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FONTES DA TEOLOGIA

A teologia possui uma fonte, ou seja, um ponto de partida de onde flui a teologia.
Basicamente estas fontes são:
[a] Bíblia Sagrada – A fonte fundamental da teologia cristã é a Bíblia Sagrada.
Bíblia e Escrituras são palavras sinônimas para os propósitos da teologia. O cristianismo
possui como ponto central, a fé, e, a pessoa de Cristo, ou seja, não possui fé num livro,
portanto, a fé e Cristo encontram-se intimamente relacionadas.

A palavra portuguesa Bíblia vem do grego, biblia, que é o plural de blblion, “livro”.
Portanto, significa “Iivros”. Essa palavra deriva-se originalmente da cidade fenícia de Biblos
(no Antigo Testamento, Gebal), que era um dos antigos e importantes centros produtores de
papiro, o papel antigo. Com o tempo, esse vocábulo terminou sendo usado para designar as
Sagradas Escrituras. A palavra grega biblos significa um livro, um escrito qualquer, tendo
mesmo servido para indicar o livro da vida, como se vê em Ap 3.5, isto é, um livro sagrado.
Estritamente falando, biblos era um livro, e biblion era um livrinho. A palavra Bíblia,
mediante um desenvolvimento histórico divinamente dirigido, segundo cremos, veio a
designar o Livro dos livros, as Escrituras Sagradas, compostas do Antigo e do Novo
Testamento, a principal fonte de ensinamentos religiosos e éticos de nossa civilização. Por
volta do século II d.C., os cristãos gregos já chamavam suas Escrituras Sagradas de Bíblia,
ou seja, “os livros”. Quando esse título foi então transferido para a versão latina, foi
traduzido no singular, dando a entender que “o Livro” é a Bíblia. [...] No Novo Testamento
encontramos o vocábulo “Escrituras”, empregado para indicar o Antigo Testamento (Mt.
21.42; Mc 14.49; Rm 15.4), ou Sagradas Escrituras (Rm 1.2), ou, a “lei e os profetas” (Mt
5.17), ou “lei” (Jo 10.34), ou “os oráculos de Deus” (Rm 3.2).63

A teologia cristã reconhece a Bíblia Sagrada como sua autoridade máxima. É a regra
de conduta do verdadeiro cristão, a constituição da religião cristã. “O que torna a
autoridade das Escrituras de indescritível importância para os cristãos é o
fato de elas revelarem Deus ao mundo, sua natureza trinitária (Pai, Filho e Espírito Santo),
seu plano de salvação para a humanidade e sua vontade. As Escrituras, conforme as temos,
são suficientes para tal finalidade”.64 A Bíblia é a mais rica fonte de informações sobre
Cristo, em especial, quando trata de sua messianidade. Outras fontes sobre Cristo, tendem
enfatizar seu aspecto histórico, pouco ou nada falando sobre seu poder divino de perdoar
pecados.

[b] Tradição – “A leitura das Escrituras nunca é neutra; sempre está filiada a alguma
tradição interpretativa, e mesmo sem perceber, geralmente lemos a Bíblia com a ótica da
tradição a qual pertencemos”.

E indiscutível que todas as denominações cristãs têm suas próprias tradições, que lhes
servem de autoridade, em complemento ou acréscimo às Escrituras, embora algumas dessas
denominações prefiram não reconhecer esse fato. A tradição faz parte integrante da
Autoridade. [1] As próprias Escrituras Sagradas preservam várias tradições judaicas, sem
falarmos em algumas tradições próprias da filosofia helênica, como é o caso da doutrina
do Logos, ou do mundo platônico em dois níveis, conforme se vê na epístola aos
Hebreus. Assim sendo, as tradições começam nas próprias Escrituras. [2] Terminado o
período do Novo Testamento, surgiram as declarações dos chamados pais da Igreja, bem
como o desenvolvimento dos mais antigos credos. Esses credos serviram para limitar e
sistematizar as Escrituras. Na verdade, esses credos foram teologias sistemáticas incipientes,
sobre as quais as denominações cristãs atualmente repousam. [3] Os concílios eclesiásticos
manipularam esses credos e lhes fizeram adições, apresentando interpretações das
Escrituras, de onde se originaram tradições. [4] Regras de fé, interpretações bíblicas,
raciocínios e apareceram nos escritos dos pais da Igreja. Irineu, Clemente de Alexandria,
Tertuliano, Hipólito, Orígenes e Novaciano referira-se às suas regras de fé, que faziam parte
de credos existentes ou não. [5] O sincretismo. A medida que o cristianismo foi sendo
difundido por diferentes áreas geográficas e culturas, foram sendo incorporados elementos
de crenças e práticas locais, e isso também veio a constituir um elemento nas tradições
emergentes, geralmente de natureza negativa. [6] As tradições católicas romanas são o
supremo exemplo do entronizamento das tradições, às vezes prejudicando as Sagradas
Escrituras, pois a essas tradições também se confere ali a aura de autoridade. É verdade que
boa parte dessas tradições católicas romanas tem um fundo bíblico; mas outra boa parte não
passa de sincretismo. [7] A Reforma Protestante presumivelmente fez a Igreja cristã
retornar às "Escrituras somente". Mas, na verdade, grande parte das tradições ocidentais
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teve continuidade nos vários grupos protestantes que surgiram em cena. Mas então novas
tradições foram criadas, mediante credos rígidos, que eram interpretações específicas das
Escrituras. Todos esses credos deixam de lado certos ensinos bíblicos, além de torcerem
outros ensinos bíblicos. [8] Desenvolvimento doutrinário. Muitos teólogos modernos
insistem na tese que a doutrina deve evoluir, a fim de que a verdade possa ser obtida em
qualquer sentido ou grau significativo. Assim, as tradições sempre haveriam de emergir,
somente para serem substituídas por outras, mais evoluídas. [9] A revolta contra a
ortodoxia: as tradições liberais. Começando no século XVIII, mas florescendo nos séculos
XIX e XX, os eruditos liberais e os críticos desenvolveram uma tradição toda própria que
produziu efeitos que minimizaram a fé nas tradições mais antigas, e rejeitaram de forma
total o autoritarismo e seus diversos conceitos de infalibilidade, sem importar-se das
próprias Escrituras. [10] Os credos modernos. Esses credos funcionam de quatro maneiras
diversas: a. Declarações. Coisas que figuram claramente nas Escrituras são meramente
declaradas e descritas. b. Interpretações. Coisas que não são necessariamente claras, e, em
certos casos, coisas que são repelentes para certas mentes, recebem interpretações
apropriadas de indivíduos ou denominações que as provêem. c. Distorções. É patente que
todas as denominações cristãs distorcem certos trechos bíblicos, para que se adaptem ao seu
esquema das coisas. d. Omissões. Certas passagens ou versículos são simplesmente
omitidos, conforme fazem os hiper dispensacionalistas que declaram que a maior parte do
Novo Testamento não pertence à Igreja cristã, não servindo de autoridade quanto à doutrina
cristã. Não há que duvidar que as tradições tem seu uso. Algumas vezes as tradições
ultrapassam, legitimamente, as Escrituras, mas nem por isso deixam de ser verdadeiras. Por
outro lado, com frequência, essas tradições laboram em erro, adicionando elementos
prejudiciais à fé e à prática. Essas são as tradições que devemos repelir.

[c] Cultura - Quando alguém faz teologia, precisa levar em consideração tanto o seu
contexto cultural como o do texto bíblico que está analisando, para aplicá-lo
adequadamente em seu tempo. O estudo da cultura é importante inclusive, por exemplo,
para saber se determinados textos das Escrituras eram aplicáveis à determinado momento
histórico, ou se são validos perpetuamente. 68 Costumes culturais influenciam na
interpretação de um texto bíblico. Sobre isso, Alexandre Milhoranza disse:

As pessoas que interpretam a Bíblia sem levar em consideração o contexto de uma


passagem e sem conhecer, ou considerar o período histórico do texto escrito, podem
cometer um sério erro de interpretação e acabarem criando uma heresia. Lembre-se que os
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reformadores ressaltaram e retornaram ao método de interpretação histórico-gramatical das
Escrituras. Ou seja, devemos levar em conta o período histórico de quando a passagem foi
escrita e levar em consideração as palavras e frases da passagem em seu sentido normal e
claro (literal). [...] Certos princípios ou mandamentos são contínuos ou irrevogáveis, e
tratam de temas morais e/ou teológicos, são repetidos em outras partes da Bíblia, sendo,
portanto, aplicáveis a nós hoje. Precisamos perguntar se a Bíblia dá ao mandamento um
caráter normativo. Quando a Bíblia dá uma ordem explícita e não a anula depois, devemos
entender como sendo a vontade expressa de Deus para nossas vidas, em nosso tempo
também, independente da cultura. [...] Certos princípios ou mandamentos dizem respeito às
circunstâncias específicas de um indivíduo, não sendo temas que possuem caráter moral ou
teológico, não são aplicáveis aos nossos dias. [...] 2.3 Certos princípios ou mandamentos
dizem respeito a contextos culturais que se parecem com os nossos nos quais apenas o
princípio deve ser aplicado. [...] Certos princípios ou mandamentos dizem respeito a
contextos culturais totalmente diferentes, mas cujos princípios se aplicam. Quando Moisés
esteve na presença de Deus, ele tirou seus sapatos, pois era terra santa. Será que devemos
hoje em dia tirar nossos sapatos ao vir para o templo? Aqui, o princípio de reverência e
temor a Deus devem ainda nos dirigir.69

[d] Razão - O teólogo não pode evitar o uso da razão em seu labor teológico. Por
exemplo, somente o fato de ler as Sagradas Escrituras, interpretá- las, já envolve o uso da
razão, seja para ser alfabetizado, ou conhecer os idiomas originais das Escrituras, utilizar os
meios básicos de interpretação de um texto, etc.70
De acordo com Paul Tillich, teólogo alemão, a razão é uma condição necessária
para a fé, eliminando assim a ideia de uma irracionalidade no exercício da fé. Para Tillich
“somente um ser dotado de razão pode ser possuído por algo incondicional e distinguir
preocupações últimas das provisórias [...] Assim a razão é uma condição necessária para a
fé, e fé é o ato em que a razão irrompe extaticamente para além de si [...] entre a natureza
verdadeira da fé e a natureza verdadeira da razão não há contradição”71. Champlin observa
que a razão entra perfeitamente em harmonia com a fé religiosa, além de servir para
expressá-la. “A razão exibe logicamente aquilo que a religião sente e põe em prática. A
razão é compatível com a fé religiosa, tendo a função de expressá-la e defendê-la. Mas a fé
cristã, com base na revelação bíblica transcende à razão, conferindo-nos algumas doutrinas
que são inatingíveis para a razão”.72
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[e] Experiência - Determinado fato ou ocorrência que acabará por
influenciar no labor teológico da igreja.

Para Schillebeeckx, experiência humana e fé cristã são as duas fontes da teologia: devem ser
pensadas em correlação. Sem a pergunta de sentido que brota da experiência humana, as
respostas do teólogo cairiam no vazio. Agora, se a resposta cristã oferece uma
"superabundância de sentido", esse sentido deve se inserir em uma experiência humana em
que o homem já está em busca de sentido. A resposta hesitante do homem à sua própria
pergunta é identificada, valorizada na fé cristã. À luz da revelação, manifesta-se a
superabundância de sentido, contida no sentido que o homem mesmo descobriu no mundo.73

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