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Gama-DF
2019
FABIANA TEIXEIRA BATISTA
Gama-DF
2019
Técnicas cirúrgicas para desobstrução ureteral em cães e gatos
Resumo:
As complicações ureterais podem ocorrer por diversos tipos de afecções, podendo ser congênitas ou
adquiridas. As lesões geralmente ocorrem por traumas, ruptura ureteral, coágulos, corpo estranho,
neoplasia e obstruções por ureterolitíases, que são por cálculos ureterais. Estas obstruções podem levar
o paciente a complicações mais graves, como, hidroureter e consequentemente hidronefrose. Uma
ureterotomia pode ser feita para remoção de cálculos obstrutivos ou uma ureteroplastia em casos de
danificação do ureter próximo a vesícula urinária (VU), em ambas as técnicas podem ser empregadas o
uso do cateter duplo J para proporcionar conforto ao animal, prevenindo futuras obstruções e estenose
do ureter. Este trabalho tem como objetivo descrever as lesões mais frequentes de obstruções no ureter,
o tipo de intervenção cirúrgica mais adequada e a importância da utilização do cateter duplo J em
complicações ureterais.
Abstract:
Ureteral complications may occur due to various types of affections, may be congenital or acquired. The
lesions usually occur by traumas, ureteral rupture, clots, foreign body, neoplasia and obstructions by
ureterolitiases, caused by ureteric calculations. These obstructions can lead the patient to more severe
complications, such as hidrouretain and consequently hydronephrosis. A ureterotomy can be made for
removal of obstructive calculi or a ureteroplasty in cases of damaging the ureter near the bladder, both
techniques can be employed the use of the double J catheter to provide comfort to the animal, preventing
future Ureter obstructions and stenosis. This work aims to describe the most frequent lesions of ureter
obstructions, the most appropriate type of surgical intervention and the importance of the use of the
double J catheter in ureteral complications.
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Graduando(a) do Curso Medicina Veterinária, do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos
– Uniceplac. E-mail: fabianatmp@gmail.com.
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1 INTRODUÇÃO
As doenças do trato urinário que culminam em obstruções podem ser causadas por
diversas enfermidades, sendo que a urolitíase é considerado umas das causas mais comuns de
afecções do trato urinário, de grande importância, principalmente pela extensão e da gravidade
em que se encontra o paciente. (SAPIN, 2016). De acordo com Almeida (2018) a ocorrência de
ureterólitos em cães e gatos teve um aumento significativo nas últimas décadas, e independente
do tipo de obstrução, seja ela parcial ou completa, o quadro clínico deve ser sempre considerado
uma emergência cirúrgica.
A urolitíase compreende a formação de cálculos no interior do ureter, rins, bexiga ou
uretra. Estes urólitos causam danos ao organismo do animal, podendo causar obstrução,
infecção, compressão do parênquima, e consequentemente casos mais graves, muitas vezes
irreversíveis (ALMEIDA, 2018). O diagnóstico é feito por meio da anamnese, sinais clínicos e
por exames complementares, sendo, urinálise, bioquimicos (Albumina, creatinina, uréia,
azotemia, uremia, cálcio, fósfaro e potássio), urografia excretora, ultrassonografia e radiografia.
(MAGALHÃES, 2013).
A indicação cirúrgica de ureterotomia para a correção de ureterolitíase é tópico de
grande debate entre os médicos veterinários cirurgiões. Tal afirmação baseia-se em estudo
retrospectivo de manejo médico e cirúrgico realizados em felinos com litíase ureteral que
apresentam elevadas taxas de morbidade e mortalidade. (WESTROPP et al., 2010).
O tratamento de urolitíase ainda é um desafio, pois envolve diversos fatores que levam
a saturação da urina por solutos, e formação de aglomerados de cristais. A resposta dos
tratamentos e as altas taxas de recidiva tem sido complicadores no manejo da doença, portanto,
a remoção cirurgica é uma opção de tratamento, no entanto, não livre de complicações. (ARIZA
et al., 2016).
A remoção dos urólitos podem ser feita através de algumas técnicas descritas em
literatura, sendo as técnicas realizadas mais frequentemente, a ureterotomia, ureteroplastia,
ureteroanastomose e ureteroneocistostomia. A técnica escolhida vai depender do local
obstruído e da gravidade do problema. Para melhor resultado no pós-operatório, o emprego do
cateter ureteral duplo J em complicações por cálculos, tem sido de grande valia, tem se
mostrado seguro e efetivo para o tratamento. (REZENDE, 2019). Existem três tipos de cateteres
ureterais, feitos de material poliuretano: Cateter ureteral duplo pigtail interno, que é o mais
utilizado em medicina veterinária e ainda o cateter nefroureteral, e cateter pigtail com alça de
fechamento mais utilizado em gatos. (VARGAS, 2014).
Este trabalho tem como objetivo descrever as principais técnicas cirúrgicas utilizadas
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2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Aspectos anátomo-fisiológicos do sistema urinário
O sistema urinário é composto por dois rins, dois ureteres, vesícula urinária (VU) e uretra.
Os rins são responsáveis por produzir urina, que é transposrtada pelos ureteres até a VU, onde
fica armazenada até ser eliminada para o meio externo através da uretra. (COLVILLE;
BASSERT, 2010).
O rim possui face dorsal e ventral, margem lateral e medial com dois polos, sendo um
cranial e outro caudal. Na parte medial do rim existe uma ondulação onde é formado o hilo
renal, formando também a pelve renal, localizando-se na parte cranial do ureter. (ALMEIDA,
2018).
A função dos rins é produzir urina para eliminação de resíduos metabólicos do organismo,
mantendo regulado o equilíbrio de fluidos, eletrólitos e ácido-básico. O processo de formação
da urina garante o equilíbrio da homeostase do organismo por meio da filtração do sangue, pela
reabsorção e secreção de substâncias. (COLVILLE, BASSERT, 2010).
Os rins de cães e gatos são órgãos pares, unilobulares, também chamados de unipiramidais,
localizados no retroperitônio, na parte dorsal do abdomem, ventrolateral às primeiras vértebras
lombares. O rim direito encontra-se em posição mais cranial, e o esquerdo, mais caudal
(FONSECA, 2016). O rim dos felinos são mais pendulares e posicionam-se mais caudalmente
quando comparados ao dos caninos. Nos felinos o rim direito posiciona-se ao nível das
vértebras L1 a L4, e o esquerdo ao nível das vértebras L2 a L5. (ALMEIDA, 2018).
O rim é composto por unidades funcionais chamados de néfrons (Figura 1). Cada néfron é
formado pelo corpúsculo renal, e por tubos com vários segmentos constantes. Os néfrons e os
túbulos renais são essenciais para o funcionamento do rim, pois são os responsáveis pela
produção da urina. Os caninos possuem cerca de 400 mil néfrons, enquanto os felinos posuem
cerca de 500 mil. O néfron possui vários segmentos: cápsula glomerular, túbulo contorcido
proximal, alça de Henle e túbulo contorcido distal. (KONIG, LIEBICH et al., 2016). Os
corpúsculos são formados pelos glomérulos que possuem capilares ramificados e que se
anastomosam, com uma região central chamada de mesângio, que são envolvidos por cápsula
de Bowman. (SERAKIDES et al., 2016).
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do trato urinário inferior, porém pode ocorrer por diversos tipos de alterações, uma das
principais causas de obstrução ureteral são as estenoses congênitas ou adquiridas, em que essas
útlimas ocorrem por traumas, corpo estranho, coágulos sanguíneos, sedimentos ou neoplasias,
porém, as ureterolitíases são a causa mais comum destas obstruções. (BUENO, ROLEMBERG.
et al., 2015).
Os rins estão sujeitos a lesões causadas por agentes tóxicos e isquêmicos em consequência
do seu papel de excreção e reabsorção. As lesões renais são observadas na maioria dos casos
nos túbulos contorcidos proximais e porção ascendente da alça de Henle devido à alta taxa
metabólica e sua função de excreção, estas alterações podem levar a insuficiência renal aguda,
principalmente em pacientes idosos, em casos de nefropatias, uso de medicamentos
nefrotóxicos e animais submetidos a procedimentos anestésicos ou cirúrgicos. (BRAGATO,
2013). A causa de obstrução mais comum no ureter é a ureterolitíase, que ocorre devido
presença de cálculos no ureter, podendo ser de apresentação uni ou bilateral. (MAGALHÃES,
2013).
Obstruções unilaterais agudas ou crônicas podem ter suas manifestações clínicas ocultas
por um longo tempo, pois o rim não acometido poderá compensar o rim contralateral, o que
pode acarretar em lesão irreversível ao rim. Geralmente obstrução unilateral tende a ocasionar
hidronefrose sem manifestações. Em casos de obstrução bilateral aguda é necessária
intervenção clínica com urgência, pois o quadro pode evoluir rapidamente levando o animal a
óbito no período de três a seis dias. (CASTRO et al., 2005).
De acordo com Castro et al. (2005) obstruções ureterais agudas, aumentam a pressão e
diâmetro ureterais e o peristaltismo inicialmente, torna-se mais frequente em resposta ao
aumento da tensão na parede do ureter. Consequentemente o peristaltismo tende a ficar mais
fraco, o que dificulta o transporte de urina para VU. O aumento da pressão pélvica renal e
ureteral em casos de obstrução tem produção de urina pelo rim ipsilateral de forma continuada.
A pressão intraluminal aumentada é conduzida aos túbulos renais, diminuindo a diferença entre
as pressões sanguínea capilar glomerular e tubular intraluminal. A pressão intraluminal depois
de 18 a 24 horas de obstrução pode diminuir e voltar ao normal, porém a vasoconstrição intra-
renal é progressiva e insiste com a obstrução, tornando-a crônica, acarretando na perda de
néfrons, atrofia do parênquima, fibrose e dilatação do sistema coletor. (CASTRO et al., 2005).
O rim ipsilateral irá produzir urina, porém a pressão intraluminal diminui à medida que o
ureter continua a dilatar gradualmente (hidroureter), consequentemente a hidronefrose, que é
caracterizada pela dilatação da pelve e dos cálices renais. (GUIMARÃES, 2018).
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A hidronefrose pode ser causada por várias afecções, geralmente ocorre por consequência
de obstrução ureteral, litíases renais, ureterolitíase, por tumores renais, ureterais e vesicais, ou
por tumores em próstata que comprimem o ureter. Existem as causas congênitas que são raras,
geralmente acometem o ureter, sendo, atresia ou estenose ureteral. (GUIMARÃES, 2018).
De acordo com Guimarães (2018) o gato tem uma predisposição a ocorrência de estenose
nos ureteres, o que é indicado quando o animal apresenta juntamente com a ureterolitíase em
um local a estenose em outro. Isso indica que a presença de cálculos nos ureteres pode levar a
uma lesão na mucosa deste e que a presença de estenose diminuiu o fluxo urinário normal e
assim pode-se desenvolver uma ureterolitíase.
Para manter o rim funcional, é necessária intervenção com procedimentos cirúrgicos ou
pouco invasivos. Os procedimentos recomendados para essa manutenção dos órgãos são a
ureterotomia, ureteroplastia e a nefrocistostomia temporária com cateter duplo J, pois animais
com casos de urolitíase podem ter obstruções de forma recorrente. (REZENDE et al., 2019).
O cateter duplo J é um tubo flexível que pode ser introduzido no lúmen do ureter durante e
após o procedimento cirúrgico para evitar obstruções e estenoses no pós-operatório,
promovendo qualidade de vida ao paciente. O cateter pode ser fabricado com material de
poliuterano, silicone ou vários polímeros, o mesmo possui curvatura de 360° em ambas as
pontas, ou pontas enroladas, para evitar que ele escape da VU ou do rim, com furos laterais
múltiplos para facilitar a drenagem de urina (Figura 2). (SANTOS, et al., 2019).
3 CIRURGIAS URETERAIS
3.1 Ureterotomia
A ureterotomia é indicada para remoção de cálculos obstrutivos, este procedimento é uma
opção para realizar a descompressão do ureter, sendo utilizada em casos em que ocorre
obstrução parcial ou completa, pois a obstrução leva o rim a sofrer danos irreversíveis. Porém
em procedimento de ureterotomia existe o risco de casos de estenose do ureter e vazamento da
urina durante o pós-operatório em decorrência da cicatrização da incisão, o que pode resultar
em uroabdómen e reobstruções. (ALMEIDA, 2018; MCPHAIL; FOSSUM, 2019).
De acordo com Fossum (2014) em alguns casos quando os cálculos estão localizados no
ureter distal é possível realizar a lavagem (flushing) ou retornar os cálculos para a VU através
de uma cistotomia, não sendo necessário a ureterotomia.
A técnica cirúrgica compreende em um isolamento do ureter acometido e em seguida uma
incisão transversal ou longitudinal no ureter próximo ao cálculo para remove-lo. Após a retirada
dos ureterólitos, recomenda-se fazer uma lavagem do ureter com fluidos mornos (solução
fisiológica ou ringer lactato) para certificar que todos os cálculos tenham sido removidos e
garantir a integridade do ureter (Figura 3). Para a sutura é indicado fio absorvível e ponto
simples interrompido. Quando há risco de estenose ou em casos em que o ureter não esteja
dilatado, a incisão pode ser feita longitudinal sobre o cálculo e a sutura de forma transversal
(Figura 4). Em casos que ocorre uma lesão do ureter é recomendado uma ureterectomia parcial
com posterior anastomose ureteral. (MCPHAIL; FOSSUM, 2019).
Existem algumas complicações que podem ocorrer após o procedimento cirúrgico, tais
como, vazamento de urina, obstrução recorrente, estenose do ureter, hemorragias e diminuição
da função renal. O acompanhamento do paciente após a cirurgia deve ser feito a longo prazo,
com realização de ultrassonografia. (GUIMARÃES, 2018).
A cicatrização do ureter ocorre por epitelização, síntese de tecido conjuntivo fibroso e
contração cicatricial de tecido longitudinal. O uroepitélio possui maior capacidade de
proliferação e pode aproximar uma região lesionada em até 48 horas, embora o uroepitélio tenha
um grande potencial de regeneração, uma técnica inadequada pode suceder em quadros de
estenoses. (FOSSUM, 2004). Tais afirmações, corroboram a ideia de se proceder uma
ureteroscopia e concomitante remoção do (s) ureterólito (s) ou avanço dos mesmos e retirada
via cistotomia. (MCPHAIL; FOSSUM, 2019).
De acordo com FOSSUM (2004) o peristaltismo está ausente no segmento distal de um
ureter transeccionado por pelo menos 10 dias após o reparo, o que pode acarretar em hidroureter
no segmento proximal e consequentemente hidronefrose. O peristaltismo também pode
diminuir o fluxo urinário quando há uma imobilização do ureter em estruturas circunjacentes.
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Após a reconstrução com esta técnica pode ocorrer refluxo vesicoureteral, uma
complicação devido a formação de estenose. É provável que não ocorra refluxo em casos em
que o ureter tenha sido introduzido através do túnel submucoso ou nos casos em que a abertura
é feita lateral e não na ponta do tubo formado. (SCOTT, 1962).
A técnica cirúrgica de ureteroplastia é realizada quando ocorre trauma ureteral próximo
da VU, é realizada uma elevação do retalho da superfície ventral da VU, e o ureter é então
reimplantado dentro do retalho, fechando o retalho de VU junto ao tubo. O uso de cateteres
dilatadores é recomendado e devem ser utilizados de forma cuidadosa para evitar formação de
estenoses. A sutura deve ser realizada com fio absorvível e ponto simples continuo. (FOSSUM,
2004).
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Obstruções por ureterolitáse é uma enfermidade que tem sido cada vez mais comum em
cães e gatos. O diagnóstico de afecções do ureter na maioria dos casos é descoberto tardiamente,
sendo necessário intervenção cirúrgica para reparo de tais complicações, concluindo-se que,
para um melhor resultado pós cirúrgico, o emprego do cateter duplo J em cães e gatos, é
indicado como uma alternativa para proporcionar menos tensão durante a cirurgia, promovendo
alivio ao animal, evitando assim, obstruções de forma recorrente e estenoses do ureter.
REFERÊNCIAS
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EATON, D. C.; POOLER, J. P. Fisiologia Renal de Vander. Ed. Artmed, 2016, n 8 p.9.
HORST, E. K.; HANS-GEORG, L. Anatomia dos animais domésticos. Artmed, Porto Alegre,
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PRADO, T. D. et al. Ureteres ectópicos em cães. Agrarian Academy. v.1. n.2. p. 170-177,
2014.
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SAPIN, F.; C. (2016). Patologias do sistema urinário de cães e gatos. Disponivél em:
<https://wp.ufpel.edu.br/ppgveterinaria/files/2016/03/Carolina-da-Fonseca-Sapin.pdf > acesso
em: 24 de ago. de 2019.
SANTOS, R. L.; ALESSI, A. C. Patologia Veterinária. 2 ed. - Rio de Janeiro: Roca, 2016, p.
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WESTROPP, J.L. et al. Canine and feline urolithiasis: Pathophysiology, epidemiology and
management. In: BOJRAB, M.J. Mechanisms of disease in small animal sugery. 3.ed. Teton
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