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MEDIEVAIS _ - ‘
A p!'¢$¢n!e antologia dc fontes historians ANTOLOGIA DE TEXTOS HISTQRICOS MEDIEVAIS
medievais -prétende acima de tudo servir " ‘
dc pom-r. de apoio ao estudante de Histo-
ria. ‘Pu: esia razln procurou acorn;-anhar, '
sem se lhe submeter rigidamente, os vzirios
penws qu; 0 actual programa liceal exige,
EF demro "db periodo inedievo. No cmamo,
na medida em que perspectivou eses te-
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grafia actualizada, mantendo nio obstante
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0 voczbulério e a sintaxe medievais. ._ __;‘_.;I,
Temou-sc dar is fontes seleccionadas uma ,,m ‘. ' >l"“T‘ a
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Pcquerras. introducoes a cada um dos ex- .1;-‘_v;~.»I _i
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oertos ajudario 0 leitor a situar-se no ._ ’- 'Y~:.';-
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problem focado; uma abermra do capl-
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1 dutor aos assuntos que a seguir se abre-
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r sentam. (Da nota inlrodutdria.)
TEXTOS DF. APOIO
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ANTOLOGIA DE TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS , t
Fernanda Bpinoso
A soumma DA ABWANW _ do to:-atos his.téri"os
medievais
John Kenneth Galbraith
CAPlTULO I
-4s 1'-Nmsoss
1'-NVASUES
Lamentagbcs de
Lamentaeoes dc S. J.-ronimo
J.-Aronimo sobre 0o saque
saquc de
dc Roma (410, 1
Damasco (século xrv), 104. As escolas de Bagdad (soculo XIV), 104. A divul-
de relaeoes entre o Papado e a Monarquia Franca, 138. Os Merovingios e os pre-
gacfio da llngua arabc, 105.
feitos do palécio, 139. O rim da dinastia merovlngia, 140. A doaeao de Pepino
(756), 140.
b. ASSIMILACAO E TRANSMISSAO DA CULTURA DOS POVOS oom-
NADOS 107 2. A coroagdo de Carlos Magno 141
A adoaeio de Constantino», 142. A confirrnaeio da doaido de Pepino por Car-
I. A osmose étnica e cultural 107
los Magno (774), 142. Carlos Magno diriglu-se ao Papa Leio III definindo
Os sabios muqulmanos so por excepqio foram arabes, 108. O saque e os impos- os deveres de ambos (796), 143. Sobre os (mes mais altos poderes do Mundo»,
tos como objectivo da conquista arabe, 109. A mesquita de Damasco (705) 144. O acto de aclamaqio (800), 145. Razoes da eleieao de Carlos Magno, 146.
foi edificada por artifices bizantinos, 110. O plano da cidade dc Bagdad, 111. A coroaqio de Carlos Magno segundo Eginhardo, 146. A paz entre os impérios
A influéncia persa na azquitectura abassida, 112. A mesqujta de Cordova, 112. do Oriente e do Ocidente (812), 147.
2. As contribuigoes do pensamento cientifico, literdrio e filosofico 114 1* -c. O all ENASCIM ENTO» CAROLINGIO 149
O desenvolvimento da medicina mueulmana: exemplo de um diagnostico, 114.
Sobre a existéncia do contégio, 115. A lenda do mar Tenebroso, 115. A poesia. I I A fundag,-do de escolas e a revivescéncia do latim cldssico 149
no Ocidente peninsular (século xr), 116. A ciéncia da jurisprudéncia, 117. A escola do Palacio e as artes liberais, 150. Da neoessidade do estudo das letras,
A finalidade da historia, 118. A educaeio de Avicena, 119. Aristoteles visto 151. A fundaeio de escolas monacais e catedrais, 152. As reformas legislativas e
por Averrois, 120. a defesa da llngua germanica, 152. Sobre a reforma dos livros liturgicos, 153.
2. 0 desenvolvimento do arquitectura e dos artes menores 154
CAPITULO IV O ernbelemrnento da catedral de Aachen, 155. Carlos Magno e as oonstruqoes
arquitectonicas, 155.
A IGREJA CATOLICA E OS CAROUNGIOS
K‘.
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0 RENASCIMENTO 0.4 CIVILIZAC10 URBANA
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1
~ b CAP1TULO v11
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a.O APARECIMENTO DA BURGUESIA 197_~
A VIDA _ INTELECTUAL
'1 . I. O mercador itinerante e 0 despertar das cidades 197
.
- . IV-.~"
--1 3- AS INSTITUICCES DE CULTURA 233
—1 -. ~."“.13~.~‘" A formacio de um xnercador (século X1), 198. O aparecimento de um <<bu1'8°
. .\' 3."-'.,'~;.
.. . .1; - 3-,
.-- .x novo»: Edges. ooexisténcia das vérias classes sociais nas cidades Raha- 233
.3 0-; \~.
nas, 199. A poli1i~c§{*expansionista de uma cidade lombardaz Milio, 20'). I‘ A 071-81’-‘m
D ecreto do dd-9
Pooauniversidades
Alexandre III
' no 3. o Concilro
I - dc Latrio (1179), 233, A fun-
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x
, 2 Os grandes centros e rota: comerciais “I91u da¢5° d° c°l°3‘° d°5 D¢1°il° (1130). 234. As escolas de Toledo no século xn
23$.
lad Sobre a natureza dos aestudos» (século xm), 236. Pencio . do alluns pro-'
1 Concessio de privilégios comerciais aos ‘lenezianos pelo patriarca de Jeruso
1ém(11‘23), 202. Tratado de paz e comércio cntre o califado almohada c a repu- °$ P°m\811¢S=s a0 papa acerca. do estabelecimento de um estudo ml (12 d
NLi:g°mb1'° dc 1233). 237. Carta de D. D1ms. . pnv1leg1ando
. . . 3° Geral de°
o Estudo
blica de Pisa (15 de Novembro de 1186), 203. O dominio dos mares do Norw
pelos mercadores hanseatas, 204. A rivalidade genoveso-venezianz no P1'6xim0 M (1 dc Marco de 1290), 233.
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u. 1203 ¢ 1208), 312. 0 aparecimento do leme
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servzr I ponto de apoio ao estudame de Historia. Por esta razfio procurou
acompannar, sem se Ihe submeter rigidamente, as vdrios pontos que 0 actual
programa Iiceal exige, dentro do periodo medievo. No entanto, na medida
b. A REESTRUIURACAO POL1TlCA DA EUROPA NO LIMIAR DO MUNDO em que perspectivou esses temas de maneira a conferir-lhes uma certa am Ii-
319 P
dfio e diversidade, poderzi igualmente oferecer matéria de estudo a alunos
MODERNO
.. , . .- ' I XIGXIII 319 do ensino superior ou ate’ ao pziblico interessado em geral.
I. A evolueao polztzca em Fran,a e em Inglaterra (secu as )
. - ' do capetingio, 319. Guilherme I orde- Para os textos apresentados houve 0 cuidado de dar, tanto quanta possi-
A monarqdla cloct_1va e1:1afi:1;§z.)no3;;1'10A avauacio dc um manso Segundo O
vel, uma tradugfio directa obtida a partir das versfies originais. Quando este
$1! “I2: c321
A Calrta de Henrique I (1100), 322. O rei de Franoa desiderato nfio pode ser alcaneado, cotejaram-se vdrias tradupfies reputadas
°""’"" 1’ ‘ ’ ' . - lta dos
, o re1 de Inglaterra (1202). 323- A "W seguras. Em relapfio aos orzgmau; portugueses optou-se por uma grafia actua-
:m§;x?u1:s::r1::1:§;E:ov::1S:l'(1'erra(1214'1215).
ar 1118 324- A Mam Cm (1115)- Iizada, mantendo niio obstante 0 vocabulério e a sintaxe medievais
325.
Tentou-se dar a‘s fontes seleccionadas uma extensfio equilibrada — um
. . . - - ' IV 313
2. A crzse economzco-sacral dos fimll-9 d0 $961410 X texto histdrico, muitas vezes narrativo, nem sempre pode ser demasiado breve
1349), 328. O estatuto dos trabalhadores (1351). e sincopado - e evitar um excesso de notas. Estas visam explicar os homes
;;opcs:;i:,?c;?(:§§:;:te1?j1a2( A revolta dos ciompi em Florcmia (1373 3- 1332). cu. . . . .
‘ ' ' ‘ ‘ . P til fomes Jo conteudo obscuro possa pl’¢’]lldlCtZ!' a boa mterpretapfio do conjunto e
333. As revoltas de Gand (1331) ° <1¢ Pans (1382), 334 =8 W938 9 dar as balizas cronologicas que permitam a Iocalizapiio de pessoas e acou-
em 1437, 336.
_ - ~ - 331 tecimentos. I
3. 0 Grande Czsma e a perda do autorxdade pontzficm Pequenas introduefies a cada um dos excertos ojudarfio 0 Ieitor a situar-se
- ' 'ma_l 1 mporal segundo o Papa Bonifécio VIII
no problema focado; uma abertura de capitulo sintética e coneisa servird
A(bu‘,°"‘,j‘°
a nam emf;am:°i,,;':de1r;;z§Sp::;l7
. . " - oe <1:¢1m1o das ideias teocrétiws:
K a critic» h -
_ Q co lo dc Plsa
' ‘ ' e a ele1<;ao
' _ de Alexandre V (1409)1 fio condutor aos assuntos que a seguzr se apresentam.
A colectdnea agora apresentada, possivel graeas d utilizagrfio da biblioteca
319°C?
_ e e1 l313:1'tinl1o vnfl. fun do Grands ¢1-W1 (14171 341' h - . -
Uruverszdade da Florxda (E. U. A.), serzi decerto, se a sua aceitapfio o
4. o fim .1.- Império Biwmhw (1453) ' turcos 342. 0 saque de Constan-
3“ 1'"-"ificar . remodelada de manexra
' a preencher as muztas
' falhas a que se ndo
A ocupaoao do Corno do Ouro pelos nawos gm dz ed dc Constmw P548 furtar.
tinopla. 14:. 0 papa 1=1f°'m°“ 3 °°"° d‘ 3°"-"° q“ 3
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nopla 344 l..amenW;i° $°1"° '1 mmada dc consmmnopla’ 916' 1;
CE GERAL Xlll
Iumce GERAL 1ND‘
(seculo xn). 275. A populaoio de Rouen colaborou na construeao da sua cate-
_ _ . . - - zsa dral (1145), 276. A reconstmcao da catedral de Canterbury (1174-1184), 277.
A orgamzagao e 0 ensmo umversltdrlo I
Condig5¢5 pm 5¢ poder ser rnestre em Artes na Universidade de Pans (1215).
_ . . , 240. Sob e 2. As artes deco-ativas 278
239. As funcoes do .reitor nos ..estudos da E5P¢11113 ($é¢l11° XIII) . 1'
274), A ourivesaria religiosa em Reirns (século x), 279. S. Bernardo de Claraval con-
' ' ‘ oedldos aos estudantes pela eomuna de Bolonha (c 1 denou os exorssos decorativos das igrejas do seu tempo (século xn), 280. O gosto
Os pnoflégojmioisiaaae <16 tipo estudantil: Bolonha. 241- 1==fl¢<> <1<= P°"*' pelas pedrarias na ourivesaria 1-eligiosa (século xn), 281. Um grande centro
241- matmngggm para os esoolares de Coimbra (16 de Setembro de 1310), 242- da arte do vitral: a Abadia de S. Dinis, 282.
3"“ ° °°S _ . ‘ . . . -1 Regulam tos
some 0 pawl dos 1"'=“°“ "3 “““’°“.“‘“°? 1“ O 3”?” <124§£¢..1<. xiv) “£44
sobre a utilizaqio da biblioteca na Umversidade de x or ( . - TEOCRACIA PAPAL 284
246
0 conflito entre a Igreja e o Império 284
6 MANIFESTACOES DE . CULTURA ' 7/16 A fundaeio da abadia de Cluny, 284. Apologia dc Cluny, 286. A divulgaoio
As Iiteraturas vernaculas da d San M ' E_ das instituiooes de paz (século x1), 287. A eleioio do Papa Gregorio VII (Abril
_ - - - ' nalz a vi e ta aria 81
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=1-'= .--‘.’. ".‘ de_1073), 288. Os Dictalus Papae Gregorii VII (1075), 289. Gregorio VII depos
o imperador Henrique IV (Fevereiro dc 1076), 7.90. Os bispos do Império des-
ligararn-se da obediéncia a Gregorio VII (laneiro de 1076), 2.91. A Concordata
ciclo bretio: a Demanda do Santa Gr V ( OS - de Worms (Setembro de 1172), 292.
‘2?()mnlcJcm romance oortes pen1n'sular: o Amadi: de Gaula (século xm), 251-
‘Um canto de cruzada: incita<;5° 5 11113 °°nm‘ °s a1{n6ha'd:_“_ (século xm)’ 252' ‘ 2 A Igreja a caminho do teocracia: as Cruzadas e a obra de Cister 294
- u-oyadgfgga; uma mntip de amor dc El-Rei D. Dims (século XIII). 254- O entusiasrno popular pela Primeira Crumda (1096), 294. Privilégios ponti-
gfimséma pomica. mph; ménimas contra o rei Henrique IV (1454-1474) de
ficios aos membros da Segunda Crumda (1 de Dezernbro de 1145), 295. Uma
Castela pelo seu mau governv. 255- ' rmocio crltica a Segunda Crumda (1147), B6. A pregaeao da Quarta Cmmda,
297. S. Bernardo e a primazia do Papado, 298. A admissao de um novo irrnio
0 pensamemo filv-"5fi¢0 "0 q""d'° ‘1°."""‘""'"""""° 256 da Ordern do Templo, 298.
Para Santo Agostinho os filbsofos 111116111005 115° @5150 em desacordo com os .,
fundamentos _ do cristianismo’ 257. O ensino O triunfo da teocracia papal ‘ 300
- da légica aristotélira
~ <1 (seculo
Aristét x),
16.
zsa. Dialéctlca 6 re(=ecu1o_xu). 159- 1’-}['°=f1@ '2 :3 xm). ;61_ As relaqoes entre o Império e o Papado segundo Inooéncio I1I(Outubro de 1198),
300. Inoeéncio III e as eleiooes imperiais (Maroo de 1202), 301. A tornada
(século XI)’ 260' Da sub“ :52“123.3: e metafisica (século XIII). 252-
Inteligéncia e $1103-($5°\11° X111)’ _ ' cle Constantinopla em 1204 seglmdo 0 eronista Vil1ehardouin(c. 1150-c. 1212),
Ockham e a 11118.1 aristotélica (seculfl xw). 263- 301. O Papa lnocéncio III oondenou a oonduta dos cruiados (1205), 303.
O pontlfice romano e o problema da unidade cristi, 304. A Regra de‘S. Fran-
0 pensamento cientzffico e 0 adverlw 110 ¢XP"1'"e"1alis'"° 264 cisco (1223), 305.
A erenga na astrologia
._ (século
. IX),
- 265. O ensino das ciéncias
. no século
' da x,Mate-
266. _
- 267
Das vantagens da c1enc1a exP°1'\m°m31 (5é°“1° nu)’ ~ - O ammot ,26a. -
matica cm 01161.1 ($661110 xnl). 268- A 1'" ‘"1 °‘"“$“‘ (*°°"*'° ""1 CAPITULO IX
CAMTULO vm 4 I TRANSFORMACUES E DECUNIO
A IGREM CATOLICA E A RENOVACXO ESPHUTUAL 0.4 CIVILIZACAO MEDIEVAL
ENTRE 0s sEcULos x 1; xm O 273' 2 -
1- OS DIVENTOS TECNICOS COMO FACTORES DE TRANSFORMACAO
SOCIAL 309
- 2 E O G TICO
O RENASCIMENTO ARQUITECTONICO. O ROMANICO " I As novas técnicas ao servi o do a ' Itu
_ , . - 173 , - p grzcu ra 309
'
I . Do mosteiro d catedral (11-?P¢¢1°-Y “"Iu"ec"5""°s) H, ."L A rotacao trienal numa granja cisterciense (1248), 309. A rotaqao bienal numa
a r em de Cristo (1405) 310. A difusao da charrua, 310.
A rernodelaoio da basilica de Reims no seculo X. 274- 0 51“'1° da f°nS1mca° ‘F . - herdade d O d '
. - . - de Suger e a reconstru<;30 de S. Dims _ .
giosa no 1n1c1o do século xr, 274. O 8128
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- LAMENTACOES DE S. JERONIMO
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some 0 SAQUE DE ROMA (410)
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<<Quem acreditaria que Roma, edificada pelas vitérias sobre todo o uni-
€ verso, viesse a cair (1); que tivesse sido simultéineamente a mic das naqocs
1
e o seu sepulcro; que as costas do Oriente, do Egipto e da Africa, outrora
pertencentes a cidade dominadora, fossem ocupadas pelas hostes dos seus
servos e servas; que em cada dia a santa Belém (2) recebesse como mendigos
pessoas de um e outro sexo que haviam sido nobres e possuidoras dc gran-
des riquezas?»
(1) S. Jeronimo refere-se ao saque de Roma pelos Visigodos em 410. (1)'1‘endo rnorrido
nu‘: -1‘ ‘I’ ' I o papa Darnaso I e sido eleito o papa Sirlcio (384), adversério de S. Jerénimo, este, que
. '4,’ - TAX? \‘£¥" bavia passado t1-es anos em Roma, retirou-se para Belem na Palestina, onde edificou
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um convento e urn hosplcio. . .
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AS INVASCES 7
6 TEXTOS HISTCRICOS MEDIEVAIS
nad 1 0 - . , _ _
N50 se vé entre eles nem um templo, nem um lugar sagrado, nem mesnio fid°° :1V? P¢l1;1fldl3. ariana, uvesse fechado todas as lg1'¢_]8S do nosso par.
se pode discernir um tugiirio com um tecto do colmo, mas com um ritual f ’ _°“' _°s °°m° P1é8ad_0res os que favoreciam a sua seita (7). Eles
barbaro enterram no chao uma espada deseinbainhada e adoram-na revel‘ daoram
su e unediatam
_ ente nesse povo rude e ignorant:- o veneno
rentemente, como ao sen Marte, a divindade principal destas terras por .m_im°sP:m‘v;
=1 rf'di . -$551111 <15 V151g0dos foram feitos, - .
pelo imperador Valente,
' 0 onde vagueiam. "' gem e cristaos. Além disto, por afeioio, prégai-am o Evan-
Ignoram o que seja a servidao, tendo nascido todos de sangue nobfév 0 tanto aos Ostro godos como aos seus arentes Gé idas ' - 0s
. ‘ mvemndar P p , ensinando
'4
r
e rnesmo agora escolhem como chefcs aqueles que se distinguem na ex ,0 d ‘ma Peffidia, e oonvidaram todos 0 povos da sua lingua, de
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I ‘(H- riéncia quotidiana da guerra. ‘a 11 = quer ue f - .
diaemos,aga °55°111, 8 llgarein-se a rnesma seita. Eles propnos, como
_
. '1"-I If‘ 1 Am Mésia e nV=$;1f&m 0 Danubio e estabeleceram-se na Dacia Ripense (8)
[Ammianus Marcellinus, oom trad. inglesa de John C. Rolfe, liv. H‘ _ > a , - _ _ ' I 9
"1 .1. 1.“ 9
‘,__i?<.Q- 2, 17 a 25, Harvard University Press, 1939, pp. 390 a 395.] sq,-‘Em breve f 13°13, com autorizaqao do pnncipe_
‘H -_ 11¢an ‘ um povo 8- ome e a_ indigéncia _ caiii sobre eles , como . muitas vezes acon-
~U.r1 3*‘. (1) O mar de Azov. (1) O actual estreito de Kertch, lipndo o mar Negro ao mar do ' '- Egyfiluos Q as tr _ :111= amda nao esta bem estabelecido numa regiio.‘ [Os
. . _ ax oe
u-;r 1 . ,3,’
,_ ambamm - 9' -1 d°~'»‘_ dlefes romanos provocaram uma revolza dos Godos,
\' ' . :_»
< !~ §(_ L. . .1 godos e £8‘: d°'"'"”" 1' -1'11"‘1?50-] [...] Assim este dia pos fim A fome
:1‘ u_.‘ auangeitos e dos Romanos, porque os Godos, nfio mais como
- '"o@~§».. 1. »-§‘,:. ‘W Os ::b§:1'I1l1t1°$, mais sim como eidadaos esenhores, comeoaram
. Rflfigg
- do None até es aoe Damibio.
a ominar, sob o seu proprio ' ' senhorio,
' todas as
v
4
- 1 c-
4 Quando o imperador‘Va1ente soube disto em Antioquia, apgestou ini; lidade para a repiiblica. Entretanto, dois anos antes do ataque a Roma
diatamente um exército . e partiu
. para a regiao
._ , . Ai, cu _ se ui
'1‘racia. excitados por Estilicio (7), como ja disse, os povos dos Alan d 1
terrivcl batalha (9) e os Godos vencerani. O préprio lmp¢1’fl<101' 1111011 f°1111° dos Vandalos, e muitos outros corn eles, csmagaram os Francos os, os Suevos,
atravessa-
v ' uma herdade perto do Hadrianépolis (1°). Os Godos, nao sabendo ram o Reno, invadiram as Galias e com um rapido iinpeto chegaram até I
ctone
fugm plfu-a rador
UEI1olI1;1(E1¢é estava
habitual escondido
precede, mmnuma
um tao pobrecruel),
inimigo cabana, lancaram-lh=
e assim cle foi aos P‘iron é us: retidos
' durante um tempo por esta-barreira, disseminaram-se
ogo c p¢1a§ provincias vizinhas (3). .
1 cremado em espleiidor real. [...]
[Pauli Orosii, Historiarum adversus Paganos, in J. P. Migne, Patro-
4 G 1' ' Monuments Germaniae Hist0rica— Iogiae Cursus Completus, Series Prima. t. XXX1. Paris, 1846,
i E2: ’ A€i‘i:z1ql,ii.iZli:airr:¢:rur:i,w:’\":l pars-prior, Bcrlim, 1832, P- 92-1 cols. 1166-1167.]
-
(1) Lmpei-ador do Onente do 364 a 378 _ ) Imperador do Ocidente de 364 a 375. (3) Na
da (1) Em 410. O saque durou apenas trés dias: de 24 a 27 de Agosto. (1) Govemou os Visi-
actual Bulggfla. (4) Na actual Bulgaria. (5) Jordanes oonfiinde os Gems, P01/° godos até a sua morte, em 410. (3) O imperador Teodosio I (379-395) (4) Imperado
Trac'ia. corn o s Godos - (5) Em 376 - (7) N3 mllidadc 3 arianizaqio dos Visigodos iniv
. . - ' da t al
ciara-se alguns anos antes. merceprelflioddo:;1;>°8<;io3gJgila-(*0?)r;Ep‘;a.
Bu]gj_fi3_ (9) A batalha dc OP ° 4 '
1 do Oriente (395-408). (5) Imperador do Ocidente (395-423). (5) Govemou
de 410 a 415. (7) General dc origem vfindala, que servi
contra as incursoes gerinanas e foi pelo mesmo impcrador
'
u.0mandado
. os Godos1'
imperadorassassinar
Honorio em
na 408.
luta
1 1 1 1 1 1»
E hoje a cidade tuna de Edime. (1) A invasao da Espanha deu-se no final de 409. -
I
I
7 I
.
'1'.’_v Q SAQUE DE ‘ROMA POR ALARICO (410) =- A INvAsAo DA PENINSULA IBERICA
1; As INCURSOES BARBARAS » i PELOS VANDALOS, ALANOS
NAG.5.LIAENAESPANI-IA 1 E SUEVOS ‘
Em 410, Roma foi pela primeira vez saqueddd P0" P<1f’°i' A Peninsula Ibérica, desarmada é enfiaquecida por lutas
germanos, os Visigodos, chefiados par_AIarico. Se tmszgg, intemas, nfio ofereceu qualquer resisténcia aos bdrbaros
mente as estragos nao foram desrnedzdo.;', oRaconne0s pela que al invadiram. Muito rdpidamente os invasores dividiram
K
' foi no entanto profundamente sentido pe as oma a.GéIia entre si as terms conquistadas. Santa Isidoro de Sevilha
mesmo época, outras hordas barbaras atravessaram ‘- (C. 560-636) relata-nos esse episddio.
.- I
. - ~ ' tam?
e a Peninsula Iberica. 0 texto que se segue é _de um con 8
V"- pordneo destes acontecimentos, Paulo Ordsio. - Na era de 1), os Vandalos, os Alanos e os 'Suevos ocuparam a Espa-
11111, mataram e dcstruiram muitos nas suas sangrentas incursoes, incendia-
. £1 E assim no ano 1164 depois da fundacio da cidade (1), foi-Ihe feito um
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_1 ' * 7 — 7 — ———~-_—- __ _ »%...n__~.. . _ _ _—_A _ _
AS INVASOES H
l0 TEXTOS msrolucos MEDIEVAIS
e os Suevos ocuparam a Galécia (4); os Alanos, a provincia da Lusitania (5) transmutados os rnistérios, entregou as igrejas dos santos aos inimigos dc
e a Cartaginense (6); porém os Vandalos, cognominados Silingos, abando- Cristo. [...] ,
nada a Galécia e depois de terem devastado as ilhas da provincia Tarra- [...] Genserico, nao contente com as devastaqoes da terra de Africa, passou
I
~' ...‘
conense(7), voltando a tras tiraram a sorte a Bética (8). [...] a Roma (3), transportado por navios, destruiu os bens dos Romanos durante
-195
_ 4.;-3 .
catorze dias e trouxe consigo a viuva de Valentiniano, as suas filhas e Inui-
A-_ v
~. ~k ;._~~ [Sancti Isidori, Hispalensis Episcopi, Historic! de Regibus Gothorum, tas mulheres de cativos; e pedida a paz, por meio de enviados, ao impera-
. . .,~;. Wandalorum er Suevorum, in J. P. Migne, Patrologiae Currus Com- dor (9), remeteu a viuva dc Valentiniano para Constantinopla e uniu pelo
u -~r~ pletus, Series Latina, t. uotxm, Paris, l862, cols. 1076 e 1077].
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".6" *7‘ MN‘
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matriménio uma das filhas [de Valentiniano] com o seu filho Huguerico.
v_ ,_ *1’-'
1 - -3'
.. (1,) Era de César, on I-Iispanica, correspondente a 408 da Era Cristi. (1) Em 411.
t.
1- ¢,w *\.
-- v » - (3) O grupo dos vindalos Asdingos. (4) Ou seja, a actual Galiza espanhola e o ter- [Sancti Isidori, Hispalensis Episcopi, Historia dc Regibus Gothorum,
-_
'v I '3‘
1-~,-..~
' Wandalorurn er Siaevorum, in J. P. Migne, Patrologiae Cursus Com-
ritorio portugués até ao rio Douro. (5) Grosso modo correspondente ao territério pletus, Series Latma, t. LXXXIII, Paris, 1862, cols. 1077 e 1078.]
4r ‘xv
,,;_. portugués. (5) Abrangendo uma grande parte do Centro e Sueste da actual
Espanha. (7) Norte e Nordeste da Espanha. (5) Correspondente at actual Andaluzia
' _'\'.£
(1) 429. (1) Nesta rnigraefio (429) parece terem-so incluido tanto Vandalos Asdingos
Q _.,u-- espanhola. . '
e Silingos como alguns alanos e hispano-romanos. (3) Valentiniano III (423-45$).
(4) 0 acordo foi assmado em Bona a 11 de Fevereiro de 435. (5) Em Outubro de 439.
(5) Em 440. (7) A actual Palermo. (5) No ano 455. (9) O imperador do Oriente,
Marciano (450-457).
os VANDALOS EM AFRICA
Depois de uma estadia de vinte anos em Espanha, as Vdn-
dalos (divididos em dois grupos, Asdingos e Silingos), perse- A QUEDA DO IMPERIO ROMANO _
guidos pelos Visigodos, que Ihes haviam cortado a retirada
par terra, atravessaram 0 Mediterrdneo e ocuparam parte DO OCIDENTE (476) - '
_ . .x _
do provincia da lfrica, ninica do Ocidente até entdo pou-
pada ds incursoes germanas. E de Santa Isidoro de Sevilha Com a deposigdo de Rdmulo Augzistulo em, 476 pela bdr-
(c. 560-636) 0 texto que se transcreve. baro Odoacro, desapareceu 0 Império Romano do Ocidente.
Jordanes (século V!) narra-nos sintéticamente este episddio.
Na era de 467 (1) Genserico, irmio de Gunderico, sucedeu-Ihe no reino por
quarenta anos. Este, que de catélico se havia tornado apéstata, foi 0 primeiro Oreste (1), tendo tornado 0 comando do exército, partiu de Roma ao encou-
levado a transitar para a perfidia ariana. Tendo abandonado a Espanha, atta- tro dos inimigos e chegou a Ravena, onde parou para fazer imperador
vessou com todos os vandalos e as'suas familias (2), desde 0 litoral da pro- seu filho Augl'1stulo(Z). [...]
vincia da Bética até a Mauritania e Africa. Valentiniano Junior (3), impe- Porérn, pouco depois de Augustulo ter sido estabelecido imperador
rador do Ocidente, nao se lhe podendo opor, fez a paz (4) e coneedeu paci- em Ravena, por seu pai Oreste, Odoacro, rei dos Turcilingos (3), tendo con-
ficamente a parte da Kfrica que os Vandalos possuiam, aceites por um sigo ciros (4), hérulos (5) e auxiliares de diversas tribos, ocupou a Italia.
jurarnento as condiqoes de que nada mais invadiriam. [Genserico] porém, Oreste foi morto e 0 seu filho Augfistulo expulso do reino e condenado a
sobre cuja amizade ninguém duvidava, profanada a inviolabilidade do jura- pena de exflio no Castelo Luculano, na Campania. V
mento, invadiu Cartago (5) com o engano da paz e transferiu em seu pro- Assim, o Império do Ocidente do povo romano, que 0 primeiro dos Augus-
prio proveito todos os poderes depois de ter afligido os cidadaos com diver- tos, Octaviano Augusto, tinha comeqado a dirigir no ano 709 da fundaqio
sos géneros de tormentos. Em seguida devastou a Sicilia (6), cercou Panor- da cidade de Roma, pereceu com este Augustulo no ano quinhentos e vinte
mo (7), introduziu a pestilenqa ariana por toda a Africa, afastou os sacer- e dois ('5) do reinado dos seus antecessores e predecessores. Desde ai Roma
dotes das igrejas, fez muitos mzirtires e, de acordo com a profecia de Daniel, e a Italia sao governadas pelos reis dos Godos.
.__._,Y- , .._. -
belecer o terror entre os Romanos, matou no inicio do seu reinado o conde SOBRE A ORIGEM DOS FRANCOS
Bracila junto de Ravena e conseguiu dominar 0 seu reino durante quase
treze anos, até ao aparecimento dc Teodorico, por quem subsequentemente E muito obscura a arigem do povo franco. Gregorio de
..3,. Tours, nas passos cé_Iebres que a seguir transcrevemas,
L ~ ..4 temos sido dirigidos. _.do._~.-1. registou algumas explicagfies mais au menos Ienddrias cor-
rentes no sua época (século VI). "
Llordanes, Ramona er Getica in Manumenta _Germaru‘oe Historica-
Auctorum Antiqullssimarum, t. v, pars prior, Berlun, 1882, pp. 119-120.]
Sobre os reis dos Francos, ignora-se qual tenha sido 0 primeiro de entre
I 0‘. (1) Romano nascido na Panonia, foi secretario do rei huno Atila. (1) Romulo Augus- . _. -. _
eles: com efeito, se bem que na sua Historia Sulpicio Alexandre (1) fale muito
¢
tulo, imperador de 47$ a 476. (3) Odoacro, posslvelmente urn rugio (lat. Rugii), tor- destes povos (2), todavia nao nomeia de maneira alguma 0 seu primeiro
nou-se chefe dos exércitos mercenaries no Norte da Italia. Se alguns autores o cogna- rei: diz apenas que eles tinham duques. [...] Muitos autores contamique estes
minaram Rei dos Rfigios, outros chamam-lhe Principe dos Ciros. Os Turcilingos s50
povos sairam da Panonia e que se estabeleceram primeiro na margem do
um povo de origern obscura, arrastado para ocidente pela invasio huna. (4) Ou esciros
(lat. Sciri), tribo germinica do Baixo Vistula. (3) Os Hérulos (lat. Aeruli), outra tribo Reno; tendo em seguida atravessado este rio, passaram-a Turingia (3) e
§.+;_._:_
gerrnanica que surgiu a luz da Historia no século In, na regiao ao norte do mar Negro, ainas aldeias ou nas cidades escolheram reis cabeludos idos buscar a primeira,
junto do Dniestre. (5) Romulo Augustulo foi deposto em 4 de Setembro de 476. e, se assirn posso dizer, a mais nobre das suas famflias. Isto foi provado
mais tarde pelas vitorias de Clovis, que contaremos em seguida. Lemos
_.- .»- .- u-_. - nos Fastas consu1ares(4) queio rei dos Francos Teodomiro, filhode Rici-
mer e de Ascila e sua mic, morreram pela espada. Diz-se também que entio
C16dio,_notavel entre o seu povo, tanto por méritos prdprios como por
nobreza, foi feito rei dos Francos. .Ocupava no termo dos Turingios a for-
2. A 3 taleza de Dispargum (5). Nessas mesmas partes, ou seja ein direcgio no
A OCUPAC/1'0 DO IMPERIO sul e até ab rio Loire, habitavam os Romanos. Para la do Loire domina-
N0 oscozmsn 00$ sscuros V E VI vam os Godos (5); os Burgfindios, seguidores da seita dos Arianos, habi-
tavam do outro lado do Rédano que banha a cidade de Lyon. Clodio, tendo
EM cerca de um sécula (fins do século lVa fins do sécula V) o Império Romano enviado batedores para a 'cidade de Cambrai e mandado explorar toda a
do Ocidente foi ocupado par uma primeira grande vaga invasora e dividida wgiio, pos-se ele prdprio em seguida a caminho, esmagou os Romano:
numa série de unidades politicos de vida instével e por vezes mesmo efémera. e apoderou-se da cidade. Residindo ai por pouco tempo, ocupou tudo ate
A rapidez e a brutalidade da ocupapfio, destruinda as quadros do admi- 80 rio Somme. Ha quem pretenda que 0 rei Meroveu, de quem Childerico (7)
nistraodo romano, nfia puderam contuda fazer desaparecer a cultura subje- foi filho, era da sua estirpe.
cente, a qual se foi impando ds tribos invasaras. Mas este povo mostrou-se sempre entregue a cultos fanaticos sem tel‘
_ Esta situapfio modificou-se no entanto no decorrer dos séculos V e VI; qllalquer conhecimento do verdadeiro Deus. Fez imagens das florestal
Novas vagas germanas, agora numa infiltrapdo mais lento mas mais segura, 5 das aguas, dos pzissaros, dos animais selvagens e dos outros elementos IOI
se apropriaram do solo do Romdnia. Os Francas, Ianpando as fundomentas qllais tinha por habito prestar um culto divino e ofereeer sacrificios. [...]
de uma napfio estével, as Alamanas e as Bdvaros fixanda-se aa Iango do Reno
e do Danzibio, as Anglos e as Sax6es ocupando a Bretanha, as Lambardos tro- [Sancti Georgii Florentii Gregorii, Episcopi Turonensis, Hmorlu
canda a Panania pela Peninsula Itélica, operaram' uma germanizapfio pra- Ecclesiasticae Francorum. lib. n, IX-X, com trad. franoesg e revhlo
gressiva de vasras zonas do Império. Pela primeira vez o Iatim sofreu um recuo
.
I1
de J. Guadet et Taranne, ed. Société de l'Histoire de France, Pu-ll,
t 1836, 1. 1,'pp. 147 a 163.]
nfrido no sua drea Iinguistica. i
I (l) Este historiador s6 é conhecido através de Gregorio de Tours. (1) Os Franco: resul-
i
wg . _-.__. .
~. ‘ i, J-vi’; - r
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. .f;~1.-.
- .. -,.,,:-p. d
14 "r1=.x'ros rnsrorucos Maorsvms A5 INVASOES 15
. ¢;. 4"; $5’
94
, .. 3.. taram aparentemente da fusao de diversas tribos que habitavam a zona inferior do Reno.‘ e desde aquele tempo até hoje se diz permanecer deserta, entre as provin-
JI4‘ - (3) Erro geogafico manifesto. (4) Conjunto de anais onde os anos erarn contados segundo eias dos Jutos e dos Saxoes, descendem os Anglos Orientais, os Anglos
3 s
o sisterna romano, ou seja pelos consoles eponimos. A obra a que se refere Gregorio
..g,
de Tours perdeu-se. (5) Era o principal povoado dos francos Salios. Trata-se
Mediterraneos (7), os Mércios e "toda a geraqao dos Nordanimbrios(11),
1 velmente da actual Diest, no Brabante. (5) Estabelecidos na Aquitania, desde 418, ou seja daqueles povos que habitam para norte do rio Humbrus (9) e dos
como federados. (7) A existéncia historica de Meroveu 6 duvidosa. So com Childerico, restantes anglos. ‘
\
<
pai de Clovis, a genealogia dos reis francos se torna mais clara.
h. r [Baedae Historia Ecclesiastica Gerttis Anglarum. lib. I, cap. xv, in
.7 72> '51; . 2);‘ Baedae. Opera Historica. corn trad. inglesa de J. E. King (The Loeb
Classical Library), London, New York, 1930, pp. 68 a 71.]
7 ' "1 viii
. ,1- \' .
‘--¢.'
L’
v. ,-
A FIXACAO DOS ANGLOS E DOS SAXOES 1 (1) imperador do Oriente de 450 a 457. (3) Valentiniano I11, imperador do Ocidente
NA BRETANHA (SECULO v)_ 411$ de 423 a 455. (3) Desde 0 fim do século II que a Bretauha sofria incursoes de povos ger-
manos. No entanto, so a partir dos iiltimos anos do soculo v estas tribos uma
"'3-.
verdadeira colonizacao. (4) Da ilha de Wight. (5) O Holstein. (5) O Schleswig. (7) Os
A historiografia medieval inglesa Iocaliza o desembarque
ehamados Uplandish Angles. (5) Os Northumbrianos. (9) O rio l-lumber.
anglo-saxonico na Grit"-Bretanha em meados do sécula V.,
Assim no-Io diz 0 trecho que se segue do venerdvel Beda_.
h. (675-735). , . .:. ~,~=,
_. -\ 5
4 --
.\‘-‘afi
Ix\
'|:- ._‘; , v No 449.° ano da encarnacao do Senhor, tendo Marciano (1) com Valeri- O REI DOS OSTROGODOS TEODORICO
, r
U9“
tiniano (1) obtido 0 reino, o 46.° a partir de Augusto, deteve-o por sete anos. A VENCEU ODOACRO -
_s
(.- Entao o povo dos Anglos ou Saxoes, convidado pelo rei citado, arribou E ESTABELECEU-SE NA ITALIA (493) ~-
Ti‘lid
m‘ .\
a Bretanha (3) em trés longos navios e por ordem do mesmo rei . . ,, _ 1 _ 1' . - "1-
. 715
: -,-1.,5.-e-4: ‘.-I“H.70-
r~.':'"t‘2"' como local de permanéncia a parte oriental da ilha, como para combateif: . Educado em Constantinople, para onde havia sido enviado
- ‘\_.' i.¥’"~' coma refém em crianca, Teodorico conhecia de perto, todos
' ‘W’. ‘--
Ir‘ a favor da patria, mas na realidade a fim de a conquistar. Iniciada a bata-I as meandros politicos do Império do Oriente. Este conhe-
r“_ '1 "‘<'-;
‘M .‘
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lha com os inimigos que do norte tinham vindo para a luta, os Saxoesl; t
cimento proporcionou-Ihe a criacdo do estado ostrogodo
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1
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"\v, ' |'_~-
“ ‘ 1-. obtiveram a vitoria. Por isso mandaram para casa a noticia tanto da ferti-L na Itdlia. A obra de Jordanes que inclui o relato aqui trans-
.1" lidade da ilha como da inércia dos Bretoes e imediatamente lhes foi enviada 6. crita data de meados do sécula VI.
'7."
. ¢_ uma frota maior, transportando um grupo mais forte de homens de armas, s
Quando o imperador Zenao (1) ouviu que Teodorico tinha sido nomeado
‘I.
E
€ at‘
n1
t V‘ detém a ilha Vecta e aqueles que até hoje sao chamados a nacao dos Jutos suprema e a mais alta honra no mundo. Nem isto foi tudo, pois [Zenda]
. 14,- » .
.'i 4:1
na provincia dos Saxoes Ocidentais, junto da propria ilha Vecta. Dos Saxoes, ergueu diante do palacio real uma estatua equestrc para 8115113 <19-4i“°l°
»!-\:_5_g_‘_§r .
on seja daquela regiao que agora 6 chamada dos Antigos Saxoes (5), vie- grande homem. -
ram os Saxoes Orientais, os Saxoes Meridionais e os Saxoes Ocidentais. [Entretanto Teodorica, sabendo que a sua tribo, estabelecida na Iliria,
Mais adiante, dos Anglos, isto é, daquela terra que se chama Angulus (5) estava Ionge de viver com bem estar e abunddncia, pediu Iicenca ao impe-
AS INVASOI-3 17
16 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
A INVASAO DA ITALIA PELOS LOMBARDOS (568)
rador para abandonar Constantinopla e ir Iibertar o Ocidente <<da tirania
do rei dos Turcilingos e dos Ri2gios»(4).] A deslocagfio dos Lombardos_em direcctio ti Peninsula Itolica
Teodorico deixou pois a cidade real e voltou para junto dos seus. Em foi, momentaneamente, de consequéncias desastrosas. Par
companhia de toda a tribo dos Godos, que lhe deu o seu consentimento um lado, a Ittilia, onde as Lombardos nfio conseguiram esta-
unanime, partiu para ocidente. Caminhou a direito de Sirmium (5) até a belecer um estado unitario e organizado, caiu na anarquia.
2- . . -._-tr.»
Por outro, afixactia dos .-fvaros na Panonia veio cortar durante
vizinhanga da Panonia e, avanqando no territorio da Venécia até junto da séculos as comunicacoes entre o Adrititico e o Bdltico.
Ponte de Sontius (5), acarnpou ai. Tendo feito alto por algum tempo, a fim Paulo Diécona (século VIII), o autor do trecho que se trans-
de dar descanso aos corpos dos homens e dos animais de carga, Odoacro creve, era um lombarda que redigiu com certa parcialidade
enviou contra ele uma forqa armada, com a qual se encontrou nos campos a historia do seu povo.
de Verona, destruindo-a e fazendo nela grande mortandade. Entao desfez
o acampamento e avaneou pela Italia com a maior ousadia. Atravessando Na verdade, Alboino (1), antes de partir para a Italia com os Lombardos,
pediu auxflio aos seus velhos amigos Saxoes a fim de entrar naquela espa-
o rio Po, assentou campo perto da cidade real de Ravena, cerca do terceiro
marco miliario a partir da cidade, no lugar chamado Pineta. Quando eosa terra e ocupa-la com maiores efectivos. Acorreram ao apelo mais de
u
-.1.1»-r
Odoacro viu isto, fortificou-se dentro da cidade. Frequentes vezes atacou >-..¢.».,qu.~~...
:-1.4»-a.pt-.¢>.s\ vinte mil saxoes (1), acompanhados pelas mulheres e os filhos, para com ele
o exército dos Godos durante a noite fazendo surtidas furtivamente com penetrarem na Italia. Tendo conhecimento disto, Clotario e Sigeberto, reis
dos Francos, colocaram Suevos e outros povos nos locais de onde tinham
os seus homens, e nao uma ou duas vezes, mas muitas; e assim combateu
durante quase trés anos completos. Mas trabalhou em vao, porque toda a saido os Saxoes (3). Entao Alboino entregou aos seus amigos Hunos as
xvWAM.».
proprios territories, ou seja a Panonia, sob a condieao de que, se em qual-
Italia por fim clramou a Teodorico o seu senhor e a Repfiblica obedeceu
quer altura fosse necessario aos Lombardos voltar para tras, tornariam a
aos seus desejos. Mas [Odoacro], com os seus poucos partidarios e os roma-
pedir aquelas terras(4). .1 ' -"r H.
nos que estavam presentes sofria quotidianamente com a guerra e a fome
Portanto os Lombardos, abandonada a Panonia, com as mulheres, os
em Ravena. Visto que nada conseguia, enviou uma embaixada e pediu
filhos e todas as alfaias, precipitaram-se na Italia para a ocupar. Tinham
cleméncia (7). Teodorico primeira concedeu-lha, mas depois tirou-lhe a
habitado a Panonia durante quarenta e dois anos. Dela sairam no mes
vida. _
de Abril, pela primeira indiceao (5), no dia seguinte a santa Pascoa, cuja fes-
Foi no terceiro ano depois da sua entrada na Italia, como dissemos,
tividade se deu naquele ano de acordo com os calculos da razao no proprio
que Teodorico, por conselho do imperador Zenio, pos de lado o traje
dia das Calendas de Abril(5), quinhentos e sessenta e oito anos depois da
de cidadao privado e o vestuario da sua raga e adoptou uma veste com um
encarnacio do Senhor.
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J1
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manto real, visto ter-se transformado, agora, no dirigente tanto dos Godos
\.
.-1-‘,1-4
__ como dos Romanos. [Paulus Diaconus, Historia Langabardarum, in Monumenta Germaniae
Historica -— Scriptores Rerum Langabardicarum et Italicarum, Saec. VI-
llordanes, Romano at Getica, in Monumenta Germaniae Historica- -IX, Hannover, 1878, p. 76.]
I‘f’
.3',.:u§.,-,»
Y§‘~&i'fi¢_ Auctorum Antiquissimorum. t- V, par! Pfiflf. 917- 132 5 134-]
(1) Rei dos Lombardos dc 561 a 572. (1) Além dos Saxoes, ter-se-iam unido a Alboino
(1) Imperador do Oriente de 474 a 491. (1) Em 473. (3) Em 484. (4) AP111’°111°11‘1=111° Bavaros, Suevos, Bfilgaros, Gépidas e Sarrnatas, entre outros. (3) Os reis francos pro-
0 imperador achou a oportunidade excelente para se desembar-acar dos Ostrogodos e curavam estabelecer protectorados no Saxe, Baviera e Panonia. (4) Este acordo foi
simultaneamente liquidar Odoacro. (5) Hvie Mitr<>vi<=. na Jusoslfivia (5) O rio feito por um prazo de duzentos anos, nao com os Hunos, mas sim com as Avaros.
lsonzo. (7) Em B de 1'-‘evereiro de 493. (5) No primeira ano dc um ciclo de quinze anos. (5) A 1 de Abril.
>/\=‘
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> _. - Ill!
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13 naxros HISTORICOS MEDIEVAIS
LEOVIGILDO TENTOU A UNIFICACAO POLlTICA §
DA ESPANHA (568-586) 1)-
I1;- k$i-75.».-‘
At; ‘..
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‘.7
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20 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
'-'.'-at;
1_.,\rf
AS INVASOES , _ 21
,,
._ ’__.. EXCERTO DO EPILOGO DO EDICTUM DE
>0 UMA DISPOSICAO DA LEI SALICA
\. .., a§‘ ~TEODORICO REI DOS OSTROGODOS(1)
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A Lei Sdlica, formada por 65 titulos e redigidod voltade507-
|,'<!'" f
v "A /I
Teodorico, rei dos Ostrogodos (473-526), ordenou a com- -511, foi a mais primitiva dos compendiocoes do direito ger-
1‘ \ posipiio de um edicta de 155 capitulos inspirodos no lei mtinico. Dela transcrevemos as célebres disposicoes sobre
._~..f.‘
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romano, o qual se deveria oplicar tanto ti populocfio germana o posse e a heranco do terra.
¢
‘.- como a romano. Este codigo ficou conhecido por Edicto, t
I
. _H . no medida em que as Ostrogodos entendiom que o direito Tir. LXII—SOBRE os ALODIOS(1)
de promulgar leis propriamente ditas cabia apenas ao impe-
rador "do Oriente. I — Se um homem tiver morrido e nao deixar filhos, mas o pai ou a mac
*¢~>=. *1
'\'~.5
>
lhe sobreviverem, sucedam-lhe na heranca. -
l
Ordenamos estas coisas, tanto quanto as nossas ocupacoes nos permitiram, II — Se o pai e a mic nao lhe sobreviverem, mas ele tiver deixado irmaos
ou como nos ocorreram dc momento, para comum beneficio de todos, tanto on irmis, sucedam-lhe na heranca.
1
v barbaros como romanos, e desejamos que a devocao dos mesmos barbaros III—Se nem estes existirem, entao sucedam-lhe na sua heranca as irmas
e romanos as conserve. Aqueles casos que nao foram integrados, ou pela do pai. _
- I brevidade do Edictum on porque os nossos cuidados pliblicos nao no-lo IV—Se porém nao existirem irmas do pai, entao sucedam-lhe na sua
‘V permitiram, devem ser decididos, quando ocorram, segundo 0 tramite regu- heranca as irmis da mac.
. .... -. -4.
ele
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lar das leis. Nem se permita nenhuma pessoa, qualquer que seja a sua digni- V — Se porém nenhum destes existir, quem quer que da geracio patema
J . dade ou riqueza, poder, categoria militar. ou honra, pensar que pode dc J
esteja mais proximo suceda-lhe na heranca.
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qualquer maneira vir contra estes estatutos que reunimos principalmente 1 VI—Porém que nenhuma porcao da terra salica caiba por heranca a
5r t \\‘
.. _ . a partir das Novellae (7) -e da santidade do direito antigo. E saibarn todos uma mulher: mas toda a heranca da terra caiba ao sexo viril.
"'3.<*» os cognitores (3) e todos os autores de decisoes que se em alguma coisa vio-
larem estes edictos serio justamente atingidos com a penalidade da pros- [Ferd. Walter, Corpus Iuris Germanici Antiqui. t. I, Berlim, 1824,
pp. 82, 83.] ’ ‘- ’
cricao e banimento. Mas se por acaso alguma personagem influente, o seu
procurador ou substituto ou um cobrador de impostos, seja ele barbaro i
(1) O termo diz respeito aos bens moveis possuidos por uma pessoa, em oposicao k
'1'2-,;~
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on romano, nao permitir em qualquer espécie de causa a observacao destes Ktcrra sélica», que designa a propriedade imobiliaria patrimonio da linhagem.
edictos e se o juiz que estiver julgando 0 caso nao for capaz de 0 impedir 1
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e deter, nem de fazer cumprir a lei como aqui esta' formulada, seele (juiz)
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tiver interesse na sua propria seguranca, que ponha de lado qualquer ideia
1
UMA COMPOSICAO SEGUNDO A LEI RIPUARIA
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de temor e traga imediatamente perante 0 nosso conhecimento um rela-
torio completo de todo 0 caso. So desta maneira ficara ele proprio isento A Lei Ripuoria, utilizada pelos Austrasianas, é formada
por elementos heterogéneos que datam ainda do periodo
,.. 1:-'. de culpa: porquanto as provisoes feitas para seguranca de todos os provin- 4. a»A.a- meravingio (mos ndo onteriormente o 633). Nela se encou-
E’K
v4- f ciais devem ser cuidadosamente defendidas pelo zelo de toda a comunidade. tram muitos disposicfies do Lei Sailica e olgumos do Lei
_L-,. ".$-av.wL-'l.$i:- dos Burgtindios. Transcrevemos uma elucidotivo tabela de
w 3'“-' composicoes pecunitirios (Wergeld). '
ti.
[Edictum 77reoderici Regis in Manurnento Germaniae Historica-
Legum, t. v, Hannover, 1875, p. 168.]
.¢~,!' '. TH‘. XXXVI—SOBRE VARIOS HOMICIDIOS
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(1) O <<Edicto» foi redigido posslvelmente -por Cassiodoro, cerca do ano 500. (1) Refe- I_S¢ algum ripuario matar um estrangeiro franco, seja considerado
réncia a compilacio de Justiniano. (3) Os juizes relatores.
culpado em duzentos soldos.
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AS INVASOES 23
TBCIOS HISTORICOS MEDIEVAIS
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,». 11 4-Por isso saibam todos os dignitaries (3), conselheiros (4), condes,
I '3'. -2'
. ;- II — Se algum ripuario matar um estrangeiro burgiindio, seja considerado dornésticos (5), mordomos (5) e chanceleres das cidades ou termos, tanto l
‘ \
_ » ,.If .
. I, * culpado em cento e sessenta soldos. burgilndios como romanos, assim como todos os condes e juizes militantes,
III—Se algum ripuario matar um estrangeiro romano, seja multado em 1
que nao podem aceitar nada das causas que receberam um parecer ou foram
. cem soldos. julgadas e que nada pode ser solicitado em nome de uma promessa ou
IV —Se algum ripuario matar um estrangeiro alamano, ou um frisao, u~¢-. ._
recompensa por parte dos litigantes; nem podem as partes ser compelidas
ou um bavaro, -ou um saxi-io, seja considerado culpado em cento e ‘l
i a fazer um pagamento, pelo juiz, a fim de este poder receber qualquer
sessenta soldos. coisa. [...]
10—Por conseguinte, se qualquer juiz, quer seja barbaro ou romano, l
[Ferlcl7.4);Valter, Corpus Iuris Germanici Antiqui. t. I, Berlim, 1824,
p. . nfio prestar justica de acordo com 0 que as leis contém, tendo sido disso >
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4!!» impedido por simplicidade ou negligéncia, afastando-se desta maneira da \
justica, saiba que devera pagar uma multa de trinta soldos e que o caso J
-_.-rel»
.-'1, EXTRACTOS DA LEI BURGUNDIA sera de novo julgado a favor das partes agravadas.
SOBRE A VENALIDADE
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-v '\ [Leger Burgtutdionum (Liber Legurn Gundeboti) in Monumenra Ger-
at. -1 manioe Historica-Legum, t. m, Hannover, 1863, pp. 526-527.]
0 codigo dos Burgundios, coligido pela rei Gundoboda
(474-516), que nele incluiu leis dos seus predecessores e iprb.huAv~.»~1-.A_».-- . ,.
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proprias, foi posteriormente completodo pelos sucessores (1) Em 29 de Marco. (1) Lyon. (3) Oplimotes no original latino. (4) Consiliarii no
imediatos do mesmo rei. Destinodo essenciolmente a popu- original latino. (5) Domestici. Este titulo aplicava-se a um delegado do rei encarregado
locfio burgtindia, focava, no entanto, também as casos de tarefas financeiras e domésticas ou da administracao de dominios reais. (5) Maiores
domus nostroe, em latim. 1' e ' ' ‘ ‘
que pudessem surgir entre esta e a populapfio de roiz
romana. ‘ 4' s -
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24 rraxros msrotucos MEDIEVAIS As INVASOES 25
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a Goda possa casar com um romano [...] e que 0 homem livre possa casar UM ASPECTO DA LEI LOMBARDA
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com qualquer mulher livre obtido o solene consenso dos parentes e s (EDICTUS ROTHARI)
4
a licenca do conde. _ .1 —-A COMPOSICAO ACERCA
a DAS INJURIAS CORPORAIS FEITAS K
.7 .1
[Fe‘:5%.]Walter, Corpus Iuris Germonici Antiqui, Berlim, 1824, pp. 465 1
NUM HOMEM LIVRE
2;—-. 3-.? !"__»(,‘
‘. 1 v, p*%\'(.‘{.“<\ e . ' i ‘F
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13.5.3"-_ Publicoda em 643, no tempo do rei Rotdrio, a Lei Lom- <@
: Pg bardo é uma das mais notoveis no dmbito do direito ger- <@
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at .,_"_ As <<SORTES GOTICAS» ' monico epocol. Utilizou nfio obstante olgumos fontes roma-
..' -»_\_ 5 SEGUNDO 0 comco VISIGOTICO nos e visigoticos. , " if
F21
. -
Tarnou-se habitual, desde o Baixo Império, terem as popu- 46 — Se alguém fizer a outrem uma chaga na cabeca que apenas lhe ras-
Iocoes romanos de ceder aos invasores btirbaras parte dos gue a pele que os cabelos cobrem, do-lhe de composicio seis soldos; se lhe
suas terras e casos. A estas fracpoes cedidos se chomavam fizer duas chagas, dé-lhe de composicao doze soldos; se forem trés, dé-lhe
<<sortes». As usortes goticas» correspondiam o dois tercos
l._1,TI dos prapriedodes, cabendo o <<terco dos Romanos» aos anti- de composicio dezoito soldos; se porém tiverem sido mais, nao sejam
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gos passuidores.
mitauna dnA-.n1-¢\A4 uB€nJuAli-oabvngoan-.5
contadas, mas déern-lhe a composicao por estas trés. » -
47 — Se alguém chagar outrem na cabeca, de maneira que os ossos sejam
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:31 ii . LIV. X. TIT. I =DAS REPARTICOES B DAS TERRAS ARRENDADAS
11
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quebrados, por um osso dé-lhe uma composicio de. doze soldos; se tive-
rem sido dois, dé-lhe de composicio vinte e quatro soldos; se tiverem sido
VHI—Da divisio das terras feita entre godos e romanos. A ‘ \»
a
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Y trés ossos, dé-lhe dc composicao trinta e seis soldos; se tiverem sido mais,
A divisao feita entre godos e romanos das terras e das matas nao deve nao sejamcontados; e isto de maneira que seja contado como um osso aquele
ser quebrada por nenhuma razao, desde que a divisio efectuada seja pro- que, laneado na rua, a doze pés [de distancia] contra um escudo, possa
7:“:
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@<» vada. N50 devem os Romanos tomar nem demarcar nada das duas partes fazer ruido; esta distancia deve ser medida com um pé de homem médio
v~_l_ ;_.t“3 C I130 C0111 8. 1113.0. -
*2‘. '>.'i.‘Lt 1 dos Godos; mas que nao ouse 0 Godo usurpar ou reivindicar nada da t-.|.~.
. - 34.3‘
\ terca dos Romanos, salvo aquilo que a nossa liberalidade lhe tenha por 50—Sobre o ldbio cortodo—Se alguém cortar um labio a outrem,
'?. i_5§*1 acaso concedido. E que a posteridade nao tente mudar aquilo que foi
dividido pelos pais ou vizinhos.‘
dé-lhe de composicio dezasseis soldos, e se aparecerem um, dois ou trés
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dentes, do-lhe de composicao vinte soldos. .
51 — Sobre os dentes dianteiros — Se alguém arrancar a outrem um dente
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XVI—-Se os Godos tomarem alguma coisa da terca dos Romanos,
que apareca no riso, dé-lhe dezasseis soldos; se forem dois ou mais dentes,
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‘ devem os juizes reentrega-la imediatamente aos Romanos.
, -.. aparecendo no riso, faeam por esse nirmero uma composieao e um preco.
Os juizes dc cada uma das cidades, os vilicos e os prebostes, obtenham, 62 — Sobre o corte de uma moo — Se alguém cortar uma mao a outrem,
- - por sua exaccio, daqueles que as tém ocupadas, as tercas dos Romanos dé-lhe de composicao metade do preco que teria sido avaliado se 0 matasse;
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11$‘-,1-!T-'-.\-.‘ e restituam-nas a estes sem qualquer demora, para que o fisco em nada e se a paralisar mas nio a separar do corpo, dé-lhe de composicao a quarta
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seja prejudicado. N50 serao excluidos aqueles [que as ocupom] desde ha parte deste preco.
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cinquenta anos.
A I ye 63 — Sobre os dedos do mfio - Se alguém cortar a outrem o polegar da
‘-3.. . mao, dé-lhe de composicfio a sexta parte do preco em que o mesmo homem
. 1‘_‘_.- ‘ [F¢1'<1- Waller. Corpus Iuris Germonici Antiqui, t. t, Berlim, 1824,
‘r_‘.t~:‘.vi
pp. 518 3 62l.] teria sido avaliado, se fosse morto.
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" L =\*w.‘ vs 26 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS 1
93". "2311
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geral, intoleronte. A coexisténcia pacifico dos dois cultos, o oriano e q mm.
I‘ '3 64 - Sobre o segundo dedo — Se alguém cortar a outrem o segundo dedo lico. em muitas cidades, é exemplo desta talerdncia.
>,=~:,'¢~*-:!i.~.»*.~" da mao, dé-lhe de composicao demsseis soldos.
13 A fusfio gradual das duas raeas e o importante popel religioso, politico ¢
1
65 — Sobre o terceiro dedo -- Se alguém cortar a outrem 0 terceiro dedo cultural desempenltodo pela Igreja Romano derom por fim ao cotolicismo uma
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da mao, que é o do meio, dé-lhe de composigao cinco soldos. _,-._-. .~_ a vitoria unificadora.
66 -—Sobre o quarto dedo - Se alguém cortar a outrem o quarto dedo,
dé-lhe de composicao oito soldos. A CONVERSAO DE cLovIs
67 —Sobre o quinto dedo—Se alguém cortar a outrem 0 quinto dedo. (496, 498 ou 506)
Infiifi
.‘:-'-.';f,~.;’"'_$- dé-lhe de composicao dezasseis soldos.
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74 — Em todas estas chagas e feridas acima escritas que podem acontecer Este ocontecimento foi norrado por S. Gregorio de Tours
cerca de um século depois do sua ocorréncia. Por esta rozdo
entre homens livres, estabelecemos uma composicao maior do que a dos e pela facto de o norrodor pretender enoltecer a figura do rei,
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_‘, ff '2?‘ nossos antepassados, para que a vinganea que é inimizade seja relegada a depoimento que se segue tem sido alvo de muitas criti-
,' -‘oi-1. depois de aceite a citada composiqao e n5.o seja esta mais exigida nem per- cos historicas. .
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maneca o desgosto, mas dé-se a causa por terminada e mantenha-se a
amizade. [...] Todavia a rainha (1) nio deixava de pedir ao rei que reconhecesse o ver-
dadeiro Deus e abandonasse os idolos; mas nada o podia levar a essa crenca,
' [Manummta Germaniae Historico—Legum, t. rv, Hannover, 1868, até que, tendo surgido uma guerra contra os Alamanos, ele foi forcado
pp. 20 a 24.]
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pela necessidade a confessar o que sempre tinha negado obstinada-
mente. [...]' ‘ ' ; - . ' . .. . ~. .. "1"
Entao a.rainha chamou em segredo S50 Remigio, bispo de Rcims, supli-.
cando-lhe que fizesse penetrar no coracio do rei a palavra da aalvaqio,
2. O sacerdote, tendo-se posto em contacto com Clovis, levou-0 pouco a
A CRISTIANIZAC./IO nos GERMANOS pouco e secretamente a acreditar no verdadeiro Deus, criador do céu e da
_. . . _. _ . -,.
terra, e a renunciar aos idolos, que nao lhe podiam ser dc qualquer ajuda,
nem a ele nem a ninguém. [...] '
ORIGINARIAMENTE pogos, a maioria das tribos germanos aderiu ropi- O rei, tendo pois confessado um Deus todo-poderoso na Trindade, foi
damente ao arianismo por influéncia do corte de Constontinopla, entfio marcada baptizado em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo e ungido do santo
por essa heresia cristfi. Crisma com 0 sinal da cruz. Mais de trés mil homens do seu exército foram
Convertidos os Visigodos no fim do século IV, seguiram-se-lhes as Vondalos. lgualmente baptizados. [...]
as Burgtindios, as Ostragodos, as Suevos (depois de uma tentativo de adesfio
ao cotolicismo), os Gépidos e os Lombardos. [Soncti Georgii Florentii Gregarii, Episcopi Turanerutlr, Historioe
Ecclesiasticae Francarum, lib. 11, com trad. francesa e revisao de
Apenos as Francos no continente e as Anglos e os Saxoes no Grd-Bretonha ;tp.T;l;gl'l:¢,2 Socrété dc l'Histoire de France, Paris,
'se mantiverom pogiios até d conversfio ao cotolicismo.
A orianizocoo dos Germanos tornou mais funda o disttincia que por muitas l
outros razoes teria jo de vir a existir entre as invasores e as populacoes roma- l (1) Clotilde, princesa burgirndia catolica.
nizadas. -‘
No entonto, ti excepczio do reino vondolo de Africa onde as vencedores
exerceram violentas perseguicoes religiosos, 0 arianismo mio foi, de forma
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28 TEXTOS HISTORICOS MEDIEV $. -
r. a*4 INVASOFS 29
0 RETORNO DOS SUEVOS A CONVERSZO DOS VISIGODOS
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A FE CATOLICA ~- *“ ‘ I (587) ~
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-‘ Depois de 0 rei Requiério (448-456) ter tentado estabele I, Arianos durante mais de dois séculos, as Visigodos conver-
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. 0 catolicisma entre os Suevos, 0 arianismo veio a trim teram-se ao catolicismo depois de 0 seu rei Recaredo ter dado
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'- par volta de 465, mediante a iuterven;:fi0 de Atjaac, um bis esse passo (587). A umficayfio religiosa assim obtida havia
vindo da Gélia visigdtica. S. Martinha de Dume conseguiu sido anteriormente tentada no seio do arianismo pela rei
Q1 a conversfio aa catolicismo do rei Teodomiro, cerca de 561
Leovigildo, como 0 documenta 0 texto de um escritor godo
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0 relato que se segue é de Santa Isidoro de Sevilha e dat
dos principios do século VII.
contemporéneo, Jofio, abade dej Biclara. ' -
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‘K; >~.'.
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Na era dc 502 (1), morto Frumalrio, Remismundo trouxe, pela autoridac i
580? ' \i\11‘Ii i
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real, todos os Suevos a sua direcoio, restaurou a paz com os Galécios O rei Leovigildo reuniu na cidade dc Toledo uma assembleia dc bispos
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enviou embaixadorcs ao rei dos Godos, Teodorico, para concluir um tta < da seita ariana c corrigiu a antiga heresia com um novo erro, dizendo que
Q’: 1' . . vi;
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tado e dele recebcu, tambéxn através dos embaixadows, armas c uma mulh aqueles que vinham da religiio romana para “a nossa fé catélica nio deve-
. :- riam ser baptizados, mas apenas [confirmados] pela imp0si<;50 das mios
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para si. Entio passoua Lusitania e saqueou Conimbria com um engan
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_ 3' dc paz. Também Olyssipana foi por ele ocupada, tendo-se rcndido Lusidio, c pela comunhio e deveriam dar gldrias ao Pai, através do Filho, no Espi-
um cidadio que ali governava. Nessa época Kjax, da naqio gaulcsa, tot- rito Santo. Por isso, devido a este aliciamento, muitos dos nossos cairam no
nado apéstata Ariano, para auxilio ao seu rei apareceu no meio dos Suevo, uh.-\¢_0.,-4.
dogma ariano, mais por cupidez do que por seu livre impulso.
~\ como inimigo da fé catélica e da divina Trindade, trazcndo ate
4:_0%
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~__<<’ pestifero da rcgiio galicana dos Godos e contaminando todo o povo dos 581 . ’
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Suevos com 0 veneno daquela poxfidia letal. Seguidamcnte muitos reis No décirqo més do primoiro ano do seu réinado, _Recarcdo, com a ajuda
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dos Suevos se mantivcram na hercsia ariana, até que Teodomiro tomou dc Deus, tomou-se catolico e »rcuniu-se com os sacerdotcs da scita ariana
0 poder do reino. ' num sapiente coléquio, fazendo com que“ sc convcrtesscm a fé catélica,
Este [Teodomiro], destruido o erro da impiedade ariana imediatamente mais pelo poder da razio do que pelo seu mando, lcvando todo o povo
in restituiu os Suevos a fé catolica, com a ajuda dc Martinho (2), bispo do_ .4 -.-. -4.- dos Godos e dos Suevos a unidade c paz da igreja crista. Pela graga dc Deus,
\
Mosteiro Dumiense, homem ilustre pela fé e pela ciéncia por cuja diligéncia as scitas arianas vieram para o dogma cristio.
. a paz da Igreja foi ampliada e instituidas muitas coisas das disciplinas ecle- O rei Recaredo restituiu pacificamente os bens alhcios tomados pelos seus
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‘ :1 sizisticas nas regioes da Galécia. ~ predecessores e acumulados pelo fisco, tornando-se 0 fundador c patrooo
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de igrejas e mosteiros.
J [Sancti Isidori, Hispalensis Episcopi, Historia dc Regibu: Gothorum.
Wandalorum er Suevorum, in J. P. Migne, Patrologiae Cursus Complains,
L Series Latina, t. Lxx_xln, Paris, 1862, pp. 1081-1082.] 590?
(1) 464. (1) Nascido na Panonia cm principios do século VI, S. Martinho vcioamorrer Um santo sinodo dc bispos dc toda a. Espanha, Gélia c Galim, sendo
cm Dume, nos arredores dc Braga, cm 579.
-,,_-.¢_~. 1._-. _ -> -
Setenta e dois o seu mimero, foi reunido por ordem do principe Rccaredo
na cidade_de Toledo. Neste sinodo tomou parte o nota'vcl e cristianissimo
=¢'\i_'-‘—’~ Recaredo e 0 processo da sua conversao e 0 da confissio de todos os saccr-
K- 3 dotes, assim como o do povo godo foi cscrito por sua mio num livro, sob
é
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8 orienta<;5o do bispo. Foram dadas a conhecer todas as coisas que per-
~6;{;.'k. Iencem a pI'OfiSS5.0 da fé ortodoxa, o registo das quais o santo sinodo dos
-* ~r .
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so nzxros ulsromcos MEDIEV 0 AS INVASOF5 at
bispos decrctou, dc acordo com as rcgras canénicas. Todavia o lugar Porém, induzido por sucessivos pedidos da. rainha, o rei(1), firmando-3¢
important: nos ncgocios do sinodo foi ocupado por S. Leandro, bispo na fé catélica, deu a Igreja dc Cristo muitas possessbes c concedeu dc novo
da igreja dc Sevilha, c pclo beatissimo Eutropio,-abade do Mosteiro Ser- aos bispos, que até entao tinham sido oprimidos e dcsprezados, 0 seu
vitano. No cntanto o notavcl rei. Recaredo, como dissemos, tomou parte mtigo lugar dc honra.
no santo Concilio, renovando no nosso tempo, pela sua ilustre presenea,
[Paulus Diaconus, Historia Langobardorum, lib. xv, S c 6, in Monu-
a antiga direcqao de Constantino 0 Grande durante o santo sinodo dc Ni menta Gerrnaniae Historica-Scriptores Rerum Langobardicanun ct
ceia (1) e também a do cristianissimo imperador Marciano, por cuja in Italicarum, s. v1-1x, Hannovcr, 1878, pp. 117, 118.] V
tancia foram emitidos os decretos do sinodo de Calcedonia (2). [...] -'
(I) Teodolinda era uma prinoaa bévam. (1) Agilulfo, segundo marido dc Teodolindn.
[Iohannis Abbatis Biclarensis, Chronica (590), in Theodor Mommsea,
ed. Chronica Minora Saec. IV, V, VI. VII, vol. II, Monurnenta Ger-
rnaniae Hi.uorica—Auctorum Anriquissimorum, t. Jtt, Berlim, 1894,
pp. 215-219.] . CARTA DE s. GREGORIO MAGNO
. :-
PARA EULOGIO,
(') 0 primeira ooncilio ecuménico, rcunido em 325. Ncle foram condenadas as dou PATRIARCA DE ALEXANDRIA,
trinas dc Ario. (1) O quarto concilio ecuménico, reunido cm 451. Al sc afirmou, contra
SOBRE A EVANGELIZACKO DOS ANGLOS
os monofisitas, a existincia dc duas naturems, a humana c a divina, na imica pessom
do Cristo. " ~ ‘ _<.t.-»., 4.w-A.»- .4 (598) "
5‘)
'?: , Nesta missiva, Gregorio I dd coma do inicio do realizag.-6'0
L .-4 0-4
de um dos seus mais profundos desejos, a evangelizapao
s. GREGORIO MAGNO QT dos Anglos. A fim de coriseguir este objective o papa enviou
E A coNvERsAo nos LOMBARDOS v para Inglaterra todo um mosteiro, ou seja, quarenta monge:
chefiados por Santa Agostinho. ' '
. _. .. . 4.
Devido em grande parte ti sua obra, Gregorio I viu desa
parecer as ailtimos reino: arianos. Na Itdlia, a rainha Teo- [...] Porque vcjo que actuais por bem c vi/os regozijais com os outros, ‘vou-
dolinda, com quem 0 papa manteve uma estreita cones: -vos fazer uma retribuiqio pelos beneficios recebidos, cnviando-vos noti-
pondéncia, conseguiu a conversdo de seu marido, o rei dos cias do mesmo género. O caso é que, enquanto o povo da Inglaterra, colo-
Lombardos Agilulfo (590-616), e de quase toda 0 seu 4--..¢,.__>4,. -..¢»
cado num canto do mundo, ainda permanecia sem fé, adorando troncos
povo (607). 0 relato é de Paulo Diacono, autor do
século VIII. .-y-
c pedras, pcnsei, ajudado nisto pelas vossas preces, que deveria com a
9
assisténcia de Deus enviar a este povo um monge do meu mosteiro (1), para
Nesta época o sabio e piedoso Gregorio papa da Cidade Romana, depois prégar. [Este monge], com licenca dada por mim, foi feito bispo pelos bis-
dc ja ter escrito muito para beneficio da Santa Igreja, compos também pos das Germanias e com 0 seu encorajamento lcvado até junto do povo
quatro livros dizendo respeito as vidas dos santos; a estes livros chamou acima citado, nos confins do mundo; e ja nos chegaram cartas dizcndo-nos
Dialogos, ou seja uma conversa dc dois, porque neles se incluiu a si proprio da sua seguranoa c do seu trabalho. Tanto ele como os que foram cnviados
conversando com 0 seu diacono Pedro. O papa enviou estes livros a rainha com ele cstao encantados com os tao grandes milagres sucedidos entre este
Teodo1inda(1), que sabia ser vcrdadeira na fé em Cristo e prédiga em boas povo, os quais pareccm reproduzir os poderes dos apéstolos nos sinais
obras. que aprcsentam. Com efeito, na festa solene da Natividad: do Senhor
Através desta rainha a Igreja de Deus obteve muitas e grandcs vantagens. ocorrida nesta primeira indicqao (Z) mais dc dez mil anglos, segundo a nossa
Na realidade os Lombardos, quando ainda estavam dorninados por uma informaqao, foram baptizados pelo dito nosso irmao e colega bispo. Con-
dcscrenoa paga, tinham tomado posse dc toda a propriedade da Igreja. tei-vos isto para que possais saber nao apenas o que fazeis entre 0 povo
32 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAI3
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ARIANO E CATOLICO
NAS CIDADES LOMBARDAS
(SECULO vn)
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s4 naxros msroiucos 551NVASOF$ - as
A POLlTICA DE ATAULFO . somuz A DECADENCIA DA CULTURA ROMANA
EM RELACAO A ROMA (SECULO v) ._ . -
(SECULO V)
No excerta que se segue de uma carta de Sidania ApaIi-
ndria ao seu amigo Arbogasto (c. 477) é bem patente a
O histariadar Paulo Ordsia (‘séculas IV-V) atribuiu a preacupapfio do primeira pela desaparecimenta pragressivo
uma intenpfio politico que teria sido zinica entre as do cultura Iatina; ‘ " ’ ’
germanos: a do criapzio de um estado godo que
esquecer a romano. Ataulfo, coma todas as outros reis
baros, acabou no entanto par se inserir nos quadras 0 vosso amigo Eminéncio, honrado senhor, entregou uma carta por v6s
e administrativos romanos. ditada, admiravel no estilo. [...] Tivestes contactos com os barbaros e no en-
tanto nio permitis que nenhum barbarismo atravesse os vossos labios; em
eloquéncia e valor igualais aqueles antigos generais cujas macs podiam ma-
O reiAtau1fo era entao 0 rei do povo godo. Depois da invasao da Cidade nejar 0 estilo com nao menos habilidade do que a espada. A lingua romana
e da morte de A1arico(2) tomou por esposa, como ja disse, a irma do foi ja ha muito banida da Bélgica e do Reno; mas se o seu esplendor sobre-
rador (3), Placidia, que estava prisioneira, e sucedeu a Alarico na viveu de qualquer maneira, foi certamente convosco; a nossa jurisdiqao
do reino. O rei, como muitas vezes ficou dito e como o provou o seu fim entrou em decadéncia ao longo da fronteira, mas enquanto viverdes e pre-
era um zeloso partidario da paz; desejava servir fielmente 0 servardes a vossa eloquéncia, -a lingua latina permaneeera inabalavel.
rador Honério e consagrart as forqas dos Godos a defesa da Ao retribuir as vossas saudacoes 0 meu coragao alegra-se dentro de mim
romana. [...] por a nossa cultura em desaparicao ter deixado tais traces em vés. [...]
Tinha principalmente desejado com ardor apagar o nome romano
fazer de todo o territorio um império dos Godos, que deles usasse o Gal Solii Apallinaris Sidanii Epistularum. lib. IV, 4<Epist. XVII». in
para que, falando claramente, a Gotia fosse o que tinha sido a Maruanenta Germaniae Histarica-Auctarum Antiquissimaruml t~ V1"-
Berlim, 1887.]
_ , G.
e Ataulfo se tornasse agora 0 que outrora havia sido Cesar Augusto. mas
a sua muita experiéncia provara-lhe que os Godos eram absolutamente
incapazes de obedecer a leis por 681188. da sua barbaric desenfreada. Orzi,
como nao se podem suprimir, numa republica, as leis sem as quais uma
0 DESCALABRO DA crv1L1zA¢Ao ROMANA
repfiblica nao é repfiblica, preferiu glorificar-se restaurando na sua inte-
NA GALIA (SECULO VI)
gridade [a Romania] e erguendo o nome romano com as forcas dos Godos,
No prefdcio d Histéria Eclesiastica dos Francos, S. Cre-
para aparecer a posteridade como o restaurador do Império Romano, visto goria de Tours (538-593) justzfica a sua obra pela ausenczo
que o nao tinha podido transformar. “ de qualquer outro autor apta a registar as acantecimentas
contemparaneas.
[Pauli Orosii, Histariarurn adversus Paganas, in I. P. Migne, Patro-
logiae Cursus Campletus, Series Prima, t. xxxt, Paris, 1846, eols. 1168- Extinguindo-se a cultura das letras, ou melhor, definhando nas cidades
-1169.] '
das Galias, enquanto o bem e o mal igualmente ai se acometiam, ¢.1ue.a.1
se desencadeava a ferocidade dos povos ou o furor dos reis, que as igrejas
(1) A invasao de Roma por Alarico em 410. (1) Ocorrida nesse. mesmo ano de 410.
eram atacadas pelos heréticos e defendidas pelos catélicos, que a fé cristi,
(3) I-Ionorio (395-423). (4) Ataulfo foi assassinado em Barcelona (Agosto de 415).
fervorosa ainda no maior mimero, arrefecia em alguns, que 85 181'°Jf15
~~
eram enriquecidas por homens piedosos e despojadas por impios, e que nao
se podia encontrar um unico gramzitico conhecedor da dialéctica para des-
a
4 ’ 7
. ‘Q 36 raxros msroiucos MEDIEV‘
crever todas estas coisas, quer em prosa, quer em verso, e carpindo-se - ' h- ti
muitas vezes a maioria dizendo: <<Desg1-acado seja o nosso tempo,'p'q
hie?‘
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0 estudo das letras pereceu entre nos e ja nao se encontra ninguém -J a '1»
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4. possa traduzir por escrito os acontecimentos presentes»; decidi-me, movi .
por estas queixas e outras semelhantes, repetidas todos os dias, a transmi'
aos tempos vindouros a memo'n'a do passado; e, se bem que falando --
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38 TFJCTOS I-HSTORICOS MEDIEVAIS A5 INVASOES , 39
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sendo conhecidos por Dregovitchas. Outras tribos residiam ao longo do Morreram todos, nao sobrevivendo um fmico Avaro. Ainda hoje existe
1‘. -“
Dvina e eram chamadas Polotchanas, devido a um pequeno curso de agus uma expressao corrente na Russia: <<Morreram como Avaros.» Deles
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,_a chamado Polota, que corre para 0 Dvina. [...] Os Eslavos também se fixaram nao permaneceu qualquer tribo nem herdeiro (3).
cerca do Iago llmen, onde eram conhecidos pelos seus nomes apropriados;
[Extraido da Paves: Vremennykh Let (A Histdria das Ana: Passadas),
Construiram uma cidade a que chamaram Novgorod. Outros tinham ainda também conhecida por Nachalnaia Letopis (Crdnica Primdria), in
as suas casas ao longo do Desna, do Seim e do Sula (1), sendo denominado§' Basil Dmytryshyn, Medieval Russia--A source book, 900-I700, 1967,
.-_.-. >§;~r. -1»-M:-a’. pp. 6 e 7.] .
Severianos (3). --A
Assim estava dividida a raga eslava; a sua lingua era conhecida por (1) Populacao de origem mongol, iranizada a partir do século vn a. C. (1) Esta: tribos,
eslavo. - 1* de raca turca, que no principio do século vu se enoontravam a norte do Irio, ocuparam
‘@- depois as margens do rio Ural, até virem a desaparecer esmagadas por novos invasores
[Extraido da Pavest Vremennykh Let (A Historio das Anos Passados), (século x). (3) Povo também de origem turca que em 680 ocupou a Mésia. (4) Os Hun-
~Z. também conhecida por Nachalnaia Letopis (Crdnica Primdria), in garos, populacao de origem finesa, que havia sofrido influéncias iranianas e turcas.
ft Basil Dmytryshyn, Medieval Russia— A source book, 900-1700, 1967, (5) Imperador do Oriente de 610 a 641. (5) Chosroes II (590-628). (7) Este povo, pos-
P. 4.] ' \'
4 slvelmente de origem turca, apareoeu junto das fronteiras do Império do Oriente por_
volta de 461. (3) Nao ha qualquer referéncia aos Avaros posteriormente a 822. ' ‘
(1) O bereo da raca eslava parece serem justamente aszonasda bacia do rio Pripiat (afluentkey afi , A . .~....1
do Dniepre). (1) Estes trés rios sao afluentes do Dniepre. (3) Esta denominacio signil . - .' . . >
fica upovos do Norte». A. A, .¢. L. l
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O AVANCO DOS POVOS DAS ESTEPES U 2O
de a populacao ter invocado Deus com grande fervor, muitos dos inimigos anuncioupelo seu profeta: <<Uma praga Vmda d° n°Ft° °spalh,ar's°'i re
morreram de forne e de frio, assim como pela guerra e pela peste, abando- I todos os habitantes da terra...».A18l1Il$ anos d¢P°1$» ""1 "“m°‘° mm‘
nando desta maneira o cerco. Quando se retiraram encaminharam-se em culavel de navios normandos sobe 0 rio Sena, P610 qu° aummta a mm“
4--3. “--1 -45
pé de guerra contra 0 povo dos Bulgaros, que ficavam para além do Da- naquelasregides. [Os Normandos] invadem a_ °idad° d° R°t°mfl8'|:15(m)»
mibio, mas, vencidos também por eles, retrocederam para os seus pilham-na e incendeiam-na; da mesma maneira sio tomadas as mdlfiw
navios. de Parisii, Belvacis (11) ¢ Meldae (")- Dsmtam _° °as‘°1° ‘1°_M° 1“_'
num (13); Carnotes (14) é ocupada; Ebr°¢a$(_15)= 355"" °°_m° Ba1°°as( 6)‘
1
sao pilhadas. E invadem todas as outras cidades sucess1vam¢nl¢- Qua?
[Paulus Diaconus, Historia Langobardorum. lib. vr, §§ 46, 47, in
Monlunenta Germanioe Hist0rica— Scriptares Rerum Langabardicarum nenhuma localidade ou mosteiro permanecem rntactos: Todos Se PW?!‘
et lralicarum, Saec. VI-IX, Hannover, 1878, pp. 138 a 140.] pitam na fuga e raro é aquele que diz: <<Ficai, ficai, resrsti, lulal Pda 1151"“-
(1) No ano 711. (2) Carlos Martel (689-741). (3) Referéncia s batalha de Poitiers pelas criancas e pelo povo.» E assim entorpecidos e d¢Sll-I1ld08- "dimes,
(732)- (‘) Em 717. ' por meio de tributos o que deveriam ter defendido pelas armas, filqum
0 reino dos cristaos se despedaca. [...]
.
['E|-mentanus, .
Mrracula -
S. Filtberti, - Monumerggzfennnnloo H:
111 l-
tariea—Scriptares XV. 1. H8I!n0V¢l'. 1887, p. -
.
(1) B déus. (1) Péngueux. .
(3) Saint-Ouen - - _ (4) Limoges. (5) Anlwllme.
ou Saintes L
<6) '(l)“oulouse. <1) Angosw to Tom (°> °"*"1=- l<'°)Bf~°‘:;“" ‘"’ ”°"""
(11) Manx, (11) Melun. (14) Chartres. ('5) E"="X- (°) Y‘ '
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42 '1'EX'1'0S HISTORICOS MEDIEV "
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A5 INVASOES ‘3
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A FUNDACAO Do ESTADO RUSSO - dc] Qleg instalou-se como principe em Kiev, declarando que ela viria a
DE NOVGOROD—KIEV (SECULO 1X) J 5;; a mite das cidades russas(3). [...] li
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l d da P t V nnykh Let (A Histario do: Ana: Passadas).
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Segundo a Crdnica Primaria (compilada entre 1037 e 1114 EQ§im°mnh;?1'; ;6i'MNachalnaia_ Letapis (Crdnica Prirndrta),
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.- '- ‘Z; 0 principado russo de Kiev estaria canstituido par va in Basil Dmytryshyn, Medieval Russta—A source book, 900-1700,
1!
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M - , . 1967, pp. 8 a 10.] ‘ ‘l
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. I‘ .-'» ' de 880, depois de a populaedo eslavo ter sido dominada pe
,\-_’-ea‘ -:32‘-; invasores normandos.
(1) O termo deriva do esemdinavo vaeringi, termo que designava os membros de um
1 grupo orgammd'o para fins eomerciais ou mesmo militares. Os Normandos foram assim
6367 (859). Os Varangios (1) do outro lado do mar impuseram um tribr denominados pelos eslavos (varjagi) e pelos bimntinos (varangoi). (1) A denominacao
sobre os Chuds, os Eslavos, os Merianos, os Ves e os Krivichianos. M 4e Rus e portanto Russos, parece ser uma adaptacio fonétim eslavo. de um tenno escan-
dimvo e fink (em suw; anfigo mdi) significando ((8qU6l¢S que remain». (3) Adinastin
os Khazars impuseram-no aos Polianos Severianos e Vyatichianos, < inaugm-ma pol‘ Oleg e conhecida por Rurikovltch, em homenagem a Runk, reinou em
brando uma pele de esquilo e uma pele de castor por cada lar. 6 . * ¢. . Kiev até ao século XVI.
6368-6370 (860-862). Os tributarios dos Varangios expulsaram-nos para
la do mar e, recusando-lhes mais tributos, deeidiram governar-se a si pr6-
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prios. N50 havia leis entre eles e as tribos erguiam-se umas contra as outras. os HUNGAROS DEVASTARAM
Seguiu-se a discérdia e comeqaram a entreguerrear-se. Disseram entio A LOMBARDIA (924)
1 "‘ ~ -. para si préprios: <<Procuremos um principe que nos possa governar
julgar segundo a lei.» De acordo com isto atravessarain os mares até junto‘ _ -'.>-.A‘¢-..._4_-:.1 As incursfies dos Htingaro-Y. f¢iPI'dll-f- ill?-*P¢""d4-1' ¢ d¢~“""i' ‘
“'1 all-; "ff 1' doras, tinham par finalzdade essenctol a saque. Roras vezes
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dos russos Varfingios (2). Estes varangios em particular eram conhecidos 3 este povo se preacupou com cercar cidades. A tomado de
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, ‘xv! por russos, assim como alguns eramchamados suecos, e outros normandos» § Pavia constituiu uma exeepeao. 0 relato que se segue per-
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anglos e godos, por serem assim denominados. Os Chuds, os Eslavos e '; tence o um cranista francés cantemporaneo dos acante- I
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- cimentos. _ ~ A = l
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os Krivichianos disseram entao ao povo de Rus: <<A nossa terra 6 grande
e rica, mas nao existe ordem nela. Vinde para governar e reinar sobre nos.»
Os Hfingaros, conduzidos pelo rei Beren8==i1'i° (1), <11" °5_L°mba_"d°5 unmfm
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Escolheram entao tree irmios com os seus parentes, que tomaram consigo ; -1»
repelido, devastaram a Ita1ia(2); l9»I1<}aY3m f°8°. 3 P3-V13 (3), ‘°1d§d¢ mum’
r todos os russos e emigraram. O mais velho, Rurik, instalou-se em N6v- Q 1» Ml
‘I gored; o segundo, Sineus, em Bieloozero; e 0 terceiro, Truvor, em Izborsk. populosa e opulenta; ai pereceram infimflfas flq11¢Za$§ as 1811.135 f°1'am it
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incendiadas e o prdprio bispo da cidade com 0 bispo de Vercelli que ‘estava
. 3‘, ." Devido a estes varangios, o distrito de Novgorod passou a ser conhecido ‘f;
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pela terra de Rus. Os actuais habitantes de Névgorod descendem da raca " com ele foram mortos pelas chamas e o fumo; ° '33¢l“¢13- mult1da° [d°
varangia, mas anteriormente eram eslavos.[...] " ' habitantes], quase inumeravel, conta-se terem ficado apenas duzentos
que, entre os restos da cidade incendiada, recolheram nas cmzas oito mddios
6378-6387 (870-879). No seu leito de morte, Rurik legou o reino a Oleg, A
que era da sua gente, e confiou nas suas maos o filho, Igor, porque ainda de prata que entregaram aos Hiingaros Para "$8313? 3 vida ° as mumlhas l
até as colinas de Kiev. [...] [Depois deter assassinado os governantes da cida- treze vezes, de 899 a 955. (3) A 12 do MRIGO d° 924-
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CAPiTULO 11 — A CIVILIZACAO BIZANTINA
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8- BIZANCIO PONTO DE LIGACAO \
1.
CONSTANTINOPLA
CABEQA DO IMPERIO ROMANO
DO ORIENTE ‘
A FUNDACAO DE CONSTANTINOPLA
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4s TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS A CIVILIZACAO BIZANTINA 49
diatamente dirigiu toda a atenqio para 0 estabelecimento de igrejas. Digni- natal a fim de fazerem uma petieio ao imperador; e todos estes passam
ficou desta maneira tanto as outras cidades como a urbe com 0 seu nome. a residir na cidade por qualquer obrigaeao urgente, iminente ou amea<;a-
Na verdade deu 0 nome de Constantinopla aquela [cidade] anteriormente dora. A juntar as outras dificuldades estas pessoas tém também necessidade
denominada Bizancio e ampliou-a muitissimo, adornando-a com uma cinta de alojamentos, sendo incapazes de pagar 0 aluguer de qualquer residéncia
de enormes muralhas e com vzirios edificios, equiparando-a Z1 régia cidade aqui. Esta dificuldade foi-Ihes totalmente resolvida pelo imperador Justi-
dc Roma; sancionou mesmo uma lei para que fosse chamada a Nova Roma. niano e pela imperatriz Teodora. Muito perto do mar, no local chamado
Esta lei foi inscrita numa coluna de pedra e colocada pilblicamente no Estadio (porque ern tempos antigos, suponho, se destinava a jogos de
Estratégio junto da estatua equestre do proprio’ imperador. Na mesma qualquer espécie), constniirarn uma muito grande hospedaria destinada
cidade [0 imperador] edificou duas igrejas: uma chamada [St.’] Irene e a servir de alojamento temporario aqueles que assim se encontrassern
outra com 0 nome dos Apostolos. Na realidade nao incrementou apenas embaraeados.
as coisas dos cristios, como anteriormente disse, mas destruiu também
a superstieio dos gentios. E certo que propfis abertamente imagens de deu- [Procopio de Cesareia, De aedtficiis, I, x1-23-27, trad. inglesa de
. H. B. Dewing, Londres, 1940, vol. vu, pp. 95 a 97.]
ses para ornamento da cidade de Constantinopla e tomou pfiblicas profe-
cias délficas no circo da mesma cidade. Mas estas coisas supérfluas, tam- (1) Imperador de 527 a 565.
bém hoje em dia se véem celebradas, mais para serem admiradas pelos iI
I
olhos do que percebidas pelo ouvido. [...]
i
[Socratis Scholastici, Historia Ecelesiastica, lib. i, cap. XVI, in J. P.
Migne, Patrologiae Cursus Completus, Series Graeca, t. Lxvn, O FAUSTO IMPERIAL EM 949
Paris, 1864, cols. 115 a 118.]
(1) Constantino 0 Grande, imperador de 306 a 337. (7-) O Concilio de Nieeia (325). Sendo a diplomacia uma armas mais hdbilrnente mane-
(3) A celebraeio do 20.’ ano do seu govemo, realizada em 326. jadas pela imperador bizantino, este procurava sempre impres-
sionar os embaixadores enviados pelas naefies estrangeiras
por meio de ofertas e recepefies faustosas.
Ti
so rsxros msroaicos MEDIEVAIS A CIVILIZACAO BIZANTINA 51
gados, assim como a rnim proprio e a Liutefredo, ordenou as seguintes 0 GEOGRAFO IDRISI (sécuto xn)
preparaeoes. DESCREVEU CONSTANTINOPLA
Diante da sede do imperador havia uma arvore feita de bronze dourado,
Idrisi foi contemporéneo dos dois mais brilhantes impe-
cujos ramos estavam cobertos de passaros igualmente de bronze dourado, radores do dinastia comnena, Jodo ll (I118-I143) e Manuel I
cantando de diversas maneiras segundo as suas espécies. (1143-1180). Constantinople era ainda uma cidade fabu-
O préprio trono do imperador era feito com tal arte que num dado losa, capaz de impressionar 0 muito viajado gedgrgfg drabg,
momento parecia uma construeao baixa e noutro erguia-se alto no ar.
Era de um tamanho imenso e estava guardado por leoes de bronze ou de Esta capital esta construida sobre uma lingua de terra de forma triangular.
madeira coberta de ouro, os quais fustigavam 0 chao com a cauda e emi- Dois dos seus lados s50 banhados pelo mar; 0 terceiro compreende 0 ter-
tiam um rugido de boca aberta e agitando a lingua. reno sobre o qual se ergue a Porta Aurea (1). O comprimento total da cidade
Reclinado sobre os ombros de dois eunucos fui levado a presenea do é de 9 milhas (1). Esta rodeada por uma forte muralha cuja altura é de vinte
imperador. A minha chegada os leoes rugiratn e as aves cantaram de acordo e um covados (3) e revestida de um parapeito com a altura de dez covados,
com as suas espécies sem eu me aterrorizar nem impressionar de espanto, tanto do lado da terra como do do mar. Entre este parapeito e 0 mar existe
porque me tinha préviamente informado sobre todas estas coisas com uma torre que se ergue a altura de cerca de cinquenta covados rechachi.
pessoas que as conheciam bem. Assim, depois de me ter prostrado por trés A cidade tem cerca de cem portas, das quais a principal é a que chamam
vezes em adoraqao ao imperador, levantei a cabeqa e aquele que primei- a Porta Aurea; é de ferro coberto de laminas de ouro e nio se conhece
ramente tinha visto sentado a uma distancia moderada do solo havia agora nenhuma que lhe seja comparavel na grandeza, em toda a extensio do
mudado de vestuario e estava sentado ao nivel do tecto. Como isto foi Império Romano.
feito nao consigo imaginar a nao ser que ele fosse puxado para cima por Esta cidade encerra um palzicio (4) afamado pela sua altura, vastidao
qualquer espécie deiengenho, como 0 que usamos para levantar as traves e beleza das suas construqoes e ainda um hipodromo pelo qual se chega
de uma prensa. a esse palzieio, 0 mais espantoso circo que existe no universo. Caminha-se
Todavia nunca se me dirigiu directamente, e, rnesrno que tivesse desejado nele entre duas ordens de estatuas de bronze de um trabalho precioso,
fazé-lo, a grande distancia entre nos teria tornado a conversa impossivel, representando homens, cavalos, leoes, etc., esculpidos com uma perfeigao
mas por intermédio de um secretario informou-se sobre os actos e a safide capaz de causar o desespero dos artistas mais habeis. Estas figuras sao de
de Berengzirio. Tendo eu dado a resposta conveniente, a um sinal do inter- uma estatura mais elevada que a grandeza natural. O palacio contém igual-
prete deixei a sua presenga e retirei-me para os aposentcs que rne foram mente um grande ntimero de objectos de arte infinitamente curiosos. [...]
dados. [...]
[Géographie D'Ea'risi, traduite de l'a.rabe en francais par P. Amédée
[Liutprandi. Cremonensis Episeopi, Historia Gestorum Regum et Impe- Jaubert, Paris, 1840, t. II, pp. 298-299.]
ratorum sive Antapodosis, lib. VI, in J. P. Migne, Patrologiae Cursus
Completus, Series Latina, t. CXXXVI, cols. 894 e 895.] (1) No canto sudoeste da cidade. (Z) A milha tem cerca de 1500 rn. (3) O covado
corresponde a 0,70 m. (4) Refere-se ao Pal:-icio imperial, conhecido pelos viajantcs
(1) O narrador é 0 lombardo Liutprando. entio servidor do rei Berengario I (888-923). ocidentais por Palacio dc Boueoleon, a sudeste da cidade. Os imperadores da dinastia.
(1) Otio I, imperador da Alemanha de 936 a 973. (3) 25 de Agosto. (‘) 17 de Setembro- comnena viveram no entanto quase sempre no palacio dc Blachcrnae, no extremo noroeste
(5) Part: do palacio imperial onde se encontrava a sala do trono e eram recebidos os embai. de Constantinopla.
xadores e cuja construeio remonta a Constantino I. (6) Constantino VII Porfirogeneta.
(944-959).
TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
A CIVILIZACAO BIZANTINA 53
3
2. pelos Gregos como a Grande Citia. Com esta forqa Oleg conduziu um
RELA cores COMERCIAIS DE BIZANCIO ataque a cavalo e de barco; o nfimero dos seus navios era de dois rnilhares.
COM 0 MEDITERRANEO, 0 BA'LTlC0 Chegou perante Tsargrad (4), mas os Gregos fortificaram 0 estreito(5) e
E 0 ORIENTE fecharam a cidade. Oleg desembarcou na praia e ordenou aos seus sol-
dados que acostassem os navios. Fez a guerra em torno da cidade e cha-
4NDO, a partir de meados do século VII as /lrabes ocuparam a Palestina, cinou muitos gregos. [Os Varangios] também destruiram tnuitos palacios
ria, o Egipto e todo o Norte de A:frica, Constantinopla viu ainda crescer e queimaram igrejas. Dos prisioneiros que capturaram, alguns foram deca-
I; importancia no seio da Cristandade, como centro eeonomico, politico pitados, outros torturados, outros seteados e outros ainda atirados ao
'ligioso no Mediterrdneo oriental. mar. Os Russos infligiram ainda muitos infortiinios aos Gregos segundo
zndo inerementado a construefio naval e desenvolvido uma importante a maneira habitual dos soldados. Oleg ordenou aos seus guerreiros que
stria de armamentos e artigos de luxo (como sedas e marfins), B[zg'n_ fizessem rodas as quais ligaram aos barcos e quando o vento se tornou
ranalizava os seus excedentes tanto para os portos mediterrdneos favoravel, desfraldaram as velas e cairam sobre a cidade vindos de terra
COMO
os mercados asidticos. aberta. Quando os Gregos viram isto, ficaram aterrados, e, enviando mensa-
zmbém as navios das nascentes republicas italianas e das cidades bizanti- geiros a Oleg, imploraram-lhe que nio destruisse a cidade, oferecendo-se
io Sul da Itdlia demandavam Constantinopla em busca desses mesmos pro- para se submeterem ao tributo que ele desejasse. Desta maneira Oleg man-
s e das rotas que Ihes dariam acesso as mercadorias do Extrema Oriente. dou fazer alto as suas tropas. [...]
rm efeito, Trebizonda era no mar Negro a cidade que se abria para 0 i
ircio asidtico, enquanto Quersoneia, na Crimeia, drenava as matérias- Os Russos fizeram as seguintes propostas: <<Os russos que aqui vie-
ias vindas do Béltico em caravanas que atravessavam as planieies russas. rem receberio tanto trigo quanto quiserem. Aqueles que vierem como
e
ultima eorrente comercial era, como sabemos, alimentada por povos mercadores receberio provisoes para seis meses, incluindo pao, vinho,
idinavos, os Suecos, conhecidos nas margens do Dniepre por ((russ» au peixe e fruta. ~
tgios. A sua influéncia se deveu o crescimento das cidades de Kiev e Ser-lhes-5.0 preparados banhos na quantidade que pedirem. Quando
.'0r0Id, sobre as quais Constantinopla veio a estender a sua presenea os Russos voltarem para as suas terras, receberao do imperador alimen-
itua. - tos, ancoras, cordoame, velas e tudo o mais que for necessario para a
viagem. [...]
KIEV E BIZANCIO NO PRINCIPIO DO SECULO X Entio os imperadores Leao (6) e Alexandre (7) fizeram a paz com Oleg
e depois de terem concordado sobre 0 tributo e de se terem ligado mt‘1tua-
No principio do século X os Vardngios, que jti haviam consti-
tuido um estado poderoso em Kiev, atacaram Bizancio. mente por um juramento, beijaram a cruz e convidaram Oleg e os seus
Deste ataque resultou 0 primeira tratado comercial entre homens a fazer um juramento da mesma maneira. Segundo a religiio dos
as dois estados (907). 0 relato que se segue e'-nos dado por Russos estes juraram pelas suas armas e pelo seu deus Perun, assim como
uma crontca russa compilada num mosteiro de Kiev entre por Volos, 0 deus do gado, e isto confirmou o tratado.
1037 e 1118.
'07 — Deixando Igor (.1) em Kiev, Oleg (2) atacou os Gregos (3). Levon [Extraido da Povest Vremenrtykh Let (A Histdria dos Anos Passados)
ou Naclialnaia Letopis (Crdnica Primdria), também eonhecida por
go uma multidao de varangios, eslavos, chuds, krivichianos, meria- Cronica de Nestor, in Basil Dmytryshyn, Medieval Russia — A source
polianos, severianos, drevlianos, radimichianos, croatas, dule- book, 900-I700, 1967, pp. 12 e 13.]
)S e tivercianos, que sao turcos. Todas estas tribos 5:10 conhecidas
U) Principe de Kiev entre 912 e 945. (7-) Regente durante a menoridade de Igor (879
i --
a 912). (3) Os Bimntinos. (4) Ou seja “cidade do tsar» . Era. o nome que os Eslavos 8 — Os mercadores de seda crua nao deverio ter licenea para fiar a seda,
davam a Bizancio. (5) O Corno'de Oiro. (5) Leio VI (886-912). (7) Alexandre I mas apenas para a comprar e a vender. Aquele que for apanhado [em
(871-912). transgressio] sera castigado com a penalidade da flagelaqio e a barba
ser-lhe-al cortada. _
9 — Os mercadores de seda crua nao deverao vender seda a qudeus on
REGULAMENTOS BIZANTINOS PARA A GUILDA
a [outros] mercadores para revenda fora da cidade. Quem assim o fizer
DOS MERCADORES DE SEDA CRUA (SECULO X)
sera aqoitado e a barba ser-lhe-a cortada.
[Constantinopla, 911 ou 912].
0 Livro do Prefeito, eonjwzto de regulamentos para o exer-
cicio da industria e do comércio bizantinos (dizendo respeito . - - ' Irving
no esséncia ao século X) dd-nos uma ideia da rigida organi- [Ltvro do Prefetto, VI, 31-33. 113-nsfmto em R°_b¢1'1 5- I-OP" 9
W, Raymond, Medieval _Trade_ in _the llledtterranean Worlgb Nzezva
zaezio das associagoes mercantis ou guildas. York and London, Columbia University Press, 2." ed., 1961. PP- 3 -
SOBRE OS MERCADORES DE SEDA CRUA ( 1) Keration ou karat era uma moeda de prata. CorresP0I1d13- 3 1/14 (19 11°m15ma~ m°°lda
de ouro que continha aproximadamente 4,5 g desse m¢l8»l- (2) T11111°_ 1153“ gm
I -— Os mercadores de seda crua nao podem exercer qualquer outra pro- prebostes das guildas bizantinas. (3) Os mitata eram os albergues estabelecidos em :5-
llssilo, mas tem de praticar a sua piiblicamente no lugar para eles esta- tantinopla para os mercadores estrangeiros. (‘) APY°X1111ada-m°111° 9 3 d° °“'°' er
hclccido. E quem assim nao o fizer sera aeoitado e banido, sendo-lhe nota 1. (5) Vet a nota anterior.
cortnda a barba.
2 — [Os mercadores de seda crua] tém de pagar apenas um keration (1)
aos exnrcas (2) [da guilda] por cada cem cargas - Quem quer que P ossua
buluneas ou pesos nao marcados com 0 selo do prefeito, sera aooitado os IMPOSTOS ALFANDEGARIO8 EM CONSTAN-
e n barba ser-lhe-ti cortada. TINOPLA NO PRINClPIO no SECULO XIV ,
3 —-Aqueles que vierem de fora para os mitata(3) _com seda crua nao
Francesco
. Baldueci » Pegolotti, mercador
_ 170'‘"1910 d4bP'1'o
terllo dc pagar tributos, excepto pela renda e alojamentos; da mesma ma- metra metade do seculo XIV, revela nos neste texto so re_
ncirn aqueles que lhes fizerem compras nao serao obrigados ao pagamento comércio de Constantinopla entre 1310 e 1314. 4 8111411?!"
do impostos. privilegiada em que se encontravam os Genoveses e l’ene-
4 - Quem quer que esteja para ser admitido [na guilda dos] mercadores zianos em reIa;o'o~ aos demais mercadores mediterraneos.
dc seda crua devera obter 0 testemunho de homens honrados e de con- * no
llnnqa acerca da sua boa reputaeao. Entao, apos ter dado duas nomis- pnuarros QUE se PAGAM EM CONSTANTINOPLA EISA AL;;::%E€€vAM
mata(4) ll guilda, podera ser registado. IMPERADOR PELOS GENEROS Que 0s MERCADOR IRA
5 —Toda a comunidade da guilda tera de fazer um depésito na altura
do mercado, cada membro segundo os seus meios. E a repartiqio sera
Os Genoveses e os Venezianos tem entrada e saida franca, 115° P383111
feita de acordo com o deposito de cada membro. nada’ . ' ' m o rt am ar a Cons-
6 — Se um mercador de seda crua for apanhado a viajar para comprar Os Pisanos pagam por todas as mercadorlas que 1 P P _ I
seda, deverzi ser expulso da guilda.
tantinopla 2 por cento do valor da mercadoria em Constantinop a,
7 — Os mercadores de seda crua nao devem vender seda por lavrar em sem deduzir quaisquer despesas relacionadas com ela, e outros 2 por
suas casas, mas no mercado, de maneira que a seda nio possa ser enviada cento sobre 0 que exportam. [...] _ . T e todos
secretamente aqueles que estfio proibidos de a comprar. Aquele que assim Os Florentinos, Provenqais, Catalaes, Anconianos, S1°11a;°;0r cento
-
os outros estrangeiros pflgam 2 P91‘ °¢111° 3° en
trar e
0 fizer pagaral l5 nomismata(5) a guilda.
ss rsxros HISTORICOS MEDIEVAIS$5?
do que vale a mercadoria ao partir. E sao obrigados' a pagar ao mes -.-15-
:. 1
t
[Socratis
P .Scholastici, Histaria EccIesiastiea.1ib.
. i, cap. vi, in J. P. Migne,
atrologiae Cursus Completus, Series Graeca, t. Lxvn, Paris, 1864, (1) Imperador do Oriente de 450 a 457. (1) Imperadotdo Ocidente de 42$ a 455.
cols. 46 e 47.] (1) Afirmacio que ataca 0 monofisismo. (‘) Contra os nestorianos que dividiam a pessoa
de Cristo em dois filhos.
S. JOAO DAMASCENO
A CONDENACRO DAS IMAGENS EM BIZANCIO
DEFENDEU AS IMAGENS Num sinodo reun'ido em Hiereia
' ' ' imperial
, palacio ‘ - na ma r—
Q
66 1'£x'ros HISTORICOS MEDIEVAIS
(1) Focio (820-891) foi nomeado patriarca de Constaminopla pela primeira vez em 858
e deposto em 863. Reassumiu 0 cargo em 878, vindo a perdé-lo pela. segunda vez em
886. 1.
A REFORMA DE JUSTINIANO
4!
wan.
1
_
C
as TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS A c1vn.1zA¢Ao BIZANTINA 69 ~e
0 IMPERADOR JUSTINIANO o plano, estando todavia entendido que tudo sera organizado sob a orien-
ENCARREGOU TRIBONIANO taqio do vosso muito avisado espirito. [...]
DE ORGANIZAR AS DIGESTA
[The Digest of Jusrinian, trad. inglesa de Charles Henry Monro,
vol. I, Cambridge University Press, 1909.]
£\_/;00Z:_ll'1’s‘;'?0d‘{“s_f"i‘;",0 f-"W1""[@8014 Triboniano de rever todas
o "'8! o c asszc ' - (1) Triboniano, magister officiorum aquando da redacqio do Codigo, preenehia agora o
ter, valor actual e_P_ondo ade“par ecfmnandq
e as l€lS0ultrapassadas.
que amda Pudesse
Em cargo de quaesror sacri palalii, funeio instituida pelo imperador Constantino. Cabin a
;:l‘Za?Z0s'ta ‘§0m'~‘5a° C/jfiada P0!’ Triboniano realizou este este questor (que era uma espécie de chanceler), redigir as leis, fazer relatorios sobre as
0 - en 0 manusea 0 cerca de dois ~ mzlhares
- .
de Izvros. instancias dirigidas ao imperador e referendar os escritos. (2) O Codex Juslinianus
publicado em 529.
71
- F‘
O\"w 70 TEXTOS HISTQRICOS MEDIEVAIS A civn.izAC5\0 B1ZANTIN”‘
<
;_
A
tutiones para que vos seja possivel discernir as fontes primeiras das leis
7
nao pelas antigas fzibulas, mas através do esplendor imperial; e assim os ZS CODIFICACCES POSTERIORES
vossos ouvidos e os vossos espiritos nao receberfio nada inutil nem des- A JUSTINIANO
I d . , .
oca o, mas aquilo que se obtém nas proprias razoes das coisas.[...] Desta
maneira, enquanto no tempo passado mal resultava aos melhores depois _ _ . . - a' rimezra
. . remodelaeao~ com Lefio III
_
9 A c0d1fi¢a¢a0 Jusnmanela sofr? rwilcoribclasta A Ecloga [seleqfial rev” i
de quatro anos, a leitura das constitui<;oes'imperiais, vos agora as rece- . _ ' era 0 - . . i
b . . , . . l
eis de inicio, tornados dignos de tanta honra e de tanta felicidade ue o Isaunana (717tllgumas
e seleccionava 747)’ 0l”'npd
lets 6°_ Corpus no intuito.
0 A hjngua dizia-se,
“Sada era agora de lhes imPri-
exclusivamente
il
<1 l
principio e 0 fim do conhecimento das leis vos procede da voz do princi e. . - - 1 ic . ,_ .
P mir um caracter Z‘l8lSfi(17‘t‘t1‘vfi a influénu-a cada vez mais nitida da Igreja
I
4—Portanto, depois dos cinquenta livros das Digesta ou Pandectas a grega. Este c6 [go marc , . - -
nos quais todo 0 direito antigo esta’. coligido e que fizemos graeas ao mesmo _ . to em relagao ~ ao Pemam ento e II'l1dl§,‘fl0 latmos.
Bizantma 8 0 "fa-“amen . ' da
excel so varao
" Triboniano
' ' e aos outros homens ilustres
' e fecundissimos,
ordenamos que as mesmas Institutiones fossem divididas em quatro livros
_ . do de certa maneira cortllmlll
A Ecioga foi p0Sl8fl0Tente ‘fef?S:aimp:,adgres macedonicos, Basilio I I
ela obra Iegislativa dos ois Prlmel
para que se tornassem os primeiros elementos de toda a legitima ciéncia. P 7-886) e Leiio VI (886-912). . d_
5 N . . _ ‘/86 " P ocheiron [Manual], obra de caracter pr
— os quais [livros] se expoe com brevidade tanto o que anteriormente Foram entfio 0I‘gdIll2U(l0S 0 1’ O e [lntrodwgo] que veio a ter grande
se conhecia como o que posteriormente, ensombrecido pelo desuso foi
tico usada nos rribumzzs; a E%an?ligcag[ (Leis) Imperiais]. 0 ""111" °'°l“'d"e"
pela decisio imperial iluminado.
-
injluéncia no direito
, _ russo.
. - 8 0 a51_ _d 60 volumeS.!helm-a "50 S6 as his
.’#$--- 6 — Os quais [livros], formados por todas as antigas Instituiqoes e rin- de leis do Imperio Bizantino. Rezgiilczsem
'7
_¢ , P
. .-,.-.4 cipalmente pelos comentarios do nosso Gaio (4), tanto os das Instituiqoes
, .- . 1.:J- como os das coisas quotidianas e de outros muitos comentarios, foram-nos secular”, comoo bmmb;m
. ‘z___*i-_‘*n,j,f. Todas estas_ _ras _ oramasegziiitas
_ etil _ grego.
dd alguns ad-itamen ms Por parte
apresentados pelos trés supraditos varoes prudentes . Lemos , toma mos ,4 adnti!llSlt'G§00 lmp1?'l5Zf9t’€C$l;ju9-:91; que Ndenou trés compilapoes de
-¢.~.-st»
rig’-,.vl~
A conhecimento e coneedemos-lhes a forqa das nossas Constituieoes mais
.,, :3 de Constantino
- _ VII . . (9 - 9 b' a ' Administraqao
. . - do Império dizia
_
Q; _ '11;-'1, ‘ plenas. caracter encicloPed‘c°' A obra
\ flu.‘ , _ so re . . as M;-6es estrangetras.
"W"-_~='
1 i* 7—Aceitai pois estas nossas leis com a maior diligéncia e o ma'is cui'- . . - ' aticas de Bizancto com
_ ¢ . .... respeito as r'¢’l¢1¢°e~*' d'PI°m ' ta do corte bizantina;
~ -\ dadoso estudo e mostrai-vos de tal forma eruditos que vos favoreqa a . - ' ' m tratado sobre a Eflque , _
0 Livro da Cerimonia era u _ _ __ das rovmcias do Imperm
-
o_i belissima esperanea de, uma vez completado todo 0 vosso estudo das leis, r l1!IlZG§£10 militar
finalmente Os Temas fomva a 0 g
P . l
poderdes também governar a nossa republica nas partes que vos forem
confiadas. l
Dado em Constantinopla no undécimo dia das Calendas de Dezembro, EXTRACTO no Pizizi=Acio DA EC!-064
no terceiro consulado (5) do divino Justiniano pai da patria, Augusto. DE LEAO iii (717-741)
[The Institutes of Justinian. introdueio, tradueio e notas de Thomas - - ser uma 0bra pr¢i-
Collett Sandars, 7.‘ ed., London, 1883, pp. 1 a 3.] A Ecloga, P"b"‘ada -6'? 726, pretendta
udessem apuiar no seu labor
tica e clara, Md? 05 Jmzes Se P
(1) Justiniano acrescentou ao seu tltulo o nome dos povos por si dominados. (1) Teo- quotidiano.
filo era entio professor de Dii-eito na escola de Constantinopla. (3) Doroteu era pro-
fessor na escola de Beirute. (4) Gaio foi um jurisconsulto romano que viveu na época
_ tes de nos foram imP¢'
de Antonino Pio e Marco Aurelio. Sabe-se muito pouco da sua vida e quase toda a sua l...] Sabendo
. que
- as leis emanadas
. tadas de' a¢luelels
em muitos que 3!; tcndomos assegurado
v0 umes.
obra se perdeu._ _Conhecem-se apenas alguns fragmentos dispersos, coligidos nos Digesta, radores tem sido F6815
C Os C . . . . . . . . - 50 <1 es t as leis e difieil de comi>r==I1<1='
_ Pa“
omentarios ou Iristiruttones, tratado de direito civil romano que serviu de base dg que o significado e a 1nt¢I19 - O5 es ecialmente 9-Que1 es
as Institutiones de Justiniano. (5) 21 de Novembro de 533. alguns e de impossive l com P reensao para 011" - P
12 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
A civii.izA¢"‘O BIZANTINA 73
que nao vivem na nossa cidade imperial que Deus guarde, convoczimos mo nome de decurioes nomeavam os prefeitos (que todavia
juntamente 0 nosso mais excelente patricio (1), o nosso mais excelente ques- usando 0 mesdiam ao que hoje entendemos por prefeitura militar, sendo
tor (2), o nosso mais excelente hipatos (3), e outros que temem Deus, e orde- H50 °°"°SPonmai5 elevada e encarregados de outras obrigacoes).
namos-lhes que todos os volumes que usam fossem reunidos na nossa de categ°"a to naquele tempo as coisas se processavam de outra manei-
presenca: examinamo-los a todos numa cuidadosa inspeccio; e em seguida Como P°"tar:1m exigia esta lei.
(fazendo uso simultaneamente do que esta bem expresso nos citados volu- ra, o uso Com todas as coisas dependem da administraciio do principe
mes e do que nos proprios ordenzimos dc novo em vzirios edictos e acor- Porémi 85°15 5 julgadas pela sua providéncia com a ajuda de Deus.
dos) julgamos conveniente que as decisoes a serem tomadas e as penalidades e sic examlnzllei nao preenche nenhuma finalidade necesseiria e por isso
adequadas as ofensas deveriam ser registadas com maior evidéncia e sim- L080 esta que seja abolida com as outras leis que foram excluidas
plicidade neste volume; sendo nosso objectivo que venha a haver uma determinflmos
compreensiio mais clara da forca dc leis tio sagradas, que os assuntos pos- da Rep1'1b1ic3'
sam ser estabelecidos com juizo seguro, que haja um justo castigo para [Lem-iis Philosophi, Novellae Constitutiones, Constitutio XLVII, in
os que procedem mal e reforma e correccio para aqueles que estao dispos- J p, Migne. Patrologiae Cursus Completus. Series Graeca, t. cvn,
Paris, 1863, cols. 531 a. 534.]
tos a proceder mal.
[Transcrito in Emest Barker, Social and Political 77iougIit in Byzantium, EXTRACTOS DA EPANAGOGE
Oxford, 1957, p. 85.]
(1) Titulo nobiliarquico criado por Constantino o Grande, nao directamente relacionado A0 legislar sobre as obrigacoes do imperador, a Epanagogc
:4
com qualquer funcao especifica. (1) Os questores tinham a seu cargo a fiscalizacio dos (Publicoda a partir de 879) focava as suas duplas funcoes,
I
estrangeiros, no seu sentido mais largo. (3) Denominaeio grega dada aos consules. cm‘; e eclesiristicas.
. ‘*7.’
‘ 4»-'
1?.
~-~41
e\"v‘\
TTYUL0 [1-SOBRE o IMPERADOR E o QUE ELE E
IF
1.. LEI DE LEAO VI O SABIO (886-912) - erador (Basileus) é uma autoridade legal, uma bencio
LIMITANDO A AUTORIDADE DO SENADO § 1_'O Imp 05 seus subditos, que nunca castiga com antipatia nem
comum A tog‘: pai-cialidade, mas se comporta como um arbitro tomando
Pela Novella XLVII, o imperador Lefio VI sancionou a recompensa .
autocracia imperial proibindo ao Senado a nomeacfio de decisoes "um io€ivos do imperador sao conservar e segllrar Pela sua habi-
certos magistrados. Posteriormente o mesmo imperador § 2-O5 oblec que ja possui; recuperar, esforcando-se sem descanso,
tirou a esse orgzio a sua capacidade legislativa, ou seja o lidade os Rode“:-deram; e adquirir com sabedoria e por meios e costumes
poder de emitir senatus consulta.
aqueles qv= Se pue [ainda] nao estio nas suas maos.
Antigamente, quando a organizacio da Republica era outra, a ordem dos J'115t°5 aquekis qrador tem Por missao defender e manter em Primeiro
assuntos também era diferentemente arrumada. Com efeito, nem todas as § 3-O Imp; esta registado nas sagradas escrituras; em seguida. as
matérias ficavam sujeitas a deliberacao do principe: cabia ao Senado con- lug?" tudo O is pelos sete sagrados concilios(1); além disto e em acres-
siderar e tomar decisoes acerca de alguns assuntos, e era através dele que dOUI1‘lI1a5 I12:a romaicas aceites
. (2).
as pessoas eram propostas para os seus cargos. Eram assim nomeados cimo, as
por ele [0 Senado] trés pretores na cidade para a administracio dos assun- ran5¢rlIO em Ernest Barker, Social and Political Thought in Byzan-
mm, Oxford. 1957, pp. 89-90.]
tos, e este acto dependia de um decreto legal. N50 se passava isto apenas
na cidade [que era a sedc do Governo]: também em outras cidades. pessoas
. - de Niceia (325);
‘ 1." Concilio de Constantinopla (331); C°l1¢lli° d¢
(‘) 1." Co"¢"‘°
72
TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
A civILizA¢Ao BIZANTINA 73
que nao vivem na nossa cidade im '
juntamente 0 nosso mais excelente penal ' ' quc Dcus guardei i convo Camus
'
usando o mesmo nome de decurioes nomeavam os prefeitos (que todavia
patricio (1), o nosso mais excelente
t°1'(2), 0 nosso mais C‘(CClEl'l
7 '
te hipatos (3), e out;-Q5 q ues- nio correspondiam ao que hoje entendemos por prefeitura militar, sendo
namos-lhes que todos os volum que temem Deus, e orde-
es que usam fossem reunidos 113, de categoria mais elevada e encarregados de outras obrigacoes).
presenca: examinamo-los a todos numa ' ' nossa Como portanto naquele tempo as coisas se processavam de outra manei-
cuidadosa ins " - -
(fazendo uso simultaneamente d o que esta' bem expresso peccao’ e-em seguida
nos citados volu- ra, o uso comum exigia esta lei.
mesedo <1 uenos proprios
" ordenamos ' ,. edictos e acor-
de novo cm varios Porém, agora todas as coisas dependem da administraciio do principe
d°5)
d lulgeimos conveniente que as d ecis' 6 es a serem tomadas
- e as penalidades
. e sao examinadas e julgadas pela sua providéncia com a ajuda de Deus.
a equadas as ofensas deveriam ser registadas com maior evidén ' ' Logo esta lei nao preenche nenhuma finalidade necessaria e por isso
plicidade neste volume‘ sendo ‘ ' cia e Sim‘ determinamos que seja abolida com as outras leis que foram excluidas
, nosso Ob_]CCtlV0 que venha a h
compreensio mais clara d ' ~ aver pos-
uma da Republica.
a forca dc leis tao sagradas, que os assuntos
sam ser estabelecidos com ' ' ~
_]111Z0
~ e seguro, que l'l3._]3. um ' -
os que procedem mal e refonna correccfio para aquelesjusto castigo
que esta d. para [Leonis Philosophi, Novellae Constitutiones, Constitutio XLVII, in
tos a proceder mal. o is P05 - J. P. Migne, Patrologiae Cursus Completus, Series Graeca, t. CVII,
Paris, 1863, cols. 531 a 534.]
[Tran ‘i ' 15 ~ .. _
0xfors:,n1o95r'lI, gicszisl-alarm’ Sam] and POM“, T"”"g"' "' B""""‘"""
EXTRACTOS DA EPANAGOGE
(1) Titulo nobiliarquico criado '
I4 com qual uer fu " - por Cons tammo 0 G.rande’ nao ~ d"°°tam°m°
- .
"°|a°1°flfld0 Ao legislar sobre as obrigacoes do imperador, a Epanagoge
O q no "9a°
mi-angel,-Os, Sc“ °5P°¢'fi°3-
semido m .(2)I O5 questores
3 tinham -
_ a_ seu cargo a fiSCall73<;5O do; (publicada a partir de 879) focava as suas duplas funcfies,
. tar
40%
31$ “'80- () Denomina¢a0 SW83 dada aos consules. civis e eclesiiisticas.
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“_-',.|z‘ _"rirui.o II—SOBRE 0 IMPERADOR E o QUE ELE E
» IF LEI DE LEA0 VI 0 SABIO (sas-912)
LIMITANDO A AUTORIDADE no SENADQ § l—O imperador (Basileus) é uma autoridade legal, uma bencfio
comum a todos os seus subditos, que nunca castiga com antipatia nem
Pela Novella XLVII, o imperador Lefio VI ‘ recompensa com parcialidade, mas se comporta como um zirbitro tomando
autocracia imperial proibindo ao Senado a njancmriou a decisoes num jogo.
certos magistrados. Posteriormente o mesmo "l'f7f;:‘1;?gdjf-
§ 2 — Os objectivos do imperador sio conservar e segurar pela sua habi-
tirou a esse ‘oirgao a sua capacidade legislativa, ou seja o
poder de emitir senatus consulta_ lidade os p_oderes que ja possui; recuperar, esforcando-se sem descanso,
aqueles que se perderam; e adquirir com sabedoria e por meios e costumes
Antigamente, ua d ' " ' ~ justos aqueles que [ainda] nao estao nas suas mics.
q “ ° 3 °T8a"1Z~'"19a° da Repl-1bllC3. era outra, a ordem dos
assuntos
' _ também era diferent emente arrumada. Com efeito, - nem todas
' as § 3-0 imperador tem por missfio defender e manter em primeiro
materias
_ ficavam 5 ' ' ‘ ' ~ - - .
ujeitas a deliberacao do principe: cabia ao Senado con_ lugar tudo o que esta registado nas sagradas escrituras; em seguida. as
siderar e toma r decisoes
' " acerca de alguns assuntos, e era através dele que doutrinas legadas pelos sete sagrados concilios (1); além disto e em acres-
as Pessoas
1 eram pro P ostas p ara os seus cargos. Eram assim
. nomeados cimo, as leis romaicas aceites (Z).
P0!‘ 6 6 [0 Senado] trés pretores na cidade
' - - - dos assun-
para a administracao
IOS, e este actb depen d‘ia de um decreto legal. Nao_ se passava isto
. apenas [Transcrito em Ernest Barker, Social and Political Thought in Byzan-
tium, Oxfdrd, I957, pp. 89-90.]
na cidade [que era :1 sed e d o Governo].- tambem
' em outras cidades,
- pesggas
<1) 1.“ Concilio de Niceia (325); 1.“ Concilio de ConSt2l.nIiI10P13 (381); C<>n¢1'li<> dc
A
€'
“ lib.
[Constantini
I’ in J. P. Porphyrogcniti
Mi ’ P 1. _ De Cerimoniis
‘ '- Aulae _Byzanttnae,
.
t. cxii, Paris, is9giie¢oi§.mi§g§”e1sfi“"'“ Campinas’ Senes Gram’
A CIVILIZACAO BIZANTINA 77
espirito é dado pelos cubos de mosaico que pelas suas cores exprimem o AS MARAVILHAS DE CONSTANTINOPLA:
jtibilo nas suas muitas facetas. [...] OS JOGOS DO IMPERADOR
E todo 0 interior do edificio [...] esta revestido com belos marmores, nao
apenas nas superficies das fachadas, mas tambem no pavimento. Alguns O circo ou hipddromo era um dos grandes centros de reunido
destes marmores s50 de pedra Espartana, a qual rivaliza com a esmeralda, de Constantinopla. A ele afluiam as vzirias classes sociais,
nao so para assistir as corridas e Iutas, como para presen-
enquanto outros simulam as labaredas do lume, mas a maioria deles sio ciar debates politicos, ou mesmo aclamar o imperador.
de cor branca, se bem que 0 branco nao seja puro, mas adornado com 0 hipodromo comportava umas 40000 pessoas. A tribuna
veios ondulantes azuis, que se misturam com 0 branco. [...] imperial estava directamente ligada ao paldcio. A descri-
cfio que se segue, do principio do século XIII, foi feita por
[Procopio de Cesareia, De aedificiis, liv. t, x, 10-20. trad. inglesa
de H. B. Dewing,rLondres, 1940, vol. vn, pp. 83 a 87.] um cruzado que tomou parte na conquista de Constantinopla
em I204.
(1) Trata-se do Palacio de Boucoleon, 0 qual sofreu muitos acrescentamentos poste-
riormente a Justiniano. (1) Nasceu por volta de 494 e morreu em 565. Venceu os Persas,
Noutra parte da cidade havia outra maravilha. Era uma praca que ficava.
os Vandalos e os Ostrogodos. (3) Mulher de Justiniano, imperatriz do Oriente de 527
a 548. (4) Gelimer, 0 iiltimo rei dos Vandalos de Africa (532), foi levado pnsioneiro perto do Palacio da Boca de Leio (1) a que chamavam os Jogos do Impe-
para Constantinopla em 534. (5) Vitiges, rei dos Ostrogodos de 536 a 540, data em rador. Esta praca tinha bem de comprimento um tiro e meio de besta e
que Beliszirio 0 levou prisioneiro para Constantinopla. quase um de largura. A roda deste lugar havia trinta ou quarenta degraus
onde os Gregos costumavam subir a fim de ver os jogos, e por cima destas
A PORTA AUREA fileiras estava um camarote, muito elegante e nobre, onde 0 imperador e
a imperatriz se sentavam quando havia jogos, assim como os outros homens
A Porta Aurea, através da qual os imperadores faziam a e damas de alta jerarquia. E se houvesse dois partidos a jogar ao mesmo
sua entrada triunfal em Constantinopla, foi construida nos
finais do século IV ou princtpios do V. A descricfio que se segue,
tempo, 0 imperador e a imperatriz apostariam miituamente em como um
feita por um cavaleiro francés que tomou parte na 4.“ Cru- lado jogaria melhor do que o outro e assim fariam os demais que obser-
zada, data do principio do século XIII. vavam os jogos. A todo o comprimento desta praea havia um muro com
uns bons quinze pés de altura e dez de largura. Sobre esse muro havia figu-
[...] Noutro ponto da cidade ha uma porta que é chamada a Porta Aurea.
ras de homens e mulheres, de cavalos, bois, camelos, ursos, leoes e muitas
Sobre esta porta havia dois elefantes feitos dc cobre, tao grandes que eram
outras espécies de animais, todas de cobre, tao bem feitas e tao natural-
uma verdadeira maravilha. Esta porta nunca era aberta excepto quando
mente formadas que nao ha nenhum mestre no mundo pagio ou na Cris-
os imperadores voltavam de uma batalha depois de terem conquistado ter-
tandade que assim saiba retratar e fazer imagens.
ritorio; entao 0 clero da cidade ia em procissao ao seu encontro, a porta
era aberta e faziam sair uma carruagem de ouro feita a maneira de um [Robert de Clari, La conquéte de Constantinople, in Historians ct Chro-
carro com quatro rodas a que se chamava curre (1). No centro dessa car- niqueurs du Moyen Age. Bibliotheque de la Pléiade, 1952, p. 77.]
ruagem havia uma alta sege, e na sege, um trono, e a roda do trono, quatro
colunas que sustentavam um baldaquim para proteger 0 trono, 0 qual (') Boucoleon. Este palécio foi assim cognominado pelos viajantes ocidentais por so
debruear sobre uma enseada onde se eneontrava. a estatua de um leéo combatendo um
parecia todo de ouro. Entio o imperador, coroado, sentava-se no trono, touro.
entrava por esta porta e era levado na carruagem, com grande alegria e
regozijo, ‘para o seu palzicio.
" [Robert de Clari, La conquéte de Consrantinople_,_ in Historiens H
C/lroniqueurs du Moyen Age, Bibliothéque de la Plerade, 1952, p. 76-]
(l) Do latim currus, us, coche, carro.
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A CIVILIZACAO BIZANTINA 85
84 TEXTOS HISTQRICOS MEDIEVAIS
cortados e entulhados: 0 seu bloqueio é completo. Por isso, na medida mas também os servicos que prestou a varios imperadores antes dc ele
em que sou incapaz de alcancar as préprias fontes da vida, estudo neces- proprio receber 0 ceptro.
sariamente as suas imagens. Estes feitos vou-os relatar, nao para mostrar a minha proficiéncia nas
letras, mas porque sao assuntos de tal importancia que nao devem ficar
[The Chronographia of Michael Psellus, trad. do grego por E. R. A. intestemunhados para as futuras geracoes. Porque mesmo o maior dos acon-
Sewter, New Haven, Yale University Press, 1953, <<Constantine IX tecimentos, se nao for casualmente preservado por palavras escritas e tra-
(1042-toss)», pp. 121 a 130.1
zido a lembranca, desaparece na obscuridade do siléncio.[...]
(1) Filosofos neoplatonicos da esoola de Alexandria (séculos m-iv). (1) Filosofo da
mesma escola (século v). (3) Dialogo cuja autoria tem sido discutida. [The Alexiad of the princess Anna Comneno. trad. inglesa de Elizabeth
A. S. Dawes, New York, 1967, pp. 1 e 2.]
(1) Nasceu em 1083 e morreu em 1150. (1) Aleixo I Comneno (1081-1118). A Alexlada
PREFACIO DA ALEXlADA DE ANA COMNENA diz respeito aos anos que decorrem entre 1069 e 1118. (3) Esquilo (525-456 a. C.).
(4) Princesa da familia Ducas. (5) Os principes bizantinos nascidos de pais reinantes
Ana C0mnena(1), princesa e historiadora, deu-nos, no pre- diziam-se <<porfirogenetas» (nascidos na purpura). Com efeito, as criancas da familia
fdcio d obra em que narrou a vida de seu pai(2), uma pers- imperial nasciam num quarto de cor purpura. (6) O quadrivium: aritmétiea, geome-
pectiva sobre tempo e historia. tria, astronomia e mtisica, era, assim como o trivium, ensinado na escola de estudos
superiores que funcionava no palacio real.
O tempo, em curso irresistivel e incessante, arrasta na sua onda todas as
coisas criadas e lanqa-as nas profundezas da obscuridade, indiferente a
que elas mal sejam dignas de mencao ou pelo contrario sejam notaveis
e importantes, e assim, como diz o tragico (3), at escuridao arranca todas
as coisas para nascerem e a todas as coisas nascidas envolve na noite».
Mas a trama da histéria forma um baluarte muito forte contra a corrente
do tempo e até certo ponto detém a sua vaga irresistivel; e de todas as
coisas nele praticadas, aquelas que a historia agarrou, segura-as e liga-as
umas as outras, nao permitindo que escorreguem para 0 abismo do esque-
cirnento.
Agora dei-me conta deste facto, eu Ana, filha de duas personagens reais,
Aleixo e Irene (4), nascida e criada na purpura (5). Nao sou ignorante das
letras, pois levei 0 meu estudo de grego até ao seu mais alto grau, e também
nao sou inexperiente em retérica; analisei as obras de Aristoteles e os dia-
logos de Platio cuidadosamente e enriqueci o meu espirito pelo quater-
nion (6) da erudicao (devo declarar isto e n50 é orgulho esclarecer o que
a natureza e o meu zelo pela aprendizagem me deram, assim como as
dadivas que Deus me conferiu ao nascer e o tempo acrescentou).
Todavia, voltando ao assunto, pretendo neste meu escrito narrar os
feitos do meu-pai, pois nao devem certamente perder-se no siléncio ou serem
varridos, como 0 seriam, pela corrente do tempo para 0 mar do esqueci-
mento; e narrarei nao apenas os seus cometimentos como imperador,
E
a. A GENESE DO ISLAMISMO
1.
OS PRINCIPIOS
E AS PRATICAS RELIGIOSAS
pressfio do cristianismo e do judaismo, a_ide1a da exxstencza [ln Islam, Muhammad and his Religion, ed. e introd. de Arthur Jeffery,
v The Library of Liberal Arts, 1958, pp. 167, 168.]
de um so Deus foi-se impondo e vdrios pregadores, anterrores lV
e contempordneos de Muhammad (570-632), a haviam defen-
dido. Muhammad fez dela o principio mais importante do Q
islamismo. 1
l O JEJUM DO RAMADAN
l —- Tudo o que existe nos céus e na terra glorifica Allah; e Ele é o Omni- l
\
potente, 0 Omnisciente. .' 0 jejum constitui uma das manifestacoes mais importantes
2 —- E seu 0 Reino dos céus e da terra: Ele é o que ordena a vida e 0 da religifio islamica. Durante um més lunar, o crente deve
la abster-se de qualquer alimento enquanto ho luz do dia, reser-
que da a morte; e Ele tem poder sobre todas as coisas. vando para as noites as festividades religiosas e as refeicoes.
3 — Ele é 0 Primeiro e o Ultimo, o Visivel e 0 Invisivel; e ‘é Conhecedor Esta obrigagtio vem expressa no Corfio, compilado durante
de todas as coisas. o califado de Othman (644-656).
4—Ele é O que criou os céus e a terra em seis Dias; depois subiu ao l
Trono. Ele conhece tudo 0 que entra na terra e tudo o que dela Oh vos que acreditais, 0 jejum é-vos prescrito como foi prescrito aqueles
sai e tudo 0 que desce do céu e tudo 0 que a ele a5¢¢nd¢; e 51¢ que vos precederam. [...] E no més do Ramadan (1), no qual o Corio foi
esta convosco onde quer que vos estejais. E Allah vé tudo o que vos enviado como um guia para os homens. [...] Assim, aquele que de entre vos
fazeis. ' estiver presente no més, que jejue enquanto ele durar, mas se alguém esti-
5 -— E seu o Reino dos céus e da terra, e a Allah todas as coisas voltam. ver doente ou de viagem, entao faea-0 num numero diferente de dias.
-6 —Ele faz que a noite penetre no dia e que 0 dia penetre na noite e Allah deseja o vosso bem-estar e nao o vosso desconforto, e que possais
Ele conhece os pensamentos dentro dos coracoes. completar 0 niimero de dias e glorificar Allah pela maneira como Ele vos
[Corfio, xix, Sura 57, l-2-3-4-5-6.]
guiou ficando portanto agradecidos.
[Cord0, ll, Sura Z, 179-183-185.]
p sdo as seguintes:
Profetas e dar a sua propria fortuna, apesar do amor que se tem por ela, coco. Esta ela pegada com o angulo do lado oriental (1), cuja largura é da
aos parentes, aos orfaos, aos necessitados, ao caminhante, aos pedintes, terga parte de um palmo e 0 comprimento de um palmo; e de tal $0115
redimir os cativos, cumprir a oracao e pagar 0 zakat(1). encravada, que nunca se soube 0 que entrou dela no dito angulo. Nela 1-15,
[C0r5o. n, Sura 2, 177.] quatro pedacos grudados, dizendo-se que A1carmati(2) (Deus o amaldicoe)
a quebrara; e também se diz que fora outro 0 que a quebrara com um ca-
(1) O zakat era a esmola obrigatoria que se destinava as obras piedosas. Incidia sobre cete; e que o povo se apressara a mata-lo, por causa do qual foram mortgg
os haveres de cada um, incluindo gado, cereais, fruta, mercadorias e dinheiro. muitos dos mauritanos.
Os lados da dita pedra estao embutidos em chapas de prata, cuja alvura
resplandece sobre a negrura da nobre pedra, da qual se manifesta aos olhos
A PEREGRINACAO admiravel beleza e ao que a beija suavidade com a qual se deleita a sua
boca, de maneira que nao aparta dela o seu osculo, particularidade agra.
Muhammad (c. 570-632) sancionou um hzibito ancestral dalvel nela e favor devido para com a mesma. Enfim, o dito do enviado
de peregrinacoes a Meca, mantendo nessa cidade a ((p8¢l!'t1 de Deus é suficiente, de que ela na terra é a sua bencdo. O mesma Dgus
negra» e relacionando a edificacfio da Kaaba com as figu- nos aproveite com o osculo e toque dela e faca chegar a mesma a todos os
ras biblicas de Abrado e Ismael.
que a apetecern.
E quando estabelecemos para Abraao 0 lugar da Casa (1) [dissemos-lhe]: N0 P¢d3»9° $5-0 da pedra negra pelo lado contiguo ao lado direito, em que
l
N50 assoeiaras nada comigo e purifica a minha casa para aqueles que nela ela se toca com a mio, ha uma pequena malha branca luzente, como 53
l
andam, aqueles que nela estio para rezar, aqueles que se inclinam e aqueles
fosse lama, naquela resplandecente face. V_ém as gentes, quando giram,
cair umas sobre outras por causa do apertao, para beijarem a dita pedra, I QIQ IQ Q Q
que se prosternam. E anuncia aos homens a peregrinacao. E eles virio
até junto de ti a pé, on em qualquer espécie de animal fatigado, vindos 0 que poucas vezes é possivel a algum, senao depois de violento apertao;
e 0 mesmo obram a entrada da respeitavel mesquita. [...]
in
das ravinas mais remotas para testemunharem o que lhes é proveitoso e "I
para mencionarem o nome de Allah, nos dias estabelecidos, sobre os ani-
[Viagens Extensas e Dilatadas do Célebre rlrabe Abu-Abdallah mais Co- in
mais dos rebanhos que por Ele lhes foram dados como provisoes. nhecido pelo Nome de Ben-Batuta. traduzidu por I055 de Sgnfg A135.
mo Maura. Lisboa, 1840, t. 1, pp. 147-148.1 in
_.-_.~».-. .
[Cordo, XVII, Sura 22, 26-27-28.]
g)uAnf::ba’,\ que é rectangular, tem por conseguinte quatro cantos, cada um deles com is
(1) A Kaaba (cubo), edificio que encerra a apedra negra».
(2) Q<<P°dl‘:l Mgra» fica no canto onental, denommado ‘o acanto negro». In
por Qarm _ "mags-t um lmqllfalio fundador da seita Baum, postenormente conhecida
ocidcmal Pée _grupo dissidente veio a fundar um estado lndependerite na Costa ~u
UM MUCULMANO DO SECULO XIV
negra» ° 8; 0 ‘l'$l<_>0 (399).= ¢m_930 conquistou levando consigo a apedra <1
DESCREVEU A <<PEDRA NEGRA»
brada - q\1= =11 0 lena sido partida. Diz a tradieao que 1a antenormente havia sido que-
pelo fogo que em 683 devorou a Kaaba. in
‘I
Abu-Abdallah, mais conhecido por Ben-Batuta, nasceu em
Tdnger em I303. Dai saiu em I325 para, durante trinta anos. <1
percorrer grande parte da Africa, Asia e Europa. Eis com0
ele nos descreve a apedra negra». <1
(
C°m° 3 Pedfa "@813 tem seis palmos de elevacio da terra, pOl isso qual- (
quer homem alt‘) “*5 $¢8111'0 <16 =1 beijar e o baixo estende para isso o p88- (
(
T
A CIVILIZACAO MUCULMANA 95
94 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
[...] Tendo chegado ao amanhecer a fiel cidade de Meca, cuja nobreza Deus
Quando aparece a lua nova do Ramadan, tocam as trombetas e os timbales
lhe aumente, penetramos por ela para 0 sagrado te"°iF° da Sua m¢5q“"a»
junto da casa do emir (1) de Meca; "tem lugar o conselho na mesquita a
lugar da morada de Abraio, escolhido de Deus, e do enviado Muhammad,
respeito da renovacio das esteiras e- aumento da cera e lanternas a fim de
seu sincero amigo; e entramos pela nobre mesquita, cuja magnificéncta
a mesquita resplandecer com a luz e infundir formosura e resplendor. [...]
Deus lhe aumente [...] e tendo dado nela 0 giro (devido), tocado com a mic
Algumas pessoas ha que se restringem a celebracio da oracao, a pedra
a nobre pedra, feito a oragio com duas inclinacoes no lugar do assento negra e aos giros. A maior parte dos prelados de Axafeaia (2) é diligente
de Abraao, suspensos da cortina da Kaaba junto do Almoltazam,
e é seu costume, quando completam o exercicio estabelecido, que siio vinte
que medeia entre a porta e a pedra negra onde se ouve o chamamento,
inclinaeoes, girar o respective prelado com a sua turba; e quando estio
bcbemog da figua (do pogo) de Zamzam (1), a qual quando se bebe é como
acabados sete giros, bate a farca (3), que mencionamos estar diante do ora-
se chegasse do Profeta. Andamos depois entre os montes Assafa e Alma- dor no dia de sexta-feira, o que é sinal da volta para a oracio [...] e quando
raua (Z) e ai nos hospedamos em uma casa na proximidade da Porta de é tempo de tomar a refeicao ao romper da aurora, retira-se o almuaden (4)
Abraao. A Deus seja dado o louvor por nos enobrecer e honrar com a de Zamzam que esta no angulo oriental em a torre da mesquita, o qual
chegada a esta nobre mesquita; e ele nos faca do mimero daqueles a quem se levanta chamando, admoestando e instigando para a dita refeicao, e o
chegou 0 chamamento do amigo de Deus [Abraao], sobre o qual desqa mesmo praticam os mais almuadens em todas as torres; e quando um deles
a mais exuberante e pura saudacao; e o mesmo Senhor nos fa<;a gozar fala responde-lhe 0 seu companheiro. No mais alto de cada uma delas
dos lugares dc concorréncia, a saber: da nobre Kaaba, da magnifica se erigiu um pau com outro atravessado sobre a sua cabeea, em que se
mesquita, do terreno que a cerca, da pedra negra, do pogo de Zamzam dependuram dois grandes farois de vidro que se acendem. [...] Como as casas
e do muro que rodeia a Kaaba. de Meca tem eirados, aquele que nao ouve o pregio, por estar a sua casa
distante, vé os mencionados farois e por isso continua a comer; e quando
[Viagens Exrensas e Dilatadar do Célebre Arabe Abu-Abdaléah Smzrtig
Conhecido pelo Nome de Ben-Batuta, traduzidas por Jose e an os nao vé, suspende a comida. Em cada noite, nas iiltimas dez do Ramadan,
Antonio Moura, Lisbon. 1340, L 1. DP- 140441-1 léem o Alcorao até ao fim, a cuja leitura assistem o cadi(5), os doutores
e os principais. [...]
(1) Segundo a tradicao islamica, Allah teria feito brotar esta nascente para saoia-1' Ismad
e sua mic Agar. Ainda actualmente os pere81'ifl05 b¢b°m dessa 58'-13 d°P‘_)'5 d° ‘°"°f“
[Viagens Extensas e Dilatadas do Célebre Arab: Abu-Abdallah mais
visitado a Kaaba. (1) As colinas de Safa e Marwah. junto do M=¢a. 515 q_\-‘$15 A9" ‘ma Conhecido pela Nome de Ben-Batuta, traduzidas por Jose de Santo
subido para ver se descortinava agua ou pessoas. I13-5 Pl'°Xl"1ldad°5- H°1‘ ”°°“d°'Sc a Antonio Moll-1'8, Lisboa, 1840, t. 1., pp. 192-193].
essas duas quase insensiveis elevacoes por all‘-"15 d¢81'=-'~15-
(1) Governaclor, principe, chefe. (1) Pertencentes ao rito dc al-Shafi (767-820), criador
do uma das quatro esoolas ortodoxas de jurisprudéncia vigentes no Império Absissida.
(3) Instrumento formado por urn pau em cuja extremidade esta uma pele delgada, a qual,
sacudida no ar, produz um som agudo que se ouve a grande distancia. (4) O mesmo que
muezzin, ou seja o homem que faz 0 chamamento para a oracio. (5) A autoridade
judicial da cidade.
TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS A crvn.1zA¢A0 MUCULMANA 91
A CIVILIZACAO MUCULMANA 99
98 TEXTOS HISTQRICOS MEDIEVAIS
fugiram, chegando até tao longe quanto a Palestina, Antioquia, Alepo,
rentes grcgos acorressern a esse lado e dessern um violento combate aos a Mesopotamia e a Armenia. [...]
muqulmanos. Contuclo, por fim, os Gregos fugirarn. Entao Abu-Ubaydah, Quando Heraclio recebeu as noticias sobre as tropas em al-Yarmflk
a cabe<;a dos mugulmanos, abriu a forga a porta Jabiyah e fez através dela e a destruiqao do seu exército pelos Muqulmanos, fugiu de Antioquia para
a sua entrada [na cidade]. Abu-Ubaydah e Khalid ibn-al-Walid encontra- Constantinopla. A0 passar o ad-Darb voltou-se‘ e disse: <<A'paz seja contigo,
ram-se em al-Malcsalat, que era o bairro dos caldeireiros em Damasco. [...] 0 Siria! Que excelente regiao para 0 inimigol», referindo-se as nurnerosas
pastagens da Siria.
[Al-Baladhuri, A Conquista das Terms, cap. x, in Spcros Vryonis, Jr.,
Readings in Medieval Historiography, 1968, pp. 350-351.] [Al-Baladhuri, A Conquista das Terms, cap. x, in Speros Vryonis, Jr.,
Readings in Medieval Historiography, 1968, p. 354 a 356.]
(1) Urn dos grandes oondutores da expansao muqulmana. Conquistou e pacificou toda (1) Nirmero exagerado. Possivelmente uns 50 000. (1) Populaqao nao aborigene, mas
a Arabia e posteriormente a Siria. Denorninava-se a si préprio <<a espada dc Allah». arabizada. Este grupo dos musmribah nunca se fundiu totalmente, apesar da lslarni- )
(1) Abu-Ubaydah ibn-a.l-Jar;-ah, chefe politico e militar que também colaborou na con-
zaoio, com os aribah considerado: autbctones.
quista da Siria. (3) A porta do lado oriental. (4) A capiraqao era de urn dinar e um jarib
(medida de trigo). (5) Este acordo veio a servir dc modelo para os que foram assinados
posteriormente com outras cidades da Slria.
A 1NvAsAo DA PENiNSULA IBERICA
PELOS MUCULMANOS (111)
DEPOIS DA BATALHA DE AL-YARMUK (6361 Tendo atingido a zona marroquina, os Muculmanos senti-
ram-se naturalmente atraidos pela riqueza das terras e cida-
F
BIZANCIO PERDEU A siRIA des ibéricas. A fraqueza do governo visigodo, dilacerado
la O imperador bizantina Heraclio pretendeu dar aos zfrabes
pelas facc5es politicos, facilitou 0 caminho dos novos inva-
sores. 0 texto aqui transcrito pertence a uma cronica and-
uma batalha decisiva. Sob o comando de Teodoro, irmiio nima do século XI.
do imperador, o exército cristiio encontrou-se com 0 mu¢;ul-
mono no vale do rio Yarmfik, um afluente do Jordao, sofrendo
ai uma derrota memoravel. O relato que se segue é de um Mandou em seguida [o conde Juliao] a sua subrnissao a Muqa (1), conferen-
cronista persa do século IX. ciou com ele, entregou-lhe as cidades postas debaixo do seu mando, em
virtude de um pacto que concertou com vantagens e condiqoes seguras para
I-leraclio reuniu grandes corpos de gregos, sirios, rnesopotarnios e arme- si e os seus companheiros, e tendo-lhe feito uma descriqao da Espanha,
nios, sornando cerca de 200000 homens (1). Colocou este exército sob 0 estimulou-o a que procurasse conquista-la. Acontecia isto em finals do
comando de urn chefe escolhido e enviou como vanguarda Jabalah ibn- ano 90(1). Muea escreveu a Al-Walid (3) dando-lhe a nova destas con-
-al-Aiham al-Ghassani a cabega dos AI3b€S <<naturalizad0s» (1) da Siria, quistas e o projecto apresentado por Iuliao (4), ao que respondeu [o califa]
das tribos de Lakhrn, Iudham e outras, rcsolvido a combater os Mu<;ul- dizendo: <<Manda a esse pais alguns destacamentos que 0 explorem e tomem
manos a fim de vencer on dc se retirar para a terra dos Gregos e viver em informagées exactas e nao exponhas os muqulmanos a um mar de ondas
Constantinopla. 0s Muqulmanos reuniram-se e 0 exército grego marchou revoltas.» Muqa replicou-lhe que nao era um mar, mas sim um estreito,
contra eles. A batalha que travararn em al-Yarmfik foi das mais ferozes 0 qual permitia ao espectador ver de um dos lados a forma que aparecia
e sangrentas. A1-Yarmak é urn rio. Nesta batalha tomaram parte 24000 do lado oposto; mas Al-Walid retorquiu-lhe: <<Ainda que assim seja, infor-
mugulmanos e tanto os Gregos como os seus seguidores se ligaram uns ma-te por meio de exploradores.» Enviou pois um dos seus libertos cha-
J
i mado Tarif, e de cognorne Abu Zara, com 400 homens, entre eles 100 de
aos outros com cadeias para que nenhum pudesse ter a esperanqa dc fugit-
Com a ajuda de Allah foram mortos uns 70000 deles, e os que ficaram
1
I?\’7:
I00 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
A CIVILIZACAO MUCULMANA 101
cavalaria, 0 qual passou em quatro barcos e arribou a uma ilha chamada -711). (1°) Os historiadores mueulmanos denominam o rio Barbate, nas margens do
ilha de Andaluz, que era arsenal [dos cristaos] e ponto donde zarpavam qual se deu a batalha, Wadi Lakka. (11) O rei visigodo Witiza (702-708).
as suas embarcaqoes. Por ali ter desembarcado, tomou 0 nome de ilha de
Tarif (5). Esperou que se lhe agregassem todos os seus companheiros e
depois dirigiu-se em algara contra Algeciras; fez muitos cativos, como
nem Muea nem os seus companheiros nunca haviam visto nada de seme-
A EXTENSAO DO IMPERIO MUCULMANO
lhante, recolheu muitos despojos e regressou sao esalvo. Estes aconteci-
NO ULTIMO TERCO no SECULO x
mentos deram-se no Ramadan do ano 91 (5). O geografo Ibn-Hawqal (943-977), que viajara largamente
Quando [os Mueulmanos] viram isto desejaram passar imediatamente através do Império Muculmano, aponta-nos as regi6es que
para la e Muca nomeou chefe da vanguarda um seu liberto, chamado entiio 0 constituiam.
Tarique ben Ziyad (7), persa de Hamadhan — ainda que outros digam que
nao era seu liberto, mas sim da tribo de Sadif —, para que fosse a Espanha O comprimento do Império do Islam nos nossos dias estende-se desde
com 7000 muqulmanos, na sua maior parte berberes e libertos, pois havia os limites de Farghana (1), passando através do Khurasan (1), al-Jibal (3),
pouquissimos arabes. Passou no ano 92 (8) nos quatro barcos mencionados, o Iraque e a Arabia até a costa do Yemen, 0 que constitui. uma viagem
finicos que tinham, os quais foram e vieram com infantaria e cavalaria que de quase quatro meses; quanto a largura, toma inicio na terra de Rum (4),
se ia reunindo num monte muito forte, situado a beira-mar, até que ficou passando através da Siria, Mesopotamia, Iraque, Pars (5) e Kirman (6),
completo todo 0 exército. até ao territorio de al-Mansura nas costas do mar de Pars (7), o que sao
Ao saber 0 rei de Espanha (9) a noticia da eorreria de Tarique, conside- quase quatro meses de viagem. Na declaracao anterior sobre a extensao
rou 0 assunto como coisa grave. Estava ausente da Corte, combatendo do Islam omiti a fronteira do Maghreb e o Andaluz, por serem como que
em Pamplona, e dali se dirigiu para o Sul, quando ja Tarique havia entrado, a manga de um vestido. Para oriente e ocidente do Maghreb nao ha Islam.[...’]
tendo reunido contra este um exército de cem mil homens ou coisa seme-
(Cit. em The Legacy of Islam. ed. por Thomas Arnold e Alfred Guil-
lhante, segundo se conta. [...] laume, Oxford University Press, 7.‘ ed., 1952, p. 80.]
Encontraram-se Rodrigo e Tarique, que havia permanecido em Alge-
ciras, num lugar chamado 0 Lago (1°), e pelejaram encarnieadamente; (1) Regiao banhada pelo rio Jaxartes (actual Sir Darya). (1) Provincia a nordeste do
mas as alas direita e esquerda, ao mando de Sigeberto e Abba, filhos dc planalto do lrao, confinando com o mar Caspio. (1) A regiao'da antiga Media, com
Gaitixa (11), comecaram a fugir, e, se bem que o centro tivesse resistido as cidades de I-lamadhan (Ecbatana) e Ispahan. (4) O Império Bizantino. (5) Provincia
a sul do Irao donde deriva a denominacao de <<Pérsia» dada pelos Gregos. (6) Provin-
algum tanto, por fim Rodrigo foi também derrotado e os Muqulmanos fize- cia a sul do Irao confinante com a anterior. (7) Provincia iraniana banhada pelo
ram uma grande matanea nos inimigos. oceano indico.
[E. Lafuente Alcantara. trad. e ed. Ajbar Machmiia (coleccion de
tradiciones). Cro'nica andnima de! Siglo X1, Madrid, 1867, in Colee-
cion de obras ardbigas de Historia y Geografia que publica la Real
Academia de la Histaria, t. II (cit. em Claudio Sanchez Albornoz,
La Erpafia Musulmnna, vol. I, pp. 36-40.] 3.
A RELIGI/TO E A LINGUA COMO
(1) Musa ibn-Nusayr foi o impulsionador da conquista muqulmana no Norte de Africa,
de Cartago a Tanger. (1) Em 709. (3) Califa de Damasco entre 705 e 715. (4) O conde ELEMENTOS AGLUTINADORES
Juliao, figura cuja origem e atribuieoes tém sido muito discutidas. seria possivelmente DO IMPERIO
0 exarca bizantino de Ceuta, liltima possessao do imperador do Oriente em Africa.
(5) Tarifa. (6) Julho de 710. (7) Era 0 govemador muculmano de Tanger. Ignora-se A0 ocupar regi6es tao diferentes e culturalmente ricas como a Pérsia, a Siria
se a sua origem era berbere. se persa. (8) Em 711. (9) O rei visigov-‘I0 Rodfigfl (710-
011 0 Egipto, 0 /lrabe vencedor pouco podia oferecer no plano civilizacional.
A cIvn.IzAc;Ao MUCULMANA 10;
102 rsxros HISTORICOS MEDIEVAIS
Maghreb] nao trazem para as suas aulas quaisquer outros assuntos, como
Possuia uma lingua propria e uma religiao que, sem ser original, se revestia as tradieoes, a jurisprudéncia, a poesia ou a filologia arabica, até o aluno
l
no entanto de caracteristicas inconfundiveis. l estar habil [no Corao]. [...] Consequentemente [os habitantes do Maghreb]
Foram esses dois elementos, a religia'o e a lingua, que permitiram a forma- conhecem a ortografia do Corao e sabem-no de cor, melhor do que qualquer
czio de uma civilizacao <<arabe». outro [grupo mueulmano]. .
A religifio nao era imposta (judeus e cristfios mantiveram sempre a sua O método hispanieo é instruir lendo e escrevendo. Ea isso que pres-
liberdade religiosa). Porém, a situacao privilegiada em que se encontrava tam ateneao ao educar [as criancas]. Todavia, visto que 0 Corao é a base
0 mugulmano, tanto no plano militar (so o crente podia combater) como no e 0 fundamento de tudo isto e a fonte do Islam e de todas as ciéncias, fazem
economico (o nao crente pagava um imposto suplementar), operou numerosas dele o ponto de partida da educacao, mas nao restringem exclusivamente
conversfies. a ele a instnicao das crianeas. Juntam-lhe também [outros assuntos] espe-
Como 0 muculmano devesse conhecer 0 Coriio, pilar de toda a sabedoria, cialmente a poesia e a cornposicao; dao as criancas um profundo conhe-
o seu estudo passou a ser a base exclusiva da educacao islamica. Desta ma- cimento do arabe e ensinam-lhes uma boa caligrafia. [...]
neira se disseminaram nas mesquitas, onde funcionavam as escolas, os prin- O povo de Ifriqiyah combina usualmente a instrucao das crianeas no
cipios religiosas, e juntamente com eles a lingua arabe, necessaria a0 bom Corao com 0 ensino das tradicoes. Ensinam também normas cientificas
entendimento desses principios. basicas e certos problemas cientificos. Todavia preocupam-se mais com dar
Pouco numerosos, os /frabes foram étnica e culturalmente assimilados as erianeas um bom conhecimento do Corao e oferecer-lhes as suas
pelos povos vencidos. Mas foi na lingua arabe que se exprimiu a maior parte varias recensoes e leituras do que com qualquer outra coisa. Em seguida
dos cientistas, pensadores e poetas que souberam fundir e caldear a hete- insistem na caligrafia. Em geral 0 seu método de instrucao pelo Corao
rogeneidade cultural do vasto Império Muculmano. esta mais perto do método hispanico [do que dos métodos do Maghreb
ou dos Orientais], porque a sua [tradicao educativa] deriva dos shaykhs (1)
espanh6is- que fugiram quando os cristaos conquistaram a Espanha e
0 CORAO E A INSTRUCAO pediram hospitalidade em Tunis. De entao para ea eles sao os professores
DA CRIANCA MUCULMANA das crianeas [tunisinas].
Se o Corao foi sempre a base do ensino em todo 0 mundo
O povo do Oriente, tanto quanto sabemos, parece ter um curriculo
muculmano, as disciplinas anexas dele decorrentes variaram misto. [...] Disseram-nos que se preocupa com ensinar o Corao e depois
de acordo com as tradicoes e objectivos locais. 0 historiador 0s trabalhos e normas basicas do ensino [religioso] a medida que [as
ues-‘s’*‘\"'=Iv.~'-i»mum
Ibn Khaldfin (século XIV) distinguiu esses varios regionolismos. crianeas] crescem. Nao combinam [a instrugao pelo Corao] com a aprendi-
mgem daescrita. [...] Aqueles que desejam aprender uma boa ealigrafia
E sabido que 0 ensino do Corao as crianeas é um simbolo do Islam. Os Iém de o fazer mais tarde com [caligrafos] profissionais segundo o grau
Mueulmanos tém e praticam tal ensino em todas as cidades, porque ele do seu interesse e desejo. [...]
imprime nos coraeoes uma firme crenea nos artigos da fé, os quais [deri-
[Ibn Khaldiln, The Muqaddirnah—-An Introduction to History, trad.
vam] dos versos do Corao e de certas tradiqoes proféticas. O Corao tor- inglesa do arabe por Franz Rosenthal, Bollingen Series XLIII, Pan-
nou-se a base da educaeao, o fundamento de todos os habitos que podem theon Books, New York, 1958, vol. 3, pp. 300-302.]
ser adquiridos mais tarde. [...] Os métodos de instruir as criangas no Corao
variam de acordo com as diferenqas de opiniao quanto aos habitos que (0 Shavkh, 0 chefe da tribo.
devem resultar dessa instrueao. O método do Maghreb restringe a edu-
cacao das crlancas a instrueao no Corao e a pratica, no decurso [da ins-
truqfio], na ortografia do Corao e nos seus problemas, assim como as dife-
reneas entre os especialistas do Corao nesse dominio. Os [habitantes do
2
‘L. . -_>'- s
104 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
A CIVILIZACAO MUCULMANA 105
0 ENSINO NA MESQUITA DE DAMASCO um dos quatro assentos. Dentro deste colégio ha banho e casa de puri-
(SECULO XIV) ficaeiio para os professores.
Até ao século X o ensino fazia-se exclusivamente nas mes- [Viagens Extensas e Dilatadas do Célebre Arabe Abu-Abdallah mais
quitas. Posteriormente surgiram escolas anexas as mes- Conhecido pelo Nome de Ben-Batutan traduzidas por Jose de Santo
quitas, continuando estas no entanto a ser os grandes cen- .\ Antonio Moura, Lisboa, 1840, t. 1, p. 275.]
it
tros difusores da cultura. O autor do trecho é um marro-
quino do século XIV. - (1) Estas seitas-nacoes (madliabs), cada uma das quais fazia o seu estudo especializado
de jurisprudéncia. eram as seguintes: a dos Hanefitas (lrao Oriental e actual Afganistao);
a dos Malakitas (Norte de Africa e Espanha); a dos Shafi’itas (Siria e Iraque) e a dos
Da roda dos homens exercitados nas diversas espécies de ciéncias os de Haenbalitas (habitantes das grandes cidades).
sa opiniao léem os livros da historia dos ditos e acqoes do profeta sobre
elevadas cadeiras e os leitores do Alcorao léem com lindas vozes de manha
e de tarde. Nela ha multidao de discipulos que aprendem olivro de Deus
(0 Corao); e na verdade 0 léem bem e desembaracadamente. O professor A D1vULGA<;A0 DA LTNGUA ARABE
de escrita, que é diverso do do Alcorao, ensina pelo livro das poesias e'
por diversos outros. Como o menino passa do estudo das ciéncias para A fragmentacao do Império Arabe arrastou consigo o triunfo
dos regionalismos cuiturais, assim como o renascimento de
a escrita, desta maneira é a sua letra famosa porque o mestre para escrita muitas lingua: locais. Nao obstante, vastas regioes is1ami-
nao ensina outra coisa. [...] zadas mantiveram a lingua ardbica. Os comentdrios que se
'5 seguem seio do historiador Ibn Khaldfin (século XIV).
5
[Viagens Extensas e Dilatadas do Célebre Arabe Abu-Abdallah mais 5
Conhecido pelo Nome 'de Ben-Batuta, traduzidas por Jose de Santo [...] O uso da lingua arabe passou a ser um simbolo do Islam e de obedién-
Antonio Moura, Lisboa, 1840, t. I, pp. 91-92].
cia aos Arabes. As naeoes [estrangeiras] evitavam usar os seus préprios
dialectos e linguas em todas as cidades e provincias, tomando-se a lingua
arabe a sua propria lingua. [...]
Quando os nao Arabes, como os Daylami(1) e depois deles os Seldjl'1-
AS ESCOLAS DE BAGDAD 4
eidas no Oriente e os Zanatah (2) e Berberes no Ocidente, se tomaram os
(SECULO XIV) Q
€
1
senhores e obtiveram a autoridade real e o dominio sobre todo o reino
muculmano, a lingua arabe corrompeu-se. Teria mesmo quase desapa-
recido, se a preocupaeiio dos Muculmanos com o Corao e a Sunnah, que
Os recintos destinados ao ensino ficavam sempre prdximos
da mesquita. As motérias ensinadas distinguiam-se segundo Preservam 0 Islam, nao tivessem também preservado a lingua arabe. Esta
as varios <<ritos» existentes na cidade. Ben-Batuta (século XIV) [Pwocupaeao] tomou-se um elemento a favor da persisténcia dos dialectos
é 0 autor da descrigao que se segue. sedentarios usados nas cidades como arabicos. Mas quando os Tartaros
¢ os Mongois, que nao eram muculmanos, se tomaram os senhores do
[...] Em Bagdad ha quatro seitas (1), cada uma das quais tem seu palacio Oriente, este elemento a favor da lingua arabe desapareceu e ela foi abso-
em que esta a mesquita e o lugar do ensino; e 0 assento do professor em luiamente dominada. Nao ficou traeo dela nas provincias mueulmanas
uma pequena aleova de madeira sobre um escabelo, um tapete por cima, d° Iraque, do Khurasan, da regiao de Fars (3), da lndia Oriental e Ociden-
.-s~¢. ~. -—_ -._a.- _-~4¢i._4a¢~ -4;»
sobre 0 qual_\se assenta o dito professor com gravidade e modéstia, ves- mlr do Transoxania, das regioes do Norte e do territorio bizantino (4).
tido com vestidos pretos, tendo dos seus lados direito e esquerdo dois indi- Sirii-z;-] O dialecto arabe sedentario permaneceu largamente no Egipto, na
viduos adestrados que repetem 0 que ele dita; e assim é a ordem de cada ‘J
1 : "8 Espanha e em Marrocos, porque 0 Islam ainda at persiste e o
i
— — 4.
— A ii--Z-L‘
exige. [...] Mas nas provincias do Iraque e para oriente nao permaneceu
traeo ou fonte de lingua arabica. Mesmo os livros cientificos comecaram
a ser escritos em lingua nao arabe (5), a qual é também usada para a ms-
trueao nas aulas.
(1) populagio pm-5a_ (2) Tribo marroquina seminomada. (3) Persia meridional
(4) A Anatolia. (5) Em persa. 1.
A OSMOSE ETNICA
E CULTURAL
\
108 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
A CIVILIZACAO MUCULMANA 109
os SABIOS MUCULMANOS laridade e do estudo pela sua posieao de chefia na dinastia abassida e pelas
so POR EXCEPCAO FORAM ARABES 1; tarefas que lhes cabiam no governo. Eram os homens da dinastia, simul-
O historiador Ibn-Khaldlin (I332-I406), um tunisino, pro- taneamente os seus protectores e os executores da sua politica. Além do
curou na sua obra evidenciar a profunda diferenpa existente mais, nessa época, eles consideravam como uma coisa desprezivel ser um
entre 0 drabe do deserto e 0 muculmano das regi6es seden- escolar, porque 0 ensino é um oficio e os chefespoliticos sao sempre desde-
tarizadas, detentor de maior cultura. nhosos dos oficios e profissoes e de tudo 0- que a eles conduz. [...]
E digno de nota 0 facto de, com poucas excepeoes, a maioria dos sabios
[Ibn _Khald|fm, The Muqaddimah—An Introduction to History,
muculmanos, tanto nas ciéncias religiosas como nas intelectuais, nao terem trad. mglesa. do arabe por Franz Rosenthal, Bollingen Series XLII1,
sido arabes. Quando um sabio é de origem arabe, nao é arabe de lingua- Pantheon Books, New York, 1958, vol. 3, pp. 311 a 315.]
gem e criacao e nao teve professores arabes. Isto é assim, a despeito de 0
(1) As tradicoes e costumes de acordo com as quais actua a comunidade muculmana.
Islam ser uma religiao arabica e 0 seu fundador ter sido um arabe. (Z) Harun al-Rashid, califa de Bagdad entre 786 e 809. (3) Eram todos muculmanos
A razao deste facto foi 0 Islam nao ter tido de inicio ciéncias, nem indus- persas. (4) Registo escrito dos ditos e accées do Profeta e, num sentido mais genérico,
trias, 0 que era devido as condiqoes simples da vida no deserto. As leis de alguns dos seus companheiros e suoessores.
religiosas, que eram os mandamentos e proibicoes de Deus, estavam ins-
critas no coraeao das autoridades. Conheciam as suas fontes, 0 Corao
e os Sunnah (1), por informacao que tinham recebido direetamente do pro-
0 SAQUE E os IMPOSTOS COMO OBJECTIVO
Iil i tli lc n
prio Legislador e dos homens que o rodeavam. A populaeao nessa altura
era arabe. Nao sabia nada acerca da instrucao cientifica, da escrita DA CONQUISTA ARABE
de livros ou de trabalhos sistematicos. Nao havia incentivos ou necessida-
Ibn-Khaldfin (século XIV) sempre pouco indulgente para com
de para isso. Esta era a situaeao na época dos homens que rodeavam Muham- os Arabes, aponta como sua preocupapao dominante a pilha-
mad e dos homens da segunda geracao. [...] gem e cobranpa de impostos nas terras dominadas. Esta
No decorrer do reinado de al-Rashid (Z), a tradicao [oral] estava ja muito caracterirtica radicar-se-ia na quase total auséncia de estru-
distante. Foi necessario escrever comentarios ao Corao e fixar por escrito turas de civilizapao nas tribos nomadas. A
as tradicoes, porque se temia que elas se perdessem. [...] Além do mais, a lin-
gua [arabica] estava a corromper-se e era necessario estabelecer regras
[...] E da natureza [do Arabe] pilhar tudo o que os outros povos possuem.
Encontra a subsisténcia onde quer que caia a sombra das suas lancas.
gramaticais. (
Nao reconhece limites a apropriacao dos bens dos outros povos. Sempre
Os fundadores da gramatica foram Sibawayh e depois dele al-Farisi
e az-Zajjaj. Nenhum deles era de ascendéncia arabe (3). [...]
que os seus olhos poisam sobre qualquer propriedade, mével ou utensilio, (
apodera-se deles. Quando adquire supremacia e autoridade real, fica com
Muitos dos doutores dos hadiths (4) que preservaram as tradicoes para 1
poder absoluto para saquear; deixa de existir qualquer forca politica que
os muculmanos, também nao eram arabes, mas persas, ou persas na lin- '(
proteja a propriedade e a civilizacao é arruinada. [...]
gua ou educaeao, porque a disciplina era profundamente cultivada no Ira-
que e nas regioes vizinhas. Também todos os doutores que trabalharam De forma geral [os Arabes] nao se importam com leis. Nao impedem as <
pessoas de cometer delitos, nem as protegem umas contra as outras; preo-
na ciéncia dos principios da jurisprudéncia nao eram arabes, mas persas,
Cllpam-se apenas com a propriedade que lhes podem tirar pelo saque e
'1
como é bem sabido. O mesmo se aplica aos teologos especulativos e a maio- ‘l
ria dos comentadores do Corao. Pclos impostos. [...]
[...] Os eirabes que entraram em contacto com esta florescente cultura ~<
[Ibn Khaldiin, The Muqaa'dimah—An Introduction to History, <( i
sedentaria e trocaram por ela a sua atitude beduina eram afastados da esco- trad. inglesa do arabe por Franz Rosenthal, Bollingen Series XLIII,
Pantheon Books, New York, 1958. vol. 1, pp. 303 e 304.]
<<
<<
no TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS A CIVILIZACAO MUCULMANA 11|
(1) A1-Walid, califa de Damasco entre vos e 115. (1) Abd-=11-M="1< (§35'7°5)» °°f‘(‘;';;:
nado ((0 pa,i_dc reis» por lhe terem sucedido quatro dos seus filhos. ( ) Marwann 685-
.635), O fundagor <10 “mo marwanida da dinastia omiada. (4') Justtnlano (Ha
-695 e vos-111). (5) 0 mihrab e um nicho na parede <11 m=Sq“'“* q“° ‘“d'°“‘ “ ‘I’ '
ou direccao para a qual se deve voltar o crente quando "BIB-
i la
<1
1 12 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS A CIVILIZACAO MUCULMANA I13 to
A INFLUENCIA PERSA Contam-se nesta mesquita cento e treze candelabros destinados a ilu-
in
NA ARQUITECTURA ABASSIDA minaeao. O maior destes candelabros suporta mil lampadas, e 0 menor,
{Joni 0 caltfado de Bagdad 'a influéncia persa sobrepas-se
doze.
a bizantina. As construcoes passaram a uttlizar o material O vigamento superior deste edificio compoe-se de pecas de madeira
tradiczonal na regtao, '0 tqolo. e a adoptar os principios fixadas por meio de pregos nas traves do tecto. Estas madeiras provém
da arquitectura sassamda. dos enormes pinheiros dc Tarso. [...] Entre uma trave e outra existe um inter-
valo igual a espessura de uma viga. O vigamento de que falo é inteiramente
Abu Jafar al-Mansur (1) estabeleceu a principal mesquita [...] em contacto
com o seu palacio [...]; construiu-a com l1_]O10S secos ao sol e argila [...]; as liso e revestido de diversos ornamentos hexagonais ou entrecruzados. [...]
Nao sao semelhantes uns aos outros, mas cada vigamento forma um todo
dimensoes do palaeio dc a1-Mansur eram de 400 cévados (2) por 400 e as
da mesquita, dc 200 por 200; e as colunas de madeira da mesquita eram
I
completo em relaeao aos ornamentos que sao do melhor gosto e tém as
formadas por duas pecas. [...] A grande mesquita permaneceu no mesmo
mais brilhantes das cores. Neles se empregaram com efeito o vermelho
estado até ao tempo de Harun al-Rashid (3). Harun ordenou a sua demo- de cinabre, 0 vermelho-alaranjado, 0 branco de alvaiade, o lapis-lazuli,
lieao e reconstruqao com tijolos cozidos no forno e gesso. Assim foi feito o verde de azebre, o negro de antimonio; o todo alegra a vista por causa
e inscreveu-se nela 0 nome de Harun al-Rashid, mencionando [...] o nome da pureza dos desenhos, da variedade e da feliz combinacao das cores. [...]
do arquitecto, do carpinteiro e a data; esta inscricao ainda pode ser vista Cada coluna ergue-se sobre um pedestal de marmore e é encimada por
um capitel do mesmo material.
nos dias de hoje, no muro exterior da mesquita, do lado que fica perto
da porta de Khurasan. Os intercoliinios consistem em arcos de abobada de um estilo admiravel
1 sobre os quais se erguem outros arcos assentando sobre pedras de cantaria
.1
[Al-Khatib al Baghdadi, Ta’rikh Baghdad, vol. 1, pp. 59 a 61, cit. muito duras; a totalidade é recoberta por cal e gesso e disposta em com-
em K. A. C. Creswell, A short account of early Muslim Architecture,
Penguin Books, 1958, pp. 179 e 180.] partimentos redondos e em relevo executados em mosaicos de cor ver-
melha. Por baixo (e no interior) dos arcos de abébada estao enquadra-
(1) O segundo califa da dinastia abassida. Reinou de 754 a 775. (1) O cévado equi-
mentoside madeira contendo (inscritos) diversos versiculos do Corfio.
vale a 0,70 m. (3) Califa de 786 a 809.
A kibla (2) desta mesquita é de uma beleza e de uma elegancia impossiveis
de descrever e de uma solidez que ultrapassa tudo 0 que a inteligéncia huma-
A MESQUITA DE CORDOVA na pode eonceber de mais perfeito. Esta inteiramente coberta de esmaltes
Iniciada pelo emir Abd-ar-Rahman I em 785, a mesquita dourados e coloridos enviados em grande parte pelo imperador dc Cons-
sofreu varios acrescentamentos e modificayfies ate’ finais tantinopla (3) e Abderrahman Nassr-eddin-Allah, o Omiada (4).
do século X. Os seus elementos estruturais e decoragao reve- Desse lado, quero dizer, do lado do santuario do mihrab, ha sete arcadas
lam influéncia sirio-bizantina, o que se explica pela pre- sustentadas por colunas: cada uma destas arcadas faz-se notar por uma
senca
, em Espanha _ _de muitos sirios, vindos 'com 0 PrinciP e delicadeza de ornamentos superior a tudo o que a arte dos Gregos e dol
omrada. A descncao que se segue é do celebre geografo
Idrisi (século XII), Mueulmanos produziu neste género de mais perfeito.
O comprimento deste edificio é de 100 toesas (1), e a sua largura, de 80. [Géographie D'Edrisi. traduite de l‘arabe en francais par P. Améddl
Metade esta coberta por um tecto, a outra é aberta. O niimero de naves Jaubert, t. n, Pans, 1840, pp. 58 a 61.]
cobertas é de 19. Véem-se ai colunas (quero dizer pilares tendo cada 0) A toesa equivalia a 1,949 tn. (1) Local que indica a direccao para onde on
um d¢1¢$ _11m arco que se estende de uma coluna a outra que lhe fica em Crentes se devem virar -em oraqao. (3) Constantino VII Porfirogeneta (913-959).
frente), grandes e pequenas. Compreendendo as que sustentam a grande ('1 Abd-ar-Rahman III, emir de Cordova de 912 a 929 e califa desde essa data até 961.
ciipula, sao em niimero de 1000.
"-m.-3
L“. -. . . . . “.
114 rrzxros HISTORICOS MEDIEVAIS A CIVILIZACAO MUCULMANA 115
Carnain ai abordou antes que as trevas tivessem coberto a superficie do Saiida o Palacio das Varandas, da parte de um donzel
mar, ai passou uma noite e que os habitantes dessa ilha assaltaram os que sente a perpétua nostalgia daquele alcacer.
seus companheiros de viagem a pedrada e feriram varios. Ha uma outra
Ali moravam guerreiros como leoes e brancas gazelas,
ilha, que se chama Saa’li, cujos habitantes se parecem mais com mulheres
e em que belas selvas e em que belos covis!
do que com homens; os dentes saem-lhes da boca, os olhos brilham como
relampagos e as pernas tém a aparéncia de madeira queimada; falam uma Quantas noites passei divertindo-me a sua sombra
linguagem ininteligivel e dao caca aos monstros marinhos. [...] No mesmo com mulheres de ancas opulentas e talhe delicado:
mar eneontra-se a ilha de Calhan, cujos habitantes tém forma humana.
mas cabeeas de animais. [...] Outra ilha do mesmo mar chama-se a ilha dos brancas e morenas faziam na minha alma o efeito
dois irmaos magicos Cheram e Cheram. Esta situada em frente do porto das espadas refulgentes e das lanqas escuras!
de Aeafim. [. . .] Recolheram-se pormenores curiosos relativamente a esta ilha,
da boca dos Maghrourin (2), viajantes da cidade de Achbouna(3), em Espa- Quantas noites passei deliciosamente num recanto
nha, quando 0 porto de Acafim recebeu este nome por causa deles. [...] do rio com uma donzela cuja pulseira emulava
Segundo o que nos ensina Ptolomeu de Pelusa, 0 mar Tenebroso encerra a curva da corrente!
vinte e sete mil ilhas povoadas e nao povoadas. [...] Passava-se o tempo escanceando-me o vinho do
[Géographie D’Edrisi, traduite de 1'arabe en francais par P. Amédée seu olhar, e outras vezes o do seu corpo e outras o da sua boca. llllll
Jaubert, Paris, 1836, t. 1, pp. 197 a 202.]
As cordas do seu alaiide feridas pelo plectro
(1) Idnsi gravou para Rogério II, rei da Sicilia, um planisfério de prata em que a Tena faziam-me estremecer, como se ouvisse a melodia
aparece dividida em sete climas paralelos. Para compreensao do planisfério, redigiu a das espadas nos tendoes do pescoeo inimigo.
sua obra geografiea de acordo com os mesmos sete climas, cada um deles subdividido
cm dez seeeoes. (1) O termo significa aaventureiros». Idrisi parece referir-se a uma A0 tirar o manto descobria o seu talhe,
tradicao entao existente de marinheiros que, deixando Lisboa, demandaram a costa
florescente ramo de salgueiro, assim como
atlantica marroquina. (3) 1..isboa.
se abre 0 capulho para mostrar a flor.
Eia, Abu Bakr, sauda os meus lares em Silves A 1"!’isprudéncia é a arte que possibilita ao homem inferir a determinacao
e pergunta-lhes se, como penso, ainda se lembram de rnim. do q\1¢ quer que nao tiver sido explicitamente especificado pelo Legis1ador(1),
___.
_ .-_ 3
tomando por base aquelas coisas que foram explicitamente especificadas O sentido profundo da historia, por outro lado, envolve especulacao
e determinadas por ele; e esforear-se por inferir correctamente, tomando e uma tentativa de alcanear a verdadeira e subtil explicacao das causas
em linha de conta a finalidade do Legislador com a religiao que ele legis- e origens das coisas existentes e um conhecimento profundo do como e do
lou para a nacao a quem deu essa religiao. Exemplos de opinioes sao as porqué dos eventos. Por isso [a historia] esta firmemente enraizada na
filosofia. Merece ser considerada um ramo [da filosofia].
legisladas acerca de Deus (louvado seja Ele) e os Seus atributos, acerca
do mundo e assim por diante. Exemplos dc aceoes sao aquelas pelas quais
[Ibn-Khaldiin, 771: Muqaddimah—An Introduction to History, trad.
Deus (Todo-Poderoso e Soberano) é exaltado e aquelas por meio das quais inglesa do arabe pot‘ Franz Rosenthal,"1-m. Bollingen Series XLIII,
as transaccoes se realizam nas cidades. Por esta razao, a ciéncia da juris- Pantheon Books, New York, 1958, vol. 1, p. 6.]
prudéncia tem duas partes, uma parte respeitando as opinioes e outra
as aceoes.
A EDUCACAO DE AVICENA
[Abu Nasr Muhammad al-Farabi, The Enumeration of the Sciences,
cap. v, in Ralph Lerner and Muhsin Mahdi, Medieval Political Philo- Avicena (980-I037) alcancou desde muito -novo um saber
sophy, The Free Press of Glencoe, Collier-MacMil1an Limited,
Canada, 1963, p. 27.] enciclopédico que registou numa obra vastissima. A medi-
cina, a filosofia, a astronomia, as matematicas, a teologia,
(1) Muhammad. a filologia e a arte foram temas focados por este pensador
excepcional. Do seu aprendizado nos dd conta num texto
que revela quais poderiam ser os interesses de um jovem
muculmano culto do século XI.
A FINALIDADE DA 1-IISTORIA Chegou entao a Bukhara (1) um homem chamado Abu’ Abd Allah al-
Ibn-Kltaldfin (1332-I406) foi 0 maior filosofo do Historia -Natili que dizia ser um filésofo; o meu pai convidou-0 a vir para nossa
produzido pelo Islam. Na sua obra Muqaddimah, introdu- casa, esperando que cu pudesse aprender qualquer coisa com ele. Antes
can a um livro sobre as /frabes, Persas e Berberes que segui- da sua chegada ja me tinha ocupado com a jurisprudéncia muculmana. [...]
damente escreveu, esboca uma teoria sobre a natureza e Comecei entao a ler o Isagoge (1) com al-Natili: quando me meneionou
a finalidade da Historia, da qual transcrevemos alguntas andefinicao de genus como‘ um termo aplicado a um nitmero de coisas de
consideracfies.
diferentes espécies em resposta a pergunta <<Que é isto?», apliquei-me
Cm verificar esta definieao de uma maneira como ele nunca tinha ouvido.
A Histéria é uma disciplina largamente cultivada entre as naeoes e as raeas.
Ele admirou-se muitissimo comigo e preveniu 0 meu pai de que eu nao me
E avidamente procurada. O homem da rua, o povo vulgar, aspiram a
deveria enttegar a nenhuma outra ocupacao salvo o estudo. [...] Dai por
conhecé-la. Os reis e os chefes disputam-na.
diante pus-me a ler textos por mim; estudei os comentarios até ter por
Tanto os doutos como os ignorantes sao capazes de a compreender,
°°mpleto dominado a ciéncia da Logica. Da mesma maneira em relacao
porque a superficie a histdria nao é mais do que a informaeao acerca de
3 Euclides; li com ele as primeiras cinco ou seis figuras e em seguida tomei
aeontecimentos politicos, dinastias e ocorréncias do passado remoto.
POI minha propria conta resolver todo 0 resto do livro. Em seguida passei
elegantemente apresentadas e temperadas com provérbios. Serve para
para 0 Almagesto(3). [...] ,
entreter grandes assembleias e traz-nos uma eompreensao dos negocios
humanos; [mostra] como a mudanea de certas condiqoes afectou [os nega- as(:é“Pci-me entao em dominar os varios itextos e comentarios sobre
do sa3;311.3$E1‘18.t1.ll'3l.S e as metafisicas até se abrlrem para mim todas as portas
cios humanos], como certas dinastias vieram ocupar um lugar cada V61
OS livro; m seguida dCS6_]C1 estudar medtcina e empreendi a leitura de todos
mais importante no mundo e como dominaram a terra até ouvirem o char
que tinham sido escritos sobre esse assunto. A medicma nao e
mamento e 0 seu tempo ter terminado.
_,l—L
(1) Cidade natal de Avicena, no Turquestao. (1) Obra do filosofo neoplatonico Por-
firio (233-304). (3) Tratado dc geografia e astronomia de Claudio Ptoiomeu (século 11).
O sistema geocéntrico nele defendido so foi invalidado no século XVI pela teoria de Co-
pérnico.
1
1
1
a. A IGREJA NOS QUADROS
DO IMPERIO ROMANO 1
1
1
P
1. I.
O BISPO DE ROMA CONQUISTOU
A CHEFIA
DA IGREJA CATOLICA
[C€i‘i[:frlisrir“l6£b(:n;ill;ii1:f"Si:z1ii‘es I..atiiia,ctF., LIV, Paris, 1881, cols. 637, 638.] A AUTORIDADE DA SANTA sE (452) V.
(
Nesta epistola dirigida ao imperador do Oriente Marciano
ROMA E CONSTANTINOPLA: (450-457), S. Leao Magno condenou o canone 28 do Conci- I
<1
OS CAROLlNGIOS 127
lZ6 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
2.
nao pode transformar numa sé apostolica; e que de maneira alguma espere
ser capaz de subir prejudicando os outros. Porque os privilégios das igre- A IGREJA, ORGANIZANDO-SE COMO UM
jas, instituidos pelos cénones dos santos Padres e fixados pelos decretos ESTADO, SUPRIU A AUTORIDADE CIVIL
do Sinodo de Niceia (1), nao podem ser derrubados por um acto sem escn'1-
pulos, nem perturbados por urna inovaqio. E na fiel execuqio desta tarefa Z °'€a"'f;¢¢10 lgreja fizera-se ainda dentro do periodo imperial romano.
14 é necessario que eu demonstre, _com a ajuda de Cristo, uma persevcrante feta 0111;. as mstmagoes do prdprzo Império, 0 clero hierarquizara-se num
dedicagao, porque é um encargo que me foi confiado. E se as regras san- .unczona
u _ _ ISmo especificado,
' -
crzara - e smodos.
as suas assemblezas - sobrepusera
cionadas pelos Padres e estabelecidas sob a inspiraqio do Espirito Santo Z dzvisasaprovmcial a sua estrutura administrativa. Esta orgdnica nascida
I
no Sinodo de Niceia para governo de toda a Igreja forem violadas com en:
Arie Estddo Romano, dependia - dele e nomeadamente servxa-0.
. l
a minha conivéncia (o que Deus irnpeqa) e se os desejos dc um so irrnao _ _5‘1Pl":l900 Imperzo no Ocidente e 0 caos trazido pelas invasfies
tiverem mais peso em mim do que a utilidade comum dc toda a casa do permztiram a Igreja niio so definir com maior clareza a sua doutrina como
Senhor, dcverei ser condenado. especialmente ampliar e fortalecer as inslituipfies jé criadas.
t Na ¢"l"f1135:: anarquia que se seguiram ao século V, a Sé Romana represen-
[Leia Ma.gno,Ep. l04,ad Marcianum Augusrum (452), in J. P. Migne. ava :1 umcoz
' ' al umficador
' - - estrutura capaz de se opor d desmte-
e a umca .
Parralogiae Cursus Completus, Series Latina, t. uv, Paris, 1881,’
cols. 993-995.] gracao polmca, religiosa e social em curso. Detinha, também e este nfio era
I
l
12s TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS os CAROLINGIOS I29
todos eles, se bem que o mesmo seja também habitual para o bispo_de lljalel tudo, até onde vos autorizar a condescendéncia do nosso senhor
Roma. Da mesma maneira detenham os seus privilégios as igrejas de Antio- °G ' 8'P_8. P ara
' q ue se')3 permmda
" a ordenacao~ episcopal
~ entre os povos dq’
quia e das outras provincias. aha mcluldos dentro das fronteiras das sortes goticas pa
, _ ra os segurar.
mos pela fe, )8' que nao ~ os podemos conservar por ti-amdQ_
'
Canone 15 — Devido ao grande disnirbio e discordia que ocorre,
decreta-se que o costume subsistente em certos lugares contrario ao Canone
[Gai Sollii Apallinaris Sidonni Epistu/arum, liber vu epist v|| in
seja por completo revogado; desta maneira, nem os bispos, nem os pres- M ‘ Hlstoru.-a—Auctorum,
ppanlirggnéalfglrmalrlae ~ ~ .
t. vm, Berlim, 1837,
biteros, nem os diaconos, deverao passar de uma cidade para outra. Se
alguém depois deste decreto do sagrado e grande sinodo tentar tal coisa
(‘)0re"'dE'
5 --
1 ‘"5180 0 urico (466-484). (1) O anamsmo. (3) Bordeaux_ (4) Pcrigucux
ou continuar a fazer o mesmo, o seu procedimento devera ser por completo () Roue _ ()
6 ]_'imoges. (7) Javols. (8) Eaum (9) BaZaS_ (,0) comn,limcs'-
(u)Auchl'81-Ye
anulado e restituido a igreja para a qual foi ordenado bispo ou presbitero.
—>-
OS CAROLINGIOS I 3l
l3O TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
monaquisniooriental e 0 propria S. Bento. Em Africa, Santa Agostinlio 354-
SOBRE OS BISPADOS EM TERRA DE INFIEIS
-430) redigiu também algumas normas para uma comunidade r1'(' e igiosa.
A regra beneditina seria , nao obstante a base de todos os
Por motivo das invasfies mugulmanas, tinha sido riecessario ' grandes movi--
atentar na situacfio dos bispados que haviam ficado sem diri- menros momisticos medievais, e os monges de S. Bento uns dos pringipafs
gente. 0 concilio Quiriisextum (692) decidiu a criacdo obreiros na construcao de uma Europa cristfi,
dos bispos <<in partibus», que, sem ocuparem a sua diocese, ijonjugando liarmoniosamente a vida contemplativa com a agtividade
manteriam as dignidades inerentes ao cargo.
V
Pratlm qufllldlflfld.
. 0 monge beneditino evangelizou » ensinou - desbrgvou a
terra ' criou povoadas e fez do seu m osteiro
' um repositorio
- . da cultura clé
Visto que em diversas ocasioes se tém dado invasoes de barbaros e con- . 3-
slca» que -Ye @3f0"C0l4 pvr nao deixar morrer.
sequentemente muitissimas cidades cairam nas mios dos infiéis, razao ATornada a breve trecho um potentado econémico, a ordem seria simul-
pela qual 0 prelado de uma cidade fica impossibilitado, depois de ter taneamente 0 melhor instrumento e 0 apoia ' mais
' firme da politica papal.
sido ordenado, de tomar posse da sua sé e de se estabelecer nela com cate-
goria sacerdotal efectuando e dirigindo assim, de acordo com o costume,
as ordenaqoes e todas as outras coisas que pertencem ao bispo: nos, defen-
dendo a honra e a veneracao do sacerdocio e nao desejando de maneira os EREMITAS ESTILITAS
nenhuma fazer uso da afronta paga para a ruina dos direitos eclesiasticos,
decretamos que aqueles que assim foram ordenados e pelas causas ja cita- Foram muito venerados no Oriente os estilitas monges
eremitas que instalavam a sua cela no topo de uma (jgluna
das nao se estabeleceram nas suas sés nao sofram por este facto qualquer
prejuizo. Poderao desta maneira realizar canonicamente, a ordenaefio dos :r;'Lfit}';“';;":&f:,me§c‘:k':_g';P£:1(fa’f‘L’l:Z(§Js S8%llld0i. gomo tal excen-'
(sémlo XI”) cronma da Quarm gel enta , obert de Clari
diferentes clérigos e usar da autoridade dos seus cargos de acordo com _ _- _ ~ mzada, anotou com admi-
os limites proprios, e qualquer acto administrative que deles proceda sera rapao a existencia destas colunas em Constantinopla.
valido e legitirno. [...]
(I:_:::a:“l::d1;°:;?aP3:Z ¢::l:;da:l;(L)s i::a grand: maravilhai eram duas
[In H.-T. Bnms, Canaries apostolorum et eonciliorum Saeculorum I V, dc homem e cinquema toesas (3; dc alt; siga, tpe o rriienos tres bra<;as (2)
V, VI, VII, Berlim, 1839, t. I, p. 34.] .
“as tinham
estavam por poms
C havia habito nas
vivercolunas
uns eremi; so Pequenos
ela s em re ca a uma qessasque
abrigos cold:
-al
N0 exterior destas colunas estavam pdesznguflls uma pe‘Ssoa podla sub)‘.-
3. todas as aventuras e conquistas que tinhama as Edescrltas em profeclas
O NASCIMENTO °“ que estavam para acontecer Mas nin émocoiitl O em Constantinopla
DAS INSTITUIQGES MONASTICAS lcclmento até ele se ter dado , e depois diuter apo la (':°mpreender'
contecido o ovo 13,0 até
awn:
31
meditava sobre o assunto e entao, ~ pela primeira
. . vez, via , Pe compreendia
< *
NASCIDO no Oriente, onde nao raro se revestiu de formas ascéticas exoge- ° 6‘/ento. [...]
radas e mesmo extravagantes, 0 monaquismo encontrou a partir do século V1
_ __.l [Robert de Clari, La c ‘t d C ‘ ' - -
uma organizacfio equilibrada, com a regra de S. Bento surgida na Itélim Chraniqueurs du Moyen jgiugiebli¢§thegii':fi:'l'aa%l‘bia:1: 121‘:tggeilgsgt
Nfio era esta, na verdade, a primeira regra estatuida para regulamentacfifl 00- 77, 78-1 ’ ' ' '
da vida religiosa em comum. S. Pacdmio (c. 320), na Tebaida, esbocara iv!-F ll) Lonst ‘ .
principios directivos para a comunidade que institui'ra. S. Basilio (c. 360) dc do, an'-"‘°Dlfl- (2) A bra¢a ou braco, correspondendo aproximadamente a medida
is b "W05 estendidos, equivalia
. . a 1,82 m. (3) A toesa equivalia
_ _ a 1,949 m.
ampliou e aperfeigoou estes principios e a sua regra marcou fortemente 0
l i
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132 TEXTOS HISTDRICOS MEDIEVAIS os cARoLiNcios 133
i
A FUNDACAO DA ORDEM mas 0 primeiro e grande mosteiro onde viveu o santo Pacomio e que deu
DE S. PACOMIO (C. 320) nascimento a outros lugares de ascetismo tem mil e quatrocentos homens.
Tendo-se dado conta das vantagens que a vida em comum [Palladius, Historia Lausiaca, cap. 38, in J. P. Migne, Patrologiae
podia trazer ao asceta, S. Pacdmio redigiu um conjunto de Cursus Complerus. Series Latina. t. LXXIII, Paris, 1879; cols. 1137 e 1138.]
regras que incluiam, entre as obrigacfies do monge, 0 tra-
balho manual. Por morte de S. Paco'mio, ja' nove conventos
de homens e dois de mulheres seguiam a sua regra. Uma
lenda do época registada pelo bispo Palladius (séculos 1V- V) REGRA DE S. BENTO:
conferia d regra de S. Pacémio origem sobrenutural. CAP. l—SOBRE AS CATEGORIAS DE MONGES
Ha um lugar na Tebaida chamado Tabena onde viveu um certo monge A regra de S. Bento (século VI) abre com uma anélise dos
Pacomio, um destes homens que atingirani a mais elevada e perfeita forma varios tipos de monge entfio existentes, desde 0 solitcirio,
de vida, de maneira que foi contemplado com predicoes do futuro e visoes 0 eremita, até ao que vive em comunidade, 0 cenobita. Esta
amilise dd-nos o panorama dos primeiros passos do monu-
angélicas. Era um grande amigo dos pobres e tinha profunda caridade quismo.
para com os homens. Por isso, estando ele vivendo numa gruta, apareceu-
-lhe um anjo do Senhor, que lhe disse: Pacdmio, procedeste bem e recta- E bem sabido que existem quatro categorias de monges. A primeira cate-
mente em todas as coisas que te dizem respeito; como tal, nao fiques mais goria é a dos cenobitas: aqueles que vivem em mosteiros e servem sob a
tempo desocupado neste sitio. Ergue-te, mostra-te; refine todos os jovens direceao de uma regra e de um abade. A segunda categoria é a dos ana-
monges, vive com eles e dita-lhes leis de acordo com as que eu te vou dar. coretas on eremitas: aqueles que, nao estando ja no primeiro fervor do 1
E entregou-lhe uma lamina de cobre onde estavam escritas as seguintes sua conversao, mas depois de uma longa provacao num mosteiro, tendo 1
coisas: " aprendido com o auxilio de muitos a combater 0 deménio, saem bem
Dai de comer e de beber a cada um [dos irmaos] de acordo com a sua armados das fileiras da comunidade para o combate solitario do deserto. 1
robustez e distribui-lhes os trabalhos que convenham e correspondam as Sentem-se agora capazes, sem qualquer ajuda salvo a de Deus, de com- 1
suas capacidades, nao lhes proibindo nem o jejum nem os alimentos.
Assim, entrega trabalhos pesados aos mais fortes e tarefas mais leves e
bater sozinhos contra os vicios da carne e contra os seus proprios pensa-
mentos.
1
faceis aqueles que se disciplinam mais e sao mais fracos. [...]‘ A terceira categoria de monges, uma categoriadetestiivel, é a dos sara- I
As refeicoes tapem a cabeca com os capuzes para que um irmao nao baitas. Estes, nao tendo sido experimentados, como o ouro na fornalha, 1
possa ver o outro irmao comer. N50 devem falar enquanto comem: nem
devem voltar os olhos para qualquer outra coisa fora do prato on da
por nenhuma regra nem pelas licoes da experiéncia, sao tao brandos como
0 chumbo. Nos seus trabalhos ainda se mantém ligados ao mundo, por
<4
mesa. isso a sua tonsura os distingue como embusteiros perante Deus. Vivem <4
E [0 anjo] estabeleceu como regra que durante todo o dia deveriam aos dois ou aos trés, ou mesmo sds, sem um pastor, no seu préprio redil <1
oferecer doze oraqoes; e na altura de acender as luzes, doze; e. no decurso
da vigilia nocturna, doze, e a hora da nona, trés; determinou porem 1-»-vu1~<._i»
¢ nao no do Senhor. A sua lei é o desejo do pi-azer; 0 que quer que lhes
entre no pensamento ou lhes apeteca, a isso charnam santo; olham como
<4
que quando parecesse a todos ser altura de comer, cada grupo devesse il¢gitimo aquilo que lhes desagrada. A quarta categoria de monges sao <4
primeiro cantar um salmo por oracao. [...] _ _ °$ chamados girdvagos. Estes passam toda a vida vagueando de provin- a
Quando Q.anjo acabou de dar estas orientacoes e cumpriu a sua mis-
sfio, despediu-se do grande Pacémio. _
cla para provincia, instalando-se como hdspedes em diferentes mosteiros
P01" trés ou quatro dias de cada vez. Sempre em movimento, sem estabi-
<4
(.
Ha mosteiros observando esta regra compostos de sete mil homens. lidade, sao indulgentes para com os seus proprios desejos e sucumbem as
<1
<1
I
—
W OS CAROLlNG1OS 135
134 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
H
nado, até a Nona. Ao primeiro sinal da hora de Nona que todos larguem l
l
seducoes da gula, sendo em muitos aspectos piores do que os sarabaitas. 0 seu trabalho e se aprontem para 0 soar do segundo sinal. Depois da
Sob a misérrima conduta de tais homens é melhor fazer siléncio do que
falar.
refeicao que se entreguem a leitura ou aos salmos.
Nos dias da Quaresma, desde manha até ao fim da terceira hora, entre-
l
Portanto, omitindo estes, procuremos, com a ajuda de Deus, estabele- guem-se a leitura e dai até ao fim da décirria hora que facam o trabalho
cer uma regra para a mais forte categoria de monges, a dos cenobitas. que lhes for designado. E nestes dias da Quaresma cada 'um recebera um
[S. P. Benedicti, Regula Cammentata. cap. 1, in J. P. Migne, Patrologiae
livro da biblioteca que lera seguido do principio ao fim. Estes livros devem
Cursus Campletus, Series Latina, t. Lxvl, Paris, 1866, cols. 24$ e7/16.] ser dados no principio da Quaresma. [...]
Aos irmaos doentes ou fracos sera conferida uma tarefa ou oficio de i
tal natureza que os mantenha longe da ociosidade e ao mesmo tempo
nao os sobrecarregue ou afaste com trabalho excessivo. A sua fraqueza
REGRA DE S. BENTO: deve ser toinada em consideracao pelo abade.
CAP. 48 — SOBRE O TRABALHO MANUAL DIARIO
[S. P. Benedicti, Regula Commentata, cap. 48, in J. P. Migne, Patro-
A vida simples do monge beneditino repartia-se, segundo logiae Cursus Completus, Series Latina, t. LXVI, Paris, 1866 cols. 703
aregra primitiva (século VI), entre 0 oficio divino, 0 trabalho e 704.]
manual e a leitura. 0 trabalho que deveria durar seis a oito
horas diérias, dependeria das necessidades do local e das (1) Dia 1 de Outubro. (7) Primeira hora canonica coincidindo com as 6 horas da
possibilidades e resisténcia dos monges. manha. (3) Oficio remdo normalmente as 3 horas da tarde (nona hora). (4) Oficio
eelebrado depois da nona, a hora variavel. (5) Oflcio oelebrado normalmente as 9
horas da manha.
A ociosidade é inimiga da alma. Por isso os irmaos devem estar ocupados
a determinadas horas no trabalho manual e de novo a horas fixas na lei-
tura sagrada. Para isto pensamos que as horas para cada ocupaeao poderao
ser deterrninadas como se segue. .
Desde a Pascoa até as Calendas de Outubro (1) quando saem de manha
a hora prima(2), que trabalhem em tudo o que for necessario até cerca
da quarta hora e desde alquarta hora até cerca da sexta que se entreguem
a leitura. Depois da sexta hora, tendo deixado a mesa, que descansem nas
suas camas em perfeito siléncio; ou se por acaso alguém deseja ler, que
‘M-AI:inI'ei9H!\@
leia para si proprio de maneira a nao incomodar ninguém.
Que a Nona (3) seja dita de preferéncia cedo, a meio da oitava hora, e
que voltem de novo a fazer o trabalho que tem de ser feito até as Vésperas (4).
E se porém as necessidades do lugar ou a sua pobreza exigirem que faeam
eles proprios 0 trabalho da ceifa, que nao se sintam descontentes com isso;
porque entao sao verdadeiros monges vivendo pelo trabalho das suas maos
como fizeram os nossos Padres e os Apéstolos. Que todas as coisas sejam §1
feitas com moderagao, todavia, para salvaguarda dos timoratos. ?
Desde ‘as Calendas de Outubro até ao principio da Quaresma, que se
entreguem a leitura até ao fim da segunda hora. Na segunda hora que seja
dita a Terqa (5) e entfio que todos laborem no trabalho que lhes for desig-
no»~.->~.<
OS CAROLINGIOS
137
na Itdlia, provocando distiirbios e amotinacdes nas dioceses dependentes =1 nobreza e o exército, do maior ao mais pequeno, para conversar, a elei-
do patriarca de Constantinopla. v
¢5o caiu, com a ajuda dc Deus e o auxilio dos Santos Apéstolos, sobre
Este facto, unido d presenca sempre ameacadora do Estado Lombardo, pre- 5 P1 pessoa [nome], santissimo arcediago desta Santa Sé Apostolica da Igreja
dispds a Santa Sé a um estreitamento de relacfies politicas com a forca § Romana. E por isto rogamos e suplicamo-vos que, por inspiracao de Deus
° do seu sublime mando, sancioneis rapidamente a nossa peticio, visto
que entdo despontava no Ocidente: a monarquia franca. Confirmando uma
nova dinastia na pessoa de Pepino, a Igreja soldau uma alianca que prepararia h3_V¢r muitos problemas e outros assuntos surgindo quotidianamente que
a sua independéncia definitiva em relacdo ao Oriente. °f"B¢m como solucao 0 cuidado do favor pontificio. [...]Além de que neces-
E 5'_I=1mos de alguém para conservar a distancia a ferocidade dos inimigos
Circundantes, 0 que so 0 poder de Deus e do Principe dos Apéstolos atra-
"¢5 <10 seu vigzirio, isto é, 0 pontifice da cidade Romana, pode fazer. E bem
sabi<l0 que em varias ocasioes 0 [Bispo de Roma] afastou [os inimigos],
m°"gcr0u-os pela exortacio e demoveu-os pela sua intervencao; assim
i I M
P —
apenas pelas suas palavras, por. reveréncia pelo Principe dos Apostolos, 0s MEROVINGIOS
[eles] ofereceram obediéncia voluntaria, e aqueles que a forca das armas E 0s PREFEITOS 00 PALACIO
nao tinha submetido, cederam perante as censuras e observacoes do Pon-
tifice. A decadéncia dos Merovingios foi acentuada, num texto
E porque estas coisas sao assim, uma vez mais vos suplicamos, nosso altamente sugestivo, por Eginhardo (séculos VIII-IX), 3;-0-
excelso senhor, que Deus guarde, que, com a ajuda e inspiracao de Deus nista de Carlos Magno. ’ '
no vosso coracao, possais rapidamente dar ordens para adornar a Sé
Apostolica pela completa ordenacao do mesmo, nosso pai e pastor. [...] A raga dos Merovirigios, na qual os Francos tinham por hibim gscglhgr
os seus reis, passa porter durado até ao rei Chi1derico(1), que foi por ordem
I
[Liber Diumus Romanorum Pontificum, cap. n, tit. IV, in J. P. Migne, do pontifice romano Estévao (2), deposto, barbeado e lanqado num con-
Patrologiae Cursus Completus, Series Latina, t. cv, Paris, 1864, vento. Se bem que a possamos considerar terminando apenas com este
cols. 33 a 35.] '
principe, no entanto estava ja, havia muito, sem qualquer forca e nao
oferecia em si nada de ilustre, anao ser o vao titulo de rei. Porque os meios
e 0 poder do governo estavam entre as maos dos prefeitos do palzicio,
A crsA0 ICONOCLASTA . a quem chamavam mordomos e a quem pertencia a administracao supre-
PROVOCOU rrla. principe devia contentar-se, como iinica prerrogativa, com o titulo
0 ESTREITAMENTO DE RELACDES de rei, a sua cabeleira fiutuante, a longa barba e o trono onde se sen-
' ENTRE 0- PAPADO tava para representar a imagem do monarca, para dar audiéncia aos embai-
E A MONARQUIA FRANCA xadores dos diferentes paises e notificar-lhes, a partida, como eiipressao
‘ r
da sua vontade pessoal, as respostas que lhe haviam ensinado e por vezes,
Sob Leao Iconomaco (1) de novo os Romanos se separaram, tanto do mesmo, imposto. [...] Quanto a administracao do reino, as medidas e as
Império de Constantinopla como*da sua Igreja e por uma abjecta sujeicao disposicoes que era necessario tomar no interior e no exterior, era o pre-
e alianca entabularam negociacoes com os Francos (2), tendo-se ao mesmo feito do palacio quem delas cuidava.
tempo afastado [de Bizancio] toda a Italia (3). Proibiram igualmente que
se pagassem tributos. Em consequéncia disto, Gregorio (4) submeteu ao [Einhardi. Vita Karoli lmperatoris, cap. i, in A. Teulet, Oeuvres Com-
anatema o pseudopatriarca Anastasio (5). pletes d‘Eginhard. t. 1, Société de l’Histoire dc France, Paris. 1840,
pp. 7 a 9.]
‘s
ET‘
(Q
OS CAROLINGIOS 141 ii
140 TEXTOS I-IISTORICOS MEDIEVAIS
<1.
O FIM DA DINASTIA MEROVINGIA pode ser encontrado nos arquivos da nossa Santa Igreja (2), O mesmo
cristianissimo rei dos Francos enviou o seu conselheiro Fulrad, o venera- <5
Para destituir o rei meravingio e conquistar a coroa, Pepino vel abade e presbitero, a fim de receber estas mesmas cidades, enquanto (U
0 Breve apelou para a autoridade ponrificia. 0 prestigio ele proprio voltava felizmente com os seus exércitos para Franca. O citado
da Santa Sé e a forca da dinastia nascente iniciaram assim
um pacto que veio a ter importancia decisiva na evolucdo
Fulrad, veneravel abade e presbitero de Ravena, juntamente com os emis-
da historia da Europa. O trecho que se segue pertence a sarios do rei Astolfo, entrou em cada uma das cidades tanto da Pentapole
uns anais carolingios obra dos clérigos da capela real e deve como da Emilia, aceitou a sua submissao, tomou reféns e levou consigo
ter sido escrito poucos anos depois do sucesso que regista. para Roma os principais cidadaos de cada uma delas, juntamente corn as
chaves das portas das cidades. Entao depositou no tiimulo de S. Pedro
Ano 749: Burghard, bispo de Wfirzburg, e 0 capelao Fulrad foram envia- as chaves da cidade de Ravena e das varias cidades do Exarcado, exacta-
dos ao Papa Zacarias (1) para o consultarem acerca dos reis de Franea. mente como se dizia no documento de doacao acima citado emitido pelo
Até aquela data eles nao detinham o poder real: deveria isto ser assim, rei, pelo qual os apostolos de Deus e 0 seu vigario, 0 santissimo papa, e
ou nao? E o Papa Zacarias enviou a sua resposta a Pepino (1): que seria todos os pontifices que lhe sucedessem, deveriam possuir perpetuamente
melhor chamar rei a quem detinha 0 poder, de preferéncia a fazé-lo a quem as cidades. [...]
permanecia sem autoridade real. Para manter a ordem sem distiirbios,
0 papa entao decretou, em virtude da sua autoridade apostolica, que [Anastasii Bibliothecarii, f_Iistoria de Vitis Romanorum Pontificum
Pepino fosse coroado rei. — Stephanus II, in J. Migne, Patrologiae Cursus Cornpletus. Serim
Latina, t. orxvui, Paris, 1880, cols. 1099 e 1100.]
r [Annales Iaurissemes. A. 749, in Monumenta Germaniae Historica
—-Scriptures, t. 1, I-Iannover, 1826, p. 137.] (1) 749-756. (1) Este documento, se existiu, perdeu-se.
(1) 741-752. (1) Filho dc Carlos Martel. Nasceu em 714 e veio a ser aclamado rei em 751.
lioIrsnsi nfiiub
I-
' "* ' 7 »‘ — .___ 7"
os cARoi.tNoi0s 143
142 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
~
A <<DOACAO, DE CONSTANTINO»
lembrou-lhe e tentou persuadi-lo com paternal afecto arque Cumprissc todas
as promessas feitas pelo seu pai Pepino de sagrada memoria, e pelo pg-<5-
Forjado possivelmente no século VIII, este documento, incluindo prio Carlos e 0 seu irmao Carlomano e todos os magnates francgs 3
uma biografia lenddria do Papa Silvestre I (314-335), veio S. Pedro e ao seu vigario, 0 Papa Estévao (3) dc santa memoria, quando ele
a ser posteriormente muito ut_il a Igreja, que nele encontrava foi a Franea outorgar as varias cidades e territorios daquela provincia,
a fundamentacaa legal do seu poder temporal. Segundo o italiana e confia-las a S. Pedro e a todos os seus vigarios, em posse pg;-.
documento, o imperador Constantino, curado da lepra pelo
Papa S. Silvestre, entregara-lhe, em reconhecimento, a juris- pétua. Quando foi lida a promessa feita em Franca num lugar chamado
dicdo temporal do Ocidente, retirando-se em seguida para Kiersy, [Carlos] e os seus magnates apreciaram-na, aprovando também
Constantinopla. as adicoes. E por sua livre vontade 0 muito excelente e cristianissimo 1-cg
dos Francos, Carlos, fez uma nova promessa de doacao segundo 0 modelo
Também para enaltecer a grandeza do império e nao dirninuir a supre- da que anteriormente havia sido escrita pelo seu religioso e muito pru-
macia pontificia, mas antes adornar a sua dignidade que é mais elevada dente capelao e escriba Eterio. Nela confirmava a S. Pedro as mesmas
do que a de um império terreal e a forca da sua gloria, concedemos e entre- cidades e territorios e ele proprio defendia a sua entrega ao citado pond-
gamos ao ja mencionado santissimo pontifice, 0 nosso [padre] Silvestre, fice, dentro dos limites contidos nessa doacao, ou seja, Lw|¢(-1) com a
0 papa universal, e ao poder e jurisdicao dos pontifices seus sucessores, ilha da Corsica, Surianum (5), o Mons Bardo, isto e, Vercetum (5), Parma,
nao apenas 0 nosso palacio (1), como foi anteriormente citado, mas também Rhegium, Mantua, 0 Mons Silicum(7) e ao mesmo tempo todo o exar-
a cidade de Roma e todas as provincias, pracas e cidades de toda a Italia cado de Ravena, como era antigamente (8), as provincias venezianas, a
e das regioes do Ocidente [...] como uma pessessao legal e permanente lstria e os ducados Spoletinum e Benaventanum.
da Igreja Romana. [...]
[Anastasii Bibliothecarii, Historia de Vitis Romanorum Pontificum
1
[Edictum Constantini ad Silvestrum Papam, in J. P. Migne, Patro- Adrianus, in J. P._ Migne, Patrologiae Cursus Completus, Series
logiae Cursus Completus, Series Latina, t. vm, Paris, 1844, col. 577]. _ . Latina, t. cxxvin, Paris, 1880, cols. 1179, 1180.]
(1) O palacio dc Latrao. (1) A 6 de Abril de 114. (1) 0 Papa Adriano I (112-195). (3) Estévao II (152-151).
(‘)1-uni, a sueste de La Spezia. (5) Sarzana. (6) Berceto. (7) Monselice. (3) Ame;
-\ das conquistas de Liutprando.
A CONFIRMACAO DAL DOA¢A0 DE PEPINO
POR CARLOS MAGNO (774)
CARLOS MAGNO DIRIGIU-SE AO PAPA LEAO III'
Tendo ido celebrar a Pdscoa de 774 a Roma, Carlos Magno, DEFININDO OS DEVERES DE AMBOS (796)
a pedido do Papa Adriano I (772-795), mandou redigir uma
nova promessa de doagrio de territorios a Santa Sé, con- Quatra anos antes do seu coroamento, Carlos Magno di,-i.
It-flw-b-»h:.wn4hoe,~r-os.g,qh_\
firmando a que era atribuida a Pepino. A partir de entdo giu ao Papa Leda III (795-816) uma carta que ficou ¢éI¢b;-e
o Papado ficava com a soberania potencial de trés quartos por nela definir em que deveria consistir a calaborapao
do Itolia. A Historia das Vidas dos Pontifices Romanos entre o reino franco e 0 pontifice romano.
donde se extraiu o trecho que se segue, foi escrita no segunda
metade do século IX.
ptzénrfiidtzjeurgeicgrisoagcim 0 Santissimcg predecessor (1) de ‘vossa
live] dc fé e camiade (J16 formic: ecer com vossia ‘antidade um pacto lIlVl0-
1 [...] Porém, ria quarta-feira (1), 0 pontifice (2) acompanhado pelos seus digni-
tarios, tanto eclesiasticos como militares, encontrou-se com o rei na Igreja vossa samidade a ,' _ que a graca 1V11'1fl.'ObIld3. pelas preces da
postolica e a vossa bencao apostolica me possam seguir
de S. Pedro apostolo para uma entrevista. Suplicou urgentemente ao rei,
144 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS OS CAROLINGIOS 145
por toda a parte, enquanto, se Deus quiser, a Santissima Se da Igreja Romana pela sabedoria e sublime autoridade real. A salvacao das igrejas de Cristo
estara sempre defendida pela nossa dev0<;5°- N3 V°Tdad° é 11°55‘) devcr’ agora em perigo repousa apenas em vos: sois 0 vingador das mas accoes,
com 0 auxilio da divina piedade, defender por toda a_parte com as darmfls o guia daqueles que andam perdidos, 0 consolador dos que estao tristes,
a Santa Igreja de Cristo, tanto das mcursoes dos pagaos como das _cv-‘IS a exaltaoao dos bons. [...]
tacoes do infiel, e fortifica-la no exterior e no interior pela profissao da
fé catolica. E vosso dever, a fim de erguerdes as maos para Deus como [Alcuini Epistolae, 174, in Mormmenta Germaniae Histori'ca—Epistolae
Moisés Santissimo Padre, auxiliar as nossas armas de forma a que, POT
Y - ~
Karolini Aevi, t. V 11, Berlim, 1895, p. 288.]
vossa intercessao e pela vontade e pela gr8<;a <19 Deus» ° P°"° °"5ta°
obtenha para sempre a vitoria sobre os inimigos do Seu Santo nome, e
(1) Todos os frequentadores da <<Eseola Palatina» tinham adoptado um pseudonimo
literario. Carlos Magno usava o de Rei David. (1) Pseudonimo de Alcuino. (3) Refe-
ll
ill
0 nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja glorificado atravefi <1¢ 1°90 ° rencia aos distiirbios havidos em Roma apos a. eleiqao do Papa Leao III (795-816) e como
mundo. oonsequéncia da mesma. (4) Alusao a deposiqio do imperador Constantino VI, em
Julho de 797, pela sua propria mae, a imperatriz Irene.
[Caroli‘ Magni' Epistolae
‘
ad Leanem III _PflP¢1P"- "1
'
3 - PI Mignev
, Pa.
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° allgusto.
Até hoje trés pessoas tem ocupado as mais altas posiooes neste mundo! 5-
a sublimidade apostolica que, como vigaria do bem-aventurado Pedro.
‘WWQ [Annales Laurissenses. A. 801, in Monumenta Gemianiae Historian-—
principe dos apostolos, rege o seu cargo; a vossa veneranda bondadfi Scriptures, t. r, Hannover, 1826, p. 188.] 1
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l
Império foi deposto, nao por estrangeiros, mas por‘ parentes e concida;
(1595, espalhou-se por toda a parte (4). A terceira é a dignidade real da quilt I
(
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1
Apcsar dc a tcr cm tanto respeito, apenas viajou até Roma para cum- l
RAZCES DA ELEICAO DE CARLOS MAGNO
prir as suas promcssas e fazer as suas preces quatro vezes durante os qua- rl
0 texto a seguir transcrito, conramporzineo dos eventos rcnta c sete anos do seu reinado.
regmadas, pretende justzficar a atitude de Carlos Magrio Mas para a sua filtima viagem houve ainda outra razao. Os Romanos
perante os imperadores bizantinas, para quem a cria¢a0 tinham infligido muitas injfirias ao Papa Lefio (1), arrancando-lhe os olhos
de um Império do Ocidente teria de ser sempre uma llega~-
lidade e uma‘ usurpapfiv. e cortando-lhe a lingua (2), pelo que cstc se sentiu compelido a implorar o
auxilio do rei.
E ’ como o titulo dc imperador tivesse entio acabado entre os Gregos, -
Por esta razio [Carlos Magno] foi a Roma a fim dc rcstaurar a ordem
visto que tinham o govemo de uma mulher(1), paraccu ao Papa Leao nos negocios muito pcrturbados da Igreja e ai permaneceu durante todo
c a todos os santos Padres reunidos no concilio (2), assim corno ao restante 0 Inverno. Nessa altura reccbcu_ os titulos dc Imperador e Augusto. Mas
do povo cristio, que deveriam nomear imperador Carlos, rei dos Francos, a principio desagradou-lhe tanto este acto que declarou que se acaso tivesse
na medida cm que possuia nao apenas a propria Roma onde os Cesares podido conhecer com antecedéncia a intenqio do pontifice, nao tcria en- |
‘I
costumavam sempre residir, mas igualmente as outras sedcs na R8118, trado na Igreja naquele dia, embora fosse um dia muito fcstivo. Porém,
Galia e Germania. Visto que Deus todo-poderoso tinha confiado a sua aguentou muito pacientemente a inveja suscitada por estes titulos nos
autoridade estes lugares, parecia-lhes justo que com a assisténcia dc lDeus imperadores romanos, que so mostravam indignados. Enviando-lhes fre- ll
¢ dc acordo com o pedido do povo cristio ele usasse também 0 titulo. quentcs embaixadas e chamando-lhes irmaos nas cartas venceu a sua tel-
u
O rei Carlos nao se sentiu capaz dc recusar este pedido, mas com humil- mosia com a magnanimidade, na qual lhes era indubitavclmcntc superior. l
[Annales Laureshamenses. 11.80], in Monumenta Germanic: Histarica (') Ldo III (795-816). (1) Estas sevlcias parece nio terem sido posta: em pratica, como My
l
—Scriprores, t. I, Hannovcr, 1826, p. 38.] se depreende dz subsequent: actuaqio do papa.
N
desagrado ao tomar conhecimento deles. D°Pois de- ter tido muitas e insignes vitorias na provincia da Mésia,
Quis Car1oS_.Ma'gno qug a Igreja de S. Pedro fosse nao apenas defen- ° Imperador Nicéforo foimorto numa batalha travada com os B1'1lgaros(l)
'T
. - - ' ' rua- ° 0 seu genro Miguel feito imperador. Foi este quem recebeu e satisfez
dida e protegida por si, mas que pelas suas dadivas ultrapassassc em 0
°m Constantinopla os embaixadores do imperador Carlos que tinham l'\
mcntos e riquezas todas as outras igrejas.
<9
143 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
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~__.
os CAROLINGIOS ,5, l
I
a obra de Alcuino (735-804) intitulada Dialogo sobre a sidade do cultura das letraserri prol de um melhor entendi- I.
Retérica e as Virtudes (794 ou 796). Transcrevemos, como memo das ESCI'ilIlfdS."
exemplo das producfies literdrias carolingias, 0 inicio deste l.
I
didlogo, onde intervém Carlos Magno e Alcuino.
Seja portanto conhecido da vossa devoqio que a Deus seja agradavel, 1
que nos, juntamente com os nossos fiéis, consideramos de utilidade deve-
CARLOS — Entre 0 Deus trazer-tc e levar-te, 6 venerando Mestre Albino (1),
rem os bispados e mosteiros confiados pelo favor dc Cristo a nossa direc- l
peco-te que me permitas interrogar-te sobre os preceitos da arte da reto- ‘l
<;5.o, em acréscirno a regra da vida monastica e a pratica da santa religiio,
rica: na verdade recordo-me de me teres dito uma vez que a forca desta arte lI
ser também zelosos na cultura das letras, ensinando aqueles que por dadiva \
reside toda em versar problemas publicos. Ora, como bem sabes, devido
dc Deus sao capazes de aprender, segundo acapacidade de cadaindividuo. [...] 4
as ocupacoes do reino e aos cuidados do palacio, acontece-nos estar cons-
Porque quando nos anos recérn-passados nos foram muitas vezes escritas
tantemente ocupados com problemas desse tipo e parece ridiculo desco- (
cartas por parte de varios mosteiros [...] reconhecemos em muitas destas J
nhecer os preceitos de uma arte que nos envolve necessariameme nas nossas \
cartas simultineamente raciocinios correctos e discursos desordenados;
ocupacoes quotidianas. Na verdade, pelo que em parte me abriste das
porque 0 que a piedosa devocio ditava fielmente ao espirito, a lingua sem
portas da arte da retdrica e dos segredos da subtileza dialéctica com as tuas
educacio, devido a negligéncia do estudo, nao estava apta'a exprimi-lo
poucas consideracoes, tornaste-me muito interessado por esses assuntos
sem erro._Logo aconteceu comecarmos a temer que assim como a habi-
e especialmente porque outro dia me conduziste sagazmente ao celeiro
lidade para escrever era menor, também a sabedoria para compreender
da disciplina aritmética e me iluminaste com 0 esplendor da astro-
as Sagradas Escrituras fosse possivclmente muito inferior a que na rea-
logia.
lidade deveria ser. E todos nos sabernos bem que, embora os erros das
l
ALialNo—Deus iluminou-te, meu Senhor Rei Carlos, com toda a luz palavras sejam perigosos, muito mais perigosos sao os erros do pensamento.
da sapiéncia e ornou-te corn a claridade da ciéncia, de forma que nao so Por isso exortamo-vos, nao apenas a nao desprezar o estudo das letras,
podes seguir rapidamente os engenhos dos mestres, como mesmo ultra- mas também a estudar diligenternente com a intencio mais humilde, agra- ll
l
passar velozmente a muitos; e embora o meu pequeno engenho nao possa davel a Deus, a fim de que possais mais facil e correctamente penetrar Il
acrescentar luz a cintilante chama da tua sapiéncia, para que nao me con- OS rnistérios das diversas Escrituras. [...] Poi-tanto, se descjais conservar
8 nossa graca, nao deixeis de enviar copias desta carta a todos os vossos i\
siderem desobediente, responderei prontamente as tuas perguntas e oxala
o faca tao sagaz quanto obedientemente. Sufraganeos e aos bispos vossos colegas, assim como a todos os mosteiros. \
l
[Alcuini, Dialogus de Rhezorica er Virruribus. in J. P. Migne, Patro- [Monumenra Germnniae His-tar|'ca—-Legum, t. I, Hannover, 1835,
logiae Cursu: Completus, Series Latina, t. cl, Paris, 1863, cols. 919 pp. 52-53.] \
e 920.]
A FUNDACAO DE ESCOLAS MONACAIS mimero de pontos (1). Concebeu a ideia de lhes acrescentar o que lhes fal-
E CATEDRAIS tava, de lhes suprimir as contradicoes e de lhes corrigir os vicios e as
mas aplicacoes. Mas deste projecto nada foi feito, salvo 0 acrescentar as
No seu Admonitio Generalis, em 789, Carlos Magno inci- leis um pequeno nfimero de capitulares que ficaram imperfeitos (2).
tou osmosteiros e bispados a estabelecerem escolas para Todavia ordenou que todas as leis nao escritas dos povos que viviam sob
todas as criancas e a reverem os seus livros de texto, a fim
o seu dominio fossem recolhidas e redigidas (3). Os poemas antigos e bar-
de que a instruefio na fé catolica se pudesse fazer correc-
tamente. baros, nos quais as accoes e as guerras dos antigos reis eram celebradas,
foram igualmente escritos, por sua ordem, para serem transmitidos a pos-
Cap. 71 —E imploramos também da vossa santidade que os ministros teridade. Mandou ainda comecar uma gramatica da sua lingua nacional
do altar de Deus adornem os seus ministérios com boas maneiras, e igual- e deu nomes tirados dessa lingua a todos os meses do ano. A nomencla-
mente no que respeita as outras ordens que observam uma regra e as con- tura usada entre os Francos tinha sido até entio meio Iatina, meio bar-
gregaqoes de monges. [...] E seja-lhes permitido agregar, reumr e asS0¢1fi1' bara. Distinguiu os ventos por doze designacoes proprias, enquanto antes
a si proprios, nao apenas os meninos de condicio servil, mas também dele nao havia mais de quatro para os designar.
os filhos dos homens livres. E que se estabelecam escolas onde as criancas
aprendam a ler. Emendai cuidadosamente, em cada mosteiro ou bispado, [Einhardi, Vita Karoli Imperatoris. in A. Teulet, (Euvres Cornplétes
d‘Egirzhard. t. 1, Société de l'I-listoire de France, Paris, 1840, pp. 89
os salmos, os sinais da escrita, os cantos, o computo, a gramatica e os a 91.]
livros catdlicos; porque muitas vezes alguns desejam rezar a Deus correc-
tamente, mas rezam mal por os livros nao estarem corrigidos. E nao per- (1) A Lei Salica e a lei dos Ripuarios. (1) A mais importante destas capitulares 6 a do
ano 802, Capitula data missus dominicis. (3) As leis dos Frisoes, Saxoes e Turlngios.
mitais que as vossas criancas os corrompam ao ler ou ao escrever. Se for
necessario escrever 0 Evangelho, o Saltério e 0 Missal, que homens de
5181111123 capitulares introduziram também modificaooes nas leis dos Lombardos, Ala-
manos, Borginhoes e Visigodos.
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idade madura os escrevam com toda a diligéncia.
4
,7
1
De maneira menos notoria, a pressfio do Oriente fez-se tambem senttr n0 civil. Eginhardo (séculos VIII-IX) fala-nos de algumas dessas
1
dominio das artes menores. As preciosas iluminuras dos manuscritos, aS J.
obras.
4
cinzelagens; os esmaltes e as marfins trabalhados conjugaram um S051" 8”‘
mém-co P”-mm-V0 onde m-unfava 0 mm,-V0 gegméirica abstracto, com o figu- Este principe, que se mostrou tao grande ao estender o seu império e domi- 1
mmo dc tradicfia romana mediterrdnica nar as nacoes estrangeiras, e que esteve constantemente ocupado com a
1
1
156 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
(1) Moguncia. (1) Este castelo estava situado a quatro léguas de Mogimcia. Foi
reconstruldo pelo imperador Frederico I, assim como 0 de Nijmegen. (3) Nijmegen.
(4) O rio Waal.
| 4
1..
7 W " ' "”
I 1.
A ASTENIA COMERCIAL PRECURSORA
E GERADORA D0 FEUDALISMO
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1
1
sua igreja muitos milhares foram massacrados. O povo dc Wormatia (2) que se dirigia ao palacio e a assembleia geral do seu povo, organizada todos
foi destruido depois de um longo cerco. A poderosa cidade de Remi(3), os anos para os negocios pfiblicos; e era assim que voltava para sua casa.
os Ambianos (4), os Altrabtas (5), os Belgas nos confins do mundo, Tuma— [Einhardi, Vita Karoli Imperatoris, cap. I, in A. Teulet, (Euvres Com-
cum (6), Spira (7) ¢ Sn-3,ti5burgatn(3) cairam perante os Germanos. As plétes d'Eginhard, t. t, Société de l’Histoire de France, Paris, i840, p. 9.]
provincias da Aquitfinia e da Novempopulania(9), de Lugdunum (10) e
Narbo (11), com 3 excepqao de poucas cidades, todas foram arrasadas.
Aqueles a quem a espada poupa no exterior _s5o devastados pela fome O RENDIMENTO DE UMA VILLA CAROLlNGIA
no interior. N50 posso falar dc Tolosa sem lagrimas; tinha sido defen-
dida de cair, até aqui, pelos méritos do seu ilustre.bispo, Exuperius. Mesmo O predominio de uma economia rural e fechada em plena
época carolingia é claramente ilustrado pela capitular De
os Hispanicos estao perto de perecer e tremem diariamente quando lembram
Villis (c. 800). Preocupado com a administracfio das suas
a invasao dos Cimbros (12), e o que outros sofreram no passado sofrem propriedades, Carlos Magno exigiu um inventdrio dos seus
continuamente no temor. _ rendimentos, de cujo enunciado transcrevemos um capitulo.
Faco siléncio sobre outros lugares para nao parecer desesperar da mise-
Cap. 62 — Que cada mordomo (1) faca um relatério anual de todos os nossos
I111
ricordia divina. Do mar Pontico (13) aos Alpes Julianos (14), o que outrora“
era nosso deixou de o ser. [...] rendimentos agricolas: um rol do que os nossos boieiros cultivam com os 40-I
bois e dos amansos» (2) que devem lavrar: um rol dos leitoes, das rendas, das 10-
,
[S. Jeronirno, Epistola 123, ad Ageruchiam, in J. P. Migne, Patrologiae
Cursus Completus, Series Latina, t- XX", ¢0|- 1957-]
.1
obrigacoes e muitas; da caca apanhada nas nossas florestas, sem licenca;
das varias composicoes; dos moinhos, das florestas, dos campos, das pon-
on
(1) Mainz. (1) Worms. (1) R=ims- (4) Povulasiv vréxima <l= Ami="=- 1‘) T'ib° ‘1“° tes e barcos; dos homens livres e das <<centenas»(3) que tém obrigaqbes
me
HM
vivia perto de Arras. (6) Tournai. (1) Sp=y=r- 1') $tm=burs- (9) Uma <1” <1i°<==$°= para com 0 nosso fisco; dos mercados, das vinhas e daqueles que nos devem
romanas da.Galia, entre a Aquirania e a Narb<>n=ns~=- 0°) Lvom (") Narbvnfle vinho; do feno, da lenha, varas, tabuas e outras espécies de madeiras;
(12) ‘Q3 Cimbms invadiram a Peninsula nos finais do século ll a. C., combatendo os das terras vedadas; dos vegetais, milhete e painco; da la, linho e canhamo;
Celtiberos. (11) o mar Negro. (14) Resiiv dos Alpes = nem do Adfifi'i°°- dos fnrtos das arvores, das aveleiras, tanto das maiores como das mais
- Pequenas; das arvores enxertadas de todas as espécies; dos hortos; dos
Mbos, dos viveiros de peixes; das peles e coiros; do mel, e cera; da gor-
A VIDA RURAL NA CORTE MEROVlNGIA dura, sebo e sabio; do vinho de amoras, vinho cozido, hidromel, vinagre,
°¢W¢ja, vinho novo e velho; do trigo recente e antigo; das galinhas e ovos;
Este texto célebre de Eginhardo, cronista e contemporaneo d°8 gansos; dos pescadores, ferreiros, armeiros e sapateiros; das areas
de Carlos Magno, mostra bem a profunda regressdo eco- ¢ cofres; dos tomeiros e seleiros; das forjas e covas, ou seja das minas de
nomica da época dos Merovingios (séculos 1Va VIII). No rein0 ferro e outras e das minas de chumbo; dos tributaries; dos poltros e égua-
dos Francos nasciam as condicfies que fariam desabrochaf
o feudalismo. zmhas. Dar-nos-50 conta de tudo isto, descrito separadamente e em ordem,
"~'"1_Natividade do Senhor, a fim de podermos saber o que temos de cada
coisa e em que quantidade.
[...] A excepcao deste inutil nome de rei e de uma pensio alimentar mil
assegurada, [o principe] nada possuia de seu além de uma unica terra 4°
[Monumenta Germaniae Historica—Capitularia Regum Francorum,
um rendimento modico, que lhe proporcivnava uma h8bila<;5-0 §11m P¢q11°n° ed. A. Boretius, t. 1, Hannover, 1883, pp. 85 a 89.]
numero de-servidores as ordens, encarregados de lhe conseguirem o neces- Ill
0) ludex no original latino. (1) Casais. (3) Centena é neste caso uma unidade admi-
sario. Se tinha dc ir a qualquer parte, era sobre um carro puxado por HIP” nistrariva nos dominios do fisco.
junta de bois, que um boieiro conduzia a maneira dos aldeios; era assim z. m__ H
aqa»-'
-r-vn“
FEUDALISMO 163
162 raxros HISTORICOS MEDIEVAIS
2.
AS INVASOES NORMANDAS O PARCELAMENTO DO DIREITO
E A crusts DA MONARQUIA
(SECULO IX) DE PROPRIEDADE
As devastacoes normandos nao s6 provocaram uma grave 0 parcelamento e a hierarquizacfio do direito de propriedade, que economi-
crise politico em Franco, levando d deposzcao do rei carolm- camente caracterizaram 0 sistema feudal, nasceram de duas situacfies dife-
gio Carlos o Gordo (887) e a eleicfio de Eudes (888), como rentes, mas convergentes:
crioram um grande mal-estar economico. 0 trecho que se
segue é da autoria do monge Richer, que viveu na segundo l) Um senhor que possuia terras em abunddncia e necessitava de bracos
metade do século X. para as trabalhar cedia algumas parcelas a colonos, a troco de um paga-
MCHIO em generos 8 em S€I'Vi§0S,'
Feito rei, [Eudes](1) agiu sempre com energia e felicidade; todavia, absor-
vido pela guerra, so raramente pode prestar justica. Com efeito, seteAvezes 2) Os pequenos proprietdrios, sentindo-se inseguros, preferiam entregar
na Néustria combateu e derrotou os piratas (Z), e nove vezes os pos em a um senhor mais poderoso a sua terra, juntamente com alguns servicos, a
fuga, isto no espaco dc aproximadamente cinco anos. A expulsao (destes troco de proteccfio (encomendavam-se ao senhor).
piratas] foi seguida por uma grande fome (3), visto a terra ter ficado inculta As concessfies de terras, a principio nda hereditdrias, foram designadas
durante trés anos. Uma medida de trigo, igual a décima sexta parte de um por precarias (desde 0 século VIII) e beneficios. (termo de significado
almude (4), vendia-se por dez dracmas (5); uma galinha, por ouatro; um E mais largo, englobando a precaria e utilizado até ao século XI), para final-
carneiro valia trés oncas (6), uma vaca valia onze. N50 se fazia qualquer mente, ja hereditérias, se generalizarem sob o nome de feudos (a partir
comércio de vinho, pois estando todas as vinhas cortadas, mal se collua. do século XI).
O rei rmndou construir fortificacoes nos locais abertos as irrupcoes dos pira-
tas e colocou ai tropas; ele proprio se retirou para a Aquitania com um
exército, propondo-se voltar apenas quando a medida d¢ 158° 115°
mais de dois dracmas, as galinhas um dinheiro q), <1“?-"d° °5 °am°“°s FORMULA PELA QUAL UM I-IOMEM LIVRE
se vendessem por dois dracmas e as vacas por tree oncas. SE ENCOMENDAVA A UM SENHOR (SECULO VIII)
- ' ' ,1 , l'v. 1, Société de l'Histoire de Francs. Esta formula, proveniente de Tours e reportando-se a uma
§§§§?°i;.f¢'§§§"§= §.“Z';'u'§¢'i$f =.'1. Paris. 184$. pp. 11-19.1 1. instituictio existente anteriormente d época em que foi exa-
rada, revela-nos as caracteristicas essenciais da <<encomen-
(1) Eudes, duque de Franca, foi proclamado rei um ano depois d3 d=P°$i¢5° 4° _C‘_""°‘ dacfio»: a reciprocidade das obrigacfies do protector e do
O Gm-do (337), (2) ()5 no,mmd°s_ (3) Em 889. (4) O almude em Portugal oscilava protegido e a variedade dos mesmas. no medida em que os
entre 18 e 26 litros, sendo 0 seu valor em Frank? $¢11$iV¢lm¢fll¢ 0 m=$m°- (5) M°°d‘_ servicos a prestar, aqui niio especificados, deveriam poder
de pfam de origem grega aproximadamente equivalente ao dinheiro. (5) A 01113 "hf ser de tipos distintos.
‘/16 da libra (neste periodo equivalente 3 pouco mm d= 400 smm==)- (") Ham 24° 4"
nheiros de prata numa libra. AQUELE QUE SE ENCOMENDA AO PODER DE OUTRO
A° magnifico Senhor [...], eu [...]. Sendo bem sabido por todos quao pouco
lenho para me alimentar e vestir, apelei por esta razao para a vossa pie-
dad¢, tendo vos decidido permitir-me que eu me entregue e encornende
3° vosso mundoburdus (1); o que fiz nas seguintes condicoesz devereis aju-
E 5
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I 4 \
(1) Termo dc origem germanica e grafia variavel que designa a protecgao conferida por A CAPITULAR DE QUIERSY-SUR-OISE (877)
um senhor. (1) Este tipo de auxilio deveria ser 0 mais vulgar, mas nao exclui a possi- E A HEREDITARIEDADE DO BENEFlCIO
bilidade de outros.
Nestas decis5es tomadas por Carlos o Calvo antes de partir
r para uma expedipfio d Itdlia (877), conferiu-se ao bene-
ficio um cardcter hereditdrio, legalizando provisbriamerite
FORMULA PARA OBTER UMA TERRA uma prdtica habitual. A transmissfio do beneficio ligavase
EM PRECARIO (SECULO vn)
Na maior parte dos casos, o aencomendado» recebia como
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_.\~
jd, de resto, d do propria cargo publico (honor) que lhe
andava associado. 111111
meio de sustento uma terra para cultivar. Esta concessfio, v 9 —Se morrer um conde, cujo filho esteja connosco, o nosso filho com
-4
feita quase sempre a tltulo pouco oneroso, era denominada outros nossos fiéis escolhera de entre aqueles que forem mais familiarcs
beneficio e obtinha-se por um contrato de precario. A c proximos do conde, quem tome conta do condado juntamente com 0
precaria era normalmente vitalicia e implicava o pagamento bispo e os mim'steriaIes (1) do proprio condado, até que a ele renuncie junto
de um censo leve.
dc nos. Se porérn [0 conde] tiver um filho menor, este, com os ministeriales
A0 veneraivel padre em Cristo, o senhor abade do mosteiro de tal e a toda do condado e o bispo de quem depende a paroquia, tomara conta do con-
a sua congregacio ai residente. Eu, em nome de Deus, venho até junto de dado até que a noticia chegue até nos [a fim dc que possamos honrar o
vos com um pedido de precario. De acordo com a minha peticio, deci- filho [...] com os cargos de seu pai](Z). '
diu a vossa vontade e a dos vossos irmios que aquela vossa propriedade
-
-1 Se na verdade nio tiver filho, que o nosso filho com os outros nossos
fiéis escolha alguém que juntamente com os ministeriales do proprio con-
no local chamado[...], na terra (1) de [...], na centena (2) de [...], me devesse
ser entregue, por vosso beneficio, enquanto eu fosse vivo, para a usufruir dado e o bispo, governe 0 condado até que por nossa ordem isso se decida.
e cultivar; o que assim fizestes. E prometo-vos pagar de censo, por esta E que ninguém fique irado se nos entao dermos o condado a qualquer
precaria, em cada ano, por altura da festa de [...], [...] dinheiros. E se
5
Olltro homem, como for de nosso agrado, e nao aquele que até entio 0
eu me descuidar [desta obrigacao] ou aparecer tardiamente, que vos faca -~
80)/ernava. Que se faca 0 mesmo em relacfio aos nossos vassalos. Que-
uma promessa de pagamento ou vos satisfaca [0 devido] nao perdendo Ffimos e ordenamos expressamente que tanto os bispos como os abades
° ¢0ndes e também os nossos outros fiéis procurem fazer 0 mesmo com os
eu esta propriedade enquanto for vivo. [...] E depois da nossa morte voltarzi
56118 homens; e 0 bispo vizinho e 0 conde governarfio tanto os bispados
E
4
156 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
1
como as abadias para que ninguém subtraia _as coisas ou poderes eclesias- F
, .4~4
1
Q
A CONDICAO DO BUCCELLARIUS
NO ESTADO VISIGODO 1
1
As leis visigdticas conhecidas por Cddigo de Eurico (469-
-481) registam determinadas prdticas pré-feudais que cons-
tituem um traco de wiiao entre 0 mundo romano e a socie-
I\l-v~b''-\num¢-eui.-b-qtyd
dade medieval. As disposicoes sobre as guerreiros privados
sfio exemplo destas instituicfies em transformaciio.
1
la 1
168 'rax'ros 1-IISTORICOS MEDIEVAIS FEUDALISMO 159
patriio (2). Se porém ele escolher para si outro patrio a quem se queira enco- A CONCESSKO DE
mendar, seja-lhe permitido fazé-lo; porque isto nao pode ser proibido UMA FORMA ESPECIAL DE PRECARIA
ao homem livre que esta em poder [dc outrem]: mas restitua tudo ao patrio AOS MILITARES (143) (1)
que deixa dc servir. Fa<;a-se da mesma maneira no que respeita os filhos
do patrao ou do buccellariusz que [os filhos do buccellarius] conservem as Para defender as franteiras, 0 principe franco, abrigada a
coisas dadas, enquanto quiscrcrn servir [os filhos do patriio]. Se quiserem aumentar as efectivas militares, viu-se na cantingéncia de
abandonar os filhos ou os netos do patrio, restituam todas as coisas que recorrer ds terras da Igreja. Apademnda-se delas, cance-
deu-as a titula temparéria (precarium) aos seus militares,
1 por estes foram dadas aos seus pais. E se 0 buccellarius ao serviqo de um
Y as quais pagariam um censo d Igreja.
~
patrao adquirir qualquer coisa, metade ficara em poder do patrio ou dos
seus filhos; a outra metade iré. para o buccellarius que a adquiriu. [...] Decidimos também, corn oconselho dos servos dc Deus e do povo cris-
tiio, que devido as ameaoas dc guerra e invasoes dc algumas tribos que
[Leges Natianum Germanicarum. L I, I-88¢-T Vl'-"'&’¢"h0f"m. ¢d- K81‘!
Zeumer, Manumenta Germaniae HistarI'ca—Legum. soc._I, t. I, Hanna- se encontram na nossa vizinhanqa, dc futura tomaremos posse, com a
ver-Lcipzig, 1902, t. cccx, pp. 18-19.] indulgéncia dc Deus, dc uma parte da terra (2) da Igreja, sob precario
e mediante um, censo, para 0 sustento do nosso exército e nas seguintcs
(1) Guerrciro privado, reocbendo a manutenfio do seu senhor. (1) Patranus no original. condiqoes. De cada casata (3), um soldo, que sio doze dinheiros, sera pago
I
I
anualmente a igreja ou mosteiro. Mas, se a pessoa que recebeu a proprie-
dade morrer, a Igreja recupcrara as suas préprias terras, a nao ser que,
se a necessidade 0 exigir, o principe ordene que a precaria seja rcnovada
I
FQRMULA PARA NOMEAR UM ANTRUSTIO 5
I
e escrita de novo. Tome-se cuidado cm cada caso que -a igreja ou mosteiro
(PRIMEIRA METADE DO SECULO VII) cuja terra tenha sido concedida em precaria nao sofra por esta razio
pobreza ou necessidade. Se a pobrem o exigir, que toda a possessao voltc
A guarda pessoa! do rei meravingio era formada par antrus- para a igreja e casa dc Deus.
tiones (1), as quais deviam aa manarca ur_n juramento de
fidelidade que representava uma forma przmmva de vas-
- salagem. . [Manumenta Germaniae Hi.\'tarica-—CapituIaria Regum Francarum,
ed. A. Boretius, t. I, Hannover, 1883, p. 28.] '
E justo que aqueles que nos prometeram fidelidadc inquebrantavel sejam (1) Estas mcdidas foram tomadas sob a égide do prefeito do palacio Carlomano I num
favorecidos pela nossa ajuda e protecqao. E visto que [...], nosso fiel, pela fioncilio franco reunido cm Estinncs, no Hainaut (743). (1) Pecunia no original latino.
vontade de_ Deus, veio aqui até ao nosso palacio com as suas armas, e 5 (3) O termo casata esta neste caso tomado como mama, unidadc de cxploragao rural.
jurou nas nossas maos apoio militar (1) e fidelidadc, decretamos e orde-
namos pelo presente documento que daqui para 0 futura odito [...] seja
contado entre o mimero dos antrustianes. E se alguém ousar mata-10 saiba
que sera obrigado a pagar uma composioio (3) dc 600 soldos (4). O JURAMENTO DE FIDELIDADE
FOI ACRESCENTADO A ENCOMENDACFIO
[Monumenta Germaniae Histarica—FarmuIa e Merawingici at Karalini (SECULO VIII)
aevi, ed. K. Zeumer, I-Iannover, 1886, p. 55.]
Em 757, Tassila III, duque da Baviera, aa encamendar-se
(1) O termo deriva do franco trust. que significa auxflio, apoio. (1) Trustis no original
ao rei das Francos Pepino fez um juramento de fidelidade
latino. (3) Wergeld no original latino. (‘) E513. ¢0mP0$i¢5° 6'3 0 t"Pl° d° que 5°
carraborada pela calacapfia das mdas sabre reliquias sagra-
pagava pela morte de qualquer outro homem lrvre.
das. Este é 0 primeiro casa conhecido em que um nobre
-.-
FEUDALISMO 171
l70 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
como seria [considerado] pérfido e perjuro [o vassalo] apanhado a fazer muito que depcnde dos outros, deve mais e estara sujeito para a justica
ou consentir em tais prevaricacoes. aquele de quem 6 o homem ligio(3). [...]
[Leger Henrici Primi, Ixxxn, 3, 4; in Edward P. Cheyney, Readings
[L Delisle, Recueil des Historians des Gaules er de la France, Paris, "I grgllish History drawn fiom the original sources, Boston, 1922
1874, vol. X, p. 463.] p. . ’
(1) Neste caso, sinonirno de beneficio ou feudo. (1) Cansiliurn ct auxilium. O oonsilium (1) Mam” cm latim' (2) N° 56°"1° XI» 8 honra (honor) era umcondado recebido como
era o dever dc conselho e na corte (curtis ou curia) do senhor. O auxilium b°°°f1°'°- Em I-l18|8!¢l'l'a. no entanto, a honour era um conjunto de feudos possuldo por
tanto podia dizer respeito a obrigacbes militares como a uma ajuda pecuniaria ou até um grande vassalo da coroa. S6 estes detinham poderes jurisdicionais. (3) Q siswma ugio
a servicos purasnente domésticos. (3) O senhor devia igualmte ao vassalo consilium n35°°11 POSSIVOIIIICDIC na Nonnandia no decorrer do século XI e pretcndeu opor-sea dua-
(prestacio dc boa justica e conselhos) e auxilium (defesa do vassalo e do seu feudo oontra 81'¢83¢i0 ¢0I1$¢ql1ente da vassalidade multipla, definindo qual o senhor a quem em devido
eventuais inimigos). vassalidade atotal».
3.
—
h.mA-rIm-
A ORDEM DE CAVALARIA
OS DEVERES DOS SENT-IORES
E DOS VASSALOS A cavalaria coma uma ordem, canferinda dignidade e nobreza a quem nela
, NA INGLATERRA DO SECULO XI mgressava, parece ter-se constituida a partir das fins do século VIII, ou seja
no decorrer do reinado de Carlos Magno. Surgiu como consequéncia do for-
Estabelecida em Inglaterra cam a conquista normanda macao de uma classe guerreira privilegiada, subsistiu enquanto essa classe
(I066), a feudalisma nda teve em relacfio aa poder real mfflfere Ilrrra pasicfio de chefia e desapareceu cam as transfarmacfies econo-
a accda dissalvente que lhe coube no continente. A monar- mxco-soczazs que crioram a burguesia endinheirada e modificaram a propria
quia nda perdeu a plena propriedade do solo e manteve todas
as homens livres no sua dependéncia. As relacaes entre as arte do guerra (séculos XV-XVI).
senhores e as seus vassalos abedeceram, no entanto, ds regras 0 periodo dureo da cavalaria foi 0 dos séculos XI e XII durante a qual
impartadas da Narmandia. . 4 Igreja lhe canferiu um carécter quase religioso, intervinda no cerimonia
dd entrega das armas e tentando sublimar as instintos bélicos do cavaleira
E permitido a qualquer, sem punicio, auxiliar o seu senhor, se alguém P810 eslabelecimenta de regras a cumprir e de ideais a atingir.
0 ataca, e obedeccr-lhe em todos os casos legitimos, excepto no roubo,
no assassinate e naquelas coisas que nao sao consentidas a ninguém, sendo A PREPARACAO DO CAVALEIRO
reconhecidas como infames pelas leis.
O senhor deve proceder da mesma maneira com o conselho e a ajuda; 0 aprendizado da cavalaria devia comecar muita cedo e
e deve ir em auxilio do seu homem em todas as vicissitudes, sem malicia» par isso as jovens ingressavam par volta das I2 au I3
E perrnitido a todo o senhor convocar 0 seu homem que deve estar 1 anos em casa de um senhor do mais alta hierarquia, junto
sua direita no tribunal; e mesmo que [0 vassalo] seja residente no mais 4° 41401. como pajens au escudeiros, se iniciavam na futura
profissao. 0 texto é de Raimundo Lula (I235-I315), autor
distante casal(1) da-honra (2) de quem o protege, devera ir ao pleito se 0 J8 uma famosa obra sabre a Ordem da Cavalaria.
seu senhor o convocar. Se o senhor possui diferentes feudos, 0 homem d¢
A
na c"‘ '
lencia - é que 0 cavaleiro
e a escola da Ordem da Cavalaria . mande ensi-.
uma honrasnao é obrigado por lei a ir a outro pleito, salvo se a causa p61’-
tencer aquele para o qual o senhor o convocar. enE‘_0 filho a montar a cavalo, na sua mocidade, porque, se nao o aprender
Se urn homem esta ligado a varios senhores e honras, nao obstante 0 a °. nao
~ o podera» aprender na maioridade.
- - . tambem
Convem , que 0 filho
176 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS FEUDALISMO 177
do cavaleiro, quando escudeiro, saiba cuidar do cavalo; nao convém armas salvo das suas; Nuno Mvares pero fosse rnoco, quando isto ouviu,
menos que seja subdito antes de ser senhor e saiba servir a um senhor, disse que lho tinha em grande mercé e que prazeria a Deus que ainda lho
pois sem isto nao conheceria, quando cavaleiro, a nobreza do seu senhorio. ele serviria com bons merecimentos, e beijou-lhe as maos por isso.
Por esta razao o cavaleiro deve submeter o seu filho a outro cavaleiro, A Rainha, querendo por em obra isto que assim dissera, mandou buscar
para que aprenda a aderecar e guarnecer as demais coisas que pertencem um arnés conveniente para Nuno Alvares e porque ele era de pouca idade,
a honra de cavaleiro. nao lho podiam achar tao pequena; entao disseram at Rainha, como o
Mestre de Avis tinha um arnés que houvera em sendo moco, que seria
[Ramon Llull, Libra de la Orden de Caballeria. parte I, § ll, in Ramon bom para Nuno Alvares, e ela lho mandou pedir.
Llull, Obras Literarias, ed. Miguel Batllori y Miguel Caldentey, Madrid,
1948, p. 111]. E como lho trouxeram, deu-o logo a Nuno Alvares e assim tomou ele
as armas primeiras da-mio da Rainha dona Leonor, e ela dai em diante
sempre o chamou por seu escudeiro.
A ENTRADA DE UM ESCUDEIRO
NA CORTE REGIA . [Fernfio Lopes, Crénica de D. Jada I, cap. xxxm, Livrnria Civili-
mcao, Porto, 1945, vol. I, pp. _67 e 68.]
Na conhecido passa da Cronica de D. Joao I que"se segue,
Femdo Lopes (séculos XIV-XV) dd-nos conta de coma Nuno (1) Alvaro Goncalves Pereira, prior da Ordem do Hospital. (1) Por enderecar. (3) Hen-
Alvares, ainda crianca, fai aceite na corte para at’ fazer a rique II, rei de Castela de 1368 a 1379.
seu tirocinio de cavaleiro. Conseguir introduzir a filho no
corte régia era para o pai a melhor maneira de lhe assegu-
rar um futura brilhante. O INGRESSO NA ORDEM DA CAVALARIA
noa o ao ao a od
[...] vindo dom frei Alvaro Goncalves (1) a casa de E1-Rei dom Fernando, Raimunda Lula (1235-I315) no seu Livro sobre a Ordem
aderencar (1) seus feitos, pediu por mercé a El-Rei que tomasse Nuno da Cavalaria, sintetiza com muita clareza toda 0 cerlmanlal
filvares por seu Inorador, da qual cousa prazendo a El-Rei, outorgou do armamenta do cavaleiro. Transcrevemos aqui as momen-
tos essenciais do ritual.
de o fazer. [...]
E ordenado assim desta guisa, partiu 0 Prior para a corte, quando El-Rei DO MODO COMO O ESCUDEIRO DEVE RECEBER A CAVALARIA
dom Fernando houve guerra com El-Rei dom Henrique (3), e passou por
Santarém e levou certas gentes consigo, e alguns de seus filhos com ele, 1 — Primeiramente o escudeiro, antes de entrar na Ordem da Cavalaria,
entre os quais era este Nuno Alvares moco de treze anos, que ainda nunca deve confessar-se das faltas que cometeu contra Deus. [...]
tomara armas. [...] 2 —Para armar um cavaleiro convém destinar-se uma festa das que do
E chegando a par do castelo onde E1-Rei com sua mulher entao pou- preceito se celebram durante o ano. [...]
savam, estando a mesa, mandaram-nos chamar e perguntaram-lhe onde 3 — Deve o escudeiro jejuar na vigilia da festa. [...] E na noite antecedents
foram e que acharam la donde vinham, eles lhe responderam a tudo, segundo ao dia em que ha-de ser armada, deve ir a igreja velar, estar em oraolo e
as perguntas que lhe faziam. A Rainha dona Leonor falando em isto, como Contemplacao e ouvir palavras de Deus e da Ordem da Cavalaria. [...]
era mulher mui paacaa e de graciosa palavra, disse a E1-Rei, como em 4—No dia da funcao convém que se cante missa solenemente. [...]
sabor, que ela queria tomar Nuno Mvares por seu escudeiro; e El-Rei 9 —Quando o sacerdote tenha feito o que toca ao seu oficio, convém
respondeu que era bem feito, e que ele tomaria por seu cavaleiro Diog0 flntio que 0 principe ou alto barao que quer fazer cavaleiro 0 escudeiro
Alvares, seu -irmao. que pede cavalaria tenha em si mesmo a virtude e ordem da Cavalaria
Entio disse a Rainha contra Nuno Alvares que ela o queria armar d¢ Dara com a graca dc Deus poder dar a virtude e ordem da Cavalaria ao
¢$¢udeiro que a quer receber. [...]
sua mio como seu escudeiro, e que nao queria que doutras maos tomassfi
K. m__lz
“If i
11 — Deve o escudeiro ajoelhar-se ante o altar e levantar a Deus os seus 30 fogo V8038 1IllCl1'3S em CSPCIOS 3. 8.5831‘, C QLIHIIKOS COIIICI q11Cl'13.l1’1 d8 uela
. . _ (1
olhos corporais e espirituais e as suas maos. E entao o cavaleiro lhe cin- Vlafldfi, lmham-Ha muito prestes, e a nenhum nao era vedada E assim
gira a espada, no que se significa a castidade e a justica. Deve dar-lhe um estiveram sempre' enquanto durou a festa, na qual foram armados outros
beijo em significacio da caridade e dar-lhe uma bofetada para que se cavaleiros cujos nomes niio curamos dizer
lembre do que promete, do grande cargo a que se obriga e da grande honra
que recebe pela Ordem da Cavalaria.
[F=mio Lopes, Chranica .1; El-Rei o. Pedro 1. Bibliotheca up Classi-
<=°= Pofluauem, Lisboa, 1895, pp. 51 = ss1.
12 — Depois de o cavaleiro espiritual e terrenal ter cumprido o seu oficio
armando o novo cavaleiro, deve este montar a cavalo e manifestar-se assim
a gente, para que todos saibam que é cavaleiro e obrigado a manter e defen- A CONCESSAO DA CAVALARIA
der a honra da Cavalaria. [...] ANTES DE UMA BATALHA
13 —Naquele dia se deve fazer grande festim, com convites, torneios
e as demais coisas correspondentes ao festirn da Cavalaria. [...] tempo de guerra era fi-equente armar cavaleiros no
propria campo de batalha. A cerimonia, muito simplyic-nda,
podia fazer-se antes do Iuta para incentivar as combatentes.
[Ramon Llull, Libra de la Orden de Caballeria, parte Iv, in Ramon
Llull, Obra: Literarias, ed. Miguel Batllori y Miguel Caldentey, 0 cromsta francés Fraissart (c. I337-c. 1404). presente no
Madrid, 1948, pp. 126 a 128.1 Cdmpo de Aliubarrota, diz-nas que D. Jada I armau at’ 60
novas cavaleiros.
FESTEJOS EM TORNO DE UM NOVO CAVALEIRO Ent5.o.mandou o rei anunciar entre a hoste que quem quisesse tomar-se
cavaleiro avanoasse, e ele daria a Ordem da Cavalaria em honra de Deus
Das grandes festas que se faziam quando era armada cava- e de S5.o Jorge. E parece-me, segundo estou inforrnado, que houve ai 60
leiro um fidalga de grande Iinhagem dd-nos mais uma vez
novas cavaleiros com os quais o rei teve grande alegria e p6-los na pri-
conhecimento Ferndo Lopes (séculos XIV-XV) narranda um
episodio passado em tempo de El-Rei D. Pedro (I357-I367). meira frente da batalha dizendo-lhes:
E
-
<fBelos senhores, a Ordem da Cavalaria é tio nobre e tao alta que nin-
[...] Ordenou E1-Rei de fazer conde e armar cavaleiro Joio Afonso Telo, 8"¢m, que seja cavaleiro, deve pensar em sujidade, vicio ou cobardia,
irmao de Martim Afonso Telo, e fez-lhe a mor honra, em sua festa, que mas deve ser orgulhoso e ousado como um leio quando tem o bacinete
até aquele tempo fora visto que rei nenhum fizesse a semelhante pessoa; 011 0 elmo na cabeca e vé os seus inimigos. E.porque quero que mostreis
ca El-Rei mandou lavrar seiscentas arrobas de cera, de que fizeram cinco figlfilasa01:16 pertence Inostré.-las, envio-vos e mando-vos para a primeira
mil cirios e tochas, e vieram do termo de Lisboa, onde El-Rei entao estava, dc sun-a Zltllha. Fazei pois de tal forpia queai tenhais honra, porque
cinco mil homens das vintenas para terem os ditos cirios. E quando 0 conde eira as vossas esporas nao estanam bem assentes.» Cada
houve de velar suas armas, no Mosteiro de S50 Domingos dessa cidade, "W0 cavaleiro respondeu por sua vez e disse ao passar diante do rei:
ordenou El-Rei que dés aquele Mosteiro até aos seus Pacos, que é assaz F <<Senhor, faremos bem, se Deus quiser, enquanto tivermos a Sua graca
grande espaco, estivessem quedos aqueles homens todos, cada um" com 1; 0 vosso amor.» Assim como vos digo se ordenaram os portugueses e se
seu cirio aceso, que davam todos mui grande lume, e El-Rei, com muitos Ortlficaram ao lado da Igre_1a de Al_]l1b81’l'Ot3. em Portugal, e nao houve
in~dI¢>4»-A1‘
fidalgos e cavaleiros andavarn por entre eles dancando e tomando sabor, "esse dia nenhum inglés que quisesse tornar-se cavaleiro; bem foram
e assim despenderam gra parte da noite. algllns convidados
- e admoestados pelo rei;. mas para aquele dia, . escusa-
Em outro dia, estavam mui grandes tendas armadas no Rocio, acerca 1'8m-se. .
daquele Mosteiro, em que havia grandes montes de pao cozido, e assaz [Chraniques de J. Fraissart, liv. III, § 37, ed. Léon Mirot, Société de
de tinas cheias de vinho, e logo prestes por que bebessem, e fora estavam l‘1'11$I<>1r= d= France. t. xn, 1356-nas, p. 150.1
180 TEXTOS l-IISTDRICOS MEDIEVAIS FEUDALISMO 131
A CONCESSAO DA CAVALARIA VASSALIDADE E CAVALARIA
DEPOIS DE UM COMBATE
Segunda Raimunda Lula (1235-1315) o cavaleiro era, acima
Era também frequente recampensar as jovens guerreiros, de tudo, um vassalo enfeudada, com obrigacfies para com
apas uma vitoria, dando-lhes 0 grau da cavalaria. Rui de o seu senhor. Esta situagdo nda era necessdria, pois a cava-
Pina (c. I440-1552) exemplifica-nas esta circunstdncia, leiro podia nda estar. dependente de quaisquer Iigapfies feu-
dizendo-nas como foi armada cavaleiro a principe D. Jada, dais, mas, se 0 estivesse, vassalidade e cavalaria nunca esta-
depois da tomado de Arzila (I471). riam em aposigfia. '
[...] Ali no Castelo, além de outros nobres cristaos que com ferro morreram, Oficio de cavaleiro é manter e defender o seu senhor terrenal, pois nem
foi morto D. Alvaro de Castro, conde de Monsanto, camareiro-mor rei, nem principe, nem alto barao poderao, sem ajuda, manter a justica
de El-Rei, que sua morte muito sentiu; porque certo ele no campo e na entre os seus vassalos. Por isto, se o povo ou algum homem se opoe aos
corte, na paz e na guerra era por seu siso, discricao e esforco, homem mandamentos do rei ou principe, devem os cavaleiros ajudar o seu senhor,
mui principal. [...] E E1-Rei e o Principe, assim no entrar da vila, como no que, por si so, é um homem como os demais. E assim, é mau cavaleiro aquele
socorrer e prover das muitas pelejas e afronta dos combates, nao somente que mais ajuda o povo do que o seu senhor, ou que quer fazer-se dono e
por seu conselho e esforco usaram de oficios que pareciam e eram de tirar os estados do seu senhor, nao cumprindo com o oficio pelo qual 6
aprovados capitaes; mas ainda por seus bracos cometeram e acabaram chamado cavaleiro. [...]
feitos como ardidos e valentes cavaleiros, sem algum resguardo nem tento Oficio de Cavalaria é guardar a terra, pois por temor dos cavaleiros
do que a suas pessoas e dignidades reais se devia, e certamente era grande nao se atrevem as gentes a destrui-la nem os reis e principes a invadir
gléria ver aquele dia na mio do principe em idade de 16 anos sua espada [as terras] uns dos outros. Mas o cavaleiro malvado que nao ajuda o seu
de bravos golpes torcida, e dc sangue de infiéis em todo banhada, em cuja senhor natural e terrenal contra outro principe é cavaleiro sem oficio. [...]
vista a mor parte da alegria era dc E1-Rei seu padre, "que naquela vitoria. 1
e perigo 0 tomou por parceiro, vendo que em ajuda tao necessaria, e perigo [Ramon Llull, Libra to la Orden 4} Caballeria. parte n, 51 a 0 12,
in Ramon Llull, Obras Literarias, ed. Miguel Batllori y Miguel Cli-
tao conhecido, nao pudera no mundo escolher melhor companheiro do dentey, Madrid, 1948, pp. 114-115.]
que gerara por filho; E porém como E1-Rei sentiu que o feito com desejado ;_\
vencimento era de todo acabado, foi logo at mesquita dos mouros, onde
sobre o corpo do conde de Marialva achou ja uma cruz, a qual por comeco A LINHAGEM DO CAVALEIRO
do servico e sacrificio que a Deus nela ao diante se havia de fazer, logo
beijou e adorou, e depois de fazer oracao, logo junto com o corpo morta Se nos seus primeiras tempos e em teoria a cavalaria estava
do dito conde, armou por si 0 Principe seu filho por cavaleiro, com pala- aberta a individuos de todas as classes, em breve tendeu
vras de grandes louvores, e muitas bondades e merecimentos do mesmo a fechar-se, reservanda a admissfia apenas a filhos de outras
cavaleiros. Esta decisda tomada pelas manarcas e apaiada
conde. E sendo ambos de armas vitoriosas vestidos, El-Rei, no cabo dB pelos cavaleiros que jé se consideravam fazendo parte de IQ I I IQ Q Q Q Q QJ
auto tio devoto e tao glorioso, disse ao Principe e nao sem algumas lagri- uma casta foi em Franco decretado por Luis IX (1226-1270).
mas: Filho, Deus vos faca tam bom cavaleiro coma este que aquy jaz. [.--1
S¢ um homem pretendesse ser cavaleiro sem ser gentil-homem de linha-
[Rui de Pina. Chronica _do Senhor Rei D. A/[onsa V, Colleocio de Li- gem. mesmo que o fosse pela sua mac, nao poderia sé-lo por direito; antes
vros Ineditos de Historia Portuguem, t. I, Lisboa, 1790, pp. 527-528.1
° Poderiam tomar os reis ou os baroes onde estivesse a castelania e man-
dimlhe por direito cortar as esporas sobre uma estrumeira (1) [...]; porque E
"50 5 costume a mulher nobilitar 0 homem, mas sim o homem nobilitar
(Q
. 1
' '7 ' 7 7 7 .- M It-ii___j._ ?
FEUDALISMO 183
182 "rraxros HISTORICOS MEDIEVAIS
III (') Homines no original latino. (1) O bunuarium era uma medida de superficie, corros-
Ao nosso muito querido amigo, 0 glorioso conde Hatton, Eginhardo, pondendo aproximadamente a um quarto do acre. (3) O modio foi uma medida do
Capacidade variavel com os locais e a época. Em Portugal, nos principios da nacionalidlde
saudacfio eterna no Senhor.
equiparava-se ao alqueire, oscilando entre 18 e 26 litros. Mais tarde tomou-se rmiltiplo
Urn dos vossos servos, de nome I-Iuno, veio a igreja dos santos martires do alqueiree do almude, equivalendo assim, em média, a 400 litros. (4) Cerca do 1,60
Marcelino e Pedro pedir mercé pela falta que cometeu contraindo casa- ares. A vara francesa era uma medida de superficie.
mento, sem o vosso consentimento, com uma mulher da sua condicio
que é também vossa escrava(4). Vimos pois solicitar a vossa bondade lI lI I I q n.n-‘ L
AS IMPOSICOES SOBRE OS VILAOS
para que em nosso favor useis de indulgéncia em relacao a este homem,
se julgais que a sua falta pode ser perdoada. Desejo-vos boa sa1'1de com Os farais portugueses que regulamentam as tributacfies das
a graca do Senhor. <<vizinhas» patenteiam as pesados obrigacdes que recalam
sobre as classes nfio privilegiadas. Um exemplo extralda
'[A. Teulet, Guvres Complétes d’Eginhard. Société dc l’Histoire de
France, Paris, 1843, t. I1, pp. 13, 27 e 29.] do faral de Penacova (I192) mastra-nos coma as habitantes
do nova cancelho ainda viviam na dependéncia econdmica
(1) Este delito estava previsto na primeira capitular do ano 802. (1) O vicedominus ou do senhor local.
vidame era um magistrado que administrava as propriedades eclesiasticas dotadas
de imunidade. (3) A Lei Salica responsabilirava toda a familia pelo crime cometido
por um dos seus membros, obrigando-a ao pagamento da composicao. No século IX
l---] Aquele que lavrar com um jugo dé um moio(1). Aquele que lavrar I
°°"1 dois dé um moio. Aquele que lavrar com mais de dois, de quantos
_ -__
we — 7
bois forem, dois quarteiros (1), um quarteiro de trigo e outro de milho. nao for ai dé em fossadeira(1) cinco soldos em apreeadura (3). N50 facam 1
Aquele que lavrar trigo e milho dé metade de um e metade de outro. Aquele fossado senio com nosso senhor uma vez no ano ou assim como for vossa 1
que nao houver onde dar jugada de milho, dé a quarta. O <<cavao»(3) que vontade. E peoes nem clérigos nao facam fossado. [...]
1
lavrar trigo ou milho ou centeio dé uma teiga(4) do pao que lavrar. O peio [Partugaliae Manumenta H1'starica—Leges et Consuetudines, vol. 1, 1
dc“: a dizima (5) do seu vinho. [...] O peao dc Penacova faca no ano uma via Kraus Reprint, Liechtenstein, 1967, p. 568].
e seja tao longa aquela via que possa tornar nesse dia a sua casa; e faca 1
(1) Esta reparticao das forcas era feita de acordo com as regras estabelecidas pelo foral
o seu fossado (6). O cavaleiro que houver herdades fora, sejam-lhe livres. [...] 1
de Salarnanca, cujo modelo o de Valhelhas seguiu. G) Multa (e depois imposto) para
E o cavaleiro e os seus homens irao no fossado de El-Rei. [...] Os cavaleiros os que nao cumpnam a obrigacao do fossado. (3) Do latim medieval appretiare, apre- 1
e os peoes facam cubas e casas no castelo de Penacova ao senhor de Pena- car, avaliar.
cova e dessa mesma terra. E quando fizerem as cubas ou as casas, o senhor 1
da terra data aos que ai lavrarem de comer. [...] E o senhor da terra receba 1
seu relego (7) por trés meses, convém a saber, Janeiro, Fevereiro e Mar1;o.[...] A OBRIGATORIEDADE DO SERVICO MILITAR 1
Dos peixes do mar que <<aduzirem»(B)pe1o rio Mondego, deem a dizima (SECULO IX) 1
ao senhor da terra até ao mes de Maio. [...] Os monteiros que forem a monte,
daquele veado que matarem darao ao mordomo (9) o lombo. [...] O almo- Todo 0 homem livre era obrigado a prestar servico militar,
creve faca uma carreira ao senhor. [...] E se alguma coisa por esquecimento armada d sua custa, durante uns tantas meses no ano. A par-
tir de Carlos Magno as grandes senhores, laicas ou ecle-
ficou que nao fosse aqui escrita, ponham-na aqui d°P°1$- 1---1 sizisticos, foram cada vez mais responsabilizadas pela actua-
cdo dos seus dependcntes.
[Partugaliae Monumenta Historica—Leges et Cansuetudines, vol. I,
Kraus Reprint, Liechtenstein, 1967, pp. 483 a. 485.]
Em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santa. Carlos, o muito sereno,
Augusto, coroado por Deus, grande e pacifico Imperador, e também,
(1) O modio ou moio variou com os locais e a época. No principio da nacionalidadfi
e na Beira, equivalia em media a 26 litros. (2) O quarteiro ou quartz "3 “mi qua‘? pela graca de Deus, Rei dos Francos e dos Lombardos, ao Abade Fulrad (1).
parte do moio. (3) O cavador. (4) A teiga nio era uma medida certa, mas correspondla
normalmentea 2 alqueires. a) A décima Pam (°) Expedicio miliw dirisida Wm" Saberas que decidimos reunir a nossa assembleia geral, este ano, na
ten-itorio inimigo. (7) Direito que possuia 0 rei ou qualquer senhor de vender em parte oriental .da Saxénia, num lugar chamado Stassfurt, sobre o rio Bode.
exclusivo o seu propria vinho durante as trés primeiros meses do ano. (5) Trouxerem Por isso te ordenamos que vzis ao mencionado sitio, com todos as teus
(de ad+ducere). (9) Funcionario encarregado dc cobrar os impostos.
homens bem armados e equipados, no décimo quinto dia das Calendas
de Julho, ou seja sete dias antes da festa de S. Joao Baptista. Apresentar-
1-w-.~»-,m4n-,\¢»qp'|,-»A<s;-41 -Ie-as ai com eles, pronto a entrar em campanha na direccao que eu indi-
0 SERVICO MILITAR DO VILAO: Car, com armas, bagagens e todo o equipamento de guerra em viveres e
0 FOSSADO vestuario. Cada cavaleiro devera ter um escudo, uma lanea, uma espada
¢ uma adaga, um arco e um carcas cheio de flechas. Nos vossos carros
A prestacfia de certos servicas militares passou a ser. "0 tereis utensilios de todo o género —achas, enxos, trados, rnachados,
século XII, remivel par um tributo. Os farais portuguesa? finxadas, pas de ferro —e outros utensilios necessarios em campanha.
legislaram nesse sentido, como no-lo demanstra um excertv -'. Tereis também nos vossos carros viveres para trés meses a contar da data
‘E
do que foi dada d pavoacfia de Valhelhas em 1188.
*1 <18 partida de Stassfurt,~armas e vestuario para meio ano. Vigiaras para
que durante o caminho até ao sitio determinado nao causem nenhuma
[...] E facam fossado a terca parte dos cavaleiros e as duas estejam Bf:
Valhelhas(1). E daquela uma parte que houver de andar em fossad0 desofdem, qualquer que seja a parte do nosso reino por onde o itinerario
188 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS FEUDALISMO 139
vos faca passar. N50 deveria tocar em nada, excepto na erva, madeira 130 marcos e 4 palafréns para que Peter de Borough, a quem o rei tinha
e agua; e que os homens de cada um dos vossos vassalos caminhem com dado licenca para casar com ela, a deixasse em paz; e para nao ser com-
os carros e os cavaleiros, estando sempre com eles o seu chefe até che- pelida a casar-se. [...]
garem ao sitio determinado, para que a auséncia de um chefe nao dé aos
seus homens oportunidade para fazerem o mal. [...] ~ [The I-Jtglish Exchequer Rolls (I140-1282), in The Pennsylvania Trans-
lations and Reprints Series, vol. Iv, n.° -3, pp. 25-26).
[Manamenta Germaniae Historica-—CapituIaria Regurn Francarum.
ed. A. Boretius, t. 1, Hannover, 1883, p. 168.]
(I) Abade de S50-Quintino de 804 a 811. Esta ca.rta parece ter sido escrita em 806. 0 PROBLEMA DAS HOMENAGENS MULTIPLAS
(SECULO xm)
O sistema ligia surgiu em Franco no século XI e na centuria
DIREITOS DE CASAMENTO (SECULOS XII-XIII)
seguinte jd se tarnara habitual um mesmo individua ser o
ahamem ligia» de vdrios senhores. Par esta razdo, quando
0 facto de as mulheres nda estarem em condicfies vasscilicas um vassalo fazia uma nova hamenagem, indicava, por ordem
levou as senhores a arragarem-se 0 direito de intervir na de preferéncia, as ahomenagens ligias» a que jé estava Iigado_
escolha do marida que as representaria nesses servicas. Foi O documento que se transcreve data do século XIII.
em Inglaterra que este direito de intervengfio se tomou mais
usual, vindo a estender-se a outras situacfies relacionadas
cam a matrimonia.
Eu Jofio dc Toul faco saber que sou o homem ligia de Dona Beatriz, con-
dessa de Troyes, e do seu filho o meu muito amado senhor, o conde Thibaud
Walter de Cancy prestou contas de 15 libras para ter licenca de casar com de Champagne, contra todas as pessoas, vivas on mortas, excepto no que
a mulher que escolher. respeita a ‘homenagem ligia que fiz ao senhor Enguerran de Coucy, ao
Wiverone, mulher de Iverac de Ipswich, prestou contas de 4 libras e l senhor Joio de Arcis e ao conde de Grandpré. Se acontecer que o conde
marco de prata para nao ser obrigada a tomar nenhum marida excepto do Grandpré entre em guerra com a condessa e o conde de Champagne
aquele que desejar.
Emma de Normanville e Roheisa e Margaret e Juliana sua irmii pres-
Por agravos pessaais, irei pessoalmente prestar assisténcia ao conde de
Grandpré e enviarei a condessa e ao conde de Champagne, se me inti-
marem a isso, os cavaleiros que devo pelo feudo que deles detenho. Mas
tr lt sti a rn
taram contas de 10' marcos para terem licenca de casar onde quiserem-
Roheisa de Doura prestou contas de 450 libras para ter metade de todas $6 o conde de Grandpré fizer guerra a condessa e ao conde de Champagne
as terras que pertenceram a Richard de Lucy, seu avo, e que o irmao da 8 favor dos seus amigos e nao por agravos pessaais, servirei em pessoa
mesma Roheisa possuiu posteriormente, tanto em Inglaterra como I18 3 condessa e o conde de Champagne e enviarei um cavaleiro ao conde
Normandia, e para ter licenca de casar onde quiser, desde que nao se case de Grandpré para lhe prestar os servicos devidos pelo feudo que detenho
com qualquer dos inimigos do rei. dele. Mas nao invadirei eu propria o territorio do conde de Grandpré. [...]
Alice, condessa de Warwick, prestou contas de 1000 libras e 10 pala- 1
[Du Cange, Glassarium Media: et lnfimae Latinitatis, ed. 1733,
fréns para lhe ser permitido permanecer vi1'1va enquanto lhe agradar, 6 vol. Iv, p. 203 (vocabulo ligius).] 1
nao ser obrigada pelo rei a casar. E se por acaso viesse a desejar casar-
nao casaria sem 0 assentimento e a concessao do rei, de maneira qued0 1
rei ficasse satisfeito; e para ter a guarda dos filhos que houve do con 6 1
de Warwick, seu falecido marido.
1
Hawisa, que foi mulher de William Fitz Robert, prestou contas dc
1
1
7
-._-. _ _,_
_ ' _
.
0 em
_ erttattva e manutenpdo de um impé-
pertencia (a castelania). I10 caroltngto. A crtse da autoridade monérquica e 0 im-re
Este parcelamento territorial da administrapfio pfiblica, qtie passou a desem- mento
d da V“-”'“I'd°d¢
' ' '
Permttzram -
aos diversos .
povos inte-
penhar funefies de soberania nonnalmente inerentes a uma autoridade central. gna os no Império afirmar a sua individualidade, originando
varios dotados
rd” es , 0 autor do trecho que se segue é COHI8mp0-
foi, no plano politico, a caracteristica mais marcante do regime feudal. _
e0 s aconrectmentos que narm_
CN Q ano da Encarnaoao
- do Senhor dc 888, o lmpcfadgr
. ca;-195(1), O up
AS LUTAS CIVIS NO IMPERIO FRANCO
(SECULO IX) ’ m°_ n° Mme ° "3 dlgnldade, morreu na véspera dos Idos dc Janciro(1)
e fol sepultado no Mosteiro dc Augea(3). [...]
Pretendendo justificar a atitude dos filhos do imperadvf ‘_ DeP o'ls da sua room: os remos
' que lhe estavam submetidos, como sg
Luis I o Piedoso (814-840) contra 0 pai, o arcebispo 11¢ csWessem s1.d'0 destltuldos
' - legmmo,
dc um herdexro ,. desagregaram-so, N50
Lyon, Agobardus, redigiu um manifesto (833) que nos dd P¢rando a um senh - para st. um rel
conta das guerras civis que agitavam 0 Império Franco. saido das guas t :1’ 112211111, cada um procurou cnar
en ran as . ta causa monvou ' grandes guerras,_ nao
- por-
<.4$5fl¥d q"¢
dorm faltassem '
l'lIlC ' '
P 1P¢$ f1'flflcos_quc, pela sua nobreza, coragem e sabe-
Ouvi, povos dc toda a terra, dc 0 oriente a ocidcnte, do aguiio ao ma!» , pudessem governar os remos, mas porquc 3 préprja igualdade qua
e rcconhecei quanto foi e é fundamentada a indignaqio sentida pelos filh°5
i
iii-A
entre eles havia na generosidade, dignidade e poder provocava a discor- A MULTIPLICACAO DOS VASSALOS REAIS
dia, visto nao existir nenhum tao superior aos outros que estes se dignas-
sem subrneter-se ao seu dominio. Na verdade a Franqa teria produzido A segunda metade do século VIII e 0 século IX caracterizgrgm-53
muitos principes idoneos para dirigir o leme do reino se a fortuna os nao 561" f"1;1'lP1l§"§50 d0-Y COHIFQIOS de vassalagem e pela subida
do niie social do vassalo. Para _C:ar1os; Magno, a cnacao
arrastasse a desgraga, armando-os uns contra os outros na emulacio 05 W-Y-W108 rwls (vassi dommici) foi uma maneira de
do Poder. assegurar a. fidelidade dos seus servidores. 0 juramento
aqui transcrzto faz purte de uma capitular do ano 802.
[Reginanis abbatis Prumiensis Chronicon, in Monumenta Germaniae
Hist0rica—Script0re.\' l, Hannover, 1826, p. 598.] Juramento pelo qual prometo ser fiel ao senhor Carlos, piedosissimo impe-
(1) Carlos I11 0 Gordo, filho de Luis o Germanico, imperador da Alemanha em 882
rador, filho do rei Pepino e dc Berta, assim como um homem (1) por direito I
e rei de Franca a partir de 884. (1) A 12 dc Janeiro. (3) Reichenau na actualidade. deve ser para com o seu senhor [para defesa] do seu reino e direito. E eu
O mosreiro ficava numa ilha do lago Constanm. quero manter e mamerei este juramento que fiz, na medida em que sei
e compreendo, dc hoje em diante(2), se me ajudarem Deus, criador do
Céu e da Terra, e estas reliquias de santos.
1
1
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a. O APARECIMENTO DA BURGUESIA 1
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I. - 1
O MERCADOR ITINERANTE 1
E O DESPERTAR DAS CIDADES 1
1
A inseguranca que acompanhou a desagregacfio do Império Carollngio cobriu
a Europa de castelos ou burgos erigidos pelos senhores feudais. Na pequena 1
drea da castelania centrou-se um Iocalismo politico e administrativo tendo 1
por base uma economia puramente agrdria. A partir da segunda metade
1
do século X, no entanto, os mercadores itinerantes, homens desenraizados
e sem terra, comecaram a qluir em maior quantidade, pousando com fre- 1
4 quéncia ao abrigo da fortaleza. Tendendo aos poucos a estabilizar-se, estes 1
aventureiros procuraram fixar-se nas regifies do Centro e Norte da Europa,
1
junto das muralhas dos burgos mais bem situados para efeito de transac-
cfies comerciais. At’ criaram o <<burgo de fora» (forisburgus), o portus ou 1
'¢vh0h'q\~'rn|wv\ vicus, que muitas vezes se rodeou também de novas muralhas. Em breve as 1
dois burgos, o velha e o novo, se uniram, tomando-se um centro de atraccdo
1
para as populacfies rurais e artesanais, que nele encontravam o trabalho e a
regulamentacfio dos impostos e obrigaczies exigida pelos <<burgueses».
7' Nas cidades do Sul da Europa, nomeadamentena Itdlia, uma maior tradi- 1
r.
,_.
C50 urbana fez com, que, desde sempre, nobres, arttfices e comerciantes, 1
vivessem por trds dos mesmos muros. Mas, tanto no Sul como no Norte,
ii
0 surto demogrzifico, as novas arroteias, os inventos técnicos e a maior faci-
lidade de deslocacfies acordaram os povoadas e deram aos seus habitantes
"M comum desejo de Iiberdade.
1
a
; 1
1 1
CIVILIZACAO URBANA 1 199
198 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
O APARECIMENTO DE UM <<BURGO NOVO»:
y A FORMACAO DE UM MERCADOR BRUGES
(sécuro xr)
Jean Lelong, cronista de Saint-Bertin (seculo XIII) explica-
Godric de Finchale, que veio a ser santificado, comecou a -nos como da afluéncia de uma populacdo movel junto das
sua vida como mercador. Nasceu de pais Iavradores, no muralhas de um amigo burgo, surgiu uma nova cidade, Bruges.
Lincolnshire, em fins do século XI. A narrativa da suaprimeira
actividade ilustra-nos o aparecimento de um novo tipo de [...] Com a continuacao, para satisfazer as faltas e necessidades dos da
mentalidade e profissiio. fortaleza, comegaram a afluir diante da porta, junto da saida do castelo,
negociantes, ou sejam, mercadores de artigos custosos, em seguida tabernei-
Quando o rapaz, depois de ter passado os anos da infancia sossegadamente ros, depois hospedeiros para a aliinentacao e albergue dos que mantinham
em casa, chegou a idade varonil, principiou a seguir meios de vida mais negécios com o senhor, muitas vezes presente, e dos que construiam casas
prudentes e a aprender com cuidado e persisténcia 0 que ensina a expe- e preparavam albergarias para as pessoas que nao eram admitidas no inte-
riéncia do mundo. Para isso decidiu nao seguir a vida de lavrador, mas rior da praca. O seu dito era: <<vamos a ponte.» Os habitantes de tal maneira
antes estudar, aprender e exercer os rudimentos de concepqoes mais subtis. se agarraram ao local que em breve ai nasceu uma cidade importante que
Por esta razao, aspirando a profissao de mercador, comeqou a seguir 0 ainda hoje conserva 0 seu nome vulgar de ponte, porque brugghe significa
modo de vida do vendedor ambulante, aprendendo primeiro como ganhar ponte em linguagern vulgar.
em pequenos negécios e coisas dc preco insignificante; e entio, sendo ainda
um jovem, 0 seu espirito ousou a pouco e pouco comprar, vender e ganhar 2 [Cit. em Louis Gothler et Albert Troux, Recueils de Textes d'histoire
pour Penseignernent secondaire, 't. n, p. 105].
com coisas de maior preco. _ '
[...] Primeiro viveu como um mercador ambulante por quatro anos no
Lincolnshire, andando a pé e carregando fardos muito pequenos; depois
A COEXISTENCIA DAS VARIAS CLASSES SOCIAIS
viajou para longe, primeiramente até Saint Andrews na Escécia e depois
NAS CIDADES ITALIANAS
pela primeira vez até Roma. No retorno, tendo feito uma arnizade fami-
liar corn certos outros jovens que ambicionavam mercadejar, comeqofl O bispo Otiio de Freising (c. I110-1158) deu-nos pela sua
a la.n<;ar-se em viagens mais atrevidas e a ir por mar, junto a costa, até obra Gesta Frederici I imperatoris um importante documento
as terras estrangeiras que ficavam a volta. Assim, navegando muitas vezfi sobre alguns anos do reinado daquele imperador. No texto
entre a Escocia e a Bretanha, negociou em mercadorias variadas e»n° que se segue, o historiador procurou analisar a situacfio
meio destas ocupaqoes aprendeu rnuito da sabedoria do mundo. [...] Porq\1¢ politico-social das cidades italianas lombardas na sua época.
trabalhava nao apenas como mercador, mas também como marinheir0[---lg
para a Dinamarca, a Flandres e a Escdcia; nas terras onde encontm‘/3 N0 governo das suas cidades e na orientaeao dos negécios piiblicos, tam-
certas mercadorias raras e por isso mais preciosas, transportava-as P811 bém [os Lombardos] imitam a sabedoria dos amigos romanos. Final-
outras partes onde sabia que cram menos familiares e cobigadas p¢1°9_ "FDIC sao tao desejosos de liberdade que, para fugirem a insoléncia do Poder,
habitantes a pre<;o de ouro. Fez desta maneira muitos lucros com £0433 53° 801/ernados pela vontade de consules, de preferéncia a principes. Como
as suas vendas e reuniu avultados bens com o suor do seu rosto, Visw 5 sabido, existem entre eles trés classes: os capitaes(1), os avavassores» e
que vendia caro num lugar as mercadorias que tinha comprado n01-13° a_Plebe. E, a fim dc evitar a arrogancia, os ditos consules sao escolhidos
por um preqo inferior. nao de entre urna, mas de entre cada uma das classes. Para que nao exce-
dam os seus limites pela ambicao do Poder, sao mudados quase todos os
anos. A consequéncia é que, como praticamente toda aquela terra esta
[Reginald of Durham, Libellus 11¢ Vita et Miraculis s. Godrici. H¢"' 1,.
mitae de Finchale. ed. Stewenson, Londres, 1847].
firm»
200 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS CIVILIZACAO URBANA 201
dividida entre as cidades, cada uma delas exige que os seus bispos ai vivam, ter estendido a sua autoridade sobre duas cidades vizinhas situadas no
e dificilmente se poderzi encontrar nos territorios circundantes algum nobre mesmo vale, Como e Lodi. Além do mais —corno vulgarmente acontece
ou homem importante que nao reconheca a autoridade da sua cidade. no nosso lote transitdrio quando a boa fortuna nos sorri —, Milao, favore-
E desse poder para forqar todos os elementos a viverem em comum sao leva- cida pela prosperidade, foi levada a uma tao audaciosa exaltaqao que nao
dos a chamar as varias terras de cada [nobre] o seu condado(2). Também so nao hesitou em incomodar os seus vizinhos, como ousou mesmo recen-
para lhes nao faltarern os meios de submeter os seus vizinhos, nao des- temente (2) incorrer na ma vontade do principe(3), por desrespeito a sua
denham de dar a ordem da cavalaria ou graus de distinqao a jovens dc majestade.
condiqio inferior e mesmo a alguns trabalhadores das vis artes mecanicas,
que outros povos afastam como a peste dos ernpreendimentos mais respei- [Otto of Freising, 7712 deeds of Frederick Barbarossa, trad. e notas
tados e honoraveis. Deste facto resultou ultrapassarem de longe todos os de Charis Christopher Mierow e Richard Emery, New York, 1966,
pp. 128 e 129.]
outros estados do mundo em riqueza e poder. Sao ajudados nesta circuns-
tancia nao apenas, como ficou dito, pela sua caracteristica indiistria, mas (1) Os Lombardos. (1) Em principios de 1155. (3) Frederico Barba Ruiva.
também pela auséncia dos seus principes, acostumados a viver do lado
de la dos Alpes(3).
CONCESSAO DE PRIVILEGIOS COMERCIAIS do rei, na festa dos Apostolos Pedro e Paulo, trezentos bezantes san-a-
AOS VENEZIANOS PELO cenos, anualmente, como convencionado. [...]
PATRIARCA DE JERUSALEM
Adelson, Medieval Commerce. an Anvil Original,
(1123)
O comércio italiano no Mediterrdneo e nomeadamente no (1) Domenico Michaeli, doge da Republica Veneziana. (1) Balduino II, rei de Jeru-
Proximo Oriente, apoiou-se em auténticas colonias de mer- salem de 1228 a 1261.
cadores estabelecidas nas cidades mais importantes. Tanto
no Reino de Jerusalém como no Império Bizantino, a impor-
ttincia destes nucleos cresceu rapidamente, atingindo nalguns
casos milhares de habitantes; TRATADO DE PAZ E COMERCIO
ENTRE 0 CALIFADO ALMOHADA
[...] Nos, Warmund, pela graea de Deus Patriarca da Santa cidade de Jeru- E A REPUBLICA DE PISA
salém, corn os irrnaos sufraganeos da nossa igreja [...] confirmarnos [...] ao (15 DE NOVEMBRO DE 1126)
citado doge (1), aos seus sucessores e ao povo de Veneza [...] que em todas
as cidades do dito rei(2) e sob o senhorio dos seus sucessorese nas cidades As cidades italianas em expansdo comercial tratavam indi-
de todos os seus baroes possam os Venezianos ter uma igreja, uma rua ferentemente com as reinos cristdos da Palestina e com os
muculmanos da Siria e Egipto. Pisa que no século XII dispu-
completa, uma praca, um balneario e mesmo um forno para ser possuido nha de uma excelente frota mercante, interessou-se especial-
por direito hereditario perpétuamente,_livre de todos os impostos, exacta- mente pelo comércio do Mediterrdneo Ocidental, para o
mente como se fosse propriedade real. Que possam ter, na praea de Jeru- que realizou vdrios tratados com os emires norte-africanos.
salérn, tanto como o rei comummente tem. Mas se os Venezianos desejam
estabelecer no seu préprio bairro em Acre um forno, um moinho, um [...] E com a licenca [do califa(1)], que Allah enalteea as suas decisoes e lhe
balneario e balanqas, medidas de alqueire e cantaros para medir vinho, fflqa sentir os seus beneficios e bondadel, poderao [os Pisanos] vir a terra
azeite on mel, seja permitido fazé-lo, aos que ai vivem [...] mas que usem dos Almohadas, que Allah os enalteqal, a fim de praticarem 0 seu trafico
as medidas de alqueire, balangas e cantaros para medir apenas da seguinte 6 exportarem [mercadorias]; limitar-se-ao a quatro terras dos supraditos
maneira: Quando os Venezianos comerceiam entre eles deverao medir [Ahnohadas], 8 Saber, SaPta(2), Wahran (3), Bijaya (4) e Tuwnis (5), que
com as suas proprias medidas, ou sejam as medidas dos Venezianos. Quando Allah as guarde! sem que lhes seja licito desembarcar ou permanecer nou-
os Venezianos vendem os seus géneros a outros povos, devem vendé-los Iras terras dos Almohadas, a nao ser por forga da tempestade que os cons-
com as suas proprias medidas, ou sejam as medidas dos Venezianos. trangesse a salvarem-se, deitando a ancora nalguma praia; nao poderao
Quando porém os Venezianos fazem compras, recebendo alguma coisa 110 entanto vender ou comprar ai qualquer coisa, nem tratar de comércio,
por transaccao, de outro povo que nao dos Venezianos, seja-lhes permitido nem conversar com algum dos habitantes. Exceptua-se Al-Mariyya (6),
recebé-las de acordo com as medidas reais a um pre<;o dado. Nao deveriw @1116 Allah a guardel, onde poderao munir-se de vitualhas e reparar os navios,
os Venezianos pagar qualquer encargo por tudo isto, nem dc acordo com quando disso tiverem necessidade, mas sem qualquer outra finalidade. [...]
0 costume, nem por qualquer outra razao, ao entrar, estar, vender, comprar,
permanecer ou partir; em nenhum dos casos deverao pagar qualquerimpostot [l\vl. L. De Mas Latrie, Traités de Paix et de Commerce ct Documents
Divers, Concernant Ies Relations des Chrétiens avec Ies Arabes de I‘Afr!-
salvo quando vém ou vao com os seus proprios navios transportando perv que Septenmonale, vol. Ii, Paris, 1866, p. 29.]
grinos. Entao, segimdo a costumagem do rei, devem dar uma terea par“
ao proprio rei; pelo que o prdprio rei de Jerusalem e todos nos deverr 1'?Ab"-Yusuf-Yacub,<><>e1=br=<<Aimamn>(9s9-1001). (1)Ceuta. (1) Oran. (4) Bou-
mos pagar ao doge dos Venezianos, dos rendimentos de Tiro, por con" 3‘°- (5) Tums. (5) Almeria.
_
pe o historiador Georgios Pachymeres (I242-c. I310), autor 5. A messer Tolomeo (1) e aos outros sdcios:
do trecho qu‘e se segue.
Andrea envia-vos saudaeoes. E deveis saber que os sieneses que aqui 1
i
Nessa época 0 imperador(1) decidiu humilhar os Genoveses, que estavam estio despacharam [as suas cartas] por um mensageiro comum depois 1
1 civ1t.1zAcAo URBANA 201
296 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
OS MERCADORES DE LUBECK
da ultima feira de Saint-Ayoul, como habitualmente. Envio-vos um rolo
NAS FEIRAS DA CHAMPAGNE
-_-_.¢
de cartas por Balza, um correio de Siena. Se as nao receberdes tentai
alcanea-las. [...] _
A partir do século XIII os mercadores alemfies comegaram
Aqui as mercadorias vendem-se tao mal que parece mesmo impos- a fixar-se nas cidades flamengas. Este facto facilitou-lhes
sivel vender alguma coisa; e ha imensa quantidade delas. A pimenta vale a frequéncia das feiras da Flandres e também as da Cham-
aqui [...] libras a carga e nao se vende bem. O gengibre, de 22 a 28 dinhei- pagne, onde jd figuravam em grande numero no segunda
ros, dependendo da qualidade. O agafrao tem sido muito procurado, metade desse século. Um diploma de Filipe o Belo (1294)
vendendo-se a 25 soldos a libra e ja nao ha nenhum [no mercado]. A cera revela-nos a ‘importdncia do papel desempenhado pelos mer-
cadores de Liibeck nessas feiras.
de Veneza, a 23 dinheiros a libra. A cera de Tunis a 21 dinheiros e meio.
O sdcio de Scotto tem uma quantidade de mercadorias e nao consegue
transforma-las em dinheiro; esta tentando envia-las para Inglaterra a fim Filipe (1), pela graea de Deus rei de Franca, aos prebostes, bailios e outros
de ai as vender. O cambio do esterlino faz-se a 59 soldos o marco. A boa oficiais do nosso reino que virem as presentes cartas, saiide.
moeda de Freiburg a 57 soldos e 6 dinheiros o marco. O ouro tari(1), a Tendo visto os autos do nosso tribunal sobre o conflito ocorrido entre
19 libras e 10 soldos o marco. O ouro em po(3), segundo a qualidaCl¢- os mercadores de Liibeck por um lado e os recebedores da portagem de
O augusta1(4) a 11 soldos cada um. Os florins ern Saint-Ayoul valiam 8 sol- Bapaume por outro, pareceu que quando estes mercadores se dirigem as
dos cada um e mais um dinheiro por causa da cruzada; mas agora nao feiras da Champagne, com as suas mercadorias adquiridas ou compradas
P.
acredito que os vendam por mais de 8 soldos menos trés dinheiros. A moeda
Q
_v
Y
na Alemanha, nao devem tomar obrigatoriamente a estrada de Bapaume,
de Le Mans vale um quinze avos, ou ‘seja: 15 [soldos] de Le Mans sao mas podem ir e vir com as suas mercadorias por onde quiserem, pagando
equivalentes a 2 soldos torneses(5). A moeda de liga, uns quinu av0S 6 as portagens habituais nos locais a que se destinam.
meio. _ Em contrapartida, se trouxerem ou escoltarem mercadorias ou dinheiro
Se nao haveis pago 10 libras pequenas sienesas a mulher de Giacommo de Flandres para as ditas feiras ou para outros locais que figurem nos
ditos autos, deverao tomar a estrada de Bapaume. Por esta razao orde-
del Carnaiuolo, como vos comuniquei da passada feira de Saint-Ayoul.
namos que vos oponhais firrnemente a que os ditos mercadores sejam
pagai-as, porque sao pelas 3 libras provinesas (6) que recebi do dito O10-
comino. E laneai-as no meu débito em relaeio a passada feira de Saint- importunados em contrario ao conteudo dos ditos autos.
-Ayoul, pois assentei-as em relaeio a dita feira e esqueci-me de o escrever f‘¢"¢q&_r'.
[Cit. em Philippe Dollinger, La Hanse (XII:-XVII: siécles), Paris,
na carta que vos enviei da dita Saint-Ayoul. [...] 1964, p. 470.]
[Paolo e Pieoolomini, Lettere volgari. cit. ern'Lou_is Gothier et 1‘) Filipe IV, 0 Belo, rei de Franqa de 1285 a 1314.
Troux, Recueils de textes d'Iusto|re pour lenseignement secon If 1 is‘?
t-. ri, pp. 137 e 138].
(1) Os Tolomei eram uma das mais importante: familias de Siena. (2) O tari era um‘
moeda mucitlmana oorrespondente a um quarto do dinar. No século xm a cidade 4°
Arnalfi tambem cunhou taris. (1) Vindo da Africa Ocidental. (4) Moeda dc ow’? V ,1 AS FEIRAS DA FLANDRES
cunhada por Frederico H na Sicilia. (5) Moeda proveniente da Abadia de S. Mam’
nho de Tours entre os séculos x e xln. (5) Emitida em Provins, em nome do 00114‘
da Champagne. i;
9.
A indtistria flamenga de tecidos provocou o desenvolvimento
das feiras da Flandres, as quais se sucediam umas as outras
desde a Primavera até ao Outono. Como era habitual nas
feiras medievais, num primeiro periodo expunham-se e ven-
diam-se as mercadorias e numa segunda fase pracedia-se
£1
208 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS 1
1
ao encontro dos pagamentos. O relato que se transcreve foi 1
feita por um mercador florentino da primeira metade do
século XIV.
{A0 mesmo tempo (1) houve grande perturbacfio na Italia, com aspectos
"muditos nos tempos recentes, por causa das varias associaqoes juradas
que 0 povo fez contra os seus principes. Na verdade, todos os avavassores»
da llzilia e os <<cavaleir0s vilaos»(2) ajuramentaram-se contra os seus senho-
t.
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1
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4
212 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS 1
CIVILIZACAO URBANA 213
1
1
tincio, com asperas repreensoes e violentos insultos; mas logo que a ira 1
lhe passava aos poucos, recriminava-se veementemente por ela. intermediaries, a oportunidade de ter licenca para fazer uma comuna,
O tumulto na cidade havia-se finalmente aquietado um pouco. Mas se pagasse uma soma compativel. Comuna é uma nova e péssima designa-
gao de um acordo pelo qual todos os cabecas-dc-casal(2) pagam aos senho-
o jovem (Z), que estava de animo exaltado e ensoberbecido pelo seu pri-
res, apenas uma vez no ano, 0 tributo usual de servidao e, se cometem
meiro sucesso, nao deixava de provocar todo o distiirbio que podia. Per- 1
correndo a cidade, fazia discursos ao povo acerca da insoléncia e austeri- um delito infringindo as leis, saldam-no por um pagamento legal; tam-
bém ficam inteiramente livres das demais exaccoes do censo usualmente
dade do arcebispo, que lanqava injustas sobrecargas, despojava os inocentes
impostas aos servos. O povo, agarrando esta oportunidade para se liber-
da sua propriedade e insultava os honestos cidadaos com as suas impuden-
tissimas palavras. tar, juntou grandes somas de dinheiro a fim de saciar a sofreguidao de
tantos avarentos; e estes, agradados com a abundancia que lhes chovia
[...] Além disto, a todos vinha a mente um feito insigne e glorioso do povo
de Worms, que havia expulsado 0 seu bispo por os estar governando com em cima, prestaram juramentos, comprometendo-se no assunto. [...]
demasiada rigidez (3). E visto que (em Colénia] eram mais numerosos e 1
[Guiberti, abbatis S. Mariae de Novigento, De Vita Sua sive Mono-
ricos que em Worms e possuiam armas, desagradava-lhes pensar que eram diarum. lib. m, cap. vn, in J. P. Migne, Patrologiae Cursus Completus,
Series Latina, Paris, 1880, col. 922.]
1
inferiores ao povo de Worms em audacia, submetendo-se como mulheres
ao mando do arcebispo que os dirigia de uma maneira tiranica.
(1) O abade Guibert de Nogent acabava de descrever a maneira como os comerciantes
Os principais eram eonvencidos por conselhos ineptos e a multidao se enganavam e violentavam uns aos outros. (1) Capite censi no original latino.
desregrada com a ambicao de coisas novas revoltava-se e chamava as armas 0 mbeca-de-casal era o proprietario de um casal <<encabec;ado», ou seja de uma herdade
através de toda a cidade arrastada por espirito diabélico. que pagava um imposto ao senhor em representacao de varias outras terras dela depen-
dentes.
[Lambertus Hersfeldensis, Annales, in J. P. Migne. Patrologiae Cursus
Completus, Series Latina, t. cxLvI, Paris, 1884, cols. 1158-1159.]
rvtks-e‘~tfl'=sa#.
as
(1) Iniciara-se um tumulto na cidade por o arcebispo ter requisitado o navio de um mer- 3-.9
cador para transportar o bispo de Minster, que viera a Colénia passar a Pascoa.
L§
=5 2. I
(1) O filho do mercador proprietario do navio. I-lavia sido por sua iniciativa que se orga-
ta A ORGANIZAC.-1'0 COMUNAL
nizara a resisténcia as ordens do arcebispo. (3) A revolta de Worms dera-se um ano antes.
A emancipacfio das cidades variava de grau conforme 0 numero e o tipo de
privilégios que lhes eram concedidos.
CONSIDERACOES SOBRE A PROCLAMACAO Nalguns casos os habitantes da comuna mantinham-se na antiga depen-
DA COMUNA EM LAON (1115) déncia do senhor, limitando-se a carta comunal a regulamentar as suas obri-
gdyties, tributos e penalidades em caso de infraccfio destas regras. Noutros
0 abade Guibert de Nogent-sous-Coucy (1053-I124), des- Msos, porém, o diploma conferia a cidade grande autonomia, transformando-a
crevendo a maneira como a cidade de Laon se tomou uma numa pequena reptiblica com as seus magistrados e as suas assembleias.
comuna, explicou o significado dessa instituigao com a par- 3
Desta maneira a burguesia conquistou o seu lugar nos quadros do feudalismo,
cialidade de um contemportineo que esta vivendo o problema. Iibertando-se das tutelas que mais directamente a incomodavam.
Estas coisas (1) e outras semelhantes aconteciam na cidade. [...] Ninguém 0 nivelamento social conseguido por detrds das muralhas da cidade foi,
podia sair durante a noite a salvo. so restava roubar, capturar e assassinar. Porém, a breve trecho destruido. Os dirigentes das mais ricas corpora¢5es
O clero, considerando esta situacio com os arcebispos, e os proceres, de oficios e os grandes mercadores monopolizaram o govemo comunal, cons-
liluindo-se em classe privilegiada contra a qual se levantaram os menos favo-
pretextando motivos para exigir dinheiro ao povo, deram-lhe, através de
recidos pela sorte.
T
29-0 juiz, por ordem do rei, deve eonvocar a comuna e conduzi-18 O burgués integrado na comuna conquistou, como 0 cava-
a hoste; quem quer que ficar, deve ficar por sua ordem. Se alguém fica! leiro ou o membro do clero, os seus privilégios e o seu direito
sem sua licenca, 0 juiz deve castiga-lo dc acordo com o que seja, salvo so prdprio. Por trds dos muros do burgo um homem tinha
ele tiver uma desculpa razoavel que o autorize a ficar. __ a <<lei da cidade», estatuto que Ihe conferia proteccfio e uma
‘ .
relativa liberdade.
30 —Ninguém devera estar mais dc um ano e um dia na vila se nao 1'0!
jurado da comuna. Durante essa estada e antes de ter jurado nao poderi Em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo, Luis (1), filho mais velho
gozar de qualquer das liberdades da vila. Nao podera ser recebido H89 do rei de Franca. Saibam todos os que vivem e hao-de vir a viver que nos
comuna e jura-la senao diante do juiz e dos escabinos em exercicio 1185 qflcremos que os direitos e costumes dos cidadaos de Arras permanecam
suas funcoes. Prestado o juramento, tera todas as franquezas da vila. Perpétuamente como uma lei inviolada, a saber:
heroin!“
1
,.
~ '-
[Cit. em Louis Gothier et Albert Troux, Recueils de textes d’histoire
pour l’enseignement secondaire, t. I1, pp. 107-108.] AS LUTAS SOCIAIS EM FLORENCA
'1 (1171)
(1) O futuro Luis VIII (I187-1226), filho primogénito de Filipe (II) Augusto.
~1 A mais alta magistratura das comunas italianas foi a prin-
cipio o Consulado, recrutado na nobreza urbana. Em finais
do século XII, certas familias burguesas enriquecidas no
comércio e na indtistria e até entfio excluidas do poder pro-
PRIVILEGIO DE COMUNA vocaram rebelides no intuito de conquistar uma participa-
DADO POR JOAO SEM TERRA I cdo politica activa.
Aos crDADA0s DE BAYONNE 3 [...] Nesse mesmo ano (1) comegaram em Florenca dissensoes e grandes
(19 DE ABRIL DE 1215) lutas entre os cidadaos, as piores que jamais se haviam dado nessa cidade;
Se os monarcas nao criaram comunas, pelo menos com- e isto devido a demasiada prosperidade e sossego, juntamente com orgu-
firmaram-nas, vendo nelas uma forma de obter 0 apoio das lho e ingratidao; porquanto a casa dos Uberti que eram os mais pode-
classes populares contra a nobreza feudal. Ti rosos e os maiores cidadaos de Florenca, com _os seus aliados, tanto os
(1) En 1177. Henrique, pela graca de Deus, rei dc Inglaterra(1), duque da Normandia
e Aquitania, conde de Anjou, aos bispos, juizes (2), viscondes_(3), baroes,
oficiais (4) e a todos os seus fiéis e homens ligios de Londres, saude. Sabei
que concedi licenca aos teceloes de Londres para terem a sua guilda em
Londres, com todas as liberdades e costumes que tinham no tempo do
3. , rei Henrique (5), meu avo, E assim, que ninguém dentro da cidade se intro-
CONFRARIAS E GUILDAS meta neste oficio salvo por permissao [dos teceloes], a nao ser que pertenca
-aw
a guilda, na cidade, ou em Southwark, ou em outros lugares pertencentes
A relacdo de vizinhanca, no campo ou na cidade, gerou desde muito cedo, "- a Londres, excepto aqueles que estavam acostumados a faze-lo no tempo
na sociedade medieval, associacfies de base religiosa denominadas 1<confra- do rei Henrique, meu avo. Por isso quero e ordeno firmemente que eles
rias». Estas airmandades», vinculadas pelo culto comum a um santo patrono, J possam praticar legalmente o seu oficio em toda a parte e que possam
praticavarn obras de caridade e tinham a seu cargo a organizacfio das festas ter todas as coisas acima mencionadas, tao bem, pacifica, livre, honrada
religiosas. 1
e inteiramente como sempre as tiveram no tempo do rei Henrique, meu
Foi no seio das confrarias que quase sempre se estruturaram as corpo- avo. Assim paguem-me sempre em cada ano 2 marcos de ouro pela festa
racoes de oficios ou guildas, que proporcionaram ao trabalho medieval o seu de S. Miguel. E proibo a quem quer" que seja o fazer-lhes injuria ou insulto
quadro proprio. _ {J a este respeito, sob pena de 10 libras de multa; testemunhas: Thomas de
As corporacfies, dotadas de estatutos minuciosos e rigidos, protegiam 0 \
'5:
Canterbury; Warin Fitz Gerold, camareiro. Em Winchester.
trabalho pela manutencfio de estritos monopolios economicos e garantiam
uma certa assisténcia social aos seus membros. Tornadas poderosas, vieram ".1 [Monumenta Gildhallae Londoniensis, Liber Custumarum, ed. Henry
Thomas Riley, London, 1860, p. 33].
a desempenhar um papel muito importante no governo das cidades.
Certas guildas de mercadores ultrapassaram o quadro da propria cidade.
associando comerciantes de varios burgos. A mais importante destas associa- (1) Henrique II, rei de Inglaterra de 1154 a 1189. (1) Justitiarii no texto latino. Eram
(,'5es foi a Liga Hansedtica, que acabou por ser uma verdadeira confedera;50 1-ramo
‘- ,"' Oficiais da ciiria régia encarregados de poderes judiciarios. (3) Vicecomites no texto
de cidades mercantis do Norte da Europa. - 1a‘1"°- (‘) Ministri no texto latino. (5) Henrique 1, rei de Inglaterra de 1100 a
1135
1 :~
ié.
3.
*4
I
I
[...] Se algum dos acima citados irmaos vier a morrer na dita cidade on em
qualquer outro sitio, logo que o conhecimento deste facto chegar ao juiz, SOBRE A NATUREZA DA LIGA HANSEATICA
0 dito juiz ordenara que seja celebrada uma missa solene por ele, na qual (1469)
cada um dos irmaos da dita guilda que fica na cidade fara a sua oferta;
e além disto, o juiz mandara cada capelao da dita guilda, imediatamente Tendo algzms mercadores lzanseatas sido aprisionados em
depois da morte de qualquer irmao, dizer trinta missas pelo falecido. 13' 1 Inglaterra, 0 Conselho Real inglés procurou responsabilizar
a Hansa. Em resposta, esta redigiu um documento sobre a
O juiz e os escabinos da dita guilda sao por seu dever obrigados a visitar sua natureza juridica, onde declarava nao ser uma sociedade,
quatro vezes por ano todos os enfermos, todos os que se encontram em corpo ou colectividade, mas sim uma federaciio de cidades
necessidade, indigéncia ou pobreza, e apoia-los e ajuda-los com as esmo- sem qualquer organismo, instituiciio ou responsabilidade
las da dita guilda. comuns. -
Se um irmao se tomar pobre e necessitado, devera ser sustentado em
2 —A Hansa teutonica [...] é uma confederacao permanente de cidades,
alimentos e vestuario, segundo as suas necessidades, a partir dos rendi- ( .
vilas e comunidades para assegurar o desenvolvimento favoravel e o sucesso
mentos das terras e possessoes, bens moveis e imoveis da dita guilda. [...] -*.
1
222 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
foram escritas. [...] Cada vez que é necessario deliberar sobre negécios pen-
dentcs, cada cidade envia os seus porta-vozes munidos dc instrugbcs, que
nao sao chamados conselheiros, mas porta-vozes.
6 — A Hansa teutdnica nem nenhuma das suas cidades tem 0 poder dc
I
ordcnar assembleias ou fixar reunibes. Mas cada vez que surgem dificul- c. O INCREMENTO DO COMERCIO
dades as vilas da Hansa, por consentimento mlituo, rcfinem-se num local
E AS NOVAS VIAS DE COMUNICAQAO
e decidem observar entre elas o que consideram 1'1til para os seus mer-
cadores. [...] (SECULOS XIII E XIV)
,,
in‘
T’ * T —-‘W -
Genoardo Tasca. Stabile e Ansaldo Garraton formaram uma societas UMA PAGINA DO
na qual, como miituamente declararam, Stabile contribuiu com 88 £ <<LIVRO SECRETO»
[genovesas] e Ansaldo com 44 £. Ansaldo transportarzi este capital, a DE UM MERCADOR FLORENTINO
fim dc o por a render, para Tfinis ou para onde quer que for o navio que (1384)
!
tomar, a saber [o navio] de Baldizzone Grasso e Girardo. No seu retorno
[colocara os lucros] em poder dc Stabile ou do seu representante para a Todo 0 homem de negdcios possuia 0 seu Iivfo de registos
divisao. Depois de terem dcduzido 0 capital, dividirao os lucros ao meio. de transacpoes, de despesas e receitas, de vendas de'proprie-
Dada na casa do capitulo a 29 do Setembro de ll63, décima primeira dades, etc. Estes apontamentos tinham um cardcter muito
pessoal, apesar de dizerem respeito a assuntos de ordem
indiqio. s
economica, pelo que 0 livro do seu registo era designado
Acrescenta-se que Stabile da autorizaqao a Ansaldo para enviar aquele na Italia por libro segreto.
dinheiro para Génova, pelo barco que lhe parecer mais conveniente.
[Robert S. Lopez and Irving W. Raymond, Medieval Trade in the Em nome dc Deus, da Virgem Maria e dc todos os Santos —possam
Mediterranean World, Columbia University Press, 1961, p. 179.]
eles conceder-me safide no corpo e na alma e prosperidade no nego-
cio — registarei aqui todos os meus negécios com a nossa compa-
O PROCESSO DO CREDITO: nhia (1).
A LETRA DE CAMBIO A 1 dc Janeiro do 1385, Giovanni di Giano e os seus socios fizeram-me
E. socio do seu negécio dc seda por tanto tempo quanto o que estivesse na
Um dos grandes progresses da técnica comercial italiana .31,
vontade de Deus. Eu deveria investir 300 florins dc ouro, que nao possuia,
foi a divulgaefio da Ietra de cambio. Esta operaefio permitia
estando na realidade ainda agora em divida para com a sociedade. Toda-
a qualquer efectuar um empréstimo, pagdvel dentro de um
prazo determinado, noutro local e noutra moeda. via, com a ajuda de Deus- espero ter rapidamcntc ,0 dinheiro c dcverci
receber duas partes em cada vinte e quatro, por outras palavras, um doze
Avinhao, 5 dc Outubro dc 1339. avos dos lucros totais. Fizemos as nossas contas a 8 dc Junho de 1387,
por morte dc Giovanni di Giano, que descanse crn paz. A minha parte
Em nome dc Deus, amen. A Bartolo e seus companheiros, Barna dc dos lucros pelos dois anos e cinco meses em que tenho sido socio atin-
Lucca e companheiros, saudaqoes dc Avinhao. Siu 468 florins dc ouro e 7 soldi a fiorino (2). Graqas sejam dadas a
Pagareis por esta letra em 20 dc Novembro dc 339, a Landuccio Bus- §,_-. Deus. [...] _
draghi e companheiros, dc Lucca, trezentos e doze florins dc ouro e trés
quartos pelo cambio dc trezentos florins de ouro, porque eu recebi hoje [T712 Diary of Gregorio Dan‘, in Two Memoirs of Renaissance Florence.
wig
5:y=-§. m'§~.a>‘ ed. Gene Brncker, New York, Evanston and London, 1967, p. 108.]
esse dinheiro de Tancrcdi Bonagiunta e companheiros, E1 razao dc 41/4 p0I
cento a seu favor. E debitai na nossa coma. Dada a 5 de Outubro de 339.
Francesco Falconetti ordenou-nos que pagassemos a vosso favor (‘) O redactor deste alivro socreto» foi o mercador florentino Gregorio Dati, que so dedi-
230 escudos de ouro a companhia(1). °°ll especialmente a producio e venda dc sodas. (1) 29 midi a fiorino perfafiam urn
florim dc ouro.
A Bartolo Casini e companheiros, em Pisa. 1
Buonaccorso Pitti, membro de uma ilustre familia floren- A fixaedo dos mercadores e as novas maneiras de transaccionar deram pre-
tino, foi um comerciante e um jogador profissional nas cor- ferencia ao transporte maritimo, o qual havia sido melhorado pela difusdo
tes do Frangra, Inglaterra e' Paises Baixos. As suas activi- de certos inventos técnicos como a biissola, o Ieme fixo na papa e a velg Ia;im;_
dades mziltiplas, como a venda de mercadorias varias, empres- Com efeito, 0 transporte por mar revelava-se mais rdpido, mais ecomimico
timos de capitais e até missoes diplomdticas, sfio um exemplo
da projecgdo internacional dos grandes financeiros italianas e capaz de deslocar maiores cargas.
do século XIV. Por estas raz6es e também por se ler tornado perigosa no dem;-re; da Quem;
dos Cem Anos, 0 “caminho das feiras» viu-se abandonado. Uma importante
rota maritima passou a ligar Génova e Veneza a Londres e a Bruges através
Voltei a Paris, mas pouco depois sai para seguir 0 rei(1), que tinha partido
do Atlantico e da Mancha.
para Avinhio e Toulouse. [. . .] Depois do Natal viemo-nos embora. [...] Sem
parar em Paris, fui para a I-lolanda, onde ganhei outra grande soma.
Depois de um breve retorno a Paris, sai de novo para Inglaterra em com- ‘K
pela consignaqao descarregada em Génova era de 9% do custo; pela que Pflrte senao de Veneza, ao irem de Veneza para Flandres; mas ao volta.
chegou a Pisa paguei 14. Quando a la foi vendida e o dinheiro rew- gm dc Flandres para Veneza podem leva-las donde e para onde quiserem.
bido, verifiquei que em dezasseis meses tinha feito 1000 florins de our0 aqueles que carregam para 1r para Flandres nao pagam qualquer im.
com o empreendimento. Depositei este dinheiro nas maos de Luigi e Ghe- Posto em Veneza, e os que carregam coisas ao voltar da Flandres para
rardo Canigiani, em quem, depois da minha chegada a Florenga, ja'. tinha veneza podem meté-las, vende-las e trazé-las sem pagar qualquer im-
x
confiado 4000 florins de ouro, pelos quais aceitei letras de cimbio. E5“ posto em Veneza.
dinheiro fez aumentar grandemente 0 crédito gozado por Canigiani.
[Francesco Baldueci Pegolotti, La Prarica della Mercarura, ed Allan
[The Diary of Buonaccurso Pitti, in Two Memoirs of Renaissance F70‘ Evans, The Mediaeval Ac d r Am ' - ' -
_ rence, ed. Gene Brucker, New York, Evanston and London, 1967' chusetts, 1936, p. 144.1 a my 0 ‘ma’ Camb"dg°' Mm“
pp. 44 a 47.] ‘Ir
3
(1) Carlos VI, rei de Franea entre 1380 e 1422.
V
BRUGES COMO
ENTREPOSTO COMERCIAL
A FIXACAO DE MERCADORES ITALIANOS
EM LISBOA (SECULO xrv)
Bruges foi até ao século XV o maior entreposto comercial dos Com o desenvolvimento da via maritima Iigando a Itdlia
mares do Norte. A1’ estabeleceram feitorias mercadores de d Flandres, as portos atldnticos viram-se solicitados para
todas as nacionalidades, a partir do século XIII, e ao seuporto uma nova actividade. Muitos deles receberam verdadeiras
afluiram, entre outros, navios escandinavos, hansedticos, coldnias de mercadores italianas. ‘Assim, aconteceu a Lisboa.
franceses, ingleses, ibéricos e italianos. 0 mercador de Damos como exemplo um extracto da primeira carta de
Bruges era apenas um intermedidrio. A descriedo que se privilégios concedida a uma <<companhia» italiana, a dos
segue é de um florentino do século XIV, membro da Com- Bardi de Flarenpa (I338).
panhia dos Bardi.
Dom Afonso (1) pela graea de Deus rei de Portugal e do Algarve. A quan-
[...] Em Bruges ha duas enormes casas, a maneira de grandes palacios, as tos esta carta virem faco saber que Beringel Omberte me pediu por mercé,
quais casas se chamam armazéns (1); e num armazém vendem-se panos por si e por micer Nicolau Bertaldi da Companhia dos Bardos, da cidade
',-,.
de pura la por grosso e nao se abre senao trés dias por semana, a saber, de Florenqa, e por todos os outros mercadores da dita Companhia e da
£1-
a quarta-feira, a sexta-feira e o sabado; e no outro armazém vendem-se dita cidade, dizendo que esses mercadores da dita Companhia e da dita
panos por atacado, a retalho e de todas as maneiras que uma pessoa cidade querem vir morar e viver ao meu senhorio e que lhes fizesse algumas
queira, e esta aberta toda a semana. [...] mercés extremadas e liberdades. E eu, vendo que Beringel Omberte me pedia
O porto de mar de Bruges é Ecluse (2), vila qiiefica a beira do mar por si e pela dita Companhia dos Bardos e pelos mercadores da sobredita
do porto de Bruges, onde toda a mercadoria se carrega e descarrega nas cidade de Florenea e querendo-lhes fazer graqa e mercé, tenho por bem
":.'S.»."~;m' ,. .-Lu
naus, cocas, galés, ou outros navios; a qual vila de Ecluse fica distante de i e mando que os sobreditos mercadores que vierem a minha terra, que
Bruges 3 léguas da Flandres, ou seja entre 9 e 10 milhas. Entre a vila venham e morem e andem seguros por todo o meu senhorio por mar e por
:5 terra, assim eles como seus haveres e mercadorias. [...] Outrossim tenho por
de Ecluse e a de Bruges, ha uma vila que se chama Damme (3), a qual vila
de Damme fica sobre uma pequena ribeira que vai de Bruges a Ecluse, pela bem e mando que eles possam haver consul de entre si, feito por eles,
qual ribeira toda a mercadoria vai e vem em pequenos navios, dc Bruges 291:??- que oiea os seus feitos e as suas demandas. [...] E eu lhes devo assinar lugar
£5 em que morem e em que possam fazer loja de comum e outras casas para
para Ecluse e de Ecluse para Bruges; e da cidade de Damme até a de Bruges ii
vai uma légua flamenga, ou sejam 3 milhas. , 3133 terem seus haveres e mercadorias por grosso e por miiido. [...]
ZS
Dada em Coimbra, nove dias de Abril [...] Era de mil trezentos e setenta
e seis anos(Z). [...]
[Francesco Balducci Pegolotti, La Pratica della Mercatura, ed. Allan sf-rt‘-r
1».
Evans, The Mediaeval Academy of America, Cambridge, Massa-
chusetts, I936, p. 239.] A" [I050 Martins da Silva Marques, Descobrimento: Portugueses, vol. l,
___'55
Lisboa, 1944, pp. 53-54.]
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1 a. AS INSTITUICCES DE CULTURA
1
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1.
A ORIGEM DAS UNIVERSIDADES
I A Igreja de Deus, como uma mac piedosa, é obrigada a velar pela felici-
A
dade do corpo e da alma. Por esta razao, para evitar que os pobres cujos
1 Pais nao podem contribuir para o seu sustento percam a oportunidade dc
estudar e progredir, cada igreja catedral devera estabelecer um beneficio
sllficientemente largo para prover as necessidades dc um mestre, o qual
finsinara o clero da respectiva igreja e, sem pagamento, os escolares pobres,
!
1
l
F’
como convém. [...] Ninguém deveré. levar dinheiro pela concessao da licentia clérigos c pediu que fosse confirmada pela marca do nosso selo. Dada publi-
docendi(1), nem exigir nada dos professores (como era habitual anterior- camente em Paris no nosso capitulo, no ano da Encarnacao do Senhor
mente); também nao podera ser negada a liccnca para ensinar a nenhum 4. de 1180. [...] ‘
solicitante qualificado.
[Chartulariurn universitatis Parisiensis. 1. 49, in Lynn Thomdike,
Todo aquele que se opuser a esta lei perdera 0 seu beneficio eclesiastico. University Records and Life in the Middle Ages, Columbia University
Por isso parece justo que quem quer que por cobica tente impedir os inte- Press, New York, 1944, pp. 21 e 22.]
resses da igreja vendendo a licentia docendi seja privado do fruto do seu
trabalho na Igreja de Deus. o. (1) O proctor era o estudante que devia verificar se as funcoes universitarias se executa-
vam de acordo com os estatutos.
[Chartularium Universitatis Parisiensis, 1, n.° 12, p. 10.] I,-5
F1
(1) Esta licencapara ensinar costumava ser conferida, no século xn e nas escolas cate-
drais, pelo arcediago ou pelo scholasticus, seus dirigentes. . '1.
4_1./
AS ESCOLAS DE TOLEDO NO SECULO XII
os romanos, pus-me a caminho para encontrar um sitio onde ensinar a UM ESTUDO GERAL (12 DE NOVEMBRO DE 1288)
fazer florescer este género de estudos. [...]
q:p_
~yu,m:Ȣ.
Dispondo-se am grupo de prelados portugueses a sustentar
.2 com as rendas dos seus mosteiros e igrejas o funcionamento
[Transcrito em Jacques Le Goff, Les inrelectuels au Moyen Age, edi-
tions du Seuil, 1957, pp. 23 e 24.] de um estudo geral em Lisboa e obtido o consenso do rei,
imploraram a confirmapdo do papa, a qual veio de facto
'9"
Ilia.
A-13
a ser concedida por bula de 9 de Agosto de I290.
SOBRE A NATUREZA DOS <<ESTUDOS» Ao Santissimo Padre e Senhor, pela divina providéncia Sumo Pontifice
(SECULO xrn) da Sacrossanta Igreja de Roma (1); [...] Nos os acima nomeados (2), em com-
L\"l v-vi\Ir-"“~w-:
panhia dc pessoas religiosas, prelados, e outros, assim clérigos como secula-
0 titulo XXI de Las Siete Partidas de Afonso X de Leda e
res dos Reinos dc Portugal e Algarve [...], considcramos ser muito conve-
Castelo (I256-1263) regulamentou 0 funcionamento das
Universidades de Salamanca e Valladolid. A primeira lei, niente aos Reinos sobreditos e a seus moradores ter um estudo geral de
.-.»<I:».r
aqui transcrita, distingue o <<estudo geral» do <<estudo 'v-‘A
ciéncias, por vermos que a falta dele, muitos desejosos de estudar e entrar
particular». no estado clerical, atalhados com a falta dc despesas e discémodos dos
caminhos largos e ainda dos perigos da vida, nao ousam e temem ir estu-
O QUE E UM ESTUDO, QUANTAS FORMAS DELE dar a outras partes remotas, receando estas incomodidadcs, de que resulta
EXISTEM E POR MANDADO DE QUEM DEVE SER FEITO
apartar-se de seu bom proposito e ficar no estado secular contra vontade.
Por estas causas pois, e muitas outras uteis e necesszirias que seria dilatado
Um estudo é uma associacao dc mestres e de escolares feita num deter-
relatar por miiido, praticamos tudo e muito mais ao Excelentissimo Dom
minado lugar com a vontade e a intencio de aprender os saberes. E dele
Dinis nosso Rei e senhor, rogando-lhe encarecidamente sc dignasse de
existem duas modalidades: uma é a que chamam <<estudo geral», onde ha
fazer e ordenar um geral estudo na sua nobilissima Cidade dc Lisboa. [...]
mestres das artes, assim como de gramatica, de logica, de retérica, dc aritmé-
Ouvida por este Rei e admitida a nossa peticao benignamente, com con-
tica, de geometria, de rnusica e de astronomia, e outrossim em que ha mes- :-
(1) Os professores de Direito Civil eram denominadas seriores nas Universidades espa- [A. Moreira dc Sé, Chartularium Universitatis Portugalensis (I288-
nholas. -I537), vol. 1, Lisboa, 1966, pp. 8-9.]
-.
‘i
:2 (‘) 0 Papa Nicolau IV (1288-1292). (1) O abade de Alcobaca, os priores de Santa Cruz
:-
d= Coimbra, S. Vicente dc Lisboa, Santa Maria de Guirnaraes, Santa Maria de Alca-
€0va de Santarém c mais 22 reitores das principais paroqutas do Pais.
a
1.
If
S.
CARTA DE D. DINIS PRIVILEGIANDO O ESTUDO navos conhecimentos se estruturaram, vindo a surgir a especializagao das
GERAL DE LISBOA (l DE MARCO DE 1290) <<Faculdades». Desta maneira, ao lado da Faculdade das Artes ou Filosofia,
que passou a ter um caracter preparatdrio, surgiram as de Teologid. Decre-
Esta carta régia é o primeiro documento conhecido a referir tais e Medicina.
a existéncia de um estudo geral funcionando em Lisboa. __0 enriquecimento das cidades e o progresso dos estadosgnacionais origi-
Por ela D. Dinis, tomou sob a sua proteccdo todos os esco-
lares que acorressem ao novo estudo, cujo estabelecimento naram a multiplicapdo dos escolares e das Universidades, uns e outras cons-
deve ser, pois, um pouco anterior a Mario de I290. tantemente privilegiados pelos municioios e governames.
'1'!H‘-
[...] Ora, desejando Nos enriquecer nossos Reinos com este precioso tesouro, (I
houvemos por bem ordenar, na Real cidade dc Lisboa [...], um Estudo Geral, CONDICOES PARA SE PODER SER MESTRE
que nao so munimos com copia de doutores em todas as artes, mas também .4.
'1
EM ARTES NA UNIVERSIDADE DE PARIS (1215)
roboramos corn muitos privilégios. Mas, porque das informacoes de algu- 4
mas pessoas entendemos que alguns virao de varias partes do nosso dito O Cardeal legado Robert de Courpon estabeleceu, no ano
'
de 1215, os regulamentos para se obter em Paris a Iicencia-
Estudo, se gozarem de seguranca de corpos e bens, Nos, querendo desen- Ti
tura em Artes e Teologia. Apresentamos o excerto referente
volvé-lo em boas condicocs, prometemos, com a presente carta, plena a Faculdade das Artes, muito interessante por nele indicar
seguranca a todos os que nele estudam ou queiram de futuro estudar, as obras usados como livros de texto.
e nao permitiremos que lhes seja cometida ofensa por algum ou alguns de ‘
maior dignidade que sejam, antes, com.a permissao de Deus, curaremos Ninguém podera ser lente em Artes, em Paris, antes de ter 20 anos de
de os defender de injurias e violéncias. Além disso, quantos e ele vierem idade; devera ter ouvido leituras pelo menos durante seis anos antes dc
nos acharao em suas necessidades de tal modo generosos que podem e comecar a leccionar e prometera ler pelo menos durante dois anos, salvo
devem fundamentalmente confiar nos multiples favores da Alteza Real. [...] por impedimento com causa razoavel, a qual devera revelar piiblicamente
ou perante examinadores. N50 devera estar manchado por nenhuma infa-
[A. Moreira. de Sé, Chartularium Universitatis Portugalensis (1288- mia e quando estiver pronto a ler devera ser examinado de acordo com
-1537), vol. 1, Lisboa, 1966, pp. 11 e 12.]
a forma exarada na carta do senhor bispo de Paris, onde esta’. contida a
paz confirmada entre 0 chanceler e os escolares, pelos juizes delegados
W10 papa. [...] E lerao nos livros de Aristoteles na antiga e nova Dialéctica,
ordinariamente nas escolas e nao ad cursum (1). Lerao também em ambos
2. os Priscianos (1), ordinariamente, ou pelo menos em um deles. N50 lerio
A ORGANIZAC/T0 nos dias santos, excepto nos filosofos e em Retorica e no Quadrivium e
E 0 ENSINO UNIVERSITARIO nos Barbarismus (3), e nas Eticas sc lhes agradar, e no quarto livro dos
T<5Picos. N50 lerao nos livros de Aristoteles dc Metafisica e Filosofia
A designacao de <<Estudo Geral» acabou por ser substituida pela de <<Univer- Natural (4) ou nos seus sumarios ou no que respeita a doutrina de mestre
sidade», que assim passou a significar a corporapao ou guilda de professores David de Dinant ou do herético Amaury ou Mauritius dc Espanha (5).
e alunos. O novo termo surgiu escrito pela primeira vez em Oxford (I240),
para, no entanto, so se oficializar uns anos mais tarde em Paris (1261). M45 [Chartularium Universitatis Parisiensis, 1, 73, in I-Ynn Thorn<!ik=.
University Records and Life in the Middle Ages, Columbia Univer-
sigmficando jei entfio uma associapfio de escolas ou faculdades. ‘xgt sity Press, New York, 1944, pp. 27 e 28.]
Com efeito, enquanto nos primeiros Estudos as matérias aprendidas eram vi‘
apenas as sete artes liberais, com predominio do trivium, a partir do século X" 1‘) As leituras ad cursum eram as menos importantes. dadas a tarde, enquanto 85 |=i!Ul'35
Jrci1rla
1.
1
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Paris, foram condenados pela Santa Sé (respectivamente em 1212 e 1207), por adoptarem flitos entre as autoridades estudantis e mtmicipais. A Comuna
ideias inspiradas nos comentadores arabes. de Bolonha, ciente dos prejuizos economicos derivados destes i
tumultos e dos que adviriam da possivel deslocacdo do Uni-
versidade para outra cidade, por vdrias vezes redigiu esta-
tutos de protecpdo d classe estudantil.
As FUNQOES no matron J
Ordenamos que os doutores de lei civil e os doutores de decretais nao
NOS ESTUDOS DA ESPANHA ii":
possam ser chamados a servir no exército ou a participar em qualquer
(SECULO xm) r-151??
t .- campanha rnilitar a favor da Comuna de Bolonha, nem devem ser empre- '1
A sexta lei do titalo XXI de Las Siete Partidas conferia as gados na guarda do Castelo. [...] .
Universidades espanholas o cardcter de verdadeiros cor- Ordenamos que as perdas sofridas pelos escolares cm discérdias e con-
poraeoes e deu ao reitor funpoes essencialmente discipli- ' tendas sejam totalmente cobertas pela Comuna de Bolonha. [...]
nadoras. ' :£‘I@< Também devera haver uma avaliacao anual das hospedarias, feita pela
Comuna de Bolonha, por meio de dois homens bons eleitos pela cidade
COMO OS MESTRES ESCOLARES PODEM FAZER AJUNTAMENTO E de Bolonha e dois escolhidos pela Universidade. [...]
IRMANDADE ENTRE SI E ESCOLHER UM QUE OS CASTIGUE
Também a Universidade dos escolares tera os mesmos privilégios que
as outras guildas do povo de-Bolonha no que respeita a obtenqio de trigo
[...] Outrossim podem estabelecer por si mesmos um principal sobre todos e outras mercadorias de uso comum. [...]
a quem chamam em latim rector, que quer dizer regedor do estudo, ao qual
Também os escolares serio cidadaos, tratados como tal, considerados
obedecam nas coisas que forem convenientes e aguisadas e direitas. E 0 Cidadaos e a sua propriedade protegida como a dos cidadaos. [...]
reitor deve castigar e premiar os escolares que nao levantem bandos nem :-
pelejas com os homens dos lugares onde fizerem os estudos nem entre si [A. Gaudenzi, <<Gli antichi statuti del Comune di Bologna intorno allo
mesmos e que se guardem em todas as circunstancias de nao fazer desonra ‘Y Studio», in Bulletino dell'lstituto Storico Italiano, n.° 6, 1888, p. 130.]
nem dano a ninguém; e proibir-lhes que andem de noite, mas que fiquem
sossegados nas suas pousadas e procurem estudar, aprender e fazer vida v-1
,. UMA UNIVERSIDADE
honesta e boa: porque os estudos para isso foram estabelecidos e nao para
DE TIPO ESTUDANTIL: BOLONHA
andar de noite ou de dia armados, <<trabalhando-se» de pelejar ou dc fazer
outras loucuras ou maldades com prejuizo de si e disturbios dos lugares r
Os excertos que se seguem fazem parte dos estatutos que
onde vivem; e se contra isto vierem, entao o nosso juiz os deve castigar vigoravam em Bolonha na primeira metade do século XIV
e endireitar de maneira que se afastem do mal e faqam o bem. (I317-I347). Os estudantes, sempre estrangeiros d cidade,
elegiam entre si um reitor, que deveria chefiar a corporapdo
[Las Siete Partidas, tit. xxi, V1, in Antonio G. Solalinde, Antololi“ : ou auniversitas».
de Alfonso X el Sabio. Col. Austral, Espasa-Calpc, 1941, p. 138-]
1%-
.. Para o cargo de reitor devera ser escolhido um estudante da nossa Uni-
versidade, de qualidades distinguidas e de rigorosa e honesta conduta e
t. m_- ,6
7-» -7-— -— —- *- A
moralidade, que possa ser recomendado pela sua prudéncia, reticéncia, i vinho e da came e das outras coisas que mandam trazer e comprar para
r seu comer e para a sua gente. E isto nao tenho cu por bem se assim é, por-
justica c utilidade para a Universidade. Devera ter atingido o seu vigésimo
quinto ano e, no que diz respeito at idade, se existe qualquer duvida pela 1‘ que vos mando que vos nao lhes filheis portagem nem costumagem das
parte do seu reitor e do Consiliarii, devera corroborar o depoimento por ditas cousas em vossas vilas e em vossos lugares nem sofreis a outro nenhum
um juramento pessoal. [...] que lho filhe. [...]
Além disto, 0 candidato devera ser um clérigo (1), nao casado, e usar
I [A. Moreira de Sé., Chartularium Universitatis Portugalensis (1288-
as vestes clericais, embora nao deva ser membro de uma ordem monas- -1537), 1, Lisboa, 1966, pp. 56-57.]
tica. [...]
Decretamos que a eleicao do reitor dos U1tramontanos(2) tenha lugar
- \
no primeiro ano, no primeiro de Maio e de entre uma das quatro nacoes (3),
SOBRE O PAPEL DOS LIVREIROS
que sao os Franceses, os Espanhéis, os Provencais e os Ingleses. No ano
NA UNIVERSIDADE (SECULO XIII)
seguinte e no segundo dia de Maio, o reitor dever:-i ser escolhido de entre
uma das oito nacoes que sao: Picardos, Burgimdios, Poitevinos, Gascoes, As cidades universitdrias tiveram sempre o cuidado de regu-
Turonianos (4), Cenomanianos (5), Catalies e Polacos. No terceiro ano lamentar o comércio dos livros, que muito se havia desenvol-
sera escolhido entre os Germanos. [...] ' vido por trds das suas muralhas. Os livreiros produziam
muitas vezes as exemplares, que vendiam ou alugavam aos
[Heinrich Denifle, <<Die Statuten der Juristen-Universitit Bologna», estudantes, tendo que trabalhar nas suas lojas copistas,
in Archiv fir Literatur-and Kirchengeschichte des Mittelalters m, 1 iluminadores e encademadores.
1887, pp. 256 e 259.] -
a \
(1) Tanto os estudantes como os professores eram ainda, na sua maioria. clérigos.
(1) Os estudantes estrangeiros, por oposicio aos italianos, denominadas <<Citra.mon-
ta DE LAS SIETE PARTIDAS DE AFONSO X (1256-1263)
7 . E mister que haja em cada estudo geral 1ivreiros(1) [...] e que tenham nas
tanos». Cada um destes grupos tinha o seu reitor. (3) Cada meio agrupava as estu-
suas lojas livros bons, legiveis e verdadeiros, de texto e de glosa, que alu-
dantes e os professores vindos de um mesmo pals. (4) Da Touraine. (5) Do Maine.
’-1?; guem aos escolares para exemplares (2), a fim de fazerem por eles livros
de novo ou para emendarem os que estivereme scritos. [...] Outrossim deve
ISENCAO DE PORTAGEM E COSTUMAGEM 0 reitor apreciar com 0 conselho dos do estudo, quanto deve 0 livreiro
PARA OS ESCOLARES DE COIMBRA _ - 1-,- receber por cada caderno que emprestar aos escolares para escreverem
(16 DE SETEMBRO DE 1310) OH emendarem os seus livros: e deve outrossim receber dele bons fiadores,
em como guardara bem e lealmente todos os livros que lhe forem dados
Tendo-se dado vdrios conflitos entre a Universidade de Lis- Para vender e nao fara engano.
boa e o Municioio da mesma cidade, D. Dinis resolveu trans-
ferir 0 seu <<Estudo» para Coimbra (1308). Nessa cidade. [Las Siete Partidas, tit. XXI, XI, in Antonio G. Solalinde, Antologia
onde se manteve entao até 1338, continuou a instituigdo de Alfonso X el Sabio. Col. Austral, Espasa.-Calpe, 1941, p. 140-]
a gozar do proteccdo régia, para a qual apelava sempre qtw
(‘) Estacionarios no original castelhano (do latim stationarii). Os livreiros eram assim
se levantavam dificuldades ao seu funcionamento. denominadas por nio serem vendedores ambulantes e terem uma loja fixa numa deter-
millada cidade. (1) Como livros arquétipos que serviriam de modelo a copias.
Dom Dinis etc. a todas as justicas dos meus reinos que esta carta virem,
faco saber que a universidade dos mestres e dos escolares do meu estudo - DOS ESTATUTOS DA CIDADE DE BOLONHA (C. 1274)
de Coimbra me enviaram dizer que alguns em nossas vilas e em nossos
lugares que lhes filham portagem e costumagem das viandas do pio e <10 Para vantagem comum dos escolares e do estudo, ordenamos aos livreiros (1)
ti
..
I
que nunca vendam exemplares de livros de texto e de comentarios, nem em infligindo qualquer dano ou prejuizo com rasuras e estragos nos cadernos
caso algum os cedam aos estudos dc outras cidades [...] sob pena dc 100 ou folios. [...]
libras bolonhesas. [...]
Além do mais ordenamos aos livreiros que tenham os seus exemplares [Munimenta Academica or Documents illustrative of Academical Life
and Studies at Oxford, part. 1., <<Libri Cancellarii et Procuratorum», ed.
bem corrigidos e emendados -e que facam cépias destes textos emendados Henry Anstey, London, 1868, pp. 263-264.]
quando os estudantes lhos pedirem. Para a copia debitarao o que tém por
-.'
costume debitar até aqui e nao mais.
4-1
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[A. Gaudenzi, <<G1i antichi statuti del Comune di Bologna intorno allo
Studio», in Bulletino dell’Lstituto Storico Italiano, n.° 6, 1888, pp. 123-
-124.]
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(1) Stationarii no original. Q .
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REGULAMENTOS
sonata A UTILIZACAO DA BIBLIOTECA
NA UNIVERSIDADE DE OXFORD
(SECULO XIV) 4
4
Visto que no decorrer dos tempos 0 grande e importuno mimero de estu-
dantes [na biblioteca] é de muitas maneiras prejudicial e visto que o sio 4
propésito daqueles que desejam aproveitar é prejudicado pela demasiada
4
concorréncia de pessoas banilhentas, a Universidade estabeleceu e decre-
tou que ninguém, salvo os graduados e os religiosos depois de oito 4
anos de estudo da filosofia, podera estudar na biblioteca da Universi- 4
dade. [...] 4
Também para uma melhor proteccao dos livros, a Universidade esta-
beleceu e decretou que todos os nela agora graduados e os outros q\1¢ 4
por concessio dos Estatutos possam entrar na Biblioteca [...] prestem um 4
juramento corporeo perante os comissarios delegados para esse fim p610 4
chanceler, antes da festa da Natividade do Senhor; [jurariio] em com0.
quando entrarem na biblioteca comum da Universidade com 0 objectivo .
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de estudar, pegario nos livros que consultarem honestamente, nao 11155
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que nunca vendam exemplares de livros de texto e de comentarios, nem em infligindo qualquer dano ou prejuizo com rasuras e estragos nos cadernos
caso algum os cedam aos estudos de outras cidades [...] sob pena de 100 ou folios. [...]
libras bolonhesas. [...]
Além do mais ordenamos aos livreiros que tenham os seus exemplares [Munimenta Academica or Documents illustrative of Academical Life
and Studies at Oxford. part. I, <<Libri Cancellarii et Procuratorum», ed.
bem corrigidos e emendadose que facam cépias destes textos emendados Henry Ansley, London, 1868, pp. 263-264.]
quando os estudantes lhos pedirem. Para a copia debitarao o que tem por __,
costume debitar até aqui e nao mais. -
.9;
[A. Gaudenzi, <<Gli antichi statuti del Comune di Bologna intorno allo
Studio», in Bulletino dell‘Lstituto Storico Italiano, n.° 6, 1888, pp. 123-
-124.1 #1
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(1) Stationarii no original.
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REGULAMENTOS
SOBRE A UTILIZACAO DA BIBLIOTECA
NA UNIVERSIDADE DE OXFORD
(SECULO XIV)
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Desde aquele tempo em que foi ela,
Depois ninguém nasceu t5o bela.
0 aparecimento de uma literatura profana em linguagens vernaculas coincidiu
Nem rainha nem condessa
com o despertar da vida urbana e o ressurgimento economico do século XII.
N50 vistes tal como essa,
Até entao, as obras litera'rias, tendo por foco de irradiacfio mosteiros e con-
Redondas havia as orelhas,
ventos, exprimiam-se em latim, seguiam regras e modelos classicos ou ver-
§ brancas como leite de ovelhas;
savam temas religiosos, morais e filosdficos, sempre com caracter didactico.
ii Olhos negros e sobrancelhas
0 afrouxamento das relapoes feudais e a maior facilidade de comunicacoes
Alva fronte até as cernelhas.
permitiram a divulgacao de formas literérias despretensiosas e populares,
A face tinha corada
que tinham por veiculo as linguas nacionais (o anglo-saxao, o baixo-alemfio,
_ como a rosa quando e granada.
as linguas d’oc e d’oil em Franco, o catalao, o castelhano ou o galaico-por-
Boca pequena e por mesura
tugués). Os temas destas composicoes variaram com os locais e as épocas.
muito formosa a catadura.
As regib'es do Norte deram preferéncia a uma literatura de guerra e feitos
> O seu colo e a sua petrina
de cavalaria (cancaes de gesta e romances corteses), enquanto o Sul, mais .1u-\
tal como a flor da espina.
individualista e requintado, exaltou o amor e a cortesia para com as damas
~; De suas tetas bem é s5:
(poesia provencal, cantigas de amor e de amigo). ' -1
S50 tais como a maca.
Oprogresso das burguesias urbanas trouxe consigo 0 aprepo por recita- 5 Bracos, corpo e todo 0 al
tivos de critica social e politico e por formas embrionarias de teatro quase
branco é como cristal.
sempre ligadas a festividades religiosas. ‘Z
Também o século XIII viu nascer a narrativa historica sob a forma 118 la Em boa forma foi talhada;
n50 era gorda nem mui delgada...
cronicas.
Da sua beldade deixemos estar
que n50 vo-la poderia contar.
»
[Transcrito em Bernard Pottier, Textes Médiévaux Francois et Romans.
_- des gloses latines a la fin du XV siecle, Paris, 1964, pp. 116 e 117.]
TEXTOS I-IISTORICOS MEDIEVAIS
A VIDA INTELECTUAL 249
UMA cAN<;Ao DE GESTA: I Por terra estao ambos os cavaleiros,
A CANCZO DE ROLANDO
Rapidamente se erguem de pé;
(SECULOS XI-XII) Pinabel é forte, agil e ligeiro,
O conde Ganelonfoi acusado defelonia por ter traido Rolando. Um procura o outro, ja n50 tém corcéis;
Dois cavaleiros, Thierry, o acusador, e Pinabel, parente e Com as espadas de guardas de ouro puro
defensor de Ganelon, vao numa justa decidir a sorte do conde. Batem e voltam a bater sobre os elmos de aco.
As cangoes de gesta sao o espelho da vida aventurosa dos Grandes sao os golpes, de fender os elmos,
cavaleiros da alta Idade Média e tém por finalidade endl- Muito se angustiam os cavaleiros franceses;
tecer a Iealdade que por eles é devida ao seu senhor.
<<Ai Deusl», diz Carlos, ufazei resplandecer 0 direito!»
Pots que prontos s50 para justar em batalha
[La Chanson de Roland, publicada segundo 0 manuscrito de Oxford
Estao bem confessados, absolvidos e abencoados; f:s?-"»'.1 ae\- e trad. para francés por Joseph Bédier, Paris, 1937, pp. 321 a 323.]
Ouvem suas missas e est5o comungados,
Mui grandes oferendas deixam pelos mosteiros.
Perante Carlos ambos se apresentam: 4
As esporas nos pés calcaram 1
I
UM <<CANTAR DE GESTA» PENINSULAR:
Vestem lorigas brancas, fortes e ligeiras 4
O CID (SECULO 'XII)_
I
os elmos claros sobre as cabecas fecharam,
Cmgem espadas com guardas de ouro puro, I
A primeira obra completamente escrita em espanhol (c. I140),
Dos pescocos pendem os escudos quarteados, o Poema del mio Cid, é a mais célebre acancao de gesta»
Nos punhos direitos os cortantes chucos. comemorativa da reconquista crista no Peninsula Ibérica.
Depois montaram ~nos seus rapidos corcéis; Mais realista do que as suas congéneres francesas, enaltece
no entanto, os mesmos valores de honra, bravura e Iealdade,
Ent5o choraram cem mil cavaleiros apanégio dos cavaleiros. '
que por Rolando tém piedade de Thierry;
Deus sabe bem qual serzi 0 fim.
Nove meses cumpridos, sabei, sobre ela jaz,
quando veio 0 décimo houveram-na que dar.
1
Grandes sao os gozos que v5o por este lugar,
quando meu Cid ganhou Valencia e entrou na cidade.
Sob Aix é o prado muito largo, Os que foram dc pé, cavaleiros sc fizeram;
Dos dois baroes ajustada esta a batalha; o ouro e a prata, quem vo-los poderia contar?
Sao bravos e de grande valentia todos foram ricos quantos ali houveram. I
E os seus cavalos corredores e ardentes; Meu Cid dom Rodrigo a quinta mandou tomar, 1.
Esporam-nos bem, largam todas as rédeas, no haver amoedado trinta mil marcos lhe couberam; (.
Com grande vigor v50-se ferir um ao outro- e os outros haveres, quem os poderia contar?
Os escudos quebram-se e estilhacam-se, . . . . .. . - Q - - - - - . - . - ¢ ¢ - - - - - - - . » - - . - - - - - - . - - . - . . . - - - - . - - . - - - - - . - - - - .. l
As lorigas rompem-se, as cilhas despedacam-se, ‘hmiwn-awe-n.‘-A. K.
As borrainas esvaziam-se, as selas caem por terra; Grande alegria é entre todos esses crist5os
Cem mil homens quedos olham, choram. com meu Cid Rui Dias, o que em boa hora nasceu. 4.
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A VIDA INTELECIUAL 251
250 TEXTOS H1sTorucos MEDIEVAIS
que o amou do coracao, que nunca amou coisa do mundo tanto, que n5o
pois dissera o meu Cid da sua boca, a todos: partia dele os olhos, e quanto o mais catava, mais se pagava dele e o mais
<<por amor do rei Afonso que da terra me expulsou amava. ‘
n50 entrara nela tesoura nem um pelo haverei talhado»,
[Demanda do Santa Graal. cap. 106, cit. em M. Rodrigues 1.894.
e que disto falassem mouros e crist5os. Licaes de Literatura Portuguesa. Epoca Medieval, 4.‘ ed., Coimbra,
Meu Cid dom Rodrigo em Valencia esta folgando 1956, pp. 236 e 237.] -
. . Q - - - - - - . - Q - - Q . - ~ - - - . - - - - Q . - - - - - - - | - - - . . - - - . - . - | - - - - - . - - . . - . . - ¢ - . - - ~ - - - ¢ --
4. (1) Estes dois cavaleiros, juntamente com Peroeval. eram os eleitos por Deus, de entre
[Poema del Mia Cid <<Canta.r dc las bodas», ed. e notas de Ramon os 150 da Tavola Redonda, para gomrem a presenca inefavel do Gr-aal.
Menendez Pidal, col. Clasicos Castellanos, Madrid, 1913, pp. 207
a 210.] “.1
‘f.
UM ROMANCE CORTES PENINSULAR:
UM ROMANCE CORTES 0 AMADIS DE GAULA
DO CICLO BRETAO: . (SECULO XIII) _
A DEM-ANDA D0 sazvro GRAAL
(SECULOS XII-X111) Influenciado pelos temas dos romances bret5es, o Amadis
de Gaula representou no Peninsula Ibérica 0 ideal cava-
leiresco, onde se conjugavam a rudeza do época e os cos-
Os romances corteses, menos rudes do que as can;:5es de tumes palacianos._ _
gesta, envolvem os temas de cavalaria em ideais palacianos
e até misticos. O texto que se segue é um extracto de uma
versao portuguesa (século XIII) da Dcmanda do Santo Graal, 0 Donze1(1) chamou Ganda1im(1) e disse-lhe: »
romance de matéria breta‘ muito em voga em todo o Oci- —Irm5o, leva a bom recato todas as minhas armas para a capela da
4 ->.-,>-.~-¢.a.me>».-Au-n.fl
dente europeu e como tal glosado em varios linguas. rainha, que espero ser esta noite armado cavaleiro; e, porque me Cflnvém
Pflfiit logo a seguir, quero saber se quereras ir comigo.
Aquele Brutos, que ent5o reinava, era um dos bons cavaleiros do mundo —Senhor, eu vos digo que, de meu grado, nunca dc vos me partirei.
e mui rico a maravilha, e havia muito conquerido por sua cavalaria. E havia A0 Donzel do Mar, vieram-lhe as lagrimas aos olhos, e, beijando-o na
uma filha dc 15 anos, que era a mais formosa donzela do reino de
wus 3.-A.-.13 ».
face, disse-lhe: '
Logres. E aquela sazfio que os cavaleiros vieram, estava el-rei acostado ’-2as —Amigo, faze ent5o 0 que te disse.
a uma fresta em seu paco. E quando os viu assim armados vir e sem com-
1
1
Gandalim pos as armas na capela, enquanto a rainha ceava; e, levan-
panha, conheceu que eram cavaleiros andantes, e foi muito alegre com +. W115 as toalhas, o Donzel foi 5 capela, armou-se com todas as suas armas,
eles, ca muito amara sempre cavalaria e aqueles que se trabalhavflfll °*°°Pto na cabeca e nas m5os, e fez a sua oracao ante o altar, rogando a
dela. D°“5 que, tanto nas armas como naqueles mortals desejos que por sua
Ent5o lhe enviou dizer por dois cavaleiros que viessem com ele pousari scnhflra sentia, lhe desse vitoria.
ca nao queria que pousassem com outrem. Quando Galaaz e Boors (1) 1---I Oriana (3) veio a presenca do rei(4), e, vendo-a t5o formosa, logo
ouviram seu mandado, tiveram que era ensinado a boa barba e guarn¢- 4. °s‘° P¢!1$0u que no mundo n50 poderia encontrar-se igual.
ceram-lhe muito e foram-se com os cavaleiros. E depois que foram dentr0 _Q\1¢ro pedir-vos uma mercé—-disse-lhe ela.
e foram desarmados, El-Rei fé-los assentar a par de si e fez-lhes muita honra é “De bom grado vo-la farei.
e comecou-llies a perguntar das suas fazendas. E eles lhe disseram jti We —Fazei-me ent5o cavaleiro 0 meu Donzel. E mostrou-lho de joelhos,
de algumas coisas. E a filha del-rei Brutos, que era mui formosa C0153- ante 0 altar.
catou mui gram peca Galaaz, e semelhou-1het5o formoso e t5o bem ta1had0,
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252 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
A VIDA INTELECFUAL
4 1
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256 TEXTOS 1-IISTORICOS MEDIEVAIS A VIDA INTELECIUAL 257
E dos muitos arroidos As grandes sinteses do século XIII, que ainda puderam harmonizar razdo
que te d5o a teus ouvidos e fé. seguiu-se a dissociapao destes dois elementos no centtiria seguinte. Ten-
os que andam a teu lado, tando-se Iibertar a fé do razao e analisar as possibilidades e alcance desta
ainda que matem 0 gado ultimo, caiu-se num eclectismo que marcou o fim do filosofia crista me-
nunca ouvem seus gemidos... dieval.
s4v.-
[In Antologia de Textos Castellanos, siglos xm al xx, ordenada e
anotada. por José Rogerio Sanchez, 3.‘ ed., Madrid, 1924, pp. 100 (.
a 102.] PARA SANTO AGOSTINHO os FILOSOFOS
PLATONICOS NAO ESTAO EM DESACORDO
COM os FUNDAMENTOS
Do CRISTIANISMO
Os primeiros grandes pensadores medievais procuraram focar
2. dentro do perspectiva do cristianismo temas e problemas
O PENSAMENTO FILOSOFICO jo abordados pelo pensamento grego, ou pelo contrario,
NO QUADRO DO CRISTIANISMO interpretor a doutrina crista a luz do filosofia cldssica.
I
Santa Agostinho (354-430) tentou esta aproximocdo pela via
platonica.
A filosofia medieval nasceu do esforpo de fundir harmoniosamente 0' legadn E querendo-me Tu mostrar em primeiro lugar como resistes aos soberbos
do pensamento ontigo com as principios do cristianismo. Aos sistemas pla- mas concedes gracas aos humildes e coin que misericordia Tua 0 caminho
tonico e aristotélico foi necessario acrescentar as nocoes de um Deus pessoal _ >4.--.An..r da humildade é apontado aos homens: procuraste-me através de um certo
e criador, de uma historia da humanidade desenrolando-se no tempo com buli- 5
homem inchado com um imensissimo orgulho, alguns livros dos plato-
zas predeterminadas e do intervenpao do grapa divina como instrumeflfv nicos traduzidos da lingua grega para a latina. E ai li, nao pelas mesmas
auxiliador do ascese humana. palavras, mas com a mesma finalidade e persuadido por muitas razoes
O pensamento grego nao foi conhecido em bloco pela Idade Média. Até de varias qualidades, que no principio era 0 Verbo e o Verbo estava junto
i.4--¢8i.1~/usa. 4.».
ao século V o filosofo cristao deu preferéncia ao platonismo e ao neopldt0- <36 Deus e Deus era 0 Verbo: 0 qual estava no principio junto dc Deus;
nismo, e encontramos em Santa Agostinho (354-430) o primeiro grande tra- -.414
todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada foi feito. [...]
.1-I
balho de fusao destes elementos. Se as obras de logica de Aristoteles nwlw €
Também ai li que Deus o Verbo n50 nasceu da carne nem do sangue,
deixaram de ser estudadas, no entanto so meado o século XII se tomou con- “"11 da vontade do homem, nem da vontade da carne, mas nasceu de Deus;
11
tacto com as obras de fisica, metafisica ei moral do mesmo filosofo. Este fat?!" !
mas que 0 Verbo foi feito carne e habitou entre nos n5o li ai. Encontrei
foi em grande parte devido aos pensadores judeus e érabes dos séculos XI- Z5595 livros, embora dito de outra maneira e por muitos modos, que
XII e XIII, que realizoram também novas tradupoes dos filosofos n¢0PI“' "do 0 Filho a forma do Pai n50 tentou um roubo para ser igual a Deus,
tonicos. Esta irruppao abrupta e caudalosa de material filosofico origilm“ Q ?:"ll1¢ em natureza Lhe era idéntico. Mas fez-se a Si proprio sem honras,
a grande actividade intelectual do século XIII, a qual teve essencialmeflu u_a"(:"d0 a forma de um servo; e foi feito a.semelhant;a dos homens e encon-
por campo a Universidade de Paris e foi conduzida pelos mestres do 0fd"f' mone C0111 os habitos do homem; e humilhou-se e fez-se obediente até a
-I.-1-
. .-'.-is
Franciscana (com 0 seu expoente em S. Boaventura, 1221-1274) e D0""7"' , mesmo a morte na cruz. [...]
cano (dominada por S. Tomas, 1225-1274).
[Santi Augustini, Confessionum, liber VII, cap. iX.]
L t'n.- 17
A VIDA INTELECTUAL 259
253 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
tuados a estes autores c ao corrente das suas formas de estilo, fé-los passar
0 ENSINO £1 retorica.
DA LOGICA ARISTOTELICA
(sEcu1.0 x) [Richer, Histoire de son temps, liv. m, caps. XLV a XI.vn, trad.
francesa de J. Guadet; Société de 1'1-Iistoire de France, t. 11, Paris,
1845, pp. 51 a 54.] ~
Gerber! de Aurillac (c. 945-1003), que veio a ser arcebispo
de Reims, de Ravena e depois papa com 0 nome de Silves- 1;
tre II (999-I003), foi o melhor professor e 0 homem mais (l) O arcebispo Adalbéron. (1) C. 232-304. Este filosofo, discipulo de Plotino, perten-
sabedor da sua época. Dos conhecimentos de Gerber! sobre ceu a escola de Alexandria. (3) Autor dc um comentario sobre a Retdrica de Cloero.
o Organon de Aristozeles nos dd conta um seu discipulo, 0 (4) Possivelmente Boécio, que usava também esse nome. (5) Outra obra de Aristoteles
monge Richer. sobre lbgica.
IQ.;\
[...] Durante a sua estada em Reims, Gerbert recomendou-se ao metro- DIALECTICA E FE (SECULO xn)
po1ita(1) pela importancia dos seus trabalhos, e antes do que qualquer
outro caiu nas suas boas graeas. A seu pedido, reuniu na escola uma mul- Pedro Abelardo (1079-I142), 0 maior pensador da sua época,
tidio de discipulos que ai vieram instruir-se nas ciéncias. interessou-se especialmente pela dialéctica, que utllizou
como um instrumento ao servico da fé. Tendo contribuido
para transformar a Universidade de Paris num centro bri-
ORDEM DOS TRABALHOS NAS SUAS LICQES lhante de estudos Iégicos e teoldgicos, teve, no entanto, de
Iutar contra a ma vontade de muitos‘d0s seus colegas.
Percorreu a dialéctica segundo a ordem dos livros e esclareceu-a com
explicacoes claras. Comentou primeiro 0 Isagoge de Porfirio (1), ou sejam Ultimamcnte os meus rivais inventaram uma nova calimia contra mim,
as suas introducoes, segundo a traducao do reitor Vitorino (3), e segundo pelo facto de eu escrever sobre a arte da dialéctica, afirmando que nio
Man1ius(4); explicou também com todo 0 desenvolvimento 0 livro (188 ;a~»“~.n.x- 6 permitido a um cristao tratar de coisas que nao digam respeito A fé.
Categories ou dos predicamentos de Aristoteles; demonstrou muito Dxzem que esta ciéncia nio so nao nos prepara para a fé, como a destréi,
habilmente em que consiste a Hermeneia(5), ou seja 0 livro da interpre- pelas irnplicacoes dos seus argurnentos. Mas muito cu me maravilho por
tacio. Iniciou enfim os seus auditores nos Topicos, ou bases da argumefle nao dever discutir o que a eles lhes é permitido ler. Se admitem que a
tacio, traduzidos do grego para latim por Cicero e esclarecidos por _ 8fIeAmilita contra a fé, decerto pensam nao ser ela uma ciéncia. Porque
livros de comentarios do consul Manlius. . g 3 cnencia da verdade é a compreensao de coisas cuja espécie é a sabedoria
numw.»a1mn
na qual a fé consiste. A verdade nao se opoe a verdade. Porque, assim como
COMO PREPAROU OS SEUS ALUNOS PARA PASSAREM A RETORICA t a falsidade nao se opoe ao que é falso, nem a maldade ao que é mau, tam-
:¢°m a verdade se nao opoe ao que é verdadeiro ou a bondade ao que é
Leu e explicou filtimamente quatro livros sobre as diferencas dos rad "1; {M5, pelo contrario, todas as coisas boas estio de acordo. Todo o
cinios, dois sobre os silogismos categdricos, trés sobre os hipotéticos, um <;>)nhec1mento é bom, mesmo o que diz respeito a maldade, porque um
sobre as definigoes e um sobre as divisoes. Depois destes estudos, q\1¢1'i' dagrmé recto o 'pede possu1r. Mesmo que ele se quexra defender da mal-
fazer passar os seus alunos a retérica; mas temeu que sem conhewf ,’ necessano conhece-la antecrpadamentez de outra manexra nao a
locucoes que se devem aprender nos poetas lhes fosse impossivel 611$?“ fgdpglg Evgar. _Embora urn acto seja man, 0 conhecimento que lhe diz
também A arte oratéria. Abordou, pois, os poetas com os quais pensa" .»-4.u4n->&l1»;-An»\n
dc outra room, ernbora S613 mau pecar, e born conheceruo pecado, a qoe
ser necessaria a farnY1iariza<;io: leu e comentou Virgilio, Estzicio e Teréfl' deve S" Corina nao poderemos fuglr. Nem: por xsso, a cxencxa matematlca
cio, assim como os satiricos Juvenal, Perseu e Horacio, juntamente <10‘? nslderada ma porque a sua pratnca (a astrologxa) é ma. Nem
0 poeta-historiador Lucano. Quando os seus discipulos se mostraram bah"
<
250 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS A
i
a
3. V Crimes. Que importa, com‘ efeito, que seja um homem, um anjo ou uma
1
estrela que venha pressagiar ao género humano a colera iminente do Altis-
O PENSAMENTO CIENTIFICO l
Simo? E quisesse o Céu que os desastres com que a frota dos Normandos
"E O ADVENTO acaba de atingir, como se diz, as provincias deste império tivessem sido l
DO EXPERIMENTALISMO ° Suficiente para expiar a aparicio deste astro terrivel (1)! Mas temo que
dele ainda deva resultar algum novo objecto de pesar, anunciado por
O pensamento cientzfico apoiado na experiéncia mio encontrou na Idadfl “"1 150 funesto prodigio; a menos, todavia, que os culpados nao tenham
Média campo adequado para 0 seu desenvolvimento. A actividade intelectual ressentido sobre eles proprios e sobre tudo 0 que lhes pertence um castigo
centrada nas Universidades desinteressou-se de forma geral das artes 115° assaf Brave, assaz amargo, quando este flagelo, surgindo com uma forca
liberais Iigadas a aspectos técnicas e prdticos, por menos dignas e ortodoxas- \¢rrivel, caiu sobre eles de uma maneira tao cruel. Possa sempre 0 meu
Todo aquele que tentou desvendar <<os segredos da natureza» viu 0 -5'?" t° Piedoso senhor conservar a sua forca em Jesus Cnsto e merecer a vida
estudo classificado como magia e feitiearia. Na realidade, dificilmente 0-? ° ¢rna.
interesses astronomicos se desligaram da astrologia, os quimicos da 4191".‘
mia ou as médicos da magia. Igillhfi-fdi, Vila Karoii Imperato_ris._in A. Teulet, Oeuvres Completes
d t. n, Société de l'H1stoire de France, Paris. 1843, pp. 109
0 lugar que ao aprendiz de cientista era recusado na sociedade cristfi a .
foi pois preenchido por judeus; mupulmanos e, a partir do inicio do século X111’ (l " observado no comeco do ano 837, nos signos da Virgem
e tratar-se do cometa iQ.Q@.4iQ.QA
por alguns mestres franciscanos que fizeram de Oxford a primeira @8691“
ocidemal com preocupacoes cientificas prziticas.
dos daala-fl¢8. (1) No més de Junho de 837 os Nonnandos devastaram as ilhas e povoa-
'1
"nbocadura do Escalda, levando em seguida a destruicio a toda a Frisia.
4
vHi ‘l
266 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS A VIDA INTELECIUAL 267
0 ENSINO DAs cIENcIAs cer plenamente este meio podera ler o livro que ele escreveu ao escolar
NO sEcULo x C. (1): ai se encontrara tudo isto amplamente tratado. [...]
Sem ter sido um inventor original, Gerbert (c. 945-1003) [Richer, Histoire de son temps, liv. m, caps. xux a uv, trad. fran-
eesa dc J. Guadet, Société de l’Histoire de France, t. K, Paris. 1845,
ensinou com entusiasmo as ciéncias do quadrivium, recor- pp. 54 a 63.]
rendo a experiéncias e prdticas engenhosas. Mais do que
um pontifice e.um espirito esclarecido, a tradiciia medieval
(ll Constantino.
viu nele um mdgico e um homem de feiticos.
Aqui esta no que respeita a logica. Mas nao parece fora de proposito dizer
que trabalho teve com as rnatematicas. Ocupou-se primeiro da aritmética, DAS VANTAGENS DA cIENcIA EXPERIMENTAL
que é a primeira parte desta ciéncia. Passou em seguida a mfisica, por (SECULO XIII)
muito tempo desconhecida nas Galias, e deu-lhe uma grande atencao. [...]
Rogério Bacon ( I214-1294), franciscano professor em Oxford,
E util dizer também, para fazer notar a sagacidade de um tao grande profundamente marcado pelo pensamento judaico e drabe,
homem e para convencer 0 leitor da sua habilidade, que trabalhos teve para foi um dos primeiros espiritos <<modernos» nu maneira como
explicar a astronomia. Transmitiu o conhecimento desta ciéncia difici1- ‘ considerou o valor da experiéncia e do conhecimento em geral.
mente inteligivel, com espanto geral, por rneio de certos instrumentos. Mal compreendido pelos seus superiores, morreu na prisdo.
Explicou primeiro a forma do mundo por uma esfera plena, de madeira.
exprimindo assim uma coisa maior por uma mais pequena. Fazendo obli- Desejo agora esclarecer os principios da ciéncia experimental, visto que
quar esta esfera pelos seus dois polos sobre 0 horizonte, fez ver os astros sem experiéncia nada pode ser suficientemente conhecido. Porque ha duas
do Setentriao em direccao ao polo superior e os do Sul em direccao ao maneiras de adquirir conhecimento, nomeadamente, pelo raciocinio e
polo inferior. Regulou esta posicao por meio do circulo que os Gregos pela experiéncia. O raciocinio arrasta consigo uma conclusao e faz-nos
chamam horizon, e os Latinos, limitans ou determinans, porque separa oll aceitar a conclusao, mas nao torna a conclusio certa, nem afasta a duvida
limita os astros que se véern, daqueles que se nao véem. Sobre esta linha dc maneira a que o espirito possa descansar na intuicao da verdade enquanto
de horizonte, colocada dc maneira a poder demonstrartsuficientemente 0 o mesmo espirito a nao descobrir pelo caminho da experiéncia; como tal,
levantar e o deitar dos astros, tracou regularmente os fenomenos natu- muitos téni argumentos dizendo respeito ao que pode ser conhecido, mas
rais e serviu-se deles para conhecimento desses mesmos astros. Duranw Porque tem falta de experiéncia, desprezam os argumentos e nunca evitam
a noite, quando as estrelas brilhavam, estudava-se e fazia notar, tanw ° q11¢ é prejudicial, nem seguem 0 que é bom. Porque, se um homem que
quando se levantavam como quando se deitavam, que obliquavam sobr¢ nunca tivesse visto fogo quisesse provar por raciocinios adequados que
as diversas regioes do mundo. [...] ° Togo queima, injuria e destroi as coisas, o seu espirito nao se daria por
Nao pos menor cuidado no ensino da geometria. Mandou préviamcflm Satisfeito desta maneira, nem ele evitaria o fogo até que nele colocasse
construir por um operario cinzelador um abaco, quer dizer, urna tibua a_ mio ou qualquer substancia cornbustivel, de forma a provar pela expe-
néncia o que o raciocinio tinha ensinado. Mas quando tivesse feito a pre-
propria para receber compartimentos. O seu comprimento foi dividido =91
Scnte experiéncia da combustio, o seu espirito adquiriria uma certeza e
vinte e sete partes, sobre as quais dispos nove sinais que exprimiam-i0d°5
descansaria na plena luz da verdade. Por esta razao, o raciocinio nao 6
os numeros. Fez também mil caracteres em chifre, os quais, dispostos.I1?5 S ' r --r -
vinte e sete compartimentos do abaco, davam a multiplicacao ou a div1s8° uficlemfi. mas e-o a expenencia.
de cada numero e dividiam ou multiplicavam esses nfimeros infifllws
[Rogerio Bacon, <<Opus Majus», transcrito cm J. Bruce Ross e M. Martin
corn uma tal velocidade que, em relacao a sua multiplicidade, se ¢°m' McLaughlin, The Portable Medieval Reader, 8.‘ ed., New York, 1958,
preendiam mais depressa do que se poderiam exprirnir. Quem quiser 0011113‘ p. 626.]
$1
verdade. -
a verdadeira visao das coisas, e é pela visao que conhecemos todas as
Abandonemos tais amizades e temores, porque Socrates e Platao sao
coisas. [...]
nossos amigos, mas a verdade ainda é mais amiga. [...]
Mas a ciéncia [matematica] ainda nao foi objecto de leituras em Paris.
N50 quero dizer, todavia, que nao seja uma boa coisa citar testemunhas
nem em qualquer outro sitio entre os Latinos; foi-0, no entanto, por duas
11_\lm.discurso, pois Galeno em muitos sitios, além da razao e da expe-
vezes, em Oxford, na Inglaterra, rnas nao ha sequer trés homens que conhe-
flcncia, que sao para todos os homens os dois instrumentos do juizo (como
cam o seu poder. [...]
cl‘ d_iZ I10 primeiro livro das Terapéuticas, capitulo terceiro), aponta em
[Rogerio Bacon, <<Opus Tertium», cap. XI, in Opera Inedita, ed._ J. 5~ t°'°¢"° lugar as testemunhas. [...]
Brewer, London, 1859, pp. 34-37.] Mas voltemos ao nosso tema e exponhamos as condicoes necessarias
a t°df> 0 cirurgiao que deseje pela arte exercitar no corpo humano a citada
A ARTE DA CIRURGIA (SECULO XIV) manflrfl e forma de operar. [...]
ed@§‘g1_1di<;6es exigidas aum cirurgiao sao quatro: a primeira é que seja
Um cirurgido francés, escrevendo em 1363 uma Iiistoria I14
cirurgia, mostrava-se impressionado pelo facto de as seus 60"‘ criado é 3 Segunda, liabilidoso 3..ICX'C¢l1'3., engenh_oso;._a quarta, bem
tempordneos darem preferéncia ao valor da autoridade sob?! nao a" e r 13°15, nccessario em primeiro lugar que o'c1rurgIao seja educado,
0 da experiéncia. O progresso da cirurgia foi mais do 1114? _».4- ‘~as.-'¢rm.->4;~t»ac.o4¢~»-nra.u »wa.i--
“dd; 1188 nos principios da cirurgia, mas tambem na medicina, tanto
o de qualquer outra ciéncia retardado por preconceitos mofl"-9 °°lI1o pratica. [...]
e religiosas. C025 Condicoes exigidas ao doente sao trés: que seja obediente ao doutor,
o “In servo ao seu senhor, [como se diz] no primeiro livro das Tera-
Eu, Guy de Chauliac, cirurgiio e mestre em Medicina, dos confins da
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a. O RENASCIMENTO ARQUITECTONICO:
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O ROMANICO E O GOTICO
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DO MOSTEIRO A CATEDRAL
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(ASPECTOS ARQUITECTONICOS)
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A arquitectura medieval foi essencialmente religiosa. Este facto derivou l
mi 6 d . . . .
0 s o papel desempenhado pelo edzflczo da igreja no plano religioso
como do que operou em todos as outros domt'nios: serviu de fortaleza em tem- I
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A IGREJA CATOLICA 2-,5
274 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
M“!
‘vII passaram quase trés anos, deu-se por todo o orbe da terra, especialmente
A REMODELACAO DA BASILICA DE REIMS na Italia e nas Galias, um surto de construcao de igrejas basilicais. Nao
NO sEcuLo X obstante 0 maior nfimero delas estar ja decentemente estabelecido e com
Em 976 0 arcebispo Adalbéron fez grandes obras na igreja de um minimo de necessidades, cada povo cristad se tomou émulo dos outros
Reims, metropolita das Gdlias, destruindo um vestibulo ou nar- para as erigir ainda com maior nobreza.
thex que datava do edificio carollngio consagrado em 862. Era como se o mundo, tendo-se sacudido e lancado fora oantigo, sc
O trecho que se segue, do monge Richer (c. 950-c. I000), estivesse revestindo com a candida veste das_igrejas. Como tal os fiéis
dd-nos conta, nao so das remodelacoes de estrutura do templo, reformaram quase todas as igrejas das sedes episcopais, e 0 mesmo fize-
como das obras de arte entao executadas para seu adorno.
ram aos mosteiros dos varios santos, assim como aos lugares de oracao
de menor importancia, nas vilas.
Nos primeiros tempos da sua promocao (1), ocupou-se muito com as cons-
trucoes da igreja. Destruiu por completo as arcadas que, estendendo-so [Rodulfi Glabri, Historiarum Libri Quinque, lib. In, cap. IV, in
desde a entrada até perto de um quarto da basilica, a cortavam até cima, ’ J. P. Migne, Patrologiae Cursus Completus, Series Latina, t. CXLII,
Paris. 1880, col. 651.]
de maneira que toda a igreja, embelezada, adquiriu mais espaco e uma
forma mais conveniente. Colocou, com as honras que lhe eram devidas,
o corpo de S. Calisto, papa e martir, mesmo a entrada da igreja, ou seja“
num local mais aparente, e ergueu um altar com um oratorio muito bem dis- V 0 ABADE SUGER E A RECONSTRUCAO
posto para aqueles que ai viessem rezar. Decorou o altar principal com uma DE s. DINIS (SECULO XII)
cruz de ouro e envolveu-0 dos dois lados com uma grade resplandecente.‘I _»
O abade Suger (c. I081-1151), conselheiro dos reis Luis VI
[Richer, Histoire de son temps. liv. nr, cap. Xxn, trad. franecsl e Luis VII, pretendeu fazer do igreja abacial de S. Dinis
de J. Guadet, Société de l'I-Iistoire de France, Paris, 1845, t. II, p. 7-3-I .- have-4Im»aA..»g.,-o‘_Q-as
um templo digno da dinastia que servia. Para este fim, diri-
giu e orientou as obras de reconstrugiio em todos os seus
(1) Adalbéron, arcebispo de Reims entre 969 e 988, foi uma figura politica importanlf- pormenores, tendo o cuidado de se rodear dos melhores
Chanceler dos reis carolingios Lotario (954-986) e Luis V (986-987), veio a contnbl-Ill’ técnicas e operarios do época. Quando a igreja foi sagrada,
para a coroacio de Hugo Capeto, sagrando-o rei em 987. _ T em 1144, tinha nascido um novo estilo, 0 gotico.
"uE.-a.s t“
' .\
l"-I libertos dos ditos trabalhos e retardando o acabamento das torres nas
0 sumo DA CONSTRUCAO RELIGIOSA Elsdiartes superiores, esforcar-nos-iamos com todas as nossas possibi-
NO micro Do sEcuLo XI _, I
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\_u-.-~$rs._~ '
nossa moor nos consagrarmos ao trabalho p despesas [...] dc alargar a Igreja
-. .i .-
O nascimento da arquitectura romtinica acompanhou 0 J9’ mint a:°- [--c~1]'Dcliberando sob a mspiracao de Deus, optamos [...] por res-
pertar da economia ocidental europeia depois de terminal”!- lel por ‘CV2 adeiras pedras, que sao sagradas como se fossem. rellquias;
as invasoes. Muitos ediflcios haviam sido incendiados 8 4' rr-r¢..._ ._- ‘ prcssiond I enobrecer o novo acrescentamento, que Ia ser iniciado sob
truidos por mouros, hungaros e normandos, mostr‘arId0_ 4 pudio De 6 tao grande necessidade, com. a beleza da‘ extensao e da am-
precariedade das construcoes com coberturas de made"? \
/I necessidade de reedificar as igrejas danificadas juntou- ‘bébaaq Pots de se ter considerado, for pois decidido remover aquela
o desejo de as alargar, pois mio so a populacfio tinha 011'" I‘ samos Pr;-£1 que por cima fechava a abside contendo os corpos dos nossos
tado, como a importancia dos templos e mosteiros M’ -or-5,0-ldr.
fia; dc formectores, todoiao longo da parte superior da cnpta a que ade-
crescido. O conhecido passo que se segue é do crorll-V’ mcmo aos 3 que esta cripta pudesse oferecer o seu topo como um pavi-
borguinhtio Raoul Glaber (c. 985-I050). ix “mar qllfil Sc aproximassem por qualquer das duas escadas, e apre-
Q S relicarios dos Santos, adornados com ouro e pedras preciosas,
.
uns aos outros, como deveriam estar, pelo volume das abobadas, surgiu
de repente uma terrivel e quase insustentavel tempestade, com uma ofus-
il
2
[Hugonis Rothomagensis Archiepiscopi, Epistolae, in J. P. Migne,
Plaggologitfi Cursus Completus, Series Latma, t. cxcn, Paris, 1880, cols.
1 e 1 4.
cacao de nuvens, uma inundacio de chuva e violentissimas rajadas dc
vento. [...] No entanto, enquanto [a tempestade] trouxe calamitosas minas
em muitos lugares, em edificios que se pensava serem firmes, foi incapaz
A RECONSTRUCAO DA CATEDRAL
de prejudicar estes arcos isolados e construidos de fresco, vacilantes no
DE CANTERBURY (1174-1184)
meio do ar, porque foi repelida pelo poder divino.
A Catedral de Canterbury, iniciada por volta de I070 sobre
[Guvres Completes de Suger, ed. e anot. dc A. Lecoy de la Marche, as minas da igreja fundada por Santo Agostinho, seguiu,
Société de 1'1-iistoire de France, Paris, 1867, pp. 224, 225 e 230.]
como todas as grandes construgoes inglesas desse periodo,
um estilo de importacfio normanda. Cerca de um século
mais tarde 0 fogo destruiu 0 coro, ainda de tecto de madeira,
A POPULACAO DE ROUEN COLABOROU 0 qual veio a ser reconstruido, com o transepto oriental
NA CONSTRUCAO DA SUA CATEDRAL (1145) e a critpa, por um novo mestre normando, vindo das obras
da catedral de Sens, a primeira em Franga a adoptar as solu-
A Catedral romdnica de Rouen, directamente infiuenciado goes goticas. A descriedo queisepsegue e’ de Gervdsio de
pelas construcoes da regiiio do Loire, iniciou-se um pout-'0 Canterbury (1141-I210), que fez a cronica do Arcebispado
antes de I037 e foi dedicada em 1063. Esta igreja, cujo plano no decorrer do século XII.
(com deambulatorio e absidiolos) veio a servir de modelv
a muitas catedrais inglesas, resultou de um esforpo colectivot E1;-] Ficou dito acima que, depois do fogo, quase todasas partes antigas
onde todos as paroquianos colaboraram, como se depreendl to coro foram destruidas e substituidas por qualquer coisa de novo e dc
dd Cflffd que S8 segue. ‘ "113 mais nobre. As diferenqas entre as duas obras podem ser agora enu-
'"°1’fldas. Os pilares do antigo e do novo trabalho sao iguais em forma e
Hugo, prior de Rouen, para 0 Reverendo Padre Teodorico, Bispo 4° _- Zfossura, mas diferentes na altura. Porque os ‘novos pilares foram alon-
Amiens, que possa prosperar sempre em Cristo, grande no trabalho <10 ::d°5 em quase doze pés.’ Nos antigos capitéis, o trabalho era simples,
Senhor, excelente em tudo o que seja de Sua vontade! [Os habitantes] ‘F-
.t~
vinstenovoshé extraordinario em escultura. Naquele, 0 circuito do coro tinha
de Chartres comecaram humildemente, como quadrigas, a transportar 6 dons pilares; neste, tem vinte e oito. Naquele, os arcos e tudo o mats
~:-
ii
A IGREJA cAToI.IcA 219
278 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS x
,_.
a representar as figuras biblicas com muito mais serenidade e realismo, assim
era simples ou esculpido com um machado, e nao com um cinzel. Mas neste, ».
como a fauna e a flora da sua regido. Também a pintura a fresco tendeu a
quase por toda a parte existe escultura adequada. Naquele nao havia
colunas de marmore, mas neste. sao inumeraveis. Naquele, no circuito
a roda do coro, as abobadas eram lisas, mas neste sao armadas sobre
E desaparecer, substituida pelo vitral q'ue, aplicado as grandes janelas e r0sd-
ceas goticas, atingiu uma época de maturidade e virtuosismo.
A0 longo de todo este periodo, o trabalho dos metais preciosos, do marfim,
nervuras e com uma chave. Naquele, uma parede assente sobre os pilares do bronze, as esmaltes e as iluminuras foram um campo de ensaio de novas
separava os cruzeiros (1) do coro, mas neste os cruzeiros nao estao separa- técnicas e 0 espelho da evolucfio de um gosta e uma mentalidade que lenta-
dos do coro por qualquer divisoria e convergem juntamente numa chave mente se <<eur0peizaram».
que esta colocada no meio da grande abobada que repousa sobre os quatro
pilares principais. l
Naquele havia um tecto de madeira decorado com excelente pintura,
A OURIVESARIA RELIGIOSA EM REIMS
mas neste esta uma abobada belamente construida dc pedra e tufo ligeiro.
(SECULO X)
Naquele havia urn so triforium, mas neste ha dois no coro e um terceiro A ourivesaria foi nos primeiros séculos dos reinos bdrbaros
na nave lateral da igreja. Tudo isto sera melhor compreendido por meio uma arte dominante. Este gosta pela decoracdo e pelo objecto
de uma visita do que por qualquer descricao. valioso manteve-se e as obras de joalharia amontoaram-se
nos tesouros das igrejas e dos principes. Entre elas eram
[The Historical Works of Gervase of Canterbury, ed. William Stubbs, frequentes as altares recobertos de placas de metais preciosos,
London, 1879.] com pedrarias e esmaltes engastados. A descricdo que se
segue é do monge Richer, que viveu na segundo metade
(1) Segundo a tradicao de muitas igrejas earolingias, esta eatedral tinha urna dupla abside do século X.
e dois trartseptos.
[...] Além disso, [o arcebispo Adalbéron] mandou fazer um altar porttltil de
om trabalho precioso (1). Sobre os quatro angulos desse altar, as imagens,
om ouro e em prata, dos quatro evangelistas, assistiam ao sacrificio ofere-
2. ¢ido pelo padre. As suas asas estendidas escondiam até ao meio os lados
AS ARTES DECORA TIVAS do altar, voltando as faces para 0 cordeiro imaculado. Sobre 0 mesmo
altar estava representado o trono de Salomao.
Subordinando-se por completo a estrutura da igreja, a decoraciio roménifill Mandou fazer também um candelabro de sete bracos: esses sete bracos,
ainda de um so pé, significavam que unicamente do Espirito Santo decor-
utilizou, além de frescos e mosaicos, a estatudria e 0 baixo-relevo, desapare-
cidos desde as finais do Império Romano. Os frescos encheram as igrejas I1! "=m os dons das sete gracas. Decorou também 0 tabernaculo com um
cor, cobrindo as colunas, as paredes e por vezes mesmo os tectos. Os moti- lrabalho nao menos elegante e ai encerrou a vara e o mana, ou sejam as reli-
vos desta pintura eram os mesmos da escultura que decorava as capitéis ¢ quias dos santos. Suspendeu também coroas fabricadas por alto preco,
os timpanos dos portais: temas biblicas (com preferéncia pelo ApocalipS¢- Para ornamentaeao da igreja; iluminou essa mesma igreja com janelas onde
Juizo Final e cenas de Inferno) e monstros bizarros cuja fonte de inspira§3° estavam representadas diversas historias (2) e dotou-a de sinos que rebou-
4
foi, provavelmente, tanto a tradicfio celto-germano como a oriental, preset!" Vam como um trovao.
nos tecidos de importacfio bizantina e persa. Toda esta temdtica, cuja eXpf¢-I’ [Richer, Histoire de son temps, liv. In, cap. xxm, trad. francesa
sdo devia valer por um auténtico exorcismo, revelava uma ansiedade col?!-" de J. Guadet, Societé de L’Histoire de France, t. I1, Paris, 1845, p. 24.]
tiva justificada ‘pela instabilidade e dureza da época. ' 1 E$l¢s altares, quase sempre dc pequenas dimensoes.
lug . _ .
serviam .
para levar em viagem.
As representacoes m0nstruosas.e o espirito de terror que delas emarllm‘E Uma das primeiras referencias a VlIl’2\lS hrstonados.
\>\.n-_,_
humanizaram-se ou desapareceram nas centurias seguintes. O artisla pl!-Y-Y0
280 TEXTOS I-IISTORICOS MEDIEVAIS A IGREJA cAroI.IcA 281
s. BERNARDO DE CLARAVAL parte dianteira de um cavalo arrasta atras de si a metade dc uma cabra li
CONDENOU os EXCESSOS DECORATIVOS ou um animal cornudo traz consigo os quartos traseiros de um cavalo.
DAS IGREJAS DO SEU TEMPO Em resumo, sao tantas e tao maravilhosas as variedades de diversas formas,
(SECULO Xn) onde quer que aparecam, que nos somos mais tentados a ler no marmore
do que nos nossos livros, e a passar todo o dia admirando estas coisas, de
Numa carta dirigida (entre I122 e 1125) a Guilherme, preferéncia a meditar a lei de Deus. Por amorde Deus, se os homens se
abade de St. Thierry, S. Bernardo condenou a decoracdo
nao envergonham destas loucuras, por que razao, pelo menos, nao fogem
exagerada do romtinico seu contempordneo. Desta atitude
derivou a adoppdo de um gotico austero e depurado, que a as despesas?
Ordem de Cister introduziu nas regioes onde edificou mos-
teiros, como aconteceu em Portugal. [Sancti Bemardi Abbatis Clarae-Vallensis, Apologia ad Guillelmum
Sancti-Theoderici Abbatem, cap. xn, in J. P. Migne. Patrologiae
Cursus Completus, Series Latina, t. ctxxxn, Paris, 1862, cols. 914
[...] Nada direi sobre as irnensas alturas dos vossos templos, o seu imo-_ a 916.]
derado comprimento, a sua largura supérflua, os polimentos sumptuosos,
as curiosas imagens que atraem a atencao de quem reza, prejudicam a
sua concentracao, e para mim representam de certa maneira o antigo rito o oosro PELAS PEDRARIAS
dos Judeus. Mas digamos que isto é feito para honrar a Deus. [...] E todavia NA OURIVESARIA RELIGIOSA
os bispos tém uma desculpa que os monges nao tém, porque sabemos que (SECULO XII)
eles, sendo devedores tanto dos sabios como dos ignorantes e incapazes
de excitar a devocao do povo carnal por meio de coisas espirituais, fazem-no Desejando completar um crucifixo de ouro, o abade Suger
pelos ornamentos corporeos. Mas nos [monges], que agora saimos do povo; (I081-I151), cujo gosta pela ostentacdo era a antitese de
S. Bernardo, diz-nos como lhe foi possivel adquirir um lote
nos, que deixamos todas as coisas preciosas e especiosas do mundo por amor de pedras preciosas.
de Cristo; nos que nao consideramos senao como esterco, para lograrmos
a Cristo, todas as coisas bonitas a vista ou eanoras ao ouvido, suaves ao [---] Quando eu me encontrava em dificuldades com necessidade de pedras
olfato, doces ao paladar ou agradaveis ao tacto —numa palavra, todos Preciosas e nao me podia prover suficientemente com mais (porque a sua
os deleites do corpo —, que devocao procuramos excitar com essas coisas? escassez as torna muito dispendiosas), eis que [monges] vindos de trés aba-
Que frutos, digo, delas esperamos? A admiracio dos doidos ou as obla- dias de duas ordens — isto é, de Cister e de outra abadia da mesma Ordem,
ooes dos simples? [...] ° do Fontevrault"(1) — entraram na nossa pequena camara adjacente a
[...[ soframos pois que isto se faca na igreja; porque embora possa ser lglclo c ofereceram-nos para compra uma abundancia de pedras como l
prejudicial para o povo vao e cobicoso, nao o sera para o simples devoto. nunca teriamos esperado encontrar em dez anos: jacintos, safiras, rubis
Q
Mas no claustro, debaixo dos olhos dos irmaos que ai léem, que fazem °$mcraldas, topazios. Os seus possuidores tinham-nas obtido do conde
aquelas ridiculas monstruosidades, aquela maravilhosa e disforme formo- Toobaldo (2) como esmolas; e ele, por sua vez, havia-as recebido das maos
sura, aquela graciosa disformidade? d_° Sou irmao Estévao (3), rei dos Anglos, dos tesouros do seu tio, 0 fale-
Para que sao aqueles imundos simios, aqueles ferozes leoes, aquel¢5 °'d° Poi Henrique (4), que as reunira através da sua vida em maravilhosos l
monstruosos centauros, aqueles semi-homens, aqueles tigres IIStl'8d051 va$°$- Nos, todavia, libertos da preocupacao de procurar pedras, demos
aqueles cavaleiros combatendo, aqueles cacadores tocando nas suas cor" 81'39115 8 Deus e entregamos
' -
por elas quatrocentas libras, embora valessem
netas? Véem-se ai muitos corpos com uma so cabeca, ou entao muitas muito mais. -
cabecas para um so corpo. Ai se encontra um quadrupede com um rab° ; Apliczimos para 0 acabamento de um tao sagrado ornamento, nao ape-
dc serpente; um peixe com a cabeca de um quadrripede. Ai, também, 3 nas eslils [pedras], mas também outras muitas e dispendiosas pedras, e
A IGREJA cAToucA 233
282 TEXTOS HISToR1c0s MEDIEVAIS
um ourives perito em ornamentos de ouro e prata, os quais nunca despre-
grandes pérolas. Lembramo-nos, se bem nos recordamos, dc ter posto nela
zarao 0 dever de olhar por eles, rccebendo para isso as suas prebendas
cerca de oitenta marcos de ouro fino. E somente dentro de dois anos fomos e 0 que além disto lhe for concedido. ‘como as moedas do altar e a anona (1)
capazes de completar, com varios ourives da Lorena ——p()I' vezes cinco, do celeiro comum dos irmaos.
outras vezes sete —, o pedestal adornado com os quatro evangelistas;
e a coluna sobre a qual repousa a imagem, esmaltada com subtilissima [(Euvres Completes de Sager, ed. e anot. de A. Decoy de la Marche,
arte, e nela a historia do Salvador, com as testemunhas das alegorias do Sociéte de l'I-listoire de France, Paris, 1867, pp. 204 a 206.]
Velho Testamento representadas, e 0 capitel com as suas imagens, olhando
(l) Tributo anual pago em trigo.
para cima, para a morte do Senhor. [...]
(1) Era uma célebre abadia de mulheres, fundada por Robert D'Arbrissel em 1099.
(1) Conde da Champagne. (3) Estévao, conde de Blois, rei de Inglaterra de 1135 a 1154.
(4) Henrique l, rei dc Inglaterra dc ll00 a 1135.
A--o1.,-1‘.
A IGREJA CATOLICA 23-;
236 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
sao de um colono e equivalia aproximadamente a um manso. (‘) Odo ou Eudes (em m
APOLOGIA DE CLUNY fr. Odon), reformador da Ordem de S. Bento, nasceu por volta de 879 e morreu e
Q
Tours em 943.
Nesta descricao das origens da instituigaa claniacense, 0
monge Raul Glaber (c. 985-I050) refere-se a rapida multi-
plicapao das casas da Ordem e ao carticter centralizado
A DIVULGACAO DAs INsrITuI¢oEs DE PAZ
do sua administracdo. (SECULO X1) .
Nos fins do século X as autoridades eclesiasticas comecaram
[...] Conta-se que a instituicao [monastica] e a pratica deste costume tive- a Iutar contra a inseguranca geral e anarquia provacadas
ram 0 seu principio nos mosteiros da regra do Santo Padre Bento e que pelas invasoes e prolongadas pelas lutas e descentralizacfio
foi trazida para o nosso territorio, ou seja para a Galia, pelo bem-aventu- feudais. Vorios concilios providenciaram nesse sentido e idéntica
rado Mauro, seu discipulo. [...] ‘4;-I 1?t"'>l '~*<
preocupagao manifestou Cluny. A trégua e a paz de Deus
a breve trecho se divulgaram pelas tireas feudalizadas. O tre-
Por iiltimo esta instituicao, que tinha ja quase por completo decaido, i cho aqui transcrito é do monge Raul Glaber (c. 985-I050).
encontrou, com a ajuda de Deus, um refugio de sabedoria onde deveria >
retomar forcas e frutificar, gracas a numerosos germes, no mosteiro conhe- E depois pela provincia Arelatense (1) e Lugdunense (2), através de toda a
cido por Cluny. [...] Burgundia "e nas regioes da Franca mais afastadas, todo o episcopado deci-
Este conseguiu, na verdade, mercé de varias dadivas, um notavel incre- diu que se reuniriam assembleias, em locais determinadas pelos bispos e
mento, desde a época da sua fundacao. O prior dos monges do Mosteiro pelos grandes de todo o pais, para restaurar a paz e a santa fé (3). [...]
Balmense (1) acima citado, de nome Berno, iniciou a sua construcao por Tinha sido redigido por capitulos um texto. Continha simultaneamente
ordem de Guilherme, piedosissimo duque da Aquitania, no distrito Matis- aquelas coisas proibidas de fazer e os compromissos que devotadamente
conense (2), sobre a ribeira Grosne. Diz-se que a principio este mosteiro se tinham tomado perante Deus Omnipotente. Entre estes o mais impor-
nao teve por dote mais do que quinze colonias (3) de terra; conta-se tante dizia respeito a conservacao de uma paz inviolavel que deveria permi-
mesmo que os irmaos que ai so reuniram nao eram em nfimero superior lir aos homens de todas as condicoes, quaisquer que fossem as ameacas
a 12. Depois, gracas a esta optima semente, a estirpe do senhor dos exér- 8 que anteriormente houvessem sido expostos, viajar sem medo e sem armas.
citos multiplicou-se e tomou-se sem numero, pois é sabido que ocupou 0 bandido on assaltante que invadisse a propriedade alheia devia ser sub-
uma grande parte do globo. Como estes homens nao deixam de se entre- metido ao rigor das leis e condenado sem piedade ou ao confisco dos bens
gar as obras de Deus, ou seja as obras de justica e de piedade, mereceram °“ a penas corporeas.
receber todos os bens. Além do mais, deixaram um exemplo digno de_S¢\' Todavia, para mostrar o respeito e a reveréncia devidos a santidade
imitado por todos os que hao-de vir. V A das igrejas, decidiu-se que todos aqueles que, perseguidos por qualquer
Depois do dito Berno tomou 0 cuidado da direccao o muito sapieof Ema Hi procurassem refiigio, deveriam permanecer ilesos, salvo os que
abade Odo(4), homem piedosissimo em todas as circunstancias, que ha-V13 tivessem violado 0 dito pacto da paz; estes deveriam ser arrancados do
sido prior da igreja de S. Martinho de Tours e que se distinguia p¢1°5_ alf“ Para se lhes aplicar a pena prevista pelo seu crime. Da mesma maneira,
seus bons costumes e pela pratica da santidade. i "ao deveriam sofrer qualquer violéncia os clérigos, monges, religiosos e
Conseguiu tao bem propagar a instituicao que da provincia de Bella‘ aqudcs que, na sua companhia, atravessassem uma regiao.
vente na Italia até ao Oceano na Galia, todos os mosteiros mais 1mP°"
[Rodulfi Glabri, Historiarum Libri Quinque, lib. Iv cap. v, in
tantes consideravam uma honra submeter-se a sua obediéncia. [._--I ' J. P. Migne, Patralagiae Cursus Completus, Series Latina, t. cxul,
Paris, 1880, col. 678].
[Rodulfi Glabri, Historiarum Libri Quinque, lib. m, _caP- v-- l‘ (1
J. P. Migne, Patrologiae Cursus Completus, Series Latina» i- Clan‘ DZEDS A"l°$- (7') De Lyon. (3) Estes acontecimentos passavam-se no ano de 1033, de-
Paris, 1880, cols. 654 e 655]. ° ""1 periodo de grandes fomes.
(1) De Baurne-les-Messieurs, no Jura. (1) De Macon. (3) Uma colonia era 8 P95“?
288 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS A IGREJA cAroI.IcA 289 A
A ELEI<;A0 DO PAPA GREGQRIO vII
(ABRIL DE 1073)
do jejum de Pentecostes e consagrado bispo pelos cardeais no dia da nati-
vidade dos Apostolos, no seu altar, segundo o ritual antigo. [...]
F
l
§.
inferiores exclamarem como é costume: <<S. Pedro escolheu 0 papa Gre- V111-so ele pode dispor das insignias imperiais. ‘
gorio», este foi arrastado imediatamente pelo povo que dele se apoderou IX — O papa é o rinico homem a quem todos os principes beijam os pés 0
e entronizado contra sua vontade em S. Pedro dos Vinculos, e nao I18 X — E o finico cujo nome se pronuncia em todas as igrejas. I
No dia seguinte pensou para consigo mesmo a que grande perigo estava Xn—E-lhe permitido depor os’ imperadores. H
exposto e comecou a preocupar-se e a entristecer; todavia, reunindo 85 xm—E-lhe permitido transferir os bispos de uma sé para outra, se-
suas forcas com fé e esperanca, nao se lembrou de nada mais que pud=$$¢ gundo a necessidade.
fazer a nao ser notificar a sua eleicao ao rei (6) e evitar por ele, se possivel» - - - - - - . - - . - - --
I. ~ - - - - - . - - - . - - - . - - . - - - - . - . - . . . . ¢ - - - . - - - . - . . - - - - . r - - . . - - - . - - - - - - - ¢ - - --
o cargo papal que lhe tinha sido imposto. Com efeito, enviou-1heimedi8' XvT—Nenhum sinodo geral pode ser convocado sem a sua ordem.
tamente uma carta anunciando a morte do papa e a sua propria elei<;5°' xl'H—Nenhum texto e nenhum livro pode tomar valor canonico fora
ameacando-o de que se desse o consenso a eleicao nunca suportaria 6°!” da sua autoridade.
paciéncia a sua malicia (7). Mas aconteceu tudo muito diferentemente 4° X- ~ . . ., -_ .
- . - . - v Q - , . ¢ . - . . - - - - - - ~ - - - < - - . - - . - - - ¢ - -.
............................................... ..
que esperava. Na realidade o rei enviou logo Gregorio, bispo vercelensor XII A Igreja Romana nunca errou e, segundo 0 testemunho das Es-
chanceler do reino da Italia, para conflrmar a eleiciio e estar presento Ila cnturas, nunca errata.
consagracao. Assim se fez. [Hildebrando] foi ordenado padre (8) 11° ‘ha
5 K. l!l__X9
290 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS A IGREJA CA T6 LICA 291
XXVII—O papa pode desligar os snbditos do juramento de fidelidade OS BISPOS DO IMPERIO DESLIGARAM-SE
feito aos injustos. DA OBEDIENCIA A GREG(§RIO VII
(JANEIRO DE 1076)
[Cit. em Marcel Pacaut. La Théacran'e-L‘EgIise er Ie pouvoir an
Moyen Age—Paris, 1957, pp. 236-237.] Apés 0 papa ter ameaeado excomungar Henrique IV, alguns
bispos a1emdes(1), descontentes com Gregorio VII, que as
havia suspendido das suas funpfies, reuniram-se em Worms
e, fazendo causa comum com o imperador, redigiram a carta
GREGORIO vn mzpos que se segue:
0 IMPERADOR HENRIQUE rv
(FEVEREIRO DE 1076) Embora fosse claro para nos, quando pela primeira vez usurpaste a direc-
<;:'1o da Igreja, quio ilicito e nefando era o que estavas fazendo, contra-
Em resposta 'ao manifesto de Worms, 0 papa anatemati-
zou 0 imperador, desligando as seus snibditos da obediéncia riamente ao direito e a justiga, com a tua bem conhecida arrogancia, acha-
que Ihe deviam. . mos no entanto conveniente lan<;ar um véu de indulgente siléncio sobre os
maus comeeos do teu exordio, esperando que estes criminosos principios
[...] A mim como teu representame (1) me foi especialmente confiado e a fossem emendados e cancelados pela integridade e diligéncia do resto do
mim pela tua graga foi dado por Deus o poder de ligar e desligar no Céu .; teu governo. Mas agora, como o proclama e deplora a lamentavel condiqio
e na terra. Apoiando-me pois nesta crenqa para a honra e defesa da tua f de toda a Igreja, manténs-te consistente e pertinazmente fiel aos teus mans
Igreja e em nome de Deus Todo-Poderoso, 0 Pai, 0 Filho e o Espirito principios, na crescente infelicidade das tuas acgoes e decretos. [...]
Santo, por intermédio do teu poder e autoridade, retiro o governo dc todo A chama da discordia que acendeste com venenosas facqoes na Igreja
0 reino dos Germanos e da Italia ao rei Henrique(-'1) filho do imperador Romana, espalhaste-a com uma deméncia furiosa através de todas as igre-
Henrique (3), porque ele ergueu-se contra a tua Igreja com uma inaudita jas da Italia, Germania, G_al'ia e Espanha. Para teu maior poder, privaste
soberba.]E liberto todos os cristfios do juramento de fidelidade que lhe tive- I Os bispos de toda a autoridade que é sabido lhes tinha sido divinamente
rern feito_ou vierem a fazer, e proibo a quem quer que seja de o servir como ‘ concedida pela graqa do Espirito Santo, a qual actua acima de todos nas
rei, porque é justo que aquele que procura diminuir a honra da tua Igrfljfl Ordenagoes. Entregaste a superintendéncia de todas as rnatérias ec1esias-
perca também a honra que deveria ter.\E desde que ele desdenhou mos- ticas as paixoes da plebe. Ninguém é agora reconhecido bispo ou pres-
trar obediéncia crista e nao voltou para 0 Senhor que desertou —m8B- bitero sem que por uma indigna subserviéncia tenha mendigado 0 seu ofi-
tendo convivio com os excomungados, desprezando as minhas admoeS- ' cio da tua magnificéncia. Lan<;aste numa desgraqada confusio todo 0
ta<;6es, que, como podes testernunhar, lhe dirigi para sua salvaoio, d¢5' “BOY da instituiqio apostolica e essa perfeita repartiqfio dos membros de
ligando-se da tua Igreja e tentando dividi-la —, por ti o liguei pelo vinculo Cristo que 0 Apostolo dos Gentios tantas vezes recomenda e inculca. [...]
do anaterna e, confiando em ti, assim o ligo, para que os povos possam sabfl ~ P°fque tu afirmas que, se o mero rumor de um delito cometido por um dos
e tomar conhecimento de que tu és Pedro e que sobre a tua pedra 0 Fi1l1° nossos paroquianos chegar até junto de ti, nenhum de nos tera dai para 0
do Deus vivo construiu a sua Igreja e que as portas do Inferno nao pr=' future qualquer poder para 0 ligar ou desligar, mas apenas tu ou aquele
valecerao sobre ela. (Mateus, XVI.) que delegaste especialmente para esse fim. Quem é que, versado nas Sagradas
Escrituras, nao vé que este decreto excede toda a loucura? [...] Tu ligaste-te
[Cancilium Romanum III, in J. P. Migne, Patrolagiae Cursus Complain-I. ' _ P" Hm juramento corporeo, no tempo do imperador Henrique (Z) de boa
Series Latina, t, cx1.vrn, Paris, 1853, col. 790.] "lfimoria; ern como nunca em vida do imperador, nem na do seu filho,
‘P
° nosso Senhor e glorioso Rei(3), aceitarias 0 papado ou, na medida em
(1) O papa dirigia-se a S. Pedro. (1) Henrique IV (1056-1106). (3) Henrique III U039‘
-1056). que de ti dependessc, admitirias que outro o aceitasse sem 0 consenti-
!
a
~r_ 7 '
mento e aprovaqao do pai, enquanto fosse vivo, ou do filho durante a sua léncia; assim, se qualquer disputa surgir entre as partes, tu, corn o eonsdho
vida. E ha ‘hoje muitos bispos que testemunhararn esse juramento; que ou decisio dos bispos metropolitano e co-provincial, daras consentimento
0 viram com os seus olhos e 0 ouviram corn os seus ouvidos. Lembras-te e auxilio a parte mais digna. Porérn o eleito recebera de ti as regalia (1)
também de como, quando a ambigao de ser papa inoveu xiarios dos cardeais, pelo ceptro, sem nenhuma exacgao, e fara 0 que por elas e dg dimito ta
para afastar qualquer rivalidade nessa ocasiao, te ligaste por um juramento, deve. Mas aquele que é consagrado nas outras partes do ten império devera
com a condiqio de que eles fizessem o mesmo, ou seja o de nunca vir a dentro de seis meses e sem qualquer exacqao, receber dc ti as regalia peld
deter o papado? Vé como guardaste fielmente estes juramentos! ceptro e fazer o que por elas c de direito te é devido, salvo todos os direitos
Além disto, quando se reuniu um sinodo no tempo do Papa Nicolau (4), que se saberem pertence a Igreja Romana. Sobre os assuntos a propésito
onde assistiram 125 bispos, foi estabelecido e decretado, sob pena de ana- dos qua1s me poderés vir a fazer queixas e pedir ajuda —eu, de acordo
tema, que ninguém seria jamais papa senao por eleieio dos cardeais, apro- com o dever do meu oficio, prestar-te-ei auxflio. Dou-te a verdadeira paz
vaqao do povo e consentimento e autorizagfio do rei. E dessa decisio e e a todos os que estfio ou estiveram no teu partido na época deste confiim
decreto foste tu proprio o autor, persuasor e subscritor.1[...]
Por isto, renunciamos daqui para 0 futuro a toda a obediéncia a tua 2-PRECEITO DO IMPERADOR HENRIQUE V
pessoa—a qual na verdade nunca te tinhamos prometido. E visto que,
como pirblicamente proclamaste, nenhum de nos tem sido para ti um bispo, Em nome da Santa e Indivisivel Trindade, Eu, Henrique, pela graoa de
assim daqui por diante nao seras Apostolico para nenhum de nos. Deus Imperador dos Romanos, Augusto, pelo amor de Deus e da Santa
Igreja Romana e do Senhor Papa Calisto, e para salvagao da minha alma,
[Monumenta Germaniae Hisgoi'ica—Leges, t. n, Hannover, 1837, pp. 44 entrego a Deus e aos santos apostolos de Deus Pedro e Paulo e a Santa
a 46.] ‘ Igreja Catolica toda a investidura através do anel e do baculo; e concedo
(1) Além do arcebispo de Mainz, assinaram este manifesto os bispos de Trier, Utrechlv J Q"? _¢m todas as igrejas que ficam no meu reino on império possa haver
Metz, Liege, Verden, Toul, Speyer, Halberstadt, Strassburg, Basel, Constanz, W11rz- _ ‘l7{:lI<;3a?naCi1(I)1((1);ls1Ca e consagraeio lirre. Restituo a mesma Santa .Igre__ia
burg, Bamberg, Regensburg, Freising, Eichstitt, Mfmster, Minden, Hildesheim, 0sn8- , desta discérdia ajtfcgsieasoez e lgegalzfade S. Pedro, que desde o pnncipro
brick, Naumburg, Paderborn, Brandenburg, Lausanne e Verona. (1) Henrique H1, _- ’
imperador de 1039 a 1056. (1) Henrique 1v (1056-1106). (4) Nicolau 11 (1058-1061). . meu foram tomadas
muiéfio da “elas co. e que
la eu_po;suo.h
C ole’ mg) contr1b111re1
no t?mI',o'defielmente
meu palpara
como no
a res-
as outras iq {as e 1sas_ one naoi etc: 0. Tambem as possessoes de todas
A CONCORDATA DE WORMS ~ como laicafr Jue fpr1nc1pesd; e to as as outras pessoas, tanto clerrcars
(SETEMBRO DE 1122) 1 cipcs cu daagsti oran1t.pe'rl1 as nesta gnerra, com o conselho dos pun-
buirei fielmegte <2, res 1 1:1;uas:e1 Ea midrda em que as detenho e contn-
Par este acordo, a paz entre 0 Papado e 0 Império foi m0m8rl' . .1 cede a verdadeilpa a a res 1S 15:0 Iaque as co1sas qpe nao detenho. E con-
tzinearriente restabelecida. N0 entanto, a Cancordata I157" ~
esclareceu por completo quais deveriam ser as rela§°e5 : a todos a ueles Pal :2 5 °T_ 3P3 Cahsto e a Santa Igreja Romana
entre as dois poderes, na medida em que a sua pfirwilml a Santa Igrga Roqufl ¢5 0 oudesuverarn a seulado.‘ E nos assuntos em que
preocupapiio foi solucionar 0 problema das investidurll-9
__ to; acerca (£05 umfmfl me pe 1r auxilro, ajuda-la-e1 nelmente, e 1105 assun-
I Todas estas (misc; aés me :3 a ser e1ta que1xa farer Just1<;a dev1damente.
l—PRIVILEGIO DO PAPA CALISTO II 1. principes cu. s oram Ia as pelo consenumento e com 0 conselho dos
, JOS nomes aqu1 se Juntam. [...]
Eu, Calisto, Bispo, servo dos servos de Deus, concedo-te, amado fil11°
Henrique -—pela graqa de Deus Imperador dos Romanos, Au8“5t°’- [A{7onumenta Germaniae Historica—Leges, t. n, Hannover, 1837 pp 75
que as eleiqoes de bispos e abades do Reino Teutonico, que perten<}3m_ 8 e 6]. ' '
este reino, tenham lugar em tua presenqa, sem simonia nem qualqufif "'°' ") 0 .
p°d°f temporal rnerente ao cargo.
A IGREJA CATOLICA 295
294 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS 9
Com efeito, 0 [chefe] apostolico da Sé Romana, Urbano l'I(‘) alcanqou
2. rapidamente as reg16es ultrarnontanas com os seus arcebispos, bispos,
A IGREJA A CAMINHO abades e presbiteros e comeeou a pronunciar discursos e sermoes subtis
1 I ,
DA TEOCRACIA: AS CRUZADAS d1zendo que quem quisesse salvar a alma nao deveria hesitar em tomar
~
hurnildemente a via do Senhor e que, se o dinheiro lhe faltasse a miseri
E A OBRA DE CISTER . . . . , , _
cordra d1v1na lhe dar1a 0 suficlente. [...] Tendo-se este discurso espalhado
r
a pouco e pouco por todas as regioes e provincias das Galias, os Francos,
DA reforma de Cluny e do conflito do Papado com 0 Império, a Igreja saiu r ouvindo tal, comeearam sem detenqa a coser cruzes sobre o ombro direito
mais forte, mais apta a representar a monarquia universal, a teocracia defen- »$ - . A . _ ’
2 d1zend0 qne querlam unammemente segurr as pegadas dc Cristo, pelas
dida por alguns dos grandes pontzfices medievais. qua1s hav1am s1do resgatados do poder do Tartaro. [...]
Uma das realizapoes entfio movidas pela autoridade espiritual do Santa~ v
‘j
Sé foi 0 movimento das Cruzadas. Nascido no Concilio de Clermont em 1095 MW; -agogyrsnj
de la premiere craisade, ed. Louis Bréhier, Paris,
marcou 0 aparecimento do ideia de aguerra justo», a guerra contra 0 infiel,
e a possibilidade de a autoridade
Z _
do papa
___
se; sabrepor 11 dosprincipes
___ _.*7__¢ _ _ ___
num‘
(') Papa de 1088 a 1099, promotor do Concilio de Clermont.
_empree11dimen4o_-l1'nternacianaL_
Simultaneamente, uma nova reforma momistica, a de Cister (1098), trouxe
a Igreja uma renovagfio dos ideais de simplicidade, pobreza e austeridade. PR1v11.12G1os PONTIFiCIOS
Decididos a restabelecer 0 trabalho manual, estes monges, como os primeiros A AOS MEMBROS
beneditinos, cavaram e lavraram a ‘terra, desbravando fiorestas e aprovei- DA SEGUNDA CRUZADA
tando pantanos. A figura mais notével da Ordem Cisterciense, S. Bernardo. (1 DE DEZEMBRO DE 1145)
que em I115 fundau Claraval (Clairvaux), esteve também ligada ao movi-'_
mento das Cruzadas, contribuindo para a realizaeiio do segundo dessas exp?-_ Eugénio III (I145-I153), antiga monge cisterciense disci-
dieoes. - 4' pulo de S. Bernardo, concedeu nesta bula, dirigida ao rei
de Franpa Luzs VII (1137-1180), os privilégios do cruzado
que doravante se tomaram habituais nestas circunstancias.
O ENTUSIASMO POPULAR ' _ 2.1.-L(€::;:d§r(:;os;::;nfirmam0S pela-autoridade que nos foi dada por Deus
PELA PRIMEIRA CRUZADA (1096) p ')e csmbdeceu anp a ols que o nossio éa c1tado'pre.decessor 0 Papa Urbano
a seu cargo}; realize e; (111: Zn a os pelo mtuito da devocao, tomarem
As palavras que se seguem foram escritas por um cronisfa
anonimo que possivelmente também tomou parte na Primelrd as suas mulheres e fine ‘ es o santa e necessar1a obra ep tarefa; e que
Cruzada e dao-nos coma do entusiasmo que 0 empreendlf da Sama Igrda dc '05, ' ens e piossessoes, permaneqam sob a proteceio
mento suscitou em todas as classes sociais. i da Igreja dc géus go‘?lproprloae bos arcep1SP0s, b1spOs e outros prelados
. feito qualquer m- “Y _1m‘mps dfn Bin, pe a autor1dadeapostol1ca, que seja
Como se aproxirnasse ja aquele termo que o Senhor Jesus anuncia ¢l“°j pmficameme na 'q err en o 1zen 0 respe1to as 'co1sas que possuiam
tidianarnente aos seus fiéis, especialmente no Evangelho onde diz: <<5_°,; homer Macias epocal em que tomaram a cruz, ate ao rnomento em que
alguém me quiser seguir, renuncie a si proprio, tome a sua cruz c siga-m°”' que Combatam cerltass o seu retorno on da sua morte. Alem d1sto, aqueles
deu-se um grande movimento por todas as regioes das Galias, a fim de que com vestes re peo en or nao devem de mane1ra algunaa preocupar-se
quem, de coragao e espirito puros, desejasse seguir 0 Senhor com 151° _, outras coisa]? ¢10Sas, corn a aparencna do corpo, com _caes, falcoes ou
quisesse transportar fielmentc a cruz nao tardasse em tomar apres58da' S que SCJHIH s1na1s de lasc1v1a [...], mas devcrao com toda a sua
mente 0 caminho do Santo Sepulcro.
-1'
Deus permitiu que a Igreja Ocidental, devido aos seus pecados, fosse fianceses tomaram a cruz, movidos sobretudo pela eloquen-
derrubada. Surgiram entao, na verdade, certos pseudoprofetas, filhos dc cia de Foulques, de Neuilly. 0 trecho é do cronista Ville-
Belial e testemunhas do Anticristo, que seduziram os cristaos com pala- hardouin (c. 1150-c. 1212), que desempenhou um impor-
vras vis, compelindo toda a casta de liomens, por uma vi prégaeio, a ir tante papel de negociador no decorrer desta cruzado.
contra os Sarracenos, a fim de Iibertar Jerusalém. A prégacfio destes homens Sabei que mil cento e noventa e sete anos depois da Encarnacio de Nosso
foi tao grandemente influenciadora que os habitantes de quase todas as Senhor Jesus Cristo, no tempo de Inocéncio (1), Apostolo de Roma, e
regioes, por unanimidade de votos, se ofereceram espontzineamente para
Fililie (2), Rei de Franca, e Ricardo (3), Rei de Inglaterra, havia em Franea
a comum destruicio. E nao [o fizeram] apenas homens da plebe, mas tam- Q4-'-;
r um santo homem chamado Foulques de Neui1ly—a qual Neuilly fica
bém reis, duques, marqueses e outros poderosos deste mundo, acreditando entre Lagni-sur-Marne e Paris. Ele era padre e detinha a paroquia da vila.
I
0
que prestavam assim serviqo a Deus. Os bispos, arcebispos, abades e outros Este dito Foulques comeeou a falar de Deus através da Franea e das outras
ministros e prelados da Igreja uniram-se neste mesmo erro, precipitando-$¢
"°8i<5¢S a sua volta; e sabei que por ele Nosso Senhor fez muitos mila-
nele com grande perigo de corpos e almas. [...] 81'es.
Porém, as intengoes destas varias pessoas eram diferentes. Algumas, I13
Sabei que a fama deste santo homem andou tanto que alcancou o Apos-
realidade, avidas de novidades, iam, para saber coisas novas sobre as terras-
‘°|° <16 Roma, Inocéncio, e. 0 apostolo deu ordem para Franqa e mandou
Outras eram levadas pela pobreza, por estarem em situacio difieil na $113
3° bom homem que prégasse a cruz por sua autoridade. E depois disto
casa; estes homens foram para combater, nao apenas os inimigos da Cruz
[° P3193] enviou um seu cardeal, de nome Mestre Pedro de Czipua, ja cru-
de Cristo, mas mesmo os amigos do nome cristao, onde quer que vissem
zad°. mandando por ele o perdao tal como vos vou dizer: todos aqueles
a oportunidade de aliviara sua pobreza. Houve os que estavam oprimid°5
que tornassem a cruz e fizessem 0 servico dc Deus na hoste por um ano
por dividas para com outros, ou que desejavam fugir ao servico devido 80$
ficariam quites dc todos os pecados que tivessem feito e de que estivessem
1%
1!,"
=lsi.A1.;-an-Q.
298 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS A lGREJA CATOLICA 299
confessados. Como este perdao era tao grande, os coracoes dos homens e a Nossa Senhora que todos os demais dias da vossa vida obedecereis
ficaram grandemente tocados e muitos tomaram a cruz. :10 mestre do Templo e a qualquer que vos seja superior’?»— E ele deve
dizer: <<Sim, senhor, se Deus quiser.»
[Geoffroy de Villehardouin. <<La conquéte de Constantinop|e>'>_, in
Historians er Chroniqueurs du Moyen Age. Bibliotheque dc la Plelade, <<Também prometeis a Deus e a Nossa Senhora Santa Maria que todos
1952, p. 97.] . os demais dias da vossa vida vivereis castamente do vosso corpo?»—E
(1) lnocéncio III (1198-1216). (1) Filipe (II) Augusto (1180-1223). (3) Ricardo I ele deve dizer: <<Sim, senhor, se Deus quiser.»
Coracio de Leio (1189-1199). <<'l'ambém prometeis a Deus e a Nossa Senhora Santa Maria que todos
os demais dias da vossa vida vivereis sem bens proprios?»—E ele deve
dizer: <<Sim, senhor, se Deus quiser.»
S. BERNARDO E A PRIMAZIA DO PAPADO
1
<<Também prometeis a Deus e a Nossa Senhora Santa Maria que todos
S. Bernardo ( 109,1-I153), discipulo de Gregorio VII, can- os demais dias da vossa vida mantereis os bons usos e os bons costumes
- siderou como principal dever de toda 0 eristfio a obediéncia da 11ossa casa, aqueles que ja la existem e aqueles que os mestres e Oi
ao Sumo Pannfice, sendo a autoridade deste absalura e homens bons da casa la estabe1ecerem?»— E ele deve dizer: <<Sim, se Deus
M1-M4v4=m1-~v.1A: m“»~i.-»l~‘,
universal. Actuando sempre em nome do Santa Sé, o abade
de Claraval cantribuiu para afirmar o primado de Roma quiser, senhor.» A
sobre todas as igrejas do Cristandade. <<Também prometeis a Deus e a Nossa Senhora Santa Maria que todos
\ os demais dias da vossa vida ajudareis a conquistar, pela forca e pelo poder
A plenitude do poder sobre todas as igrejas do mundo foi conferida a 1
que Deus vos deu, a santa terra de Jerusalem; e ajudareis a guardar e a
Sé Apostolica por um privilégio especial. O que resiste a esse poder resiste salvar pelo vosso poder aquelas que os cristfios possuem?»— E ele deve
a ordem de Deus. O pontifice romano pode, se 0 considerar util, criar novos dizer: <<Sim, senhor, se Deus quiser.»
bispados. Quanto aos que existem, pode, a sua vontade, diminuir a impor- <<Também prometeis a Deus e a Nossa Senhora Santa Maria que jamais
tancia. de uns e aumentar a dos outros, de maneira apoder transformar deixareis esta religiao por mais forte nem por mais fraca, nem por pior
bispos em arcebispos e inversamente, se isso lhe parecer necessario. P0d¢ nem por melhor, salvo se 0 fizerdes com a licenea do mestre e do convento
chamar para junto de si, das extremidades da Terra, as pessoas eclesiasticai que tem o poder?»—E ele deve dizer: <<Sim, senhor, se Deus quiser.»
mais elevadas em dignidade e constrangé-las a vir a sua presenea tanias <<Também prometeis a Deus e a Nossa. Senhora Santa Mada que jamais
vezes quantas lhe agradar. ~ cstareis em sitio ou lugar onde pela vossa forca ou pelo vosso conselho,
[S. Bernardo, epist. cxxx, cit. em Histaire de_ I'Eglise depuis l¢! cristios sejam desapossados sem justiea nem razao das suas coisas?» E ele
arigines jusqzfarnos jours, direccio de Augustin Fl1ChC e Victor M31115» deve dizer: <<Sim, senhor, se Deus quiser.»
vol. 1x, 1948, p. 24]. 1'
“E nos, por Deus e por Nossa Senhora Santa Maria, e pelo meu Senhor
v
5- Pedro de Roma, e pelo nosso pai e apostolo, e por todos os irmaos do
A ADMISSAO DE UM NOVO IRMAO r
T°mPlo, acolhemo-vos a todas as benfeitorias que foram feitas desde 0
NA ORDEM DO TEMPLO "- v
p'i"°lPi0 e que serao feitas até ao fim, nesta casa, a vos e ao vosso pai
,.
9 5 vossa mac e a todos aqueles que quiserdes acolher da vossa linhagem.
A Regra do Templo é um toda heterogéneo provenienlB_ 11¢
vdrias épacas e autores. A parte mais primitiva teria s|d0- Z‘/f3S também nos acolheis em todas as benfeitorias que tendes feitas e
segundo a tradieiio, ditada pelo propria S. Bernardo (1091,‘ re1s. E prometemo-vos pao e agua e a pobre veste da casa e muitas penas
-1153). O ultimo capitulo, que aqui transcrevemos. dai ° lrabalho.»
sem qualquer rela¢,-do cam as anteriores, 0 processo verbfl
do receppfia de um novo irmfio. E [La Régle du Temple, ed. Henri de Curzon, Société de 1'1-listoire do
France, Pais, 1886, pp. 344 e 345].
<<Ora, belo irmio, ora entendei bem o que vos diremos: prometeis a Deus 5
5
300 TEXTOS HISTQRICOS MEDIEVAIS
A IGREJA CATOLICA 301
3. mais intimamente se lhe unir, tanto maior sera a luz com que é adornado-
O TRIUNFO DA TEOCRACIA PAPAL quanto mais prolongar [essa unrao], ma1s crescera em esplendor. [...]
' ¢~ I ’ ,
0 conflito de autoridade entre o Papado e o Império nda havia sido por com- gz-"1i’§,c1(’;}tr1;I%'1']ae Cursus Completus, Series Latina, t. ccxrv,
pleto sanado em Worms, e deste facto deram provas as disputas entre Frede-
rico I Barba Ruiva e a Santa Sé. N50 obstante, com 0 pontificado de Inocén-
cio III (1198-I216) triunfou a ideia de teocracio papal, au seja a do governo
2 INOCENCIO III E AS ELEICOES IMPERIAIS
de uma sociedade cristo‘ pelo pontifice, representante do autoridade divina
no terra. Inocéncio III pode assim intervir, mio so junto dos estados que se
(MARCO DE 1202)
haviam considerado <<territorios do Santa Sé», como Portugal, a Sicilia e "'»1
-z'naI\-;~
2
Para Inoeéncio III a papa deveria vigior o politico e as actos
a Inglaterra, mos também junto de todos as demais onde surgiram problemas <.5.
dos principes crxstfios seus dependentes no espiritual e até
no temporal. Dentro desta arientacfio, Inocéncio III defendeu
de ordem religiosa, politico ou até moral. Sob o sua égide organizaram-se '9
para 0 Papado 0 direito de intervir como tribunal supremo
novas cruzados (a quarto, que veio o terminor pela canquista de Constanti- no eleietio imperial.
nopla, e a expedig-do contra os Cdtaras, em Frongraj, constituiram-se novos
[...] Reconhecemos, como devemos, que o direito e a autoridade para ele-
ordens religiosos (as mendicantes) e reuniram-se importontes concilios, ‘-
ger um re1 a fim de posteriormente ser promovido a imperador pertence
entre as quais o 4.° Ade Latrfio (I215).
aqueles principes a quem é sabido caber por direito e antigo costume,
fispecralmente quando este direito e autoridade lhes foram dados pela Sé
Apostohca, a qual transferiu 0 Império dos Gregos para os Germanos na
pessoa do Magnifico Carlos. Mas os prir1cipes deveria reconhecer, e cer-
AS RELACOES EN’I‘RE o IMPERIO tamente reconheeem, que o direito e autoridade para examinar a pessoa
E 0 PAPADO seotmno INOCENCIO HI assim lelerta rei a fim de ser elevada ao Império nos pertence a nos que
(OUTUBRO DE 1198) 0 llngrmos, consagramos e coroamos. [...]
d E pela lei e o costume é evidente que, quando numa eleicao os votos
Dentro do tradigfia gregoriana, Inocéncio III defendeu a °§ prlncrpes estao d1v1d1d0s, podemos, depois de uma devida adverténcia
supremacia .do poder espiritual sobre o temporal, acentuonda ¢ mtervalo convemente, favorecer uma das partes. [...] 1
no entanto, o estrita dependéncio do ultimo em relacfio av
primeiro. [Aernilius Fricdberg, Cursus Jun": Conanici, pars seen;-;d3_1)¢,_-yg.
talmm Collectiones, Graz, 1955, col. 80.]
Deus criador do universo fixou duas grandes luminarias no firmamento
do céu; a luminaria maior para dirigir o dia e a luminaria menor para diri-
gir a noite. Da mesma maneira, para 0 firmamento da Igreja universal, A TOMADA DE CONSTANTINOPLA EM 1204
como se se tratasse do Céu, nomeou duas grandes dignidades; a maior pm SEGUNDO o CRONISTA VILLEHARDOUIN
tomar a direcqio das almas, como se estas fossem os dias, a menor para (c. usac. 1212)
tomar a direceao dos corpos, como se estas fossem as noites. Estas di$l1i' 0 cronisto ocidental relato com ingenuidade o saque de
dades sao a autoridade pontificia e 0 poder real. Assim como a Lua deriva Constantinopla pelos Latinos, sem quaisquer preocupogoes
a sua luz da do Sol e na verdade é inferior ao Sol tanto em quantidade 001119 em esconder o designio dos cruzados.
em qualidade, em posiqfio como em efeito, da mesma maneira 0 pod" Pa5$°11 a noite e chegou o dia que foi terea-feira dc manhfi. Entao arma-
real deriva 0 esplendor da sua dignidade da autoridade pontificia: e quanto "am~se todos
para a hoste, cavaleiros e escudeiros, preparando-se cada
~1
Brian:
er" Axe e*—
A IGREJA cATo1.1cA 303
302 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
gués com as formas <<damis>>, <<exami» e <<eixamete» é um tipo de cetim. (7) Pena
um para a sua batalha; e sairam das suas tendas julgando encontrar maiores tem na Idade Média o significado de pele. A <<pena veira» era a pele do esquilo cagado
lutas do que as do dia anterior, pois nao sabiam que os imperadores tinham no Verio, ainda de cor acastanhada, e a apena gris» a pele cinzenta do mesmo animal
fugido durante a noite. Com efeito, nao encontraram ninguém que viesse no Inverno. (8) O proprio Villehardouin, que recebeu em 1185 0 cargo de marechal
da Champagne.
contra eles. O marques Bonifzicio de Montferrat (1) cavalgou ao longo da
marinha em direccao ao Palacio de Boca-de-Leio; e, quando ai chegou,
o palacio rendeu-se-lhe, salvando-se as vidas dos que estavam no seu inte-
rior. Nele encontraram as mais altas damas que tinham fugido para 0 cas- O PAPA INOCENCIO III CONDENOU
telo. Ai se achou a irma do rei de Franca (2), que havia sido imperatriz, e a A CONDUTA DOS CRUZADOS (1205)
i1-ma do rei da Hungria (3), que também tinha sido imperatriz, e muitas outras
Apos a tomado de Constantinopla, Inacéncio III, no esperanco
damas. Do tesouro que havia no palacio nem convém falar, pois era em
de_ que este incidente trouxesse coma cansequéncio o sub-
tal quantidade que nao tinha conta nem medida. E assim como este pala- mlsscio do Igreja Oriental a Roma, apressou-se a reconhe-
cio se rendeu ao marques de Montferrat, rendeu-se o de Blacherne a Hen- an
.1»;-
1:!“ cer a Império Latino. Porém, a breve trecho se deu canto
rique(4), 0 irmio do conde Balduino da Flandres(5), salvos os corpos dos dos abusas cametidas pelos cruzados e condenou esses
que se encontravam dentro. Os tesouros nele encontrados foram tais excessos.
que nao eram inferiores aos do da Boca-de-Leao. Cada um ocupou com
a sua gente o castelo que lhe foi dado e mandou guardar o tesouro. As Para Pedro, Cardeal Presbitero do titulo de S. Marcelo, Legado da S6
outras pessoas que se espalharam pela cidade ganharam bastante, e os Apostolica (12 de Julho de 1205).
ganhos foram tao grandes que ninguém vos sabera dizer 0 seu montante,_
SSeo:b‘egr£: Se descobrimos pelas vossas cartas que havieis absolvido
a saber, em ouro e prata, baixelas, pedras preciosas, samis (6), tecidos dc‘ peregrinacao e das suas obngacoes de cruzada todos os
seda, roupas de pena veira e gris (7) e arminhos, e em todos os mais ricos. mzados one tinham perrnanecido a defender Constantinopla desde o ultimo
haveres que jamais foram encontrados na terra. E bem testemunha Godo-__
r. 1'90 ate ao presente. E 1mposs1ve1 nao me mamfestar contra vos, pois
fredo de Vile-Hardoin, marechal da Champagne (3), que desde que o mundo nunca haverieis devido nem podido dar tal absolvicio. [...]
existe nunca tanto se ganhou numa cidade.
tic§<;1'1;°d€::¢gi nglavtgrdzxie a ilgreja greia ser trazida a uniao eclesias-
Cada um arranjou alojamento como melhor lhe agradou, pois havia-05; .
1 afiiwes e mic Ge ed izito 1ca,~quan o tpm sido assediada P0r_tantas
em quantidade suficiente. Assim foram albergadas as hostes dos peregri-
cxemplo d: ergo esé eb rnanzira que nao ve nos Lattnps senao um
nos e dos Venezianos e foi grande a alegria da honra e da vitoria que D6115
mais do qu: a cages” Pe o ras enel rosas edque agora, com razao, osdetlesta
lhes tinha dado, porque aqueles que eram pobres e até ai o tinham sid0
dc Jesus Cristo e ni orque aque es que everram prosseguir os objectivos
mergulharam na riqueza e no luxo.»
usadas comm OS o~os seus proprios, aqueles C11_13S espadas deveriam ser
[Geoffroy de Villehardouin, <<La conquéte de Constantinople», in Hi-1" "
pouparam idmk npagaos e estaoNagora ensopadas em sangue cristao, nao
tariens et Chraniqueurs do Moyen Age, Bibliotheque de la Pléiadh rial a roubar OS ben;ndsexo.' [...] ac; satisfeitos em saouear 0* tesouro impe-
1952, pp. 146 e 147.]
também as suas mi os principes e (pmens de menor1mportanc1a, puseram
scus préprios bens OSAI105 ICSOUTOS 35 lgl'C_]aS, e, O que e 1113,15 53110, 1195
(1) Um dos chefes da Quarta Cruzada. Veio aser rei de Tessalonica (1204-1207). G) AS1151
flu . rrancaram mesmo frontais de prata dos altares e
filha de Luis VII. Tinha sido noiva de Aleixo Comneno casando em seguida com And1'°' ra - -
nico Comneno, assassino de Aleixo. (3) Margarida, filha do rei Bela II. Foi C8539‘ t. m 110$ em pedacos entre eles. Violaram os lugares sagrados e deles
com o imperador de Constantinopla Isaac e posteriormente com Bonifacio dc MW" "mam cruzes e reliquias. [...]
ferrat. (‘) 1-Ienrique de Hainaut veio a ser imperador de Constantinopla (1205-1219' Tamtb9m,
ocide ' 50b que pretexto poderemos apelar para os outros povos
por morte de seu irmao. (5) Balduino IX, conde da Flandres, primeiro imP°\'3d°’ n 1118 a fim de 8._]Ud3.l'CII1
- . .
a Terra Santa e ass1st1rem . . de
ao Impeno
latino de Constantinopla (1204-1205). (6) O samis, que apareee também em P°"“'
304 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
1 A IGREJA CATOLICA 305
Constantinopla? Quando os cruzados, tendo abandonado a peregrinacio awn--.-\.-. as honras que lhe sao devidas, o legado da Sé Apostolica e ajudd lQ.¢i e
proposta, voltam absolvidos para suas casas; quando aqueles que saquea- todas as circunstancias. m
ram o citado Império se vém embora e voltam a casa com o seu saque,
[Cit. em Histoire de L'Eglise depuis les ari ' ' '
livres de culpas. [...] ed-irselcclao
- de Augustin
. Fliche
. .
e Victor _$’"'¢’-1’
Martin, vol. 1"-Fqu d nospp.jaurs,
x, 1950, 199
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a. OS INVENTOS TECNICOS
'1-,fill’:
R COMO FACTORES
DE TRANSFORMACAO SOCIAL
I.
Mi.3¥|~1!5A.
n-.0
i>\'W¢-I1 »
AS NOVAS TECNICAS
‘A0 SERVICO DA AGRICULTURA
A0 longo dos dez séculos rotulodos sob o nome de Idade Média, novos neces-
Sidodes e cantactos internocionais proporcionaram do homem inventos técni-
COS que revolucionaram todos as sectores do vida. Uma destas <<revalu;o'es»,
lento, mas decisiva e fundamental para a desenvolvimento do Ocidente europeu.
fill d que respeitou o ecanomio agricola. Ela pos em jogo elementos variadas:
° 4Praveitamento mais intensivo do sala rnediante alfaios, processas de irri-
SW50 e rotapoes de culturas de maior eficiéncia; o melhor utilizagda dos
forms motrizes, vento, dgua e trac;-do animal, nos suas diversas oplicacoes
aos tram-partes e as proticas ogricolas.
Os testemunhas destas aparentemente modestas invencoes foram sobretudo
'1“ """~1f0rma¢5es que delas decorreram: as novas arroteias, o aumento popu-
lacional e o consequente acréscimo do circulocdo de homens e mercadorias.
A ROTACAO TRIENAL
NUMA GRANJA CISTERCIENSE (1248)
-¢ ["'] T°d<'1 a terra de Vaulerent (1) esta divida em trés folhas. A primeira
_
folha de cereal contém 365 jeiras (2) e meia e 6 varas (3). A segunda folha, Pinel, celeireiro de gado (1), entregou a Dom Soeiro Pires, por mandado
que estzi de pousio, contérn 323 jeiras e 9 varas. do dom abade e do convento (3), a herdade dc Mombarral, por quatro anos;
A terceira, que estei com urn cereal de Primavera (4), contérn 333 jeiras e estas sio as coisas que ai deixou, a saber: quatro cubas, trés tinas, dois
e 10 varas. leitos, duas areas, uma sa.rt5, uma mesa, uma cadeia, o ferro e a sega (4) de
uma. charrua, trés brocas dc lagar, uma masseira, um segur (5) de lagar,
[Ch. Higounet, <¢L’zLssolement trienal dans la. plaine de France au xme uma sartii e um jugo de bois. _
siécle», in Complex rendus de I‘/tcadémie des Inscriptions et Belles Let-
tres, 1956.]
[Arquivo Nacional da Torre do Tornbo, Corporaqoes Religiosas,
(1) Hoje Vollerand (Seine-et-Oise). (1) Arpents na lingua francesa. Cada arpent tinha Aloobaea, m. 10, n.° 21, citado em A. H. de Oliveira. Marques, Intro-
cerca de 40 ares. (3) Perches na lingua francesa. Havia 100 perches num arpent. dugfio d Histdria da Agriculture em Portugal, 2.“ ed., Lisboa, 1968,
(4) Marsage na lingua francesa (por ser eultivado no més dc Mateo). p. 97, n. 41.]
}.
sores bdrbaros, so se divulgou muito mais tarde. As pri- eomo permitir as viagens mais aventurosas de descobrimentos.
S
meiras referéncias escritas a este instrumento em Portugal if
‘ datam de meados do século XIII. U
Era de mil e trezentos (1). Em meados do més de Mateo, Domingos Pedro
‘k
_
A divulgaefio no Mediterrfineo, a partir do século XII, do Ieme Dom Afonso, etc. A quantos esta carta virem fazemos saber como 0 infant:
com cadaste colocada na popa do navio permitiu nfio so D0m Henrique, meu muito prezado e amado tio, entendendo que fazia
governar com maior firmeza a embarcapfio, como dar-lhe S°"Vi<;0 a Nosso Senhor Deus e a nos, se meteu a rnandar seus navios a
maior calibre. Em Portugal, as primeiras referéncias escri- 5&5" parte da terra que era além do cabo de Bojador, porque até entio
tas ao Ieme ou <<governalho» datam do século XIV. Exempli-
ficamos com um contrato de venda de 22 de Dezembro
"50 havia ninguém na Cristandade que dela soubesse parte, nem sabiam
de 1370. 5° havia la povoaeao ou nao, nem direitamente nas cartas de marear nem
mapamundo nao estavam debuxadas senao a prazer dos homens que 85
Saibam quantos esta carta de pura venda virem que eu, Joao Martins faziam desde 0 dito cabo de Bojadorl por diante e por ser coisa duvidosa
Dorrniras, morador na Aldeia Galega, Ribatejo, vendo e outorgo deste ° °$ homens nao se atreverem de ir, mandou la bem quinze vezes, até que
DECLINIQ DA CIVILIZACAO MEDIEVAL 315
314 _ rexros HISTORICOS MEDIEVAIS
3.
soube parte da dita terra e lhe trouxeram dela por duas vezes uns trinta
OS INVENTOS BELICOS
e oito rnouros presos e mandou dela fazer carta de marear. [...]
[Chane. dc D. Afonso V, l. 24, fi. 61, in Jofio Martins da Silva Mar- A Europa medieval viveu constantemente em guerra. Os conflitos mais ou
ques, Descobrimentos Portugueses, vol. I, Lisboa, I944, p. 435.] menos Iocalizados sucederam-se sem interrupydo, desde o periodo das invasdes
ds turbuléncias feudais. Quando estas foram progressivamente limitadas pelas
instituieoes de paz, a aristocracia desocupado procurou empreendimentos
mais Ionginquos. Posteriormente a Guerra dos Cem Anos alargou ao nivel
A UTILIZACAO DO QUADRANTE NAUTICO internacional as lutas até entfio regionais.
(1462) Acompanhando as vicissitudes das lutas, o traje guerreiro, o armamento
l I
Dois anos depois (1) 0 senhor rei Afonso (2) armou uma grande caravela,
l
onde me mandou por capitao. [...] Com a ajuda de Deus, em doze dias che-
A CONSTRUCAO DE MAQUINAS DE GUERRA
l
guei a Barbacins e achei ali duas caravelas, e saber: uma, na qual ia Gon-
ealo Ferreira, familiar do senhor infante, vizinho~ da cidade do Porto, (SECULO x)
em Portugal, que levava cavalos para ali. E na outra caravela era capitio
As mdquinas de guerra medievais foram, até ao aparecimento
e mercador, levando também cavalos, Antonio dc Noli, genovés. E isto ‘li da polvoro, uma continuaedo e aperfeicoamento das utiliza-
foi no porto de Zaia. [...] _ das pela Antiguidade. O monge Richer (c. 950-c. I000)
-Eu e Antonio de Noli, do porto dc Zaia fomos dois dias e uma noiteD descreve-nos uma mdquina utilizada pelo rei de Franpa
caminho de Portugal, e vimos ilhas no mar (3). E porque a minha earavel 0 Luis IV, na conquista da cidadela de Laon em 938.
era mais veleira que a outra, cheguei eu primeiro a uma daquelas ilhas $1
onde vi areia branca, e, parecendo-me bom 0 porto, lancei a ancora c 0 Fez pois, com fortes peqas dc madeira ligadas e'rn_conjui1to, uma maquina
Z.we capaz de comer doze homens, tendo a forma deiuma casa comprida, e a
mesmo fez Antonio. E disse-lhes que queria ser o primeiro a por o pé em Jv
terra, e assim fiz, e nenhum indicio dc homens vimos ai. Chamamos San-
i‘. altura da estatura humana; as paredes foram feitas com madeira muito
tiago a ilha. e até agora assim se chama. [...] forte, 0 tecto, com duras vigas, ligadas umas as outras. Recebeu por den- J
E eu tinha um quadrante, quando fui a estes paises, e escrevi na tabulfl tro quadro rodas, de maneira que pode ser empurrada até debaixo da cida-
do quadrante a altura do polo arctico, e achei ai melhor do que na ‘carta- dflla por aqueles que continha. O tecto nao era plano, mas do cimo descia
E certo que na carta aparece o caminho dc navegar, a rota do navio, H135 para a direita e para a esquerda, a fim de que as pedras lancadas <18 ¢imfl
muitos erros juntos nunca levam ao proposito principal. . Pudessem escorregar mais facilmente. Mal foi acabada de construir, a
miquina foi ocupada pelos combatentes e empurrada para a cidade sobre
[Diogo Gomes, A Relacdo dos Descobrimentos da Guine e das 1122;: 35 Suas rodas moveis. O inimigo, do alto dos rochedos, esforqava-se por a
in V. Magalhies Godinho, Documentos sobre a Expansao Part"! quebrar, mas foi vergonhosamente repelido pelos archeiros repartidos por
_ vol. I, Lisboa, 1943, pp. 92 a 94-]
t°d0S os lados. Enfim, a mziquina foi conduzida até junto da fortaleza,
(1) Em 1462. (1) D. Afonso v (144s_14s1). (1) As ilhas de Sotavento do arquipé1a8° 0 muro minado e cm parte destruido. O inimigo, vendo entfio com terror
de Cabo Verde.
1
~
1
316 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
DEcI.INI0 DA CIVILIZACAO MEDIEVAL gm
que era possivel introduzir pela brecha uma multidao dc combatentes, depos A INTERVENCAO DA ARTILHARIA
as armas, e implorou a cleméncia real. [...] NA BATALHA DE ALJUBARROTA (1385)
[Richer, Histoire de son temps, liv. I1, Société de l’l-listoire de France, As mdquinas de guerra medievais comeearam a sofrer a
trad. de J. Guadet, t. I, Paris, 1845, pp. 137 a 139.]
concorréncia da artilharia desde o inicio do século XIV.
No entanto, o papel das armas de fogo no campo de batalha
foi a principio diminuto, como se_ pode inferir deste conhe-
0 mesmo monge nos explica também como se construia cido texto de Fernfio Lopes (séculos XIV-XV). So depois
A
um ariete: ¢
de mead4\o século XV a sua influéncia foi verdadeiramente
decisiva e revolucionadora.
Construiram esta maquina (1) com quatro vigas de uma grossura e de um MI*1A-)v.\
comprimento extraordinario, que dispuseram rectangularmente e puseram Em isto a vanguarda dos inimigos, de gentes mui guarnecida e de fortn-
de pé; ligaram-nas entre si no cimo e na base por quatro peeas de madeira; leza mais abastante, comeeou de se fazer prestes para mover sua batalha.
no meio nao houve barras transversais senao apenas do lado direito e do sendo ja o dia tao derribado» que passava da hora de véspera. E pero
lado esquerdo; nas junqoes superiores das vigas erguidas estenderam duas tantos fossem e bem corrigidos, ainda se nao atreveram de os cometer com
flaw:
'7!-l-as armas, sem primeiro tirando com um az(1) de trons (2) que ordenada tinham
longas traves, que fixaram e que compreenderam entre si um tereo do espaeo
que separava as vigas. A estas traves ataram cordas entrelagadas e nelas sus- diante, por os espantar e fazer fugir, nos quais posto fogo e disparando
penderam uma enorme peea de madeira, forrada na extremidade. Ataram algumas pedras, delas nao fizeram nojo, e outras empeciam de maneira
também, no meio e na extremidade desta peea de madeira, cordas que, que uma deu na vanguarda do Condestavel e matou dois escudeiros, ambos
‘ .
puxadas e largadas alternadamcnte por urn grande mimero de bracos, irmios, juntamente, e outra deu a um estrangeiro, e estes trés foram mor-
punham em movimento a maea forrada. A esta espécie de rnaquinas se £08 delas; a qual coisa foi aos portugueses grande espanto e havido por
chamam arietes, porque, a maneira dos carneiros (2), recuam para se pre- “quivo eomeeo. [...]
Y
cipitarem para a frente com forea; sao aptissimas em destruir muros, mesmfl ‘I
[Fernao Lopes, Crdnica de D. Judo I, ed. preparada por M. Lope!
os mais solidos. Colocaram esta maquina sobre trés rodas dispostas trian- dc Alrneida e A. de Magalhaee Basto, vol. n, I949, p. 104.]
gularmente, a fim de que pudesse obliquar com mais facilidade e ser diri- , 1
0) I-51111, fileim. G) Nome corn que se designaram as primeiras peeas de lflilhlrll.
gida para onde quer que fosse necessaria. [...]
I P°l' 0 seu ruido se assemelhar ao do trovio.
[Richer, Histoire de son temps, liv. Iv, cap. xxn, Société de l’Hi9-
toirc de France, trad. dc J. Guadet, t. n, Paris, 1845, pp. 171 a 173-1
A ARTILHARIA NA DEFESA DAS PRACAS
(1) Um ariete. (1) A designaeao arlete vem do vocabulo latino dries, ettls, que signi- DE GUERRA (A PARTIR DO SECULO XIV)
fica carneiro.
u
Antes de as armas de fogo desempenharem um papel verda-
deiramente importante nas batalhas campais, jd tinham
revolucionado a defesa das prapas fortes, como no-lo demons-
tra a relapdo que se segue, referente ao ano de I417.
n.
313 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
g
*.
l.
I'-
A EVOLUQ/TO POLITICA EM FRANCA
1. E EM INGLATERRA (SECULOS XI A XIII)
A0 dominar a Inglaterra em I066, Guilherme da Normandia impos um feu-
dalismo sistemdtico, que deixou, no entanto, intacta a sua autoridade politica.
Enquanto em Franpa a fragmentaedo administrativa coincidiu com o enfra-
quecimento da monarquia, ainda electiva, em Inglaterra a dinastia normanda,
que estabeleceu a sucessfio hereditdria, mantfestou desde entfio tendéncias
\
centralizadoras. Esta evolugdo divergente revelou-se ainda durante 0 surto
1
comercial e urbano do século XII. A burguesia inglesa aderiu ds classes privi-
legiadas Ana luta contra a monarquia, e esta unido é bem patente na Magno
Carta (I215), que sancionou as liberdades nacionais pela Iimitacdo da auto-
ridade régia. 0 rei francés apoiou-se nas comunas para combater os senhores
.-. feudais e depois de Bouvines (I214) Filipe Augusto sobrepos-se aos grandes
vassalas e firmou 0 poder mondrquico.
"5
A MONARQUIA ELEC'I'IVA EM FRANCA
NO PERTODO CAPETINGIO
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szz raxros HISTORICOS MEDIEVAIS | DECLlNIO DA cIvILIzAcAo MEDIEVAL 323
1
havia l boi, agora ha’. l5 cabecas de gado bovino, l pequeno cavalo, l8 sui- para 0 assunto; mas nao lhe tirarei nada da sua propriedade para conce-
nos e 2 corticos de abelhas. Nessa época estava avaliado em 69 s, agora der a minha licenca, nem lhe proibirei que a dé em casamento, excepto
em 4 £ e l0 s. Quando recebeu este manso encontrou apenas l boi e l acre se a desejar dar a um dos meus inimigos. Além disto, 0 monetagio (1)
cultivado. Daqueles 5 jugos acima falados, um foi possuido no tempo do comum feito pelas cidades e condados, o qual nao era usado no tempo
rei Eduardo por dois homens livres e foi acrescentado a este manso no do rei Eduardo (2), é por esta proibido; e se alguém, quer seja um moe-
tempo do rei Guilherme. Estava avaliado no tempo do rei Eduardo em deiro ou qualquer outra pessoa for apanhado com moeda falsa, que lhe
l0 s, agora em 22 s, e Guilherme entregou-0 a Peter de Valence. seja feita justica estrita por isso. Esqueeo todos os pleitos e todas as divi-
das que eram devidos ao rei meu irmao. [...] Esqueco todos os assassina-
[Doomsday Book, n, 78 b., in Guy Carleton Lee, Source-Book of English tos cometidos anteriormente ao dia em que fui coroado rei; mas aqueles
History, p. 121.] g
que foram cometidos desde entao serao justamente punidos segundo a
lei do rei Eduardo. Por comum conselho dos meus baroes, retive em minha
A CARTA DE HENRIQUE I posse as florestas como as tinha 0 meu pai. Além disso, todos os cavaleiros
(1100) que detém as suas terras devido a servico sao por esta autorizados a ter
os seus dominios livres dc todas as peitas, e de todos os servieos particulates,
I
Este diploma foi concedido por Henrique I (I068-I135) os quais, como sao assim eximidos de um grande encargo, guarnecer-se-50
aquando da sua coroaefio em I100, na esperanpa de veneer devidamente com cavalos e armas, para que possam estar aptos e prontos
a oposicdo dos baroes feudais e obter 0 apoio destes contra l para o meu servico e para a defesa do meu reino. Dou por confirmada
as pretensfies rivais de um seu irmdo. As liberdades aqui
exaradas serviram de base ti redacpdo da Magna Carta. a paz em todo 0 meu reino e ordeno que ela seja preservada daqui para
o futuro. [...]
Henrique pela graga de Deus rei da Inglaterra, para Hugo de Boclande,
' [Roger of Wendover, History of England, I1, in Elizabeth Kimball
justiciario de Inglaterra, e todos os seus fiéis subditos, tanto franceses como Kendall, Source-Book of English History. New York, 1908, 4.‘ ed.,
ingleses, em Hertfordshire, saudacoes. Saibam que eu, pela graca de pp. 49 a 51].
Deus, fui coroado rei pelo comum consentimento dos baroes do reino de
(‘) Imposto sucessorio pago ao senhor feudal (relief nas linguas franoesa e inglesa, do
Inglaterra; e porque 0 reino foi oprimido por exaccoes injustas, eu, pelo latim relivium ou-relevium). (1) Imposto pelo qual os povos <<compravarn» a moeda
respeito a Deus e 0 amor que sinto em relacio a vos, em primeiro lugar I
Ho rei. (1) Eduardo o, Confessor, rei de Inglaterra de 1042 a 1066.
estabeleeo que a santa igreja de Deus seja uma igreja livre, de maneira
que en nao a possa vender, nem arrendar, nem possa, por morte de qual-
quer arcebispo, bispo ou abade, tirar qualquer coisa ao dominio da igreja O REI DE FRANCA CONFISCOU AS TERRAS DO
ou do seu povo, até que o seu sucessor 0 substitua. SEU VASSALO, O REI DE INGLATERRA (1202)
E eu, a partir daqui, suprimo todas as praticas erradas pelas quais o reino
de Inglaterra esta agora injustamente oprimido e estas mas praticas men- Jofio, rei de Inglaterra, acusado por alguns dos seus vassalos
ciono-as aqui em parte: Se qualquer barao, conde, ou outro subdito meu, de Franco junto de Filipe Augusto, foi, pela corte deste ultimo
rei, privado das suas terras flancesas. O confisco do feudo
que de mim tenha possessoes, morrer, 0 seu herdeiro nao tera de remit era a consequéncia normal de uma quebra de fidelidade por
a. terra, como era costume no tempo de meu pai, mas pagara pela mesma parte do vassalo. 0 cronista do excerta que se segue, monge
uma justa e legal lutuosa (1); e também da mesma maneira os dependentes e depois abade de Coggeshall, um mosteiro cistercience,
dos meus baroes pagario igual lutuosa pela terra, aos seus senhores. E S6 foi contempordneo dos acontecimentos que narra.
qualquer barao ou outro dos meus subditos desejar dar em casamento 8
Sua filha, irma, sobrinha, ou outra parente, que peca 0 meu consentimento Q rei Filipe tinha ordenado muitas vezes ao rei de Inglaterra que termi-
sL
324 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
DECLINIO DA CIVILIZACAO MEDIEVAL 325
nasse 0 ataque [aos condes franceses] e fizesse a paz com os seus homens.
carta com 0 seu proprio selo, todas as coisas que pediam; e finalmente
Mas quando 0 rei de Inglaterra se recusou a dar ouvidos as alegacoes e
convencionaram por unanimidade que, depois do Natal, iriam todos ao
ordens do rei de Franca, foi intimado pelos baroes do reino da Franca,
rei e pediriam a confirmacao das citadas liberdades e que entretanto se
na sua qualidade de conde de Anjou e duque da Aquitania, a vir £1 corte
preveniriam com cavalos e armas, porque, se 0 rei tentasse desligar-se do
do seu senhor, 0 rei de Franca, em Paris, e aceitar 0 julgamento da corte. [...]
seu juramento, poderiam, tomando os seus castelos, compeli-lo a satis-
O rei de Inglaterra, todavia, replicou que, como duque da Normandia, nao
fazer estes pedidos; e, tendo combinado isto, cada homem voltou para
era obrigado a vir a Paris. [...] O rei Filipe, em resposta, disse que era de
sua casa. [...] .
justiea que ele perdesse os seus direitos sobre a Aquitania, porque o duque
De acordo com a data e 0 lugar préviamente combinado(2), 0 rei e
da Normandia e o duque da Aquitania eram a mesma pessoa. [...] Final-
os nobres foram para a conferéncia marcada e, quando ambos os grupos
mente a corte do rei de Franca decidiu que 0 rei de Inglaterra perdesse
estacionaram separados um do outro, iniciaram uma longa discussao
todas as terras que tinha recebido do rei de Franca, visto que por um longo
acerca dos termos da paz e das ditas liberdades. Por fim, depois de terem
periodo havia deixado quase por completo de prestar os servicos devidos
sido discutidos varios pontos de ambos os lados, o rei Joao, vendo que
por estas terras e porque nao obedecia a quaisquer ordens do seu senhor. [...]
era inferior em forca aos baroes, sem levantar nenhuma dificuldade, con-
cedeu aos abaixo mencionados leis e liberdades, confirmando-as pela sua
[Ralph of Coggeshall, Chronicon Anglicanum, ed. J. Stevenson, Lon-
dres, 1875, pp. 134-135.] carta, como se segue. [...]
filha mais velha, e neste caso que a contr-ibuicao seja razoavel. Que tudo 61 —- [...]. Instituimos e concedemos aos nossos baroes a seguinte garantia:
se passe da mesma maneira no que respeita as contribuicoes da cidade
elegerao vinte e cinco baroes do reino, os quais deverao com todo o seu
de Londres.
poder observar, manter e fazer cumprir a paz e as liberdades que nos con-
13 —A cidade dc Londres conservara as suas antigas liberdades e todos cedemos. [...] E se nos nao corrigirmos um abuso [...] dentro do prazo de
quarenta dias a partir do memento em que ele nos tiver sido assinalado [...]
os seus costumes livres, tanto na terra como na zigua. Além disso, queremos
quatro dos baroes sobreditos levarao este assunto até ao conhecimento
e concedemos que as outras cidades, burgos e portos, sem excepcio, gozem
dos outros baroes e todos [...] com o apoio dos comuns do pais, se apo-
das suas liberdades e costumes livres.
deriio dos nossos castelos, terras, bens e outras quaisquer coisas, a excep-
14 — Para obter 0 consenso geral a fim de lancar um pedido ou imposto Qio apenas da nossa pessoa e das da rainha e nossos filhos. [...]
fora dos trés casos sobreditos, mandaremos convocar individualmente r1
os arcebispos, bispos, abades, condes e grandes baroes por meio de cartas. Dada pela nossa mio, no prado que é chamado Runnymede, entre
e além disto mandaremos convocar de uma maneira geral, por intermédio Windsor e Staines, a 15 de Junho de décimo sétimo ano do nosso rei-
dos nossos viscondes e outros magistrados, todos os nossos vassalos direc- nado.
tos para um dia determinado, a saber, corn antecedéncia de pelo menos
[In C. R. C. Davis, Magno Carta, The Trustees of the British Museum,
quarenta dias, num local determinado, e em todas as nossas cartas indi- 1963 pp. 16 a 25.]
caremos o motivo da convocacfio. [...]
. . . . - - - - - . . . . . - . . . - - . . - - . - - . . . . . - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ~ . . - . - . - . . . - . . . - . - - . - . . . . ............-----'
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1
330 TEXTOS I-IISTCRICOS MEDIEVAIS l DECLINIO DA cIv1L1zAcAo MEDIEVAL 331
estatuto (3). Mas os trabalhadores estavam tao soberbos e obstinados que Inglaterra, saudacoes. Dado que uma grande parte do povo, e especial-
nao quiseram ouvir as ordens do rei, mas, se alguém desejasse té-los, era mente dos trabalhadores e servidores, morreu ultimamente da peste
obrigado a dar-lhes 0 que eles queriam, perdendo os seus frutos e searas e muitos, vendo as necessidades dos senhores e a grande escassez de ser-
ou satisfazendo-lhes os soberbos e ambiciosos desejos. [...] vicais, nao querem servir sem ter recebido salarios excessivos, preferindo
Depois da acima dita pestiléncia, muitos edificios, grandes e pequenos, outros mendigar no ocio a ganhar a sua vida pelo trabalho; nos, consi-
cairam em ruinas nas cidades, vilas e aldeias, por falta de habitantes, de derando os graves incomodos que podem sobrevir especialmente da falta
maneira que muitas aldeias e lugarejos se tomaram desertos, sem uma de lavradores e dc tais trabalhadores, depois de ter deliberado e tratado
casa ter sido abandonada neles, mas tendo morrido todos os que ai viviam; com os prelados e os nobres e os homens doutos que nos assistem, com o
e é provavel que muitas-dessas aldeias nunca mais fossem habitadas. [...] seu conselho unanime, ordenamos:
Nobres e senhores do reino que tinham foreiros faziam abatimentos Que cada homem e mulher do nosso reino de Inglaterra, dc qualquer
da renda, a fim de que os foreiros se nao fossem embora, devido a falta dc condicao que seja, livre ou servo, apto de corpo e com menos de sessenta
servidores e geral carestia, uns dc metade da renda, outros mais, outros anos, que nao viva do comércio nem exerca qualquer oficio, nem possua
menos, alguns por dois anos, alguns por trés, alguns por um ano, segundo de proprio com que possa viver, nem terra propria em cujo cultivo se
o que combinassem com eles. Desta maneira aqueles que recebiam dos possa ocupar, nem sirva qualquer outro se for convocado para trabalhar
seus foreiros um dia de trabalho ao longo do ano, como é costume com num servico que lhe seja adequado, considerada a sua condicao, sera obri-
os vilaos, tinham dc lhes dar mais lazeres e perdoar tais trabalhos, e outros gado a servir aquele que assim o convoca; e levara apenas o soldo, paga-
liberta-los por completo ou dar-lhes um foro mais facil por uma renda me- mento, remuneracao ou salario que era costume serem dados nos locais
nor, para que as casas se nao arruinassem irremediavelmente e a terra nao onde era obrigado a servir no vigésimo ano (2) do nosso reinado em Ingla-
permanecesse inteiramente por cultivar em toda a parte. terra, ou nos cinco dos seis anos comuns anteriores. [...] E se qualquer homem
ou mulher sendo assim convocado para servir, nao o fizer, e isto for pro-
[In Elizabeth Kimball Kendall, Source-Book of English History, New vado por. dois homens bons perante os sheriffs(3) ou os bailij}'s(4) do nosso
York, 1908, 4.“ ed., pp. 102 a 106.]
senhor soberano o rei, ou os constabIes(5) da cidade onde 0 caso se tiver
(1) Quase todos os sistemas monetarios da Europa Ocidental se baseavam na seguinte
dado, sera imediatamente preso por eles ou por qualquer deles e enviado
equivaléncia estabelecida no tempo de Carlos Magno: uma libra continha 20 soldos 6 para o carcere proximo, permanecendo ai debaixo de estreita vigilancia, I
240 dinheiros. (1) Uma apedra» corresponde, em media, a 6,350 kg. (3) Esta determi- até que dé a garantia de servir na forma acima dita.
nacio de 1349 foi seguida dois anos mais tarde pelo Estatuto dos Trabalhadores. Se qualquer segador, ceifeiro ou outro trabalhador ou servidor de qual-
i quer estado ou condicio que seja, retido no servico de qualquer homem,
abandonar o dito servico, sem causa razoavel ou licenca, antes da data
O ESTATUTO DOS TRABALHADORES (1351)
combinada, sofrera pena de prisao; e ninguém, sob a mesma pena, ousara
Uma das mais graves consequéncias do peste negro foi um receber ou reter esse tal a seu servico. [...] Também os seleiros, os peleiros,
brusco despovoamento, que arrastou uma grande crise J8 os curtidores, os sapateiros, os alfaiates, os ferreiros, os carpinteiros, os
mdo-de-obra e alta de saldrios. Os governos procuraram pedreiros, os oleiros, os calafates, os carroceiros e todos os outros arti-
remediar esta situacdo compelindo as pessoas ao traballw fices e trabalhadores nao levarao pelo seu trabalho e artesanato mais do
e tabelando as remuneracdes. O Porlamento inglés, retire" que 0 mesmo que era costume ser page a tais pessoas no dito vigésimo ano,
sentando predominantemente as proprietdrios, votou os esta- l
I e nos outros anos comuns anteriores, como antes foi dito, no lugar‘ Onde
tutos seguintes: l
-
lhes couber trabalhar; e se algum homem levar mais, sera entregue no car-
Eduardo (I) pela graca de Deus, etc., ao Reverendo Padre em Cristo, Gui- ¢¢re proximo, da maneira como anteriormente foi dito.
lherme, pela mesma graga arcebispo de Cantuaria, primaz de toda 3 Também os carniceiros, os peixeiros, os estalajadeiros, os cervejeiros,
.1
332 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS DECLINIO DA cIvII.IzAcAo MEDIEVAL 333
os padeiros, os galinheiros e os outros vendedores de toda a espécie de fora dc si e de baixa condicfio. Na realidade, mataram muitas mulheres
vitualhas serao obrigados a vender as mesmas vitualhas por um preco e criancas nobres, pelo que Guilherme Carlos lhes disse muitas vezes
razoavel, considerando 0 preco pelo qual tais vitualhas eram vendidas que se excediam demasiadamente; mas nem por isso deixaram de o
nos lugares vizinhos, de maneira que os mesmos vendedores tenham ganhos fazer.
moderados e nao excessivos, razoaveis para serem pedidos, de acordo Entao Guilherme Carlos viu bem que as coisas nao podiam ficar assim;
com a distancia do lugar donde as citadas vitualhas foram trazidas. [...] porque, se eles se separassem, os gentis-homens cair-lhes-iam em cima.
E como, por causa disto, muitos robustospedintes, enquanto podem Portanto, enviou os mais prudentes e os mais notaveis perante o preboste
viver pedindo, se recusam a trabalhar, entregando-se ao ocio e ao vicio, dos mercadores dc Paris e escreveu-lhe que estava pronto a ajuda-lo e
e por vezes ao roubo e a outras abominacoes; ninguém, sob a mesma l que ele também o ajudasse e socorresse, se necessario fosse. Por isso fica-
pena de prisao, podera sob a cor da piedade ou da esmola, dar o que quer , ram contentes os generais dos trés estados e escreveram a Guilherme
que seja aqueles que podem trabalhar ou tentar auxilia-los no seu ocio, a I Carlos que estavam prontos a prestar-lhe socorro. Estes Jacques vieram
fim de que, desta forma, sejam compelidos a trabalhar para o que lhes é , até Gaillefontaine. A condessa de Valois, que ai estava, desconfiou deles,
necessario a vida. fez-lhes boa cara e mandou dar-lhes viveres. Porque eles estavam acos-
l
tumados a que, pelas cidades e lugares por onde passavam, as pessoas,
[Ed. from Statutes of the Realm, I, pp. 307 e 308, in Guy Carleton Lee, mulheres ou homens, pusessem as mesas nas ruas; ai comiam os Jacques
Source-Book of English History, 2.‘ ed., revised, New York, 1906,
pp. 206 a 208.] e depois passavam adiante, incendiando as casas dos gentis-homens. [...]
(1) Eduardo III (1327-1377). (1) Em 1347, anteriormente a peste. (3) Magistrados [Chronique des quatre premiers Valois (I327-I393) Société de l'His-
supremos de um condado, com poderes judiciais e executivos. (4) Oficiais dependentes toire de France, por M. Simeon Luce, Paris, 1862, pp. 71 e 72.]
do sheriff e- encarregados de fazer prisoes e cobrar muitas. (5) Oficiais encarregados de
executar as decisoes dos magistrados da Justica.
I
DECLINIO DA CIVILIZACAO MEDIEvAL 335
334 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
numero para Bruges, tomaram a cidade, depuseram 0 conde, roubaram
comum com os artifices, os Gibelinos (4), os homens afastados dos cargos, e mataram todos os seus oficiais e precederam da mesma maneira em
e desviou todo 0 poder do povo. relacio a todas as outras cidades flamengas que cairam nas suas maos.
Como membro da milicia alistado sob o estandarte de Nicchio (5) eu O seu chefe era esse Filipe Van Artevelde (2) que acima mencionei. Como
estava em servico na praca quando os artifices e os seus aliados vinham crescesse 0 numero de fiamengos em rebeliao contra os seus senhores,
de volta, depois da expulsao do povo. Quando ja todos os outros tinham enviaram embaixadas secretas a populaca de Paris e Rouen incitando-a
sossegado, um canteiro, que estava claramente com intencoes assassinas, a fazer 0 mesmo aos seus proprios senhores e prometendo-lhes ajuda e
continuou gritando: (<Enforquem-nos! Enforquem-nos!» Dirigi-me para ele socorro neste empreendimento. Em consequéncia, estas duas cidades revol-
e disse-lhe que refreasse a lingua, depois do que ele me deu uma estocada taram-se contra 0 rei de Franca. A primeira insurreicao foi a do povo
no peito com a ponta da espada. Rapidamente dei-lhe com a lanca e de Paris, provocada por um vendedor de frutas que, quando um oficial
fazendo-a atravessar a sua tunica de couro, matei-o ali mesmo. Varias tentava cobrar uma taxa sobre a fruta e os vegetais que estava vendendo,
testemunhas que o tinham visto iniciar a qucstao declararam que eu havia comecou a gritar: <<Abaixo a 'gabelal(3)». A este grito toda a populacio
agido em defesa propria e que ele merecia a sua sorte. Nada mais se disse se ergueu, correu para as casas dos cobradores de impostos, roubou-os
a esse respeito por essa época. e assassinou-os. Entao, na medida em que o povo nao estava armado,
Fui para casa e, vendo que muitos cidadaos Guelfos (6), incluindo alguns um de entre eles conduziu-os ao Chatelet (4) onde Bertrand du Guesclin (5),
dos melhores, estavam a ser proscritos e banidos, resolvi deixar a cidade. um antigo Grande Condestavel, tinha guardado 3000 malhos em prepa-
racao para uma batalha que devia ter sido dada aos Ingleses. A populaca
[<<The Diary of Buonaccorso Pitti», in Two Memoirs of Renaissance
Florence, ed. Gene Brucher, New York, Evanston and London, 1967, serviu-se de machados para abrir caminho até a torre onde estes malhos
pp. 28 e 29.] . (em francés, maillets) estavam guardados. Armando-se a si proprios, os
homens precipitaram-se em todas as direccoes para roubar as casas dos
(1) Gregorio XI (1370-1378). De 1375 a 1378, Florenca manteve uma luta com o Papado representantes do rei e em muitos casos mata-los. O popolo grosso, ou
conhecida por <<Guerra dos Oito Santos», nome dado aos magistrados criados para a
homens de haveres que em francés sao chamados bourgeois, temendo
dirigir. (1) Os dirigentes das corporacoes conhecidas por Artes Maiores (em numero
de 7 e agrupando o popolo grosso) e Artes Menores (em numero de 14 e representando que os populares (que foram mais tarde chamados mailiotins e eram da
o popolo mogro). So os priores das Artes Maiores entravam no Govemo. (3) Tinha a mesma raga dos ciompi em Florenca) os pudessem também roubar, pegou
seu cargo a defesa do govemo comunal que estava nas maos da burguesia rica, o popvlv em armas e procurou subrneté-los. [O popolo grosso] manobrou entao
grosso. (‘) Partido que apoiava o Império. (5) Nicchio era uma subdivisao do bairr0 para tomar o governo nas suas proprias maos e, juntamente com os mail-
do Espirito Santo, em Florenca. (5) Grupo que tomava 0 partido do papa contra 0 lotins, continuaram a guerra contra os seus reais senhores.
Império.
I
[<<The Diary of Buonaccorso Pitti», in Two Memoirs of Renaissance
Florence, ed. Gene Brucker, New York, Evanston and London, 1967,
AS REVOLTAS DE GAND (1381)
E DE PARIS (1382)
1-:0
I pp. 39-40.]
[Aemilius Friedberg, Corpus Juris Canonici, pars secunda, Decreta- Depois de tentados sem sucesso varios processos para fazer
lium Collectiones, Graz, l9S5, cols. 1245 e 1246.] findar 0 Cisma, optou-se pela <<via conciliar». Reunida em
Pisa um concilio (1409) que se declarou ecuménico, 0 papa
de Roma e 0 de Avinhfio foram considerados heréticos e
0 DECLlN'IO DAS IDEIAS TEOCRATICAS: l1 elegeu-se 0 arcebispo de Milfio, que tomou 0 nome de Ale-
xandre V. Doravante passaram a existir trés pontifices.
A CRlTICA DE OCKHAM (1340) I
0 cronista do texto que se segue foi contemporaneo dos
assuntos narrados.
E
O progresso da centralizagfio monzirquica, por um lado, e 08 l
0
abusos da administragfio pontificia de Avinhfio, por outro. E entao o cardcal dc Bar e todas as suas gentes partiram de Génova e
provocaram, no decorrer do século XIV, acerbas criticas con- Caminharam, em varias jornadas, até que chegaram at cidade de Pisa. No
tra a Igreja. Nesta corrente se integrou 0 franciscano inglés
Guilherme de Ockham (I270-1349), negando ao Papal/10 qual lugar estava reunida grande multidio de cardeais da obediéncia dos
qualquer direito ao poder temporal. dois papas, mestres em teologia, graduados tanto em decretais como em
Outras ciéncias, embaixadores de diversos reinos e grande niunero de pre-
Prova-se desta maneira que 0 Império Romano nao depende do papa-
340 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAIS
DECLINIO DA CIVILIZACAO MEDIEVAL 3“
'$, 3 Catedral e consagrado pelo cardeal Ostiense, deao dos cardeais, e foi
‘:1
~.
1
¢hamado Martinho, quarto (3) deste nome. A qual coisa foi imediatamente
(1) De 1409. .‘_ . -4
dlvulgflda por todas as partes das ditas naqoes. Pelo que todo 0 clero c
.14’
.-I(—
15 ° Povo renderam graoas a Deus, excepto a cidade de Paris, porque temia
i que este novo papa e o rei da Alemanha fossem favorziveis ao rei dc Ingla-
I? terra e ao duque da Borgonha, mais do que ao rei de Franea e ao con-
"-4-.
.:,\k-0?
it
selho real.
1
0
I
I
N
! DECLINTO DA CIVILIZACAO MEDIEVAL 343
342 TEXTOS HISTORICOS MEDIEVAI5
das c arrastadas desde a passagem da barra’ sagrada até ao golfo Qua-
4. tino. E imediatamente assim foi feito. Foram desta maneira trazidas as
O FIM DO IMPERIO BIZANTINO (1453) birremes, nas quais um assistia como piloto 5. proa ¢ Qutrg oricmava O
Ieme a popa; um terceiro governava as Vargas e movia as W135, Qu[fQ
A 29 de Maio de 1453 e depois de um cerco que se iniciara a 5 de Abril desse l tocava tambor enquanto um poema nautico era cantado pelo trombetciro.
mesmo ano, Constantinopla caiu nas mfios do sultfio otomano Muhammad II. Entretanto aparecem assim torrentes de navegantes que invadem os
Este episodio marcou o fim da civilizaedo bizantina e do Império Romano silvados e trazem de um lado para o outro oitenta trirremes arrastadas
|
do Oriente, que ja entfio era pouco mais que uma velha cidade decadente. por terra desde uma costa, onde as demais ficaram, até a outra costa.
A emogfio no Ocidente europeu foi grande. A presenga do imperador em Quem de tal foi jamais espectador ou auditor? Na verdade Xerxes laneou
Constantinopla tinha sido até entfio uma forpa mitica e um simbolo da defesa sobre 0 rnar uma ponte feita pela coberta dos navios, pela qual atravessou
cristfi perante a ameapa turca. Dorairame os otomanos teriam segura a per- um grande exército. Mas este novo Alexandre Macedonio, da sua estirpe,
manéncia do seu Império e a presenpa na Europa. N50 obstante, os apelos 1 ultimo dos tiranos, segundo espero, introduziu 0 mar na terra, impelidos
da Santa Se’ para a organizapfio de uma nova cruzado ficaram sem resposta. os navios pelos cabeqos dos outeiros como se de ondas do mar [se tratasse].
1 Além disto, superou por esta obra e sucesso Xerxes, 0 qual, transposto o
Desviados por outros objectivos, mais prementes e mais proximos, as varios |
l
projectos que se esbo¢aram goraram-se. I-lelesponto e recebida uma derrota dos Atenienses, recuou torpemente.
Para as Gregos comegava uma sujeigfio que duraria vdrios séculos. Na realidade, Muhammad atravessou a terra tornada quase navegavel
e oferecida aos remos, fez esquecer os Romanos e conquistou efectiva-
mente a cidade imperial, a Aurea Atenas, omamento do mundo.
A OCUPACAO DO CORNO DE OURO [Ducae Michaclis Ducae Nepotis, Historia Biirantina a Joanne Palaeo-
PELOS NAVIOS TURCOS Iogo, anno Christi I341, ad annum 1462, in J. P. Migne. Patrologiae
Cursus Completus, Series Graeca, t. cum, Paris. 1866, cols. 1079
a 1082.]
Desejando ocupar 0 golfo do Coma de Ouro, que Ihe daria
a posse de Constantinopla, Muhammad mandou conduzir (‘) Esta pequena frota cnsti, com armas e mantimentos para os sitiados, havia conse-
os seus navios por terra, deslizando sobre toros, num caminho guido entrar a salvo no Como de Ouro depois de uma esca.ramut;a com os navios turcos.
que préviamente mandara abrir e que ligava um porto no (2) A cidade de Pera, frente a Constantinopla, onde se havia estabelccido uma impor-
Bosforo a um ponto da costa do citado golfo. O relato aqui _.._.,-_. - tante colonia genovesa. (3) Porto onde as for<;as turcas tinham estabelecido 0 seu
transcrito pertence a um dos grandes historiadores da queda quarrel-general. (4) O Como de Ouro. (5) Zona sobre o golfo, ao norte da cidade.
de Constantinopla, Miguel _( .") Ducas, que no altura do cerca
vivia possivelmente em Quios. 1
O SAQUE DE CONSTANTINOPLA
O tirano [Muhammad],ivendo ocuparem 0 porto oito grandes naves e mai5
Segundo a tradigfio islamica, uma cidade que se rendesse
vinte menores, as trirremes do imperador, os venezianos e muitos outros sem luta seria poupado a pilhagem. mediante o pagamento
.-.-__,. .-.
pequenos navios (1), compreendeu nao poder alcanqar 0 seu objectivfl de uma determinada indemnizapfio. No caso contrério, 0
e imaginou, portanto. um estratagema audaz digno de um homem gener0S° exército vencedor tinha direito a entregar-se a um saque
e forte. Mandou abrir um caminho pelos silvados e espinheiros situad05 sem restrigroes durante trés dias. Foi pois ao cabo destes dias
que a frota de Muhammad deixou Constantinopla, carre-
por tras da Galata (1) da parte que olha para oriente abaixo das D1185
gada de riquezas. 0 autor do trecho nda foi testemunha
Colunas (3) até a outra parte do golfo Ceratino (4) que confina com a regi5° 0
ocular do saque. mas é um contemporéneo bem informado.
de Cosmédio(5). De acordo com a qualidade do lugar, foi, tanto quflflm
possivel, aplainada a estrada, e mandou entao [Muhammad] transpofli" 0 N0 terceiro dia depois da tomada da cidade, [Muhammad] licenciou a
por terra as birremes ocupadas pelas falanges, de velas desfraldadas, Pu)“
1
II:
v
(') Nicolau V (1447-1455). (7-) Filipe o Bom, duque de 1419 a 1467. (3) Erro do ¢l’°'
O PAPA INFORMOU A CORTE DE BORGONHA nista. Trata-se, como é obvio, dc Muhammad (Maomet) 11- (‘) R°r¢l'é"cl“ 3 Bajuflm
DA QUEDA DE CONSTANTINOPLA
i. Que derrotou os cristaos em Nicépolis (1396). (5) Joio sem Medo, duque da Borgonha
dc 1404 a 1419. (6) Zaganos Paxa. (7) Constantino XII Paleologo.
Quando a noticia da queda de Constantinopla atingiu_fl-9
vdrias cortes ocidentais, foi grande a desolaefio. 0 cromstfl
Olivier de La Marche (1426-I502) coma-nos como o duque
da Borgonha foi informado por um mensageiro do papa e
incitado a entrar numa cruzado contra os Turcos.
* .. 7
-
-gt,
Aconteceu que nesta época o Papa Nicolau (1) enviou perante o duque
de Borgonha (2), no lugar de Lille, um cavaleiro e comunicou-lhe a tomadfl
an».,9
- _u‘-a -4 .4Q Q4 Q Q Q
7»
Esta nossa patria foi pois capturada: o império dos Romanos desapare-
ceu e com ele a dignidade desse império, venerando por si mesmo e pelo
seu nome. A imagem divina e sublime da Igreja foi derrubada: o hino
que da terra subia ao encontro de Deus e porfiava na vida angélica e no
canto calou-se. _
Os templos de Deus foram derrubados, os altares, profanados, os objec-
tos sagrados, espezinhados. A velhice foi desprezada, a juventude, desper-
dicada. A maior parte daqueles que, pelo vigor da idade, puderam pegar
em armas jaz derrubada pelo ferro; os outros sofrem uma torpe servidao.
As matronas foram desonradas. Da prole, nao so as raparigas, como igual-
mente os rapazes, entregues a libidinosidade dos barbaros. Também mui- §¥~
tos deles foram convertidos ao impio culto de Muhammad.
Muitos dos homens da nossa cidade, dispersos pelo orbe da terra, andam
mendigando e procurando o alimento, colocados na necessidade perante
os olhos de todos nos. Miseraveis imploram 0 nosso amparo, mas nin- e 1
guém pode consolar estas misérias.
Insultam os barbaros as nossas desgracas, trocam das nossas calami-
7.4‘
dades, e glorificando-se na sua impiedade, insurgem-se contra a nossa P18 3:; .
religiao, invectivando com insultos as nossas coisas honestas e santas. [---l 1':7]
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pd‘-.-Q,- ._a.~
l
Aachen, 144, 148, 149, 154, 155; cf. Aquis- Alcor5o,'95, 104
granurn Alcuino, 144, 145, 150
Abassidas. 95, 112 Andaluzia; andaluz, 10, 100, 101, 253
I
Abba, 100 Aldeia Galega, 312
Abd-al-Malik. 110 Aleixo I Comneno (imperador de Bizan-
I
I Abd-ar-Rahman I, 112 cio), 85 4r ¢4r@.Q1Q i
Abd-ar-Rahman III, 113 Aleixo III (imperador de Bizancio), 84,
l
Abelardo, Pedro, 259 302 I
Abraao. 92, 94 Alemanha: alemaes, 50, 192, 207, 253,
Abu’Abd Alalh al-Natili, 119 289, 341, 345 1
Abu-Abdallah. 92 Alepo, 99
Abu Bakr, 116 Alexandre (bispo de Alexandria), 58 1
Abujafar al-Mansur, 112 Alexandre I (imperador de Bizancio), 53,
Abu Nasr al-Farabi, 261 54 1
Abu-Salaiman, 97 Alexandre 11 (papa), 288, 289
Abu-Ubaydah‘ ibn-al-Jarrah, 97, 98 Alexandre III (papa), 233 1
Alexandre V (papa), 339, 340
Abu-Yusuf-Yacub, 203
Alexandre Macedonio, 343 4
Abu Zara, 99
Aqafim, 116 Alexandria, 31, 32, 58, 83, 84, 96, 127,
259 I
Acciaiuoli, 224
Al-Farisi, 108
Achbouna, 116; cf. Lisboa
A1-Farrabi, 117 1
Acre, 202
Adalbéron. 259, 274, 279, 320 Algarve, 116, 229, 237 1
Adda, 200 Algeciras, 100, 203
Ad-Darb, 99 Alice (condessa de Warwick), 188 4
Admonitio Generalis, 152 Al-Jibal, 101
Adriano (imperador romano), 67 Aljubarrota, 179, 317 1
Adriano I (papa), 143, 144 Allah, 90, 91, 92, 98, 203
Adriatico, 17, 160 Almagesto, 119 4
Afganistio, 105 Almaraua, 94
I
l Afonso IV (rei de Portugal), 229 Al-Maksalat, 98 I
Afonso V (rei de Portugal), 313, 314 Al-Mansur, 111, 112
Afonso VI (rei de Castela e Leao), 250 A1-Mansura, 101
Afonso X (rei dc Castcla e Leao), 236, Al-Mariyya, 203
_ 243, 314 Almeria, 203
Africa; africano, 3, 10, ll, 26, 40, 69, Almohadas, 203, 252
92, 100, 131, 206 Almoltazam, 94
Agar, 94 A1-Natili, 119
Agilulfo, 30, 31, 32 Alpes, 43, 159, 160, 200, 233
Agnes (princesa bizantina), 302 Alpes Julianos, 160
1 Agobardus (arcebispo de Lyon), 190 Al-Rashid, 108
Aix, 248; cf. Aachen Al-Razi, 114
I Ajax, 28 A1-Shafi, 95
Alamanos; alamanico, 12, 69, 153, 159 Altrabtas, 160
Alanos; alanico, 4, 6, 9, 10, 27, 69, 159 Alvares, Diogo, 176
Alarico, 8, 19, 34 Alvares, Nuno, 176, 177
Al-Bab ash-Sharki, 97 Al-Walid, 99, 110
Albino, 150; cf. Alcuino ‘ Al-Yarmuk, 98, 99
Alboino, 17 Amadis de Gaula, 251, 252
Alcarmah, 93 Amalfi, 206
Alcobaea. 237, 311 Amaury, 239
Mi} I
351
INDICE ANALITICO
lND1CE ANAL1TlCO'
l
350 Bouvines, 319
Baume-Ies-Messieurs, 286 Brabante, 14
Asturias, 18 Baviera; Bavaros, 12, 17, 169, 170 Bracila, 12
Ambianos, 160 Ataulfo, 8, 34 Bayeux, 42 Braga, 28
Amiano Marcelino, 4, 6 Arenas: Atenienses, 83, 343 Bayonne, 216, 217 Brandenburg, 292
Amiens, 160, 276 Atila. 12 Bazas, 129 Bretanha; bretao; bretoes, 12, 14, 15,
Amurat Bey, 345 Atlantico. 96,_ 227 Bearneses, 253 39, 198, 250, 252, 253, 320
Amur-Darya, 96 Auch; 129 Beatriz (condessa de Troyes), 189 Bristol, 328
Anastasio (bispo ariano), 33 Augea, Mosteiro de, 191 Beauvais; Beauvoisin, 41, 332 Brixen, 288
Anastasio (imperador de Bizancio), 129 Augusteu, 78 Beda. 14 Bruges, 199, 208, 227, 228, 335
Anastasio (patriarca de Constantinopla), Augusto, 14, 75 Beira, 186 Brutos, 250
61, 138 August-.110, Romulo, 11 Beirute, 70 Bucuocio, Simone, 223
Anatolia; anatolio, 106, 126 Aurelianum, 41 Bela II, 302 Bukhara, 96, 119, 261
Anconianos, 55 Ausei. 128 Belém, 3 Bulgaria; Bulgaros, 8, 17, 37, 38, 40, 147
Andegavi (Angers), 41 Austrasianos, 21 Bélgica; Belgas, 35, 160 Burdigala (Bordeaux), 41, 128, cf. Bor-
1
Andrea (mercador), 205 Auvergne, 269 Belial, 296 deaux
Andrinopla, 8 Avaros, 17, 31, 38, 39 1
Belisario, 79, 80 Burghard (bispo de Wfirzburg), 140
Angevinos, 253 Averrois, 120 1 Belvacis (Beauvais), 41 Burgundia; burgundios, 4, 13, 19, 21, 22,
Anglos, 12, 14, 15, Z6, 31, 281 Avicena, 119, 120, 260, 261, 263 Benavente; Benaventanum, 143, 286 26, 57, 159, 242
Angers, 41 Avinhao, 224, 226, 269, 337, 338, 339, 341 Ben-Batuta, 92, 94, 95, 104, 110. Busdraghi, Landuccio, 224
Angouléme, 41 Avis, Mestre de, 177 ' Bento X111, 341
Angulus, 14 Axafeaia, 95 Berberes, 105, 118
Anjou, 216, 219, 324, 325 Azov, 5, 6 Berceto, 143 Cabo Verde, 314
Antémio dc Tralles, 77 Az-Zajjif, 108 Berengario 1, 43, 50 Cadiz, 18
Antioquia, 8, 99, 128 Berno, 286 Cairuao, 96
Antonino Pio, 70 Berta (rainha de Franca), 193 Calcedonia, 30, 57, 58, 59, 74, 124, 125
Apostolos, 48, 60, 289 Bab ash-Sharki, al-, 97 Bertrand du Guesclin, 335 Callsto 11, 292, 293
Aquiles, 78 Bacon, Rogério, 267, 268 Bética, 10 Calhan, 116
Aquisgranum, 148, 156; cf. Aachen Bagdad, 104, 109, 111, 112 Biclara, 29 Camariotes, Mateus, 346
Aquitania; Aquitanos, 14, 40, 160, 162, Baiocas (Bayeux), 41 Bieloozero, 42 Cambrai; Cambresinos, 13, 253, 336
r 173, 219, 284, 286, 320, 324, 325 Baiazeto, 345 Bijaya, 203; cf. Bougie Campania, 11
Arabe; arabes; Arabia, 52, 96, 97, 98, Balcis, 37 Bitinia, 59, 64 _ Cangiani, Gherardo, 226
101, 102, 105, 107, 108, 109, 118, 235. Balduino 11, 203 Bizancio; Bizantino, 47, 48, 51, 52, 54, Cantabria, 18
253 Balduino IX, 302
it 63, 67, 71, 76, 77, 78, 82, 96, 98, 101,
Canterbury, Catedral de, 277
Aral, 96 Balduino cla Flandres, 302 110, 138, 202, 297, 342 Cantuaria, 14, 324, 330; cf. Canterbury
Arbogasto, 35 Balmense, Mosteiro, 286 l Blacherne, Palacio de, 51, 302 Capetingio, 319
Arcadig, 8 Baltico, 17, 52, 204, 205 Blois, 282 Capeto, Hugo, 274, 320
Arégia,"18 Balm, 206 Boca. de Leia, Palacio da, 81, 302 Caria, 77
Arelatense (Arles), 287 Bamberg, 292 I Bode, rio, 187 Carlomano 1, 143, 169, 170
Ario; ariano, 13, 28, 29, 30, 32, 58 Bani-Ornnia, Mesquita de, 110 Boécio, 259 Carlos V, 335
Aristoteles; aristotélico, 83, 84, 120, 236, Bapaume, 207 Boémia, 241 Carlos V1, 226, 335
239, 256, 258, 259, 260, 261, 262, 263, Bar, 339 Bojador, cabo de, 313 Carlos 0 Calvo, 165, 172, 194
264, 269, 344 Barba de Ouro (deao de Paris). 234 Bolonha, 241, 243 Carlos [I1 o Gordo, 162, 191, 192
Aries, 287 Barbacins, 314 Bona, 11 Carlos Magno; Carolingio, 121, 139, 141,
Armenia, 6, 99 Barbarismos (Donatus), 239 Bonagiunta, Tancredi, 224 142, 143, 144, 145, 146, 147, 149, 150,
Arras, 160, 215 Barbaros, 8, 9, 128, 320, 344 Bonifacio VIII (papa), 337 152, 153, 154, 155, 156, 160, 161, 170,
Ars Maior (Donatus),_ 240 Barbate, 101 Bonifacio de Montferrat, 302 171, 175, 187, 191, 192, 193, 248, 249,
Arsafio, 148 Barcelona. 34 Boors, 250 300, 330
Artes Maiores, 334 Bardi, Companhia dos, 228, 229 Bordeaux; Bordéus, 41, 129 Carlos Martel, 40, 140
Artes Menores, 334
Arvore dz Jessé, 282
Arzila, 180
Barna de Lucca. 224
Basac. Sagnam, 345
Basel, 292
l Borel (duque da Espanha Citerior), 320
Borgonha; borguinhoes, 153, 334, 341,
344, 345
Carnotes, 41
Cartago; Ca-rtaginense, 10, 96, 100
Casini, Bartolo (mercador), 224
Ascila, 13 Basilio (bispo de Cesareia), 62 Bosforo, 63, 342 Caspio, 37, 101
Asdingos, 10 Bésforo Cimério, 6 Cassiodoro, 20
Basilio (bispo), 128 Boucoleon, Palacio de, 51, 80, 81, cf.
Asfidio, 18 Basilio (imperador), 71, 74 Castela, 177., 236, 253. 255
Asia, 47, 92, 125 Boca de Leao Castro, D. Alvaro de, 180
Basra, 111 Bougie, 203; cf. Bijaya
Asia Menor, 56,' 60, 77 Batavos, 156 Catalunha; Catalaes, 55, 242, 320
Assafa, 94 Bourges, 284
Batini, 93
Assur, 159 Baugulfo, 151
Astolfo, 140, 141
1 J
r
352 INDICE ANALITICO
E
INDICE ANALITICO
Cataros. 300 353
Constantino V, 60
Categorias (Aristotelesf., 258 Constantino VI, 63, 145 Dominicana (reforma), 256; cf. S. Domin- Evreux, 41
Celtiberos. 160 Constantino VII, Porfirogeneta, 50, 71, gos Exuperius, 160
Cenomanianos. 242 73, 74. 75, 113, 125 Dormiras, Joao Martins, 312
Ceratino, Golfo, 342. 343 Constantino XII, 345 Doroteu, 69
Cerulario. Miguel (patriarca), 66 Constantinopla, 11, 15. l6. 26. 40, 47, Douro, 10 Falconetti, Francesco, 224
César. Julio, 34, 75 48. 49, 51, 52, 55, 56, 59, 60. 61, 65. Dregovitchas, 38 Farghana, 101
Cesareia. 78 66, 70, 76, 80, 81, 96, 98, 99. 110, 113. Ducas (familia), 85 Fars, 105
Ceuta, 40, 100. 203 123, 124, 125, 126. 129, 131, 136, 137. Ducas, Miguel ('1), 342 Fenicia, 83
Champagne, 189, 201. 205, 206, 207, 208, 138, 142, 147, 154, 205, 300, 301, 302, i Dulebianos, 38 Fernando (rei de Portugal), 176
282, 303 303, 304, 342, 343, 344, 345, 346 .
Dume; dumiense, 28 Ferrantini, Mariotto, 226
Chartres, 41, 276 Constanza, 292; cf. Constanca Duns Scoto, 262 Ferreira, Goncalo, 314
Chatelet, 335 Convenae, 128 1
Dvina, 37 Filioque, Questaodo, 64, 65
Chauliac, Guy de, 368 Copémico, 120 Filipe (H) Augusto (rei de Franca), 216.
Cheram e Cheram (ilha dos irmios), 116 Corao, 89, 91, 102, 103, 105, 108, 113 254, 297, 298, 319, 323, 324
Childerico I, 13, 14 Cordova, 112, 113, 120 1
Ebrocas, 41 Filipe IV (rei de Franca), 207, 337
Childerico III, 139 Como de Oiro, 54, 342, 343 Ecbétana, 101 Filipe o Bom (duque de Borgonha), 345
China, 312 Corsica, 143 . 1
Ecluse, 228 Filipe 0 Ousado (duque de Borgonha), 335
Chipre, 96 Cosmédio, 342 Edicta (Teodorico), 20 Finchale, Godric de, 198
Chosroes. 38 Coucy, Enguerran de, 189 Edicto (Rotario), 33 Fitz Gerold, Warin, 219
Chuds, 42 Courcon, Robert de, 239 Edirne, 8 Fitz Robert, William, 188
Cicero, 258 Crimeia, 52 Eduardo I, o Confessor, 323, 322, 323 Flandres; fiamengo, 198, 204, 207, 208,
Cid (Rui Dias), 249, 250 Cristo, Ordem de, 310
l Eduardo III, 330, 332
Egeu, 47 227, 228, 229, 302, 333, 334, 335
Cimbros, 160 Croatas Brancos, 37 Florenca; Florentino, 55, 217, 225, 226,
Ciompi, 333 Cumanos, 39 Eginhardo, 139, 146, 147, 152, 155, 160,
183, 184, 265 229, 334, 335
Ciros, 12 Cumieira (Santarém), 310 Fbcio, 64, 65, 66
Cister; Cisterciense, 280, 281, 294, 309 Egipto, 3, 52, 57, 83, 96, 101, 105, 127, 203 Fontevrault, 281
Citas, 38 Egolisma (Angouléme), 41
Eichstatt, 292 Franca; Franceses, 41, 136, 138, 140, 141,
Citia, Grande, 53 143, 162, 181, 183, 189, 192, 207, 214,
Citramontanos, 242 Dacia Ripense, 7 Elisena, 7.52
Clairvaux, 294; cf. Claraval Dalmacia, 147 Emilia, 141 215, 226, 242, 246, 253, 277, 287, 289,
Claraval, 294, 298 Darnasco. 96, 97, 98, 100, 104,'110, 261 Eminéncio, 35 295, 297, 300, 302, 315, 319, 320, 323,
Clari, Robert de, 131 Damaso I, 3 Escalda, 265 324, 332, 335, 336, 337, 341
Damme, 228 Escandinavia; Escandinavos, 39, 204 Franciscana, Ordem, 256
Clemente I11, 289 Francos, 9, 12, 13, 17, 19, 26, 33, 40,
Clermont, 332 Daniel, 10 Escocia, 198, 252
Clermont, Concilio de, 294, 295 Danubio, 7, 12, 37, 38, 40 Eslavos, 37, 38, 42, 54 138, 139, 140, 141, 143, 146, 147, 152,
Clodio, 13 Dati, Gregorio, 225 Espanha; Espanhéis, 8, 9, 10, 18, 29, 33, 153, 160, 169, 170, 187, 190, 253, 295,
Clotario, 17 David, 144, 145 40, 49, 96, 99, 100, 103, 105, 112, 116, 320
Davos, 320 149, 235, 239, 240, 242, 252, 255, 289, Frederico I (Barba Ruiva), 156, 201, 300
Clotilde, 27 Frederico II, 206
Clovis, 13, 14, 27 Daylarni, 105 1 291, 320
Cluny, 284, 285, 286, 287, 294
Coggeshall, 323
Demanda do Santo Graal, 250
Denia, 18
I Espartana, 80
Essex, 321
Freiburg, 206
Freising, 292 l l lblnpopq
Coimbra, 229, 242 Desna, 38 Estacio, 258 Frisia, 265
Deus, Domingas de, 313 Estévao (arcebispo de Cantuaria), 324 Frisoes, 153, 204
Colégio dos Dezoito, 234 Froissart, 179 1
Colonia, 211, 212 De Villis (capitular), 161 Estévio (rei de Inglaterra), 281
Dhou’l Carnain, 115, 116 Estévao II (papa), 139, 143 Fulbert de Chartres, 173
Colonna, Otao, 341 Fulda, 151 1
Coluna, 341 Dialécrica (Aristoteles), 239 Estilicio, 9
Didlogos (Gregorio I, papa), 30 Estinnes, 169 Fulrad (abade), 140, 141, 187
Comminges, 129
Comnena. Ana, 84 Dictatus Papae Gregorii VII, 289 Estratégio, 48
Comneno, Andronico, 302 Diest, 14 Etério, 143 I.
Compendium (Compiégnfl) 17° Dinamarca; Dinamarqueses, 41, 198, 252 Euclides, 119 Gabalitans. 128
Dinant, David de, 239 Eudes (beneditino), 287 Gabriel, 89
Compiegne, 170 Gaillefontainc, 333 I
Conimbria, 28 Dinis (rei de Portugal), 237, 238, 242, 254 Eudes (rei dc Franca), 162
Eudo, 40 Gaio, 70 I .
Constanca, Concilio de, 341 Dispargum (Diest?), 13 Gaitixa, 100
Constanca. Lago. 192 Dniepre, 4, 38, 52 Eugenio III, 295
Eulogio, 31 Galaaz, 250
Constantino I, 30, 32. 47. 48, 50, 69. Dniestre, 12, 37 Galata, 342 (
72, 75, 77, l4l, 142. Z67 Domesday Book. 320, 321
Eurico, 19, 129, 167
Eutrépio, 30 Galécia; Galécios, 10, 28
Galeno, 269
!- m.~23
I
354 mmca ANALITICO INDICE ANALi'r1co _ ass
Galia; Galias; Gauleses, 8, 9, 18, 28. Guilherme I o Conquistador, 210, 211, 1-Ionorio III (papa), 305 Jaequerie, 332 I
29, 35, 39, 40, 43, 129, 146, 153, 159, 319, 320, 322 Horacio, 258 Jaequa, 332, 333
160, 167, 170, 266, 274, 275, 286, 291, Guilherme V (duque de Aquitinia), 173 Hospital, Ordem do, 177 Javols, 129
294, 295, 320, 345 Guilherme Carlos, 332, 333 Hugo (prior de Rouen), 276 Jaxartes, 101 ‘.
Galim, 10, 29 Guilherme Clito (conde), 172 Hugo Cindido (mrdeal), 288 Jerusalem, 110, 202, 203, 234, 252, 296,
Gand, 334, 336 Gunderioo, 10 Hugo de Boclande, 322 299
Gandalim, 251, 252 Gundobado; Gundobada, 19, 22 Huguerico, 11 Joio (abade de Biclara), 29
Ganelon, 248 Guyenne, 216 1-lumber, 15 I050 II (imperador de Bizancio), 51 -
Garraton, Ansaldo, 224 Humbrus (Humber), Joio I (rei de Portugal), 176, 179 I -
Gascées, 242, 253, 320 Hungria; I-Iungaros, 3 *U: 2, 341 Joio II (rei de Portugal), 180 -
Gavaudan, 253 I-Iaditha, 89 I-Iunos; I-Iuno, 4, 6, ‘~l~l>- I-dbl :1-‘° NA301-" -»‘é9,
>’ 184 Jozio XXIII (amipapa), 341 ,
Gelasio I, 129 1-Iadrianépolis, 8 Join de Arcis, 189
Gelimer, 80 I-Iaenbalitas, 105 I050 de Seraim, 220
Génova; Genoveses, 55, 56, 204, 205, 223, Hainaut, 169 Ibérica, Peninsula, 8, 9, 99, 116, 249, 251 Joio de Toul, 189
226, 227, 339 Haldane, 321 Ibn al-Khatib, 115 , Joao sem Medo (duque de Borgonha), 345
Genserico, 10, 11 I-Iarnadhan, 100 101 Ibn-Hawqal, 101 Joio sem Terra (rei de Inglaterra), 216,
Gépidas, 7, 17, 26, 59 1-Ianefitas, 105 lbn Khaldiin, 102, 10$, 108, 109, 118 254, 323, 324, 325 '
Gerber: de Aurillac, 258, 266 Hansa; hanseatas; Liga I-Ianseatica, 204, * Iconoclmtia; iconoclasta, 59, 60, 63 Jocius de Londonus, 234
Germ:-‘mia: Germanos, 4, 14, 19, 26, 31, 218, 221, 222 Idrisi, 51, 112, 115, 116 Jordanes, 7, 8, 11, 15 -
61, 69, 146, 152, 160, 242, 290, 291, 300 Harold (rei de Inglaterra), 210 Ifriqiyah, 103 Jordao, 98
Gervésio de Canterbury, 277 Harun al-Rashid, 109, 112 Igor, Principe, 42, $2, 53 Judeus, 280
Gesta Frederici I Imperatoris, 199 Hastings, 211 Iliria, 15 Judham, 98.
Getas, 7, 8 Hatton, 184 Ilmen, 38 Jugoslavia, 16 '
Giacomino del Carnaiuolo, 206 Hawisa, 188 India, 56, 105 Juliana, 188 , I
Giano, Giovanni di, 22$ , . Hacharn, 321 Indieo, Oceano, 101 Juliio (conde), 99, 100 -
Gibelinos, 334 ' Hedabach, 184 Indo, 96 ' _ V Jumel, Ricardo, 220 ~ - . 3
Girardo (mercador), 224 Helena (imperatriz), 79 Ingeiheim, 156 Jura, 286 .3 : 1'-1
Glaber, Raoul, 274, 286, 287 ' Helesponto, 343 Inglaterra; Ingleees, 31, 149, 174, 188, Justiniano, 20, 48, 49, 67, 68, 69, 70, 71 ’.
Gloucester, 320 Helusa (Eauze), 128 204, 206, 210, 211, 216, 219, 220', 221, 76, 77, 78, 79, 80, 136 .--= .0;
Godos; Godo; gético; Gotia, 4, 7, 8, 9, Henrique (infante Dom), 313 ‘ 226, 235, 242, 253, 268, 282, 297, 300, Justine II, 18, 110 ‘i . ,1 1)?-i
11, 13, 16, 23, 24, 28, 29, 34, 69, 79, Henrique I (rei de Inglaterra), 219, 281, 1 . 319, 321,'322, 323, 324, 325, 326, 327, JUIOS, 14, 15 . ‘ ' .~:<_i*..
128, 273, 320 282, 322, 324, 325 328, 331, 335, 341 A Juvenal, Z58 ‘I ‘1.‘-
Henrique II (rei de Castela), 176, 177 ; Inooéncio III, 297, 298, 300, 303, 304 . 1' , 11:.’-2 * 1
Gomes, Diogo, 314' , -1 ,
Gotland, 204 Henrique II (rei de Inglaterra), 219 ~~_ Irio, 39, 101, 105
Gri-Bretanha, 14, 26 Henrique III (imperador), 290, 291, 292 Iraque, 101, 105, 106 Kaaba, 92, 93, 94 v ~‘- »’- \
Graal, 250, 251 I-Ie2i';riqu2e9~IV (imperador), 255, 284, 289,. 1, Irene (imperatriz), 63, 84, 145, 146 Kertch, 6 I
Granada, 115 . 1, 2 ‘ Irlanda, 149, 216, 32$ Khalid ibn-al-Walid, 97, 98
Grandpré, Conde de, 189 a Henrique v (imperador), 292, 293 ii; Lragoge (Porfirio), 119, 258 Khamrs, 38, 39, 42 I
Grasso, Baldizzone, 224 Henrique <18 I-Iainaut, 302 - Isauriano, 71 Khorutanianos, 37
Grécia; Gregos, 52, 53, 81, 98, 101, 110, Henrique de Herelle, 220 221 - Isidoro, 77 Khurasan, ‘101, 105
113, 146, 266, 300, 338, 340, 342 I-Ieraclio, ss, 9a, 99 ' -I Islam, 96, 101, 10_2, 103, 105, 108, 114 Kiersy, 143; cf. Quiersy
Gregorio I Magno, 30, 31, 32, 126 Hermenegildo, 18 4} Ismael, 92, 94 Kiev, 37, 42, 43, 52
Gregério 1], 60, 138 Herrneneia, 258 . ' Isonzo, 16 Kirman, 101
Gregorio III, 60 Hertfordshire, 322 ~ __t Ispahan, 101 Knighton (Henry), 328
Gregorio IV, 284, 288, 289, 290, 291, 298 Hérulos, 12, 159 :1" Issac, 302 Krivichianos, 42
Gregério XI, 333, 334, 337, 341 I-liereia, 63 1 ‘ iam, 143, 154 Kufa, 111
1..
~
Gregorio de Tours, 13, 14 Hildebrando (Gregério vn), zsa, 289 Z .~ Itilia; Itélieo; Italianos, 11, 12, 15, 16,
Grosne, 285, 286 I-Iildesheim, 292 1"? 17, 30, 32, 33, 43, 52, 60, 61, 65, 79,
Guelfos, 334 I-Iilduino, 234 -I . ; 124, 130, 136, 137, 138, 141, 142, 146, Lagni-sur-Ma.rne, 297
Guerra. dos Cem Anos, 227, 315, 332 Histéria das Vidas das Pomifices Romano: -, 149, 165, 197, 199, 205, 209, 225, 227, Lakhm, 98
Guerra dos Oito Santos, 334 (Anastésio), 140, 142 F "=1 229, 233, 275, 286, 288, 290, 291, 341 Languines, 252
Guevaudan o Velho, 252 Histdria Eclesizirtica (Socrates), ss 2 Iverac de Ipswich, 188 Laon, 212, 315
Guieeiardini, Luigi, 333 Hisrdria Eclerizistica dos Franco: (S. Gre- 1.". Izborsk, 42 Latino (Império); Latinos, 204, 266, 268,
Guilherme (abade de St. Thierry), 280 gorio de Tours), 35 301, 303, 304
Guilherme (arcebispo de Cantuaria), 330 I-Iolanda, 220, 226; cf. Paises Baixo: Latrio, 142, 233, 304
Holstein, 15 Jabalah ibn-al-Aiham al-Ghassini, 98 Lausanne, 292
Guilherme 1 (duque de Aquitinia), 284, Jabiyah, 98 Leio III (imperador). 50, 71. 133
285, 286 Honorio (imperador), 8, 9, 34
1
|
r
359
INDICE ANALITICO mnrca ANALITICO
l
358 in
Rodano. 13, 201 Santa Margarida (Leicester), 328
Pamplona, 100 Ponto, 125 Santa Maria, 299
Poppon (conde), 183 Rodrigo, 100
Panonia, 12, 13, 16, 17, 28, 37 Rogerio II, 116 Santa. Maria, Hospicio de (Paris). 234
Panormo, 10 Porfirio» 83, 120 Santa Maria (Guimarfies), 237
Porta Aurea, 51, 80 Roheisa. 188 Santa Maria de Alcdcova (Santarem), 237
Paris, 185, 221. 226, 234. 235, 238. 239, Rolando, 248
240, 256, 259, 268, 324, 333, 334, 335, Porta de Abraao, 94 Santa Maria Egipciaca. 247
Porto, 314 Romanico, 273
340, 341 Roma; romano; Império Romano, 3, 4. Santa Sofia. 76, 77, 345
1 Parma, 143 Portugal; Portugueses, 162, 179, 185,
7, 8, 9, 11, 12, 13, 16, 19, 23, 24, 30. Santarem, 310
I Pars, 101 229, 237, 280, 300, 310, 312, 313, 314
32, 33, 34, 35, 47, 48, 51, 57, 59, 61. Santiago, 314
Paulo (exarca), 61 Pripiat, 37, 38 Santo Andre, 32
Prisciano, 239, 240 68, 75,83, 123, 124, 125, 127, 128.
Paulo Diacono, 17, 30, 32, 40, 154 136, 137, 138, 140, 141, 142, 145, 146 Santo Agostinho, 31, 32, 131, 256, 257,
Pavia, 33, 43, 49, 140 Priscianus Maior, 240 277
147, 148, 155, 159, 167, 198, 204, 205
Pedro (cardeal), 303 Priscianus Minor, 240 Santo Edmundo, 324
237, 278, 285, 293, 297, 298', 303, 309:
Pedro (dizicono), 30 Proclo, 83 337, 333, 339, 341, 342, 343, 346 Santo Eleuterio, 170
Pedro I (rei de Portugal), 178 Procopio de Cesareia, 48, 76, 78, 79 Santo Eusébio, Basilica de, 32
Pragnéslicos (Galeno), 270
Romulo, 68
Pedro de Candia, 340 Romulo Augtistulo, 11, 12 Santo Isidoro de Sevilha, 9, 18, 28
Pedro de Capua, 297 Provenca; provencais, 55, 242, 253 Santo Sepulcro. 294
Rossi, Giovanni di Guerrieri de, 226
Pegolotti, Francesco Balduoci, 55 Provins, 206
Roozebeke (batalha), 335 Sao Basilio, 130
Peloso, Ogerio, 223 Provins, Guiot de, 312 S50 Bento, 130, 131, 133, 134, 285, 286,
Pselo, Miguel, 82 Rotario, 25, 32, 33 28 7
Penacova, 185, 186 Rotomagus (Rouen), 41
Pentépole, 60, 127, 140, 141 Ptolomeu, Claudio, 119 Rouen, 41, 214, 215, 276, 335 S50 Bernardo, 280, 281, 294, 295, 298
Pepino o Breve, 136, 138, 139, 140, 141, Ptolomeu de Pelusa, 116 Rouergue, 129 Sao Boaventura, 256, 261
142, 143, 153, 169, 170, 193 Riigios, 12, 16 Sio Calisto, 274
Pera, 343 Sao Dinis. 170, 275, 282
Rum, 101
Perceval, Z51 Qarmarcianos, 93 Rurikovitch, 43 Sao Domingos, 178 {
Pereira, Alvaro Goncalves, 177 Qarmat, Hamdan, 93 Rus, 42, 43 S50 Francisco, 305
Peres, Soeiro, 311 Quados, 159 Russia; russo, 39, 42, 43, 53, 74 Sao Germano, 170
Périgueux, 41, 129 Quadrivium, 239 Rutena, 128 Sao Gregorio Magno, 30, 31, 126
Perion, 252 Quersoneia, 52 Runnymede, 327 Sao Gregorio dc Tours, 27, 35
Perseu, 258 Quiersy-sur-Oise, 165; cf. Kiersy Sao Ieronimo, 3, 159
Persia; pérsico; persa, 38, 56, 79, 80, Quinisextum (Concilio), 130 S50 Joao Baptista, 187
93, 96, 101, 106, 112, 118, 261 Quios, 342 Saa’1i, 116 Sao Joao Damasceno, 60, 62
Perun, 53 Sabaria, 18 Sao Joao Evangelista, 338
Petchenegues, 39 _Saboia, 226 Sao Jorge, 179
Peter de Borough, 189 Ramadan, 89, 91, 95, 100 Sadif, 100 Sao Leandro, 30
Peter de Valence, 321, 322 Ravena., 11, 12, 16, 155, 258 Safa, 94 Sao Leonardo, 328
Petrocoris; Petrogoris (Périgueux), 41, 128 Recaredo, 29, 30 , Saint Andrews, 198 Sao Leio Magno, 125
Picardos, 242 Recesvinto, 23 Saint-Ayoul, 206 Sao Marcelino, 183, 184
Pina, Rui de, 180 Regensburg, 292 Saint Bertin, 199 Sao Marcelo, 303
Pinabel, 248, 249 Regra Pastoral (Gregorio 1), 126 Saint Germain, 185 Sao Martinho de Dume. 28
Pinel, Domingos Pedro, 310, 311 Regra do Templo, 298 Saint-Leu d’Esserent, 332 Sao Martinho de Tours, 170, 206, 286
Pineta, 16 Reims, 27, 160, 258, 274, 279, 319, 320 Saint-Ouen. 41 Sao Mauro, 286
Pireneus, 9, 159, 200, 252 Remi (Reims), 160 Saint-Pol, 226 Sao Miguel, 219
Pisa; Pisanos, 55, 203, 224, 226, 339, Remismundo, 23 Saint Thierry, 280 S50 Pacomio, 130, 132, 133 ‘
340, 341 Reno, 9, 12, 13, 14, 35, 156, 159 Saintes, 41 Sao Paulo, 203. 282, 285, 293
Pitti, Buonaccorso, 226, 333 Requiario, 28 Saladino, 252 Sao Pedro, 124, 140, 141, 142. 143. 144.
Placidia (Galla), 8, 34 Retérica (Cicero), 259 Salamanca, 187, 236 145, 146, 143, 183, 184, 203. 285. 288.
Platao; platonico, 83, 84, 236, 257, 269, Rhegium, 143 Salerno, 49 290, 293, 299, 304, sas, 339
344 Ribaldo di Sauro, 223 Salios; salico; sélica, 14, 21, 153, 184 Sao Quintino, 188
Plotino, 83, 259 Ribatejo, 312 Salomfio, 279 _ Sao Remigio, 27, 208
Po, 16, 49, 200 Ricardo I Coracio de Leio, 297, 298 Samarcanda. 96 Sao Rostico, 170
Poignant, Guilherme, 221 Richer, 162, 258, 274, 279, 315, 319 Sanctones (Saint-Ouen ou Saintes), 41 Sao Salvador, 288
Poitevinos, 242 Ricimer, 13 Santa Cruz, Basilica de, 320 Sao Teodoro Studites, 60
Poitiers, 40, 96 Ripuaria; ripuarios, 21, 153 Santa Cruz (Coimbra), 237 Sao Tomas. 256. 262
Polacos, 242 ' Robert d'Arbrissel, 282 Santa Cruz (Leicester), 328 S50 Vicente, 211
Polianos. 42 Roberto o Piedoso (rei de Franca), 320 Santa Irene, 48 S110 Vicente de Lisboa, 237
Polota, 38 Rochelle. 216 Santa Mic de Deus, Basilica de, 156 Sao Vital dc Ravena, 154
Polotchanas, 38 Rocio, 178
1
,4
’ ,
360
INDICE ANALIT1 co iunrcrs ANALITICO 3°‘
Sapta (Ceuta), 203
Sara, 115 Sulpicio Alexandre, 13
Sarmatas, 17, 159 Sunnah, 105, 108 ‘
Trebizonda,
- ~
52,7' se3' 59, 70
Ves. 4? H
Victuérra, _
Sarracenos, 40, 252, 296, 306 Surianum (Sarrana), 143
Sutri, 288 H2920‘6 6 Vikings, 41; cf. Normandos
Sarzana, 143 Troyes 189 205 Villehardouin, Geofredo de, 297, 301, 302,
Saxonia: saxoes, 12, 14, 15, 17, 26, 33, Truvor, 42 _30_3_ '
49, 153, 159, 187 Tsargrad. 53 v"5‘l'°' 258. . . . .
Schleswig, 15 Tabena, 132
Scotto, 206 Tabriz, 56 Tunisia" Trinis 96, 103, 203. 106. 214 Visiaodosz vlslsvdoi ‘"§18°"°°~ 3- 7- 3»
Tacito, 167 1 Turcilingos, 11, 12, 16 '9, 18, 19, 23, 24, Z5. Z9. 57. 153. 157
Segismundo (imperador), 341 Turcos; turco, 76, 342, 344 V{5§"la~ 12; 37
Seim, 38 Tanger, 92, 100
Tarif, 99, 100 Turingia; Turingios, 13, 153 Vitrges (rei ostrogodo), 80
Seio, 236 Turnacum (Tournai), 160 Vrtorrno, 258_ _
Seldjocidas, 105 Tarifa, 100 Turonianos, 242 Vollerand (Seine-et-Orse), 310
Sena, 41 Tarique ben Ziyad, 100
Tarraconense, 10 Turonis (Tours), 41 v°l°§» §3
Sérvios, 37 Turquestao, 120 Vyattchranos, 42
Servitano, 30 Tarso, 113
Tartaros; tzirtaro, 105, 295 Tuwnjs (Ttinis), 203
Severianos, 38, 42
Sevilha, 18, 30, 116 Tasca, Genouarda, 224
Tassilo III (d uq ue da Baviera), Waal, Lakko.
156
Shafi'itas, 105
Tavola Redonda, 251 i 169, 110 Uberti, 217 Wadi 101
Shawwal, 95 Ulfila, 8 Wahran (Oran), 203
Sibawayh, 108 Tchecos, 37
Tebaida, 130, 132 Ulpiano, 235 _ Walafredus, 185
Sicilia; siciliano, 10, 55, 76, 116, 206 Ultramontanos, 242 t ,- - Walter de Cancy, 188
Sidonio Apolinario, 35, 128 Telo, Joio Afonso, 178
Telo, Martim Afonso, 178 Unam Sanctum (Bonifacio VIII), 337' Warmund, 202"
Siena, 206 Uplandish Angles. 15 ' Wariviiik. 135 _
Siete Partidas. Las, 236, 240, 243 Tenebroso, Mar, 115, 116
Teobaldo, 281 U,-a_|, 39 -; - . ' ' , Wendover,-Rogerio de, 324
Sigeberto, 17, 100 Urbano II, 295 .Wigh_¢. '13 _
Silingos, 10, 11 Teodolinda, 30, 31
Urbano V, 269 . -'.-'..Williran, -i _‘ .' ,' '
Silves, 116 Teodomiro, 13, 28
Teodora, 49, 79 Utrecht, 292 Winchester, 219 ,
Silvestre I (papa), 142
Silvestre III (papa), 258 Teodorico, 12, 15, 16, 19, 20, 28, 275 _ Windsor,
W113"; .321325, 327 I“ ' '
Sineus, 42 Teodoro, 98
Teodosio, 8, 9, 75 Vahalis, 156 Wiiifl, 101 "*1 ., ,,'-
Sir Darya, 101 Valencia, 249, 250 , _ Wdrmatia (Worms). 160 _ -- - . .;
Siria, 52, 57, 96, 97, 98, 99, 101, 105 Teofilo, 69, 70
Teognosto, 148 Valente, 1, s , r 1' ‘. _.- Wom;,s.,160i4f)1Z'i9€84i92690. 291- 191-,3°°
110, 203 Valentiniano I, 7 _ , _. - - Wfrrz urg, . _. ~ ;
Siricio, 3 Terapéuricas (Galeno), 269
Teréncio, 258 Valentiniano III, 11, 14. 15. 59.3124 - Wive1'Qn9,';l88 V ‘ -
Sirmium, 16 Valhelhas, 126, 187 . 2 f "9-~11 2
Smolensk, 42 Teutonico, Reino, 292
Thibaud de Champagne, 189 Valladolid, 236 ~ .._ ; I,‘ ,1 ,
Socrates, 58, 269 Van Artevelde, Filipe, 334, 335 . xe,.Xcs' 343‘
Sofia, 64 Thierry, 248
Thomas de Canterbury, 219 Van Artevelde, Jacques. 335 - -
Sogdiana, 96 Vandalos; vandalico, 4, 9. 19._11;~'25. 57.
Somme, 13 Thourout, 208
Ticino, 33, 200 69, 79, 80, 159 ' " . _
Sontius, Ponte de, 16 Varandas, Palacio das, 117 - ¥*"’::"~_,§}' 98
Tiro, 202
Sorbon, Robert de, 234
Tito, 236 Varzingios, 42, 52, 53- Y°‘“ '20,
Southampton, 328 Vasatium (Bazas), 128. pres‘ -
Southwark, 219 Toledo, 29, 235
Tolomei, 206 Vaulerent, 309 ' _ _
Speyer, 160, 292 Vecta, 14 '1 _ ’ 8 '
Spezia, La, 143 Tolomeo, 205 1 yenéciaq 16' 60 ' .1 Z3ca.rl&$ (P393), 139. H0“,
Spira (Speyer), 160 Tolosa, 41, 160, 253
Tomar, 310 Veneza; veneziano, 49, 55, 147,202, 203, Zaganos Paqui. 345 -
Spoletinum, 143
Tdpicos (Aristoteles), 258 zos, 206, 227, 402- -. I Z419. 314 "
Stabile (mercador), 224
Toul, 292 Vercelli, 43 ~ ' . . Zangmm. 94» 95 -
Staines, 325, 327 Vercetum, 143 ' 2°11”, 15' - 1
Toulouse, 41, 226
Stassfurt, 187
Touraine, 242 Verden, 292 -1' gZ“"."- 323
Strassburg, 160, 292 Verona, 16, 92 " _» -~ z“’°“°' 204 ‘
Stratisburgam (Strassburg), 160 Tournai. 160 _ , ‘ . \ _.-
Suevos, 4, 9, 10, 17, 18, 26, 28, 29, Tours, 41, 163. 287
Suger (abade), 275, 281, 282 Tracia, 7, 8, 125 8. _ _ Q ' ‘I ‘
Trajano, 75 . . ' 1
Sula, 38
Transoxiana, 96, 105, 261
1 1