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Exames complementares
Exames Laboratoriais.
Hemograma
Eritrograma:
Contagem de hemácias, hemoglobia (transporte de O2), hematócrito (percentual ocupado pelas hemácias no
sangue).
VCM. Volume corpuscular médio. Hemácias macrocíticas ou microcíticas.
CHCM. Concentração de hemoglobina corpuscular média (dentro da hemácia).
HCM. Hemoglobina corpuscular média (peso da hemoglobina).
RDW. Avalia a diferença de tamanho das hemácias. Quanto mais tamanhos diferentes mais elevado.
Leucograma:
Normal. 4.000 a 11.000 por microlitro.
Leucocitose. Aumento das células. Pode ser linfocitose ou neutrofilia.
Leucopenia. Redução das células. Pode ser linfopenia ou neutropenia.
Desvio à esquerda: A resposta inicial da medula óssea frente ao processo infeccioso é a liberação da população de
neutrófilos de reserva. Ocorrerá também aceleração do processo de maturação e liberação das células levando como
resultado o desvio à esquerda: que é a presença de maior quantidade de bastonetes e (ou) de células mais jovens da série
granulocítica (mieloblastos, promielócitos, mielócitos, metamielócitos e segmentados). A presença de mais de 500
bastões/mm3 constitui indicação de infecção. O desvio à esquerda reacional ao processo infeccioso é caracteristicamente
escalonado, isto é, com proporção de células maduras maiores que as células jovens. O desvio à esquerda não escalonado
traduz, fisiopatologicamente, a liberação de granulócitos jovens em processo de produção não hierarquizado associado à
disfunção da medula óssea.
Plaquetas:
Normal. 150.000 a 450.000 por microlitro.
Trombocitose. Aumento das plaquetas.
Trombopenia. Redução das plaquetas.
Ureia e creatinina
A creatinina é um metabólito da creatina fosfato. Normal: 0,6 a 1,3 mg/dl. Varia com a massa muscular.
A ureia é um metabólito de proteínas da alimentação. Eliminada pelos rins.
O aumento indica insuficiência renal
Bilirrubina
Produto da quebra do grupo heme. Identifica lesão hepatocelular, fluxo biliar, função de síntese do fígado. Pode
indicar anemia hemolítica, hemorragia interna, cirrose, hepatite, obstrução dos ductos biliares. Normal: 0,1 a 1,2 mg/dl
A dosagem de bilirrubinas confirma a icterícia (a bilirrubina total deverá estar superior a 2mg/dl, indica a sua
intensidade, é usada para determinar a forma predominante e serve de parâmetro inicial para o segmento).
Amilase
Com a inflamação ocorre refluxo de enzimas para o pâncreas. Em vez de ir para o duodeno a enzima vai para o
sangue.
Redução: Hepatite, cirrose, câncer pancreático.
Aumento: Doença das glândulas salivares, pancreatites, insuficiência renal.
Hepatograma
Indicam lesão hepática:
ALT, alanina aminotransferase ou transaminase glutâmico-pirúvica (TGP): Encontrada no citoplasma do fígado. Identifica
lesões nos hepatócitos. Normal: até 31U/L nas mulheres e 41 U/L nos homens.
AST, aspartato aminotransferase ou transaminase glutâmico-oxalacética (TGO): Encontrada no citoplasma e mitocôndrias
das células do fígado, músculo esquelético e cardíaco, rins, pâncreas e eritrócitos. Identifica lesão nos tecidos. Normal: até
31 U/L nas mulheres e 37 U/L nos homens.
Tempo de protrombina
Exames de Imagem.
Ultrasonografia de Abdome
As vantagens do método incluem: exame não invasivo, portátil e de baixo custo.
Tomografia Computadorizada
Abdome Agudo.
Embriologia
O trato gastrointestinal se origina do intestino anterior, médio e posterior, tendo cada segmento vascularização e
inervação próprias; o intestino anterior compreende desde a orofaringe até o duodeno, dando origem a pâncreas, fígado,
árvore biliar e baço; o intestino médio origina o duodeno distal, jejuno, íleo, apêndice, colo ascendente e dois terços do colo
transverso e, finalmente, o intestino posterior dá origem ao restante do colo e reto até a linha pectínea.
De fato, a dor abdominal localizada no epigástrio teria sua origem em alguma víscera oriunda do intestino anterior;
a dor abdominal localizada na região periumbilical poderia corresponder a vísceras derivadas do intestino médio e a dor
abdominal localizada no hipogástrio poderia decorrer de processo patológico de alguma víscera derivada do intestino
posterior.
Exames Complementares
A rotina radiológica para abdome agudo: tórax, abdome em pé e deitado.
Vascular.
Circulação Intestinal
As porções intra-abdomInais do trato gastrointestinal recebem o seu suprimento sanguíneo de três artérias
relativamente grandes, que se originam da aorta.
O tronco celíaco é o mais superior, originando-se no ponto de encontro da aorta com o diafragma, e seus ramos
irrigam o fígado, as estruturas biliares (artéria hepática), o baço (artéria esplénica), o estômago (artérias gástricas) e parte do
pâncreas. Além de ser responsável pela irrigação do estômago e das vísceras abdominais sólidas, também contribui com
alguns ramos para a circulação mesentérica.
A artéria mesentérica superior se origina um pouco mais abaixo que o tronco celiaco e emite ramos que irrigam os
intestinos delgado e grosso, desde a porção distal do duodeno até a porção distal do cólon transverso. Esses ramos
intestinais formam uma série de 3 a 4 arcadas, antes de penetrarem na parede intestinal: são as artérias retas.
A artéria mesentérica inferior é a mais caudal e a menor das três, irrigando a porção distal do cólon transverso, o
cólon descendente, o sigmoíde e as porções proximais do reto. Seus ramos fazem uma série de arcadas que terminam em
artérias retas, de modo semelhante ao que ocorre para a mesentérica superior.
A artéria mesentérica superior emite ramos para o jejuno, ileo e cólon proximal. Esses ramos formam uma
complexa rede de arcadas vasculares (ou seja, estes ramos se intercomunicam) dentro do mesenterio e até dentro da parede
intestinal. Entre a mesentérica superior e o tronco celíaco, a rede colateral é feita pelas arcadas pancreatoduodenais. Entre a
mesentérica superior e a inferior também existe um sistema de colaterais, formado pelas artérias marginais de Drumond e a
artéria de Meandro (ou arco de Riolan).
Com relação ao cólon, as regiões mais comumente envolvidas em infartos segmentares são as ditas "Divisoras das
Aguas", que correspondem às transições entre os territórios das artérias mesentérica superior, mesentérica inferior e ilíaca
interna. Flexura esplénica e junção reto-sigmoide. Outro local comum é o ceco.
Etiologia
A isquemia aguda é a redução súbita do fluxo sangüíneo em determinada parte ou em todo o intestino de tal
intensidade que não seja possível manter sequer o metabolismo basal, havendo consequentemente morte celular e necrose.
Fisiopatologia
Como se trata de um quadro abrupto, e principalmente nos casos de embolia, não há tempo para o desenvolvimento
de uma rede de circulação colateral que seja suficiente para manter nem mesmo o metabolismo mínimo intestinal.
Curiosamente, a embolia apresenta as melhores taxas de sobrevida. O êmbolo normalmente aloja-se na circulação mais
distal, poupa o óstio dos ramos principais e, assim sendo, pode preservar em maior ou menor grau territórios do órgão. A
trombose aguda costumeiramente ocorre nos óstios das principais artérias e, associada a freqüente presença de aterosclerose
Exames Complementares
O leucograma pode estar alterado com tendência a leucocitose, mas depende muito da porção, gravidade e extensão
isquêmica. A amilasemia sérica também aumenta de forma moderada e a radiografia simples do abdome pode demonstrar a
presença de alças paréticas e distendidas, apresentando níveis hidroaéreos, porém de forma inconstante. Perante uma
isquemia extensa, geralmente o doente evolui com acidose metabólica identificada através da gasometria, preferencialmente
arterial.
Diagnóstico Diferencial
Síndrome Intestinal Isquêmica Crônica.
Esta rara síndrome ocorre quando pelo menos duas das principais artérias que irrigam os intestinos estão
comprometidas por grave aterosclerose.
A principal manifestação é uma dor perigástrica intermitente, que caracteristicamente surge 30 min a 1h após as
refeições, e dura por l-3h (período no qual o consumo de oxigênio é aumentado pela digestão). Como a dor se relaciona à
alimentação, os pacientes podem apresentar perda de peso por "medo" de ingerir alimentos. Tríade: dor mesogástrica, perda
de peso e medo de comer.
A angina abdominal mesogástrica sugere o comprometimento da mesentérica superior, enquanto a angina dos
quadrantes inferiores, retal ou sacra, sugere comprometimento da mesentérica inferior (que irriga o cólon).
Pode ocorrer diarreia devido à atrofia das vilosidades intestinais decorrentes da isquemia. A isquemia ocorre pela
ativação do sistema parassimpático e consequente vasodilatação em uma estrutura com perfusão comprometida.
O diagnóstico será dado pela angiografia mesenlérica mostrando oclusão de mais de 50% de pelo menos duas das
três artérias principais, na presença de história clínica compatível com angina mesentérica.
A tomografia pode revelar, com mais de 90% de sensibilidade, a trombose da veia mesentérica, com ou sem
trombose portal e esplénica associadas. Raramente é necessário recorrer à angiografia mesentérica.
Tratamento e prognóstico
O procedimento para correção da isquemia ou suas conseqüências vai depender do tempo, da extensão e da causa
da obstrução arterial. De maneira geral, procura-se restabelecer fluxo ao intestino ainda viável, geralmente revascularizando
a AMI, e retira-se as porções necróticas.
Colite isquêmica. O colo é o segmento mais comum de isquemia intestinal. Tal complicação é geralmente
secundária a estados de hipoperfusão e choque ou a procedimentos na aorta infra-renal como aneurismectomia e
endoprótese percutânea, que obstruem o fluxo na artéria mesentérica inferior. Sinais mais frequentes: Distensão abdominal
excessiva, sinais de irritação peritoneal no flanco ou hipocôndrio esquerdo, evacuação líquida sanguinolenta ou escura,
leucocitose acentuada, plaquetopenia severa e acidose de difícil controle.
Reperfusão intestinal. Após um período de isquemia, a reintrodução de sangue em determinado segmento de
intestino causa a geração e a liberação para a circulação portal e sistêmica de uma série de mediadores químicos que afetam
o metabolismo localmente no intestino e em órgãos a distância.
Transplante intestinal. A partir de outubro de 2000, o HCFA – Health Care Financing Administration determinou
como procedimento de escolha o transplante intestinal ou multivisceral em doentes que não poderiam sobreviver sem o
suporte de nutrição parenteral prolongada (NPP) e que apresentassem alguma contra-indicação a NPP. Representam contra-
indicação ao transplante a insuficiência cardiopulmonar grave, a presença de neoplasia disseminada e a vigência de infecção
sistêmica ou intra-abdominal.
Obstrutivo.
Etiologia
É causado pela presença de um obstáculo mecânico ou de uma alteração da motilidade intestinal que impede a
progressão normal do bolo fecal. As causas mecânicas podem ser extrínsecas, intrínsecas à parede ou intraluminais.
No neonato, devem ser consideradas as atresias, o volvo, o íleo meconial, a imperfuração anal e a doença de
Hirchsprung. Já nos lactentes, devemos lembrar da invaginação intestinal, das hérnias complicadas e das obstruções por
complicações do divertículo de Meckel. No adulto jovem e na meia-idade, devemos considerar as aderências, as hérnias e a
doença de Crohn. Quanto mais idoso o paciente, maior a possibilidade de tratar-se de neoplasias, seguida pelas aderências,
hérnias, diverticulites e fecalomas.
Classificações.
Alta, quando o obstáculo ao trânsito situa-se no delgado proximal, ou baixa, quando o obstáculo situa-se no
delgado distal ou no colo.
Parcial, quando a oclusão da luz intestinal é incompleta, ou completa, quando a oclusão é total.
Aguda, quando de instalação abrupta, ou crônica (geralmente parcial), quando de instalação lenta.
Simples, quando o suprimento de sangue ao intestino encontra-se íntegro, não havendo comprometimento da
vitalidade da alça, ou estrangulada, quando há comprometimento do suprimento sanguíneo, podendo levar à isquemia e
mesmo à necrose do intestino já obstruído mecanicamente.
Em alça fechada (p. ex., hérnias, volvos), quando existe obstáculo em dois níveis, impedindo tanto a progressão
quanto o refluxo do conteúdo da alça; nessas condições, pode ocorrer grande distensão e sofrimento da alça.
Etiopatogenia.
Lesões Intraluminais.
As neoplasias são as causas clássicas deste tipo de obstrução. Atenção: o adenocaremoma do cólon é a principal
causa de obstrução do intestino grosso.
O íleo biliar, uma condição rara decorrente de uma fístula colecistoentérica (vesícula bilio-duodenal), pode causar
obstrução intestinal quando o cálculo, que ganha o tubo digestivo, migra distalmente e se impacta em regiões de menor
diâmetro ao longo do tubo digestivo. Os dois pontos mais comuns de obstrução são o ângulo de Treitz (junção
duodenojejunal) e a válvula ileocecal.
Outras causas importantes incluem a infestação por Ascáris Lumbricoides em crianças, os bezoares e outros corpos
estranhos (crianças e pacientes com retardo mental), obstrução por mecônio (neonatos) e fezes endurecidas.
Fisiopatologia.
Obstrução Mecânica Simples do Intestino Delgado.
A obstrução mecânica do intestino invariavelmente causa acúmulo de secreções e gás proximal ao sítio de oclusão.
Sabemos que a quantidade de líquidos produzida diariamente pelo tubo digestivo e glândulas anexas chega a cerca de 10 a
12 litros, e a maior parte dos gases intestinais são provenientes da deglutição (68%) e fermentação a partir de bactérias
(22%). Os gases deglutidos possuem um elevado teor de nitrogênio que não é absorvido pela mucosa intestinal, o que vem
agravar ainda mais a situação.
A peristalse de luta das alças inicialmente sobrevêm, porém, após cerca de 10 a 12 horas, ela é seguida por atonia e
distensão abdominal.
Normalmente, o jejuno e o íleo proximal são praticamente estéreis (livres de bactérias). Com a obstrução, há um
supercrescimento bacteriano no intestino delgado, o que gera a hipersecreção de líquidos pela parede intestinal através de
um mecanismo ainda desconhecido (acredita-se que uma enterotoxina bacteriana possa estar envolvida). A ação do grande
Obstruções Estranguladas.
O vôlvulo e a intussuscepção intestinal são condições que mais comumente favorecem o aparecimento desta
variedade de obstrução.
Ocorre rápido comprometimento da circulação arterial associada à trombose de veias da parede das alças
intestinais. Com isso ocorre um intenso extravasamento de plasma e sangue para o interior do lúmen do segmento obstruído
levando à hipovolemia, choque e azotemia. Se a obstrução se tornar suficientemente prolongada, poderá haver sofrimento
das alças, necrose e até mesmo perfuração.
Obstruções do Cólon.
Nesta localização a obstrução intestinal costuma cursar com menor perda volêmica e menor incidência de
distúrbios hidroeletrolíticos graves. Entretanto a obstrução colônica com uma válvula ileocecal competente (85% dos
indivíduos) nada mais é que uma obstrução "em alça fechada", com grande risco de se tornar uma obstrução estrangulada
quando a pressão intra-luminal supera a pressão capilar.
Nos casos de obstrução do intestino grosso, o ceco. que possui um maior diâmetro (lei de La-Place), é um local de
risco para a ruptura, provocando manifestações graves de peritonite bacteriana.
Quadro clínico.
Exame Físico
Exames Complementares
Laboratorial.
Aconselha-se realizar a dosagem da concentração sérica de eletrólitos, a dosagem do hematócrito, da creatinina, o
estudo da coagulação e a dosagem de plaquetas e leucócitos, que são úteis para se determinar a gravidade do quadro clínico
e orientar a reanimação do doente.
Por imagem.
A radiografia simples do abdome continua sendo a principal ferramenta para o diagnóstico do abdome agudo
obstrutivo. É de extrema importância a demonstração de sinais de obstrução e sofrimento de alça, como pregas
edemaciadas, pneumatose intestinal e, eventualmente, gás na veia porta, sugerindo obstrução em alça fechada e pior
prognóstico.
Nas obstruções do delgado, as alças distendidas tendem a ocupar uma posição mais central. Notamos também com
clareza o desenho das válvulas coniventes que ocupam quase todo o diâmetro da alça. Os níveis hidroaéreos múltiplos são
comuns em decúbito lateral e na posição ortostática, em que adquirem, muitas vezes, formato de degraus. A ausência de ar
no cólon pode ser observada. Este achado caracteriza uma obstrução completa de delgado, o que terá importantes
implicações terapêuticas.
Nas obstruções do cólon com válvula ileocecal competente, notamos distensão deste segmento, que ocupa a
periferia das radiografias de abdome. As haustrações colônicas ocupam apenas uma parte do diâmetro transverso da parede.
A ausência de gás na ampola retal pode ser notada em casos de oclusão completa desse segmento.
A tomografia computadorizada (TC) pode ser útil para diagnosticar a obstrução do intestino delgado, muitas vezes
determinando a causa com precisão. É particularmente útil nos pacientes com história de neoplasia prévia, nas obstiuções
pós-operatórias e naqueles pacientes obstruídos sem passado de cirurgias. A demonstração de uma zona de transição
caracterizada por uma alça distendida com ar e líquidos de um lado e outra alça distai á obstrução, colapsada, quase sempre
sela o diagnóstico.
Além das vantagens descritas acima, a TC diagnostica com precisão o estrangulamento de alça decorrente de um
vôlvulo. por exemplo. Vemos na imagem tomográfica uma alça dilatada em forma de U ou C. com a distribuição radial de
vasos mesentéricos tracionados e convergentes em direção ao segmento que sofreu a torção. A grande desvantagem da TC é
que esta somente detecta sinais sugestivos de estrangulamento em estádios avançados e irreversíveis, como a presença de
pneumatose intestinal.
Lei de Laplace.
A Lei de Laplace explica o desenvolvimento através da equação P=kT/R. (onde P é pressão, k é uma constante, T é
tensão na parede e R é o raio). Quanto maior o raio de um tubo maior a tensão em suas paredes.
Inflamatório.
Etiologia
Existem diversas causas de abdome agudo inflamatório, sendo as mais freqüentes a apendicite aguda, a colecistite
aguda, a pancreatite aguda e a diverticulite.
Fisiopatologia
Quadro Clínico
A dor abdominal é, sem dúvida, o sintoma predominante. Náuseas e vômitos podem acompanhar uma série de
doenças abdominais. A febre é um sintoma frequente, surgindo precocemente, sendo menos intensa no início e assumindo
características próprias e maior intensidade nas fases de supuração. Alterações no hábito intestinal no abdome agudo
inflamatório, especialmente a constipação, acontecem nas fases avançadas da doença devido à peritonite. Algumas vezes
são observados episódios de diarréia secundários a abscesso de localização pélvica, particularmente nos casos de apendicite
ou diverticulite complicada. Sintomas urológicos, como disúria e polaciúria, podem acompanhar quadros de apendicite de
localização retrocecal e, mais freqüentemente, quadros de diverticulite do sigmóide.
Exames Complementares
De todos os exames laboratoriais o hemograma é, sem dúvida, o mais importante. A leucocitose mostra-se discreta
nas fases iniciais do processo. Inicialmente, a leucocitose se faz à custa dos neutrófilos polimorfonucleares; posteriormente,
a alteração hematológica se faz à custa do aparecimento de formas jovens na circulação, bastonetes, mielócitos e
metamielócitos, caracterizando o desvio à esquerda, que por sua vez é indicativo de gravidade do processo infeccioso. Igual
significado é atribuído à leucopenia, observada em infecções graves por germes gram-negativos.
A contagem dos glóbulos vermelhos assim como a dosagem do hematócrito e da hemoglobina são particularmente
úteis na avaliação do estado de hidratação do doente. A medida da velocidade de hemossedimentação, quando revela níveis
baixos, pode sugerir o caráter agudo do processo; níveis elevados indicam processo inflamatório ou infeccioso crônico,
eventualmente agudizado.
O exame de urina é útil no diagnóstico diferencial com processos inflamatórios ou infecciosos do trato urinário,
mas, principalmente, em casos de apendicite ou diverticulite, em que o comprometimento urinário se faz como
conseqüência da proximidade das estruturas.
Diagnóstico Diferencial
Apendicite Aguda
Etiologia / Fisiopatologia
A apendicite aguda é a causa mais freqüente de abdome agudo inflamatório, sendo, provavelmente, a doença
cirúrgica mais comum no abdome. Incide mais frequentemente entre a segunda e terceira décadas, e reconhece na obstrução
do lume apendicular, por corpo estranho (fecalito) ou processo inflamatório, seu principal agente fisiopatológico.
Devido a sua configuração anatómica, a obstrução apendicular evolui rapidamente para obstrução em alça fechada.
A secreção luminal que se acumula leva a estase. fenômeno que tem como consequência supercrescimento bacteriano, com
E. coli e B. fragilis os principais microrganismos identificados.
O aumento da pressão intraluminal e a distensão do órgão comprometem não só o retorno venoso, mas também o
suprimento arterial. Estes eventos resultam em um estado de isquemia que pode evoluir para necrose e perfuração.
Quadro Clínico
A anamnese é de fundamental importância. A dor, anteriormente referida como o principal sintoma no abdome
agudo inflamatório, localiza-se inicialmente, e mais freqüentemente, no epigástrio e na região periumbilical, para,
posteriormente, localizar-se na fossa ilíaca direita. De caráter contínuo, piora com a movimentação, podendo acompanhar-se
de náuseas e vômitos, além de febre e calafrios.
Nos doentes com apendicite aguda, o estado geral costuma estar preservado, assim como as condições
hemodinâmicas. A temperatura, pouco elevada nas fases iniciais, costuma apresentar diferença axilo-retal acima de 1°C.
Exame Físico
A inspeção revela um paciente com pouca movimentação, atitude antálgica (flexão do membro inferior direito) no
sentido de aliviar a dor. Manobras como pular ou tossir podem desencadear ou exacerbar a dor na fossa ilíaca direita.
A auscultação do abdome costuma evidenciar diminuição dos ruídos hidroaéreos, mais evidente quanto mais
avançada a fase em que se encontra a apendicite aguda.
Diagnóstico Diferencial
Diversas doenças podem mimetízar o quadro de abdome agudo por apendicite. As condições mais frequentes
incluem linfadenite mesentérica, doença inflamatória pélvica (DIP), ruptura de foliculo ovariano, cisto ovariano torcido e
gastroenterite aguda. Em pré-escolares, doenças como a intussuscepção intestinal, a diverficulite de Meckel e as
gastroenterites fazem diagnóstico diferencial com apendicite aguda. Outras doenças: gravidez ectópica, diverticulite, úlcera
péptica perfurada (rara).
Exames complementares
A tomografia computadorizada helicoidal (TC) e o exame ultra-sonográfico (US) são métodos com alta acurácia,
que assumem, portanto, papel essencial no diagnóstico, estadiamento e direcionamento terapêutico de pacientes com
suspeita clínica de apendicite aguda.
Colecistite.
Etiologia / Fisiopatologia
A colecistite aguda acomete preferencialmente pessoas de sexo feminino, adultos jovens e idosos.
A colecistite aguda pode ser definida como a inflamação química e/ou bacteriana da vesícula biliar, na maioria das
vezes desencadeada a partir da obstrução do ducto cístico. Como a litíase vesicular ou colelitíase são a principal causa dessa
doença, a obstrução decorre da impactação de um cálculo na região infundíbulo-colocística, com consequente hipertensão,
estase, fenômenos vasculares, inflamatórios e proliferação bacteriana.
O processo assim desencadeado pode involuir, abortar, como decorrência da mobilização do cálculo. Pode,
também, evoluir para hidropisia vesicular, empiema, necrose, perfuração bloqueada ou em peritônio livre (coleperitônio).
Menos freqüentemente, a colecistite aguda pode ocorrer na ausência de obstrução do ducto cístico, quando é
denominada alitiásica com fisiopatologia pouco conhecida. Pode estar associada a processos auto-imunes, toxinas
circulantes ou substâncias vasoconstritoras, acometendo pacientes hospitalizados crônicos, em unidades de terapia intensiva,
politraumatizados, sépticos, em pós-operatório e idosos.
Quadro Clínico
A dor é a principal manifestação da colecistite aguda, freqüentemente desencadeada pela ingestão de alimentos
colecistocinéticos. Inicialmente, assume o caráter de cólica, expressão clínica do fenômeno obstrutivo, e a seguir torna-se
contínua, como decorrência dos fenômenos vasculares e inflamatórios. À localização inicial no hipocôndrio direito, segue-
se irradiação para o epigástrio, dorso e difusa para o abdome na vigência de complicações. Náuseas e vômitos são
frequentemente observados.
O estado geral está na dependência da intensidade do processo inflamatório e principalmente infeccioso. Costuma
estar preservado, sem grandes alterações hemodinâmicas e apresentar febre raramente superior a 38°C. Em
aproximadamente 20% dos pacientes é possível observar icterícia discreta.
Exame Físico
A inspeção do abdome revela posição antálgica ou discreta distensão. A palpação do abdome é, sem dúvida, o
recurso propedêutico mais valioso, podendo revelar hipersensibilidade no hipocôndrio direito, defesa voluntária ou não e
mesmo plastrão doloroso. Em 25% dos doentes, é possível observar vesícula palpável e dolorosa.
O sinal de Murphy — interrupção da inspiração profunda pela dor à palpação da região vesicular — é, talvez, a
expressão maior da propedêutica abdominal na colecistite aguda.
Pacreatite.
Etiologia / Fisiopatologia
A pancreatite aguda é uma doença que tem como substrato um processo inflamatório da glândula pancreática,
decorrente da ação de enzimas inadequadamente ativadas, que se traduz por edema, hemorragia e até necrose pancreática e
peripancreática. Este quadro é acompanhado de repercussão sistêmica que vai da hipovolemia ao comprometimento de
múltiplos órgãos e sistemas e, finalmente, ao óbito.
Baseando-se em evidências epidemiológicas, admite-se, na atualidade, que aproximadamente 80% das pancreatites
agudas estão relacionadas à doença biliar litiásica ou ao álcool.
Quadro Clínico
Nem sempre o quadro clínico da pancreatite aguda é característico, o que, por vezes, torna difícil o seu diagnóstico.
São importantes, pela freqüência, a dor abdominal intensa, inicialmente epigástrica e irradiada para o dorso, em faixa ou
para todo o abdome, além de náuseas e vômitos, acompanhada de parada de eliminação de gases e fezes. O polimorfismo no
quadro clínico da doença é o principal responsável pelo erro no seu diagnóstico.
Exame Físico
O exame físico da pancreatite aguda nas formas leves (80 a 90%) mostra um paciente em regular estado geral, por
vezes em posições antálgicas, sinais de desidratação e taquicardia. O abdome encontra-se distendido, doloroso difusamente
à palpação profunda, especialmente no andar superior e com ruídos hidroaéreos diminuídos. Algumas vezes, é possível
palpar abaulamentos de limites indefinidos, os quais sugerem a presença de coleções peripancreáticas.
Nas formas graves de pancreatite aguda (10 a 20%), o paciente se encontra em estado geral ruim, ansioso,
taquicárdico, hipotenso, dispnéico e desidratado. O abdome encontra-se distendido, doloroso difusamente e com sinais de
irritação peritoneal difusa. É possível identificar equimose e hematomas em região periumbilical (sinal de Cullen) ou nos
flancos (sinal de Grey Turner). Os ruídos hidroaéreos encontram-se reduzidos, ou mesmo abolidos.
Diagnóstico Diferencial
Devem ser lembrados a doença ulcerosa péptica complicada, a colecistite aguda, a obstrução intestinal e o infarto
mesentérico. Também a isquemia miocárdica não deve ser esquecida
Exames complementares
A amilasemia eleva-se nas primeiras 24 a 48 horas do processo, declinando a seguir. A lipasemia, ao contrário,
eleva-se mais tardiamente, tendo valor principalmente prognóstico. Igual importância é dado à amilasúria e à lipasúria.
Diverticulite.
Etiologia / Fisiopatologia
Essa doença é mais comum em pessoas acima de 50 anos de idade, fato que contribui para o aumento da sua
morbimortalidade.
Do ponto de vista fisiopatológico, caracteriza-se por um processo inflamatório do divertículo e das estruturas
peridiverticulares, geralmente desencadeado pela abrasão da mucosa do divertículo por um fecalito. Esse processo
inflamatório rapidamente envolve o peritônio adjacente, a gordura pericólica e o mesocolo.
Quadro Clínico
As manifestações clínicas da doença vão desde discreta irritação peritoneal até quadros de peritonite generalizada.
O sintoma principal é a presença de dor abdominal geralmente localizada na fossa ilíaca esquerda ou na região suprapúbica,
à semelhança de uma apendicite do lado esquerdo. A dor, algumas vezes do tipo contínua e outras do tipo cólica, localiza-se
desde o início em fossa ilíaca esquerda podendo, em determinadas circunstâncias, irradiar-se para a região dorsal do mesmo
lado. É possível encontrar anorexia e náuseas. As alterações do trânsito intestinal estão caracterizadas por obstipação e
algumas vezes diarréia. Quando o processo inflamatório atinge a bexiga ou o ureter, o doente manifesta sintomas urinários
do tipo disúria e polaciúria.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico diferencial dessa entidade inclui colite isquêmica, neoplasia de colo complicada, apendicite aguda e
afecções infecciosas do trato genital feminino. Devemos ainda diferenciar a diverticulite aguda do sigmóide de suas
complicações, tais como perfuração, abscesso peridiverticular, fístula colovesical e outras, cuja conduta terapêutica pode ser
distinta.
Exames complementares
Tomografia ou endoscopia baixa.
Perfurativo.
Etiologia
O abdome agudo perfurativo é a terceira síndrome abdominal aguda mais freqüente, vindo após o inflamatório e o
obstrutivo.
A perfuração de vísceras ocas pode ocorrer devido a processos inflamatórios (úlceras pépticas, doenças
inflamatórias intestinais), neoplásicos e infecciosos do aparelho digestivo (infecções por Salmonella tiphy, citomegalovírus,
tuberculose intestinal etc.) ou a uso de medicamentos (AINEs). Pode ainda ser decorrente da ingestão de corpos estranhos,
traumatismos e iatrogenias (procedimentos diagnósticos e terapêuticos). Ainda hoje, a mortalidade da perfuração visceral se
encontra entre 8 e 10%.
Fisiopatologia
Inicialmente, ocorre uma inflamação peritoneal de natureza química, principalmente nas perfurações altas do trato
digestivo, seguida de invasão bacteriana secundária e progressivo processo infeccioso, com repercussões locais e sistêmicas.
Em relação ao intestino grosso, a peritonite é séptica desde o início.
As perfurações podem ocorrer em peritônio livre com extravasamento de líquido e difusão por toda a cavidade
abdominal ou, então se apresentar de forma bloqueada, com dor e sinais peritoneais localizados, correspondentes à
topografia da víscera comprometida.
Quadro Clínico
Intervalo curto entre o início da dor e a chegada ao serviço de emergência. Dor súbita de forte intensidade, com
difusão rápida para todo o abdome. Sinais de sepse, hipotensão ou choque estão frequentemente presentes. No exame do
abdome, há sinais evidentes de peritonite, ausência de macicez hepática (sinal de Jobert) e de ruídos hidroaéreos.
O exame físico nas primeiras horas revela contratura generalizada da parede abdominal (abdome em tábua).
Decorrido algum tempo, a instalação da peritonite bacteriana se acompanha de febre, sepse e da ocorrência do íleo
adinâmico; no exame do abdome, verificamos distensão e sinais difusos de irritação peritoneal.
Exames Complementares
Laboratorial
É inespecífico.
Um recurso atual que possibilita não só o diagnóstico diferencial como o tratamento de muitos casos de abdome
agudo perfurativo é a videolaparoscopia. Trata-se de um procedimento invasivo que, em mãos habilitadas, com material
adequado e em casos selecionados, permite a sutura de úlceras pépticas agudas, ou mesmo crônicas, e limpeza adequada da
cavidade com segurança.
Imagem
A característica radiológica de perfuração de víscera oca é a presença de ar e/ou líquido na cavidade peritoneal, no
retroperitônio e, com menor freqüência, nas paredes de órgãos e outras estruturas. A perfuração de uma víscera oca leva à
Diagnóstico Diferencial
Perfuração Esofágica.
As perfurações do esôfago no seu trajeto intra-abdominal são raras e, mais freqüentemente, estão relacionadas a
iatrogenias decorrentes de dilatações endoscópicas de estenoses pépticas ou da acalasia do esôfago distal.
Hemorrágico.
Etiologia / Fisiopatologia
O sangramento intra-abdominal pode ocorrer em qualquer idade, ainda que suceda, com maior freqüência, na
quinta e sexta décadas de vida. A incidência é maior nos homens, na proporção de 2:1. A etiologia difere de acordo com o
sexo e a idade. Enquanto no idoso a ruptura de tumores, de veias varicosas e de aneurismas da aorta abdominal são as
causas mais freqüentes, no jovem são comuns as rupturas de aneurismas das artérias viscerais e, nas mulheres,
sangramentos de origem ginecológica e obstétrica.
A hemorragia intra-abdominal espontânea é rara. De acordo com alguns autores, estaria presente em 2% dos
pacientes adultos que procuram o departamento de emergência com dor abdominal. Apesar de incomum, entretanto, pode
ser fatal. As causas da hemorragia intra-abdominal são numerosas e incluem doenças as mais variadas, como o traumatismo
abdominal, a ruptura de aneurisma da aorta ou de alguma artéria visceral, as neoplasias malignas de vísceras sólidas, os
processos inflamatórios erosivos (pancreatite e pseudocisto, por exemplo) e, nas mulheres, além dessas mencionadas, as
afecções ginecológicas e obstétricas.
Quadro Clínico
Verificaram que, no início, a dor abdominal podia ser leve, provocando apenas desconforto. Correlacionaram esse
achado à presença de hemorragia confinada ao foco de sangramento ou ao início da expansão do hematoma, com distensão
do peritônio visceral ou parietal, provocando o quadro doloroso. Nesses casos, a dor costumava instalar-se subitamente e
permanecia inalterada ou aumentava gradativamente de intensidade. À medida que se tornava mais forte surgiam náuseas ou
vômitos. Se a hemorragia cessasse, a dor podia até desaparecer, retornando quando houvesse aumento do hematoma por
novo sangramento.
Já nas pacientes com sangramento contínuo e aumento do hematoma até a ruptura do peritônio, a dor era súbita,
intensa, tornando-se difusa com o passar do tempo, sendo acompanhada de taquicardia e hipotensão arterial. O intervalo
entre a dor inicial e a ruptura do hematoma foi muito variável, desde minutos até dias dependendo da velocidade e da
quantidade do sangramento.
O quadro hemodinâmico do AAHE reflete a perda aguda de sangue. Em sua forma mais exuberante, traduz-se pelo
choque hemorrágico, definido pela perfusão tecidual deficiente. Entretanto, os sinais e sintomas variam conforme o volume
perdido e a velocidade da perda sangüínea e as condições físicas do paciente.
No adulto, a perda de até 750 mililitros (ml) de sangue, considerado choque classe I, não altera a pressão e nem a
freqüência cardíaca, ainda que, ocasionalmente, provoque hipotensão postural. No choque classe II, com perda de sangue
Fatores de risco
Arteriosclerose e Hipertensão.
Acima de 50 anos, a arteriosclerose e a hipertensão arterial são as mais freqüentes. Entretanto, a participação da
arteriosclerose, como fator predisponente à dilatação arterial ou ao sangramento, é muito questionada. Atualmente, os
mecanismos mais aceitos para explicar a dilatação e a ruptura arterial são as alterações estruturais do tecido conjuntivo e/ou
os distúrbios do metabolismo da matriz extracelular. As síndromes de Marfan e de Ehlers-Danlos, por exemplo, hereditárias
do tecido conjuntivo, predispõem à formação de aneurismas e são associadas, em alguns relatos, ao AAHE, corroborando o
atual conceito da etiopatogenia das dilatações arteriais.
O lúpus eritematoso disseminado e a poliarterite nodosa, doenças do colágeno, predispõem à formação de
aneurismas arteriais viscerais. As complicações mais comuns são a dissecção e a trombose arterial, mas a ruptura com
hemorragia intra-abdominal é também relatada nessas doenças do colágeno.
Supõe-se que a hipertensão arterial possa ser um fator predisponente ao sangramento por causar degeneração e
fibrose da parede dos vasos viscerais, provocando dilatações e, até, sua ruptura.
Coagulopatias.
Pacientes portadores de doenças com déficits de coagulação, mais freqüentemente mulheres em idade fértil, são
suscetíveis ao sangramento intra-abdominal espontâneo. Relatos de casos são encontrados na literatura mencionando
hemorragia intra-abdominal associada a doenças mieloproliferativas, à doença de Von Willebrand, à afibrinogenemia
congênita, à insuficiência hepática e à trombocitopenia.
Mulheres na idade reprodutiva, com coagulopatias, estão expostas mensalmente ao risco de hemoperitônio
espontâneo. Nesse grupo, a maneira de evitar a hemorragia intra-abdominal provocada pela ruptura do corpo lúteo é
impedindo a ovulação através da administração de anticoncepcional oral.
Anticoagulantes.
O uso de medicamentos que alteram a coagulação é usual. Entre eles incluem-se os antiinflamatórios não-
hormonais, os anticoagulantes orais e a heparina de baixo peso molecular ou não.
Exames Complementares
Laboratorial.
Teste de gravidez. TAP, TTPA, Hemograma.
Diagnóstico Diferencial
Disfagia.
Fisiopatologia
Pode ser subclassificada pela localização e pelas circunstâncias nas quais ela ocorre. Associada a formação e
controle insuficiente do bolo. A salivação e a dificuldade de iniciar a deglutição são outros sinais característicos. Pode
ocorrer aspiração ou regurgitação para a cavidade nasal.
Disfagia orofaríngea
Sintomas.
Regurgitação nasal, aspiração brônquica, rouquidão (lesão laríngea ou do nervo laríngeo recorrente).
Estrutural.
A disfagia de fase faríngea relaciona-se com a obstrução no EES.
Causas:
• Estruturais: divertículo de Zenker, barra cricofaringea, neoplasia e infecção.
• Metabólicas:
Motora.
Está associada com à propulsão precária da língua ou da faringe.
Causas:
• Neurológicas: AVCs, mal de Parkinson e ELA, Guillain-Barré.
• Miogênicas: Miastenia gravis, polimiosite, sarcoidose.
Disfagia esofágica
Sintomas.
Estrutural.
Causada por um lúmen estreito. Disfagia sólida intermitente.
Causas:
• Anéis de Schatzki, esofagite eosinofílica e estreitamentos pépticos, neoplasia, esofagite por pílulas,
esofagite infecciosa.
Motora.
Anormalidade de peristalse ou do relaxamento do esfíncter. Disfagia sólida e líquida constante.
Causas:
• Refluxo gastresofágico, Chagas, escleroderma.
História.
Os elementos principais da história são a localização da disfagia, tipos de alimentos relacionados, progressão,
sintomas associados. Disfagia progressiva durante o curso de semanas a meses traz preocupação quanto à neoplasia.
História de azia que precede o início da disfagia é sugestivo de estreitamento péptico e, menos comumente, adenocarcinoma
esofágico.
Exames Complementares.
Endoscopia digestiva alta. Tomografia computadorizada. Radiografia com bário.
Histologia Hepática.
Os hepatócitos estão agrupados em polígonos conhecidos como lóbulos hepáticos. Dentro dos lóbulos, os
hepatócitos se organizam em placas formadas pela superposição de apenas uma camada de células. Essas placas são
tortuosas e vão se cruzando, se entrelaçando, da periferia para o centro do lóbulo, deixando muitos espaços laterais (entre as
próprias placas) que são preenchidos por capilares especiais: os sinusoides hepáticos.
Os sinusoides hepáticos têm paredes bastante fenestradas, compostas por uma camada única de células que podem
ser de dois tipos: as células endoteliais e as células de Kupffer. As células de Kupffer pertencem ao sistema mononuclear
fagocitário.
Síndrome Ictérica.
Síndrome Colestática
É o acúmulo de bilirrubina direta e outros integrantes da bile por um problema na drenagem biliar intra-hepática ou
extra-hepática. A lesão hepatocelular pode causar colestase intra-hepática por um mecanismo diferente: o bloqueio da
excreção de BD pelos hepatócitos.
Clinicamente, o paciente apresenta-se com icterícia, colúria, acolia fecal e prurido. A esteatorreia e a deficiência de
vitaminas lipossolúveis, especialmente a vitamina K, ocorrem nos casos mais acentuados de colestase. Laboratorialmente,
as enzimas presentes na superfície dos canalículos e dúctos biliares se elevam na corrente sanguínea, pelo efeito detergente
dos ácidos biliares. São elas: fosfatase alcalina e gama-GT.
Colestase intra-hepática. As causas incluem as condições em que o hepatócito é incapaz de excretar a bile
(hepatite), ou aquelas em que há algum problema com a drenagem da bile pela árvore biliar dentro do próprio parênquima
hepático. As principais são:
• Hepatite viral (especialmente hepatite A)
• Hepatite tóxica e medicamentosa
• Doenças infiltrativas do fígado
• Cirrose biliar primária (doença autoimune dos ductos biliares).
Colestase extra-hepática. Ocorre por obstrução de alguma grande via biliar (principalmente o colédoco). As
principais causas de obstrução são os cálculos e as neoplasias. A colangite esclerosante é uma doença autoimune que leva a
estenoses múltiplas no sistema biliar extra e intra-hepático.
Abordagem ao paciente
Anamnese:
• Idade: prevalencia de hepatite A diminui com a idade, ao contrário das doenças neoplásicas.
• Profissão: contato com ratos, proximidade a bebidas.
• História familiar: Icterícia, hepatite, anemia, esplenectomia, colecistectomia.
• Dispepsia prévia, intolerância a alimentos gordurosos ou cólica biliar → Coledocolitiase
• Cirurgia prévia nas vias biliares → Cálculo residual, estenose traumática, hepatite póstransfusional.
• Queda progressiva do estado geral, emagrecimento e icterícia progressiva, principalmente em pacientes com mais
de 50 anos, sem haver história de cólica biliar → neoplasia periampular
• Febre, calafrios e cólica biliar (Tríade de Charcot) +/- hipotensão e alteração do nível de consciência (Pêntade de
Reynolds) → Colangite por litíase ou estenose biliar.
• Prurido → Sugere colestase.
• Xantomas e xantelasmas → Colestases crônicas
• Circulação colateral e ascite → Hipertensão portal
• Fígado de volume reduzido → exclui colestase extra-hepática
• Sinal de Murphy → Colecistite aguda
• Vesícula palpável indolor (ou visível – Sinal de Courvoisier) + icterícia → Neoplasia periampular.
Avaliação Laboratorial:
Dosagem sérica de bilirrubinas, hemograma e hepatograma.
Se a hiperbilirruminemia for à custa de BI, devemos de imediato seguir um algoritmo de investigação de hemólise,
mantendo como diagnósticos diferenciais as síndromes resultantes da deficiência de conjugação da bilirrubina (Gilbert e
Crigler-Najjar). Se a hiperbilirrubinemia for à custa de BD, devemos manter em mente duas possibilidades: Lesão dos
hepatócitos (síndrome de lesão hepatocelular); obstrução das vias biliares (síndrome de colestase).
O hepatograma é dividido entre as enzimas hepáticas e as provas de função hepática. As enzimas são as
transaminases, como a ALT, alanina aminotransferase ou transaminase glutâmico-pirúvica (TGP) e a AST, aspartato
Etiologia
Estudos de necropsia mostram prevalência de litíase biliar em 11-36% da população. Os principais fatores de risco
para essa condição são:
• Predisposição Genética : Parentes de pessoas que apresentam colelítiase têm, independente de sua idade,
peso ou dieta, um risco aumentado em 2 a 4 vezes para o desenvolvimento de cálculos vesiculares.
• Dismotilidade Vesicular : A estase é um elemento crucial para formação dos cálculos biliares.
• Fatores Ambientais : Admite-se que os fatores ambientais seriam os responsáveis pela diferença na
composição dos cálculos entre o mundo oriental e ocidental.
• Dieta : Nos países ocidentais, a formação de cálculos foi relacionada a uma dieta pobre em fibras, com
lentificação do trânsito intestinal.
• Estrogênio e Progesterona : O estrogênio e a progesterona parecem ser fatores de risco para o
desenvolvimento dos cálculos de colesterol, fato observado pela maior predominância destes em
mulheres, na faixa de 15 aos 40, principalmente nas multíparas, em gestantes e naquelas que usam
anticoncepcionais. Sabe-se que o estrogênio age no hepatócito estimulando a síntese de colesterol, e a
progesterona reduz a contratilidade da vesícula. Homens que utilizam terapia estrogênica para tratamento
do câncer de próstata também estão sob maior risco.
• Idade : A prevalência de litíase aumenta com a idade, aproximando a incidência entre homens e mulheres
com o avançar da idade. A colelitíase é rara na infância e adolescência.
• Obesidade : Na obesidade excessiva costuma haver uma hipersecreçào de colesterol, o que toma a bile
constantemente hipersaturada. Emagrecimento significativo, especialmente quando acelerado, pode
representar risco de colelitíase por mobilizar rapidamente estoques corporais de colesterol, que acabam
sendo excretados em altas concentrações na bile.
• Hiperlipemias e Clofibrato : Os níveis séricos de colesterol não parecem representar, isoladamente, fator
de risco para colelitíase. O risco maior para o desenvolvimento dos cálculos (tanto de colesterol quanto
pigmentares) está relacionado a níveis baixos de LDL e altos de triglicerídios.
• Ressecção Ileal e Doença de Crohn : Os cálculos são geralmente de colesterol e resultam da diminuição
do pool de sais biliares pelo comprometimento da circulação êntero-hepática, já que percentual expressivo
da reabsorção dos sais biliares acontece no íleo terminal. Da mesma forma, a enterite regional da doença
de Crohn, ao acometer o íleo, prejudica francamente a reabsorção de sais biliares e aumenta o percentual
de colesterol na bile.
• Anemia Hemolítica : Há grande incidência de litíase pigmentar nos estados hemolíticos, como a anemia
talciforme. talassemia e microesferocitose. Os cálculos parecem resultar da precipitaçâo da bilirrubina não
conjugada na árvore biliar e, quanto maior a hemólise, maior a chance de litíase.
• Cirrose : Os cálculos são geralmente pigmentares pretos e parecem resultar de uma conjugação deficiente
de bilirrubina pelo hepatócito. Os que desenvolvem esplenomegalia por hipertensão porta podem exibir
hemólise crônica, que também contribui para formação destes cálculos.
• Infecções : A infecção biliar tem um papel importante na formação dos cálculos pigmentares castanhos,
pelo aumento da desconjugaçâo da bilirrubina direta pelas glicuronidases presentes nas enterobactérias,
como a E. Coli. A ceftriaxona parece aumentar o risco de litiase.
Quadro Clínico
O principal sintoma relacionado à colelitíase é a dor aguda contínua (erroneamente referida como cólica biliar)
caracteristicamente localizada em hipocondrio direito e/ou epigastro, apresentando, às vezes, irradiação para escápula. A
intensidade é maior no período de 30 minutos a 5 horas de seu início, com melhora gradual ao longo de 24h. No início do
quadro clinico, náuseas e vômitos encontram-se presentes. Os episódios se repetem em intervalos de dias a meses.
A dor muitas vezes ocorre após refeição com alimentos gordurosos, após uma farta refeição que se segue a jejum
prolongado ou mesmo após uma refeição habitual. O motivo da dor é sempre a obstrução (na maioria das vezes
intermitente) da luz da vesícula por um cálculo. Alguns pacientes se apresentam apenas com sintomas tipo dispepsia
(eructações, plenitude, náuseas) após a ingesta gordurosa, ou mesmo com um "mal-estar" vago e impreciso.
Exames Complementares
Ultrassonografia
A ultrassonografia (US) é um método extremamente útil para investigação de um paciente con icterícia, e deve ser
o primeiro a ser solicitado. A presença de ductos biliares intra-hepáticos dilatados indica que a icterícia é secundária a uma
obstrução das vias biliares extra-hepáticas. Caso haja obstrução, a US revela a sua causa em aproximadamente 95% das
ictericias que têm bilirrubina acima de 10 mg/dl. A US (FIGURA 6) consegue identificar muito bem a vesícula, e a precisão
diagnóstica para a colelitiase é de aproximadamente 96% (similar ao colecistograma oral). Entretanto, a precisão para o
diagnóstico de colédocolitíase é baixa (25%). A US ainda pode visualizar lesões neoplásicas e anormalidades congênitas,
como a doença de Caroli e cistos do colédoco.
Tomografia Computadorizada
A TC é habitualmente realizada quando a US se mostra inconclusiva. E útil para avaliar os outros órgãos
abdominais e tem a mesma eficácia que a US para determinar as dilatações do trato biliar. Ganha em acurácia, em relação à
US, na detecção de cálculos de colédoco, ao passo que perde na detecção de cálculos da vesícula biliar.
Colangiorressonância (CPRM)
Apresenta excelente definição de imagem, sendo capaz de detectar pequenos cálculos. Sua sensibilidade é de 95%,
e especificidade, 89%, no diagnóstico de coledocolitíase. A exemplo da TC, ainda é um pouco falha na detecção de cálculos
do colédoco distal. Pode ser solicitada antes de um exame mais invasivo, como a CPRE, na tentativa de elucidar não
invasivamente um quadro obstrutivo biliar.
Diagnóstico Diferencial
Etiologia
O termo colecistite aguda define o desenvolvimento de um processo de inflamação química da vesicula, que
Fisiopatologia
Habitualmente acompanha a obstrução do ducto cístico por um cálculo (90-95%). A resposta inflamatória pode ser
induzida por três fatores: (1) inflamação mecânica produzida por pressão e distensão intraluminais aumentadas com
subsequente isquemia da mucosa e da parede da vesícula biliar. (2) inflamação química causada pela liberação de
lisolecitina (devido à ação da fosfolipase sobre a lectina na bile) e por outros fatores teciduais locais, assim como (3)
inflamação bacteriana, que pode desempenhar algum papel em 50 a 85% dos pacientes com colecistite aguda.
Quando há inflamação (colecistite aguda), podem ser encontradas bactérias em até 50% dos pacientes. A E.coli é a
bactéria mais frequentemente isolada, seguida por Klebsiella, Streptococcus faecalis, Proteus e Clostridium.
Apesar de a infecção ser um evento secundário, uma complicação, ela acaba sendo responsável pelas sequelas mais
sérias da colecistite aguda:
• empiema;
• perfuração;
• abscesso pericolestátíco;
• fístula enterobiliar.
A colecistite acalculosa ocorre em 5% dos casos, a maioria associada a jejum prolongado após traumatismo grave.
Alguns casos raros de colecistite acalculosa são causados por Salmonella tifóide, PAN e outras doenças pouco comuns.
Quadro Clínico
Uma crise de colecistite aguda começa com dor abdominal, que aumenta paulatinamente de intensidade, e se
localiza, desde o início, debaixo do gradil costal direito. Entretanto, de forma análoga ao que acontece com a apendicite, a
dor da colecistite aguda pode iniciar-se no epigástrio, e, com o passar das horas, quando o processo se estende para a
superfície peritoneal da vesícula, a dor toma-se localizada tipicamente no QSD.
É comum a referência da dor para o dorso, principalmente para as regiões escapulares, via nervos esplâncnicos.
Anorexia, náuseas e vômitos são muito frequentes, mas o vômito raramente é grave como na pancreatite ou
obstrução intestinal. É também comum a presença de febre baixa a moderada. Febre com calafrios sugere colecistite
supurativa ou colangite associada.
A região subcostal direita eslá hipersensível à palpação, com defesa muscular e, ocasionalmente, contratura
involuntária local. O exame tísico revela o sinal de Murphy em metade dos pacientes.
A icterícia é incomum no início da evolução, mas pode ocorrer quando as alterações inflamatórias edematosas
acometem os ductos biliares e linfonodos circundantes. A tríade de início súbido de hipersensibilidade no QSD, febre e
leucocitose é altamente sugestiva.
Quadro clínico:
Dor referida como cólica biliar. Os ataques geralmente duram menos de 1 hora mas abrandam por volta de 24
horas; se a dor persistir por mais de 1 dia, provavelmente a colecistite aguda é a etiologia subjacente. Outros sintomas como
náuseas e vômitos com frequência acompanham cada episódio; distensão abdominal e eructação também podem estar
presentes. Febre e icterícia são raras. Cerca de dois terços não apresentam sintomas.
Diagnóstico diferencial:
Úlcera péptica, pneumonia, cálculos renais, doença hepática, hérnia, refluxo ou angina.
Exames Complementares
Laboratorial.
O laboratório da colecístite costuma revelar:
1. 12.000-15.000 leucócitos/mm1 (se leucometria muito alta, suspeitar de perfuração);
2. aumento discreto de bilirrubina (se mais que 4 mg/dl, suspeitar de coledocolitíase associada);
3. aumento discreto de FA, e TGO;
4. aumento da amilase sérica, que não indica necessariamente pancreatite aguda.
Por imagem.
Os achados radiográficos da colelitiase já foram mencionados anteriormente e incluem:
1. achado dos cálculos que são radiopacos (15%);
2. vesícula em porcelana;
3. calcificações pancreáticas ou renais;
4. presença de ar na árvore biliar sugerindo fistula bilioentérica;
5. presença de ar na parede da vesícula, sugerindo colecístite enfisematosa.
A presença ou não de ar livre sob o diafragma e a distribuição de ar no TGI são valiosos achados para o raciocínio clínico,
quando se quer excluir outras doenças e confirmar o diagnóstico de colecístite aguda calculosa.
A US é o primeiro exame a ser solicitado na suspeita de colecístite aguda, pois é de fácil realização, é excelente na
detecção de cálculos biliares e ainda permite a avaliação dos órgãos vizinhos. Apesar de ser difícil a visualização dos
cálculos do cístico, a US tem sensibilidade e especificidade acima de 90% para o diagnóstico de colecístite.
Achados que sugerem colecístite aguda à US:
• demonstração de cálculos no colo da vesícula;
• espessamento da parede da vesícula;
• líquido perívesicular;
• aumento da interface entre o fígado e a vesícula:
• sinal de Murphy ultrassonográfico (dor quando o transdutor está sobre a vesícula);
• aumento significativo do diâmetro transverso do fundo da vesícula.
Tomografia Computadorizada. Muito comumente solicitada em casos de dor abdominal aguda, a TC também pode
identificar cálculos, espessamento da parede vesicular e líquido pericolecístico, embora com precisão menor que a US.
Diagnóstico Diferencial
A colecistite entra no quadro das patologias inflamatórias intra-abdominais, o que faz abrir um enorme leque de
diagnósticos diferenciais. Os mais importantes e que devem ser logo afastados são:
1. apendicite aguda;
2. pancreatite;
3. úlcera péptica perfurada.
A hepatite aguda (viral ou alcoólica) também pode ser confundida com colecistite, mas, nestes casos, uma história
de abuso de álcool e as elevações das transaminases e da biiinubina (ou biópsia de fígado) ajudam na diferenciação. Outros
processos que costumam frequentemente ser confundidos com colecistite são: pielo-nefrite. litíase renal, gastrite, abscesso
hepático, diverticulite e hérnia de hiato.
Tratamento e Prognóstico
A perfuração normalmente se apresenta com um quadro geral mais exacerbado, principalmente com relação aos
Coledocolitíase.
Etiologia
Em países ocidentais, como o Brasil, cerca de 90-95% dos casos de coledocolitíase resultam da passagem de um
cálculo formado na vesícula biliar através do dueto cístico (coledocolitíase secundária), num fenômeno experimentado por
cerca de 6-12% dos portadores de colelitíase. No restante dos casos, ocorre formação de cálculos no próprio colédoco
(coledocolitíase primária), geralmente quando existe dilatação e estase por obstrução crônica, como estreitamento, estenose
ampular etc. Os cálculos primários do colédoco resultam da estase e infecção biliar secundária.
Quadro Clínico
Os cálculos no colédoco podem determinar obstrução parcial e transitória, e muitos migram até serem expelidos
espontaneamente pela ampola de Vater no duodeno. Durante tais obstruções passageiras, o paciente pode se queixar de dor
do tipo biliar, idêntica à dor da colelitíase sintomática: dor no quadrante superior direito e/ou epigastro, continua, durando
menos de 4h, podendo irradiar para a escápula direita ou dorso. Esta dor pode ou não vir acompanhada de icterícia,
geralmente leve a moderada, além de colúria e acolia fecal. O prurido não é frequente.
O paciente apresenta surtos transitórios de síndrome colestática e icterícia flutuante. Este quadro é bastante
sugestivo de coledocolitiase e deve ser diferenciado da icterícia colestática persistente e progressiva, que sugere neoplasia
obstruindo vias biliares.
Exames Complementares
Tal como o quadro clínico, os exames laboratoriais também podem ser flutuantes e podem estar alterados na
ausência de sinais e sintomas. Encontra-se hiperbilirrubinemia. com predominio da fração direta, geralmente oscilando entre
2-5 mg/dl e dificilmente ultrapassando 10-15 mg/dl. A enzima que mais se eleva é a fosfatase alcalina (> 150 U/L), mas
elevações moderadas das transaminases (> 100 U/L) também são registradas e podem levar o médico ao falso diagnóstico
de doença hepática.
Se a USG transabdominal ainda não foi solicitada, este é o primeiro exame no algoritmo investigatório.
Geralmente, encontraremos colelitíase, mas aqui vale uma ressalva: isso ainda não confirma o diagnóstico de
coledocolitiase como causa dos sintomas, pois a colelitiase é um achado relativamente comum na população acima de 40
anos e pode se associar a outras patologias das vias biliares ou hepatopatias. Na coledocolitiase, a USG transabdominal
pode observar dilatação leve/moderada do colédoco (> 5 mm), e os cálculos nas vias biliares podem ser visualizados em
60% dos casos (75% com a via biliar dilatada e 50% sem dilatação).
Nos de médio e baixo risco, o exame solicitado (se disponível) deverá ser a colangiorressonância. com
sensibilidade e especificidade de 95% e 90%, respectivamente (trabalhos mais recentes já mostram especificidade de 98%).
Este exame tem a vantagem de ser não invasivo e de alta acurácia e pode decidir quem precisa ou não da colangíografia
invasiva pré-operatória.
Nos pacientes com diagnóstico clínico (alto risco), por US ou por eolangiorressonância, procede-se ao exame
padrào-ouro: a colangíografia retrógrada endoscópica (CPRE). Embora invasivo e com taxa de complicação em torno de 5-
7%, a CPRE tem a vantagem de ao mesmo tempo ser diagnostica e terapêutica.
Diagnóstico Diferencial
Tratamento e Prognóstico
São quatro as principais complicações:
1- Colangite bacteriana aguda.
2- Abscesso hepático piogênico.
3- Pancreatite aguda biliar.
4- Cirrose biliar secundária.
Colangite.
Fisiopatologia
O desenvolvimento de colangite necessita de duas condições:
1. presença de bactérias no trato biliar.
2. obstrução biliar parcial ou completa.
A origem das bactérias que colonizam o trato biliar é incerta. A teoria mais aceita é a de que algumas bactérias,
vindas do intestino, ganham o sistema porta e alcançam o trato biliar passando pelo figado. Quando existe uma lesão, ou
mesmo um corpo estranho no trato biliar, é frequente a contaminação bacteriana. O que se presume é que a lesão obstrutiva
ou o corpo estranho predispõem à colonização e ao crescimento bacteriano.
Uma colangite clinica ocorre quando as bactérias, liberadas do trato biliar, ganham a circulação sistêmica, o que
ocorre quando a pressão do trato biliar está alta. É como se a bile (e junto as bactérias) extravasasse dos canaliculos biliares
que percorrem os lóbulos e caísse nos sinusóides hepáticos.
A causa mais comum de colangite é a coledocolitíase, que responde por 60% dos casos. Assim, a presença de
cálculos biliares (sejam primários ou secundários) muitas vezes é diagnosticada quando da avaliação de um episódio de
colangite. Os tumores malignos que causam obstrução biliar, como o tumor de cabeça de pâncreas, o carcinoma de vias
biliares e o carcinoma da ampola de Vater, são causas menos comuns de colangite e geralmente são suspeitados e
identificados pelo surgimento de icterícia.
Uma outra causa de estenose do trato biliar é a pancreatite crônica. Esta estenose, localizada na porção
intrapancreática do ducto biliar comum, pode se manifestar no início com um episódio de colangite. As pessoas que têm
anastomose biliar-entérica são predisponentes a desenvolver bacterbilia (por refluxo). Procedimentos invasivos (como
colangiografias) são causas relativamente frequentes de colangite.
Por fim, parasitos também podem ser causa de colangite e estenoses biliares - é o exemplo do Trichuris-trichiura e
Ascaris lumbricoides.
Quadro Clínico
Como já dito, a descrição original da colangite foi feita por Charcot, numa referência à presença de febre e
calafrios intermitentes, associada à icterícia e dor abdominal. Esta síndrome, conhecida como "tríade de Charcot".
permanece ainda hoje como estereótipo de colangite.
A tríade de Charcot ocorre em 60% dos pacientes com colangite. O sintoma mais frequente é a febre (90%). A dor
abdominal costuma ser apenas moderada e se localiza principalmente no quadrante superior direito. Dor abdominal severa é
muito rara, não sendo comum o achado de irritação peritoneal. A peristalse não costuma ser alterada. A icterícia está
presente em 80% dos pacientes com colangite aguda.
A descrição original faz menção à presença de pus misturado na bile estagnada, numa importante condição
conhecida hoje como colangite supurativa. Reynold descreveu pacientes que, junto com a tríade de Charcot, apresentavam
também hipotensão e depressão do sistema nervoso central. Foi notado também que essa combinação de sintomas ocorria
quando da presença de obstrução completa de um sistema biliar supurado ("pus em alta pressão").
A associação da tríade de Charcot com choque e depressão do sistema nervoso central é conhecida como pêntade
de Reynold, que representa o quadro clínico de uma colangite supurativa (pus em alta pressão). A importância da colangite
supurativa, ou seja, a importância do achado dos sintomas da pêntade de Reynold vem do fato que esta síndrome é
progressiva e fatal, caso não se realize uma intervenção cirúrgica imediata. A tríade de Charcot, apesar de aguda, não
necessita de cirurgia emergencial.
Exames Complementares
Devemos esperar uma leucocitose com desvio, associada à hiperbilirrubinemia (90%), e aumento da fosfatase
alcalina, gama GT, TGO e TGP. As hemoculturas frequentemente são positivas em um paciente com colangite aguda e
devem ser sempre solicitadas. Os organismos mais encontrados são, em ordem de frequência: E. Coli, Klebsiella,
Enterococcus faecalis, B. Fragilis.
Quando o diagnóstico de colangite aguda é feito, toma-se fundamental a pesquisa de uma anormalidade do trato
Diagnóstico Diferencial
A condição mais comumente confundida com colangite é a colecistite, já que os sintomas de febre, dor abdominal
em quadrante superior direito (QSD) e leucocitose são comuns a ambas. Os únicos achados clínicos que tendem a
diferenciar as duas condições são o grau e as características da dor do QSD e a presença de icterícia colestática intensa.
Na colecistite aguda, a dor é persistente e está presente em quase todos os casos - na colangite, a dor não costuma
ser forte e pode estar ausente em até 20% dos casos. Da mesma forma, hiperestesia abdominal está presente invariavelmente
na colecistite aguda, mas pode estar ausente em 20% dos casos de colangite aguda. Sinais perifoneais, ausentes na colangite,
são bastante frequentes na colecistite.
Abscesso hepático piogênico deve ser considerado no diagnóstico diferencial de colangite aguda. Os sintomas de
ambas as condições podem ser idênticos, e o abscesso de fígado ainda pode ser uma complicação da própria colangite. O
abscesso de figado pode ser identificado por US, TC ou cintigrafia.
As hepatites se manifestam por dor e hipersensibilidade no QSD, febre e icterícia, completando também os
critérios para a tríade de Charcot. Entretanto, a diferenciação entre colangite e hepatite se faz prontamente com as provas de
função hepática e os marcadores virais.
Uma pancreatite pode ser manifestada por febre e aumento das bilirrubinas. mas a dor e a hipersensibilidade são
muito mais proeminentes do que na colangite. Apesar de os níveis séricos da amilase estarem aumentados em ambas as
condições, eles estão muito mais altos na pancreatite.
Uma úlcera duodenal perfurante pode ser associada à dor abdominal alta, febre e elevação das bilirrubinas e até de
amilase. Uma história bem colhida costuma diferenciar esta condição de colangite aguda.
Patologias menos comumente confundidas com colangite são pielonefrite. apendicite, pneumonia do lobo inferior
direito ou infarto pulmonar e sepse de qualquer causa.
Tratamento e Prognóstico
O prognóstico de uma colangite aguda branda é excelente, e a morbidade se relaciona mais à cirurgia realizada para
a condição de base. A colangite tóxica aguda, entretanto, tem um índice de mortalidade muito alto
De todas as complicações possíveis, a mais temida é o abscesso hepático.
Colangite Esclerosante.
Etiologia
A colangite esclerosante é uma doença das grandes vias biliares (extra e intra-hepáticas), marcada pelo surgimento
inexplicado de um processo inflamatório-fibrosanie, estenosante e progressivo. Como tal processo se faz de forma irregular
ao longo de todo o sistema biliar, acaba sendo configurada a característica mais clássica desta condição: os estreitamentos
biliares segmentados. Acredita-se que a natureza da doença esteja ligada a fatores autoimunes e genéticos, já que há uma
associação estatística com o HLA B8/DR3.
Apesar de ser considerada uma condição primária (idiopática), em 70-90% (!) dos casos a colangite esclerosante se
desenvolve em um paciente portador de uma doença inflamatoria intestinal idiopática (mais comumente a retocolite
ulcerativa) - Veja: de todos os que desenvolvem colangite esclerosante, 60-75% têm também RCU; mas de todos os
portadores de RCU, somente 5% desenvolvem colangite esclerosante.
Quadro Clínico
A CEP acomete homens jovens (a maioria com menos de 45 anos). O inicio da doença é insidioso, com os
pacientes relatando sintomas de intensidade variável que duram cerca de dois anos antes do diagnóstico. As manifestações
incluem fadiga progressiva, dor no quadrante superior direito, prurido e, por último, icterícia. Mesmo com os sintomas
presentes, o exame físico inicial pode ser normal em quase 50% dos casos.
Em função das estenoses e do consequente 'represamento' de bile, alguns pacientes têm seu curso clínico marcado
por constantes episódios de colangite bacteriana, que acabam acrescentando bastante morbidade ao processo básico.
A progressão da doença envolve obstrução biliar completa, com consequente desenvolvimento de cirrose e de todas
as suas temíveis complicações, como hipertensão porta e sangramento por varizes esofagianas. A colestase, por diminuir a
absorção de gorduras, pode levar à deficiência das vitaminas lipossolúveis A, D, E e K.
Tratamento e Prognóstico
O colangiocarcinoma complica a CEP em cerca de 7% a 20% dos casos. A idade média do diagnóstico é de 42
anos, bem abaixo da encontrada nas formas esporádicas desta neoplasia maligna, que é de 66 anos. Estima-se que o risco de
colangiocarcinoma nestes doentes é de l% ao ano.
Tumores Hepáticos.
Etiologia
Os tumores hepáticos podem se originar do figado - a partir de hepatócitos, do epitélio dos ductos biliares ou do
tecido mesenquimal hepático - ou podem se implantar no parênquima hepático a partir de lesões primárias em órgãos
próximos ou distantes do figado.
Em adultos, na maioria das regiões de todo o mundo, as metástases hepáticas são mais comuns que os tumores
hepáticos malignos primários. Em crianças, os tumores malignos primários são mais frequentes do que metástases e tumores
benignos.
Quadro Clínico
Exames Complementares
Diagnóstico Diferencial
Diagnósticos Diferenciais.
Icterícia.
O diagnóstico diferencial para a coloração amarelada da pele é limitado. Além de icterícia, inclui a carotenodermia,
o uso do medicamento quinacrina e a exposição excessiva a fenóis. A carotenodermia é uma coloração amarelada imposta à
pele pela presença do caroteno; ocorre em indivíduos sadios que ingerem quantidades excessivas de vegetais e frutas que
contém caroteno, como cenoura, vegetais folhosos, abóbora, pêssego e laranja. Diferente da icterícia, em que a coloração
amarela da pele se distribui de maneira uniforme pelo corpo, na carotenodermia o pigmento concentra-se nas palmas,
plantas, fronte e pregas nasolabias.
Dor Abdominal