensada em graças espirituais.
Ele apresentou com seu livro o tratamento mais completo e
sistemático da teologia espiritual após o Vaticano II.
Abrangente em escopo, atende às necessidades de seminaristas,
professores de teologia espiritual, diretores espirituais e
pregadores de retiros. Este clássico também atraiu leigos que
buscam uma vida espiritual mais profunda e plena
Padre Jordan AUMANN, um frade dominicano norte-america-
no, foi diretor do Instituto de Espiritualidade do Angelicum, em
Roma, consultor das Congregações do Clero e para a Evangeli-
zação. Trabalhou como professor na Faculdade de Teologia da
Universidade Santo Tomás e no Seminário de Manila, nas Fili-
pinas, onde além dos retiros para religiosos e seminaristas, es-
creveu vários livros de teologia e historia da espiritualidade.
Em PDF: AUMANN, J. OP, Síntesis histórica de la experien-
cia espiritual, I. Experiencia Católica. (visto em 03/2022):
https://mercaba.org/FICHAS/Teologia/experiencia_catolica.htm

BASTERO de ELEIZALDE, J. L., María, Madre del


Redentor, EUNSA, Pamplona 1995.
A vinculação de Maria com o mistério de
Cristo levou a Igreja a explicar cada vez
mais e melhor que a Virgem Maria tem
um papel singular e ocupa um lugar
especial na obra redentora de seu Filho e
na Igreja. Este papel de serviço materno
ao Redentor distingue Maria e constitui
sua Vocação. Na parte que toca à história
da Mariologia, a obra possui uma
excelente análise dos autores e temas de cada época. O autor é
padre e professor na Universidade de Navarra.
BERNARD, Ch. A., Introducción a la Teología Espiritual,
Editorial Verbo Divino, Estella 1997; tr. port. Introdu-
ção à Teologia Espiritual, Loyola, S. Paulo 1999.
Entre as várias disciplinas teológicas, uma das mais discutida é
a teologia espiritual. Em que medida é possível falar de um ver-
dadeiro conhecimento de Deus, por meio da experiência místi-
ca? Durante muito tempo os teólogos não se
ocuparam diretamente do desenvolvimento da
vida espiritual, deixando aos mestres espiritu-
ais a tarefa de indicar o caminho da vida cristã.
A espiritualidade não recebia tratamento siste-
mático, era disciplina predominantemente em-
pírica.
Em tempos recentes, manifestou-se a necessi-
dade de lançar um novo olhar à espiritualidade, por meio de uma
reflexão mais sistemática, que permitisse me-
lhor compreensão da vida espiritual em geral.
Esse movimento tornou-se necessário especi-
almente pelo progresso da psicologia. Desse
diálogo surgiu esse livro, no qual se procura
analisar mais detidamente os diversos pro-
blemas referentes à vida concreta cristã,
levantados pela pesquisa teológica, e
delinear os seus princípios interpreta-
tivos. Ainda que não seja um livro de
História da Teologia Espiritual, essa “Introdução”
do jesuíta Pe. Charles André Bernard (+2000), um dos maiores
expoentes em teologia espiritual do séc. XX, não deixa de dar
alguns importantes aspectos históricos, que nos interessam, ao
ressaltar os diversos problemas abordados pela investigação
teológica sobre a vida cristã e traçar seus princípios interpretativos.
BORRIELLO, L., e DI MURO, R., Breve Storia della Spiri-
tualità Cristiana, Ancora, Roma 2013.
O volume é um percurso breve pela história
da espiritualidade desde as origens do cristi-
anismo até os nossos dias, detendo-se sobre
personagens mais relevantes e o contributo
por eles dado à vida de fé do próprio tempo.
Luigi Borriello é professor de teologia espiri-
tual e mística na Pontifícia Faculdade Teoló-
gica da Itália Meridional – Napoli e membro
ordinário da Pontifícia Academia de Teologia. Raffaele Di
Muro é professor de Teologia Mística no “Teresianum” e
Docente ordinário de Teologia Espiritual na Pontifícia
Faculdade Teológica “São Boaventura”. Faz parte do grupo de
editores do “Dizionario di Mistica”, editado pela Libreria
Editrice Vaticana.

*BOUYER, L., LECLERC, J., VANDENBRUCKE, F.,


COGNET, L., Histoire de la Spiritualité Chrétienne, 4 vol.,
Aubier, Paris 1960-1966.
Conteúdo de cada volume:
I. Bouyer, La Spiritualité du Nouveau Testament et des
Pères. O estudo neotestamentário que inicia esse volume é
muito completo. No que diz respeito aos primeiros séculos
cristãos, seu estudo da espiritualidade litúrgica, do martírio, do
gnosticismo e da escola de Alexandria é muito completo e
profundo. Depois do estudo do monaquismo no mundo oriental,
passa à literatura e monaquismo latinos, com abordagem
bastante completa de Santo Agostinho.
II. Bouyer – Leclercq - Vandenbroucke, La
Spiritualité du Moyen Âge. Leclerq, anali-
sa com atenção a evolução da espiritualidade
medieval desde S. Gregório até S. Bernardo,
muito dependente dos mosteiros, sem esque-
cer cônegos regulares, clero secular e leigos.
Vandenbroucke toma o testemunho da espi-
ritualidade medieval e o conduz até o renas-
cimento. Aborda, oportunamente, todas as
figuras, tendências e correntes, dando um
grande espaço à piedade popular da época. Por fim, Bouyer,
num apêndice, propriamente dizendo, trata da espiritualidade
bizantina, com uma atenção especial ao hesychasmo.
III. Bouyer, La Spiritualité orthodoxe - La Spiritualité protes-
tante et anglicane. Bouyer continua, primeiro, a história da
espiritualidade ortodoxa tal como havia deixado na parte medi-
eval, depois detêm-se na espiritualidade protestante e anglicana,
com um estudo atento dos três principais reformadores: Lutero,
Zwinglio e Calvino.
IV. Cognet, L'Essor de la spiritualité moderne, 1500-1650.
Louis Cognet, encarregado do último volume desta história, vol-
ta à espiritualidade católica e abarca desde 1500 até 1650, apro-
ximadamente. Cognet, à diferença de seus companheiros encar-
regados da parte medieval, coloca o acento mais nas pessoas
concretas que na linha histórica, ainda que esta não se perca. A
ausência de um estudo histórico dos três últimos séculos é, de
certa forma, o único defeito importante desta obra; só a atual
reelaboração italiana preencheu amplamente esta lacuna.
Os autores, mestres famosos pela competência e erudição, são:
Louis BOUYER (1913-2004), foi um luterano francês que
converteu-se ao Catolicismo em 1944, tornando-se oratoriano.
Foi teólogo do Vaticano II, publicou muitos livros e lecionou
várias disciplinas de teologia. Junto o Cardeal Ratzinger e
outros fundou a Revista internacional Comumnio; Dom Jean
LECLERCQ (1911-1993), monge beneditino de Clervaux
(que no fim dos anos 70 esteve em nosso Mosteiro e deu um
curso na, então, Escola Teológica), grande especialista em São
Bernardo e da sua espiritualidade, foi um dos maiores medieva-
listas que já existiram; Dom François VANDENBRUCKE (1912
-1971), monge beneditino de Mont César (Bélgica), ficou conhe-
cido por suas obras de erudição sobre a espiritualidade cristã et
a liturgia; Louis COGNET (1917-1970), Padre diocesano de
Clermont-Ferrand, foi um historiador da espiritualidade cristã.
É particularmente conhecido pelos estudos sobre o jansenismo.
Uma reedição da obra, em italiano, readaptou ou, praticamente,
fez uma obra nova. Dos quatro volumes iniciais passou-se a dez
(com dezesseis tomos) e o número de colaboradores, também,
aumentou. O primeiro volume apareceu em 1984 pela Dehonia-
na de Bologna, tendo como coordenadores, L. Bouyer, o
carmelita descalço Ermanno Ancilli, e do calçado Bruno
Secondin.
Eis o plano da obra que redivide e amplia os quatro volumes:
I. A espiritualidade do Antigo Testamento
II. A espiritualidade do Novo Testamento
III. A espiritualidade dos Padre
III/A séculos II-V: martírio, virgindade, gnose cristã
III/B séculos IV-VI: monaquismo e Padres latinos
III/C A espiritualidade do cotidiano nos primeiros séc.
IV. A espiritualidade da Idade Média ao Renascimento
IV/A séculos VI-XII: De S. Gregório a S. Bernardo
IV/B séculos XII-XVI: Novos ambientes e problemas
V. A espiritualidade da Reforma Católica
V/A A espiritualidade espanhola
V/B A espiritualidade francesa
V/C A espiritualidade italiana
VI. A espiritualidade do século XVII
VII. A espiritualidade do século XVIII
VIII. A espiritualidade contemporânea
IX. A espiritualidade das igrejas do Oriente
IX/A A espiritualidade da igreja ortodoxa grega
IX/B A espiritualidade da igreja ortodoxa russa
X. A espiritualidade protestante e anglicana

DAGNINO, A., La vita cristiana o il mistero pasquale del Cris-


to mistico secondo la rivelazione, studiata dalla teolo-
gia e insegnata dalla Chiesa, Ed. Paoline, Cinisello
Balsamo 19887.

O texto, a rigor, não se propõe como


manual, mas como «texto de estudo-
meditação-ora-ção» (p. 23), ainda se
frequentemente tenha sido utilizado como
livro de formação e co-mo livro de texto na
escola de espiritua-lidade. As preocupações
fundamentais do volume são as de mostrar
o caráter teológico da "teologia espiritual",
a unidade da vida cristã e o seu "coroamento normal" na
mística. A leitura do volume é agradável e, sobretudo, na parte
final sobre a união transformadora e a morte mística, mas a
problemática, a lingua-gem e os esquemas conceituais da época
que a obra foi escrita tornam difícil o seu uso atual.
*DUMEIGE, G. SJ, “Histoire de la Spiritualité”, in: Diction-
naire de la Vie Spirituelle, edd.
FIORES, Stefano e GOFFI,
Tullo (orgs.), Les Éditions du
Cerf, Paris 2001, 475-493;
Dicionário de Espiritualidade,
trad. de A. Guerra e I. F. L.
Ferreira, Paulus, São Paulo
1993.
Conforme os editores eles desejavam
uma obra que fosse “fiel ao conteúdo
da tradição cristã, mas correspondes-se também às exigências
mais atuais” (Présentation, VII). Assim, essa edição possui
características “novas” como uma “orientação pluralista e não
monocórdia”, uma “perspectiva atual” (ibidem) que
devem ser levadas em conta por quem a
consulta.

DICTIONNAIRE DE
SPIRITUALITÉ
Começou a ser publicado em 1932 em
Toulouse e Paris, por Beauchesne, que
se encarregou da edição completa até
o fim em 1995, mais de meio século de
trabalho. Os principais promotores ao longo destes decênios
foram Marcel VILLER e André DERVILLE. A lista. de
colaboradores é, logicamente, imensa. Obra de consulta muito
útil do ponto de vista da História da
Espiritualidade.
DIZIONARIO ENCICLOPEDICO DI
SPIRITUALITÀ

Menos volumoso que o anterior, alcançou


bastante êxito, por conter verbetes tanto siste-
máticos como históricos. Apesar da limita-
ção, compreensível, sobretudo do ponto de
vista bibliográfico, do tempo transcorrido
desde a aparição de muitos verbetes, o Dizio-nario
enciclopedico di spiritualità contém uns verbetes históricos,
quase sempre, suma-mente úteis. E, ainda que não seja, quase
sem-pre, tão exaustivo como seu “irmão maior”, acima, quase
todos os artigos apresentam uma informação suficiente para
que se tenha uma boa ideia de dados históricos, obras e
conteúdo. Sob a responsabilidade de E. ANCILLI, a primeira
edição italiana é de 1975, e dela existe uma tradução
castelhana: Diccionario de espiritualidad, Herder, Barcelona
1983, em 3 volumes. A segun-da edição italiana, atualizada, e
com bastantes verbetes novos, é de 1989 (3 volumes, Editora
Città Nuova, Roma).

ETUDES CARMÉLITAINES, desde 1911, 2ª série, desde


1931.

GAMARRA, S., Teología espiritual, Sapientia Fidei – Série de


Manuales de Teología, Editorial BAC, Madrid 2007.
A profunda convicção do grande valor que
é a espiritualidade para o homem de hoje
foi o que moveu o autor à elaboração
deste manual. O iter que ele segue está
inspirado na necessidade que existe de
responder a questões fundamentais que a
Teologia espiritual tem suscitado. Começa
respondendo à pergunta: «Há propósito
hoje para a espiri-tualidade?», para identificar, logo depois, a
espiritualidade cristã a partir dessa chave: o «ser e viver em
Cristo» sob a ação do Espírito na Igreja é o elemento básico. A
caridade/amor e a oração têm seu lugar no coração mesmo da
identidade e da espiritua-lidade cristã, e supondo a chamada a
culti-vá-la até sua plenitude, entram no estudo uns pontos
irrenunciá-veis: a realidade do pecado, que está presente na
travessia da vida; o processo que segue a vida cristã no
contexto sócio-histórico concreto; e a ascese e os meios,
totalmente neces-sários na espiritualidade.
Saturnino Gamarra Mayor estudou espiritualidade na Gregoria-
na, onde doutorou-se em 1967. Foi catedrático e Decano da Fa-
cultad de Teología del Norte de España, diretor de "Surge", re-
vista de espiritualidade sacerdotal.

*GROSSI, V., BOMELLO·L., SECONDIN B., Storia della


Spiritualità, 6 vol., Edizioni Borla, Roma 1983ss.
Bastante paralela à história editada pela Dehoniana, e inclusive
com algum colaborador comum, essa publicação da editora ro-
mana Borla, dirigida por Grossi-Borriello-Secondin, comporta
um projeto em 7 volumes. Menos extensa e ambiciosa que a
história da Dehoniana, a de Borla é, também, bastante completa
e, portanto, útil tanto como livro de consulta como de leitura e
estudo continuado da matéria. A divisão em volumes é mais
simples e clara: Antigo Testamento (vol.1), Novo Testamento
(vol.2), Padres orientais (vol.3a) e ocidentais (3b), Idade Média
(4), Idade Moderna (5), Idade Contemporânea (6) e espiritua-
lidades não cristãs (7). Os colaboradores são numerosos, sobre-
tudo nos volumes bíblicos.

O estudo da espiritualidade veterotestamentária é


particular-mente extenso e minucioso, interessante em si mesmo,
mas, quiçá desproporcionado com respeito ao conjunto da obra.

O volume neotestamentário, combina os estudos por grupos


de livros (sinóticos, S. João -com o Apocalipse à parte- e S.
Paulo) com outros temas, entorno a Jesus mesmo e às primeiras
comunidades cristãs; isto dá lugar a uma visão mais completa,
porém também a repetições desnecessárias. Em ambos os casos
nos encontramos com os limites e as vantagens das obras
coletivas: ricas em sua especialização, insuficientes para ter-se
uma ideia de conjunto.
Dos dois tomos dedicados aos Padres o
primeiro, correspon-dendo ao oriente, está
a cargo de T. Spidlík e I. Gargano. A ma-
téria foi organizada tematicamente: se
estuda o ambiente inte-lectual no qual
surge a reflexão escrita dos Padres
orientais e os grandes temas espirituais
desenvolvidos em suas obras; ou seja,
estamos mais próximos de uma
monografia ou um ensaio que de uma história; de fato, não se
dedica nenhum espaço expresso a apresentar os escritos e
os protagonistas, nem o surgi-mento do
monaquismo e seus primeiros passos, nem se
aprecia suficientemente a evolução
histórica da reflexão escrita de um século
a outro. Portanto, este volume oferece
um estudo valioso e enriquecedor em
si mesmo, porém não desde o ponto
de vista propriamente histórico; sua
leitura necessita, assim, ser
complementada com outras fontes.
O volume medieval tem já um sentido
más histórico da matéria, ainda que
siga mantendo uma maior tendência ao
estudo global dos grandes temas que a
apresentação cronológica das pessoas e dos
aconteci-mentos. Os séculos medievais foram divididos em
dois períodos denominados simplesmente «primeira Idade
Média» (fundamentalmente monástico e muito uni-forme em
sua concepção e desenvolvimento entorno a esse ponto focal) e
«segunda Idade Média» (mostra também, acertadamente, a
maior complexidade do período), desenvolvidos
respectivamente por B. Calati e A. Blasucci, enquanto R.
Grégoire intercala entre ambos um breve ensaio de corte
eclesiológico. Um detalhe discutível deste volume, é o fato de
agrupar todas as grandes santas escritoras da Idade Média num
único capítulo intitulado «o misticismo feminino na Idade
Média»: não há dúvidas de que existem razões que justificam
esse agrupamento, porém, realmente é mais significativa a
conexão histórico-espiritual, por exemplo, entre Santa Clara e
Santa Catarina, por ser ambas mulheres, que a que tem Santa
Clara com São Francisco de Assis? Pode ser um desses casos,
tão frequentes hoje em dia em muitos âmbitos da cultura, em
que pretendendo fazer um favor às mulheres se falseia sua
própria condição humana e feminina.
O volume quinto, correspondente à Idade Moderna, está
muito mais dividido em períodos. As duas primeiras partes, assi-
nadas por L. Mezzadri, e que discorrem sobre um dos períodos
mais ricos da história da espiritualidade (o séc. XVI) resultam
francamente decepcionantes, sobretudo numa obra destas di-
mensões e nível; qualquer obra histórica, inclusive as mais bre-
ves, será, no que diz respeito a esses anos, mais completa que
es-tas páginas. Não ocorre o mesmo com a parte terceira (séc.
XVII, a cargo do próprio Mezzadri), mais equilibrada e completa;
nem com a quarta (séc. XVIII, de C. Brovetto), que se mantém
na mesma linha. O volume se completa com um estudo também
adequado de F. Ferrario e P. Ricca sobre a espiritualidade
protestante e sua evolução. De todas as formas, o conjunto me
parece inferior à história da Dehoniana, em particular.
A parte contemporânea (sécs. XIX e XX, como vemos, muda
a periodização do ‘contemporâneo’ de uma para outra ‘História
da Espiritualidade’) tem três autores (L. Borriello, Giovanna
della Croce e B. Secondin). As dificuldades apresentadas por
este período se pretendem contornar com uma minuciosa perio-
dização e subdivisão, que resulta bastante acertada no que se re-
fere às questões espirituais e linhas importantes de pensamento,
porém não tanto no que respeita ao papel exercido pelos princi-
pais protagonistas, que ficam muito enfraquecidos no conjunto.
Apesar disso, globalmente e com limitações, parece uma apro-
ximação mais acertada à história da espiritualidade Contemporânea.

Concluindo, estamos ante uma história muito irregular, que


serve mais para a consulta/leitura parcial de alguns volumes,
que para adentrar-se no inteiro arco histórico da espiritualidade
cristã.
*ILLANES, J. L., Tratado de Teología Espiritual, Biblioteca
de Teología 33, Ediciones Universidad de Navarra,
Pamplona 20072.
O presente Tratado de Teología Espiritual é
fruto dos anos de docência desta matéria por
parte do Prof. José Luis Illanes na
Faculdade de Teologia, sacerdote,
Doutor em Direito, Licenciado em
Teologia e professor de Te-ologia
Fundamental e de Teologia Espiri- tual
da Universidade de Navarra.
Desde que iniciou a docência de Teologia Espi- ritual,
segundo confessa o autor em sua introdução, entre os diversos
enfoques dos que é suscetível esta disciplina, um atraiu sua
atenção: colocar em evidência o pano de fundo bíblico e
dogmático da experiência espiritual. A vida espiritual, como
toda vida, é difícil de ser tipificada de modo exaustivo e,
portanto, de ser definida. Não obstante, das diversas definições
e caracterizações que foram dadas há uma, ainda segundo o
autor, que ele prefere: incorporação à própria vida da
realidade afirmada pelo dogma. O dogma –entendido não
como verdade definida, mas, num sentido mais amplo de sua
dimensão noética e propositiva da doutrina e pregação da
Igreja– enuncia a realidade de Deus, de sua vida trinitária, de
sua comunicação ao homem em Cristo e no Espírito. E remete a
essa realidade, já que, como sublinhava Santo Tomás de
Aquino, a fé não termina nas palavras, mas n’Aquele a quem as
palavras invocam. Essa realidade de Deus e mais
concretamente a de seu desígnio de comunicação, incidem no
espírito humano desde os primeiros instantes de seu existir e,
com uma força especial, desde seu batismo. A partir daí, na
medida em que esse espírito acolhe o dom divino, se inicia o
processo da vida espiritual, em virtude da qual, através desse jogo
entre graça e liberdade que define o existir, o homem vai-se
apropriando, vai fazendo sua, a vida que Dios lhe oferece. Esse
processo, que é o objeto da Teologia Espiritual e o desejo de
manifestar a íntima conexão entre experiencia espiritual e
realidade cristã, é o enfoque do presente tratado.

La Vie Spirituelle (Paris), desde 1920.

LECLERQ, J., L’Amour des Lettres et le Désir de Dieu.


Initia-tion aux auteurs
monastiques du Moyen Age, Paris
1957.
Este livro, que, como diz seu subtítulo, é
uma iniciação aos autores monásticos da
Idade Média, tornou-se um clássico da
literatura monástica e da espiritualidade.
Publicado pela primeira vez em 1957, é
o resultado de uma série de lições dadas
aos jovens monges do Instituto de Estudos
Monásticos do Pontifício Ateneu de Santo Anselmo, em Roma,
nos anos anteriores. Foi traduzido para o português somente em
2012 (Antes tarde que nunca!). É uma obra muito atual e isso
se deve ao fato da erudição rica e discreta do seu autor ser
colocada, com muita simplicidade, a serviço e ao alcance do
leitor com uma gama de informações sólidas e percepções sutis
(p. ex. o conceito de Teologia Monástica), fruto da
autenticidade da sua atitude intelectual que traduz um rigor
científico aliado a um interesse por um saber aberto às questões
essenciais da existência. Como nos lembrou Bento XVI em seu
discurso ao mundo da cultura, em Paris (12/9/2008): “A busca
de Deus requer, portanto, intrinsecamente, uma cultura da
palavra, ou, como Dom Leclercq disse: escatologia e gramá-
tica são inseparáveis uma da outra no monaquismo ocidental.
O desejo de Deus inclui o amor pelas letras, o amor pela
palavra, sua exploração em todas as suas dimensões. Como,
na palavra bíblica, Deus está a caminho de nós e nós em
direção a Ele, [os monges] tiveram que aprender a penetrar no
segredo da lin-guagem, a compreendê-la em sua estrutura e em
seus usos. As-sim, pelo próprio motivo da busca de Deus, as
ciências profa-nas, que nos indicam os caminhos da
linguagem, tornaram-se importantes...” Como melhor
expressar a estimulante contribui-ção que a obra de Dom
Leclercq pode ainda dar às contem-porâneas questões literárias,
filosóficas, teológicas e espirituais?

*MOLINER, J. M. OCD, Historia de la Espiritualidad, Edito-


rial El Monte Carmelo, Burgos 1972.
De forma mais reduzida, num só volume, essa “História da
Espiritualidade manifesta seu desejo de síntese, uma tarefa nada
fácil para uma temática tão rica como a da espiritualidade cristã,
porém, muito necessária para permitir um acesso mais
apropriado a um público não especializado. José María Moliner
(+1998), carmelita, o autor, precisa sua obra com o título
Historia de la espiritualidad cristia-na, rica em dados
históricos, que pretende abarcar demasiado para uma história
num só volume: aparecem demasiados nomes de autores e
obras escritas, caindo às vêzes em justaposição de dados,
perdendo-se um pouco, desta forma, o fio da meada da história
e obscurecendo o valor de alguns dos principais acontecimentos
e personagens. Além disso, em alguns casos, se detém em
aspectos muito secundários da doutrina espiritual, esquecendo,
por outro lado, outros aspectos mais significativos. As
referências bibliográficas são mínimas. Apesar de tudo isso, a
leitura deste livro proporciona, sem dúvida, uma visão
completa e bem orientada da história da espiritualidade cristã.
Moliner divide sua história em sete partes, além da introdução,
na qual da uma visão de conjunto da história da espiritualidade
e seu sentido mais completo que muitas outras obras afim.
A primeira parte, dedicada aos Padres, até o século VIII, é
mui-to pobre no que diz respeito aos três primeiros séculos,
sobretudo pela falta de uma visão de conjunto dessa época; tão
pouco se pode formar com a leitura uma
ideia clara da origem e evolução do
monaquismo primitivo, ainda que a
doutrina escrita seja apresentada com
detalhe.
O capítulo segundo, dedicado a monges e
cônegos (séc. IX-XII) e o terceiro, aos
mendicantes (séc. XIII), logram mais seu
es-copo: com dados satisfatoriamente completos, com um
enfoque global mais claro. Falta sem dúvida um estudo
proporcionalmen-te mais minucioso da piedade popular da
época, como é habitual em outras histórias e necessário para
melhorar essa visão de conjunto. Por isso que acabamos de
falar vemos que Moliner se restringe, quase que exclusivamente
à literatura espiritual, dando menos valor a aspectos mais vitais,
ainda que os conheçamos principalmente graças a essa mesma
literatura.
O capítulo dedicado aos séculos XIV e XV reflete bem as ten-
sões e contrastes da época, particularmente entre o misticismo
de uns e as tendências práticas de outros, porém salvo Santa
Catarina de Sena, não dá tanto relevo a outras figuras menos
enquadradas nessas duas tendências porém, por isso mesmo,
mais equilibradas, como Santa Brígida, Dionísio Cartuxo, São
Bernardino de Sena, Henrique Herp, etc.
O capítulo sobre o século XVI é o que melhor mostra que um
excesso de dados pode falsear uma história, ao menos se for
resumida: faltam poucos nomes do grande florescimento do
século de ouro espanhol, e também da Itália; porém, até Santa
Teresa e São João da Cruz ficam diluídos nessa profusa relação,
ainda que se lhes dediquem alguns parágrafos maiores. Mais
destaques, ao contrário, recebem São Francisco de Sales, De
Berulle e Santo Afonso Maria de Ligorio, na sexta parte
dedicada à espiritualidade ilustrada, também rica em dados,
inclusive com autores e livros que não costumam ser
mencionados em outras histórias.
Na última parte, correspondente aos séculos XIX e XX,
Moliner não escapa às dificuldades que comporta uma
apresentação equilibrada e completa de um mundo espiritual
tão próximo, todavia, a nós. Como no resto do livro, há nestas
páginas mais riqueza de dados que senso de conjunto do mo-
mento histórico, parecendo que alguns dos aspectos sublinha-
dos falseiam a realidade: por exemplo, sem subvalorizar a
importância que pode ter tido Teilhard na teologia contempo-
rânea, sua influência na espiritualidade foi quase nula e nada
comparável ao de Santa Teresinha de Jesus, que passa quase
despercebida e um tanto fora de lugar.
Em definitivo, o livro de Moliner é uma história da espirituali-
dade das mais ricas em dados e nomes que se pode achar em
um só volume, porém à custa de um empobrecimento parcial
das linhas de força e dos pontos focais dessa mesma história.
Sua utilidade depende, pois, de qual destas finalidades se
busque com sua leitura.

*MONDONI, D., História e Teologia da Espiritualidade, Ed.


Loyola, São Paulo 2014.
Para os que se perguntam pelo mistério
subjacente ao silêncio do universo e às
nuvens da história, a espiritualidade é a
impressão que o encontro com o Trans-
cendente provoca na vida de cada pes-
soa. A teologia é a expressão que esse
encontro traz à tona quando se tenta
entendê-lo e falar sobre ele.
A partir de uma visão panorâmica da
história da espiritualidade, o autor mostra as raízes históricas de
diversos movimentos e escolas espirituais, bem como reflete teo-
logicamente sobre os elementos constitutivos que fundamentam
a espiritualidade cristã e contribuem para seu desenvolvimento
(orientação espiritual). Atraído por Aquele que é a fonte de toda
vida e o Deus de toda consolação, o cristão- como pessoa unifi-
cada nas dimensões corporal, psíquica e espiritual- segue o cami-
nho de Jesus Cristo- a fraternidade sem fronteiras-, movido e
sustentado pela força e pelo dinamismo do Espírito Santo.
Danilo Mondoni, sacerdote jesuita, mestre em História da
Igreja pela Gregoriana de Roma, é professor associado na
Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo
Horizonte (MG), e professor de História do Cristianismo na
Faculdade de S. Bento e no Museu de Arte Sacra de São Paulo.
*ROYO MARIN, A., Los grandes maestros de la vida espiri-
tual. Historia de la espritualidad cristiana, Madrid 1973;
Os grandes mestres da vida espiritual. História da espiri-
tualidade cristã, trad. Ricardo Harada, Editora Ecclesiae,
Campinas 2019.
Antonio Royo Marín (1913-2005)
era um dominicano espanhol que,
desde sua entrada na Ordem (1939),
destacou-se por suas qualidades in-
telectuais. Professor de Teologia
Moral e Dogmática em Salamanca,
pregador geral dos dominicanos e
autor imensamente apreciado, tor-
nando-se afinal um dos teólogos mais
populares do nosso tempo. Em re-
conhecimento a sua fidelidade à
Igreja, foi-lhe concedida a Cruz de
Honra Pro Ecclesia et Pontifice.
Nessa obra ele leva em conta que na espiritualidade cristã cabe
distinguir uma dupla vertente.de um lado existe um núcleo fun-
damental, que não mudou e nem mudará jamais até o fim dos
tempos. Ninguém se santificará jamais sem sua incorporação a
Cristo através da graça santificante, dos sacramentos, da prática
das virtudes sobrenaturais etc. Sobre isso não cabe a menor dúvi-
da. Porém, na aplicação concreta desses elementos essenciais
da vida cristã aos homens imersos em uma determinada época
da história, é imprescindível ter em conta as circunstâncias infi-
nitamente variáveis que os rodeiam. Há um abismo, por exem-
plo, entre os procedimentos de santificação empregados pelo
monaquismo primitivo, pelos frades medievais e pelos moder-
nos institutos seculares de perfeição - passando pelas mil cir-
cunstâncias históricas intermediárias -, embora o núcleo funda-
mental permaneça sempre o mesmo e idêntico para todos.
Naturalmente, nem todos os autores e obras historiadas têm a
mesma importância e tampouco exerceram idêntica influência
na espiritualidade posterior. Por isso acolhemos, com a máxima
extensão que nos permite o escopo desta obra, as figuras verda-
deiramente importantes e fundamentais: Santo Agostinho, São
Bernardo, Santo Tomás de Aquino, São Boaventura, Santa
Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santo Inácio de Loyola, São
Francisco de Sales, Santa Teresinha do Menino Jesus etc.,
reunindo em segundo plano e com menor extensão as de
influência menos brilhante.
A totalidade dos dados biográficos e doutrinais que o leitor en-
contrará em nossa obra foram tomados das obras originais, quan-
do nos foi possível utilizá-las diretamente, ou dos autores que
as tenham historiado antes de nós. Não "inventamos" absoluta-
mente nada por nossa conta. Tivemos, isso sim, particular
cuidado em indicar em cada caso a fonte de onde tomamos
nossos dados, a fim de dar a cada um o que lhe corresponde,
suum cuique, como manda e exige a justiça mais elementar.

POURRAT, P., La spiritualité chrétienne, I. Des origines au


moyen âge, Gabalda, Paris 1917; II. Le moyen âge, 1921;
III-IV. Les temps modernes, 1925-1928 (tr. ingl., 1922).
Obra clássica iniciada em Paris em 1917ss e com várias reedições
na primeira metade do século pas-sado, algumas com revisões.
Trabalho pioneiro, seus quatro volumes foram durante muito
tempo a única verdadeira, própria e completa história da
espiritualidade; todas as que apareceram na segunda metade do
século passado levaram-na em conta. Ainda hoje, o historiador
e o estudante, podem tirar muito proveito da sua leitura e uso.
Pourrat dedicou o primeiro volume à Época Patrística, o segun-
do à Idade Média, e os dois últimos aos «Tempos Modernos».
Só este sumário/esquema já nos mostra a importância dada aos
séculos XVI - XVIII em comparação com os anteriores. Devido
à data da edição não está incluída nenhuma análise da espiritua-
lidade em nosso século e a do século XIX está incompleta.
Pourrat começa com um capítulo dedicado à espiritualidade neo-
testamentária, seguindo a divisão
clássica entre sinópticos, São João e São
Paulo.
Depois desse capítulo bíblico, toda parte
correspondente aos primeiros séculos
cristãos está centrada e orientada
decidida-mente para o monaquismo. Isto
supõe que o estudo da espirituali-dade
monástica primitiva resulta muito
completo, porém a abun-dantíssima doutrina espiritual dos
Padres da Igreja não vin-culada diretamente à vida monástica
fica assim muito diluída, podendo facilmente dar a impressão
de que espiritualidade cristã primitiva e espiritualidade
monástica são uma coisa só; o que falsifica não só a realidade
espiritual dos primeiros cristãos -antes do nascimento da vida
monástica-, mas a dos próprios séculos auge do mona-quismo,
nos quais mestres como Sto. Agos-tinho ou S. João Crisóstomo,
por exem-plo, sendo monges e escrevendo algumas obras para
monges, pregam e escrevem muito mais abundantemente para
leigos. Mais concretamente, o estudo dos três primeiros séculos
Cristãos está é feito a partir da perspectiva do «ascetismo
cristão», visto como uma anteci-pação da vida monástica. Ora,
apesar da unidade essencial da vida cristã, a vida dos ascetas e
virgens dos primeiros séculos possui traços característicos
diversos às motivações espirituais que levaram os primeiros
monges ao deserto. Além disso não é claro que esses primeiros
monges surgiram dentre as fileiras das virgens e ascetas, ainda
que tenha havido uma tendência a assimilar ambas as formas de
vida cristã, até ficar a virgindade não consagrada quase
esquecida na prática e na reflexão cristã.
Desta forma, na obra de Pourrat, o estudo dos primeiros Padres
da Igreja é deficiente, salvo o estudo dos grandes padres do mo-
naquismo e de sua espiritualidade, tanto orientais como ociden-
tais, que é amplo e completo. Os capítulos deste primeiro volu-
me abordam já os primeiros séculos medievais, seguindo os
passos da evolução da vida monástica.
O grande protagonista dos primeiros capítulos do segundo
volume é São Bernardo, estudado muito mais detalhadamente
que os demais representantes da «escola beneditina» medieval.
Depois, o autor faz outra opção discutível: analisa a abordagem
teológica de Santo Tomás de Aquino da vida espiritual antes de
falar dos inícios da vida mendicante, e das «escolas» -é a termi-
nologia habitual então- franciscana e dominicana. Ainda que o
miolo da reflexão tomista se possa considerar, com efeito, inde-
pendente do estritamente dominicano, há aspectos que no se en-
tendem historicamente sem o decisivo contexto mendicante que
acompanha a grande escolástica.
Aliás, o esquema seguido por Pourrat, segundo as «escolas» re-
ligiosas, dificulta a compreensão do complexo desenvolvimen-
to espiritual da Baixa Idade Média: assim, situar num mesmo
capítulo Santa Catarina de Sena e Mestre Eckhart, apesar de sua
comum vinculação ao mundo dominicano, não parece adequa-
do para compreender os traços próprios do ensinamento de uma
e outro. Ruysbroeck, a Devotio moderna, Gerson etc., ficam mais
bem situados. Os últimos capítulos deste volume estão um pou-
co desconjuntados, ainda que tratem de autores e correntes de
pensamento que não podiam faltar (cartuxos, místicos ingleses
etc.), incluído um capítulo sobre o hesychasmo oriental e outro
sobre algumas devoções populares medievais.
Pourrat parece centrar o resto na época moderna, e na espiritu-
alidade francesa em particular, ainda que o início deste período
tenha importantes protagonistas não franceses que, claro, o his-
toriador valoriza em sua justa medida. Assim, o primeiro dos
volumes dedicados aos tempos modernos, se inicia com um es-
tudo da chamada «oração metódica», que nos leva em seguida
aos Exercícios de Santo Inácio e aos primeiros jesuítas espa-
nhóis. Quando Pourrat aborda o estudo do humanismo cristão e
dos protestantes, que, deveria ser anteposto ao estudo da espiritu-
alidade jesuíta, esta fica separada do resto da «escola
espanhola».
Ao entrar no estudo do século de ouro, Pourrat volta a remontar
à Idade Média, e apresenta o resto dos autores com referência a
Santa Teresa. Os dois grandes místicos carmelitas têm, por con-
seguinte, capítulo próprio na história de Pourrat. Seu esquema
de «escolas», continua avançando pelo séc. XVII espanhol. Desta
forma, ao passar à «escola italiana» e retornar aos inícios do
século XVI perdemos algo da perspectiva histórica. Na Itália,
além disso, Pourrat se detém mais nos traços gerais da
espiritualidade da época que nas figuras mais representativas.
Chegamos, assim, na França do século XVII, com excelentes
apresentações de São Francisco de Sales e do Cardenal Berulle,
para concluir o volume, mais brevemente, com São Vicente de
Paulo e São João Eudes. Talvez esse seria o momento de reor-
ganizar a matéria, pois no seguinte volume se inicia com o
jansenismo e a escola jesuíta francesa, temas contemporâneos
dos que encerram o volume terceiro.
O estudo do jansenismo é bastante minucioso; e o dos jesuítas
franceses, que o autor chama «prequietismo» e do quietismo
propriamente dito, muito mais, até dando uma impressão de
clara desproporção. Com efeito, ainda que a espiritualidade
dessa época, e particularmente no âmbito francês, estivesse
muito vinculada na teoria e na prática às polêmicas de corte
quietista e jansenista, onze capítulos sobre o tema resultam
excessivos, e deixam preteridas figuras contemporâneas muito
mais influentes, como as já mencionadas, ou os que Pourrat
estudará nos capítulos seguintes: São Luis Maria Grignon de
Montfort, Santa Margarita Maria de Alacoque etc. Todavia,
com uma ordem discutível, porém sem dar espaço a outros
entre os principais protagonistas, Pourrat volta ao século XVII
e à Itália, para adentrar-se também aí nos séc. XVIII e XIX; e
mantém o seu esquema por nações nos capítulos finais:
Espanha, Alemanha, Países Baixos, Polônia, Inglaterra e Fran-
ça. Enfim, todo este quarto volume resulta muito completo no
que diz respeito aos autores espirituais, sobretudo franceses,
porém sacrificando uma melhor visão de conjunto, cada vez
mais diluída, conforme a obra se acerca justamente a sua data
de aparição, nos albores de nosso século.
Apesar dessas observações críticas, o mérito e pioneirismo de
Pourrat são notáveis. É uma obra sólida e duradoura, que histó-
rias posteriores, logicamente, puderam melhorar em vários as-
pectos, porém sem deixar de depender dele.

Revista de Espiritualidade (Portugal), Edições


Carmelo.

Revue d’Ascétique et de Mystique (Toulose),


desde 1920.

Vida Sobrenatural (Salamanca), desde 1921.

Vita Cristiana (Fiesole), desde 1929.

SECONDIN, B., Espiritualidade em diálogo. Novos cenários


da experiência espiritual, Paulinas, São Paulo 2002.
O Autor, frade carmelita e professor de Espiri-tualidade na
Universidade Gregoriana, em Ro-ma, é autor de diversos livros
sobre essa temá-tica. Aqui, percorre um caminho que intitula de
espiritualidade em diálogo”, que ele mesmo explica ser um
esboçar as possibi-lidades de diálogo entre os desafios culturais
e a espiritualidade cristã, indicando os prós e os contras que
essa atitude acarreta. Com um estilo leve e, até mesmo,
cativante, o autor focaliza a Espiritualidade no seu processo
histórico e cultural, por meio do discernimento e da profecia.
Para isso, detêm-se em alguns aspectos significativos que estão,
por assim dizer, “enraizados” em homens que manifestam a
parresia evangélica.
A partir de esclarecimentos terminológicos e culturais, apresen-
ta a evolução conciliar e pós-conciliar da espiritualidade,
assinalando e questionando (preste bem atenção!!!) o que numa
linguagem atual chama-se “os temas de fronteira e os novos
cenários da experiência espiritual”, sublinhando, por fim, três
aspectos fundamentais do tema: a espiritualidade da encarna-
ção, o desafio da inculturação e a experiência da liberdade.
Trata-se, portanto, dentro do linguajar e conteúdo pós conciliar,
de um livro inovador e incisivo, mas com um enfoque (em vista
e outros) coerente e bem equilibrado dessas novas perspectivas.

STAGLIANÒ, A., Teologia e spiritualità. Pensiero critico ed


esperienza cristiana, Collana Spirito cristiano contem-
poraneo, Studium, Roma 2006.
A espiritualidade cristã não é algo evanescen-
te. Reconduzida ao mistério da Encarnação,
ela aborda a totalidade do ser humano nas
suas experiências histórico-sociais e eclesiais,
nas quais a pessoa nasce, cresce e se forma
como homem e como cristão. Traçar as linhas
de uma nova espiritualidade, a partir do clima cultural pós-
moderno de hoje, abre uma importante tarefa à inteligência da
fé. O canteiro de obras está aberto, para um novo começo de
pensamento: um pensamento "dialógico", no qual a sabedoria
da tradição bíblica e teológico-espiritual é confrontada e
colocada a serviço dos problemas emergentes da cultura
contemporânea, na tentativa de delinear respostas possíveis
para a atual questão humana de significado. Para este propósito,
a condição de estranheza entre a experiência espiritual e a
teologia parece antinatural.
O autor reconstrói a história da relação entre teologia e espiritu-
alidade no século XX e enfoca as tentativas de superação desse
“divórcio”, que tem raízes antigas. Uma interpretação mais teo-
lógica da espiritualidade deve corresponder a uma elaboração
mais espiritual da teologia, além de qualquer mal-entendido de
seu conceito. O “retorno do sagrado” marca, de fato, o surgi-
mento de uma espiritualidade soft, mas penetrante, capaz de
reunir em seu próprio guarda-chuva sincrético as linguagens de
todas as religiões, inclusive a cristã. Espera-se, então, o discer-
nimento da teologia como juízo crítico da inteligência, para al-
cançar a clareza necessária à espiritualidade cristã para orientar
a existência.
Antonio Staglianò, Doutor em Teologia e Filosofia é Diretor do
Instituto Teológico Calabro em Catanzaro, onde ensina Teolo-
gia sistemática (Cristologia, Teologia trinitária) e Teologia pas-
toral. Foi diretor da Rivista di scienze teologiche «Vivarium».

“A Igreja é sempre uma Igreja do presente.


Ela não considera sua herança
como o tesouro de um passado fechado,
mas como uma poderosa inspiração
para avançar na peregrinação da fé
por estradas sempre novas”
S. João Paulo II2

2
Reims 22/11/1996, aniversário do batismo de Clóvis, rei dos Francos.

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