Você está na página 1de 46

1

O texto transcrito de Mundt, Lillian A. Exame de urina e de fluidos corporais de Graff [recurso eletrônico] /
Lillian A. Mundt, Kristy Shanahan E DE OUTROS AUTORES citados na bibliografia e nos endereços
eletrônicos citados nas notas de rodapé busca facilitar o acompanhamento, a discussão e a compreensão
dos assuntos estudados em sala de aula evitando, dessa forma, demoradas anotações em cadernos. Em
nenhum momento dispensa a leitura das bibliografias consultadas e sugeridas.

Exame do sedimento urinário

O exame microscópico da urina é o procedimento laboratorial mais comum utilizado para a


detecção de doença renal ou do trato urinário. A interpretação do sedimento urinário requer
tempo, prática, treinamento e experiência adquirida através do uso constante de vários métodos
de microscopia e pela correlação contínua dos dados no sedimento com os resultados
macroscópicos e estado clínico do paciente. [...] Os microscopistas também devem ficar atentos
em relação à relevância clínica dos dados urinários bem como das anormalidades clínicas
comuns associadas com as interpretações microscópicas.

Elementos Formados da Urina

O sedimento urinário centrifugado contém todos os materiais insolúveis (elementos formados)


que acumularam na urina no processo de filtração glomerular e durante a passagem do líquido
através dos túbulos renais e trato urinário inferior. São eles:
1. Células que ser originam de duas fontes:
1.1 descamação ou esfoliação espontânea de células epiteliais que revestem o trato
urinário superior (rins) e inferior e as estruturas adjacentes;
1.2 células do sangue circulante que são os leucócitos e os eritrócitos.
2. Cilindros formados nos túbulos renais e ductos coletores.
3. Micro-organismos: bactérias, fungos, vírus de inclusão celular, parasitas.
4. Células neoplásicas: representam elementos estranhos ao sistema urinário (HENRY,
2012).

Os valores normais ou de referência para os elementos formados varia de laboratório para


laboratório em virtude
1. Da variação na concentração de amostras urinárias aleatórias coletadas;
2. Dos diferentes métodos utilizados para concentrar o sedimento por centrifugação.
Os laboratórios estabeleceram individualmente seus valores de referência, frequentemente, em
conjunto com nefrologistas e nefropatologistas (HENRY, 2012).

Componentes Microscópicos do Sedimento Urinário


2

Células

ERITRÓCITOS

Em alta resolução, os eritrócitos aparecem com discos pálidos. Eles apresentam alguma variação

de tamanho, mas usualmente possuem cerca de 7 m de diâmetro (HENRY, 2012).


Em amostras não recentes, a célula aparece como círculos incolores e esmaecidos ou como
células fantasmas, pois a hemoglobina pode se dissolver. Essas membranas são mais evidentes
na microscopia de fase (HENRY, 2012).
Em urinas hipertônicas elas podem ser tornar crenadas e se assemelharem a uma célula
pequena e grosseira com bordas onduladas. Células lisas, dobradas ou crenadas podem ser
observadas na mesma amostra (HENRY, 2012).
Em certas ocasiões, os eritrócitos podem ser confundidos com gotículas de óleo ou células de
leveduras. Entretanto, as gotículas de óleo apresentam uma grande variação de tamanho e são
altamente refringentes. As células de levedura usualmente apresentam brotos e não se coram.
Os eritrócitos são encontrados em pequenas quantidades na urina normal.
Nos indivíduos normais, eritrócitos ocasionais (0-2 por campo de alta resolução) podem ser
observados ao exame microscópico do sedimento (HENRY, 2012).

Hemácias. Figura da esquerda: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Hemat%C3%BAria>.


Acesso em: 04 ago. 2019.
Hemácias. Figura central: Disponível em: <https://www.renalfellow.org/2008/12/14/microhematuria-
in-potential-kidney/>. Acesso em: 04 ago. 2019.
Leveduras. Figura da direita: Disponível em: <https://www.biomedicinabrasil.com/2014/05/urina-
tipo-1.html>. Acesso em: 04 ago. 2019.

Eritrócitos dismórficos

Quando quantidades aumentadas de eritrócitos são encontradas na urina em conjunto com


cilindros hemáticos, pode-se considerar que o sangramento possui uma origem renal.
3

Na ausência de cilindros ou proteinúria, o aumento de eritrócitos sugere um local de sangramento


distal do rim (HENRY, 2012).

Eritrócitos com morfologia dismórfica ou aberrante são específicos na detecção do sangramento


glomerular. Essas células deformadas são melhor observadas em microscópio de fase.
Quando 80% ou mais dos eritrócitos não apresentam deformação e são uniformes, eles são
considerados não glomerulares (origem tubular ou associados a cálculos ou doença do trato
urinário inferior). As pessoas normais também apresentam uma mistura de eritrócitos deformados
e não deformados na urina (HENRY, 2012).
Números de eritrócitos aumentados na urina podem estar presentes na
1. Doença renal, incluindo a glomerulonefrite, nefrite lúpica, nefrite renal, nefrite intersticial
associada com reação a drogas, cálculos, tumor, infecção aguda, tuberculose, infarto,
trombose da veia renal, trauma (incluindo biópsia renal), hidronefrose 1, rim policístico2 e,
ocasionalmente, necrose tubular3 aguda e nefroesclerose maligna4;
2. Doença do trato urinário inferior, incluindo infecções agudas e crônicas, cálculos, tumor,
estenose e cistite hemorrágica após terapia com ciclofosfamida;
3. Doença extrarrenal, incluindo a apendicite aguda, salpingite, diverticulite e tumores do
cólon, reto e pelve, episódios febris agudos, malária, endocardite bacteriana subaguda,
poliarterite nodosa5, hipertensão maligna, discrasias sanguíneas 6 e escorbuto7;
4. Reações tóxicas devidas a drogas como as sulfonamidas, salicilatos, metanamina e terapia
anticoagulante;
5. Causas fisiológicas, incluindo exercícios (HENRY, 2012).

1
Hidronefrose é a dilatação da pélvis e dos cálices do rim, como consequência da obstrução do trato urinário. Distúrbio causado
pelo excesso de líquido em um rim devido ao acúmulo de urina. Disponível em: <
https://www.hospitalinfantilsabara.org.br/sintomas-doencas-tratamentos/hidronefrose/>. Acesso em: 12 jul. 2019.
2
Rins policísticos, ou doença renal policística (PKD, sigla de Polycistic Kidney Disease) é uma moléstia genética, relativamente
comum, progressiva e hereditária, determinada por mutações nos genes PKD1 (85% dos casos) e PKD2 (15% dos casos).
Distúrbio hereditário em que grupos de cistos se desenvolvem nos rins. Disponível em: <
https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/rins-policisticos/>. Acesso em: 12 jul. 2019.
3
A necrose tubular aguda é caracterizada por lesão renal decorrente de lesão tubular aguda e disfunção. As causas comuns
são hipotensão ou sepse que provoca hipoperfusão renal e drogas nefrotóxicas. Disponível em: <
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-geniturin%C3%A1rios/doen%C3%A7as-tubulointersticiais/
necrose-tubular-aguda>. Acesso em: 12 jul. 2019.
4
A Nefroesclerose Maligna é uma doença renal associada à fase maligna ou acelerada da hipertensão. É relacionada à
hipertensão prévia, formas secundárias de hipertensão arterial sistêmica (HAS) ou doença renal crônica subjacente. Disponível
em: < http://petdocs.ufc.br/index_artigo_id_470_desc_Patologia_pagina_2_subtopico_49_busca_>. Acesso em: 12 jul. 2019.
5
A poliarterite nodosa (PAN), panarterite nodosa, periarterite nodosa ou doença de Kussmaul-Meier é uma inflamação que
danifica artérias medianas e pequenas (vasculite) causado pelas células autoimunes, levando a formação de aneurismas
nodulares nestes vasos que podem romper e sangrar. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Poliarterite_nodosa >. Acesso
em: 12 jul. 2019.
6
Discrasia é uma alteração sanguínea, do tipo leucopenia, agranulocitose ou anemia aplásica, que pode produzir-se pelo uso de
determinados medicamentos psicoativos, tais como a carbamazepina, clorpromazina e clozapina. Disponível em: <
http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerDicionario&idZDicionario=248 >. Acesso em: 12 jul. 2019.
7
Escorbuto é uma doença aguda ou crônica devida a uma carência de vitamina C, caracterizada por hemorragias, alteração das
gengivas e queda da resistência às infecções. Disponível em: < https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/biologia/o-que-e-
escorbuto.htm>. Acesso em: 22 jun. 2019. 
4

Leucócitos

Em microscopia de alta resolução, os leucócitos neutrofílicos aparecem como esferas granulosas


com cerca de 12 m de diâmetro. Os neutrófilos podem se tornar difíceis de serem diferenciados
das células epiteliais tubulares renais. Com uma pequena gota de ácido acético diluído sob uma
lamínula, os detalhes nucleares podem ser verificados. A degeneração dos segmentos nucleares
dos neutrófilos tornam a distinção com as células mononucleares difícil ou impossível.
Na urina hipotônica ou diluída, os neutrófilos tumefazem e os grânulos citoplasmáticos
apresentam movimentos brownianos. Além disso, os neutrófilos apresentam uma perda da
segmentação nuclear. Estudos clínicos demonstram que as fitas reagentes para a esterase
leucocitária com uma sensibilidade de 81% a 94% e uma especificidade de 69% a 83% são
valiosas para a confirmação de piúria de amostras de urina hipotônica (HENRY, 2012).

Leucócitos/piócitos. Figura da esquerda: Disponível em: <https://www.biomedicinabrasil.com/2014/05/urina-


tipo-1.html>. Acesso em: 04 ago. 2019.
Leucócitos/piócitos. Figura da direita: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Uran%C3%A1lise>. Acesso
em: 04 ago. 2019.

Piúria

Os números aumentados de leucócitos na urina, especialmente neutrófilos, são encontrados em


quase todas as doenças renais e doenças do trato urinário. Eles também podem estar
aumentados transitoriamente durante estados febris e após exercício extenuante. Quando
acompanhados por cilindros leucocitários ou cilindros mistos (leucócito-célula epitelial), os
aumentos de leucócitos são considerados de origem renal (HENRY, 2012).
A presença de muitos leucócitos (>20/campo de alta resolução utilizando uma lâmina padrão) ou
aglomerados de leucócitos no sedimento é considerada anormal. Contagens superiores a
5

30/campo sugerem uma infecção aguda. Culturas repetidas estéreis nessa condição podem
indicar tuberculose ou nefrite. Uma piúria intensa pode refletir ruptura de um abcesso renal ou do
trato urinário (HENRY, 2012).
Quantidades moderadas de leucócitos em conjunção com cilindros leucocitários podem refletir
uma doença renal bacteriana (pielonefrite aguda ou crônica) ou não bacteriana (glomerulonefrite
aguda, nefrite). A litíase8 em qualquer nível pode dar origem a uma quantidade aumentada de
leucócitos urinários seja pela infecção ascendente induzida pela estase, seja pela resposta
inflamatória localizada da mucosa (HENRY, 2012).
Tumores de bexiga, bem como vários processos inflamatórios localizados agudos ou crônicos,
também podem aumentar o número de leucócitos na urina. Entre esses três últimos distúrbios
encontram-se a cistite, prostatite, uretrite e balanite. Nas mulheres, a síndrome uretral aguda ou a
síndrome disúria-piúria está regularmente associada com um excesso de neutrófilo em amostras
urinárias coletadas com cuidados de assepsia. Entretanto, as contagens de colônias bacterianas
são menores do que as esperadas. Entre os agentes causais incluem-se a Chlamydia
trachomatis, bem como os estafilococos e os coliformes (HENRY, 2012).
Deve-se reconhecer que mesmo em circunstâncias normais, são encontrados alguns leucócitos
nas secreções do trato genital masculino e feminino e que aparecem na urina. Os leucócitos são
rapidamente lisados na urina hipotônica ou alcalina. Aproximadamente 50% são perdidos após
duas a três horas de repouso em temperatura ambiente. Portanto, a realização de um exame
imediato do sedimento urinário após a coleta é imperativa (HENRY, 2012).

Eosinófilos

Quando houver indicação clínica, a leucocitúria deve ser melhor analisada, buscando-se a
presença de eosinófilos. Quando é feita coloração adequada, pode-se observar eosinófilos
bilobados em pacientes com doença túbulo-intersticial associada com reação de
hipersensibilidade a drogas como a penicilina e seus análogos. A eosinofilúria também é
observada em outros distúrbios agudos do trato geniturinário. O padrão celular na nefrite
intersticial alérgica usualmente inclui muitos eritrócitos e algumas células epiteliais tubulares
renais (HENRY, 2012).

Linfócitos e Leucócitos Mononucleares

8
Lítíase ou cálculo são termos utilizados para designar formações pétreas de composições diversas (cálcio, colesterol, urato, etc.)
no organismo humano em especial nas vias urinárias e biliares e também nos animais, podendo levar a doenças. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Lit%C3%ADase>. Acesso em: 22 jun. 2019. 
6

Pequenos linfócitos estão normalmente presentes na urina, embora eles não sejam
rotineiramente reconhecidos. A diferenciação dessas células e dos histiócitos 9 é feita mais
facilmente nos esfregaços corados. Quando células mononucleares (histiócitos, linfócitos ou
células plasmáticas10) constituem 30% ou mais da contagem diferencial, é uma indicação de uma
inflamação crônica. Muitos linfócitos pequenos podem ser encontrados na urina durante a
rejeição de transplante renal. Quando presentes, os plasmócitos e linfócitos atípicos devem ser
registrados e é essencial a realização de uma investigação suplementar (HENRY, 2012).

CÉLULAS EPITELIAIS RENAIS

Células Epiteliais Tubulares Renais

Pequenas quantidades de células tubulares podem ser observadas na urina normal, refletindo a
descamação normal das células mais velhas. Elas estão presentes num número um pouco maior
na urina dos recém-natos normais (HENRY, 2012).
A coloração de Papanicolaou tem se mostrado eficiente na identificação das células tubulares

renais dos túbulos contornados proximais e distais. As células tubulares renais dos túbulos

contornados proximais e distais apresentam-se isoladamente e são grandes (14 a 60 m),

oblongas ou ovoides com citoplasma característico, eosinofílico e grosseiramente granulado.

Os núcleos podem ser múltiplos, mas são pequenos, com cromatina densa e raros nucléolos
(HENRY, 2012).
As células epiteliais dos ductos coletores pequenos e grandes medem entre 12 e 20 m e são

identificados pela sua forma característica cuboidal ou poligonal e pelo seu núcleo grande e

usualmente discretamente excêntrico. As propriedades citoplasmáticas incluem uma margem


endo-ectoplasmática basófila comumente observada nas células epiteliais transicionais (HENRY,
2012).

Significado clínico
9
Histiócitos mostram tamanhos e formas diferentes e podem transformar-se em macrófagos. Classicamente um
histiócito é uma célula com um núcleo em formato de rim e um citoplasma microvacuolado. Os histiócitos podem ser
multinucleados com um citoplasma maior. Disponível em: <https://screening.iarc.fr/atlasglossdef.php?key=Histi
%F3citos%20e%20pequenas%20c%E9lulas&lang=4>. Acesso em 22 jun. 2019.
10
O sistema imunológico é composto de vários tipos de células que atuam juntas no combate às infecções e outras
doenças. Os linfócitos são o principal tipo de célula do sistema imunológico. Existem dois tipos de linfócitos: células T
e células B. Quando as células B respondem a uma infecção, elas amadurecem e se transformam em células
plasmáticas. As células plasmáticas produzem os anticorpos (imunoglobulinas) que atacam e destroem os germes.
Disponível em: < http://www.oncoguia.org.br/conteudo/o-que-sao-celulas-plasmaticas/5363/752/>. Acesso em 22 jun.
2019.
7

Quantidades maiores de células epiteliais dos túbulos contornados proximais e distais renais são
observados nos casos de necrose tubular e intoxicação por certas drogas ou metais pesados
(HENRY, 2012).
Quantidades aumentadas das células epiteliais dos ductos coletores são observadas na rejeição
de transplante renal, necrose tubular aguda (fase diurética) e outras lesões isquêmicas renais.
Elas podem estar aumentadas na nefroesclerose maligna bem como nos casos de
glomerulonefrite aguda acompanhada por lesão tubular. A ingestão de várias drogas e produtos
químicos pode causar uma descamação tubular significativa. As células tubulares dos ductos
coletores são facilmente encontradas na urina após a intoxicação salicílica (HENRY, 2012).
Fragmentos epiteliais renais originários dos ductos coletores têm sido descritos. As células dos
túbulos contornados proximais e distais não são encontradas sob a forma de fragmentos. Três ou
mais células renais originárias dos ductos coletores constituem um fragmento epitelial renal e
indicam uma forma mais severa de lesão tubular renal com ruptura da membrana basal. Os
fragmentos epiteliais renais são indicadores de necrose isquêmica e são usualmente encontrados
acompanhando vários graus de lesão tubular e cilindros patológicos (HENRY, 2012).

Lipídeos nas Células Epiteliais Tubulares Renais

Corpos gordurosos ovais são células tubulares que absorvam lipoproteínas com colesterol e
triglicerídeos extravasados pelos glomérulos nefróticos. Dessa forma, os corpos gordurosos ovais
constituem uma forma de lipidúria. Os lipídeos podem estar na urina sob a forma de gotículas
livres de gordura. Os histiócitos podem absorver lipídeos tornando-se impossível diferenciá-los
dos corpos gordurosos ovais. Entretanto, o seu significado clínico é similar. A presença de
qualquer uma dessas formas de lipídeos acompanhada de uma proteinúria acentuada é
característica da síndrome nefrótica (HENRY, 2012).
Quando gotículas livres ou incorporadas contém grandes quantidades de colesterol, elas exibem
uma formação em cruz de malta sob luz polarizada. Quando elas contêm grandes quantidades de
triglicerídeos, os corantes de gordura (Óleo Vermelho O e Sudan III) são necessários para uma
identificação positiva dos lipídeos.

Pigmentos nas Células Epiteliais Tubulares Renais

Na hemoglobinúria ou na mioglobinúria, o pigmento heme é absorvido pelas células e convertido


em hemossiderina. As células transportadas de ferro descamam e são encontradas no sedimento
8

urinário. Os grânulos são amarelo-acastanhados e coram para o ferro com o azul da Prússia.
Essas células também são incorporadas aos cilindros.
Os grânulos de melanina são absorvidos pelas células tubulares nos raros casos de melanúria.
As células pigmentadas descamadas também podem ser observadas no sedimento. As células
tumorais pigmentadas também são encontradas em pacientes com metástases de melanoma na
bexiga. A bilirrubina colore todos os elementos do sedimento, incluindo as células epiteliais
tubulares renais e cilindros. Convém observar que a urobilina não colore as células ou os cilindros
(HENRY, 2012).
Enquanto as células dos túbulos contorcidos distais têm forma oval ou redonda, as células dos tubos
coletores são, geralmente, cúbicas ou poliédricas. O núcleo dessas células, geralmente excêntrico. Essas
células renais apresentam relação citoplasma/núcleo menor que as células de transição, de
aproximadamente 3/1.

Células tubulares renais


Figuras: COUTINHO, Tamara. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/euripedes/atlas-de-urinalise>.
Acesso em: 07 jul. 2019

Célula tubular renal. Disponível em: < http://www.enjoypath.com/cp/Chem/Urine-Morphology/>. Acesso em: 13 jul. 2019.

CÉLULAS EPITELIAIS DO TRATO URINÁRIO INFERIOR

Células Epiteliais Transicionais (Uroteliais)


9

Essas células revestem o trato urinário desde a pelve renal até os dois terços proximais da uretra.
Na urina, o seu tamanho varia de 40 a 200 m e elas possuem uma forma arredonda ou
piriforme. Os núcleos são arredondados e centrais. Ocasionalmente, essas células podem ser
binucleadas. Algumas dessas células podem ser encontradas na urina normal, refletindo a
descamação normal. A presença de grandes aglomerados ou camadas dessas células, na
ausência de uma manipulação (p.ex. cauterização) sugere a necessidade de um exame citológico
com coloração Papanicolaou em razão da possibilidade de existência de um carcinoma de células
transicionais em qualquer região situada entre a pelve renal e a bexiga.
O tamanho do núcleo é, aproximadamente o mesmo do núcleo das células pavimentosas, mas o
citoplasma dessas células aparece mais denso e apresenta maior número de inclusões, bem como maior
vacuolização. A relação citoplasma/núcleo das células de transição é de aproximadamente 5/1.
As células de transição podem apresentar forma caudada quando são originárias da pelve renal ou da base
da bexiga denominada de trígono.

CÉLULAS EPITELIAIS ESCAMOSAS

O terço distal da uretra é revestido por células epiteliais escamosas.


Na urina, essas células são grandes e achatadas, com citoplasma
abundante e núcleos centrais pequenos e arredondados.
Normalmente, as suas margens são dobradas. Ocasionalmente,
essas células são incorporadas aos cilindros. Muitas das células
escamosas presentes na urina do sexo feminino podem derivar da
vagina ou da vulva. Quando corada com a violeta-cristal safranina,
os núcleos são púrpuros e o citoplasma varia da cor rosa ao violeta. De modo geral, a presença
de células escamosas na urina feminina possui pouco significado diagnóstico. Grandes
quantidades em mulheres e homens não circuncisados pode ser uma fonte de contaminação.
As células de epitélio pavimentoso encrustadas de cocos-bacilos são denominadas de clue cells e tem
origem do epitélio vaginal. A presença dessas clue cells indica infecção vaginal por Gardnerella vaginalis e
pode ser verificada no exame microscópico de sedimento urinário não corado, mas, para evitar sérios
equívocos se recomenda que esta observação seja realizada em sedimento corado. O corante supravital de
Sterheimer Malbin pode ser utilizado para facilitar a observação dessas células.
10
11

Cilindros
Os cilindros são elementos exclusivamente de origem renal, formados nos túbulos dos

néfrons, principalmente no túbulo contornado distal e ducto coletor. Suas formas são
representativas da luz do túbulo, consistindo de lados paralelos e extremidades arredondadas.
O tamanho depende da área de sua formação. Pequenas quantidades podem estar presentes em
indivíduos normais, após exercício físico intenso acompanhando a proteinúria do exercício,
processos febris ou stress físico.
Nas doenças renais, os cilindros estão presentes em grande quantidade e sob diferentes formas.
(CARMO, Andréa Moreira S. Análise Laboratorial da Urina Humana: Urinálise. p. 88-9.)
A grande quantidade de cilindros e sob várias formas pode indicar que a doença renal é
disseminada e que muitos néfrons se encontram envolvidos.
Nas doenças renais crônicas, alguns cilindros apresentam uma aparência mais densa e são
denominados cilindros céreos.
A formação de cilindros aumenta com um pH baixo e com uma concentração iônica aumentada e
com a estase11 ou obstrução do néfron por células ou resíduos celulares. Os cilindros começam a
desintegrar numa urina diluída e alcalina ou na presença de bactérias que, provavelmente,
contribuem para a alcalinidade.
A urina normal possui uma quantidade muito pequena de proteínas – cerca de 150 mg/24horas. A
albumina e as globulinas plasmáticas de peso molecular baixo constituem 2/3 das proteínas e 1/3

é representado pela glicoproteína secretada pela porção grossa ascendente da alça de Henle

e, possivelmente, pelo túbulo distal. Ela é conhecida como proteína de Tamm-Horsfall. Há


um consenso geral que a proteína de Tamm-Horsfall forma a matriz de todos os cilindros. A
proteína forma uma malha de fibras que podem encarcerar células, fragmentos celulares ou
materiais granulares (HENRY, 2012).
A formação de cilindros é aumentada quando quantidades de proteínas plasmáticas acima do
normal entram nos túbulos. A proteína em excesso usualmente é a albumina, mas globulinas

como a imunoglobulina de Bence-Jones causam a formação de cilindros, bem como a

hemoglobina e a mioglobina. Possivelmente, as proteínas plasmáticas reagem ou combinam com


a proteína de Tamm-Horsalf para formar cilindros menos transparentes e cilindros granulosos
(HENRY, 2012).
O tamanho e a forma dos cilindros dependem do local de sua formação. Cilindros grandes são
observados nos túbulos dilatados ou na estase de em ductos coletores. Cilindros finos são
observados nos túbulos comprimidos por tecido intersticial aumentado de volume ou devido à

11
Estase: Parada da circulação de um líquido orgânico – de sangue, de humores et. [] Dicio. Dicionário virtual.
12

desintegração. Algumas vezes os cilindros são contorcidos e, ocasionalmente, apresentam uma


ramificação. Eles podem ser curtos e grossos ou longos. Os cilindros longos e retorcidos
aparecem quando ocorre a diurese após uma estase urinária. Com o passar do tempo, eles
começam a desintegrar e apresentam e acarretam afilamento e irregularidades. As fibras se
separam e acarretam um aspecto desfiado. São observadas extremidades em cauda e
afuniladas, e essas formas em desintegração são denominadas de cilindroides (HENRY, 2012).
HENRY, John Bernard. Diagnósticos Clínicos e Tratamento por Métodos Labotatoriais. p.
441
Os cilindros podem ou não ser contados, mas é importante que sejam classificados de acordo
com sua matriz e o tipo de inclusão presente.
Matriz dos cilindros

1. Cilindros Hialinos

Na microscopia de campo claro são cilindros transparentes, mas são facilmente


observados com a microscopia de fase. De acordo com Carmo (2012) são constituídos
quase inteiramente por proteína de Tamm-Horsfall. Quando largos podem indicar dilatação
tubular ou extrema estase do fluxo urinário no ducto coletor distal.
Para Henry (2012) na microscopia de fase, observa-se que o cilindro hialino contém alguns
grânulos finos o que não o classifica como cilindro granuloso.
Significado clínico:
São encontrados em grande quantidade nas doenças renais e transitoriamente após
exercício, nos estados febris, na insuficiência cardíaca congestiva e no tratamento com
diuréticos. Carmo (2012) afirma que os cilindros hialinos também são encontrados em
casos de glomerulonefrite, pielonefrite e nas doenças renais crônicas.

Cilindros hialinos
Ádamo Porto Gama. Disponível em: < http://adamogama.blogspot.com/2012/08/cilindros-na-urina.html >. Acesso
em: 21 jun. 2019. Imagem central e da direita.
13

Cilindros hialinos
Figuras: COUTINHO, Tamara. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/euripedes/atlas-
de-urinalise>. Acesso em: 07 jul. 2019

2. Cilindros céreos

Eles representam em estágio avançado do cilindro hialino e são facilmente visualizados


devido aos seu alto índice de refração (Carmo, 2012).
Na microscopia de campo claro, os cilindros céreos são possuem uma aparência lisa. Suas
margens são nítidas, mesmo com iluminação suavizada. Suas extremidades são rombas e
fissuras ou torções são observadas ao longo das margens laterais, indicando uma medida
de fragilidade (Henry, 2012).

Significado clínico:

Os cilindros céreos são frequentemente observados em pacientes com insuficiência renal


crônica, devido à estase do fluxo urinário, e em decorrência da rejeição aguda ou crônica
de um aloenxerto renal (Carmo, 2012).
Os cilindros céreos estão associados com a inflamação tubular e com a degeneração.
Quando incomumente largos, eles são conhecidos como cilindros da insuficiência renal.
EsseS cilindros portam a implicação da atrofia ou dilatação tubular avançada, que por sua
vez refletem o estágio final da doença renal (Henry, 2012).
14

Cilindros céreos
Figuras: COUTINHO, Tamara. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/euripedes/atlas-de-urinalise>. Acesso
em: 07 jul. 2019

Cilindros com inclusões

Grânulos pequenos (finos) e grandes (grosseiros), representam agregados proteicos plasmáticos


que passam para os túbulos a partir dos glomérulos lesados e restos celulares dos leucócitos,
remanescentes dos eritrócitos ou células tubulares renais lesados e principalmente de
precipitados salinos finos. Os agregados proteicos incluem o fibrinogênio, os imunocomplexos e
as globulinas. As gotículas de lipídeos alguma vezes são confundidas com grânulos grandes. Na
estase prolongada, os grânulos grandes dos cilindros podem se tornar menores (HENRY, 2012).
1. Cilindros granulosos

Eles são cilindros comuns. Parece não haver qualquer vantagem na separação dos tipos
de cilindros granulosos (HENRY, 2012).
O surgimento de cilindros granulosos grosseiros ou finos é representativo da desintegração
dos cilindros celulares ou leucocitários que permanecem nos túbulos com resultado de
estase urinária, podem ser de origem bacteriana, de cristais (uratos) ou agregados
proteicos (CARMO, 2012).
15

Significado clínico
Os cilindros grânulos aparecem nas doenças glomerulares e tubulares; na doença túbulo-
intersticial e na rejeição de aloenxerto renal. Os cilindros granulosos grosseiros aparecem,
junto com hematúria, nos casos de necrose papilar renal. É possível que alguns dos
grânulos finos representem precipitados de fosfato de cálcio no hiperparatireoidismo.
Esses grânulos finos desaparecem da matriz hialina quando a urina do paciente é
acidificada pela adição de cloreto de amônio e retornam quando a urina se torna mais
alcalina (HENRY, 2012).
Os cilindros granulosos são observados em estase do fluxo urinário, infecção do trato
urinário, estresse e exercício severo (CARMO, 2012).

Cilindros granulosos
Figuras: COUTINHO, Tamara. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/euripedes/atlas-de-urinalise>.
Acesso em: 07 jul. 2019.
16

Desintegração de células epiteliais dos túbulos


Cilindros granulosos
Figuras: COUTINHO, Tamara. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/euripedes/atlas-de-
urinalise>. Acesso em: 07 jul. 2019

2. Cilindros gordurosos ou adiposos

O material gorduroso é incorporado na matriz do cilindro através das células tubulares


renais carregadas de lipídeos. As gotículas de gorduras visíveis são triglicerídes e ésteres
de colesterol (HENRY, 2012).
Eles são produzidos a partir da decomposição dos cilindros de células epiteliais que
contém corpos adiposos ovais. As células do epitélio tubular renal absorvem lipídeos que
entram nos túbulos através dos glomérulos. São altamente refringentes e contém gotículas
de gordura amarelo-castanhas (CARMO, 2012).

Significado clínico

Eles são comuns na presença de uma proteinúria maciça e são uma das características da
síndrome nefrótica (CARMO, 2012; HENRY, 1999).
17

Cilindros adiposos
Figuras: COUTINHO, Tamara. Disponível em:
<https://pt.slideshare.net/euripedes/atlas-de-urinalise>. Acesso em: 07 jul. 2019

3. Cilindros de Hemossiderina
Os grânulos de hemossiderina nos cilindros derivam das células tubulares renais
carregadas de pigmentos (HENRY, 2012).

4. Cilindros de cristais
Ocasionalmente, são observados cilindros contendo uratos, oxalato de cálcio e
sulfonamidas (sulfametoxazol). Uma matriz é visível num cilindro de cristal verdadeiro. Os
cristais podem polarizar e são prontamente identificados no interior e em torno do cilindro
(HENRY, 2012).

Significado clínico
Esses cilindros indicam a deposição de cristais nos túbulos e nos ductos coletores. A
ocorrência de obstrução e a hematúria, possivelmente relacionadas com a lesão tubular,
são regularmente vistas com cilindros de cristais. Cilindros hialinos que incorporam
depósitos de cálcio foram descritos no hiperparatireoidismo (HENRY, 2012).

Cilindros pigmentados

1. Cilindros de hemoglobina (sangue)


18

Os cilindros de hemoglobina possuem uma coloração variando entre amarelo e vermelho.


As vezes a coloração é muito pálida e de difícil interpretação. Os cilindros de hemoglobina,
também conhecidos com cilindros de sangue, acompanham mais frequentemente os
cilindros hemáticos e a doença glomerular. Menos comumente, eles são observados com o
sangramento tubular e, raramente, com a hemoglobinúria (HENRY, 2012).

2. Cilindros de mioglobina
Esses cilindros são vermelho-acastanhados e aparecem na mioglobinúria após uma lesão
muscular aguda. Podem estar associados com a insuficiência renal aguda (HENRY, 2012).

3. Cilindros de bilirrubina e outros cilindros de drogas


A bilirrubina, encontrada na urina de pacientes com icterícia obstrutiva, colore os cilindros
de amarelo-acastanhado escuro. Drogas como a fenazopiridina produzem uma coloração
variando do amarelo ao laranja na urina ácida e colorem os cilindros e as células (HENRY,
2012).

Cilindros celulares

1. Cilindros hemáticos (Células vermelhas do sangue)

A presença desses cilindros na urina geralmente confirma o diagnóstico de doença


glomerular ou de sangramento parenquimatoso renal. A lesão glomerular (mais frequente
decorrente de uma alteração imunológica) permite que os eritrócitos escapem para os
túbulos. Com a proteinúria concomitante e se as condições forem ideais para a formação
de cilindros hemáticos formam-se no néfron distal. Na urina, esses cilindros possuem uma
coloração amarela na microscopia de baixa resolução. Um dos pré-requisito para a
identificação de um cilindro hemático é que as bordas do eritrócito sejam bem definidas em
pelo menos uma parte do cilindro. Se houver muitos eritrócitos, a matriz pode não ser
visível. Entretanto, também pode haver cilindros hialinos delicados com um ou dois
eritrócitos visíveis na matriz. Com a coloração supravital 12, os eritrócitos são incolores ou
lavanda numa matriz rosa. Quando ocorre estase no néfron, um cilindro hemático pode

12
Coloração supravital: A coloração supravital consiste na coloração das células após a morte somática e antes da
ocorrência da morte molecular, isto é, depois de removidas do organismo vivo, mas antes de cessarem todas as
atividades celulares. Os primeiros trabalhos sobre tal tipo de coloração foram feitos por Pappenhein e Israel em 1896.
Este método de coloração evidencia certas particularidades dos glóbulos sanguíneos, especialmente a substância
granulofilamentosa dos eritrócitos. Disponível em: <http://www.labdel.com.br/shop/azul-de-cresil/ >. Acesso em: 21
jun. 2019.
19

degenerar e aparecer na urina como um cilindro granuloso grosseiro e vermelho-


acastanhado. Tal cilindro é denominado de cilindro de hemoglobina ou de sangue. Na
ausência de bilirrubinúria concomitante ou terapia com fenazopiridina (ambas colorem
espontaneamente os elementos formados da urina), um cilindro granuloso grosseiro e
pigmentado deve levantar a suspeita de um cilindro de sangue. Raramente observam-se
cilindros de mioglobina com pigmento vermelho-acastanhado que se parecem com
cilindros de sangue. Isso ocorre na rabdomiólise 13 (HENRY, 2012).

Significado clínico

A presença de cilindros hemáticos no sedimento reflete a


existência de doenças incluindo muitas glomerulonefrites
agudas, nefropatia pela IgA, nefrite lúpica, endocardite
bacterina subaguda e infarto renal. Raramente, a doença
túbulo-intersticial pode permitir a entrada trans-tubular dos
eritrócitos com sua subsequente incorporação num cilindro.
Isso pode ocorrer na pielonefrite severa (HENRY, 2012).

2. Cilindros Leucocitários (Células sanguíneas, linhagem branca)


Os leucócitos usualmente penetram na luz tubular a partir do
interstício. Eles entram através e entre as células epiteliais tubulares. Por isso, as doenças
nas quais se espera encontrar cilindros leucocitários na urina são aquelas em que ocorre a
presença de exsudatos neutrofílicos e inflamação intersticial renais. A doença mais comum
que satisfaz esses critérios é a pielonefrite. Também é verdade que os cilindros
leucocitários podem estar presentes na doença glomerular em razão do efeito
quimioterápico do complemento, na nefrite intersticial e na nefrite lúpica, podendo também
se fazer presentes na síndrome nefrótica. De um modo geral, os cilindros leucocitários
refletem uma doença túbulo-intersticial14. Na microscopia de campo claro, os cilindros
leucocitários podem ser de difícil identificação, particularmente se houver ocorrido estase e
13
Rabdomiólise é uma síndrome de destruição do músculo esquelético com vazamento do conteúdo muscular que é
frequentemente acompanhada por mioglobinúria e se for suficientemente grave, pode ocorrer insuficiência
renal aguda com transtornos metabólicos potencialmente letais (Wikipédia). Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Rabdomi%C3%B3lise#Mioglobina_s%C3%A9rica_e_urin%C3%A1ria>. Acesso em: 21
jun. 2019
20

fragmentação ou fusão nuclear. A microscopia de fase pode ser útil delineando os


segmentos nucleares (HENRY, 2012).
A presença desses cilindros indica inflamação ou infecção no néfron ou na glomerulonefrite
e síndrome nefrótica (CARMO, 2012).

Cilindros leucocitários
Figuras: COUTINHO, Tamara. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/euripedes/atlas-de-urinalise>.
Acesso em: 07 jul. 2019

3. Cilindros de células epiteliais tubulares renais


As dificuldades encontradas em distinguir os leucócitos das células tubulares são
ampliados quando se tenta identificar cilindros nos quais ambos os tipos de células estão
presentes. A coloração supravital, a microscopia de fase e a coloração de Papanicolaou
são uteis para a diferenciação entre os cilindros epiteliais e os cilindros leucocitários
(HENRY, 2012).

14
A nefrite túbulo-intersticial é uma inflamação que afeta os túbulos renais e os tecidos que circundam os rins (tecido
túbulo-intersticial). Este distúrbio pode ser causado por várias doenças, medicamentos ou certas toxinas que
lesionam os rins. [...] A nefrite túbulo-intersticial frequentemente provoca insuficiência renal. Pode ser causada por
várias doenças, medicamentos, toxinas ou radiação que lesionam os rins. Disponível em:
<https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-renais-e-urin%C3%A1rios/dist%C3%BArbios-da-filtra
%C3%A7%C3%A3o-dos-rins/nefrite-t%C3%BAbulo-intersticial>. Acesso em: 21 jun. 2019.
21

Significado clínico
Os cilindros de células epiteliais tubulares são observados na urina na necrose tubular
aguda, doenças virais (p.ex., citomegalovírus) ou exposição a várias drogas. A intoxicação
por metal pesado, etileno-glicol e salicilatos podem acarretar o aparecimento de células
tubulares e cilindros na urina. Nas unidades de transplantes, essas células e cilindros
constituem um dos critérios mais confiáveis para a detecção de rejeição aguda de
aloenxerto após o terceiro dia de pós-operatório (HENRY, 2012).

4. Cilindros celulares mistos


Quando dois tipos celulares distintos estão presentes no
interior de um cilindro, o híbrido resultante é denominado
cilindro misto. Os exemplos são: leucócito/renal,
ertitrócito/leucócito, eosinófilo/renal, etc. Quando o tipo de
célula não pode ser estabelecido com certeza, o cilindro
resultante é conhecido como cilindro celular.
Algumas interferências sobre o tipo celular podem ser
esquematizadas a partir da população dominante das células
livres no sedimento circundante. Se não, o diagnóstico
Cilindros epiteliais diferencial é aditivo (p.ex., o de cilindros leucocitários e o de
Figuras: COUTINHO, Tamara.
Disponível em: cilindros de células epiteliais tubulares) (HENRY, 2012).

5. Cilindros largos
Os cilindros largos são definidos como aqueles com um diâmetro duas a seis vezes maior
do que o dos cilindros normais. Eles indicam uma dilatação tubular ou uma estase no ducto
coletor distal. Tipicamente, eles são encontrados em indivíduos com insuficiência renal
crônica e representam um mau prognóstico. Qualquer tipo de cilindro pode ser largo
(HENRY, 2012).
22

Disponível em: < https://sbci464ypd-flywheel.netdna-ssl.com/wp-content/uploads/2019/02/


Urinary_Casts.jpg>. Acesso em: 12 jul. 2019.
23

CRISTAIS

Algumas formações de cristais na urina são normais, embora a presença de cristais no sedimento
urinário pode, em determinados casos, estar ligada ao aparecimento de cálculo renal. A formação
de cristais ocorre pela precipitação dos sais presentes na urina submetidos a alterações de pH,
temperatura ou concentração que afetam sua solubilidade. A formação de cálculos renais
(urolitíase) depende de facilitadores tais como a constante supersaturação e agregação dos
cristais, infecção urinária ou ausência de inibidores da formação dos cálculos (por exemplo, o
citrato urinário). Depende ainda, da dieta do indivíduo (ingestão elevada de cálcio, proteínas,
refrigerantes, bebidas alcoólicas, vitamina C) e da ingestão insuficiente de água ou alterações no
pH da urina. A refrigeração da urina pode levar a precipitação de sais presentes na amostra e
consequente formação de cristais. Portanto, a sedimentoscopia da urina deve ser realizada com a
amostra em temperatura ambiente. O valor do pH urinário é utilizado para a identificação de um
dado cristal urinário.
(CARMO, 2012, p 99)

Cristais encontrados em urinas ácidas

Uratos amorfos, oxalato de cálcio, ácido úrico, leucina, tirosina, cistina e ácido hipúrico.

Cristais encontrados em urina ácida normal

1. Uratos amorfos (urato de cálcio, magnésio, sódio e potássio) - ( Amorphous Crystals)

O material amorfo frequentemente precipita na urina concentrada com um pH de solução


discretamente ácida como pequenos grânulos amarelo-acastanhados. O precipitado grosseiro
da amostra urinária pode ter uma coloração variando do rosa-alaranjado ao marrom-
avermelhado e, algumas vezes, é denominado de poeira de tijolo. Os grânulos formam
aglomerados e aderem às fibras e aos filamentos mucosos. Eles são convertidos em cristais
de ácido úrico com ácido acético e dissolvem com o calor (60º C) e com bases diluídas.
(HENRY, 2012, p. 444)
24

Cristais de uratos amorfos

Numerosos na urina fortemente ácida. Como o ácido úrico, só se apresentam como componentes


normais nos carnívoros. Aparecem como sais de urato ( sódio, potássio, magnésio e cálcio). Não
apresentam significado clínico.

Disponível em: < http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais-na-urina.html>. Acesso em: 20 jun. 2019.

Figura da esquerda:
grânulos de urato
25

Grânulos de uratos amorfos.

2. Uratos cristalinos (sódio, potássio e amônio)


Esses biuratos e uratos ácidos formam pequenas esferas marrons ou agulhas incolores na urina
discretamente ácida. As esferas se agregam em pares ou trios. Elas revertem lentamente a
placas de ácido úrico na acidificação com ácido acético adicionado à lâmina para microscopia.
(HENRY, 2012, p. 444)

3. Ácido úrico cristalino (Uric acid Crystals)

Os cristais de ácido úrico ocorrem num pH baixo (5 a 5,5). São encontrados sob várias formas e
os cristais normalmente são coloridos. Tipicamente, eles possuem quatro lados, são achatados,
amarelos ou vermelhos-acastanhados. Eles podem apresentar-se com outras formas (placas
rômbicas ou prismas, formas ovaladas com extremidades pontiagudas (forma de limão), cunhas,
rosetas, e placas irregulares. Raramente são incolores e hexagonais como a cistina.
(HENRY, 2012, p. 444)
26

Ácido úrico

Os estados patológicos em que se encontram aumentados no sangue são: Gota,


metabolismo das purinas aumentado, pode ocorrer em enfermidades febris agudas e nefrites
crônicas.

Disponível em: < http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais-na-urina.html>. Acesso em: 20 jun.


2019.

4. Ácido hipúrico (Hippuric acid Crystals)


27

Encontram-se cristais de ácido hipúrico na urina ácida, neutra ou ligeiramente alcalina. Estes
cristais incolores são prismas, placas, ou em forma de agulha. Estes cristais são frequentemente
aglomerados em massas.

Cristais de ácido hipúrico


Disponível em: < http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais-na-urina.html >. Acesso em: 20 jun. 2019.

5. Oxalatos de cálcio (Calcium Oxalate Crystals)


5.1 Oxalatos de cálcio diidratos são observados num pH 6 ou na urina neutra. Tipicamente
eles são pequenos octaedros incolores ou lembram envelopes. Também são
observados cristais grandes, algumas vezes aglomerados. São insolúveis em ácido
acético. Raramente, apresentam forma em halteres ou ovóide.
5.2 Oxalatos de cálcio monoidratados são observadas formas mais longas de oxalato se
comparadas com os cristais diidratados.

Cristais de oxalato de cálcio


Disponível em: < http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais-na-urina.html>. Acesso em: 20 jun.
2019.
28

Cristais de oxalato de cálcio monoidratado e diidratado


Disponível em: <https://forum.facmedicine.com/threads/types-of-crystals-found-in-human-urine-and-their-clinical-
significance.32774/>. Acesso em: 12 jul. 2019

Cristais encontrados em urina alcalina normal

Os fosfatos formam sais de sódio e potássio solúveis e sais de magnésio cálcio menos solúveis.
O fosfato de cálcio e o de magnésio são os menos solúveis na urina alcalina, o fosfato
monoidrogenado de cálcio e o de magnésio não são muito solúveis, mas os fosfatos
diidrogenados são solúveis num pH alcalino. Em geral, os fosfatos se dissolvem em ácido
clorídrico e o ácido nítrico diluídos e variam em solubilidade com o ácido acético. Eles não se
dissolvem em soluções diluídas de hidróxido de sódio ou álcool.
1. Fosfatos amorfos (cálcio e magnésio)
Esses grânulos amorfos incolores são encontrados na urina num pH de solução alcalina ou
ligeiramente ácida. Aglomerados ou massas são observados. Tipicamente os fosfatos
amorfos formam um precipitado macroscopicamente fino ou rendado.

2. Fosfatos cristalinos (cálcio e magnésio) – (Triple Phosphate Crystals or struvite)


Os cristais de fosfato triplo (fosfato de amônio e magnésio) são formados num pH alcalino,
frequentemente com a presença de uma infecção. Comumente apresentam uma variação
no tamanho. Apresentam-se como prismas incolores com três ou seis lados com
29

extremidades oblíquas denominadas “tampa de caixão”, sendo menos frequentes as


formas planas, tipo “samambaia”. Eles podem formar lâminas ou flocos incolores.

Cristais de fosfato triplo amoníaco magnesiano

Podem ocorrer nos seguintes estados patológicos: pielite crônica, cistite crônica, hipertrofia de
próstata e retenção vesical. Aparecem também em urinas normais. 

Disponível em: < http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais-de-urina-alcalina.html>. Acesso em:


20 jun. 2019.

Cristais de fosfato triplo amoníaco magnesiano


Disponível em: <>. Acesso em: 20 jun. 2019.
30

Os cristais de fosfato hidrogenado di-cálcico são prismas longos, com três lados e
extremidades pontiagudas. São encontrados na urina neutra ou discretamente ácida.
Formam aglomerados ou rosetas.
O fosfato de magnésio forma romboides incolores, alguns com extremidades ou cantos
chanfrados. Raramente são reconhecidos.

Cristais de fosfato de cálcio


Disponível em: <http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais-de-urina-alcalina.html>.
Acesso em: 20 jun. 2019

3. Carbonato de cálcio (Calcium Carbonate Crystals)

Os cristais de carbonato de cálcio


são cristais incomuns na forma de
pequenos grânulos ou esferas
incolores. Eles formam pares ou
grupos de quatro na urina alcalina.
O carbonato de cálcio produz
dióxido de carbono com ácidos.
31

4. Biurato de amônio (Ammonium Biurate Crystals)


Os cristais de biurato de amônio se formam na urina alcalina. Também são encontrados na urina
neutra e, ocasionalmente, na urina levemente ácida. São usualmente encontrados com cristais de
fosfatos e fosfatos amorfos.
Esferas amarelo-acastanhadas
são denominadas de figo
selvagem, apresentando estrias
radiais ou concêntricas e
projeções irregulares ou
espinhos ou chifres.
De acordo com Carmo
(2012), os cristais podem
ser associados com a
presença de amônia
Cristais de biurato de amônio.
produzida por bactérias
Disponível em: <https://forum.facmedicine.com/threads/types-of-
que metabolizam a ureia. crystals-found-in-human-urine-and-their-clinical-significance.32774/>.
Acesso em: 12 jul. 2019
32

Cristais de biurato de amônio

Urato ou biurato de amônio pode aparecer em urinas alcalinas, ácidas ou neutras. São corpos
esféricos castanhos amarelados, com espículas longas e irregulares. São patogênicos se
aparecem em urina recém-emitida, como ocorre em doenças hepáticas. Podem ocorrer em
doenças hepáticasSão solúveis aquecendo a urina ou acrescentando o ácido acético e, se
ficar em repouso, formam cristais de ácido úrico.A precipitação de solutos depende do pH
urinário e da solubilidade e concentração do cristaloide.

Disponível em: <http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais-de-urina-alcalina.html>. Acesso em:


20 jun. 2019

Eles são dissolvidos com o aquecimento a 60º C com ácido acético, reaparecendo como cristais
típicos de ácido úrico após cerca de 20 minutos.

Cristais encontrados na urina anormal


Quando cristais incomuns são encontrados na urina é aconselhável verificar o tratamento
medicamentoso do paciente.

1. Cristais de Cistina (Cysteine Crystals)

Os cristais de cistina são encontrados num pH de solução ácida. Eles são lâminas
hexagonais incolores e refringentes, apresentando-se, às vezes, em pares. São solúveis
em água num pH inferior a 2 e superior a 8. Podem ser confundidos com as formas
hexagonais de ácido úrico. Enquanto os cristais de ácido úrico polarizam, os de cistina não
o fazem, embora as formas laminadas espessas polarizem.
Tanto o ácido úrico quanto a cistina são solúveis em água amoniacal, mas a cistina
também é dissolvida pelo ácido clorídrico, mas o ácido úrico não.
Cristais de cistina são placas planas incolores e têm a característica cristais de forma hexagonal
com lados iguais ou desiguais. Eles ocorrem em urina ácida que estão associados com uma
33

doença hereditária. Presença de cristais de cistina representa um defeito tubular proximal na


reabsorção de aminoácidos.

Cristais de cistina

A presença desses cristais tem sempre significado clínico, como na cistinose, cistinúria congênita,
insuficiente reabsorção renal ou em hepatopatias tóxicas.

Disponível em: <http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais.html>. Acesso em: 20 jun. 2019.

2. Cristais de Bilirrubina (Bilirubin crystals)

Os Cristais de bilirrubina são cristais anormais na urina. Eles se formam a partir de bilirrubina
conjugada e são cristais tipo agulha em formato granular de cor amarela. Frequentemente estão
ligados à superfície das células. Cristais de bilirrubina são vistos em várias doenças hepáticas.
 

Cristais de bilirrubina
Disponível em:< https://forum.facmedicine.com/threads/types-
of-crystals-found-in-human-urine-and-their-clinical-
significance.32774/>. Acesso em: 12 jul. 2019.
34

3. Cristais de Tirosina (Tyrosine Crystals)

Os cristais de tirosina são incomuns, apresentando-se como agulhas finas e sedosas que podem
se arranjar em feixes ou grumos, especialmente após a refrigeração. Eles são incolores ou
amarelos, parecendo pretos à medida em que o microscópio focaliza. São solúveis em bases
(amônio e hidróxido de potássio) e em ácido clorídrico diluído. Não são solúveis em álcool ou
éter. São menos solúveis do que a leucina e, por isso, são mais frequentemente precipitados na
urina.

Cristais de tirosina
Aparecem em enfermidades hepáticas graves ou em tirosinose.
Disponível em: <http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais.html>. Acesso em: 20 jun. 2019.

Disponível
em:< https://forum.facmedicine.com/threads/types-of-crystals-found-in-human-urine-and-their-clinical-
significance.32774/>. Acesso em: 12 jul. 2019.
35

4. Cristais de Leucina (Leucine Crystals)

São cristais raros. Os cristais são esferas amarelas com aspecto oleoso e com estrias
radiais e concêntricas. Os cristais de leucina e tirosina podem ocorrer conjuntamente. A
leucina pode ser precipitada com os cristais de tirosina se for feita adição de álcool na
urina. Eles são solúveis em ácidos e bases. Diferentemente dos glóbulos gordurosos, a
leucina não é solúvel em éter e pode ser diferenciado da gordura.

Cristais de Leucina

Tem significado patológico importante como em enfermidades hepáticas em fase terminal,


como a cirrose, hepatite viral, atrofia amarela aguda do fígado e em severas lesões
hepáticas provocadas por envenenamento por fósforo, tetracloreto de carbono ou
clorofórmio. Nas doenças hepáticas, estão normalmente associados a cristais de tirosina. 
Disponível em: < http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais.html>. Acesso em: 20 jun.
2019.
Figura da direita:

5. Cristais de sulfonamida (sulfatiazina) – (Sulfanomide Crystals)

Os cristais são observados na urina com pH de solução ácida, usualmente inferior a 6.


São observadas várias formas, dependendo da forma da droga envolvida. Ocasionalmente
são incolores, mas usualmente são amarelo-acastanhados. Possuem um aspecto de feixe
de trigo com amarra central ou feixes estriados com amarras ecêntricas, rosetas, pontas de
flecha, pétalas, agulhas e formas arredondadas com estrias radiais.
Reação com diazo confirma esses cristais.
36

Acetylsulfadiazine, como feixes de trigo com ligação excêntrica e células vermelhas do sangue,

Roseta de sulfametoxazol (Septra) e células vermelhas do sangue

6. Cristais de Indinavir
O indinavir é um medicamento usado para tratar o HIV. Pode causar a formação de cristais na
urina. Os cristais de indinavir podem assemelhar-se a explosões de estrelas, placas
retangulares ou ventiladores. Disponível em: < https://microbenotes.com/types-of-crystals-in-urine/>. Acesso em: 13 jul.
2019.
37

Figura: Cristais de Indinavir, Fonte: Yadav Raj (Pinterest)

7. Ampicilina (dose alta) – Esses cristais ocorrem em pH de solução ácida. Cristais longos, finos e
incolores formam feixes grosseiros após a refrigeração.

8. Contraste radiológico (diatrizoato de meglumina) – esses cristais são observados num pH


ácido, logo após a realização de estudos radiológicos intravenosos. Lâminas rômbicas
chanfradas, achatadas, claras e incolores ou retângulos finos são observados. São facilmente
polarizados, apresentando cores interferentes. Também são encontrados após cistogramas
retrógrados como agulhas longas e incolores formando aglomerados após a refrigeração.
38

9. Colesterol (Cholesterol Crystals

Cristais de colesterol

Seu aparecimento indica uma excessiva destruição tissular e em quadros nefróticos, como
também na quilúria, está em consequência da obstrução a nível torácico ou abdominal da
drenagem linfática, ou por ruptura de vasos linfáticos no interior da pélvis renal ou no trato
urinário.

Disponível em: < http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais.html>. Acesso em: 20 jun. 2019

10. Cristais de cistina (Cysteine Crystals)

Cristais de cistina

Cristais de cistina são placas planas incolores e têm a característica cristais de forma hexagonal
com lados iguais ou desiguais. Eles ocorrem em urina ácida que estão associados com uma
39

doença hereditária. Presença de cristais de cistina representa um defeito tubular proximal na


reabsorção de aminoácidos.

Principais cristais encontrados em urina


40

Disponível em: < https://www.imgrumweb.com/hashtag/cristaisdeurinaalcalina >. Acesso em: 21 jun. 2019.


41

Miscelânea de outros cilindros ou estruturas similares a cilindros

Ocasionalmente bactérias podem ser incorporadas na matriz do cilindro. Com coloração


supravital elas apresentam coloração púrpura escura numa matriz rosa-pálida. Os filamentos
mucosos são comumente confundidos com cilindros. Entretanto, eles são mais largos, longos e
em forma de fita, com má definição de bordas e extremidades pontiagudas ou divididas. Com a
microscopia de fase, eles são imediatamente visíveis no fundo do sedimento (HENRY, 2012).

Novos cilindros vêm sendo identificados quando corados pelo método Papanicolaou. A urinálise
citodiagnóstica permite uma maior exatidão na identificação e quantificação dos tipos de cilindros
e de quaisquer inclusões presente. Os métodos imunocitológicos vêm sendo desenvolvidos para
analisar os sedimentos urinários com a utilização de anticorpos monoclonais (HENRY, 2012).

Sedimento telescopado
Sedimento telescopado é o termo utilizado para descrever a ocorrência simultânea de elementos
da glomerulonefrite aguda e crônica, bem como daqueles que ocorrem na síndrome nefrótica, na
mesma amostra de urina. Um sedimento telescopado pode, portanto, incluir eritrócitos, cilindros
hemáticos, cilindros celulares, cilindros céreos largos, gotículas de lipídeos, corpos gordurosos
ovais e cilindros gordurosos (HENRY, 2012).
Significado clínico
Tal sedimento pode ser encontrado nas doenças vasculares do colágeno, sobretudo na nefrite
lúpica, e na endocardite bacteriana subaguda (HENRY, 2012).

Células Anormais e Outros Elementos Formados

Células tumorais
As células tumorais malignas esfoliadas da pelve renal, ureter, parede vesical e uretra são
melhores identificadas com a utilização de técnicas citológicas.
Células com inclusão viral
Células epiteliais com corpos de inclusão podem ser encontradas no sedimento urinário de certas
doenças virais. Células gigantes sinciciais contendo inclusão intranuclear eosinofílica são
observadas em pacientes com infecção herpética. Nas crianças ou pacientes imunodeprimidos
com doença de inclusão citomegálica, células epitelioides com inclusão intranuclear basófila ou
corpos citoplasmáticos podem ser observadas no sedimento urinário. As técnicas citológicas são
mais sensíveis do que a microscopia urinária convencional para a detecção de células infectadas
por vírus (HENRY, 2012).

Plaquetas
42

Elas têm sido encontradas na urina, até 30.000/uL são encontradas na urina de pacientes com
síndrome urêmico-hemolítica, antes de após a terapia. Elas são observadas na microscopia de
fase e confirmadas pela microscopia eletrônica (HENRY, 2012).

Bactérias
A presença de bactérias pode ou não ser significativa, dependendo do método de coleta urinária
e quanto tempo se passou entre a coleta e a realização do exame. A urina não centrifugada e
bem misturada pode ser examinada com coloração de Gram. Se houver identificação de bactérias
na amostra não centrifugada sob uma lente de imersão, provavelmente existem mais de 100.000
organismos por milímetro (bacteriúria significativa). Bactérias com forma de bastonetes são as
mais comumente observadas, em virtude dos micro-organismos entéricos serem os mais
frequentemente encontrados nas infecções do trato urinário. Se a infecção do trato urinário estiver
presente, muitos leucócitos são visualizados no sedimento (HENRY, 2012).
A coloração ácido-resistente do sedimento urinário pode revelar o bacilo da tuberculose, mas
como a uretra pode conter organismos ácido-resistentes não patogênicos, a presença do bacilo
da tuberculose deve ser substanciado pela cultura (HENRY, 2012).

Fungos
Células de leveduras (Candida) são observadas na infecção do trato urinário (p.ex., no diabetes
mellitus), mas as leveduras também são contaminantes usuais da pele e do ar. Elas podem ser
confundidas com eritrócitos; normalmente são observados brotos que auxiliam na diferenciação.
Formas pseudomiceliais de Candida são encontradas ocasionalmente (HENRY, 2012).

Figura da esquerda: Células leveduriformes e formas pseudomiceliais de Candida sp.


Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/diagn%C3%B3stico-de-urina-tipo-i-zilda-ferreira>. Acesso
em: 21 jun. 2019.
Figura da direita: Células leveduriformes e formas pseudomiceliais de Candida sp
Disponível em: <http://bio-trabalho.blogspot.com/2011/03/eas-elementos-anormais-de.html>. Acesso em:
21 jun. 2019.
43

Parasitas
Parasitas e ovos de parasitas podem ser encontrados no sedimento urinário como resultado de
contaminação fecal ou vaginal. Quando eles são detectados, o exame deve ser repetido com uma
amostra de urina nova, recente e colhida com todos os cuidados de assepsia. Nos pacientes com
esquistossomose devida ao Schistosoma haematobium, os ovos típicos são liberados
diretamente na urina junto com eritrócitos da bexiga. Trichomonas sp podem estar presentes
como resultado de contaminação vaginal. Quando se suspeita de uma infecção uretral ou vesical,
o protozoário deve ser investigado imediatamente numa preparação molhada do sedimento; a
motilidade do micro-organismo é útil para a realização da identificação adequada (HENRY, 2012).
O micro-organismo quando imóvel pode ser confundido com leucócito (CARMO, 2012). As
amebas raramente são encontradas na urina; elas podem atingir a bexiga através dos linfáticos e,
mais provavelmente, pela contaminação fecal da uretra. A Entamoeba histolytica patogênica
usualmente é acompanhada por eritrócitos e leucócitos (HENRY, 2012).
Alguns parasitas intestinais e seus cistos ou ovos podem alcançar os órgãos do sistema urinário
por meio de contaminação com material fecal. Ex. Enterobius vermicularis.

Figura da esquerda: Trichomonas sp.


Disponível em: < https://www.linkedin.com/pulse/diagn%C3%B3stico-de-urina-tipo-i-zilda-ferreira>. Acesso em: 21
jun. 2019.
Figura da direita: Disponível em: <http://bio-trabalho.blogspot.com/2011/03/eas-elementos-anormais-
de.html>. Acesso em: 21 jun. 2019.

Contaminantes e artefatos
Fibras musculares ou células vegetais parcialmente digeridas podem ser encontradas quando há
contaminação fecal.
Algumas vezes pode haver espermatozoides na urina do homem e, ocasionalmente, na urina da
mulher.
Os grãos de pólen contaminam as amostras sazonalmente.
44

Algodão, cabelos e outras fibras podem estar presentes e são facilmente identificadas.
Fibras de madeira podem ser encontradas quando forem utilizados palitos para misturar o
sedimento.
Fibras pequenas de fraldas descartáveis são facilmente confundidas com cilindros.
Diferentemente dos cilindros, essas fibras polarizam brilhantemente.
Grânulos de amido possuem uma aparência brilhante, são discretamente estriados e não devem
ser confundidos com células. Eles possuem uma borda irregular e uma depressão central. O
amido de luvas cirúrgicas é o contaminante mais comum da urina.
As gotículas de óleo de lubrificante de cateteres podem ser confundidas com células,
especialmente com os eritrócitos, mas não possuem estrutura. O material lipídico de cremes
vaginais também forma gotículas na urina e podem agregar em grandes conjuntos amorfos.

Espermatozoides
Figura superior esquerda: Disponível em: <https://docplayer.com.br/50323752-Exame-microscopico-da-urina-
professora-melissa-kayser.html>. Acesso em: 21 jun. 2019
45

Corantes e colorações
Microscopia em campo claro de urina não corada
Uma luz suave é necessária para que sejam delineados os elementos formados mais
transparentes da urina, tais como os cilindros hialinos, cristais e filamentos mucosos. A
identificação de leucócitos (neutrófilos, eosinófilos, linfócitos), histiócitos, células epiteliais renais,
células com inclusão viral, células neoplásicas e cilindros celulares pode ser muito difícil nas
preparações não coradas. A microscopia de fase é altamente recomendável para a detecção de
cilindros.
Microscopia em campo claro com coloração supravital
Os detalhes celulares são melhor observados em sedimentos corados. Uma coloração com
violeta-cristal safranina pode ser utilizada como auxiliar na identificação de elementos celulares.
REAGENTES
Solução I Violeta cristal 3,0 g
Álcool etílico 95% 20,0 mL
Oxalato de amônio 0,8 g
Solução II Safranina O 1,0 g
Álcool etílico 95% 40,0 mL
Água destilada 400,0 mL

Preparo
Três partes da solução I e 97 partes da solução II são misturadas e filtradas. A mistura deve ser
clarificada, através de filtração, a cada duas semanas. Deve ser descartada após três meses.
Separadamente, as soluções I e II mantêm-se indefinidamente em temperatura ambiente. Em
amostras urinárias altamente alcalinas, o corante precipita.
Procedimento
Adicione uma ou duas gotas do corante violeta-cristal safranina em aproximadamente 1 mL de
sedimento urinário concentrado. Misture e com uma pipeta coloque uma gota dessa suspensão
numa lâmina e cubra com uma lamínula (HENRY, 1999, p. 446).
Obs.: A solução de azul de metileno a 2% e o azul de toluidina também podem ser utilizados
como um corante supravital simples.
46

Bibliografia
ABNT NBR 15268, 2005.
CARMO, Andréa Moreira S. Análise Laboratorial da Urina Humana: Urinálise. 1ª ed. Joinville –
SC: Clube dos Autores, 2012. p. 112.
European Urinalysis Guideline, 2000; NCCLS, 2001
DIAGNÓSTICOS clínicos e tratamento por métodos laboratoriais de Henry. 21. São Paulo Manole

2012 1 recurso online ISBN 9788520451854.

Mundt, Lillian A. Exame de urina e de fluidos corporais de Graff [recurso eletrônico] / Lillian
A. Mundt, Kristy Shanahan; tradução: Cynthia Maria Kyaw, Martha Maria Macedo Kyaw;
revisão técnica: Miguel Luis Graciano. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre:
Artmed, 2012.
STRASSINGER, Susan King. Uroanálise e Fluídos Biológicos. 3. ed. Premier Editorial. 2000.

Você também pode gostar