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Posterior a esse momento, outro período que marca a interpretação bíblica foi

o período da idade média, Berkhof, 2012 afirma que durante esse tempo,
“muitos, até mesmo do clero, viviam em profunda ignorância quanto à Bíblia.
Cardin, 2017 fala que a Igreja Católica foi a detentora do saber, e, por isso,
ninguém podia ter acesso à Escritura Sagrada se não fosse por meio da
interpretação dos santos padres. Visando a proteger essa usurpação
hierárquica, monges, bispos e padres defenderam a existência de passagens
obscuras na Bíblia e, assim, a mantiveram longe das multidões. E o que esses
conheciam era devido apenas à tradução da Vulgata e aos escritos dos Pais. A
Bíblia era, geralmente, considerada como um livro cheio de mistérios, os quais
só poderiam ser entendidos de uma maneira mística. Nesse período, o sentido
quádruplo da Escritura (literal, tropológico, alegórico e analógico) era
geralmente aceito, e o princípio de que a interpretação da Bíblia tinha de se
adaptar à tradição e à doutrina da Igreja tornou-se estabelecido.
Tendo em vista o prevalecimento do catolicismo durante a Idade Média, o
cristianismo do início do século 16 encontrava-se sucateado e muito distante
de seus referenciais bíblicos, tanto em termos eclesiásticos, soteriológicos e
bibliológicos quanto, sem dúvida em termos hermenêuticos. Berkhof, 2012 diz
que “havia doutores de teologia que nunca a tinham lido a bíblia inteira. E a
tradução de Jerônimo era a única maneira pela qual a ela era conhecida. A
Renascença chamou a atenção para a necessidade de se voltar ao original.” O
autor ainda destaque que a Renascença foi de grande importância para o
desenvolvimento dos princípios sadios da Hermenêutica. Por essa causa,
quando pensamos na Reforma Protestante, devemos enxergá-la também como
uma reforma hermenêutica, pois, como observa Dockery, apesar de Martinho
Lutero, sendo um monge católico, ter iniciado seus estudos teológicos usando
o método alegórico, veio, no entanto, a abandoná-lo mais tarde, Lutero e os
demais reformadores repudiavam o emprego da interpretação alegórica do
texto bíblico. (CARDIN, 2017). Esse movimento se dá em oposição à
infalibilidade da Igreja, colocaram a infalibilidade da Palavra. Sua posição é
perfeitamente evidenciada na declaração de que a Igreja não determina o que
as Escrituras ensinam, mas as Escrituras determinam o que a Igreja deve
ensinar. O caráter essencial da sua exegese era o resultado de dois princípios
fundamentais: (1) Scriptura Scripturae interpres, isto é, a Escritura é a
intérprete da Escritura; e (2) omnis intellectus ac expositio Scripturae sit
analogia fidei, isto é, todo o entendimento e exposição da Escritura deve estar
em conformidade com a analogia da fé. E, para eles, a analogia fidei é igual à
analogia Scripturae, isto é, o ensino uniforme da Escritura. Em oposição a
reforma os católicos romanos não fizeram nenhum progresso exegético
durante esse período. Não admitiam o direito do julgamento particular e
defendiam, em oposição aos protestantes, a posição de que a Bíblia deve ser
interpretada em harmonia com a tradição. O Concílio de Trento enfatizou (a)
que a autoridade da tradição eclesiástica devia ser mantida, (b) que a
autoridade suprema tinha de ser atribuída à Vulgata, e (c) que era preciso
harmonizar a própria interpretação com a autoridade da Igreja e do consenso
unânime dos Pais. Onde esses princípios prevalecem, o desenvolvimento
exegético sofre uma parada repentina. (BERKHOF, 2012).

Durante a Idade Média, muitos, até mesmo do clero, viviam em profunda


ignorância quanto à Bíblia. E o que conheciam era devido apenas à tradução
da Vulgata e aos escritos dos Pais. A Bíblia era, geralmente, considerada como
um livro cheio de mistérios, os quais só poderiam ser entendidos de uma
maneira mística. Nesse período, o sentido quádruplo da Escritura (literal,
tropológico, alegórico e analógico) era geralmente aceito, e o princípio de que a
interpretação da Bíblia tinha de se adaptar à tradição e à doutrina da Igreja
tornou-se estabelecido.

A interpretação bíblica durante a Idade Média, sofreu forte influência dos


pensamentos da Igreja Católica, que era a detentora do saber, e, por isso,
ninguém podia ter acesso à Escritura Sagrada se não fosse por meio da
interpretação dos santos padres. Segundo Higman, 1998 o “método medieval
de interpretar a Bíblia devia muito à obra de Agostinho, Sobre a doutrina cristã.
Além de estabelecer uma série de regras (extraídas de uma obra anterior de
Ticônio), Agostinho enfatizou a importância de distinguir o literal do espiritual ou
os sentidos alegóricos da Escritura. Conquanto o sentido literal não fosse
depreciado, o alegórico era valorizado porque habilitava o crente a obter
benefício espiritual dos pontos obscuros na Bíblia, especialmente do Antigo
Testamento. Para Agostinho, assim como para os monges que o seguiam, o
objetivo da exegese escriturística era carregado de sentido escatológico; seu
propósito era induzir fé, esperança e amor e, assim, fazer a pessoa avançar na
peregrinação rumo à cidade com fundamentos Hb 11.10).

Higman, Francis “A heretic’s library: the Drilhon inventory” (1545), in Francis


Higman, Lire et découvire: la circulation des idees au temps de la Reforme
(Genebra: Droz, 1998), p. 65-85.
Com base na obra de Agostinho e outros pais da igreja que remontavam a
Orígenes, os exegetas medievais concluíram que a Escritura possuía quatro
possíveis sentidos, a famosa quadriga. O sentido literal era retido, é claro, mas
o significado espiritual era então subdividido em três sentidos: o alegórico, o
moral e o anagógico. Exegetas medievais frequentemente se referiam aos
quatro sentidos da Escritura usando um verso popular:
The letter shows us what God and our fathers did; The allegory shows us where
our faith is hid; The moral meaning gives us rules of daily life; The anagogy
shows us where we end our strife.*10 Nesse esquema, os três significados
espirituais do texto correspondem às três virtudes teológicas: fé (alegoria),
esperança (anagogia) e amor (o sentido moral). Deve ser observado que esse
modo de abordar a Bíblia assumia uma elevada doutrina da inspiração bíblica:
os múltiplos sentidos inerentes ao texto haviam sido colocados lá pelo Espírito
Santo para o benefício do povo de Deus. A justificação bíblica para esse
método remontava ao apóstolo Paulo, que havia usado as palavras alegoria e
tipo quando aplicava acontecimentos do Antigo Testamento aos crentes em
Cristo (Gl 4.21-31; 1Co 10.1-11). O problema com essa abordagem era saber
como relacionar cada um dos quatro sentidos aos outros e como evitar que a
Escritura se tornasse um nariz de cera mexido para lá e para cá por diferentes
intérpretes. Como G. R. Evans explica: “Qualquer interpretação que pudesse
ser feita do texto e estivesse de acordo com a fé e a edificação, tinha a
chancela do próprio Deus, pois nenhum leitor humano tinha a engenhosidade
para encontrar mais do que Deus havia colocado ali”.

Com o surgimento das universidades no século 11, a teologia e o estudo das


Escrituras saíram do monastério e foram para a sala de aula. A Escritura e os
pais ainda eram importantes, mas eles passaram a funcionar mais como notas
de rodapé às questões teológicas debatidas nas escolas, que foram reunidas
de maneira impressionantemente sistemática em obras como Books of
sentences (Livros de sentenças), de Pedro Lombardo (o texto-padrão de
teologia na Idade Média) e as grandes summae escolásticas do século 13.
Indispensável ao estudo da Bíblia no final da Idade Média era a Glossa
ordinaria, uma coleção de opiniões exegéticas dos pais da igreja e outros
comentaristas.

Um crescente enfoque no texto da Escritura levou a um reavivamento do


interesse no seu sentido literal. As duas figuras-chave nesse desenvolvimento
foram Tomás de Aquino (m. 1274) e Nicolau de Lira (m. 1340). Tomás é mais
lembrado por sua Summa theologiae, mas ele também foi um prolífico
comentarista da Bíblia. Tomás não abandonou os múltiplos sentidos da
Escritura, mas declarou que todos os sentidos estão fundamentados em um – o
literal – e esse sentido eclipsava a alegoria como base da doutrina sagrada.

Com o surgimento das universidades no século 11, a teologia e o estudo das


Escrituras saíram do monastério e foram para a sala de aula. A Escritura e os
pais ainda eram importantes, mas eles passaram a funcionar mais como notas
de rodapé às questões teológicas debatidas nas escolas, que foram reunidas
de maneira impressionantemente sistemática em obras como Books of
sentences (Livros de sentenças), de Pedro Lombardo (o texto-padrão de
teologia na Idade Média) e as grandes summae escolásticas do século 13.
Indispensável ao estudo da Bíblia no final da Idade Média era a Glossa
ordinaria, uma coleção de opiniões exegéticas dos pais da igreja e outros
comentaristas.

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