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História da Filosofia Medieval 2023.

2 - Cristian Gaspar Teixeira


Resumo do texto “O que é Filosofia Medieval?”

Apresenta-se neste texto um resumo na forma de listagem, segundo a ordem da


própria obra lida, de seus pontos-chave e informações mais relevantes, que são os
seguintes:
1. Idade Média é um termo inventado pelo pedagogo alemão Christoph Keller e,
segundo ele, vai da 324, época de Constantino até 1453, quando da tomada de
Constantinopla pelos turcos. Atualmente, a datação de início sobre a qual há
mais consenso é a de 476, ano em que houve a tomada de Roma pelo chefe
germânico Odoacro.
2. Fases da teologia medieval baseadas em seus instrumentais intelectuais
específicos:
a. Século IX - Gramática;
b. Século XII - Dialética;
c. Século XIII - Filosofia.
3. Cabe observar que, para os medievais, filósofo tem o sentido de intelectual
pagão, santo o sentido de padre da Igreja (patrística), e teólogo filosofante é
aquele que recorre à filosofia.
4. É citado no texto que o apóstolo São Paulo apresenta, em sua pregação para
os atenienses no Areópago, a teologia cristã como aperfeiçoamento e não
ruptura da teologia grega. Porém, esta pregação é motivo de chacota, não
chegando ao efeito conversor esperado. Quando ele faz uma pregação mais
despretensiosa e sobrenatural para os ouvintes em Corinto, esta obtém
resultados mais eficazes.
5. Consequentemente, há duas linhagens de cristãos, tal como as duas
modalidades da pregação paulina. Uma delas quer relacionar o cristianismo
com as coisas deste mundo, tendo-o por consumação delas. A outra pretende
pensá-lo como absolutamente separado deste mundo.
6. Fazendo parte da primeira linhagem, o filósofo e teólogo Santo Agostinho a faz
predominar por um milênio, marcando profundamente o início do pensamento
cristão ocidental. A visão agostiniana da relação entre fé e razão está baseada
no axioma "compreender para crer e crer para melhor compreender".
7. É indicado pelo autor do texto que o imperador analfabeto Carlos Magno
convida o ilustrado monge Alcuíno, mestre nas artes liberais da antiguidade,
para incentivar e estruturar a educação romana. As disciplinas de tais artes
eram as do trívio (palavras) e do quadrívio (números), e seu uso por parte de
Agostinho e outros escritores posteriores visou estabelecer interpretação mais
acertada das Escrituras.
8. O autor mais relevante após Agostinho é do século IX e se chama John Scott
"Erígena" (o irlandês). Ele cria a primeira grande suma de teologia ("A divisão
da natureza"), dando início ao estilo muito usado por autores posteriores, entre
os anos de 862 e 866. Pontos de vista semelhantes ao seu, em que pensa a
filosofia como inteligência da fé, reaparecem em Pedro Abelardo e Anselmo
de Cantuária.
9. O século X é um ponto do período medieval realmente tido como obscuro,
sendo marcado por pouca produção intelectual e grandes invasões na europa.
10. São Pedro Damião estabelece críticas à aplicação da dialética como método
de interpretação da Palavra de Deus, implicando nela algo de perigoso e, até
mesmo, inútil. Para ele, a filosofia pode ser, no máximo, serva da teologia.
11. Santo Anselmo (1033-1109), autor que teve o “Proslogion” por sua obra-prima,
visou aplicar o “fides ut intelligam” (crer para compreender) agostiniano.
a. Ele apresenta um argumento ontológico da existência de Deus, em que,
sendo Deus "aquilo tal que não se pode pensar algo de maior", Ele não
pode existir somente na inteligência sem fazê-lo também na realidade.
Pois assim, certamente, haveria algo de maior que Ele e a contradição
não permitiria que isso fizesse sentido. É isto mais um reforço racional
da fé do que uma prova exata e direta da existência de Deus.
12. Pedro Abelardo (1079-1142) buscou uma dialética aplicada à teologia.
Analisava posicionamentos teológicos divergentes entre os Padres da Igreja,
mas, sem tentar resolver as contradições e sim desvelá-las. Isso pelo fato de
os "santos" utilizarem a linguagem de modo, talvez, descuidado ou só não
muito técnico, incorrendo em problemas para expressar raciocínios
provavelmente válidos. Também influenciou ao enfatizar a importância de
levar em consideração as vicissitudes do texto e do autor nas interpretações
de tais textos, propondo ser possível haver escritos inautênticos ou
alteração/corrupção dos autênticos, além de os autores poderem realmente
ter incorrido em erros e até, talvez, terem se corrigido em textos seguintes que
foram perdidos. Ele vai mais fundo na dialética do que Santo Anselmo,
passando da pura meditação para uma investigação mais apurada e
argumentativa. Esse método de questionamento se torna central no exercício
acadêmico do século XIII, tanto que Santo Tomás de Aquino inicia sua suma
de teologia com a pergunta filosófica "Será que há um Deus?".
13. Uma mudança na forma de estudar teologia é estabelecida pelo italiano Pedro
Lombardo na obra "Os Quatro Livros das Sentenças" (cerca de 1160), em que
propõe que o método não seja criar e anexar comentários às partes distintas
da Bíblia, mas sim produzir um compêndio extra, estruturado em uma divisão
por assuntos e que reúna as questões centrais da fé, como: Deus Uno e Trino;
a criação, graça e pecado; encarnação e redenção; Sacramentos e os
Novíssimos.
14. Além da influência central de Abelardo e Lombardo, a partir do século XII, a
catedral de Chartres e a Abadia de São Vítor também se tornaram relevantes
na aplicação do trívio e do quadrívio na teologia. Com relação ao quadrívio, em
Chartres se destacou a figura de Teodorico de Chartres (falecimento em 1150),
que se valia da aritmética para basear conceitos teológicos. Abelardo foi
criticado por seu professor por não ser apto para o quadrívio e, ao mesmo
tempo, criticou outro professor, acabando com sua carreira ali e o forçando a
ir para a Abadia de São Vítor. Guilherme de Champeaux, o professor em
questão, chegando lá, acabou por gerar muito desenvolvimento acadêmico,
influenciando até mesmo ao seu aluno e futura figura de destaque, Hugo de
São Vítor.
15. Hugo, "novo Agostinho", julga necessário ligar as artes liberais à filosofia, esta
à teologia que, por sua vez, deve levar à beatitude.
16. Até o século XII, as bibliotecas eram pouco volumosas. A partir dele, as
traduções do grego e do árabe se multiplicaram efusivamente.
a. Os Diálogos de Platão só vieram a ser traduzidos no século XV. Sua
fama anterior a isso só pôde se dar devido aos neoplatônicos que
influenciaram Santo Agostinho. Somente Aristóteles era, então, entre os
séculos XII e XV, lido diretamente, graças às traduções do primeiro.
17. No século XIII, as escolas ligadas às catedrais urbanas foram as primeiras
universidades. Este termo sendo usado no sentido de um conjunto/sindicato
de mestres e estudantes, não no mais atual significado de união de vários
cursos, sendo que algumas delas possuíam apenas um.
a. A mais bem-sucedida, a de Paris, tinha Artes, Direito, Medicina e
Teologia, em que o primeiro curso era uma propedêutica obrigatória
para todos os outros e era formado pelas disciplinas do Trívio e do
Quadrívio.
18. As funções do ofício de mestre em teologia:
a. Lecionar (Ler) - partir dos textos Sagrados e seus comentários para
ensinar.
b. Disputar - mediar as questões que, a partir de então, eram
institucionalizadas, gerindo o debate entre defensores e opositores das
teses a respeito de certas questões, e dando a palavra final quanto a
resolução das mesmas.
c. Dar consultoria - especialmente para autoridades, nos assuntos de sua
competência.
19. Esses debates, denominados disputatio, se tornaram entretenimento e eram
de dois tipos, uns de tema pré-estabelecido, outros de tema livre.
20. Para conseguir o mestrado em teologia, um bacharel devia comentar por 2
anos as sentenças de Lombardo. Isso gerou numerosos textos que hoje
servem de indicativos documentais a respeito da época. As próprias sessões
de disputa tinham registros escritos que se enquadram na mesma situação.
21. As sumas pretendem ser uma resolução das limitações ligadas aos
comentários e às disputas - entre eles: desordem, especificidade e
profundidade excessivos. Ela, por sua vez, visava ser enciclopédica, sintética e
pedagógica.
22. As tendências reformistas em geral são marginalizadas pelas autoridades
eclesiásticas. Para acolher as que se deram no século XIII e, simultaneamente,
evitar heresias, a Igreja deu abertura às "ordens mendicantes" que, além de
despojadas, eram fundadas por homens retos, como São Francisco de Assis e
São Domingos de Gusmão.
23. Muitas condenações foram feitas quanto aos erros doutrinários incorridos
pelos textos filosóficos recém-traduzidos, em comparação com a visão da
Igreja, especialmente os de Aristóteles. A instituição tenta não perder poder
intelectual, político e moral.
24. A condenação feita pelo bispo Tempier, de Paris, em 1277, a 219 teses, é um
marco de mudança no pensamento medieval, causando mais tarde a
instauração da mentalidade de dispensabilidade da filosofia para embasar a
produção teológica. Ela visou, também, dissociar as especulações sobre Deus
das bases metafísicas aristotélicas, ligadas teoricamente às essências
naturais ou ao princípio lógico de não-contradição.
25. John Duns Scott julga que o ser humano seja incapaz de estabelecer
racionalmente os reais predicados de Deus, para poder afirmar com tanta
certeza que Ele seja mesmo onipotente e onipresente. Só a teologia o pode
reconhecer.
26. Guilherme de Ockam propõe um "princípio de economia" pelo qual julga que a
multiplicidade de termos não deve implicar em equiparação numérica de
objetos ou qualidade reais significados pelos mesmos.
27. Do século XII em diante, a condenação às obras aristotélicas acaba
influenciando o surgimento de preocupações acadêmicas com disciplinas
físicas, como a mecânica. No entanto, até isso é utilizado para ser base de
especulações teológicas, como no exemplo da força transitória impressa por
Deus na natureza em ímpeto para o movimento físico e espiritual, que é
relevada na teologia sacramental.
28. Crises de teor intelectual e religioso se emaranharam entre os séculos XIII e
XVI, levando a várias rupturas de unidade eclesial e da metodologia da
produção acadêmica medieval, desembocando em autores com predominante
preocupação racional, como Descartes, Bacon, Espinoza e Leibniz.
29. Para concluir, é necessário apontar que a importância histórica da filosofia
medieval é ressaltada, especialmente, por sua ligação direta com as obras
realizadas antes e depois de si, sendo indispensável para quem visa
compreender a formação da forma de pensamento ocidental.

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