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COMPENDIUM THEOLOGICAE CHRISTIANAE

[COMPÊNDIO DE TEOLOGIA CRISTÃ]

JohannesWollebius

Rev. Ewerton B. Tokashiki


[tradução]

Porto Velho
15 de Março de 2014
PREFÁCIO DO TRADUTOR

No Brasil o teólogo reformado JohannesWollebius ainda é desconhecido pelo público geral.


Numa busca rápida na internet, poucos textos são encontrados em português, quer escrito ou,
traduzido. Em inglês também há poucos artigos ou pesquisa sobre a sua pessoa ou obra. O fato é que
“Teologia Histórica” no período dos séculos XVI e XVII ainda é uma área de pesquisa pouco explorada
em nosso país. O DrHeber C. Campos Jr, dentre os reformados brasileiros, é um pioneiro no
desbravamento de pesquisas e produção acadêmica do protestantismo escolástico, inclusive trazendo
para o conhecimento, discussão e atraindo a atenção de outros pesquisados para este fértil campo de
estudo. Apesar de ter em minha biblioteca o Compendium de Wollebius desde 2009, foi no módulo
“Puritanismo e Protestantismo Escolástico” realizado em 2013 no CPAJ que despertou o interesse em
conhecê-lo melhor a fim de produzir um artigo. Essa descoberta motivou-me traduzir este livro.
A primeira tradução para a língua inglesa apareceu em 1650, por Alexander Ross apareceu em
Londres sob o título de Abridgementof Christian Divinitie. Esta versão se encontra disponível na internet
para download. Mas a tradução de John W. Beardslee III surgiu em 1965, e embora, obteve várias
publicações, inclusive de diferentes editoras, atualmenteestá esgotada, podendo ser encontrada apenas
alguns volumes usados.
Beardslee III oferece em sua introdução uma breve descrição da importância da obra de
Wollebius
JohannesWollebius (1586-1629) nasceu e foi educado em Basiléia, onde se tornou pastor
em 1611, e professor de Antigo Testamento e pregador da catedral em 1618. O
CompendiumTheologicaeChristianae foi publicado em 1626, sendo várias vezes, reimpresso
em Latim (Basiléia, 1634; Amsterdã, 1638; 1642; Oxford, 1657; Londres, 1760), e foi
traduzido para o holandês e inglês. Ernst Bizer quem reeditou o original em nossa geração,
poderia agora prevenir-nos contra superestimar a sua importância, concordando com
diversos historiadores do século XIX, mas não seria possível negar que seu extenso uso
durante o século XVII, a sua brevidade, clareza e fidelidade, não fosse uma positiva
expressão característica dos teólogos reformados nos tempos do Sínodo de Dort e que
poderia manter esta afirmação concedendo-lhe o título por considera-lo como uma avenida
para uma completa descrição do entendimento “ortodoxo” aceito pela Fé Reformada – o
“que comumente é ensinado com aceitação em nossas igrejas” e que pode ser encontrado
em Voetius, Turretin e igualmente em outros.1

Nesta breve nota introdutória algumas informações foram omitidas por Beardslee III que precisam ser
acrescidas à importância deste manual de dogmática. 2 Após a sua primeira publicação, em 1626, em
Basiléia, em várias universidades reformadas da Europa, ela se tornou o livro-texto tanto para
dogmática como para o ensino de ética.
Os teólogos reformados necessitam conhece-lo, em especial, por causa da sua influência sobre
os divines da Assembleia de Westminster. Infelizmente há sobre os teólogos protestantes do século XVII
um estigma de que eram áridos e abstratos. Wollebius em seu manual desmitifica essa deformada
caricatura. A sua linguagem é cheia de citações das Escrituras, e por vezes, oferecendo a sua própria
tradução dos originais, demonstrando boa exegese na construção de seus argumentos. Há ainda uma

1
John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics, pp. 10-11.Doravante apenas Wollebius e a indicação da página.
2
W. Hadorn, “Wolleb, Johannes” in: Samuel M. Jackson, ed., The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious
Knowledge(Grand Rapids, Baker Book House, 1950), p. 407.
preocupação na área da teologia prática, tanto no conteúdo dogmático, como na parte em que ele
interpreta e aplica o decálogo. A sua influência entre os teólogos do século XVII se dá por causa de sua
clareza, brevidade e precisão nas definições e argumentação. É um excelente sumário da teologia
reformada do período do protestantismo escolástico.
A tradução foi realizada primeiramente a partir do texto de Beardslee III. Todavia, terminada
decidi fazer uma revisão e acrescentar notas comparando com a tradução de Alexander Ross. Acusei
nestas notas onde ocorrem diferentes nuanças na tradução de um ou do outro. Outras notas foram
adicionadas para explicar os mencionados personagens da história da teologia. Quando o autor cita a
Escritura Sagrada, normalmente uso a Almeida Revista e Atualizada [ARA da SBB], a não ser quando o
versículo em questão é tradução livre, e possuí uma explicação deBeardslee III em algum aspecto
gramatical original. Assim, para distinguir não uso a sigla ARA quando preservo a tradução original em
inglês.
Dedico esta tradução ao meu filho João Marcos que desde o aprendizado das primeiras letras
ama a nossa herança reformada.
PROLEGOMENA À TEOLOGIA CRISTÃ

(I)
A teologia cristã é a doutrina a respeito de Deus, como ele é conhecido e adorado para a sua glória e
para a nossa salvação.

PROPOSIÇÕES

I.A palavra “teologia”, que possuí muitos significados, será usada nesta obra para descrever aquele
conhecimento de Deus que um cristão pode obter nesta vida da própria Palavra de Deus. De fato, o
nome “teologia” afrouxou-se devido ao ensino dos antigos pagãos que era designado sob as três
classificações do pensamento poético, mítico, filosófico, sacerdotal ou político em que as pessoas
comuns eram mantidas sob o controle das exigências da religião. A verdadeira teologia é corretamente
classificada como original e derivada. A teologia original é o conhecimento que Deus tem de si mesmo.
Na realidade esta não difere da essência de Deus. A teologia derivada é uma espécie de cópia da
original, primeiro em Cristo, o Deus-homem, e em segundo, nos membros de Cristo. Alguns membros de
Cristo são triunfantes no céu, e outros militantes na terra; a teologia dos triunfantes pode ser chamada
de teologia dos benditos, e a dos militantes é nomeada de teologia dos peregrinos.

II. Teologia não é considerada nesta obra apenas como uma faculdade do intelecto, mas um sistema de
ensino, e por isso, é descrito como doutrina. Como um corpo de ensinos, a teologia difere da faculdade
intelectual da teologia como um efeito difere de uma causa eficiente. Considera-la apenas como uma
faculdade intelectual levanta a dúvida de sua classificação entre estas faculdades; e como um assunto
de fato, qualquer uma delas por si mesma é muito restrita para descrever a teologia. O entendimento
[intelligentia] que apreende princípios, o conhecimento [scientia] que alcança as conclusões dos
princípios, e a sabedoria [sapientia] que resulta do entendimento e conhecimento, são todas faculdades
puramente contemplativas. A prudência [prudentia] que dirige a mente nas ações é ativa, e destreza
[ars] é uma faculdade que se torna ativa em relação com o correto raciocínio. A teologia consiste tanto
em contemplação como em ação. Ela é sabedoria e prudência; o discernimento naquilo que ele
apreende princípios através de uma inteligência divinamente iluminada e estende as suas conclusões
através do conhecimento; e a prudência está no que ela guia a alma humana em suas ações.

III. O fundamento de ser da teologia é Deus; o fundamento pelo qual ele é conhecido é a palavra de
Deus.

IV. Antigamente, antes de Moisés, a palavra de Deus não se encontrava escrita; ela foi escrita porque
Deus, de acordo com o seu mais sábio propósito, a partir de Moisés, quis que fosse atestada pelos
profetas e apóstolos. Os papistas a fim de substituir as suas tradições pela palavra escrita, declaram que
ela foi escrita meramente por causa de circunstâncias não essenciais. Mas isto é refutado por todos os
mandamentos de escrever, dados aos profetas e aos apóstolos (Êx17:14; 34:27; Dt 31:19; Is 8:1; 30:8; Jr
30:2; Hc 2:2; Ap 1:11, 19; 14:13; 19:9; 21:9). A ideia papista é refutada pelo testemunho dos apóstolos,
que declararam que eles nada falaram, ou escreveram, a partir de intenções humanas (Jo20:31: “mas
estas coisas são escritas para que vocês possam crer”, etc; Rm 14:5; 1 Co 10:11; 2 Pe 1:20-21; Is 8:20; Jo
5:39). Finalmente, aquelas passagens pelas quais somos dirigidos às Escrituras em matéria concernente
a salvação (Is8:20: “para o ensino e para o testemunho!”; Jo 5:39: “Examinem as Escrituras”).

V. Consequentemente, não reconhecemos outra base para a teologia, senão a escrita palavra de Deus.
VI. Que a Escritura Sagrada é de origem divina e autoridade é uma doutrina sustentada sem dúvidas
entre todos os cristãos.

VII. Por isso, é impróprio para um cristão questionar de qualquer modo a Escritura, a Bíblia Sagrada, se
ela é a palavra de Deus. Apenas nas escolas não há debate contra quem nega os postulados, então,
devemos considerar como impróprio para qualquer um ouvir falar quem nega as bases da religião cristã.

VIII. A dúvida quando busca saber do testemunho da qualidade divina [divinitas] da Escritura Sagrada se
torna conhecida, é válida para qualquer um dentre cristãos, se ela é motivada por um desejo de
instrução, e não conduzindo ao desvio ou a ridicularização da verdade.

IX. Este testemunho é duplo: primário e subordinado [principais etministerialis]. O testemunho primário
é aquele do Espírito Santo, tanto externamente, na Escritura em si, e internamente, falando no coração
e na mente de uma pessoa crente que ele ilumina, lhe assegurando a divina qualidade da Escritura. O
testemunho subordinado é aquele que é dado pela igreja. Externamente, o Espírito Santo testemunha,
na própria Escritura, acerca da origem e autoridade da palavra, em que tais expressões como “a palavra
de Deus,” “assim disse Jehovah,” “Jesus disse,” “toda a Escritura é divinamente inspirada” (2Tm 3:16),
ou “movidos pelo Espírito Santo, santos homens de Deus falaram” (2 Pe 1:21). Internamente, nos
corações dos crentes, o Espírito apresenta a divina qualidade da Escritura deste modo: quando um
homem lê a Escritura com oração, ele abre os seus olhos e ilumina a sua mente, de modo que, o leitor
vê as maravilhosas obras de Deus e, reconhece a voz do Espírito de Deus falando na Escritura. Os
papistas sustentam o testemunho somente da igreja, e isto para estender ao que eles defendem que
toda a autoridade da Escritura depende da igreja, e declaram que ela somente poderia ser considerada
a palavra de Deus através do testemunho da igreja. Isto é claramente inválido para o testemunho da
divina qualidade da Escritura, como para conferir aquela qualidade sobre ela. Portanto, da nossa parte
provamos pelos seguintes argumentos, que o testemunho do Espírito Santo, e ele somente, nos
convence com certeza da divina qualidade da Escritura: (1) O testemunho da Escritura da parte de quem
aquela inspiração da Escritura que foi escrita é de maior autoridade: de fato, qualquer um sabe melhor
de sua mão e estilo. Mas a Escritura foi escrita pela inspiração do Espírito Santo (2Tm 3:16; 2 Pe 1:20-
21). (2) O testemunho da Escritura da parte de quem é prometido aos crentes numa íntima união
[individuusnexus] com a Escritura é de maior autoridade. Mas o Espírito Santo é prometido em íntima
união com a Escritura (Is59:21: “meu Espírito que está em você, e minhas palavras, as quais eu coloquei
em sua boca, não se apartariam de sua boca [ou afastariam da boca de suas crianças]”). O testemunho
da autoridade da Escritura acerca dele, sem aquela iluminação, ninguém perceberia as maravilhas da
Escritura, que é de uma maior autoridade. Mas sem a iluminação do Espírito Santo, ninguém perceberia
as maravilhas da Escritura (“Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei.”
Sl 119:18, ARA). E assim por diante, etc.3 Também, pelo seu testemunho daquela função de que é para
levar-nos a verdade, e torna-lo nosso conhecimento que a Escritura é a palavra de Deus. Mas esta é a
função do Espírito Santo de levar-nos a toda a verdade (Jo16:13).

À medida que o testemunho da igreja seja o interesse, ela deve ser aceita como uma serva de Deus,
todavia, é falso supor que a autoridade da Escritura dependa dela. O que poderia ser mais absurdo que
para um chefe de família ter que obter a sua autoridade de um empregado, ou, de uma carta enviada
por pais ter que depender do mensageiro, ou, o edito de um magistrado ter que depender do impressor,
ou, a norma sobre o que é regulado? Sabemos que para a igreja “foram confiada os oráculos de Deus”
(Rm 3:2, ARA), e que ela é a “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3:15, ARA). Mas, apenas seria
insensato dizer que um candeeiro recebe luz do castiçal, embora o candeeiro esteja sobre o castiçal,
mesmo assim, é um absurdo transferir a autoridade da Escritura para a igreja. A autoridade da igreja
auxilia aqueles que são ignorantes quanto a Escritura, e não têm recebido “o genuíno leite da palavra”,

3
Wollebius emprega uma elipse, em vez de repetir uma “óbvia” conclusão. Nota de John W. Beardslee III.
nem crescido por meio dele (1Pe 2:2). O testemunho da Escritura e do Espírito Santo é determinado e
eficaz naqueles que por si experimentam doçura dos divinos oráculos. Assim, como se tem muito
melhor apreciação da doçura do mel, se por si mesmo experimenta-lo, do que alguém que crê no que
outros falam e testemunham acerca dele, assim aquele que prova a sua doçura, sabe que os escritos
sagrados são a palavra de Deus, com muito mais segurança do que aquele que meramente acredita no
ensino da igreja. Os samaritanos num primeiro momento creram no testemunho que a mulher deu
acerca de Cristo; mas, após eles terem ouvido ao próprio Cristo, eles disseram à mulher: “já agora não é
pelo que disseste que nós cremos; mas, porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é
verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo4:42, ARA). Do mesmo modo, qualquer um, após obter com
o auxílio do Espírito Santo, lê e lê continuamente, declara “agora já não creio mais baseado no
testemunho da igreja que os escritos sagrados são inspirados [divinus], mas eu creio nisto porque as
tenho lido eu mesmo, e através da minha leitura esta conclusão está implantada em minha mente.”

Qualquer escrito que em todas as suas partes apresenta o próprio Deus como quem fala; que foi
registrado por homens que receberam dons de profecia e de operar milagres, e que eram ensinados
sobrenaturalmente de modo extraordinário, e não dissimularam nenhum de seus pecados e faltas, ou
ambos associados; que descreveram não somente assuntos que são verdadeiros e consistentes com o
correto raciocínio, mas também outros que transcendem a toda razão; que registra os mesmos eventos
em diferentes versões com surpreendente e verdadeira harmonia sobrenatural; que serve para glorificar
a Deus e simultaneamente para nossa salvação; que operam com maravilhosa eficácia nos corações
humanos e, que concedem força diante do mais terrível sofrimento; e, que são miraculosamente
preservados contra a fúria do demônio e dos tiranos – tais escritos estão além de qualquer dúvida, de
que a sua origem e autoridade é divina.

Assim é a Escritura Sagrada.

Por essa razão a sua origem e autoridade é divina.

Resumindo: O testemunho da igreja ocorre primeiro; mas, o testificar do Espírito Santo tem primazia em
natureza e eficácia. Cremos na igreja, mas não cremos baseados no julgamento da igreja; o Espírito
Santo precisa ser crido baseado em si mesmo. O testemunho da igreja apresenta o “o que”; e o
testemunho do Espírito Santo revela o “por que”. A igreja dá razões [suadet]; o Espírito Santo convence
[persuadet]. O testemunho da igreja oferece opinião; o testemunho da Escritura dá conhecimento e
certeza da fé.

X. Os livros canônicos da Escritura são aqueles que compõem o Antigo e Novo Testamento. Ao Antigo
Testamento pertencem os cinco livros de Moisés, Josué, Juízes e Ruth cada forma um livro; Samuel, Reis
e Crônicas a cada dois formam livros; Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes,
Cantares; e, os quatro profetas maiores e os doze menores, cada um forma um livro. No Novo
Testamento são os quatro evangelhos; o livro de Atos dos Apóstolos; as cartas de Paulo, uma aos
Romanos, duas aos Coríntios, e cada uma aos Gálatas, Efésios, Filipenses e aos Colossenses, duas para
Tessalonicenses e para Timóteo, e uma para Tito, Filemon, e aos Hebreus; são duas cartas de Pedro, três
de João, uma de Tiago e outra de Judas, e por fim, de Apocalipse.

XI. Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiásticos, primeiro, segundo e terceiro Macabeus, Baruque, o Livro de
Oração de Manassés, a Carta de Jeremias, e os acréscimos no livro de Daniel e Ester não possuem a
mesma autoridade para provar os artigos de fé do mesmo modo que os livros canônicos, embora, eles
possam ser lidos com proveito, e assim, eles são chamados de “apócrifos”; ou seja, ocultos.

As razões são: (1) A maioria deles não é escrito pelos profetas, mas somente após Malaquias, o último
dos profetas. (2) Eles não foram escritos com a linguagem profética [Hebraico]. (3) Não foram citados
em nenhum lugar no Novo Testamento. (4) Há neles muitas narrativas incompatíveis com os registros
canônicos, bem como contradições e mitos contrários à fé e devoção.

XII. A Sagrada Escritura é perfeita para o propósito da salvação [ad salutemperfecta est]. “Toda Escritura
é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça,
a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:16-
17, ARA).

XIII. Embora, as regras da igreja, que prevê conformando em ritos externos, possam ser admitidas em
seus devidos lugares, todavia, nenhuma tradição fora da Escritura pode ser admitida como se ela fosse
necessária para a salvação.

Os papistas não somente argumentam a favor das tradições papais, mas também fazem destas tradições
de igual, senão superior autoridade em relação as Escrituras. Mas, nós aceitamos o mandamento de
Deus, de que nada se adicione, nem mesmo seja retirado de sua palavra (Dt 4:2; 5:32, e 12:32; Ap
22:18).

XIV. O estudo da Sagrada Escritura é o dever de todos os cristãos. “Examinais as Escrituras” (Jo5:39,
ARA). “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo” (Cl 3:16, ARA). A obscuridade em alguns textos
dos escritos sagrados, que os papistas enfatizam, não é objeção; enquanto algumas passagens são mais
obscuras, outras explicam por si mesmas, e apresentam os claros artigos primários da religião
[perspicue].

XV. Por isso, é necessária a sua tradução em linguagem comum para todas as nações.

XVI. Nenhuma tradução é autoritária [authenticus] exceto no caso de estar de concordo com os originais
Hebraico e Grego.

XVII. Embora a interpretação da Escritura seja confiada à igreja, não obstante, o supremo juiz da
interpretação não é outro, senão o Espírito Santo falando na Escritura. “Eis que a mão do SENHOR não
está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir” (Is 59:1, ARA).
“Sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação;
porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos]
falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1:20-21, ARA). Por isso, é sacrilégio dos
papistas usurpar este privilégio da suprema autoridade [ius] para a igreja Romana; atribuindo aos seus
concílios e do mesmo modo apenas ao Papa.

XVIII. O significado [sensus] de qualquer passagem da Escritura sempre é simples [unicus];4 todavia, no
Antigo Testamento o significado das profecias é muitas vezes composta como sendo – histórica e típica.
Por exemplo, Oseas 11:1 é composto destas palavras: “quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito
chamei o meu filho.” Literal e historicamente as palavras são entendidas como a libertação do povo
hebreu do Egito; mas, tipificado e misticamente como uma referência ao chamado de Cristo do Egito
(Mt 2:15).

XIX. Os meios de encontrar o verdadeiro sentido da Escritura são: constante oração, conhecimento e
exame dos idiomas originais, consideração do argumento e propósito da passagem, distinção entre
passagens literais e de linguagem figurada; entendimento das causas, circunstâncias e consequências;
análise lógica, comparação de passagens obscuras com outras que sejam claras, iguais com iguais,
diferentes com diferentes; e finalmente, a analogia da fé [analogia fidei].

4
Uma típica declaração reformada originada numa polêmica contra a doutrina do sentido tríplice. Nota de John W.
Beardslee III.
XX. Do mesmo modo que Deus é o peculiar [proprius] e primário objeto da teologia, assim também, é o
seu primário e objetivo final.

XXI. Por isso, desde que o seu objetivo final e o mais alto bem [summumbonum] são o mesmo, é óbvio
que somente a teologia cristã pode nos ensinar corretamente o mais alto bem.

XXII. Uma finalidade subordinada da teologia sagrada é a nossa salvação, a qual consiste da comunhão
com Deus e a nossa satisfação nele.

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