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MANAUS-AM
2023
1. A CRÍTICA ACERCA DA COMPREENSÃO DO OCIDENTE
CRISTÃO COMO CENTRO DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL
Alain de Libera, em seu prefácio para a obra "A Filosofia Medieval" (1998), levanta
uma importante crítica à abordagem tradicional que coloca o Ocidente Cristão como o centro
da História da Filosofia Medieval. Segundo o autor, essa visão limita a compreensão sobre a
diversidade cultural e intelectual que existia na Europa medieval, bem como ignora a
influência de outras tradições filosóficas, tais como a árabe e a bizantina.
De fato, o período medieval foi caracterizado por uma intensa troca de ideias entre as
diferentes culturas que coexistiam na Europa. A filosofia árabe, por exemplo, teve um papel
significativo na transmissão do pensamento aristotélico para o Ocidente, tendo sido estudada e
traduzida por pensadores como Averróis e Avicena. Da mesma forma, a filosofia bizantina
desenvolveu uma tradição própria, que dialogava intensamente com a filosofia grega clássica.
Ao ignorar essas influências e focar apenas no cristianismo ocidental como o único
contexto filosófico relevante do período medieval, corre-se o risco de simplificar demais a
história e limitar a compreensão do pensamento medieval em sua totalidade. Além disso,
limitar a visão analítica somente ao centro cristão, alimenta a exclusão de outras tradições, o
que resulta no processo de historicidade ocidentalizada.
Portanto, a crítica de Alain de Libera aponta para a necessidade de se reconhecer a
diversidade e a complexidade da filosofia medieval, bem como de se levar em consideração as
várias tradições que coexistiam na Europa naquele período. Isso permite uma compreensão
mais ampla e precisa da história e da evolução do pensamento filosófico na Idade Média.
John Marenbon, em seu artigo "Por que estudar Filosofia Medieval?” (2011), faz
críticas à divisão tradicional da História da Filosofia Medieval que a divide em três períodos:
Patrística, Escolástica e Renascimento. Segundo Marenbon (2011), essa divisão não é
adequada para descrever a complexidade e a riqueza da filosofia produzida durante o período
medieval.
Uma das críticas de Marenbon é que a divisão em períodos não leva em consideração
a diversidade geográfica e linguística da filosofia medieval. Ele argumenta que a filosofia
produzida na Espanha e na Itália, por exemplo, possua uma diferença gritante daquela
produzida na França e na Inglaterra. Além disso, a filosofia escrita em latim não era a única
produzida no período medieval, pois também havia a filosofia escrita em árabe, hebraico e em
outras línguas.
Marenbon também criticava a divisão em períodos, e que esta divisão não leva em
consideração a continuidade entre os períodos. Ele argumenta que muitos filósofos medievais
incorporaram ideias da patrística e da escolástica em seus trabalhos, e que muitos pensadores
renascentistas foram influenciados diretamente pela produção filosófica medieval.
Então, Marenbon sugere que a filosofia medieval seja dividida em tópicos ou temas,
como lógica, metafísica, ética e política. Essa abordagem permitiria que fosse dada mais
atenção à variedade e complexidade da filosofia produzida no período medieval, bem como à
sua influência contínua na filosofia ocidental.
O século XIII foi uma época em que ocorreu grande atividade intelectual na Europa,
com o surgimento de novas correntes filosóficas e o desenvolvimento de diversas áreas do
conhecimento, como a teologia, a filosofia, a ciência e a literatura. Esse período foi marcado
por um intenso movimento intelectual em diversas partes do continente, principalmente em
Paris, Oxford e Bolonha, onde se concentravam os principais centros de ensino e pesquisa da
época.
Uma das principais características da vida intelectual no século XIII foi a busca por
uma síntese entre a razão e a fé, que se tornou possível graças às obras de filósofos como São
Tomás de Aquino, São Boaventura e Duns Scotus. Esses pensadores buscavam reconciliar a
lógica aristotélica com a doutrina cristã, criando uma linguagem filosófica que pudesse
expressar de maneira clara e coerente os princípios do cristianismo.
Além disso, o século XIII foi marcado por importantes avanços nas ciências naturais,
como a astronomia, a medicina e a física. Essas áreas do conhecimento foram influenciadas
pela filosofia aristotélica e pelos estudos realizados pelos muçulmanos e judeus, que foram
traduzidos para o latim pelos escolásticos medievais. Esses avanços incluíram a elaboração de
novos sistemas de classificação e taxonomia, o desenvolvimento de técnicas de observação e
medição, e a criação de novas teorias sobre a natureza e o universo.
Na literatura, o século XIII também foi marcado por importantes obras, como a
Divina Comédia de Dante Alighieri, o Livro das Maravilhas de Marco Polo e as Cantigas de
Santa Maria de Afonso X de Castela. Essas obras refletiram a intensa produção cultural da
época e abordaram temas como a religião, a política, a história e a natureza humana.
Em resumo, a vida intelectual no século XIII foi extremamente rica e diversa,
marcada por uma intensa atividade filosófica, científica e literária. Esse período representou
uma época de intensa busca por conhecimento e compreensão do mundo, que contribuiu
significativamente para o desenvolvimento da cultura e da ciência no Ocidente.
6. BIBLIOGRAFIA
LIBERA, Alain de. A Filosofia Medieval. Trad. Nicolás Nyimi Campanário; Yvone Maria de
Campos Teixeira da Silva. São Paulo: Loyola, 1998, p. 07-10.
MARENBON, John. Why study Medieval Philosophy? In Marcel Ackeren, Theo Kobusch
& Jörn Müller (eds.), Warum Noch Philosophie?: Historische, Systematische Und
Gesellschaftliche Positionen. De Gruyter. p. 65-78 (2011). Disponível
em: <https://philpapers.org/rec/MARWSM-2> Acesso em 12 jun. 2015.