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01/12/2022 06:23 Anatomia patológica do sistema urinário e neoplasias urinárias

Anatomia patológica do sistema urinário e neoplasias


urinárias
Prof.ª Mariana Correia Oliveira

Descrição

Estudo das enfermidades que acometem o trato urinário cranial e caudal e suas neoplasias correspondentes.

Propósito

O estudo das patologias do trato urinário cranial e caudal é essencial para a compreensão das doenças da
rotina clínica em animais de companhia e de produção, assim como para o domínio da intertextualidade das
disciplinas cirúrgicas e terapêuticas.

Objetivos

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Módulo 1

Patologias do trato urinário cranial e caudal


Reconhecer as alterações macroscópicas e microscópicas de doenças do trato urinário de animais de
companhia e de produção.

Módulo 2

Neoplasias do trato urinário cranial e caudal


Identificar as neoplasias do trato urinário de animais de companhia e de produção.

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Introdução
A compreensão do trato urinário é um aspecto importante para diversas áreas de estudo clínico e cirúrgico
na medicina veterinária. Por isso, neste conteúdo, entenderemos a importância das doenças do trato urinário
cranial (formado pelos rins e pelo ureter) e caudal (formado pela vesícula urinária e pela uretra) em animais
de companhia e de produção. Veremos também os achados clínicos mais importantes de cada enfermidade
e os achados macroscópicos e microscópicos de cada patologia.

Por fim, identificaremos as neoplasias que acometem o trato urinário cranial e caudal, relacionando os
aspectos macroscópicos e histopatológicos. Os achados macroscópicos são sugeridos em exames de
imagens e confirmados quando observados após exérese cirúrgica e envio para exame histopatológico ou
durante o exame de necropsia. As características macroscópicas, como formato, coloração, extensão e
consistência, podem sugerir uma neoplasia, mas seu desfecho diagnóstico será obtido pelo exame
histopatológico. A microscopia serve para diagnosticar, afastar os diagnósticos diferenciais e conduzir o
prognóstico do paciente.

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1 - Patologias do trato urinário cranial e caudal


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as alterações macroscópicas e
microscópicas de doenças do trato urinário de animais de companhia e de produção.

O rim

Aspectos morfofuncionais básicos dos rins


Os rins de mamíferos são órgãos pares localizados em posição retroperitoneal adjacentes à coluna lombar.
Anatomicamente revestido por uma cápsula de tecido conjuntivo e subdividido em região cortical, região
medular e pelve renal, sua função primária é a produção de urina pelo processo de filtração do sangue e
excreção de compostos metabólicos tóxicos ao organismo, reabsorção de água, controle dos níveis de
eletrólitos e do pH sanguíneo.

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Anatomia renal de um cão, corte dorsal.

Além disso, os rins exercem papel fundamental para a manutenção da pressão sanguínea por meio de um
complexo sistema hormonal desencadeado pelo aparelho justaglomerular conhecido como sistema renina-
angiotensina-aldosterona. Também são responsáveis pela produção de eritropoietina e consequente
estímulo a hematopoiese e pela metabolização da vitamina D.

Mecanismos de defesa e respostas gerais à agressão


O sistema urinário como um todo é vulnerável à via ascendente, por meio da contaminação uretral, por
exemplo, pelos coliformes fecais em fêmeas, devido à proximidade de estruturas anatômicas excretoras, e
pela interseção com o aparelho genital e seus processos patológicos, em especial infecciosos.

A via hematógena, por sua vez, é passiva por via vascular tanto a processos
infecciosos quanto a processos lesionais não infecciosos, como isquemia, necrose
por infarto e distúrbios imunomediados.

Os túbulos renais também são suscetíveis à reabsorção de substâncias endógenas, produtos do próprio
metabolismo, como hemoglobina, mioglobina e bilirrubina. Além disso, são vulneráveis a substâncias
tóxicas exógenas, como metais pesados, toxinas orgânicas e inorgânicas, além da saturação de substâncias
cristalizantes.

Entre os mecanismos de defesa primariamente renais, destacam-se:

Barreira hemato-glomerular
É exercida pela membrana basal com a finalidade de reter componentes do filtrado glomerular de acordo
com seu tamanho e sua carga elétrica.

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Complexo de defesa imune-humoral


É baseado em monócitos que patrulham especificamente o mesângio glomerular, imunidade celular
específica com base em anticorpos e leucócitos residentes do interstício renal

Fluxo urinário constante


Exerce importante função de defesa, em especial contra a ascensão de microrganismos.

O glomérulo é capaz de responder às injúrias por meio da reparação hiperplásica e da restauração da


membrana basal, diante da necrose tecidual, dentro de um limiar de extensão do dano. O influxo dos
leucócitos regionais e da circulação sistêmica também atua primariamente contra patógenos infecciosos e
faz parte de uma série de ações resultantes do processo inflamatório, influenciando a homeostase vascular
do glomérulo, o que diminui o fluxo vascular e consequentemente a perda, pelo glomérulo danificado, de
solutos como proteínas plasmáticas, de nutrientes e de água.

Saiba mais

Em relação aos túbulos renais, a sua capacidade reabsortiva visa à recuperação do que foi perdido para o
filtrado glomerular, mas essa capacidade pode resultar em dano por reabsorção excessiva e reabsorção de
substâncias tóxicas.

O epitélio de revestimento dos túbulos renais também apresenta capacidade de reparação hiperplásica
dentro de um limiar de extensão da lesão. Por sua vez, o urotélio de revestimento da pelve renal, dos ureteres,
da vesícula urinária e da uretra apresenta grande capacidade regenerativa hiperplásica. A destruição
completa do néfron provoca a cicatrização fibrótica e a perda de capacidade de filtração renal.
Cronicamente, a doença renal resulta em esclerose renal e insuficiência renal com perda do parênquima
renal. Em nível de vesícula urinária, a inflamação crônica tem como resultado proliferação hiperplásica,
metaplasia escamosa e fibrose com espessamento da mucosa.

Anomalias do desenvolvimento

Aplasia, hipoplasia e displasia renal


Aplasia e hipoplasia renal são condições relacionadas à não formação ou à formação incompleta de um ou
ambos os rins, limitando a capacidade filtrante renal. Note, na imagem a seguir, o não desenvolvimento dos

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rins bilaterais na região lombar.

Aplasia renal em suíno.

Já a displasia renal é caracterizada por uma desorganização estrutural do parênquima renal com
diferenciação tecidual anormal e perda equivalente da capacidade filtrante. Essas condições podem ou não
resultar em condições clínicas de insuficiência renal, de acordo com sua intensidade. Veja, na imagem
abaixo, que um dos rins se encontra disforme; o outro rim, com tamanho pouco desenvolvido.

Displasia e hipoplasia renal em cão.

Rins ectópicos
Rins ectópicos tendem a ser deslocados de sua posição normal e unilaterais. São resultantes de uma
organização fetal anômala, posicionando esses rins na cavidade pélvica ou em posição inguinal. Embora
sejam funcionais, o mal posicionamento tende a resultar em obstrução ureteral e dilatação da pelve renal
(hidronefrose).

Cistos renais
Condições frequentes para felinos e cães, os cistos renais podem ocorrer de forma isolada ou policística,
unilateralmente ou bilateralmente. São dilatações de porções dos túbulos renais de tamanho variável,
milimétricas a evidentes, podendo chegar a vários centímetros de diâmetro.

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Rins policísticos estão correlacionados a condições hereditárias dominantes autossômicas em suínos e


ovinos ou associados a doenças hereditárias multissistêmicas, como a doença biliar policística em cães da
raça West highland terrier e Cain terrier. Em felinos, também são descritos como um traço hereditário
dominante autossômico em gatos persas. Na imagem, é possível notar múltiplas cavidades císticas de
diâmetros variáveis em centímetros.

Rim policístico em ovelha.

Vamos agora estudar as doenças do trato urinário cranial, dividido em doenças glomerulares, doenças dos
túbulos e do interstício renal e doenças da pelve renal. Em seguida, vamos conhecer melhor as doenças do
trato urinário caudal.

Nefropatias glomerulares
As nefropatias glomerulares envolvem processos inflamatórios ou degenerativos não inflamatórios. Podem
ser exclusivamente glomerulares, como a glomerulite, ou envolver o néfron como um todo, como a
glomerulonefrite.

Dentre as funções glomerulares afetadas, a perda de proteínas, resultando em proteinúria, tende a causar um
maior número de evidências clínicas, como hipoalbuminemia, queda na pressão oncótica e consequente
edema generalizado e hemorragia por perda de proteínas da coagulação.

Glomerulites
A glomerulite supurativa decorre de bacteremia, resultando na formação de microabscessos. Exemplos
dessa condição são a actinobacilose em potros, a infecção por Erysipelothrix rhusiopathie em suínos e por
Corynebacterium pseudotuberculosis em ovinos. Macroscopicamente, caracteriza-se por múltiplos pontos
focais amarelados na superfície subcapsular ou em posição cortical na superfície de corte do rim. Em nível

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microscópico, evidencia-se glomerulite supurativa com infiltração de neutrófilos no glomérulo e formação de


microabscessos.

A glomerulite viral é resultado de infecção viral sistêmica, como na hepatite infecciosa canina, na e na
doença de Newcastle em aves. Nesse caso, uma replicação viral ocorre no endotélio vascular. Em geral, ao
exame macroscópico renal, são observadas petéquias disseminadas sob a superfície subcapsular, rins
pálidos e edematosos em alguns casos. Em nível microscópico, haverá inflamação linfoplasmocitária e
glomerulite proliferativa, com a presença, em alguns casos, de corpúsculos de inclusão viral no endotélio
vascular.

Dentre as glomerulites primariamente não infecciosas do rim, destaca-se a forma imunomediada. Essa é
uma condição frequente e resultante da deposição de imunocomplexos na membrana basal, os quais podem
ser decorrentes de doenças inflamatórias sistêmicas de grande antigenia, como a peritonite infecciosa felina,
ou puramente decorrentes de hipersensibilidade imunomediada, como no lúpus eritematoso.

úpus eritematoso
Uma doença autoimune da pele que resulta em hipersensibilidade do tipo 3 por deposição de imunocomplexos
em inúmeros órgãos, em especial os rins.

Atenção!

Nesses casos, os imunocomplexos se acumulam nos capilares glomerulares e, por contato direto com o
endotélio, ativam erroneamente a cascata do complemento, um complexo enzimático de ataque a
membranas celulares. Macroscopicamente podem ser pouco evidentes e, em alguns casos, podem revelar
edema ou hemorragia multifocal.

Veja os padrões microscópicos de glomerulopatias por imunocomplexos:

Glomerulopatia proliferativa em cão. A. Hematoxilina-eosina. B. Tricrômico de Masson.

Proliferativa

Quando há um aumento na celularidade do tufo glomerular, devido à proliferação das células glomerulares
e ao influxo de leucócitos, envolvendo tanto as alças capilares como o mesângio. Na imagem, note a
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marcada hipercelularidade mesangial e dos capilares (setas).

Glomerulopatia membranosa em cão. A. Hematoxilina-eosina. B. Tricrômico de Masson.

Membranosa

Quando a alteração predominante é o espessamento difuso da membrana basal dos capilares. Essa é a
forma mais comum de glomerulonefrite por imunocomplexos em gatos. Observe na imagem o
espessamento difuso da membrana basal dos capilares (setas).

Glomerulonefrite membranoproliferativa em cão.

Membranoproliferativa

Ocorre quando estão presentes tanto a hipercelularidade quanto o espessamento da membrana basal.
Essa é a forma mais comum de glomerulonefrite por imunocomplexos em cães. Na imagem, note o córtex
extremamente pálido (seta vermelha) e observe como os rins são de consistência normal ou ligeiramente
menos firme.

Na imagem a seguir, vemos um corte histológico de um rim de cão. Observe o espessamento e


hipercelularidade do mesângio (setas).

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Glomerulopatia membranoproliferativa em cão. A. Hematoxilina-eosina. B. Tricrômico de Masson.

Glomeruloesclerose
O resultado da lesão glomerular crônico-ativa é a esclerose renal ou glomeruloesclerose. Microscopicamente,
evidencia-se a substituição do glomérulo por tecido conjuntivo fibroso e consequente perda de função
filtrante renal, muitas vezes evoluindo para a insuficiência renal crônica quando o dano excede 75% da
capacidade filtrante renal bilateralmente. Macroscopicamente, o rim pode apresentar diminuição de tamanho
quando há ampla fibrose. Note, na imagem a seguir, a substituição do glomérulo por tecido conjuntivo
fibroso (setas).

Glomeruloesclerose em cão. A. Hematoxilina-eosina. B. Tricrômico de Masson.

Amiloidose
A amiloidose renal é uma condição resultante do acúmulo de proteína em meio extracelular, mais
especificamente no glomérulo renal, o que provoca esclerose renal com o tempo e insuficiência renal crônica.

A amiloidose renal pode ser consequência da produção normal e alta de fragmentos de imunoglobulinas em
neoplasias como o mieloma múltiplo ou os plasmocitomas, nesse caso denominada amiloidose AL.
Processos inflamatórios crônicos, por sua vez, podem também resultar em produção excessiva de proteínas
e consequente amiloidose reacional ou amiloidose AA.

Saiba mais
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Uma predisposição genética familiar para amiloidose AA foi descrita em gatos abissínios e em cães da raça
Shar-pei.

Rins afetados por amiloidose tendem a se apresentar macroscopicamente aumentados em volume e


pálidos. A imagem a seguir mostra a superfície externa do rim de aspecto irregular e de coloração pálida.

Amiloidose renal em cão.

Fragmentos de rim tratados com tintura de Lugol à base de iodo tendem a evidenciar pontos amiloides de
coloração enegrecida em região cortical. Na imagem a seguir, observe os depósitos de substância hialina
nos tufos glomerulares.

Amiloidose glomerular em espécie não identificada. Coloração hematoxilina-eosina (HE).

Doenças dos túbulos e do interstício renal

Lesões tubulares
As lesões tubulares podem ser subdivididas de acordo com a etiologia e o mecanismo lesional, resultando
em necrose tubular ou nefrose.

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A nefrose tubular isquêmica ocorre de forma aguda, com a interrupção ou diminuição acentuada da
oxigenação tecidual renal. Entre as inúmeras possibilidades de isquemia renal, destacam-se:

A hipovolemia aguda resultante de desidratação ou hemorragia grave e intensa;

A falha cardíaca aguda diante do choque cardiogênico;

As possibilidades de falhas no controle vascular renal, no uso de anti-inflamatórios não esteroidais, como
na vasoconstricção renal pela ação de catecolaminas, na hemoglobinúria e mioglobinúria por interferência
no metabolismo oxidativo celular capturando o oxigênio intracelular, no choque anafilático e na sepse por
vasodilatação sistêmica e consequente perda de pressão arterial.

A nefrose tubular tóxica aguda, por sua vez, pode ocorrer por ação de pigmentos, como a própria
hemoglobina e mioglobina, que também exercem ação tóxica às células epiteliais por simples acúmulo
intracitoplasmático até ruptura da membrana celular. São causadores dessa nefrose:

A bilirrubina;

Os metabólitos de antibióticos, como aminoglicosídeos, oxitetraciclina, anfotericina B, sulfonamidas e


monensina;

Citrinina;

Amaranthus Spp.;

Chumbo;

Toxinas bacterianas;

Toxinas fúngicas;

Anti-inflamatórios não esteroidais por ação tóxica direta às células.

Na imagem a seguir, é possível observar extenso foco de necrose na região de crista renal.

Necrose por anti-inflamatório não esteroidal em cão.

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A consequência do processo de necrose tubular é a perda de capacidade filtrante, podendo resultar em


insuficiência renal aguda ou crônica, de acordo com a evolução e a amplitude das lesões renais. Nesses
casos, haverá acúmulo sanguíneo de compostos nitrogenados tóxicos, como a ureia e a creatinina, além do
acúmulo intravascular de resíduos do metabolismo celular, como guanidinas e ácidos fenólicos. Haverá
também diminuição da excreção de hidrogênio, acidose metabólica, desregulação da concentração sérica de
eletrólitos e hipertensão por diminuição da excreção de água, com resultante anúria em razão da obliteração
de túbulos renais por restos necróticos na fase aguda.

Na fase crônica, a destruição completa dos túbulos renais leva à perda excessiva de
água e à poliúria. Essa elevada perda de água pela urina pode gerar hipotensão.

O acúmulo de compostos nitrogenados no sangue em condição de insuficiência renal (IR) é denominado


azotemia, e é especialmente importante nos carnívoros, devido ao grande metabolismo proteico.

Saiba mais

O termo uremia se refere a um conjunto de consequências evidentemente clínicas de insuficiência renal,


dificilmente observadas na insuficiência renal aguda (IRA), em razão da morte rápida pela ação tóxica da
ureia sobre o sistema nervoso central.

A uremia é observada durante a insuficiência renal crônica (IRC), na qual há tempo para grandes
quantidades de amônia serem produzidas a partir da conversão da ureia circulante por bactérias intestinais
urease positivas. O acúmulo de amônia na mucosa chega ao estômago, ao intestino e à mucosa oral,
resultando em necrose de vasos sanguíneos por sua ação cáustica. São esperados, no trato gastrointestinal,
estomatite e gastrite urêmica, sob a forma de erosões, úlceras, necrose de bordo de língua, hemorragia e
hálito amoniacal.

Haverá também disseminação hematógena de amônia por causa da sua grande volatilidade e capacidade
de penetração vascular. Dessa forma, espera-se hiperamonemia e suas consequências vasculares de forma
sistêmica. A inflamação vascular atinge os capilares pulmonares, resultando em pneumonia urêmica e
edema alveolar. Em grandes vasos arteriais, haverá arterite; no coração, endocardite, resultando em trombose
vascular e atrial. Haverá também anemia hipoplásica por destruição da medula óssea.

A perda de capacidade renal de excreção de substâncias como o fósforo sérico resulta em hiperfosfatemia e
em desequilíbrio da equação de proporção sanguínea normal entre as moléculas de cálcio e fósforo, na
ordem de 2:1 respectivamente, acarretando consequente hipercalcemia. Em razão dessa condição, haverá
hiperparatireoidismo secundário e remoção de cálcio dos ossos, fragilizando o esqueleto do animal com
insuficiência renal crônica, que passa a ficar suscetível às fraturas patológicas.

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Músculos intercostais em cão.

Haverá substituição da massa mineral óssea por tecido conjuntivo fibroso e consequentes aumentos de
volume e de elasticidade óssea, em especial da mandíbula, resultando em uma lesão clássica da IRC
denominada “mandíbula de borracha”. A mineralização de tecidos moles, como a mucosa estomacal, o
pulmão e a musculatura intercostal, é esperada também como resultado da hipercalcemia. Na imagem,
observe a mineralização moderada e multifocal da musculatura intercostal e as estriações brancacentas nos
músculos intercostais, que rangem ao corte.

Nefrite intersticial
A nefrite consiste na inflamação do interstício renal, podendo ser aguda ou crônica. O acúmulo de linfócitos
e plasmócitos é comum em várias doenças infecciosas sistêmicas, mas essas células não são visíveis
macroscopicamente e não causam insuficiência renal, como a anemia infecciosa equina e a erlichiose
canina.

Por outro lado, inflamações mais acentuadas serão visíveis macroscopicamente, causarão insuficiência
renal e são comumente referidas como nefrites tubuloinstersticiais, por exemplo, a leptospirose.
Macroscopicamente, podemos encontrar desde lesões focais esbranquiçadas a lesões difusas, com rins
edemaciados e castanho-claro, com pontos acinzentados na superfície de corte e arquitetura cortical com
estrias radiadas. A nefrite crônica está associada à fibrose renal.

Nefrite granulomatosa multifocal em cão.

A nefrite granulomatosa corresponde a lesões tubulointersticiais associadas a infecções sistêmicas crônicas


em que há formação de granulomas. Na imagem, observe nódulos multifocais esbranquiçados na superfície

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do córtex renal em quantidade discreta com aproximadamente 2mm de diâmetro.

Como exemplo de infecções crônicas sistêmicas, podemos citar:

Peritonite infecciosa felina;

Infecção sistêmica por Encephalitozoon cuniculi em filhotes de cães;

Hiperlipoproteinemia hereditária em gatos;

Hipotireoidismo em cães;

Ateroescleroma grave (xantogranuloma);

Infecção por fungos como Aspergillus sp., Histoplasma sp. e ficomicetos;

Infecções bacterianas como na tuberculose;

Infestação por parasitas como Toxocara canis;

Intoxicação por Vicia villosa em bovinos;

Infecção por algas (Prototheca).

Na imagem a seguir, observe a nefrite granulomatosa caracterizada por granulomas multifocais a


coalescentes esbranquiçados na superfície externa do rim (seta).

Intoxicação por Vicia villosa em bovinos.

Doenças da pelve renal

Pielonefrite

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A pielonefrite é a inflamação da pelve e do parênquima renal. Origina-se como uma extensão da infecção
bacteriana, acometendo o trato urinário caudal (principalmente ascendendo dos ureteres aos rins).

Uma outra forma de pielonefrite por via ascendente é por refluxo vesico-ureteral, quando a vesícula urinária
está inflamada (cistite). Nesses casos, há comprometimento da competência normal da válvula associado à
inibição do peristaltismo ureteral normal pelas endotoxinas liberadas por bactérias Gram-negativas.

Ocasionalmente, a pielonefrite pode resultar de infecções bacterianas descendentes, por via hematógena.

Atenção!

As principais bactérias envolvidas nas pielonefrites nos animais domésticos são: Proteus sp., Klebsiella sp.,
Staphylococcus sp., Streptococcus sp. e Pseudomonas aeruginosa.

A macroscopia da pielonefrite consiste na observação de mucosas da pelve e uretra espessadas,


avermelhadas, rugosas ou granulares. A pelve e os ureteres estão dilatados e com exsudato purulento na luz.
Na imagem, observe a dilatação moderada da pelve, com diminuição da medula renal (seta) e
preenchimento por material amarelado e viscoso (exsudato purulento).

Pielonefrite aguda em cão.

A crista medular (papila) é ulcerada e necrótica. Na região medular renal, observam-se estrias irregulares
orientadas radialmente, avermelhadas ou acinzentadas. A cronicidade da pielonefrite resulta na deformação
do parênquima renal por causa da inflamação intersticial intensa e da cicatrização.

Na imagem a seguir, note a superfície externa de aspecto granular e esbranquiçado e a dilatação da pelve
renal (hidronefrose) que está indicada pela seta.

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Pielonefrite crônica em cão.

A microscopia da pielonefrite revela infiltrado inflamatório composto por neutrófilos na luz dos túbulos e no
interstício renal, associado a colônias bacterianas, hemorragia e edema intersticial. Cronicamente,
observamos fibrose intensa e infiltrado por linfócitos, plasmócitos e monócitos.

Hidronefrose
Como nós já vimos, a hidronefrose é a dilatação da pelve renal por causa da obstrução do fluxo urinário. A
obstrução pode ser causada por má-formação congênita do ureter, da junção vesico-ureteral ou da uretra, ou
ainda por mal posicionamento dos rins e posterior dobramento do ureter. Outras causas incluem: bloqueio
uretral e ureteral devido a cálculos; inflamação crônica; neoplasia uretral e ureteral; e distúrbios funcionais
neurogênicos.

Na imagem a seguir, observe os inúmeros cálculos extraídos da pelve renal de equinos, uma importante
causa de hidronefrose nos animais.

Cálculo renal em equino.

A hidronefrose pode ser uni ou bilateral. A obstrução completa e bilateral leva ao óbito do animal por uremia.
Na macroscopia, observamos a dilatação da pelve e dos cálices renais, bem como o achatamento das
cristas renais e papilas. O rim torna-se aumentado e mais arredondado, enquanto o córtex e a medula se
tornam afinados por atrofia. O rim se transforma em um saco de parede fina preenchido por fluido. Note, na
imagem a seguir, a dilatação da pelve renal e a atrofia da região medular renal.

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Hidronefrose em bovino.

A consequência da hidronefrose é a pionefrose, provavelmente resultado da infecção por bactérias


hematógenas que se alojam no rim hidronefrótico.

Na imagem a seguir, note acentuada dilatação da pelve renal (seta vermelha) e atrofia da região medular
renal (seta preta). Associados, notam-se focos esbranquiçados multifocais coalescentes na cortical renal
(nefrite).

Hidronefrose e pielonefrite em cão.

Parasitas renais
Veja a seguir quais são os parasitas renais.

Dioctophyma renale

Dioctophyma renale adulto em cão.

Um parasita de canídeos com 2 anos ou mais, uma vez que seu ciclo é prolongado e complexo. O
nematódeo reside na pelve renal, onde causa grave pielite hemorrágica ou purulenta, subsequente obstrução
ureteral e destruição do parênquima renal, resultando em rim hidronefrótico. Veja, na imagem, que o parasito
está encistado adjacente ao rim do animal.

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Stephanurus dentatus
É parasito nematódeo de suínos e encista na gordura perirrenal ou no rim. A fibrose e o tecido de granulação
podem encobrir o parasita.

Na imagem, a seta indica o Stephanurus dentatus encistado no hilo (A); no corte histopatológico, a seta
indica Stephanurus dentatus em um ureter dilatado (B).

Rim de suíno. A. Macroscopia. B. Microscopia.

Capillaria plica e Capillaria feliscati


São nematódeos que ficam fixados à pelve renal, ao ureter ou à vesícula urinária. Esse nematódeo pode
causar rara hematúria e disúria. Microscopicamente, infiltrados de células inflamatórias e hemorragias
focais estão associados aos locais de fixação dos parasitas.

Fibrose renal (cicatrização)


É a reposição do parênquima renal, incluindo túbulos, glomérulos e interstícios por tecido conjuntivo fibroso
maduro. Ocorre após processos de infartos, glomerulonefrite, amiloidose e doença tubulointersticial.

Na clínica, observamos insuficiência renal e uremia, micção frequente e urina diluída, além de polidipsia. A
anemia hipoplásica ocorre como falha renal em produzir e secretar eritropoietina. A osteodistrofia fibrosa
pode se desenvolver por causa do metabolismo anormal de cálcio e fósforo e do hiperparatireoidismo
secundário renal.

Na macroscopia, observa-se o rim com aspecto pálido marrom a esbranquiçado, enrugado, com depressões
na superfície e consistência firme, associado à excessiva aderência da cápsula ao córtex renal. A fibrose
pode ser difusa ou finamente pontilhada, com depressões mais profundas.

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Fibrose renal com cistos de retenção em cão.

A imagem mostra a macroscopia renal de um cão com fibrose por cistos de retenção, com os rins
intensamente pálidos, diminuídos de tamanho (principalmente o rim esquerdo) e superfície irregular. Além
disso, vemos estruturas cavitárias milimétricas na cortical e medular renal (seta).

Microscopicamente, observamos aumento no tecido conjuntivo intersticial e desaparecimento dos túbulos


renais. Os túbulos remanescentes se tornam atrofiados, com membrana basal hialinizada e espessada e
com o epitélio tubular achatado. No córtex e na medula renal, é possível encontrar cistos múltiplos
adquiridos pelo resultado da dilatação da cápsula de Bowman.

Atenção!

A mineralização é comum e pode estar presente nos vasos, nas membranas basais, nos túbulos, na cápsula
de Bowman e no epitélio tubular, em razão das alterações no metabolismo do cálcio e do fósforo associadas
com a insuficiência renal crônica.

A nefropatia juvenil progressiva ou doença familiar é o desenvolvimento de fibrose renal grave e bilateral.
As principais manifestações incluem:

Glomerulonefrite membranoproliferativa;

Doença tubular de causa desconhecida com atrofia tubular;

Fibrose intersticial;

Displasia renal.

A clínica revela poliúria, polidipsia e uremia. Na macroscopia, observam-se rins diminuídos, marrom-claro a
esbranquiçado e firmes, cicatrizes corticais, medula fibrosada e cistos pequenos no córtex e na medula. Na
microscopia, notam-se glomérulos pequenos, enrugados e entremeados a glomérulos normais, escleróticos
ou hipertrofiados.

Distúrbios circulatórios
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Veja a seguir os principais distúrbios circulatórios:

Hiperemia expand_more

É causada pelo aumento no fluxo arterial sanguíneo, resulta em um processo ativo secundário à
inflamação renal aguda. Na macroscopia, observa-se o rim vermelho-escuro, edemaciado, liberando
acentuada quantidade de sangue ao corte.

Congestão expand_more

É a estagnação do fluxo sanguíneo e pode ser fisiológica ou patológica secundária ao choque


hipovolêmico e à insuficiência cardíaca e hipostática. Na macroscopia, verifica-se o rim de coloração
roxo escuro com liberação de sangue ao corte. Se houver tempo suficiente para a coagulação do
sangue, podemos encontrar soro e células sanguíneas.

Hemorragia expand_more

Pode ser causada por trauma direto e por distúrbios hemostáticos sistêmicos, como a deficiência do
fator VIII. As hemorragias subcapsulares e do córtex renal ocorrem nas doenças septicêmicas, nas
vasculites, na necrose vascular e no tromboembolismo. Exemplos de doenças que cursam com
hemorragia incluem a peste suína clássica e a africana, a erisipela, as infecções estreptocócicas, a
salmonelose e o herpesvírus.

Infarto expand_more

É caracterizado por áreas de necrose de coagulação que resulta da isquemia local ocorrida em razão
da oclusão vascular e do tromboembolismo secundário à endocardite valvular, à endarterite de
doenças parasitárias, como na estrongilose e dirofilariose, e à trombose mural por placas
ateroscleróticas ou êmbolos assépticos (neoplásicos).

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Em equinos, ocorrem êmbolos que se alojam na vasculatura renal após trombose mural da aorta por larvas
migrantes de Strongylus vulgaris. Dependendo da artéria que sofra a isquemia, parte ou todo o rim pode
sofrer o infarto. Por exemplo, a isquemia da artéria renal leva ao infarto do rim inteiro, já a isquemia da
artéria interlobar leva ao infarto de vários segmentos do córtex e da medula renal. A isquemia da artéria
interlobular leva a múltiplos infartos menores, envolvendo apenas o córtex renal.

Uma macroscopia do infarto renal agudo revela rim edemaciado e hemorrágico. Em 2 a 3 dias, os infartos se
tornam pálidos, circundados por uma zona de hiperemia e hemorragia.

Infarto renal agudo em bovino (A).

Infarto renal multifocal agudo em cão (B).

Nas imagens anteriores, observe lesões pálidas de diferentes padrões geométricos delimitadas por halo
hiperêmico (seta) na cortical renal (A). Já em B, note áreas avermelhadas multifocais na superfície do córtex
renal que, ao corte, se estendem em formato de cunha.

Os infartos crônicos são pálidos, enrugados e fibróticos, resultando em distorção e depressão do contorno
renal. Na microscopia, observamos necrose de túbulos, glomérulos e interstícios, uma zona de infiltrado
inflamatório consistindo principalmente de neutrófilos e poucos macrófagos e linfócitos, além de capilares
congestos.

A cicatrização de uma área infartada ocorre mediante a lise, a fagocitose do tecido necrótico e a substituição
por tecido conjuntivo fibroso, que evoluiu para uma cicatriz. Nos infartos sépticos, o tecido necrosado sofre
necrose liquefativa, podendo desenvolver abscessos e, finalmente, uma grande cicatriz.

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Doenças do trato urinário caudal

Anomalias do desenvolvimento
Veja a seguir alguns tipos de anomalias:

Agenesia ureteral expand_more

Ocorre falha na formação do botão ureteral (uni ou bilateral), resultando na ausência de formação do
ureter.

Hipoplasia ureteral expand_more

O ureter adquire diâmetro pequeno, em razão do seu não desenvolvimento completo.

Ureter ectópico expand_more

Corresponde a uma localização anormal de desembocadura do ureter. O ureter pode se esvaziar na


uretra, na vagina, no colo da vesícula urinária, no ducto deferente ou na próstata. Os animais com
ureter ectópico são mais propensos à obstrução ou infecção e, assim, mais sujeitos à pielite e à
pielonefrite. Os animais apresentam incontinência urinária e eliminam a urinar por gotejamento.

Patência do úraco expand_more

É geralmente formada na onfalite neonatal. Os animais gotejam a urina pelo umbigo e ocorre mais
comumente nos equinos.

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Na imagem abaixo, note em A o ureter ectópico direito dilatado (seta azul) e ureter esquerdo normal (seta
amarela). Já B mostra cistotomia vesical para inserção cirúrgica do ureter ectópico esquerdo em região do
trígono vesical, realizado novo óstio uretral (seta amarela).

Ureter ectópico em cão.

Doenças obstrutivas
As urolitíases são cálculos urinários (urólitos) formados principalmente no ureter de bovinos, ovinos, cães e
gatos. Os cálculos são agregados de solutos urinários precipitados, principalmente minerais misturados com
proteínas urinárias e debris proteináceos.

A obstrução urinária ocorre principalmente nos machos, por causa da longa uretra de diâmetro reduzido. A
localização do cálculo uretral varia de acordo com a espécie animal. Nos bovinos, tende a se localizar na
uretra, na altura do arco isquiático e flexura sigmoide. Nos carneiros, a localização costuma ser no apêndice
vermiforme. Nos cães, próximo à base do pênis. Quando ocorre nas fêmeas, localiza-se na pelve renal e
vesícula urinária.

Saiba mais

Os urólitos à macroscopia são rígidos, com ninho central rodeado por lâminas concêntricas. Os cálculos
urinários resultam em pielite e pielonefrite e podem ser únicos ou múltiplos. A coloração depende de sua
composição, por exemplo, os cálculos de estruvita são esbranquiçados a acinzentados.

Os fatores importantes na formação de cálculos são:

O pH urinário, que precipita oxalato em pH ácido e estruvita e carbonato em pH alcalino;

Reduzido consumo de água;

Infecção bacteriana do trato urinário caudal;

Obstrução;

Corpos estranhos;

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Fármacos excretados na urina que podem funcionar como núcleo, como as sulfonamidas e tetraciclinas.

A supersaturação da urina é o precursor essencial para a iniciação da formação do urólito (nucleação). Os


cálculos levam à micção dolorosa ou difícil (estrangúria).

À macroscopia, observamos vesícula urinária distendida, túrgida ou rompida e os ureteres e a pelve renal
distendidos. A parede da vesícula urinária é fina, com focos de hemorragia transmural ou da mucosa, e a
urina pode conter coágulos sanguíneos. Notam-se, ainda, ulceração da mucosa, necrose do ureter e da
vesícula urinária e uretra adjacente ao cálculo obstrutivo. Caso ocorra o rompimento da vesícula urinária no
ante mortem, haverá peritonite aguda química induzida pela urina. Os cálculos levam a necrose local por
pressão, ulceração da mucosa e uretrite hemorrágica aguda.

Urolitíase e hipoplasia renal em cão.

Na imagem acima, note no rim direito a urolitíase associada à compressão e atrofia do parênquima renal. Já
no rim esquerdo, a hipoplasia renal e urolitíase. Na microscopia, observa-se mucosa ulcerada e áreas de
epitélio transicional hiperplásica com inflamação e hemorragia.

Hidroureter congênito em suíno.

A doença do trato urinário inferior felina (DTUIF) é a urolitíase de estruvita, ocorrendo em consequência da
alimentação com dietas calculogênicas contendo 0,15% a 1% de magnésio por matéria seca a gatos
normais. Os cálculos são induzidos por infecção e alto pH. Os acúmulos amorfos de proteína, debris
celulares e cristais de estruvita formam tampões uretrais arenosos.

O hidroureter e a hidrouretra são o acúmulo de urina no ureter e na uretra, respectivamente, devido a cálculos,
inflamação crônica ou neoplasia, podendo ser uni ou bilateral. Note, na imagem, a acentuada dilatação e
tortuosidade dos ureteres bilaterais por acúmulo de urina.

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Doenças inflamatórias
A cistite aguda tem como principal causa a infecção bacteriana. Ocorre quando as bactérias são capazes de
ultrapassar os mecanismos normais de defesa (urina ácida dos carnívoros, IgA secretória e mucina que inibe
a adesão bacteriana).

Atenção!
As fêmeas dos animais domésticos são mais propensas, por causa do curto tamanho da uretra.

Outros fatores que predispõem o desenvolvimento de inflamação da vesícula urinária incluem a estagnação
da urina por obstrução; eliminação incompleta durante a micção ou trauma urotelial; cateterização;
antibióticos que induzem resistência bacteriana; e glicosúria. Os metabólitos ativos da ciclofosfamida, que é
um fármaco para tratamento de doenças neoplásicas, também podem causar cistite. A clínica da cistite
inclui disúria, estrangúria e hematúria.

Exemplos de bactérias que induzem cistite são:

Escherichia coli uropatogênica;

Corynebacterium renale em bovinos;

Eubacterium suis em suínos;

Klebsiella sp. em equinos;

Proteus, Staphylococcus sp. e Streptococcus sp. nas diferentes espécies animais.

Veja a seguir as características macro e microscópicas:

Macroscopia

Observam-se a parede da vesícula urinária espessada por edema e por infiltrado inflamatório focal ou
difuso, hemorragia, mucosa com erosões e úlceras, mau odor e debris necróticos na mucosa.
close

Microscopia

Ocorrerá desnudação epitelial com colônias bacterianas na superfície, bem como hiperemia e

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hemorragias superficiais, edema da lâmina própria e infiltrado inflamatório neutrofílico difuso.

Se não tratada, a cistite pode evoluir para um quadro moderado e crônico. A seguir, observe as alterações
microscópicas da cistite em um cão. A diferença entre as intensidades leve, moderada e acentuada da cistite
deve-se à quantidade de células inflamatórias presentes. Na cistite acentuada, nota-se agravamento na
extensão da lesão e distúrbios circulatórios, como congestão e hemorragia.

Exame histopatológico da vesícula urinária de cão

Cistite leve. Coloração HE.

Cistite moderada. Coloração HE.

Cistite acentuada. Coloração HE.

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Dependendo do tipo de lesão, a cistite aguda pode ser classificada em hemorrágica, fibrinopurulenta,
necrosante e ulcerativa.

Comentário

A diferença entre as classificações é observada a partir do conteúdo/lesão presente na mucosa da vesícula


urinária.

A cistite hemorrágica em bovinos e bubalinos é causada pelo consumo da samambaia do campo, a planta
tóxica Pteridium esculentum subsp. arachnoideum. A ingestão crônica dessa planta pelos bovinos e
bubalinos resulta na síndrome hematúria enzoótica, que se manifesta como hemorragia aguda da vesícula
urinária, cistite crônica ou neoplasia da vesícula urinária. O princípio tóxico da samambaia tóxica é o
ptaquilosídeo.

Cistite hemorrágica associada à urolitíase em cão.

Na imagem, note a vesícula urinária com parede moderadamente espessa, mucosa intensamente hiperêmica
e com hemorragias, conteúdo sanguinolento e vários urólitos de tamanhos variados. Os urólitos são
amarelados e com superfície lisa.

A cistite crônica é a inflamação que persiste na vesícula urinária e pode ser dividida em difusa, folicular e
polipoide de acordo com os aspectos anatomopatológicos.

Na cistite difusa, a mucosa é avermelhada e espessada e ocorre descamação epitelial. A submucosa exibe
acentuado infiltrado inflamatório mononuclear e hipertrofia da camada muscular.

A cistite folicular resulta na proliferação linfoide branco-acinzentada circundada por hiperemia e está
associada à urolitíase crônica. Nota-se mucosa com hiperplasia das células caliciformes e infiltrado
inflamatório linfoplasmocitário, além de fibrose na lâmina própria e hipertrofia muscular.

Na imagem, note as formações nodulares branco-avermelhadas medindo poucos milímetros de diâmetro


localizadas na mucosa vesical e associadas à hiperemia do órgão.

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Cistite crônica folicular em cão.

A cistite polipoide ocorre principalmente em cadelas e resulta em inflamação e hiperplasia secundárias à


irritação crônica, as quais se originam da persistente inflamação do trato urinário ou da presença de urólitos.
Os pólipos são massas compostas de nódulos proliferativos de tecido conjuntivo (polipoide) misto de
neutrófilos e linfócitos.

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Doenças do trato urinário caudal
Neste vídeo, o especialista Luís Gustavo Picorelli responde às cinco perguntas mais procuradas na internet
sobre as principais doenças do trato urinário caudal.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Lesões tubulares podem ser subdivididas de acordo com a etiologia e o mecanismo lesional, resultando
em necrose tubular ou nefrose. A necrose tubular nefrotóxica pode ser provocada por quais
substâncias?

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A Neomicina, anfotericina B, chumbo, citrinina e Pteridium esculentum subsp.


arachnoideum.

Aminoglicosídeos, fenilbutazona, mercúrio, ocratoxina A e Pteridium esculentum subsp.


B
arachnoideum.

C Penicilina, cisplatina, neomicina, chumbo e Cestrum laevigatum.

D Aminoglicosídeos, anfotericina B, chumbo, citrinina e Amaranthus spp.

E Enrofloxacina, gentamicina, ibuprofeno, ocratoxina A e Tetrapterys spp.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A nefrose tubular tóxica pode ocorrer pela ação de pigmentos como hemoglobina, mioglobina,
bilirrubina, metabólitos de antibióticos como aminoglicosídeos, oxitetraciclina, anfotericina B,
sulfonamidas e monensina, além de outras substâncias tóxicas como Amaranthus spp., chumbo,
toxinas bacterianas, toxinas fúngicas, como a citrinina, e anti-inflamatórios não esteroidais, por ação
tóxica direta às células.

Questão 2

A urolitíase é uma alteração do trato urinário comum em cães, apresentando sinais clínicos variáveis,
dependendo da localização e do tamanho do cálculo formado. A respeito dos cálculos urinários,
assinale a alternativa correta.

A obstrução urinária ocorre principalmente nas fêmeas, por causa da curta uretra e da
A
localização dos cálculos, na pelve renal e na vesícula urinária.

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A presença de sinais clínicos de hematúria e disúria é suficiente para o estabelecimento


B
de obstrução nas vias urinárias craniais.

Obstrução, corpos estranhos e fármacos excretados na urina podem funcionar como


C
núcleo do cálculo.

O pH urinário precipita cálculos de estruvita em pH ácido e cálculos de oxalato e


D
carbonato em pH alcalino.

Na macroscopia, observamos vesícula urinária retraída e os ureteres e a pelve renal


E
distendidos.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A formação de cálculos urinários depende de vários fatores, como infecções bacterianas, pH, obstrução,
corpos estranhos e fármacos excretados pela urina que funcionam como o núcleo do cálculo. Os
cálculos urinários são mais comuns nos machos, pelo fato de a uretra ser mais longa. A presença de
sinais clínicos como hematúria e disúria pode ocorrer também na obstrução das vias urinárias caudais.
O pH urinário precipita oxalato em pH ácido e estruvita e carbonato em pH alcalino, não o contrário. Na
macroscopia, observamos vesícula urinária distendida, repleta, e não retraída.

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2 - Neoplasias do trato urinário cranial e caudal


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as neoplasias do trato urinário de
animais de companhia e de produção.

Tumores epiteliais do rim

Adenoma renal
Os adenomas renais surgem a partir das células epiteliais do córtex renal. É um tumor raro em animais
domésticos e, quando encontrado, geralmente é uma lesão incidental na necropsia, uma vez que esses
tumores são clinicamente silenciosos. Entretanto, são relatados em todas as espécies e são menos comuns
que a variante maligna, o carcinoma.

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Adenoma renal em cão.

Os adenomas são tumores solitários, castanho-claros a esbranquiçados, localizados no córtex renal. Na


superfície de corte, são bem demarcados e protuberantes, e apenas neoplasias maiores apresentam centros
necróticos. Na imagem, note nódulo circunscrito e delimitado por cápsula em um polo renal.

Microscopicamente, os adenomas renais são desencapsulados e bem demarcados do córtex adjacente. Eles
são compostos por túbulos e ácinos e são subclassificados como tubulares, papilares ou sólidos, com base
no padrão histológico principal. Uma camada única de células epiteliais cuboides com amplo citoplasma
eosinofílico revestirá os túbulos ou projeções papilares. Os núcleos são únicos, localizados central ou
basalmente, e possuem um único nucléolo. Figuras mitóticas não são observadas ou são encontradas
raramente. Na imagem abaixo, note a proliferação de células neoplásicas de origem epitelial em arranjo
papilar.

Adenoma renal em equino.

Carcinoma renal
Os carcinomas renais são tumores epiteliais malignos de baixa incidência em animais domésticos.
Entretanto, em cães, gatos e cavalos, é o tumor renal primário mais comum. Em todas as espécies, os
principais sinais clínicos associados às neoplasias renais primárias ou secundárias são inespecíficas. Em
cães e gatos, os problemas clínicos relatados são massa abdominal, perda de peso, polaciúria, hematúria e
piúria. Os problemas inespecíficos são letargia, vômitos e anorexia.

Curiosidade
Em cães, os carcinomas renais são relatados em machos de meia-idade (idade média de 8 a 9 anos), mas
podem ser observados em cães com menos de 6 anos de idade.

Várias síndromes paraneoplásicas foram relatadas com tumores renais:

Policitemia vera;

Leucocitose;
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Osteopatia hipertrófica;

Hipoglicemia;

Hipercalcemia.

A maioria dos carcinomas são unilaterais, mas podem ser bilaterais e múltiplos. São caracterizados por
massas bem demarcadas localizadas no córtex, amarelas, castanho-amarronzadas a creme, muitas vezes
localizadas em um polo, e variam consideravelmente em tamanho, de 2cm de diâmetro a mais de 80% do
tamanho de um rim, podendo invadir a cápsula renal e entrar no espaço retroperitoneal e abranger e/ou
invadir a glândula adrenal adjacente.

Observe abaixo um carcinoma renal em cão:

Carcinoma renal em cão (A).

Carcinoma renal em cão (B).

Nas imagens anteriores, observe a extensa massa de coloração creme a branca na região medular e cortical
do rim de um cachorro com carcinoma renal (A). Já em (B), note múltiplos nódulos confluentes, que invadem,
substituem e deformam o parênquima renal de um cão com carcinoma renal. Além disso, há focos de
hemorragia e necrose.

Os subtipos histológicos de carcinomas renais em animais são sólidos, tubulares, papilares ou císticos, ou
ainda uma combinação desses subtipos. No cão, o mais comum é o sólido; nos outros animais, o padrão
tubular é o mais frequente.

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Os carcinomas renais tubulares possuem numerosos túbulos e ácinos de vários tamanhos, revestidos de
células epiteliais variando de bem diferenciadas a anaplásicas. Note, na imagem a seguir, a proliferação de
células neoplásicas de origem epitelial em arranjo tubular.

Carcinoma renal tubular em cão. Coloração de HE.

Os tumores papilares têm papilas ramificadas distintas que se projetam para espaços claros de tamanhos
variados. Note, na imagem a seguir, a proliferação de células neoplásicas de origem epitelial com foco de
infiltração na lâmina própria.

Carcinoma renal papilar em cão. Coloração de HE.

Os tumores sólidos contêm células epiteliais justapostas entre si. Não formam túbulos, ácinos ou papilas,
embora focos com essas estruturas possam ser vistos em algumas regiões do tumor.

O padrão cístico apresenta cistos de vários tamanhos e pode conter substância homogênea eosinofílica.

Saiba mais
Os locais mais prováveis de metástase de carcinoma renal são pulmão, fígado e linfonodo regional.

Dermatofibrose nodular e renal


Essa síndrome única e rara é hereditária em cães da raça Pastor alemão e produz múltiplos nódulos fibrosos
subcutâneos que podem preceder ou ser concomitante com leiomiomas uterinos e/ou múltiplos cistos
renais, adenomas ou adenocarcinomas, uni ou bilateral. É causada por mutações no gene da foliculina, um

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gene dominante de herança. Essa condição também foi relatada nas raças Golden retriever, Boxer e mestiços
e é vista com mais frequência nas fêmeas.

A idade média dos cães afetados é de 8,5 anos, mas geralmente aparece entre 5 a
11 anos.

Macroscopicamente, os tumores epiteliais são, na grande maioria, bilaterais, múltiplos e/ou císticos e variam
de branco-amarelado a cinza. Os tamanhos variam de alguns milímetros a mais de 10cm para os tumores
sólidos e superior a 25cm para as porções císticas. Os cistos não neoplásicos contêm líquido gelatinoso,
claro a castanho-avermelhado e podem romper-se no peritônio. Eles podem ser encontrados em qualquer
lugar do corpo, mas são mais frequentemente vistos ao longo dos membros, dorso e cabeça.

Microscopicamente, são nódulos bem delineados e não encapsulados de fibroblastos benignos e colágeno
associado. Esses tumores têm áreas de padrão tubular, papilar ou sólido, ou variedades de padrões. A
transformação neoplásica e o crescimento dos tumores parecem ser lentos até que os cães tenham vários
anos de idade. Os locais mais comuns de metástases são linfonodos renais, peritônio, fígado, baço, pulmão,
pleura e osso.

Papiloma e carcinoma
O papiloma e os carcinomas de células uroteliais (transicionais), de células escamosas e indiferenciado
ocorrem raramente nos rins e, quando presentes, geralmente surgem do urotélio da pelve. O urotélio retém o
potencial embrionário para se diferenciar em epitélio glandular (secreção de muco), em epitélio escamoso e
de transição.

Os papilomas são raros e consistem em papilas revestidas por uma ou algumas camadas de células
epiteliais cúbicas ou colunares bem diferenciadas, que se projetam para o lúmen da pelve. Os crescimentos
papilares podem ocasionalmente ser vistos macroscopicamente na pelve.

O carcinoma indiferenciado é um termo usado quando as células tumorais são tão pouco diferenciadas que
a célula de origem não pode ser determinada.

Tumores embrionários (nefroblastoma/nefroma


embrionário)
O tecido de origem desse tumor é o blastema metanefrogênico e as células estromais a partir de uma célula-
tronco comum. O blastema normalmente se diferencia em unidades de néfrons, e células que não se

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diferenciam sofrem apoptose. Se esses eventos falharem, as células restantes serão potenciais fontes de
transformação neoplásica.

O tumor é uma mistura de epitélio embrionário (brotos glomerulares e túbulos), blastema indiferenciado e
mesênquima mixomatoso (estroma) em várias quantidades. As estruturas glomerulares nunca predominam,
mas sua presença juntamente com a idade do animal e a localização são fundamentais para o diagnóstico.

Essa é uma neoplasia congênita, e muitas se desenvolvem durante a vida fetal, mas não são detectadas até
mais tarde na vida, quando um problema clínico se torna óbvio.

Saiba mais
O nefroblastoma é a neoplasia renal primária mais comum em crianças, suínos, galinhas e peixes. É o
segundo mais comum tumor renal primário em gatos e o terceiro mais comum em cães.

Macroscopicamente, as neoplasias são unilaterais, únicas e em um polo, e estão localizadas no córtex.


Podem ser confinadas ao rim ou se estendem pela cápsula, onde aderem à parede corporal ou ao
mesentério. Exceções a isso aparecem como tumores bilaterais, múltiplos e com invasão da pelve. As
superfícies de corte são lobuladas, firmes, branco a castanho com áreas císticas e outras áreas nas cores
amarelo, cinza ou vermelho. Raramente, gordura, músculo, cartilagem e osso podem estar presentes.

Na imagem a seguir, note que o rim à esquerda de um coelho com nefroblastoma apresenta uma volumosa
massa neoplásica e friável, bem como uma coloração pálida. Entretanto, o rim à direita está normal.

Nefroblastoma em coelho.

Já na imagem a seguir, observe que houve a substituição total do órgão por massas de superfície irregular e
coloração predominantemente creme com focos hemorrágicos, em um cão com nefroblastoma.

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Nefroblastoma em cão.

Microscopicamente, caracterizam-se por uma mistura desorganizada de células epiteliais embrionárias


(túbulos e glomérulos). Os glomérulos embrionários são circundados por túbulos irregulares com lúmens de
vários tamanhos. Todas essas estruturas são abrangidas por quantidades variáveis de estroma
mesenquimal imaturo e levemente basofílico. Focos ou grandes regiões de células blásticas indiferenciados,
sem citoplasma visível, estarão presentes em todo o tumor.

Nefroblastoma em cão. Coloração de HE.

Na imagem, observe uma mistura desorganizada de células epiteliais embrionárias (túbulos e glomérulos),
embebidos em estroma mesenquimal levemente basofílico. Em suínos e aves, as metástases são raras,
entretanto, em cães e gatos, metástases são esperadas em mais de 50% dos casos. Os locais prováveis são
linfonodos mesentéricos, pulmão, fígado e rim contralateral.

Neoplasias mesenquimais do trato urinário cranial


Neoplasias primárias podem surgir de tecidos mesenquimais no rim. Os tumores mais comuns são sarcoma
indiferenciado, fibroma/fibrossarcoma e hemangioma/hemangiossarcoma, porém casos de
leiomioma/leiomiossarcoma serão encontrados, e raros exemplos de lipomas, osteoma, condroma, ou suas
contrapartes malignas são relatados.

Sarcomas indiferenciados
Aproximadamente 5% e 15% dos tumores renais primários em cães e gatos são sarcomas indiferenciados,
respectivamente. São neoplasias com acentuado pleomorfismo celular, e a confirmação pode ser obtida pela
técnica imuno-histoquímica, que revela citoqueratina negativa e vimentina positiva.

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Hemangioma e hemangiossarcoma
Quando os hemangiomas ou hemangiossarcomas são solitários, afirma-se então que sua origem é renal.
Quando o hemangiossarcoma é amplamente disseminado, torna-se difícil ou impossível distinguir a origem
multicêntrica de lesões metastáticas.

Hemangiossarcoma é um tumor comum de baço, átrio direito e pele em cães.

É menos comum como tumor primário no retroperitônio ou fígado e rim. Anemia e hematúria são as
manifestações clínicas mais comuns. São neoplasias avermelhadas, por vezes com cavidades preenchidas
por coágulo e fibrina. Os números de relatos são pequenos, mas parece que cães com hemangiossarcoma
renal têm taxas metastáticas mais baixas e tempos de sobrevivência mais longos do que aqueles com
hemangiossarcoma esplênico e em outras vísceras.

Fibroma e fibrossarcoma
Os fibromas e fibrossarcomas são responsáveis por aproximadamente 5% dos tumores primários de células
renais em cães e 2% em gatos. Como tumor primário, são raros em todas as outras espécies. São neoplasias
bem delimitadas, únicas ou múltiplas, e geralmente localizadas na junção corticomedular. Note, na imagem
a seguir, múltiplos nódulos pálidos e esbranquiçados na região cortical e pelve.

Fibroma renal em cão.

Microscopicamente, os fibromas apresentam células fusiformes com núcleos pontiagudos, sem bordas
celulares visíveis com colágeno que se cora pelas técnicas de tricrômico de Masson ou Van Gieson. O
fibrossarcoma é constituído pela proliferação de células fusiformes (fibroblastos) de origem mesenquimal
em arranjo de feixes de células entrelaçadas. Observe na imagem a seguir um corte histológico de um
fibroma.

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Fibroma. Coloração de HE.

Já o osteossarcoma é formado por osteoblastos neoplásicos em permeio à matriz osteoide acidofílica, como
observamos na imagem a seguir. Além disso, é possível ver um glomérulo renal no canto inferior esquerdo.

Osteossarcoma.

Neoplasias metastáticas do trato urinário cranial

Tumores metastáticos
Neoplasias metastáticas renais são mais comuns que neoplasias primárias. As metástases mais comuns
em cães são hemangiossarcoma, adenocarcinoma e linfoma; em gatos, o tumor mais comum é o linfoma.
Note, na imagem a seguir, massas de coloração branca e superfície sólida e lisa na região cortical e na pelve
renal com infiltração para o ureter (seta).

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Linfoma em rim de gato.

A maioria das neoplasias metastáticas para os rins também têm metástases nos pulmões. Uma exceção a
isso é o linfoma, no qual os tumores pulmonares são muito raros. Os marcadores imuno-histoquímicos
podem ajudar a identificar cânceres de sítio primário desconhecido.

Pulmão e rim com linfoma em bovino.

Na imagem, vemos múltiplas massas pálidas que substituem o parênquima renal. O lobo cranial direito do
pulmão apresenta vários nódulos pálidos. Histologicamente, ambas as massas de tecido são linfomas. Em
todas as espécies, o linfoma forma massas múltiplas de tamanho variado, macias e esbranquiçadas.

Note, na imagem que segue, áreas nodulares no parênquima. Ainda, observe que o rim está difusamente
aumentado e de cor esbranquiçada.

Linfoma renal em rato.

Microscopicamente, são caracterizados por células redondas e blásticas, com citoplasma pouco visível e
sem estroma de suporte. Normalmente existe pouca necrose ou hemorragia. Na imagem a seguir, note a

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proliferação de linfócitos neoplásicos de perfil redondo e nucléolo evidente. No canto inferior direito, observa-
se um glomérulo renal (seta).

Linfoma em rim de gato. Coloração de HE.

As neoplasias do córtex da adrenal ou feocromocitomas ocorrem com frequência nos rins, por metástase ou
por extensão de proximidade.

Neoplasias epiteliais do trato urinário caudal

Neoplasias da vesícula urinária e da uretra


A neoplasia da vesícula urinária não é rara em cães, mas incomum em todas as outras espécies. Uma
exceção é o gado que pasta em áreas endêmicas de samambaia do campo, a planta tóxica Pteridium
esculentum subsp. arachnoideum. Os bovinos desenvolvem uma condição denominada hematúria enzoótica
bovina (BEH), com múltiplos tumores na vesícula urinária, tais como: papiloma, carcinoma urotelial, fibroma,
hemangioma e outras variedades de neoplasias.

Como já sabemos, nessa planta, o princípio tóxico é ptaquilosídeo e ela pode desenvolver outras doenças,
por exemplo, carcinoma das vias digestivas craniais e diátese hemorrágica. Além disso, é importante
ressaltar que o rizoma e os brotos são tóxicos.

Fora desses nichos geográficos, a incidência de câncer de vesícula urinária é muito menor, em 0,01-0,1% do
gado em abatedouros. Os bubalinos também desenvolvem essa condição ao pastarem em campos com
samambaia tóxica. Os animais urinam sangue em até 90% dos casos.

Saiba mais

A osteopatia hipertrófica ocorre com alguma regularidade em animais com tumores de vesícula urinária e é
relatado em carcinomas uroteliais, adenocarcinomas, rabdomiossarcomas e nefroblastomas. A associação

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de osteopatia hipertrófica com rabdomiossarcomas na vesícula urinária de cães jovens é relatada com
frequência, mas em geral esse é um tumor incomum.

Alguns sinais clínicos de neoplasias de vesícula urinária e uretra são inespecíficos, como perda de peso,
fraqueza, claudicação e dispneia. Os específicos incluem: hematúria, disúria, polaciúria, dor abdominal e
incontinência urinária. A hematúria é devida à cistite concomitante e/ou ruptura dos vasos sanguíneos, seja
no tumor ou por contato e/ou invasão do tumor em áreas adjacentes.

Tumores epiteliais
Aproximadamente 90% das neoplasias da vesícula urinária em cães, gatos e cavalos são de origem epitelial
e são malignos. O carcinoma urotelial é o tumor mais comum em todas as espécies. Os termos carcinoma
urotelial e carcinoma de células de transição são sinônimos e podem fazer metástase para linfonodos e para
todos os órgãos. Vamos agora conhecer os principais tumores epiteliais?

Adenoma
Um tumor muito raro ou, pelo menos, raramente diagnosticado. Macroscopicamente, os adenomas são
idênticos aos papilomas. A característica distintiva é a formação de glândulas e a infiltração histológica
apenas na lâmina própria. Os tumores consistem em epitélio colunar desprovido de características
anaplásicas. Haverá áreas de epitélio de transição, e pode haver metaplasia escamosa. São observadas
glândulas ou espaços císticos revestidos por uma única camada de epitélio contendo quantidades variáveis
de mucina.

Carcinoma de células transicionais (carcinoma urotelial)


Trata-se de um tumor maligno derivado do epitélio de transição do trato urinário (urotélio). Pode ocorrer em
qualquer lugar da pelve renal e da uretra, porém a localização mais comum em cães é na área do trígono da
vesícula urinária. Veja abaixo duas imagens de carcinoma urotelial em cão:

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Na imagem, note as vesículas urinárias com massas multifocais coalescentes na mucosa do órgão de
coloração variando de creme a vermelho.

Macroscopicamente, a maioria dos tumores são solitários em cães, mas podem ser múltiplos e, em alguns
casos, quase toda a mucosa está coberta com tumor. A maioria infiltra-se nas camadas musculares,
produzindo uma parede da vesícula urinária espessa. As metástases peritoneais e distantes estão
frequentemente presentes no exame microscópico. A hidronefrose bilateral desenvolve-se secundariamente à
obstrução do fluxo de saída. Na imagem a seguir, note a pelve renal levemente dilatada e a massa na parede
da vesícula urinária (seta).

Hidronefrose e carcinoma de células de transição na vesícula urinária em cão.

Microscopicamente, o citoplasma é eosinofílico e abundante, com núcleos grandes, e as mitoses são


numerosas. São observados corpos de Melamed-Wolinska. Essas estruturas são características do
carcinoma urotelial.

orpos de Melamed-Wolinska
Grandes vacúolos citoplasmáticos vazios ou contendo material eosinofílico homogêneo ou pontilhado,
positivos para o ácido periódico de Schiff – PAS.

Carcinoma urotelial em cão. Presença de corpos de Melamed-Wolinska, esféricos e de coloração acidofílica. Coloração por PAS.

Na imagem a seguir, note o pleomorfismo caracterizado por anisocitose, anisocariose e figuras de mitose
frequentes.

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Carcinoma urotelial em cão. Coloração de HE.

Adenocarcinoma
A origem mais provável desses tumores é a metaplasia do epitélio de transição. Eles crescem como
estruturas papilares ou não papilares e infiltram a parede da vesícula urinária. Microscopicamente, observa-
se a formação de ácinos, túbulos e/ou glândulas com lúmen e um produto secretor. O epitélio de
revestimento é colunar, cuboide e caliciforme com algumas células de transição, mas a maioria do tumor
deve ter características glandulares para justificar esse diagnóstico.

Carcinoma indiferenciado
A maioria dos tumores primários da vesícula urinária são bem diferenciados, suficiente para serem
classificados em um tipo histológico. Quando um tipo de célula não pode ser reconhecida, a designação
indiferenciada é apropriada. São neoplasias com acentuado pleomorfismo.

Neoplasias mesenquimais do trato urinário caudal

Tumores mesenquimais
Aproximadamente 10% das neoplasias da vesícula urinária em cães são mesenquimais. Os tipos mais
frequentes são leiomioma e leiomiossarcoma, assim como hemangioma e hemangiossarcoma. Dependendo
da referência, aproximadamente 50% dos tumores de vesícula urinária em bovinos que pastam em campos
de Pteridium esculentum subsp. arachnoideum. são mesenquimais, mais de 80% são benignos, e a maioria é
de hemangiomas ou fibromas.

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Neoplasia de vesícula urinária em bovino.

Alguns tumores mesenquimais serão solitários, mas muitos têm um ou mais tumores do mesmo tipo de
célula ou diferentes tipos de células presentes na mesma vesícula urinária. Note, na imagem, lesões planas
ou nodulares de coloração vermelha, por vezes ulcerada na mucosa da vesícula urinária.

Leiomioma e leiomiossarcoma
Os tumores de músculo liso ocorrem principalmente em cães e são raros em todas as outras espécies. Os
leiomiomas produzem nódulos branco-amarelados discretos e salientes que se projetam para o lúmen da
vesícula urinária ou expandem a parede muscular.

A imagem mostra um leiomioma de vesícula urinária em cão. Note a massa de superfície externa irregular no
ápice da vesícula urinária. Há ainda hipertrofia da próstata e atrofia testicular. Microscopicamente, são
células fusiformes com bordas indistintas e núcleos ovais. Quando a organização histológica e/ou as
características celulares são anaplásicas, ou se houver invasão, células gigantes e uma alta contagem
mitótica, o tumor é classificado como leiomiossarcoma.

Leiomioma de vesícula urinária em cão.

Hemangioma e hemangiossarcoma
Essas neoplasias são muito comuns em bovinos com hematúria enzoótica, mas são tumores primários ou
secundários incomuns em todas as outras espécies. São neoplasias de coloração vermelho-enegrecida
formadas por trabéculas de células endoteliais preenchidas por variáveis quantidades de hemácias. Na

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imagem, note que as células neoplásicas são ora trabecular, ora sólidas com lúmens vasculares pequenos,
citoplasma de tamanho abundante e núcleo pleomórfico.

Hemangiossarcoma pobremente diferenciado em bovino. Coloração HE.

Tumores metastáticos
Exceto linfoma e metástase por extensão direta de neoplasias de próstata, reto ou útero, neoplasias
secundárias da vesícula urinária são extremamente raras. A maioria das metástases será na parede do
órgão, em vez de na superfície da mucosa. A exceção é o adenocarcinoma prostático ou carcinoma urotelial,
que se origina na uretra da próstata. Ambos podem se espalhar para a mucosa por meio de células ou
pedaços que se desprendem e implantam na superfície da mucosa.

video_library
Neoplasias mesenquimais do trato urinário caudal
Neste vídeo, o especialista Luís Gustavo Picorelli apresentará as principais neoplasias mesenquimais,
destacando os tipos, as características e peculiaridades encontradas em cada espécie.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

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Questão 1

As neoplasias da vesícula urinária são comuns em bovinos que pastam em áreas endêmicas de
samambaia do campo, a planta tóxica Pteridium esculentum subsp. arachnoideum. Sobre essa
enfermidade, assinale a alternativa correta.

Os bovinos desenvolvem uma condição denominada hematúria enzoótica, com


A
múltiplos tumores na vesícula urinária, todos de origem epitelial.

Os bubalinos também desenvolvem essa condição ao pastarem em campos com


B
samambaia tóxica.

O princípio tóxico da planta Pteridium esculentum subsp. arachnoideum é o ácido


C
monofluoroacetato de sódio.

Bovinos que consomem essa planta tóxica apresentam outras síndromes clínicas, como
D
diátese hemorrágica e carcinoma das vias áreas caudais.

A parte considerada tóxica nessa planta é apenas a brotação, que nasce rapidamente
E
após queima da pastagem.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Os bovinos e bubalinos que pastam em locais com a samambaia tóxica podem desenvolver neoplasias
de vesícula urinária, que podem ser de origem epitelial e mesenquimal. O ácido monofluoroacetato de
sódio é o princípio tóxico das plantas que matam por morte súbita. O princípio tóxico da samambaia
tóxica é o ptaquilosídeo. Os bovinos que consomem a tóxica Pteridium esculentum subsp.
arachnoideum apresentam também as síndromes clínicas: diátese hemorrágica e carcinoma das vias
digestivas craniais. Além da brotação, o rizoma também é considerado tóxico.

Questão 2
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As neoplasias primárias mesenquimais renais podem surgir de tecidos mesenquimais do rim. Os


tumores mais comuns são sarcoma indiferenciado, fibroma, hemangioma, leiomioma e suas
contrapartes malignas. Sobre as neoplasias mesenquimais renais, é correto afirmar que

torna-se difícil ou impossível distinguir a origem multicêntrica de lesões metastáticas


A
quando o hemangiossarcoma é amplamente disseminado.

o exame imuno-histoquímico dos sarcomas indiferenciados revela citoqueratina positiva


B
e vimentina negativa.

os fibromas exibem, à microscopia, células fusiformes com núcleos abaulados, sem


C
bordas celulares visíveis.

o hemangiossarcoma é um tumor comum do baço, do átrio direito, do fígado, da pele e


D
dos rins em cães.

o hemangiossarcoma renal têm altas taxas metastáticas e tempos de sobrevivência


E
mais curtos do que aqueles em outras vísceras.

Parabéns! A alternativa A está correta.

O hemangiossarcoma é um tumor comum apenas no baço, no átrio direito, no fígado e na pele em cães
e, quando está disseminado, é difícil diferenciar a origem das lesões e das metástases. Nos rins, é um
tumor raro em todas as espécies animais. O hemangiossarcoma renal têm taxas metastáticas mais
baixas e tempos de sobrevivência mais longos do que aqueles com hemangiossarcoma esplênico e em
outras vísceras. A citoqueratina é um marcador de células epiteliais e a vimentina de células de origem
mesenquimal, portanto, o exame imuno-histoquímico dos sarcomas indiferenciados revela citoqueratina
negativa e vimentina positiva. Os fibromas exibem, à microscopia, células fusiformes com núcleos
pontiagudos, sem bordas celulares visíveis. Os núcleos abaulados/arredondados são vistos em
neoplasias de musculatura lisa.

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Considerações finais
Ao longo deste conteúdo, conhecemos as mais variadas patologias que acometem o trato urinário caudal e
cranial e neoplasias geniturinárias em animais domésticos e de produção. Exploramos as causas, as
diferentes características macroscópicas e microscópicas dessas patologias, permitindo garantir o
entendimento das enfermidades do sistema urinário como base contextual para a rotina clínica-patológica.

Dessa forma, o conhecimento das enfermidades do trato urinário cranial e caudal e neoplasias
correlacionadas resulta em informações fundamentais para a compreensão da clínica, do diagnóstico e do
prognóstico de pacientes com essas condições.

headset
Podcast
O especialista debaterá com uma especialista sobre as alterações patológicas no sistema geniturinário dos
animais. Eles pontuarão questões importantes do diagnóstico, quando devemos iniciar a investigação, quais
são os exames complementares, os cuidados com as amostras coletadas e o exame histopatológico em si,
quais são as preocupações e dicas para os veterinários clínicos.

Referências

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CADERNOS Técnicos de Veterinária e Zootecnia (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG). Belo
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ZACHARY, J. F. Bases da patologia em veterinária. Tradução de Alexandre Aldighieri Soares et al. 6. ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2018.

Explore +
Leia o artigo Ocorrência de hematúria enzoótica em búfalos no Brasil: aspectos epidemiológicos, clínicos e
patológicos, de Juliana F. Rocha e colaboradores, publicado no periódico Pesquisa Veterinária Brasileira, v.
42, em 2022.

Visite o Atlas de anatomia patológica no site da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa. Lá você
encontra imagens de diferentes patologias divididas por animais. Vale a pena a visita!

Conheça o Atlas de patologia macroscópica de cães e gatos do CRMV-MG/UFMG de 2017. Lá você


encontra, além das patologias estudadas no nosso conteúdo, outras patologias importantes que acometem
esses animais.

Visite o Atlas de anatomia patológica veterinária da Universidade de Cornell nos Estados Unidos. O site
detalha as diferentes patologias divididas por sistemas orgânicos em diferentes animais mamíferos
domésticos.

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01/12/2022 06:23 Anatomia patológica do sistema urinário e neoplasias urinárias

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