Você está na página 1de 8

Luiza Orsatto de Azevedo – MED18 1

DOENÇAS HEPÁTICAS 1
ESTEATOSE, HEPATITES, CIRROSE E HIPERTENSÃO PORTAL

O fígado é o 2º maior órgão do corpo (com 1,4 -1,6Kg) e a


maior glândula. Está localizado na cavidade abdominal
abaixo do diafragma.

É uma interface entre o sistema digestório e o sangue, pro-


cessando os nutrientes absorvidos no sistema digestório
para serem utilizados pelos outros órgãos.

Possui duplo suprimento sanguíneo, grande parte do sangue


transportado pelo fígado chega pela VEIA PORTA (70-80%)
e menor porcentagem pela ARTÉRIA HEPÁTICA. As duas
entram no fígado pelo HILO. Já no interior do fígado, os ra-
mos das veias, artérias hepáticas e os ductos biliares seguem
paralelamente nos tratos portais. No lóbulo, a V. hepática terminal é o centro, enquanto que
os tratos portais estão na zona periférica.
Cerca de 80% do fígado é composto por hepatócito, sendo
um órgão muito denso. O outros 20% são vasos sanguíneos, Concentrações de oxigênio, nutrientes e hormônios no san-
no qual ele apresenta dupla circulação: gue são mais altas nos tratos porta e diminuem progressiva-
mente à medida que o sangue corre através dos sinusoides
• A. hepática: ramo do tronco celíaco, responsável por para veia central. Assim, são definidas 3 zonas funcionais,
30- 40% da irrigação. Fornece sangue com alta tensão sendo:
de oxigênio para o fígado.
• V. porta: drena sangue dos intestinos, pâncreas e Zona 1 = mais periférica e mais próxima do fornecimento de
baço. Traz nutrientes, toxinas, substâncias químicas sangue, sendo a mais oxigenada e englobando os tratos por-
absorvidas na digestão para o fígado. tais. É a primeira a receber sangue com alto conteúdo de oxi-
gênio, insulina e glucagon. Tem alta taxa metabólica e a úl-
A unidade funcional do fígado é o lóbulo, que apresenta: tima a sofrer necrose e a primeira a mostrar sinais de rege-
forma hexagonal, espaços porta na periferia e veria centro- neração.
lobular no centro.
Zona 2 (mediolobular) = uma zona central e intermediária.
Recebe sangue com conteúdo intermediário.

Zona 3 (centrolobular) = a mais distante e circunda a veia


central, sendo pobre em oxigênio. Recebe sangue por úl-
timo. Nessa zona estão muitas das enzimas que participam
da biotransformação (NADPH citocromo e P-450-redutase).

Dessa forma, caso ocorra alguma obstrução ou congestão do


fluxo, os hepatócitos da zona 3 são os que irão sofrer pri-
meiro.

Dentro dos lóbulos, os hepatócitos se organizam em lâminas,


que se estendem dos tratos portais até as veias hepáticas
terminais. Entre essas placas estão os sinusoides revestidos
O espaço porta traz sangue pela A. hepática e V. porta. Esse por células endoteliais fenestradas. Abaixo delas, encontra-
sangue é carregado pelos sinusoides (fenestrados) através se o espaço de Disse.
dos hepatócitos, para haver depuração sanguínea necessá-
ria, e segue até a veia centrolobular, que levará de volta o As células de Kupffer, do sistema mononuclear fagocítico,
sangue purificado, metabolizado e rico em outras substân- estão na luz dos sinusoides e as células estreladas miofi-
cias, à circulação sistêmica, via veia hepática e cava inferior. broblásticas estão no espaço de Disse.
Luiza Orsatto de Azevedo – MED18 2
O hepatócito realiza as principais funções do fígado.

A superfície de cada hepatócito está em contato com a pa-


rede do capilar sinusoides, através do espaço de Disse, e com
a superfície de outro hepatócito, delimitando um espaço tu-
bular, o canalículo biliar.

O hepatócito desempenha uma grande variedade de fun-


ções: metabólicas, de síntese, de armazenamento, catabóli-
cas e excretoras.

ESTEATOSE ALCOÓLICA

Todas as alterações iniciam na zona 3 do ácino e vão se es-


tendendo para fora, em direção aos tratos portais, com au-
mento da gravidade da lesão.

Na esteatose, o fígado encontra-se aumentado, amarelado,


por conta do excesso de gordura. Esse acúmulo de gordura
intracelular varia de pequenas gotículas no citoplasma, inici-
almente, até a distensão de todo citoplasma por gotículas
que coalescem (se juntam).

É importante lembrar que as alterações são completamente


reversíveis se houver abstinência.
FUNÇÕES DO FÍGADO:
Alguns fatores podem influenciar o desenvolvimento e a se-
✓ Metabólicas = glicogenólise e glicogênese, produção riedade da doença:
de triglicerídeos
• Gênero > mulheres são mais suscetíveis a lesão he-
✓ Síntese de proteínas, fatores de coagulação
pática que homens (embora a maioria dos pacien-
✓ Armazenamento = glicogênio, triglicerídeos, ferro,
tes sejam homens)
proteínas lipossolúveis
✓ Catabólicas = hormônios, detoxifidação de compos- • Diferenças étnicas e genéticas > maiores em afro-
tos estranhos, remoção de amônia americanos
✓ Excreção = produção e excreção de bile • Comorbidades > há um aumento da gravidade da
doença em casos de sobrecarga de ferro e infecções
É importante lembrar também por HCV e HBV
que, de forma funcional, o fígado
pode ser dividido em 8 unidades A patogenia da esteatose alcoólica e as contribuições rela-
independentes. Essa divisão cha- tiva das diferentes vias podem variar. A maior parte da gor-
mada de Classificação de dura depositada no fígado provém da dieta. O etanol au-
Couinaud, o sistema mais usado menta a lipólise, e, portanto, a liberação de ácidos graxos li-
na anatomia funcional do fígado. vres para o fígado. O etanol também diminui a oxidação dos
ácidos graxos e aumenta produção de triglicerídeos.
Cada segmento possui seu
aporto vascular, drenagem biliar
As causas de hepatite alcoólicas são incertas. O acetaldeído
e linfática.
(principal metabólito intermédio do álcool) induz a formação
e peroxidação do aduto acetaldeído proteína desorgani-
ESTEATOSE zando a ainda mais o citoesqueleto e a função das membra-
A doença hepática gordurosa corresponde a um espectro de nas.
lesões que se iniciam com esteatose, passam por esteato-
Além disso, o álcool prejudica o metabolismo hepático da
hepatite e podem evoluir com fibrose em graus variados, le-
metionina, o que provoca a diminuição dos níveis de glutati-
vando a uma cirrose. Ela pode ter natureza alcoólica ou não
ona, consequentemente sensibilizando o fígado à lesão oxi-
alcoólica.
dativa.
Luiza Orsatto de Azevedo – MED18 3
A hepatite alcoólica é caracterizada por: Dados atuais sugerem um modelo de 2 eventos para
DHGNA:
1) TUMEFAÇÃO E NECROSE DE HEPATÓCITOS: focos únicos
ou dispersos de hepatócitos que sofrem tumefação (resul- ✓ Resistência à insulina que dá origem à esteatose he-
tante do acumulo de gordura e água) e necrose. pática
✓ Lesão oxidativa hepatocelular resultando em ne-
crose celular hepática e reações inflamatórias secun-
dárias

Em geral, a esteatose hepática, assim como a obesidade, re-


sulta de um excesso de alimentação rica em calorias, dimi-
nuição de exercícios e mecanismos genéticos/epigenéticos.
Sendo assim, seus fatores de risco são:
2) CORPOS DE MALLORY-DENK: inclusões eosinofílicas cito-
plasmáticas. Presentes mais frequentemente em hepatóci- • Obesidade
tos tumefeitos e visivelmente lesados. São uma caracterís- • Diabetes tipo 2 > resistência insulínica
tica não específica da hepatite alcoólica, uma vez que estão • Hiperlipidemia
presentes na doença hepática gordurosa não alcoólica e dis-
tribuições periportais na doença de Wilson e em doenças do Em indivíduos com resistência à insulina e síndrome meta-
trato biliar. bólica estabelecida, o tecido visceral adiposo não só au-
menta, como também se torna disfuncional, com redução da
3) REAÇÃO NEUTROFÍLICA: os neutrófilos permeiam o ló- produção da adiponectina (hormônio lipídico) e acúmulo de
bulo hepático e sofrem acumulo ao redor dos hepatócitos citocinas inflamatórias.
em degeneração, principalmente aqueles que possuem cor-
pos de Mallory-Denk. Essas mudanças acabam provocando a apoptose do hepató-
cito, pois as células carregadas de gordura são altamente
ESTEATOFIBROSE sensíveis aos produtos de peroxidação lipídica gerados por
estresse oxidativo, o que pode danificar as membranas mi-
A hepatite alcoólica é frequentemente acompanhada por tocondriais e plasmáticas, o que causa a apoptose.
uma ativação evidente das células estreladas e fibroblastos
portais, originando fibrose. Assim como na esteatose alcoólica, inicia-se com gotas pe-
quenas que se agrupam até formarem grandes gotas de gor-
Essa fibrose inicia com esclerose das veias centrais, espa- dura, predominantemente os triglicerídeos, que se acumu-
lhando-se para fora e cercando grupos de hepatócitos em lam dentro dos hepatócitos.
um padrão de cerca de tela de arame.
Na extremidade (zona) mais benigna do espectro, não há in-
Quando o uso do álcool continua sem interrupção leva ao flamação hepática apreciável, morte de hepatócitos ou cica-
desenvolvimento de nódulos hepáticos estabelecido culmi- trização, apesar da elevação persistente das enzimas hepáti-
nando com cirrose micronodular ou de Laennec. cas no soro.

Os estágios iniciais de cicatrização podem regredir com a Em comparação com a alcoólica, as lesões da não alcoólica
cessação do uso de álcool, mas quanto mais o fígado avança estão centradas nos lóbulos, as células mononucleares po-
em direção à cirrose, mais os distúrbios vasculares impedem dem ser mais proeminentes, e os corpos de Mallory-Denk
uma restauração completa. A regressão completa da cirrose menos proeminentes.
alcoólica, ainda que relatada, é rara.

ESTEATOSE NÃO ALCOÓLICA

Também chamada de doença hepática gordurosa não alcoó-


lica (DHGNA), é o distúrbio metabólica adquirido mais co-
mum, representa um espectro de distúrbios que têm em co-
mum a presença de esteatose hepática, com ou sem hepa-
tite associada (esteato-hepatite não alcoólica), em indiví-
duos que não consomem álcool.

A prevalência da DHGNA varia entre grupos étnicos e prova-


velmente está relacionada, pelo menos em parte, a diferen-
EVOLUÇÃO DA DHGNA:
ças genéticas.
ESTEATOSE → ESTEATOHEPATITE → CIRROSE →
CARCINOMA HEPATOCELULAR
Luiza Orsatto de Azevedo – MED18 4

DIAGNÓSTICO POR IMAGEM


*Importante lembrar que na RM temos um padrão em que po-
No caso das esteatoses, o exame inicial para detecção é o demos observar no fígado com esteatose hepática chamado
USG, por ser um método acessível, com boa sensibilidade “vessel penetration sign” (sinal da penetração do vaso). Isso
para detectar e quantificar graus de esteatose hepática. significa que conseguimos observar os vasos normais, pois não
possui interferência da massa. Explicando melhor, em casos de
Apesar disso, a USG não consegue diferenciar a esteatose de massas densas, os vasos podem sofrer desvios em seu trajeto.
esteatohepatite. Como na esteatose, as massas são formadas por gordura, os
vasos não sofrem alterações no trajeto.

Outra coisa importante de se notar na RM é a fissura do fígado.


Quando a fissura está menor que o normal, significa que o fí-
gado está com mais volume naquele espaço. Já quando a fis-
sura está menor, significa que o volume está menor.

IN/OUT PHASE

*Na TC = fica mais escuro (por ser gordura) e usa-se como


referência o baço. HEPATITE

O termo hepatite inclui um conjunto de lesões necróticas e


inflamatórias que acometem o fígado de maneira difusa.

As hepatites são provocadas sobretudo por vírus e, menos


frequentemente, por medicamentos, distúrbios autoimunes
e transtornos metabólicos. As hepatites mais importantes
são as causadas pelos chamados vírus hepatotrópicos.

Macroscopicamente, os fígados com hepatite parecem nor-


mais ou ligeiramente manchados. Já na microscopia, tanto
as formas agudas quanto crônicas possuem um infiltrado lin-
foplasmocítico (mononuclear). Grande parte da lesão do pa-
rênquima fica dispersa por todo o lóbulo hepático como “ne-
crose focal” ou hepatite lobular.

OBS: as hepatites podem ter uma morfologia bem seme-


lhante, mas algumas diferenças podem ser vistas, como por
exemplo, no infiltrado mononuclear da hepatite A que e rico
em plasmócitos.

Na hepatite aguda grave, a necrose confluente de hepatóci-


tos é observada ao redor das veias centrais. Nessas áreas
pode haver restos celulares, fibras de reticulina rompidas,
congestão/hemorragia e inflamação variável. Com o au-
mento da gravidade, há a necrose em ponte central-portal,
seguida por um colapso ainda mais acentuado do parên-
quima.
Luiza Orsatto de Azevedo – MED18 5

HEPATITE A indivíduos infectados. A hepatite fulminante (insuficiência


hepática aguda) é rara, ocorrendo em aproximadamente
O vírus da hepatite A causa uma doença normalmente be- 0,1% a 0,5% dos indivíduos infectados de forma aguda.
nigna e autolimitada, com um período de incubação de 2 a
6 semanas. Ela não causa hepatite crônica ou um estado de Apesar do progresso no tratamento da infecção crônica pelo
portador, além de raramente causar insuficiência hepática HBV, é extremamente difícil alcançar a cura completa,
aguda, por isso a taxa de fatalidade associada ao HAV corres- mesmo quando tratadas por agentes antivirais altamente. A
ponde apenas a 0,1% a 0,3%. dificuldade de cura tem sido atribuída à capacidade do vírus
de se inserir no DNA do hospedeiro, limitando assim, o de-
É um vírus de RNA (HAV) transmitido pela ingestão de água senvolvimento de uma resposta imune eficaz
e alimentos contaminados e eliminado nas fezes por 2 a 3
semanas antes e 1 semana após o início da icterícia. Assim, a **Na hepatite B, quanto menor for a idade no momento da
maioria dos casos ocorrem por contaminação orofecal ou infecção, maior é a chance de desenvolver a doença crô-
contato próximo com um individuo afetado. nica.

O HAV também pode ser detectado no soro e na saliva. Uma HEPATITE C


vez que a viremia por HAV é transitória, a transmissão do
HAV pelo sangue ocorre apenas raramente; portanto, o san- O vírus da hepatite C (HCV) é uma importante causa de do-
gue doado não é examinado especificamente para esse ví- ença hepática em todo mundo. Os fatores de risco para in-
rus. fecção por esse vírus incluem:

• Abuso de drogas intravenosas


HEPATITE B
• Múltiplos parceiros sexuais
O vírus da hepatite B (HBV) pode causar: • Realização de cirurgia nos últimos 6 meses
• Ferimento por picada de agulha
1. Hepatite aguda seguida por recuperação e eliminação
• Contatos múltiplos com uma pessoa infectada por
do vírus
HCV
2. Hepatite crônica não progressiva
• Atividade profissional na área médica ou odontologia
3. Doença crônica progressiva que termina em cirrose
• Desconhecido
4. Estado de portador assintomático “saudável”
O HCV é um vírus de RNS pequeno e envelopado, que é
A doença hepática crônica induzida por HBV é também um
transmitido por via parenteral. O vírus é inerentemente ins-
fator precursor importante para o desenvolvimento de car-
tável, originando múltiplos genótipos e subtipos. Na ver-
cinoma hepatocelular, mesmo na ausência de cirrose.
dade, dentro de um determinado indivíduo, o HCV existe
como variantes genéticas estreitamente relacionadas, co-
nhecidas como quasispécies.

Em aproximadamente 85% dos indivíduos, a infecção aguda


é assintomática e mais leve que a hepatite B. Apesar disso, o
vírus causa uma infecção prolongada e hepatite crônica,
sendo a forma mais frequente de hepatite crônica. O HCV é
hoje a principal causa de hepatite crônica em todo o mundo.

A hepatite C tem algumas peculiaridades, ainda que possa


causar hepatite aguda ictérica ou anictérica, são muito raros
os casos de hepatite fulminante.
É um vírus que pode ser transmitido por via vertical (durante
o parto) e horizontal (por contato). A disseminação ocorre
por pequenas lacerações na pele ou das mucosas. Pode tam- HEPATITE CRÔNICA
bém ser transmitido sexualmente ou via parenteral (por A hepatite crônica é definida como a evidência sintomática,
sangue). bioquímica ou sorológica de doença hepática continua ou re-
corrente por mais de 6 meses.
O HBV é um vírus de DNA que também possui um período
de incubação longo (de 2 a 26 semanas) porém, diferente do Nela, algumas características histológicas permitem diferen-
HAV, ele permanece no sangue durante mais tempo, po- ciar o tipo de infecção viral. A hepatite crônica C mostra
dendo gerar casos agudos e crônicos. agregados ou folículos linfoides totalmente formados.
Ainda, alguns casos podem mostrar uma alteração
Na maioria dos casos, a infecção é autolimitada e cede sem
tratamento. A doença crônica ocorre em 5% a 10% dos
Luiza Orsatto de Azevedo – MED18 6
gordurosa (esteatose) dos hepatócitos. A lesão do ducto bi- ✓ Espessamento parietal da vesícula biliar
liar também é mais destacada em adultos infectados por ✓ Edema periportal/sobrecarga do sistema linfático
HCV.

Hepatite crônica por HCV com ca-


racterística expansão do trato
portal por um folículo linfoide.

Já na Hepatite Crônica B, o aspecto dos hepatócitos em “vi-


dro fosco” é bastante comum, corresponde a células com re-
tículos endoplasmáticos repletos de HBs antígenos.

Hepatócitos com aspecto de vi-


dro fosco na infecção crônica por
HBV. É causado pelo acumulo do
antígeno da hepatite B. Observa-
se as inclusões citoplasmáticas
grandes e pálidas.
Já em relação a hepatite crônica, os achados nos exames
A imunomarcação (detalhe) confirma a presença do antí- que podem indicar cronicidade são:
geno de superfície (em marrom).
✓ Irregularidade da superfície
As alterações morfológicas na hepatite viral aguda e crônica ✓ Bordas rombas
são compartilhadas entre os vírus hepatotrópicos. A inflama- ✓ Hipotrofia do lobo direito com aumento do lobo es-
ção portal na hepatite aguda é mínima, ao contrário da he- querdo e caudado
patite viral crônica onde ocorre infiltração mononuclear ✓ Realce heterogêneo ao uso de contraste
portal, característica que mais define a hepatite viral crô-
nica.

Há também, muitas vezes, além da hepatite lobular, a hepa-


tite de interface, que se distingue pela sua localização na in-
terface entre o parênquima hepatocelular e o estroma do
trato portal. A característica da lesão hepática crônica pro-
gressiva é a cicatriz.

CIRROSE

A cirrose é considerada o estágio final de uma variedade de


doenças. É uma condição marcada pela transformação di-
fusa de todo o fígado.

O conceito de cirrose hepática baseia-se em 3 lesões funda-


mentais:

1. Neoformação conjuntivas em todo o órgão, sepa-


rando partes do parênquima hepático
2. Formação de nódulos de parênquima hepático cir-
cundado por fibrose
3. Destruição da arquitetura lobular
EXAMES DE IMAGEM
As principais causas da cirrose são as hepatites crônicas vi-
Os achados de imagem na hepatite aguda são:
rais B e C, a doença hepática alcoólica e a doença hepática
✓ Aumento volumétrico gordurosa não alcoólica.
✓ Aspecto em “céu estrelado”
Luiza Orsatto de Azevedo – MED18 7
causadoras de cirrose, entende-se que pode haver regressão
de cicatrizes.

Assim como nas hepatites crônicas, nas cirroses há indicação Cirrose alcoólica em um alcoólico em fase ativa e após um
formal de biópsia hepática que serve para estadiamento da período de abstinência.
doença e grau de atividade, e sempre que possível estabele-
Na primeira imagem nota-se faixas de colágeno que separam
cimento de sua etiologia.
os nódulos cirróticos arredondados. Já na segunda imagem,
A classificação tradicional de cirrose é importante para rela- após a abstinência de 1 ano, a maior parte das cicatrizes de-
cionar com a etiologia da doença e divide a cirrose em: sapareceram.

• Cirrose macronodular
Aproximadamente 40% dos indivíduos com cirrose são assin-
• Cirrose micronodular (nódulos de 2 a 3 mm)
tomáticos até os estágios mais avançados da doença.
• Mistas
As causas determinantes de morte em insuficiência hepática
A cirrose também pode ser classificada segundo a CLASSI- crônica, sejam elas cirróticas ou não, incluem aquelas obser-
FICAÇÃO DE CHILD-PUGH em: vadas na insuficiência hepática aguda e fatores adicionais,
tais com desenvolvimento de carcinoma hepatocelular.
CLASSE A = bem compensada
CLASSE B = parcialmente compensada EXAMES DE IMAGEM
CLASSE C = descompensada
USG : permite uma avaliação rápida com diagnóstico, não
Essas 3 classes se correlacionam de forma histológica, porém
invasiva, sem riscos para a avaliação do parênquima hepá-
possuem características morfológicas diferentes. Essa classi-
tico e o rastreamento de neoplasias. Porém, possui limita-
ficação ajuda a monitorar o declínio de pacientes na evolu-
ções por não conseguir caracterizar a cirrose.
ção para a insuficiência hepática crônica.
Está em expansão a elastografia, um método de USG que
As lesões hepáticas na cirrose são importantes e determi-
avalia o grau de rigidez do fígado. Mostra-se útil para identi-
nam profundas modificações que alteram o funcionamento
ficar o grau de fibrose e de hipertensão portal.
do órgão. Sendo as duas repercussões principais: a insufici-
ência hepática e hipertensão portal, bem como risco par de- TC : complementar ao USG, podendo ser 1ª escolha em ca-
senvolvimento do carcinoma hepatocelular. sos como rastreamento de hepatocarcinoma em pacientes
com cirrose com diminuição significativa do tamanho do fí-
A cirrose ocorre de forma difusa por todo o fígado, consti-
gado e na presença de múltiplos nódulos de regeneração
tuindo-se de nódulos parenquimatosos regenerados, cerca-
(onde a USG não é útil).
dos por faixas densas de cicatriz e graus variáveis de deriva-
ções vasculares (shunts).
RM : indica-se de forma complementar ao UG e TC em casos
Dependendo da doença e sua causa, algumas características de lesões focais hepáticas.
são diferentes, como o tamanho de nódulos, o padrão da
formação de cicatrizes, o grau de colapso do parênquima,
em que nenhum tecido hepático viável está presente, o grau
da trombose vascular macroscópica.

Apesar de incomum, a regressão da fibrose na cirrose ocorre


principalmente (mas não somente) nos estágios iniciais e in-
termediários, como também na cirrose plenamente estabe-
lecida, razão pela qual essa patologia não deve ser enqua-
drada como doença em estágio terminal. Atualmente com
aumento do número de tratamentos eficazes para condições
Luiza Orsatto de Azevedo – MED18 8

HIPERTENSÃO PORTAL A congestão ou hiperemia do fígado deve-se a insuficiência


cardíaca direita, que aumenta a pressão sanguínea na VCI e,
Consiste no aumento da resistência ao fluxo sanguíneo em consequentemente, nas veias hepáticas e veias centrolobu-
qualquer ponto do sistema portal. lares. Isso gera uma dilatação dessas veias e dos sinusoides
bem na porção central dos lóbulos hepáticos.
Pode se desenvolver uma variedade de circunstâncias/con-
dições, que podem ser divididas em: Assim, há uma atrofia dos hepatócitos e desaparecimento
deles na região, pela anóxia crônica que se estabelece (á que
PRÉ-HEPÁTICAS (pré-sinusoidal) = trombose obstrutiva,
a circulação é lenta e o pouco oxigênio disponível é consu-
estreitamento da veia porta antes de sua ramificação no in-
mido pelos hepatócitos da periferia). Restam só células de
terior do fígado ou esplenomegalia maciça com aumento do
linhagem conjuntiva, como células endoteliais e células de
fluxo sanguíneo venoso periférico.
Kupffer.
INTRA-HEPÁTICAS (sinusoidal) = a causa dominante é a Já na periferia dos lóbulos, há os espaços portais, reconhecí-
cirrose (maioria dos casos de hipertensão portal).
veis pelos ductos biliares. Nesse local, os hepatócitos estão
normais.
**Causas intra-hepáticas muito menos frequentes consis-
tem em esquistossomose, alteração gordurosa maciça, do- É importante, nas imagens, reconhecer a confluência das
enças granulomatosas fibrosantes difusas, como a sarcoi- vias de estase, ou seja, a fusão entre as regiões congestas de
dose, e doenças que afetam a microcirculação portal, como lóbulos vizinhos. Isto caracteriza a segunda fase da conges-
hiperplasia nodular regenerativa tão passiva crônica do fígado, também chamada de fígado
em noz moscada. O aspecto "em noz moscada" é macros-
PÓS-HEPÁTICAS (pós-sinusoidal) = insuficiência cardí- cópico e lembra esta fruta quando cortada.
aca direita severa, pericardite constritiva e obstrução do
fluxo da veia hepática. Na primeira fase, a congestão restringe-se ao centro dos ló-
bulos e não há confluência.
A fisiopatologia desse quadro é complexa e envolve: resis-
tência ao fluxo portal ao nível dos sinusoides + aumento do A terceira fase é caracterizada por fibrose difusa do fígado,
fluxo portal (por causa da circulação hiperdinâmica), ambos chamada de cirrose cardíaca. É rara, pois geralmente o pa-
por mudanças na circulação esplâncnica (vasodilatação arte- ciente morre antes.
rial que induz um aumento no fluxo venoso portal) e anasto-
moses arteriovenosas. EXAMES DE IMAGEM

A maior resistência ao fluxo portal (nos sinusoides) ocorre


por conta da contração de células da musculatura lisa vascu-
lar e miofibroblastos, e por conta da interrupção de nódulos
parenquimatosos.

Essas mudança nos sinusoides e a anastomose entre o sis-


tema portal e arterial nos septos fibrosos contribuem para a
hipertensão portal através da imposição de pressões arteri-
ais no sistema venoso portal de baixa pressão.

As consequências clínicas da hipertensão portal são:

(1) Ascite
(2) Formação de derivações venosas portossistêmicas
(3) Esplenomegalia congestiva
(4) Encefalopatia hepática

Pode ser feito uma USG para avaliar o fluxo sanguíneo na


veia porta e nos vasos adjacentes e também para detectar a
presença de líquido no abdome (ascite).

Tanto a USG, TC e RM são usadas para visualização dos va-


sos colaterais (que aparecem principalmente no esôfago –
varizes esofágicas – ou no estômago – varizes gástricas).

Você também pode gostar