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como libertador, pode estar ele mesmo raro, obrigada a limitar-se a ser simples
aprisionado, carecendo de libertação. O comentadora das posições oficiais.
autor explica-se «O meu propósito, o meu As cerca de 80 páginas seguintes
desejo, é humildemente ajudar a desobs- desenvolvem então tentativas várias de
truir a [sua] nascente para que ela possa resposta a questões como estas: «Como
correr mais límpida e mais abundante. libertar o Evangelho do seu revestimento
E, para isso, pôr o dedo nos obstáculos, antigo e medieval, e será que isso é se-
tomar-lhes a medida, compreender de quer pensável?» Suposto que sim, «como
onde provêm.» (Introduction, p. 12). favorecer a inculturação desta mensagem
Na sua análise, irá ter em conta muito na modernidade?» (p. 53). O autor é de
particularmente que, se a força vital da parecer que «a menos que emigremos da
semente evangélica não produz o fruto nossa própria cultura ou que pratiquemos
desejável é, em boa parte, «porque a mais ou menos conscientemente uma
sua força vital se encontra revestida de espécie de esquizofrenia, não podemos
múltiplas camadas provenientes da sua não partilhar estas interrogações» (ibid.).
cultura nas terras do Ocidente antigo e Entre múltiplas reflexões a propósito,
medieval, revestimento que torna difícil destacamos algo do que escreve sobre a
a sua germinação em outros tempos e em possibilidade de «transgressões legítimas»
outros lugares» (p. 16). De facto, no de- (pp. 77ss): as grandes inovações na Igreja,
curso da modernidade, «desde há cinco os ajustamentos necessários em múltiplas
séculos que as formas antigas de expres- situações do tempo e do espaço eclesiais,
são da fé têm sido como que sacralizadas, provêm, na maior parte dos casos, não da
a tal ponto que são ainda consideradas autoridade eclesiástica, mas do «sentido
como a única maneira exacta de pensar da fé» das comunidades no terreno, com a
e de viver a mensagem evangélica. Isso é ajuda de alguns «portadores de carismas»
manifesto no que diz respeito ao discurso (pastores, exegetas, teólogos, e mesmo
oficial» (p. 46). Paul Tihon aponta alguns muitos dos considerados simplesmente
«bons cristãos» (cf. ibid.).
exemplos. A sacralização do papado (ofi-
Estamos, como se vê, perante um texto
cialmente realizada pelo Vaticano I) é um
ousado, e mesmo provocatório. A levar a
deles. A (im)possibilidade de ordenação
sério pelos teólogos. E que bom seria fosse
de mulheres é outro, sendo que, no caso,
também tido em conta, não para condena-
«”definitivo” quer sobretudo dizer que
ção imediata mas para meditação, pelos
actualmente, em Roma, não se vê como
que, na Igreja, a diversos níveis, exercem
se poderia seguir em sentido diferente»
funções de autoridade.
(p. 50). Sobre o primeiro exemplo, faz
Jorge Coutinho
notar que a colegialidade dos bispos,
tendo sido ao mesmo tempo afirmada e
limitada no respectivo documento con-
ciliar, de facto acaba por funcionar mal,
Prieto Fernández, Francisco José,
continuando a verificar-se uma sistemá- Las figuras cambiantes de Jesús en
tica resistência dos aparelhos da Cúria La literatura cristiana antigua, col.
romana a toda a evolução, preocupados «Plenitudo temporis», Universidad
que estão, sistematicamente, com a sal- Pontificia de Salamanca, Salamanca,
vaguarda do que consideram imutável 2009, 382 p., 240 x 170, ISBN 978-84-
(cf. p. 51). A própria teologia vê-se, não 7299-6.