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ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p.

30-39, 2017

CÓLICA POR COMPACTAÇÃO EM EQUINOS

[Impaction colic in the equines]

Robson Diego Maia NUNES1


Ingrid BROMERSCHENKEL 2

RESUMO
A Síndrome Cólica Equina é uma das principais afecções que acometem os equinos e
caracteriza-se por dor abdominal proveniente de alterações, principalmente, do trato
gastrointestinal. A compactação de cólon é a segunda causa mais relatada. Alterações de
manejo e de ambiente podem predispor a dor abdominal. Dentre os sinais de dor abdominal
pode-se observar o patear e rolar ao solo, golpes ao abdômen com os membros e o
constante olhar para o flanco. O diagnóstico baseia-se em uma anamnese detalhada,
juntamente com os sinais clínicos, avaliação hematológica, paracentese e exame
ultrassonográfico. O tratamento a ser instituído deve-se levar em consideração a causa da
dor abdominal e a evolução demonstrada pelo equino.
Palavras-chave: Cólon; dor abdominal; obstrução.

ABSTRACT
The Equine Colic syndrome is one of the main diseases that involve horses and is
characterized by abdominal pain arising from changes mainly the gastrointestinal tract. The
colon compression is the second most reported cause. Management and environmental
changes may predispose to abdominal pain. Among abdominal pain signals can be observe
the pawing the ground and rolling, scams the abdomen with members and the constant look
to the flank. The diagnosis is based on a detailed clinical history, along with the clinical signs,
hematological evaluation, paracentesis and ultrasonography. The treatment procedure
should take into account the cause of abdominal pain and evolution demonstrated by the
horse.
Keyworks: Colon; abdominal pain; obstruction.

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Médico Veterinário Autônomo.
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Docente do curso de Medicina Veterinária – Centro Universitário do Norte Paulista – UNORP *Autor
para correspondência. ibromerschenkel@outlook.com

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enfrentam nos quadros de cólica a


INTRODUÇÃO
necessidade de uma decisão rápida e
Os equinos apresentam particularidades eficiente quanto à escolha do tratamento
anatômicas em seu aparelho digestório, clínico e/ou cirúrgico (AMARAL e FROES,
que os predispõem a alterações graves, 2014).
responsáveis por dores abdominais,
Teve-se como objetivo a revisão de
sendo conhecidas como síndrome cólica
literatura das principais causas, métodos
(BERMEJO et al., 2008; CÂMARA et al.,
de diagnóstico e tratamento das cólicas
2008; MARIANO et al., 2011). A síndrome
provenientes de compactação de cólon
cólica é considerada uma das principais
maior.
enfermidades que acometem os equinos
(LARANJEIRA e ALMEIDA, 2008).
Devido a peculiaridades anatômicas como DESENVOLVIMENTO
a pequena capacidade gástrica, a
Anatomia do Intestino Grosso
incapacidade dos equinos em regurgitar, o
longo mesentério associado ao jejuno, O intestino grosso consiste de todas as
que favorece as torções, e a diminuição seções distais ao orifício ileocecal, o ceco
brusca do lúmen intestinal, como a flexura e o cólon maior (também chamado de
pélvica, que favorece o acúmulo de cólon ascendente), tais seções são
conteúdo, predispõe aos distúrbios divididas em cólon ventral e cólon dorsal,
gastrointestinais. Tais características, tanto no lado direito como no esquerdo
associadas a alterações de manejo, (REED e BAYLY, 2000).
atividade física ou dieta e infestações O ceco é o local de fermentação e sua
parasitárias, tornam os equinos propensos capacidade é em média de 33 litros. É
a episódios de cólica (MARIANO et al., uma estrutura com formato de vírgula, que
2011). se estende da sua base no lado direito, na
A compactação de cólon é a segunda entrada pélvica, até o assoalho da
causa de cólica mais comumente relatada cavidade abdominal, onde o ápice fica
em equinos, sendo a obstrução simples, a caudal ao diafragma, próximo a cartilagem
mais frequente (AUER e STICK, 2012). A xifóide (MAIR; DIVERS; DUCHARME,
simples obstrução do trato intestinal é 2002; CÂMARA et al., 2008; FRANDSON;
definida como uma condição que leva a WILKE; FAILS, 2011).
obstrução luminal sem comprometimento O cólon maior começa no ceco e segue
vascular, como, por exemplo, nos casos cranialmente pela parte ventral da parede
das compactações (CÂMARA et al., abdominal direita, onde se direciona
2008). subitamente para a esquerda, formando a
Mesmo com a evolução da Medicina flexura esternal, e prossegue caudalmente
Veterinária, a Síndrome Cólica Equina na parede abdominal esquerda em
continua sendo um desafio para o clínico- direção à pelve (FRANDSON; WILKE;
cirurgião de equinos. Associado a isso, FAILS, 2011) onde diminui de diâmetro e
uma maior exigência do proprietário faz um giro dorsal de 180 graus
quanto aos recursos apropriados para o originando a flexura pélvica (REED e
seu correto diagnóstico e tratamento BAYLY, 2000). O cólon então prossegue
aumenta a cada dia. Os Médicos cranialmente como cólon dorsal esquerdo,
Veterinários especialistas na área e na região do diafragma, forma a flexura

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diafragmática seguindo para a região Os vermes da família Strongylidae vivem


caudal como cólon dorsal direito, no intestino grosso e infectam equinos de
tornando-se o cólon transverso todas as idades, desde animais jovens
(FRANDSON; WILKE; FAILS, 2011). que estão iniciando o pastejo. O
nematóide Strongylus vulgaris é
O cólon menor (também conhecido como
certamente o mais patogênico, devido à
cólon descendente) é a continuação direta
migração extensa e prolongada de sua
do cólon transverso e termina dentro da
fase larval, o que causa a formação de
cavidade pélvica como reto (FRANDSON;
aneurismas e consequente bloqueio da
WILKE; FAILS, 2011).
circulação sanguínea (COSTA, 2011;
VEIGA et al., 2011).
Etiologia da Compactação Primária A utilização de drogas sedativas pode
As etiologias da cólica são as mais desencadear síndrome cólica em alguns
diversas. O equino é muito exigente e animais. Como, por exemplo, a xilazina e
sensível às alterações de manejo a detomidina (causam redução da
alimentar e ambiental (MARIANO et al., motilidade intestinal devido ao
2011). relaxamento da musculatura lisa
intestinal), o butorfanol (promove
Podem-se citar as mudanças na hipomotilidade), a escopolamina (causa
alimentação, o excesso e/ou baixa diminuição da atividade motora do
qualidade dos alimentos, o trabalho estomago, jejuno, duodeno, íleo e ceco),
excessivo e irregular, a escassez e a atropina (seu uso resulta em longos
qualidade da água, as altas temperaturas, períodos de estase intestinal, levando ao
e também os problemas dentários acúmulo de gás e fluidos, podendo levar a
deixando o animal incapaz de mastigar obstrução intraluminal) e o amitraz (causa
corretamente (MOORE, 2005; BERMEJO redução dos movimentos intestinais
et al., 2008; LEHUBY, 2011; RADOSTITS resultando em sinais de cólica
et al., 2012). compatíveis com compactação e
Alimentação com concentrados ou com timpanismo do intestino grosso) (BRAVO
forragens de baixa qualidade são e NITTA, 2013).
consideradas como causadoras primárias A areia, é também, uma causa de cólicas
da síndrome cólica (MOORE, 2005; nos equinos. A cólica desencadeada pela
BERMEJO et al., 2008; LEHUBY, 2011; presença de areia no trato gastrintestinal
RADOSTITS et al., 2012). destes animais denomina-se sablose e
Essas modificações de cólon maior pode ser decorrente o pastejo em terrenos
podem ser induzidas por fatores que arenosos e a ingestão de água de má
afetam os padrões da motilidade qualidade (LARANJEIRA e ALMEIDA,
progressiva, por larvas migrantes de 2008).
Strongylus vulgaris, desidratação, Os enterólitos e/ou bezoares causam
ingestão de arreia ou terra junto com a obstruções de cólon maior. Os materiais
água ou alimento, as drogas (amitraz e que constituem os bezoares, podem ser
sedativos) que alteram a motilidade, e plantas, pelos, e/ou outros ingeridos,
animais que estão se recuperando de formando normalmente uma massa
anestésicos gerais (REED e BAYLY, arredondada podendo causar uma
2000; THOMASSIAN, 2005). obstrução total. Os enterólitos são
constituídos por cristais de fosfato de

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amônio magnesiano, que ficam raças; porém outro estudo apontou maior
depositados ao redor de um corpo predisposição em PSI (Puro-sangue
estranho (por exemplo, areia, pedras, Inglês). Já no estudo retrospectivo
ferro, materiais de borracha, tapetes, etc.), realizado por Di Filippo et al. (2010),
retido no cólon maior (PEDROSA, 2008). houve predomínio de animais da raça BH
(Brasileira de Hipismo); tal fato pode ser
Frequentemente as compactações de
associado à localização geográfica dos
cólon maior desenvolvem-se nos
centros de referência utilizados.
estreitamentos de diâmetro do lúmen
intestinal como flexura pélvica, transição Equinos com histórico de cólicas
proximal do cólon dorsal direito para o recorrentes apresentam maior risco de
cólon transverso e/ou no cólon menor serem acometidos por novo episódio (DI
(BERMEJO et al., 2008; FERREIRA et al., FILIPPO et al., 2010).
2009).
Raramente ocorre isquemia nas
Fisiopatogenia
compactações primárias, porém em
alguns casos acontece a distensão A patogênese da compactação de cólon é
progressiva do lúmen intestinal, multifatorial e uma causa especifica para
debilitando alguns vasos, podendo levar a casos individuais permanece
uma alteração na perfusão sanguínea desconhecida, podendo se desenvolver
(REED e BAYLY, 2000). seguida de uma sobrecarga alimentar ou
alteração de motilidade (FERREIRA et al.,
2009).
Epidemiologia
A compactação geralmente desenvolve-se
A síndrome cólica é uma das afecções lentamente, variando de dias a semanas,
mais difíceis de ser estudada, mediante os promovendo dilatação progressiva da
métodos epidemiológicos, em virtude ao porção intestinal proximal ao local
grande número de enfermidades que obstruído, até que a distensão cause dor
provocam sinais clínicos de dor abdominal (DANEZE, 2015). Nesta fase inicial, a
(FILGUEIRAS et al., 2009). compactação é incompleta permitindo a
passagem de pequenas quantidades de
As compactações de cólon podem ocorrer
ingesta e gás. Gradativamente, a ingesta
igualmente em todos os equinos,
torna-se extremamente desidratada e a
entretanto, supostamente ocorre mais em
obstrução torna-se completa, não há
fêmeas e cavalos de meia idade
passagem de gás e nem de conteúdo
(MOORE, 2005). A idade é considerada
(CÂMARA et al., 2008).
um fator de risco, os cavalos com idade
de 2 a 10 anos são mais susceptíveis a Os eventos fisiopatológicos que ocorrem
cólica, nessa faixa etária os cavalos são durante um episódio de obstrução
utilizados em atividades físicas, intestinal incluem distensão, isquemia,
consequentemente há um consumo maior reperfusão dos tecidos, necrose e
de concentrados (LARANJEIRA e inflamação (DANEZE, 2015).
ALMEIDA, 2008).
Estes eventos provocam alterações na
Mariano et al. (2011) relata que vários motilidade intestinal, nos processos de
estudos sugeriram que animais da raça absorção e secreção de água e eletrólitos,
Árabe são mais susceptíveis ao na permeabilidade vascular, ativação de
desenvolvimento de cólica que outras células inflamatórias, e, por último, na

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estrutura dos tecidos (MARIANO et al., quando a motilidade intestinal encontra-se


2011). reduzida o transito alimentar torna-se
prolongado, o que aumenta o tempo para
À medida que a distensão no local da
absorção de líquidos dando tal
compactação aumenta, ocorre
característica às fezes (RADOSTITS et
comprometimento da drenagem venosa
al., 2012).
por compressão, tornando a mucosa
edemaciada e congesta; o que
compromete a função de absorção do
Diagnóstico
intestino. Caso a obstrução persista, a
interferência na vascularização da mucosa A rapidez e precisão do diagnóstico são
intestinal pode resultar em isquemia com fundamentais para a sobrevivência do
desvitalização da mesma (MAIR; DIVERS; cavalo. Como há uma grande variação
DUCHARME, 2002; DANEZE, 2015). nos fatores que causam o distúrbio,
variando de caso para caso, o diagnóstico
torna-se uma das maiores dificuldades
Sintomatologia Clínica (CAMPELO e PICCININ, 2008).
Os sintomas clínicos são caracterizados Nas compactações de cólon maior,
por dor abdominal intermitente, de principalmente nas fases iniciais, o equino
discreta a moderada (REED e BAYLY, pode apresentar apenas inapetência e
2000), no entanto pode tornar-se grave e depressão, dor abdominal leve a
contínua (MOORE, 2005). Dentre as moderada, redução na defecação, com
atitudes adotadas pelos animais com dor fezes desidratadas e envolvidas por muco
abdominal, pode-se observar o patear e (DANEZE, 2015). À diminuição e/ou
rolar ao solo, golpes ao abdômen com os ausência de sons intestinais e, em alguns
membros e o olhar constante para o casos, leve distensão. Na sondagem
flanco (THOMASSIAN, 2005; MORA, nasogástrica, o refluxo pode ser
2009). Observa-se também sudorese, moderado ou raramente estar presente
distensão abdominal, perda de apetite e (AUER e STICK, 2012).
posição de micção (GODOY, 2007).
O diagnóstico da compactação baseado
A frequência cardíaca pode estar na palpação retal ocorre através da
discretamente elevada durante os localização de massa em segmento de
episódios de dor. Os borboriguinos cólon, porém, em alguns casos o material
abdominais se encontram com a compactado pode não ser encontrado
freqüência diminuída e a motilidade quase devido a sua localização mais cranial
sempre esta ausente (REED e BAYLY, (MOORE, 2005; AUER e STICK, 2012).
2000; GODOY, 2007; MOORE, 2005).
Avaliação hematológica pode revelar
Ocorre desidratação para o interior do hemoconcentração, devido a desidratação
lúmen intestinal e/ou cavidade abdominal do organismo na tentativa de desfazer a
resultante de alterações do equilíbrio compactação. O líquido peritoneal obtido
ácido-base e eletrolítico. A produção fecal através de paracentese, normalmente é
é reduzida, e as fezes podem estar normal na compactação primária (REED e
endurecidas, secas e recobertas por muco BAYLY, 2000; AUER e STICK, 2012).
(REED e BAYLY, 2000), isto porque

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No diagnóstico ultrassonográfico, as No controle da dor, as drogas


compactações são caracterizadas por antiinflamatórias não esteroidais, como o
vísceras redondas distendidas, sem flunixin meglumini (Banamine® ou
saculações visíveis. O peristaltismo é Flunixina®) e a fenilbutazona
ausente e a espessura da parede é, (Equipalazone® ou Fenilbutazona OF®),
geralmente, de normal a ligeiramente são as de eleição (THOMASSIAN, 2005).
aumentado. Compactações aparecem Porém pode-se fazer uso de outros
como uma linha hiperecóica, formando medicamentos, tais como a xilazina
uma sombra acústica; em contrapartida, (Sedomin®), um α-2-agonista que promove
quando visibilizam-se pequenas partículas sedação e analgesia ao animal; a
hiperecóicas, pode-se dizer que o achado detomidina (Detomidin®), também um α-2-
é compatível com compactações por areia agonista que proporciona sedação e alivia
(DESROCHERS, 2005). a dor abdominal (ROBERTSON e
SANCHES, 2010); além do butorfanol
(Torbugesic®), um opióide que,
Tratamento Clínico atualmente, é um dos mais potentes
A maioria das compactações respondem analgésicos no controle da dor visceral
ao tratamento clínico, que é voltado para a (THOMASSIAN, 2005). As doses
restrição da alimentação, controle da dor, comumente utilizadas estão descritas na
amolecimento e hidratação da ingesta, Tabela 1.
manutenção da hidratação e redução dos Agentes indutores da motilidade, como
espasmos da musculatura intestinal na neostigmina, são contra-indicado, por
região afetada (FERREIRA et al,. 2009; causa das contrações vigorosas, podendo
AUER e STICK, 2012; RADOSTITS et al., causar ruptura do cólon distendido. Em
2012). casos em que a compactação se estenda
A sondagem nasogástrica deve ser por alguns dias, o animal não deve ser
realizada para detecção de refluxo e alimentado durante esse período.
auxilio na saída de gás. Tal procedimento Passado esse tempo deve oferecer
também ajuda na diminuição do alimentos de fácil digestão, e com volume
desconforto do animal devido a uma limitado (RADOSTITS et al., 2012).
possível sobrecarga gástrica (WHITE, Os laxantes podem ser utilizados para
2001; THOMASSIAN, 2005). aumentar o teor de água e maciez da
A fluidoterapia inicial é realizada no intuito ingesta facilitando, assim, o transito
de corrigir os desequilíbrios eletrolíticos e intestinal na compactação primaria (MAIR;
ácido-básicos. A hiper-hidratação tem DIVERS; DUCHARME, 2002). Pode-se
como objetivo a melhora da função fazer uso, para tal finalidade, do óleo
cardiovascular e o aumento da quantidade mineral, do sulfato de magnésio e do
de líquido no lúmen intestinal, contribuindo sulfato de sódio (FERREIRA et al, 2009).
para a hidratação da massa compactada Os medicamentos colinérgicos e o cálcio
(BLIKSLAGER, 2005; RADOSTITS et al., intravenoso ajudam nos movimentos
2012). Nos casos de obstrução parcial e peristálticos, que eventualmente possam
que não existe refluxo gástrico, utiliza-se a estar inibidos. Pode-se associar anti-
hidratação enteral; já nas obstruções espasmódicos ao tratamento geral
totais e com presença de refluxo gástrico, (THOMASSIAN, 2005).
a fluidoterapia deverá ser por via
endovenosa (PEDROSA, 2008).

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A maioria dos casos de compactação de entanto algumas podem levar vários dias
cólon resolve-se num período de até 48 e outras não serem resolvidas com o
horas após o início do tratamento; no tratamento clínico (MOORE, 2005).

Tabela 1 – Principais fármacos utilizados em eqüinos promotores de analgesia visceral.


Via de
Fármaco Nome comercial Dose Frequência
administração
Flunixin Banamine®/
1,1 mg/kg IV ou IM BID ou TID
meglumine Flunixina®
Equipalazone®/
Fenilbutazona 2,2 a 4,4 mg/kg IV SID
Fenilbutazona OF®
Reação
Xilazina 10% Sedomin® 0,1 a 0,3 mg/kg IV
dependente
0,005 a 0,02 Reação
Detomidina Detomidin® IV
mg/kg dependente
0,02 A 0,08 Reação
Butorfanol Torbugesic® IV
mg/kg dependente

Fonte: Adaptado de Thomassian (2005) e Valverde (2005).

Técnica Cirúrgica
Tratamento Cirúrgico
Para tal intervenção, deve-se realizar
tricotomia desde a área do púbis nas
O tratamento cirúrgico é indicado para os fêmeas ou desde o prepúcio no caso dos
casos refratários (RADOSTITS et al., machos até o processo xifóide, com uma
2012), quando a compactação não é extensão de cerca de 30 cm para cada
desfeita com o tratamento clínico ou lado da linha média. Após indução
quando há dor abdominal incontrolável, anestésica, posiciona-se o eqüino na
deterioração da função cardiovascular mesa cirúrgica em decúbito dorsal
e/ou alteração no líquido peritoneal (MORA, 2009).
(MOORE, 2005; AUER e STICK, 2012).
A incisão inicia-se sobre a cicatriz
O tratamento constitui-se na realização de umbilical e estende-se cranialmente, com
enterotomia, com posterior enterorrafia. comprimento de, aproximadamente, 30 a
Tal procedimento baseia-se na tração do 40 cm. O tamanho da incisão deve
segmento intestinal compactado para fora permitir a manipulação das vísceras sem
do abdômen e seu isolamento. A parede causar lesões nestas. Inicialmente,
intestinal é então incisada procede-se a incisão do tecido
longitudinalmente, no lado anti- subcutâneo e, posteriormente, da linha
mesentério. Pela abertura intestinal alba, o que revela o tecido adiposo
realiza-se a massagem e drenagem da retroperitoneal e, subseqüente, o peritônio
compactação, com auxílio de água e a cavidade abdominal (MORA, 2009).
corrente (GODOY, 2007; GALERA, 2005;
A enterotomia, para resolução da causa
MOORE, 2005; RADOSTITS et al., 2012).
base, é realizada preferencialmente,
proximal a compactação, com cerca de 12
a 15 cm de comprimento, atingindo toda a
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espessura da parede intestinal; porém em Como analgésico e anti-inflamatório,


casos de compactação de flexura pélvica, administrou-se flunixin meglumine (dose
a incisão deve ser realizada sobre a de 0,5mg/kg, IV, a cada 12 horas, durante
compactação devido este ser o melhor três dias).
local de acesso a compactação. Através
A reposição hidroeletrolítica por infusão
da abertura, coloca-se uma mangueira
contínua de solução de ringer com lactato,
(preferencialmente com água morna) no
por via endovenosa, deve ser
lúmen intestinal, e simultaneamente
administrada nos primeiros dias pós-
realiza-se massagem para desfazer a
cirúrgicos. A quantidade administrada
compactação (MORA, 2009).
deve ser aumentada quando está
A técnica de enterorrafia dependerá da presente diarreia, refluxo ou outra causa
preferência do cirurgião; pode ser de perda de fluidos. Pode combinar-se a
realizada com um padrão de sutura tipo fluidoterapia com lidocaína, um benéfico
Lembert, seguida de uma sutura de analgésico e pró-cinético intestinal
Cushing, utilizando-se fio 2-0 de (MORA, 2009).
polidioxanona. O local da enterotomia é
lavado com solução fisiológica estéril
antes, durante e após seu fechamento Complicações Pós-cirúrgicas
(MORA, 2009). São várias as complicações após a
Após a enterorrafia realiza-se a sutura intervenção cirúrgica, tais como:
abdominal, geralmente, em três ou quatro complicações na linha de incisão, íleo
camadas. Para a sutura do peritônio, pós-cirúrgico, desenvolvimento de
utilizam-se padrão simples contínuo com aderência ou peritonite, recidiva da lesão
fio de poligalactina 910 n° 2. Para sutura inicial, endotoxemia, enterite e/ou colite,
da linha alba pode-se utilizar sutura desenvolvimento de coagulação
simples contínua, simples interrompida ou intravascular disseminada (CID),
sultan (“X”). O tecido subcutâneo deve ser tromboses das veias jugulares, laminite
fechado com padrão simples contínuo (GALERA, 2005; MORA, 2009).
com material sintético absorvível 2-0. A
pele pode ser fechada com uma grande
variedade de padrões com material CONCLUSÃO
sintético absorvível ou não-absorvível Através desta revisão, pode-se determinar
(MORA, 2009). uma das principais afecções que
acometem os equinos, a Síndrome Cólica.
Dentre os fatores que predispõe aos
Cuidados Pós-operatório quadros de abdômen agudo, podem-se
Cuidados no pós-operatório consistem, citar as particularidades anatômicas do
principalmente, em antibióticoterapia, aparelho digestório, o fornecimento de
analgesia, limpeza da sutura, reintrodução uma alimentação de baixa qualidade, a
gradual da alimentação e gradual retorno restrição hídrica, o uso de drogas que
ao trabalho (MORA, 2009). alteram a motilidade gastrointestinal,
dentre outros.
Em estudo retrospectivo realizado por Di
Filippo et al. (2010), instituiu-se terapia Para melhor prognóstico, o Médico
antimicrobiana com penicilina benzatina Veterinário deve deter conhecimento
(dose de 30.000 UI/kg, IM, a cada 48 adequado quanto, os sinais apresentados
horas, num total de três aplicações). pelo animal e a fisiopatogenia da afecção,
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, os meios de diagnóstico indicados e, em Medicina Veterinária) – Universidade


consequentemente, obter a decisão rápida Técnica de Lisboa, Lisboa, 2011.
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Hemostático e Hematológico de Equinos com
Compactação de Cólon Maior submetidos ao
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