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Em contraste com a imagem O Triunfo de São Tomás de Aquino (por Benozzo Gozzoli),
que Marenbon usa como exemplar da compreensão comum da filosofia medieval (estritamente
latina, subserviente à religião, mera comentadora e interpretadora dos textos antigos,
dogmática), o autor apresenta-nos um vasto mapa geográfico e cronológico de uma teia de
tradições filosóficas, religiosas e culturais onde florescem contribuições inovadoras para a
filosofia provenientes de autores latinos, árabes, bizantinos e judeus, que no entanto, partilham
todos o mesmo tronco comum – os legados do pensamento platónico e do pensamento
aristotélico.
A obra pode ser dividida em duas grandes partes – uma histórica, ou cronológica, traçando
o desenvolvimento da filosofia nas várias culturas medievais, que por sua vez é subdivida em
dois períodos (Early Medieval Philosophy e Late Medieval Philosophy); e uma temática, onde
dois autores (mencionando também os seus antecessores e influências) são contrastados
sobre um tópico ou pergunta típica da filosofia medieval – a existência de universais, a filosofia
da mente e o Intelecto, a relação entre presciência e liberdade, a melhor vida individual e o
papel da sociedade nela. Desta forma, é nos dado um campo diversificado de autores, escolas
de pensamento, tradições, legados e controvérsias que expõe a verdadeira complexidade da
filosofia medieval.
O Século XII é visto como um ponto de viragem, para todas as culturas: na latina, há a
recuperação dos textos de Aristóteles e o desenvolvimento das faculdades de Paris e Oxford;
na árabe, com a reconquista cristã, a filosofia árabe em território espanhol cessa e a conquista
de Constantinopola leva os filósofos árabes orientais a deparem-se com os textos cristãos; os
judeus, agora em território cristão, começam uma tradição filosófica escrita em Hebraico
desenvolvendo assim uma novo pensamento filosófico judaico. São aqui que figuras como
Tomás de Aquino e William Ockham se inserem, enquanto que Avicena post-mortem toma
controlo da filosofia árabe sendo a maioria dela uma resposta ou interpretação nova de
Avicena.
A parte temática da obra explora em mais profundidade alguns autores e é escrito numa
sequência de respostas onde cada autor de uma forma ou outra aprofunda o pensamento do
autor anterior ou critica-o e expõe a sua própria teoria. Depois do grande panorama histórico,
Marenbon trabalhar estes últimos três capítulos numa escala menor, permite ao leitor interagir
mais com o pensamento medieval e assim acender a sua curiosidade quanto a alguns autores
ou questões em específico – por exemplo, a discussão entre realistas e nominalistas quanto à
existência de universais.