Luiza Orsatto de Azevedo – MED18 1

DOENÇAS DA CABEÇA E PESCOÇO 1

CAVIDADE ORAL E GLÂNDULAS SALIVARES

LÍNGUA GEOGRÁFICA GRANULOMA PIOGÊNICO

A glossite migratória consiste em uma doença que acomete É uma lesão inflamatória encontrada na gengiva de crianças,
a língua, principalmente o dorso, caracterizada por lesões adultos jovens e mulheres grávidas (tumor gravídico), sendo
que variam de forma, tamanho e cor. mais comum no sexo feminino.

As lesões variam na aparência, sendo caracterizada pelas
suas bordas esbranquiçadas, e no tempo, podendo durar
apenas algumas horas ou várias semanas.
Sua etiologia tem base em:
Geralmente algum traumatismo pequeno dos tecidos, per-
mite a invasão de microrganismos inespecíficos.
Podem ser encontrados em outras áreas sujeitas a trauma-
tismos, como língua, lábio e mucosa oral.

• Fatores psicológicos, como o estresse A superfície da lesão é ge-

• Condições alérgicas ralmente ulcerada, com
• Distúrbios hormonais uma coloração que varia de
• Fatores genéticos avermelhada a violácea.
• Deficiências nutricionais Forma-se uma massa erite-
• Fissuras na língua matosa, de superfície lisa
ou irregular, hemorrágica e
Aparecem como placas eritematosas irregulares que repre- exofítica na mucosa da
sentam a perda das papilas filiformes. Normalmente são gengiva. É indolor e pode ser pediculada ou séssil.
bem delimitadas por uma linha esbranquiçada ligeiramente
saliente ou plana. Alguns casos podem ter crescimento rápido e causar medo
por simular um tumor maligno.

Na histologia, as lesões apre-

sentam uma proliferação
vascular grande, com tecido
de granulação em organiza-
ção. Pode ser observada a
presença de infiltrado infla-
matório misto, com neutrófi-
los, plasmócitos e linfócitos.

A região mais afetada é o dorso da língua, podendo aparecer Podem regredir, amadurecendo e se tornando massas fibro-
nas bordas laterais também. sas densas ou podem se desenvolver em um fibroma.

Os pacientes são assintomáticos, mas podem desenvolver PAPILOMA ESCAMOSO

bastante ansiedade e medo de câncer. É importante orientá-
los que as lesões se curam espontaneamente e são desen- O papiloma escamoso está associado ao HPV 6 e 11, sendo
volver cicatrizes. uma neoplasia benigna. Desenvolve a partir de uma prolife-
ração epitelial induzida pelo vírus. É mais comum entre as 3ª
Possuem um aspecto migratório em que aparecem em um e 5ª décadas de vida, podendo ser múltiplos em crianças.
local e depois tendem a aparecer em uma nova localização.
Caracterizado por um aumento do volume tecidual, pedicu-
Não há indicação para ser feita biópsia, apenas quando for lado (exofítico), de con-
para confirmar a benignidade da lesão. sistência amolecida, com
a superfície irregular ver-
rugosa (aspecto digiti-
forme ou de “couve-
flor”), coloração esbran-
quiçada ou avermelhada.

As lesões medem cerca de 0,5cm e geralmente encontradas
na língua, lábios e palato mole, podendo acometer outros
locais da boca.
É uma lesão assintomática e solitária, apesar de poder de-
senvolver-se, em alguns pacientes, lesões maiores e múlti-
plas, sendo chamadas de papilomatoses.
HEMANGIOMAS
Representam um grupo heterogêneo de lesões vasculares
benignas. São considerados lesões tumorais não neoplásicas
(hamartomas), onde ocorre um aumento do número de va-
sos normais ou anormais preenchidos por sangue. Corres-
pondem a 7% das lesões tumorais benignas da infância e
adolescência.
Podem ser divididos em hemangiomas congênitos (presen-
tes já ao nascer e que possuem regressão espontânea ao
longo da infância) e malformações vasculares (leões na es-
trutura de determinado vaso, geralmente uma dilatação,
sem regressão espontânea).
“HEMANGIOMA EM MORANGO” = na
pele, exibe uma coloração averme-
lhada semelhante. Apresentam super-
fície lisa ou irregular, consistência fi-
broelástica e são indolores na maioria
das vezes.
Os hemangiomas juvenis são normalmente congênitos e
apresentam-se como massas compactas de capilares separa-
dos por tecido conjuntivo. Geralmente bem demarcados,
mas sem cápsula. Começam a regredir após os 3 anos, e na
maioria das vezes por volta dos 5-7 anos regridem comple-
tamente, sendo substituído por tecido fibroso.
Quando acometem a boca, são mais vistos nos lábios, língua
e mucosa.
Na microscopia, eles são caracterizados pela dilatação do lú-
men vascular, podendo ser:
HEMANGIOMAS CAPILARES = é o tipo mais comum. Cons-
tituem um grupo bastante heterogêneo, ocorrendo na pele,
tecido celular subcutâneo, mucosas da cavidade oral, lábios.
Ocorrem também no fígado e rins. Compostos por capilares
com paredes finas. Têm coloração vermelho brilhantes.
HEMANGIOMAS CAVERNOSOS = são constituídos por ca-
nais vasculares amplos e dilatados entremeados por vasos
pequenos tipo capilares. Ocorrem na pele e em vísceras (fí-
gado, baço, cérebro, entre outros). Apresentam-se como
massa esponjosa verme-azulada com alguns centímetros,
bem delimitado, mas não encapsulado. Não regridem es-
pontaneamente.
Luiza Orsatto de Azevedo – MED18 2
HEMANGIOMAS ARTERIOVENOSOS (malformações ar-
teriovenosas) = são lesões com uma rede complexa de es-
truturas venosas e arteriais intercomunicantes, comuns no
subcutâneo ou outros tecidos moles. Geralmente não invo-
luem.
hemangioma capilar hemangioma arteriovenoso
CÂNCER ORAL
LEUCOPLASIA
Segundo a OMS, é uma placa ou área esbranquiçada que não
pode ser raspada e não pode ser caracterizada de forma clí-
nica ou patológica como qualquer outra doença.
Aproximadamente 3% da população mundial apresenta le-
sões leucoplásicas, tendo baixo risco de sofrer uma transfor-
mação maligna.
Predominante em homens adultos, principalmente entre os
40-70 anos. O uso de tabaco é um fator de risco comum.
Podem ocorrer em qual-
quer local da boca, sendo
os locais mais comuns a
mucosa bucal, o assoalho
da boca, a superfície ven-
tral da língua, palato e
gengiva.
Aparecem como placas ou áreas esbranquiçadas solitárias
ou múltiplas, com as bordas demarcadas de forma precisa
(na maioria dos casos). Podem ser levemente espessadas e
lisas, ou enrugadas e fissuradas, ou ainda podem adquirir
aparência saliente sob forma de placas corrugadas e verru-
cosas.
Cerca de 90% das lesões mostram epitélio espesso, reco-
berto por camada de queratina, com arquitetura preservada,
sem atipia.
ERITROPLASIA
É uma área avermelhada, aveludada e possivelmente ero-
dida dentro da cavidade bucal, podendo apresentar-se plana
ou com uma leve depressão em relação à mucosa circun-
dante.
O epitélio dessa lesões tende a ser atípico e o risco de trans-
formação maligna é maior do que nas leucoplasias.

Predominante em homens adultos, principalmente entre os
40-70 anos. O uso de tabaco é um fator de risco comum.
É uma equivalente vermelha da leucoplasia, sendo bem me-
nos frequente e mais ameaçadora.
Na histologia, raramente demostram a maturação epidér-
mica ordenada. Cerca de 90% revelam displasia acentuada,
carcinoma in situ ou carcinoma minimamente invasivo (epi-
télio marcadamente atípico, com maior risco de transforma-
ção maligna).
Pode ser observada uma
reação inflamatória sube-
pitelial com dilatação vas-
cular, o que dá a aparência
avermelhada.
LEUCOERITOPLASIA SALPICADA
Forma intermédia entre as leucoplasias e as eritroplasias.
Possuem características de ambas, mostrando um risco in-
termediário entre lesões leucoplásicas “puras” e eritroplási-
cas “puras”.
leucoplasia eritroplasia
Fatores etiológicos: tabagismo, alcoolismo e irritação local.
Diagnóstico diferencial: queimaduras, candidíase pseudo-
membranosa, hiperceratose focal e estomatite nicotínica.
CARCINOMA ESCAMOSO
Representa 95% dos canceres de cabeça e pescoço, sendo o
tumor maligno mais comum da mucosa oral. Mais frequen-
temente acomete a língua, seguido do assoalho da boca, mu-
cosa alveolar, palato e mucosa bucal.
Etiologia multifatorial, sendo as principais: alcoolismo e ta-
baco (no ocidente), radiação actínica (luz do sol), fumo de
cachimbos, higiene oral precária, mastigação de nozes de
Betel (Ásia).
Apesar de ser bastante incomum, é relacionado ao HPV 11 e
16 (oncogênicos), principalmente o 16.
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A sobrevida depende de vários fatores incluindo sua etiolo-
gia.
No estágio inicial, a sobrevida é de 5 anos em 80% dos casos.
Já nos casos mais avançados, apenas 20% possuem sobre-
vida de 5 anos. Quando associados ao HPV, essa sobrevida
ao longo prazo é maior
O carcinoma de células escamosas pode surgir em qualquer
lugar na região da cabeça e pescoço revestida por epitélio
escamoso estratificado.
Na aparência clínica, aparece com ulceração e enrijecimento
da mucosa oral.
ESTÁGIO INICIAL = placas firmes e elevadas, de aspecto pe-
rolado, ou como áreas irregulares, verrucosas ou rugosas de
espessamento mucoso, possivelmente confundidas com leu-
coplasia.
À medida que essas lesões aumentam de tamanho, elas evo-
luem para áreas ulceradas ou protrusões com bordas endu-
recidas e irregulares.
Na histologia, iniciam como lesões displásicas que podem ou
não progredir para uma displasia na espessura total do epi-
télio (carcinoma em situ) antes de invadir o estroma adja-
cente.
Há um grande grau de diferenciação histológica no carci-
noma de células escamosas, incluindo desde neoplasias que-
ratinizantes bem diferenciadas a tumores anaplásicos.
Esses tumores tendem a infiltrar-se localmente antes de
metastatizar para outros locais. Sendo o local mais fre-
quente para metástases os linfonodos (submandibulares e
cervicais superficiais e profundos).
NOS EXAMES: a característica radiográfica é de uma imagem
radiolucente, de margens irregulares e contornos mal defi-
nidos (aspecto "roído por traça").

O carcinoma epidermoide (isto é, semelhante à epiderme) é
constituído por células que imitam as da epiderme normal,
mas têm arquitetura desorganizada, pleomorfismo, atipias
nucleares e mitoses típicas e atípicas, quando é invasivo, o
tumor infiltra a derme na forma de linguetas rombudas.
Em áreas mais bem diferenciadas, as células tentam imitar a
epiderme normal, com poucas atipias e presença de cornei-
ficação.
É comum a formação de queratina condensada no centro
dos agrupamentos celulares, constituindo as pérolas cór-
neas, indício de boa diferenciação do carcinoma epider-
moide. Em áreas menos diferenciadas a corneificação é ob-
servada somente em células isoladas, ou mesmo é ausente.
Lesão de maior grau histológico tem o maior potencial
agressivo (maior malignidade), independente de sua exten-
são (Bem diferenciado < Moderadamente diferenciado <
Pouco ou Mal diferenciado).
MUCOCELE
É uma lesão oral benigna causada pelo extravasamento de
muco, principalmente em crianças e adolescentes.
A sua etiologia está relacionada com o rompimento dos duc-
tos glandulares e extravasamento do conteúdo salivar para
os tecidos adjacentes, normalmente causado por um
trauma.
Sua localização é principalmente no lábio inferior, mas pode
acometer a mucosa e a região do ventre da língua.
Apresenta-se como um au-
mento de volume, com consis-
tência amolecida e coloração
levemente azulada. Não são
dolorosas e podem aumentar
e diminuir de tamanho.
Histologicamente, as mucoce-
les são pseudocistos revesti-
dos por tecido de granulação
ou tecido conjuntivo fibroso.
Esses cistos são preenchidos
por mucina e células inflama-
tórias, principalmente macró-
fagos.
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SIALOLITÍASE
É caracterizada pela formação de cálculos de estrutura cal-
cificada chamada sialolito no interior do ducto salivar.
Esses cálculos (ou sialólitos) são formados a partir da preci-
pitação e deposição de sais de cálcio no interior da glândula
e de seus ductos. Acredita-se, também, que restos epiteliais
e bactérias associadas a esses sais possam formar esse tipo
de lesão.
A formação de cálculos, algumas vezes está relacionada à
obstrução dos orifícios das glândulas por restos alimentares
impactados ou por edema em torno do orifício de secreção
após alguma lesão.
Entre os fatores de risco que contribuem para formação de
cálculos podemos citar: hipovolemia, diuréticos, anticolinér-
gicos, trauma, tabagismo. Nefrolitíse, gota e doença perio-
dontal crônica.
Esta obstrução pode predispor a inflamação distal chamada
sialodenite inespecífica com invasão bacteriana (secundá-
ria). Nela, ocorre um aumento doloroso e, em alguns casos,
com secreção purulenta.
As glândulas mais acometidas são as submandibulares, se-
guidas das parótidas e sublinguais. As salivares menores po-
dem ser acometidas, sendo as do lábio superior as mais afe-
tadas.
Nas maiores, o paciente pode apresentar dor e aumento do
volume. Nas menores, o volume também é aumentado, po-
rém são quase sempre indolores.
Por que a principal é a submandibular? Pois ela possui ductos
mais longos e tortuosos, e seu ducto tem uma posição ascen-
dente, o que faz com que ela “caminhe contra a gravidade”.
Assim, fica mais fácil de uma precipitação se depositar.
No RX, são vistas como
massas radiopacas com
formatos variados. Porém,
nem todas as lesões são ra-
diopacas, pois depende no
nível de calcificação que
apresentam.
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Outros exames que podem ser feitos: USG, TC e SIALO-
GRAFIA.

Apresentam elementos epiteliais dispersos por toda a ma-

triz, a qual exibe proporções variáveis de tecido condroide
(cartilaginoso), hialino, mixoide e até mesmo ósseo.

NEOPLASIAS NAS GLÂNDULAS SALIVARES

São relativamente incomuns e representam menos de 2% de

todos os tumores de seres humanos.

• 65 a 80% na parótida > sendo 15 a 20% malignos;

• 10% na submandibular > desses, 40% são malignos
• Restante nas glândulas salivares menores > 70 a 90%
dos tumores da glândula sublingual são malignos É mais comum em indivíduos entre 30-60 anos e possui uma
leve predileção por mulheres.

Nesses casos, os exames de imagem pedidos pode ser um

USG ou RM.

CARCINOMA ADENOIDE CÍSTICO

ADENOMA PLEOMORFO
É um tumor relativamente incomum, que é encontrado em
São tumores benignos que consistem em uma mistura de
50% dos casos nas glândulas salivares menores (principal-
células ductais (epiteliais) e mioepiteliais, demostrando di-
mente as do palato). A localização nas maiores são as paró-
ferenciação e proliferação epitelial e mesenquimal. Assim,
tidas e as submandibulares.
são chamados de tumores mistos.
São lesões pequenas, endurecidas (tumor sólido), mal en-
É a neoplasia de glândulas saliva-
capsuladas, infiltrativa e de coloração róseo-acinzentada.
res mais comum, representando
Possuem crescimento lento e são insistentemente recidivas
70-90% deles. Pode acometer
(recorrentes).
tanto as glândulas maiores como
as menores (9x mais comum na Na histologia, são compostas por células pequenas com nú-
parótida do que na submandibu- cleo compacto, hipercromáticos e citoplasma escasso. Es-
lar, surgindo no lobo superficial da sas células tendem a estar dispostas em padrões tubular, só-
parótida), sendo mais raro nas lido ou cribiforme, semelhantes a cilindromas originados de
sublinguais. anexos cutâneos.

Apresenta-se como uma massa de volume indolor. de cres-
cimento lento, bem delimitadas, móveis, de consistência
firme e coberto por mucosa ou pele de colorações normais
(podendo apresentar ulcerações em casos de traumas se-
cundários).
*Possui padrão morfológico variável
Os espaços entre as células são preenchidos por um material
hialino (muco), que representa excesso de membrana basal.
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Composto de uma mistura de células escamosas neoplási-

cas, células secretoras de muco e células epiteliais interme-
diárias.

*Invasão de estruturas adjacentes > natureza infiltrativa

(pode haver destruição óssea).

Tendem a infiltrar espaços perineurais e com frequência são

dolorosos.

50% ou mais disseminam-se para locais distantes como pul-

mões, ossos, fígado e cérebro.

*É recoberta por mucosa íntegra, podendo estar ulcerada.