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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................ 9
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 11
1. UMA RELAÇÃO COMPLICADA ................................................... 13
A fundação da igreja .......................................................................... 13
A primeira carta – a carta perdida ..................................................... 15
A segunda carta – 1Coríntios ............................................................ 16
A segunda visita ................................................................................. 17
A terceira carta – a “carta severa” ..................................................... 18
A quarta carta – 2Coríntios ................................................................ 19
Conclusão .......................................................................................... 19
2. PAULO, CEFAS, APOLO E CRISTO............................................... 21
Os partidos ......................................................................................... 21
A ameaça de ruptura .......................................................................... 22
Influência da filosofia grega .............................................................. 23
A “sabedoria” dos coríntios ............................................................... 24
O culto à personalidade ..................................................................... 26
Antagonismo a Paulo ......................................................................... 27
Conclusão .......................................................................................... 28
3. CORINTO, A IGREJA DE DEUS (1.1-9) ......................................... 31
A saudação (1.1-3) ............................................................................. 32
Gratidão pela igreja (1.4-9) ............................................................... 35
Conclusão .......................................................................................... 38
4. APELO À UNIDADE (1.10-17) ........................................................ 41
Parem com as divisões! (1.10-12) ..................................................... 41
Paulo se exime de culpa (1.13-17) .................................................... 45
Conclusão .......................................................................................... 49
6 UMA IGREJA COMPLICADA

5. A SABEDORIA DE DEUS E A SABEDORIA HUMANA (1.18-31) 51


A pregação da cruz e a sabedoria humana (1.18-25) ......................... 52
A vocação dos coríntios (1.26-31) ..................................................... 59
Conclusão .......................................................................................... 61
6. A PREGAÇÃO DE PAULO EM CORINTO (2.1-5) ........................ 63
Não em linguagem ostensiva (2.1-2) ................................................. 63
Em demonstração do poder do Espírito (2.3-5) ................................ 66
Conclusão .......................................................................................... 68
7. O MISTÉRIO DE DEUS (2.6-13) ..................................................... 71
O mundo não conhece o mistério de Deus (2.6-9) ............................ 72
O Espírito revela o mistério de Deus (2.10-13)................................. 77
Conclusão .......................................................................................... 82
8. NATURAL, ESPIRITUAL E CARNAL (2.14–3.4).......................... 85
O homem natural (2.14) .................................................................... 85
O homem espiritual (2.15-16) ........................................................... 87
Crentes carnais (3.1-4) ...................................................................... 89
Conclusão .......................................................................................... 94
9. COMO CONSIDERAR OS PREGADORES (3.5-11) ...................... 97
A natureza e o sucesso do ministério cristão (3.5-9) ......................... 98
Apóstolos e pastores (3.10-11) .......................................................... 105
Conclusões......................................................................................... 108
10. O FOGO DO JUÍZO E A GLÓRIA DOS HOMENS (3.12-23) ...... 111
O Dia do Juízo (3.12-15) ................................................................. 112
Advertência aos que estavam dividindo a igreja (3.16-17) ............. 118
Não se gloriem nos homens! (3.18-23) ........................................... 120
Conclusão ........................................................................................ 124
11. O JULGAMENTO DOS MINISTROS DO EVANGELHO (4.1-5) 127
O que Paulo espera dos coríntios (4.1) ............................................ 128
O que Deus espera dos líderes (4.2) ................................................ 130
O que Paulo espera de si mesmo (4.3-4) ......................................... 132
O que os coríntios deveriam esperar de Deus (4.5)......................... 134
Conclusão ........................................................................................ 136
12. COMO ENFRENTAR A ARROGÂNCIA (4.6-10)......................... 139
O motivo da pastoral (4.6-7) ........................................................... 139
A lista irônica (4.8-10) .................................................................... 143
Conclusão ........................................................................................ 147
SUMÁRIO 7

13. AS AGRURAS DO MINISTÉRIO APOSTÓLICO (4.11-13) ........ 149


Lixo e escória do mundo (4.11-13) ................................................. 149
Tratando das ovelhas (4.14-17) ....................................................... 151
Tratando dos bodes (4.18-21) .......................................................... 155
Conclusão ........................................................................................ 157
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 159

NOTAS .................................................................................................. 161


11

INTRODUÇÃO

E
ste livro é o resultado de anos de pregação sobre os primeiros
quatro capítulos de 1Coríntios. Várias razões me levaram a ex-
por essa passagem com frequência, especialmente quando era
convidado para falar a pastores e líderes das mais diversas denominações.
Uma das razões, e talvez a mais importante, é que nesses capítulos o apóstolo
Paulo trata de algumas questões relacionadas às igrejas locais que são particu-
larmente relevantes para o momento que estamos vivendo no evangelicalismo
brasileiro, a saber, divisões nas igrejas e o ministério pastoral.
Percebi que tratar desses assuntos por meio da exposição das palavras
de Paulo sempre foi muito útil para pastores e líderes evangélicos em várias
partes do Brasil. Em todo lugar, os pastores que querem seguir um modelo
bíblico de ministério estão enfrentando questionamentos dos membros de
suas igrejas, que tomaram como padrão e referencial de pastorado bem-
sucedido aquele dos bispos, missionários e apóstolos que dominam a mídia
evangélica hoje.
Diariamente ocorrem divisões nas igrejas e a formação de novas co-
munidades e denominações inteiras, divisões essas causadas pelos próprios
líderes em busca de espaço, poder, prestígio e dinheiro.1 Muitas novas co-
munidades de crentes são formadas em busca de alimento espiritual e de
liderança bíblica. Não é a esses que aqui me refiro.
Assistimos assombrados ao surgimento e crescimento em menos de
duas décadas dos ministérios apostólicos e a verdadeiros impérios religio-
sos de homens que reivindicam e exigem de seus seguidores absoluta fideli-
dade e compromisso financeiro. E, o que é o mais estarrecedor, usando para
isso o nome de Cristo e um evangelho deturpado, que não é um evangelho,
mas uma mensagem de escravidão e cegueira, que vem tirar não somente a
fé, mas o dinheiro dos incautos.
Quando Paulo escreveu esses capítulos, a igreja de Corinto estava pres-
tes a rachar-se em quatro grupos por causa da concepção errada que os crentes
daquela cidade desenvolveram quanto ao ministério cristão. Para eles, os mi-
nistros de Cristo deveriam ser pessoas influentes, cultas, que fossem mestres
de retórica e versados na sabedoria deste mundo, nobres e respeitáveis.
Pelos critérios deles, Paulo era um apóstolo inferior, talvez até indigno
de ser considerado apóstolo, comparado, por exemplo, a Apolo e Pedro.
Com paciência pastoral e profundidade teológica, Paulo expõe a natureza
do evangelho de Cristo e da pregação cristã, a natureza do ministério cristão
12 UMA IGREJA COMPLICADA

e faz um profundo apelo à unidade da igreja. Ao defender o próprio ministé-


rio, ele nos dá uma das melhores exposições do que significa realmente ser
um despenseiro dos mistérios de Deus.
Este livro é uma tentativa de dar maior alcance à mensagem de Paulo a
respeito dos temas contidos na sua primeira carta aos coríntios. Espero que
a receptividade desta obra seja tão boa quanto a receptividade das prega-
ções que lhe deram origem.
É com oração e expectativa que cometi essas pregações à escrita. Quem
sabe, pela providência e misericórdia de Deus, esta obra será útil aos leito-
res que desejam conhecer as causas e os remédios bíblicos para a crise de
liderança que se instalou em nosso meio evangélico.

Augustus Nicodemus Lopes


São Paulo, setembro de 2010
13

1
UMA RELAÇÃO COMPLICADA

A
igreja de Corinto foi provavelmente uma das mais difíceis entre
as igrejas com as quais o apóstolo Paulo manteve um relacio-
namento. Essa é a impressão que temos da sua correspondência
aos crentes dessa cidade e do relato do livro de Atos. Nas duas cartas escritas
por ele, e que foram preservadas, percebemos, especialmente na segunda,
uma tensão crescente entre o fundador e pai espiritual da comunidade e os
seus membros. Ao que parece, a causa maior da tensão foi a crescente rejei-
ção por parte dos coríntios da autoridade de Paulo como apóstolo, causada
pela influência corrosiva de mestres judaizantes e pelo espírito faccioso de-
corrente da formação de partidos na igreja relacionados com outros líderes
(ver o capítulo seguinte).
Os judaizantes costumavam entrar nas igrejas plantadas por Paulo en-
tre os gentios e minar a autoridade dele, diminuindo-o por não ser um dos
Doze apóstolos originais. Além disso, acusavam-no de pregar um evange-
lho diferente daquele de Pedro e Tiago e de incitar os judeus convertidos a
abandonar os costumes instituídos por Moisés para serem observados pelos
judeus, como a circuncisão, a dieta religiosa e as datas do calendário judeu.
Observamos traços nas duas cartas de Paulo aos coríntios do resultado
dessa campanha maliciosa contra o apóstolo. As frequentes defesas que Paulo
faz de seu ministério, inclusive nessas duas cartas, são prova disso.
Contudo, o apóstolo não desistiu da igreja rebelde, carnal e herética.
Suas cartas estão cheias de exortações amorosas, orientações e conselhos de
um líder espiritual que não se deixou abater e desanimar pela incompreensão
e rebelião de seus filhos na fé.
A FUNDAÇÃO DA IGREJA
Conforme lemos no livro de Atos dos Apóstolos, Paulo chegou a Corinto
após uma passagem com pouco sucesso por Atenas (At 18.1; cf. 17.32-34).
O apóstolo já tinha passado por Filipos e Tessalônica, pregando a Palavra e
fundando igrejas. Agora, após Atenas, chegava a Corinto, uma cidade co-
nhecida pela imoralidade e vida libertina, além da profusão de religiões e
escolas de filosofia.
O próprio nome da cidade estava relacionado com a ideia de imorali-
dade, o que era bem adequado. Conforme uma antiga referência feita pelo
14 UMA IGREJA COMPLICADA

geógrafo Strabo, no ano 20 d.C., no templo da deusa Afrodite, localizado no


topo do monte chamado Acro-Corinto, havia mais de mil sacerdotisas que
eram também prostitutas.2
Sendo uma cidade portuária, Corinto era um caldeirão de raças e lín-
guas. Ela ficava estrategicamente localizada na rota marítima entre Roma e
a Ásia e distante somente 80 quilômetros de Atenas. Além disso, era a capi-
tal da província romana senatorial da Acaia. Por tudo isso, a cidade era a
sede dos Jogos Ístmicos, que rivalizavam com os Jogos Olímpicos realiza-
dos em Atenas.
Ironicamente, a cidade só perdia para Atenas em amor à filosofia.
Havia uma grande comunidade de judeus em Corinto. Isso não era de
se estranhar. Eles estavam em todo lugar do Império Romano onde houves-
se oportunidade para o comércio. E Corinto era uma das principais cidades
comerciais da Grécia. Assim, foi entre os judeus que Paulo começou a pre-
gação da Palavra na cidade, conforme era seu costume (cf. At 9.20; 13.5;
13.14; 14.1; 17.1; etc.).
A porta que Deus lhe abriu foi o encontro com Áquila, um judeu que
tinha escapado do decreto de expulsão do imperador Cláudio em Roma
(At 18.2).3 Tanto ele quanto Paulo faziam tendas, uma profissão comum
entre os judeus naqueles dias.4 Paulo foi morar e trabalhar com ele e sua
esposa, Priscila (At 18.3). Foi por intermédio de Áquila, provavelmente,
que Paulo teve acesso à sinagoga de Corinto, onde pregou durante alguns
sábados (At 18.4).5
Com a chegada de uma oferta da Macedônia, trazida por Silas e Timóteo
(cf. 1Ts 3.6; 2Co 11.9; Fp 4.15), Paulo pôde parar de fazer tendas e se
dedicar mais intensamente à pregação, provavelmente durante os dias da
semana (At 18.5).
A intensificação do ministério de Paulo, com o provável aumento de
conversões de judeus a Cristo, provocou uma reação violenta dos líderes da
sinagoga, como geralmente acontecia onde Paulo pregava, obrigando-o a ir
pregar aos gentios (At 18.6).
A porta que se lhe abriu foi por intermédio de um grego temente a
Deus que havia se convertido naquelas semanas.6 Seu nome era Tício Justo
e sua casa ficava ao lado da sinagoga, a qual serviu de local de reuniões,
onde Paulo passou a pregar (At 18.7). Deus abençoou a pregação de Paulo,
e muitos judeus e coríntios se converteram a Cristo e foram batizados, entre
eles o próprio chefe da sinagoga, chamado Crispo (At 18.8).7 Entre os con-
vertidos havia impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões,
avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores – a própria escória de uma
sociedade corrompida como Corinto (6.9-11).
UMA RELAÇÃO COMPLICADA 15

É curioso que o livro de Atos não narra qualquer milagre realizado por
Paulo ali. Sabemos por 2Coríntios que eles aconteceram. Paulo escreveu aos
que questionavam sua autoridade apostólica em Corinto que “... as credenciais
do apostolado foram apresentadas no meio de vós [...] por sinais, prodígios e
poderes miraculosos” (2Co 12.12; ver Rm 15.19; Hb 2.4). Todavia, o
surgimento de uma igreja numa cidade como Corinto foi o maior de todos os
milagres, e é um monumento ao poder do evangelho e à graça de Deus.
Encorajado pelo próprio Senhor em uma visão à noite, Paulo conti-
nuou a ministrar ali por mais um ano e meio (At 18.9-11). As conversões
devem ter sido numerosas, a ponto de enfurecer ainda mais os judeus, que
um ano e meio após a primeira revolta contra Paulo, tentaram amotinar o
povo contra ele e os cristãos de Corinto diante das autoridades da cidade e
representantes de Roma (At 18.12-17).
Apesar da violência, Paulo ainda permaneceu muito tempo em Corinto
– alguns acham que seu ministério ali durou três anos no total, até finalmen-
te deixar a cidade rumo a Éfeso, para lá pregar.
A PRIMEIRA CARTA – A CARTA PERDIDA
Algum tempo depois de ter deixado a cidade, Paulo escreveu uma pri-
meira carta aos coríntios, mencionada em 5.9: “Já em carta vos escrevi que
não vos associásseis com os impuros”. Essa carta foi escrita antes da que
conhecemos como 1Coríntios, em data e local desconhecidos. O uso do ar-
tigo definido (no grego, a frase é “na carta”) e a falta de maiores explicações
deixam claro que os coríntios sabiam a que carta Paulo se referia.
O resumo que Paulo nos dá dessa carta em 5.9 sugere que ela tratava,
pelo menos em parte, dos problemas relativos à comunhão dos crentes com
os sexualmente impuros (imorais). Essa seria certamente uma questão crucial
para os crentes coríntios, devido à natureza da sociedade em que viviam.
Paulo havia sido mal-entendido pelos coríntios nessa primeira carta, pois
concluíram que o apóstolo queria a separação apenas dos imorais deste
mundo, e não dos imorais que estavam dentro da igreja passando-se por
cristãos. Paulo, então, ao escrever a carta seguinte (que nós conhecemos
como 1Coríntios) explica melhor o que ele queria dizer (5.9-11).
No entanto, onde está a que é realmente a primeira carta de Paulo aos
coríntios? Diante do fato de que não possuímos uma cópia sequer da mes-
ma, a conclusão lógica é que ela se perdeu e não foi preservada pelos cris-
tãos apostólicos. Não sabemos os motivos disso.
Existe outra hipótese, defendida por alguns estudiosos, de que um
pedaço dela foi preservado e posteriormente interpolado em 2Coríntios
como 6.14–7.1 no processo de colecionamento e transmissão do Corpus
Paulinus. Os principais argumentos em favor dessa hipótese são estes:
16 UMA IGREJA COMPLICADA

(1) 2Coríntios 6.14–7.1 quebra a linha de argumento da passagem; (2) intro-


duz abruptamente um assunto novo; (3) 2Coríntios 6.13 continua normal-
mente em 7.2; (4) o conteúdo se assemelha à “carta perdida”.
Todavia, não há qualquer evidência textual para a hipótese mencionada.
Em todos os manuscritos existentes de 2Coríntios no texto de 6.14–7.1,
o suposto fragmento da carta perdida está presente. Não há nenhuma versão
conhecida de 2Coríntios que tenha circulado sem essa parte, o que torna a
hipótese da interpolação improvável. Além disso, essa parte se encaixa per-
feitamente no contexto, pois Paulo está exortando os coríntios a não ter
comunhão alguma com os falsos mestres que estavam se infiltrando na co-
munidade. E por último, a carta perdida tratava dos imorais, enquanto aqui
em 2Coríntios Paulo trata dos incrédulos (cf. 2Co 6.14).
Portanto, o mais provável é que a primeira carta tenha realmente se per-
dido. A carta que conhecemos como Primeira aos Coríntios é, em realidade, a
segunda que ele havia escrito. O que nos interessa no momento é perceber que
desde cedo a igreja de Corinto se mostrou problemática, obrigando o apóstolo
a escrever sobre questões relacionadas à imoralidade sexual.
A SEGUNDA CARTA – 1CORÍNTIOS
Ao que parece, a primeira carta (perdida) enviada por Paulo não surtiu
o efeito desejado pelo apóstolo. Algum tempo após, ele recebeu informa-
ções sobre a situação crítica da igreja pelos membros da casa de uma senho-
ra cristã chamada Cloe (1.11), e por uma comissão de irmãos vindos da
igreja de Corinto com uma oferta e uma carta contendo perguntas (16.17).
Essa carta mandada pelos coríntios tornou-se outra fonte de informa-
ções de Paulo sobre a situação da igreja deles. Ela parece ter sido preparada
pela comunidade sobre questões práticas. Paulo se refere claramente a essa
carta em 7.1, “Quanto ao que me escrevestes”, uma fórmula que ele repete,
de maneira abreviada, em 7.25; 8.1; 12.1; 16.1 e 16.12. Podemos concluir
que nesses pontos ele está respondendo às perguntas enviadas pelos coríntios.
Essa carta havia sido possivelmente trazida pela mesma delegação que ele
menciona em 16.17, composta de Estéfanas, Fortunato e Acaico, e que tal-
vez tivesse trazido para Éfeso uma oferta dos coríntios para o apóstolo.8
Por essas fontes de informação (pode ter havido outras), Paulo tomou
conhecimento do estado espiritual da igreja que ele fundara havia poucos
anos – e não era um quadro agradável.
A igreja estava dividida em pelo menos quatro grupos ou partidos,
criados em torno dos líderes que tinham influenciado a história recente da
igreja, e da própria pessoa de Cristo (1.12). Havia frouxidão por parte da
igreja na hora de lidar com os problemas de imoralidade, o mesmo proble-
ma que já ocasionara o envio da primeira carta perdida (5.1-2,9).
UMA RELAÇÃO COMPLICADA 17

Um irmão estava processando outro diante dos tribunais seculares e


trazendo escândalo para o evangelho (6.1). Alguns deles ainda praticavam
a prostituição cultual no templo de Afrodite (6.15). Havia discussão na
igreja quanto ao que seria mais espiritual, ficar solteiro ou casar, bem
como dúvidas quanto à possibilidade de separação dos cônjuges crentes e
descrentes (7.1,10,13).
Dois grupos surgiram em torno da discussão sobre comer carne
sacrificada aos ídolos, os fracos e os fortes, gerando debate e mais uma
divisão dentro da igreja (8.4). Todos esses problemas acabavam se refletin-
do no culto. As mulheres não queriam mais usar o véu no culto, quando
oravam ou profetizavam, como símbolo de que estavam debaixo de autori-
dade, como era o costume em todas as igrejas (11.5,10,16).
Um grupo de “espirituais” (12.1) monopolizava os cultos, falando em
línguas ao mesmo tempo, sem interpretação; outros, profetizavam sem que
houvesse qualquer critério ou juízo da parte da igreja, causando confusão
nos ouvintes (14.27-31).9 E para piorar tudo, havia um grupo da igreja que
negava a ressurreição dos mortos (15.12).
Não podendo regressar a Corinto naquele momento para tratar desses
problemas pessoalmente, como certamente teria preferido, Paulo então es-
creveu uma segunda carta, que ficou conhecida como a Primeira Carta aos
Coríntios. Aceita-se, em geral, que Paulo escreveu 1Coríntios no fim de
seus três anos de residência em Éfeso (cf. 16.5-9; At 19.10; 20.31). Uma
data provável, aceita pelos estudiosos, em geral, é 55 d.C.10
Paulo escreveu 1Coríntios para restaurar a unidade da igreja, respon-
der às questões práticas, e corrigir as várias irregularidades em termos de
pensamento e conduta. Seu tom é pastoral, mas se percebe nas entrelinhas a
preocupação e tristeza que enchia seu coração. Talvez a carta tenha sido
levada à igreja pela mesma comitiva que de lá viera visitá-lo (16.17). E com
a carta, foram também as orações do apóstolo para que sua amada igreja
aceitasse sua palavra apostólica e endireitasse seus caminhos.
A SEGUNDA VISITA
Na carta, ele menciona seus planos de visitá-los em breve para tratar
um foco de resistência hostil a seu ministério (4.18-20), instruí-los mais
acerca da Ceia do Senhor (11.34), recolher e enviar da parte deles uma ofer-
ta para os crentes pobres da Judeia (16.1-3), passar um tempo com eles e
depois ser enviado por eles para os campos missionários (16.6).
Entretanto, 1Coríntios não surtiu todo o efeito esperado pelo apóstolo
e a situação na igreja se deteriorou ainda mais. Paulo retornou a Corinto,
num esforço pessoal para remediar a situação (At 20.1-3). Lá, foi recebido
com hostilidade pela igreja ou por um grupo dela, que queria provas de que

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