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1- Veterinária, MSc, DSc - Rua Comandante Rubens Silva, 62/402, Jacarepaguá, Rio de Janeiro - RJ - CEP 22745-
282 phossell@gmail.com
2-Médico Veterinário, MSc, DSc - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Veterinária,
Departamento de Medicina e Cirurgia. BR 465, km 7 - Seropédica - RJ – CEP 23890-000 falmeida@ufrrj.br
Bolsista Pesquisador CNPq
RESUMO: LARANJEIRA, P. V. E. H.; ALMEIDA, F. Q. de. Síndrome cólica em eqüinos: ocorrência e fatores
de risco. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 28, n. 1, p. 64-78,
2008. Hossell Laranjeira, Paula Vieira Evans; Almeida, Fernando Queiroz. Síndrome Cólica em eqüinos: ocorrência
e fatores de risco. A epidemiologia da Síndrome Cólica nos eqüinos é de fundamental importância para o entendimento
da etiologia, da sintomatologia clínica e para a identificação dos fatores de risco, com o intuito de aumentar a
eficiência na abordagem dos casos e para que sejam adotadas medidas para reduzir o risco de ocorrência, de modo,
sempre, a preservar a saúde e o bem-estar dos eqüinos. Foram abordados a síndrome cólica em eqüinos e os fatores de
risco para a mesma descritos na literatura corrente. Devem ser implantadas medidas que reduzam a exposição destes
eqüinos aos fatores de risco ou que se altere o manejo destes animais para que os fatores de risco tenham a menor
influência possível nas alterações que levam à ocorrência de Síndrome Cólica.
ABSTRACT:: LARANJEIRA, P. V. E. H.; ALMEIDA, F. Q. de. Horses’ colic syndrome: occurrence and risk
factors. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 28, n. 1, p. 64-78,
2008.Horses colic syndrome epidemiology is of great importance to etiology agreement, clinical symptoms and risk
factors identification, with the intention of efficiency in cases’ boarding and so adopt measures to reduce occurrence
risk to preserve horses’ health and well-being. Horse colic syndrome and risk factors already described in many
papers had been broached. There must be implanted procedures to reduces the exposition of horses to risk factors or
modifications on animals’ handling so that these risk factors possess less possible influence in alterations that lead to
colic syndrome occurrence.
determinar a origem da dor e os fatores que nas condições de estabulação, dieta rica em
levam ao quadro clínico torna-se difícil, pois concentrados, volumoso ou concentrado de má
os fatores desencadeantes são muitos e variam qualidade, consumo excessivamente rápido da
de caso a caso. A multiplicidade das causas, a ração concentrada, privação de água e o
complexidade dos casos clínicos e o alto índice transporte em viagens podem influenciar a
de insucesso nos tratamentos, principalmente ocorrência de Síndrome Cólica (HILLYER et
daqueles que demandam procedimentos al., 2001).
cirúrgicos, são apenas algumas das Em média, o estômago do eqüino
dificuldades na resolução dos casos. adulto de porte médio tem capacidadede 15 a
O conhecimento dos potenciais fatores 20 litros, sendo relativamente pequeno e
para o desenvolvimento da Síndrome Cólica ajustado para recepção contínua de pequenas
é de fundamental importância para o melhor quantidades de alimento, e o seu volume
entendimento da etiologia e da sintomatologia representa menos que 10% do volume total
clínica e para que mais eficientemente sejam do trato digestivo. As funções básicas do
abordados os casos clínicos e realizadas estômago envolvem o armazenamento, a
intervenções para reduzir o risco de mistura e o início da digestão do alimento,
ocorrência, com o intuito, sempre, da ocorrendo principalmenteo processo digestivo
preservação da saúde e do bem-estar dos enzimático e hidrólise pela ação do suco
eqüinos. gástrico. Os alimentosfibrosostêm um menor
Apesar da importância, muitos fatores tempo de retenção nesse compartimento do
de risco ainda precisam ser estudados e sua trato digestivo (MEYER, 1995). Portanto, os
associação com o desenvolvimento da alimentos volumosos têm um trânsito mais
Síndrome Cólica deve ser pesquisada em rápido no estômago do que os concentrados
estudos mais aprofundados. (MOORE et al., 2001).
A incidência de cólica de origem
Síndrome Cólica em Eqüinos estomacal tem grande vari ação, sendo
As cólicas de origem gastrintestinal são observados em 10% dos casos clínicos de
as mais comuns nos eqüinos, porém dores de cólica (CARTER et al., 1987). Messer e
origem no trato geniturinário ou outros órgãos Beeman (1987) descrevem adistensão gástrica
abdominais também podem levar ao como sendo a causa mais comum de cólica na
desenvolvimento de cólica. prática cl íni ca. As cólicas com origem
O eqüino é um animal herbívoro estomacal são decorrentes principalmente de
monogástrico, isto é, possui um único mudanças na fermentação microbiana ou um
estômago e, em condições naturais, se alimenta resul tado da perda de moti l i dade
de forragens. Sua digestão possui (VERVUERT & COENEN, 2003) e o risco
particularidades que devem ser observadas de cólica aumenta com a quantidade de
para um melhor manejo e aproveitamento dos concentrado ingerido (GONÇALVES et al.,
nutrientes. Para que um animal que apresente 2002). Pulz et al. (2004), observaram elevada
quadro clínico de Síndrome Cólica seja ocorrência de distensão gástrica em eqüinos
abordado de maneira correta é de fundamental militares, tendo sido relacionada com as
importância o conhecimento da anatomia do condi ções do manejo al i mentar e o
trato gastrintestinal, do seu funcionamento e confinamento.
das possíveis alterações que possam ocorrer Há uma estreita relação entre a
(MOORE et al., 2001). elevada ocorrência de distensão gástrica com
O eqüino é muito exigente e sensível uma séri e de fatores associ ados ao
às alterações de manejo alimentar e ambiental. confinamento e à rotina dos eqüinos. A
A diminuição ou variação no nível de atividade qualidade da ração concentrada e a baixa
física, alterações súbitas na dieta, alterações ingestão de volumoso, associadas a fatores
volumoso de baixa qualidade foram os fatores et al. (2001) observaram nos EUA uma maior
mais associados (MEHDI & MOHAMMAD, ocorrência de cólica na primavera, 37,7% dos
2006). casos, enquanto que no verão ocorreram
A água também é um fator importante 20,7% dos casos e no outono ocorreram 16,1%
na ocorrência da cólica e está relacionada dos casos. No Rio de Janeiro, Lima (1997)
quanto à quantidade, qualidade e temperatura. observou maior ocorrência de cólica nos meses
O risco de cólica aumenta quando a água é de mais quentes do ano, o que sinaliza para a
má qualidade ou é oferecida em quantidades presença de outros fatores ligados à época do
restritas, levando a uma ingestão diária em ano. Provavelmente, as variáveis climáticas
quantidade aquém da necessária (SAMAILLE, não aumentam o risco da ocorrência de cólicas,
2006). A diminuição da ingestão de água mas podem influenciar mudanças no manejo,
contribui para a incidência de impactações de como maior tempo de estabulação e alterações
digesta no intestino grosso e redução do dietéticas (WHITE, 1995).
desempenho. A idade dos animais é considerada
A ausência de água nas pastagens e nos como fator de risco em alguns estudos
estábulos, o consumo do grão de milho inteiro, (COHEN & PELOSO, 1996). Segundo White
as quantidades elevadas de concentrados na (1995) e Mehdi e Mohammad (2006), os
dieta e as mudanças no tipo de forragem são eqüinos com idade de 2 a 10 anos são mais
particularidades notáveis na incidência de susceptíveis à cólica, apresentam 2,8 vezes
cólica (REEVES et al., 1996; COHEN et al., mais chance de ter cólica do que aqueles com
1999). O fato do fornecimento adequado de menos de dois anos de idade (TINKER et al.,
água nos pastos e piquetes ter sido identificado 1997b) e, estão inseridos na faixa etária na qual
como um fator de risco importante faz com os cavalos são utilizados em atividades físicas
que a manutenção de uma fonte adequada de e, por conseguinte, o consumo de concentrado
água seja de grande importância para evitar a é maior.
cólica nos eqüinos (REEVES et al., 1996). Alguns tipos de cólica parecem ser
As condições ambientais como prevalentes em animais jovens, como a
temperatura ambiente, umidade relativa do ar intussuscepção em potros, a cólica provocada
e precipitação pluviométrica têm sido por larvas de Cyathostominae em eqüinos com
relacionadas com a Síndrome Cólica. Não menos de 16 anos de idade, as cólicas
obstante a experiência clínica sugerir que espasmódicas em eqüinos adultos e os lipomas
exista relação entre cólica e fatores climáticos, estrangulantes em eqüinos idosos (TENNANT
esses fatores ainda são pouco esclarecidos. et al., 1972; SEMBRAT, 1975; MORRIS et
Apesar de alguns estudos relatarem o aumento al., 1989; REID et al., 1995; COHEN, 1997).
na incidência de cólica durante os meses mais Corroborando, Traub-Dargatz et al. (2001)
quentes do ano (ROLLINS & CLEMENT, observaram que potros com menos de seis
1979; COHEN, 1997), não foi possível meses de idade foram significativamente
comprovar uma associação da incidência de menos propensos a desenvolverem cólica do
cólica com a temperatura ambiente, com que os animais com mais de seis meses de
mudanças na temperatura ambiente ou com idade, porém, entre as categorais de seis a 18
mudanças na pressão atmosférica durante as meses, 18 meses a cinco anos, cinco a 20 anos
24 horas que antecederam o episódio de cólica e maiores de 20 anos não houve diferença
(FOREMAN & WHITE, 1986). significativa.
Há várias controvérsias em relação às É importante considerar os múltiplos
épocas do ano mais favoráveis à ocorrência fatores que podem estar influenciando essa
de cólica. Assim, Cohen (1997) observou que variação nos tipos de casos de cólica entre as
a incidência de cólicas aumenta nas épocas idades, como a alimentação, a exposição a
mais quentes do ano, enquanto Traub-Dargatz parasitos e mudanças na fisiologia intestinal